17/12 sex
19:30
CAMPO ALEGRE Sala-Estúdio
Palcos Instáveis
18/12
17:00
3h00
6+
sáb
24h
TMP ONLINE
Instável — Centro Coreográfico
Tales Frey O corpo nunca existe em si mesmo
🤜🤛
© DR
performance
www.teatromunicipaldoporto.pt
Temporalidades Corporais: O Corpo Nunca Existe em Si Mesmo de Tales Frey Francesca Rayner O Corpo Nunca Existe em Si Mesmo convoca vários corpos, incluindo as performers que Tales Frey convidou para participar nesta performance e os corpos dos espetadores e assume-se como aberta e incompleta sem a presença destes outros corpos. Mais ainda, sublinha uma instabilidade radical no seio do corpo. Se o corpo nunca existe em si mesmo, qualquer ideia do corpo como base de uma identidade fixa e estável dá lugar a identidades que são construídas de forma múltipla, fluida e relacional. Estas, são palimpsestos de amor e de sexo, de discriminação e marginalização, de experimentação e de recriação. São corpos que não existem fora das normas sociais e sexuais, mas que muitas vezes desafiam as mesmas normas com outras linguagens artísticas. Neste sentido, esta é uma performance claramente política na sua revindicação da necessidade e do prazer do outro e a sua configuração do corpo como território fértil para a contestação da normatividade. A performance alude ao trabalho surrealista “Objeto para Ser Destruído” de Man Ray (1923). Consistia num metrônomo ready made em cuja haste o artista colocou uma fotografia de um olho humano. Man Ray utilizou o metrônomo para pautar os ritmos da sua pintura e o olho dele para representar um olhar de fora do seu processo. Depois da destruição inesperada do objeto, Man Ray recriou a obra em 1933 com o olho da sua ex-amante Lee Miller. Contrariamente à indignação de Man Ray que aceitou mal a necessidade de refazer o seu objeto artístico e a partida da amante, O Corpo Nunca Existe em Si Mesmo parte do princípio de que a performance será sempre diferente em cada edição, dependendo das performers, do público e do espaço. Sem sugerir que as relações afetivas são sempre harmoniosas ou ausentes de tensões, as performers aceitam e reagem aos movimentos das outras, negociando entre elas ao longo da performance. Como em muitas performances de Tales Frey, as performers incluem pessoas com que o artista tem uma relação profissional e afetiva de longa data, como a sua irmã Paola Frey.
A presença de um metrónomo cria o ritmo para as poses, provocando mudanças de posição com um rigor matemático. As mudanças dependem assim de uma contagem exterior aos ritmos corporais das performers. No contexto atual, as batidas hipnóticas do metrónomo inevitavelmente referenciam os tempos e os ritmos de uma sociedade de cansaço com a sua regulamentação mecânica dos tempos e dos corpos. No entanto, em vez de obedecer às regras de um capitalismo desenfreando na criação de corpos estandardizados e dóceis, os corpos aqui retêm elementos de individualidade e de agência. Parecem anónimos com as suas caras escondidas e os figurinos pretos cobrindo o corpo. Não se detetam claras distinções de género ou de idade, mesmo com os tutus de ballet. Em vez de identidades, as performers evocam em momentos diferentes a beleza dos cisnes negros, a violência dos rituais sadomasoquistas e o medo que acompanha intimações da morte. Há momentos efémeros de contacto físico, solos quase virtuosos, pernas para o ar e momentos em que as performers simplesmente olham umas para as outras. Cada corpo vai-se diferenciando e individualizando com a repetição dos movimentos e as pequenas, mas significativas, diferenças entre cada pose. A disciplina do ritmo do metrónomo põe em relevo as diferenças de peso e de altura entre os corpos sem, no entanto, fixar identidades claras. São corpos e identidades sempre em devir, fixando-se temporariamente para logo depois se diluírem outra vez. Ao nível artístico, a performance transita entre as artes visuais e as artes performativas, entre a escultura e a coreografia num movimento que o artista chama de escultura cinética. Esta transdisciplinaridade carateriza todos os trabalhos de Tales Frey mas aqui tem uma configuração específica na ideia da pose. Entre a estase e o movimento a sugerir que uma escultura pode ser coletiva. Que uma coreografia pode basear-se na diferença entre corpos em vez da sua homogeneidade. Que a escultura necessariamente implica movimento e que uma coreografia inclui momentos de imobilidade. Tanto a escultura como a coreografia têm as suas convenções da representação do corpo e através da transdisciplinaridade a naturalidade destas convenções e a sua separação torna-se objeto de investigação. Quando a norma e a convenção são assim postas em causa, abre-se um campo de experimentação artística muito mais abrangente e acolhedor em que podem caber corpos diversos e identidades múltiplas.
Desde a sua criação em 2012 que o ciclo Palcos Instáveis incentiva o trabalho de criadores emergentes da cidade do Porto e do Norte do país. Com a assinatura da Instável — Centro Coreográfico e a coprodução do Teatro Municipal do Porto, os Palcos Instáveis facilitam residências artísticas de criação, a produção, a comunicação e apresentação de novas obras, possibilitando o cruzamento de experiências artísticas e oferecendo à cidade o contacto com linguagens coreográficas emergentes.
Tales Frey é um artista transdisciplinar representado pela Galeria Verve de São Paulo. Com doutoramento em estudos teatrais e performativos pela Universidade de Coimbra, tem apresentado os seus trabalhos em diversos eventos e instituições nacionais e internacionais.
CRIAÇÃO Tales Frey ☺ COACHING E TEXTO CRÍTICO Francesca Rayner ☺ INTERPRETAÇÃO Gui Silvestre, Helena Ferreira, Hilda de Paulo, Letícia Maia, Marianna London e Tales Frey ☺ ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO Tânia Dinis ☺ APOIO À RESIDÊNCIA/CRIAÇÃO Instável — Centro Coreográfico ☺ A COMPANHIA INSTÁVEL É APOIADA PELA República Portuguesa – Cultura / Direção-Geral das Artes e pelo programa Bolsas para a formação GDA