CHRISLAYNE GOMES DOS SANTOS
A QUALIDADE DA HABITAÇÃO SOCIAL MULTIFAMILIAR – CASOS EXEMPLARES EM SÃO PAULO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Prof. Cynthia Marconsini Loureiro Santos
VILA VELHA 2019
A Deus, por ser o autor da minha história. À minha família, por sua capacidade de acreditar е investir em mim. Aos amigos, por todo apoio e incentivo. A orientadora Cynthia, e a todos os demais professores pelo ensinamento.
“É preciso entender a moradia como direito” Raquel Rolnik
RESUMO Este trabalho consiste em um estudo avaliativo, crítico, reflexivo com foco na inserção urbana e na qualidade espacial de projetos arquitetônicos contemporâneos de habitações multifamiliares sociais, desenvolvidos no Brasil a partir de 2000 e publicados em revistas especializadas de arquitetura e urbanismo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa onde o objeto de análise é uma fonte direta para coleta de dados e a interpretação dos resultados. Foram selecionados edifícios de Habitações sociais multifamiliares construídos que apresentem propostas inovadoras referente a qualidade no projeto da habitação multifamiliar social. O método de análise desenvolvido para a qualificação da inserção urbana foi baseado em Ferreira (2012), Santos e Jorge (2014), e Rolnik (2014). A concepção do método de análise da qualidade espacial da habitação teve como base Pedro (2000) e Lucini (2003), bem como conceitos de Brandão (2002) e Jorge (2011). O presente trabalho possui como resultado o desenvolvido de elementos gráficos de análise, com o objetivo de identificar soluções e exemplos que favoreçam em questões sociais e funcionais a habitação da população de baixa renda. Palavras-Chaves: habitação Social. qualidade arquitetônica. inserção urbana.
ABSTRACT This work consists of an evaluative, critical, reflective study of contemporary architectonic projects of social multifamily dwellings, Developed in Brazil from 2000 and published in specialized magazines of architecture and Urbanism. This is a qualitative research where the object of analysis is a direct source for data collection and interpretation of the results. Buildings will be selected from built social multifamily dwellings that present innovative proposals regarding the quality spatial design in the social multifamily housing project. The method of analysis developed for the qualification of urban insertion was based on Ferreira (2012), Santos and Jorge (2014), and Rolnik (2014). The conception of the spatial quality analysis method of housing was based on Pedro (2000) and Lucini (2003), as well as concepts of BrandĂŁo (2002) and Jorge (2011). The present work has as a result the development of graphic elements of Analysis with illustrative guidelines, with the aim of identifying solutions and examples that favor social and functional issues in housing of the low-income population. Key words: social housing. architectural quality. urban insertion.
LISTA DE SIGLAS IAPs: Institutos de Aposentadorias e Pensões; MCMV: Minha Casa Minha Vida; BNH: Banco Nacional de Habitação; FHC: Fernando Henrique Cardoso; SFH: Sistema Financeiro de Habitação; FGTS: Fundo de Garantia por Tempo e Serviço; PAR: Programa de Arrendamento Residencial; SBPE: Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo; PMCMV: Programa Minha Casa Minha Vida; NBR: Normas Brasileiras; BIAU: Bienal Ibero Americana de Arquitetura e Urbanismo; APCA: Associação Paulista de Críticos de Artes; SP: São Paulo; CDHU: Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano.
LISTA DE FIGURAS Figura 1: Linha do tempo – Desenvolvimento da habitação Social no Brasil.. 19 Figura 2: Comparação de percursos relacionado a diversidade de tipologias.29 Figura 3: Conjunto Habitacional Jardim Edith ................................................. 50 Figura 4: Favela Jardim Edite em 2008 .......................................................... 51 Figura 5: Conjunto Habitacional Heliópolis ..................................................... 59 Figura 6: Conjunto Residencial Corruiras ....................................................... 64
LISTA DE TABELAS Tabela 1: Escalas de análise e parâmetros de qualidade de Ferreira (2012) ...... 37 Tabela 2: Escalas de análise e parâmetros de qualidade da inserção urbana de empreendimentos habitacionais. ......................................................................... 38 Tabela 3: Critério de estabelecimento do potencial construtivo adotado. ............ 40 Tabela 4: Indicadores de qualidade arquitetônica relacionados à habitação ....... 41 Tabela 5: Organização da apresentação ............................................................. 41 Tabela 6: Tabela síntese de métodos de análise................................................. 43 Tabela 7: Escala de análise e seus parâmetros .................................................. 46 Tabela 8: Tabela de edifícios selecionados para análise ..................................... 48 Tabela 9: Análise da Inserção Urbana do Jardim Edith ....................................... 53 Tabela 10: Análise do Edifício Jardim Edith ......................................................... 54 Tabela 11: Análise das Unidades Habitacionais do Residencial Jardim Edith ..... 55 Tabela 12: Análise das Unidades Habitacionais do Residencial Jardim Edith ..... 56 Tabela 13: Análise das Unidades Habitacionais do Residencial Jardim Edith ..... 57 Tabela 14: Análise das Unidades Habitacionais do Residencial Jardim Edith ..... 58 Tabela 15: Análise da Inserção Urbana do Residencial Heliópolis – Gleba G ..... 61 Tabela 16: Análise do Edifício Heliópolis – Gleba G ............................................ 62 Tabela 17: Análise das Unidades Habitacionais do Residencial Heliópolis – Gleba G.......................................................................................................................... 63 Tabela 18: Análise da Inserção Urbana do Residencial Corruiras ...................... 66 Tabela 19: Análise do Edifício Corruiras .............................................................. 67 Tabela 20: Análise das Unidades Habitacionais do Conjunto Habitacional ......... 68 Tabela 21: Tabela síntese de resultados ............................................................. 70 Tabela 22: Tabela comparativa dos resultados ................................................... 71
SUMÁRIO 1.
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 12
1.1.
CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................... 13
1.2. OBJETIVOS .................................................................................................... 14 1.2.1. Objetivos Gerais .............................................................................................. 14 1.2.2. Objetivos Específicos ...................................................................................... 15 1.3.
METODOLOGIA ............................................................................................. 15
1.4.
ESTRUTURA ................................................................................................. 16
2. HABITAÇÃO SOCIAL NO BRASIL - CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICAS PÚBLICAS ................................................................................................................ 17 3. A IMPORTÂNCIA DA INSERÇÃO URBANA NA QUALIDADE DA HABITAÇÃO SOCIAL ..................................................................................................................... 26 3.1. PARÂMETROS QUE QUALIFICAM A INSERÇÃO URBANA ............................ 30 4. QUALIDADE DO PROJETO DA HABITAÇÃO SOCIAL .................................... 31 5. MÉTODOS DE ANÁLISE ...................................................................................... 36 5.1. QUALIDADE DA INSERÇÃO URBANA ............................................................. 37 5.1.1. Escalas de análise e parâmetros de qualidade de Ferreira (2012) ................. 37 5.1.2. Método de avaliação da qualidade da inserção urbana de empreendimentos habitacionais de Santos e Jorge (2014) .................................................................... 38 5.1.3. Ferramenta de avaliação de inserção urbana de Rolnik (2014) ...................... 39 5.2. QUALIDADE ESPACIAL DA HABITAÇÃO ......................................................... 40 5.2.1. A árvore de pontos de vista de Pedro (2000) .................................................. 40 5.2.2. os parâmetros de análise e desenvolvimento de Lucini (2003) ....................... 42 5.3. DESTAQUE DOS MÉTODOS ANALISADOS..................................................... 43 6. DEFINIÇÃO DO MÉTODO DE AVALIAÇÃO E ESCOLHA DOS EMPRENDIMENTOS ................................................................................................ 44 6.1. MÉTODO DE ANÁLISE DA QUALIDADE DA HABITAÇÃO SOCIAL MULTIFAMILIAR NO BRASIL ................................................................................... 45 6.2. EDIFÍCIOS SELECIONADOS ............................................................................ 48 7.
ANÁLISES ......................................................................................................... 49
7.1. CONJUNTO HABITACIONAL DO JARDIM EDITE ............................................ 50
7.2. CONJUNTO HABITACIONAL HELIÓPOLIS – GLEBA G ................................... 59 7.3.
CONJUNTO
RESIDENCIAL
CORRUIRAS .............................................. 64
7.4. RESULTADO DAS ANÁLISES ........................................................................... 69 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 72
1.
INTRODUÇÃO
13
1.1.
vida dos habitantes. Contribui também na
CONTEXTUALIZAÇÃO
A qualidade de vida é fundamental para os
redução de veículos nas ruas, aumentando
indivíduos. Quando se fala em qualidade
a circulação de pedestres e a permanência
de vida logo a moradia representa o lugar
de pessoas durante diversas horas do dia
de permanência, de descanso e de resgate
e da noite.
da intimidade, lugar esse que se faz
A família contemporânea possui novos
necessário para alcançar as necessidades
arranjos familiares. Na sociedade moderna
básicas da vida.
é perceptível as mudanças que ocorreram
A produção Habitacional de Interesse
ao longo do tempo. Os núcleos familiares -
Social
geral
pela
que antes eram formados por pai, mãe e
de
baixa
filhos e assim permaneciam até que os
qualidade, localizadas em áreas periféricas
filhos saíssem de casa para construir suas
com conjuntos habitacionais de médio e
próprias famílias - passaram por diversas
grande
transformações:
caracteriza-se
produção
de
porte,
monótono.
em
habitações
com
padrão
Oferecendo
tipológico
em
geral
casais
que
optam não ter filhos, pessoas sem qualquer tipo
habitações com tamanho reduzido.
divórcios,
de
relação
conjugal
ou
grau
parentesco que dividem o mesmo espaço, A
habitação
multifamiliar,
tipologia
concebida para abrigar mais de uma família se desenvolveu no século XX para
casais homossexuais e uma parte da sociedade que decide por morar sozinha. (JORGE, 2012)
ampliar a oferta de moradia. Atualmente são na maioria edifícios verticalizados.
As pessoas passaram a planejar suas
Dentro desta categoria surgem os enclaves
vidas, obtiveram o poder de decisão em
fortificados, caracterizados pela repetição
escolher o melhor momento para tudo,
de formas e funções, e segregação em
assim como para construir famílias. As
relação ao espaço urbano, que podem ser
mulheres ganharam uma emancipação
percebidas no cenário da construção civil
que antes não possuíam, encontraram
atual.
espaço no mercado de trabalho deixaram de se dedicar exclusivamente as atividades
No cenário contemporâneo há uma busca por conforto e praticidade no dia a dia. Locais abastecidos com diversidade de usos e atividades, próximos a centros comerciais e polos de emprego são os mais
procurados
para
morar,
pois,
permitem o percurso a pé para praças, espaços de lazer e comércio, contribuindo na otimização de tempo e na qualidade de
domésticas e começaram a dividir com o conjugue a tarefa de garantir o sustento da família. Com a disseminação da pílula anticoncepcional ganharam também o poder de escolha em engravidar (JORGE, 2012, p. 86). Os homens que garantiam o sustento total de suas famílias, passaram a compartilhar os serviços domésticos e
14
também a atuar com mais presença na
esses empreendimentos com soluções
educação dos filhos.
inovadoras
Segundo
Jorge
(2012),
essas
transformações no modelo familiar são causas da evolução natural da sociedade, da independência humana, da modificação de
valores
e
comportamentos.
“O
planejamento familiar estabelecido por opção e não por determinismo passou a ser
praticado
progressivamente,
democraticamente,
conduzindo
a
eram
em
sua
maioria
destinados para a classe média/alta. A partir daí surge então o interesse de encontrar
habitações
multifamiliares
sociais
contemporâneas,
que
assim como os edifícios analisados na iniciação
científica,
preocupação
demonstram
com
a
qualidade
arquitetônica, bem como a sua contribuição na vitalidade urbana.
transformação dos arranjos convencionais
A habitação de interesse social produzida
em arranjos informais” (JORGE, 2012. p.
atualmente pelo Minha Casa Minha Vida
84).
(MCMV), principal política habitacional de
Os padrões construtivos da moradia devem refletir os modelos familiares, de costumes, do clima e de materiais. Com o passar do tempo
o
modelo
modificações mudanças
de
habitar
sofreu
acompanhando
as
tecnológicas,
sociais
e
interesse
social
do
país,
apresenta
tipologia única das unidades aplicada nacionalmente que desconsidera além dos arranjos
familiares
diferentes,
as
diferenças regionais. Através
desse
cenário,
é
notório
a
econômicas, através dos princípios da
importância do arquiteto na concepção de
flexibilidade
da
projetos alinhando propostas inovadoras
habitação às diferentes necessidades de
no projeto da habitação multifamiliar social.
seus
da
Esta investigação se torna relevante, pois
para
analisa a produção da Habitação Social
para
a
moradores,
industrialização
adequação
e
e
o
princípio
pré-fabricação
facilitar e baratear a construção destinada
contemporânea
a produção de interesse social.
posicionamento crítico sobre a qualidade
Em 2017 participei de uma pesquisa de iniciação professora habitação onde
científica
idealizada
pela
Cynthia
Marconsini
sobre
multifamiliar
foram
contemporânea,
analisados
edifícios
contemporâneos em Porto Alegre e Belo Horizonte,
avaliando
a
sua
inserção
urbana, tipologias e soluções projetuais. Ao decorrer da pesquisa observou-se que
e
promove
um
arquitetônica dos projetos de Habitação Social no Brasil, procedendo em respostas executáveis e eficientes.
1.2.
OBJETIVOS
1.2.1. Objetivos Gerais Realizar uma análise utilizando métodos de representação
gráfica,
avaliando
a
inserção urbana, implantação e qualidade
15
espacial
de
projetos
arquitetônicos
de
habitações
contemporâneos
a) levantamento e sistematização bibliográfica
e
webgráfica
para
multifamiliares sociais, desenvolvidos em
organização da base teórica sobre as
São Paulo –
políticas
grande centro onde a
públicas
habitacionais
produção habitacional ocorre de maneira
brasileiras, o qual teve como principal
mais intensa – a partir de 2000 e
referência
publicados em revistas especializadas de
qualidade da inserção urbana na
arquitetura
habitação
e
urbanismo,
identificando
Bonduk
(2004);
social,
tendo
a
como
soluções e exemplos que favoreçam,
principal referência Ferreira (2012) e
questões sociais e funcionais, a habitação
Falagán (2011); e a qualidade do
da população de baixa renda.
projeto na habitação social, que teve como principal referência teórica,
1.2.2. Objetivos Específicos
Brandão (2002), Jorge (2012) e a) Estudar sobre a qualidade da habitação social;
b) fundamentação teórica a partir dos
b) Pesquisar sobre conceitos e critérios
de
qualidade
da
habitação multifamiliar social;
de
emblemáticos
edifícios
de
habitação
multifamiliar social, construídos no Brasil e publicados em revistas
especializadas
de
Arquitetura, nas duas últimas décadas.
de projetos na habitação social sejam
atendem
as
funcionais
e
necessidades
individuais de cada morador.
1.3.
METODOLOGIA
Para atingir os objetivos da pesquisa, foram desenvolvidas as seguintes etapas metodológicas:
c)
identificação
dos
de
edifícios
habitação
de
interesse social a serem analisados com
base
encontradas
nas em
publicações revistas
especializadas como Projeto Design e Arquitetura e Urbanismo, dada a relevância destes periódicos a nível nacional entendendo que os projetos publicados possam contribuir para a
d) Analisar e identificar soluções
que
autores escolhidos;
multifamiliares
c) Elaborar analises gráficas e espaciais
Falagán (2011);
produção
arquitetônica
contemporânea
de
habitação
coletiva. d) desenvolvimento e aplicação do método de análise, considerando três escalas, a 1ª é a inserção urbana, a 2ª o edifício e a 3ª as unidades habitacionais,
que
consiste
em
diretrizes ilustrativas, posicionadas de forma a identificar em planta ou
16
perspectivas as soluções projetuais
O capítulo quatro expõe conceitos e
dos projetos analisados.
parâmetros que qualificam a espacialidade
e) construção das análises gráficas.
projetual da habitação social, com base nos modos de vidas contemporâneos.
1.4.
O capítulo cinco apresenta métodos
ESTRUTURA
O presente trabalho se organiza da
de análise e avaliação da inserção urbana
seguinte forma:
e da qualidade espacial da habitação, desenvolvidos por autores da área de
O capítulo dois apresenta o processo
arquitetura e habitação social.
histórico da produção da habitação de interesse social no Brasil, do início da
O sexto capítulo apresenta o método de
década de 1889 até a atualidade, com o
análise desenvolvido neste trabalho para
objetivo de compreender os processos e
avaliação
soluções encontradas ao longo do tempo,
composto
na implementação de políticas públicas
identificando
habitacionais.
abordados no capítulo anterior, e a escolha
dos
projetos
selecionados,
por
ilustrações
gráficas
os
respectivos
conceitos
dos empreendimentos a serem analisados. O capítulo três apresenta os parâmetros que qualificam a inserção urbana da
No capítulo sete são apresentados os
habitação social, de modo a registrar a
empreendimentos e suas análises, seguido
importância da localização de um conjunto
pelo capítulo oito com a conclusão.
habitacional, seja ele social ou não, e tendo como cenário atual a implementação das habitações
sociais
em
áreas
mais
distantes. O capítulo destaca a relação do edifício com o entorno.
17
2. HABITAÇÃO SOCIAL NO BRASIL - CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICAS PÚBLICAS
18
O início de programas para a produção de
Esse cenário de intervenção do Estado no
Habitação de Interesse Social no Brasil se
problema habitacional se desenvolve a
deu a partir da década de 30 associando a
partir do governo de Getúlio Vargas, o que
crise de moradia com a Primeira Revolução
segundo Bonduki (2004) representa uma
Industrial e à migração do campo para a
clara interferência do poder público num
cidade,
os
setor que era até o momento produzido e
trabalhadores passam a ter salário e
comercializado pela iniciativa privada de
instabilidade empregatícia.
ordem sanitária.
