Kathy Love - Wanting What You Get 2 - Noites Ardentes

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Noites Ardentes Wanting What You Get

Kathy Love

É verdade que isso está acontecendo?! Devo estar imaginando coisas... Por que Mason Sweet, o lindo prefeito de Millbrook, o rapaz por quem sou secretamente apaixonada desde a 7ºsérie, flertaria comigo? Ele é o menino de ouro, o orgulho da cidade, e eu sou apenas uma funcionária da biblioteca local. Não consigo acreditar que ele esteja flertando comigo! Mas então, por que está me olhando desse jeito, se aproximando de mim... e o que ele está sussurrando no meu ouvido?!...


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10)

Digitalização: Nina Revisão e Formatação: Cynthia

A princípio Ellie fica chocada com a investida de Mason, mas não demora muito para começar a gostar da ideia... Afinal, ela não é mais uma adolescente... Por que não colocar um pouco de emoção em sua vida rotineira e insípida aceitando a ousada proposta do homem de seus sonhos... mesmo sabendo que ele só quer uma aventura passageira? Querida leitora, Neste encantador romance, Kathy Love nos apresenta as irmãs Stepp, três mulheres únicas e com diferentes ideias sobre o amor e a vida. Conheça a história de Ellie, a mulher romântica que agarra a chance de ter o que ela sempre sonhou... Leonice Pomponio - Editora

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10)

Stepp Sisters 1. Getting What You Want (2004) 2. Wanting What You Get (2004) 3. Wanting Something More (2005) NOITES ARDENTES TRADUÇÃO: Maria Albertina Jeronymo Copyright © 2004 by Kathy Love Originalmente publicado em 2004 pela Kensington Publishing Corp. PUBLICADO SOB ACORDO COM KENSINGTON PUBLISHING CORP. NY, NY - USA Todos os direitos reservados. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. TÍTULO ORIGINAL: Wanting What You Get EDITORA: Leonice Pomponio ASSISTENTE EDITORIAL Patrícia Chaves EDIÇÃO/TEXTO: Tradução: Maria Albertina Jeronymo Revisão: Claudia Virgílio ARTE: Ana Suely S. Dobón e Mónica Maldonado ILUSTRAÇÃO: Hankins + Tegenborg, Ltd. COMERCIAL/MARKETING: Daniella Tucci PRODUÇÃO GRÁFICA: Sônia Sassi PAGINAÇÃO: Dany Editora Ltda. © 2005 Editora Nova Cultural Ltda. Rua Paes Leme, 524 – 10º andar - CEP 05424-010 - São Paulo - SP www.novacultural.com.br Impressão e acabamento: RR Donnelley Moore – Tel.: (55 11)2148-3500 3


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Capítulo I — Ellie, pare de mexer tanto no seu vestido. Você está linda. Ellie sorriu para a irmã mais nova. Sabia que o elogio de Marty fora feito por mera simpatia, mas apreciou o gesto. Parou de puxar o decote do vestido justo para cima e, em vez daquilo, segurou junto a si seu pequeno buque de botões de rosa vermelhos. — Você também está linda — disse, mas seu comentário não era uma afirmação vazia. Marty realmente estava maravilhosa em seu vestido. O cetim vermelho enfatizava-lhe o corpo esguio e bem-feito, os cabelos tingidos de preto e os olhos verdes. Ellie, por sua vez, sentia-se como nada mais do que uma salsicha. Mas, para ser menos severa consigo mesma, Marty poderia vestir um saco de batatas e ainda pareceria fantástica. Marty era uma supermodelo; era seu trabalho estar sempre bonita. Aquele dia, porém, não tinha a ver com ela, nem com Marty, nem com o caimento de seus vestidos de madrinhas. Era o dia de Abby. Ellie lançou um olhar pela espaçosa ante-sala do Hotel Millbrook, observando a irmã mais velha. Seu vestido de noiva era de cetim branco, com decote tomara-que-caia, uma tiara de pedrarias prendendo-lhe os cabelos castanho-claros e o véu. O estilo era o mesmo dos vestidos de madrinhas das irmãs, com a exceção de que era adornado com uma discreta cauda e rebordado com fios prateados. Abby tinha as faces coradas, e os olhos azuis brilhavam enquanto sorria, radiante, para seu marido, Chase. Ele lhe sorria de volta, e ambos pareciam tão... apaixonados. Ellie nunca imaginara a irmã mais velha se apaixonando perdidamente. Esperara que sim, mas, com toda a franqueza, achara que talvez Abby fosse um caso perdido. Ela sempre fora a irmã prática. A cientista que precisara de provas palpáveis acerca de tudo. E aquilo incluíra o amor verdadeiro. Então, reencontrara Chase Jordan após anos vivendo longe da cidade natal deles, de Millbrook, no Estado do Maine, e, de repente, o amor parecera bastante real e palpável. Os recém-casados se beijaram, e Ellie sorriu, satisfeita. Certa vez dissera à irmã mais velha que o amor verdadeiro existia, e Abby zombara dela. Era bom estar certa, especialmente em relação àquele assunto. — Senhoritas. — Uma voz masculina e agradável disse atrás dela. Ellie ansiou por ajeitar o vestido novamente, mas conteve-se, virando-se para olhar para o dono da maravilhosa voz. — Mason. — Marty cumprimentou-o como se fossem velhos amigos, algo que nunca tinham sido. Ela estivera alguns anos atrás dele na escola e, enfim, mudara-se para Nova York, logo depois de sua formatura no colegial. Provavelmente, ambos nunca haviam conversado antes daquela noite. Enquanto Ellie, por sua vez, vira-o pela cidade pelos menos umas duas vezes por semana ao longo dos anos. Mas também não podia considerá-lo um velho amigo. Apenas um conhecido. Um conhecido do qual não conseguia tirar os olhos. Era difícil não encará-lo. Estava incrivelmente bonito num smoking, os cabelos loiroescuros bem aparados e penteados para trás num estilo bastante charmoso. — Drinques — ofereceu-lhes com seu sorriso cativante. — Oh, obrigada—disse Marty com entusiasmo, aceitando uma taça de champanhe. Marty e Mason teriam formado um belo casal, pensou Ellie, observando-os. Eram altos, bonitos, sofisticados. Mas Ellie era a madrinha com a qual Mason fazia par e, portanto, ambos eram um casal ao

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) menos durante aquela noite. Para o martírio de Mason, ela tinha certeza. Apostava que o estonteante prefeito da cidade não se imaginara fazendo par com a bibliotecária baixinha e rechonchuda. Embora ambos tivessem apenas mais alguns deveres a cumprir. Entrar formalmente no salão da recepção, tomar parte no jantar e na dança dos noivos e padrinhos e estaria terminado. Então, Ellie poderia respirar aliviada. — Tem certeza de que não quer que eu lhe busque um drinque? — perguntou Mason, fitando-a com seus olhos cinzentos, enquanto bebericava um líquido âmbar de um copo quadrado. — Oh, não, obrigada. Ele deu de ombros. — Avise-me se mudar de ideia. Ellie quase não tomava nada alcoólico, nem mesmo socialmente. Vivia numa eterna dieta desde os tempos da escola e preferia não desperdiçar preciosas calorias com álcool. Sua teoria era: por que tomar um daiquiri de morango quando poderia comer uma fatia de torta de morango? — Pessoal. — Tommy Leavitt, o padrinho que fazia par com Marty, chamou-os. — Acho que está quase na hora de fazermos a entrada formal no salão da recepção com os noivos. Marty deu o braço a Tommy e ambos atravessaram a sala para se reunirem a Abby e Chase, o que deixou Ellie a sós com Mason. Ela observou-o enquanto ele esvaziava o copo e depositava-o numa mesinha ao lado de um vaso de folhagens. Ofereceu-lhe, então, o braço. — Está pronta? Ellie meneou a cabeça e deu-lhe o braço, sentindo-lhe de imediato o calor do corpo através das roupas. Por um momento, desejou ter aceito um drinque. Talvez aquilo tivesse lhe acalmado os nervos. Junto à grande porta dupla que dava para o salão de festas, a organizadora do evento colocou-os em fila e começou a ajeitar a cauda do vestido de Abby. Mason inclinou-se para sussurrar ao ouvido de Ellie: — Sabe, acho que formamos um belo par. Atônita, Ellie sentiu o coração disparando e hão soube como responder. Ou se conseguiria. Lançou um olhar a ele. Havia um brilho peculiar em seus intensos olhos cinzentos. Ele estava flertando com ela. Mason jamais flertará com ela, jamais. Mas era apenas aquilo, um flerte inocente, um pouco de diversão. Não era real. De qualquer modo, ela se sentia zonza, um inquietante calor percorrendo-a. Ele endireitou as costas, franzindo o cenho. — Você não me parece entusiasmada com a perspectiva de ser meu par esta noite. Ellie engoliu em seco e, então, conseguiu dizer com uma voz relativamente calma: — Bem, não sou exatamente seu par. Somos apenas um casal de padrinhos. — Então, você não consegue imaginar nada mais? Ellie arregalou os olhos, mas, felizmente, antes de ter tempo para formular uma resposta, a porta dupla se abriu e eles entraram no salão da recepção, onde os convidados já aguardavam. Ellie sorria à mesa, mas sentia os músculos faciais tensos e rígidos. Sabia que deveria falar algo, participar da conversa descontraída, mas não conseguia pensar em nada para dizer. Não com Mason sentado a seu lado à grande mesa. Daquele modo, apenas ficou revirando as iguarias em seu prato. Ele não fizera mais nenhum comentário estranho desde que haviam se sentado à mesa dos noivos para comer. Acompanhara-a até a mesa com os demais casais, fizera um brinde, o qual ela mal ouvira, pois sua mente ainda estivera rodopiando com confusão e choque. Depois, ele se sentara a seu lado e agira como se não tivesse dito nada incomum anteriormente. Não flertou. Fez elogios à deliciosa comida, conversou com outros convidados. Nada fora do comum. Na 5


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) verdade, tudo estava tão normal que ela começou a achar que imaginara os sugestivos comentários anteriores dele. Só podia tê-los imaginado. Mason jamais lhe lançara um segundo olhar. Por certo, sempre fora amistoso e educado, mas homens como Mason Sweet não flertavam com mulheres como Ellie Stepp. Simplesmente não acontecia. Era por aquela razão que ela jamais contara a viva alma sobre a paixão secreta que nutria por ele desde os tempos de escola. Era um sentimento sem a menor esperança, sem dúvida, e que já deveria ter superado havia muito, mas simplesmente parecia não conseguir. Ele fora o garoto mais popular da escola, astro do time de futebol e um dos alunos mais inteligentes... embora sua irmã, Abby, tivesse sido oficialmente a mais inteligente. Mas Mason fora o mais rico da cidade e, sem dúvida, o rapaz mais bonito. Apesar de tudo aquilo, não fora do tipo arrogante, prepotente, embora automaticamente um círculo seleto tivesse se formado a sua volta, formado por belas garotas e outros rapazes influentes. Ellie mantivera-se bem longe daquele círculo, escondida dele na verdade, sempre que possível. Com seus muitos quilos a mais na época, fora cruelmente apelidada de "Elliefante", mas, para seu íntimo alívio, ao menos Mason nunca a chamara daquela maneira. Não que soubesse. As lembranças pouco agradáveis acabaram de arruinar seu apetite e ela deixou os talheres de lado. Apanhando a taça de vinho branco que acompanhara a comida, sorveu um gole. — Espero que a companhia não a esteja levando a beber — sussurrou-lhe Mason ao ouvido. Sobressaltada, ela quase se engasgou, mas conseguiu engolir o vinho e pousar a taça na mesa. Virando-se, percebeu que ele estava muito próximo de sua cadeira. — Não — respondeu um tanto ofegante. — Eu... eu descobri que não estava com muita fome. — Sabia que sua explicação não fazia sentido, mas era a melhor que podia dar. Eu notei. Você mal tocou no seu prato. — Ele, então, olhou ao redor com ar pensativo, uma expressão contida de desprazer torcendo-lhe os lábios. — Bem, mas casamentos fazem isso com uma pessoa. Roubam o apetite. Ellie olhou ao redor do salão, tentando ver o que ele via, o que o desagradava tanto. Convidados sentavam-se em torno das mesas de jantar; velas tremeluziam e cristais brilhavam; música suave tocava, provendo o fundo perfeito para as conversas e risos; flores adornavam tudo, fazendo o salão parecer mágico, bonito. — O casamento não arruinou meu apetite — declarou ela, sentindo a necessidade de defender os esforços de Abby e Chase. — Acho que tudo está bonito. Mason voltou a fitá-la; pareceu quase surpreso com sua voz. Então, seus lábios se curvaram num leve sorriso. —Chase e Abby fizeram um excelente trabalho neste casamento. Sei que encontrarão toda a felicidade. Ellie meneou a cabeça e começou a desviar o olhar. — E você tem razão. Ela fez uma pausa, aguardando que ele prosseguisse. O ar desgostoso desapareceu daqueles olhos cinzentos completamente e tornaram-se intensos. Mais uma vez, Mason inclinou-se, aproximando-se mais. — Tudo parece absolutamente bonito. Ela sentiu o rubor tingindo-lhe as faces. Mexeu-se, pouco à vontade, na cadeira. Ele não podia ter feito aquele último comentário referindo-se a ela. Não, não era possível. Estava imaginando coisas novamente. Quando Mason se desculpou abruptamente para ir até o bar, Ellie concluiu que, sem dúvida, estava encontrando indiretas que não existiam. Talvez fosse o fabuloso clima de romance do casamento de Abby e Chase que a estivesse influenciando, fazendo-a sonhar com coisas impossíveis. O que quer 6


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) que fosse, o fato era que estava decididamente imaginando quaisquer sinais de flerte da parte de Mason Sweet. Mason recostou-se no bar e observou a recepção. Erguendo o copo, tomou um longo gole, o uísque queimando em sua garganta. Era uma sensação familiar, quase reconfortante, não desconhecida e estranha como os pensamentos e sentimentos que estivera tendo a noite toda. Esperara sentir-se pouco à vontade por estar num casamento. Conseguira evitá-los desde seu próprio casamento e teria se sentido perfeitamente contente em livrar-se deles para sempre. Mas Chase era seu melhor amigo e, apesar de sua própria opinião quanto à decadência da instituição do casamento, realmente acreditava que Chase e Abby formavam um excelente casal e .teriam uma vida maravilhosa juntos. Sim, estivera preparado para seu costumeiro cinismo, para o longo ressentimento em relação a sua ex-esposa por sua falsidade e até para o desapontamento e a raiva de si mesmo que sempre acompanhavam quaisquer pensamentos sobre seu passado. Todos aqueles sentimentos não eram novidade, mas o que estava sentindo naquela noite... Bem, sem dúvida, era algo inédito. Algo novo, estranho e inexplicável. Percorreu a multidão com o olhar até que encontrou Ellie com as irmãs perto da pista de dança. Era mais baixa do que a maioria, com cerca de seu metro e sessenta e, quando as pessoas se aproximavam para conversar com ela, ele a perdia de vista. Mas, quando as pessoas tornavam a se afastar, podia lhe ver os cabelos loiros e cacheados, os expressivos olhos azuis e os lábios bem desenhados outra vez. Ela sorriu para uma das irmãs e covinhas apareceram em suas faces, ladeando-lhe os lábios rosados. Ela parecia um anjo radiante que caíra na terra. Ali! Ali estava. Aquele era um dos pensamentos estranhos e inexplicáveis. Mason sacudiu a cabeça de leve, como se pudesse afastá-lo. Nunca havia notado Ellie Stepp antes, quanto mais imaginá-la como um anjo. Não, não era verdade. Ele a notara... como a simpática e tímida rato de biblioteca. Notara que ela possuía um sorriso bonito. Ora, até notara que era dona dos olhos mais azuis que já vira. Mas nunca se sentira atraído por ela. Se bem que podia apontar o exato momento em que Ellie Stepp passara de uma simpática conhecida para o objeto de seu desejo... quando a vira entrando na igreja e caminhando em sua direção para se posicionarem no altar à espera da noiva. Tivera de haver algo de pecaminoso em relação à onda de lascívia que o dominara, mas não pudera pensar em outra coisa a não ser ver-se entre seus lençóis com Ellie Stepp. Ela entrara na igreja, os passos calculados, 0 vestido justo impedindo quaisquer movimentos amplos. Os gestos contidos, no entanto, haviam destacado a sensualidade do andar dela, e o vestido de cetim vermelho revelara-lhe as curvas arredondadas dos quadris, a exuberância dos seios. Ellie tinha um corpo sensacional e voluptuoso escondido debaixo de todos os seus suéteres folgados e saias compridas. Quando se aproximara da frente da igreja, ela lhe lançara um olhar. Fora rápido, mas Mason o sentira cora o impacto de um raio. Durante aquele breve segundo, ele podia ter jurado que ambos haviam estado partilhando a mesma corrente eletrizante: ambos atraídos, ansiando um pelo outro. Mas obviamente estivera enganado. A cada vez que tentara flertar com Ellie, ela parecera pouco à vontade. Não, mais do que aquilo. Parecera querer fugir correndo. Aquela não era a reação de uma mulher tomada por uma forte atração. Tomada por grande repulsa, talvez. Ele sorveu outro gole de uísque. Daquele modo, ignoraria aquela súbita e intrigante atração e passaria o resto da noite agindo como o perfeito cavalheiro. E, com alguma sorte, quando Ellie estivesse escondida debaixo de suas habituais roupas folgadas, a libido dele começaria a agir normalmente. Terminando seu uísque, pediu outra dose e permaneceu sentado no bar, de costas para a festa. Perdido em pensamentos, ficou bebericando seu uísque lentamente quando um leve tapinha em seu braço 7


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) chamou-lhe a atenção. Virando-se, deparou com Ellie e Marty, a irmã mais nova mais próxima, Ellie um pouco mais atrás, mantendo sua distância, as mãos apertadas junto a si. — Mason — anunciou Marty —, é a hora da dança dos noivos e padrinhos. Ele meneou a cabeça e seguiu as irmãs Stepp, enquanto ambas se adiantavam até o centro do salão, onde Chase, Abby e os demais padrinhos e madrinhas já aguardavam. Ellie observou-o, hesitante, e Mason abriu-lhe um sorriso gentil, tentando deixá-la mais à vontade. Pegou-lhe a pequena mão, concentrando-se em como era delicada e pequena... e quente. Enquanto as notas de uma canção romântica ecoavam pelo salão e os demais casais do grupo começavam a dançar, ele sentiu um súbito nó no estômago e estreitou Ellie junto a si... mais do que deveria. Ela manteve-se rígida e seus movimentos eram tensos, mas ele não pode afrouxar seu braço em torno dela. Precisava sentir a suavidade de Ellie, seu calor. O álcool que ele consumira naquela noite começara a exercer seu efeito. Estava com a cabeça um tanto aérea e não queria pensar nas lembranças que aquela canção lhe trazia de volta à mente. Queria mais um dos doces sorrisos de Ellie. E era tão bom tê-la em seus braços daquela maneira quanto imaginara. Mais até, na verdade. Ela era curvilínea e adorável. Gostava de sentir-lhe a curva do quadril sob sua mão, o contato daquele corpo macio de encontro ao seu. Sua ex-esposa, Maria, fora quase tão alta quanto ele, seu corpo esguio e firme graças a todas as horas que passara se exercitando obsessivamente a cada dia. E tivera mãos finas, os dedos longos e elegantes como os de um pianista. — Esta foi a nossa música de casamento — contou ele de repente, sem saber ao certo o que o levara a fazer o comentário, sem poder conter o tom de amargura na voz. Pôde sentir a reação imediata de Ellie. Ela fez uma breve pausa e, então, a pequena mão em seu ombro acariciou-o de maneira quase imperceptível. — Maria nem sequer gostava desse tipo de música, mas eu a convenci. Ellie continuou observando-o, os olhos azuis repletos de compaixão. — Ela não queria que houvesse um DJ na festa. Achava que era algo vulgar. Queria uma orquestra ou um quarteto de cordas, música clássica e valsas. Mais uma vez a pequena mão fez uma carícia suave. — Eu nunca fui sofisticado o bastante para ela. Ellie manteve-se em silêncio por um momento e, então, declarou, veemente: — Ela não era boa o bastante para você. Se você fosse meu, eu jamais lhe pediria que fosse diferente do que é. Jamais. Mason interrompeu os passos da dança e encarou-a, surpreso pelo jeito resoluto dela, mas principalmente pelas palavras. Se você fosse meu... Ellie desviou os olhos diante de seu olhar perscrutador, o rosto enrubescendo. Ele foi tomado por uma nova sensação de vertigem. — E então me diga, Ellie, você quer ser minha?

Capítulo II Se você fosse meu... 8


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) O Ellie tentava se concentrar numa lista de livros doados que Prescott Jones, seu assistente e braço direito na biblioteca, acabara de lhe entregar antes de deixar o pequeno escritório dela, mas as letras formavam um borrão diante de seus olhos, enquanto os pensamentos voltavam à festa de casamento. Mortificada, mal acreditava que tivera coragem de fazer semelhante comentário a Mason. E, depois, para desconcertá-la ainda mais, houvera o que ele dissera. As palavras inesperadas martelavam incessantemente na mente dela. Você quer ser minha?, perguntara ele em sua voz agradável e aveludada. A sensação dos braços dele em torno dela durante a dança, fortes e quentes. A fragrância de sua colônia amadeirada. Seus olhos cinzentos intensos e sugestivos. Aquilo tudo permanecia tão nítido em sua mente. Ainda assim, ela tinha a impressão de que devia ter lido aquelas coisas num dos romances que adorava. Os homens não lhe faziam perguntas daquele tipo, em especial não alguém como Mason Sweet. Ainda agora, seu coração disparava diante da lembrança, mas, se fosse realista, sabia que não podia ter havido significado algum nas palavras dele, ou em seu comportamento. Mason simplesmente devia ter se sentido pouco à vontade em tomar parte num casamento depois que o seu próprio fracassara. Ou bebera.demais. Ou ambas as coisas. Depois que a dança terminara, não houvera mais contato entre ambos. Contudo, durante o restante da recepção, Ellie pudera sentir os olhos de Mason observando-a. A cada vez que lançara um olhar na direção dele, o homem a estivera estudando, uma expressão indecifrável no rosto. Mas, apesar de toda a troca de olhares, tinham evitado um ao outro. Ellie concluíra que seu comentário tolo levara-o a ficar pensando a seu respeito, a se perguntar por que ela sequer teria dito uma coisa daquelas. Só podia ter sido aquele o motivo para tê-la observado, mas sem se aproximar. Era provável que pensasse que era uma perseguidora, alguma espécie de mulher obcecada que criara todos os tipos de fantasias em torno dele. Se você fosse meu, eu jamais lhe pediria que fosse diferente do que é. Aquilo não fora constrangedor? Soara como se ela, de fato, tivesse pensado a respeito do casamento dele e de como teria agido se estivesse no lugar de sua esposa. E, evidentemente, pensara. Pensara em como seria estar com Mason desde a sexta série. Ele estivera na sétima. Sempre tivera uma namorada e fora o centro das atenções, mas, desde que o notara, ele lhe parecera uma espécie de herói; apesar de inatingível, não pudera deixar de torná-lo objeto de sua tola paixão. Mas era realmente tempo de crescer e esquecer aquele sentimento antigo e sem esperança. Já desperdiçara tempo demais de sua vida sonhando com Mason Sweet. Ellie sorveu um gole de seu chá e, enfim, percebeu que estava frio. Céus, quanto tempo estivera olhando fixamente para a xícara? Levantando-se, passou por Chester, o cão de Chase e Abby, do qual estava cuidando enquanto ambos estavam em lua-de-mel, e colocou a xícara no microondas. Tinha de parar de ficar sonhando acordada. Os conselhos que dera a si mesma naquele dia pouco tinham valido. Conseguira fazer todo o seu trabalho na biblioteca, mas não se lembrava realmente de tê-lo feito. Teria de checar, mas esperava não ter cometido o erro de marcar as reuniões semanais das Tricoteiras de Millbrook e dos Alcoólicos Anônimos para a mesma noite na semana seguinte. Aquele era o único inconveniente em se ter uma das melhores salas de reuniões de Millbrook. Não havia margem para erros. A sala estava sempre reservada, inclusive para as reuniões do conselho da cidade. E as do comitê de curadores da biblioteca, como a que estava acontecendo ainda naquela noite. Se ela não conseguisse se livrar da obsessão em relação a Mason, não teria condições de se concentrar direito em mais nada. Era estranho que aquilo estivesse lhe acontecendo. Até então, resignarase a manter sua paixão platônica e recolhida, tendo se conformado com o fato de que Mason jamais seria seu, especialmente na época em que ele se casara, quando se tornara mais inatingível do que nunca. Mesmo após o divórcio dele, Ellie não ousara nutrir esperança de tipo algum, sabendo que continuaria relegada ao seu lugar de reservada bibliotecária da cidade nos pensamentos de Mason... caso e quando algum pensamento sobre ela lhe passasse pela mente. 9


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Mas depois do casamento de Abby... — Não vai tirar o que colocou no microondas? — A voz de Marty despertou Ellie de seus devaneios e, somente então, ela percebeu que a irmã entrara na cozinha e a observava. — A luz do painel está piscando e piscando e você está parada aí, parecendo estar no mundo da lua. Ellie tirou a xícara de chá aquecido do microondas e sentou-se à mesa. — Estou um tanto distraída hoje. — Aliás, o que anda preocupando você? — perguntou a irmã mais nova, adiantando-se até a geladeira. — Você tem agido de maneira estranha desde o casamento. Está aborrecida porque Abby mergulhou no abismo da felicidade matrimonial? Ellie riu. —Não, ao contrário. Estou feliz por ela. Se bem que sua descrição do casamento o faz parecer bastante atraente, sem dúvida. Marty serviu-se de um suco diet e sentou-se à mesa com uma careta. Hospedara-se na casa de Ellie durante sua breve estada em Millbrook por causa do casamento, e tornara-se um hábito ambas reunirem-se à mesa da cozinha para conversar antes de irem dormir. — Eu jamais me casarei — anunciou Marty dramaticamente. — Não posso me imaginar presa ao mesmo homem, dia após dia, pelo resto da vida. Os homens são exasperantes demais. Ellie sorveu um gole de chá e franziu o cenho. — Você é jovem demais para estar tão amarga. A irmã limitou-se a dar de ombros e mudou logo de assunto, começando a falar animadamente sobre algumas reminiscências da infância. Com a vida movimentada e inúmeras viagens e campanhas de supermodelo, Marty raramente tinha a chance de ir a Millbrook e Ellie não queria arruinar o pouco tempo que tinham juntas persistindo no assunto. Ao que parecia, a irmã caçula, por sua vez, não tinha a mesma reserva em especular sobre a vida de Ellie. — Mas, afinal, o que aconteceu no casamento que deixou você tão quieta e introspectiva? — perguntou subitamente, os olhos verdes perscrutadores. — Eu não tenho estado assim. Apenas... — É claro que sim. Mas, pelo que vejo, não vai querer contar nada a respeito. Você ainda continua sendo a irmã reticente. Ellie arregalou os olhos, perplexa. — Eu não sou reticente. — Você nunca contou nada a mim ou a Abby enquanto crescemos. Sempre foi aquela que ouviu nossos problemas. Mas nunca nos contou nenhum dos seus. — Talvez eu não tivesse problemas que valessem a pena ser discutidos. — Duvido muito. Ellie desviou o olhar para a xícara de chá. Havia uma parte dela que queria contar a Marty sobre o incidente com Mason e a tolice que dissera a ele. Queria que a irmã lhe assegurasse que provavelmente Mason já se esquecera de tudo àquela altura. — Você tem razão — disse de repente. — Eu tenho mesmo andado quieta demais. Acontece apenas que... — Seria bom desabafar com alguém, mas não sabia ao certo por onde começar. Parecia algo absurdo demais para ser dito em voz alta. — Acho que Mason Sweet estava flertando comigo. Marty encarou-a. Ellie mexeu-se, pouco à vontade, na cadeira. Sabia que era algo difícil demais de acreditar. Mas quando Marty explodiu em risos, bem, aquilo pareceu um tanto desnecessário. 10


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) A irmã pegou-lhe a mão sobre a mesa, apertando-a na sua. — Ora, Ellie, você é inacreditável! Ellie franziu o cenho, incerta quanto ao que aquilo queria dizer. Marty conseguiu, enfim, controlar o riso e abriu um de seus sorrisos encantadores que já haviam adornado muitas capas de revista. — Você acha que ele estava flertando com você? Bem, eu sei que ele estava flertando com você. Céus, o homem ficou praticamente babando por sua causa a noite inteira. — Não, isso não é verdade. — A expressão de Ellie era de ceticismo. — A cada vez que eu o vi, ele estava olhando fixamente para você. — É mesmo? — Ellie começara a acreditar que a única razão que o levara a ficar olhando para ela era por ter ficado olhando para ele também. — Sim. Ele observou você a noite inteira. Ellie mal soube o que dizer. — Eu cheguei a achar que devia haver algo acontecendo entre vocês dois, mas, uma vez que você nunca o mencionou, achei que não deveria perguntar. Há algo acontecendo? Ellie arregalou os olhos, as faces queimando. — Não! O sorriso de Marty alargou-se. — Bem, eu tive a nítida impressão de que Mason gostaria que houvesse algo acontecendo entre vocês. Vou lhe dizer, ele estava devorando você com os olhos. — Não — insistiu Ellie. Sabia que soava um tanto desesperado, mas aquilo não era o que esperara ouvir. Pensara que Marty lhe diria o que já havia dito a si mesma centenas de vezes. Mason estivera abalado por causa do casamento e agindo de modo atípico. Provavelmente já não se lembrava de mais nada do que fora dito. Aquelas eram as respostas razoáveis. Não queria ouvir coisas que iriam fazê-la pensar ainda mais no homem. Conversara com Marty para tentar tirar Mason de seus pensamentos. Como se aquilo fosse possível, admitiu a si mesma. Mason nunca saía de sua mente. Fantasiava com ele, imaginava-o como o herói dos romances que lia. Mas nunca ficara tão obcecada por ele como desde o casamento. Como já dissera a si mesma, sempre mantivera as coisas na devida perspectiva. Os comentários de Marty não a ajudariam em nada naquele sentido. — Você deve tê-lo interpretado mal — insistiu Ellie. — Tenho certeza de que não. Ellie conteve a vontade de soltar um gemido. Mesmo que Mason tivesse estado interessado nela, o que ainda não podia crer, o que faria com aquela informação? Não se imaginava abordando-o a respeito daquilo. — Talvez eu tenha visto mais do que realmente existia — disse Marty, embora proferisse as palavras devagar, como se estivesse tentando entender o que Ellie queria ouvir. — Pode ter sido o ar romântico da noite. Ou o vestido. Você estava mesmo estonteante naquele vestido. Ellie soltou um suspiro trêmulo. Sim, ali estava o que esperara ouvir. Estendendo o braço, coçou a orelha de Chester, deixando que o calor e o pêlo macio do cão a acalmassem. — Tenho certeza de que foi o clima do casamento — repetiu Marty, parecendo perceber que era o que a irmã queria ouvir. Ellie continuou a acariciar Chester, e o silêncio se prolongou por alguns momentos. Até que Marty perguntou: — Você é louca por ele, não é? Ellie respondeu com um sorriso: — Chester é um cão adorável. 11


— Não — esclareceu Marty num tom suave — não Chester... Mason. O telefone tocou antes que Ellie tivesse de responder, dando-lhe a sensação de alívio de ter sido salva pelo gongo. Ela adiantou-se depressa até o aparelho de parede próximo à porta e apanhou o fone. — Alô — atendeu jovialmente, contente em falar com quem quer que estivesse do outro lado da linha. Afinal, quem ligara a havia salvo. — Ellie? — Era Prescott e não soou tão animado. Na verdade, parecia ansioso. — Prescott, está tudo bem? — Pelo canto do olho, ela viu Marty aguardando pacientemente junto à mesa da cozinha. — Não muito. Como você sabe, hoje à noite foi a reunião mensal do comitê de curadores da biblioteca. Harriet Dodge veio até mim depois da reunião dar notícias preocupantes. Disse que Everett Winslow compareceu à reunião e tentou convencer os curadores a tirarem parte do dinheiro do orçamento da biblioteca e doá-lo à escola. — O quê? — exclamou Ellie, aturdida. A biblioteca mal estava sobrevivendo com o orçamento de que dispunham agora. Não podia perder mais. Mas Everett Winslow era o presidente do comitê da escola e tinha muita influência na cidade. — Everett espera conseguir um novo campo de futebol para a escola — informou-a Prescott. Everett Winslow também fora o treinador de futebol em Millbrook durante anos. — É terrível — prosseguiu o assistente. — Ele está falando em retirar vinte mil dólares. — Vinte mil dólares! Não podemos perder essa quantia! — Não, não podemos. Temos de impedir isso. Se Everett obtiver as coisas a sua maneira, a Biblioteca Pública de Millbrook acabará fechando — disse Prescott, agitado, quando, normalmente, era tão sereno e controlado. — Pensarei em algo. Isso não irá acontecer. Os curadores devem saber o que acontecerá se perdermos um valor desses. — Eles sabem. Também sabem que Everett Winslow não é um homem cujo caminho deve-se atravessar. Ellie sentiu um nó no estômago. Prescott tinha toda à razão. Everett era poderoso e influente. — Está bem — falou e respirou fundo para se acalmar. — Obrigada por me informar. Pensarei em alguma coisa. Desligando, voltou à mesa, afundando numa cadeira com ar derrotado. — O que aconteceu? — indagou Marty de imediato, observando-a com preocupação. Ellie explicou-lhe brevemente a situação. — Mas deve haver uma maneira de se deter Everett Winslow. Ellie soltou um longo suspiro. — Eu não sei. Ele é um membro da velha guarda de Millbrook. Tem um grande sistema de apoio que votará em qualquer coisa que ele pedir. — Mesmo se esse voto ameaçar a biblioteca pública? — Eu não sei. — Bem, temos de pensar em algo — declarou Marty, sua raiva se alastrando, o que acontecia facilmente. Daquela vez, a situação permitia um pouco de raiva. Muita raiva, na verdade. Ellie levantou-se e começou a andar de um lado ao outro da cozinha. — Espere um minuto. Mason não venceu Everett Winslow na última eleição para prefeito? — Sim. — Então, você precisa fazer com que Mason fique do seu lado. Ele obviamente tem mais


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) influência com as pessoas da cidade do que Everett. — Sim, seria uma boa ideia buscar seu apoio. — Bem, então vá até lá. Ellie lançou um olhar incrédulo à irmã. — São... — Verificou o relógio de parede. — São mais de nove horas. Não posso aparecer na casa dele a esta hora. Marty pareceu igualmente incrédula. — Este é um problema sério, grave. Acho que ele entenderá o seu deslize na etiqueta. Ellie refletiu a respeito. Marty estava certa. Aquela era uma situação grave, potencialmente desastrosa, e ela tinha de lidar com o problema agora. Não podia esperar e correr o risco de Everett chegar até Mason primeiro. Não acreditava que Mason fosse capaz de votar em algo que pudesse prejudicar a biblioteca, mas não podia deixar as coisas ao acaso. Se, por alguma razão, Mason acabasse apoiando Everett naquele episódio, seria o fim da Biblioteca Pública de Millbrook. — Você tem razão — disse à irmã, adiantando-se depressa até a sala para pegar um casaco de lã do armário embutido próximo à porta. Vestiu-o, então, e apanhou a bolsa. — Boa sorte — disse-lhe a irmã, encorajando-a. — Você não irá comigo? Marty hesitou. — Eu tenho de levar Chester até lá fora. Ouvindo as palavras "lá fora", o cão se levantou e foi aguardar ansiosamente junto à porta. Marty deu de ombros e lançou a Ellie um olhar de quem não tinha escolha. Durante o trajeto inteiro até a casa de Mason, Ellie ponderou sua decisão. Não deixou também de questionar os motivos da irmã para fazê-la ir naquele momento... e sozinha. Realmente achava que era melhor ter aquela conversa com Mason sem a irmã. Parecia pouco profissional levar um familiar junto para resolver aquele tipo de assunto. Mas preferiria ter conversado com ele com Prescott a seu lado. Não que tivesse a preocupação de não conseguir defender adequadamente os interesses da biblioteca. Apenas teria se sentido menos nervosa do que estando a sós com Mason. Quando parou o carro diante da imensa casa no alto de uma colina, notou que havia apenas uma janela iluminada no andar de cima. Embora fossem apenas nove e meia, talvez eleja tivesse se recolhido ao quarto. Ela deveria ter telefonado antes em vez de simplesmente ir aparecendo assim do nada. Por que aquilo não lhe ocorrera? Agora, era tarde demais. Estava ali. Com o motor e os faróis desligados, ainda hesitou. Decidiu, então, descer e bater à porta de leve. Se ele atendesse, ainda não estaria deitado. E se não, ela iria até o gabinete dele na prefeitura na manhã seguinte. Como deveria ter feito, para começar. Fechando a porta do carro silenciosamente, adiantou-se pelo caminho calçado de pedras até a casa. Podia ouvir o som do mar de encontro aos penhascos próximos à casa, e o ar frio do oceano soprou em seu rosto. Uma onda de nervosismo tornou a percorrê-la e disse a si mesma para parar de ser tão tola. Mas, quando subiu os degraus da varanda e parou junto à porta, deteve-se para ponderar a ideia outra vez. Aquilo era importante. Vital. Ergueu, então, a mão e, estava prestes a bater à porta, quando uma voz surgiu do meio da noite escura e a fez gelar. — Ellie Stepp. Ora, isso é o que eu chamo de surpresa. — Mason estava sentado no escuro, esparramado numa cadeira de vime, os pés apoiados no gradil da varanda. Quando o pequeno carro parara diante de sua casa, não fizera a menor ideia de quem seria. Mas tão logo Ellie descera, ele lhe reconhecera a silhueta de imediato. Ela nunca estivera ali antes, o que o fez perguntar-se se haviam sido seus próprios pensamentos que a haviam atraído até ali agora. Andara pensando muito nela desde o casamento. 13


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Conforme Ellie se aproximara, Mason presumira que ela o notaria sentado na varanda. Mas estivera absorta demais por seus pensamentos paia notá-lo, como se algo a preocupasse. Agora o encarava no escuro, a mão no peito. — Mason? — Sim. Desculpe-me por tê-la assustado. — Céus, você realmente me pregou um susto. — A voz melodiosa dela soou ofegante e, de repente,-imagens vívidas de outras coisas que poderia fazer para deixá-la sem fôlego passaram pela mente dele. — Eu estava apenas aqui fora tomando um drinque e desfrutando o ar do outono. Vendo-a menear a cabeça em resposta, Mason levantou-se, deixando a garrafa e o copo de uísque no chão da varanda ao lado de sua cadeira. — Vamos entrar. Está escuro demais aqui fora. — Sim. Ele adiantou-se para abrir a porta da frente e, acendendo a luz, conduziu-a por um grande vestíbulo. À direita da espaçosa entrada, uma ampla escada de madeira curvava-se até o segundo andar. Logo à frente, uma porta levava à sala de jantar e, à esquerda, uma porta dupla abria-se para uma sala de estar. Ele encaminhou-se até a sala escura e acendeu algumas lâmpadas. Ellie parou à porta, uma expressão inquieta no rosto, até que os olhos começaram a examinar a luxuosa sala diante de si. — Esta sala é linda — disse, admirada. Deu alguns passos à frente e tocou levemente o brocado da cadeira mais próxima. O gesto estranhamente erótico da delicada mão acariciando o tecido hipnotizou Mason. Enfim, conseguiu desviar o olhar e observar a sala. Raramente passava tempo ali, apesar de a sala ser mesmo bonita, com os incríveis revestimentos trabalhados no teto alto e paredes, seus lustres de cristal. A mobília adquirida em prestigiados antiquários combinava com o estilo da casa perfeitamente e realçava o detalhe mais marcante da sala, uma grande lareira de mármore branco. Aquela fora a sala favorita de sua ex-esposa. Era provavelmente o motivo para ele nunca ir até ali. Afundou num dos sofás, cruzando os pés sobre a mesa de centro polida. — Isto tudo foi obra de Maria. Era uma daquelas maníacas por antiguidades. Ellie parou de tocar o brocado e pareceu mais uma vez pouco à vontade. — Por favor, sente-se — ofereceu ele, dando um tapinha no lugar a seu lado. Mas, em vez de.sentar-se naquele sofá, ela optou pela cadeira que estivera tocando, fechando melhor o grande casaco de lã preto em torno de si, como se estivesse com frio. — E então, o que a traz aqui a esta hora da noite? — Mason podia pensar numa razão que seria particularmente atraente, mas, para seu desapontamento, duvidava que a doce Ellie Stepp estivesse ali para lhe oferecer uma noite de paixão arrebatadora. — Perdoe-me por ter vindo importuná-lo tão tarde — desculpou-se ela de imediato. — Mas... bem, eu preciso lhe pedir um favor, e é algo que não poderia esperar até amanhã de manhã. Mason endireitou-se no sofá. Um favor que não poderia esperar até de manhã. Aquilo lhe soava como sexo. — Acabei de descobrir que Everett Winslow está tentando convencer a comunidade a tirar verba do orçamento da biblioteca e direcioná-la ao orçamento da escola para um novo campo de futebol. Futebol, orçamentos, Everett Winslow. Aqueles tópicos não tinham a menor conotação sexual. Mason piscou algumas vezes. Levou alguns momentos para que sua mente mudasse de rumo e assimilasse o que Ellie estava realmente lhe dizendo. — Everett Winslow quer um novo campo de futebol — declarou finalmente. 14


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ela meneou a cabeça, não parecendo notar a falta de atenção inicial dele. — Sim, pelo que eu soube, ele até abordou o comitê de curadores da biblioteca a esse respeito. Mason tirou os pés da mesa de centro e inclinou-se para a frente, os joelhos apoiados nos cotovelos. — Creio que os curadores não veriam vantagem alguma no pedido de Winslow. — Eu também. Mas não acho que podemos contar com isso. Mason sabia que a dúvida dela era válida. Everett Winslow era membro de uma das famílias mais tradicionais e antigas de Millbrook. Tinha amigos influentes e dinheiro. Aquilo lhe dava muito poder, poder que adorava usar e ostentar. — E por que ele estaria querendo prejudicar justamente a biblioteca? — acrescentou Ellie, confusa. Mason refletiu a respeito por um momento. — Acho que isto não se destinou a atingir a biblioteca em particular. Ele está apenas tentando encontrar um lugar de onde pode tirar dinheiro sem enfurecer pessoas demais da cidade. Ellie baixou o olhar para as mãos que entrelaçava no colo, uma expressão desolada no rosto bonito. Mason foi tomado pela raiva de imediato. Raiva pelo fato de um lugar que Ellie amava e do qual tanto se orgulhava talvez não significar a mesma coisa para o restante da cidade. — Winslow deve estar querendo o novo campo de futebol por causa do filho — disse Mason, tentando afastar os pensamentos dela da dedução lógica dele e a tristeza de seus olhos azuis. — Dale Winslow está se saindo muito bem nesta temporada e tem havido alguns comentários de que, na certa, haverá olheiros de universidades observando-o jogar no ano que vem. Ellie franziu o cenho. — Um novo campo de futebol o ajudaria a ser escolhido? Mason deu de ombros. — Não faria mal. A expressão magoada dissipou-se dos olhos dela dando lugar a um ar confuso. — Dale vai à biblioteca o tempo todo. É um garoto bastante inteligente. Não precisa de uma bolsa de estudos de esportes para entrar numa boa faculdade. Ora, ele provavelmente conseguirá até uma bolsa de estudos acadêmica. E, mesmo que não consiga, o pai tem condições de pagar qualquer universidade que o rapaz queira cursar. Mason surpreendia-se com o fato de Ellie ser ingênua a ponto de acreditar que aquilo tinha algo a ver com dinheiro. Era por causa daquela bolsa de estudos. Uma bolsa de estudos significava prestígio. Um sinal concreto de que o filho de Winslow era o melhor. E uma bolsa de estudos de esportes, de muitas maneiras, era ainda mais prestigiosa. Afinal, menos garotos ainda eram realmente bons a ponto de conseguirem conquistá-la. Aquilo tornava Dale Winslow bastante especial, sem dúvida. Especial e amaldiçoado. Mason sabia. Passara sua adolescência na mesma situação que Dale. Lutando para ser bem-sucedido a fim de poder conquistar o amor e o respeito do pai. Amor que deveria ter-lhe pertencido incondicionalmente, não dado com base em seus triunfos. Mas, com frequência demais, era como o amor funcionava. Mason não tinha' uso algum para o amor, em nenhuma das formas. Não o queria, nem precisava dele. Queria e precisava, no entanto, de outro drinque. — Quer beber alguma coisa? — Oh, um copo de água estaria bem. Ele desculpou-se e adiantou-se até seu escritório, onde mantinha um bar bem abastecido. Serviuse de uma dose de uísque puro e esvaziou o copo quase de um só gole, o olhar fixo numa parede. 15


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Everett Winslow era, sem dúvida, um paspalho prepotente. Exasperava-o o fato de o homem estar sempre tentando mostrar seu poder naquela cidade. Winslow poderia pagar do próprio bolso para que um novo campo de futebol fosse construído, mas achava mais significativo se conseguisse fazer com que a cidade votasse a seu favor. Desconfiava de que Winslow sabia que ele jamais lhe daria seu apoio naquela proposta. E cada fã inveterado de esportes de Millbrook que votara em Mason na eleição anterior para prefeito estaria, então, a favor de Winslow. E ele sabia que Winslow pretendia vencer a eleição seguinte. Talvez, se Winslow tivesse comparecido à mais recente reunião do conselho da cidade, tivesse percebido que não precisaria ter todo aquele trabalho. Mason já estava perd... Ele não queria pensar em nada daquilo. Tornando a preencher o copo, bebeu o uísque de um longo gole. Não queria pensar na eleição seguinte. Não queria sentir compaixão por Dale Winslow, nem pelo difícil futuro que aguardava o pobre garoto. Não queria pensar na ex-esposa e em sua mobília perfeita. Não queria pensar em nenhum aspecto de seu casamento fracassado. Não queria pensar em nenhum de seus fracassos. Sobretudo, não queria pensar na biblioteca e em Ellie Stepp. Não, não era verdade. Queria pensar em Ellie. Pensara muito nela desde o casamento. Quase convencera a si mesmo de que aquela súbita atração por ela fora passageira. O efeito de sua apreensão em estar num casamento, o sensual caimento daquele incrível vestido vermelho que ela usara. Sem aquela exata combinação, Ellie Stepp simplesmente voltaria a ser a cunhada de seu melhor amigo e a bibliotecária da cidade. Mas tão logo acendera a luz da sala de estar e lhe vira o rosto adorável, os cachos loiros em ligeiro desalinho e olhos azuis como o céu, soubera que sua teoria estava errada. Naquela noite, Ellie usava uma saia ampla, florida, uma camisa feminina simples com apenas o primeiro botão aberto e aquele casaco de lã preto que ela achava que escondia todas as suas curvas tentadoras dele. Não, estresse e um vestido vermelho justo nada tinham a ver com sua atração. Ainda a achava extremamente sexy. Preenchendo seu copo com mais uma dose de uísque, adiantou-se até a cozinha para buscar água para ela. O corredor pareceu oscilar por um momento e, então, usou a parede para se apoiar. Uma vez na cozinha, porém, a sensação de vertigem passou e ele providenciou um copo de água mineral gelada rapidamente. Quando voltou à sala, Ellie estava junto à janela, olhando para a noite escura. Virou-se ao ouvilo entrar. — A vista durante o dia deve ser espetacular — comentou. Mason estudou a maneira como a saia de tecido leve lhe moldava discretamente os quadris arredondados. O casaco de lã preto estava aberto, revelando os seios grandes e bem-feitos que se comprimiam de encontro à camisa delicada. O uísque que consumira estava quente em seu estômago. Sabia que Ellie seria ainda mais quente. — A vista desta noite é bastante espetacular também. Ela corou. Mason aproximou-se e ofereceu-lhe a água. — Aqui está. Os dedos de ambos roçaram-se apenas ligeiramente quando lhe entregou o copo, mas Mason pôde sentir o calor alastrando-se por todo seu corpo. Ellie sorveu um gole de água.e, então, olhou ao redor, como se 16


não soubesse o que fazer em seguida. Enfim, tornou a fitá-lo nos olhos. — E então, você vai ajudar a biblioteca? Por alguma razão, a pergunta transformou o agradável calor que o percorria numa onda de fúria. Ali estava, desejando aquela mulher com todas as suas forças, e tudo o que ela queria era a influência que seu papel na comunidade poderia lhe dar. Bem, daquela vez ele queria algo em troca por sua ajuda. Talvez precisasse de um favor também. — Se eu lhe der meu apoio, o que você me dará? Ellie franziu o cenho, confusão evidenciando-se em seus vívidos olhos azuis. — Eu... eu não sei. O que você quer? Mason fingiu ponderar a pergunta. — Vejamos... bem, tornar-se sócio da biblioteca é de graça, certo? — Sim. — Hum... — Mason continuou a ponderar. Aproximando-se mais, recostou-se na parede. Ela o observou, sua expressão tão aberta, tão cheia de confiança nele. Aquilo o fez querê-la ainda mais. — Já sei — declarou ele finalmente, um sorriso vagaroso curvando-lhe os lábios. Pegou-lhe o copo das mãos e colocou-o com o seu numa mesa de canto. Tornou a virar-se para fitá-la. — E realmente acho que esta proposta será boa para nós dois. Ela aguardou que ele prosseguisse e, mais uma vez, Mason estava aturdido com a inocência naquele rosto angelical. Uma ponta de culpa pesou-lhe na consciência, mas o álcool e o desejo reprimiram-na. — Apoiarei você na biblioteca — disse, veemente —, se você dormir comigo.

