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Revista E | setembro de 2023 nº 3 | ano 30 Além do basquete
Potência pós-80
Evoé, Zé!
Camila Morgado
Ex-NBA Mahmoud Abdul-Rauf fala sobre esporte, racismo e religião
Octogenários mantêm rotina ativa, saudável e criativa
Criador do Teatro Oficina deixa legado de arte e revolução
Atriz volta aos palcos com texto de Nelson Rodrigues
Untitled: Silueta Series (1979), de Ana Mendieta. Color photograph.
© The Estate of Ana Mendieta Collection, LLC Courtesy Galerie Lelong & Co. Licensed by Artist Rights Society, New York / AUTVIS
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ARTES DO CORPO De objeto a sujeito da produção artística, centralidade do corpo humano vem sendo usada para quebrar tabus e investigar feminismos e ancestralidades POR LUNA D’ALAMA
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té o século 19, as artes visuais – como pintura, å ñÅìñá ªÓìÓ«á ĥ Ƽ ñå ü Ë Ó ÓáÞÓ humano como objeto de representação, especialmente em (auto)retratos e nus femininos. A partir do século 20, porém, o corpo passou de objeto a sujeito, tornando-se a própria obra de arte e incluindo a constituição física da(o) artista como suporte, meio de expressão e lugar das experiências e intervenções estéticas. É na materialidade do corpo que, segundo a especialista em semiótica Lucia Santaella, fundem-se o orgânico e o mecânico, a natureza e a cultura, o original e o å³ËñÅ áÓƛ á ų åÓ ³ Å ĥ Ó ³ Ììµĥ ƚ Em meio ao auge dos movimentos feministas dos anos 1960 e 1970, também emergiu, nos Estados Unidos e na Europa, a body art. Essa vertente da arte contemporânea pressupõe que o corpo em si não é tão importante quanto o que é feito com ele, å³Å°ñ ì å Óñ å³ËÞÅ å ªñÌ Ü å ĥå³ÓÅÔ«³ å Ƽ ÓËÓ a respiração ou um espirro – podem virar obras, performances, instalações ou videoarte. No livro Culturas e artes do pós-humano – Da cultura das mídias à cibercultura (Paulus, 2003), Santaella defende que o conteúdo da body art ¡ ñìÓ ³Ó«á ĥ Óƛ Óå ìá Å°Óå coincidem com o ser carnal do(a) artista. Assim, pela primeira vez na história da arte, “a nudez e o abjeto [passaram a ser construídos] sob o ponto de vista da ação e do olhar femininos”, quebrando-se tabus. A artista cubana Ana Mendieta (1948-1985), que aos 12 anos migrou para os Estados Unidos como refugiada política, é uma das precursoras do movimento da body art e do uso do próprio corpo como sujeito e objeto de trabalho. Pertenceu a um coletivo de artistas feministas e, para documentar e perpetuar suas obras efêmeras – performances em que seu corpo nu se fundia a elementos da natureza, como água, neve, terra, lama, á ³ ƛ ªÓÅ° å ĦÓá å Ƽƛ @ Ì ³ ì ñì³Å³Ĉ ü ªÓìÓ«á ĥ å
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e vídeos. Sua história de vida e seus traumas, assim como a violência sofrida por mulheres racializadas em território norte-americano, também reverberaram nas produções da artista, que voltou sete vezes a Havana, capital de Cuba, até morrer precocemente, aos 36 anos. Mendieta ganhou a primeira retrospectiva póstuma em 1987, no New Museum, em Nova York (EUA). A partir da década de 1990, sua obra foi celebrada em outras exposições, principalmente nos Estados Unidos, no México e na Europa. Hoje, sua produção é pesquisada em vários campos das artes e da cultura, e seu legado serve de referência e inspiração para jovens artistas contemporâneas. É nesse contexto que o Sesc Pompeia apresenta, a partir de 19/9, a exposição Ana Mendieta: Silhueta em Fogo, primeira mostra abrangente da obra da artista cubana na América Latina. Segundo a curadora Daniela Labra, o título surgiu a partir dos trabalhos de Mendieta com silhuetas e com o elemento fogo, que aparece em seis dos 21 vídeos que serão exibidos. Para Labra, a artista é pioneira em relacionar temáticas como corpo, ecologia, feminilidade, fertilidade, ancestralidade, cura, crítica e performance. “Sua poética visual, original e contundente consolidase em diferentes suportes, mídias e linguagens, ÓËÓ å Ì°Óåƛ å ñÅìñá åƛ ªÓìÓ«á ĥ åƛ YñÞ áƺĶ intervenções”, explica. Fundindo mundos e buscando origens, a artista se debruçou sobre a dicotomia morte-vida e sobre religiosidades indígenas e afrolatinas. “Nessa retrospectiva, apresentamos um recorte da linguagem visual e de fronteira da artista, exploradora singular de diversas cosmogonias, tanto de seu tempo quanto de eras ancestrais”. O nome @ Ì ³ ì ƛ ĥÌ Å³Ĉ ñá Óá ƛ Dž¡ ªñÌ Ë Ìì Å para compreendermos a arte contemporânea do ĥÌ Å Ó å¡ ñÅÓ İĮƛ ÞÓá å ñ ìá Å°Ó ìá Ìå ñÅìñá Åƛ visceral, atemporal e, essencialmente, político."
