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ANO 5 - Nº 29 JUN-JUL/15

OUZA

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OFÔLEGO ÔPA

TRADIÇÃO PARA FORTES: AREEIROS MERGULHAM ATÉ 600 VEZES POR DIA, QUATRO METROS DE PROFUNDIDADE, PARA EXTRAIR AREIA DO FUNDO DO RIO CORRENTE






editorial

Ouza Editora Ltda. Rua Profª. Guiomar Porto, 209 - Sala 105 Tel.: (77) 3613.2118 - Centro - Barreiras (BA)

Agora com conteúdo audiovisual

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ANO 5 - Nº 29 - JUN-JUL/2015 DIRETOR DE REDAÇÃO E EDITOR

Cícero Félix (DRT-PB 2725/99) 9131.2243 e 9906.4554 sousa.cfelix@gmail.com

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DIRETORA COMERCIAL

Anne Stella

9123.3307 e 9945.0994 annestellax@hotmail.com

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REDAÇÃO Ivana Dias SECRETÁRIA DE REDAÇÃO

Carol Freitas

8826.5620 e 9174.0745 freitas.caarol@gmail.com

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COLABORAÇÃO

Rui Rezende

EDIÇÃO DE ARTE

Leilson Soares

CONSULTORIA DE MODA

Karine Magalhães REVISÃO

Aderlan Messias IMPRESSÃO

Gráfica Gatos TIRAGEM

3 mil exemplares ASSINATURAS/CONTATOS COMERCIAIS Barreiras

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3613.2118 / 9906.4554 / 9131.2243 / 9123.3307 Barra

Helena: (74) 3662.3621 Bom Jesus da Lapa

Gisele: (77) 9127.7401 Santa Maria da Vitória

Marco Athayde: (77) 3483.1134 / 9118.1120 / 9939.1224 Rosa Tunes: (77) 9804.6408 / 9161.3797

A r.A obedece a Nova Ortografia da Língua Portuguesa e não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nas colunas assinadas.

esde a edição sobre a seca no São Francisco, em outubro do ano passado, a r.A tem aproveitado o momento de certas produções jornalísticas para registrar o mesmo assunto em linguagem audiovisual. Resultado, esses filmes em breve vão virar documentários. Dois estão no forno – um é sobre o Velho Chico e, o outro, João do Biriba. Eis que nos surge a oportunidade de fazer esta reportagem sobre o ofício dos areeiros do Corrente para capa desta edição. Resultado? O material virou outro filme, pulou a fila no setor de pós-produção e será o primeiro documentário a ser lançado na web no canal do YouTube da revista. A data será divulgada no site revistaa.net. A finalização desse produto só foi possível através da Opa! Produtora de Conteúdo, com quem a r.A fechou parceria para o desenvolvimento desse novo projeto de comunicação. Há algumas edições a Opa! já participa de alguns produtos gráfico-editoriais da revista. Com essa parceria, ganhamos todos: nós e, principalmente, vocês. É importante transpor fronteiras, conhecer os limites, desafiar as lógicas, como os fortes areeiros-mergulhadores do Corrente. Quem se habilita a mergulhar 600 vezes em um dia para tirar areia do fundo do rio? A escolha desse documentário para inaugurar esse canal de vídeo não poderia ser melhor. A alegria desses ribeirinhos e a força poética e coreográfica dessa atividade causam deslumbramento e espanto no espectador. As metáforas que brotam do olhar são tão ricas quantas as latas de areia erguidas como um tesouro, ou um troféu. Voltemos. Esta edição não é constituída apenas da reportagem de capa. Mas, vamos destacar apenas mais dois assuntos: a exposição de gravuras e xilogravuras de Lasar Segall no Sesc de Barreiras, uma viagem pelas artes que influenciaram o modernismo no Brasil nas primeiras décadas do século passado; e a entrevista com o senador Cristovam Buarque. Autor do projeto para a federalização do ensino básico, ele defende que o professor desse ciclo deve ter salários melhores que professores de universidade. Se isso vai ser concretizado um dia, eu não sei, mas que nós precisamos de mais igualdade de direitos, isso não resta dúvida. Boa leitura! Bom filme! Cícero Félix, editor



índice COLUNAS 30 | Exclamação, por Karine Magalhães 33 | Desenrola, por Aderlan Messias 36 | Opinião, por Fabio Claudio Tropea 53 | Impressões, por Anton Roos 57 | Saia Lápis, por Anne Stella 17 | A MISCELLANEA Artes Plásticas: A poesia de Lasar Segall Exposição: Homens do campo Apoio a romeiros: Solidariedade e devoção na romaria do Cantinho Memória: Eu sou, eu fui, eu vou Cultura: No silêncio dos Gerais Homenagem: É preciso manter vivo o desejo de querer aprender, defende professor O Personagem: A guardiã do Velho Chico Manifestação: População pede paz e segurança nas ruas de Barreiras 35 | ECONOMIA & MERCADO Design: Bom gosto e profissionalismo

39 | AGROMAGAZINE Negócios: Feiras movimentam o Oeste Flores: Oficina ensina cultivo de orquídeas Tecnologia: Dia de campo do algodão reúne especialistas no setor em LEM 41 | ENTREVISTA: CRISTOVAM BUARQUE Federalização vai precisar de apenas 6,4% do PIB 44 | CAPA Areeiros do Corrente 50 | UM LUGAR Rui Rezende: Bahia aérea 51 | CULT Literatura: “Fui a um circo e não gostei” Música: A tradição e a força dos festivais de Ibotirama Agenda: O inverno e os festivais 58 | SOCIAL



leitor

Canais Revista A

contato@revistaa.net

Economia e Mercado – Jovem empreendedor da estética Muito merecido! Sempre vi sucesso em seu futuro, Diego! Que venha muito mais! Muito boa a reportagem! Monalisa Nunes Massa, Diego Brandão! Você é merecedor de todo sucesso! Renan Kuhn Você merece pela pessoa que é e pela administração que exerce. Empresário modelo pra mim. Parabéns, Diego Brandão! Maíra Aguiar Parabéns, Diego! Lembro-me bem que desde os tempos da Microlins já demonstrava um potencial enorme para ser um empreendedor. Sucesso na carreira! Ebert Lucas Parabéns, Diego Brandão. Sucessoo sempre, você é um empreendedor e tanto. Tem uma visão realmente holística e inovadora do seu negócio. Além de talento, você tem carisma e sobretudo feeling. Taciana Barbosa

Entrevista - Lei da Terceirização: entre brechas e avanços Parabéns, Dr.Silvana! Também concordo com seu ponto de vista, que se houver mudança, que mude e mude pra melhor! Dalvânia Maia Beijoino



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C.FÉLIX

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caiunarede www.revistaa.net

TURISMO DE SÃO DESIDÉRIO NA TV Os pontos turísticos do município foram temas do programa “Aprovado” da Rede Bahia, do dia 13 de junho. O material produzido foi exibido em duas edições: na primeira o público conheceu o Sítio Arqueológico das Pedras Brilhantes, Sumidouro João Baio e a Gruta da Beleza; na outra edição, o artesanato e alguns produtos medicinais da localidade da Ponte de Mateus.

Praça para a igreja As cidades de colonização portuguesa, como Barreiras tinham algumas características em comum. Uma delas era a construção de praças triangulares em frente à igreja, como homenagem a Deus. Construiu-se então uma em frente à Igreja São João Batista. Atualmente, a praça não existe mais. No local, foi construído um prédio, cujo térreo é ocupado por uma lanchonete. A foto é de 1930.

GRUPO APRESENTA CULTURA DE FUMO DE ARAPIRACA

A banda paulista Kaoll apresentou a interpretação cronológica da obra de Pink Floyd no Teatro Sesc Barreiras. O quarteto fez uma apresentação com arranjos e medleys inovadores, que misturaram elementos do rock progressivo, do jazz e da música brasileira.

As Destaladeiras de Fumo de Arapiraca & Nelson Rosa (AL) apresentaram seu repertório na primeira etapa do Circuito Nacional Sesc de Formação de Ouvintes Musicais. O grupo composto por cinco mulheres e pelo mestre Nelson Rosa, apresentaram canções entoadas na rotina de trabalho das destaladeiras.

NAPOLEÃO MACEDO

memória

KAOLL INTERPRETA SUCESSOS DE PINK FLOYD



FOTOS: C.FÉLIX

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De um lado, amanhecer; de outro, entardecer. Paletas de cores, temperatura, serenidade, ardor... comboio de tons, planetas sem nomes, preguiça de acordar, pouca vontade de ir dormir e mais cor, cores que pintam despretenciosamente o horizonte com o movimento do vento, do sol, do eixo, do enpeno. Pior para os homens que não olham adiante...

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miscellanea C.FÉLIX

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ARTES PLÁSTICAS

A POESIA DE LASAR SEGALL GRAVURAS E XILOGRAVURAS DO ARTISTA RUSSO QUE AJUDOU A CRIAR O MOVIMENTO MODERNISTA BRASILEIRO ESTÃO EM EXPOSIÇÃO NO SESC-BARREIRAS texto REDAÇÃO

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miscellanea

ATENÇÃO O fotógrafo Rui Rezende em conversa com o prefeito de Barreiras, Antônio Henrique. Rui esteve na cidade expondo suas obras entre os dias 4 e de 12 julho, na ExpoAgro

EXPOSIÇÃO

HOMENS DO CAMPO Está em cartaz no Sesc-Barreiras a exposição “A Gravura de Lasar Segall - Poesia da Linha e do Corte”, composta por 35 obras (16 gravuras em metal e 19 xilogravuras) produzidas pelo artista entre 1913 e 1930. Elas representam dois movimentos na arte do artista russo radicado no Brasil. Por um lado, confrontam as distintas abordagens que a figura humana adquiriu na obra de Segall e por outro, evidencia o modo como a forma gráfica se fez presente em sua carreira. Segall foi escolhido pelo Sesc por ter influenciado singularmente a arte no Brasil, com o movimento Expressionista - de Die Brücke (A Ponte), de Dresden, e com a arte primitiva. Pintor, desenhista, gravador e escultor, destacava expressões simples e despojadas, em seus trabalhos. Foi precisamente na gravura que Segall conseguiu criar uma nova forma plástica, concisa e concentrada, que dava conta tanto do seu lirismo como da dramaticidade que as primeiras décadas do século anunciavam. A exposição teve início no dia 3, mas pode ser vista até o dia 30 de julho, das 9h às 17h, no Sesc-Barreiras. A entrada é franca. 18

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Este ano, a 33ª da Exposição Agropecuária de Barreiras recebeu um toque especial de arte com a exposição “Vaqueiros do Nordeste e o Homem do Campo”, do fotógrafo Rui Rezende. Os painéis da mostra estiveram disponíveis a visitas no

período de 4 a 12 de julho, com imagens que retratam um pouco mais sobre o cotidiano desses personagens. Rui é fotógrafo profissional e desde 2012 assina a coluna “Um Lugar” da Revista A. Entre os trabalhos já realizados por ele, estão os livros “Encantos de Tinharé”, “ Chapada Diamatina, um paraíso desconhecido” e “ Oeste da Bahia, o novo mundo”, que foi lançado no fim de 2014. As próximas exposições do fotógrafo acontecem de 20/07 a 07/08 em Salvador e de 22/08 a 12/09 em Santo Antonio de Jesus.