Capítulo III Ellie arregalou os olhos, incrédula, o queixo caído. Mason Sweet acabara de lhe dizer que a ajudaria, se... se dormisse com ele. Atordoada, ainda não podia assimilar direito o que ouvira. Ele não podia ter falado sério. Por que um homem como Mason Sweet precisaria fazer uma barganha daquelas? — Você está embriagado? — perguntou, realmente perplexa com a sugestão. Mason endireitou os ombros largos, seu sorriso predatório diminuindo ligeiramente. — É claro que não. Por que pergunta? — Porque não posso imaginar por que você iria querer fazer uma proposta dessas. — Não mesmo? — O sorriso dele tornou a se alargar, e Ellie sentiu o pulso se acelerando. Mason aproximou-se mais, recostando-se no batente da janela, aprisionando-a entre o sofá, a janela e ele. — Não me viu observando você depois da nossa dança? Ellie não respondeu, limitando-se a dar um passo atrás. Sentiu o vidro da janela frio de encontro às suas costas, um acentuado contraste com o calor que se irradiava de suas faces afogueadas e de Mason. — Eu quis você antes. — A voz baixa como uma carícia, ele se aproximou ainda mais, as pernas roçando-lhe a saia. — Quero você agora. Ellie ficou boquiaberta, mas, antes de conseguir esboçar qualquer outra reação, Mason puxou-a para si e tomou-lhe os lábios com os seus.


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Beijou-a ardorosamente, exigindo com seus lábios impetuosos coisas que ela não sabia como dar. Ela sentiu-se como se tivesse sido apanhada por um turbilhão, onde as emoções e as sensações aconteciam depressa e intensamente demais. Empurrou-lhe o peito, um leve gemido escapando-lhe dos lábios. Mason deve ter entendido seu pânico porque, de repente, seus lábios tornaram-se gentis, persuasivos. E tão depressa quanto se sentira mergulhando num mundo vertiginoso, Ellie sentiu-se flutuando em meio a longas e suaves ondas de desejo. Uma súbita paixão se alastrava por seu íntimo, um poderoso anseio dominando-a. As mãos que haviam afastado Mason agora o puxavam pela frente da camisa, os lábios agora soltando um gemido sensual. Notando-lhe a doce receptividade, Mason estreitou-a mais junto a si, a mão tocando-lhe a cintura, subindo até afagar-lhe o seio. Quando lhe acariciou o mamilo túmido e sensível com o polegar, ela mergulhou num inebriante mar de paixão. Afastou-se para trás, aturdida, e, daquela vez, ele a soltou. Por um breve momento, pareceu tão ofegante e desconcertado quanto ela, mas, num piscar de olhos, o Mason calmo e controlado voltou. — Como pode ver, acho que minha proposta será bastante proveitosa para nós dois — disse, um sorriso satisfeito nos lábios másculos e bonitos. Ellie encarou-o, surpresa com o fato de ele parecer tão tranqüilo quando seu próprio coração ainda disparava freneticamente no peito. — O que você acha? — perguntou, afastando-lhe um cacho loiro do rosto afogueado. Ela afastou-se depressa, precisando colocar distância entre ambos. Adiantou-se até a porta antes de olhar para trás. Mason recostou-se na parede, os braços cruzados sobre o peito, observando-a. — Eu... eu tenho de ir — ela conseguiu dizer. Ele meneou a cabeça como se não se importasse com o fato de ela ir ou ficar. Ellie hesitou apenas por um momento. — Até logo — disse e caminhou depressa na direção da porta da frente. Enquanto segurava a maçaneta, a voz de Mason a fez deter-se. — Espero poder ajudá-la — declarou, seu tom malicioso. — Estou bastante ansioso para isso, na verdade. Ellie não olhou para trás, concentrando-se, em vez daquilo, na maçaneta, até que conseguiu abrir a porta e saiu em disparada. Ellie estava a mais de meio caminho de casa quando sua respiração voltou ao normal e sua mente adquiriu um pouco de clareza. Precisara colocar distância entre ela e Mason. Precisara ficar sozinha para tentar entender os eventos da noite. Diminuindo a velocidade do carro, parou no acostamento da estrada e desligou o motor. Mason estava disposto a ajudá-la e a biblioteca, mas apenas se ela... o ajudasse. Supunha que deveria estar ofendida, mas não estava. Mason Sweet, o prefeito, o homem mais bonito da cidade, um dos mais populares e influentes, um homem que poderia ter qualquer mulher que quisesse, queria ter algo com ela. Estava certo, era apenas uma aventura de uma noite. Mas ainda havia algo de estranhamente lisonjeiro e decididamente excitante na estranha proposta dele. Homens estonteantes não precisavam barganhar sexo com bibliotecárias tímidas e retraídas. Ela tocou os lábios com a ponta dos dedos. Ainda estavam quentes do beijo de Mason. O beijo de Mason. Fantasiara sobre como seria beijá-lo tantas vezes. Mas, nem mesmo em suas fantasias, pudera imaginar algo tão incrível, tão fantástico. 18


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Seus lábios curvaram-se num largo sorriso e um riso surpreso escapou-lhe da garganta. Aceitaria a proposta dele! Agiria como uma das destemidas e obstinadas heroínas dos romances que adorava. Iria desfrutar algo de verdade. Até então, ficara apenas vendo a vida passar. Agora, pretendia viver um pouco. Sua vida era certa e ordenada. E tinha de admitir que freqüentemente era entediante e solitária. Era tempo de perder o controle. De ser ousada. E aquele era o homem que quisera durante sua vida inteira. Era evidente que tinha medo, mas, se deixasse aquela oportunidade passar, bem, jamais a teria novamente. Faria aquilo! Sorriu para a estrada escura até que sua consciência, sua insegurança interferiram. Então, seu sorriso determinado dissipou-se. Estava mergulhando de cabeça numa situação com a qual não tinha a menor ideia de como lidar. Afinal, um simples beijo do homem deixara-a completamente desconcertada. Como, afinal, conseguiria manter-se calma e confiante o bastante para... para estar com ele? Céus, se nem sequer conseguia pensar na palavra, como realizaria o ato? Repousou a cabeça no volante. O agradável calor do aquecedor e a canção melodiosa do rádio acalentaram-na. Fechou os olhos e tentou vencer suas incertezas. Lentamente, a letra da canção penetrou em sua mente acelerada. A voz feminina cantava sobre estar com o homem de seus sonhos, mesmo que fosse apenas por uma noite. Ellie endireitou-se no assento e tornou a ligar o carro, retomando a estrada para casa. Podia fazer aquilo. Podia. Não perderia aquela chance. Ficaria com o homem de seus sonhos e ajudaria a biblioteca. Se não o fizesse, iria se arrepender para o resto da vida. Enquanto o aroma de café se espalhava pela cozinha, os sons característicos da cafeteira elétrica parecendo-lhe altos e incômodos demais, Mason afundou numa cadeira. A julgar por sua dor de cabeça, ele bebera demais na noite anterior, mas, de qualquer modo, havia uma lembrança bastante nítida em sua mente. Havia beijado Ellie Stepp. Daquilo, não teria se esquecido por nada, na verdade. E, apesar do latejo em sua cabeça, tudo foi ficando mais claro, até que um súbito nó em seu estômago o fez lembrar de algo mais. Dissera a Ellie que a ajudaria no problema com a verba da biblioteca se ela dormisse com ele. Afundando o rosto nas mãos, soltou um grunhido. Droga. Após alguns momentos, ergueu a cabeça e olhou para o relógio de parede. Eram oito horas. A biblioteca devia abrir às nove, talvez às dez. Passaria por seu gabinete primeiro para ver se algum assunto urgente exigia sua atenção e, depois, iria até a biblioteca para oferecer a Ellie seu mais profundo pedido de desculpas por ter estado embriagado... embriagado e excitado. Ele esfregou o rosto e soltou outro grunhido. Aquilo não era nada bom. Era provável que quase tivesse matado a tímida mulher de susto. Sabia que podia ser um cretino, mas aquilo fora injustificável, até para si mesmo. Como podia ser desculpado por ter sugerido algo tão impróprio? Fora uma atitude imperdoável. A situação ficava ainda pior pelo fato de ela ser a nova cunhada de seu melhor amigo. Chase não ficaria nada contente se ouvisse algo a respeito. Mason tomou um pouco de café e rumou para o chuveiro, determinado a esclarecer tudo quanto antes. Aquele era o problema em deixar a libido sobrepujar sua razão. E ele e sua libido tinham se concentrado demais em Ellie desde aquele casamento. Sob o jato de água quente, lembrou-se vividamente do contato dos lábios trêmulos dela junto ao seus. Era curioso que mal conseguisse se lembrar de sua proposta ofensiva, mas que aquele beijo estivesse tão nítido em sua memória. Ela se mostrara tão doce, tão incerta em seus braços. E, apesar de seu medo, havia correspondido ao beijo. Fora tão bom sentir-lhe o calor do corpo curvilíneo, explorar-lhe a maciez da boca. 19


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Fechando os olhos, deixou a água correr por seu corpo, esperando que ajudasse a dissipar tudo... sua dor de cabeça, seu constrangimento, suas lembranças e, principalmente, o anseio de tocar Ellie Stepp outra vez. Após alguns momentos, abriu os olhos. Não estava funcionando. Teria de encontrar uma mulher para satisfazer seu desejo. Mas não podia ser Ellie. Ela era o tipo de mulher que precisava de um relacionamento permanente. E ele não pretendia oferecer aquele tipo de relacionamento a ninguém. Embora tivesse preferido ficar em seu gabinete, evitando aquela conversa com Ellie, Mason teve apenas que assinar alguns papéis logo que chegou e, então, constatou que nada mais exigia sua atenção imediata. Avisando a secretária, Ginny, que iria resolver um assunto breve, desceu os degraus de granito da frente da prefeitura e virou à direita. A biblioteca situava-se apenas dois prédios abaixo e do outro lado da rua. Enquanto ele se aproximava da antiga construção, observou-a realmente, talvez pela primeira vez em anos. Era um casarão em estilo vitoriano, a exemplo de sua própria casa. Pintada de branco, com várias janelas altas e uma ampla varanda na frente, a antiga construção passara por reformas ao longo dos anos, com alas acrescidas para acomodar mais livros, mas todas as renovações tinham se mantido fiéis ao estilo do prédio original. Não havia quase mais flores agora, mas, no verão, o grande terreno em volta ganhava vida com cores vibrantes e fragrâncias. E eram promovidos os horários de leitura de histórias para crianças no gramado sombreado quando o tempo estava bom. A biblioteca era bonita, um lugar perfeito para guardar as histórias de mundos de fantasia e reais, mundos de aventura e amor. Um lugar perfeito para estar aos cuidados de uma tímida e doce beldade feito Ellie Stepp. Sexo, era do que precisava, disse a si mesmo de repente. Quando começava a ver uma mulher que conhecia havia anos, uma mulher que nunca sequer notara até recentemente, como alguma espécie de guardiã encantada de livros, ou algo assim... bem, era a pura necessidade de sexo falando. Ou talvez apenas insanidade. De qualquer modo, precisava deixar aquela situação sob controle. E o faria. A biblioteca estava silenciosa quando ele entrou. Prescott Jones, um homem afável e prestativo que se mudara da cidade de Bangor para ali alguns anos antes, informou-o que Ellie estava em seu escritório. Preferindo que o assistente não fosse chamá-la como sugeriu, o próprio Mason encaminhou-se até o escritório no final do corredor. Ele bateu à porta entreaberta, e Ellie levantou os olhos de uma papelada a sua frente quando o viu entrando, uma expressão surpresa no rosto. — Está muito ocupada? — N-Não. Eu... — Ela pareceu pouco à vontade, o rosto corando. Mason entrou no pequeno escritório, fechando a porta atrás de si. Quando tornou a fitá-la, ela pareceu-lhe ainda mais constrangida. Não podia culpá-la. Afinal, o imoral que exigira sexo em troca de seu apoio político estava entre ela e o único meio de escapar. Ela o fitava com grandes e cautelosos olhos azuis. Ele limpou a garganta e tentou pensar em como começar. — Quanto a ontem à noite... — Eu aceito—anunciou Ellie abruptamente, surpreendendo-o. Arregalou os olhos ainda mais, como se sua declaração a tivesse surpreendido também. — Como disse? — Eu... — Ela deteve-se ajeitando os papéis na mesa por um momento. — Eu refleti sobre a sua... proposta de ontem à noite. E eu a aceito — declarou com firmeza. 20


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) A reação de Mason foi instantânea: uma onda de desejo percorreu-o. Imaginou-se deitando-a na mesa de carvalho e fazendo amor com ela ali mesmo, em nítidos detalhes. Mas, no momento seguinte, a culpa atingiu-o em cheio. Não podia simplesmente fazer sexo com ela e deixá-la. Podia? — Istoé -- acrescentou Ellie num tom manso —, se a oferta ainda continuar valendo. — Corou ainda mais, o tom das faces tão róseo quanto o do suéter que usava. Os olhos azuis estavam tão resguardados que ele se sentiu um patife ainda maior do que se sentira antes. — Quanto àquela proposta.— começou, sabendo que devia retirá-la, apesar do quanto ansiava para poder continuar o acordo e levá-la para sua cama. . Ellie baixou o olhar, correndo o dedo pela beirada de um catálogo próximo. Ele perdeu o rumo dos pensamentos por um momento, atraído pelo gesto repleto de inconsciente sedução. — Ela foi — declarou em tom mais determinado — um erro. Ellie ergueu a cabeça depressa, apreensão franzindo-lhe o cenho. — Mas ficarei contente em apoiar você contra Winslow sem qualquer... compensação. Os olhos dela adquiriram súbita intensidade e pareceram ficar marejados. De alívio, sem dúvida. Tornou a baixar o olhar para a mesa. — Obrigada — murmurou numa voz quase ininteligível. — Não me agradeça. Eu quero ajudar. Ellie meneou a cabeça, ainda evitando fitá-lo. Mason estudou-a por um momento. Concluindo que a melhor coisa a fazer era deixar a pobre mulher em paz, disse: — Entrarei em contato quando eu tiver descoberto a que ponto a comunidade está disposta a apoiar Winslow nisto. Ela tornou a menear a cabeça, e o gesto fez com que uma lágrima rolasse por seu rosto e caísse num dos papéis abaixo. Mason censurou a si mesmo, julgando-se de imediato o maior canalha do mundo. — Ellie, peço que me desculpe por ontem à noite. — As palavras pareceram inadequadas, mas não soube mais o que dizer. Ela sacudiu a cabeça, ainda recusando-se a fitá-lo. — Está tudo bem. Não precisa se desculpar. Um riso depreciativo escapou dos lábios dele. — Eu lhe devo muito mais do que um pedido de desculpas. Ellie, enfim, ergueu o rosto, os olhos repletos de lágrimas pesando na consciência dele. — Você não tem que pedir desculpas por ter percebido que cometeu um erro. Mason franziu o cenho, confuso. Aquele lhe parecia o exato momento em que uma pessoa devia se desculpar. — Como você se sente é como você se sente. Ou, neste caso, como não se sente. — Ela deu um sorriso trêmulo. Ele ficou ainda mais confuso. —Acho que não estou conseguindo acompanhar seu raciocínio — admitiu. — Eu... eu apenas estou dizendo... — Ellie esforçou-se para encontrar as palavras certas. — Não fico surpresa que você tenha concluído que seria uma péssima barganha. — Seria uma terrível barganha — concordou ele. Ela contraiu o rosto, mais uma lágrima escorrendo-lhe pelo canto do olho.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Certo. — Esfregou os olhos, o gesto resoluto. Respirou fundo. — Obrigada mais uma vez por sua ajuda. Mason ficou intrigado com a maneira abrupta como ela encerrou o assunto e o dispensou. Achara que a deixaria agradecida por não querer levar adiante sua ideia absurda da noite anterior. Em vez daquilo, parecia magoada. Subitamente, a verdade atingiu-o em cheio. Ellie queria passar uma noite com ele. Aceitara sua oferta vulgar não pela biblioteca, mas por si mesma. Ora, aquele era um resultado que não levara em conta. Um estranho senso de triunfo e uma poderosa onda de desejo envolveram-no de imediato. Evidentemente, a vontade de Ellie de passar uma noite com ele não mudava o fato de que não era o tipo de mulher para se ter um caso. Mas não a deixaria acreditar que não a queria. Porque a queria. Muito. — Acha que resolvi encerrar este acordo porque não quero você? Porque não quero dormir com você? Bem, isso é pura tolice. Ellie pareceu constrangida. — Por favor, não faça isto. Você não precisa. — Não estou lhe dizendo isso para fazê-la sentir-se melhor. E certamente não para me fazer sentir melhor tampouco. Porque, com toda a franqueza, será um verdadeiro tormento saber que eu poderia ter tido você e não tive. Mas não farei isso. Estou lhe dizendo isto porque é a verdade. Ora, o beijo de ontem à noite devia ter lhe demonstrado quanto eu a quero. — E... — Ellie corou até a raiz dos cabelos. — Quero você também. — As palavras não passaram de um sussurro, ditas com tanta sinceridade e convicção que o tocaram fundo. — Mas não posso levar isto adiante. — Precisou de grande esforço para dizer as palavras. Os olhos de Ellie tornaram a ficar cautelosos. Mason contornou a mesa para poder tocá-la, embora soubesse que deveria ficar longe. Bem longe. Segurou-lhe os braços com gentileza. — Ouça, você não é o tipo de mulher que tem um caso passageiro e eu não posso lhe oferecer nada mais. Ela fitou-o e, mais uma vez, ele ficou tocado com a sinceridade naqueles olhos azuis. — Eu quero o que quer que você possa oferecer. Mason encarou-a por um momento e, então, apesar de todo o bom senso, ou talvez não houvesse bom senso algum envolvido, ele ergueu-a da cadeira e beijou-a. Daquela vez, quando Mason se apossou de seus lábios, Ellie estava preparada. Ansiava tanto por aquilo, tanto... Retribuiu ao beijo exigente instintivamente, esperando que seu próprio desejo compensasse a falta de experiência, entrelaçando sua língua com a dele, movendo seus lábios com paixão. Correu as mãos ansiosas pelos músculos de Mason, cobertos pelo tecido refinado do terno, tentando memorizar cada contorno dos braços e ombros. Quando lhe tocou os pêlos macios na altura do colarinho aberto da camisa, ouviu-o soltar um gemido abafado e ele a fez inclinar-se para trás, de maneira que estava quase deitada sobre a própria mesa. Mason a acariciava com impaciência, as mãos fortes percorrendo-lhe o corpo, insinuando-se sob a barra do suéter, tocando-lhe a pele nua. Ela o abraçou com força, mais uma vez sentindo-se arrebatada pelo poderoso anseio que a percorria. Era algo forte demais, que lhe roubava toda a razão e a capacidade de resistir, uma paixão fulminante. Ocorreu-lhe vagamente que, da maneira como as coisas prosseguiam, acabaria fazendo amor com ele ali mesmo na sua mesa de trabalho. 22


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Não importava. Nada importava exceto Mason. Abruptamente, ele a soltou para que se apoiasse de volta nos próprios pés e interrompeu o beijo, dando um passo atrás. Ela cambaleou, confusa com a súbita interrupção. O pulsar de seu coração pareceu incrivelmente alto aos seus ouvidos até que se deu conta de que a batida insistente era à porta de seu escritório. — Ellie — chamou a voz abafada de Prescott do outro lado da porta. Evidenciou-se em seu tom preocupado que já estivera batendo havia algum tempo. Ela não ouvira nada. Lançou um olhar a Mason. Ele correu os dedos pelos cabelos loiro-escuros e franziu o cenho na direção da porta. — Ellie! — chamou Prescott novamente. Ela limpou a garganta e respondeu numa voz trêmula: — Entre. O assistente meteu a cabeça pelo vão da porta primeiro, seu olhar inquiridor. — Está tudo bem? Ellie forçou um sorriso. — Sim, nós estávamos apenas... apenas conversando sobre como resolveremos o problema com... com Everett Winslow. Prescott examinou-a com um olhar atento, deixando-a com a impressão de que não acreditava nela. Depois, franziu o cenho para Mason. — Então,..você vai nos ajudar? Mason devolveu o olhar atravessado. — Sim, eu planejo ajudar Ellie. Ela alternou um olhar entre os dois homens. Entreolhavam-se feito dois cães raivosos lutando pelo mesmo osso. Pôde jurar que pareciam quase enciumados. Ora, o mundo devia estar fora de seu eixo porque tudo parecia decididamente estranho. . O incrível Mason Sweet queria ter um caso com ela. O discreto e reservado Prescott Jones parecia prestes a se engalfinhar com Mason por sua causa. E ela estivera mais do que disposta a perder sua virgindade ali mesmo em sua mesa... em plena luz do dia... na biblioteca pública. Mason adiantou-se até a porta. — Ligarei para você hoje à noite, Ellie — disse com um sentimento de posse que não reconhecia, nem entendia. Tudo o que sabia era que não gostava do ar protetor nos olhos de Prescott Jones. Ficava evidente que o outro homem o julgava uma ameaça para Ellie. O que, na verdade, Mason tinha ciência de que era, mas o que o incomodou mais foi que Prescott parecia estar interessado em Ellie. Não podia imaginar por que aquilo o afetava. Qual era o problema se o gentil e solícito colega de trabalho de Ellie a desejava? Aquilo não era da sua conta. Se ele próprio estivesse planejando conquistá-la, então seria uma outra história. Se bem que o olhar que o assistente da biblioteca lhe lançou quando se retirou do escritório o fez querer informá-lo de que Ellie já era sua. Que mantivesse as mãos longe. Limitou-se, porém, a devolver o olhar contrariado do homem e deixou a biblioteca. Não deveria ter beijado Ellie, mas ela lhe parecera simplesmente irresistível, com seus lábios cheios e rosados e grandes olhos azuis. Mas ele iria resistir. Não era do tipo heróico, mas tentaria ser. Na verdade, naquela noite procuraria uma dama para ajudá-lo a aplacar seu exacerbado desejo. Como já esperara, quando voltou à prefeitura, Mason encontrou ninguém menos do que Everett Winslow a sua espera. Everett era cerca de uns quinze anos mais velho do que ele. Mas apenas umas 23


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) poucas rugas em torno dos olhos e as têmporas um tanto grisalhas indicavam a diferença. Tinha um corpo atlético, ar dinâmico e sempre exibia um sorriso largo e calculado. Quando o informou de que não o apoiaria no projeto de um novo campo de futebol para a cidade, não à custa da biblioteca, Winslow meneou a cabeça com falso ar compreensivo e não houve desapontamento em seus olhos. Mason percebeu que dera exatamente a resposta que o homem desejara. Winslow queria que ambos estivessem em lados opostos naquela questão. E não havia dúvida de que o assunto dividiria a cidade. Mais uma vez, os dois homens veriam exatamente qual deles detinha o poder em Millbrook. Mason esperava que fosse ele. Mas, depois das semanas anteriores, não podia ter absoluta certeza. — Não sei se Mason será de muita ajuda — comentou Prescott, enquanto dava baixa em alguns livros devolvidos em seu computador. Ellie parou próxima à mesa do assistente, observando-o de cenho franzido. — Por que diz isso? Afinal, ele é o prefeito. — Eu não sei. Apenas ouvi algumas coisas, isso é tudo. — O que você ouviu? Prescott deu de ombros, mantendo os olhos em seu monitor. — Recentemente, ouvi algumas pessoas que têm comparecido às reuniões do conselho da cidade dizendo que Mason não estava ... que não andava agindo como ele mesmo nos últimos tempos. Ellie exasperou-se de imediato. — Devem ser intrigas da oposição, ou algo assim. Eu sei que Mason fará tudo o que puder para nos ajudar. Prescott manteve-se em silêncio por um momento e, então, perguntou num tom manso: — Até que ponto você o conhece? Aquilo levou Ellie a fazer uma pausa. Embora de uma maneira vaga e distante, Mason sempre parecera fazer parte de sua vida. Sabia de todos os detalhes práticos de sua vida, em especial depois que se tornara político. Tinha que admitir que era como uma espécie de fã que sabia tudo sobre seu ídolo. Mas ela não o conhecia realmente, não em seu íntimo. Beijara-o, planejara dormir com ele, mas nada daquilo significava que o conhecia a fundo em termos pessoais. Era estranho, levando em conta que ambos os atos eram tão íntimos. — Eu o conheço bem o bastante — declarou, enfim, embora suas palavras não contivessem a veemência que esperara. Mais uma vez, Prescott prolongou o silêncio, o olhar fixo no monitor, os dedos voando no teclado. — Eu estava me perguntando — disse, enfim — você estaria interessada em sair para jantar hoje à noite? Ele a convidara para jantar muitas vezes antes, mas, depois de sua reação hostil a Mason naquela manhã, ela-se perguntou se Prescott achava que havia mais nos jantares amistosos de ambos do que ela própria percebera. Até então, nunca nem sequer pensara que Prescott talvez a considerasse como mais do que uma amiga, uma chefe capaz. — Acho que não poderei esta noite. Marty ainda está na cidade — acrescentou depressa. — Está certo — disse ele com um sorriso tranqüilo e retomou seu trabalho, como se sua resposta lhe tivesse sido indiferente. Ela voltou a seu escritório, achando que provavelmente interpretara mal a reação dele diante de Mason naquela manhã. Prescott não passava de um bom e leal amigo e a encarava da mesma maneira, assegurou-se.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ellie olhou para o relógio de pulso pelo que lhe pareceu a centésima vez. Eram quase dez horas. Odiava ser patética a ponto de estar esperando o telefonema de Mason com a respiração em suspenso, mas não podia evitar. Sentada a um canto do sofá, tentava se concentrar num livro, lendo o mesmo parágrafo que já lera três vezes. Obviamente, sua mente estava em outro lugar. Naquele momento, Marty desceu a escadaria com ar desanimado. —Acabo de receber uma ligação do meu agente no meu celular. Meu próximo trabalho na Suécia terá de ser antecipado e precisarei estar de volta a Nova York amanhã à noite. — Oh, que pena. — Ellie sabia que Marty pretendera prolongar sua estada por mais alguns dias a fim de rever Abby, que estaria de volta da lua-de-mel dali a quatro dias. Marty soltou um profundo suspiro. — São os ossos do ofício, creio eu. — Sua expressão iluminou-se de repente num visível esforço para reprimir o desapontamento. — Tive uma ideia! Esta é a nossa última noite. Precisamos fazer algo especial. — O que tem em mente? — Que tal irmos até aquele bar descontraído em Bar Harbor? Como se chama mesmo? Toca do Urso? Ellie olhou para seu pijama folgado. — Você quer sair? — Claro. — É um dia de semana. — Oh, não aja feito uma velha caquética. A cidade de Bar Harbor é tão próxima. E não sei quando estarei de volta em casa novamente. O pensamento seguinte de Ellie foi o de que Mason telefonaria e ela não estaria ali para atender. Mas olhou para sua irmã, ansiosa por uma resposta e com uma expressão encorajadora. Não via Marty com frequência e seria egoísmo de sua parte recusar. — Vou me vestir. A irmã soltou um riso contente. — Nós nos divertiremos muito.

Capítulo IV O Toca do Urso era um lugar aconchegante, cuja clientela era composta na maioria por residentes locais. O ambiente principal era amplo com um bar numa das extremidades. Mesas quadradas e cadeiras de couro distribuíam-se diante de um palco. Para além do bar, havia uma pequena área que continha algumas mesas altas e redondas, circundadas por banquetas. —Vamos nos sentar na sala principal. Não se pode ver a banda ali do outro lado do bar — sugeriu Marty, conduzindo Ellie até a mesa mais próxima do palco. A "banda" era formada por dois homens com violões e microfones. Tocavam uma canção que Ellie não conhecia, mas ambos tinham vozes agradáveis e a música era suave e regional. Quando o garçom se aproximou, Marty pediu uma cerveja escura e Ellie, um chá gelado. A irmã caçula franziu o cenho. — Vamos, tome um drinque. 25


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Você toma os drinques — respondeu Ellie com um sorriso indulgente. — Eu dirigirei. Marty deu de ombros, parecendo achar o acordo justo, e começou a se mover de leve ao ritmo da música. Ellie olhou ao redor, notando que o lugar estava tranqüilo. Dois homens estavam sentados junto ao bar, bebericando suas cervejas, um jovem casal jantava algumas mesas atrás da de ambas. Outro casal estava sentado na saleta para além do bar, mas Ellie pôde ver apenas a mulher de seu ângulo. Estava um tanto sofisticada demais para o lugar, usando calça justa preta e uma blusa de seda. Os cabelos longos e escuros exibiam um daqueles cortes desfiados e modernos que Ellie invejava. Tocou os próprios cabelos de leve, lembrando-se de como seus próprios cachos loiros eram rebeldes. Oh, bem, não adiantava se preocupar com aquilo. Afinal, seu cabelo era o menor de seus problemas. Havia seu peso, com o qual lutara a vida inteira. Na adolescência, sempre fora motivo de chacota por seus muitos quilos a mais, o que abalara demais sua auto-estima. Admitia que, com o tempo, conseguira emagrecer, a custa de muito sacrifício, até chegar a um peso razoável. Mas mantinha-se sempre atenta à balança. E havia sua altura que nunca contribuíra muito. Como acabara ficando apenas com um metro e sessenta quando ambas as suas irmãs tinham mais de um metro e setenta e cinco? Céus, Marty tinha mais de um metro e oitenta e cinco, na verdade! Ora, não adiantava ficar obcecada por causa daquilo. Ela era o que era. E havia momentos em que não desejaria ser nenhuma outra pessoa por nada no mundo. Seus pensamentos voltaram-se para seu inesperado encontro com Mason em seu escritório naquele dia. O beijo dele fora maravilhoso. Não estivera tão nervosa quanto da primeira vez. Embora tivesse se sentido assustada em princípio, logo fora tomada por uma paixão incontrolável que a fizera retribuir o beijo com todo ardor... e ansiar por mais. Ela soltou um suspiro. — Vamos, conte-me, qual é a razão desse ar sonhador? — perguntou Marty. — Ou eu deveria perguntar quem? Ellie reprimiu de imediato o sorriso tolo em seu rosto e tentou parecer indiferente. — Eu só estava pensando... no trabalho. — Trabalho? — Marty não pareceu convencida. — Sim. A irmã pareceu subitamente horrorizada. — Por favor, não me diga que você finalmente sucumbiu à paquera de Prescott Jones! — O quê? Do que está falando? — Prescott Jones. Não diga que nunca notou os olhares de adoração que ele lança na sua direção. A cada vez que tenho ido ver você na biblioteca só faltou vê-lo babar por sua causa. Ellie lançou-lhe um olhar de incredulidade. — Imagine! Marty revirou os olhos. — Ora, vamos! Só você ainda não percebeu! O garçom voltou com as bebidas. — Tem certeza? — perguntou Ellie depois que o rapaz se afastou. — Absoluta. O homem é louco por você. Ellie refletiu sobre as palavras da irmã e o fato de que ela se perguntara a mesma coisa a respeito de Prescott naquela manhã. Depois, concluíra ser apenas impressão sua, mas... Antes de ponderar as palavras, confessou: — É engraçado, porque Prescott interrompeu a mim e Mason no meu escritório esta manhã e não pareceu muito contente. — Tão logo proferiu as palavras, percebeu que revelara demais. 26


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — O que Prescott interrompeu você e Mason fazendo em seu escritório hoje? — perguntou Marty, apoiando os cotovelos na mesa. Ellie conteve um gemido. Sentiu as faces queimando e sabia que Marty era esperta demais para não notar sua reação. — Mason foi me dizer que apoiaria a biblioteca contra Everett Winslow. — Mas quando você chegou ontem à noite, contou que Mason já havia prometido lhe dar seu apoio. Aliás, estava misteriosa demais — acrescentou Marty com ar malicioso. — Aconteceu algo mais? A irmã caçula era, de fato, muito esperta, e logo que chegara, na noite anterior, Ellie apenas lhe contara que Mason lhe daria seu apoio, omitindo obviamente os detalhes da barganha. — Ora, é claro que não. Bem... ele apenas queria... conversar sobre alguns detalhes. — Essa conversa envolveu o uso de lábios e línguas para mais do que apenas a formação de palavras? — Marty! — Ellie arregalou os olhos, chocada. A irmã soltou um riso. — Você não precisa me contar, se não quiser, mas não pude deixar de notar que você parecia ter trocado uns beijos ardentes quando voltou da casa de Mason ontem à noite. As faces ainda mais afogueadas, Ellie tomou um gole de chá gelado, esperando que a bebida fria ajudasse a esfriar sua pele. Marty bebericou sua cerveja. — Está certo — disse quando a irmã prolongou o silêncio. — Vou parar de insistir nisto. Ellie deu-se conta de que queria contar a Marty. Precisava partilhar aquilo. — Nós realmente nos beijamos. E foi... maravilhoso. — Eu sabia! — Marty abriu um sorriso alegre. — Estão planejando um encontro, ou algo assim? O sorriso de Ellie diminuiu um pouco. — Acho que sairemos num dia desses. — Uma vez, ao menos. — Fico contente. Já era tempo de você encontrar um pouco de felicidade. Ellie franziu o cenho, perplexa. — Por que diz isso? — Bem... — Foi a vez de a irmã mais nova parecer um tanto constrangida. — Você tem passado tempo demais sozinha desde que nossa avó morreu. E quando ela estava viva, você passava todo seu tempo ajudando-a. É tempo de viver para você mesma. As palavras fizeram Ellie se sentir ainda mais confiante quanto a sua decisão secreta e ousada de dormir com Mason. Era algo que faria por si mesma. Para relembrar quando os dias se tornassem solitários novamente... As irmãs ficaram, então, em silêncio, apenas ouvindo a música agradável, até que Marty se desculpou, dizendo que precisava usar o toalete. Ellie olhou ao redor, bebericando seu chá. Não pôde deixar de notar que a mulher na saleta estava sendo abraçada por seu companheiro e, pelo ângulo de sua cabeça, parecia estar sendo beijada com volúpia. Ela desviou o olhar de imediato, sentindo-se indiscreta e tornou a observar os músicos. Quando Marty voltou, parecia agitada, uma expressão ansiosa no rosto. — Ellie, não estou me sentindo muito bem. Acho que devemos ir. — Claro — prontificou-se Ellie, preocupada com a crescente agitação da irmã. Marty já chamava o garçom e pagava a conta. Tiveram de passar perto do bar para sair. Naquele instante, a irmã tentou desviar a atenção de Ellie para um imenso pôster do lado oposto, mas, antes de olhar na direção indicada, algo atraiu seus olhos na saleta para além do bar. Pôde ver com clareza a morena bonita e o acompanhante que a fitava com nítido interesse. 27


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ellie sentiu um nó no estômago e, de imediato, reconheceu os cabelos loiro-escuros, os predatórios olhos cinzentos e o sorriso cativante. Mason estava sentado bem próximo da morena, uma mão na coxa dela, a outra afastando-lhe uma mecha de cabelo sedoso do rosto. Naquele exato momento, Mason desviou o olhar de sua acompanhante e encontrou o de Ellie. Ela cambaleou, apoiando-se no braço da irmã e, com um esforço sobre-humano, conseguiu se adiantar depressa até a saída do Toca do Urso, sua pressa em deixar aquele lugar subitamente ainda maior do que a de Marty. Mason observou Ellie saindo, o braço da irmã num gesto protetor em torno dela, e foi tomado por uma opressora sensação de perda. Quando a vira, quisera ir lhe falar, tentar explicar a situação de algum modo, mas não o fizera. Ficara em sua mesa. Porque, apesar de seu desejo implacável por Ellie, sabia que estava fazendo a coisa certa permanecendo com Natalie. . Olhou para a mulher sentada a sua frente. A mulher para quem ligara depois do trabalho para encontrar para um drinque... e talvez um pouco mais. Uma mulher também divorciada, que entendia e aceitava sua aversão por envolvimento sério e compromisso. Mason sabia que, embora Ellie dissesse que concordava com um acordo semelhante, não estava realmente preparada para aquilo. Ela merecia muito mais do que ele jamais poderia lhe oferecer. — Mason? A voz de Natalie sobressaltou-o. — Desculpe, você disse alguma coisa? — Eu lhe perguntei se você conhece aquela mulher loira que acaba de sair com aquela outra mais alta. — Mulher loira? Não, não a conheço — respondeu ele facilmente, embora não soubesse por que mentira. — Ela olhou para cá com uma expressão estranha e, depois, você ficou observando-a fixamente até o momento de ela deixar o bar. Mason deu de ombros. — Deve ter sido impressão sua. Eu estava apenas olhando para um ponto qualquer, distraído com os meus pensamentos. Não conheço mesmo a tal mulher. Foi a vez de Natalie dar de ombros, como se tivesse perguntado por mera curiosidade e o assunto realmente não lhe importasse. Mason sorriu, aliviado. Era uma das coisas que gostava naquele seu envolvimento corriqueiro com Natalie. Nada de cobranças, de perguntas sérias, de sentimentos de posse. Ela lhe abria um sorriso sugestivo agora. — Acho que conheço um jeito melhor de distraí-lo de seus pensamentos... Por que não vamos até a minha casa e eu lhe preparo um daqueles cafés irlandeses que você adora? O sorriso de Mason alargou-se. Sabia o que se seguia aos cafés bastante inebriantes de Natalie. E era exatamente o que ele precisava para se livrar de seu desejo impróprio pela séria e reservada Srta. Ellie Stepp. Mason sempre apreciara a experiência e a ousadia de Natalie. Mas, naquela noite, enquanto ela o beijava com ardor e o acariciava no sofá de sua casa em Bar Harbor, foi subitamente o beijo de Ellie que povoou a mente dele. A hesitação dela. Sua inocência e reação vulnerável. A maneira como o beijara e parecera estar sendo arrebatada por seu beijo. Mason tratou de afastar os pensamentos e concentrou-se no momento. Tinha uma linda mulher em seus braços prestes a se entregar com todo abandono. Pare de ser tolo e desfrute isto!

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Deitando Natalie no sofá, intensificou o beijo e começou a acariciar-lhe o corpo bem-feito. Abrindo-lhe a blusa e o fecho dianteiro do sutiã de renda, cobriu-lhe os seios com as mãos. Eram firmes e pequenos, não macios e voluptuosos. Ele conteve um gemido de frustração. Natalie era bonita, sexy, mas não era a mulher que queria. Ele queria suavidade e calor. Queria doce encabulação e inocência. Queria Ellie... e não era tolo a ponto de achar que conseguiria saciar seu desejo com outra. Fechando a frente da blusa de Natalie depressa, ele desvencilhou-se de seus braços e sentou-se no sofá. — O que foi? — Ela franziu o cenho, confusa. — Não posso fazer isto. Natalie abriu um sorriso maroto. — É claro que pode. Já o fez várias vezes, e sempre adorei cada minuto. — Sempre gostei também. Mas... — Ele correu a mão pelos cabelos despenteados. — Acho que não posso continuar com este arranjo que temos. Natalie inclinou a cabeça, desapontada, mas não de coração partido. — Existe outro alguém? Mason hesitou e, então, meneou a cabeça. — Talvez. Ela endireitou-se no sofá e ajeitou as roupas. — Bem, se der certo, ela será uma mulher de sorte. Marty queria poder encontrar Mason Sweet e deixá-lo com um olho roxo. Como ele ousava beijar Ellie.e estar com uma outra mulher no mesmo dia? Quando ela voltara do toalete, vira por acaso o prefeito aos beijos com aquela morena do outro lado do bar e tentara tirar Ellie do Toca do Urso urgentemente para poupá-la do constrangimento. Mas, apesar de seus esforços, Ellie acabara vendo Mason e a morena também e fora evidente quanto ficara abalada. Ela mal dissera três palavras desde que haviam voltado para casa e, agora, metida num pijama de flanela, fingia ler um livro no sofá. — Tem certeza de que está bem? — perguntou Marty, sentando-se numa poltrona ao lado. Ellie sobressaltou-se com a pergunta e, então, forçou um sorriso. — É claro que estou bem. — Acho que vou ligar para meu agente e lhe dizer que tente adiar o trabalho novamente, pois preciso ficar mais alguns dias aqui. Ellie fechou seu livro. — Não. Não vai ficar por minha causa... não por isto. Estou bem. E eu sei quanto você está ocupada e que tem de retornar. —Você me diria se quisesse que eu ficasse, não é?—perguntou Marty, ainda incerta. — Claro. Estou mesmo bem e não quero que se preocupe. Além do mais, sei que terá um cronograma apertado na Suécia e terá de se preparar para a viagem e todas aquelas sessões de fotos. Quero que embarque no seu vôo para Nova York amanhã, conforme planejado. — Ellie espreguiçou-se e bocejou.— Estou cansada. Acho que vou me deitar. Marty sabia que Ellie estava evitando o assunto sobre Mason, mas não quis pressioná-la. Para todos os efeitos, ambos só haviam se beijado e não havia nada entre eles. Sabia, no entanto, quanto Ellie estava-magoada, mas talvez fingir que nada acontecera fosse o jeito melhor que encontrara para conseguir lidar com a situação. —Quer saber de uma coisa?—disse com um sorriso.—Vamos acordar bem cedo amanhã e ir até a antiga parada de caminhoneiros na Rota 1 para comer panquecas de amora. 29


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ellie adiantou-se para abraçá-la. — Vou adorar. Boa noite. — Boa noite. Marty acabara de fazer sua mala quando uma forte batida soou à porta da frente. Olhou para o relógio digital na mesinha-de-cabeceira. Eram quase duas da madrugada. Quem poderia estar ali àquela hora? Seguiu depressa pelo corredor e a escadaria. Com sorte, Ellie permaneceria adormecida, seu quarto sendo o mais afastado da porta da frente. Não precisava de mais aborrecimentos por ora. — É Mason Sweet — identificou-se a pessoa do outro lado da porta, num tom de voz casual, como se fosse perfeitamente normal estar fazendo uma visita no meio da noite. Marty acendeu a luz da varanda e abriu a porta, encontrando o jovem prefeito em desalinho e estreitando os olhos sob a súbita claridade. — Ellie está? Marty encostou-se no batente da porta e cruzou os braços sobre o peito. — Faz alguma ideia de que horas são? — Deve ser bastante tarde, creio eu. —São duas da madrugada. Ellie está dormindo. Mason meneou a cabeça, parecendo quase acanhado. — Acho que você não consideraria a possibilidade de acordá-la, não é mesmo? Marty torceu os lábios. — Não, pode apostar que não. Ele tornou a menear a cabeça, aceitando a recusa. Marty estudou-o por um momento. — Você está bêbado? Mason endireitou as costas, o gesto fazendo-o cambalear apenas de leve. — Estou bem. Ouvir a mesma frase que Ellie ficara repetindo a noite inteira fez com que uma onda de irritação dominasse Marty. — Bem, Ellie não está disponível. Ela não é uma leviana qualquer que fica beijando sujeitos em seu escritório todos os dias, como sabe. É uma mulher boa e decente que precisa de um homem igualmente bom e decente, não de um conquistador barato. Marty imaginou que o deixaria furioso, mas Mason limitou-se a dizer: — Eu sei. — Ótimo. — Ela disse a si mesma que não deixaria que a expressão arrependida de Mason a afetasse e começou a fechar a porta. Mas ele estendeu a mão para segurá-la e manteve-a aberta. — Ouça, sei que tudo que está dizendo é verdade. Ellie realmente precisa de um bom homem. Precisa de alguém estável. Alguém que possa lhe oferecer uma vida cheia de amor e segurança. — Ele soltou a porta, cambaleou para trás e apontou para o próprio peito. — Infelizmente, ela quer a mim. A declaração foi tão sincera, tão cheia de depreciação que Marty quase riu, mas conteve-se. — Eu sei que ela o quer. Mas Ellie não tem a menor ideia de como lidar com você. Ela... confia demais nos outros. Acha que todos os problemas do mundo podem ser resolvidos com um sorriso e meia dúzia de palavras bondosas. Quer ser o responsável por destruir as crenças dela? Mason encarou-a por um momento e, então, olhou para os próprios sapatos. — Eu acho que não — disse Marty. — Então, por favor, fique longe dela. Mason soltou um profundo suspiro que pareceu sair bem de seu íntimo. Virando-se, desceu da varanda sem olhar para trás. 30


