7 minute read

CELEBRANDO O BLACK HISTORY MONTH COM TEREZINHA RIBEIRO

Você sabia que Atlanta, na Geórgia, é uma cidade com rica história e patrimônio cultural afro-americano? É considerada o berço do movimento e casa do líder pelos direitos civis,

Martin Luther King Jr. A cidade tem várias instituições culturais, como o Parque Histórico Nacional Martin Luther King Jr., que celebram e honram as contribuições dos afro-americanos à sociedade americana.

Advertisement

O Mês da História Negra, em inglês “Black History Month”, é uma observância anual nos Estados Unidos que celebra as contribuições e realizações dos afro-americanos ao longo da história. Para celebrar esse mês de maneira significativa, indivíduos e comunidades podem se envolver em atividades como: educarem-se sobre as experiências dos afro-americanos; honrar líderes e pioneiros afro-americanos; apoiar negócios e organizações de propriedade de afro-americanos; incentivar a diversidade e a inclusão; e refletir sobre lutas contínuas pela justiça e igualdade. Ao tomar estes passos, esses indivíduos e essas comunidades podem promover maior compreensão, unidade e progresso.

Cada ano, Atlanta celebra o Mês da História Negra com uma variedade de eventos e atividades, incluindo festivais culturais, apresentações de música e dança, exposições históricas e programas educativos, que destacam a importância desse mês.

A história cultural do Brasil também é rica em raízes africanas em muitos aspectos, incluindo música, dança, arte, culinária e religião. A música afro-brasileira, como samba, pagode, axé, funk e sertanejo universitário, tem raízes nas culturas africanas e é amplamente apreciada. Danças como samba de gafieira, capoeira e samba de roda são fortemente influenciadas pelas culturas africanas e são parte integrante da cultura brasileira. A arte afro-brasileira, incluindo a arte de candomblé, é uma forma de expressão cultural que remonta à época da escravidão e é um importante símbolo dessa identidade. A culinária afro-brasileira inclui pratos como acarajé, moqueca e vatapá, que foram influenciados pelas culinárias africanas e são amplamente apreciados. Com tantas similaridades culturais africanas, Brasil e Atlanta se encontram em várias celebrações durante o mês de fevereiro. A nossa comunidade brasileira em Atlanta conta com muitas pessoas que já participam das celebrações americanas durante o ano todo, uma delas é a ativista brasileira e divulgadora da cultura brasileira e americana africana, Terezinha Ribeiro.

Terezinha é nativa do interior de São Paulo e cresceu em um sítio. Desde jovem, sempre sonhou em ser atriz e, após se formar em magistério, trabalhou como professora no ensino fundamental. Além disso, ao longo da vida, Terezinha participou de muitos projetos culturais, incluindo dança, teatro, canto e trabalho como contadora de histórias. Ela também teve a oportunidade de estudar teatro amador e trabalhar no Sesi por doze anos. Inspirada por toda essa experiência, Terezinha criou o grupo musical "Nega de estampa". Em 2012, foi para Atlanta e se apaixonou pela cidade, onde se considera uma pessoa eclética e aberta a novas experiências.

Após decidir viver em Atlanta, Terezinha estudou inglês e logo se envolveu com americanos locais para aprender sobre a cultura afro-americana local. Foi nessa época que ela redescobriu sua identidade racial, que já era genética, e agora se enriquecia histórica e culturalmente. Hoje, Terezinha trabalha com o seu próprio grupo de ativismo e ajuda mulheres pretas brasileiras em Atlanta, pelo Black Brazilian Beauties.

Com sessenta mulheres, o grupo Black Brazilian Beauties iniciou suas reuniões presenciais de networking com os seus membros em Atlanta em novembro do ano passado. O grupo tem como missão escutar e ajudar mulheres pretas em todas as suas necessidades. É também o objetivo do grupo dar apoio a empreendedoras, com palestras, treinamentos e networking. Aproveitando o Black History Month, a Cia Brasil Magazine conversou com Terezinha para saber mais sobre sua história e um pouco mais sobre a Black Brazilian Beauties. Confira o nosso bate-papo a seguir!

CIA BRASIL: Conte-nos um pouco sobre a sua experiência, como mulher preta, vivendo em Atlanta e o porquê decidiu morar nessa cidade?

TEREZINHA: Fui convidada por uma amiga para passar férias aqui e gostei tanto da cidade que decidi morar aqui. Eu aprendi muitas coisas aqui em Atlanta. A maior delas foi redescobrir a minha identidade racial. Conheci aqui em Atlanta Sandy Oliveira uma pessoal maravilhosa, doutora e especialista em questões voltadas para as comunidades pretas, como educação, cultura e história africana. Minha vida mudou e se abriu um universo de possibilidades para mim. Fizemos eventos juntas e até hoje sou a sua maior fã.

Quando vim para os Estados Unidos, visitei o centro cultural de Martin Luther King Jr. e me emocionei tanto, que minha vida mudou completamente. A minha personagem na peça que atuei em São Paulo falava muito sobre a luta do Dr. King aqui pelos direitos civis. Aprendi muito aqui e fiquei impressionada com a riqueza cultural africana de Atlanta. Aqui vejo as comunidades mais organizadas e as pessoas pretas mais empoderadas.

Aqui eu me sinto acolhida, até por aqueles que não estão conscientemente engajados pela causa preta. A maioria das pessoas ama o Brasil e me recebe calorosamente.