Com base na pesquisa que Bonduki (2004)
As políticas habitacionais com objetivo de
aborda em seu livro, esse início teve
solucionar
enfoque na cidade de São Paulo como
popular no Brasil, visto que em sua maioria
cenário privilegiado, mas não único onde
ocupam
esse processo ocorreu. Vale considerar
ilegais, foram implementadas em 1988 com
que a criação de favelas, loteamentos
a Constituição Federal (BRASIL, 1988) e
clandestinos etc, ocorreram em momentos
regulamentada em 2001 pelo estatuto da
passados ou futuros em todas as cidades
Cidade, sendo um instrumento inovador na
do país.
política
Para
momento
Bonduki
esse
(2004)
que
as
políticas
habitacionais como parte de uma política planejada “foram estabelecidas com suas
o
problema
áreas
urbanas
habitacional,
da
habitação
irregulares
criado
e
para
regulamentar as determinações impostas e permitir que os Municípios implantem os instrumentos de regularização.
lógicas próprias, com objetivos específicos
Segundo Holz e Monteiro (2008), a
e
perspectivas
Constituição Federal de 1988 reconhece a
ou
sociais,
falência da política habitacional brasileira
presentes no período de nacional -
adotada até então, trazendo no seu corpo
desenvolvimento” (BONDUK, 2004 p.14).
legislativo um capítulo que trata da Política
a
partir
ideológicas,
de
diversas
econômicas
Com isso, o autor expande o termo habitação social:
Urbana, possibilitando a regularização fundiária, deixando claro a “compreensão de
Neste sentido, utilizamos o termo habitação social não apenas no sentido corrente, ou seja, habitação produzida e financiada por órgãos estatais destinada à população de baixa renda, mas num sentido mais amplo, que inclui também a regulamentação estatal da locação habitacional e incorporação, como um problema do Estado, da falta de infraestrutura urbana gerada pelo loteamento privado. (Bonduk, 2004, p. 14)
que
milhares
autoconstruíram
suas
de
famílias
moradias
em
terrenos vazios, que não lhes pertenciam, ocupados a fim de exercer o mais elementar
dos
direitos
humanos:
moradia” HOLZ E MONTEIRO, 2008).
a
19
Figura 1: Linha do tempo – Desenvolvimento da habitação Social no Brasil
Fonte: produção da autora, 2018
▪
1 - (1889 – 1930) República Velha
Destacadamente na cidade de São Paulo, o aumento da atividade urbana associada ao complexo cafeeiro (apud Cano 1979) em 1980 expandiu o mercado de trabalho e
consequentemente
trabalhadora,
a
classe
ocasionando uma grave
ameaça à saúde pública por conta da grande aglomeração de trabalhadores em
Os surtos epidêmicos viraram uma grande ameaça para a economia,
óbito de
imigrantes e o medo de que a doença atingisse a classe dirigente causaram a intervenção do Estado no espaço Urbano. Medidas governamentais foram criadas a fim de impedir a proliferação da epidemia, Bonduki (2004), cita que essas medidas foram em três tipos:
situação precária. De acordo com Bonduki
1) a criação da Diretoria de Higiene,
(2004), nessa época o país se depara com
com poderes de política e inspeção
um “problema habitacional”, consequência
sanitária;
também
de
outros
fatores
como
a
estruturação do mercado de trabalho, e a chegada em massa de imigrantes.
2) promulgação de vasta legislação de controle sanitário e de produção das habitações, com destaque para o Código
O governo encontra dificuldade em atender
Sanitário de 1894; e
a todas as problemáticas, visto que a maior preocupação era em relação a saúde pública, prejudicada pela falta da rede de abastecimento de esgoto. O problema de saneamento
tornou-se
prioridade
e
motivou a habitação popular ser controle do Estado. (BONDUKI, 2004)
3) participação do Estado na gestão de
obras
de
saneamento,
de
abastecimento de água e de coleta de esgotos, sobretudo pela encampação da Companhia Cantareira de Águas e Esgotos e
pela
criação
da
Saneamento das Várzeas.
Comissão
de
20
Foi a partir da década de 1880 que
grupos de quatro a seis, no máximo, e por
surgiram situações que deflagraram as
fim, que as habitações insalubres fossem
diferenças e luta de classe, os primeiros
saneadas ou demolidas” (BONDUK, 2004,
indícios
p. 38).
de
segregação,
como
relata
Bonduki (2004):
Os cortiços e as casas eram a construção
“O problema da habitação popular no final do século XIX é concomitante aos primeiros indícios de segregação espacial. [...] a segregação social do espaço impedia que os diferentes estratos sociais sofressem da mesma maneira os efeitos da crise urbana, garantindo a elite áreas de uso exclusivo, livres da deterioração, além de uma apropriação diferenciada dos investimentos públicos” (BONDUKI, 2004, p. 20).
mais adequada por ser barata, devido ao valor do aluguel que tinha que ser compatível
com
o
salário
dos
trabalhadores, que eram assegurados pelo Código de Postura gerando um conflito entre a legislação e a realidade permeando na produção de moradias populares em São Paulo.
A criação do Código de Posturas do Município de São Paulo em 1886, e outras leis
estabeleceram
os
tipos
e
as
especificações das habitações operárias, gabaritos, dimensões, desenhos, bem como a determinação de qual solução de alojamento não eram permitidas. A mais completa dentre essas leis foi o Código Sanitário de 1894, que diferente do código de 1886 era mais rigoroso devido a influência dos higienistas, o que ainda assim não garantia a efetivação na prática. (BONDUKI, 2004). O
Código
Sanitário
proibia
terminantemente a construção de cortiços, já o Código de Posturas permitia desde que fossem seguidas as atribuições. O código Sanitário
atribuiu
ao
município
a
responsabilidade de fechar os cortiços existentes;
não
tolerava
as
Em
1925
o
Serviço
Sanitário
é
reorganizado através de um decreto, passando a ter papel secundário as práticas sanitárias baseadas na concepção bacteriológica. Por outro lado, o poder público
precisava
apresentar
alguma
proposta para estimular as moradias, visto que a postura do governo em relação à habitação tinha forte apelo repressivo e limitador da livre construção. [...] de acordo com as leis, as construções encontradas sem a devida segurança e ameaçando perigo iminente ou insalubridade foram demolidas. Acho que a Câmara deve sobre o assunto tomar medidas mais amplas porque não é possível, de momento, suprimir o cortiço sem que se dê habitação que o substitua. É preciso conceder favores do poder público para a construção de Vilas Operárias, provando assim o legislador cooperar para a supressão dos célebres cortiços ou estalagens. (apud, SOUZA 1921).
casas
subdivididas; “determinava que as casas
Para o incentivo da produção habitacional,
destinadas as classes pobres deveriam ser
a medida aceita foi a concessão de favores
construídas com limite de moradores em
ao setor privado. A primeira República
21
então, é marcada pelo privilégio ao
assegurava a lei e propunha-se a fazer
incentivo
gestões
habitacional
particular.
Os
juntamente
com
Congresso que
estímulos a iniciativa privada foram sempre
Legislativo
Municipal
para
bem aceitos pelos higienistas, poder
tomassem
medidas
semelhantes,
público
assim
também ao Congresso Federal a fim de
adotados por todos os níveis de governo e
que “autorizassem as Caixas Econômicas
regiões do país.
em empregar um quinto de seus fundos em
e
empresários,
sendo
Para os higienistas era a maneira de difundir
o
padrão
de
habitação
recomendável; o poder público acreditava que mesmo de maneira pífia essa seria a forma de mostrar uma iniciativa em favor
eles e
empréstimos hipotecários às sociedades construtoras de casas baratas e higiênicas e às sociedades de crédito que facilitassem a compra e construção dessas casas” (BONDUK, 2004, p. 41).
da melhoria da habitação dos pobres; por
Segundo Bonduk (2004), entre 1900 a
fim,
1920 a construção de mais de 38 mil novos
os
empresários
obviamente
mantiveram seus olhos voltados para o
prédios
lucro, despertando o interesse de inúmeros
econômica
investidores interessados em investir na
diminuição da média de moradores por
produção de moradias de aluguel. O
edifício de 11,59 em 1900 para 9,6 em
investimento era seguro e lucrativo, devido
1930 indicando forte indício da elevada
ao crescimento e dinamismo econômico da
rentabilidade do negócio de locação.
cidade de São Paulo os riscos eram baixos,
Porém, houve variação no comportamento
e a valorização imobiliária era certa.
da atividade construtora nessas duas
(BONDUK, 2004).
décadas, de acordo com a demanda por
Várias leis de estímulo à construção de
casa unifamiliar, o modelo de habitação econômica e higiênica como um ideal a ser atingido com construção facilitada através da isenção de impostos de importação de materiais como incentivo. Em são Paulo, a lei 493/1900 previa a isenção de impostos municipais desde que seguissem o padrão construtivo perímetro
da
prefeitura
central.
e
Segundo
fora
do
Bonduki
(2004), nesse período, a Câmara Municipal
no
pela
período,
condição
resultou
na
habitações e os valores dos alugueis. ▪
vilas operárias foram propostas. A Vila Operária nesse período era baseada na
influenciados
2 - (1930 – 1954) Era Vargas
O clima político, econômico e cultural no período de 1930 a 1945 levou o tema da habitação social a um nível nunca visto anteriormente, segundo Bonduki (2004), o problema da moradia tornou-se decisiva nas condições de vida do operário, pois absorvia uma significativa porcentagem dos salários e influenciava no modo de vida e
na
formação
de
ideologia
dos
trabalhadores. Debates, eventos e uma imensa
produção
intelectual
sobre
a
22
habitação social acarretou na criação de
os aluguéis e passou a regulamentar as
novas entidades públicas e privadas,
relações entre locadores e inquilinos. A
estimulando as investigações e debates
criação da Fundação da Casa Popular no
sobre o desenvolvimento nacional.
governo do General Eurico Gaspar Dutra
Nesse período, ampliou-se o leque de profissionais voltados para o problema da habitação operária, que na República Velha, era preocupação de médicos e sanitaristas.
Para
viabilizaram o financiamento da promoção imobiliária. (BONDUK, 2004). A contratação de arquitetos modernos para
problema de moradia ganha uma nova fase
desenvolver os projetos dos conjuntos
de
residenciais dos IAPs acarretou a uma
tornando-se
(2004),
de moradias subsidiadas e, em parte,
o
reflexão,
Bonduk
em 1946, deram início à produção estatal
um
tema
multidisciplinar.
produção com boa qualidade arquitetônica,
A ampliação do ensino superior e da burocracia estatal nos anos Vargas propiciou novos enfoques, que tiveram como resultado não só um diagnóstico das condições habitacionais e dos obstáculos para sua melhoria, como também a elaboração de propostas que levavam em conta os aspectos físicos, institucionais, urbanísticos, econômicos, jurídicos, sociais e ideológicos da questão. E tudo isso com o objetivo de viabilizar soluções habitacionais alternativas para a população de baixa renda, sobretudo a casa própria (BOLDUKI, 2004, p. 75).
houve preocupação com a racionalização, produção em larga escala de moradias e normatização. O congelamento de aluguéis determinado pelo regulamento de Getúlio Vargas em 1942 desestimulou o setor privado na produção de moradias para locação “o que levou os trabalhadores a ocupar os loteamentos de periferia, até então pouco ocupados” (BONDUK, 2004, p. 12).
A noção de que cabia ao Estado a garantia de boas condições de moradia e que era necessário o investimento de recursos públicos e fundos sociais era clara para os diversos setores sociais, desde as forças políticas
e
empresariais
às
opiniões
públicas. Entre
as
O período é marcado pelo estímulo a casa própria em vez do aluguel, porém, segundo Bonduk (2004), a habitação como serviço público promovida nesse período não obtém sucesso, devido a incapacidade das políticas públicas em atender o grande crescimento populacional após a Segunda
medidas
mais
importantes
Guerra Mundial, ocasionando um grande
implementadas pelo governo no que diz
crescimento de casas autoconstruídas
respeito à questão habitacional, estiveram
pelos moradores nas periferias, casas
a criação das carteiras prediais dos
essas que por conta da falta de recursos
Institutos de Aposentadoria e Previdência
não possuíam qualidade arquitetônica.
(IAPs) em 1938 e o decreto-lei do inquilinato em 1942. Este último congelou
23
▪
3 - (1964 – 1985) Regime Militar
arquitetônico
O Governo Militar aboliu as experiências anteriores
com
relação
à
política
habitacional e criando suas próprias bases de atuação com a implementação do Banco Nacional de Habitação (BNH), através
do
Sistema
Financeiro
de
Habitação (SFH) em 1964. Para Bonduki
e
urbanístico,
como
desastrosa, e destaca os erros praticados a “opção por grandes conjuntos na periferia das cidades, o que gerou verdadeiros bairros dormitórios; a desarticulação entre os projetos habitacionais e a política urbana e o absoluto desprezo pela qualidade
do
projeto”,
ocasionando
soluções padronizadas sem preocupação
(2008) o BNH:
com a qualidade da moradia, com a [...] foi uma resposta do governo militar à forte crise de moradia presente no país que se urbanizava aceleradamente, buscando por uma lado, angariar apoio entre as massas populares urbanas [...] e por outro, criar uma política permanente de financiamento capaz de estruturar em moldes capitalistas o setor da construção civil habitacional, objetivo que acabou por prevalecer. (BONDUKI, 2008, p.72)
inserção urbana e com o respeito ao meio físico. ▪
4 - (1985 – 2000) Nova República e Governo FHC
Extinto em agosto de 1986, as atribuições do BNH foram transferidas para a Caixa Econômica Federal:
O BNH teve grande importância nesse período, para Bonduki (2008), o período de Regime Militar foi o único que de fato, o país teve uma
Política Nacional de
Habitação. Em 1967, a criação do Fundo de Garantia por tempo e Serviço (FGTS), possibilitou
novos
recursos
para
a
estruturação do Sistema Brasileiro de Habitação que alimentado pela poupança
A Caixa Econômica Federal – um banco de primeira linha – tornou-se o agente financeiro do SFH, absorvendo precariamente algumas das atribuições, pessoal e acervo do agora antigo BNH. A regulamentação do crédito habitacional passou para o Conselho Monetário Nacional, tornando-se, de modo definitivo, um instrumento de política monetária, o que levou a um controle mais rígido do crédito, dificultando e limitando a produção habitacional. (BONDUKI, 2008, p. 76)
compulsória de todos os assalariados brasileiros, somando-se aos recursos da poupança voluntária, formou o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).
O modelo econômico implementado pelo Regime Militar a partir dos anos 80, gerou, recessão, inflação, desemprego e queda dos níveis salariais, resultando na redução
A atuação do BNH não atendeu a
de investimento ao SFH, o que reduziu
população de mais baixa renda, objetivo
significantemente
principal que havia justificado a sua
financiamentos (Bonduki, 2008). Com isso,
criação. Bonduki (2008, p.74), caracteriza
os problemas de moradia da população
a intervenção realizada do ponto de vista
a
queda
dos
24
amentaram devido o empobrecimento que
Bonduki (2008), ainda destaca que por
marcou as décadas de 80 e 90.
razão
Segundo Bonduki (2008), surge uma nova fase na política habitacional no Brasil, denominada Pós-BNH. Caracterizada por atribuir uma redefinição de competências, passando a ser atribuição dos Estados e
de
natureza
financeira,
a
implementação desses programas não obteve
uma
interferência
positiva
no
combate ao déficit habitacional de baixa renda. De uma maneira geral, se manteve ou mesmo se acentuou uma característica tradicional das políticas habitacionais no
Municípios a questão da habitação.
Brasil, ou seja, um atendimento privilegiado O marco nesse período é a Constituição de 1988,
que
tornou
responsabilidade
a
dos
habitação três
para as camadas de renda média.
uma
níveis
Entre a extinção do BNH (1986) 76 Gráfico 1 - Unidades financiadas SBPE-FGTS (1980-2002) e a criação do Ministério das Cidades (2003), o setor do governo federal responsável pela gestão da política habitacional esteve subordinado a sete ministérios ou estruturas administrativas diferentes, caracterizando descontinuidade e ausência de estratégia para enfrentar o problema. (BONDUKI, 2008, p. 76).
de
governo - Municipal, Estadual e Federal seguido
do
surgimento
de
vários
programas habitacionais e intervenções diferenciando o cenário do BNH visto anteriormente. Em 1995, início do governo de Fernando Henrique Cardoso, retornam os financiamentos de habitação com base nos recursos do FGTS, e novos programas são lançados: “Dentre os programas criados no governo FHC e que 79 continuaram a existir no primeiro ano do governo Lula, incluiu-se, como principal alteração, a criação de programas de financiamento voltados ao beneficiário final, (Carta de Crédito, individual e associativa), que passou a absorver a maior parte dos recursos do FGTS. Além deste, criou um Programa voltado para o poder público, focado na urbanização de áreas de áreas precárias (Pró-Moradia), paralisado em 1998, quando se proibiu o financiamento para o setor público e um programa voltado para o setor privado (Apoio à Produção), que teve um desempenho pífio. Em 1999, foi criado o Programa de Arrendamento Residencial – PAR –, programa inovador voltado à produção de unidades novas para arrendamento que utiliza um mix de recursos formado pelo FGTS e recursos de origem fiscal (BONDUKI, 2008 p. 79).