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ellie comeu suas panquecas de amora, mas sem lhes sentir o gosto. Estava deprimida demais, tanto por causa de Mason quanto pela partida de Marty. Quase se sentira tentada a aceitar a oferta dela de ficar um pouco mais, mas sabia que a irmã tinha seus compromissos de trabalho. Além do mais, sua própria mágoa não se justificava. Não tinha o direito de estar de coração partido por ter visto Mason com outra mulher. Não havia nada entre ambos; ele podia fazer o que quisesse. Ela apenas presumira automaticamente, uma vez que haviam se beijado outra vez e que ele dissera que telefonaria, que o acordo de ambos de uma noite ainda estaria valendo. Mesmo depois de o homem ter-se recusado abertamente a dormir com ela. Não pudera ter deixado seus sentimentos mais claros em relação ao assunto, mas, mesmo assim, ela não os entendera. Mason devia achá-la uma completa tola. Ela notou que Marty mal tocara em suas panquecas, também absorta em pensamentos. E pensar que tinham feito tanta questão de desfrutar o desjejum favorito de ambas antes que a irmã tivesse que partir. Depois que deixaram o movimentado restaurante, Ellie levou Marty de carro à cidade de Bangor para pegar um ônibus até Portland, onde tomaria o avião rumo a Nova York. Ellie abraçou a irmã com força e não se apressou para sair a fim de chegar a tempo para o trabalho, mas deteve-se ali longamente, para observar Marty desaparecendo na estação de ônibus. Ela jamais chegara atrasada ao trabalho. Estava cansada de ser a entediante e previsível Ellie e, talvez, chegar atrasada para o trabalho fosse um meio melhor de começar sua rebelião do que ir direto para uma aventura sexual de uma noite. —Ellie, felizmente, eu já estava me perguntando se havia acontecido alguma coisa — exclamou Prescott, enquanto ela passava pela porta dupla da frente da biblioteca. Ellie olhou para o grande relógio de parede. — Estou apenas quinze minutos atrasada. — Você jamais se atrasa. De algum modo, a reação de Prescott fez com que se sentisse ainda mais deprimida. Estivera realmente sendo ambiciosa demais ao almejar um breve romance com Mason. Ou com quem quer que fosse, na verdade. Não podia nem sequer chegar atrasada ao trabalho sem evidenciar o fato de quanto sua vida era monótona e previsível. —Não houve nada, mas agradeço sua preocupação. Levei Marty até Bangor para que pegasse seu ônibus até Portland. Prescott meneou a cabeça. — Aposto que foi difícil vê-la partir outra vez. Poderá voltar logo? — Talvez em janeiro, pelo que calculou. Ele soltou um suspiro, sua simpatia autêntica. — Esse será o terceiro Natal que ela passará longe da família, não é? — Sim. Essa época costuma ser sempre bastante atarefada para ela. Prescott meneou a cabeça. Uma cliente se aproximou do balcão de retirada e Prescott se adiantou depressa para atendê-la. Ellie sentiu alívio. Agora que Marty mencionara o possível interesse de Prescott por ela, as conversas dos dois pareciam mais significativas. Ou aquilo, ou estava imaginando coisas. Uma vez em seu escritório, a porta fechada, tentou se concentrar em seu trabalho. Mas uma imagem dela mesma deitada naquela mesa com o peso de Mason sobre seu corpo persistiu em sua mente. Uma fantasia absurda, disse a si mesma com severidade. Não era aquela mulher. Eleanor Stepp não agia daquela maneira. Solteironas sem graça não se deitavam em mesas de trabalho, fazendo amor com homens estonteantes. Era uma mulher tímida e reservada, previsível. Uma mulher de trinta anos que mantinha os pés bem firmes no chão, que não se esquecia de sua realidade, não fugia de sua rotina. 31


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Mas não queria ser aquela mulher. Queria viver a vida, experimentar coisas novas. Queria libertar totalmente o seu lado romântico e sonhador, queria amor. Mason Sweet, no entanto, estava fora do seu alcance. Deveria ter-se dado conta daquilo desde o momento em que ele lhe fizera aquela ultrajante proposta. Deveria ter sabido que ele recobraria o bom senso e a retiraria. Por que a fizera, afinal? Ela obviamente não era o tipo dele. A morena com quem estivera na noite anterior era, por outro lado, exatamente o tipo de Mason. Alta, magra, sofisticada. A ex-esposa, Maria, fora daquele tipo também. Com suas pernas compridas, corpo bem torneado, cabelos longos e lustrosos, parecera uma modelo. Ellie soltou um profundo suspiro. De nada lhe adiantaria ficar sentada ali sentindo pena de si mesma. Sabia que não queria que sua vida prosseguisse da maneira como estava. Daquele modo, mudaria seu caminho. Mas manteria as mudanças realistas. Pararia de esperar seu príncipe encantado. Prescott meteu a cabeça pelo vão da porta para lhe dar um recado e afastou-se com seu costumeiro sorriso. Ela nunca notara que ele tinha um sorriso realmente bonito. Bem, talvez seu príncipe encantado fosse um simpático assistente de cabelos avermelhados e risonhos olhos azuis. Quando Ginny, sua secretária, anunciou a chegada de James Howarth, Mason já estivera à espera daquela visita. Howarth era o presidente do comitê de curadores da biblioteca. Com cerca de setenta e cinco anos, o homem ainda demonstrava um vigor admirável e havia um brilho inteligente em seus olhos escuros. —Presumo que Everett Winslow já falou com você sobre seu plano de obter a verba adicional necessária para um novo campo de futebol no colégio — declarou ele, enquanto ocupava uma das cadeiras diante da mesa de Mason. —Sim, ele falou comigo e também esteve aqui para tentar conseguir o apoio do conselho. —Bem, eu sou totalmente contrário ao plano dele. Assim como Harriet Dodge. Mas não posso ter certeza quanto ao restante dos curadores. Lou Martin tem um garoto no mesmo time de futebol que o filho de Winslow. Joseph Dunn tem sido amigo de Winslow há anos. E o filho de Jeanett Knight trabalha na Empresa de Pesca Marítima Winslow. Com todos envolvidos com o homem de um modo ou de outro, acho que não posso contar com os curadores para votar contra a transferência de fundos. Mason já sabia da maioria das coisas que James dizia. Ginny tinha a reputação de saber tudo o que acontecia na cidade. Nem sequer precisara pedir-lhe que tentasse descobrir o que pudesse a respeito. Apenas lhe perguntara o que sabia sobre os curadores e, como de costume, ela fora um poço de informações. — Sim, eu mesmo tenho tido receio disso. Planejo fazer um anúncio oficial na reunião do conselho da cidade da próxima se mana de que estou apoiando você e Ellie Stepp contra a retirada de verba da biblioteca. James sorriu com ar de aprovação. — Muito bem. Ellie tem feito maravilhas pela biblioteca. Eu odiaria ver isso tudo destruído. — Eu também. Depois que um confiante James se retirou, Mason sentiu o peso da dúvida em seu peito. Poderia ter tido certeza quanto ao apoio pleno do conselho da cidade alguns meses antes, mas agora... Bem, agora simplesmente não sabia. Decidiu que era o momento de falar com Charlie. Charles Grace era o presidente do conselho da cidade e, portanto, mantinha seu escritório como tal no prédio da prefeitura. Era também proprietário de uma imobiliária. Charlie encerrava um telefonema quando Mason entrou e sentou-se diante de sua mesa. Parecia atarefado e, portanto, ele decidiu ir logo ao assunto: 32


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — James Howarth veio me ver há pouco e eu lhe disse que planejava apoiar a biblioteca contra a proposta de Everett Winslow. Charlie meneou a cabeça, mas não havia nenhum indício de seus sentimentos em relação ao assunto em sua expressão. — Acho que você sabe que Winslow criou uma situação que certamente dividirá a comunidade. E também acho que você sabe que isso poderá afetar não apenas o futuro da biblioteca, mas o meu também. Eu gostaria de saber que tenho o seu apoio e o dos outros membros do conselho. — Mason não gostava de soar tão patético, tão incerto. Charlie estreitou os olhos e, enfim, disse: — E ambos sabemos que você tem um problema maior do que Everett Winslow que poderia afetar o seu futuro como prefeito. E você precisa resolver isso primeiro. Mason cerrou os dentes. Charlie nunca relevava nada. — Eu realmente cometi um erro ou dois, mas nada que tenha exercido impacto em minhas habilidades como prefeito. Charlie arqueou uma sobrancelha escura. — Acho que desmaiar alcoolizado em seu gabinete e ser apanhado por dirigir embriagado poderiam facilmente exercer um impacto em sua posição como prefeito. A única razão para nenhum dos outros membros do conselho saber nada a respeito de ambos os incidentes é porque o chefe Peck e eu estamos acobertando você. Mas não continuarei protegendo você se não for em busca da ajuda de que precisa. Mason encarou-o. Tinham sido bons amigos no passado. Ora, eles tinham costumado ir a um dos bares locais para um drinque ou dois depois do trabalho. Por que, de repente, Charlie estava agindo como um moralista e arrogante? Certo, Mason admitia que fizera algumas escolhas ruins, mas não tinha um problema. Como um amigo podia fazer uma acusação daquelas? — Acho que você deve fazer o que quer que acha que precisa fazer — declarou Mason finalmente, mantendo a voz controlada. — Creio que sim. Mason deixou o escritório, a raiva fervendo em seu íntimo. Então, cometera alguns erros. Grandes erros. Mas não acontecera novamente, nem aconteceria. Sabia que o chefe de polícia, Nate Peck, fizera-lhe um grande favor não tendo reportado sua grave infração. Mas não era como se não tivesse feito alguns favores a Nate também. Nate sabia muito bem que não teria se tornado o chefe de polícia local sem o seu apoio. E Mason aprendera sua lição. Por exemplo, na noite anterior, bebera demais com Natalie. Mas dirigira? Não, tomara um táxi. Era verdade que poderia ter feito melhor julgamento de onde ter ido naquele táxi, mas aquilo não fora resultado de ter bebido demais. Fora resultado de sua maldita libido. Fora uma sorte a irmã de Ellie ter atendido à porta na noite anterior em vez da própria Ellie. Podia imaginar a situação complicada em que estaria agora se seu plano tivesse dado certo. Tivera toda a intenção de aceitar a oferta de Ellie de uma aventura de uma noite. Mas as palavras protetoras de Marty haviam sido tão eficazes quanto uma ducha fria. Ela reiterara tudo sobre Ellie que eleja sabia. Ellie era ingênua e boa demais. E não queria magoá-la. Mas saber daquilo parecia não ser o bastante para diminuir aquele desejo irracional por ela. Mas, assim como fazia em relação a sua carreira política, Everett Winslow e tudo mais em sua vida, também manteria aquele desejo sob controle.

Capítulo V 33


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Com a partida de Marty, Ellie viu sua vida voltando a sua mesma e maçante rotina. Ela deixava o trabalho, voltava para casa e fazia o jantar. Enquanto comia, assistia ao noticiário. Depois, limpava a cozinha e tomava um banho. Colocando o pijama, deitava-se no sofá da sala com um livro até o momento de ir se deitar. Era daquele modo. Como fora durante anos. A única diferença era que agora tinha Chester para lhe fazer companhia e seria apenas por mais alguns dias, quando Abby e Chase retornariam para casa. Ambos deviam estar tendo momentos maravilhosos, dourando sob o sol do Caribe. Bebericando coquetéis gelados e coloridos e fazendo amor na praia. Ellie recostou melhor a cabeça na almofada do sofá e fechou os olhos, tentando se imaginar na mesma situação com um loiro irresistível a seu lado. Um loiro de enigmáticos olhos cinzentos, lábios cheios e sensuais e um beijo de tirar o fôlego. Ele a beijaria com volúpia, enquanto ouviriam o murmúrio das ondas acariciando as areias brancas da praia deserta. Ele correria as mãos por seu corpo, livrando-a facilmente do biquíni, afagaria seus seios longamente, enlouquecendo-a de prazer, mordiscando, sugando-lhe os mamilos. Ao mesmo tempo, ele lhe encontraria o centro da feminilidade, desvendando-lhe habilmente os segredos, explorando, estimulando... Ellie abriu os olhos abruptamente e soltou um gemido de frustração. Céus, o que estava lhe acontecendo?, perguntou-se, as faces afogueadas. Não, não iria fazer aquilo. Não ficaria tecendo fantasias eróticas com Mason. Era pura insensatez. O que tinha de fazer era parar de pensar nele, lembrou a si mesma. Havia quase uma semana desde que o vira no bar com a morena alta. A única outra vez em que o vira fora na reunião do conselho da cidade na terça-feira anterior. Como prometera, ele, de fato, anunciara sua decisão de apoiar a biblioteca. Ao longo da reunião, Ellie o observara, mas ele não olhara nem sequer uma vez em sua direção. Parecera tenso, seus olhos demonstrando sinais de cansaço. Depois da reunião, ela aguardara com o restante da equipe da biblioteca para agradecer-lhe, mas ele se retirara sem falar com ninguém. Ellie se preocupara com a possibilidade de haver algo errado. Mason era geralmente bastante sociável e elegante. Se bem que o comportamento do homem não era preocupação dela. Ainda assim, não conseguia deixar de se preocupar. No trabalho, determinada a dar uma necessária guinada em sua vida, fizera umas duas tentativas malsucedidas de deixar Prescott saber que estaria interessada em sair com ele. Uma vez, mencionara um novo restaurante em Bar Harbor que gostaria de conhecer, mas o assistente parecera não entender a indireta. E, então, ainda naquele dia, dissera-lhe que não ia ao Festival de Blue Hill havia anos e que achava que seria divertido ir naquele fim de semana à cidade vizinha para o evento. Prescott limitara-se a dizer que o festival era, de fato, animado. Ellie soltou um suspiro, dobrando os joelhos até a altura do queixo, apoiando o rosto na flanela macia de seu pijama. Estava provado que fora uma tolice aquela história de Prescott nutrir uma paixão secreta por ela. Não deveria ter deixado Marty induzi-la a acreditar naquilo. A irmã caçula tinha imaginação fértil e devia ter criado coisas que simplesmente não existiam. Ellie sorriu, esticou as pernas no sofá e ergueu seu livro para começar a ler. Mas, antes de terminar o primeiro parágrafo, o telefone tocou. — Ellie? — Era Prescott. Soou um tanto ofegante. — Olá. —Olá. — Houve uma pausa. — Estou ligando para ver se você gostaria de ir ao Festival de Blue Hill comigo amanhã à noite. Ellie sorriu. Talvez Marty estivesse certa, afinal. 34


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Eu adoraria. — Ótimo. — Ele pareceu aliviado. — Nós nos veremos amanhã, então. Mason recostou-se na lateral de uma barraca de jogos e observou a multidão circulando. Freqüentara o Festival de Blue Hill anualmente enquanto crescera. Uma mescla de parque de diversões, imensa feira de artesanato, concursos variados e apresentações de bandas regionais, era um grande evento, marcando oficialmente o fim do verão e o começo do outono e do ano letivo. Mas aquela era a primeira vez que ia até ali em muitos anos. Maria recusara-se a pisar em locais de comemorações populares. Gostara de restaurantes sofisticados e clubes exclusivos. Algodão doce e serragem cobrindo o chão não faziam o estilo dela. Mas ele, por sua vez, adorava tudo aquilo... os sons, os aromas, a atmosfera alegre e colorida. Sorveu um gole da limonada que acabara de comprar e sorriu quando notou uma mulher de estatura baixa esforçando-se para segurar um urso de pelúcia que era quase tão alto quanto ela. Foi apenas quando a mulher mudou o bicho de pelúcia de braço que pôde lhe ver os longos cachos loiros e o nariz delicado. Seu sorriso dissipou-se. Ellie sorriu para o parceiro alto a seu lado, as covinhas no rosto se acentuando. Usava um jeans que lhe moldava os quadris arredondados e uma camisa feminina de flanela que formava um pequeno V acima dos seios, não revelando nada, mas sugerindo muito. Estava absolutamente de tirar o fôlego. Mason conseguiu desviar os olhos dela e pousá-los no objeto daquele lindo sorriso. Prescott Jones. Afastando-se da barraca de jogos, seguiu o casal pela área do festival. Os dois pararam em várias barracas, observando crianças se divertindo nos brinquedos e jogos, admirando o variado artesanato. E Mason os seguiu discretamente a uma certa distância. Prescott jogou em duas barracas e, nas duas vezes, ganhou mais bichos de pelúcia. Ela sorriu, radiante, os braços repletos de seus tesouros felpudos. Finalmente, pararam numa das inúmeras barracas de comida, e Prescott comprou latas de refrigerante, cachorros-quentes e algodão doce. Encontraram uma mesa de piquenique vazia e sentaramse para desfrutar a refeição. Mason deteve-se junto ao carrossel, observando enquanto os dois conversavam animadamente, rindo com frequência. A cena aborreceu-o, e ele soube que não tinha direito de sentir a menor contrariedade. Não iria tentar um relacionamento com Ellie. Na verdade, deveria se sentir bem pelo fato de ela ter encontrado um bom homem. Era do que precisava. E, embora odiasse admitir, ela e Prescott faziam um belo par. Pareciam bem juntos. Pareciam felizes. Um estranho aperto no peito, Mason observou o casal por mais alguns momentos e, então, concluiu que precisava ir embora. Todo o encanto do festival desaparecera subitamente. Ellie observou o carro de Prescott desaparecendo por sua rua e abriu um sorriso. Fora uma noite divertida no festival. Prescott era amável e atencioso. Ela abriu a porta da frente e começou a colocar para dentro os bichos de pelúcia que ele ganhara nas barracas. Prescott oferecera-se para ajudar a carregá-los, o que a fizera hesitar. Deveria tê-lo convidado para entrar. Era o que as pessoas faziam depois de um encontro, mas não estava preparada. Por alguma razão, convidá-lo teria implicado em algo mais do que se sentia pronta para oferecer. Daquele modo, assegurara-lhe que poderia se arranjar sozinha e tinham se despedido apenas com um amistoso boa-noite. Ellie apanhou, enfim, o imenso urso de pelúcia por último e colocou-o com os demais no vestíbulo, recostando-se na porta que fechara atrás de si com um ligeiro sorriso. Sim, fora divertido. — Sabe, no lugar de Jones, eu teria insistido em carregar os bichos de pelúcia para dentro. E, então, eu teria beijado você loucamente de encontro a essa porta. 35


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ellie deu um salto, um grito assustado escapando de seus lábios e ecoando no silêncio da casa vazia. Mas não estava vazia. De imediato, acendeu a luz do vestíbulo. Mason estava sentado no início da escada que levava ao andar de cima, as pernas compridas cruzadas na altura dos tornozelos, os cotovelos apoiados num degrau, um sorriso predatório curvando-lhe de leve os lábios. Ellie levara a mão ao peito. — Isso é algum tipo de passatempo para você? Ficar à espreita no escuro? — Respirou fundo, tentando se acalmar. — O que está fazendo aqui, afinal? — Eu queria ver você. — Assim, arrombou a minha porta? Mason levantou-se e cambaleou de leve, mas usou o corrimão para se apoiar. — Não tive de arrombar a porta, como pode notar. Você a deixou destrancada. Não é muito seguro — avisou-a. — Pensei que Chester se encarregaria de afastar quaisquer intrusos. — Bem, o seu cão de guarda está roncando no sofá. — Ele aproximou-se pelo vestíbulo. — Divertiu-se no seu encontro? Ellie lutou contra a vontade de correr. — Por que você está aqui? — Já lhe disse, queria vê-la. — Por quê? Mason franziu o cenho, um momentâneo ar confuso passando por seus olhos. — Eu gostaria de saber. A resposta não foi tão rude, mas magoou-a. —Bem, eu... acho que deve ir embora. Mason ignorou-a. — Prescott beijou você no festival? — Isso não é da sua... Como sabe que eu fui ao festival? — Vi você lá. — Ele não parecia arrependido por tê-la espionado. Ellie entreabriu os lábios, mas tornou a fechá-los. Não fazia ideia do que dizer. — Adoro ver você nesse jeans. — Mason aproximou-se mais, e ela viu-se aprisionada entre ele, a porta e uma pilha de bichos de pelúcia. Tocou-lhe a lateral da perna, afagando-a lentamente até a altura da coxa. Ela observou-lhe a mão, os olhos arregalados, incerta quanto ao que fazer. — Observei você caminhando pelo local do festival. Seus quadris ondulando, o brim tão colado. Essa sua camisa solta roçando seus seios e abdome. Ellie engoliu em seco. As palavras a deixavam assustada, mas excitada também. — Quis tocar você. Lá mesmo, no meio do festival. Tocar suas coxas, esses seios provocantes... e aqui. — Ele deslizou a mão para tocar-lhe as nádegas. Usou a outra mão para se apoiar de encontro à porta, mantendo o corpo a milímetros do dela. Ellie soltou um suspiro trêmulo, sentindo-se zonza, temendo que ele continuasse fazendo e dizendo coisas ousadas, temendo que parasse. — Quero você. Oh, como eu a quero. — As últimas palavras foram sussurradas sensualmente e, então, ele tomou-lhe os lábios com um beijo possessivo. 36


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Em princípio, Ellie manteve-se rígida, confusa com a situação toda e com as coisas que ele lhe dissera. Mas seu desejo tinha vontade própria, e, colocando-se na ponta dos pés, abraçou-o pelo pescoço, puxando-o para si, aceitando toda a paixão que explodia entre ambos. Correspondeu ao beijo com o ardor que a consumia, entreabrindo os lábios, permitindo que aquela língua cálida explorasse sua boca eroticamente, que se entrelaçasse com a sua. Mason beijou-a por longos momentos até que se interrompeu de repente e fitou-a, seus olhos sérios. — Ellie, por favor, deixe-me fazer amor com você. Ela sentia o coração disparado no peito. Fitou aquele rosto másculo e bonito, os olhos sérios. Talvez se ele tivesse feito a pergunta de outro modo, pudesse ter dito não, mas era tudo o que queria... fazer amor com ele. Meneou a cabeça. Mason sorriu, um ar de triunfo nos olhos cinzentos. Pegando-lhe a pequena mão, conduziu-a pela escadaria. Oh, queria aquilo, pensou Ellie, enquanto lhe indicava qual era o seu quarto, ao final do corredor. Só não queria estar tão nervosa e gostaria de ter, ao menos, uma pista de como agir. Uma vez no interior do quarto, a porta fechada atrás de ambos, Mason tornou a estreitá-la em seus braços e beijou-a com volúpia. Ellie correspondeu instintivamente, tendo a sensação de ser apanhada por um turbilhão de paixão. Ele, então, deu um passo atrás, fazendo-a cambalear de leve, desorientada. Segurou-a pelos ombros e, embora o quarto estivesse escuro, a seriedade em seu semblante não passava despercebida. — Tem certeza de que quer que eu faça amor com você? Ela meneou a cabeça sem hesitação. — Oh, felizmente, porque tenho que possuir você. Ellie sentiu uma corrente eletrizante percorrendo-a, as palavras roucas de desejo fazendo-a estremecer em expectativa. Como seria? Estar nos braços dele, fazendo amor? Achou que poderia desmaiar diante da simples ideia. Então, ele despiu a camisa depressa, e ela o observou nas sombras com puro fascínio. Os ombros largos, o peito de músculos bem definidos destacavam-se sob o luar que se filtrava pela janela. Com a respiração em suspenso, ela o observou abrindo o botão do jeans, o zíper e, numa questão de segundos, a peça de roupa juntava-se à camisa no chão. Ellie sentiu-se zonza, observando-o apenas de cueca branca, as pernas fortes e vigorosas, a rija masculinidade evidenciando-se de encontro ao tecido frágil. Engoliu em seco. Ele puxou-a para si e tornou a beijá-la. Aquele foi um beijo doce, gentil e persuasivo, e logo Ellie sentiu sua ansiedade se dissipando, dando lugar ao puro desejo. Queria simplesmente se entregar a Mason com todo o abandono, Mason, o homem de seus sonhos. Foi somente quando estava caindo que percebeu que ele fora conduzindo-a até a cama e a deitara sobre a colcha. Ele ajoelhou-se a seu lado e insinuou a mão sob a camisa folgada dela, afagando-lhe a pele, subindo cada vez mais. — Vou tirar sua camisa, está bem? Ellie hesitou. Não queria que ele a visse despida. Não queria desapontá-lo. — Podemos... manter a luz apagada? Mason fez uma pausa e, então, assentiu. — Se é o que você quer... Ela enfrentou outro momento de incerteza e, então, ergueu os braços lentamente para que ele pudesse lhe retirar a camisa.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Mason soltou um gemido abafado e, então, despiu-lhe a camisa, juntando-a à pilha de roupas no chão. Ficou em silêncio, observando-a na penumbra. Ellie sentiu-se pouco à vontade. O luar e as luzes da rua subitamente pareceram como um holofote. Começou a passar os braços em torno de si mesma, certa de que Mason estava vendo as muitas imperfeições de seu corpo, mas ele segurou-lhe os pulsos. Gentilmente, abriu-lhe os braços, apoiando-os no colchão. Percorreu-a com um olhar demorado, e ela sentiu os mamilos comprimindo-se de encontro ao tecido fino do sutiã branco. O rubor espalhou-se por suas faces. — Puxa, você é tão sexy. Ellie sabia >que ele estava sendo gentil. Com certeza, estava vendo o que ela via no espelho todos os dias, seios grandes, pesados, e um corpo que precisava de muitos exercícios para ficar bem torneado. Ele soltou-lhe um dos pulsos e correu a mão pelo abdome dela, subindo até alcançar um dos seios. Massageou-lhe o mamilo túmido com ò polegar demoradamente, até fazê-la soltar um suspiro trêmulo. — Gosta disto? — perguntou ele, rouco. — S-Sim. Então, ela se viu nos braços de Mason, o fecho do sutiã sendo aberto até que seus seios se comprimiram de encontro ao peito despido dele. Com um gemido rouco, ele beijou-lhe o pescoço, o colo acetinado. Ao mesmo tempo, tentava abrir-lhe o botão e o zíper do jeans. Tentou, então, despi-lo, mas era justo demais e não desceu pelos quadris dela. Ellie sentiu as faces queimando em puro constrangimento, e segurou as mãos dele para detê-lo. — Deixe que eu faço isso. Ele deitou-se de costas e observou, enquanto Ellie se levantava. Ela passou um braço por sobre os seios nus e usou a outra mão para baixar o jeans. Contorceu-se, os quadris oscilando, enquanto puxava o tecido desajeitadamente com uma mão, até que o jeans desceu até seus pés. Podia imaginar a figura que apresentava, mas simplesmente endireitou as costas e olhou para Mason na cama. Aguardou, mas ele permaneceu completamente imóvel. — Mason? Não houve resposta. Esperava que ele não estivesse tão ocupado tentando reprimir o riso que não pudesse falar. Aguardou mais um pouco, os dois braços em torno de si de maneira protetora. Ainda não houve som algum. — Mason? Daquela vez, um som de respiração que pareceu decididamente um ligeiro ronco foi sua única resposta.

Capítulo VI Ellie aproximou-se mais e espiou o rosto de Mason na penumbra. Tinha os olhos fechados. Ela olhou ao redor, avistando seu robe no encosto de uma cadeira. Colocando-o, tornou a se aproximar da cama. Estendeu a mão até a mesinha-de-cabeceira, acendendo o abajur. Estudou-o sob a luz; ele estava de fato adormecido. Ou inconsciente. Ellie adiantou-se até o outro lado do quarto e, depois, lançou um olhar de volta até ele. O que faria agora? Aquilo era normal? Deveria chamar um médico? 38


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Mason tinha os braços estendidos ao longo do corpo, as pernas esparramadas na cama. Parecia que desabara ali de pura exaustão. Ou desmaiara. Mas ele não parecera tão embriagado. Na verdade, parecera normal. Bem, tão normal quanto qualquer homem que invade a casa de uma pessoa e a espera chegar para poder seduzila. Ela se aproximou outra vez, observando-o cautelosamente, como se ele fosse um leão que pudesse saltar a qualquer momento. Mas enquanto chegou mais perto para observar-lhe o rosto, sua apreensão diminuiu. Parecia bem menos predatório em seu sono. Tinha uma expressão serena no rosto bonito, os cabelos loiro-escuros em desalinho, os lábios cheios um tanto entreabertos. Ela, então, observou-lhe o corpo com todo o vagar. Ele tinha ombros largos e fortes, o peito de músculos bem-definidos era coberto ligeiramente por pêlos um pouco mais escuros que os cabelos. Deve ter sido o que roçou seus seios quando ele a estreitou de encontro a seu corpo, pensou com um delicioso tremor percorrendo-a. Era estranho que tivesse lhe sentido o contato do corpo antes de realmente vê-lo. Mas podia vê-lo agora a seu bel-prazer. E, embora se sentisse bastante atrevida em estar observando um homem enquanto ele dormia, simplesmente não conseguia afastar os olhos. Mason tinha um corpo atlético e simplesmente incrível, ponderou, enquanto foi baixando o olhar até o abdome rijo, observando os pêlos que desapareciam sob a cueca branca. Correu os olhos depressa por aquela região, sentindo um súbito calor dominando-a e contemploulhe as pernas fortes, enquanto tentava decidir o que fazer. Olhou para o relógio na mesinha-de-cabeceira. Era quase meia-noite. Ele respirava normalmente e parecia bem. Era provável que dormisse direto até a manhã seguinte. Cobriu-o com uma outra colcha que pegou do armário e, depois de recolher rapidamente as roupas de ambos do chão, dobrou-as, colocando-as na poltrona perto da janela. Pegou, então, seu pijama de flanela da cômoda, apagou o abajur da mesinha-de-cabeceira e adiantou-se até a porta do quarto. Na soleira, parou e olhou de volta para a cama, onde Mason continuava profundamente adormecido. De algum modo, aquele pareceu o final apropriado para aquela noite irreal. Fechando a porta devagar, seguiu pelo corredor até o antigo quarto de Abby. Depois que vestiu o pijama e se deitou, manteve o olhar fixo no teto. Esperava que Mason estivesse bem. Ele decididamente parecera cansado e estressado na reunião do conselho da cidade. E saíra tão logo a reunião terminara. Talvez estivesse contraindo uma gripe, ou algo assim. Com certeza, não desejava que ele estivesse doente, mas preferia aquela teoria a outras ideias que lhe inquietavam a mente. Como a de que ele apenas tivesse ido até ali porque bebera demais. Ou que tivesse ficado tão entediado com as preliminares de ambos que simplesmente tivesse adormecido. Ela virou-se e desligou o abajur. Se bem que aquele seria um final adequado para sua primeira tentativa de fazer amor. Afinal, era Ellie Stepp, a tímida e entediante bibliotecária. Mason virou-se na cama, tentando pegar no sono novamente. A chuva no telhado produzia um som agradável que fazia sua cama parecer incrivelmente confortável naquela manhã. O colchão e os travesseiros pareciam mais macios. Deu um suspiro. E aquele aroma? O que era? Estranho... era como lavanda mesclada com bacon e ovos. Ele abriu os olhos, dando-se conta de que estava num quarto que não lhe era nem um pouco familiar. Sentando-se, notou que estava numa cama de ferro trabalhado, pintado de branco. Uma colcha florida em tons de rosa e verde-claro cobria-o. As paredes eram revestidas com papel creme de aspecto acetinado, com listras brancas e pequenas violetas. O quarto era extremamente feminino. Até a mobília parecia feminina com sua patina branca e curvas graciosas. 39


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ele afastou depressa a colcha e levantou-se. Usava apenas cueca. O resto de suas roupas estava cuidadosamente dobrado na poltrona perto da janela. Vestiu-as rapidamente. Certo, o que havia feito daquela vez? Adiantou-se até a porta, girando a maçaneta devagar. O corredor estava vazio. Olhando para a esquerda, viu o banheiro. A direita, para além de algumas portas, estava a escadaria. Depois de fazer uso do banheiro e lavar bem o rosto, desceu as escadarias com relutância. Começava a fazer uma boa ideia de onde se encontrava. Só esperava que algo de que pudesse se arrepender não tivesse acontecido. Se bem que ter acordado praticamente despido na cama de uma mulher... ora, aquilo indicava que era provável que algo tivesse acontecido. Quando entrou na cozinha, Ellie estava junto ao fogão, de costas para ele. Usava um pijama de flanela de estilo masculino, embora a estampa de pequeninas flores rosa não pudesse ser mais feminina. E ficava tentadora usando-o, com todas as suas curvas apenas se insinuando e os cabelos loiros em sensual desalinho. Mason limpou a garganta, não querendo sobressaltá-la. Não adiantou muito, pois ela virou-se abruptamente, quase deixando cair a espátula que segurava. — Desculpe. Tentei não assustá-la. Ellie sorriu timidamente. — Não foi nada. Apenas não estou acostumada a ter alguém mais na casa. Quer que eu lhe sirva uma xícara de café? — Obrigado. Eu mesmo me sirvo. — Ele se adiantou até a mesa, de onde pegou a garrafa térmica e preencheu uma xícara com café aromático e fumegante. — Sente-se, sim? Estou fazendo omelete de bacon, queijo e cogumelos. Nada sofisticado, mas termino num minuto. Nada sofisticado. Mason não se lembrava da última vez que alguém lhe preparara o café da manhã. Seu estômago estava um tanto embrulhado, mas a comida provavelmente lhe faria bem. Sentando-se, sorveu um gole do bem-vindo café, achando estranho que se sentisse à vontade o bastante ali, como se estivesse em casa. Especialmente levando em conta o fato de que era provável que tivesse feito algo condenável. Pousando a xícara no pires, reuniu, enfim, coragem para perguntar sobre a noite anterior. — Alguma... Você está bem? A mão de Ellie tremeu ligeiramente enquanto colocava um prato com uma generosa fatia de omelete de aspecto delicioso diante dele. — Estou bem. Mason sentiu-se um completo idiota. Era evidente que ela não estava bem. — Eu fui... — Céus, como se perguntava uma coisa daquelas? — Fui bom com você? Ela franziu o cenho, como se não tivesse entendido a pergunta. Não podia ser bom sinal. — Você... — Como ele acabava parando naquelas situações? Estava certo, admitia; nunca se encontrara numa situação exatamente como aquela antes. — Você se... divertiu? Os olhos de Ellie denotaram entendimento. — Oh. — Ela corou. — Eu... eu, sim. Mas não parecia muito radiante a respeito. Pousando um bule de leite quente na mesa, voltou até o fogão para servir uma fatia de omelete para si mesma. Colocando o prato na mesa, sentou-se na cadeira oposta à dele. Comeram em silêncio por alguns momentos. 40


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Um lado covarde em Mason quis deixar as coisas exatamente como estavam, mas sabia que não podia. Além do mais, havia um outro lado seu que estava bastante irritado por não conseguir se lembrar de ter estado com aquela mulher atraente. Talvez, se perguntasse mais, aquilo pudesse avivar sua memória. — Ellie? Eu fui gentil com você? — Céus, esperava ter sido. Desejara-a tanto que receava não ter conseguido controlar muito seu ímpeto. Ela fez uma pausa com o garfo acima do prato e, após um momento, meneou a cabeça. Mais uma vez, ele teve a sensação de que Ellie não parecia muito feliz em relação ao evento. Droga! Era um tremendo cretino. Fizera sabia-se lá o que com ela, e a mulher estava ali lhe servindo educadamente o café da manhã. — Eu... — Ellie hesitou, interrompendo-se. Então, após um longo momento em que ficou olhando fixamente para seu prato, respirou fundo e encarou-o. — Você pareceu não estar se divertindo, no entanto. Mason ficou boquiaberto. Agora, ali estava algo que não esperara ouvir. — Por que acha isso? Ela corou profusamente. — Bem, porque você adormeceu. — Usou de um tom como se falasse com um paspalho, fazendo-o perceber que ela não sabia que ele não conseguia se lembrar de nada do que acontecera. Ele se lembrava vagamente de ter esperado que Ellie voltasse para casa de seu encontro com Prescott, mas aquilo era tudo. — Não acho que isso costume acontecer — acrescentou, embora soasse um tanto incerta. Mason não teve certeza de que deveria relevar que se esquecera de tudo, mas, após uma breve ponderação, concluiu que seria bastante difícil agir como se soubesse do que ela estava falando. — Isso foi antes ou depois de termos feito amor? Ellie arregalou os olhos ao descobrir que ele não sabia. — Mais ou menos "durante", acho eu; Mason quase arregalou os olhos também. Uma imagem de si mesmo acima dela, caindo no sono em pleno ato, passou por sua mente. Estremeceu por dentro. Aquilo, sim, era elegância sexual. — Exatamente quando eu apag... adormeci? Ellie corou ainda mais, o que não parecia possível. Baixou os olhos para o prato. — Quando me levantei para despir meu jeans. Ele soltou um suspiro de alívio. — Oh, felizmente. — Se ela ainda estivera de jeans, ambos não tinham realmente feito amor. Seu alívio foi passageiro quando olhou para Ellie. Tinha os ombros caídos e parecia à beira das lágrimas. — O que foi? — perguntou ele, apreensivo. — Eu estou bem. — Ela recolheu a louça usada e colocou-a na pia. Sem sequer lançar um olhar na direção dele, começou a lavá-la. Mason observou-a, perguntando-se o que fazer. Após alguns momentos, ela colocou um prato de lado e apenas ficou olhando pela janela para o céu cinzento e a chuva que caía. Mason levantou-se, usando o pretexto de levar seu prato. Mas queria tocá-la, certificar-se de que estava bem.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Mas quando parou ao lado dela, notou as lágrimas silenciosas que lhe rolavam copiosamente pelas faces. Sentiu um nó de imediato no estômago. Devia ter feito algo pior do que ter adormecido para fazê-la reagir daquele jeito. Colocando seu prato na pia rapidamente, pegou o braço dela, virando-a para que o fitasse. — Ellie, por favor, diga-me o que há de errado. Ela evitou-lhe o olhar e respirou fundo numa tentativa de controlar as lágrimas. — Diga-me, o que foi que eu fiz? Ellie encarou-o, a incredulidade evidente por entre as lágrimas. — Você não fez nada! Eu sou a idiota. Eu sou aquela que é tão inexperiente, tão desestimulante que você adormeceu. E, então, a experiência toda foi tão terrível que você bloqueou tudo em sua mente. Isto é um pesadelo. Ela libertou o braço e começou a deixar a cozinha, mas ele alcançou-a e tornou a segurá-la. — Não! — exclamou, veemente. — Não, não foi você. Ellie encarou-o, perplexa com a forte reação dele. — Você não é desestimulante e não posso imaginar qualquer momento a seu lado como sendo terrível. — Aposto que você nunca adormeceu enquanto começava a fazer amor com alguma outra mulher. — Não, eu... — Viu, eu sabia... Mason inclinou-se e tomou-lhe os lábios com um beijo rápido antes que ela pudesse prosseguir com sua linha de pensamento e depreciar a si mesma. Sua intenção fora apenas a de detê-la, mas, tão logo tocou-lhe os lábios com os seus, sentiu-se perdido. Adorava a maciez daqueles lábios e a maneira como se uniam ao seus com um misto de timidez e desejo. Poderia ter continuado beijando-a o dia inteiro, mas, infelizmente, tinham coisas que precisavam esclarecer. — O que houve ontem à noite não foi culpa sua — assegurou ele depois que encerrou o beijo. Ela piscou algumas vezes, os olhos ardorosos. Foi difícil não beijá-la novamente. — Tomei uns dois drinques antes de ter vindo para cá ontem à noite — explicou ele —, e não deveria ter feito isso, porque eu estive me recuperando de uma... uma gripe, e acho que me afetaram mais do que me dei conta. Ela meneou a cabeça e parte do ar sonhador dissipou-se de seu rosto. Colocou alguma distância entre ambos novamente, mas não tentou deixar a cozinha. — Achei mesmo que talvez pudesse ter acontecido algo assim — falou num tom manso. Mason assentiu, contente que Ellie finalmente tivesse entendido que os eventos da noite anterior não tinham sido por causa de alguma inadequação da parte dela. — Não pude acreditar que você realmente falou sério em todas as coisas que disse — comentou ela com um sorriso triste. Mason quase soltou um grunhido. — O que foi que eu disse? Ela tornou a corar. — Disse que gostava do jeans que eu estava usando. Ele se lembrava do jeans. Realmente gostara de vê-la usando-o. — Disse que gostaria de me tocar... por inteiro. Ele ainda queria. 42


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Disse que queria... que queria me possuir. — As palavras foram sussurradas, mas o efeito foi imediato. Mason sentiu uma onda instantânea de desejo percorrendo-o. — Eu sei que não teria dito essas coisas se estivesse se sentindo como você mesmo. — Acredito que eu já havia falado todas essas coisas de um modo ou de outro. Por que duvidou quando eu as disse novamente? Ellie soltou um suspiro, passando os braços em torno de si. — Porque eu sei como era sua ex-esposa. E eu vi a mulher com quem você estava naquela noite no bar. Não me encaixo na categoria delas. Mason franziu o cenho. — Que categoria? — Na das altas, bonitas..-, magras. Ele sentiu a raiva percorrendo-o. Como era possível que aquela mulher não enxergasse quanto era bonita? Adiantou-se para pegar-lhe a mão delicada. — Venha comigo. Ellie seguiu-o passivamente enquanto ele a conduzia até o andar de cima para onde sabia haver um grande espelho... o quarto dela. Posicionou-a diante do espelho. — Olhe para si mesma. Ellie sacudiu a cabeça e tentou se virar. — Não. Parado atrás dela, Mason segurou-a com gentileza pelos ombros, mantendo-a no lugar. — Bem, eu vou lhe dizer o que vejo quando olho para você. — Fitou-a por um momento através do espelho, sinceridade em seus olhos cinzentos. — Eu vejo um rosto adorável com grandes olhos azuis, intensos como um céu de verão, e lábios cheios e bem-feitos, da cor das rosas. E quando você abre um de seus lindos sorrisos, vejo suas covinhas e me sinto privilegiado em poder observá-la. Ele ergueu as mãos, tocando-lhe os cabelos que lhe emolduravam o rosto. — Vejo cachos dourados como os de um anjo e adoro quando estão em desalinho, como se eu tivesse corrido minhas mãos por entre eles. Tocou-lhe, então, a base do pescoço com o polegar. — Sua pele é acetinada e perfeita. Pegou-lhe, em seguida, as mãos, um tanto encobertas pela ponta das mangas da blusa do pijama. — Suas mãos são tão pequenas e bonitas, com dedinhos tão delicados. Foi a vez de lhe tocar os quadris, encontrando o olhar cauteloso dela através do espelho. Sabia que deveria parar, mas não podia. Ansiava tanto por tocá-la. — Seus quadris são arredondados e femininos e ondulam tão graciosamente quando você caminha. Mason deslizou a mão lentamente por sobre a barriga dela, sentindo-lhe o calor da pele através do pijama. — Sua barriga é firme e sensual. Quero pousar minha cabeça aqui e beijar seu pequeno umbigo. Sem a menor pressa, ele deixou suas mãos deslizarem pelo torso dela, subindo cada vez mais. Entreolharam-se através do espelho e, daquela vez, não houve dúvida de que a expressão nos olhos dela era de desejo. Mason estava excitado também, a ponto de mal poder se controlar, e gostaria de não a estar acariciando apenas através da flanela. Alcançou-lhe os seios, o volume macio preenchendo-lhe as palmas das mãos. Ela deixou a cabeça pender para trás, apoiando-a em seu peito, e fechou os olhos. 43


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Seus seios são perfeitos. Macios e exuberantes. Afagou-lhe os mamilos rijos com os polegares repetidamente. — E seus mamilos provocantes imploram para que eu os toque. — Girou-os de leve entre os dedos, usando apenas um pouco de pressão. Ellie entreabriu os lábios, soltando um gemido abafado. Com uma mão, ele continuou afagando-lhe um dos seios, enquanto a outra deslizou de volta até o abdome dela e foi descendo até tocá-la com intimidade através do tecido do pijama. Ela estremeceu de prazer em seus braços, e ele foi tomado por puro deleite em saber que a excitara tanto. Gentilmente, tocou-lhe o centro da feminilidade, massageando-lhe o ponto mais sensível através da flanela macia. Ellie soltou uma pequena exclamação de surpresa, mas não se afastou. Em vez daquilo, aninhouse instintivamente mais junto ao calor do corpo dele e sua rija masculinidade. Ele sussurrou-lhe, rouco, ao ouvido: — Não tive a alegria de ver esta parte de seu corpo, mas posso imaginar quanto é curvilínea e sedutora. E como seria possuir você. Observou a ambos no espelho, suas mãos tocando-a com intimidade, Ellie estremecendo de prazer a cada toque. Aquela era uma maneira tola e perigosa de lidar com a situação. Como afastar-se agora provaria que a achava realmente atraente? Com relutância, pousou as mãos na cintura dela e a segurou junto a si. — Essa é a Ellie que vejo — murmurou, roçando-lhe a orelha com os lábios. — Uma mulher bonita, sexy. Ela abriu os olhos e encontrou os dele através do espelho. Tinha as faces afogueadas, os olhos repletos de um anseio ainda não satisfeito. Fitou-o por momentos que pareceram intermináveis e repletos de tensão sexual e, enfim, sussurrou: — Então, por que você não faz amor comigo?