SÃO JOÃO

REMELEXO CEARENSE VENCE CONCURSO O São João de Barreiras foi comemorado com realização da 10ª edição do Concurso Regional de Quadrilhas Juninas. O destaque foi para a quadrilha Remelexo Cearense, Campeã de 2015, com o tema “O romance do pavão misterioso”. Hexacampeã, a quadrilha foi fundada há 38 anos por cearenses que vieram para Barreiras com o 4º Batalhão de Engenharia e Construção em 1973. O segundo e terceiro lugar ficaram com Filomena Forrozeira e Rosa de Ouro, respectivamente.

LIVRO SOBRE PE. VIEIRA É LANÇADO EM ANIVERSÁRIO DE 90 ANOS DA CATEDRAL Para comemorar os 90 anos da inauguração da Catedral São João Batista,a Diocese de Barreiras lançou o livro “Padre Vieira, missionário, construtor e educador em Barreiras”. A obra é organizada pelo Bispo de Barreiras, Dom Josafá Menezes; pelo estudante de Teologia e seminarista Onildo Rodrigues Novais; e pela professora e historiadora, Ignez Pitta.


Rua Francisco Macedo, 1035 - Morada Nobre (Barreiras) - Tel.: 3611.3448


miscellanea APOIO A ROMEIROS

SOLIDARIEDADE E DEVOÇÃO NA ROMARIA DO CANTINHO texto IVANA fotos C.FÉLIX/GUSTAVO RIBEIRO

C

entenas de romeiros saíram de frente da Catedral São João Batista à meia-noite, do dia 2 de julho e percorreram os 18 km que separam Barreiras ao Povoado de Cantinho do Senhor dos Aflitos. No percurso, o grupo Senadinho, que há três anos distribui lanches e água aos romeiros, entregou 3.000 unidades, o dobro da quantidade distribuída ano passado. A missa do romeiro, como é chamada a primeira celebração, aconteceu às 7h na capela do povoado. No decorrer do dia milhares de pessoas chegavam para assistir as missas celebradas durante todo o dia. O enceramento ocorreu no final da tarde com a realização de missa e procissão. “Acho importante a devoção dos católicos por Senhor dos Aflitos, pois se identificam com sua dor”, disse Dom Josafá.

AÇÃO Criada a partir da iniciativa de alguns amigos e, hoje, assumida pelo grupo Senadinho a distribuição de café, lanche e água no percurso da romaria é um alento para romeiros que caminham 18km até a comunidade do Cantinho do Senhor dos Aflitos

A tradição da romaria existe há 295 anos e reúne fiéis que caminham durante todo o trajeto com rezas, cânticos e pedidos de chuvas. Até chegar ao povoado de Timbó, posteriormente denominado Cantinho do Senhor dos Aflitos, devido à necessidade de um “canto” para hospedar-se, a imagem trazida de Portugal pelos primos Francisco e José Ayres da Fonseca passou por Barra em 1710 e seguiu até o Oeste do São Francisco. Em 1720 a capela de Senhor dos Aflitos foi construída pela família Ayres e em seguida a imagem foi enviada para Barra, local onde ficou retida durante alguns meses por falta de transporte para retornar. A partir desse fato, os moradores propuseram devoção quando a imagem retornasse. À meia-noite do dia primeiro de julho, a imagem retornou ao Cantinho e para dar continuidade as festividades religiosas iniciou-se a romaria.



RUI MENDES/REPRODUÇÃO

miscellanea MEMÓRIA RAUL SEIXAS Se estivesse vivo, baiano teria feito 70 anos no dia 28 de junho. Ícone do rock nacional, ele faleceu em 1989

EU SOU, EU FUI, EU VOU texto CAROL FREITAS

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uase 26 anos depois de sua morte, o cowboy fora da lei Raul Seixas ainda permanece vivo no coração dos fãs e na cultura do rock nacional. No dia 28 de junho, se estivesse vivo, o baiano que misturou rock com baião completaria 70 anos de idade. Compositor de sucessos como “Ouro de Tolo” – música que alavancou sua carreira musical – Raulzito faleceu na manhã de 21 de agosto de 1989 em decorrência de uma parada cardíaca. Desde criança o artista demonstrava um pé na paranoia em que viveu ao longo dos 44 anos. Considerado por si próprio, fora dos padrões, abandonou cedo os estudos escolares e decidiu pela profissionalização como músico. Raul afirmava que a escola não lhe ensinava o que ele realmente queria saber. Envolvido desde a infância com questões filosóficas, o pai do rock


A breve carreira do carimbador maluco marcou a vida de muitos brasileiros, que movimentam o mercado fonográfico até hoje. Eles consomem revistas, pôsteres, livros, documentários e discos reeditados e lançados constantemente. Em pleno ano de 2015, suas canções continuam atuais e traduzem realidades ainda comuns em nossa sociedade. Imortalizadas, “Tente Outra Vez”, “O dia em que a terra parou”, “Sapato 36”, “Eu nasci há 10 mil anos atrás”, “Metamorfose ambulante” dentre outras, marcam o cenário do rock nacional e influenciam o repertório de muitas bandas.

C.FÉLIX DIVULGAÇÃO

Apesar do sucesso estrondoso das canções do maluco beleza, Raul teve uma carreira conturbada, marcada pelos excessos, inclusive com bebidas alcoólicas. Em maio de 82, apresentou-se tão alcoolizado em Caieiras, interior de São Paulo, que acabou sendo tomado por impostor de si mesmo, sendo preso e ameaçado pelo delegado da cidade.

RODNEY MARTINS

nacional compôs parcerias inesquecíveis como “Gita” com o escritor e amigo pessoal Paulo Coelho. A canção gravada no mesmo período da criação da Sociedade Alternativa, cujo lema era “Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei”, lhe rendeu mais de 600 mil cópias vendidas.

SÃO JOÃO E EXPOAGRO

OESTE DA BAHIA VIRA PALCO PARA TODOS OS GOSTOS Entre os dias 19 e 23 de junho, São Felix do Coribe comemorou as festas juninas com várias atrações. Um dos shows mais aguardados foi Amizade Sincera. O espetáculo foi apresentado por Renato Teixeira e seus filhos (Chico Teixeira no violão de doze cordas e João Lavraz, no baixo) e os filhos de Sérgio Reis (Paulo Bavini na viola de dez e Marco Bavini no violão). Não foi possível aos fãs da música sertaneja de raiz contarem com a presença de Sérgio Reis, que na ocasião estava internado com problemas de saúde. MAIS ATRAÇÕES Na Expoagro 2015 de Barreiras, entre 4 a 12 jullho, se apresentaram no Parque de Exposições Engenheiro Geraldo Rocha: Zéze de Camargo e Luciano, Paula Fernandes, Biquíni Cavadão, Timbalada, Baião de Dois e várias atrações locais.


miscellanea C.FÉLIX

CULTURA

HERMES NOVAIS

NO SILÊNCIO DOS GERAIS Enquanto as cidades se agitavam no mês de junho com seus palcos, sons amplificados e modernos, geraiseiros manifestavam tradições de uma cultura rural rica em elementos e significados. Na comunidade de Jabotá, em Santa Maria da Vitória, Seu Liu (foto acima) realizou pelo 39º ano o levantamento do mastro da bandeira de São João. São vários rituais e em vários dias, até a derrubada do mastro. Não muito longe dali, no mesmo período, na comunidade Guará, acontece o encontro de cantadores de chula, na casa de Manoel de Teodósio. A chula é o samba feito com tambor e viola, na definição de Teodósio. Ele não sabe explicar as origens da manifestação, composta de música e dança, mas reúne os amigos todos os anos para realizar o encontro. Os dois eventos, segundo Hermes Novais, incentivador dessas manifestações nas zonas rurais do município, representam a resistência das culturas geraiseiras. “Para o nosso bem, e para o bem da cultura de nosso povo, esses homens persistem com a alegria de realizar esses movimentos”.


HOMENAGEM

É PRECISO MANTER VIVO O DESEJO DE SEMPRE QUERER APRENDER, DEFENDE PROFESSOR Durante a cerimônia de colação de grau da turma de administração da Faculdade Dom Pedro II, o professor e paraninfo Maxsuel dos Santos de Jesus fez um discurso emocionado e chamou atenção dos jovens formandos para o futuro – não apenas o profissional, mas o pessoal. Inicialmente, Maxsuel, que também é administrador, destacou a importância da escolha profissional. “É um equívoco escolher uma profissão pensando apenas no salário”, avaliou. Para ele, é preciso ter afinidade e amor por aquilo que se faz. “Só assim se consegue o sucesso, só assim o ser humano consegue ser inovador e criativo no ambiente de negócios”. “Se achar pronto depois de concluir um curso não é uma boa receita”, ponderou o professor. É preciso sempre manter vivo o desejo de aprender. O aprendizado não cessa com o tempo nem na bancada de uma universidade. “Ao nascer, recebemos magníficos dons, talentos e capacidades. Por causa desses dons, o potencial existente é tremendo e até infinito. Aqui finda um caminhar, mas também inicia uma nova jornada”, disse.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Recentemente, o professor Maxsuel de Jesus foi condecorado com a Comenda de Honra ao Mérito 26 de Maio, principal honraria concedida pelo Poder Legislativo, pelas relevantes ações em prol da sociedade barreirense como servidor público. Atualmente, além de lecionar em duas universidades, coordena a Central de Regulações do município. Ele também prestou serviços para o Sebrae e, como gerente, para o Banco Itaú.