© The Estate of Ana Mendieta Collection, LLC Courtesy Galerie Lelong & Co. Licensed by Artist Rights Society, New York / AUTVIS
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Black Angel (1975), de Ana Mendieta. YñÞ áƺĶËË ĥÅËƛ ÓÅÓáƛ å³Å Ììƚ
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2. Alma, Silueta en Fuego (1975), de Ana Mendieta. YñÞ áƺĶËË ĥÅËƛ ÓÅÓáƛ å³Å Ììƚ
3. Anima, Silueta de Cohetes Ʈ"³á ýÓá R³ Ư ƮįķĵĴƯƛ Ì @ Ì ³ ì ƚ YñÞ áƺĶËË ĥÅËƛ ÓÅÓáƛ å³Å Ììƚ
4. ñìì áĦă (1975), de Ana Mendieta. YñÞ áƺĶËË ĥÅËƛ ÓÅÓáƛ å³Å Ììƚ
© The Estate of Ana Mendieta Collection, LLC Courtesy Galerie Lelong & Co. Licensed by Artist Rights Society, New York / AUTVIS
1. Creek (1974), de Ana Mendieta. YñÞ áƺĶËË ĥÅËƛ ÓÅÓáƛ å³Å Ììƚ
© The Estate of Ana Mendieta Collection, LLC Courtesy Galerie Lelong & Co. Licensed by Artist Rights Society, New York / AUTVIS
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Volcán (1979), de Ana Mendieta. YñÞ áƺĶËË ĥÅËƛ ÓÅÓáƛ å³Å Ììƚ
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© The Estate of Ana Mendieta Collection, LLC Courtesy Galerie Lelong & Co. Licensed by Artist Rights Society, New York / AUTVIS
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Cortesia Galeria Superfície
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ABRINDO CAMINHOS Em conjunto com a exposição Ana Mendieta: Silhueta em Fogo, o Sesc Pompeia também apresenta, a partir deste mês, terra abrecaminhos, mostra que aproxima a obra de Mendieta – seus aspectos arquetípicos, culturais, políticos e espirituais – com a de outras 30 pessoas representantes das artes contemporâneas. A abordagem inclui representatividade e feminismos negros, decoloniais, chicanos e ecotransfeministas, reunindo nomes como os da artista estadunidense Carolee Schneemann (1939-2019), primeira a incorporar seu corpo nu em um trabalho, Celeida Tostes (1929-1995), Laura Aguilar (1959-2018) e Márcia X. (1959-2005). Há também expoentes das artes ainda em atividade, como Suzana Queiroga, Ricca Lee, Cecilia Vicuña, Regina José Galindo, Yara Pina e a travesti Vulcanica Pokaropa. De acordo com Hilda de Paulo, curadora da mostra, áì³åì å ³ª á Ìì å « á Ü åƛ ĥÅ° å ³ åÞÓá amefricana, mestiza e de fronteira, compõem essa exposição coletiva. Diversas pensadoras também embasam o discurso conceitual do trabalho, como Gloria Anzaldúa (1942-2004), bell hooks (19512021), Donna Haraway, Denise Ferreira da Silva, além de Paul B. Preciado. Hilda conta que terra abrecaminhos traz artistas de vários estados
brasileiros, além de Cuba, Estados Unidos, Costa Rica, Chile, e brasileiras que migraram para a Europa e outras regiões. “A questão da imigração é central para nós. Essa não é uma exposição sobre mulheres Óñ ñË ì Ìì ì³ü ĥáË Ó ì «Óá³ ƛ Ë å sobre lugar de fala, alianças e régua de experiência – que mede as vivências de cada pessoa –, temas que são atravessados por marcadores como gênero, raça e classe”, destaca a curadora, que é doutoranda em Estudos Literários, Culturais e Interartísticos pela Universidade do Porto, em Portugal. O título de terra abrecaminhos ì Ëƛ ³Ì ƛ ³ÌĦñ¤Ì ³ å das epistemologias de terreiro, do candomblé e das encruzilhadas – a partir de Exu, orixá que abre os caminhos. A mostra também propõe como recorte questões ligadas às (tr)ancestralidades, aos