Foi o governo de FHC que aprovou o Estatuto
da
Cidade,
em
2001,
regulamentando a constituição de 88 criando a possibilidade de fazer valer a função social da propriedade. ▪
5 - (2001 - 2009) Governo Lula
Dentre os diversos programas criados e regulamentados no governo Lula, esse período é marcado principalmente pela criação do Ministério das Cidades em 2003, e pelo Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). O Ministério das Cidades foi criado para enfrentar o déficit habitacional e para a reestruturação institucional e legal do setor habitacional do país, conforme diz o autor:
25
“O Ministério das Cidades foi criado com o caráter de órgão coordenador, gestor e formulador da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano, envolvendo, de forma integrada, as políticas ligadas à cidade, ocupando um vazio institucional e resgatando para si a coordenação política e técnica das questões urbanas. Coubelhe, ainda, a incumbência de articular e qualificar os diferentes entes federativos na montagem de uma estratégia nacional para equacionar os problemas urbanos das cidades brasileiras, alavancando mudanças com o apoio dos instrumentos legais estabelecidos pelo Estatuto das Cidades”. (BONDUK, 2008 p. 96)
▪
6 – (2010 – até os dias atuais)
As habitações destinadas a população de baixa renda, atualmente se dá pelo PMCMV, que apesar de ser uma iniciativa pública, depende de instituições privadas, construtoras e agências bancárias. Segundo Sette (2012), atualmente a forma de produção habitacional se dá quase totalmente para a produção chamada de “segmento econômico”, destinado para as
Sistema
classes de renda intermediária. Diz ainda
Nacional de Habitação de Interesse Social
que, nas faixas de renda abaixo de três
(SNHIS) criado juntamente com o Fundo
salários mínimos, a produção é bastante
Nacional de Habitação de Interesse Social
regulamentada,
(FNHIS)
agentes
Segundo
Bonduki
pela
(2009),
lei federal
o
n˚11.124/05
e
envolve
operadores
diversos
públicos,
como
articulou os 3 níveis de entes federativos:
prefeituras, companhias de habitação e o
união, estados e municípios em um modelo
próprio
habitacional, no qual atuariam de forma
Econômica Federal. E no âmbito do
estruturada
segmento econômico, observa-se que os
sob
a
coordenação
do
órgão
financiador,
a
Caixa
padrões de qualidade estabelecidos para
Ministério das Cidades.
esse segmento não são muitos. “Assim, Ferreira (2012), relata que, o programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), “plano habitacional anunciado em 2009 com o objetivo de promover a construção de 1 milhão de casas, veio corroborar o novo cenário do mercado imobiliário brasileiro”. O programa atende às camadas de renda abaixo de três salários mínimos, e as faixas de renda acima de três salários mínimos, com
mecanismos
viabilidade
de
financeira,
facilitação que
da
envolvem
também alguns subsídios públicos.
observa-se
que
o
que
está
sendo
construído pelo país afora, e que molda a nova face das cidades brasileiras, é produção de qualidade muito duvidosa”. (FERREIRA, 2012 p.25).
26
3. A IMPORTÂNCIA DA INSERÇÃO URBANA NA QUALIDADE DA HABITAÇÃO SOCIAL
27
A arquitetura não se consolida apenas no
Segundo
edifício e suas divisões internas. O meio
residencial
onde ela é inserida tem grande influência
necessidades dos moradores, quanto o
no seu funcionamento. “A arquitetura é,
entorno, favorecendo assim a formação
assim, uma realidade viva, perceptível e
das redes comunitárias e relações sociais.
dinâmica. Nesse sentido, um edifício é
“Por esta razão, é conveniente que o
arquitetura, assim como uma cidade, um
complexo habitacional integre diversas
jardim ou qualquer espaço culturalmente
atividades, como espaços comerciais e
modificado são arquitetura” (DUARTE,
pequenos equipamentos. É especialmente
2013, p. 28).
aconselhável que as atividades sejam
A relação do edifício com o entorno é de grande importância, as fachadas e térreos dos edifícios desempenham um papel essencial na vitalidade urbana, e devem
Montaner deve
(2011), atender
o
tecido
tanto
as
dadas no piso térreo dos edifícios para proporcionar vida urbana e arquitetura” (MONTANER, 2011, p. 154. Tradução nossa).
ser pensados e construídos de maneira a
Os
qualificar o espaço onde está inserido,
encontrados
fazendo uma arquitetura única, integrando
consequência da sociedade desigual, a
o ambiente externo com o interno.
cidade contempla uma série de relações
Na tipologia de edifícios multifamiliares é comum encontrar os “enclaves fortificados” nas cidades brasileiras, desempenhando o papel contrário de integração ao exterior. Segundo Caldeira (2000), os enclaves fortificados se caracterizam por “espaços privatizados, fechados e monitorados, para residência, consumo, lazer e trabalho” (CALDEIRA, 2000, p. 211). Por conta disso, segregam e dificultam a livre
diferentes
tipos nas
de
espaços
cidades
são
sociais, o que dita e conduz o seu funcionamento,
conforme
corrobora
Ferreira (2012): As cidades são a expressão espacial das relações econômicas, políticas e culturais de uma sociedade e sua história. Por isso, são naturalmente espaço de conflitos e tensões. É verdade que a civilização humana persegue a configuração harmoniosa de seus assentamentos provavelmente desde que nos tornamos seres sedentários, e supostamente caberia aos arquitetos e urbanistas a difícil tarefa. (FERREIRA, 2012, p. 13).
circulação nos seus arredores, devido a sua envoltória composta de grandes muros altos. Caldeira (2000), observa que nas cidades onde esse tipo de segregação ocorre é difícil manter os valores mais importantes
da
cidade
moderna,
acessibilidade e livre circulação.
a
O grande desafio para a habitação social é integrar o edifício multifamiliar em um local bem estruturado, visto que esse tipo de habitação é destinado às classes baixa e média, e os locais onde predominam a baixa renda são os menos providos de estrutura urbana de qualidade.
28
A estrutura urbana pode ser compreendida
É comum encontrar empreendimentos de
como um conjunto de sistemas e/ou
habitação social construídos em locais em
elementos necessários para viver com
que
dignidade, dentre elas pode-se destacar: a
pavimentação,
qualidade ambiental, a infraestrutura viária
elétrica, ou seja, sem infraestrutura urbana
e sanitária, a segurança e o lazer. O
mínima, geralmente em locais distantes da
objetivo acerca desse desafio é garantir
área central das cidades. É importante
cidades mais justas, que possam oferecer
ressaltar a responsabilidade do estado na
aos
infraestrutura da cidade, e que atualmente
habitantes
qualidade
de
vida,
não
existe
transporte
saneamento
energia
essa
de sua classe social, onde consegue-se
mercado, fazendo com que ele tenha que
perceber o equilíbrio urbano, que segundo
buscar alternativas para não interferir no
FERREIRA
lucro final.
só
poderá
ser
reconhecido quando se conseguir erradicar a
miséria,
que
se
expressa
nos
assentamentos informais desprovidos do atendimento às necessidades mínimas para se viver com dignidade.
tem
e
independentemente do local de moradia e
(2012),
responsabilidade
público,
sido
do
O custo do terreno rebate no valor da venda do imóvel. Sendo as habitações do “segmento econômico” uma
produção
voltada para a população de baixa renda, a construção
dos
empreendimentos
em
Historicamente, a produção habitacional no
locais onde o valor da terra é mais barato
Brasil tem valorizado apenas a unidade
aumenta a possibilidade de aquisição para
habitacional, e não tanto a importância da
essas pessoas. Para transformar essa
qualidade urbana onde se está inserida.
realidade
Com uma produção visando a quantidade,
compartilhamento de responsabilidades do
o programa Minha Casa Minha Vida, por
estado, com o mercado imobiliário e a
exemplo, fortalece a tradição de deixar o
construção civil, que para obter o retorno
aspecto da qualidade e dos impactos
financeiro acabam provocando a expansão
urbanos da produção em segundo plano. É
urbana nessas áreas sem infraestrutura.
importante destacar que a má qualidade urbanística não é de exclusiva culpa do mercado imobiliário e da construção, reflete também atuações dos demais agentes envolvidos, desde a aprovação de projeto do órgão competente à liberação de financiamentos
para
(FERREIRA, 2012)
a
produção.
seria
necessário
um
A localização de um empreendimento habitacional interfere no funcionamento da cidade, influenciando na forma urbana, que cada vez mais está voltada para o uso do automóvel (figura 2), promovendo piores condições de acessibilidade.
29
Figura 2: Comparação de percursos relacionado a diversidade de tipologias
Fonte: Adaptado de Richard Rogers, 2018.
Oposto a essa situação estão as áreas bem
providas
de
infraestrutura
e
equipamentos públicos, lazer e bem-estar, polos comerciais e sistema viário, onde o valor da terra é elevado, ou seja, morar nessas áreas se torna inacessível para pessoas com baixa renda. Segundo Ferreira (2012), mesmo sendo bem
localizados,
empreendimentos
os
habitacionais
grandes podem
acabar gerando um impacto negativo no meio urbano, visto que aumentam a demanda por infraestrutura, serviços e equipamentos, situação
sobrecarregando
existente.
a
Empreendimentos
construídos em grandes terrenos, murados por toda a sua extensão influenciam na caminhabilidade de pedestres no entorno. Ferreira, (2012, pag.31) diz que “a Constituição Federal de 1988 instituiu o princípio da função social, que indica a prevalência do interesse público sobre o particular no uso da propriedade urbana. Isso significa que a produção do espaço urbano está sujeita, em última instância, à manutenção do interesse comum, dos espaços de toda a cidade. Porém, os efeitos da falta de consciência da necessidade de urbanização mais cuidadosa, para o bem das gerações
futuras, são diversos e bastante impactantes. Verticalização exacerbada, movimentação e impermeabilização descontrolada do solo, entre outros exemplos, ocorrem a partir da complacência do Estado na regulação e fiscalização, é verdade, mas também porque parece não haver consciência de grande parte dos empreendedores sobre o que é “fazer a cidade com responsabilidade”, diz ainda que “a ausência de regulação ou atuação pública efetiva sobre a questão contribuem para que o setor imobiliário possa agir sem muitas restrições quanto à qualidade arquitetônica e urbanística. A implantação urbana e a qualidade das unidades habitacionais dependem das leis municipais de uso e ocupação do solo, dos códigos de obra e de alguns parâmetros técnicos mínimos que, no âmbito local, são, em geral, pouco rigorosos com os interesses dos empreendedores imobiliários.”
Para regulamentar os artigos 182 e 183 do capítulo II da política urbana bem como assegurar formas de garantir o direito à moradia, a Lei 10.257/2001, chamada de Estatuto da Cidade, fez surgir diversas formas de intervenção do Poder Público sobre o patrimônio particular bem como sobre as próprias cidades.
30
3.1.
PARÂMETROS
QUE
QUALIFICAM A INSERÇÃO URBANA
empreendimento com a sua localização, tendo
em
acessibilidade, Montaner (2011) defende o conceito de cidade como essencial para se obter a
vista
aspectos
presença
de
como serviços
urbanos e integração à malha urbana. O autor divide a escala em três parâmetros:
qualificação da habitação, diz que é um
Infraestrutura
conceito que se refere fundamentalmente
localização e acessibilidade, e fluidez
da capacidade de inserção do projeto de
e
serviços
urbanos,
urbana.
habitação de maneira a favorecer a estrutura urbana, tanto por novos usos
Para Santos e Jorge (2014), deve-
soluções
se associar os parâmetros arquitetônicos,
arquitetônicas relacionadas ao espaço
urbanísticos, ambientais, sociais, estéticos
público.
e perceptivos para a identificação dos
quanto
pela
preposição
de
critérios essenciais à qualidade do espaço Para Ferreira (2012), a inserção urbana é uma escala que relaciona o
urbano, para assim balizar os impactos gerados
através
da
implantação
empreendimentos habitacionais.
de
31
4. QUALIDADE DO PROJETO DA HABITAÇÃO SOCIAL
32
Em sua maioria, edifícios de apartamentos
comercialização do produto, para morar,
são caracterizados por uma repetição de
alugar ou investir. Ponto de vista esse que
modelos arquitetônicos, acompanhados de
tem influência do início do século XX, no
um
sem
desenvolvimento de uma nova sociedade
possibilidade de modificação. Diante da
com a busca de novas soluções para
necessidade da produção em escala, o
habitação coletiva devido aos problemas
desafio maior é qualificar a produção
do aumento demográfico descontrolado.
programa
engessado,
habitacional.
Para a autora, simplificar a habitação a um
“a produção do habitat coletivo permanece materializada através dos interesses mercadológicos promovidos pelos agentes do mercado imobiliário [...], ao multiplicar projetos que excluem a acomodação de processos, ignoram as necessidades divergentes dos moradores, manipulam a consciência coletiva e consolidam o espaço em formas definitivas e padronizadas” (JORGE, 2012, p. 23).
produto de comercialização é um equívoco, “que deve ser substituído por um conceito mais
nobre:
garantir
ao
indivíduo
oportunidades de escolha, ... atendendo além das exigências básicas cotidianas, a imprevisibilidade
de
fenômenos
e
necessidades que o acompanhará ao longo da vida” (JORGE, 2012, p. 43).
Para Jorge (2012), o homem passa por transformações ao longo da vida, e o espaço doméstico passa a ser um lugar para, além de atender as atividades comuns do cotidiano, as necessidades advindas
das
modificações
culturais,
tecnológicas, econômicas e sociais.
Sobre flexibilidade, Jorge (2012), cita que “a
justificativa
mais
recorrente
está
relacionada à transformação dos hábitos e preferências
individuais
da
sociedade
vigente, que acabam por influenciar o ambiente doméstico” (JORGE, 2012. p. 39). Ressalta ainda que, os conceitos de
A emergência de uma revisão dos padrões projetuais da habitação representa uma negação do triunfo da modernidade e uma resistência á sua continuidade deliberada. A flexibilidade representa uma negociação mais razoável das relações que envolvem o progresso social e o bem-estar da família, significa reintroduzir ao espaço habitacional a dimensão mais profunda da natureza humana, do prazer, da espontaneidade e da satisfação em habitar (JORGE, 2012, p. 40).
flexibilidade abordam definições como: adaptabilidade, participação, polivalência, multifuncionalidade,
elasticidade,
mobilidade, evolução e outros. Segundo a autora, esses conceitos podem ser traduzidos no desenho da habitação em momentos distintos do projeto, antes, durante ou após a sua ocupação, “muitos projetos, no entanto, ocupam uma posição
Jorge (2012), expõe o ponto de vista das
experimental, prototípica e até mesmo
construtoras e incorporadoras, que tem
acidental
como objetivo máximo relacionado aos
flexíveis” (JORGE, 2011. p. 40).
apartamentos residenciais, a garantia da
na
utilização
de
conceitos
33
Jorge (2012), diz que a flexibilidade não é
reflexões de habitação contemporânea
uma
citadas em seu livro.
novidade,
porém
por
ter
uma
aplicabilidade restrita, pontual e até mesmo inesperada na habitação contemporânea e também por ser pouco explorada pelas construtoras, o tema se configura em uma investigação inovadora.
Sobre o conceito de sociedade, Montaner (2011), diz que a adaptação da habitação com a diversidade de modelos familiares, e a evolução de cada um deles, se dá na necessidade de construir um ambiente
Para Montaner (2011), a habitação é o
doméstico
primeiro
e
espaços adequados que possibilitam a
representação espacial de diversos grupos
utilização para o trabalho produtivo e
familiares. E por isso, uma unidade
reprodutivo.
espaço
de
socialização
habitacional deve ser capaz de se adequar as diversas maneiras de se viver. Para a valorização integral de habitação coletiva contemporânea é necessário levar em consideração os diversos grupos familiares existentes, o autor diz ainda que em uma realidade em frequente mudança, deve-se pensar
em
novos
dispositivos
que
sem
hierarquia,
prevendo
No conceito de tecnologia, diz que a construção deve ser pensada desde o seu início a promover possibilidades, através das tecnologias consegue-se adequar sistemas construtivos que irão favorecer a flexibilidade arquitetônica, influenciando na funcionalidade,
habitabilidade,
acessibilidade e na satisfação do usuário.
ofereçam alternativas além das estratégias convencionais já conhecidas para cada tipo
Recursos, é um conceito que repassa
de família.
todas
“A casa deve ser projetada sob esta condição
de
pré-viabilidade
e
adaptabilidade, o que implica concebê-la não como um produto acabado, mas como um suporte capaz de ser melhorado”
as
reflexões
que
devem
ser
consideradas na habitação contemporânea em relação a eficiência energética e da eficiência dos dispositivos arquitetônicos necessários
para
alcançar
a
sustentabilidade da edificação.
(MONTANER, 2011. P. 53, tradução
Por fim, Montaner (2011), diz que a solução
nossa).
para inserir as diversidades necessárias nas
Montaner
(2011),
descreve
alguns
conceitos essenciais para qualificar a habitação contemporânea, dentre eles cita o conceito de sociedade, de tecnologia e de recursos como conceitos básicos utilizados como base analítica apoiado nas
tipologias
desenvolvimento
habitacionais de
é
o
mecanismos
de
flexibilidade. Para o autor, a primeira regra de flexibilidade é a existência de áreas com tamanhos apropriação
semelhantes, dos
para
espaços
que
possa
a ser
34
aproveitada por diferentes grupos de
propor ao cliente a opções de escolha. O
maneira coesa.
autor, porém, destaca que essa concepção
Outra regra inicial que ele destaca é a possibilidade
do
mobiliário
em
de flexibilidade é limitada.
ser
A flexibilidade propriamente dita, para o
distribuído em diversas maneiras em um
autor, é um critério geralmente usado em
mesmo espaço, pois acredita que o
escritórios,
cotidiano de cada um se reflete no espaço
industriais, “uma liberdade de reformular a
em que habita, formado pelas relações,
organização do espaço interno, definido
usos e mobiliários. Em meio ao cenário
rigidamente por
contemporâneo de utilização do espaço
(BRANDÃO,
doméstico para práticas remuneradas,
componentes básicos de um esquema
Montaner (2011), defende a importância de
flexível, segundo o autor são:
espaços para trabalho.
que apenas o fato do morador saber que há possibilidade de alterações e mudanças no layout, tem efeito positivo na satisfação. outros
conceitos
como
a
polivalência e adaptabilidade e outros elementos flexível.
importantes Para
na
Brandão
habitação (2002),
comerciais
e
um vedo perimetral” 2002,
p.120).
Os
1. divisórias internas não portantes e removíveis; 2. ausência de colunas ou, preferencialmente, grandes vãos entre elementos e vedos portantes; 3. instalações, tubulações e acessórios desvinculados da obra bruta, evitando embuti-los na alvenaria; 4. Marginalização da área úmida e das instalações de serviços em relação à seca; 5. localização das portas e das janelas de maneira a permitir mudança de posição sem comprometer as funções dos vedos portantes e dos vedos externos; 6. utilização de formas geométricas simples nos quartos; e, 7. a não utilização, na medida do possível, da locação central dos aparelhos de iluminação, além de outras restrições semelhantes.” (apud RABENECK, SHEPPARD e TOWN (1974).
Brandão (2002), diz sobre a flexibilidade
Aborda
edifícios
a
flexibilidade abrange vários termos que se diferem de países para países e de autores para autores. Com isso, ele divide o conceito flexibilidade em cinco grupos fundamentais: “a diversidade tipológica, a
Segundo Brandão (2002, p. 131), a
flexibilidade
adaptabilidade
propriamente
dita,
a
é
um
critério
que
adaptabilidade, e as possibilidades de
possibilita alternativas de uso mediante a
junção/desmembramento”
descaracterização funcional das peças de
(BRANDÃO,
uma edificação. “Uma unidade é projetada
2002, p.119).
sem que sejam pré-determinadas as A
diversidade
ser
condições de uso, deixando as decisões
entendida como uma forma de flexibilizar,
para os usuários. Neste esquema, a função
de maneira que possibilita a opção de
de um quarto é geralmente definida por
diferentes
meio
habitacionais
Tipológica
plantas em
de um
pode
unidades
de
equipamento
móvel.”
(apud
mesmo
ROSSO, 1980). Para o autor, outro
empreendimento, com a finalidade de
conceito a esse critério pode ser incluído, a
35
agregação
de
funções,
com o hall de circulação (apud ROSSO, 1980).
comumente
aplicado em casas populares, onde a cozinha é também sala de estar e de refeições.
Por fim, as possibilidades de junção e desmembramento, aborda o caso de
Essa agregação pode se dar no tempo quando desempenha funções diferentes em tempos distintos, ou no espaço, como no exemplo dado da casa popular, mas que também ocorre em outras faixas, verificando-se a agregação física da cozinha com a sala de estar, com a sala de jantar ou
juntar duas unidades habitacionais, sejam elas
vizinhas
ou
em
unidades
subsequentes, resultando em um duplex. E separação de uma unidade habitacional transformando-a em duas unidades.
36
5. MÉTODOS DE ANÁLISE
37
▪
O presente capítulo analisa os métodos de análise e avaliação da inserção urbana
A árvore de pontos de vista de Pedro (2000), e
▪
residencial e da qualidade espacial da habitação desenvolvidos por grupos de
os
parâmetros
de
análise
e
desenvolvimento de Lucini (2003).
pesquisa no Brasil e Portugal, que estudam habitação
social
na
metodologia
pesquisa.
A
partir
elaborado
o
método
desta
análise
utilizado
da
5.1. QUALIDADE URBANA
foi
DA
INSERÇÃO
nesta
pesquisa.
5.1.1. Escalas de análise e parâmetros de qualidade de Ferreira (2012)
Para a concepção do método de análise da
O autor apresenta três diferentes escalas,
qualidade
partindo da maior escala, para a menor,
da
inserção
urbana
foram
estudados: ▪
As
sendo a de maior escala a que abrange escalas
parâmetros
de de
análise
e
qualidade
de
aspectos relacionada
inserção
urbana
empreendimentos
menor
habitacionais.
assim a moradia de qualidade.
de
“A garantia da moradia de qualidade não está apenas na boa inserção urbana, tampouco na boa implantação, como também não depende somente de correta solução tipológica ou tecnológica isoladamente. A qualidade urbanística e arquitetônica está na boa relação entre as três escalas, em diálogo com o contexto socioespacial do qual o empreendimento faz parte.” (Ferreira, 2014, p. 63.
habitacionais
de Santos e Jorge (2014), e ▪
questões
a
escalas se inter-relacionarem, garantindo
Método de avaliação da qualidade da
a
e
Ferreira (2014), destaca a importância das
Ferreira (2012), ▪
urbanísticos,
Ferramentas de avaliação
de
Rolnik (2014). Para a concepção do método de análise da qualidade espacial da habitação foram estudados:
Tabela 1: Escalas de análise e parâmetros de qualidade de Ferreira (2012) ESCALAS DE ANÁLISE
PARÂMETROS DE QUALIDADE
INSERÇÃO URBANA: ESCALA QUE RELACIONA O
infraestrutura e serviços urbanos;
EMPREENDIMENTO À CIDADE E AO BAIRRO EM QUE
localização e acessibilidade;
ESTÁ INSERIDO, TENDO EM VISTA ASPECTOS COMO
fluidez urbana.
ACESSIBILIDADE, PRESENÇA DE SERVIÇOS URBANOS E INTEGRAÇÃO À MALHA URBANA;
38
IMPLANTAÇÃO: ESCALA QUE SE REFERE AO
adequação à topografia do terreno;
EMPREENDIMENTO, SUA RELAÇÃO COM O ENTORNO
paisagismo e impacto ambiental;
IMEDIATO (RUAS VIZINHAS), COM A FORMA DE
formas de ocupação do terreno;
OCUPAÇÃO DO TERRENO E A INTEGRAÇÃO ENTRE AS
áreas comuns e de lazer;
EDIFICAÇÕES, ÁREAS VERDES E LIVRES, ESPAÇOS DE
densidade e dimensão;
custo de construção;
conforto ambiental;
distribuição das unidades no pavimento tipo;
dimensionamento;
flexibilidade;
desempenho e eficiência;
sustentabilidade.
CONVIVÊNCIA E CIRCULAÇÃO;
UNIDADES HABITACIONAIS: REFERENTE ÀS CARACTERÍSTICAS DA EDIFICAÇÃO OU DA UNIDADE HABITACIONAL, TENDO EM VISTA SEU DIMENSIONAMENTO, FLEXIBILIDADE, CONFORTO AMBIENTAL, TÉCNICAS E MATERIAIS ADOTADOS, E SISTEMAS CONSTRUTIVOS UTILIZADOS.
Fonte: Ferreira (2012), adaptado pela autora.
5.1.2. Método de avaliação da qualidade da inserção urbana de empreendimentos habitacionais de Santos e Jorge (2014)
de Pedro (2002), a interação entre edifício
O método das autoras, foi desenvolvido a
século XXI de Fálagan, Montaner e Muxi,
partir de estudos de importantes autores da
(2011). (Santos e Jorge, 2014)
área
qualidade
A partir de estudos dos autores citados
pontuando
acima, Santos e Jorge (2014), elencaram
de
investigação
arquitetônica aspectos
da
residencial,
específicos
considerações do novo modo de habitar do
a
“critérios determinantes que influenciam na
empreendimento
capacidade de humanização e integração
habitacional analisado, principalmente a
do empreendimento à vizinhança ou vice-
análise que avalia a “vizinhança próxima”
versa.”
implantação
do
relacionados
e espaço urbano de Lucini (2003), e as
Tabela 2: Escalas de análise e parâmetros de qualidade da inserção urbana de empreendimentos habitacionais. 1. Adequação paisagística do empreendimento
Adequação da imagem e volumetria da habitação às
ao entorno.
qualidades e significados que, numa determinada cultura, lhe
Esteticidade e composição
estão habitualmente associadas (PEDRO, 2010) Relação de contiguidade dos empreendimentos e respeito às condições ambientais, sociais e territoriais. Deve-se evitar a
2. Contiguidade de empreendimentos
posicionamento ininterrupto de múltiplos empreendimentos e a associação de lotes e quadras sem a presença de novas vias de circulação. Capacidade de responder às necessidades habitacionais
3. Compromisso com o déficit habitacional e as
daquela coletividade onde o empreendimento se
necessidades locais
insere.Possibilidade de acesso à casa própria, por moradores de distintas classes sociais. Mescla de grupos sociais. Usos mistos nos edifícios: comerciais, produtivos, recreativos,
4. Inserção de atividades urbanas
educacionais. Conceito de edifício urbano multifuncional. Posicionamento sobre a calçada com acessos diretos.
39
Presença de muros perimetrais vazados ou transparentes, de 5. Perímetro amigável
forma a ampliar o campo de visão e inibir a sensação de clausura ou isolamento. Tratamento do muro. Relação equilibrada entre a quantidade de moradores e a área do terreno. Alta densidade qualificada – condição que
6. Densidade qualificada
vincula a presença de usos multifuncionais associados ao uso residencial, de forma a equalizar deslocamentos, ampliar a oferta de atividades comerciais e serviços. Integração do uso do solo ao sistema de transportes. Facilidade de deslocamento dos usuários entre espaços (viário, por transporte público, pedestre). (PEDRO, 2000).
7. Mobilidade e acessibilidade
Percurso convidativo, livre de obstáculos, ausência de passagens em nível. Segurança e conforto ao longo do deslocamento. Capacidade de aproveitamento da situação urbana a partir da possibilidade de realizar o máximo de atividades cotidianas
8. Valores de proximidade
em curtas distâncias, com valorização do pedestre e plenitude de funções urbanas essenciais ao dia a dia. Proximidade de espaços livres de uso público em condições
9. Presença de espaços públicos qualificados
convidativas de uso, conciliando lazer passivo, ativo, esporte, lazer e entretenimento.
10. Relação entre implantação e conforto
Posicionamento correto de todos os blocos do
ambiental
empreendimento quanto à orientação solar e fluxos de ventos. Inibição de ruídos, entorno arborizado. Gestão do lixo domiciliar sem perturbações ao meio urbano.
11. Gestão de resíduos
Disposição em contenedores, coleta seletiva. Ausência de odores e sujeira na entrada do empreendimento. Calçadas desobstruídas. Deve-se evitar o consumo de grandes porções livres do
12. Equilíbrio entre áreas livres e
terreno para estacionamento, bem como a impermeabilização
estacionamento
excessiva ao nível térreo.
Fonte: Santos e Jorge, (2014).
5.1.3. Ferramenta de avaliação inserção urbana de Rolnik (2014)
de
torna relevante para a presente análise. (Rolnik, 2014)
A ferramenta de avaliação de Inserção Urbana coordenada pela Raquel Rolnik, foi
Criada para ser utilizada pelas equipes
desenvolvida
para
avaliar
técnicas de aprovação de projetos nas
empreendimentos
habitacionais
do
Prefeituras e por técnicos encarregados
PMCMV especificamente faixa 1, do ponto
pela aprovação dos empreendimentos na
de vista urbanístico antes de serem
Caixa Econômica e Ministério das Cidades,
aprovados e construídos com o objetivo de
a ferramenta possui uma estrutura dividida
oferecer parâmetros para a avaliação da
em três temas: 1- Transporte, 2- Oferta de
localização, integração com o entorno e
Equipamentos, comércio e serviços, e 3-
desenho urbano, o que de imediato se
Desenho e integração urbana. Cada um
40
desses indicadores estabelece parâmetros
possibilidade de se alcançar um padrão
mínimos de qualidade que após análises
urbanístico bom e adequado, visto que
recebem uma qualificação, descrita como:
todo o indicador possui uma descrição
bom, aceitável ou insuficiente, dando a
clara e objetiva.
Tabela 3: Critério de estabelecimento do potencial construtivo adotado.
Fonte: Rolnik (2014), adaptado pela autora.
Cada indicador demonstrado na tabela acima possui as seguintes descrições: O objetivo, indicando o que será avaliado; o parâmetro, que indica de que forma se dá
5.2. QUALIDADE HABITAÇÃO
ESPACIAL
DA
5.2.1. A árvore de pontos de vista de Pedro (2000)
a avaliação, a partir de quê ou de algo; o
O
detalhamento, que nada mais é do que a
avaliação do autor, teve início com a
explicação do método utilizado como
identificação de objetivos associados ao
parâmetro; o como medir?, que indica o
conceito
que deve ser coletado para a avaliação; o
habitacional. O autor, estabelece um
resultado, que é a qualificação de bom,
conjunto
aceitável e insuficiente, o como melhorar,
parâmetros que permitem determinar em
indicando
ser
que grau são satisfeitas as exigências de
tomadas para mudar a qualificação; todo
qualidade arquitetônica de uma habitação,
indicador possui uma base de dados.
edifício ou vizinhança próxima.
medidas
que
possam
desenvolvimento
de
de
do
qualidade
método
de
arquitetônica
procedimentos
e
de
41
O que se destaca na avaliação de Pedro
da apresentação de seu método. Cada
(2000) e tem fator fundamental para o
indicador de qualidade é apresentado sob
presente trabalho é árvore de ponto de
a forma de ficha, organizada conforme a
vista da habitação (tabela 4) e a descrição
tabela 5.
Tabela 4: Indicadores de qualidade arquitetônica relacionados à habitação Conforto Acústico
Conforto Acústico Orientação Solar Iluminação Natural
Conforto Ambiental
Conforto Visual
Obscurecimento Abertura Visual Controle Visual
Segurança
Qualidade do ar
Qualidade do ar
Segurança no uso normal
Segurança no uso normal
Segurança contra incêndio
Segurança contra incêndio
Segurança contra a intrusão
Segurança contra a intrusão Programa de espaços
Capacidade
Programa de equipamentos Extensão de paredes mobiláveis
Adequação espaçofuncional
Área útil Espacialidade
Dimensão útil Pé-direito
Funcionalidade
Funcionalidade Privacidade relativamente ao exterior
Privacidade Privacidade entre compartimentos Articulação
Relações entre espaços Acessibilidade
Habitações com mais do que um piso Utentes condicionados de mobilidade
Apropriação Personalização
Apropriação Adaptabilidade do perímetro da habitação
Adaptabilidade Adaptabilidade entre compartimentos
Fonte: Pedro (2000). Tabela 5: Organização da apresentação 1) Identificação do indicador e sua posição na árvore de pontos de vista (nível físico, grupo de qualidades, qualidade e indicador). 2) Objetivo – descrição resumida do objetivo que o indicador avalia. 3) Elementos de avaliação – lista de características ou elementos que permitem avaliar o grau de satisfação do indicador, seguida pela interpretação de conceitos utilizados. 4) Critério de avaliação – função de transformação que permite determinar o grau de satisfação do indicador (apresentada sob a forma de um gráfico), definida com base nas respostas de referência e ponderações de cada elemento de avaliação
42
(apresentadas num quadro). Salienta-se que as funções de transformação apresentadas para cada indicador só são aplicáveis se forem respondidos todos os elementos de avaliação que o constituem. 5) Observações – considerações sobre a aplicação do indicador e justificação da escolha dos elementos de avaliação utilizados. 6) Exemplo – aplicação do indicador a um caso concreto, apresentando-se um quadro com as respostas obtidas para cada elemento de avaliação, os cálculos que permitiram obter o valor de desempenho do indicador, e um esquema gráfico que ilustra a solução.
Fonte: Pedro (2000), adaptado pela autora.
5.2.2. os parâmetros de análise e desenvolvimento de Lucini (2003)
Exigências econômicas do conjunto e
Para o autor, a habitação de interesse
diretos e indiretos, seja da construção das
social
o
edificações como na implantação urbana.
de
Relaciona o máximo aproveitamento de
variáveis que qualificam a habitação e a
recursos, como por exemplo a adaptação à
inserção urbana, a viabilidade econômica e
morfologia do terreno.
deveria
tratamento
ter
integral
como de
objetivo conjunto
dos edifícios: Referem-se aos custos
produtiva e a estética urbano-arquitetônica. Para isso, Lucini (2003) elabora um conjunto de parâmetros divididos em cinco
Exigências de racionalidade produtiva: Referente as características morfológicas e construtivas dos edifícios que interferem no
itens gerais, são eles:
processo produtivo. Exigências de Implantação do Conjunto: relaciona
a
inserção
urbana
do
empreendimento, analisando o entorno, infraestrutura,
atividades
urbanas,
acessos, qualidade ambiental etc. Exigências adaptação
de
Habitabilidade
funcional
–
e
ambiental:
Referem-se as condições básicas do espaço
habitável,
a
funcionalidade,
adaptabilidade, insolação etc. Exigências
Construtivas:
Fatores
básicos essenciais para o funcionamento dos edifícios, garantindo a funcionalidade, durabilidade e condição adaptativa no tempo. Como por exemplo, as instalações, circulação vertical, coberturas, fachadas e aberturas externas.
O autor explica todos os itens e descreve as variáveis necessárias para a avaliação de cada exigência.
43
5.3. DESTAQUE ANALISADOS
DOS
MÉTODOS
TEMAS E PARÂMETROS AUTORES QUALIDADE DA INSERÇÃO URBANA
Através dos métodos e autores analisados, observa-se em alguns casos a repetição de temas,
conforme
tabela
6,
onde
é
compilado os critérios/ temas utilizados pelos autores como parâmetros de análise da inserção urbana e na qualidade espacial da habitação que serviram como norte na criação do método de análise demonstrado no próximo capítulo.
Tabela 6: Tabela síntese de métodos de análise
Infra estrutura e serviços urbanos, localização, acessibilidade, adequação à topografia do terreno, paisagismo e impacto ambiental.
Ferreira (2012)
Inserção de atividades urbanas, Perímetro amigável, Mobilidade e acessibilidade, Valores de proximidade, Presença de espaços públicos qualificados, Relação entre implantação e conforto ambiental.
Santos e Jorge (2014)
Transporte, oferta de equipamentos e serviços públicos e desenho e integração urbana.
Rolnik (2014)
QUALIDADE ESPACIAL DA HABITAÇÃO Orientação solar, iluminação natural, espacialidade, funcionalidade, privacidade, acessibilidade, adaptabilidade.
Pedro (2000)
Funcionalidade, adaptabilidade, insolação.
Lucini (2003)
Fonte: Produção da autora, 2019.
44
6. DEFINIÇÃO DO MÉTODO DE AVALIAÇÃO E ESCOLHA DOS EMPRENDIMENTOS
45
Para a análise da qualidade da inserção
1) Inserção Urbana: Escala que
urbana dos empreendimentos, será criada
qualifica o entorno do edifício.
uma
três
Nessa escala, a análise foi feita
métodos descritos acima, tendo como
através de dados coletados pelo
princípio as duas primeiras escalas de
Google Maps através do Street
análise
(2012):
View, onde os critérios foram
inserção urbana e implantação; alguns
identificados através de imagens
critérios indicados por Santos e Jorge
capturadas online. Também foram
(2014), principalmente os voltados para
utilizadas imagens de localização
acessibilidade,
encontradas
metodologia
descrita
baseada
por
nos
Ferreira
conforto
e
perímetro,
descritos de forma didática dividido por temas, conforme a ferramenta de avaliação de Rolnik (2014).
habitação, a metodologia será baseada na árvore de ponto de vista de Pedro (2000), utilizando como referência a ficha de organização dos parâmetros para melhor entendimento e visualização da análise. Também será utilizada como referência o utilizado
abrangendo
as
por
Lucini
diferentes
(2003),
exigências
adequando-as aos itens propostos.
2) O Edifício: Escala que qualifica
sua implantação e a forma do edifício. Foram
utilizadas
implantação
dos
6.1. MÉTODO DE ANÁLISE DA QUALIDADE DA HABITAÇÃO SOCIAL MULTIFAMILIAR NO BRASIL mencionado
nos
capítulos
imagens
da
edifícios,
de
forma a identificar os acessos e diagramas
identificando
a
setorização dos pavimentos dos edifícios e a destinação dos espaços.
Nessa
necessário
a
escala,
foi
identificação
de
arquitetônicas
relacionadas
já
dos
escritórios.
soluções
Como
sites
as características relacionadas a
Para a análise da qualidade espacial da
método
nos
a
sua
forma
e
função. 3) As
Unidades
habitacionais:
Escala que qualifica as unidades habitacionais
dos
edifícios
anteriores, para uma avaliação qualitativa
analisados.
da habitação, faz-se necessário avaliar
Nessa
também a sua inserção urbana.
analisar as plantas baixas das
Com base nos conceitos e métodos estudados ao longo da pesquisa, o método de análise criado será apresentado na forma de três diferentes escalas.
escala
foi
necessário
unidades habitacionais, de forma a identificar as áreas úmidas, os cômodos e a sua setorização, para melhor entendimento da funcionalidade e da capacidade
46
de adequação do programa de
análise será feita em plantas baixas, e
necessidades
perspectivas, através de dados coletados
aos
espaços
destinados a cada setor.
Bem
na
página
web
dos
como informações relacionadas
empreendimentos/escritórios,
as aberturas, orientação solar,
sites de arquitetura e artigos e publicações
dispositivos de armazenamento
dos empreendimentos realizada por outros
ou outra característica singular
autores. Cada empreendimento analisado
encontrada durante a análise.
terá como resultado uma tabela (tabela 7)
Cada escala de análise possui parâmetros qualificadores
baseados
nos
critérios
apresentados pelos autores (tabela 7). A
revistas,
para melhor visualização dos dados, onde é demarcado os parâmetros encontrados em cada escala de análise.
Tabela 7: Escala de análise e seus parâmetros
1) INSERÇÃO URBANA - RAIO DE 500M SEGUNDO GEHL (2013)
Infraestrutura: Empreendimentos que possuem abastecimentos de água, coleta e tratamento de esgotos, iluminação pública, energia elétrica, pavimentação, coleta de lixo e drenagem adequada das águas pluviais. Serviços urbanos: Empreendimentos habitacionais próximos a pontos de comércio, serviços básicos e equipamentos educacionais, de saúde, cultura e lazer. Mobilidade e acessibilidade: Os passeios que permitem o percurso seguro e acessível de pedestres, calçadas largas com ausência de barreiras e quando existente que possa ser identificada através da sinalização adequada. Região abastecida com sistema de transporte público e pontos de ônibus próximos aos empreendimentos e existência de ciclovia
INFRAESTRUTURA
SERVIÇOS URBANOS MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
TRATAMENTO DE ESGOTO
PAVIMENTAÇÃO
COLETA DE LIXO
DRENAGEM PLUVIAL
ILUMINAÇÃO PÚBLICA
COMÉRCIO
EQUIP.EDUCACIONAL
CULTURA E LAZER
EQUIPAMENTO DE SAÚDE
PASSEIO SEGURO CICLOVIA TRANSPORTE PÚBLICO
47
2) O EDIFÍCIO Implantação e conforto ambiental: implantação dos empreendimentos habitacionais distante a fontes de odores, ruídos e poluição em excesso; Possibilidade de visualização de paisagens, pontos turísticos e cartões postais; Posição do edifício considerando a orientação solar e perímetro arborizado. Fluidez urbana: Muros e fechamentos que proporcionam permeabilidade visual e física, contribuindo para a segurança
dos
moradores
e
transeuntes.
AMBIENTE ACÚSTICO AGRADÁVEL
ACESSO PARA PEDESTRES
VISUAIS INTERESSANTES
PERÍMETRO ARBORIZADO
FLUIDEZ URBANA
PERMEABILIDADE VISUAL
GERAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS
USOS
RESIDENCIAL
MISTO
IMPLANTAÇÃO E CONFORTO AMBIENTAL
Usos: Identificação do uso do empreendimento seja ele misto, residencial, comercial ou serviço.
3) AS UNIDADES HABITACIONAIS Flexibilidade: Possibilidade de alteração de uso e expansão sem haver comprometimento da estrutura, ou seja, a reformulação a organização do espaço interno de maneira livre, destacando técnicas rápidas e de fácil conversão ou transformação com promoção de economia. Adaptabilidade: Reformulação dos ambientes sem que haja
SISTEMAS FLEXÍVEIS
necessidade de reformas complexas, possibilitando mudanças com mais facilidade, utilizando dispositivos móveis, divisórias
FLEXIBILIDADE
POSSIBILIDADE DE EXPANSÃO
móveis, portas, armários e outros elementos. Acessibilidade: Além da NBR 9050, a reserva de unidade
DIVERSIDADE TIPOLÓGICA
ADAPTABILIDADE
JUNÇÃO DE CÔMODOS ALTERNATIVAS DE USO
habitacional acessível. Conforto:
Adequada
utilização
de
estratégias
de
ACESSIBILIDADE
condicionamento térmico, bem como a disposição dos
DISPOSITIVO DE PROTEÇÃO SOLAR
cômodos de acordo com a orientação solar, adoção de dispositivos eficientes para proteção solar e adequado
CONFORTO
dimensionamento de áreas e aberturas para promover uma boa
PRIVACIDADE
Funcionalidade: Posição adequada dos ambientes de maneira
FUNCIONALIDADE
atividades a serem realizadas em cada setor (íntimo, social e
CIRCULAÇÃO PERMANÊNCIA NO ANDAR VARANDA
de serviço); Locais de permanência no andar promovendo
SISTEMAS ESTRUTURAIS PRÉ-MOLDADOS
maior interação entre vizinhos e varandas; Tecnologia e Sustentabilidade: Relacionada aos sistemas
VENTILAÇÃO CRUZADA ORIENTAÇAO SOLAR ADEQUADA
iluminação natural e ventilação cruzada;
a colaborar com a privacidade e circulação, bem como nas
UNIDADE HABITACIONAL ACESSÍVEL
TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE
estruturais, as instalações e elementos construtivos, para assim chegar a uma concepção de desenho onde esses sistemas não
REUSO DE ÁGUA ENERGIA SOLAR MATERIAIS SUSTENTÁVEIS
venham a ser obstáculos para as futuras transformações que podem ser desde a modificação de espaços internos, até mesmo o acréscimo de um setor (Montaner, 2011); Soluções para conservação de recursos e com menores impactos ambientais em todas as fases da produção da habitação. Sistemas sustentáveis, reuso de água e energia solar. Fonte: produção da autora, 2019
48
urbanos, e pelo fato de ter diversos programas
6.2. EDIFÍCIOS SELECIONADOS Para o método proposto de análise das
habitacionais em desenvolvimento.
unidades foi feito a coleta de dados de
São Paulo é citado anteriormente na presente
empreendimentos habitacionais caracterizados
pesquisa como um dos principais locais de
como habitação social, construídos a partir dos
início da urbanização no país, motivo que
anos
de
elevou a escolha de empreendimentos nessa
arquitetura e urbanismo, observando o nível de
região. O fator determinante para a escolha
informação e dados disponíveis para futura
dos três edifícios (tabela 8) é que ambos foram
análise
no
soluções voltadas para algumas das grandes
subcapítulo anterior. Os empreendimentos
favelas da região de São Paulo, ou seja,
publicados nas revistas em sua maioria são
habitações destinadas a classe baixa da
localizados na cidade de São Paulo, o que pode
população.
2000,
publicados
conforme
o
em
método
revistas
descrito
ter relação com o fato de que há uma maior produção habitacional nos grandes centros Tabela 8: Tabela de edifícios selecionados para análise EDIFÍCIO
CONJUNTO HABITACIONAL JARDIM EDITE
ESCRITÓRIO
LOCALIZAÇÃO
MMBB Brooklin Novo, ARQUITETOS + SP H+F ARQUITETOS
ANO
2010 - 2013
PUBLICAÇÃO EM REVISTAS
PRÊMIAÇÃO Projeto selecionado para representação brasileira na IX BIAU. Rosario, Argentina, Projeto 2014. Design Projeto premiado pela APCA Edição 2013 na categoria de 401 Arquitetura. São Paulo, SP, 2013.
CONJUNTO HABITACIONAL HELIÓPOLIS GLEBA G
BISELLI KATCHBORIAN ARQUITETOS
Heliópolis, SP
2011 - 2014
_
_
RESIDENCIAL CORRUÍRAS
BOLDARINI ARQUITETURA E URBANISMO
Jabaquara, SP
2008-2010
"O Melhor da Arquitetura" Finalista - 2013
_
Fonte: produção da autora, 2019.
Arquitetura e Urbanismo Edição 231 Junho/2013
Revista Vitruvius 152.04 ano 13, ago. 2013
Arquitetura e Urbanismo Edição 244 Julho/2014
Revista Vitruvius 172.01 Habitação de Interesse Social ano 15, abr. 2015
Arquitetura e Revista Vitruvius Urbanismo 181.01ano 16, Edição 236 jan. 2016 Novembro/2013
49
7.
ANÁLISES
50
7.1. CONJUNTO HABITACIONAL DO JARDIM EDITE PROJETO SELECIONADO PARA REPRESENTAÇÃO BRASILEIRA NA IX BIAU. ROSARIO, ARGENTINA, 2014. PROJETO PREMIADO PELA APCA 2013 NA CATEGORIA DE ARQUITETURA. SÃO PAULO, SP, 2013.
FICHA TÉCNICA: Localização: São Paulo SP, 2010 / 2013 Área construída: 25,714 m² Cliente: SEHAB, Prefeitura de São Paulo, SP Arquitetura: MMBB & H+ F - Marta Moreira, Milton Braga e Fernando de Mello Franco Eduardo Ferroni e Pablo Hereñú Colaboradores MMBB: Eduardo Martini, Marina Sabino, Giovanni Meirelles, Cecilia Góes, Gleuson Pinheiro Silva, Adriano Bergemann, Figura 3: Conjunto Habitacional Jardim Edith
André R. Costa, Maria João Figueiredo, Naná Rocha, Tiago Girao, Guilherme Pianca, Gisele Mendonça, Eduardo Pompeo, Rafael Monteiro e Lucas Vieira. Colaboradores H+F: Tammy Almeida, Joel Bages, Natália Tanaka, Diogo Pereira, Gabriel Rocchetti, Thiago Benucci, Mariana Puglisi, Luca
Fonte: MMBB Arquitetos Associados. Disponível em: <http://www.mmbb.com.br/projects/fullscreen/74/1/1855> Acesso em abril, 2019.
Mirandola, Thiago Moretti, Bruno Nicoliello, Renan Kadomoto.
51
O Conjunto Jardim Edith está localizado
Funchal, Brooklin Novo, Brooklin Paulista,
em um dos endereços mais valorizados da
Vila
cidade de São Paulo: o bairro do Brooklin
Uberabinha,
Novo, originalmente chamado de Brooklin
Edith (LACERDA JR, p. 25, 2016).
Paulista que após grande crescimento foi separado em Brooklin Velho (distrito de Campo Belo) e Brooklin Novo (distrito do Itaim Bibi).
Cordeiro,
Vila
Cidade
Gertrudes, Monções,
Vila
Jardim
Jardim Edite é um conjunto habitacional projetado pelo MMBB arquitetos e H+F arquitetos, ambos escritórios de arquitetura contratados pela Secretaria Municipal de
As nomenclaturas: Velho e Novo fazem
Habitação (Sehab) da prefeitura de São
parte
de duas subprefeituras, que são:
Paulo para ocupar o lugar da favela Jardim
subprefeitura de Santo Amaro - distrito de
Edite (figura 5), situada em área nobre da
Campo Belo, que compreende a porção
Zona Sul da capital, local de grande
entre
e
importância para o crescimento financeiro
Washington Luís e a área que segue em
e de serviços, no cruzamento das avenidas
direção à margem do Rio Pinheiros, e à
Engenheiro Luís Carlos Berrini e Jornalista
subprefeitura de Pinheiros – distrito do
Roberto Marinho, junto à ponte estaiada,
Itaim Bibi, sendo definido pelos seguintes
cartão postal da cidade.
as
Avenidas
Santo
Amaro
bairros: Chácara Itaim, Vila Olímpia, Vila Figura 4: Favela Jardim Edite em 2008
Fonte: Daniela Schneider, disponível em: <https://www.danielaschneider.com.br/portfolio/favela-jardim-edite/7> Acesso em abril, 2019.
foram desapropriadas em 2005. Dois anos Em virtude da obra viária vinculada à construção da ponte estaiada, 199 famílias
se passaram e em 2007, a prefeitura
52
anuncia o fim da favela, que após um
que terminasse a obra de outro conjunto
incêndio de grandes proporções mais de
residencial.
700 famílias residentes são retiradas da favela. (PORTAL VITRUVIUS, 2013).
As famílias restantes foram beneficiadas com a construção de novas unidades
Um convênio da Sehab com a Caixa
habitacionais na área da extinta favela,
Econômica Federal e a Companhia de
determinada por uma ação judicial movida
Desenvolvimento Habitacional e Urbano do
por eles mesmos em 2008.
Estado de São Paulo (CDHU) desenhou o mapa de distribuição da população que fora
desapropriada
pela
cidade,
244
famílias preferiram receber uma ajuda de custo no valor de 5 mil reais, e partiram; 130 decidiram comprar um imóvel popular; uma família escolheu a obtenção de carta de crédito; 118 famílias se mudaram para empreendimentos da CDHU; 54 preferiram morar de aluguel, pago pela prefeitura, até
A
equipe
iniciou
então,
o
projeto
contemplando a criação de 240 unidades (número que depois subiu para 252) e três equipamentos públicos: uma creche, uma unidade de saúde e um restaurante-escola (demanda dos moradores).
53 Tabela 9: Análise da Inserção Urbana do Jardim Edith.
A INSERÇÃO URBANA
Situação
PONTE ESTAIADA
PRAÇA ARLINDO ROSSI
CONJUNTO HABITACIONAL JARDIM EDITH
HOSPITAL PREMIER
Imagem 1 - Fonte: MMBB Arquitetos, acesso em 2019.
O Conjunto Residencial Jardim Edith está localizado na Zona Sul da cidade de São Paulo. O terreno de aproximadamente 19 mil metros quadrados possui em seu perímetro ruas com características bem distintas, a principal avenida, a Berrini, responsável pelo desenvolvimento do bairro e pela concentração de edifícios ocupados por escritórios coorporativos, em sua maioria do setor terciário, possui um fluxo viário intenso - o Figura 1 - Fonte: Google Maps, adaptado pela autora. acesso em 2019. que causa ruído -, as ruas Charles Coloumb, George Ohm e Araçaíba possuem fluxo menos intenso, assim como a Praça Localização Arlindo Rossi (imagem 2). No desenvolvimento do projeto a praça foi considerada como uma extensão para o lazer dos futuros moradores do conjunto. Como proposta foi feito prolongamento da Rua George Ohm até a Av. Jornalista Roberto Marinho, que dividiu o antigo terreno em duas quadras. (LACERDA JR, p. 25, 2016). Através de imagens obtidas pelo “street view”, conseguese observar que as ruas são urbanizadas e arborizadas. Em meio a centros comerciais e casas de classe média é possível enxergar nas imagens que a região possui iluminação pública, drenagem de águas pluviais e pavimentação (imagem 4). Não foi encontrado nenhum dado informativo sobre o tratamento de esgoto, coleta de lixo e abastecimento de água, porém vale ressaltar a característica do bairro que tem tudo o que o morador precisa, farmácias, hospitais, agências bancárias, restaurantes de qualidade, academias, supermercados e Imagem 2 - Fonte: H+F Arquitetos - Adaptado pela autora. padarias. Um dos bairros mais valorizados na cidade de São CONJUNTO RESIDENCIAL JARDIM EDITH Paulo segundo aponta Braga (2015) “O Brooklin, durante os Imagem 4 - Iluminação pública, boca de lobo e tampa de bueiro na Rua Charles Coulomb. Adaptado pela autora - Fonte: Google Maps, anos, passou por diversas obras e hoje se consolida como uma acesso em 2019. área privilegiada na cidade”, conclui-se que o bairro possui Imagens: em sua totalidade as infraestruturas destacadas na análise. O bairro abriga a estação Berrini da Linha 9 da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e recebe inúmeras linhas de ônibus inclusive intermunicipal que liga a região até Diadema. O Brooklin oferece fácil acesso à Marginal Pinheiros, aos bairros Morumbi e Itaim Bib e ao Aeroporto de Congonhas, que está a apenas 10 minutos do local. As Avenidas Santo Amaro, Jornalista Roberto Marinho e Bandeirantes cortam o bairro, sendo as principais vias de locomoção (BRAGA C, 2015). Nas imagens obtidas pelo google maps observamos a existência de ciclovias e pontos de ônibus (imagem 5). As Imagem 5 - Ciclovia e pontos de ônibus na Av. Berrini - Fonte: Google Imagem 3 - Fonte: MMBB Arquitetos, acesso em 2019. calçadas são largas, uniformes e possuem pavimentação Maps, acesso em 2019. (imagem 6), porém em alguns pontos comerciais são encontradas barreiras (imagem 7) que interrompem o passeio seguro para pedestres. Nas ruas há sinalização e faixas para pedestres. Fonte: Produção da autora, 2019.