CIA BRASIL: Na sua opinião, quais são as maiores diferenças entre o Brasil e os Estados Unidos com relação ao apoio à cultura e comunidade de descendência africana.

TEREZINHA: Culturalmente, vejo muita paixão na luta dos afro-americanos pela igualdade social racial, e a informação sobre a verdadeira história da escravidão é mais acessível aqui. A população preta no Brasil é consideravelmente maior do que a daqui, mas os americanos conseguem ter melhor união e organização para a cultura, história e atividades que promovem a história afrodescendente americana e, geralmente, fazem tudo independente de meios governamentais e institucionais. No Brasil ainda há a mentalidade de que tudo deve partir do governo.

No que diz respeito à resistência à escravidão, ambos os países a têm, mas são bem diferentes. O mindset do americano é completamente diferente da mentalidade do brasileiro com relação à escravidão e diferenças raciais entre branco e preto. Aliás, o povo de descendência afro-brasileira na Bahia é muito mais admirado e respeitado do que o próprio Brasil o faz com o próprio brasileiro.

Na minha opinião, mesmo essa mentalidade sendo diferente nos dois países, ainda há muito o que mudar aqui e no Brasil. O afrodescendente é diferente dos povos considerados brancos, os quais ainda impõem um padrão de comportamento no mundo inteiro. O fim dos problemas raciais é reconhecer essa diferença e respeitá-la.

CIA BRASIL: Fale-nos um pouco sobre o seu grupo Black Brazilian Beauties e os seus projetos para 2023.

TEREZINHA: Atlanta me ajudou a alinhar com o meu propósito de vida. Aqui consegui me sentir mais realizada e seguir com os meus projetos antigos. Eu acredito que a comunicação seja uma ferramenta poderosa na luta pela igualdade racial dos povos pretos, e eu já carrego comigo esse dom de me comunicar, seja escrevendo para a revista ou participando de eventos. Foi então que decidi, com outros apoiadores, a criar o Black Brazilian Beauties. Juntamos um grupo de mulheres brasileiras pretas, que vivem em Atlanta. Nós, mulheres pretas, estamos na base da pirâmide social e, lamentavelmente, este é o grupo que mais sofre com o racismo, tanto aqui quanto no Brasil. Além do problema racial, ainda sofremos com a questão de classe econômica menos favorecida. Essa é uma avaliação da média comprovada por estudos, e não quer dizer que não haja exceções.

A intenção do Black Brazilian Beauties é de termos um senso comunitário e de apoio umas às outras, além da interação social e troca de experiências e fazer networking profissional. Este não é um clube social nem antirracista, mas sim uma organização de irmandade, com propósito de adicionarmos umas à vida das outras e trazer conhecimento sobre questões de racismo e desigualdade social, tudo com amor e respeito pelo próximo.

Aos poucos recebemos apoio de várias pessoas e instituições que nos ajudaram a sair do papel e concretizar o nosso grupo. Nossa proposta é criar narrativas, desenvolver novos projetos, e fortalecer esse grupo que nem sempre tem apoio de outras instituições e grupos. Já temos propostas de encontros bimestrais, que anunciaremos para todos aqueles que gostariam de nos apoiar ou participar conosco. Uma sociedade dividida, não evoluirá. O nosso lema é sempre agregar.

CIA BRASIL: Pode nos falar um pouco sobre o seu envolvimento com outras organizações que você participa, voltados para a cultura e comunidade de descendência africana?

TEREZINHA: Aqui em Atlanta tenho um relacionamento incrível com várias instituições e organizações americanas e brasileiras que têm interesse em divulgar a cultura brasileira. Faço trabalhos voluntários e uso a minha empresa, que se chama 3b Network, para fazer trabalhos artísticos como samba, capoeira e outras apresentações remuneradas, seja sozinha ou com os meus parceiros do projeto. Os americanos ficam encantados com o nosso trabalho. Já atendemos festas de empresas, escolas, grupos e entidades que divulgam a cultura preta.

Também sou membro de vários grupos incluindo o meu título de rainha da escola de samba Unidos Atlanta (@unidosatlanta).

CIA BRASIL: Para finalizar, deixe o seu recado para os leitores da nossa comunidade brasileira de Atlanta.

TEREZINHA: Tenho uma imensa gratidão a todos aqueles que apoiam os meus projetos, seja com fundos para realizarmos eventos, poder de voz, ou até mesmo com uma palavra de encorajamento. Fico feliz quando vejo o interesse das pessoas pela causa. Você não precisa ser preto para poder nos ajudar e participar conosco.

Eu e o povo preto temos muito orgulho de nossas origens e de sermos pretos. O problema de racismo e discriminação é um problema de toda a sociedade e melhorará quando todos participarem.

Agradeço a Cia Brasil Magazine e a fotógrafa Ana Nobre pela oportunidade de falar sobre a causa preta, especialmente em um mês em que celebramos o Black History Month.

Quando você não conhece, não convive e não estuda sobre um determinado assunto, você não o entenderá nem o respeitará. Por isso é importante convivermos e aprendermos sobre o que realmente é o racismo institucionalizado nos dias de hoje, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

Convido todos a nos apoiar e conhecer não somente o nosso projeto do Black Brazilian Beauties, mas buscar entender e apoiar as causas pretas.

Feliz Black History Month!

Da redação

Fotos por Ana Nobre| Cia Brasil Magazine Maquiagem by @j.amake_up

Cabelo by @jamelabraiding @terezinhablack

@blackbrazilianbeauties (3Bnetwork)

This article is from: