Consciencialização e educação para a eficiência energética

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espaço opinião

consciencialização e educação para a eficiência energética

Carlos Pelicano Schneider Electric Portugal Energy Business & Projects Solutions VP

Reduzir as emissões de CO2 em 40% até 2030. É esta a nova meta para Portugal e para a Europa, imposta pelo novo Pacote Energia Clima, o plano que substituirá o Protocolo de Quioto. A nova meta requer um pesado esforço por parte de Portugal e de cada um dos países da União Europeia já que, ao contrário da meta que dita que 27% da energia gerada deverá ser renovável, a redução da emissão de CO2 é uma meta nacional e não europeia. Todos e cada um dos países da União Europeia terão de reduzir as emissões de CO2 em 40% até ao prazo estipulado. O termo comparativo é o valor de CO2 emitido em 1990, ano em que Portugal registou 59 860 k de toneladas. A tarefa torna-se ainda mais árdua se tivermos em consideração que, em 2013, as emissões de dióxido de carbono aumentaram 3,6% no nosso país, conforme registado pelo Eurostat. A mitigação das emissões de CO2 e o combate ao aquecimento global tem sido uma tarefa árdua e a maioria dos projetos assume já o papel fulcral da eficiência energética. O conceito de eficiência energética é, muitas vezes, traduzido por negawatts ou energia negativa que consiste no megawatt/energia poupada. O negawatt retrata a poupança e a poupança é sempre benéfica, contudo, o seu impacto alcançou especial visibilidade no setor industrial. A indústria foi o primeiro setor a perceber o contributo da eficiência para a competitividade das suas empresas. Numa área em que a produção requer o dispêndio constante de recursos diversos, e sendo os custos operacionais o principal fator a contribuir para a definição da margem de lucro, a otimização de processos e a eficiência energética depressa revelam resultados. A implementação de soluções à medida para a eficiência, não somente energética mas também operacional, resulta em média na redução de 30% do consumo energético em apenas um ano, sendo ainda altamente benéfica ao nível da redução de Opex (despesas operacionais) e de Capex (investimentos realizados em equipamentos e instalações de forma a manter a produção). Durante a minha participação no TECNET Business Camp, rapidamente percebi que as empresas estão cada vez mais preocupadas com a eficiência energética mas têm ainda uma visão muito reduzida do amplo universo que as envolve. A energia renovável está, atualmente, mais acessível do que nunca e é cada vez mais contratada pelas empresas. No entanto, e em contrapartida, o consumo mundial de energia contínua a crescer sem sinais de abrandamento. O mundo irá gastar mais em energia nos próximos 40 anos do que gastou nos últimos 4 séculos. Se estamos a dar cada vez maior preferência a fontes de energia renováveis e se cada vez mais os governos impõem medidas para a redução da emissão de CO2, porque continua a ser tão difícil atingir as metas europeias? Será suficiente a imposição de medidas? Ou será que entre as medidas a aplicar deveriam estar previstos esforços para a consciencialização e educação de empresas, organizações e cidadãos com vista à redução de consumo e eficiência energética? À semelhança do que sucede com a resposta a outras questões ambientais, é necessário sensibilizar, criar uma consciência coletiva e educar sobre a melhor forma de contribuir, seja por parte de empresas, organizações públicas ou privadas ou consumidores. A utilização da eficiência energética no combate ao aquecimento global depende muito mais da consciência ambiental do que dos objetivos de poupança ou de competitividade. Caso contrário, corremos o risco de nos depararmos no futuro com o Paradoxo de Jevons. O objetivo da eficiência energética consiste em alcançar mais e, simultaneamente, consumir menos recursos do nosso planeta. Ao aplicarmos e utilizarmos soluções inteligentes aos mais diversos níveis, sejam www.oelectricista.pt o electricista 50

na indústria, mobilidade, redes energéticas ou edifícios públicos e privados, estamos a promover a eficiência e a contribuir para a criação de um mundo mais sustentável. Não obstante, sem a devida consciencialização ambiental, será que ao poupar não vamos aplicar essa poupança a um maior consumo gerador de emissões de CO2? Os veículos de consumo eficiente, por exemplo, consomem menos combustível por quilómetro. Uma despesa inferior com combustível pode justamente incentivar o aumento da utilização do automóvel em detrimento dos transportes públicos. No século IXX, o economista William Stanley Jevons observou que o motor a vapor extraía energia do carvão de forma eficiente mas estimulou tanto o crescimento económico que conduziu ao aumento exponencial do consumo de carvão. É verdade que o que poupamos em eficiência energética não é totalmente gasto em mais energia ou em equipamentos que contribuem para as emissões de CO 2 , o que se traduz já em benefício. Porém, é necessário considerar que a poupança conduz inevitavelmente ao aumento do consumo. O que melhor reflete este efeito é o combustível. O preço dos transportes públicos, os horários e as redes muitas vezes deficitárias levam a que boa parte dos cidadãos optem pelo meio de transporte próprio assim que o orçamento familiar fica um pouco mais descontraído. Este é o ponto em que a consciencialização ambiental e a educação para a eficiência e para a redução das emissões de CO2 funcionam como barreira à aplicação da poupança a um novo consumo. Temos de aprender a consumir de forma consciente, tendo sempre em mente as vantagens para a bolsa e para o ambiente.


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