sonhos e aos apagamentos sistêmicos. A assistente de curadoria, Maíra Freitas, defende que a mostra é uma espécie de cápsula do tempo ao estabelecer pontes entre pensamentos sobre o corpo, mulheridades, solidariedade e práticas políticas em diferentes épocas e regiões. “Gostamos muito do poema Semente, da chilena Cecilia Vicuña, que diz: ‘Só um gesto coletivo de amor poderia parar a destruição’. A exposição é sobre isto: o poder dos afetos como ferramenta de resistência”, complementa Freitas, que também é artista, pesquisadora e arte-educadora. 47 | e
Gabi Carrera
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Santa Suzana (1998), de Suzana Queiroga.
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Cortesia Grasiele Sousa
a situação DA brasileira ƮİĮįĴƯƛ #á å³ Å YÓñå ƚÂƚ ƚ ÅÔ áÓË ƚ
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Cortesia Swivel Gallery
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O Mesmo Sal ƮİĮİıƯƛ : á³åå YÓñĈ ƚ
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DESCOLONIZAR O OLHAR Ao debater os diversos tipos de feminismos, exposições Ana Mendieta: Silhueta em Fogo e terra abrecaminhos ocupam Sesc Pompeia com retrospectiva inédita
A partir do dia 19/9, a Área de Convivência do Sesc Pompeia se divide ao meio para receber as exposições Ana Mendieta: Silhueta em Fogo e terra abrecaminhos. A primeira apresenta um recorte da obra da artista cubana, ÓËÓ ªÓìÓ«á ĥ å İį ĥÅË å – incluindo material inédito feitos por Mendieta entre 1973 e 1981. Em terra abrecaminhos, o público passeia por pinturas, esculturas, desenhos, instalações, Þ áªÓáË Ì åƛ üµ Óåƛ ªÓìÓ«á ĥ å e outras obras que celebram a representatividade e feminismos negros, decoloniais, chicanos e ecotransfeministas de artistas de diversos países.
Brasil, mas também por realçar o protagonismo de uma artista latino-americana que, por meio da performance em diversos suportes, lança luz a questões relacionadas à liberdade das mulheres”, destaca Monica Carnieto, gerente do Sesc RÓËÞ ³ ƚ Å å «ñ ĥáË Ì Ó que a atualidade e a relevância do fazer artístico de Mendieta “são evidenciadas a partir dos diálogos possíveis com a produção de outras artistas contemporâneas que estão em terra abrecaminhos”.
Em cartaz até janeiro de 2024, a programação oferece, ainda, uma série de atividades paralelas previstas para ampliar os debates suscitados pelas exposições, como ciclos de performances Ó ü³üÓƛ Ă³ ³ Ó ĥÅË åƛ plenárias e concertos.
Exposição coletiva com curadoria de Daniela Labra e Hilda de Paulo. Assistência de curadoria: Maíra Freitas. De 19 de setembro de 2023 a 21 de janeiro de 2024. Terça a sábado, das 10h às 22h. Domingos e feriados, das 10h às 19h. GRÁTIS. sescsp.org.br/pompeia
“Ana Mendieta foi pioneira nos processos de investigação do corpo e das questões de gênero, ancestralidade e natureza. A relevância dessa exposição se dá não apenas pelo ineditismo no
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G +
Ana Mendieta: Silhueta em Fogo | terra abrecaminhos
Bruxonas ƮİĮİĮƯƛ Rñì Y³Åü ƚ
Cortesia Puta da Silva
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sescsp.org.br
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA VENDA PROIBIDA
Pedro Vannucchi (foto); Nortearia (colagem)
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