Capítulo VII Mason soubera que aquela seria a pergunta de Ellie. E ele tinha muitos argumentos válidos e cavalheirescos. Argumentos que ela ouvira antes. Argumentos que começavam a soar como desculpas, até a seus próprios ouvidos. Tinha, porém, de ser totalmente franco a fim de tentar fazê-la entender. — Ellie, eu já lhe disse antes, não terei um relacionamento com você e não ficará feliz com o que eu posso lhe dar. — Sabia que sua voz soara pouco convincente, mas não achava que conseguiria dizer não por muito mais tempo. — Acho que cabe a mim decidir o que me faz feliz — respondeu ela. — Mas você não entende o quão pouco posso dar. — Eu quero o que quer que estiver disposto a oferecer. — Mesmo se não for nada além de sexo de vez em quando, um encontro rápido umas duas vezes por semana? — Ele tentou fazer o arranjo parecer o mais sórdido possível. Ellie nem sequer piscou, mas, então, fítou-o, e ele viu determinação mesclando-se à vulnerabilidade naqueles intensos olhos azuis. 44


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Talvez isso seja tudo o que quero também. Ele soube que aquela alegação não passava de um blefe. Mas também soube que estava irremediavelmente perdido. Ellie aguardou uma resposta com a respiração em suspenso. Estava dizendo a verdade. Ficaria satisfeita com o que quer que ele pudesse lhe oferecer. Se fosse apenas... sexo, então que assim fosse. Ficaria feliz com aquilo. Uma mulher como ela não podia esperar muito mais de um homem como Mason. Ele a fizera sentir-se bonita. Mas sabia que a maneira como ele a via no momento era anuviada pelo desejo. E sabia que o simples desejo não durava. Acabava eventualmente se não houvesse outros sentimentos envolvidos. O que durava era o amor. E jamais poderia esperar amor da parte de Mason. Apesar da reação dele no andar de baixo, sabia que, quando o homem se apaixonasse de novo, seria por uma beldade esguia, de cabelos lisos e lustrosos e um rosto de capa de revista. Daquele modo, ela desfrutaria o que podia ter. A insatisfação só acontecia quando uma pessoa esperava mais. — Ellie, você não sabe no que está se envolvendo. — Tudo o que sei é que quero você. — Ela mal podia crer que estava sendo tão desinibida. Um delicioso calor percorria seu corpo, e tinha o pulso acelerado. Se ele a rejeitasse depois de suas palavras sinceras, teria de desistir. Não sabia mais o que dizer. Mas ele não a rejeitou. Um sorriso curvou-lhe os lábios cheios, e estreitou-a ainda mais de encontro a seu corpo, abraçando-a pela cintura. — Agora? — sussurrou-lhe ele ao ouvido, arrepiando-a. Ellie levou um momento para entender a pergunta. Queria-o agora? Oh, céus, estava preparada? Poderia levar aquilo até o fim? Agora que fizera uma oferta tão clara? Encontrou o olhar dele através do espelho. O desejo era evidente naqueles olhos cinzentos, no sorriso predatório que lhe iluminava o rosto de traços bonitos. Embora seu coração batesse alucinadamente no peito, ela confirmou com um leve gesto de cabeça. Mason viu-o e seu sorriso se alargou. Ela sabia que acabara de lhe dar permissão para possuí-la a seu bel-prazer. Mason levou as mãos ao peito dela e começou a desapertar-lhe os botões da blusa do pijama, um a um, com torturante lentidão. Enfim, abriu-lhe a frente da blusa de flanela, expondo-lhe os seios. Ellie sentiu as faces queimando, enquanto olhava para si mesma no espelho. Com relutância, olhou para Mason, que a observava, sua expressão indecifrável. Quando ela já estava prestes a fechar o pijama, ele soltou um suspiro trêmulo, dizendo num tom baixo: — Puxa, Ellie, você é incrível. Os mamilos dela ficaram rijos, aquele tom faminto tão eficaz quanto um toque. Então, ele cobriulhe os seios com as mãos quentes, massageando-lhe os mamilos com os polegares, fazendo-a concluir que não havia nada que se comparasse àquele toque tão mágico. — É tão linda... — murmurou ele, começando a lhe beijar o pescoço, enquanto continuava sentindo-lhe a maciez dos seios entre as mãos. Ellie deixou a cabeça pender para trás e entregou-se ao calor que se espalhava por seu íntimo. Era um calor que ia se intensificando, fazendo-a ansiar por mais.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Como se sentisse sua necessidade, Mason continuou afagando-lhe um dos seios, mas deslizou a outra mão até o ventre dela, insinuando-a sob o elástico da calça do pijama e da calcinha ao mesmo tempo. Tocou-a Com intimidade. Ellie engoliu em seco e estremeceu. Agora a sensação era diferente de quando a tocara através do pijama. Decididamente diferente. — Está tudo bem? — murmurou-lhe Mason ao ouvido, arrepiando-a ainda mais. Ela meneou a cabeça. — Ótimo. — Ele moveu os dedos com habilidade, encontrando-lhe o centro da feminilidade, começando a massageá-lo com ousadia. O calor que a percorria explodiu numa combustão instantânea. — Isso é... é... demais — sussurrou, deliciada. — E vai melhorar cada vez mais — prometeu ele numa voz rouca, prosseguindo com suas eróticas carícias. — Você é como mel morno e escorregadio — sussurrou, sedutor. Ellie sentiu a cabeça rodopiando de encontro ao peito dele, gemidos abafados escapando de seus lábios. Mason intensificou as carícias, e ela sentiu um prazer como nunca imaginara se espalhando por todo seu corpo, deliciosos espasmos começando a percorrê-la. — Isso mesmo, doçura — encorajou-a ele. A voz parecia distante, quase inaudível em meio ao enlevo que a envolvia, enquanto ondas eletrizantes pareciam explodir por seu corpo inteiro e ela soltava um grito que continha toda a intensidade da experiência. Enfim, inclinou-se pesadamente de encontro a Mason, sentindo-se aérea, lânguida. Mas ele não lhe deu um momento sequer para se recobrar, virando-a para que o fitasse. Tinha um sorriso satisfeito no rosto, e ela concordou que ele tinha todo o direito de se sentir daquela maneira. As sensações que acabara de lhe proporcionar tinham sido absolutamente incríveis. Mason olhou para a mulher adorável diante de si. As faces coradas, ela estava um tanto ofegante, as pálpebras pesadas, os olhos sonhadores evidenciando pura satisfação. Oh, como ele ansiava por tê-la em seus braços e encontrar o mesmo deleite. Ela era tão receptiva. Não podia se lembrar de uma mulher tendo reagido de maneira tão forte, tão imediata. Soltou-a por alguns momentos e começou a despir sua camisa, notando que a expressão no rosto dela tornava-se mais alerta, mais curiosa. Retirou o. jeans junto com a roupa de baixo e endireitou as costas. Ellie arregalou os olhos, todos os vestígios de languidez se dissipando enquanto o observava completamente despido. Parecia não conseguir desviar os olhos de sua rija masculinidade. Aquela curiosidade era, sem dúvida, excitante. Ela era a mais encantadora combinação de sedução e inocência. Mason cerrou os dentes, esforçando-se para manter o controle, a impaciência. Mal podia esperar para tê-la. Conduziu-a até a cama e, antes de deitá-la, sussurrou: . — Acho que você não vai precisar desse pijama, não é mesmo? Ela corou. Após muita incerteza, deixou que a blusa do pijama escorregasse de seus ombros e deslizasse até o chão. Depois, foi a vez de se livrar da calça do pijama junto com a calcinha. Ficou parada ali, a encabulação visível em seu rosto. Mason perdera a fala. Ellie tinha pernas bem torneadas, os joelhos delicados, as coxas firmes, os quadris arredondados e femininos. A cintura era fina, o abdome rijo, os seios grandes e bonitos. Com seu tipo mignon, possuía um corpo sensacional. 46


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Eu estava enganado — disse num tom suave. Ellie lançou-lhe um olhar cheio de dúvida e preocupação. — Eu não lhe fiz justiça. Você não é apenas bonita. E perfeita... absolutamente perfeita. Ficou satisfeito em ver a preocupação se dissipando e deitou-a na cama. — Quero tocar você por inteiro. Ela tentou se cobrir em princípio, mas, apesar de sua óbvia inibição, estreitou-se de bom grado no calor dos braços dele quando Mason a puxou para si. Beijou-a com volúpia, sentindo um pouco de incerteza nos lábios dela, mas logo o abraçava pelo pescoço, correspondendo com o mesmo ardor que o consumia. Ele ansiou por beijar-lhe o corpo todo e deslizou os lábios pelo pescoço e o colo dela até chegar aos seios. Sugou-lhe um dos mamilos rosados por vários momentos, ouvindo-a suspirar de prazer. Quando passou a dedicar a mesma atenção ao outro seio, correu a mão pela pele acetinada de Ellie em direção à parte interna das coxas. Acariciou-a com erotismo, explorando-lhe mais uma vez o centro da feminilidade, deliciando-se com as reações de pura excitação dela. Quando não pôde mais se conter, deitou-se sobre ela e segurou-lhe os quadris, posicionando-a. Foi então que lhe notou a súbita rigidez do corpo. — Relaxe — sussurrou-lhe. Quando a fitou, porém, notou-lhe inquietação e o que pareceu temor nos olhos azuis. — O que foi, doçura? Estou machucando você? — N-Não. — Quer que eu pare? — Não, não. — Então, por que parece tão assustada? Ellie desviou o olhar por um momento e, então, tornou a fitá-lo com uma expressão tão desolada que chegou a assustá-lo também. — Bem... você é... Você todo é tão... grande e... Mason encarou-a por um momento e, então, riu. Ela franziu o cenho, a expressão quase de petulância. — Não vejo o que é tão engraçado. Acho que é uma preocupação válida. Ele parou de rir e pousou-lhe um beijo rápido nos lábios. — Oh, doçura. Dará certo. Eu prometo. Ela o fitou com ar duvidoso, mas meneou a cabeça. Mason sorriu antes de tornar a beijá-la. Apesar dos esforços para manter o controle, ao mesmo tempo não queria que aquilo nunca mais terminasse. Tornou a mudar de posição, desejando prolongar ao máximo aqueles momentos. Começou a acariciá-la novamente, dedicando especial atenção aos pontos onde já sabia que ela gostava de ser tocada. Não demorou para que Ellie estivesse novamente estremecendo de desejo. Ele mesmo mal podia se conter e disse-lhe quanto a queria, que precisava possuí-la agora. — Oh, sim. — Ellie abraçou-o pelo pescoço e cingiu-o instintivamente pela cintura com as pernas, e ele se posicionou, começando a penetrá-la lentamente. Ela o fitou, os olhos azuis cheios de confiança e nenhuma indicação em seu rosto de que a machucava. Depois de penetrá-la, ele manteve-se perfeitamente imóvel. — Você está bem? — perguntou, a voz rouca, gotículas de transpiração em sua fronte. — Sim — confirmou ela com um sorriso trêmulo. — Isto é maravilhoso. 47


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ele soltou um gemido. — Oh, doçura, você é incrível. Eu tenho de me mover. Ellie meneou a cabeça, e Mason começou a se mover, tentando ir com calma. Mas ela o abraçava com força, os lábios nos seus, os braços e pernas entrelaçando-o, seu calor enlouquecendo-o. — Oh, eu quero tanto você. — Demonstrou sua necessidade movendo-se com mais ímpeto. Ela gemeu, e ele recuou de imediato, temendo tê-la machucado, mas ela puxou-o para si. — Por favor, não pare. — Começou a se mover, imitando-lhe a cadência. Mason acompanhou-a nos movimentos, seu desejo incontrolável, consumindo-o por inteiro. Apenas por pura força de vontade conteve-se o bastante para ter certeza de que Ellie alcançara o êxtase. Depois, deixou que o próprio clímax o arrebatasse e seu controle se esvaísse por completo. Mason não fez ideia de quanto tempo dormira, mas, quando despertou, o quarto estava mergulhado na penumbra. A chuva ainda tamborilava no telhado, e Ellie dormia profundamente, aninhada a seu lado, a pequena mão descansando sobre o abdome dele. De repente, Mason sentiu um estranho nó na garganta. O que havia feito? Não apenas dormira com uma mulher a qual sabia que era completamente errada para ele, mas também havia lhe tirado a virgindade. Suspeitara de que Ellie fosse virgem. Mas, então, sentira a verdade por si mesmo no momento em que a possuíra, mas aquilo o impedira? Não. Nem sequer pensara em parar. Não houvera a menor chance. O cretino e egoísta. Ergueu a cabeça para observar-lhe melhor o rosto. Os cílios claros acariciavam-lhe as maçãs do rosto rosadas, os lábios, avermelhados por causa de seus beijos, eram cheios e tinham um formato perfeito. E os cachos loiros emolduravam-lhe o rosto feito um halo. Ela parecia um anjo. O pensamento encheu-o ainda mais de culpa e tornou a censurar a si mesmo. Cuidadosamente, ergueu-lhe a mão de seu abdome e deixou a cama. Com gestos rápidos e silenciosos, recolheu suas roupas e já se adiantava na direção da porta do quarto quando uma voz mansa indagou: — Você está indo embora? Ele virou-se, encontrando o olhar direto de Ellie. Teve a estranha sensação de que ela olhava através de sua alma, vendo quanto era obscura. — Sim, eu achei... Eu preciso ir. Pôde ver a mágoa nos olhos de Ellie, olhos que não apenas viam através dele, mas revelavam tudo o que havia dentro dela também. Mas não disse nada; apenas meneou a cabeça. — Apenas vou usar seu banheiro antes de ir. Outro meneio. Ele deixou o quarto e trocou-se depressa no banheiro, lavando o rosto na pia em seguida. Tomado por súbita inquietação, perguntou-se o que, afinal, estava fazendo. Não podia levar aquilo adiante. Mas como diria a Ellie que não poderia mais vê-la? Ei, doçura, obrigado por sua virgindade e tudo mais, mas agora tenho de correr. Céus, precisava de um drinque. Respirando fundo, olhou para sua imagem no espelho e disse a si mesmo que tinha de manter a calma. Não queria magoar Ellie e o mais sensato seria pensar um pouco antes de lhe dizer o que quer que fosse, escolher as palavras certas. Tinha de fazê-la entender que a queria, mas que as coisas estavam fora de controle, que precisava se afastar um pouco e refletir sobre tudo. Talvez, depois de algum tempo, ela mesma se desse conta de que ficaria melhor sem ele. Mason encontrou-a na cozinha, já vestida e acabando de colocar ração para Chester numa vasilha a um canto. Viu-o à porta quando endireitou as costas e abriu-lhe um sorriso tímido. 48


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Você está bem? — Acho que deveria ser eu a lhe fazer essa pergunta. O sorriso dela se alargou, as covinhas em evidência. — Eu me sinto maravilhosa. O coração de Mason se expandiu, mas sua alegria e orgulho foram imediatamente seguidos por uma onda de culpa. — Que bom. — Ele hesitou. — Ouça, eu... O telefone tocou naquele momento. Salvo pelo gongo, pensou ele. Ou não... — Era Abby ligando de seu celular — contou Ellie com um sorriso depois que atendeu. — Ela e Chase estão voltando da lua-de-mel, e o táxi que os está trazendo de Bangor os deixará em casa dentro de alguns minutos. Como deve saber, eles moram do outro lado da rua. Virão para cá em seguida. — Oh, então, é melhor eu ir embora mesmo. — Vou convidá-los para jantar. Você poderia ficar e se reunir a nós. Posso lhes dizer que você veio até aqui para conversarmos sobre os planos de Winslow e sua intenção de ajudar a biblioteca. Mason não pôde deixar de notar o ar esperançoso na voz e nos olhos dela. Decididamente, não podia ficar. — Sua irmã, com certeza, está com saudade e deve ter uma porção de coisas para lhe contar sobre a viagem. Acho que deve ser uma reunião em família. — Mas Chase é seu melhor amigo e vai gostar de revê-lo. Será divertido. Embora sabendo que não devia, Mason não conseguiu resistir às encantadoras covinhas que se evidenciaram no rosto dela, ao brilho de expectativa nos olhos azuis. — Bem, está certo, se você faz questão, mas... — Ele fez uma pausa, parecendo pouco à vontade antes de acrescentar: — Ouça, acho que Chase e Abby não precisam saber sobre nosso acordo. — O acordo que ele pretendia terminar quando houvesse a oportunidade. Ela meneou a cabeça com ar sério. — Você tem razão. Esse é um assunto nosso. Mason ficou surpreso com a veemência dela. — E, então, você vai ficar? Ele dobrou as mangas da camisa. — No que quer que eu a ajude para preparar o jantar? Ellie recompensou-o com um sorriso radiante que pareceu aquecer o corpo inteiro dele. Ellie tentava não encarar Mason abertamente, mas era quase impossível. Tinha de olhar para ele, apenas para convencer a si mesma de que o homem estava ali e tudo o que haviam partilhado acontecera realmente. Sentia-se tão feliz, tão eufórica, e Mason era a causa. Ele fizera amor com ela. Tocara seu corpo inteiro. Fora paciente e gentil. E lhe proporcionara um prazer inimaginável. Ela até vencera suas inibições, na maior parte, ao menos. E achava que dera prazer a ele também, pensou, as faces se aquecendo. E, então, Mason ficara. Sabia que ele se sentira pouco à vontade quando acordara a seu lado. Em princípio, temera que ele fosse lhe dizer que queria terminar as coisas entre ambos. Mas, então, Mason ajudara-a a preparar o jantar. Haviam conversado, rido e tudo parecera certo no mundo. Admitia que ele, Chase e Abby, que haviam chegado com mil coisas para contar, tinham conduzido a maior parte da conversa, mas Ellie ainda achava que tudo corria bem. Até Chester estava feliz com o retorno de seus donos, cochilando agora a um canto depois das efusivas boas-vindas. Com a explicação do problema relativo à biblioteca, Abby e Chase não haviam estranhado encontrar Mason ali, como ela previra. Só esperava não ter deixado transparecer nada com seu ar sonhador. Simplesmente não lhe saíam da mente as vívidas lembranças do toque inebriante dele, das carícias em seus seios, do arrebatamento com que a possuíra. Teve de se esforçar para manter o semblante 49


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) sereno, imperturbável. Afinal, havia uma cumplicidade tão deliciosa em apenas ela e Mason saberem o que haviam feito naquele dia. E, enquanto o observava, sorrindo charmoso à mesa, sua postura descontraída ao ouvir uma descrição de Chase e Abby de uma praia paradisíaca, Ellie não pôde deixar de se perguntar se seria daquele modo estar casada com Mason. Não, não se permitiria aquela linha de pensamento. Nem mesmo em seus devaneios particulares. Precisava manter a praticidade. Queria desfrutar o que tinha. Guardar cada momento, cada detalhe. Em princípio, cada sorriso gentil que Ellie lhe lançara fizera com que Mason se sentisse cada vez mais culpado. Gostaria de poder encontrar algum meio de fazer com que ela não gostasse dele. Uma pessoa como Ellie merecia alguém muito melhor. Mas, enfim, ele chegou à conclusão de que conseguiria controlar a situação se fosse apenas referente a sexo, se não houvesse emoções envolvidas além de simples desejo. E, em algum momento no decorrer da noite, decidiu que queria que a situação de ambos continuasse. Mas sem emoções, apenas sexo ardente e sensacional. Durante a noite toda, observara-a. Seu sorriso encantador, contagiante. Os olhos brilhantes, interessados enquanto alguém lhe contava uma história. A maneira como se movimentava pela cozinha, certificando-se de que todos haviam comido o bastante. Até a maneira como ela própria comia, com vagar, levando pedacinhos delicados aos lábios. E a ouvira também. Sua voz suave e melodiosa. E o jeito manso como dissera tão sutilmente coisas espirituosas, fazendo-o rir alto. E o próprio riso dela, musical e cativante. Mason a queria e sabia que não podia deixá-la... não ainda. Sabia que avançava por terreno perigoso. Um romance secreto com Ellie seria complicado em muitos aspectos. Ele não queria que ninguém descobrisse sobre o envolvimento de ambos. Não queria aborrecer Chase e Abby e tinha a sensação de que não ficariam muito satisfeitos com ele se soubessem. Mais importante, porém, a reputação de Ellie ficaria arruinada se as pessoas descobrissem. Muitas mulheres tinham casos amorosos, mas não as como Ellie. E não numa cidade pequena onde todos achavam que a conheciam. Para os habitantes de Millbrook, Ellie era um modelo de virtude e respeitabilidade. Trabalhava com crianças na biblioteca. Lia para os idosos. Todos conheciam Ellie Stepp e sabiam que era uma boa moça. Apenas Mason sabia que havia uma mulher fogosa, sexy escondida sob a fachada puritana. O fato de que somente ele conhecia o segredo dela o deixava eufórico e excitado para além da razão. Não, qualquer coisa em relação a Ellie o excitava para além da razão. Do contrário, jamais teria deixado sua libido sair tão fora do controle para começar. Depois que ele se despediu de todos, e ela o acompanhou até a porta da frente, puderam, enfim, desfrutar um momento de privacidade. Ele a fitou na penumbra da varanda, percorrendo-a com os olhos cinzentos repletos de desejo. — E então, gostaria de repetir a dose de hoje? — perguntou com ar malicioso. Ellie estudou-o com olhos arregalados, incertos. Ele detestava desconcertá-la, mas não podia deixá-la pensar que estavam partilhando de algo mais do que sexo fantástico e... casual. Ela desviou os olhos por um momento, mas havia determinação em sua voz quando tornou a fitálo. — Sim. — Voltarei amanhã à noite, por volta das onze. Deixe a porta dos fundos destrancada e use algo sexy. 50


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ellie estremeceu, deliciada, observando-o afastar-se sob a chuva fina, até que ele entrou num táxi que já o aguardava na esquina e desapareceu na noite escura.

Capítulo VIII Ellie não sentira o menor constrangimento em relação ao que tivera com Mason, nem mesmo uma ponta de culpa... mas só até entrar na biblioteca na segunda-feira de manhã. Lá estava Prescott, saudando-a com seu costumeiro sorriso caloroso e comentários entusiasmados sobre a ida de ambos ao festival no sábado. Sentindo-se péssima, ela recolheu-se logo ao escritório com um pretexto qualquer, um grande peso no peito. Como pudera se esquecer por completo do encontro que tivera com Prescott? O encontro que se determinara a conseguir? E ambos o tinham encarado como um encontro; ela não podia simplesmente menosprezá-lo, como se achasse que fora algo bem mais corriqueiro. Afundando o rosto nas mãos, tentou pensar em algo para lhe dizer. Não podia lhe contar a verdade. Mas odiava mentiras. Nem sequer sabia mentir. Ainda assim, ali estava, no alto de uma montanha de mentiras. Só por ter concordado em manter a relação com Mason um segredo, teria de mentir para todos. Abby e Chase. Prescott. Marty. Droga, até para si mesma. Não, não mentiria. Omitiria informações. Aquilo era diferente de mentir, não era? Infelizmente, omitir os fatos de Prescott não seria o bastante. Teria de lhe dar um motivo para não saírem mais juntos. Teria de lhe dizer algo... algo que talvez pudesse magoá-lo. Ficou grata quando o telefone tocou, distraindo-a momentaneamente da ideia desoladora. Seu coração disparou quando ouviu a voz de Mason do outro lado da linha. Não esperara nenhum contato dele antes daquela noite. — Só quis ligar para lhe dizer que estou aguardando ansioso por hoje à noite. — A voz máscula e sensual teve o poder de arrepiá-la por inteiro, mesmo a distância. — Eu também. — Tem pensado em mim? — Sim. — Tenho pensado em você também. Em minuciosos detalhes. Em todos os lugares em que vou tocá-la. Beijá-la. Ela sentiu um delicioso calor percorrendo-a, enquanto vívidas e eróticas lembranças povoavam sua mente. — Posso fazer isso, doçura? Beijá-la? Onde eu quiser? Uma onda de excitação atingiu-a com grande impacto. Tentou manter o controle sobre as emoções, mas foi impossível quando começou a imaginar os lábios de Mason explorando seu corpo numa interessante e sensual jornada. — S-Sim — respondeu, mal encontrando a voz, a temperatura à volta parecendo se elevar em muitos graus de repente. Mason soltou um pequeno riso do outro lado, na certa percebendo quanto suas palavras a haviam afetado. — Minha doce bibliotecária. Vou deixá-la em paz com seu trabalho agora, está bem? Vejo você hoje à noite. — O tom de voz repleto de promessas sedutoras, ele, enfim, desligou. Ellie respirou fundo algumas vezes, tentando se recompor. Prescott apareceu naquele momento para falar sobre alguns assuntos em andamento na biblioteca e ela esforçou-se para prestar atenção, a culpa voltando com intensidade redobrada. 51


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Quando terminaram, ela arrumou alguns papéis na mesa e esboçou um sorriso, só aguardando que ele saísse. Mas Prescott deteve-se por mais alguns momentos, abordando o assunto que ela esperara poder evitar, ao menos por mais algum tempo. — Eu estava me perguntando se você estaria livre hoje à noite. Achei que talvez pudéssemos sair para jantar. — Eu... eu não poderei. Na verdade, já tenho planos. — Oh, e que tal amanhã? Ellie fingiu ponderar seus compromissos, tentando pensar num pretexto que não fosse óbvio demais. — Eu... — Não podia fazer aquilo. Não podia mentir para ele. Magoá-lo. — Acho que estarei livre. Prescott abriu um sorriso satisfeito. — Ótimo, que tal aquele novo restaurante que você mencionou na cidade de Bar Harbor? Ela meneou a cabeça, a mente rodopiando. — Ótimo. Ellie olhou para a porta vazia depois que ele saiu. Poucos dias antes, teria ficado radiante. Agora, estava ocupada demais tentando pensar num meio de se livrar de um pretendente com o máximo de diplomacia possível. Quem poderia imaginar? Ellie Stepp tentando se livrar de pretendentes! Mason verificou seu relógio. Passava um pouco das dez. Mais cedo do que planejara chegar à casa de Ellie, mas estava ansioso para vê-la. Tocá-la. Estacionara o carro na rua atrás da casa dela. Daquele modo, Chase e Abby não veriam seu carro. Era uma atitude indigna, que lhe pesou na consciência, mas as dúvidas logo foram reprimidas pelo anseio e a expectativa. Não planejara ligar para Ellie naquele dia, mas tivera de lhe ouvir a voz e saber que não estava arrependida. Chegando ao portão dos fundos da casa dela, encontrou-o destrancado e passou-lhe o trinco depois que entrou. Uma cerca viva alta circundava o gramado, impedindo que algum vizinho o visse. Ele subiu os degraus da varanda dos fundos. A porta da cozinha estava destrancada, e uma suave luminosidade projetando-se no corredor indicou-lhe onde a encontraria. No quarto dela. Seu coração disparou ao imaginá-la deitada na cama numa lingerie minúscula e provocante. Subiu a escadaria rapidamente. Quando entrou no quarto, no entanto, encontrou-a sentada na poltrona perto da janela, enrolada em flanela e roendo uma unha com ar ansioso. Ergueu a cabeça quando ele entrou no quarto. Não havia surpresa, nem expectativa em seu rosto. Apenas um ar de quem estava angustiada e recriminava a si mesma. O coração de Mason continuou disparado, mas a doce expectativa foi substituída pela apreensão. — Olá — disse num tom incerto. — Olá — devolveu ela, um sorriso trêmulo nos lábios. — O que está fazendo? — Esperando você. E me sentindo... péssima. Mason adiantou-se pelo quarto, sentando-se na beirada da cama. — Em relação a que você está se sentindo péssima? — Que não fosse por sua causa, pensou, fervoroso. Mas, então, censurou a si mesmo. Aquele era um relacionamento passageiro. Ficaria desapontado se Ellie o terminasse, mas apenas porque ainda não pudera desfrutar ao máximo o deleite 52


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) oferecido por seu corpo voluptuoso. Nada mais. — A Prescott. Mason franziu o cenho, confuso. Por que ela estaria preocupada em relação a seu eficiente assistente? — Depois do que nós fizemos, eu me esqueci por completo dele e de nosso encontro. — Bem — ponderou Mason com um ligeiro sorriso —, se você não tivesse esquecido seria sinal de que eu estive fazendo algo errado. Ellie corou. — Foi egoísmo da minha parte. Eu deveria ao menos ter levado em consideração os sentimentos dele antes de ter iniciado o acordo com você. Ele não via que diferença teria feito se ela tivesse levado em conta ou não os sentimentos de Prescott Jones. Ellie fizera sua escolha. — Apenas lhe diga que você não está interessada. Ela sacudiu a cabeça. — Não quero magoá-lo. — Mordiscou mais um pouco a unha, pensativa, e, enfim, revelou: — Fui eu que o encorajei antes. Não posso simplesmente lhe dizer que não estou interessada agora. Mason arqueou uma sobrancelha. Fora ela que encorajara Prescott. Aquilo era curioso. — Assim, eu aceitei quando ele me convidou para jantar amanhã. Achei que não haveria problema, uma vez que nós dois não estamos realmente namorando, ou algo assim. Então, a recatada Ellie estava pensando em ver dois homens ao mesmo tempo. Mason quase teve orgulho dela, orgulho em ver uma mulher mais ousada e decidida por baixo da timidez. Quase. Não tinha a menor intenção de dividi-la com ninguém enquanto estivessem juntos. Ellie era sua, pura e simplesmente... até que o caso de ambos terminasse. —Não. Nada de jantares. Nem encontros, não até que tenhamos decidido terminar isto. Ellie pareceu um tanto surpresa. — Mas nós não estamos namorando; estamos apenas... — Tendo uma aventura passageira? Sexo casual? Tornando a corar, ela baixou os olhos para as mãos em seu colo. — Sim. — Bem, acho que eu deveria ter estipulado as regras logo de início. Regra número um: nada de sair com outros homens enquanto estiver comigo. Eu não divido ninguém. Ellie ergueu a cabeça, seu ar um tanto desafiador. — Nem eu. Mason conteve o sorriso de orgulho que ameaçou lhe curvar os lábios. Uau! A tímida e complacente Ellie estava fazendo algumas exigências próprias. Gostou daquilo... gostou muito. Mas, em vez de revelar sua aprovação, limitou-se a dizer: — Nada mais justo. Agora, venha até aqui. — Deu um tapinha na cama. Ellie hesitou apenas por um momento antes de deixar a poltrona e ir sentar-se ao lado dele. Mason beijou-a demoradamente como ansiara por fazer o dia todo. Ela correspondeu com ardor e, quando o beijo voluptuoso terminou, pareceu mais relaxada, menos ansiosa, mas ainda havia preocupação em seus olhos. — Está certo — suspirou ele, dando-se conta de que ela manteria os pensamentos fixos naquela questão com Prescott até que tivessem encontrado uma solução. — Diga a Prescott que você não se sente à vontade saindo com um colega de trabalho. Isso pode ferir-lhe os sentimentos um pouquinho, mas não é como se você o estivesse rejeitando pessoalmente. — Sim, acho que eu poderia lhe dizer isso. Eu apenas odeio mentir. 53


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Então, não minta. É apenas uma boa prática não se misturar a vida pessoal com a profissional. — Foi o que aconteceu entre você e Charlie Grace? Alguma coisa no trabalho afetou sua amizade com ele? Mason tornou a franzir o cenho. — O quê? — Eu... eu ouvi dizer que talvez Charlie não apóie você na questão da biblioteca. Mason cerrou os dentes. Malditas cidades pequenas e seus falatórios! Charlie ainda não fizera nenhuma declaração formal. — Ele ainda não tomou sua decisão — disse, sucinto. Não queria falar sobre aquilo, não queria nem sequer pensar a respeito. Mas Ellie ainda estava intrigada com o que ouvira. Era difícil acreditar que Charlie Grace não apoiaria Mason. Charlie fora um dos maiores apoiadores dele durante a campanha para prefeito. Nada daquilo lhe fazia sentido e, talvez, Mason pudesse lhe esclarecer. — Mas se Charlie realmente decidisse apoiar Everett Winslow e seu campo de futebol, isso poderia levar muitas outras pessoas a votar nesse sentido também, não é mesmo? — O que seria desastroso para a biblioteca. —Isso não vai acontecer.—Mesmo enquanto dizia as palavras, Mason sabia que não podia garantir o fato. Não fazia ideia do que Charlie e, conseqüentemente, a maioria dos outros membros do conselho fariam. — Mas se acontecesse... Ele levantou-se e atravessou o quarto. Não fora até ali para aquilo. Fora até para ter Ellie em seus braços e esquecer-se de tudo mais. Pensaria nos problemas da cidade depois. Droga. Pensaria em qualquer outra coisa depois. — Sabe de uma coisa?—disse, virando-se para fitá-la.— Você é exatamente como todas as demais pessoas em minha vida. Você quer alguma coisa. Quer os benefícios do meu sucesso. E quando as coisas não saem precisamente como acha que deveriam, você se queixa. Perde a confiança em mim. Ellie arregalou os olhos, mostrando-se chocada e confusa. — Eu... Ele ergueu a mão para interrompê-la. — Quer saber? Não preciso de mais cobranças. Apenas esqueça tudo isto. Esqueça. Deixou o quarto, a casa. Precisava fugir da dúvida nos olhos dela. Do desapontamento. Da confusão. Adiantou-se até o carro com passos zangados, seu único pensamento chegar logo em casa. Tomar um drinque. Somente depois que rumou direto até o bar de seu escritório e esvaziou um copo de uísque permitiu-se pensar. E arrependeu-se de sua reação. Por que perdera o controle? Ellie estivera apenas fazendo perguntas, manifestando preocupações válidas. Em vez de conversar sobre as preocupações dela, colocara-se na defensiva. Mas tinha o direito de se colocar na defensiva. As pessoas esperavam demais dele. Seu pai esperara perfeição. Sua ex-esposa esperara sucesso político e poder. Charlie Grace esperara... Apanhando a garrafa de uísque e o copo, ele afundou na poltrona de couro atrás de sua ampla mesa de carvalho. Serviu-se de outra dose. E o que Ellie esperara?

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Esperara que ele cumprisse o que dissera que faria. Esperava que empregasse todo seu empenho para salvar a biblioteca. Não exigira perfeição, nem poder, nem sucesso. Não exigira nada. Apenas tivera a esperança de que pudesse ajudá-la. Em vez daquilo, porém, gritara com ela e a fizera sentir-se culpada por ter pedido sua ajuda quando, na verdade, era ele que deveria se sentir culpado por talvez não poder ajudá-la ou à biblioteca. Ele afastou a garrafa e o copo abruptamente. Não queria bebida. Não queria estar sozinho naquela casa imensa. Queria Ellie. Seu calor. Sua doçura. Queria a confiança que via em seus olhos azuis. De imediato, apanhou o telefone e ligou para a casa dela. Pôde ouvir-lhe a consternação na voz quando Ellie atendeu. O que lhe dizer? Não fazia ideia. Precisava lhe dizer algo gentil, algo tão persuasivo que ela não pudesse deixar de perdoá-lo. — Preciso de você. — Foi tudo o que conseguiu falar. E era a pura verdade. Houve silêncio do outro lado da linha. — Você pode vir até aqui? Depois de uma breve pausa, ela respondeu simplesmente: — Sim. Daquela vez, quando Ellie chegou à casa de Mason, ele não estava oculto nas sombras da varanda. Aguardava-a à porta, a luz proveniente do vestíbulo revelando sua silhueta atlética, o vento frio do Atlântico agitando-lhe os cabelos. —Felizmente — murmurou ele quando ela subiu até a varanda. Segurou-a pelo pulso e levou-a para dentro. Antes que Ellie sequer tivesse chance de dizer algo, Mason a estava beijando. Beijando-a impetuosa e sofregamente. Ela correspondeu com o mesmo ardor, eufórica por tocá-lo e sentir-lhe o gosto do delicioso beijo. Quando Mason ficara furioso e deixara sua casa tempestuosamente, ela achara que tudo terminara. Acreditara naquilo. E não estava preparada para a situação. Era cedo demais. Não arruinaria aquela segunda chance de estar com ele. — Obrigado — sussurrou Mason, ofegante. — Obrigado por ter vindo. Ellie sorriu, uma onda de alívio percorrendo-a. — Eu quero que me desculpe. Eu deveria... Mason beijou-a com volúpia. — Não — disse, enfim. — Eu é que peço desculpas. Eu não deveria ter me exaltado. O trabalho tem sido... difícil ultimamente. Ela notou que, de fato, Mason parecia cansado, o rosto um tanto pálido e abatido. Deveria ter percebido aquilo antes, mas estivera ocupada demais preocupando-se com seus próprios problemas. Afagou-lhe o rosto másculo, e ele fechou os olhos por um momento, desfrutando a carícia. — Eu quero apenas... Quero estar com você e esquecer. — Esquecer o quê? — Tudo. Ellie não podia se imaginar ouvindo algo mais maravilhoso do que Mason dizendo-lhe que queria estar a seu lado. Mas não entendia o porquê e nem como poderia ajudá-lo a esquecer o que quer que fosse. Num minuto, ele se mostrava frio, indiferente, como se quisesse apenas sexo dela e nada mais. E, então, como agora, parecia quase desesperado por sua proximidade, sua compaixão. Mas sabia que ele podia voltar a ser reticente com a mesma rapidez.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Apesar de sua confusão, ela seguiu seus próprios instintos. Ficando na ponta dos pés, beijou-o nos lábios, entregando-se por inteiro, querendo tranquilizá-lo, satisfazê-lo, aquele homem que achava irresistível. Quando o beijo terminou, fitou-o com ansiosos olhos azuis. — Ouça, eu quero ajudá-lo a esquecer o que deseja. Mas não sei como. O que quer que eu faça? — Você está indo muito bem. Ellie sentiu suas incertezas voltando, pois sabia que ele estava acostumado a mulheres bem mais experientes. Gostaria de ser mais ardente, mais ousada. Gostaria de se sentir confiante o bastante para tomar a iniciativa e levá-lo até o quarto. — Desde que esteja me tocando seria impossível estar fazendo algo errado — assegurou-lhe ele. — Pensei em você o dia todo. — Pensei em você também. — No que pensou? — Eu... eu pensei em tocar você, beijar — admitiu ela. —O que está esperando? Aquele sorriso, aquele olhar gentil e caloroso foram o bastante para lhe dar coragem. Ela podia fazer aquilo. Queria seduzi-lo, fazê-lo esquecer tudo e todos. Pegando-o pela mão, puxou-o na direção da escadaria. A atitude repentina surpreendeu-o. — Ora, o que está fazendo? — Estou levando você lá para cima para fazê-lo esquecer. — Oh, eu estou no paraíso. Quando subiram, ele indicou-lhe qual era seu quarto, e ela o conduziu pelo corredor, dizendo o tempo todo a si mesma que podia fazer aquilo. Sua ousadia deixou-a, porém, no instante em que pisou no quarto. Talvez fosse a decoração, com papel de parede de motivo floral em tons de rosa e azul. Ou talvez a enorme cama de casal com flores e ramos entalhados na madeira. Ou as cortinas refinadas, com laços de cetim, combinando com a colcha de veludo rosa. O fato foi que sentiu sua coragem abandonando-a. Havia sinais de Mason por toda parte, um par de sapatos a um canto, roupas no encosto de uma poltrona, revistas de esportes na mesinha-de-cabeceira. Mas não conseguia vê-lo ali. Aquele era um quarto de mulher. O quarto da ex-esposa dele, decorado ao gosto dela. Ellie correu os olhos até a imensa cama. Mason dormira com Maria ali. Tinham feito amor junto àquela cabeceira ricamente ornamentada. Ele costumaria ficar deitado na cama à noite, desejando que ela estivesse ali, de volta a seu lado? E, naquela noite, faria de conta que ela era Maria? — Eu... eu não posso fazer isto — disse num tom abrupto, consternado. Mason virou-a para si, fitando-a com ar preocupado. — O que há de errado? — Não posso ficar com você aqui. — O quê? Por quê? Ela lançou um olhar ao redor. — Este era o quarto de sua esposa. — Não, este é o meu quarto. Sim, eu o dividia com Maria. Mas isso foi há quase dois anos. Ellie sacudiu a cabeça. 56


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Simplesmente não posso. Ele afastou-lhe uma mecha loira da fronte com gentileza. — Ouça, eu quero ficar com você. Não, isso é dizer pouco. Eu estou absolutamente desesperado para estar com você — admitiu. — Não me importa onde. Se não se sente à vontade aqui, basta escolher o lugar. Ellie hesitou e, então, pegou-o pela mão, conduzindo-o de volta ao corredor. Calmamente, examinou cada um dos três quartos de hóspedes. Enfim, voltou para um quarto decorado em tons variados de azul, exceto pela colcha de cetim cinza sobre a cama, que a fez lembrar da cor dos olhos de Mason. — Você já... dormiu com alguém naquela cama? — Pode estar certa de que não. — Está bem, então, eu escolho este quarto. Ele conduziu-a prontamente ao interior do quarto e fitou-a com ar expectante. — Agora, parece-me que você estava planejando me seduzir. Ellie teria rido da expressão ansiosa no rosto dele, mas o problema era que ainda se sentia nervosa em relação a... bem, tudo. Mas ainda conseguiu perguntar em sua melhor tentativa de um tom provocante: — Oh, de onde tirou essa ideia? . — Deixe-me ver... Acho que pode ter sido quando você agarrou minha mão, arrastou-me escada acima e disse que iria me fazer esquecer de tudo. — Talvez eu achasse que uma boa conversa pudesse resolver — sugeriu ela, ganhando tempo, tentando vencer o nervosismo. — Quer que eu faça amor com você, não quer? Aquela voz rouca, o intenso desejo nos olhos cinzentos fizeram com que uma corrente eletrizante percorresse Ellie de imediato. — Sim. — Bem, nada impede que façamos isso começando por uma ..."conversa". Podemos falar de como posso lhe dar prazer... da maneira como quer que eu o faça. Você no controle. Estabelecendo seu próprio ritmo. Dizendo-me o que quer. Onde tocá-la. Ela sentiu parte do nervosismo se dissipando, enquanto as palavras sensuais a arrepiavam por inteiro. Mas apenas conseguiu dar seu assentimento com um gesto de cabeça. — Então, por que não me diz tudo o que quer? Ela hesitou. — Eu... não consigo. — Por quê? — Eu me sinto... ridícula. — Ridícula? — indagou ele, surpreso. — Por quê? Ellie esforçou-se para encontrar as palavras certas. — Eu me sinto hesitante com você. Embaraçada. — O que a faria sentir-se menos embaraçada? — perguntou ele, sem ar de julgamento, sem impaciência na voz. — Bem, ter uns dez quilos a menos, uns dez centímetros a mais de altura, com pernas compridas e seios pequenos e empinados seria um bom começo. — Ela falou sem pensar, proferindo as palavras antes de poder contê-las e corou. — Mas isso tudo é algo que você acha que eu quero. — Mason fitou-a intensamente, a mão afagando-lhe o rosto com ternura. — E eu acho que você é perfeita exatamente da maneira como é. 57


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Inclinou-se, depositando-lhe um beijo abaixo do lóbulo da orelha. — Na verdade, não posso imaginá-la sendo mais perfeita. Mais bonita — sussurrou-lhe ao ouvido. Ellie sentiu seu corpo inteiro vibrando. — O que faria com que você se sentisse mais confiante? Ela não sabia. Mas aqueles lábios ardentes percorrendo seu pescoço, o hálito quente arrepiando-a, as palavras fazendo-a sentir-se desejável como nunca estavam certamente conseguindo afastar-lhe a maior parte das inibições da mente. — Eu acho... — sussurrou Mason entre os beijos com que lhe percorria o colo acetinado — ...que sei de algo que talvez ajude você a se sentir mais autoconfiante. — Hum — respondeu ela, mas sua atenção já estava concentrada nas deliciosas sensações que aqueles lábios cálidos lhe despertavam. — Acho que deveríamos realmente conversar. A sugestão e a ausência daqueles lábios sensuais em sua pele conseguiram chamar a atenção dela. Franziu o cenho. — Conversar? — Sim, acho que uma conversa faria com que você se sentisse menos nervosa — confirmou Mason, os olhos sinceros, sem malícia. — Então, vamos começar.