NA FORMATURA O professor Maxsuel de Jesus recebeu a placa de paraninfo da formanda Jane Nunes, presidente da comissão de formatura do curso de administração


miscellanea O personagem

A GUARDIÃ DO VELHO CHICO Observadora do rio há 15 anos, dona Maria tem uma relação com o São Francisco mais que burocrática. Nele, correm seus afetos, alegrias, tristezas... texto/fotos RENATA PINHO

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o quintal, dona Maria assiste ao movimento do Velho Chico, por quem tem um sentimento tão puro quanto o maternal. Mora ali, na comunidade quilombola de Barrinha, em Bom Jesus da Lapa, desde meados de 1990. Alice Maria, como consta no registro, escolheu as barrancas do rio para fazer a sua história - lugar por onde circula a Mãe D’água, por onde as invencíveis carrancas desfilavam imponentes nas proas dos barcos; lugar de gente simples e de sorriso largo como dona Maria. Neste mês de julho ela vai comemorar 60 anos de vida. Dona Maria já viu muita coisa! Logo depois que ela mudou veio uma enchente que alagou toda a região ribeirinha. Era 1991. “Foi muito difícil lidar com a cheia, tivemos até que mudar para um barraco mais afastado da cidade.” Apesar dos transtornos das cheias, ela lembra que naquela época havia fartura no rio. “‘Toda espécie [de peixe] tinha, minha filha: era surubim, dourado, tambaqui... Peixe do bom!”.

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Os anos passaram-se, a seca engoliu a fartura, os filhos cresceram, casaram, se mudaram e, dona Maria, foi convidada para assumir uma missão, no mínimo, nobre. A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF) propôs a ela, ser uma “observadora” do rio, tarefa que cumpre diariamente há 15 anos. Bem cedo, às vezes antes do cafezinho, dona Maria vai até a algumas réguas distribuídas no leito do rio e marca o nível de água. Ela olha, observa, mede e sai em silêncio enigmático. As medições são feitas duas vezes ao dia. Depois, todos os dados vão para um caderno que é recolhido anualmente pela CHESF. Os olhos que observam as transformações do Velho Chico há mais de uma década lagrimejam. Dona Maria sofre ao ver o rio tão seco, as margens degradadas, os peixes que nem nadam mais por ali. Segundo ela, esse ano o rio tem apresentado o menor volume de água, abaixo de um metro. Contudo, dona Maria segue sua sina. Está sempre ali, na beira d’água cuidando, limpando. Confessa que, apesar de seco, o São Francisco não perde a majestade. Nunca! Ele é o rei dos ribeirinhos, a fonte de sustento para milhares de famílias. “O Velho Chico parece aquele pássaro que chamam de Fênix. Quando pensa que não, ele logo renasce e traz a abundancia das suas águas para nós”, diz, com uma alegria que salta da boca e transborda dos olhos.


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Exclamação por KARINE MAGALHÃES

CONECTADO facebook: karine.beniciomagalhaes e-mail: @ituau_Karine / twitter: @ituau_karine instagram: @karine_magalhaes KARINE MAGALHÃES Consultora de moda, trabalhou na Maison Ana Paula e nas lojas Rabo de Saia, Chocolate, Mary Zide e em cerimoniais com Cristina Gomes. Presta consultoria à Maison Caroline.

Parceria PERFEITA Você que está lendo esse texto, presencia o sucesso e perseverança no mundo fashion no Oeste da Bahia, trata-se da candidata ao Miss Bahia 2015 Patrícia Guerra, representando Luis Eduardo Magalhães e 01 ano de aniversário do Studio Vanité. Para comemorar, fizemos um shoot com Paty (como é chamada carinhosamente pelos amigos) em várias Make & Hair por André Moro e Sérgio Carvalho, ambos do Studio Vanité. Styling assinado por mim, clicks de @kika_hendges, cenário suíte presidencial cedido gentilmente pelo Sant Louis em Luis Eduardo Magalhães. Confira tudo na íntegra no site www.revistaa.net/exclamacao.

Midi Skirt Estilo que caiu no gosto das it girls, nascido em meados dos anos 20’s, sucesso total nos anos 50’s. Seu cumprimento varia entre 4 dedos abaixo do joelho e pode ir ate o tornozelo. Look Black & White, joias Camila Klein - Maison Caroline e sandália - Vogel é uma proposta day by nihgt, vai do trabalho ao jantar.

Ombro a Ombro Deixar pele à mostra, é essa a parte do corpo que fica em evidência com o decote de estilo canoa, tendência máxima das passarelas internacionais de inverno 2015 e verão/16. Confira a elegância de nossa miss ao usar o macacão @bazar65, joias Camila Klein Maison Caroline, Bag Colcci.

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O grande lance de ser uma pessoa alternativa é não usar ou não seguir as regras da moda de forma óbvia. Patricia Guerra usa skynny Calvin Klein e joias Camila Klein - Maison Caroline, colete e cinto Colcci e sandália Vogel.

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Desenrola por ADERLAN MESSIAS

Cafundó DE JUDAS

O

processo de disseminação da língua portuguesa no Brasil não ocorreu em um único momento. Vários períodos possibilitaram a construção do português-brasileiro, dentre eles o processo de colonização que teve contato com outras línguas, especificamente a língua geral, do tupi-guarani; e a africana, trazida pelos negros. Esta, objeto de discussão desta coluna. A cultura africana chegou ao Brasil com os povos escravizados vindos da África nos navios negreiros. Consequentemente a isso, diversas etnias que falavam idiomas diferentes foram incorporadas na cultura brasileira, trazendo consigo não apenas os traços linguísticos, mas também a religião afro baseada no culto aos orixás, a culinária, a música, a dança. Ao fazer uma pesquisa detalhada acerca do vocabulário de origem africana, foi possível encontrar inúmeras palavras que são hoje integradas à língua comum, dentre elas: caçula, cafuné, molambo, cochilo, moleque, macumba, angu, cachaça, caxumba, calundu, calombo, cachimbo, carimbo, tanga, inhame, chuchu, jiló, quiabo, marimbondo, senzala, samba, mocambo, dentre outras. Como se vê, é inegável a riqueza que os africanos deram à cultura brasileira. Na culinária, vatapá, abará, acará, cururu, acarajé; na música, o lundu que culminou na base rítmica do maxixe, do samba, do choro, da bossa-nova; nos instrumentos musicais berimbau, afoxé, agogô. Como os negros viviam em regime de escravidão, a cultura africana foi, aos poucos, suprimida pelos co-

Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus?! Ó mar, por que não apagas Co’a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão! (Castro Alves 1847-1871)

CONECTADO facebook: decodetroia@hotmail.com e-mail: decodetroia@hotmail.com ADERLAN MESSIAS Professor da Universidade do Estado da Bahia e Faculdade São Francisco de Barreiras. Licenciado em Letras Vernáculas e bacharel em Direito

lonizadores. Os escravos aprendiam o português, eram batizados com nomes portugueses e viam-se obrigados a converter-se ao catolicismo, o que não foi diferente com os índios. Em 1978, linguistas e filólogos, a exemplo de Sílvio Elia, (19131998), apontam a descoberta de uma comunidade rural chamada Cafundó, situada na área do conhecido dialeto caipira do Estado de São Paulo. Essa comunidade apresentava cerca de 80 pessoas, e teve origem na doação de um pedaço de terra a dois ex-escravos, pouco antes da Abolição em 1888. Cafundó, mesmo separada da população da redondeza, mantém relação social com pessoas de outras culturas. Interessante de tudo isso é saber que a língua nativa era o português caipira, mas ainda assim, falavam a língua africana, utilizada como espécie de código que só a comunidade conseguia decifrar. Com isso, não é difícil entender o porquê da famosa frase “Cafundó de Judas”. A expressão induz lugar distante, de difícil acesso; e Judas por alusão ao personagem bíblico que trai Jesus e, por arrependimento, enforca-se numa árvore. Como motivação, vale assistir ao filme Cafundó (2005), dirigido por Clóvis Bueno e Paulo Betti, que tem em seu contexto inspiração de um escravo que saiu da senzala no século XIX.


miscellanea ANNE STELLA

MANIFESTAÇÃO

POPULAÇÃO PEDE PAZ E SEGURANÇA NAS RUAS DE BARREIRAS Com o slogan “Paz se constroi com cidadania” a Comissão Voluntária pela Segurança e Paz em Barreiras, levou centenas de pessoas às ruas no dia 16 de junho para participarem da VI Caminhada da Paz. Vestidos de branco, munidos de faixas, cartazes e do grito de paz, os manifestantes saíram da Câmara Municipal de Vereadores e percorreram a avenida Clériston Andrade até a praça Castro Alves. A ação reuniu pessoas de diversos segmentos da sociedade - religiosos, estudantes, colaboradores do comércio, empresários, entre outros, no intuito de reivindicar ao estado investimentos em segurança pública e manifestar indignação com o crescente quadro de violência no município.

TODOS DE BRANCO A 6ª edição da caminhada contou com milhares de pessoas que saíram às ruas da cidade no dia 16 de junho

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e profissionalismo A nova parceiria do segmento de projetos arquitetônicos em Barreirastexto IVANA DIAS/ foto C. FÉLIX

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á 30 anos no mercado de construção em Barreiras, a renomada arquiteta Jacksonete Albuquerque, tem inúmeros projetos assinados decorrentes da sua experiência e competência nesse segmento. No momento da escolha da marca de móveis planejados para montar o seu escritório e indicar aos seus clientes, a arquiteta não teve dúvida, optou pela IF Soluções Planejadas. “Com a IF foi possível criar um ambiente de acordo com as minhas necessidades de trabalho, sem dispensar o conforto, praticidade e beleza”, disse Jacksonte. Atualmente Jacksonete trabalha em parceria com a arquiteta Camila Cabral de Melo e elas compartilham da mesma opinião. “A IF nos disponibiliza produtos de qualidade para criarmos diversos ambientes de acordo com o desejo dos nossos clientes”, pontuou Camila. A IF Soluções Planejadas é a nova linha de planejados da Herval-, que há mais de 55 anos no mercado brasileiro e internacional é reconhecida por sua qualidade, comprometimento e competência. Inovar e personalizar são as suas características. É a escolha certa para quem procura a harmonia de materiais, design e projetos arrojados com va-

CONFIANÇA As arquitetas Camila Cabral e Jacksonete Albuquerque não tiveram dúvida na escolha dos móveis do próprio escritório e optaram pelo conforto e qualidade dos produtos da IF

riedade de opções. A IF disponibiliza um estilo diferente para cada ambiente, com a garantia de criar algo que é só seu. O cliente pode optar pela Linha Dia - são inúmeras opções de cores, materiais, estilos e combinações; Linha Noite - os projetos aliam o conforto e a sofisticação para finalizar o dia e ter uma noite agradável; Linha de Cozinhas – o ambiente é criado com interatividade, para agradar a família na hora de cozinhar, comer, beber e conversar e, pela Linha Art – os ambientes são projetados com inspiração na beleza e nos sonhos. Além dos móveis soltos da Herval- sofás, mesas auxiliares, sistemas de parede, estantes, livrarias, cadeiras, poltronas, mesas, camas, sistemas de armários, cômodas, criados mudos, colchões, armários, ilhas centrais, acessórios exclusivos e área de serviço. IF SOLUÇÕES PLANEJADAS Barreiras Avenida ACM, 1108 - Centro (77) 3021.2211 / 3613.1626

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economia&mercado

Opinião

por FABIO CLAUDIO TROPEA

Semiólogo e escritor, formado na Itália em Sociologia e Jornalismo, doutor em Comunicação pela UAB de Barcelona, Espanha. Mora há um ano em Barreiras.

Entre imagens E PALAVRAS

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unca vou esquecer o meu primeiro contato com Barreiras. Era setembro, há mais de dez anos. Cheguei à noite - o calor saía dos tijolos aquecidos pelas muitas horas de sol intenso- tomei cerveja gelada e fui dormir, cansadíssimo, depois de uma viagem longa e complicada. Às 7h da manhã, acordei com o lençol encharcado de suor, o calor já era infernal. Liguei o ar (16º!), voltei para a cama, fechei os olhos com a ideia de dormir mais um pouquinho, mas uma sequência sonora inusitada me obrigou a acordar de vez. Escutei algo muito pouco comum para os meus tantos anos de vida metropolitana europeia: primeiro, uma voz estridente que convidava repetidamente a tal dona Maria a comprar não sei bem o quê; depois, uma melodia alegre e pegajosa, totalmente inapropriada para as sete da manhã, anunciou-me que tinha chegado Saulo Pedrosa, deixando a esperança no ar; e, finalmente, uma voz de barítono puro, muito persuasiva, cantando uma e outra vez a incomparável excelência de uma marca de pamonhas. Olhei curioso pela janela, e a surpresa foi grande: o que pelo barulho parecia um enorme caminhão de propaganda, era só uma simples bicicleta, dirigida por um adolescente, subindo sem esforço aparente pela costa empinada. E a voz, potente de ator de novela saía de uma caixa acústica, quase maior do que o mesmo veículo! Na minha subsequente estada na cidade, essa primeira e inesquecível impressão revelou-se uma das características mais importantes da realidade publicitária barreirense. O panorama audiovisual dessa cidade é antes e sobretudo acústico, tanto por tradição quanto por vocação. As lojas dedicam muitos mais recursos anunciando na calçada as promoções com vozes sedutoras e poder decibélico que para dispor a mercadoria nas vitrines de um jeito original e atrativo. Os jingles na rádio são criativos, engenhosos, muito mais do que os panfletos comerciais, geralmente pouco elaborados, triviais e cheios daqueles recursos gráficos e ícones que o Windows oferece de graça em seus programas básicos de edição. A retórica publicitária local é antes oral do que icônica, a fonética e a melódica servem mais que os recursos visuais para elogiar e magnificar as bondades do produto. Uma rápida enquete sobre a notoriedade e memorabilidade dos discursos publicitários das marcas em Barreiras demonstraria que no imaginário coletivo tem poucas imagens e muitos slogans e rimas: “Casa X, do jeito que você gosta”, “É na batida do martelo”, “O show da construção”, e um longo etecetera. Além disso, resulta muito significativo que quase todos esses “claims” verbais (esse é o nome oficial do slogan no mundo do marketing estadunidense) acabam nas fachadas dos comércios, com letras iguais ou inclusive maiores que o próprio nome da empresa. Para mim, que venho de um mundo onde a imagem chegou a ser a “rainha do carnaval” e a dominar o universo da propaganda com muita arrogância, isso é uma surpresa notável e uma agradável ruptura de um dos tópicos mais repetidos da sociedade contemporânea: “Uma imagem

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vale mais do que mil palavras”. Por favor, não repitam nunca, jamais esse tópico, entre outras coisas, porque são oito palavras, e seria muito difícil dizer isso com oito imagens! Então, jogo perdido para a publicidade visual? Difícil, não perdido. Barreiras está dividida entre essa vocação oral inicial e um mundo cada vez mais visualizado, entre uma tradição de palavras e músicas e uma vida que está ficando cada vez mais mediatizada pela presença da imagem. Encontrei a metáfora mais viva dessa divisão entre tradição e atualidade no carnaval passado, quando fiquei realmente impressionado vendo como todas as pessoas, na avenida, deixavam de ver e escutar o trio elétrico real para acompanhar, fascinados, espetaculares imagens do desfile produzidas por uma microcâmera móvel, posta em cima de um aviãozinho com controle remoto chamado “drone”, o último grito da tecnologia visual do primeiríssimo mundo. É lei de vida globalizada: o mundo e as pessoas chegam, antes ou depois, a qualquer canto do planeta. Em Barreiras, cidade incrível do “far west” baiano, esse fenômeno é muito potente e produz curtos-circuitos e contaminações sociais e estéticas magníficas, fazendo da cidade um território de pesquisa extremamente interessante para quem se ocupa e gosta de comunicação. As pamonhas se aliam com as redes sociais da internet, e nascem híbridos entre realidade e intenção tão surpreendentes como o “salão de beleza virtual” ou o “estudo científico das sobrancelhas”. A publicidade na cidade está mudando a passos agigantados, em outros artigos, se quiserem, poderemos tratar de explicar os conteúdos e as direções dessas mudanças, por enquanto, obrigado pela leitura dessa coluna introdutória. Até mais.




agromagazine agricultura, meio ambiente, agropecuária, tecnologia, etc.

NEGÓCIOS

FEIRAS MOVIMENTAM DIVULGAÇÃO

DO OESTE

Bahia Farm Show alcança R$ 1 bilhão em negócios, em Luís Eduardo Magalhães, e os leilões são destaque na 33ª Expoagro de Barreiras.♥

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Apesar da tendência econômica de retração nos eventos agropecuários de grande porte no país este ano, a 11ª edição da Bahia Farm Show movimentou R$ 1,033 bilhão em volume de negócios. A feira aconteceu no período de 2 a 6 de junho, e no último dia verificou-se o resultado parcial de R$ 972,2 milhões. A meta dos organizadores foi alcançada e superou os números de 2014 - R$ 1,019 bilhão, após o fechamento de negócios que ainda estavam em andamento na semana pós-feira. Em 2014, os setores que mais contribuíram para este resultado foram os de irrigação, drenagem, aviação e o automotivo. Neste ano, o resultado positivo é considerado fruto da contribuição dos setores de maquinário, implementos e das taxas atrativas das instituições financeiras. “Isso mostra que o agricultor acredita no trabalho que faz e não para de investir e, que os bancos re-

conhecem a importância do setor agrícola”, disse o presidente da Bahia Farm Show, Júlio Cézar Busato. Em 2016 a Bahia Farm Show será realizada de 24 a 28 de maio. Já a Expoagro 2015 aconteceu no período de 4 a 12 jullho, no Parque de Exposições Engenheiro Geraldo Rocha. Entre os destaques da feira estiveram os leilões – Neloeste, 8º Leilão Haras D’Lucca, 2º Leilão Só Equinos, Leilão Acrioeste, 50º Leilão Japaranduba, de touros e matrizes, equinos de todas as raças, gado de corte, bezerros, Appaloosa e quarto de milha. De acordo com o representante de uma das empresas leiloeiras, José do Rosário, o resultado foi satisfatório. “Tivemos sucesso de público e financeiro, não poderia ter sido melhor. Vendemos tudo, touros, matrizes nelore e bezerros comerciais”, disse. Durante o evento aconteceu ainda show musical com atrações locais e nacionais, e palestras.

ANNE STELLA

FLORES

OFICINA ENSINA CULTIVO DE ORQUÍDEAS De variadas cores, cheiros, tamanhos e formas as orquídeas encantam admiradores e cultivadores da espécie. Predominante nas áreas tropicais, as orquídeas são consideradas ornamentais. Muito delicadas, além de carinho, exigem cuidados diários específicos, que fazem toda a diferença para mantê-las mais vistosas e saudáveis. Quem deseja conhecer os segredos dessas flores pode participar da Oficina Cultivo de Orquídeas realizada pela paisagista Vanja Coité, na Chácara Santo Antônio, nos dias 11, 18 e 25 de julho e 01 de agosto. O investimento é de R$100,00 e está incluso muda da orquídea, vaso, adubo e pasta com orientação teórica. Mais informações pelo telefone (77) 9971.2176.