Imagem 6 - Passeio pavimentado, seguro e arborizado na Rua Castilho. Adaptado pela autora - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Imagem 7 - Calçada na Rua James Watt, onde o passeio é interrompido por mesas de um Bar Restaurante. - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Tabela de Resultados:
Tabela 1 - Resultado análise de Inserção Urbana - Fonte: Elaborada pela autora.
54 Tabela 10: Análise do Edifício Jardim Edith.
O EDIFÍCIO
Imagens:
Implantação
Imagem 8 - Fonte: H+F Arquitetos, acesso em 2019.
O conjunto Jardim Edith é uma articulação de um programa de moradia vertical com a adição de equipamentos públicos para garantir a integração do conjunto de habitação social a sua rica vizinhança. Além de edifício residencial, o conjunto contempla três equipamentos públicos, um restauranteescola, uma creche e uma unidade básica de saúde, orientados tanto para a comunidade moradora como para o público das grandes empresas próximas, inserindo o conjunto na economia e no cotidiano da região (BARROS C, 2019). O projeto possui uma área total construída de 25.500 m², com 252 Unidades Habitacionais de 50 m². O Restaurante Escola tem 850 m², a Unidade Básica de Saúde, 1300 m², e a Creche, 1400 m². O conjunto organiza-se em duas quadras urbanas conformadas pelo prolongamento das ruas existentes. Na primeira quadra, os apartamentos distribuem-se em duas torres de 17 andares e um edifício baixo sobreposto aos equipamentos públicos (Unidade Básica de Saúde e Restaurante), utilizando a cobertura dos equipamentos para abrigar os espaços condominiais das habitações. A segunda quadra abriga a terceira torre e um edifício habitacional baixo articulado com a creche, que se organiza em dois pavimentos implantada em frente à esquina com a praça Arlindo Rossi. O posicionamento dos edifícios e o programa proposto garantem uma boa relação com o entorno. A partir das torres a vista (imagem 8) da ponte estaiada é privilegiada. A calçada larga garante um passeio estabelecendo uma espécie de controle social dessas áreas promovendo a segurança e a vitalidade. Sem áreas residuais, não possui recuos laterais, de fundo e de frente, que ficam entre a grade e o prédio, característica comum na habitação social. Essas áreas foram incorporadas ao passeio público, o que resulta em calçadas largas, dotadas de vagas de estacionamento (imagem 9). De uso comum, elas passaram a ser responsabilidade do poder público, que assume a manutenção da qualidade urbana do local. Com o uso público do térreo os edifícios naturalmente se abrem para a cidade (BARROS C, 2019). Os acessos, para as unidades habitacionais, ocorrem pela via interna, bem como as entradas dos demais equipamentos (figura 2). Os edifícios das unidades habitacionais possuem entradas independentes para não influenciar no funcionamento dos equipamentos públicos. No térreo, grades desempenham o papel de separar o espaço público do privado (imagem 10) sem perder a permeabilidade visual. O perímetro possui algumas árvores (imagem 11) com copas grandes e algumas ainda em fase de crescimento..
Imagem 9 - Fonte: H+F Arquitetos, acesso em 2019.
Figura 2 - Implantação - Fonte: H+F Arquitetos - Adaptado pela autora. ACESSO AS UNIDADES HABITACIONAIS
ACESSO AOS EQUIPAMENTOS PÚBLICOS
Plantas baixas
Diagrama de Usos
SETORIZAÇÃO TÉRREO
QUADRA 01
QUADRA 01
QUADRA 02
SETORIZAÇÃO PAVIMENTO CONDOMINIAL
QUADRA 02
Imagem 10 - Fonte: H+F Arquitetos, acesso em 2019.
SETORIZAÇÃO PAVIMENTO TIPO
Figura 4 - Fonte: H+F Arquitetos - Adaptado pela autora. Figura 3 - Fonte: MMBB Arquitetos - Adaptado pela autora.
Tabela de Resultados:
Imagem ? - Fonte: Google Maps, 2019. ACESSO UNIDADES HABITACIONAIS
ÁREA CONDOMINIAL
JARDIM
CRECHE DE ENSINO INFANTIL
RESTAURANTE ESCOLA
TORRES HABITACIONAIS
UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE
LÂMINAS HABITACIONAIS
Tabela 2 - Resultado análise do edifício, elaborado pela autora. Imagem 11 - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Fonte: Produção da autora, 2019.
55 Tabela 11: Análise das Unidades Habitacionais do Residencial Jardim Edith
AS UNIDADES HABITACIONAIS As unidades habitacionais do Jardim Edite somam-se em 252, sendo 3 torres de 17 pavimentos e duas lâminas com dois blocos de 4 andares, sendo o último duplex. As torres de 17 pavimentos são localizadas na transversal em relação a tomada da ponte estaiada, evitando assim que a maior fachada ficasse perpendicular a fonte de ruído. As lâminas com dois blocos de 4 andares não possuem elevadores, atendem as famílias com menos recursos pois oferecem condomínios mais baixos. Todas as torres possuem as mesmas características a partir do segundo pavimento, porém existem variações no pavimento térreo e condominial. A implantação das torres acontece paralelamente e possui orientações leste e oeste, também possuem conexão direta com a rua. No térreo estão os acessos ao hall dos elevadores, escada enclausurada, bicicletário, depósito de lixo e acesso a caixa d’água no subsolo. A Torre 1 e 2 dividem a área do térreo com equipamentos públicos: restaurante-escola e Unidade Básica de Saúde, respectivamente. A Torre 3 é a única que não divide a área do pavimento térreo com equipamentos públicos, porém, a lixeira da Lâmina 2, encontra-se na parte posterior, na lateral direita desta torre. O pavimento condominial das torres integra os espaços de convivência dos moradores das torres e da lâmina. Na Torre 1, está localizado o salão de festas e na Torre 2 a sala de estudos, essa conexão se dá pelo nível condominial da lâmina, ou seja, mesmo com os acessos distintos pelo térreo existe a comunicação entre eles por este pavimento, proposto pelos arquitetos. (LACERDA JR, p.77, 2016). O pavimento tipo das torres (figura 5) possuem características semelhantes. A orientação solar é leste e oeste, porém, nas Torres 1 e 2 a circulação horizontal está voltada a leste e as unidades habitacionais a oeste, e na Torre 3 a circulação horizontal está voltada a oeste e as unidades habitacionais a leste. Cada pavimento tipo é definida pela composição de quatro unidades habitacionais, sendo projetadas duas Tipologias espelhadas, dentre elas, uma é variada, a unidade acessível. (LACERDA JR, p. 79, 2016). A vedação da área de circulação das torres é feita com elementos de cheios e vazios, que proporcionam a ventilação e iluminação natural (imagem 12) para as unidades habitacionais que estão voltadas para a circulação (figura 5). O gradil aplicado nas fachadas (imagem 13) proporciona dinamismo e movimento, configurando a identidade do conjunto Jardim Edith, sendo de fácil reconhecimento e se tornando uma referência. As edificações foram construídas em estrutura moldada in loco mais alvenaria convencional. Uma viga invertida, é utilizada como banco e o armário, que proporciona um volume na fachada, proporcionando ritmo e movimento (figura 6). A entrada da lâmina 1 se encontra entre dois equipamentos públicos, o restaurante escola e a unidade básica de saúde, o acesso leva ao pavimento condominial, e é a partir dele que se encontram cinco escadas que dão acesso as unidades habitacionais.
A entrada da lâmina 2 se dá para um pátio descoberto onde possui jardins e áreas gramadas para lazer. Para ter acesso ao pavimento condominial dessa lâmina, é necessário atravessa-lo. O Pavimento Tipo da Lâmina 1 acontece pela disposição das tipologias refletidas, conectadas pelas escadas, que dá acesso a duas unidades por andar (figura 7). O arranjo da escada em “U”, permite a centralização da porta além de uma área de permanência maior utilizado pelo morador como convivência. Na Lâmina 2, a escada em formato linear e os shafts encontram-se paralelos em paredes opostas e o acesso as unidades ficam a frente. As duas tipologias das unidades habitacionais das torres possui área útil de 45,14m². Na tipologia 1 a setorização preserva a privacidade dos moradores, sendo o setor social um eixo de conexão entre o setor de serviço e íntimo. A integração da sala de estar e jantar se torna uma solução para otimizar o espaço e sobrepor funções. As áreas molhadas estão dispostas separadamente, sendo necessário projetar dois shafts, uma para atender o banheiro, outros para a cozinha e lavanderia, essa solução não otimiza a disposição das instalações hidráulicas em um único eixo. Na tipologia 2, setor serviço antecede o setor social, trabalhando mais do que na tipologia 1 o conceito de espaços integrados, o que permite a sensação de amplitude dos espaços (imagem 14). O espaço atrás da porta favorece a instalação de armários de forma linear para atender os dois ambientes. Nesta tipologia existe a otimização da instalação hidráulica, onde todas as áreas molhadas: cozinha, lavanderia e banheiro foram projetadas utilizando um único shaft. A ventilação cruzada na tipologia 1 é mais intensa pois é proporcionada pelas aberturas nas fachadas. Na tipologia 2 através das janelas do setor serviço conseguese receber uma boa ventilação natural e iluminação indireta. A tipologia 3 é uma variação da tipologia 2 projetada para ser a unidade acessível. A unidade possui uma área útil de 45,12m², para ser adaptada ao uso de uma pessoa em cadeira de rodas (PCR), o projeto previu a movimentação algumas paredes para permitir a acessibilidade dos espaços e suas funções. Essa unidade possui a mesma distribuição de setores da Tipologia. O Jardim Edith possui um total de 252 unidades habitacionais, segundo LACERDA JR, 2016, para atender a norma do Art. 4942 do Decreto 44.667 de 26 de abril de 2004 (em vigor durante o desenvolvimento do projeto), que prevê que 3% do total das UH, sejam acessíveis, o conjunto habitacional deve ter 8,43 unidades acessíveis. Elas estão localizadas no segundo pavimento de cada torre que corresponde ao primeiro andar habitacional, exceto na Torre 2, onde existem no segundo pavimento. Sendo assim, na torre 1 possui 2 UH acessíveis, na torre 2 possui 4 unidades acessíveis, e na torre 3 possui 2 unidades acessíveis. ((LACERDA JR, p. 93, 2016). As unidades duplex possuem 4 tipologias diferentes e são localizadas no terceiro pavimento das lâminas. A setorização é dividida em dois níveis: o inferior formado pelo setor social e serviço e o superior composto pelo setor íntimo e serviço definido pela lavanderia. Existem algumas diferenças entre as tipologias devido a solução simétrica (reflexão e rotação), na tipologia 06 por exemplo, devido a inversão da escada pelo arranjo da tipologia foi possível criar um nicho na cozinha (imagem 15), que pode ser utilizado para posicionar a geladeira.
Imagens:
Figura 5 - Pavimento tipo da torre - Fonte: H+F Arquitetos.
Figura 7 - Pavimento tipo das lâminas - Fonte: Archdaily Brasil, adaptado pela autora, 2019.
Imagem 12 - Circulação do pavimento tipo da torre - Fonte: H+F Arquitetos. Imagem 14 - Integração de ambientes na tipologia 2 das torres habitacionais. Fonte: Archdaily Brasil, 2019.
Imagem 13 - Detalhe na fachada das torres - Fonte: H+F Arquitetos.
Figura 6 - Detalhe da viga invertida e volume do armário - Fonte: H+F Arquitetos, adaptada pela autora, 2019.
Fonte: Produção da autora, 2019.
Imagem 15 - Nicho na cozinha utilizado como espaço para a geladeira. Fonte: LACERDA JR., 2016.
56 Tabela 12: Análise das Unidades Habitacionais do Residencial Jardim Edith TORRE 1
AS TORRES
TORRE 2
TORRE 3
TORRE 1
TORRE 2
TORRE 3
Tipologia 2
Tipologia 1 Figura 8 - Corte Transversal quadra 01 - Fonte: MMBB Arquitetos, adaptado pela autora.
Plantas Baixas Torres TÉRREO TORRE 1
TORRE 2
11
11
7
8
PAVIMENTO CONDOMINIAL TORRE 3
TORRE 1
11 8
8
4
4
13
TORRE 2
5 3
3
2
1
2 3
1
15
TORRE 3
SETORIZAÇÃO
15
SETOR ÍNTIMO
14
10
14
3
4
TORRE 2
TORRE 1
TORRE 3
3
2
1
PAVIMENTO TIPO
12 13
10 6
SETOR SOCIAL
3 5
5
SETOR DE SERVIÇO
6
6 7
7
Figura 12 - Fonte: LACERDA JR., 2016 - Adaptado pela autora.
9
15
13 13 15
13 12 13
15
Figura 9 - Fonte: LACERDA JR., 2016 - Adaptado pela autora. 1- ACESSO
4- ESCADA
7- LIXEIRA DAS TORRES
10- SALA DE ESTUDOS
13- SANITÁRIOS
RESTAURANTE ESCOLA
2- HALL DE ENTRADA
5- HALL DOS ELEVADORES
8- ENERGIA
11- ABRIGO DE ÁGUA E GÁS
14- SALÃO CONDOMINIAL
UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE
3- ACESSO AO RESERVATÓRIO
6- BICICLETÁRIO
9- LIXEIRA LÂMINA 2
12- COPA
15- PASSARELA
TÉRREO
PAVIMENTO CONDOMINIAL
PAVIMENTO TIPO AGRUPAMENTO DE ÁREAS ÚMIDAS ÁREAS ÚMIDAS
Figura 10 - Fonte: LACERDA JR., 2016 - Adaptado pela autora. ACESSO HORIZONTAL
ACESSO VERTICAL
TIPOLOGIA 1
AGRUPAMENTO DE ÁREAS ÚMIDAS
TIPOLOGIA 2
CIRCULAÇÃO
Plantas Baixas Tipologia 1, Tipologia 2 e Tipologia 3 6
INTEGRAÇÃO DE AMBIENTES
3 1
5 6
6
4
SALA DE ESTAR + SALA DE JANTAR
5
2
SALA DE ESTAR + SALA DE JANTAR + COZINHA
4
5
3 2
5 1
Figura 11 - Fonte: LACERDA JR., 2016 - Adaptado pela autora. 1- SALA DE ESTAR E JANTAR
3- LAVANDERIA
5- DORMITÓRIOS
2- COZINHA
4- BANHEIRO
6- ARMÁRIOS (ELEMENTOS DE FAVHADA)
Figura 13 - Fonte: H+F Arquitetos - Adaptado pela autora.
Fonte: Produção da autora, 2019.
57 Tabela 13: Análise das Unidades Habitacionais do Residencial Jardim Edith
Plantas Baixas Tipologia 4 - 1º e 2º pavimento
AS LÂMINAS
LÂMINA 1
Torre 1
Lâmina 1
Unidade duplex - superior Unidade duplex - inferior Unidade habitacional Unidade habitacional Unidade Básica de Saúde
Plantas Baixas Lâminas 1 e 2
Figura 14 - Corte Transversal quadra 01 - Fonte: MMBB Arquitetos, adaptado pela autora.
TÉRREO LÂMINA 1 1
PAVIMENTO CONDOMINIAL LÂMINA 1
7 6
4
13 5
2
3
4
4
4
4
PAVIMENTO TIPO LÂMINA 1
Figura 17 - Fonte: LACERDA JR., 2016 - Adaptado pela autora. TIPOLOGIA 4 LÂMINA 1
TIPOLOGIA 4 LÂMINA 2
6
1- SALA DE ESTAR E JANTAR
1- TIPOLOGIA 5
5
2- COZINHA 3- LAVANDERIA
1
4- BANHEIRO
13
4
4
LÂMINA 2
5- DORMITÓRIOS 6- ARMÁRIOS (ELEMENTOS DE FAVHADA)
6
4
6
14
14
14
6
13
4
13
2
5 3
TÉRREO LÂMINA 2
12
6
ZONEAMENTO DE AMBIENTES
12
12
AGRUPAMENTO DE ÁREAS ÚMIDAS
INTEGRAÇÃO DE AMBIENTES
10 3
11
5
13
10
9
PAVIMENTO TIPO LÂMINA 2
7 1 4
8 8 12
PAVIMENTO CONDOMINIAL LÂMINA 2
11
15 4
6
15
15 4
4
10
4
15 4
Figura 15 - Fonte: LACERDA JR., 2016 - Adaptado pela autora. TORRE 1
1- ACESSO
4- ESCADA
7- ABRIGO DE ÁGUA E GÁS
TORRE 2
2- HALL DE ENTRADA
5- MEDIÇÃO ELÉTRICA
8- RAMPA
11- ÁREA CONDOMINIAL COBERTA
TORRE 3
14- CLARABOIAS DA UBS
3- ACESSO AO RESERVATÓRIO
6- PAVIMENTO CONDOMINIAL
9- LIXEIRA LÂMINA 2
12- JARDIM
15- ÁREA TÉCNICA
TÉRREO LÂMINA 1
10- ÁREA CONDOMINIAL DESCOBERTA 13- PASSARELA
PAVIMENTO CONDOMINIAL LÂMINA 1
PAVIMENTO TIPO LÂMINA 1 ÁREAS ÚMIDAS
SETOR ÍNTIMO
SALA DE ESTAR + SALA DE JANTAR + COZINHA
SETOR SOCIAL SETOR DE SERVIÇO
Figura 18 - Fonte: LACERDA JR., 2016 - Adaptado pela autora.