Capítulo IX Ellie observou-o atentamente. Mason parecia a personificação da inocência. — Está certo — concordou, mas não conseguiu ocultar por completo o ceticismo na voz. O sorriso de Mason alargou-se diante de seu assentimento. — Mas esta conversa será um tanto diferente. — Como foi que adivinhei isso? Mason arqueou uma sobrancelha. — Minha doce e afável Ellie está se tornando sarcástica? Ela fez uma careta, mas, na verdade, sentia vontade de sorrir feito uma tola. Era mesmo a Ellie dele? Uma agradável onda de calor percorreu-a. — Tentarei ser menos sarcástica. — Providencie isso. Ela mostrou-Ihe a língua, e Mason inclinou-se para a frente para beijá-la nos lábios. — Vamos conversar sobre coisas de que gostamos. Aquilo soava inofensivo o bastante. — Ou melhor, coisas que gostaríamos que nos fizessem. E, mais especificamente, o que gostaria que eu fizesse em você. Ellie sentiu um nó no estômago. — Como isso vai fazer com que eu me sinta menos nervosa? Ainda nem sequer falamos nada e já estou uma pilha de nervos. — Iremos devagar. — Mason levou-a pela mão para que se sentassem na cama e recostou-se na cabeceira, parecendo bastante descontraído. — Quer começar? — perguntou educadamente. Oh, como ele ousava se mostrar tão tranqüilo quando ela parecia prestes a desmaiar? Sacudiu a cabeça. — Está certo, eu começarei. Vejamos. Eu gostaria... — Mason coçou o queixo, pensativo. — Eu gostaria que você tirasse sua blusa. 58


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ellie franziu o cenho e tentou ignorar o calor que se espalhava por suas faces. — Pensei que fosse me dizer algo que gostaria que fosse feito com você. Mason percorreu-a com um olhar sedutor. — Oh, acho que ver seus seios irresistíveis certamente me fará alguma coisa. Ellie sacudiu a cabeça, tomada por nova onda de inibição. — Sua vez, então. Ela olhou para as mãos dobradas em seu colo. O que queria que ele lhe fizesse? Fantasiara tantas coisas, mas não conseguia colocá-las em palavras. — Eu gostaria — começou devagar — que você me beijasse. Ele abriu um largo sorriso. — Posso fazer isso. — Inclinou-se para a frente e beijou-a nos lábios longamente com um misto de ternura e persuasão. Afastou-se, fitando-a nos olhos. — Eu gostaria que você despisse sua calça. A declaração abrupta em contraste com a gentileza do beijo fez com que um riso surpreso escapasse dos lábios dela. — Isso não será algo feito a você — insistiu. — Está bem. Eu gostaria que você tirasse minha camisa. Com a respiração em suspenso, ela observou-lhe a camisa branca e a maneira como lhe realçava os ombros largos, o peito de músculos bem definidos. — Eu gostaria disso — sussurrou. Sentada na beirada da cama, inclinou-se de leve e começou a desapertar-lhe os botões da camisa. Sentiu-se desajeitada e tímida em princípio, mas, quanto mais pele bronzeada era revelada, mais foi se sentindo segura. Ansiava por contemplar-lhe o peito forte e másculo. Quando desapertou o último botão, abriu-lhe a camisa e ajudou-o a removê-la, permitindo-se roçar as mãos pelos ombros e braços dele. — E então, o que quer que eu faça com você? — perguntou Mason, rouco. Eróticas fantasias percorreram a mente de Ellie, coisas proibidas e excitantes que imaginara a ambos partilhando. Ainda assim, não conseguia formular as palavras. Entreolharam-se. Havia uma necessidade premente nos olhos cinzentos dele. Desejo. Não havia dúvida do quanto a queria. Era inebriante saber que seu toque o excitava. E, de repente, aquilo lhe deu mais coragem do que poderia imaginar. — Eu... eu quero que você me toque. — Onde? — Em todos os lugares. Ele soltou um gemido torturado. — Quero isso também, mas quero que seja específica. Preciso saber exatamente como deseja que eu lhe dê prazer. Ela lançou-lhe um olhar encabulado. Não conseguia tomar parte naquele jogo tão erótico. — Onde quer ser tocada primeiro?—persistiu ele com gentileza. Ellie fitou-o nos olhos e concentrouse no desejo estampado ali. — Nos... nos seios — descobriu-se murmurando. Mason tornou a soltar um gemido e despiu-lhe a blusa de lã com mãos trêmulas e ansiosas. Abriu-lhe o fecho do sutiã nas costas em seguida. Num instante, ambas as peças estavam no chão, os seios dela desnudos diante de seus olhos ardentes, os mamilos intumescendo. 59


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Oh, você é realmente irresistível... — sussurrou, roçando-lhe os seios com a ponta dos dedos quase com reverência — ...tão linda. O toque suave arrepiou-a por inteiro. — Perfeita. — Ele começou a afagar um dos mamilos rijos entre o polegar e o indicador. Uma imediata e violenta onda de desejo percorreu Ellie, um delicioso calor espalhando-se por seu corpo. — Você gosta disto? — S-Sim. Mason continuou a acariciá-la, as palmas das mãos sentindo-lhe a firmeza dos seios, os dedos estimulando-lhe os mamilos túmidos habilmente. — Devo prosseguir? Ellie meneou a cabeça, tomada por um prazer intenso. Fechou os olhos, entregando-se por completo às sensações abrasadoras que a envolviam. — Onde? — perguntou ele, sedutor. — Que parte de você está desesperada para ser acariciada? Ela sabia exatamente onde queria ser tocada... a parte de si onde todo o calor e o anseio se reuniam num crescendo. Mas as palavras custavam a sair. Abriu os olhos para fitá-lo, sussurrando: — Eu... eu acho que é a sua vez de me dizer o que quer. Um sorriso cativante e malicioso curvou os lábios dele. —É mesmo? Bem, o que eu devo lhe pedir que faça? — Pensou por um momento. — Quero que dispa minha calça. Ela observou-lhe de imediato a calça preta e a rija masculinidade que se evidenciava, comprimindo-se contra o tecido. A tentação de explorar-lhe o corpo viril era grande demais. Ansiava por fazê-lo. Com mãos que tremiam tanto de desejo quanto de nervosismo, abriu-lhe o botão da calça e o zíper. Mason cerrou os dentes quando os dedos dela o roçaram com os movimentos e levantou-se, impaciente, livrando-se da calça. Antes de atirá-la de lado, retirou várias embalagens de preservativos do bolso e jogou-as na cama. — Como vê, estou bem prevenido — disse,,um novo sorriso malicioso nos lábios. Ellie observou-lhe abertamente o corpo atlético e perfeito, os ombros largos, o peito musculoso, as pernas fortes, cobertas de pêlos escuros. Com fascínio, contemplou-lhe o sexo rijo, mal contido pela malha macia da cueca azul-.clara. Sem poder se deter, tocou-o de leve através do tecido, e ele estremeceu, o desejo cada vez mais evidente em seu rosto. Deitou-a na cama sobre a colcha de cetim e tornou a lhe acariciar os seios com um misto de vagar e impaciência, como se quisesse prolongar as carícias ao máximo, mas, ao mesmo tempo, ansiasse por muito mais. E, de fato, as mãos fortes deslizaram, enfim, até o abdome dela. — Onde devo tocá-la em seguida? — Abriu-lhe o botão e o zíper da calça caqui, correndo os dedos sobre o tecido da calcinha. — Aqui? Ela meneou a cabeça, veemente, o coração disparado em expectativa. Mason acariciou-a através do tecido da calcinha, e ela afundou os dedos na colcha de cetim, uma onda de prazer percorrendo-a. — Quer que eu tire o restante de sua roupa? Ela não podia responder, o pulso acelerado, a respiração ofegante. Queria tudo. — Ellie, diga-me o que quer. Eu farei tudo o que me pedir. Era uma oferta tentadora demais. Maravilhosa demais. — Basta me dizer — sussurrou-lhe ele ao ouvido, acariciando-a ousadamente, estimulando-a, 60


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) enlouquecendo-a, levando-a quase ao prazer absoluto. — Faça amor comigo. Agora! — exclamou ela, o desespero tornando-a impaciente, exigente. Ele sorriu, triunfante, e não demorou a lhe atender o pedido. Mason escorregou para o lado de Ellie e manteve-a em seus braços, enquanto os deliciosos espasmos de mais um clímax a percorriam, reverberando por todo seu ser. Ela se sentia lânguida, saciada e mais realizada do que nunca. Gradualmente, seu corpo aquietou-se e sentiu-se sonolenta. Mason afagava-lhe às costas, o toque quente e ritmado deixando-a num estado de total relaxamento. — Eu não seduzi você — murmurou, aninhando-se mais no calor do corpo dele enquanto lhe fitava o rosto incrivelmente bonito. Ele sorriu, e Ellie teve a impressão de ver algo semelhante a adoração passando por aqueles penetrantes olhos cinzentos, mas a expressão foi rapidamente substituída pelo costumeiro ar arrogante. — Você vem me seduzindo desde o momento em que entrou nesta casa. — É mesmo? Ele confirmou com um gesto de cabeça, continuando a afagar-lhe a pele nua com ternura. — Você me seduz com seu sorriso cheio de covinhas e timidez. — Bem, acho que tenho sorte pelo fato de você ser seduzido tão facilmente. — Ela riu, mas seu riso acabou se dissipando quando se deu conta de que ele continuava sério. — Ninguém nunca exerceu esse efeito sobre mim. Eu poderia passar horas apenas abraçando você. Quero você mais do que já quis alguém antes. Ellie achou aquilo tudo difícil de acreditar, mas queria acreditar. Queria que ele se sentisse tão cativado por ela quanto se sentia por ele. Queria que Mason a amasse... como o amava. Não, não iria pensar em coisas daquele tipo. Disse a si mesma que não o faria. Mason ergueu a cabeça e beijou-a lenta e docemente nos lábios, e Ellie retribuiu com toda a emoção que possuía. Aquela emoção não tinha outro nome senão amor. Mason poderia se acostumar àquilo... a ter uma mulher quente, macia e muito, muito receptiva na cama com ele. Não, não era qualquer mulher que serviria; era decididamente Ellie que queria a seu lado. Observou-a enquanto ela dormia, aninhada em seus braços, as pernas entrelaçadas com as suas, as pequenas mãos repousando em seu peito. A noite anterior fora incrível. Passara horas explorando-lhe o maravilhoso corpo, tocando-a, beijando-a. Quisera dedicar a noite inteira apenas a ela. Aprender a não ser egoísta e preencher todas as necessidades dela. E, principalmente, a fazê-la entender que era incrivelmente bonita, não importando que outras crenças tolas tivesse a respeito de si mesma. Mas, na verdade, a noite fora tanto uma viagem de ego para ele quanto fora para ela. Ellie retribuíra tão sinceramente e com tanto abandono que ele não pudera deixar de se sentir um tanto arrogante. Ele também não pudera deixar de se entregar ao seu próprio êxtase... duas vezes. Embora pudesse afirmar com todo o orgulho que ela encontrara a plena satisfação bem mais do que duas vezes. Por certo, a reação de Ellie era provavelmente a que teria tido com qualquer outro homem. Em especial considerando o fato de que esperara trinta anos para fazer amor com alguém. Para alguém tão cheia de vida e sensualidade quanto Ellie aquilo devia ter sido uma grande façanha. Na verdade, ele não conseguia entender como ela conseguira permanecer virgem por tanto tempo. Ou por quê. Evidentemente, ele não podia negar que sentia imensa satisfação em ter sido o primeiro. E, para ser franco, a ideia de Ellie com outro homem fazia sua raiva ferver. 61


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Não analisou sua reação muito a fundo, mas presumiu que não se sentiria tão possessivo em relação a ela uma vez que seu desejo fosse totalmente aplacado. No momento, porém, não estava pronto para deixá-la sair de sua vida e decididamente não a dividiria com ninguém. Era excelente que aquela regra tivesse sido estabelecida entre ambos. Ellie espreguiçou-se, o corpo curvilíneo e adorável roçando o dele. Piscou algumas vezes e abriulhe um sorriso doce, sonolento. — Olá. — Olá, doçura. Ela tornou a se espreguiçar. — Hum, eu me sinto como se tivesse corrido numa maratona. — Espero que tenha sido um pouco mais divertido do que uma maratona. Ellie abriu um sorriso de contentamento. — Foi maravilhoso. Mason -sorriu amplamente. Fora maravilhoso. A noite anterior fora a coisa mais próxima da perfeição que podia ter imaginado. E, naquela manhã, sentia-se melhor e mais tranqüilo do que... provavelmente nunca. Era exatamente do que precisava. Uma mulher autêntica e generosa. Uma pessoa para mantê-lo centrado, motivado. A maneira como se sentia naquela manhã provava que Charlie Grace e Nate Peck não sabiam do que estavam falando. Ele não tinha um problema com bebida. Apenas precisava de um pouco de calor em sua vida. Um pouco de afeição. Pegou Ellie por debaixo dos braços e deitou-a sobre seu peito para beijá-la nos lábios. Beijou-a com volúpia, seu desejo se renovando, o dela também logo vindo à tona quando, de repente, Ellie tentou se ajeitar melhor e notou o relógio na mesinha-de-cabeceira. — Já são onze e meia? — exclamou, alarmada. Ele seguiu-lhe a direção do olhar. — Parece que sim. Ellie saltou da cama, arrastando um lençol consigo. — Oh, não. Não. Estou duas horas e meia atrasada. Mason deitou a cabeça sobre as mãos, observando-a adiantar-se rapidamente pelo quarto, recolhendo as roupas. — Uma vez que já está tão atrasada, por que não telefona dizendo que ficou doente? Podemos ficar aqui o dia todo. — Oh, não posso fazer isso. — E claro que pode. O eficiente e capaz Prescott está lá. Pode cuidar das coisas. — Mas você não precisa ir para o trabalho também? — Mason deu de ombros. — Ginny poderia administrar esta cidade com uma mão amarrada nas costas. — Ginny? Mas ela é apenas sua... — Então, Ellie meneou a cabeça.—Acho que se há alguém que poderia seria mesmo Ginny. — Ela sabe de tudo que se passa — concordou ele. — Então, vamos, tire o dia de folga. Ela parou no meio do quarto, uma mão segurando o lençol junto ao peito, um sapato na outra, parecendo tão encantadora em sua indecisão. Enfim, sacudiu a cabeça. — Eu gostaria muito, mas não posso. Receberemos uma grande remessa de livros hoje. Preciso ir. — Está certo. — Mason soltou um suspiro. — Tem sorte, porque metade do que gosto em você é sua bondade e consciência. 62


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ela tentou parar de se desdobrar para vestir a calcinha, enquanto ainda segurava o lençol com recato de encontro ao peito. — Qual é a outra metade? — Seu pudor — disse ele, observando-lhe o lençol com um sorriso irônico. — Ora, seu atrevido! Apesar das provocações, ela conseguiu se vestir sem revelar muito e, então, adiantou-se até a cama. — Eu adoraria ficar. Mason compreendeu, embora o que mais desejasse fosse puxá-la de volta para a cama e despir-lhe as roupas que a vira tendo tanto trabalho para colocar. — Irei até a sua casa hoje à noite. Aquilo pareceu agradá-la. — Ótimo, eu farei o jantar. Ele hesitou. — Bem, será tarde. Mas eu adoraria a sobremesa. — Ele percorreu-a com um olhar faminto. Ela sorriu, embora a alegria em seus olhos parecesse ter diminuído ligeiramente. — Está bem. Começou a se levantar, mas Mason puxou-a de volta para a cama para um beijo repleto de paixão. Após momentos deliciosos, ela interrompeu o beijo. — Tenho mesmo que ir. Mason soltou-a, mas, quando Ellie chegou até a porta do quarto, teve de detê-la apenas mais uma vez. — Ellie. — Até ele pôde notar o ligeiro quê de desespero na própria voz. — Você quer viajar comigo no outro fim de semana? Como sabe, será feriado na segunda-feira, e teremos bastante tempo. — Nem imaginara que faria o convite... até que ouviu as palavras saindo de seus lábios. Um sorriso radiante iluminou o rosto bonito dela, as covinhas se evidenciando. — Sim, claro! — Está combinado, então. Uma onda de alívio percorreu Mason. Para alguém que passara a vida inteira sendo pontual, Ellie estava realmente arruinando seu recorde perfeito em bem pouco tempo. Mas sua noite fora incrível, pensou com um sorriso sonhador nos lábios, enquanto parava em sua vaga no estacionamento da biblioteca. Devia estar exausta depois das horas de puro prazer nos braços de Mason, mas, ao contrário, sentia-se totalmente disposta e viva. Descendo do carro, respirou fundo, enquanto tentava pensar em alguma desculpa razoável para seu atraso. Além daquilo, lembrou-se de que ainda teria que dizer a Prescott que não poderia sair para jantar com ele naquela noite porque concluíra que era uma má ideia misturar sua vida pessoal com a profissional. Quando entrou na biblioteca, admitiu a si mesma que já estivera razoavelmente preparada para encontrá-lo preocupado à sua espera. Só não estivera preparada para deparar com Abby e Chase à espera com ele. — Céus, Ellie! Por onde você andou? — Abby adiantou-se depressa na direção dela, uma expressão ansiosa no rosto. — Prescott me ligou no trabalho por volta das dez para dizer que você ainda não havia chegado. E queria saber se eu tinha visto você. Eu lhe disse que seu carro não estava mais debaixo do coberto lateral de sua casa quando saí às oito e meia, que não fazia ideia de onde você poderia estar. 63


Ellie piscou, atordoada pela explicação rápida da irmã e sua preocupação. Ao menos, já contava com uma desculpa plausível o bastante àquela altura. — Eu parei na casa da sita. Limeburner para ver se queria que eu lhe levasse alguns livros. E, bem, você sabe como ela é. Ficou conversando sobre isto e aquilo e eu não conseguia sair de lá. — O fato era verídico. Não acontecera naquela manhã, mas a história era verdadeira. Ela já se vira presa na sala da solitária e falante sita. Limeburner muitas vezes. Abby franziu o cenho. — Não me lembro de ter visto seu carro lá quando passei pela rua dela hoje. — Estava, sim. Na certa, você nem o notou — assegurou-lhe Ellie, odiando cada momento das mentiras. A irmã estudou-a por um momento e, então, deu de ombros. — Oh, felizmente você está bem. Fiquei morrendo de preocupação. — Desculpe. — Está tudo bem agora. — Abby voltou até o balcão da recepção para apanhar sua bolsa e dar um rápido beijo em Chase. — Preciso voltar ao laboratório. Tenho de fazer mil coisas antes de ir até a Universidade de Boston na semana que vem. — Abraçou Ellie com força antes de deixar a biblioteca apressadamente, parecendo-se muito com a cientista atarefada que era. Chase, porém, ainda se deteve junto ao balcão e estudou Ellie com uma expressão curiosa. — Felizmente você está bem. Parece realmente muito bem, aliás — acrescentou ele, um sorriso peculiar nos lábios. Ellie forçou um sorriso e teve certeza de que empalideceu por um momento. Que conversa mais estranha. Chase parecia misterioso, desconfiado. Teria visto alguma coisa? — Bem, tenho que ir—declarou ele de repente e sua expressão pareceu voltar ao normal quando perguntou: — Ei, gostaria de ir almoçar conosco depois que voltarmos de Boston? — Claro. — Que tal no feriado da segunda-feira? Você estará de folga? — Não — respondeu Ellie depressa demais. — Quero dizer, sim, estarei de folga, mas eu... eu acho que talvez já terei um compromisso. — Por um breve momento, ela achou ter visto aquele estranho brilho nos olhos dele, mas tornou a desaparecer tão depressa que a deixou com dúvida a respeito. — Bem, poderia ser um jantar mais ao final da semana, então. — Seria ótimo. Ele se despediu, e ela o observou deixando a biblioteca com um sorriso. Adorava o cunhado. Era um excelente sujeito, e Abby era uma mulher de sorte em tê-lo a seu lado. Com a saída de Chase, Ellie soube que não poderia mais evitar um outro ótimo sujeito, Prescott, que se mantivera quieto atrás do balcão da recepção. E precisava conversar com ele. Mesmo que o assunto a fizesse sentir-se terrivelmente culpada. — Desculpe-me por ter ligado para Abby — disse ele tão logo ela virou-se para fitá-lo. — Não pensei que ela fosse deixar o laboratório. Ou ligar para o trabalho de Chase. — Não foi culpa sua. Eu deveria tê-lo avisado de que chegaria atrasada. Céus! E justamente hoje quando há tanto trabalho a fazer. — Algo ocorreu a ela de repente. — Ouça, acho que ficarei até umas sete ou oito horas hoje para conseguir terminar tudo, e seria melhor se cancelássemos nosso jantar de logo mais. —Eu poderia ficar para ajudar você e terminaríamos mais cedo. — Não — recusou ela depressa. — Não seria justo para você. Chegou no seu horário e não é culpa sua se me atrasei. Saia normalmente às cinco e não se preocupe. Eu me arranjarei bem.


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Adiantou-se até seu escritório antes que Prescott tivesse chance de protestar. Ao que parecia, ele acreditara em sua desculpa. Não era uma solução, mas era algo que poderia lhe garantir algum tempo... bem, para que conseguisse reunir coragem e arranjar outra desculpa. Mas de caráter permanente. Sentia-se péssima por estar agindo como uma mentirosa e covarde, mas a verdade estava fora de cogitação. Não podia contar sobre seu envolvimento com Mason. Mas tinha de fazer Prescott entender que não podia ter um relacionamento com ele. Devia-lhe ao menos aquilo. — Ei, olá. — Mason cumprimentou Chase, enquanto se adiantava pelo principal restaurante de Millbrook. Estava um tanto surpreso em ver o amigo construtor ali. — Ei, o que está fazendo aqui? — Chase estava obviamente surpreso em ver Mason também. — Passei pelo seu gabinete, mas Ginny disse que você estaria ausente hoje. Mason sentou-se diante de Chase à mesa e pegou o cardápio que o amigo não estava usando. — Tive de resolver um assunto pessoal esta manhã e, portanto, só irei trabalhar depois do almoço. O que está fazendo na cidade a esta hora, afinal? Pensei que você estivesse iniciando a construção daquela igreja protestante em Ludlow na volta da lua-de-mel. — E estou, mas recebi um telefonema de Abby. Estava em pânico porque Prescott havia ligado dizendo que Ellie não aparecera para o trabalho. Achei melhor voltar e me certificar de que tudo estava bem. Uma onda de satisfação tomou conta de Mason enquanto recordava onde Ellie estivera e por que se atrasara para o trabalho. Mas seu contentamento dissipou-se ao se dar conta de que o atraso dela levara pessoas a se preocuparem. — E então, ela apareceu? — perguntou casualmente. — Sim. — Chase meneou a cabeça e, então, soltou um riso. — Ela deu uma desculpa esfarrapada de que parou na casa de Millie Limeburner, mas... — Inclinando-se para a frente, baixou a voz: — Acho que está saindo com alguém. Mason tentou parecer surpreso. — E mesmo? Por que acha isso? — Não sei ao certo. Talvez seja mera intuição. Mas tudo parece se encaixar. Abby não viu o carro dela hoje cedo quando saiu para o trabalho. E ela pareceu constrangida demais quando nos viu... e, depois, inventou aquela desculpa. Estava com as roupas amarrotadas, os cachos mais rebeldes do que o costume. Fiquei com a nítida impressão de que ela não passou a noite em casa. Pobrezinha, precisava vêla! — Oh. — Mason podia imaginar a sua tímida Ellie deparando com um trio preocupado a sua espera e tentando desesperadamente encobrir as pistas da noite ardente que tivera. — Não que a vida pessoal dela seja da minha conta — prosseguiu Chase em seu tom bemhumorado. — A única coisa que não entendo é por que ela sentiria a necessidade de mentir para nós. — Deve ter suas razões. Talvez esteja constrangida. — Talvez. Mas eu ficaria feliz em vê-la encontrando alguém e sei que Abby também ficaria. Ellie passou tempo demais sozinha. Merece realmente encontrar um bom homem. Mason mexeu-se no assentou, pouco à vontade, e ficou aliviado em ver a garçonete se aproximando para anotar o pedido de ambos. Depois que ela se foi, Mason ainda não conseguia tirar as palavras do melhor amigo de sua cabeça. Ellie merecia um bom homem. Merecia muitas coisas... muitas coisas que ele não era. Chase soltou um longo suspiro. — A questão é: se Ellie está mesmo saindo com alguém, como imagino, ela obviamente sente a necessidade de manter o relacionamento em segredo. E isso me deixa desconfiado. Mason começou a desembrulhar seus talheres do guardanapo. — Por quê? 65


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Bem, Ellie é uma romântica inveterada. Céus, ela lê um romance atrás do outro, devora-os feito doces. Assim sendo, se estivesse interessada em algum homem, acho que ficaria ansiosa para nos apresentar a ele. Isso me leva a pensar que o sujeito está pedindo a ela que mantenha o relacionamento discreto. — Se ela estiver saindo com alguém. — Claro. Mas, como lhe disse, minha intuição me diz que ela realmente está. E não gosto da ideia de Ellie estar vendo alguém que apenas a esteja usando. — Usando-a? — Exato, para se divertir por uns tempos, ou algo assim. Ellie não é desse tipo. Mason evitou o olhar do amigo. — Sim, todos na cidade sabem que Ellie não é do tipo que teria um caso clandestino com alguém. É bastante respeitável. — Sim, é. E aposto que esse sujeito sabe disso também. Assim, se ele está lhe pedindo que esconda o relacionamento é porque pretende apenas ter um caso passageiro. Por que Ellie sequer se interessaria por um patife desses? Mason parou de mexer em seu garfo. — Não faço ideia. A garçonete voltou para servi-los e, felizmente, Chase decidiu deixar de lado sua teoria sobre Ellie e seu amante patife. Mason esforçou-se para acompanhar os outros assuntos do amigo, mas sua mente ainda estava fixa em Ellie. E o patife que ela estava vendo. Droga, ele era aquilo, sem dúvida. Um patife dos mais desprezíveis. Fizera com que Ellie mentisse para a irmã e o cunhado... seu melhor amigo. Para todos. Ainda acreditava que o segredo de ambos era a melhor maneira de preservar a reputação dela, mas não era algo justo para com Ellie. Deveria estar namorando com ela. Levando-a para sair como pessoas normais. Mas não podia lhe oferecer aquilo, embora soubesse que era a coisa certa a fazer. Ellie veria aquilo como um sinal de que o relacionamento de ambos ia além de um divertimento passageiro. Que ele estava pensando em algo mais do que um breve caso. E não estava. Não tinha a menor intenção de se casar novamente. Seu primeiro casamento, embora tivesse terminado, iria lhe durar uma vida inteira em termos de amargura. Queria apenas se divertir. E queria que Ellie se divertisse também. Se bem que tinha suas dúvidas de que ela pudesse estar realmente se divertindo quando se via obrigada a dissimular e mentir. Ellie deixou o trabalho pouco antes das oito, como dissera a Prescott que faria. Apesar da sensação de culpa, fora um bom pretexto e, além de ter terminado seu trabalho, sabia que ainda tinha tempo de sobra até que Mason fosse a sua casa. Uma grande lua alaranjada de outono avistava-se acima de sua casa quando parou o carro sob o coberto lateral. Descendo, seguiu pelo caminho em direção à porta dos fundos, admirando a noite deslumbrante è pensando em como se sentia contente. De repente, um vulto saiu detrás de um dos arbustos de lilases, parando a sua frente. Conseguiu emitir um gritinho antes de ser puxada de encontro a um corpo sólido. Lábios sôfregos apossaram-se dos seus, e ela abraçou o vulto com ardor, sabendo muito bem de quem se tratava. — Você tem as maneiras mais estranhas de aparecer na minha casa — murmurou, ofegante, de encontro aos lábios de Mason. Sentiu que ele sorria. — Eu me vejo fazendo as coisas mais estranhas quando o assunto é você. Espreitando, invadindo casas e fazendo uma porção de propostas indecentes e impróprias. — Seriam impróprias apenas se me ofendessem e, até agora, achei todas as suas propostas bastante aceitáveis. Mesmo que, às vezes, sejam um pouquinho indecentes. Ellie percebeu que Mason ficou sério de repente. Então, ele lhe perguntou num tom tão solene quanto sua postura: 66


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Você se sente bem com o nosso acordo, não é mesmo? Ellie também ficou séria. Sentia-se bem com aquilo? Queria sentir-se. Queria ouvir sua mente em vez de seu coração. Queria simplesmente desfrutar o tempo que tinha com Mason e não pensar no futuro. Mas seus pensamentos não obedeciam. Perguntas viviam interferindo, sobre quanto tempo a relação de ambos duraria e como se recuperaria quando ele decidisse terminar as coisas. Mas não podia lhe dizer aquilo, não sem correr o risco de fazê-lo sentir-se pouco à vontade ou pressionado. Daquele modo, disse como se sentia naquele momento. — Quando estou com você, as coisas não poderiam ser melhores. São maravilhosas, na verdade. Ele pareceu quase aliviado com a resposta, enquanto se inclinava para beijá-la outra vez. Depois, pegou-lhe a mão e conduziu-a até os degraus da varanda dos fundos. Tão logo abriram a porta da cozinha, enlaçou-a pela cintura, estreitando-a junto a si e cobriu-lhe os seios com as mãos. No momento seguinte, como se não pudesse esperar mais, guiava-a até a escadaria em direção ao quarto dela. — Não quer algo para jantar? — Pessoalmente, ela mal podia esperar para estar com Mason também, mas, mesmo em momentos como aquele, as boas maneiras estavam arraigadas em seu íntimo. — Acho que provarei a sobremesa primeiro esta noite — falou ele naquele tom sedutor que a arrepiava por inteiro. Ellie sempre fora grande adepta da filosofia da "sobremesa primeiro".

Capítulo X Mason sentou-se de encontro à cabeceira da cama, enquanto Ellie entrava no quarto com uma bandeja de sanduíches e duas latas de soda. Ele se oferecera para ajudá-la, mas ela recusara enfaticamente. Explicara que podia ver que ele estava tenso e que deveria descansar. Na verdade, ele estivera bastante tenso, mas Ellie fizera maravilhas para livrá-lo de todo estresse. Ela sentou-se, ajeitando a bandeja entre ambos na cama, e ele achou-a incrivelmente doce e bonita, sentada ali, metida em mais um do que parecia um estoque interminável de pijamas de flanela. Embora daquela vez usasse apenas a parte de cima, o que ainda conseguia cobri-la quase toda. Mas já era um começo. Quando chegara, estivera ansioso para tê-la em seus braços e a possuíra com todo o arrebatamento, tomado pelo que parecia um desejo insaciável por ela. Sua Ellie o surpreendia constantemente, percebeu ele, enquanto saboreavam seus sanduíches em meio a um silêncio agradável e cheio de contentamento. Imaginara que ela ficaria chocada, talvez até um tanto assustada com a força de seu desejo por ela naquela noite. Não fora, porém, o caso. Na verdade, ela retribuíra com todo ardor e abandono. O encontro fora uma verdadeira explosão de paixão e possivelmente o melhor sexo que ele já tivera em sua vida. Ellie era extraordinária, passional. Mais uma vez, perguntou-se como uma mulher tão sensual e receptiva conseguira se manter virgem por tanto tempo. Estava prestes a perguntar-lhe aquilo quando Ellie disse: — Eu teria feito um jantar mais caprichado se tivesse tido tempo. Você havia comentado que chegaria bem tarde. — Não planejei chegar cedo, mas não pude esperar. Eu precisava ver você. — A verdade fora revelada antes que ele pudesse contorná-la, fazendo parecer que sua decisão fora uma mera mudança de planos em vez de uma necessidade premente. Não era aquela impressão de seriedade que queria dar a ela quanto ao relacionamento de ambos. 67


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Fico contente. — Ellie abriu-lhe um sorriso tão caloroso, tão espontâneo que nova onda de culpa tomou-o de assalto. Depois de sua conversa com Chase durante o almoço e de ter deparado com Everett Winslow saindo da prefeitura no início daquela tarde, ele se convencera de que precisava dizer a Ellie que as coisas estavam ficando complicadas demais... e que precisavam romper. Depois, a sós em seu gabinete e com chance para refletir, compreendera que estar com Ellie era tudo o que queria. Era a única coisa pela qual esperava em seu dia e não abriria mão daquilo. Não por algum tempo. — Eu vi Everett Winslow hoje — comentou abruptamente, mais uma vez parecendo não conseguir conter as palavras. — Viu? — Ellie parou com o sanduíche a meio caminho dos lábios. — Conversaram sobre algo relativo à biblioteca? —Winslow me disse que tinha acabado de conversar com Charlie e que achava que ele estava perto de tomar uma decisão. — Você sabe qual será a decisão de Charlie? Mason sacudiu a cabeça. — Charlie não está conversando realmente comigo sobre esse assunto. Mas Winslow, por sua vez, fez questão de insinuar que Charlie estava pendendo para o lado dele, dizendo que se mostrou muito interessado no campo de futebol, que estava pesando todos os prós e contras e que acabaria "tomando a decisão certa", acrescentou com aquele costumeiro sorriso sardônico. — Mas por que Charlie não conversaria com você sobre isso? E por que estaria pendendo para o lado de Winslow? Vocês são amigos e...—Ellie se interrompeu de repente, parecendo constrita. Na certa, estaria se lembrando da reação dele quando lhe perguntara sobre Charlie antes. Contudo, Mason queria conversar com Ellie, queria tê-la a seu lado. E sabia que ficaria. —Charlie está... zangado comigo. Acha que tenho um problema. — Que tipo de problema? — Acha que tenho um problema com bebida. — Mason observou-lhe a reação e não viu ar de julgamento nos olhos azuis dela; portanto, prosseguiu: — Comecei a beber demais por um período, depois que Maria e eu nos separamos. E cometi alguns erros deploráveis, os quais Charlie viu. Insiste para que eu procure os AA e obtenha ajuda. Não sou um alcoólatra. Infelizmente, não consigo fazer com que Charlie veja isso. Ellie manteve-se em silêncio por um momento. — Bem, o fim de um casamento é algo bastante traumático. Charlie deve saber disso. — Ele está irredutível. — Então, ele votará contra você caso não obtenha ajuda? — Não disse isso abertamente, mas tenho a nítida impressão de que esse é o plano dele. — Isso é terrível!—protestou Ellie, inconformada. — Não pode conversar com ele? Fazê-lo entender que você está bem agora? — Eu tentei, mas, por qualquer que seja a razão, Charlie tem sua opinião formada. — Bem, isso é loucura — exclamou ela com todo o ultraje que ele esperara. Uma onda de satisfação percorreu-o. Era bom saber que alguém acreditava nele. Sabia que podia contar com Ellie. — Sei que você será capaz de salvar a biblioteca, mesmo sem o apoio de Charlie. As pessoas desta cidade respeitam você. Parte da satisfação dissipou-se. Não havia nenhuma garantia de que ele pudesse obter uma votação favorável. Mas tentaria. 68


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Farei tudo o que estiver ao meu alcance — prometeu. — Sei que fará — concordou ela prontamente e a sensação boa voltou. Comeram, então, em meio a vim silêncio agradável até que, após um longo gole de sua soda, Mason lembrou-se da pergunta que pretendera fazer. — Sabe, há uma coisa me intrigando. Ellie fitou-o com ar inquiridor. — Como você conseguiu permanecer virgem por tanto tempo? Ela arregalou os olhos. — Você percebeu? Mason ocultou seu sorriso. — Sim, é claro. — Oh. — Ela pareceu um tanto desconcertada. — E então, como conseguiu tal façanha? — Eu... eu nunca conheci ninguém com quem quisesse estar. — A explicação dela pareceu embaraçada, tensa. — E é claro, eu nunca tive uma fila de pretendentes batendo a minha porta também. Ele a observou recolhendo as latas de refrigerante e os guardanapos à bandeja, que colocou na mesinha-de-cabeceira. Não estava à espera de uma objeção a seu último comentário. Aquilo deixou Mason zangado. Ela não se dava conta de que era incrivelmente bonita? Tudo o que um homem poderia querer? — Acho que os sujeitos que você conheceu deviam ter sido obtusos e cegos. Ela o encarou com visível surpresa. — O quê? — Não posso acreditar que homens não têm tentado sair com você há anos. — Bem, não têm. — Deveriam ter tentado. — Mason puxou-a para si e beijou-a ardentemente. Ellie correspondeu com a paixão de sempre e, embora ele não quisesse que ela pensasse que não era atraente, estava contente com o fato de outros homens terem, por alguma razão inexplicável, deixado de notar aquela mulher maravilhosa. E teve toda a intenção de lhe mostrar quanto ela era desejável quando a deitou na cama e começou a lhe retirar a blusa do pijama. Ellie aninhou-sé mais no calor do corpo de Mason e afagou-lhe o peito de leve enquanto ele dormia. Sentiu-lhe o coração pulsando de encontro a sua mão e não pôde deixar de desejar que fosse seu. Que tivesse também o amor dele em vez de apenas seu desejo. Mas pensamentos como aquele eram inúteis. Quando Mason lhe perguntara sobre sua virgindade, quase lhe contara a verdade... estivera esperando por ele. Mas logo se dera conta de que não poderia revelar aquilo. Então, dissera-lhe algo tão próximo da verdade quanto pudera. No fundo, queria acreditar que Mason começava a pensar nela como mais do que uma parceira de cama. Ele fizera planos para ambos viajarem dali a quase duas semanas. Chegara em sua casa bem antes do que combinara porque ansiara por vê-la. Confiara nela naquela questão referente a Charlie Grace. Estava surpresa em saber daquilo sobre Charlie. Sempre o julgara um homem bom, sensato. Não parecia do tipo que fazia acusações infundadas sobre o prefeito que também era seu velho amigo. Mas não achava que Mason tocaria no assunto se tivesse realmente um problema. A noite em que ele apagara em sua cama voltou-lhe à mente subitamente e, por um segundo, sentiu-se incerta. Mason dissera que tomara uns dois drinques e tivera uma gripe. Que fora por aquela razão que tivera uma reação tão forte. Ellie não tivera motivo para duvidar dele. Não bebia quase nem socialmente para entender muito a respeito. A explicação dele parecera verdadeira. Ainda parecia.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ela ergueu a cabeça e observou o rosto de Mason. Era tão bonito, tão perfeito. Não podia duvidar dele. Não queria. Simpatizava com Charlie Grace o bastante, mas amava Mason Sweet. — Você poderia ter ido para a minha casa. — Ellie hesitou ao pé da escada da varanda da frente de Mason. Sabia que estava sendo tola, mas não se sentia à vontade na casa dele. Era magnífica. Adorava a planta, o estilo, a vista esplêndida, mas, para ela, a sensação era a de que aquela era a casa de Maria. E não gostava de se comparar à ex-esposa de Mason. Sempre se sentia em desvantagem. — Estivemos na sua casa a cada noite durante a última semana. E, para ser sincero, quero você na minha casa. — Ele desceu da varanda e pegou-a pela mão, conduzindo-a pelos degraus. A semana anterior fora maravilhosa. Quando, inicialmente, Mason tentara dissuadi-la de iniciar um caso amoroso com ele, perguntara-lhe se uns dois encontros rápidos por semana seriam o bastante para ela. Bem, até então, Ellie ainda não entendia realmente o que ele quisera dizer. Mason estivera em sua casa a cada noite, chegando geralmente às sete, se não antes. Haviam jantado juntos. Conversado. Às vezes tinham assistido à teve, o que parecia ser um afrodisíaco para Mason, pois nunca conseguira assistir a um programa inteiro sem começar a beijá-la e tocá-la. E quanto à maneira como tinham feito amor a cada noite, ela não sabia qual era a definição dele de um "encontro rápido", mas se era o que estavam tendo, achava que não conseguiria sobreviver a um "longo". Afinal, passavam horas fazendo amor, e Mason era um amante maravilhoso e atencioso, e toda aquela atenção dera mais confiança a ela. Para todos os efeitos práticos, eram um casal de verdade. Exceto que ninguém sabia daquilo. E, embora Ellie tentasse reprimir sua insatisfação, não conseguia contê-la por completo. Mas ao menos em sua casa podia se sentir como se Mason fosse realmente seu, ainda que fosse apenas durante as horas que passavam juntos lá. Ali, naquela imensa casa, porém, lembrava-se constantemente de que ele não era seu de verdade. Estava apenas a seu lado até que alguém melhor aparecesse. Alguém como a ex-esposa. Quando Mason lhe abriu a porta da frente, Ellie foi saudada pelo delicioso aroma de algo cozinhando. — O que é isso? Está com um cheiro maravilhoso. — Decidi preparar um jantar para você, para variar. — É mesmo? — Ellie estava surpresa e empolgada. — Sabe cozinhar? Ele adquiriu uma expressão um tanto embaraçada. — Sei aquecer. Na verdade, comprei a comida naquele restaurante em Bar Harbor que você mencionou que queria conhecer. A alegria dela dissipou-se um pouco. Por que ele simplesmente não a levara ao restaurante? Não, aquilo não era justo. Mason estava tentando criar uma noite romântica, e ela, sendo ingrata. Mason conduziu-a até a sala de jantar. A grande mesa retangular estava arrumada para dois, com uma dezena de velas em belos castiçais lançando sua luminosidade dourada ao redor. — Isto é lindo. — Ellie soltou-lhe a mão e andou pela sala. Nunca estivera ali antes. A mobília e a decoração ainda tinham a marca de Maria, mas ela não se concentrou naquele detalhe, mantendo-se atenta apenas à atmosfera romântica que Mason criara. — Sente-se. — Ele puxou-lhe uma cadeira gentilmente e serviu-lhe uma taça de champanhe. — Relaxe. Volto num instante. — Depositou-lhe um beijo abaixo do lóbulo da orelha e desapareceu na direção da cozinha. Ellie apenas provou ligeiramente o champanhe, enquanto admirava a adorável mesa, arrumada com linho, cristais e porcelana, apreciando especialmente o fato de que os lugares tinham sido dispostos bem próximos, um na cabeceira e o outro logo à direita, apesar do tamanho da mesa. 70


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Mason voltou, carregando um prato em cada mão. Pousou-os na mesa antes de se sentar ao lado dela. A entrada era uma salada de aspecto delicioso, mas a mente de Ellie não estava na comida, não com Mason tão próximo. Teve de admitir que a salada estava ótima quando a provou. — Sabe, eu acabei me tornando uma especialista em saladas — comentou. — Elas têm sido a base da minha dieta ao longo de... bem, da minha vida inteira. Mason franziu o cenho. — Bem, espero que você as coma porque gosta de vegetais, porque se o faz por qualquer outro motivo, de nada adianta. — Oh, você é que pensa — exclamou ela, bem-humorada, mas depreciando a si mesma. Ele franziu ainda mais o cenho. — Eu juro que ainda vou conseguir convencê-la de que você é perfeita exatamente do jeito que é. Então, por que não quer ter um relacionamento de verdade comigo? Por que não podemos ser vistos juntos? Mas, em vez de fazer as perguntas em voz alta, ela apenas sorriu. — A salada está realmente boa. Mason sorveu um gole de seu champanhe. — Diga-me, o que quer fazer durante o nosso fim de semana fora? — Podemos fazer qualquer coisa? — perguntou ela, animada com a mudança de assunto. — Sim, o que desejar. — Então, eu gostaria de ir até Portland e ver a nova exposição no museu de arte. É sobre os mestres americanos. — Será divertido. E eu conheço uma estalagem excelente em Cape Elizabeth. — Você ficou lá com Maria? — A pergunta escapou antes que ela pudesse detê-la. Mason sorriu, divertido. — Você está mesmo com ideia fixa sobre onde e com quem eu fiz sexo, não é mesmo? Ellie corou, aborrecida consigo mesma. — Eu não deveria ter perguntado isso. — Bem, mesmo correndo o risco de arruinar essa imagem de Casanova que você parece ter de mim, não fiz sexo com ninguém lá. Na verdade, eu ofereci uma festa em comemoração aos trinta anos de aniversário de casamento dos meus pais nesse lugar. Ela corou ainda mais, embaraçada, sentindo-se patética. — Bem, meu anjinho ciumento, acho melhor eu servir o prato principal antes que tudo acabe queimando. — Mason levantou-se e beijou-a. — Não tem que se preocupar com outras mulheres com quem já estive. Não consigo me lembrar de uma única delas quando estou com você. Ellie sabia que não devia ser verdade, mas havia um brilho tão sincero naqueles olhos cinzentos que quase acreditou. Ele voltou com mais dois pratos. Estavam repletos de grandes cogumelos recheados com lagosta, camarões graúdos e vieiras ao molho. — Oh, eu adoro estes cogumelos recheados. — Eu sei. Ela sentiu um súbito calor envolvendo-a. Mason a ouvia, mesmo as coisas corriqueiras que dizia como o fato de que gostava de cogumelos. Aquilo quase compensava o fato de terem de manter o relacionamento em segredo. Quase.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Mason ausentou-se apenas por mais um segundo para buscar-Ihe uma lata de soda diet, que lhe serviu num copo de cristal com gestos floreados. — Para milady. Ellie riu. — Obrigada. — Percebi que mal tocou o champanhe. Não gosta? — Não muito. Mas foi um belo gesto seu incluí-lo. Ela provou um cogumelo recheado e fechou os olhos, emitindo um som de apreciação. Quando os abriu, notou que Mason a observava com uma expressão satisfeita. — Adoro observar você comer. Ellie franziu o cenho. — Não posso imaginar por quê. — Porque você come como faz tudo mais, com vivacidade. Ela fez uma careta. — Acho que o champanhe subiu a sua cabeça. —Talvez, mas tudo o que sei é que adoro apenas observar você. A animação no seu rosto. O entusiasmo em suas reações. E você é tão adorável que, às vezes, rouba meu fôlego. Daquela vez, Ellie corou, encantada com a descrição dele e atônita com o fato de que o homem que sempre achara estonteante parecia vê-la da mesma maneira. Era inacreditável. — Sabe — começou ele com um sorriso malicioso —, nunca fiz sexo com ninguém nesta mesa. Ela conteve o riso. — É mesmo? Mason meneou a cabeça, lançando-lhe um olhar sugestivo que a fez rir de fato. — Bem, eu presumo que... — Não, termine o jantar. Eu tenho o péssimo hábito de interromper suas refeições. Durante o restante do jantar, continuaram com seu flerte, a maior parte dos comentários insinuantes. Ellie adorava sentir-se à vontade o bastante para flertar com ele. Jamais flertará com homem algum em sua vida. Supunha que fazia sentido que pudesse flertar com o homem com quem estava dormindo, mas ainda se sentia bastante audaciosa. De alguma maneira, também a fazia sentir-se como se estivessem mais próximos e não fossem apenas amantes, mas amigos também. Quando terminaram o jantar, Mason surpreendeu-a, pegando-a pela mão para ajudá-la a levantar-se e, depois, erguendo-a em seus braços. Com súbito nervosismo, ela abraçou-o com força pelo pescoço, como se tivesse medo de que fosse derrubá-la. — Nem ouse dizer — avisou-a ele, notando-lhe a reserva de imediato. — O quê? — Que é pesada demais. Que vou deixá-la cair. Você é uma pluma. Ela soltou um riso desdenhoso, mas segurou-se com mais força quando ele seguiu pelo corredor em direção à escadaria. — Oh, eu posso ir caminhando — disse com nervosismo. — Eu sei que você pode caminhar. Você realmente torna difícil para um homem ser romântico. Céus! — Ele disse aquilo com tanta exasperação que Ellie não pôde deixar de rir. Embora ainda estivesse certa de que rolariam escada abaixo até suas mortes. Mas Mason carregou-a com facilidade até o andar de cima, não ficando nem sequer ofegante. — Você precisa aprender a confiar a mim. — Eu confio em você.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Entreolharam-se, e ela achou ter visto uma emoção passando por aqueles olhos-cinzentos, mas ele beijou-a antes que pudesse identificá-la. Continuou beijando-a até que ela se deu conta de que ele a levara até a porta do próprio quarto. Não queria arruinar o momento, mas ainda não achava que poderia fazer amor com ele numa cama que dividira com outra mulher. Uma mulher que amara no passado. — Mason, não podemos ir até o outro... Ele interrompeu-lhe a pergunta com outro beijo, um beijo gentil, persuasivo que ela não conseguiu ignorar. Deu-se conta vagamente de que ele abria a porta do quarto e entrava, mantendo-a em seus braços, mas não pôde interromper o beijo. Não queria. Após alguns momentos, foi ele quem o interrompeu, mas manteve-a bem próxima a si, fitando-a nos olhos. — Nós não temos que ficar aqui, mas eu gostaria que sim. Ellie hesitou e, então, meneou a cabeça. Quando se tratava daquele homem, parecia que não conseguia lhe negar nada. Mason abriu um largo sorriso e colocou-a no chão, a fricção entre seus corpos abrasadora, apesar das roupas. Ela continuou fitando-o, esperando que ele tornasse a beijá-la e lhe desse a confiança necessária para ignorar suas dúvidas. Em vez daquilo, ele a observou com ar expectante. Ellie conteve-se para não franzir o cenho e desviou o olhar, incerta sobre o que deveria fazer. Então, piscou, surpresa. Piscou várias vezes. Aquele não era o quarto que vira antes. Mas, ao mesmo tempo, era. — Mason — sussurrou, atônita, enquanto olhava ao redor. A mobília pesada de madeira maciça e entalhes rebuscados fora substituída por peças mais leves e claras. No lugar das cortinas ostentosas, presas com laços de cetim, havia simples persianas brancas. O papel de parede florido em tons claros de azul e rosa desaparecera também; as paredes agora tinham uma camada de tinta, num tom de azul suave, discreto e sereno. Até a colcha de cetim rosa, cheia de babados, sumira. A cama agora era adornada por um edredom branco com listras finas em azulmarinho e almofadas combinando. Aquele era o quarto de Mason. Seu estilo. Seu gosto. — E então, o que acha? Ellie notou que ele a observava atentamente, como se sua reação realmente importasse. Como se não tivesse feito a redecoração apenas por si mesmo, mas, talvez, por ela também. — Ficou maravilhoso. Adorei. Ele estreitou-a em seus braços. — Achei mesmo que gostaria. Tenho tido a intenção de mudar as coisas. De torná-las mais... minhas. Ellie sentiu a apreensão deixando seu corpo. Sabia que era tolice que cortinas, mobília nova e algumas camadas de tinta pudessem fazê-la sentir-se melhor. Mas era o caso. A presença de Maria não estava mais ali. Ou ao menos não mais de maneira tão vívida, não uma lembrança tão imediata para comparação. — Sabe de uma coisa? — sussurrou-lhe Mason ao ouvido em seu irresistível tom sedutor. — Nunca fiz sexo com ninguém naquela cama. — É mesmo? — Ela fingiu surpresa. — Não, e acho que devemos fazer algo para remediar isso. Ellie soltou um suspiro de contentamento. — Sem dúvida. 73


Capítulo XI — Você gostou realmente de como ficou o quarto? — perguntou Mason em tom descontraído, enquanto se deitava de volta de encontro aos travesseiros e puxava o lençol para cobrir a ambos. Então, aninhou Ellie mais junto a si. Ela ajeitou-se naqueles braços fortes e respondeu com um meneio de cabeça, não demorando a adormecer. Embora a pergunta tivesse sido feita em tom corriqueiro, fora importante para ele que ela gostasse de seu quarto remodelado. Que se sentisse à vontade em sua casa. Mason não podia lhe dar muito, mas queria lhe propiciar ao menos aquilo. Queria fazê-la entender que era importante para ele. Mesmo que fosse apenas um romance passageiro, era alguém muito especial para ele. Mason afundou o rosto nos cachos loiros de Ellie, inalando a fragrância de lavanda. Ela o fazia sentir-se como se quisesse ser um homem melhor do que havia sido desde... desde antes de ele e Maria terem se separado. Antes de ter percebido que a maior parte de sua vida fora uma farsa. Ellie era tudo o que Maria não fora. As duas eram opostos extremos: Maria fora fria e indiferente; Ellie era calorosa e acessível. Era generosa e aberta; Maria nunca fizera nada que não se encaixasse em seus próprios interesses. Maria fora frívola. Sempre estivera impecavelmente vestida, com o refinamento de quem iria a um clube de campo, mesmo quando apenas estivera indo ao supermercado de Millbrook. Ellie se vestia de maneira confortável e graciosa. Lembrava-se de que antes julgara-lhe o estilo displicente. Agora, perguntava-se de onde tirara aquela ideia. As roupas dela eram, na verdade, despojadas, não peças de grifes famosas ou estilo severo. Ela não precisava de uma sofisticação artificial; parecia natural, real e bonita. Ele não conseguia pensar numa única semelhança entre as duas mulheres e, em todas as inevitáveis comparações, Ellie sempre saía vencendo. Então, por que se recusava em pensar em algo a longo prazo com Ellie? Afinal, a sua relutância em assumir um compromisso não se baseava em seu receio de poder acabar em mais um relacionamento fracassado? Por que ainda hesitava em se envolver emocionalmente? Sabia que, caso se permitisse, poderia se apaixonar por Ellie. Começava a pensar que já estava quase se apaixonando por ela, na verdade. Então, por que não podia lhe dizer que queria algo além de um caso passageiro? Ora, ambos já tinham algo além de um simples caso corriqueiro. Então, o que o impedia? Não era Maria. Então, o que era? Ele a estreitou mais junto a si, e, mesmo em seu sono, ela se ajeitou de encontro a seu corpo, moldando-se perfeitamente. Afagou-lhe o ventre firme, escorregando a mão mais para baixo até começar a acariciá-la com intimidade, seu toque leve, sutil. Ela soltou um suspiro, e entreabriu as pernas ligeiramente. Mason ergueu a cabeça para observá-la. Ainda estava adormecida, mas parecia dar-se conta de seu toque, mesmo em seu sono. Lenta e gentilmente, ele continuou a tocá-la, a explorar-lhe o centro da doce feminilidade. Ellie mexeu-se, então, e abriu os olhos. Sorriu-lhe, a expressão sonolenta, mas já evidenciando que seu desejo se reavivava. — Olá, anjo — sussurrou ele, beijando-lhe os lábios entreabertos. Ellie correspondeu ao beijo com ardor, virando-se de leve para afagar o rosto dele, para correr a mão por seus cabelos loiro-escuros. — Posso fazer amor com você outra vez? — sussurrou ele, ainda lhe ministrando a erótica


