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Quem me vigia @the_mesquita @luizsymbian Qual o seu rumo?
@phanycascaes @skrrinkle Todas as crianças acreditam em anjos @vitoriabrasil @wltiiii Duração
@sementedadiscordia @compensaboy A dança dos cardumes @superaadri @nause.o Roxo
@nadymerebelo @rosiwelt
zine de encruza
Adria Moreira Adrian Santos Nadyme Rebelo Stephany Farias Veridiana Tonelli Vinícius Mesquita Vitória Brasil
Cadu Castro Luiz Oliveira Matheus Jennings Rosiwelt Cascavelt Saulo Oliveira Wellington Cardoso
zine de encruza
Danna Dantas Diagramação e Capa Gabriel de Andrade
os jovens terão sonhos, os velhos terão visões
Texto por @the_mesquita Ilustração por @luizsymbian
o seu rumo? Texto por @phanycascaes Ilustração por @skrrinkle Todas as crianças acreditam em anjos Texto por @vitoriabrasil Ilustração por @wltiiii
zine de encruza
Texto por @sementedadiscordia Ilustração por @compensaboy
Texto por @superaadri Ilustração por @nause.o Roxo Texto por @nadymerebelo Ilustração por @rosiwelt
Texto por Vinícius Mesquita Ilustração por Luiz Oliveira
No meio do caminho ouvi um chamado, eram as águas me convidando.
Não era um chamado do mundo físico, muito menos humano.
Toquei as águas com os pés e senti um frio correr o meu corpo, um frio que gelava a alma mas que também trazia purificação.
Entrei de corpo inteiro naquele braço de rio como quem pede descanso, as árvores dançavam junto com o vento, fazendo folhas caírem ao redor, eu estava na presença de Iansã, Oxum e Oxóssi, mas não só. Senti uma movimentação no topo das árvores, me observando do alto, logo vi quem me chamava.
No meio da mata escura uma cobra grande surgiu, não consegui ver
onde seu corpo terminava. Ela se aproximou, entrando nas águas junto comigo, e por algum motivo, não senti medo ao encará-la.
Para minha surpresa, ela me rodeou com seu corpo e me acompanhou enquanto me banhava, senti acolhimento e cuidado, como a proteção de uma mãe para com seu filho. Quando meus olhos foram de encontro aos seus, seu som sibilar ecoou como um aviso em minha mente:
- “Do que você tem medo, meu filho? Quem é filho de raízes fortes não deveria ter medo da mata escura e de quem a habita. Quem você acha que te acompanha e protege?”.
Despertei, e prometi não ter mais medo.
Texto por Stephany Farias Ilustração por Cadu Castro
Já vai canoeiro Nos braços do rio Velho canoeiro vai Na canoa remar Ele navega sem rumo Vejo-o e fico sem saber para onde vai Será que vai pescar? Será que vai para seu lar? Ou vai atrás de um novo lar? Na sua canoa um só pensamento Apenas chegar, apenas partir Vejo um canoeiro Nas ondas que o remo dá Navegando nos rios dos encantados Em busca do desconhecido Para ele já conhecido. Do lado esquerdo do rio busca seres mágicos
Em busca dos saberes esquecidos Trazendo respeito consigo. Pelos mitos contados Ouço sobre o senhor que se entregou ao rio O caboclo com rabo de cobra que protege seu leito Será que um dia foi canoeiro? Que se entregou às ondas do rio. Enfrenta o banzeiro nas ondas do rio E nas correntezas traz um desafio Vejo planar nas águas Parece fácil Sem dor Sem destino. Vejo no refletir dos seus olhos nas águas Seu cansaço Seu saber
E assim ele vai Nas suas costas marcas de sol Marcas de história Sua sobrevivência Seu crer Seu existir E seu partir.
zine de encruza
zine de encruza
os jovens terão sonhos, os velhos terão visões
Texto por Vitória Brasil Ilustração por Wellington Cardoso
Eu era criança quando ela partiu, nem sabia o que eram os sentimentos, mas sentia que cada momento com ela era doce. Ela era cheirosa, tinha a pele macia, gostava do gato Tião e dançava a dança do hula hula comigo. Gostava de se arrumar, se uma visita chegasse sem avisar, ficava chateada pois gostava de estar sempre perfumada, de brincos, colar e batom. Lembro que em nossas conversas ela tocava no meu rosto e dizia “ele ia adorar ter te conhecido minha filha”, foi uma mulher apaixonada pelo seu esposo, até os últimos dias da sua vida. Ela era a vó da minha vó, ou seja, minha tataravó – eu adorava dizer isso para os meus amigos, afinal, não era todo mundo que tinha tataravó. Uns dois anos atrás ela
veio me visitar, nós estávamos numa casa flutuante no meio da floresta, águias, araras, gansos e vagalumes nos cercavam. O rio, as árvores e os bens-ti-vis cantavam canções pra nossa conversa, enquanto deitada na cama sem mais poder se levantar –minha vó se preocupava e pedia pra ligar para os familiares e avisar que ela estava partindo – ela olhou para mim e disse: “minha filha eu menstruei” e então tornou-se jovem outra vez, com o mesmo olhar e o mesmo sorriso encantador, cheia de vontades e desejos... e frágil, muito frágil. Sempre ouvi minha mãe dizer que quando as pessoas envelhecem elas se tornam bebês de novo, hoje eu entendo, a vida é um eterno precisar.
“Dedicado a todos que ganharam eternos anjos da guarda, sintam-se acolhidos por eles.”os jovens terão sonhos, os velhos terão visões OS JOVENS TERAO SONHOS OS VELHOS TERAO VISOES
Ninguém a enxergava como eu, nem a sentia como eu. Então ela tocou minhas mãos e me fez um pedido: me leve pra brincar. Eu segurei suas mãos e juntas seguimos para a porta que se abria para o paraíso, me deu um beijo, tocou meu rosto e partiu. E eu acordei, acordei com uma sensação de eternidade, finitude e uma inevitável saudade... desse dia em diante eu nunca mais fui a mesma e só eu sei que não. Eu não acreditava em anjos da guarda hoje eu sei que de onde ela está pode me ver e me guiar, mesmo agora enquanto escrevo, choro e me arrepio. Obrigada, vozinha!
Ela mudou meus modos de enfrentar minhas vontades contidas, tal como as
aves que dão seus voos de liberdade, tal qual as crianças sempre dispostas a novas descobertas e aventuras, era assim que deveria viver agora, antes que envelheça e não possa voltar no tempo. Lembrou-me que a vida é pra ser vivida, que as portas são para serem abertas e adentradas pois estamos sempre a um passo de nunca mais sermos os mesmos.
Texto por Adrian Santos Ilustração por Saulo Oliveira
Tenho muitas situações mal resolvidas com o tempo que insistiu em passar enquanto eu não queria que ele passasse.
Por que às vezes a gente sente o tempo tão diferente?
Têm horas que duram dias, e dias que duram anos…
Alguns minutos já chegaram a durar até meses.
Quase sempre eu não entendo como o Senhor Tempo funciona. Sei que ele é rei do seu próprio reino. Que só ele cura as feridas que ele
mesmo causa. Que ele é a diferença entre o nascimento e a morte.
É estranha a forma que ele escolhe agir, mas talvez ele não precise ser compreendido. Cheguei a conclusão que o meu verdadeiro Deus é o Tempo. Enquanto eu não sei de nada, confio que ele saiba de tudo…
Texto por Adria Moreira Ilustração por Matheus Jennings
Então n’outra noite de lua cheia, entre-tantas horas, acordei de um sonho, senti um vento que soprava do outro lado e ainda muito sonolenta, percebi que continuava sonhando. De onde eu me encostava p’ra ver o rastro que o reflexo da lua deixava, me encontrei fitando a luz que atravessava pela superfície barrenta do rio.
A água que nasce na fonte dos Andes e desemboca no mundo, carrega a memória amazônida como legado de tecnologia através do espaço e do tempo. Conta cantos e contos, tempo de outros ventres, transmuta entre óvulos, cascas, entre peixes e serpentes, n’um movimento ritmado contra-corrente. O sonho transpassou tempos, e se deparou comigo em outra era, plantando memórias para que adquirisse as diferentes perspectivas do tempo, e ilustrava como as coisas funcionam como uma só, um grande organismo, com pequenas funções e organizações particulares.
Em uma das noites, vi meu corpo se transformar, quando dei por mim, já era metade bicho, metade gente, um corpo-mutante e estranho. Acordei e não era a mesma de sempre, a beira da minha rede pesava e esse mundo estava diferente, vi a presença híbrida de um corpo-serpente. Em seguida, eu dançava lentamente mas o vento e o movimento do rio que continuavam seu percurso normalmente, me davam a impressão de seguir passando muito rápido, os dias e as noites atravessaram por mim enquanto meu corpo se movia e dançava no próprio ritmo descompassado.
Eu estava lá encarando o tempo, enquanto ele mostrava ser um espelho, figurando muitas memórias no remanso noturno que aflorava cheiro amadeirado-doce. E quando o balanço batia na beira do flutuante parecia que chamava meu corpo pra dentro da água, chamava meu corpo pro interior de um mergulho sombrio, e eu confesso que sentia muito medo de atravessar o rio.
A viagem de travessia no canal principal é composta por muitas vidas, culturas flutuantes ou submersas. Os furos compõem tantas paisagens e organismos, alimentados nas margens que irrigam as várzeas e igapós, que numa dessas travessias transfigurei encantada com o som das beiras.
A passagem pela bacia amazônica é também uma diáspora de mim. Fugindo de cá-pra-lá, encontrei a fronteira das almas e foi a liberdade para mim mesma.
Todas as noites ouvia a voz rouca do rio cantar, sem saber de onde vinha nem p’ra onde olhar. Eu sonhei tanto naquelas noites, nutri tantas palavras no meu interior, e cada dia que amanhecia, jorravam novas e várias espécies de palavras. Muitas eram más, outras brilhavam como ouro e contavam sobre a sorte de quem as ouvia. Talvez isso que tanto sonhei seja o presságio de um corpo-inverso, refletindo no lado de cá. É recorrente, não consigo esquecer a tal sensação desses arrepios, de ser consumida de energia, uma tensão precede a memória de que algo marcado vai acontecer, como quem ouve os estalos de se encontrar em diferentes ciclos.
Acordei de novo e escrevi os efeitos que guardavam meu corpo-tempo, fitando a viagem de retorno, observava a travessia de mim mesma enquanto escrevia versos encantados e turvas lembranças de um passadofuturo no presente. Encontrei com o tempo, e ele era uma correnteza braba, onde o próprio rio Solimões converteu-se em uma passagem através de portais. Escrever foi a forma que encontrei de subverter esse mundo. Por muito tempo, não consegui assimilar coisas que vivi à foz do rios e estradas flutuantes. Memórias como aquelas, que eu ainda não encontrava no campo do presente-dizível em meu corpo, mas aparentemente, o que eu sentia reverberar, já havia percorrido longos caminhos no passado. Essa passagem transfigurava no presente forte ânsia a quem aguardava por uma mensagem do futuro que existe. Todas as vezes que escrevo, compreendo em mim todas as faltas que sinto. Felizmente, depois que alivio meus sentimentos nas palavras, talvez não tão cedo eu volte a procurálas. A não ser quando a memória vai buscar acalanto em palavras de cura e encanto. Custa muito trilhar o
caminho de volta para sentimentos tão densos, seja por minutos ou anos. Eu vejo um turbilhão, um emaranhado, o céu cair e refletir na travessia dos rios, mas quando escrevo sobre a falta que me dói, por alguns minutos minhas vivências bailam num palco de papéis enquanto performo escrevendo. Faz um tempo que estou em viagem, conheci muitos corpos e me cerquei d’outros organismos, entretanto, todos carregam lados sombrios dos quais precisamos atravessar, decifrálos, para assim, passar por eles. Também quer dizer fazer escolhas. Nessa viagem sempre tive muito medo de atravessar, e em um desses atravessamentos meu corpo dançou com os cardumes.
Essa forma de me comunicar para além das eras, chamei de cultura, ela resiste e se transmuta de inúmeras formas através do tempo, ao passo que corre contra o apagamento. Muitas coisas impediram que meu corpo se lembrasse. A memória molhada faz fronteira com uma fonte inesgotável de palavras que jorraram em meu solo fértil. De qualquer forma, compreender os códigos que deixaram o legado das terras, é uma dança através do tempo. Movimentos replicados num ritual ritmado, e que hoje conto os efeitos.
Texto por Nadyme Rebelo Ilustração por Rosiwelt Cascavelt)
Inicia-se mais uma década!
O Norte agoniza.
As dores de um país abandonado, Se tornam reais. Quase palpáveis. Conhecidos, amigos... Padecem.
O que fazer se lutam entre viver ou comer?
Sobreviver ao isolar-se Mas definhar sem o sustento da labuta.
“O país está quebrado. Não posso fazer nada!” Disse quem (des)governa. Os pobres? Desamparados. Muitos choram pelos seus mortos. Tantos outros angustiados, Temem pela vida dos que amam. Como posso dormir se minha classe padece?
Se naturalizam a morte aos milhares?
Se os mais velhos não valem de nada? (Diante dos jovens irresponsáveis)
Não posso correr. Sigo isolada! Com o coração apertado. Como rezar se os templos fecharam?
Do amigo que tenho tanto apreço, Espero por notícias.
Que estejas bem, meu bem. Gostaria de cuidar-te. Mas o mal que nos assola, Exige distância.
O jeito é nos apegar às crenças, Enquanto a Paris dos Trópicos pena. Sob a negligência de quem Deveria nos cuidar!