TÉRREO LÂMINA 2
PAVIMENTO CONDOMINIAL LÂMINA 2
PAVIMENTO TIPO LÂMINA 2
Localização das Tipologias 5, 6, e 7 - Duplex LÂMINA 1
LÂMINA 2
Figura 19 - Fonte: LACERDA JR., 2016 - Adaptado pela autora. Figura 16 - Fonte: LACERDA JR., 2016 - Adaptado pela autora. ACESSO HORIZONTAL
ACESSO VERTICAL
AGRUPAMENTO DE ÁREAS ÚMIDAS
TIPOLOGIA 4
TIPOLOGIA 5
CIRCULAÇÃO
Fonte: Produção da autora, 2019.
TIPOLOGIA 5
TIPOLOGIA 7
TIPOLOGIA 6
TIPOLOGIA 8
58 Tabela 14: Análise das Unidades Habitacionais do Residencial Jardim Edith
Plantas Baixas Tipologia 5, 6, 7 e 8- Duplex
ESCADA E AGRUPAMENTO DE ÁREAS ÚMIDAS
SETORIZAÇÃO DE AMBIENTES
INTEGRAÇÃO DE AMBIENTES
TIPOLOGIA 5 6 3
5
2
6 1- SALA DE ESTAR E JANTAR
1
4
2- COZINHA 3- LAVANDERIA 4- BANHEIRO 5- DORMITÓRIOS 6- ARMÁRIOS (ELEMENTOS DE FAVHADA) ESCADA
5
ÁREAS ÚMIDAS SETOR ÍNTIMO SETOR SOCIAL
6
TIPOLOGIA 6
SETOR DE SERVIÇO SALA DE ESTAR + SALA DE JANTAR + COZINHA
5
5
42
Tabela de Resultados:
1
3
TIPOLOGIA 7
1
5
2
5 4 3
TIPOLOGIA 8 3 4 5
5 2
1
Tabela 3 - Resultado análise do edifício, elaborado pela autora, 2019. Figura 20 - Fonte: LACERDA JR., 2016 - Adaptado pela autora.
Fonte: Produção da autora, 2019.
59
7.2. CONJUNTO HABITACIONAL HELIÓPOLIS – GLEBA G
FICHA TÉCNICA: Localização: Na confluência da Avenida Comandante Taylor e Avenida das Juntas Provisórias – Heliópolis Distrito: Sacomã – Subprefeitura: Ipiranga 2011/2014 Área construída: 31330 m² Figura 5: Conjunto Habitacional Heliópolis
Arquitetura: Biselli Katchborian Arquitetos Autores: Artur Katchborian e Mario Biselli Equipe: Melina Giannoni de Araujo (coordenadora), Adriana Godoy, André Biselli Sauaia, Cássio Oba Osanai, Guilherme Filocomo, Luiza Monserrat, Marcelo Santos Checchia, Maria FernandaVita,Priscila Dianese, Vinicius Figueiredo. Promoção: Programa de Urbanização de Favelas da Secretaria Municipal de São Paulo (Sehab). Área do terreno: 12000m²
Fonte: Arch Daily Brasil. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-16929/his-conjunto-heliopolis-glebag-biselli-mais-katchborian-arquitetos > Acesso em abril, 2019.
60
O projeto faz parte de um conjunto de
(SECRETARIA DE HABITAÇÃO DE SÃO
obras de habitação coletiva desenvolvidas
PAULO, 2017).
na cidade de São Paulo inserido no Programa de Urbanização de favelas da Secretaria de Habitação. “Um processo de enfrentamento ao déficit habitacional onde a
arquitetura
e
o
urbanismo
são
protagonistas” (MASSIMINO, G p. 210, 2018).
O
projeto
do
conjunto
habitacional
Heliópolis analisado na presente pesquisa, prevê a estruturação de 14 prédios interligados em um único complexo, com altura variando de quatro a oito pavimentos totalizando
a
construção
de
420
apartamentos. Dividida em duas fases das
Segundo Massimino (2018), Heliópolis,
quais 199 foram entregues em 2014,
localizada na região Sudeste da capital é a
restam 221 a serem atendidas pela
maior favela do município, lá vivem 125 mil
segunda fase com previsão de entrega
habitantes nas 14 glebas existentes, que
para
vão desde a letra A até a letra N. As obras
HABITAÇÃO DE SÃO PAULO, 2017).
pelo programa Vilas Provisórias, foram concentradas em três glebas: A, K, N e G que são as áreas de maior risco. Nessas glebas foram feitas intervenções como construção de unidades habitacionais, pavimentação de ruas, implantação de rede de distribuição de água e esgoto, canalização dos córregos Sacomã e Independência, além de implantação de equipamentos de lazer e área verde
2020.
(SECRETARIA
DE
61 Tabela 15: Análise da Inserção Urbana do Conjunto Habitacional Heliópolis – Gleba G.
A INSERÇÃO URBANA
Planta de Situação
Imagem 1 - Fonte: Portal Vitruvius, acesso em 2019.
CONJUNTO HABITACIONAL HELIÓPOLIS - G INSTITUIÇÃO DE ENSINO UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE
Figura 1 - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Localização do Empreendimento
Imagem 5 - Rua Siqueira Bulção. - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
O conjunto habitacional Heliopolis está localizado no encontro da Avenida Juntas Provisórias e da Rua Comandante Taylor no bairro conhecido por Nova Heliópolis, a maior comunidade na cidade de São Paulo, pertencente ao distrito de Sacomã na Subprefeitura de Ipiranga. Foi foi implantado no terreno localizado na entrada da comunidade onde haviam habitações construídas pela prefeitura no programa Vilas Provisórias. Apesar de ter um hospital (imagem 2) no distrito de Ipiranga que atende a comunidade de Heliópolis, a unidade de saúde mais próxima é a UBS do Bairro vizinho localizado no distrito de Vila Indepenência, assim como duas unidades de ensino (figura 1). Através de imagens obtidas pelo “street view”, é possível enxergar que as ruas possuem iluminação pública, pavimentação (imagem 3) e alguns pontos de comércio (imagem 4). As calçadas do bairro possui arborização em alguns Imagem 1 - Fonte: Fonte: Google Maps, acesso em 2019. pontos, porém as mesmas não são sinaizadas, fazendo com que o percurso nas calçadas seja inseguro (imagem 5). Imagens: O bairro não possui ciclovia e a circulação de transporte coletivo devido ao tamanho estreito de algumas ruas é nas principais vias do bairro. (imagem 6).
Imagem 2 - Hospital Monumento. - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Imagem 3 - Iluminação pública, boca de lobo e tampa de bueiro na Rua Alvaro do Vale. Adaptado pela autora - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Imagem 4 - Comécio na Rua Comandante Taylor - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Fonte: Produção da autora, 2019.
Imagem 6 - Ponto de ônibus na Rua Comandante Taylor. - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Tabela de Resultados:
Tabela 1 - Resultado análise de Inserção Urbana - Fonte: Elaborada pela autora.
62 Tabela 16: Análise do Edifício Heliópolis – Gleba G
O EDIFÍCIO
Imagens:
Implantação
11 3
2
2
Imagem 10- Fonte: ArchDaily Brasil, acesso em 2019. 1- PRAÇA 2- PÁTIOS INTERNOS 3- PÓRTICOS
Imagem 6 - Fonte: Portal Vitruvius, acesso em 2019.
Figura 3 - Implantação - Fonte: ArchDaily Brasil, acesso em 2019.
Plantas baixas
Imagem 5 - Fonte: ArchDaily Brasil, acesso em 2019.
SETORIZAÇÃO 2º PAVIMENTO
RUA MACIEL PARENTE
Diagramas
N DA
CONEXÕES
TE R
LO TAY
Imagem 9 - Fonte: Portal Vitruvius, acesso em 2019.
SETORIZAÇÃO TÉRREO
AN OM AC RU
Os edifícios foram implantados no alinhamento do terreno junto à rua, configurando uma quadra de cidade tradicional, e um pátio interno (imagem 6) de uso dos moradores. O conjunto adapta-se a topografia existente e utiliza passarelas metálicas como elemento conector Imagem 7 - Fonte: ArchDaily Brasil, acesso em 2019. dos blocos (imagem 7) em diferentes níveis de acesso. Esse sistema de passarelas metálicas, articula toda a distribuição e circulação a partir da Rua Comandante Taylor, onde foi estabelecido o primeiro térreo elevado, permitido assim as variações de altura da edificação em conformidade com a legislação de subida máxima. O sistema possibilitou o aproveitamento máximo dos coeficientes de construção, sendo projetado um maior número de unidades habitacionais no conjunto sem a necessidade do uso de elevadores. (PORTAL VITRUVIUS, 2015) Diferentesentresi,osprédiosnadalembramashabitações populares existentes. Cada bloco de unidades habitacionais com 04 apartamentos possui um conjunto de escadas abertas (imagem 8), o que possibilita a circulação vertical do conjunto. A unidade tipo 1 possui recuo em sua planta em relação a face dos dormitórios, quebrando a monotonia gerando um volume no edifício laminar (imagem 9). A unidade tipo 2 através do agrupamento em planta acaba gerando um volume ortogonal, quebrado em elevação pelos dois pórticos que dão acesso ao pátio central, uma Imagem 8 - Fonte: Portal Vitruvius, acesso em 2019. extensa área pavimentada em concreto que organiza a área de circulação, bancos, jardins e playground (imagem 10). O térreo se destina ao lazer, a habitação para portadores de necessidade reduzida, localizadas com acesso direto pela rua, e conta ainda com salas comerciais (imagem 11) para serem ocupadas pelos próprios residentes. (MARTÍNEZ, 2018).
Imagem 11 - Térreo ComercialFonte: Google Maps, acesso em 2019.
GLEBA G
OR ANTE TAYL RUA COMAND
SETORIZAÇÃO 3º,4º E 5º PAVIMENTO
ESPAÇOS LIVRES
SETORIZAÇÃO 6º PAVIMENTO
ACESSOS E FLUXOS
USO HABITACIONAL
USO COMERCIAL
CIRCULAÇÃO HORIZONTAL
CIRCULAÇÃO VERTICAL
Figura 4 - Fonte: MASSIMINO G, 2018 - Adaptado pela autora. COMÉRCIO E SERVIÇOS
ESPAÇOS PÚBLICOS
Figura 2 - Fonte: ArchDaily Brasil, acesso em 2019.
Fonte: Produção da autora, 2019.
Tabela de Resultados:
Tabela 2 - Resultado análise do edifício, elaborado pela autora.
63 Tabela 17: Análise das Unidades Habitacionais do Conjunto Habitacional Heliópolis – Gleba G
Plantas Baixas
AS UNIDADES HABITACIONAIS
1- SALA DE ESTAR E JANTAR 2- COZINHA 3- LAVANDERIA 4- BANHEIRO
O projeto possui dois tipos de unidades habitacionais. As unidades do tipo 1 (imagem 12) são implantadas nas faces Nordeste e Sudoeste e as unidades do tipo 2 (imagem 13) nas faces Noroeste e Sudoeste do conjunto. As unidades são compostas por generosas aberturas na sala e dormitórios, garantindo boa iluminação e ventilação com janelas venezianas de correr que funcionam como “brises” (MASSIMINO, 2018). Os dois tipos habitacionais possuem cada qual uma área de 50 m². Na unidade tipo 1, há uma variação na planta Imagem 12 - Unidades Habitacionais tipo 1 - Fonte: Portal Vitruvius, acesso em 2019. para adaptação das unidades aos portadores de necessidades especiais, localizadas no térreo do conjunto. Nos dois tipos habitacionais o setor de serviço é agrupado (cozinha, lavanderia e banheiros) e, ambos possuem sala de estar, cozinha, banheiro, lavanderia, dois dormitórios e varanda. Na unidade tipo 1 há integração da cozinha (setor de serviço) com as salas de estar e jantar (setor social). Na unidade tipo 2 a separação dos setores possui melhor definição, integrando a sala de estar e jantar.
5- DORMITÓRIOS
TIPOLOGIA 1 - ADAPTADA PAREDES EXTRAIDAS EM PROJETO
TIPOLOGIA 1
2
TIPOLOGIA 2
PAREDE INSERIDA EM PROJETO
5
3
6
4
5 4
3
5 1
1
5
6
SETORIZAÇÃO SETOR ÍNTIMO SETOR SOCIAL
Tabela de Resultados:
SETOR DE SERVIÇO
AGRUPAMENTO DE ÁREAS ÚMIDAS Imagem 13 - Unidades Habitacionais tipo 2 - Fonte: Portal Vitruvius, acesso em 2019.
ÁREAS ÚMIDAS
INTEGRAÇÃO DE AMBIENTES SALA DE ESTAR + SALA DE JANTAR SALA DE ESTAR + SALA DE JANTAR + COZINHA
Tabela 3 - Resultado análise do edifício, elaborado pela autora.
Fonte: MASSIMINO G, 2018 - Adaptado pela autora.
Fonte: Produção da autora, 2019.
2
64
7.3. CONJUNTO RESIDENCIAL CORRUIRAS PRÊMIO: O MELHOR DA ARQUITETURA – FINALISTA - 2013
FICHA TÉCNICA: Localização: Rua das Corruíras - Vila Campestre, São Paulo - São Paulo, Brasil Área Total: 23.386 m2 Área Construída: 21.404 m2 Unidades Habitacionais: 244 apartamentos Ano do Projeto: 2011-2013 Arquitetura: Boldarini Arquitetura e Urbanismo Autores: Marcos Boldarini, Lucas Nobre e Renato Bomfim Colaboradores: Juliana Junko, Larissa Figura 6: Conjunto Residencial Corruiras
Reolon, Melissa Matsunaga e Ricardo Falcoski , Gabriel Rocchetti, Thiago Benucci, Mariana Puglisi, Luca Mirandola, Thiago Moretti, Bruno Nicoliello, Renan Kadomoto.
Fonte: Arch Daily Brasil. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-16929/his-conjunto-heliopolisgleba-g-biselli-mais-katchborian-arquitetos > Acesso em abril, 2019.
65
O residencial Corruíras foi construído para
100 m, contabilizando uma área total de
viabilizar o reassentamento dos moradores
650 mil m². Marcos Boldarini, autor do
da ocupação irregular da favela Minas
projeto explica que esse parque terá áreas
Gerais, que ficava ao lado de onde hoje se
de lazer e esporte, e que por esse motivo o
encontra o conjunto. O projeto conta com
residencial não possui esse tipo de
lâminas
andares
equipamento, além da complexidade do
aproveitando o declive do terreno para
terreno em declive acentuado. Sendo
fazer um térreo elevado, possibilitando que
assim, foi reservado um espaço no térreo
o máximo que se suba ou desça até sua
para salas de leitura e salão de festas.
de
unidade
sete
a
sejam
nove
quatro
andares
(TRANCOSO U, 2013).
Esses espaços complementares à moradia compõe uma rede de possibilidades de
Segundo Trancoso (2013), o conjunto
usos e atividades como o lazer, a
residencial
da
recreação, a leitura e o estudo. No nível
Água
777,50 (térreo elevado), estão localizados
Espraiada, nome do córrego existente na
os salões para uso comunitário e área para
região que antes de ser tomado pela
estudo/leitura e no nível 772,06 está o
urbanização e ocupação informal possuía
pátio, lugares que permitem o convívio
águas claras e tom esverdeado. O projeto
social dos moradores.
Operação
Corruiras Urbana
faz
parte
consorciada
foi realizado em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo, por meio da Secretaria de Habitação (Sehab/PMSP), como alternativa ao reassentamento de famílias removidas da área da operação. O terreno privado de cerca de 11 mil m² estava vazio e foi desapropriado visando à construção de 244 unidades de habitação.
O projeto se desenvolveu tirando partido das condicionantes do terreno ao dispor os dois blocos que compõem o conjunto de forma escalonada, com acessos pelas vias superior e inferior, explorando o desnível tanto para o melhor aproveitamento do terreno, como também um incentivo a visadas ao exterior, propiciada ao adotar a
O Residencial Corruíras compõe um
transparência de elementos vazados e
parque
perfurados, e pequenas varandas nas
linear
que
terá
3,7
km
de
comprimento por uma largura média de
habitações (PORTAL VITRUVIUS, 2016).
66 Tabela 18: Análise da Inserção Urbana do Residencial Corruiras
A INSERÇÃO URBANA
Situação
HOSPITAL RESIDENCIAL CORRUIRAS INSTITUIÇÃO DE ENSINO
Imagem 6 - Ponto de ônibus na Travessia Leopoldina. Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
CÓRREGO ÁGUAS ESPRAIADAS ESTAÇÃO DE METRÔ JABAQUARA
Figura 1 - Fonte: Google Maps, adaptado pela autora. acesso em 2019.
Imagem 1 - Fonte: Arch Daily Brasil, acesso em 2019.
Localização
O Conjunto residencial Corruíras está localizado em um terreno com declive acentuado entre a Rua das Corruíras e a Avenida General Daltro Filho, no bairro Vila Campestre do distrito de Jabaquara. Em seu entorno estão o Hospital Municipal Dr. Arthur Ribeiro de Saboya, o córrego Água Espraiada, e a estação de metrô Jabaquara (figura 1). Próximo ao residencial está localizado a secretaria do estado de Educação, também possui escolas públicas, diversos comércios e vários pontos de ônibus que garantem o fácil acesso ao transporte coletivo. No seu entorno não possui ciclovias, e as calçadas possuem barreiras não sinalizadas, proporcinando em alguns pontos um passeio inseguro.
Imagem 7 - Comércio na Rua dos Marapés. - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Imagem 2 - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados - Adaptado pela autora. CONJUNTO RESIDENCIAL JARDIM EDITH
Imagens:
Tabela de Resultados: Imagem 4 - Iluminação pública, tampa de bueiro e boca de lobo na Rua Guian. Adaptado pela autora - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Tabela 1 - Resultado análise de Inserção Urbana - Fonte: Elaborada pela autora.