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) carícia, languidamente. — Oh, sim. Mason, então, fez amor com ela com toda a emoção que parecia não conseguir transmitir de nenhuma outra maneira. — Oh, Mason! — exclamou Ellie, enquanto paravam na estalagem onde passariam o fim de semana prolongado. A construção vitoriana com varandas amplas encimava os penhascos do oceano Atlântico, dando para uma praia rochosa. Ela desceu do carro para apreciar melhor a vista. A brisa marítima de outono era fria, mas não se importou, erguendo o rosto na direção do céu, respirando fundo. — Gostou? Ela virou-se para fitar Mason com um sorriso radiante. — É perfeito. E era. O clima todo. Mason, um fim de semana fora com ele, a estalagem. A situação toda era mais incrível do que poderia ter imaginado. Ele a conduziu ao interior da estalagem, e ela ficou encantada com o ambiente acolhedor. A decoração era, ao mesmo tempo, rústica e de sutil refinamento. Enquanto Mason se adiantava até o balcão da recepção logo adiante, Ellie se deteve no vestíbulo de entrada para observar uma série de fotografias de residentes daquela região do Maine do início do século vinte. De repente, ouviu uma voz melodiosa feminina seguida do riso de Mason e seguiu até a porta em arco do vestíbulo, onde pôde observar a recepção sem que a vissem. Detrás do balcão, uma ruiva alta sorria para Mason e não havia dúvida quanto ao interesse em sua expressão. Ellie permaneceu onde estava, observando-os, ouvindo a conversa. A ruiva lhe perguntava de onde ele era, e Mason parecia responder apenas distraidamente, enquanto ia preenchendo a ficha de hóspede. — Vai ficar aqui sozinho?—perguntou-lhe a bela ruiva, enfim. — Não, estou com minha namorada <— respondeu ele, assinando o livro de registro. — Oh, sim — disse-lhe a funcionária da estalagem, entregando-lhe, então, uma chave, e dandolhe instruções de como chegar ao quarto. Com o coração disparando no peito, Ellie ainda pôde ver que a ruiva pareceu bastante desapontada antes de voltar até as fotografias. — Ah, aí está você — disse Mason, aproximando-se. — Pensei que tivesse fugido. Ellie virou-se, fingindo ainda estar absorta nas fotografias emolduradas. Sem poder se conter, abraçou-o pelo pescoço, depositando-lhe um beijo nos lábios. — Pelo que foi isso? — perguntou ele, um sorriso satisfeito iluminando-lhe o rosto bonito. — Estou simplesmente tão feliz! Ele riu. — Ótimo. Eu também. — Abraçou-a antes de dizer: — Vou buscar nossas coisas no carro. Aqui está a chave, se quiser ir subindo até o quarto. É o de número vinte e quatro. Ainda sorrindo, ela o observou saindo e, então, deixou o vestíbulo, entrando na pequena área da recepção. — Posso ajudá-la? — perguntou a ruiva com um sorriso educado. — Não, obrigada. Já estou com a chave. Meu... namorado acabou de preencher nossa ficha. — Por mais absurdo que fosse, referir-se a Mason daquele modo a fez sentir-se eufórica. A ruiva franziu o cenho, confusa, e, então, uma expressão de entendimento a fez arregalar os olhos. 75


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Oh, sim. — Ela sorriu educadamente, mas Ellie pôde perceber que a mulher a avaliava. E que não a achava à altura. Um par improvável para um homem tão bonito quanto Mason. Parte da felicidade dela se dissipou, mas não tornou a olhar para a ruiva e subiu a escadaria para encontrar o quarto vinte e quatro. De repente, desejou que tivessem ficado em casa. Pensara que quisera ser vista ao lado de Mason, mas agora não tinha tanta certeza. Sentou-se na beirada da cama, sentindo-se derrotada. Mason não demorou a subir com as bolsas de viagem de ambos. Deixando-as sobre uma poltrona, pareceu notar de imediato a mudança de humor de Ellie, enquanto fazia comentários sobre a incrível vista e ela apenas murmurava, cabisbaixa, em resposta. — O que houve? Perdi alguma coisa? O que aconteceu com a mulher bastante feliz que deixei lá embaixo? — Qual mulher, eu, ou a ruiva? Mason franziu o cenho. — O quê? — Aquela ruiva estava flertando com você. — Eu decididamente perdi algo. — Ele sacudiu a cabeça, confuso. — Que ruiva? Ellie soltou um suspiro. — Esqueça. Não foi nada. — Não, o que, afinal, aconteceu? Fiz algo para aborrecer você? Ellie sentiu-se péssima. Mason não fizera nada para aborrecê-la. Na verdade, agira de maneira irrepreensível. Era ela que estava criando caso por nada. — Desculpe, acho que estou apenas um pouco cansada e sendo pouco razoável. Ele sentou-se ao lado dela na cama. — Alguém disse algo a você? Para aborrecê-la? Ela forçou um sorriso. — Não, eu... eu estou sendo tola. Observei a recepcionista conversando com você enquanto preenchia a ficha. Ela estava interessada em você. — Estava? Ela meneou a cabeça, constrangida por ser tão insegura. — Eu não notei. Estava ocupado demais me perguntando onde havia parado a loira sensacional que trouxe para passar o fim de semana comigo. Ela forçou outro sorriso é olhou para as mãos dobradas em seu colo. Mason segurou-lhe o queixo para que o fitasse. — Doçura, nem sequer notei aquela mulher porque estava pensando em você. Não entende que não estou interessado em mais ninguém? Quero estar com você. Por quanto tempo?, Ellie teve de se conter para não retrucar. Por que não podemos ser um casal de verdade? Mas ela apenas o fitou, tentando decifrá-lo. Não conseguia, era evidente. — Você realmente parece cansada — disse ele com gentileza, afastando-lhe uma mecha de cabelo da fronte. Ela se sentia cansada. E velha. Não era daquela maneira que o amor devia fazer com que se sentisse. Era como estar numa montanha-russa de emoções. — Talvez devesse tirar uma soneca. Parece um tanto pálida. — Não, acabamos de chegar. Eu queria... fazer alguma coisa. — Fazer alguma coisa, hein? — Ele lançou-lhe um olhar sugestivo, mas adquiriu um ar sério. — Poderemos fazer algo mais tarde. Por que não descansa simplesmente? Ela olhou para os travesseiros e o edredom convidativos. Sentia-se realmente cansada. 76


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Tem certeza? Mason afastou as cobertas e, depois que Ellie tirou os sapatos e se acomodou na cama, deitou-se ao lado dela, aninhando-a junto a seu peito. —Acho que vou ficar aqui deitado com você, se não se importar. Ellie meneou a cabeça. Apesar de sua fadiga, confusão e dúvidas, não havia nada que quisesse mais do que aquele homem a seu lado. Embora achasse que fosse demorar um pouco, ela mal fechou os olhos e adormeceu. Mason observou a noite caindo e continuou abraçando Ellie. Quando lançou um olhar ao relógio na mesinha-de-cabeceira, notou que eram quase nove horas. Ela estivera adormecida durante quase quatro horas. Quatro horas nas quais ele apenas ficara ao lado dela e refletira. Pensou na reação dela à mulher na recepção. Ele nem sequer a notara, mas obviamente o que quer que Ellie tenha achado que vira a abalara. Gostaria que ela entendesse e realmente acreditasse que era uma mulher bonita. Mas parecia não conseguir convencê-la daquilo. Evidentemente, se ele parasse com todo aquele clima de caso clandestino, poderia ser um começo. Era bastante difícil para ela acreditar que era uma mulher maravilhosa quando o homem que estava a seu lado não queria um relacionamento de verdade. Mas ele o queria e sabia que ela queria também. Na verdade, estava quase certo de que ela achava que havia se apaixonado por ele. Na verdade, sabia que Ellie o amava. Ela era transparente feito o mais puro cristal; não sabia esconder suas emoções. Seus grandes olhos azuis revelavam tudo, tudo o que se passava em sua mente... e em seu coração. E ele via amor ali. A ideia de que ela pudesse amá-lo era enaltecedora; era incrível. Ellie mexeu-se a seu lado, estreitando os olhos enquanto observava o quarto da estalagem. — Está escuro. Por quanto tempo eu dormi? — Umas quatro horas. Ela sentou-se na cama. — Oh, puxa, desculpe-me, não pretendi dormir tanto tempo. Mason também sentou-se, acendendo o abajur na mesinha-de-cabeceira. —- Você precisava. Além do mais, gosto de ficar simplesmente deitado a seu lado. Ela dirigiu-lhe um olhar duvidoso. — É verdade. O quê? Acha que eu só penso em sexo? — Não, acho que você consegue reservar uns dois ou três minutos para pensar em outras coisas — gracejou ela, rindo, divertida. Ele protestou com uma careta, mas também riu, enquanto uma onda de alívio o percorria. Ellie parecia bem melhor agora, as faces coradas, os olhos brilhando. — Está com fome? — Estou faminta, na verdade. — Bem, vamos encontrar um bom lugar para jantar. A área de Old Port estava movimentada. As antigas ruas com calçamento de pedra estavam apinhadas de pessoas, gente de todas as idades, determinada a se divertir numa noite de sexta-feira. Ellie e Mason seguiam pela rua Cotagge de mãos dadas à procura de um restaurante de aspecto interessante. — Que tal este? — Mason apontou para um restaurante na esquina, cuja fachada era pintada em tons de amarelo, laranja e vermelho e parecia bastante convidativo. Ellie espiou por uma das janelas. O interior era feito de madeira polida, tijolos envernizados e as mesmas cores alegres do lado de fora. A iluminação era suave com velas reluzindo nas mesas. Parecia um lugar convidativo, acolhedor. — Sim, este parece ótimo. Aromas variados e deliciosos os receberam tão logo entraram no restaurante. O lugar estava cheio, mas um garçom logo os sentou a uma mesa. 77


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Tão logo se sentaram, Ellie retirou seu longo casaco preto. Notou que Mason a observava. Abriulhe um sorriso. — O que foi? — Adorei esse vestido. Ela o adorava também. Era preto e curto, com discreto decote arredondado e um ligeiro babado na barra que ondulava quando se movia. Era um modelo leve, moderno, e a fazia parecer curvilínea em vez de rechonchuda. — E adoro quando você prende seus cabelos desse jeito. Ela quase riu. Ele já a elogiara antes quando a vira com os cabelos presos daquela maneira, algumas mechas soltas em torno do rosto. Ela achava aquele o meio mais fácil de domar os cachos rebeldes. Mas se ele gostava daquele ar de ligeiro desalinho, melhor ainda. — Obrigada. Você está ótimo também. Ele estava irresistível. O suéter de lã preto com decote em V destacava-lhe os ombros largos e o porte atlético. E o jeans caía-lhe com perfeição. O garçom aproximou-se, e Mason pediu cerveja, e Ellie, um suco. — Obrigado por ter vindo neste fim de semana — comentou ele quando tornaram a ficar a sós. — Eu não gostaria de estar em nenhum outro lugar. Ele estudou-a por um momento, dando-lhe a impressão de que estava com algo na ponta da língua. Mas apenas sorriu e, então, disse: — Este lugar me lembra você. — É mesmo? — A madeira e os tijolos são clássicos, mas as cores brilhantes deixam o lugar mais cheio de vida, mais interessante. E acolhedor e bastante especial. Ela estava cativada. Ele a via realmente daquela maneira? Ellie Stepp: clássica, cheia de vida, interessante, acolhedora e especial. Via-a como uma mulher tão complexa? Tão notável? Sentiu as faces afogueadas. — É um elogio maravilhoso. — O melhor que já recebera porque a descrição dele era exatamente o que queria ser. Apertou-lhe a mão forte por sobre a mesa num gesto de carinho. — Mason, é você? Ambos se viraram para ver um casal mais velho se aproximando da mesa. Mason levantou-se de imediato. — Sr. e Sra. Edwards. Como vão? O Sr. Edwards trocou um aperto de mão firme com ele. — Como vai, meu rapaz? Os dois conversaram por alguns momentos, a Sra. Edwards fazendo um breve comentário, até que o marido perguntou a Mason: — Como vai Jim? Ouvi dizer que ele ainda continua ocupado com hotéis e coisas assim. — Meu pai não demonstra sinais de parar. — E quem é esta jovem? — perguntou a Sra. Edwards, sorrindo para Ellie. — Esta é Ellie Stepp, minha namorada. Ellie não esperara que Mason a apresentasse daquela maneira... e a um casal de amigos de seus pais, não menos. Ambas apertaram-se as mãos. — Você também é de Millbrook? — Sim. 78


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Nós moramos lá... deixe-me ver, há cerca de uns dez anos. Depois que também a cumprimentou, o Sr. Edwards tornou a virar-se para Mason. — E então, meu rapaz, quando irei vê-lo candidatando-se a governador? Esperei isso anos atrás, para ser franco. Mason forçou um sorriso. — Bem, eu me sinto bastante contente onde estou. — Ora, tenho certeza de que Jim está desapontado. Se bem me lembro, ele previa que você já estaria no Senado quando tivesse trinta e poucos anos. O sorriso forçado de Mason tornou-se algo semelhante a uma careta. — Bem, tenho certeza de que meu pai tem se desapontado comigo em muitos aspectos da minha vida. O Sr. Edwards pareceu dar-se conta de repente de que ultrapassara os limites. A esposa pareceu pouco à vontade. O casal se despediu, então, não demorando a deixar o restaurante. O clima alegre se fora. Mason tornou a sentar-se, parecendo taciturno, os olhos frios feito granito. Ficou silencioso por alguns momentos e, então, piscou algumas vezes, como se estivesse voltando de um lugar bem distante em sua mente. — Desculpe. Aquilo foi... — Desagradável — completou Ellie e, de imediato, arrependeu-se. Não era justo. Mal conhecera o homem, mas não gostara das coisas que ele dissera a Mason. Ele não merecia ser tratado como se não fosse um êxito. Aos trinta e um anos, era prefeito. Um excelente prefeito. Pareceu surpreso com a resposta, mas, então, um sorriso curvou-lhe os lábios e parte da frieza deixou seus olhos. — Sim. Foi desagradável. O garçom retornou com as bebidas, e ele tomou metade da cerveja. — Vamos simplesmente esquecer que isto aconteceu — declarou e, então, esvaziou o copo. Ellie observou-o; preocupada. Mas abriu o menu, perguntando com ar animado: — Está com fome? Fizeram suas escolhas, embora estivesse claro que haviam perdido o apetite. De qualquer modo, o jantar acabou transcorrendo melhor do que ela esperara. Mason bebeu quatro cervejas em rápida seqüência, mas, uma vez que começou a comer, diminuiu a bebida. Supunha que ele tinha o direito de estar aborrecido. O que o Sr. Edwards dissera fora imperdoável e rude, e ela teve a nítida impressão de que o comentário tocara algum ponto fraco de Mason. Ele não mencionava os pais com frequência. Ela sabia que eles moravam numa mansão em Whitford Road, num bairro afastado e exclusivo onde todos os residentes ricos de Millbrook viviam. Sabia que o pai de Mason possuía vários hotéis ao longo da costa do Maine. Mas, exceto por aquilo, não sabia muito a respeito deles. — Bem — disse Mason, enfim, servindo-se de mais um dos deliciosos camarões recheados. — Aposto que você está se perguntando como são meus pais se têm amigos tão "agradáveis". — Não — respondeu ela depressa demais, desconcertada com o fato de ele ter adivinhado seus pensamentos. — Minha mãe é uma pessoa maravilhosa. Somos bastante unidos. Sua única queixa é de que não a visito o suficiente — admitiu ele com um sorriso. — Mas meu pai, bem, ele é como o Sr. Edwards. Autoritário, intransigente, controlador. Nós nos entendemos razoavelmente bem, mas ele não faz segredo de que eu tenho lhe sido um grande desapontamento até então. — Não posso acreditar nisso. Você obteve notas excelentes na escola. Era o melhor jogador do time de futebol. Foi estudar em Yale. É o prefeito de Millbrook. Como é possível que ele não sinta orgulho de você? 79


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) O sorriso de Mason tornou-se sardônico. — Bem, não me preocupei em atrair olheiros para observarem como eu jogava futebol na escola. Não fui para Harvard. Não me candidatei a governador. E não sou um senador. — Apanhou sua cerveja. Ellie estava atônita. Não podia imaginar um pai não tendo orgulho de um filho como Mason. Millbrook sempre o considerara seu "garoto de ouro". Além de excelente estudante, todos haviam adorado vê-lo jogar. Astro do time, só não se tornara jogador profissional porque evidentemente tivera outras inclinações. E quando decidira concorrer à prefeitura, vencera por quase unanimidade. As pessoas da pequena cidade litorânea tinham visto o fato como seu garoto de ouro regressando para casa para fazer o bem. Em seus cinco anos de mandato, ele levara vários benefícios e melhorias para Millbrook, dedicando-se a todas as áreas, inclusive à educação e à assistência social, demonstrando quanto se importava com sua cidade natal. — Mas seu pai não vê todo o bem que você tem feito a Millbrook? Você tem feito uma tremenda diferença na vida de todos. — Ellie sacudiu a cabeça, inconformada. Como o pai dele podia não enxergar aquilo? — Meu pai mede o sucesso pelo quanto de poder uma pessoa tem. E por quantas pessoas sabem seu nome. — Todos em Millbrook sabem seu nome. Ele sorriu, o cinismo ainda presente, mas em menor grau. — Sim, mas, na visão dele, todo o Estado do Maine poderia saber. E, melhor ainda, toda a Washington, DC, poderia. Mason estudou as faces coradas de Ellie, os olhos azuis faiscantes e o ar de quem não hesitaria em dizer umas boas verdades ao pai dele se o visse pela frente naquele instante. A sua Ellie estava sempre pronta a defendê-lo. Era uma sensação boa contar com seu apoio. Mas era melhor ainda vê-la divertindo-se e portanto, ele foi mudando sutilmente de assunto, falando sobre as atrações de Portland, até que, de repente, ela sorria com entusiasmo novamente e a tensão se dissipara. — Bem, aonde você gostaria de ir depois que sairmos daqui? — perguntou ele. —Acho que eu gostaria de voltar para a estalagem - respondeu ela com um brilho maroto no olhar. — Tem certeza? Este é o seu fim de semana. — Bem, se é o meu fim de semana, eu decididamente quero voltar à estalagem. Céus, ele adorava aquela mulher. Quando voltaram à suite da estalagem, Ellie desapareceu no banheiro. Abriu a porta um minuto depois, e Mason observou-a, boquiaberto. — Sabe, eu acho seus pijamas de flanela sedutores, mas devo admitir que você está de tirar o fôlego. Ellie abriu um sorriso, as faces afogueadas, parecendo ainda incerta, enquanto ele a devorara com os olhos. — T-Tem certeza? É que eu decidi trazer lingerie nova para o fim de semana e... — E eu mal posso esperar para tirá-la de você. — Mason contemplou-a de alto a baixo, os olhos repletos de desejo enquanto lhe observava o corpo curvilíneo realçado por uma minúscula camisola de renda que mais revelava do que escondia. Ellie sorriu, o olhar ardente dele deixando-a confiante. Ainda na soleira, olhou para o interior do banheiro de repente e tornou a fitá-lo. 80


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Talvez você tenha de tirá-la logo mesmo, porque eu estava me perguntando... — As faces dela coraram novamente. — Você já fez sexo no chuveiro? Mason já fizera sexo no chuveiro várias vezes, mas preferiu omitir o fato para não correr o risco de levá-la a mudar de ideia. — Não, nunca. Ela sorriu, as covinhas se acentuando. — Ótimo. — Estendeu-lhe a mão, e ele entrou rapidamente no banheiro. Bem mais tarde, deitaram-se na cama, impecavelmente limpos e muito, muito satisfeitos. Aninharam-se um nos braços do outro, Ellie afagando o peito dele languidamente. —Tem certeza de que nunca havia feito sexo no chuveiro antes? — perguntou-lhe de repente. — Não com você. — Achei mesmo que havia tentado me despistar. — Ela não soou magoada, seu tom, ao contrário, bastante descontraído. — Mas uma coisa eu lhe asseguro — disse Mason com toda a sinceridade. — Eu nunca, nunca havia gostado tanto antes. — Nem mesmo com Maria? Pego de surpreso, Mason ficou tenso. Ellie nunca lhe perguntara algo específico sobre a ex-esposa. Não sobre seus sentimentos por Maria, ao menos. — Na verdade, eu nunca fiz sexo com Maria no chuveiro. Nem em qualquer outro lugar que não fosse uma cama, para ser mais exato. — É mesmo? — Ellie pareceu atônita. Evidentemente, levando em conta a variedade de lugares em que ambos tinham feito amor, aquilo devia lhe parecer um tanto estranho. — Maria não gostava de coisas... incomuns. — Coisas incomuns? É incomum fazer amor no chuveiro? — Não, mas Maria teria achado que sim. Ela era o tipo de mulher adepta da posição papai-emamãe e numa cama. Era bastante conservadora, controlada. — Eu não teria imaginado. — Por quê? — Não consigo imaginar você com alguém assim. — Bem, nós nos divorciamos. — Vocês se divorciaram porque eram diferentes demais? A primeira reação de Mason foi a de querer direcionar a conversa para um assunto menos pessoal. Fora o que sempre fizera. Mas percebeu que queria contar a Ellie sobre seu casamento. Queria fazê-la entender. — Conheci Maria em Yale. No meu primeiro ano. Mas só começamos a namorar em nosso segundo ano. Admito que fiquei bastante encantado com ela. Era diferente das garotas que eu havia conhecido em Millbrook. Era refinada, culta. Tinha uma motivação e um ar decidido que achei atraentes. E havia algo em seu jeito de ser que simplesmente fazia uma pessoa querer agradá-la. Eu não era diferente. Ellie parou de afagar-lhe o peito. — Então, você se apaixonou imediatamente. — Não. Isto é, acho que pensei que estava apaixonado. E difícil para mim dizer agora. Mas acho que Maria jamais se apaixonou por mim. Apenas achou que formávamos um ótimo par. Ellie sentou-se na cama, franzindo o cenho. 81


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Como ela podia achar que formavam um ótimo par se não amava você? Mason sorriu, surpreso com a simplicidade com que Ellie via o mundo. Realmente acreditava que "o amor era tudo o que importava". — Eu estava estudando advocacia. Estava pensando numa carreira política. Era de uma família rica e influente. Maria gostou dessas coisas. Mas, mais importante, nossas famílias gostaram da união. Ela continuou parecendo confusa. — Eu estava a caminho de me tornar um advogado bem-sucedido. Meu pai... e o pai de Maria, a propósito, estavam decididamente me empurrando na direção da política. — Mas o que Maria queria? Mason soltou um grunhido desdenhoso. — Ser a próxima Jackie Kennedy. — Ela não queria ter uma carreira própria? — Maria achava que ser a esposa de um político era uma carreira perfeita. Gerenciamento de comitês, organização de entidades beneficentes. — Mas eu não me lembro de ela ter feito nada disso em Millbrook. Ele soltou um riso desprovido de humor. — Com Maria não era uma questão de se engajar realmente e ajudar a comunidade. Era uma questão de receber reconhecimento, adulação. Quem de importância iria ver as boas ações dela em Millbrook? Ellie parecia pasma. — Maria, assim como meu pai, esperava que eu já estivesse em Washington, DC, com trinta e poucos anos. Você pode imaginar o desespero dela quando eu finalmente concordei em entrar na política e descobri que realmente gostava de administrar cidades pequenas. — Assim, Maria simplesmente deixou você? — Sim. Ouvi dizer que ela já está noiva de um senador de Nova York. Assim, para responder, sua pergunta inicial, nós realmente nos divorciamos porque éramos diferentes demais. Éramos incompatíveis e estávamos vivendo uma farsa. Ellie sacudiu a cabeça, perplexa, e então abraçou-o. — Alguma parte de seu casamento foi feliz? Mason refletiu a respeito. — Talvez. É engraçado, mas agora tudo se parece um pouco com um sonho bizarro. Passamos anos demais não realmente vendo um ao outro, mas vendo o que queríamos que o outro fosse. Eu não sei. Ela o fitou nos olhos. — Não posso me imaginar querendo nada mais do que isto. Poder simplesmente estar aqui deitada ao seu lado. Mason sentiu um aperto no peito e soube que tinha de lhe dizer que queria mais dela do que um caso passageiro. Mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Em vez de falar, puxou-a mais para si e beijou-a nos lábios longamente. Quando o beijo terminou, Ellie aninhou a cabeça no peito dele. Após alguns momentos de silêncio, comentou num tom corriqueiro: — Maria morreria se soubesse que fizemos amor em cima da mobília de antiquário dela. Mason riu, divertido, e abraçou-a com força.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Capítulo XII Na manhã seguinte, Ellie despertou várias vezes, mas, em todas, acabou virando-se para o outro lado e adormecendo. Quando, enfim, conseguiu reunir forças para vencer o estranho cansaço que a dominava, ficou atônita em ver que já passava do meio-dia. Como fora dormir até tão tarde? Mason não estava na cama. Ficando atenta, ouviu-o no banheiro. Água corria, e ele cantarolava baixinho. Ela recostou-se de volta nos travesseiros, sentindo-se contente. Suas pálpebras começavam a pesar novamente quando Mason meteu a cabeça pelo vão da porta do banheiro anexo. — Ei, dorminhoca, está acordada? Ela piscou algumas vezes e meneou a cabeça. Ele abriu-lhe um largo sorriso, as faces cobertas com creme de barbear. — Venha até aqui e me faça companhia. Ela desceu da cama, sonolenta, e adiantou-se devagar até o banheiro, desabando sobre a tampa fechada da privada. Mason voltou ao espelho e começou a se barbear. Ela o observou, fascinada com a incrível masculinidade dele. — E então, quais são os planos para hoje? — Estou disposta a qualquer coisa. , Mason encontrou-lhe o olhar através do espelho. — Tem certeza? Parece um tanto pálida outra vez. Está se sentindo bem? — Sim. — Era verdade. Agora que ela se levantara, a exaustão parecia estar se desvanecendo, e sentia... — Na verdade, estou faminta. — Gostaria de comer aqui mesmo para depois irmos passar a tarde no museu? — Será perfeito. — Bem, Ellie — disse Mason, consultando o mapa do museu —, você quer andar pelas salas primeiro, ou ir direto até a nova exposição? — Vamos caminhar. Não venho aqui há anos. Ele meneou a cabeça, mais do que disposto a adotar um passo lento e admirar as obras de arte. Percorreram os corredores com vagar, conversando num tom manso sobre os quadros e esculturas, parando ocasionalmente para admirar melhor uma obra. Mason adorou observar as expressões de Ellie enquanto olhava para os diferentes trabalhos de renomados mestres e ocorreu-lhe que era tão bonita quanto as obras de arte. Mais uma vez, descobriu-se querendo perguntar-lhe se ela gostaria de ter um relacionamento de verdade com ele... e ainda tentando reunir coragem. O tempo pareceu voar e, quando se deram conta, já admiravam a nova exposição de mestres americanos que ela ansiara por ver. Trocavam um sorriso depois de um comentário sobre um quadro de uma paisagem do litoral rochoso local quando uma voz os interrompeu: — Mason? Ele se virou abruptamente ao som da voz familiar. Natalie se aproximava de ambos, um sorriso surpreso no rosto. — Mason, é você mesmo. — Deu-lhe um rápido abraço. — Natalie — disse ele, tenso, um súbito nó no estômago. — Como vai? O que faz aqui? — Estou aqui com os meus pais. — Ela lançou um olhar por sobre o ombro dele até Ellie. — Quem é sua amiga? — Oh. — Mason- virou-se de volta para Ellie, que observava Natalie com olhos preocupados. — Esta é Ellie Stepp. 83


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Olá. — Ellie hesitou antes de estender a mão para a morena. — Olá, prazer em... — Natalie interrompeu-se, um ar de reconhecimento passando por seu rosto. — Espere, você é a mulher que estava no Toca do Urso naquela noite. Mason, você me disse que não a conhecia. Ellie virou-se para Mason de imediato, e ele viu a dor estampada naqueles olhos azuis. — Com licença — disse ela numa voz trêmula. Girando nos calcanhares, seguiu na direção do corredor mais próximo em busca da saída. Natalie lançou um olhar surpreso a Mason. — Eu não pretendi ofendê-la. — Não foi você. Fui eu — assegurou ele depressa. — Ouça, tenho de ir. — Seguiu na direção em que Ellie desaparecera antes de sequer ver a reação de Natalie. Não estava preocupado com ela, mas decididamente com Ellie. Percorrendo os corredores depressa, só conseguiu encontrá-la na saída do museu. A rua estava movimentada e levou alguns momentos para localizá-la, sentada num banco de praça. Parecia pálida e chocada. — Ellie — disse ele num tom manso. — Não é como você está pensando. Ela continuou com o olhar fixo no vazio, como se não o tivesse ouvido. — Eu não sei por que eu disse... Ellie levantou-se. — Só quero ir para casa. — Mas Ellie... Ela ergueu a mão, observando-o com olhos magoados, ressentidos. — Não quero falar a respeito. Não no momento. Por favor. Mason meneou a cabeça, percebendo que precisava lhe dar tempo para ordenar os pensamentos, para, depois, ela lhe dar a chance de explicar... O quê? A verdade? Ele nem sequer entendia por que negara que a conhecia. Mas tinha de fazê-la entender que a estúpida omissão jamais fora destinada a magoá-la. Ellie só se deu conta de que haviam retornado à estalagem quando Mason lhe abriu a porta do carro. A mente estivera tomada demais por pensamentos terríveis, desoladores. Mason dissera a Natalie, a bela morena com quem estivera no bar naquela noite, que não a conhecia. Por quê? Todas as respostas obvias eram dolorosas demais. Humilhantes. Recusando-se a olhar para Mason, rumou direto para o quarto, dizendo a si mesma que não choraria. Com mais forças do que sabia possuir, ignorou-o por completo e colocou sua valise sobre a cama, começando a recolher suas coisas. Mason sentou-se na beirada da cama. — Ellie, temos que conversar sobre isto. — Acho que apenas devemos ir para casa. Ele pegou-lhe as mãos trêmulas e fez com que se sentasse a seu lado. — Por favor, diga-me o que você está pensando. Por que ela tinha de lhe dizer aquilo? Por que tinha de revelar todas as suas incertezas, os seus piores temores? — Por que não me diz o que você estava pensando? — indagou com olhar faiscante. Ele hesitou. A breve pausa foi o bastante para fazer a raiva dela crescer. Libertou as mãos abruptamente. — Você só estava mantendo suas opções em aberto, certo? Acho que sabia que Natalie teria tido auto-estima o suficiente para não dormir com você se achasse que poderia estar interessado em outra 84


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) mulher. Ao contrário de mim — retrucou, furiosa consigo mesma por ser tão... tão patética. — Não estou interessado em ninguém exceto você. — Havia um ar de súplica nos olhos dele. — Tem de acreditar nisso. Ellie cruzou os braços sobre o peito, sentindo a necessidade de se proteger da sinceridade que via no rosto dele. Não queria sucumbir. Não outra vez. — Apenas me diga a verdade. Uma verdade. — Levantou-se da cama e atravessou o quarto, precisando colocar espaço entre ambos. — Você não quer que as pessoas de Millbrook saibam sobre nós porque tem vergonha de mim, não é?—perguntou numa voz embargada. — O quê? — Mason pareceu estupefato e, então, ultrajado. — Não! Ela lançou-lhe um olhar incrédulo. — Ora, vamos. Simplesmente admita. — Não! — insistiu ele. — Por que eu teria vergonha de você? — Porque estou acima do peso. Porque sou desajeitada. Porque sou entediante. — Como pode pensar uma coisa dessas? — Ele parecia genuinamente aturdido. — Tem que saber que eu a acho bonita. Ora, eu quase enlouqueço a cada vez que estou perto de você. Quero você mais do que a qualquer mulher que já conheci. — Há uma diferença entre me achar atraente, a sós num quarto, e admitir isso para outras pessoas. — É realmente o que acha? Ela baixou o olhar e meneou a cabeça. — Oh, Ellie. — Mason soou tão arrasado quanto ela se sentia. — Eu jamais, jamais pretendi que você se sentisse dessa maneira. — Aproximou-se, tocando-a com gentileza na face. — Doçura, eu não queria que as pessoas soubessem sobre nós porque eu estava lhe oferecendo um caso e não queria que sua reputação fosse arruinada. Ela piscou, irritada com as lágrimas que começavam a lhe anuviar a visão. — A reputação é minha. Acho que eu é que devo decidir como lidar com ela. — Você está certa. Mas tem que acreditar em mim... é a mulher mais bonita, desejável e incrível do mundo. E decididamente não foi por vergonha de tipo algum que não contei a Natalie que conhecia você. Nem foi para manter minhas opções em aberto. Desde a primeira vez que beijei você, minhas opções ficaram limitadas a uma única pessoa. — Mason inclinou-se para a frente e beijou-a de leve nos lábios. — Perdoe-me, por favor. Ellie aceitou o beijo gentil, mas, em vez de se sentir confortada, sentiu-se como se fosse desmoronar. Tudo estava se tornando intenso demais para suportar. Doloroso demais. — Eu... não estou me sentindo bem. Por favor, preciso apenas descansar. Mason pareceu prestes a argumentar, mas, então, meneou a cabeça. Tirou os pertences que ela já colocara na valise e devolveu-os à primeira gaveta da cômoda, tornando a pousar a valise vazia ao lado da sua no chão. Ellie tirou o casaco e os sapatos e deitou-se na cama, sentindo-se totalmente esgotada. O sol começava a se pôr. Fechou os olhos, esperando que, depois que descansasse, talvez o turbilhão de emoções se abrandasse e seus pensamentos ficassem mais claros. Sentado numa cadeira a um canto, Mason observava Ellie dormindo e perguntava-se, o que, afinal estava fazendo com aquele relacionamento. Sabia que fora egoísta quando iniciara o caso com Ellie, mas realmente não soubera sobre a pressão que tudo aquilo andara exercendo sobre ela. Não até agora. Percebera logo que Ellie se sentia insegura quanto à própria aparência, talvez porque não tivesse conseguido superar algum trauma de garota, época em que, de fato, tinham zombado cruelmente dela por seus quilos a mais. Ela se transformara numa linda mulher e a visão equivocada de si mesma não 85


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) lhe permitia ver aquilo. E, com ou sem quilos a mais, ela teria sido interessante de qualquer maneira. Ele a queria de qualquer jeito. Por mais que tivesse lhe dito quanto era bonita e desejável, ela parecia não acreditar. Mas ele nunca imaginara que Ellie iria achar que seu motivo para querer manter o relacionamento de ambos em segredo fosse por ter vergonha dela. E continuava com a nítida impressão de que ela ainda acreditava naquilo. Sua Ellie, que era tão generosa, tão doce, tão bonita por fora e por dentro. Como poderia ter vergonha dela? Soltou um profundo suspiro. Queria deitar-se na cama e abraçá-la, mas sabia que ela não o queria por perto no momento. Talvez Ellie acabasse concluindo que não o queria mais e ponto final. Podia culpá-la? Olhou para o relógio na mesinha-de-cabeceira. Eram quase seis horas. O bar da estalagem tinha de estar aberto. Um ruído acordou Ellie. Ela piscou na escuridão, identificando um vulto parado ao pé da cama. — Mason? — Sim, sou eu. — A voz dele soou peculiar, pastosa. Ellie sentou-se na cama. — Você está bem? — Lançou um olhar para o relógio na mesinha-de-cabeceira. Passava da uma da manhã. — Não. — Ele começou a se aproximar, mas estava cambaleante. — Está doente? — Não. Bem, talvez. — Mason contornou a lateral da cama, apoiando as mãos no colchão para manter o equilíbrio e desabou ao lado de Ellie. Virou-se para observá-la, tocando-lhe o rosto com gentileza. — Ah, doçura, como vou convencê-la do quanto você é bonita? Do quanto significa para mim? Ela aceitou a carícia, pressionando o rosto de encontro à palma dele. Mason afagou-lhe os cachos loiros e, então, segurou-a gentilmente pela nuca, guiando-lhe os lábios até os seus. Ela pôde sentir um gosto forte, característico, nos lábios dele, um gosto que já sentira antes, mas, até agora, não havia conseguido identificar. Nunca se dera conta de que era de bebida. Começou a se afastar, mas ele segurou-a. — Preciso de você. Oh, doçura, como preciso de você. Tornou a beijá-la e, daquela vez, Ellie correspondeu, tentando demonstrar-lhe que estava ali para lhe dar seu apoio. Que precisava dele também. Mason interrompeu o beijo e deitou a cabeça de volta no travesseiro, observando-a com os olhos semicerrados. Tocou-lhe o rosto outra vez. — Você me perdoa? — É claro que sim — respondeu ela de imediato, mas achou que ele não ouviu. A mão deixou seu rosto, caindo pesadamente sobre o colchão, enquanto Mason mergulhava num sono profundo. Ela observou-o no escuro do quarto. Ainda estava magoada e confusa com o relacionamento de ambos, mas começava a entender que coisas no passado dele haviam-no ferido também, deixado suas marcas. Sob o fraco luar, estudou-lhe o rosto adormecido, o corpo imóvel. Também começava a entender que a preocupação de Charlie Grace em relação a Mason talvez fosse justificada. A viagem de Portland de volta a Millbrook foi silenciosa e feita num clima de certo constrangimento. Ellie não falou quase nada, passando a maior parte do tempo olhando pela janela ou cochilando, o que foi bom. Mason estava com uma forte dor de cabeça e não muito disposto a conversar, de qualquer modo. Já era difícil o bastante concentrar-se apenas na estrada no momento. Mas pretendia 86


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) conversar com ela sobre a situação de ambos, uma vez que não estivesse se sentindo péssimo daquele jeito. Evidentemente, seria mais fácil conversar com ela se conseguisse se lembrar de tudo o que acontecera. Tudo o que se lembrava era de ter rumado para o bar e ficado sentado lá, tomando algumas doses de uísque e água mineral, mas não tinha ideia de como chegara de volta até o quarto. Ellie não lhe perguntara sobre onde ele estivera na noite anterior, mas supunha que ela sabia. Estava aliviado com o fato de ela não ter criado alarde a respeito naquela manhã. Em sua vida pessoal, não estava acostumado a ter de dar explicações a ninguém. Ela nem sequer parecera aborrecida quando lhe perguntara se se importaria em abreviar a viagem. Na verdade, parecera um tanto aliviada. O clima descontraído e feliz da viagem se fora, e ele achava que ambos precisavam refletir um pouco sobre sua situação. Não que quisesse que o relacionamento terminasse, mas tinha de considerar o que, em termos realistas, podia dar a Ellie. E se o que podia lhe dar seria, de fato, o bastante. Mas decidiria aquilo uma vez que sua cabeça tivesse parado de latejar. — Quer que eu entre? — perguntou Ellie, enquanto entravam na ampla garagem dele e estacionavam ao lado do carro dela. — Acho que, na verdade, estou precisando dormir um pouco. Ela meneou a cabeça, o sorriso bondoso, mas os olhos cheios de incerteza. Era um cretino egoísta, Mason disse a si mesmo, mas ainda não a convidou para entrar. Covarde. O sorriso dela, embora forçado, alargou-se ligeiramente. — Também estou precisando descansar um pouco. Ela parecia, de fato, cansada. Sem dúvida, era o estresse de ter lidado com a situação de ambos. Ele ajudou-a a colocar a valise no porta-malas. Quando ela estava prestes a entrar no próprio carro, estreitou-a em seus braços, beijando-a com toda a emoção que parecia não conseguir identificar. Ellie correspondeu com a mesma intensidade, tocando-lhe o rosto, afagando-lhe os cabelos. Ele decidiu ver tal reação como um bom sinal, um sinal de que poderia consertar as coisas. — Ligarei mais tarde para saber como você está se sentindo — prometeu. Ela meneou a cabeça, mas havia tristeza em seus olhos. Se era porque duvidava, ou porque não queria que ele ligasse, Mason não soube dizer. O telefone tocou, enquanto Ellie cochilava no sofá. Quando, enfim, chegou até o aparelho, quem quer que estivera do outro lado da linha já desligara. Passava das nove da noite. Devia ter adormecido enquanto tentara ler. Levando em conta que não conseguira controlar o turbilhão de pensamentos nem sequer para ler uma única página, admirava-se por ter adormecido. Devia estar com algum vírus incubado de gripe, ou algo assim. Jamais se sentira tão cansada. Um banho pareceu uma ideia maravilhosa. Talvez a deixasse mais disposta e lhe desanuviasse um pouco a mente. Esperara que algum distanciamento de Mason a ajudasse a ordenar os pensamentos, mas não fora o caso. Coisas demais haviam acontecido naquele fim de semana, e ela parecia não conseguir decifrar seus sentimentos e pensamentos a respeito de nada. Não, não era exatamente verdade. Quando achava que havia decifrado tudo em sua mente, outra e mais outra pergunta surgia e seus sentimentos tornavam a ficar confusos, conflitantes. Apenas duas coisas tinham se mantido constantemente claras durante todas as suas reflexões. Mason, o homem que sempre considerara perfeito, tinha problemas. E ela o amava... perfeito ou problemático. Enquanto a água quente do chuveiro escorria por seu corpo, lembrou-se do banho que tomara com ele na estalagem. Poucas semanas antes jamais teria se imaginado sentindo-se à vontade ao fazer uma 87


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) coisa daquelas. Sua confiança recém-descoberta devia-se a Mason. Ele a fazia sentir-se bonita e com sua auto-estima em alta. O incidente com Natalie abalara-a, fizera-a sentir-se como a antiga e insegura Ellie. Mas dava-se conta de que não se sentia mais aborrecida com o ocorrido agora. Talvez fosse terrivelmente ingênua, mas acreditava em Mason. Parecera tão consternado com a situação toda quanto ela própria. Na verdade, parecera chocado quando o acusara de não querer que as pessoas soubessem sobre o relacionamento de ambos por vergonha. Ele até se referira a ela como sua namorada... duas vezes. Claro, fora para uma recepcionista que provavelmente jamais tornaria a ver e para velhos amigos dos pais dele que não os viam havia anos. Mas, ainda assim, era um começo, e queria acreditar nele. Além do mais, Mason lhe contara sobre os pais e seu casamento. Eram assuntos pessoais. Questões delicadas sobre as coisas era óbvio que não falava facilmente com ninguém. Ainda assim, contara-as a ela. O que significava que lhe depositava sua confiança. Vestindo o roupão, lembrou-se dos elogios dele no restaurante. De que era interessante, clássica, cheia de vida... especial. Não precisara lhe dizer nada daquilo. Céus, o homem já a tinha em suas mãos sem precisar fazer elogio algum. Ela parou diante do grande espelho de seu quarto e observou seu reflexo. Observou os cachos sedosos e loiros, o rosto oval de traços clássicos, a pele bem-cuidada. Tinha um sorriso bonito, admitiu, e as covinhas lhe davam um charme especial. E os olhos eram, sem dúvida, seu ponto forte. Grandes, bastante azuis e expressivos. Após um momento de hesitação, deixou o roupão deslizar até o chão e observou seu corpo no espelho. Embora ainda não tivesse a estatura que sempre desejara, algo que, aliás, não lhe importava mais, notou, talvez, pela primeira vez, que era bastante proporcional.para seu tipo físico. Não era mais a adolescente de quem tanto tinham zombado. Elliefante... Estremeceu diante da lembrança cruel. Sim, apesar da tendência para adquirir quilos extras, parecia que seu empenho em manter uma dieta saudável e balanceada tinha valido a pena. Observou seus ombros e colo de pele acetinada, os seios fartos que certamente agora via como um ponto forte. Mason os adorava, não havia dúvida, pensou, as faces afogueadas. Seu abdome era firme; podia não ter uma "cintura de vespa", mas era fina o bastante. Tinha quadris arredondados e femininos, as pernas bem torneadas. Era aquela mulher no espelho e, embora não fosse nenhuma supermodelo, era bonita. Aquelas eram apenas características físicas, sabia, mas sempre se sentira mais insegura quanto a sua aparência do que em relação a qualquer outra coisa. Sabia que era uma boa pessoa, íntegra, sincera. Concordava que podia ter sido um tanto retraída, monótona, mas não se sentia mais daquela maneira agora. Desde que Mason entrara em sua vida, sentia-se cheia de vida, interessante e até um tanto ousada. Podia ver a pessoa que Mason descrevera, e era algo ainda mais maravilhoso porque o homem que amava a vira verdadeiramente até mesmo antes dela. Lembrando-se de quando ele lhe dera tanto prazer diante daquele mesmo espelho, fechou os olhos, uma onda de desejo percorrendo-a. Queria estar com Mason e pronto. Era simplesmente uma romântica incorrigível, atendo-se apenas às coisas boas entre ambos? Provavelmente. Mas era quem ela era também, uma mulher romântica... e perdidamente apaixonada. Soltando um suspiro, tornou a vestir o roupão e sentou-se diante da penteadeira, apanhando distraidamente a escova de cabelos. Tinha de acreditar que a maneira como Mason se abrira e a veemência com que a enaltecia deviam significar que era importante para ele. Mais importante do que um flerte passageiro. Mas também sabia que não melhoraria em nada as coisas se o pressionasse. Tinha de aceitar o que Mason pudesse lhe oferecer. Aquilo fora verdade desde o início, e deu-se conta de que nada mudara.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) As pessoas de seu passado o haviam magoado, tinham-no feito sentir-se como se fosse um fracassado. Mason tinha cicatrizes que o tornavam cauteloso e resguardado. Naquele domingo, ele não quisera sua companhia. Mas aquilo tivera mais a ver com o fato de ter bebido muito na noite anterior do que com ela. Era o que Ellie esperava. E esperava que ele a deixasse ajudá-lo. Mason precisava realmente de ajuda. Estava surpresa com a calma com que lidava com tudo aquilo. A velha Ellie teria estado com os nervos em frangalhos, mas havia uma coisa que lhe permitia manter a compostura. Mason lhe dissera que precisava dela. Acreditava naquilo. De fato, o repouso e o longo banho deviam ter desanuviado sua mente. Tudo parecia tão óbvio agora. Planejava estar com Mason. O homem podia não estar apaixonado por ela, mas precisava dela. Mason tentou ligar para Ellie de seu celular enquanto dirigia. Mais uma vez, o telefone dela tocou sete vezes sem que ninguém atendesse e ele desligou. Dissera a si mesmo que não iria até ela. Concluíra que Ellie precisava de tempo e privacidade para refletir, assim como ele mesmo. Se bem que não fizera nada durante o restante do domingo exceto desejar estar com ela. Mas também lhe dissera que lhe telefonaria. Daquele modo, como Ellie não atendera depois de sua segunda tentativa, decidira que seria melhor ir até a casa dela e certificar-se de que estava bem. De que não o estava evitando. Não, ela não terminaria as coisas entre ambos, assegurou a si mesmo pelo que lhe pareceu a centésima vez. Sabia que vira amor naqueles expressivos olhos azuis. Em várias ocasiões. Mas também vira desconfiança e desilusão depois que haviam deparado com Natalie. Presumia que o fato de se ter embriagado não melhorara a confiança de Ellie nele. Mas estivera aborrecido por tê-la magoado e precisara relaxar e pensar. Jamais pretendera magoá-la. Era a última pessoa que iria querer magoar. Mas você já a está magoando. Não lhe oferecendo um relacionamento de verdade, você a está arrasando. Mason parou seu carro atrás do dela no coberto lateral da casa e desligou o motor. Contara-lhe sobre Maria. Com certeza, ela entendera que ele queria distância do casamento. Mas Ellie não estava lhe pedindo um casamento. Estava apenas lhe pedindo que fossem um casal também fora do quarto. Podia lhe oferecer aquilo, certo? Ele a queria, gostava dela. Por que estava tão relutante em lhe dar mais? Do que tinha medo? Descendo do carro, adiantou-se até a porta dos fundos. Ellie atendeu depois da terceira batida, e ele quase perdeu o fôlego. Ela estava incrivelmente desejável, usando apenas um roupão branco, os cachos loiros cascateando-lhe em torno do rosto até os ombros, uma deliciosa fragrância desprendendo-se de sua pele. Era evidente que estivera no banho e, na certa, não ouvira o telefone nas vezes em que ele lhe ligara. Mason sentiu sua esperança se renovando. Ao menos, ela não o estivera evitando, como temera. Talvez tudo ainda estivesse bem entre os dois. Ainda pudessem continuar como antes. Ela o conduziu ao interior da cozinha com um ar indecifrável no rosto, e ele fechou a porta atrás de ambos, mal podendo conter seu desejo. O que mais gostaria era de livrá-la daquele roupão e fazer amor ali mesmo na mesa da cozinha. Mas fora até ali com um propósito e não podia se desviar dele. — Precisamos conversar — disse-lhe. Ela meneou a cabeça, seu olhar resguardado. — Acho que tem razão. Gostaria de um café? — Seria ótimo, obrigado. — Ele sentou-se numa cadeira e observou-a começando a preparar a cafeteira elétrica. De algum modo, o caso deles transformara-se em algo mais, ocorreu-lhe de repente. Algo em que observar Ellie preparando café era-lhe tão cativante quanto fazer amor com ela. 89


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Certo, talvez não cativante quanto fazer amor. Mas igualmente fundamental e necessário. Aquilo o apavorou. Não podia ter um relacionamento de verdade. Relacionamentos de verdade simplesmente não funcionavam para ele. — As coisas não podem apenas continuar assim? — perguntou subitamente. Ela fez uma pausa enquanto colocava pó de café no filtro. — Assim como? Eu fazendo café? — Sim. Você fazendo café. Nós ficando juntos. Fazendo amor. Nos divertindo. Não podemos simplesmente continuar assim? Ellie o observou por um momento e, então, suas covinhas se revelaram, encantadoras. — Acho que já estamos continuando... assim. Ele retribuiu o sorriso, mas, então, acrescentou num tom sério: — Ouça, eu não sei se poderá haver algo mais do que isto. Simplesmente não sei. E não posso esperar que você se contente com isto. Ela se aproximou e tocou-lhe o rosto. — Quero estar com você. Tudo o que sempre quis foi estar com você. Mason não soube como reagir à sinceridade daquelas palavras ou à gentileza do toque. Ali estava mais uma vez o amor naqueles olhos azuis. E, de repente, não queria vê-lo. Não queria que Ellie o amasse; não merecia. Deveria ir embora, naquele momento, e deixar aquela incrível mulher encontrar amor de verdade com um homem de verdade. Mas não o fez. Como o patife ganancioso que era, aceitou o beijo terno que ela lhe ofereceu. Ellie sorriu-lhe, tocou-lhe os cabelos com gentileza e adiantou-se de volta até a cafeteira elétrica. Olhou-o por sobre o ombro com um sorriso adorável, malicioso. — Além do mais, é melhor continuarmos com isto. Ou, do contrário, eu estaria, na verdade, servindo café só de roupão a um estranho que apareceu a minha porta. Imagine o que isso causaria a minha reputação?