TECNOLOGIA

DIA DE CAMPO DO ALGODÃO REÚNE ESPECIALISTAS NO SETOR EM LEM O Dia de Campo do Algodão reuniu produtores, gerentes de fazendas, técnicos, consultores, instituições de pesquisa e ensino, entidades do agronegócio, autoridades e multinacionais, nos dias 3 e 4 de julho, em Luís Eduardo Magalhães. O evento promovido pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa) e Fundação de Apoio a Pesquisa e Desenvolvimento do Oeste Baiano (Fundação BA) realizou a palestra “Perspectiva para o Agronegócio” e abordou assuntos como os investimentos em genética e a necessidade do refúgio estruturado para preservar a eficiência das tecnologias transgênicas, agricultura de precisão e manejo nutricional, o sistema de manejo com palhada e rotação de culturas, boas práticas e inovações no manejo fitossanitário. As estações para apresentação dos temas discutidos foram realizadas no Campo Experimental da Fundação Bahia. ABAPA 15 ANOS Os 15 anos de existência da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) foram comemorados com um jantar, que reuniu em Luís Eduardo Magalhães, produtores rurais, representantes de entidades do segmento do agronegócio, autoridades municipais e estaduais, e ex-presidentes da instituição, que na ocasião foram homenageados. A Abapa é o resultado do trabalho de um grupo de cotonicultores pioneiros, que apostaram e investiram no desenvolvimento da cotonicultura no cerrado baiano. Esforço que fez da Bahia o segundo maior estado produtor de algodão. jun-jul/2015

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entrevista

CRISTOVAM BUARQUE

C.FÉLIX

PERFIL Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque é graduado em engenharia mecânica e Doutor em Economia. Trabalhou seis anos no Banco Interamericano de Desenvolviemnto (BID), foi o primeiro reitor da Universidade de Brasília (UnB), governador do Distrito Federal e Ministro da Educação. Atualmente é Senador da República e idealizador do Projeto de Federalização do Ensino Básico

Federalização vai precisar de apenas 6,4% do PIB Com o propósito de inserir educação integral de qualidade para todos, o senador Cristovam Buarque criou o projeto de Federalização da Educação Básica no Brasil. O projeto propõe a substituição das atuais 451escolas federais por 156.0164 educandários federais, em um prazo de 20 anos, com custo médio de R$ 463 bilhões por ano, assim como a criação do Ministério da Educação Básica e a transformação das carreiras dos professores das esferas municipal e estadual, para carreira nacional. No dia 8 de junho, o senador esteve em Barreiras para instalar o primeiro Comitê Regional do Oeste da Bahia pela Federalização da Educação Básica no Brasil. Na ocasião ele falou com exclusivade com a r.A. Disse que “professor da rede pública, da educação básica, tem que perder esse complexo de inferioridade em relação ao professor das universidades”.texto IVANA DIAS jun-jul/2015

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O Senhor diz na sua cartilha que a implantação da federalização vai representar apenas 6,4% do PIB, diferente dos atuais 10%. Isso, de certo modo, quer dizer que o problema atual não é de recurso, mas sim de gestão. No entanto, nesse novo sistema estado e município continuarão na gestão. Em que a Federalização seria diferente desse modelo atual? A federalização vai precisar de 6,4% do PIB daqui a 20 anos, considerando que o PIB crescerá 2% a cada ano, se fosse hoje custaria bem mais do que isso. A ideia da federalização não é adotar o sistema atual e sim montar um novo sistema educacional. Substituir o atual sistema por um novo, com professores de carreira nacional que, obviamente, incorporará os professores atuais, mas não na mesma carreira. Teremos duas carreiras por algum tempo. Além de escolas novas, bem construídas, bonitas, confortáveis, bem equipadas com os mais modernos equipamentos e tudo em horário integral. Isso não se faz de um dia para o outro, vamos precisar de 20 a 25 anos. E a minha proposta é implantar cidade por cidade. A federalização seria diferente do modelo atual em tudo. As escolas serão outras, novos prédios. Os professores serão de carreira federal, com salário federal, dedicação exclusiva e avaliações periódicas. A melhor maneira de saber a diferença é comparar uma escola municipal de hoje com uma escola técnica, com um Colégio Militar, que são escolas públicas federais. O senador considera o governo federal ineficiente na fiscalização da aplicação dos recursos da educação? Considero sim. O governo federal é ineficiente na fiscalização da aplicação dos recursos da educação, da saúde, da cultura, de tudo. A forma de fazer isso funcionar eficientemente é com a descentralização da gestão. Com professores em carreira nacional, o dinheiro vai direto para o contracheque como acontece em todos os órgãos federais. Quanto aos gastos locais, defendo que o governo passe o dinheiro e a escola gerencie junto com os pais, professores, funcionários e até mesmo os alunos do ensino médio em diante. Por isso, chamo de federalização com descentralização gerencial. Hoje, muitos municípios do Oeste se gabam por pagar mais para os professores no ensino fundamental do que o Estado no ensino médio. A Federalização vai evitar esse tipo de diferença? Claro que vai! Basta ver qual o salário das escolas federais, que é superior aos salários de estaduais ou municipais. Talvez a única unidade que tem o salário igual ao das federais é o Distrito Federal onde o salário médio está em quase R$ 9 mil, o mais baixo é R$ 5.400 e alguns são bem superiores a R$ 10 mil. O que fazer com os professores que não forem aproveitados no novo sistema? Quem vai ficar com essa dívida? O que eles irão fazer? Não haverá dívida, eles serão incorporados. A ideia é que os professores que passarem no concurso federal, que será um concurso nacional, terão um salário de R$ 9.500,00 - valor da época em que fiz o trabalho, hoje eu já falo em R$10.000,00. Os professores locais que não passarem no concurso, absorveremos com o salário de R$ 4 mil, que é duas vezes o salário atual médio das cidades pequenas. É preciso, entretanto, dizer que essa migração será voluntária, porque ao aceitar o aumento de salário dobrado, o professor terá que aceitar dedicação exclusiva. Não poderá dar aula em outros lugares


Tem que acabar com essa ideia de que por estar na universidade vai ganhar mais. Por mim seria o contrário, o que mais ganharia seria o professor da alfabetização, o professor do ensino fundamental.”

e terá que aceitar avaliações periódicas. Aqueles que não quiserem, continuarão nas mesmas condições de hoje, dentro das escolas como auxiliares. A universidade tem o professor titular e o professor auxiliar, então, na escola terá o professor titular federal e o professor ainda municipal, auxiliar. Até que essa carreira municipal desapareça com o tempo. A federalização prevê salas com 30 alunos por turma. Aqui em Barreiras temos salas com até 40 alunos e a demanda aumenta a cada ano. Como encontrar um equilíbrio entre número de alunos / sala de aula? A meta é 30 alunos por turma, mas poderá ter 31, 32 ou até 28, 29. Construindo o número de salas de aulas que for necessário e isso a gente consegue, na medida que for federal. Não vai ser de repente, será um processo que levará algumas décadas, por cidade. Na cidade onde o sistema federal não for implantado, continua como está hoje. O projeto estima pagar um salário mensal de R$ 9.500 para um professor “bem formado, dedicado e avaliado”, enquanto as universidades federais pagam R$ 8.600 para professores doutores e com dedicação exclusiva. A Federalização reflete sobre essa situação? Primeiro, na universidade o salário de R$ 8.600 não é o topo, deve ser a média. E quando eu falo em R$ 9.500 e agora em R$ 10.000, é a média. É possível que tenham alguns com mais e alguns com menos. Além disso, professor de ensino fundamental e médio tem que ganhar igual ao professor universitário. Tem que acabar com essa ideia de que por estar na universidade vai ganhar mais. Por mim seria o contrário, o que mais ganharia seria o professor da alfabetização, o professor do ensino fundamental. Porque se tiver um bom ensino fundamental o médio fica bom, se tiver um bom ensino médio, a universidade fica boa. Tem que quebrar essa ideia de que entrou na universidade você tem tudo, ficou no ensino básico, não tem nada. O professor da rede pública, da educação básica, tem que perder esse complexo de inferioridade em relação ao professor das universidades. Nós temos que priorizar a educação de base e pagar muito bem ao professor e exigir dedicação exclusiva, que hoje não tem. Claro que a federalização reflete a respeito da situação, eu dou prioridade, sobretudo, à educação de base. Não há possibilidade de universidade ruim quando a educação de base é boa e é muito difícil uma universidade ser boa quando a educação de base é ruim. Então, vamos investir no professor da educação de base, que assim, conseguiremos melhorar também a universidade.


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areeiros do Corrente

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GUSTAVO RIBEIRO

RIBEIRINHOS DESAFIAM O LIMITE E CHEGAM A MERGULHAR 600 VEZES POR DIA PARA EXTRAIR AREIA DO FUNDO DO RIO

texto e fotos C.FÉLIX

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O MERGULHO Depois de navegar até 1h30 pelo Corrente, os areeiros amarram o barco em um mastro fincado no meio do rio e iniciam a série de 200 mergulhos para retirar três metros de areia. Além de ajudar a manter o barco imóvel, o mastro serve de apoio para o mergulhador. Veja abaixo o processo do mergulho.

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A gente enche a lata de água... vamos para baixo sustenando os pés no mastro. Direto eu falo que a gente é macaco d’água. A gente anda na vara igual ninja. Chega lá embaixo, encolhe o corpo, enche a lata e dá impulso pra cima. Pega na borda da lancha e entrega a lata. SÁTIRO TIAGO, areeiro mergulhador