Imagem 3 - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados, acesso em 2019.
Imagem 5 - Passeio pavimentado,porém sem sinalização de barreiras e pouca arborização na Rua Guian. - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
Fonte: Produção da autora, 2019.
67 Tabela 19: Análise do Edifício Corruiras
O EDIFÍCIO
Imagens:
Plantas baixas PAVIMENTO -4
PAVIMENTO -2
Imagem 9 - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados, acesso em 2019. Imagem 8 - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados, acesso em 2019.
Segundo Trancoso (2013), o assentamento do edifício foi feito em dois níveis: no nível 772,06 e no 777,50, que está mais próximo à entrada pela rua General Daltro Filho ligados por passarelas de entrada quase em nível onde pode se considerar o térreo elevado. Os acessos (figura 2) são dados por esses níveis. Essa alternativa permitiu a verticalização da construção, visto que os andares das habitações são acessados por escada. Assim, foi possível adequar quatro andares para baixo e quatro andares para cima deste térreo elevado (imagem 8). A lâmina mais alta tem nove andares e a lâmina mais baixa, sete, com somente dois andares para baixo do térreo e quatro para cima. O formato de implantação do residencial cria um grande pátio interior (imagem 9), ele foi projetado considerando a área necessária para garantir a insolação de todas as unidades habitacionais que têm a fachada principal voltada para o pátio. Isso porque um estudo de insolação apontou que, às 9 Imagem 10 - Fonte: Google Maps, acesso em 2019. horas da manhã, há incidência de luz solar por toda a fachada da lâmina voltada para o pátio interno. (TRANCOSO, 2013). Construída por um sistema simples de alvenaria Implantação estrutural, as passarelas metálicas de cor amarela (imagem 10) que ligam as lâminas dos edifícios ganham destaque na construção. A estrutura do reservatório de água, uma torre no meio do pátio (imagem 11), que estrutura também as escadas externas, tem espaço para assim que for financeiramente possível instalar elevadores. Os elementos de conexão dos diferentes níveis do edifício também são infraestruturais: as rampas se configuram como estrutura de contenção da parte mais alta do terreno e as escadas carregam, em sua parte inferior, as águas da chuva drenadas do lote. (TRANCOSO, 2013).
PAVIMENTO TÉRREO
PAVIMENTO TIPO
Imagem 11 - Fonte: Google Maps, acesso em 2019.
CIRCULAÇÃO VERTICAL
CIRCULAÇÃO HORIZONTAL
Figura 3 - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados. Adaptado pela autora, acesso em 2019.
Tabela de Resultados:
ACESSO DE PEDESTRE
Figura 2 - Implantação - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados - Adaptado pela autora, acesso em 2019
Fonte: Produção da autora, 2019.
Tabela 2 - Resultado análise do edifício, elaborado pela autora.
68 Tabela 20: Análise das Unidades Habitacionais do Residencial Corruiras
Plantas Baixas
AS UNIDADES HABITACIONAIS
TIPOLOGIA 1
TIPOLOGIA 1 - ADAPTADA
6 1
As unidades habitacionais são de mesma tipologia, são construídas com blocos de concreto estrutural são compostas por uma sala de estar (imagem 13) integrada com a sala de jantar (imagem 14), uma pequena sacada, uma cozinha (imagem 15), um banheiro, uma área de serviço e dois quartos (imagem 16) com possibilidades de se abrir para o corredor. Algumas unidades são adaptadas para cadeirantes e sofrem pequenas alterações, como o aumento de alguns centímetros no fechamento do banheiro. O edifício possui suas fachadas de acesso à nordeste e sudoeste, e as laterais à noroeste e sudeste. Observa-se também que todas as unidades são acessadas através de circulação externa semi-aberta ao exterior. Considerando tais aspectos, concluí-se que o edifício possui boa ventilação cruzada dentro das unidades. Já a iluminação desejável (sol da manhã), esta só é recebida por parte do edifício (TRANCOSO U, 2013).
5 5
2
3
4
1- SALA DE ESTAR E JANTAR
4- BANHEIRO
2- COZINHA
5- DORMITÓRIOS
3- LAVANDERIA
6- SACADA
SETORIZAÇÃO SETOR ÍNTIMO SETOR SOCIAL SETOR DE SERVIÇO
Imagem 12 - Veneziana nas janelas corre pela parte de fora do ambiente. - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados, acesso em 2019.
Tabela de Resultados:
AGRUPAMENTO DE ÁREAS ÚMIDAS ÁREAS ÚMIDAS
Imagem 13 - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados, acesso em 2019.
Imagem 15 - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados, acesso em 2019.
INTEGRAÇÃO DE AMBIENTES SALA DE ESTAR + SALA DE JANTAR SALA DE ESTAR + SALA DE JANTAR + COZINHA
JUNÇÃO DE CÔMODOS QUARTO + QUARTO
Tabela 3 - Resultado análise do edifício, elaborado pela autora.
Imagem 14 - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados, acesso em 2019.
Imagem 16 - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados, acesso em 2019.
Fonte: Produção da autora, 2019.
Figura 4 - Fonte: Boldarini Arquitetos Associados, adaptado pela autora. Acesso em 2019.
69
piso térreo dos edifícios proporcionando
7.4. RESULTADO DAS ANÁLISES Sobre
a
inserção
empreendimentos
urbana,
possuem
os
diferentes
vitalidade urbana ao local de inserção. As habitações multifamiliares em sua
localidades, mas ambos eram antigas
maioria
favelas e alguns deles ocuparam o mesmo
verticalização, devido a demanda por
lugar das ocupações irregulares. Podemos
habitações, que neste caso não se adequa
observar na tabela 21 que há uma falta de
o uso de elevadores devido ao custo de
equipamentos de cultura e lazer, que
obra e de manutenção pós ocupação,
poderiam ser identificadas como praças
elevando o nível de complexidade. Sendo
com quadras de esportes, playgrounds,
assim, os arquitetos buscam soluções para
teatros, centros culturais, bibliotecas e
a quantidade de unidades habitacionais a
outros equipamentos e espaços que
serem construídas, como por exemplo, a
auxiliam na promoção da cultura e arte.
racionalização de elementos construtivos e
Diante desse fato, vale ressaltar o papel do
a otimização dos espaços internos.
são
caracterizadas
pela
edifício, que nesse caso poderia contribuir adotando em seu programa espaços para
As estratégias usadas no programa de necessidade dos edifícios são similares,
suprir essa necessidade.
partindo da unidade mínima de habitação Os resultados apresentados na escala do
necessárias
edifício demonstram uma preocupação em
necessidades básicas de uma família. O
relação a sua implantação, estabelecendo
programa estabelecido pela Secretaria de
conceitos
de
Habitação da cidade de São Paulo é
promover uma ligação direta dos edifícios
composto por sala, cozinha, banheiro,
com a rua. Promovem a relação público-
lavanderia e dois dormitórios, em uma área
privada por meio das suas formas e
de no máximo 50,0m².
da
arquitetura
capazes
no
atendimento
das
disposições no terreno, das circulações, das aberturas nos edifícios e da ausência de
grandes
muros,
articulando
uma
integração com as favelas, tanto de percurso entre as áreas quanto de ligação
Na tabela 21 conseguimos visualizar que na escala de unidades habitacionais a flexibilidade é dada apenas na diversidade de tipologias, há falta de sistemas flexíveis como por exemplo divisórias móveis e a
visual.
possibilidade de expansão. O mesmo O uso misto encontrado em dois dos três
ocorre no critério sustentabilidade, nenhum
edifícios analisados confirma a qualidade
dos edifícios analisados possuem soluções
que eles possuem, integrando diversas
tecnológicas
atividades,
sustentável, o que seria um grande passo
como
os
equipamentos
públicos e espaços comerciais dadas no
na
produção
ligadas
de
a
habitação
questão
social
70
multifamiliar.
Podemos
associar
esse
cenário ao custo de implementação desses sistemas. Tabela 21: Tabela síntese de resultados TABELA SÍNTESE DE RESULTADOS
EDIFÍDIO JARDIM EDITH
SEHAB HELIÓPOLES
ABASTECIMENTO DE ÁGUA PAVIMENTAÇÃO COLETA DE LIXO
INFRAESTRUTURA TRATAMENTO DE ESGOTO ILUMINAÇÃO PÚBLICA DRENAGEM PLUVIAL COMÉRCIO
SERVIÇOS URBANOS
EQUIP.EDUCACIONAL EQUIPAMENTO DE SAÚDE CULTURA E LAZER PASSEIO SEGURO
MOBILIDADE E ACESSIBILIDADE
CICLOVIA TRANSPORTE PÚBLICO AMBIENTE ACÚSTICO AGRADÁVEL
IMPLANTAÇÃO E CONFORTO AMBIENTAL
ACESSO PARA PEDESTRES PERÍMETRO ARBORIZADO VISUAIS INTERESSANTES
FLUIDEZ URBANA
GERAÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS PERMEABILIDADE VISUAL RESIDENCIAL
USOS MISTO SISTEMAS FLEXÍVEIS
FLEXIBILIDADE
DIVERSIDADE DE TIPOLOGIAS POSSIBILIDADE DE EXPANSÃO ALTERNATIVAS DE USO
ADAPTABILIDADE JUNÇÃO DE CÔMODOS
ACESSIBILIDADE
UNIDADE HABITACIONAL ACESSÍVEL A PNE DISPOSITIVO DE PROTEÇÃO SOLAR
CONFORTO
VENTILAÇÃO CRUZADA ORIENTAÇAO SOLAR ADEQUADA PRIVACIDADE CIRCULAÇÃO
FUNCIONALIDADE
PERMANÊNCIA NO ANDAR VARANDA SISTEMAS ESTRUTURAIS PRÉ-MOLDADOS
TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE
REUSO DE ÁGUA ENERGIA SOLAR MATERIAIS SUSTENTÁVEIS
Fonte: elaborado pela autora, 2019.
RESIDENCIAL CORRUIRAS
71
Os edifícios representam uma mudança
caracterizadas como favelas. Um perfil
por parte do poder público e nas ações
comprometido
implantadas para o enfrentamento das
permanência dos moradores e do respeito
questões
aos
as
aos
sociais e culturais, superando a produção
moradores das grandes favelas de São
tipológica padronizada. Os três edifícios
Paulo.
analisados
habitacionais,
profissionais
da
unidos
arquitetura
e
Partindo-se dos resultados obtidos através das análises, pode-se concluir que o perfil das obras multifamiliares destinadas a habitação
social
possui
um
papel
determinante na erradicação de moradias
em
preexistências
(tabela
promover
ambientais,
22)
são
a
físicas,
projetos
participantes de programas habitacionais promovidos pela junção do poder público e da empresa privada com objetivos de melhorias não só da habitação, mas sim de todo o território urbano.
Tabela 22: Tabela comparativa dos resultados EDIFÍCIOS ANALISADOS JARDIM EDITH
INSERÇÃO URBANA
O EDIFÍCIO
UNIDADES HABITACIONAIS
O acesso para pedestres é dado nas vias internas do residencial devido ao grande fluxo de veículos nas principais vias; seu perímetro é arborizado das torres consegue-se ter uma bela visão da ponte estaiada; espaços públicos são gerados nos equipamentos públicos que compõe o uso misto do empreendimento, que além de ser residencial é composto por restaurante-escola, creche e unidade básica de saúde; há uma permeabilidade visual dos edifícios para a rua devido a adoção de grades.
O Jardim Edith é composto por duas tipologias simples e uma terceira acessível, e quatro tipologias duplex; a integração de ambientes possibilita alternativas de uso; como dispositivo de proteção solar estão os volumes nas fachadas dado pelos armários dentro das unidades habitacionais; possui diversas aberturas garantindo a ventilação cruzada e a orientação solar está de acordo em relação a disposição dos cômodos; A setorização do programa proporciona privacidade e boa circulação.
Apesar de estar em uma área abastecida O empreendimento possui acesso seguro para o de infraestrutura básica, faz parte de um pedestre; as áreas livres no térreo proporcionam a bairro onde não possui 100% do permanência e a permeabilidade visual; há também tratamento de esgoto e abastecimento de no térreo salas comerciais compondo o uso misto; água. Possui em suas proximidades possui passarelas metálicas como elemento comércio de bairro, unidade básica de conector dos blocos. saúde e escola.
O residencial Heliópolis possui duas tipologias de habitação e uma terceira acessível ambas compostas por varandas. ; a integração de ambientes proporciona alternativas de uso; as grandes janelas venezianas desempenham a função de brise, além de proporcionar excelente iluminação natural e ventilação cruzada; sua setorização possibilita privacidade e boa circulação;
Local bem abastecido de infraestrutura urbana. Possui em suas imediações comércios no geral, escolas e hospital. O passeio em sua maioria é seguro, as calçadas são pavimentadas e as barreiras são em poucos locais quando comparada a análise dos outros dois empreendimentos. Possui ciclovia próxima ao empreendimento e é uma região abastecida com trasporte público, possui vários pontos de ônibus.
HELIÓPOLES - GLEBA G
CORRUÍRAS
O residencial Corruíras possui apenas uma Devido a implantação em declive, o tipologia, sendo algumas delas acessíveis, a empreendimento possui um sistema acústico integração de ambientes possibilita alternativas Região abastecida de infraestrutura agradável; os acessos para pedestre são dados de uso e a extração da parede que divide os básica urbana, próximo ao edifício há pelas duas fachadas e o perímetro é arborizado; as quartos possibilita a junção de cômodos; possui comércio de bairro, escolas e hospital. O visadas ao exterior para a percepção do relevo e brises de proteção solar e varandas; a circulação local é abastecido com sistema de bela paisagem são possíveis devido a adoção dos externa das unidades habitacionais semiaberta transporte público e possui diversos elementos vazados e perfurados; a permeabilidade proporciona boa ventilação cruzada; sua pontos de ônibus. visual é possível no andar térreo do edifício; Uso setorização possibilita privacidade e boa residencial. circulação; as passarelas metálicas ligam as lâminas dos edifícios.
Fonte: elaborado pela autora, 2019.
72
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
73
O Brasil enfrenta um problema combinado
empreendimentos serem soluções voltadas
com sua insuficiência de habitação e níveis
para áreas com assentamentos subnormais
significativos de pobreza. Nota-se que com
como as grandes favelas da região de São
o passar dos anos há um aumento de
Paulo.
interesse e preocupação com a população de baixa renda residindo em situações precárias e muita das vezes insalubres.
Os empreendimentos foram implementados através de programas habitacionais, tendo como premissa a integração entre o edifício
Através desse cenário, o governo brasileiro
e o local existente, fazendo com que o novo
tem procurado abordar os problemas de
empreendimento, além de acolher famílias
habitação no país, e percebe-se que a
que residem em situações desconfortáveis
dificuldade não está apenas em suprir o
façam parte do cenário urbano de maneira
déficit
a agregar valor a ambos.
habitacional,
integração
está
também
bem-sucedida,
na de
empreendimentos, ao contexto urbano e comunidades
vizinhas
e
também
na
qualidade e funcionalidade das habitações, fazendo-se necessário pensar em novas tipologias, conceitos e sistemas de projeto.
A partir daí, podemos estabelecer um paralelo com a maioria dos edifícios multifamiliares
destinados
à
habitação
social, construídos no Brasil através de programas habitacionais. Produções que acontecem simultaneamente sob o mesmo
É de grande importância entender que para
aspecto político e social, representando
se
uma
alcançar
melhores
resultados
nas
mudança
significativa
em
ações
construções de grandes empreendimentos
praticadas pelo poder público, promovendo
habitacionais faz-se necessário além da
melhorias e, levando moradia digna a
implementação
população de baixa renda com apoio do
de
políticas
habitacionais,
um
conhecimento
técnico
públicas
aprimoramento e
social
no do
profissional de arquitetura e urbanismo. Através das análises observa-se o valioso papel do arquiteto urbanista na concepção de projetos que trazem melhores condições de habitabilidade.
profissional de arquitetura. Entende-se que o conhecimento gerado com a pesquisa é relevante, e espera-se que os exemplos de soluções realizadas aliados ao entendimento das relações sociais envolvidas, sejam interpretadas de forma a servir como suporte teórico aos
O resultado das análises mostra que de fato
profissionais da área de arquitetura, e que
empreendimentos
a
possa contribuir com alunos, professores e
habitação social podem e devem ser
pesquisadores no processo de discussão
inseridos no contexto urbano. O que se
sobre a produção da habitação social
destaca entre as análises é o fato de os
multifamiliar.
voltados
para
74
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONDUKI, Nabil Georges. Origens da habitação social no Brasil. Arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. Estação Liberdade, São Paulo; 4ª edição, 2004. BONDUKI, N. G. Política habitacional e inclusão social no Brasil: revisão histórica e novas perspectivas no governo Lula. Revista Eletrônica de Arquitetura. Rio de Janeiro, n.1, 2008. Disponível em: <http://www.usjt.br/arq.urb/numero_01/artig o_05_180908.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2018. BRANDÃO, Douglas Queiroz. Diversidade e potencial de flexibilidade de arranjos espaciais de apartamentos: uma análise do produto imobiliário brasileiro. 2002. 443 f. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. BRASIL. Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade e Legislação Correlata. 2. ed., atual. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2002. 80 p. BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Avanços e Desafios: Política Nacional de Habitação – Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Habitação. Brasília, 2010. 96 p. CALDEIRA, Teresa Pires do Rio (2000), (tradução de Frank de Oliveira e Henrique Monteiro), Cidade de muros. Crime, segregação e cidadania em São Paulo, São Paulo, Ed. 34/Edusp. FALAGÁN, David H; MONTANER, Josep Maria; MUXI, Zaida. Herramientas para habitar el presente. La vivenda del siglo XXI. Barcelona: Actar D, 2011.
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