Capítulo XIII Ellie conversou brevemente sobre algumas retiradas de livros com Prescott e, então, recolheu-se de volta a seu escritório. As coisas com ele tinham estado bem desde que ela lhe dissera que achava que não deveriam sair juntos. Mas havia momentos em que parecia que Prescott estava se distanciando dela. Não podia culpá-lo, levando em conta que, em princípio, fizera-o pensar que estava interessada num relacionamento. Mas sentia falta de seu colega de trabalho. Da tranqüila camaradagem que sempre houvera entre os dois. Evidentemente, ela estava vivendo num mundo de relacionamentos constrangedores. Ela e Mason tinham retomado o acordo de passarem todas as noites juntos e, então, à luz do dia, agirem como se nada estivesse acontecendo. Às vezes, tinha a sensação de que imaginara a alegria, a cumplicidade que haviam partilhado em Portland. Agora, Mason parecia mais distante, mais reticente do que nunca. Daquele modo, ela não tocara no assunto da embriaguez dele. Concluíra que seja andava tão resguardado, com certeza não conversaria sobre algo tão difícil com ela. Na verdade, começara a duvidar outra vez de que Mason tivesse mesmo um problema. Desde Portland, não o vira bebendo uma única gota de álcool. Talvez tivesse tirado uma conclusão precipitada em relação ao fato. Ele estivera aborrecido naquela noite na estalagem, como ela própria. Talvez não tivesse havido nada além daquilo. E sem mais provas, ela não encontrava energia para abordar um assunto .tão delicado por ora. Parecia não conseguir se livrar de alguma espécie de virose que acabara contraindo. Sentia-se exausta o 90


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) tempo todo. Poderia ter dormido facilmente o dia inteiro, se fosse possível. E, ocasionalmente, tinha estranhos enjôos. Não pareciam durar muito e nunca passavam de meros acessos de náusea sem maiores conseqüências, mas, se os sintomas não passassem logo, marcaria uma consulta com um médico. Seu telefone tocou. Era Mason. — Olá — disse ele em seu tom íntimo e maravilhoso. — Como está se sentindo? — Ainda cansada, mas, exceto por isso, estou bem. — Preciso deixar você dormir mais à noite. Ellie abriu um sorriso. Podia estar exausta, mas nunca cansada demais para fazer amor com ele. — Não, acho que minhas noites estão ótimas assim. — E quanto aos seus dias? A pergunta apanhou-a de surpresa, intrigando-a. — Estão bons. Embora não tanto quanto as noites. Mason manteve silêncio por um momento do outro lado da linha. — Você vai jantar na casa de Chase e Abby esta noite? — Sim, por quê? — Bem, Chase me ligou e me convidou para jantar em sua casa hoje também. Ellie ficou empolgada. Nada pareceu mais agradável do que reunir-se para jantar com três pessoas que adorava. Mas, então, Mason acrescentou: — Eu disse que não poderia ir. O desapontamento dela foi inevitável. — Terá de trabalhar? — Não. Achei que a situação seria constrangedora. — Embora ele não mudasse o tom de voz, Ellie sentiu-o distanciando-se. — Oh. — Achei que seria mais divertido para você se pudesse se descontrair. Não ter de fingir, sabe? Ela estava prestes a concordar, mas, de repente, não pôde. A situação toda simplesmente lhe pareceu absurda. — Então, não somos amigos? Não podemos ir jantar na casa de alguém e agir como duas pessoas que são amigas? O silêncio prolongou-se. — Ellie, eu sei que estou sendo injusto com você. Mas acontece... Eu não posso lhe oferecer mais. —Não estou lhe pedindo mais. — Ela queria mais, porém acreditava sinceramente que Mason estava lhe dando tudo o que podia. Se era por causa da ex-esposa ou da família, ela sabia que ele era contrário ao compromisso. Não sabia se estava preparada para lidar com aquela situação de ambos indefinidamente, mas sentia-se disposta a lhe conceder tempo. — Eu já me propus a aceitar o que quer que você puder me dar nesta relação. E lhe disse isso bem desde o início. Mas não vejo por que não podemos fazer coisas juntos como amigos. Mais uma vez, Mason manteve silêncio por alguns momentos. — Apenas acho que seria melhor se você fosse sozinha esta noite. — Está certo — respondeu ela, ocultando o desapontamento. — Verei você depois? — Talvez. Telefonarei para você. Ellie recolocou o fone no gancho e respirou fundo, dizendo a si mesma que conseguiria aquilo. Poderia dar tempo a ele. Poderia esperar. Poderia acreditar que um dia talvez Mason a amasse. 91


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Mason desligou o telefone, sentindo-se um completo cretino. Não deveria nem sequer ter dito a Ellie que fora convidado para jantar na casa de Chase e Abby. Mas receara que ambos pudessem mencionar aquilo e que ela encarasse o fato de ele não ter-lhe contado como mais uma situação como a de Natalie. Ele nem sequer sabia ao certo por que não queria ir ao jantar. Seria por que teria de ficar sentado lá observando Ellie mentir para a irmã e o cunhado? Ou por que ele próprio teria de mentir também? Um patife. Não era como Chase se referira ao sujeito que talvez estivesse saindo com Ellie? Bem, ele era um patife, sem dúvida. Talvez devesse simplesmente terminar as coisas com Ellie. Estaria fazendo um favor a ambos. Ela poderia namorar um homem bom, digno, e ele poderia... ele poderia prosseguir com sua vida como fora antes. O fato era que não sabia o que devia fazer. Tudo que sabia era que as coisas se tornavam cada vez mais difíceis. E não apenas no aspecto pessoal de sua vida. No final daquela tarde, Charlie Grace foi lhe falar. Informou-o de que Everett Winslow estava realmente pressionando-o em relação ao campo de futebol. — Então, por que simplesmente não lhe diz que vai fazer a coisa certa e apoiar a biblioteca? — retrucou Mason. Charlie meneou a cabeça. — Eu poderia fazer isso. E eu o faria, sem dúvida, se o prefeito fizesse a coisa certa também. — Já estou apoiando a biblioteca. — Certo. — Charlie abriu um sorriso irônico. — Mas acho que ambos sabemos que não estou falando sobre isso. Você precisa de ajuda. Mason cerrou os dentes, mas conseguiu manter a voz calma. — Ouça, isto é loucura. Quantas vezes terei de me desculpar? Cometi dois erros estúpidos. Droga, quando é que ficar embriagado duas vezes torna uma pessoa alcoólatra? — Ambos sabemos que você se embriagou mais do que duas vezes. Eu deveria ter interferido antes, mas achei que você conseguiria manter a situação sob controle. Eu o conheço há anos e sei o tipo de prefeito que você era dois anos atrás. E sei o tipo de prefeito que é agora. Mason sentiu a ira crescendo em seu íntimo. — Está dizendo que acha que Everett Winslow faria um trabalho melhor? — Não, não faria um trabalho melhor do que o antigo Mason fez. Mas acredito que Winslow se importa com a cidade. Pode não se importar com todas as melhores coisas, mas se importa. Você parou de se importar. Desistiu. Mason se levantou. — Está certo, apóie Winslow. — Apontou na direção da porta. — Agora, por favor, retire-se. Eu tenho uma porção de coisas com as quais não me importar. Charlie adiantou-se até a porta, mas parou, olhando de volta para Mason. — As pessoas não vão abandonar você por admitir que tem um problema. Respeitarão você ainda mais. Tem sido um excelente prefeito. Mas se continuar agindo como tem feito ultimamente, a cidade sofrerá. Da maneira como as coisas estão, Millbrook já corre perigo imediato de perder a biblioteca. Isso afetará muitas pessoas. — Então, vote da maneira certa, Charlie. Ambos se entreolharam por um momento e, então, Charlie deixou o escritório. Mason desabou de volta em sua poltrona de couro e afundou o rosto nas mãos. Charlie agia como se todo o destino da biblioteca estivesse sobre os ombros dele. Como se não precisasse do apoio dos membros do conselho. Endireitou-se na poltrona, correndo a mão pelo rosto. Sabia qual era o custo de perderem a biblioteca. Sabia que pessoas seriam prejudicadas. 92


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) A imagem de Ellie surgiu em sua mente. Oh, sabia muito bem que pessoas seriam prejudicadas. Precisava encontrar um meio de convencer Charlie de que estava bem. De que não precisava de ajuda, além do apoio do conselho. Ele não tinha um problema. Não tinha. — Ellie, você parece mesmo péssima. — Abby colocou uma xícara de chá na mesa diante dela. — Tome isto. Vai se sentir melhor. Estavam na cozinha, Abby cuidando dos últimos preparativos, enquanto Chase arrumava a mesa na sala de jantar. — É como tenho me sentido ultimamente. Péssima. — Ellie sorveu um gole do chá. — Ainda é aquela gripe? — Sim. Acabei marcando uma consulta médica para amanhã. — Ela não mencionou que a consulta era com sua ginecologista. — Fez bem. Você está bastante pálida. Espero que ao menos tenha conseguido aproveitar seu fim de semana em Portland. E então, gostou do encontro de bibliotecários? Aquele fora o pretexto que Ellie dera à irmã quando soubera de sua breve viagem a Portland. — Foi bom. — Fez algo mais na cidade? — Comi fora. Visitei o Museu de Arte de Portland. Abby meneou a cabeça e foi espiar o assado no forno. — Está quase no ponto. — Virando-se para a irmã, perguntou inesperadamente: — Tem visto Mason? Abby tentou não parecer desconcertada. — Não, por quê? —Para conversar sobre a biblioteca e coisas assim. A propósito, Chase convidou Mason para vir jantar aqui esta noite, mas ele não pôde vir. Ellie apenas meneou a cabeça e ficou aliviada quando a irmã tornou a se virar para começar a temperar a salada. A campainha tocou, e não demoraram a ouvir Chase conversando com alguém. Ellie manteve-se atenta e, quando ouviu a segunda voz, uma seqüência de arrepios subiu-lhe pela espinha. Em princípio, achou que devia estar imaginando Mason. Afinal, quase não pensava em outra coisa, por que não passar a ouvir-lhe a voz do nada também? —Vejam quem decidiu se reunir a nós - disse Chase, entrando na cozinha, Mason parando na soleira. Abby adiantou-se para cumprimentá-lo. — Olá, Mason. Fico contente que tenha conseguido vir, afinal. — Eu também — disse ele, olhando na direção de Ellie apenas brevemente antes de tornar a fitar Abby. — Consegui encerrar meu compromisso mais cedo do que o previsto. Todos foram para a sala de estar, Mason sentando-se no sofá ao lado de Ellie, bem mais perto do que ela achou que faria. Ela forçou um ligeiro sorriso, mas manteve-se em silêncio depois de ter retribuído ao "olá" inicial dele. Por que Mason fora até ali? Não havia deixado claro o bastante que não se sentia à vontade com a ideia? Chase serviu-lhe uma cerveja e os dois amigos conversaram animadamente por alguns minutos. Não parecia haver nada do ar distante dos últimos dias em Mason, notou Ellie. — Bem, você chegou no momento certo — disse Chase, enfim, enquanto Abby passava com uma travessa pelo corredor. — O jantar está quase pronto. Vamos para a sala de jantar? 93


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) A mesa oval estava arrumada para três e, portanto, Chase seguiu Abby até a cozinha para pegar o necessário para mais um lugar e ajudá-la com o assado e acompanhamentos. Com aquilo, Ellie e Mason se viram a sós. Ele aproximou-se de imediato, tocando-lhe os cabelos. — Senti sua falta. — Eu também, mas achei que você não viria esta noite. — Mudei de ideia. Ellie não soube o que dizer. Não entendia o que estava acontecendo com ele. Estava agindo de maneira estranha. A voz não estava pastosa, mas ela ainda tinha a sensação de que Mason andara bebendo. Talvez fosse o ligeiro ar vago em seus olhos cinzentos. No momento, porém, fitava-a com firmeza e inclinou-se para a frente como se fosse beijá-la. Naquele instante, Abby entrou na sala. A atenção concentrada no prato, talheres e copo que segurava, não pareceu notar Mason afastando-se um pouco de Ellie. Depois que arrumou o quarto lugar à mesa, Abby indicou-lhes que se sentassem e, não poderia ter sido mais exata, pois ficaram de frente um para o outro. — Posso ajudar em alguma coisa? — perguntou Ellie, sentindo-se incerta sob o olhar perscrutador de Mason. — Você pode relaxar. Pois sim! Ellie conteve um suspiro e tentou controlar o nervosismo. Era difícil com Mason ali tão próximo, mas, afinal, não fora ela mesma que lhe dissera que podiam fazer coisas normalmente como simples amigos? Agora, tinha de admitir que lhe era necessário um esforço sobre-humano para ficar sentada ali e fingir que não sentia nada por aquele homem, que não havia nada entre ambos além de uma velha amizade. Depois que todos se sentaram à mesa e começaram a saborear o jantar, ela ficou aliviada em poder fazer de conta que se concentrava em seu prato. Até que ouviu Chase dizendo a Mason: — Não tenho visto você mais. O que o tem mantido tão ocupado? Mason pareceu ponderar a pergunta por um momento. — Eu tenho... hã... bem, estou saindo com uma pessoa. Ellie parou de remexer a comida em seu prato com o garfo e encarou-o. — É mesmo? — Chase mostrou-se surpreso. — Alguém que conhecemos? Mason confirmou com um gesto de cabeça. — Na verdade, sim. — Encontrou os olhos arregalados dela. — Ellie. Um súbito silêncio pairou à mesa. Chase, então, soltou um riso, confusão evidenciando-se em seu rosto. — Ellie? — Sim. — A voz de Mason não continha a menor entonação, mas também não deixou margem à dúvida. Ellie ficou rígida em sua cadeira, estupefata. O que, afinal, ele estava fazendo? Por quê? A mesa tornou a ficar silenciosa até que Abby disse num tom de forçada jovialidade: — Isso é... excelente. Sabem, juro que temos mais um pouco de molho para o assado. Ellie, você me ajudaria por um minuto? Em se tratando de pretextos, aquele era péssimo, mas Ellie seguiu a irmã até a cozinha sem hesitação. Era, ao menos, uma chance para tentar se recobrar um pouco. Não sabia se conseguiria lidar mais com as pequenas surpresas de Mason. — Você está namorando Mason? — sussurrou Abby tão logo entraram na cozinha. — Não sei exatamente se "namorando" é a palavra certa. 94


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Bem, o que estão fazendo, então? Ellie deu de ombros e lançou-lhe um olhar incerto. — Estamos nos vendo, acho eu. — Estavam vendo um ao outro completamente, todas as noites. — E quando isso começou? — Cerca de um mês atrás. — E vocês não contaram a ninguém? — Decidimos manter isso em privacidade. — Até então. Ellie começava a pensar que talvez preferisse ter mantido a situação em segredo por mais tempo. Não tinha ideia do que motivara Mason a fazer seu anúncio daquela maneira, sem ter-lhe contado seu plano primeiro. Aquilo a desconcertara ao extremo e fora o que lhe dera a certeza de que ele estivera bebendo antes de ir para ali. — Chase me disse que tinha certeza de que você estava saindo com alguém — comentou Abby. — E mesmo? — indagou Ellie, surpresa. — Ele sabia? —Sim. Ele voltou para casa no dia em que você chegou atrasada ao trabalho e me disse que achava que você tinha um namorado secreto. Não acreditei nele porque achei que você teria me contado logo de início, se tivesse sido o caso. — Abby pareceu um tanto magoada. Ellie deu-lhe um tapinha no braço. — Foi uma... situação inesperada. Ainda é. — Mas você está feliz com ele, certo? Ellie pensou a respeito. Naquele momento, não particularmente. Mas havia momentos em que ele a fazia incrivelmente feliz. E ainda achava que os momentos felizes compensavam toda a incerteza. — Sim. Abby pareceu aliviada. — Você o ama? Ellie não teve de pensar a respeito nem por um segundo. — Sim. Eu o amo. — Então, presumo que você seja o sujeito misterioso, não? — perguntou Chase, cortando uma fatia de carne assada em seu prato. Mason sorveu um gole de seu vinho e, então, meneou a cabeça. — Sim, sou eu mesmo. Chase franziu o cenho. — Por que não disse algo quando eu lhe falei sobre isso no restaurante? — Nós tínhamos feito uma espécie de acordo para manter as coisas em privacidade. — Ou melhor, ele o fizera, e Ellie apenas seguira seu plano. — Por quê? E por que esconder as coisas de nós? — Não era de vocês em particular. Era de todos. — Por quê? — perguntou Chase antes de, enfim, levar um pedacinho de carne assada aos lábios. Mason não podia lhe contar exatamente que Chase estivera certo em sua teoria inteira de "ame-a e deixe-a" que formulara no restaurante. Mas aquele fora o plano. Agora, não fazia a menor ideia de qual era o plano a seguir. — Apenas achamos que era um assunto nosso. — E Ellie está bem nesse relacionamento? — Como assim? — Ela parece exausta, e eu não sei... tensa. 95


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Mason sorveu o restante de seu vinho e pousou o copo na mesa com mais força do que o necessário. — O que está querendo dizer? — Não estou querendo dizer nada. Apenas estou lhe perguntando... Ellie está bem? — E por que não estaria? — Mason sabia que estava se colocando na defensiva, mas parecia não conseguir se conter. — O que você acha? Que eu apenas a estou usando, ou algo assim? — E não estava? Não estava tirando dela sem lhe oferecer nada em troca? — Ei, relaxe. — Chase ergueu ambas as mãos. — Não foi o que eu quis dizer. Estou apenas preocupado com Ellie. É como se fosse minha irmã. Sinto a necessidade de olhar por ela. — Bem, não é preciso, Ellie está bem. Estou olhando por ela agora. Fora o que o levara a fazer seu anúncio naquela noite. Estava olhando por Ellie, tentando tomar o relacionando de ambos mais fácil para ela. Estava tentando lhe dar o que queria. Mas, quando retornou à sala de jantar, não parecia grata ou contente por seus esforços. Observou-o com olhar cauteloso. E Chase tinha razão; ela parecia exausta. Viu-a retomando seu lugar, apenas revirando a comida no prato, um silêncio pesado pairando à mesa, o jantar indo por água abaixo a partir dali. Mais tarde, enquanto deixavam a casa de Abby e Chase, Mason pegou a mão de Ellie, anunciando com firmeza que a levaria para casa, como se esperasse que ela argumentasse em contrário. Ellie não pôde deixar de sentir como se o gesto fosse uma demonstração de posse e, embora aquilo pudesse tê-la feito se sentir bem antes, agora o comportamento dele a aborrecia. O que Mason estava tentando provar? Não entendera até o momento. Mantiveram-se em silêncio enquanto atravessavam a rua em direção à casa dela. Ellie notou que ele estacionara o carro na entrada de sua casa e, portanto, devia ter planejado contar a Chase e Abby sobre ambos. Se bem que nada no anúncio parecera planejado. Ela não conseguia dissipar a sensação de que a súbita declaração fora a de alguém que exagerara na bebida. Notou, enquanto ele subia os degraus da varanda dos fundos, que segurava com força o pequeno corrimão e parecia um tanto sem equilíbrio. Quando abriu a porta, viu-o entrando e desabando numa das cadeiras da cozinha. Embora sua mente rodopiasse, ela se adiantou calmamente até um dos armários para pegar filtros e pó de café. Precisava decidir qual seria a melhor maneira de abordar aquele assunto, e Mason tinha de estar sóbrio para ouvi-la. Chase e Abby não parecerem receber a notícia muito bem, não é? — comentou ele. . Ellie deu de ombros, evitando-lhe o olhar, enquanto preparava a cafeteira elétrica. — Acho que apenas ficaram um pouco confusos. — Você também não pareceu receber meu anúncio muito bem. Ao que parecia, não haveria chance de uma abordagem sutil do assunto, nem de total sobriedade. Ela recostou-se na longa bancada anexa à pia e cruzou os braços. — Bem, tenho de admitir que estou um tanto confusa também. Achei que você iria querer continuar da maneira como estávamos. — Achei que você queria que eu fosse ao jantar desta noite. — Eu queria, mas disse que não me importaria se aparecêssemos juntos como amigos. Não esperei que você fosse lhes contar que estamos nos vendo. — Você não quer que as pessoas saibam? — É claro que quero que as pessoas saibam. Mas você deixou bastante claro que não se sentiria à vontade com isso.—Ela jamais esperou discutir com ele quanto a tornarem o relacionamento de conhecimento público. 96


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Mason esticou as pernas longas e recostou-se na cadeira. — Mudei de ideia. — Por quê? — Apenas mudei. Ellie hesitou e, então, deu-se conta de que não haveria meio de evitar mais aquele assunto em particular. — Você mudou de ideia porque andou bebendo. O que acontecerá amanhã quando estiver sóbrio? Mason endireitou-se na cadeira, os olhos duros, os lábios apertados evidenciando raiva. — Aqui vamos nós — retrucou, sarcástico. — Eu sabia que isso estava para acontecer eventualmente. Sim, eu tomei alguns drinques. Não, eu não tenho um problema de alcoolismo. Ellie sustentou-lhe o olhar. Não deixaria que a raiva dele a intimidasse. Mason precisava de ajuda. Podia ver aquilo com mais clareza a cada dia que passava, na maneira como ele andava se distanciando, em sua raiva agora. — Eu acho que o fato de ter bebido influenciou a sua decisão esta noite. Mason encarou-a com olhos faiscantes, mas ela não desviou o olhar. Ele se levantou, afastando a cadeira ruidosamente para trás. — Sabe, eu realmente achei que você ficaria contente. Eu contei a Chase e a Abby por você. — E eu tenho de ficar exultante pelo fato de você ter precisado se embriagar para fazer isso?— Ellie pôde sentir a raiva crescendo em seu íntimo também. — Se você precisou ficar embriagado para contar ao seu melhor amigo e à minha irmã, o que terá de fazer para contar às demais pessoas? — O que sabe sobre embriaguez? — revidou ele, zombeteiro. — Você não bebe. Não faz a menor ideia do que está falando. Ellie encolheu-se de leve, mas manteve-se firme em sua posição. — Tem razão. Não entendo muito sobre alcoolismo. Mas eu sei a diferença entre o Mason que me faz sentir bonita e importante e o Mason que realmente acha que eu deveria ficar satisfeita com uma admissão induzida pelo álcool, como a que você fez esta noite. Mason fitou-a por um momento e, durante aquele breve instante, Ellie achou que talvez o tivesse alcançado de algum modo, tivesse conseguido fazê-lo enxergar como estava agindo. — Sabe, você está certa. Está ficando bastante claro para mim que realmente não consigo fazê-la feliz. Na verdade, começo a achar que você combina mais com Charlie Grace. Na verdade, vocês dois têm muito em comum. Ele virou-se, andando até a porta. Ellie adiantou-se depressa para lhe bloquear o caminho. — Você não pode dirigir assim. Ele encarou-a, a fúria evidenciando-se em seu rosto. — Posso dirigir muito bem. — Levou a mão até a maçaneta, mas ela se pressionou de encontro à porta. —Por favor, não faça isso.—A raiva que a dominara esvaiu-se, substituída pela preocupação. Mason aproximou-se mais e mais dela, tentando intimidá-la com seu tamanho, sua força. Mas Ellie não teve medo. Mason não a machucaria; daquilo tinha certeza. Ao menos, não fisicamente; emocionalmente era uma outra questão. — Por favor, fique e tome um café — pediu-lhe. — Vamos conversar sobre isto de maneira razoável. Se quiser ir depois disso, tudo bem. Ainda havia frieza nos olhos cinzentos que a fitavam, mas ele meneou a cabeça e afastou-se da porta. 97


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Com um pequeno suspiro de alívio, Ellie adiantou-se até o balcão, onde a cafeteira elétrica encerrara o preparo do café. Abriu um dos armários acima para pegar xícaras, pires e o açucareiro, pousando-os no balcão. Quando se virou para o lugar onde Mason estivera, encontrou a cozinha vazia, a porta dos fundos entreaberta. Correu para tentar alcançá-lo, mas ele já dava a ré com o carro e afastava-se rapidamente pela rua. Ela observou-lhe as lanternas do carro até que desapareceram na esquina. No dia seguinte, Ellie não ficou surpresa quando, por volta do meio da tarde, não recebera contato algum de Mason. Seguira-o até em casa na noite anterior para se certificar de que ele chegara em segurança e, então, apenas retornara para a própria casa. Passara a noite se revirando na cama, tentando pensar em como poderia ajudá-lo. Mas concluiu que não havia muito o que pudesse fazer se ele não estava preparado para admitir que tinha um problema. Ela telefonara para o gabinete dele, mas Ginny lhe dissera que Mason estivera numa reunião. De qualquer modo, a secretária o informaria sobre sua ligação. Fora às onze daquela manhã e, se ele não retornara a ligação, era porque evidentemente a estava evitando. Ela lançou um olhar ao relógio de pulso e viu que passavam alguns minutos das três horas. Sua consulta com a Dra. Kelley era às três e meia, mas, depois da noite anterior, uma conversa sobre métodos anticoncepcionais parecia desnecessária agora. Ellie decidiu ir assim mesmo, se não por outra razão, ao menos para perguntar à médica sobre aquela indisposição prolongada que simplesmente não queria deixá-la. Naquela mesma tarde, enquanto aguardava a médica depois de ter feito um exame inesperado, Ellie sentia a mente rodopiando. Mal podia crer no que estava acontecendo. Fora até ali apenas para pedir orientação à Dra. Kelley sobre os anticoncepcionais que gostaria de começar a tomar e, de repente, quando lhe perguntara sobre o último período, a médica lhe pedira um exame de urina apenas por precaução. Enquanto aguardava o resultado, Ellie dizia a si mesma que era impossível. Não podia estar grávida. Ela e Mason haviam usado proteção em todas as vezes. Exceto na primeira noite. E, de fato, agora que pensava a respeito, seu período estava atrasado. E havia aqueles enjôos estranhos... O tempo pareceu se arrastar até que finalmente ouviu um ruído na maçaneta da porta. A Dra. Kelley entrou na sala de exames, e Ellie prendeu a respiração. Nem sequer foi preciso que a médica dissesse as palavras; sua expressão dizia tudo. — Ellie, você está grávida. O restante do exame passou num borrão. A Dra. Kelley estimou a data do parto, que seria no final de junho. Depois, fez o exame pélvico e colheu amostras de sangue. Indicou-lhe as vitaminas necessárias e orientou-a sobre como seguir devidamente seu pré-natal. Mas era como se tudo estivesse acontecendo com outra pessoa. — Ellie, posso ver que está chocada — comentou a médica ao final do exame. — Há alguma chance de você não querer ter esse bebe? A pergunta foi a primeira coisa que realmente pareceu penetrar pelo torpor que envolvia Ellie. Ter o bebê? Era evidente. Jamais desistiria daquele bebê. Mesmo que o relacionamento dela e Mason tivesse terminado, ela queria o bebe. O bebê de ambos. — Não — declarou com firmeza. — Vou ter o bebê. A Dra. Kelley deu-lhe um tapinha no braço. — Meus parabéns — disse-lhe com sinceridade. — Vejo você daqui a um mês. Ellie agradeceu e observou a médica deixando a sala de exame. Começou a se vestir automaticamente, mais uma vez sentindo-se distanciada de tudo. Nunca pensara na possibilidade de estar 98


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) grávida, embora aquilo lhe parecesse tão óbvio agora. O cansaço. Os acessos de náusea. Como aquilo não lhe ocorrera? Porque ela e Mason tinham feito sexo sem proteção apenas naquela primeira noite. Quem engravidava na primeira vez que fazia sexo? Apenas todas as adolescentes daqueles programas que costumara assistir depois da escola na tevê enquanto crescera. Mas não era uma adolescente. Fez uma pausa, enquanto abotoava a blusa. Felizmente, não era uma adolescente. Poderia fazer aquilo. Poderia criar uma criança sozinha. Não sabia como Mason reagiria, mas se ele não quisesse assumir o bebê, ela o faria sozinha. Terminando de se vestir, adiantou-se até a recepcionista na sala de espera para marcar sua consulta seguinte. Foi somente depois que disse à jovem que precisava marcar uma consulta de pré-natal para novembro que se deu conta de que Ginny, a fofoqueira da cidade e a secretária do pai do bebê, estava sentada numa das cadeiras da sala de espera. Quando Ginny viu Ellie lançando-lhe um olhar, ergueu a revista que estava segurando diante do rosto e fingiu que estava lendo. Ótimo, Millbrook inteira não demoraria a saber que Ellie Stepp estava grávida.

Capítulo XIV Dois dias haviam se passado desde que Ellie descobrira que estava grávida e, até então, ninguém mais na cidade parecia saber. Ao que tudo indicava, Ginny era capaz de manter um segredo. Ela concluiu que talvez Ginny não estivesse falando a respeito porque não sabia quem era o pai. Se soubesse, com certeza a tentação teria sido grande demais. E seria um prato cheio para os mexeriqueiros locais. Evidentemente, o pai não sabia também. Ela tentara telefonar para Mason duas vezes. Não para lhe contar que se tornaria pai, mas apenas para ver como estava a situação entre ambos. Levando em conta que não conseguira localizá-lo, tinha de acreditar que não havia mais nada entre ambos. Estava arrasada diante da ideia, mas não sabia como consertar as coisas. Não achava que pudesse. Mesmo que o relacionamento estivesse terminado, ela não planejava esconder sua gravidez dele. Seria impossível numa cidade tão pequena; porém, mais importante, jamais negaria a Mason o próprio filho. Pensara em ir até o gabinete, uma vez que provavelmente conseguiria encontrá-lo lá, mas acovardara-se. De algum modo, uma conversa telefônica parecia menos constrangedora do que ter de confrontá-lo pessoalmente. Levando em conta que ele não a queria mais. O Dia das Bruxas era um feriado amplamente comemorado em Millbrook, que oferecia uma atmosfera propícia no outono. As árvores estavam cinzentas, os galhos retorcidos à mostra, amontoados de folhas secas farfalhando assustadoramente sob a brisa e as noites eram frias e enluaradas. Mason não quisera comparecer à concorrida festa, mas, como prefeito, sua presença já era esperada. O evento era realizado num campo nos arredores da cidade, o qual era de propriedade de seu pai... mais uma razão para as pessoas esperarem vê-lo. No campo tomado por uma decoração fantasmagórica adequada ao tema enfileiravam-se inúmeras barracas de comida e jogos, formando ruelas improvisadas. Por todo o lugar circulavam pessoas com fantasias de Halloween das mais inusitadas, especialmente crianças e adolescentes. Ele não demorou a avistar Ellie com Abby e Chase e ocultou-se na multidão para observá-la. Estava linda, e não conseguia tirar os olhos dela. Estivera evitando-a. Ginny lhe dissera várias vezes que Ellie telefonara para seu gabinete, mas ele não retornara a ligação. Sabia que estava se comportando feito um covarde, mas não sabia o que dizer de 99


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) suas atitudes na casa de Chase e Abby. Ellie tivera razão em ficar zangada. Apenas ter anunciado que eram um casal quando havia tomado alguns drinques fora um insulto. Presumia que podia simplesmente ir até ela e se desculpar. Sabia que provavelmente Ellie o perdoaria, mas havia sua preocupação quanto ao fato de ele andar bebendo ocasionalmente. Tinha a nítida impressão de que não conseguiria fazê-la esquecer o assunto. E estava cansado de se defender de um problema que não existia. Ellie usava jeans e mais um de seus casacos compridos de lã. Conversava com uma mulher segurando um bebê, e o sorriso em seus lábios era melancólico. Ele franziu o cenho, perguntando-se a respeito daquela expressão. Estaria aborrecida com ele? Desejaria conversar? Seria capaz de perdoá-lo por seu comportamento na outra noite? — Olá. — Chase apareceu a seu lado, seguindo o olhar de Mason. — Olá. — Mason sentiu-se pouco à vontade e tentou agir como se tivesse estado olhando para uma barraca cheia de abóboras esculpidas e iluminadas por dentro com velas. — Você precisa conversar com ela — disse Chase. — Está péssima. Mason não fingiu não saber quem "ela" era. — Acho que temos alguns problemas sérios. Não sei se podem ser resolvidos. — Era o mais franco que já havia sido com alguém sobre aquele relacionamento. Foi bom fazer a admissão. — Ellie é uma das pessoas com a maior capacidade de perdoar que conheço. Tenho certeza de que ela lhe dará outra chance. Mason lançou um olhar de soslaio ao amigo. — Você tem certeza de que a culpa é minha, não é mesmo? Chase soltou um grunhido. — Não tenho a menor dúvida. Mason tornou a olhar na direção de Ellie. Oh, queria falar com ela. O simples fato de vê-la deixava-o com o pulso acelerado. Reunindo coragem, preparou-se paia abrir caminho pela multidão. — Boa sorte — desejou-lhe Chase, meneando a cabeça na direção de Ellie. Mason sabia que precisava. Virando-se de uma barraca de artesanato místico que estivera observando, Ellie deparou com Mason, encarando-o como se estivesse vendo um fantasma. Algo até que apropriado, levando-se em conta que estava tomando parte numa festa de Halloween e ele parecia ter-se materializado do nada depois de ter desaparecido durante dias. — Mason — disse, tentando ocultar sua surpresa. — Eu gostaria de conversar com você. Como está? Grávida, foi o primeiro pensamento dela. Sentindo falta dele desesperadamente foi o segundo, mas limitou-se a responder: — Estou bem. E você? Ele parecia cansado, quase esgotado. — Eu... — Pegando-lhe o pulso com gentileza, afastou-a da multidão e só parou debaixo de um antigo carvalho, a certa distância das festividades. — Preciso conversar com você. Realmente conversar, sem pessoas andando a nossa volta, restringindo o que dizemos. Ellie aguardou que ele prosseguisse, contente com sua decisão de, afinal, ter ido à festa. Quando Abby lhe telefonara para saber se iria naquela noite, sua primeira inclinação fora a de dizer que não. Mas concluíra que ficar em casa se sentindo péssima não a teria ajudado em nada. Agora, para sua surpresa, Mason estava ali e ainda parecendo bastante constrito. Tivera certeza de que as coisas entre ambos haviam terminado, de que ele encerrara definitivamente o relacionamento. 100


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Desculpe-me por eu não ter entrado em contato com você nos últimos dias — disse Mason, ainda segurando-lhe o braço, o calor de sua mão deliciando-a.—Estava agindo feito um completo covarde e evitando você. Estava absolutamente certa na maneira como reagiu naquela noite. Eu não deveria ter contado a Abby e Chase que somos um casal daquele jeito. Eu deveria ter conversado com você primeiro e, então, teríamos contado a eles juntos. — Somos um casal — repetiu Ellie, concentrando-se na única parte da explicação que estava no presente. — Nós somos um casal? Mesmo naquela parte do campo sem iluminação, Ellie pôde ver a sinceridade nos olhos dele. — Céus, eu espero e quero que sim. — Mason afagou-lhe o rosto com ternura. — Senti tanto a sua falta. Não tenho pensado em outra coisa exceto em como resolver isto com você. Em como convencê-la a me perdoar. Ela sentia o coração disparando no peito, uma onda de expectativa envolvendo-a. — Por favor, diga-me que poderemos resolver as coisas entre nós — pediu ele num tom persuasivo, gentil. — Diga que é capaz de me perdoar por todo o pesar que a fiz passar nas últimas semanas. E, por favor, deixe-me contar a todas as pessoas de Millbrook que estou namorando a mulher mais maravilhosa do mundo. Ellie não podia crer que ele estava dizendo tudo aquilo. Era como se estivesse concretizando cada esperança, cada sonho que ela tivera desde que a relação de ambos começara. Por apenas um momento, a felicidade transbordou de seu coração. Infelizmente, a emoção durou pouco. — Eu quero tudo isso. Mas o que causou nossa briga foi mais do que apenas sua decisão de contar a Abby e Chase sobre nós. Ele meneava a cabeça antes mesmo de ela ter terminado a frase. —Eu sei. Eu sei. E admito que bebi demais naquela noite depois que deixei meu gabinete. Mas houve circunstâncias atenuantes para o meu excesso. Eu tive outra discussão com Charlie Grace naquele dia e apenas fiquei aborrecido. Foi uma estupidez da minha parte. Ellie estudou-o. Mason parecia estar sendo tão sincero que queria acreditar nele. — Mas por que você faria a exata coisa da qual Charlie p está acusando? — Eu não sei. Foi um ato tolo de rebeldia, talvez. Ellie queria acreditar nele. Acreditar que tudo ficaria bem. Obviamente, oficializar o relacionamento de ambos era algo bem diferente do que se tornarem pais juntos. Não fazia ideia de como ele reagiria quando soubesse sobre sua gravidez. Mas se realmente a queria a seu lado, tudo acabaria se revolvendo da melhor maneira possível. Tinha de manter aquela convicção. — Quero estar com você também. — Ela mal proferira as palavras, e ele a estava beijando sofregamente. Abraçou-o, correspondendo ao beijo com todo seu ardor, adorando a sensação de estar naqueles braços fortes. Interromperam, enfim, o beijo, mas mantiveram-se próximos, as frontes se tocando, os olhares unidos. — Eu a compensarei por tudo — sussurrou ele. Ellie abriu um sorriso. — Este foi um ótimo começo. Mason tornou a beijá-la com volúpia, e ela moldou-se no calor de seu corpo forte e afagou-lhe os cabelos. Ele soltou um gemido abafado. — Eu realmente quero exibir você a todos, mas no momento, quero tê-la em minha cama onde poderei passar horas fazendo amor com você. — Hum, isso parece ótimo. Ele sorriu, satisfeito com a resposta. Pegando-lhe a pequena mão, começou a guiá-la na direção da parte do campo que fora reservada como área de estacionamento para a festa. Estavam perto de lá quando ela o fez parar. 101


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Espere, preciso dizer a Abby e Chase aonde estou indo. Eu vim com os dois. — Claro. Ainda de mãos dadas, caminharam de volta até as multidões. Ellie percebia que Mason estava ansioso para que encontrassem Abby ou Chase, mas sabia que era pela mesma razão que também a deixava impaciente. Horas fazendo amor realmente soava como algo maravilhoso. Ela avistou Chase junto a uma barraca que vendia sementes de abóbora torradas e ponche. Adiantou-se naquela direção. Mason, que praticamente a estivera arrastando, parou de repente. Ellie franziu o cenho. Apontou na direção da barraca. — Estou vendo Chase ali adiante. Mason meneou a cabeça, olhando na mesma direção, mas, na verdade, encarava o casal que conversava com Chase. — Aqueles são seus pais, não são? — Sim — respondeu ele, seco. — Você não quer vê-los? Ele hesitou e, então, forçou um sorriso. — Eu apenas não esperava que eles viessem. Este não é realmente o tipo de evento da predileção do meu pai. Começou a caminhar na direção deles. Enquanto se aproximavam, segurou a mão dela com mais força. — Aí vem seu filho. — Ellie ouviu Chase dizendo, enquanto se adiantavam até o trio. — Mason. — A mãe dele, uma mulher de compleição pequena, cabelos curtos, louro-acinzentados, e brilhantes olhos azuis, abraçou o filho. Mason retribuiu com apenas um braço porque continuava segurando a mão de Ellie. — Olá, mãe. Ela deu um passo atrás, olhou para as mãos dadas de Mason e Ellie e arqueou as sobrancelhas curiosamente. — E quem é esta adorável jovem? — Você conhece Ellie Stepp — disse Mason, aproximando-a mais de si, não deixando dúvida a ninguém de que eram um casal. — A nossa dedicada bibliotecária de Millbrook. Ellie viu o brilho de reconhecimento nos olhos da mulher, enquanto abria um sorriso caloroso. — É claro. Demonstrei que não ando lendo muito não a tendo reconhecido de imediato. É bom ver você, Ellie. Ela tentou soltar a mão de Mason para apertar a da mulher mais velha, mas ele a segurava com força. Estendeu, então, a outra mão, o cumprimento desajeitado, mas a tentativa fez com que ambas rissem genuinamente. — Fico contente em ver que meu filho está adquirindo um pouco mais de cultura, porém. Ele odiava ler quando era pequeno. E, por favor, chame-me de Liz. Ellie concordou, sentindo de imediato uma afinidade com a mulher afável e elegante. O homem alto ao lado de Liz, no entanto, era uma outra história. O pai de Mason não possuía nada do ar caloroso que a esposa irradiava. Mas não havia como negar de quem Mason herdara sua aparência. Era uma versão mais nova dopai. Austero e fechado, no momento ele olhava com severidade para o filho. — Olá, pai — disse Mason com evidente falta de entusiasmo. — Passei pelo seu gabinete duas vezes esta semana — disse o homem, ignorando o cumprimento do filho — e você não estava lá. Não recebeu meus recados? Mason meneou a cabeça. 102


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Ginny os passou a mim. — Não sei como você conduz seu trabalho normalmente, mas não imagino que ignorar recados o deixe bem com seus eleitores. — Não, mas não imaginei que você planejasse votar em mim, de qualquer modo — respondeu Mason secamente. — Rapazes — falou Liz em tom de aviso —, não podem ser amistosos para variar? — Ela revirou os olhos e acrescentou para Ellie: — Os dois são exatamente iguais, o que, por alguma razão bizarra, torna impossível que se entendam. Ellie abriu um sorriso simpático. Mas, exceto pela aparência física, ela não podia ver semelhança alguma entre os dois homens. Mason podia ser duro e distante às vezes, mas, mesmo em seus momentos de maior frieza, parecia bastante flexível em comparação ao pai. — Eu estava acabando de dizer a seus pais que o concurso de fantasias está prestes a ser julgado — acrescentou Chase, obviamente tentando ajudar a manter a paz. — Abby já está lá. Por que não vamos todos assistir? — Fez um gesto na direção em que um palanque de madeira fora montado, um copo descartável de ponche em cada mão. — Na verdade, nós... — começou Mason. — Oh, não, nada disso — interrompeu Liz. — Levei horas para convencer seu pai a vir até aqui esta noite. E você não vai desaparecer tão cedo. — Ela deu o braço a Ellie. — Além do mais, quero conhecer melhor a sua garota. Mason lançou um olhar a Ellie, que deu de ombros. Parecia que não conseguiriam ir embora tão depressa. O grupo começou a caminhar na direção do palco improvisado, por onde os participantes desfilavam suas fantasias diante dos juízes e da platéia ao redor. Abby cumprimentou-os e comentou sobre as primeiras fantasias, enquanto o marido entregavalhe um dos copos. Liz ainda segurava o braço de Ellie. — E então, há quanto tempo você e Mason estão se vendo? — Não a bombardeie de perguntas — avisou Mason, bem-humorado. — Você a assustará. — Há cerca de um mês — respondeu Ellie assim mesmo. Liz fez uma careta para o filho, e Ellie pôde ver que mãe e filho eram, de fato, unidos. O pai de Mason manteve-se um pouco à parte do grupo, mas Ellie notou que ele não era tão antipático quanto parecera inicialmente. Observava a esposa e o filho, lampejos de melancolia em seus familiares olhos cinzentos. Ele apenas não sabia como se relacionar com o filho, percebeu ela. E tinha a sensação de que Mason não sabia se relacionar com o pai tampouco. A situação era triste, lamentável. — Eu conversei com Charles Grace... durante uma de minhas visitas à sede da prefeitura. — O pai dele deu especial ênfase à última parte da frase. — Conversou? — Mason soou bem mais indiferente do que se sentia. Ellie podia lhe sentir a tensão no corpo enquanto a mantinha junto a si. — Charles me disse que Everett Winslow está realmente fazendo pressão sobre ele. — Sim, foi o que me disse também. — Bem, Charles sempre foi um dos nossos maiores aliados. O que diabo você está fazendo para ele sequer estar pensando em apoiar Winslow? — Jim — avisou-o Liz —, estamos aqui para nos divertir. — Isso mesmo — confirmou Mason com um sorriso forçado. — Ellie, quer beber alguma coisa? Aquele ponche parece estar ótimo. Vou buscar copos para todos nós. — Inclinando-se, depositou um beijo doce e gentil nos lábios de Ellie antes de se afastar. 103