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s bolhas de ar formam uma coreografia curiosa na água. O areeiro-mergulhador desce de olhos cerrados, a cortar a água turva e em forte correnteza. Quanto mais fundo, maior a pressão - os tímpanos podem se romper. Ele resiste, chega ao fundo do leito, luta contra as águas frias e fundas do rio Corrente e sobe vitorioso com uma lata cheia de areia. Explode ofegante na superfície, entrega seu “tesouro” ao recebedor, que dispensa o excesso de água e despeja areia no barco. Respira fundo, pega outra lata, enche de água para retirar o ar e a impulsiona para baixo em um novo mergulho. São quatro metros de profundidade vencidos em menos de 15 segundos de mergulho que se repete, aproximadamente, 200 vezes em três horas. Tempo para carregar a embarcação com três metros de areia e retornar para descarregar na margem esquerda do Corrente, próximo à cabeceira da ponte que liga Santa Maria da Vitória a São Félix do Coribe. Uma dupla de areeiro, recebedor e mergulhador, chega a fazer três viagens ao dia, o que corresponde a 600 mergulhos no fim da jornada. Uma atividade para poucos. Muito poucos. Essa rotina é comum para Sátiro Tiago, 27 anos, um dos mais novos mergulhadores do grupo que reúne ainda os recebedores e descarregadores. “São mais de 20”, estima. Filho de Zim d’Areia, mergulhador bem conhecido na cidade, Tiago começou a trabalhar com areia aos 13 anos. Iniciou como recebedor. Depois, aprendeu a mergulhar e gostou. Aos 16, já puxava 10 metros de areia por dia. “Foi uma luta muito grande”, lembra. A retirada de areia do rio acontece em qualquer dia e hora. Pode ser 2h, 4h da manhã – tudo escuro ou sol a pino! Não há nenhum entendimento de restrição sobre um horário por representar mais perigo ao mergulhador, nem se tem notícia de que um deles tenha perdido a vida em mergulho. “O risco de mergulhar é só de uma sucuri enrolar na gente no fundo rio. Eu nunca vi sucuri [adulta] aqui. Já vi jiboia e filhote de sucuri. Peguei até na mão - ele quis morder meu dedo”, conta com humor. “Eu estou até agora tremendo de frio”, disse Tiago, sentindo ainda os efeitos do mergulho ocorrido há mais de uma hora. “A gente tem que ir até o limite”. Uma vez, foi surpreendido por uma tempestade de vento com ondas que ele nunca tinha visto. Foi um momento de muita tensão! Água no barco, motor sem querer pegar, o vento a açoitar e rebater entre os paredões dos vales do rio Corrente e levantar bolos d’água, o barco a sacudir... “De um metro e meio de areia [que tinha no barco], a gente saiu com meio metro de lá. Também saímos gritando de felicidade por ter conseguido sair”, lembra. A areia é extraída do meio do rio, em locais que ficam a até 1h30 de navegação rio acima. Depende do motor, da embarcação e situação do solo do fundo do rio. Até chegar ao local de extração, surgem às margens do Corrente deslumbrantes paredões de rocha calcária com tons em gradiente, mesclados com uma vegetação teimosa, que insiste em nascer e crescer nas fendas, como a desafiar as lógicas, razões e convenções. Sob a proteção desse cenário inspirador de insólitas paisagens, o areeiro-mergulhador segue sua rotina.


A cidade e o areeiro

SANTA MARIA Vista noturna da passarela, à esquerda, lembra o movimento das serpentes na água, maior temor dos areeiros. À direita, o professor Jairo Rodrigues, que fala da estreita relação do rio com a cidade e do ícone cultural símbolo da cidade: a carranca. Uma réplica de uma peça do artista João Souza, reproduzida em cimento pelo próprio Jairo e Chico Maleiro

“É um trabalho heroico”, define o ofício do areeiro-mergulhador o professor, historiador e artista plástico Jairo Rodrigues. Ele não sabe precisar quando a atividade de extração de areia começou, mas supõe que seja entre as décadas de 1940 e 1950. Foi nesse período que Santa Maria da Vitória passou a utilizar o cimento na construção civil. “Até então, as casas daqui eram construídas de pau-a-pique. Eram verdadeiras gaiolas de madeira, calafetadas com barro sobre o apoio das varas. Até chegar ao ponto de se utilizar o tijolo da argila queimada, isso demorou décadas. Era só tijolo com cal virgem e areia do solo”, explica. A opinião pitoresca de Rodrigues sobre o areeiro-mergulhador é justificável: o mergulho está no sangue dos ribeirinhos. Desde pequenas as crianças são embaladas pelos encantos das lendas da Mãe d’Água, Nego d’Água. E as de Santa Maria da Vitória, em especial, quase nascem com carrancas penduradas ao pescoço, uma vez que o mais ilustre carranqueiro da cidade, Mestre Guarany, transformou a figura de proteção das embarcações franciscanas em peça de decoração – hoje, um souvenir. Rodrigues nasceu em Santa Maria da Vitória, às margens do rio Corrente; aos 6, foi morar no município de Coribe, às margens do rio Formoso, no povoado conhecido por Colônia do Formoso. Sua casa ficava a 50 metros do rio. Ele recorda que mergulhar era o momento mágico do espetáculo do rio. Às vezes abria os olhos para “enxergar” o silêncio das águas e toda sua profundidade, sustentava o fôlego e vencia o medo. Mas, vencia mesmo quem demorasse mais, quem chegasse a uma distância maior, quem atravessasse de uma margem a outra do rio, braçada a braçada, fôlego a fôlego, na alegria transbordante de menino. Essa imagem poética marca a fala de Rodrigues, que se impressiona com o vigor físico desses homens ribeirinhos. É uma disposição sobre-humana! E fazem tudo isso com humor, alegria e satisfação de quem faz algo com prazer. “Antigamente eram as barcas que navegavam de um lado para o outro a transportar pessoas. Com a construção da ponte, da passarela, essa atividade foi extinta. Então, a única presença hoje no rio Corrente de visual panorâmico são as barcas transportando areia. Eu acho algo encantado”, conta Rodrigues.

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capa

DE PAI PARA FILHO Zim d’Areia (abaixo), areeiro-mergulhador há 35 anos, passou a paixão pelo ofício para Tiago, que já chegou a retirar 10 metros de areia por dia quando tinha 16 anos. Hoje, a areia é descarregada próximo à ponte que liga Santa Maria a São Félix do Coribe. O espaço não é ideal, reclama Zim, mas é o único lugar que eles têm para negociar a areia, que custa em média R$ 60 o metro

O horizonte, o futuro Ser areeiro-mergulhador não é uma escolha definida pela necessidade, mas uma necessidade definida por uma relação com o rio que não tem explicação. Falar do futuro da profissão é mergulhar em água desconhecida em busca de uma areia improvável. Mas, a pouca valorização dessa tradição do Corrente pode acabar com a atividade, e não vai durar muito, acredita Tiago. “Muita gente dá valor à evolução. Mas, é assim mesmo: a vida continua. Acabando aí, vem outro progresso. Já vi muita coisa bonita [pegando areia no rio], muita coisa feia. Eu dou muito valor a esse trabalho, a esse rio maravilhoso. Eu já chorei por ele... Assim é a vida: Deus sempre dá o que a gente merece. Eu passei no concurso, sou vigilante, mas nunca desisti de tirar areia. Tem gente que gosta de jogar futebol, eu gosto de tirar areia”, diz emocionado. O pai de Tiago, Sebastião da Silva, conhecido por Zim d’Areia, começou a mergulhar um pouco mais novo que o filho – entre 14 e 15 anos. Já são mais de 35 anos de areeiro-mergulhador. Já foi vendedor de biscoito, de laranja; carregador de frete... mas foi da areia que sempre viveu e criou seus dois filhos – Tiago e Joana. “Esse trabalho, pra mim e meus discípulos, é uma arte, uma cultura. Não é pra muitos, não. É pra poucos fazerem isso aí. A água pode estar fria, escura, barrenta – é sempre a mesma coisa. Mas ninguém nunca morreu afogado. Nós somos protegidos por nossa mãe natureza. Somos profissionais do fundo d’água. Mas, sem valor, nós estamos vivendo. Nós também somos salva-vidas.

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Galego d’Areia é um cara bem preparado, bem protegido. É tanto que quando a Marinha vem aqui tira o chapéu pra ele, porque ele trabalha bem”, fala o pai de Tiago. Zim reclama de um espaço ideal para trabalhar. Antes, os areeiros aportavam e descarregavam no cais de Santa Maria. Depois, foram deslocados para o pé da ponte - onde estão hoje. Agora, eles se sentem isolados. “A gente só tem esse espaço aqui. Já perdemos metade, daqui uns dias tomam o resto”, lamenta, como a sentenciar o fim da atividade do areeiro, o fim do mergulho.


O RECEBEDOR E A LATA De longe, para ser um recebedor basta apenas pegar a lata da mão do mergulhador, dispensar o excesso de água e despejar a areia no barco. No entanto, não basta apenas ser um recebedor, é preciso ser um bom recebedor. Assim, uma lata pode durar até um ano. Se o recebedor for ruim, a lata não chega a três meses. “O bom recebedor é o que zela da lata pra ela demorar acabar e escoa bem a água”, define Tiago, que elogia Bai (foto do meio, acima), seu recebedor oficial. Ele reclama da qualidade das latas atuais. “Estão acabando as latas privilegiadas por nós, que são de óleo lubrificante. Hoje, inventaram essas latas de tinta. São boas, mas não iguais às outras”.

O meio ambiente A atividade dos areeiros no Rio Corrente é acompanhada pelos órgãos ambientais que fiscalizam o modo e localização de extração e volume de areia por embarcação. A extração com draga está proibida. “Eu considero essa atividade saudável para o rio. Primeiro porque não se faz uma extração desmedida de maneira a impactar na margem. Ela é feita no meio do rio, tirando aquela areia que é excedente e vai gerar ali um assoreamento da calha”, avalia Rodrigues, que diz ser testemunho das participações voluntárias dos areeiros e pescadores em ações de defesa e limpeza do rio. “Já tiramos mais de 2 mil pneus desse rio”, conta Zim se referindo a participação dos areeiros em parceria com a Associação Ambientalista Corrente Verde em um dos mutirões de limpeza do Rio Corrente. “A sujeira aí está pouca. A gente protege. O pescador pode ser o que for, ele faz o fogo e depois apaga. A sacola plástica que ele usa, ele tira. Agora, o curtidor de natureza que vem deixa garrafa pet, sacola plástica. Não está nem aí! Eles sujam e nós limpamos”, conta. Segundo Zim, um novo mutirão deve acontecer entre agosto e setembro. “É o período que o rio está bem baixo e é mais fácil pra gente enxergar. Final de outubro já começa a chuva, e aí já era” .

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umlugar

foto RUI REZENDE

BAHIA AÉREA A colheita é aguardada com ansiedade pelos produtores, momento em que toneladas de grãos são colhidas, em uma vasta área de hectares. Nessa imagem, o fotógrafo Rui Resende registrou a colheita da safra de milho nas fazendas do Oeste da Bahia. A foto faz parte do novo trabalho Bahia Aérea, que retrata imagens aéreas da região.

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cult

música, cinema, artesanato, agenda,

literatura

FUI A UM CIRCO

E NÃO GOSTEI

é

Adolescente de 15 anos conta como começou a escrever os textos que fazem parte de seu primeiro primeiro livro, “Palavras entrelaçadas”.texto/fotos IVANA DIAS no silêncio da madrugada que a inspiração de Éllen Araújo flui e seus textos são escritos. A garota de 15 anos, nascida em Campos Belos no Goiás, incentivada pela mãe, adquiriu o gosto pela leitura e escrita ainda na infância e aos 12 anos começou a escrever suas histórias. Mudou-se para Barreiras há um ano, quando os sonhos de crescer na vida falaram mais alto. Atualmente mora com os padrinhos e o primo. Na primeira tentativa de escrever um livro, escolheu o romance. Um livro de uma história só, como diz a menina, mas não deu certo. Ela não conseguiu concluir a obra. No entanto, não desistiu, pesquisou sobre outros gêneros literários e começou a criar crônicas e contos. Diferente da maioria dos adolescentes da sua idade, durante os três meses de férias escolares passou o tempo escrevendo. Os 20 textos escritos nesse período deram origem ao seu primeiro livro: “Palavras entrelaçadas”. “Esse ano as aulas começaram em abril, como eu era da rede municipal e ingressei na federal tive três meses de férias. Fui pra casa e como não tinha muita coisa pra fazer comecei a escrever. Escrevia coisas que me aconteciam. Fui a um circo e não gostei, então escrevi uma crônica sobre ele, coloquei no Facebook e as pessoas começaram a curtir. Passei a escrever mais. Depois veio a ideia do livro onde coloquei as crônicas desse período”, contou a escritora, que teve o apoio da família na produção do livro. Incentivos como o da mãe de Éllen fazem a diferença no cotidiano de futuros apreciadores da leitura e da escrita. E pensando em oportunizar a troca de experiências, conhecimento e intercâmbio cultural da população, principalmente dos mais jovens, foi realizada em Barreiras, a I Bienal do Livro. O evento fez parte da programação Parque do Livro, no mês de maio deste ano – considerado o Ano Municipal da Leitura. “Gostei muito da iniciativa da feira, mas acho que faltou mesmo foi o interesse das pessoas, pelo menos quando eu fui estava bem vazio”, disse Éllen. Durante a Bienal os visitantes tiveram a oportunidade de participar do lançamento e noite de autógrafos de livros de autores de Barreiras e região. Obras como “Caminhada entre as letras”, da professora Nadir Xavier de Andrade; “Um rio de histórias”, das jornalistas Luciana Roque, Jackeline Bispo e Ana Lúcia Souza;

PRIMEIRA OBRA Orgulhosa, a jovem estudante exibe o primeiro exemplar do livro escrito por ela. Éllen ainda pretende publicar um romance, um livro com contos e outro de aventura

“Ensino Médio: Contradições conceituais”, da professora universitária Gabriela Rêgo; “Diário de uma chorona”, de Solange Cunnha e “Tiro, Guerra e Mito: a história de um barreirense na 2ª Guerra Mundial”, do historiador Tenente Pinheiro. Em Luís Eduardo Magalhães o movimento literário ganha força com a atuação de seis jovens escritores que participaram da I Mostra de Moda, Arte e Decoração (MMAD) no município e criaram a editora independente EX!, a partir da ideia de um deles, Alec Silva. Entre as criações dos escritores de LEM podem ser encontrados romances, poesias, crônicas e contos como a coletânea de histórias curtas (“Zarak, o Monstrinho”, Multifoco, 2011), um conto numa antologia sobre répteis cuspidores de fogo (“Dragões”, Draco, 2013) e um romance autobiográfico fantástico (“A Guerra dos Criativos”, independente, 2013), de Alec Silva; “A gaveta do alfaiate” do jornalista, Anton Roos; “Colheita Poética”, do poeta Issaac Guedes; “Clamor pelo Sangue – O Olho da Penumbra”, de Ricardo Haseo; “Papel, Caneta e uma Mente Azul”, do ilustrador Jardel Reis e o menino que começou a escrever aos 14 anos, Guilherme Araújo, autor do romance “Segredos Trancados”. jun-jul/2015

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cult música

REPRODUÇÃO

A tradição e a força dos FESTIVAIS DE IBOTIRAMA

Às margens do Velho Chico a cultura ibotiramense mostra sua resistência e encanta músicos, poetas e cantores há mais de três décadas ininterruptas.texto: IVANA DIAS/fotos C. FÉLIX

O

mês de agosto em Ibotirama é festivo, a celebração dos 57 anos de emancipação política do município movimenta os bastidores do berço das manifestações culturais do São Francisco, com a realização da XXXVIII Festival de Música Popular (Fempi) - que acontece há mais de três décadas ininterruptas e do XXVIII Festival de Poesia de Ibotirama (Fepi). Criado pelo grêmio estudantil do Colégio Cenecista, o festival aconteceu pela primeira vez em agosto de 1977, como parte dos festejos da Semana da Cultura realizada em comemoração ao 19º aniversário de emancipação política de Ibotirama, no chamado Salão de Carlos. Na primeira edição todas as músicas concorrentes eram de compositores de Ibotirama, entre eles, Silvio Araújo, Natanael Coelho, Lamartine Araújo, Carlos Alberto, Juarez Paulo, Washington Coutinho, Reginaldo Belo, Juvenal Neves. A música vencedora foi “Síntese”, de Juarez Paulo, Washington Coutinho e Carlos Alberto. Em segundo e terceiro lugar, “Sangue Sertanejo” de Reginaldo Belo e “Martin Pescador” de Silvio Araújo, respectivamente. Houve ainda, a participação de seresteiros e encenação da peça teatral “As mulheres não querem almas”, de autoria de José Gonçalves. Em 1986 o Fempi chegou a sua décima edição, realizada na Associação Cultural e Recreativa de Ibotirama (Acri). A música vencedora foi “Biológica” – “Viva o amor/ Que nos faz nascer/ Na ilusão embriagada/ Inconsciente do viver/ São milhões de estrelas/ Querendo brilhar/ Na emoção desses desejos/ Uma delas brilhará...”, de Reginaldo Belo, Marcelo Brito, Cleiton Araújo e Agnaldo Sodré.

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JORGE VERCILO Artista fará o encerramento do festival no dia 15 de agosto, na praça de Eventos da cidade

Ao contrário de muitos festivais regionais e nacionais, a tradição ganhou força com a participação popular e de vários artistas nacionais que já passaram pelos palcos ibotiramenses. No 32º aniversário de emancipação política do município, em agosto de 1990, o evento inovou com a participação do cantor e compositor Geraldo Azevedo. A partir desse ano outros artistas também marcaram presença no festival, entre eles, Dominguinhos, Guilherme Arantes, Chico César, Xangai, Zeca Bahia, Edgar Mão Branca, entre outros. O XV Fempi aconteceu em 1991, na Praça Ives de Oliveira. Nessa edição, foram mais de 200 músicas inscritas de compositores de todo o país, sendo necessária a realização da pré-seleção do material inscrito. A música vencedora, “Caminhos”, é de autoria de Ito Moreno, representante do município de Livramento (BA). De 1995 a 2001 a Semana Cultural passou por algumas modificações, as equipes da gincana escolar se organizaram e passaram a blocos carnavalescos – Feras e Barril, apresentando-se nas comemorações da cidade com bandas de axé. O movimento cresceu com a participação de turistas das cidades vizinhas e assim iniciou o carnaval fora de época de Ibotirama, o Ibotifolia. A inclusão de mais um atrativo nas comemorações de emancipação do município não tirou o brilho da Semana Cultural. Este ano, o único festival de música competitivo em atividade no Brasil, o Fempi, chega a sua 39ª edição e o Fepi à 28ª edição, que acontecem nos dias 14 e 15 de agosto, na praça de Eventos, com apresentação do cantor Jorge Vercilo no encerramento.


Impressões por ANTON ROOS e-mail antonroos@gmail.com

Cuidado COM O SOFÁ

N

ão há nada mais imprevisível e apaixonante do que o universo feminino. Já perdi as contas de quantas vezes escrevi sobre isso, e todos os dias sou surpreendido com uma novidade vindo delas. E, sempre, toda vez que acho já ter visto, lido e ouvido tudo, algo absolutamente inusitado surge. Tal qual uma avalanche. Impiedosa. Dessas que passam por cima de tudo e todos sem deixar vestígios. Um furacão de emoções e sentimentos; aliás, como toda mulher. Tenho uma amiga, recém-chegada aos 30 anos, que não consegue mais esconder seu descontentamento com a vida que leva. Embora desfile sorrisos por onde passa, camufla uma vontade quase incontrolável de jogar tudo pro alto e mudar radicalmente de vida. Não há uma vez sequer que ela me veja sem despejar cada gotícula de descontentamento com a casa, o marido, a vida profissional e o mais periclitante: a rotina. Antes dela, cria até com certa devoção, que todo ser humano, ao chegar — ou se aproximar — às três décadas de vida, sofria com uma suposta crise existencial. Ingênuo que sou, pensei ter passado por ela seis anos atrás e até rabisquei, à época, alguns parágrafos torpes, mas absolutamente sem sentido e que no máximo faziam alguma menção rasa ao episódio de Friends em que a Rachel — ou será a Mônica? — completa 30 anos. Ah, não vem ao caso. Qualquer homem que o valha e deduz estar em crise por conta da proximidade ou chegada do famoso “três ponto zero” nem por um centavo sequer tem a noção do que, verdadeiramente, é estar em crise por conta do adeus aos vinte e poucos. Esta é uma qualidade quase que exclusiva das mulheres, guardadas, claro, raras exceções. Os homens trancafiados na sua praticidade perene, quando muito, passam por alguns perrengues no câmbio natural do piá descalço para o adolescente cheio de espinhas e hormônios à flor da pele; na transição entre a faculdade e a vida profissional; no desemprego, quando este lhe bate à porta na cara e após três ou quatro brochadas em sequência. A mulher não. A partir dos 28, como que por encantamento, as mulheres entram em um processo de ebulição. Um frenesi adoidado que a depender da situação pode provocar mudanças radicais e um novo recomeço, quase como se parida para uma nova vida, com novo DNA e RG. Uma delas, há

ANTON ROOS Jornalista, gaúcho de Três Passos, nascido no dia de Santo Antônio cerca de três décadas atrás e pós-graduado em Jornalismo Digital

pouco tempo, conseguiu a proeza de, via bate-papo na internet, quase imprimir nas palavras ditas uma tristeza comovente e cheia de beiços e olhos lacrimejantes. — Eu não sou feliz — disse-me ela, lá pelas tantas e após me questionar umas duas vezes se eu o era. Até achei que a pergunta fizesse parte de alguma fase não muito boa, dessas tantas vividas pela mulher, talvez por conta daquelas três letrinhas em caixa alta e que tanto intriga os homens. E ainda, depois de muito pensar, esbocei alguns argumentos. Não se é feliz, se está feliz. As pessoas não são felizes. Elas estão felizes e assim por diante. Disse ter aprendido, há muitos anos, que na vida passamos por momentos felizes e nada mais. O que difere é a forma como lidamos com esses momentos, principalmente aqueles não tão felizes, entre uma fase e outra, cheios de provações e que nos dão a impressão de haver um complô universal nos impedindo de evoluir e blá, blá, blá. Definitivamente, não era isso que ela queria ouvir. Como fui bocó. Em menor grau, cheguei a supor que a infelicidade dela fosse algo ocasional. Não era. Estava enganado e só me dei conta disso hoje, depois de ler um artigo sobre o tema e ver, escancarado na minha fuça, o relato de outras mulheres em vias de, ou que já passaram pelas imprevisibilidades da chegada aos 30 anos. Ó: “Um dia, voltando de uma viagem à praia, cheguei em casa e ele estava lá, vendo TV: não quero mais, pega tuas roupas, devolve minhas chaves e segue a tua vida. Mudei de namorado, de cidade, de emprego, de casa, de telefone, de vida... nunca mais o vi... aos 30...” O mais alarmante e, talvez por isso, razão para que tenha iniciado esse texto do jeito que iniciei é que as mulheres podem, com um estalar de dedos, abandonar tudo, casa, dinheiro e família — que me perdoe Cazuza — e partir para a Índia ou o escambau em busca de respostas para toda aquela ebulição que tanto a incomodava. O pior — será mesmo? — é que sempre o homem fica e está sentado no sofá, crente que a vida está seguindo seu curso natural e logo depois da novela terá uma partida de futebol pra ver na TV. E talvez seja por isso que nós homens não saibamos lidar com a perda com a mesma sutileza que as mulheres. Porque elas vivem e traduzem a arte do desapego, desde sempre, e estão dispostas, ao primeiro sinal da malfadada crise, a te deixar sentado no sofá enquanto partem sem medo algum do desconhecido para um novo emprego, um novo amor, filhos e etecetera. Vão. Eu, logo, voltarei para o sofá, afinal talvez tenha alguma partida de futebol passando na TV e o sentimento pelo sentimento não seja mais suficiente.

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cult agenda

MÚSICA FOTOS: REPRODUÇÃO

O INVERNO E OS FESTIVAIS texto CAROL FREITAS

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mistura de ritmos da 11ª edição do Festival de Inverno da Bahia promete esquentar Vitória da Conquista. A terceira maior cidade da Bahia, com mais de 340 mil habitantes já recebeu artistas de renome no cenário nacional como Gilberto Gil, Skank, Paralamas do Sucesso, CMP 22, Vanessa da Mata e Natiruts. Considerado patrimônio da cidade de Vitória da Conquista, o FIB se tornou um espaço de celebração que incentiva e engloba diversas áreas do entretenimento musical. Em 2014, além do Palco Principal, o evento também contou com barracão do forró, camarotes, tenda eletrônica, camarotes corporativos e o palco do rock para melhor atender o público de modo geral.

Realizado pela iContent, em parceria com a TV Sudoeste, ambas empresas da Rede Bahia, o Festival de Inverno da Bahia já realizou, desde 2005, mais de 300 shows. Neste ano, a festa acontece de 28 a 30 de agosto e conta com a participação de O Rappa, Ana Carolina, Frejat, Humberto Gessinger, banda RPM, Jota Quest, Blitz, Fernando e Sorocaba e Ivete Sangalo no palco principal. A baiana Ivete Sangalo se apresentará pela primeira vez no festival. RPM, Blitz e Fernando e Sorocaba também serão estreantes no palco do maior festival de música do interior do nordeste. LENÇÓIS A bucólica cidade de Lençóis também realiza em 2015 mais uma edição do seu festival. O evento que tem como conceito a reunião de artistas de expressão nacional também já faz parte do calendário cultural do inverno brasileiro e já registrou a

CONFIRMADOS Frejat, Ivete Sangalo, Ana Carolina e Humberto Gessinger são atrações da 11a edição do FIB

presença de artistas como Gal Costa, Lenine, Ana Carolina, Adriana Calcanhoto, Armandinho, Nando Reis, Gilberto Gil, Luís Melodia, Mariene de Castro, Carlinhos Brown, dentre outros nomes conhecidos da MPB. Para este ano as atrações ainda não foram anunciadas, mas o festival que acontecerá entre 9 e 11 de outubro já se prepara para oferecer um banho de cultura e musicalidade para o público que comparecer ao evento.

GAL GOSTA “estratosférica” Catorze canções inéditas de compositores renomados como Caetano Veloso e Milton Nascimento compõem o disco “Estratosférica” que comemora os 50 anos de carreira de Gal Costa. Através das redes sociais, a cantora de 69 anos percebeu que a juventude está atenta ao seu trabalho e então, ela resolveu apostar no álbum mais ousado de todos. Canções mais leves, acessíveis e com ar mais jovial fazem parte do trabalho da artista que decidiu também gravar canções de compositores novos, que nunca havia gravado antes, mas sem deixar de resgatar coisas que fez no passado. O 36º álbum da carreira da cantora conta também com vozes de Mallu Magalhães, Marcelo Camelo, Céu, Lira, Criolo, dentre outros jovens artistas. As músicas foram escolhidas de acordo com a personalidade de Gal Costa e com o que ela queria expressar nesse novo trabalho. A turnê de lançamento de “estratosférica” ainda não tem data marcada, mas o disco já está à venda e os fãs também podem conferir as canções no canal da cantora no youtube.

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LIVRO

BRUNO GARSCHAGEN: Pare de acreditar no governo... O mestre em Ciência Política e Relações Internacionais, Bruno Garschagen, reflete a respeito da razão dos brasileiros pedirem a intervenção do governo apesar de não confiarem nos políticos. O livro com 322 páginas traz questionamentos como “Por que vamos para as ruas protestar contra os políticos e ao mesmo tempo pedir mais Estado – como se este não fosse gerido pelos... políticos? Por que odiamos os políticos e amamos o Estado? Por que chegamos à condição de depender do Estado para quase tudo?”. Para responder essas questões, Garschagen vasculha a história política do Brasil desde a chegada dos portugueses aqui até os dias de hoje em uma narrativa que vai de Dom João VI a Dilma Rousseff. O apanhado histórico bem-humorado busca entender a ideia de que cabe ao governo resolver todos ou a maioria dos problemas sociais, políticos e econômicos.

RENATO RUSSO: Só por hoje e para sempre. Diário do recomeço Entre abril e maio de 1993, Renato Manfredini Júnior, passou vinte e nove dias internado numa clínica de reabilitação para dependentes químicos no Rio de Janeiro. Durante esse período, o músico fundador da banda Legião Urbana seguiu com toda dedicação um programa criado pelos fundadores dos Alcoólicos Anônimos, que incluía um diário e outros exercícios da escrita. O registro pessoal de Renato Russo, três anos antes de sua morte por broncopneumopatia, septicemia e infecção urinária, consequências do contágio pelo vírus HIV- entremeia as memórias do cantor com passagens de autoanálise e um relato esperançoso para o futuro. Como integrante da Legião Urbana, Renato Russo lançou oito álbuns de estúdio, cinco álbuns ao vivo, alguns lançados postumamente, e diversos singles, escritos em sua maioria pelo próprio. O material inédito publicado mais de 20 anos depois, oferece aos fãs, além de um valioso documento histórico, uma aproximação com o íntimo do artista e um exemplo de superação.

JOHN HUMPHRIES: O Espião de Hitler A obra de suspense do jornalista John Humphries investiga documentos do passado e recria um dos mistérios pendentes da última guerra mundial. Historiadores acreditaram por muito tempo que durante a Segunda Guerra Mundial, nacionalistas do País de Gales tenham colaborado como espiões para o regime nazista de Adolf Hitler. Habilidoso, Humphries mostra que realmente houve a infiltração de agentes galeses na inteligência militar alemã, o que reultou numa participação crucial no decorrer do conflito. O livro de 360 páginas meticulosamente embasado mostra como ingleses e galeses desenvolveram o sistema de contraespionagem Double-Cross e conseguiram manter essa operação secreta tão arriscada, a ponto de impedirem uma invasão dos nazistas.



Saia Lápis

ANNE STELLA Libriana de 30 anos e 2 filhas. Administradora da Revista A e apaixonada por moda, fotografia e tendências.

REPRODUÇÃO

C. FÉLIX

por ANNE STELLA

CONECTADO facebook: annestella e-mail: annestellax@hotmail.com

Alegria!

Para quem tem personalidade!

Criativos e coloridos, com formatos diferenciados e mensagens alegres e irreverentes! Estas são algumas das características dos produtos da Uatt.

Sergio Augusto e Rosana Perin foram clicados em um momento de descontração no dia do lançamento do novo cardápio da Confraria da Cerveja. No evento, também foi apresentado o novo chefe do restaurante, João Freitas. ACERVO PESSOAL

Muita moda no Bazar 65

Sobre o comando de Daniela Machado e Ruth Regis a Bazar 65 traz para o mercado de Barreiras peças com qualidade e sofisticação para o guarda roupa das consumidoras mais exigentes. Com propostas atemporais a consumidora encontram peças casuais e para festa! vale a pena dar uma passada lá!

Sonhare em Barreiras

No dia 25 de junho, Ary Leite Júnior e Simone Brito inaugurraram em Barreiras a loja Sonhare, que traz toda a linha Sonhart (adulto, kids, Baby e Bebê além de roupa de cama (edredon, jogo de lençol, colcha, almofada e fronha) e acessórios pantufas e bolsa linha gestante. E mimos importados das Marcas Carter’s e Skip Hop. A loja fica na Alameda das Griffes 260 (77)3611.5552.

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social

Anne Stella, Anne Karine e Karine

Maisa Barbosa

Milena, Daniela, Isabella e Mariana

Daniela e Ruth

Sahira e Daniela

Carminha, Daniela e Cláudia

Isabella Machado

BAZAR 65 E REVISTA A

No dia 9 de junho, a Revista A realizou o lançamento da edição 28 na loja Bazar 65. Na ocasião, as clientes puderam fazer um get together com as colunistas Anne Stella e Karine Magalhães.




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