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ellie observou-o com um sorriso, feliz por estar com ele e orgulhosa pelo fato de estar lidando com as críticas do pai tão bem. Sorriu consigo mesma, com a sensação de que talvez as coisas dessem certo, afinal. Mason cerrou os dentes, a irritação percorrendo-o. Não se admirava que o pai tivesse concluído que era ele que estava fazendo algo errado para contrariar Charlie. Que estava falhando como prefeito. Aguardou enquanto o adolescente detrás da barraca providenciava os copos de ponche que lhe pedira, começando a dispô-los numa bandeja descartável. Não precisava de mais desaprovação de seu pai. Já tivera o bastante para lhe durar uma vida inteira. Queria apenas passar a noite acertando as coisas com Ellie... não ouvindo o pai interrogando-o e criticando-o. Enquanto dava um suspiro, notou que a barraca também vendia vinho quente e perguntou ao garoto se podia trocar o seu ponche por um. — Claro. — Quer saber? Inclua mais um. Ele deixou no balcão a bandeja de copos que o garoto lhe entregou por alguns momentos e apanhou o copo de vinho quente extra. Não tinha um problema de alcoolismo, disse a si mesmo enquanto tomava o primeiro gole do líquido quente. Tinha problemas que requeriam um drinque ou dois. Nada mais. Em princípio, Ellie não notou a diferença em Mason. Estivera ocupada demais observando as festividades, conversando com Liz e Abby e saboreando deliciosas guloseimas para notar as mudanças sutis no comportamento dele. Mas percebeu que Mason ficara desaparecendo vez ou outra por alguns momentos e, perto do final da noite, ficou claro que andara bebendo. Passou a adquirir um ar vago, não seguindo o rumo da conversa. Mas quando tomava parte dela seus comentários eram bastante cínicos e desrespeitosos, em especial os dirigidos ao pai. — Mason? — sussurrou ela, quando os demais estavam ocupados conversando com Ned Philbrick, que cultivara a maior abóbora daquele ano e ganhara o respectivo concurso. — Você andou bebendo? Ele observou-a com ar ofendido. — Não. Mas ela não teve dúvida e, depois que desejaram boa noite a todos e rumaram para o estacionamento, insistiu em guiar o carro dele. Mason protestou, alegando que podia dirigir, mas cambaleava um pouco, e Ellie mostrou-se irredutível. Preferiu seguir diretamente para a sua casa em vez da dele, já incerta sobre o rumo que as coisas tomariam. Mal entraram em sua casa, porém, e ele a puxou para si, tomando-lhe os lábios com um beijo faminto. Ela correspondeu ao beijo, seu próprio desejo percorrendo-a. Seria fácil demais fazer de conta que não havia um problema, mas não podia. Após alguns momentos, conseguiu adquirir algum controle e soltou-se do abraço. Não estava apenas cuidando de si mesma agora. Logo, haveria uma pequenina pessoa que precisaria de Mason também. Ele abriu-lhe um sorriso sexy. — Vamos ficar aqui mesmo no sofá? — Mason, você andou bebendo. Por um segundo, a expressão dele endureceu, mas, então, abriu-lhe um sorriso de quase arrependimento. — Sim, eu tomei uns dois ou três copos de vinho quente. Eu precisava me acalmar um pouco. Você viu como meu pai me importuna. Fica me provocando sem parar. Como naquele assunto sobre 104


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Charlie Grace. — Ele tornou a se aproximar, tentando persuadi-la com sua proximidade. Tocou-lhe os cabelos com gentileza. Ellie tentou se concentrar, fitando os olhos cinzentos de Mason em vez dos lábios sensuais que ansiava por beijar. — Sei que seu pai é duro com você. Mas eu não acho que beber ajuda a situação. Mason soltou um riso desprovido de humor. — Você ficaria surpresa. Ellie respirou fundo, capaz de se concentrar agora. Não queria ter aquela conversa. Não quando ambos tinham acabado de voltar a ficar juntos, mas sabia que os problemas não desapareciam se os ignorasse. Se fosse para a cama com ele agora, seria um método maravilhoso de adiamento, mas apenas aquilo. Um adiamento. — Mason — disse devagar — Eu acho... acho que Charlie Grace tinha razão. Eu também acho que você tem um problema de alcoolismo. Um músculo retesou-se no maxilar dele, toda a sensualidade desaparecendo de seus olhos cinzentos. — Parece que ninguém a minha volta perde tempo mesmo — retrucou numa voz baixa e zangada. — Sabe, evitei você nos últimos dias por essa exata razão. E aqui estamos nós, nem sequer juntos novamente a o quê? Seis horas? E aqui vamos outra vez. — Eu poderia dizer a mesma coisa. Mal se passaram seis horas e você está bêbado novamente. — Já lhe disse. Eu só precisava de um drinque ou dois para relaxar. — Não é essa praticamente a definição do alcoolismo? Você achar que precisa beber? — Isso é uma completa tolice — retrucou Mason, furioso. — Eu queria que ficássemos juntos, mas não lidarei com outra pessoa que não se sente feliz com quem eu sou. — Mas esse não é você. Já tentei lhe dizer isso antes. Quando você bebe, não é o verdadeiro Mason. Ele soltou um grunhido desdenhoso. — Como você sabe? — Porque passei bastante tempo com o verdadeiro Mason. — Talvez este seja o verdadeiro eu agora — disse ele em tom depreciativo e deixou os braços caírem ao longo do corpo. — Talvez melhor do que isto eu não fique. Ellie sacudiu a cabeça, sentindo dor em seu coração por ele. Dor por aquele homem surpreendente que não sabia quanto era maravilhoso. — Não, esse Mason está fugindo e se escondendo. Ele desabou no sofá e afundou o rosto nas mãos por um momento. Ellie estava perplexa com o fato de um homem tão forte e de ombros tão largos parecer tão abatido no momento. Aproximou-se, pousando a mão com gentileza nas costas largas, massageando-lhe os músculos tensos. Mason permitiu o toque por um momento e, então, esquivou-se. — Você se lembra da noite do casamento de Chase e Abby? — Sim, claro. — Lembra-se da nossa dança? — Sim. — Lembra-se de ter me dito que, se eu fosse seu, você não mudaria nada em mim? A mágoa na voz dele causou um forte aperto no peito de Ellie, lágrimas ameaçando aflorar em seus olhos. — Não quero mudar você. Quero que você queira mudar a si mesmo. 105


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) A dor deixou a voz dele, dando lugar à fúria. — Não há diferença alguma. Levantou-se, adiantando-se até a porta, mas ela segurou-lhe a manga da jaqueta, o que o fez fitála com ar zangado. — Há uma diferença — disse-lhe em tom de súplica. — Há. Mason encarou-a, sua expressão não mais furiosa, apenas vazia, fazendo-a querer ver a raiva de volta. — Não serei um covarde desta vez. Vou lidar com este relacionamento agora. Está tudo acabado entre nós. Terminado. Ellie não discutiu, não implorou, embora cada célula de seu corpo lhe dissesse para fazê-lo. Sabia que de nada adiantaria. Não mudaria nada. O vazio na expressão dele dizia tudo. Não queria, nem precisava de sua ajuda. Mas ela ainda não pôde deixar de lhe perguntar. — E se eu lhe dissesse que amo você, que o tenho amado desde que o conheci? Você buscaria ajuda? Para si mesmo? Para nós? Mason soltou um riso desprovido de humor, o som glacial. — Sim, talvez, se eu amasse você também. Sentado a sua mesa, Mason olhava fixamente para uma pilha de papéis que precisava rever e assinar, mas em sua mente martelavam as palavras de sua discussão com Ellie, cada uma delas revivida com toda a clareza. Como fora se transformar em tamanho canalha? Sentiu um aperto no peito ao se lembrar dos olhos magoados de Ellie. Não, estivera mais do que magoada. Ele a arrasara. Ela chegara a se encolher diante de suas palavras finais como se a tivesse atingido fisicamente... aquelas palavras desprezíveis, cruéis. Ela lhe oferecera seu coração, e ele rejeitara seu amor da maneira mais insensível. Não estivera pensando em outra coisa a não ser em defender a si mesmo, proteger-se. Ellie recusava-se a acreditar que ele não era um alcoólatra. Dissera que o amava, mas não acreditava nele. Sua descrença era dolorosa, mais dolorosa do que a falta de confiança de qualquer outra pessoa. Ele se mostrara rancoroso, mau. O fato de o relacionamento de ambos ter terminado era doloroso o bastante sem sua atitude ressentida para aumentar a dor. Não havia nada que pudesse fazer a respeito agora. Não pretendia mais falar com ela. Não a um nível pessoal. Qualquer conversa agora só traria à tona a dor. Era melhor apenas cortar todos os laços. Eventualmente, cada um prosseguiria com sua vida. Ela encontraria alguém que a amasse de verdade. A ideia o deixava com o peito apertado, o estômago em nós. Mas aquilo passaria também. Teria de passar. Respirando fundo, ele se concentrou nos papéis a sua frente, notando que um era um documento relacionado a um prédio público. Charlie entendia mais a respeito, levando em conta seu trabalho no ramo imobiliário. Passava um pouco das cinco, mas talvez Charlie ainda estivesse ali. Embora não estivesse com disposição para um sermão, decidiu levar o documento até ele e pedir sua opinião. Quando deixou o escritório, notou que Ginny ainda estava a sua mesa, concentrada em sua digitação e seguiu direto, não querendo interrompê-la. Chegando à porta do escritório de Charlie, ouviu que o presidente do conselho da cidade estava com alguém. Poderia lhe perguntar a respeito do documento no dia seguinte. 106


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Girou nos calcanhares para se afastar quando, de repente, a voz do visitante de Charlie o fez parar. — Como pode ver — declarou Everett Winslow a seu jeito excessivamente amistoso —, é hora de abandonar o navio. Se você ficar com Sweet, vai afundar também. — Você tem certeza quanto ao que me disse? — Charlie soava completamente atônito. — Eu ouvi isso diretamente dos lábios da própria secretária dele. E todos sabemos que Ginny está a par de absolutamente tudo o que acontece nesta cidade. Ela é inestimável, na verdade. Espero que concorde em continuar trabalhando aqui para mim depois da eleição. Mason franziu o cenho. Sabia que Winslow achava que tinha boa chance de ganhar a eleição seguinte mas o homem falava como se soubesse que já estava ganha. — Eu apenas acho difícil de acreditar. — Charlie ainda soava atordoado. — Bem, acredite, meu amigo. É hora de mudar de lado. Mason Sweet terá sorte em conseguir votos depois que os cidadãos de Millbrook descobrirem que ele engravidou a nossa respeitável bibliotecária. Mason voltou depressa pelo corredor, o coração disparado, a cabeça girando. Era verdade? Ellie estava grávida? Por que não lhe contara? Porque ele a deixara antes de ter-lhe dado a chance. Chegou a porta de seu escritório, atordoado, tentando assimilar o que ouvira, quando viu que Ginny ainda estava a sua mesa. Reunia o casaco e a bolsa para sair, mas gelou quando o viu com aquela expressão no rosto. — É verdade? Ginny nem sequer fingiu que não sabia o que lhe estava sendo perguntado. Meneou a cabeça. — Eu a vi no consultório da Dra. Kelley. Ela estava marcando uma consulta de pré-natal. — Quando? Que dia? — Três dias atrás. Então, Ellie já soubera na festa do Dia das Bruxas. — Por que você contou a Winslow? Está infeliz trabalhando para mim? A secretária sacudiu a cabeça com veemência. — Não. Eu não contei a ele. Sem eu perceber, Winslow me ouviu no restaurante conversando com Anne Boufard. Eu jamais contaria a ele. — Ginny lhe lançou um olhar de súplica. — Eu só ia contar a Anne. Ela não teria contado a ninguém. Sinto-me muito feliz trabalhando com você. Jamais mancharia sua reputação propositalmente. Mason acreditava em Ginny. Talvez fosse pela culpa que via em seus olhos castanhos. — Como você sabia que eu era o pai? Ginny lançou-lhe um olhar de desculpas. — Eu sei de tudo o que acontece aqui. Quando Mason chegou à casa de Ellie, ficou aliviado em ver que ela já retornara do trabalho. Atendeu à porta na segunda batida. — Mason — exclamou, obviamente surpresa em vê-lo, mas a surpresa dissipou-se quando viu a expressão no rosto dele. — Você acha que poderia fugir da responsabilidade de me contar? —Ele entrou diretamente na sala antes de esperar um convite. Ellie fechou à porta devagar e virou-se para fitá-lo. Também não agiu como se não soubesse do que se tratava. — Eu ia contar a você. Eventualmente. Mason meneou a cabeça, suas emoções alternando-se entre raiva e mágoa. — Há quanto tempo você sabe que vai ter um filho meu? 107


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) — Três dias. — Então, Ginny está realmente bem informada—declarou ele, sarcástico. — E quanto tempo você pretendia me fazer esperar para saber? Uma semana? Um mês? Três meses? Aquele tom zangado e acusador exasperou-a. — Eu teria contado a você ontem à noite, mas não achei que fosse o melhor momento. Você sabe, levando em conta o fato de que estava bêbado e terminando tudo comigo. Mason nunca ouvira aquele tipo de sarcasmo furioso na voz dela antes. Aquilo o surpreendeu. Tentou acalmar-se e conter sua própria amargura. — As coisas entre nós não teriam acabado ontem à noite se eu tivesse sabido a verdade. Ellie arregalou os olhos azuis com ar zombeteiro, fingindo gratidão. — Não me diga! O quê, teríamos ficado mais alguns dias juntos antes que tudo tivesse terminado? Ótimo. Agora, se não se importa, eu estava preparando o meu jantar. — Olhou significativa na direção da porta da frente, como se lhe indicasse que ele devia sair. O sarcasmo não lhe caía bem. — Ouça — disse ele, mantendo a voz baixa e gentil. — Isso muda tudo. Precisamos conversar. Ela o encarou, os olhos frios, desprovidos de emoção. — Sim, isso muda tudo. Nós seremos pais. Você, um pai. Eu, uma mãe. Mas não muda nada entre nós. Nosso relacionamento acabou. — Não, não acabou. Você vai se casar comigo. Ellie soltou um riso amargo. — É mesmo? Eu acho que não. Mason aproximou-se mais, fitando-a com olhos determinados. — Sim, você vai. Ela manteve sua posição, sustentando-lhe o olhar com firmeza. — Não, não vou. Eu me recuso a me casar com você só porque vamos ter um bebê. Isso não é razão para um casamento. — Parece a melhor de todas para mim. — Você, entre todas as pessoas, deveria saber que um casamento baseado em farsa simplesmente não dá certo. — O quê? Por que seria uma farsa? Por apenas um momento, a costumeira expressão gentil apareceu nos olhos dela. — Se nos casássemos, seria uma completa farsa. Fingiríamos que somos felizes, que gostamos um do outro. Você voltaria para casa a cada noite e agiria como se eu fosse a mulher que quer. Quanto tempo se passaria até que você parasse de voltar para casa? Até que encontrasse alguém que pudesse realmente amar? — Não seria desse jeito. Poderíamos ter um bom casamento. Gosto de você. Quero você. Ellie sacudiu a cabeça, os olhos vazios novamente. — Não. Não manterei você fora da vida de seu filho, mas não me casarei com você. — E quanto a sua reputação? — perguntou Mason, o desespero dominando-o. — Você será mãe solteira. — Sim, mas sou bastante forte. Eu cresci com as pessoas falando a meu respeito. Assim, acho que posso sobreviver a isso novamente. — Por favor, Ellie... — Não — declarou ela, os olhos glaciais. — Agora, por favor, vá embora.Mason hesitou, observando-a. A Ellie de antes se fora. Dera lugar a uma mulher fria e distante.

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Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Não sabia o que dizer, como fazê-la ouvi-lo. Havia uma barreira instransponível em torno dela, e fora ele próprio que lhe dera o alicerce para construí-la.

Capítulo XV Ellie continuou preparando seu jantar feito um autômato, o tempo todo dizendo a si mesma que não sentia nada. Nem dor. Nem tristeza. Nada. Na noite anterior, havia chorado. Depois que Mason lhe dissera que não a amava, chorara muito, o coração partido. Mas não choraria mais. De nada adiantaria. Não era como se aquela situação toda pudesse ser um choque para ela. Afinal, soubera desde o momento em que aceitara os termos de Mason que, eventualmente, terminariam tudo. Também soubera que jamais conquistaria o coração dele. Mas em algum momento ao longo do tempo de ambos juntos, vivia se permitido esquecer aqueles fatos. Ousara imaginar um resultado diferente. Acreditara que Mason Sweet poderia amá-la. Jamais, jamais tornaria a ser tão estúpida e ingênua. Uma batida soou à porta, e ela parou de mexer o molho de tomate que estivera aquecendo. Respirando fundo, foi abrir a porta. Abby aguardava do outro lado, a preocupação evidente em seu sto. — Você está bem? Sei que seu relacionamento com Mason não : da minha conta, mas eu estava na minha varanda e o vi deixando frente de sua casa cantando pneu. Ellie meneou a cabeça. — Nós não temos mais um relacionamento — declarou com frieza. Abby arqueou as sobrancelhas de leve e observou-a com um ar de simpatia. — Como... como você está? — Grávida — declarou Ellie, os olhos secos, o coração congelado. Talvez a vida fosse mais fácil agora que parecia não conseguir sentir mais nada. Pelos cálculos de Ellie, Millbrook inteira já sabia a respeito de seu bebê naquela sexta-feira. Daquele modo, ficou chocada quando a líder dos mexericos da cidade apareceu na biblioteca naquele mesmo dia. Ginny parecia constrita e foi logo se lançando num pedido de desculpas quando puderam conversar em privacidade no escritório de Ellie. — Não estou aqui para tentar convencê-la de que não sou culpada. Eu sou. Mas não fui eu que contei à cidade inteira. Foi Everett Winslow. — Everett Winslow? Como ele soube? Mais uma vez, Ginny pareceu embaraçada. — Bem, ele me ouviu no restaurante contando a Anne Boufard. Mas jamais pretendi magoar ou prejudicar você ou Mason. — Como você soube que Mason era o pai? — Bem, eu sei de tudo o que acontece na prefeitura. Eu soube o tempo todo que vocês estavam se vendo. De qualquer forma, eu vim para me desculpar. Mas também vim ver se você pode ir falar com Mason. Estou bastante preocupada com ele. O coração de Ellie deu um salto. O que havia de errado com Mason? Mas tratou de aquietar sua preocupação de imediato. Por que deveria se importar? Ainda assim, não pôde deixar de perguntar: — Por quê? — Mason não tem ido ao trabalho durante os últimos três dias. Tenho lhe telefonado, mas ele apenas resmunga que está doente e desliga. Ambas sabemos que está mesmo doente, mas não é uma gripe — acrescentou Ginny com um olhar significativo. 109


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) O primeiro pensamento de Ellie foi o de se fingir de inocente, mas não podia. — Sim, eu sei que ele tem um problema. — Você ajudará? Ellie soltou um suspiro. — Deixe-me pensar a respeito. Depois que Ginny se foi, Ellie chegou à conclusão de que teria de ajudar Mason se pudesse. Afinal, era o pai de seu bebê e não podia, em sã consciência, ignorá-lo num momento de necessidade. Mas também sabia que não podia lidar com ele pessoalmente. Assim, naquela noite, foi falar com Chase e Abby, relatando a conversa que tivera com Ginny, e pediu ao cunhado para ir ver como Mason estava. Mason soltou um gemido e virou-se de lado. Seu corpo estava todo dolorido e tremia. Abriu os olhos e tornou a fechá-los em seguida. A claridade era ofuscante. Continuou deitado por um momento. Droga, provavelmente estava perdendo mais um dia de trabalho. Quando fora o último dia que estivera na prefeitura? Que dia era aquele? Não se importava realmente. Começou a cochilar outra vez, mas despertou porque se sentiu como se estivesse dormindo sobre um bloco de granito gelado. Fez nova tentativa de abrir os olhos e, enfim, percebeu que estava deitado no chão da cozinha, olhando para a geladeira aberta. Por que estaria fazendo aquilo? Esforçando-se para se sentar, suas mãos escorregaram em algo no piso e caiu de volta. Por que estava ali? Por que se sentia tão péssimo? Ellie. Estivera bebendo por causa de Ellie. Porque estava esperando um filho seu. Porque não queria se casar com ele. Porque... porque ele não merecia tê-la como esposa. Com esforço, tornou a sentar-se, usando a bancada próxima para se apoiar e se pôr de pé. A cozinha girava. Percebeu, então, que todos os armários estavam escancarados e havia vários copos e pratos espatifados pelo chão. Confuso, franziu o cenho enquanto olhava ao redor. Ele fizera aquilo porque... porque estivera zangado. Zangado com Ellie. Não... zangado consigo mesmo. E com uma dor... uma dor lancinante em seu peito. E parecia que havia bebido e bebido... mas não conseguia liquidar aquela dor. Por que ainda conseguia sentir a dor da rejeição de Ellie? Precisava de mais bebida. Andando com cuidado por entre os cacos de vidro, adiantou-se um tanto cambaleante até a sala de jantar. Estava destruída também. Não se lembrava de ter feito aquilo. Esquecera-se de ter virado uma mesa pesada de carvalho, quebrado algumas cadeiras, mas o rosto frio de Ellie permanecia claro em sua mente. E os olhos azuis vazios feito os de uma boneca. Onde, afinal, estava a bebida? Tropeçou numa estatueta de bronze e soltou um praguejamento, mal reconhecendo a voz rouca e pastosa como sua. Como conseguiria achar mais bebida com a sala girando e tropeçando nas coisas espalhadas ao redor? Enfim, chegou até seu escritório. Teria algo para beber lá. Verificou o bar, mas estava vazio. Bebera realmente tudo o que houvera ali? Recostou-se no bar, uma vertigem atingindo-o em cheio. Tinha de ir comprar mais bebida. Tinha de esquecer. Uma violenta onda de náusea atingiu-o, fazendo-o correr cambaleante para o banheiro mais próximo da casa. Quando esvaziou o conteúdo do estômago, largou-se no piso frio e ficou deitado ali. Como Ellie poderia querer aquilo... ele? Ela tinha todo o direito de mandá-lo embora. De odiá-lo. Era um patife egoísta. E um fracasso. Ellie está certa. Eu não passo de um bêbado patético e desprezível. Ela merece tanto mais. Aqueles foram seus últimos pensamentos antes de mergulhar novamente em completa escuridão. — Mason? — A voz de Chase soou longínqua. — Oh, céus, Mason? 110


Mason tentou responder, mas parecia não conseguir sair da escuridão que o envolvia. — Droga! — Chase soou mais em pânico e, então, Mason sentiu-se sendo sacudido. — Vamos, Mason. Acorde. — Chase — murmurou ele, a garganta seca e dolorida. Conseguiu abrir os olhos. O amigo tentou ajudá-lo a levantar-se, mas até permanecer sentado era esforço demais, e ele recostou-se pesadamente na privada de porcelana, tornando a fechar os olhos. — Tenho de levar você a um hospital — disse Chase, preocupado. — O que aconteceu, afinal? Sua casa está toda revirada. Seus pés estão sangrando. Mason sabia que devia ter pisado em cacos de vidro, mas nem sequer percebera. Não se importava. — Eu amo Ellie — disse a Chase. — Então, você tem de ir a um hospital. Mason sacudiu a cabeça, o gesto lento. — Não, não estou doente desse jeito. — Abriu os olhos, fitando o rosto de Chase. — Eu tenho um problema. — Eu sei — respondeu o amigo num tom gentil. — Chase, eu preciso de ajuda. — Mason tornou a fechar os olhos. — Preciso de ajuda — sussurrou. Mason não fazia ideia de como Chase o levara até uma clínica naquela noite. Não se lembrava daquilo. Mas lembrava-se de ter voltado para a casa que havia destruído. Todos os danos tinham se tornado para ele um símbolo de seu problema com o alcoolismo. Quando estivera quebrando tudo em sua própria casa, achara que estivera fazendo com que se sentisse melhor. Quando, na verdade, simplesmente criara um grande caos, onde tivera de recolher os cacos e tentar consertar as coisas. Seu problema com o álcool causara a mesma coisa... exceto numa escala bem maior. Ele desceu os degraus da prefeitura, apreciando o vento frio de início de abril em seu rosto. Respirou fundo, sentindo a mesma fisgada nos pulmões. Era bom ser capaz de sentir novamente. Mesmo que fosse doloroso. Ao longo dos meses anteriores, as coisas tinham sido bastante dolorosas. Mas era como se tivesse renascido, como se vivesse sensações reais outra vez, não estando mais naquele estado de torpor. Mason parou ao pé dos degraus de granito e olhou na direção da biblioteca. Uma fina camada de neve ainda cobria o telhado, mas, dentro de mais algumas semanas, toda a neve restante teria derretido na cidade, dando lugar à grama verde e às flores da primavera. E faltariam, então, mais umas poucas semanas para que seu filho chegasse ao mundo também. Consultou seu relógio. Passava um pouco das seis. Ellie já teria ido para casa. Ele raramente a via. Avistava-a apenas ligeiramente entrando na biblioteca, ou caminhando pela calçada para almoçar no restaurante. Mas ele se atinha àqueles breves momentos, tentando assimilar cada mudança nela, cada sutil diferença. Esperava que ela estivesse bem. Sabia que sim, ao menos através dos relatos de Abby e Chase, a preciosa amizade de ambos seu único elo com Ellie. Ela recusava-se a falar com ele. Podia entender aquilo. Ele lhe causara muito sofrimento. E não confiava nele. Por que deveria? Telefonara-lhe duas vezes, mas ela simplesmente lhe dissera que estava ocupada e não poderia falar. Não soara zangada ou magoada. Soara inacessível. Daquele modo, Mason não tornara a lhe telefonar. Ele soltou um suspiro, tomado por inevitável tristeza. Queria estar com ela. Não apenas por causa do bebê, embora quisesse desesperadamente fazer parte daquilo também. Queria estar com Ellie porque a amava. Amava-a tanto que seu coração doía. Ele começou a seguir pela calçada na direção da biblioteca. Sabia que agora era tarde demais. Perdera sua chance com ela no momento em que rejeitara tão diretamente seu amor. Era evidente que


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) agora se dava conta de que ela estivera lhe oferecendo seu coração repetidamente ao longo do relacionamento de ambos. Quando acreditara em suas mentiras. Quando defendera sua carreira. E quando não entendera por que a ex-esposa não o quisera. Mas, principalmente, quando lhe dissera que ele tinha um problema de alcoolismo e que precisava de ajuda. Fizera tudo por amor. Mas quando ele recusara o amor dela naquela última noite, rejeitando-a e chegando a lhe dizer que não a amava, aquilo fora o fim. Mesmo alguém tão generosa e com um coração tão grande como Ellie não podia lidar com tanta rejeição sem se afastar. Mason abriu a porta da biblioteca. Tirando as luvas, adiantou-se até as estantes de jornais e revistas. Sua reunião era apenas às sete, mas ele sempre ia até ali direto do trabalho e esperava, lendo numa das cadeiras gastas perto das estantes. Em parte porque não fazia sentido dirigir até em casa e, depois, voltar. Mas principalmente porque ali sentia-se próximo a Ellie. Às vezes, podia jurar que sentia seu perfume no ar. Como agora. Respirou fundo, inalando a delicada fragrância de lavanda. Então, ouviu o riso suave, melódico dela. Virou-se abruptamente, certo de que estava perdendo o juízo. Mas ali estava ela, caminhando até a parte da frente da biblioteca, Prescott a seu lado. Ellie olhava para o colega de trabalho, um sorriso no rosto, as covinhas encantadoras emoldurando-lhe os lábios cheios. — Acho que Hércules é um tanto mais clássico do que eu estava querendo. Eu estava pensando em algo mais como David ou Michael. Ela virou-se e olhou na direção de Mason. Cambaleou quando seus olhares se encontraram. Ele se adiantou para ir ampará-la, mas Prescott ajudou-a primeiro, segurando-lhe o braço. Ellie continuou olhando fixamente para Mason por apenas um momento antes de se virar para Prescott com um sorriso de agradecimento. Mason ficou inquieto, incerto sobre o que fazer. Talvez devesse apenas virar-se e fingir examinar as revistas. Talvez devesse sair e voltar quando a reunião começasse. Mas não pôde. Não haveria meio de poder sair dali. — Olá, Ellie — disse-lhe, incerto. Ela hesitou e, então, meneou a cabeça. —Mason. Ele manteve-se em silêncio por mais um momento, apenas observando-a com fascínio. Estava linda. Tinha os cabelos presos num coque descontraído, alguns cachos soltos roçando-lhe o rosto e a nuca. Usava uma jardineira vermelha e, pela primeira vez, ele pôde lhe ver a barriga com clareza, volumosa e perfeitamente redonda sob as roupas. Ansiou por pousar sua mão ali. Em vez daquilo, perguntou: — Como você vai? — Bem — respondeu ela em tom seco, e Mason observou enquanto uma máscara fria e indiferente parecia cobrir-lhe os traços. Seus olhos azuis ficaram desprovidos de emoção. Ficaram tão inexpressivos quanto sua voz estivera ao telefone. Notou que ela tinha o casaco dobrado por sobre o braço. Estava de saída. Ele não estava pronto para deixá-la ir. Não quando não a tivera tão próxima durante semanas... meses. Mas ela disse boa noite e adiantou-se até a saída sem olhar na direção de Mason novamente. Depois que a porta dupla se fechou, ele percebeu que Prescott o observava, simpatia em seus olhos. Em vez de hostilizar o homem, como teria feito meses antes, Mason apenas perguntou: — Ela está realmente bem? — Sim — respondeu Prescott, embora sem convicção. — Ela está bem. Não excelente, mas 112


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) bem. Está feliz com o bebê e se concentra nisso e no fato de a gravidez estar transcorrendo perfeitamente. — Fico contente que esteja aqui para apoiá-la com sua amizade. Ela merece um homem como você. Alguém que não a desaponte. Alguém em quem possa confiar. — Mason forçou um sorriso e ergueu a revista que ainda segurava. — Acho que vou me sentar e ler um pouco enquanto aguardo minha reunião. Ellie acabara de chegar em casa quando o telefone tocou. — Olá, Ellie. É Prescott. —Prescott?—Por que ele estaria ligando? Acabara de deixá-lo na biblioteca. — Está tudo bem? — Na verdade, não. Acho que você precisa voltar até aqui. Ellie franziu o cenho. — Por quê? O que está acontecendo? Houve uma pausa. —Apenas preciso que volte aqui. — Prescott soou preocupado. — O que houve? — É uma... Apenas acho que deve voltar aqui — persistiu o assistente. Ellie hesitou e, então, concordou, concluindo que era melhor voltar. Se Prescott insistira tanto para que voltasse, era porque realmente estava precisando de sua presença. Mesmo que parecesse não estar conseguindo lhe dizer o motivo. O que poderia haver de errado na biblioteca?, perguntou-se, tornando a deixar a casa. Ela não queria voltar lá, não naquela noite. Ter visto Mason tão de perto fora difícil demais. Angustiante demais. Não queria correr o risco de vê-lo novamente. Ou de deixá-lo abrir uma fresta na sólida barreira que conseguira manter erguida em torno de si mesma. Achava que ele poderia, com seus olhos tristes e sorrisos hesitantes. Aquilo a assustava. Mas sentou-se ao volante do carro e rumou de volta na direção da biblioteca. Eram quase sete horas, notou no relógio digital do painel. Quando tivesse chegado lá, Mason estaria na reunião dos Alcoólicos Anônimos e não teria de vê-lo. Sabia que ele estava freqüentando as reuniões dos AA regularmente e que o fazia havia quase seis meses. Não apenas as reuniões em Millbrook, mas algumas em Bar Harbor também, segundo Abby a informara recentemente. Na verdade, embora ela se mostrasse indiferente, Abby e Chase sentiam a necessidade de mantê-la informada sobre as ações dele. Mason estava se dedicando plenamente a sua recuperação e estava indo bem. Ela sentia-se feliz com o fato de Mason estar obtendo a ajuda de que precisava. Apenas não queria fazer parte daquilo. Não podia. Tinha de proteger a si mesma, seu coração. Ele parecera bem naquela noite; melhor do que em um longo tempo. Não estava pálido nem com o ar esgotado do outono anterior. Certo, se fosse sincera, ele estivera incrivelmente bonito. Os cabelos em ligeiro desalinho por causa do vento, as faces coradas pelo ar frio. Os olhos cinzentos, apesar de melancólicos, pareciam mais claros e firmes. Quisera tocá-lo, beijar-lhe aqueles lábios cheios e sensuais. Mas sabia que não podia pensar daquela maneira. Não se quisesse se resguardar, proteger-se de mais mágoas e sofrimentos. Não se tornaria um alvo fácil novamente. Não enquanto sabia que Mason, apesar de talvez ainda querê-la ou de gostar dela, não a amava. Deixando o carro estacionado, ela encontrou Prescott esperando-a na parte da frente da biblioteca quando entrou; Julie, a adolescente que ajudava na biblioteca algumas noites por semana, sentada atrás do balcão da recepção. Prescott parou de andar de um lado ao outro quando a viu, sua expressão uma combinação de alívio e inquietação. Conduziu-a de imediato ao escritório dela. — O que houve? — perguntou Ellie, ansiosa. — Você já está me assustando. Ele a fez sentar-se e, então, respirou fundo para se acalmar antes de dizer: — Acho que há uma coisa que você precisa ouvir. 113


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) Ellie franziu o cenho enquanto o observava ligando o aparelho de interfone e acionando o botão etiquetado com os dizeres Sala de Reuniões Principal. A voz da pessoa que falava naquele momento ouviu-se no escritório, uma voz feminina que ela não reconheceu, dizendo: — Levei quase vinte anos para admitir que eu tinha um problema. Ellie desligou imediatamente o botão, o pequeno alto-falante ficando silencioso. — O que está fazendo? — Acho que você poderia ouvir algo que realmente precisa. — O quê? — Prescott perdera o juízo? Exigira que ela voltasse ali para ouvir clandestinamente uma reunião dos AA? — Não podemos ouvir essas pessoas. É algo particular. — Você precisa ouvir uma dessas pessoas em específico. — Ele tornou a ligar o botão. Ela tornou a desligá-lo, exasperada. — Prescott, por que está fazendo isto? — Você sabe que não gosto de Mason. — Bem, somos dois. — Ambos sabemos que não é verdade. Você pode até querer que seja, mas não é. E pelo que pude observar em Mason esta noite, sei que ele ama você também. Ellie começou a se levantar. Não queria conversar sobre nada daquilo. Estava se empenhando para prosseguir com sua vida, para esquecer. Aquilo não estava ajudando. Por que Prescott achava que sim? — Por favor, ouça o que tenho a dizer. Ela hesitou, mas o ar de súplica nos olhos de Prescott a deteve. Tornou a sentar-se. — Você sabe como me sinto a seu respeito — disse ele. — Ora, parte de mim quer que você continue ignorando Mason. Porque, dessa forma, talvez você pudesse me dar uma chance. — Soltou um suspiro resignado. — Mas não seria a coisa certa para você. Sei que ama Mason Sweet, e precisa lhe dar uma outra chance. Assim, por favor, ouça. Prescott tornou a ligar o botão. Ellie olhou para o pequeno alto-falante prateado, enquanto vozes começavam a preencher seu escritório. A mulher de antes terminava sua história de alcoolismo. O grupo aplaudiu. Aquilo não estava certo, pensou ela. Era errado ouvir conversas particulares dos outros. Fez menção de desligar o botão quando outra voz anônima disse: — Mason, este é o seu aniversário de seis meses. Gostaria de partilhar sua história conosco? Houve o ruído de pessoas mexendo-se em seus assentos. E, então, a voz de Mason dizendo com nitidez e disposição: — Claro. Ellie sabia que deveria desligar o interfone. Não tinha o direito de ouvir aquilo, mas sua mão não se movia. Não podia se mover. —Fui um alcoólatra por cerca de dois anos. Comecei a beber quando minha esposa e eu nos separamos. Ela queria um tipo de vida que eu não queria. E creio que comecei a beber porque achava que isso me fazia sentir melhor. Fazia com que me sentisse menos como um fracasso. —Eu me sentia como se tivesse falhado com minha esposa, com meu pai; desapontado-os. O álcool parecia fazer com que esses sentimentos desaparecessem. Mas não desapareceram. Apenas me tornei entorpecido, indiferente. O álcool não resolveu nenhum dos meus problemas, nem acabou com nenhuma das minhas inseguranças. Apenas criou mais problemas. E, então, de repente eu estava mais envolvido com a bebida do que com qualquer outra coisa. E foi quando eu realmente me tornei um fracasso. Negligenciei meu trabalho, minhas amizades. Mas, mais importante, eu desapontei terrivelmente uma pessoa que me amava de verdade e queria me ajudar. 114


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) O coração de Ellie disparou no peito. Não queria ouvir mais, mas não conseguia parar. —Ela me perguntou se eu procuraria ajuda. Se eu a amava o bastante para buscar ajuda — relatou Mason, a voz baixa e repleta de dor. — Uma pergunta tão simples, com uma resposta tão simples. Mas eu não respondi, não com a verdade. Eu lhe disse que não a amava. Porque eu queria magoá-la por ousar ter dito que eu tinha um problema. —E mesmo depois de saber que eu a havia magoado tão profundamente, ainda continuei justificando minhas atitudes para mim mesmo. Julguei o fracasso com minha ex-esposa o responsável pela minha incapacidade de dizer a essa pessoa que eu a amava. Culpei meus pais. Céus, eu até culpei essa própria mulher por isso. Mas a culpa não era de nenhum deles. A culpa era toda minha. E do fato de eu ser um alcoólatra. —Eu não podia dizer à mulher mais maravilhosa e incrível que já entrara em minha vida que eu a amava porque eu estava preocupado demais em proteger meu vício. Coloquei meu alcoolismo acima da coisa mais importante que já me aconteceu. Houve uma pausa, e Ellie olhou para o aparelho, desejando poder ver o rosto de Mason. Desejando poder tocá-lo. — Não tenho certeza de que algum dia conseguirei consertar essa parte do meu passado — prosseguiu Mason, a angústia em sua voz clara. — Mas eu continuarei sóbrio não apenas por mim mesmo, mas por ela também. Uma vez ela me perguntou se eu procuraria ajuda, não apenas por ela, mas por nós dois. Por amor. E eu realmente a amo. Eu sempre a amarei. Ellie sentiu as lágrimas escorrendo por seu rosto. Prescott desligou o interfone e deu-lhe um lenço de papel de uma caixa de um canto da mesa. — Você não acha que ele merece uma segunda chance? — perguntou-lhe com um sorriso encorajador. Ela não pôde responder. Era como se uma barragem tivesse sido rompida, e parecia não conseguir parar de chorar. Todas as lágrimas que reprimira nos meses anteriores vieram à tona. Mas não eram de dor... mas de libertação. A barreira de gelo que erguera em torno de si mesma estava derretendo. Por volta do momento em que Prescott lhe estendeu o quinto ou sexto lenço de papel, as lágrimas dela finalmente começavam a cessar e uma sensação de leveza, de quase felicidade preencheu o espaço em seu peito que estivera tão pesado por tanto tempo. Mason a amava. Ele a amara antes e continuava amando-a. E dissera que a amaria para sempre. Era algo incrível, realmente incrível. Ela respirou fundo e dirigiu um sorriso trêmulo a Prescott. — Acho que estou preparada para dar a ele aquela segunda chance. Prescott retribuiu o sorriso com ar satisfeito e abriu a porta. Depois que a reunião terminou, Mason ainda se deteve para conversar com seu mentor, Frank, e os dois foram os últimos a deixar a grande sala. Em princípio, ele não viu Ellie sentada numa das cadeiras da área da frente da biblioteca. Então, ela se levantou. Mason parou de repente, surpreso em vê-la outra vez e, então, preocupado porque era evidente que ela estivera chorando. — Ellie. — Aproximou-se e, sem pensar, pegou-lhe as mãos. — O que houve? Você está bem? — Eu ouvi você. Mason franziu o cenho. — Ouviu? — Não fazia ideia do que ela estava falando. — Ouvi o que você disse na reunião. Ouvi através do aparelho de interfone. — Ela olhou por sobre o ombro dele para Frank. — Sei que isso foi errado, provavelmente ilegal, na verdade. Frank deu de ombros. — Nunca ouvi nada a respeito — disse com um sorriso enigmático e desapareceu na direção da 115


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) saída, deixando os dois a sós. — O que você ouviu? — perguntou Mason, ainda um tanto aturdido com o fato de Ellie estar ali, de estar-lhe segurando as mãos, tocando-lhe a pele delicada. E o mais surpreendente, que ela o estivesse fitando com aqueles grandes e calorosos olhos azuis dos quais tanto sentira falta. — Ouvi você dizendo que me ama. — Eu amo — confirmou Mason. — Amo você mais do que tudo no mundo. — E que planeja me amar para sempre. — Sim, não tenho escolha nessa questão. — E por quê? — Porque você tem o meu coração, Ellie. Ela abriu-lhe um sorriso, todas as suas emoções tiaras em seu rosto adorável. — Bem, isso está ótimo, sabe, porque você tem o meu coração também.—E, ficando na ponta dos pés, beijou-o apaixonadamente.

Epílogo Mason achava-se no palanque montado no centro do ginásio da escola de segundo grau. Os moradores de Millbrook vibravam e aplaudiam. Ellie nunca deixava de se admirar com o fato de ele ser tão bonito... aquela antiga aura dourada envolvendo-o novamente, agora que estava totalmente recuperado. Ele abriu seu sorriso largo e carismático para a multidão ao redor como se tivesse acabado de ganhar a presidência dos Estados Unidos da América em vez de uma reeleição para prefeito numa pequena cidade litorânea do Maine. Mas Ellie sabia que aquele cargo era mais importante para ele do que qualquer presidência. Ele não apenas vencera, mas vencera de maneira justa, apesar de todas as maquinações de Everett Winslow. Parecia que o povo de Millbrook admirava um homem que era capaz de admitir seus erros. Felizmente. Ele ergueu as mãos para aquietar a multidão, e gradualmente o silêncio foi pairando à volta. — Não se preocupem. Farei com que isto seja rápido e agradável. Sei que todos querem ir até aquele churrasco montado no velho campo de futebol. Apenas quero agradecer a todos aqui. Eu me certificarei de manter Millbrook o melhor lugar do Maine para se viver. A multidão aplaudiu enfaticamente. Ellie sorriu enquanto Emily, a filha de três meses de ambos, despertou com o súbito alvoroço. Então, ela aninhou-se mais junto ao peito de Ellie e tornou a adormecer. — Quero agradecer aos leais membros do meu conselho — prosseguiu Mason, meneando a cabeça para Charlie, o qual Ellie viu erguendo o polegar, fazendo um gesto positivo em resposta. — E a todas as outras pessoas que me ajudaram no passado em meu cargo de prefeito. E, principalmente, quero agradecer a minha maravilhosa esposa, Ellie. — Os olhos dele encontraram os dela, seu olhar repleto de amor e felicidade. Ellie abriu-lhe um sorriso orgulhoso. — Obrigado. Obrigado a todos por seu apoio — declarou ele e desceu do palanque, seguindo diretamente na direção da esposa e da filha. Mason insistira para que se casassem uma semana depois daquela noite na biblioteca, o que, na sua opinião, não fora nem um pouco cedo demais. Ellie ainda suspeitava de que ele estivera preocupado com a possibilidade de ela mudar de ideia a seu respeito. 116


Noites Ardentes - Kathy Lover (Mirella nº 10) O fato era que ela não quisera esperar tampouco. Tinham passado tempo demais separados. Tempo demais sozinhos. Os dois haviam se mudado para a casa de Mason, a qual Chase os ajudara a reformar. Ela e Mason haviam escolhido toda a nova mobília juntos. Haviam decorado o quarto do bebê com especial dedicação. E ela logo passara a se sentir como se o lugar nunca tivesse pertencido a mais ninguém exceto a eles. — Olá, Sr. Prefeito — cumprimentou-o Ellie com um sorriso feliz. Ele se inclinou para a frente e beijou-a. Ergueu, então, a ponta da manta para olhar para a linda garotinha de ambos com os olhos do pai, as covinhas e cachos loiros da mãe. Ela dormia serenamente, alheia à comemoração a sua volta. — Emily não parece muito impressionada com seu querido e velho pai. Ellie soltou um riso. — Ela ficará. Mas não tão impressionada quanto sua esposa. Ele sorriu. — Por que você está impressionada? Sou eu que estou casado com a mulher mais notável do mundo. — Hum... — Ela deu-lhe outro beijo. — Você sabe que adulação o levará a qualquer lugar que quiser, não é? — Claro — concordou ele, gracejando, um brilho divertido nos olhos. Começou a se inclinar para beijá-la outra vez quando uma mão em seu ombro o deteve. Mason virou-se, o sorriso fácil em seus lábios desaparecendo enquanto via quem estava atrás dele. — Olá, pai. O pai de Mason estava com a mãe dele, Liz, embora ela logo tenha se aproximado para segurar o bebê. Abby e Chase apareceram também; todos sorrindo, enternecidos, em torno da adormecida Emily. — Você ganhou com uma maioria esmagadora de votos, ouvi dizer — comentou o pai com seu jeito direto. Mason meneou a cabeça. — Foi o que eu soube também. — Isso é bom. Você parece bem. — O pai mudou o peso do corpo de uma perna para a outra. — Obrigado.—Mason fez o mesmo, também parecendo pouco à vontade. —Também ouvi dizer que a cidade votou para que seja mantido o velho campo de futebol. — Sim. Ellie sabia que aquele voto em particular tinha sido tão importante para Mason quanto seus próprios votos para prefeito. O pai meneou a cabeça, uma expressão de aprovação no rosto. — Bem, acho que as pessoas devem ter entendido que se o campo foi bom o bastante para Mason Sweet jogar, é bom o bastante para seus filhos também. O elogio foi feito de uma maneira tão corriqueira que levou um momento para Mason assimilá-lo como tal. — Talvez — respondeu, enfim. — Agora, vamos ver este anjinho — disse o pai, aproximando-se do grupo em torno do bebê. Ele pegou Emily do colo de Liz com gentileza, sussurrando baixinho para a criança adormecida. Parecendo orgulhoso. Ellie voltou para o lado de Mason, observando a família de ambos. — Seus pais estão radiantes com a neta — comentou, feliz. 117


Noites Ardentes - Kathy Lover - Mirella nº 10 Segurou o braço dele, apoiando o rosto em seu ombro largo. — E com o filho. Mason respirou fundo, e Ellie teve a sensação de que ele estava emocionado. Aquele estava sendo um dia muito bom. Finalmente, ele murmurou, a voz um tanto trêmula: — Eu estou radiante com você. Ela abriu-lhe um sorriso, sentindo o amor transbordar de seu coração. — Ótimo, porque eu estou aqui para ficar. Mason estreitou-a em seus braços e beijou-a, seu toque doce e gentil. Fitou-a intensamente, os olhos cinzentos brilhando com amor. — Eu é que não sairei nunca mais do seu lado.

Kathy Love descobriu que tinha talento para contar histórias quando cursava o,colegial, porém não imaginava que essa habilidade pudesse se transformar na carreira de sua vida. Em 2002 ela submeteu seu primeiro livro à avaliação de uma editora, e da noite para o dia o sonho se tornou realidade. Kathy vive em Maryland, nos E.U.A.

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