Utilização de robots humanoides em aplicações médicas e biomédicas (3.ª Parte)

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Utilização de robots humanóides em aplicações médicas e biomédicas

3.ª Parte

4. O CASO DO DIGIT E POSSÍVEIS APLICAÇÕES

NA SAÚDE

”Go Where Humans Go”. Este é o lema da empresa norte-americana Agility Robotics que anunciou o seu mais recente robot bípede - DIGIT - em fevereiro de 2019 [42].

O robot DIGIT apresenta as seguintes caraterísticas:

• Altura de 155 cm [39];

• Duas pernas, que lhe conferem mobilidade que se assemelha ao movimento de uma avestruz, e 2 pés que proporcionam equilíbrio e estabilidade nas mais variadas superfícies [40, 41];

• Um tronco, integrado com 4 câmaras Intel RealSense para detetar obstáculos, sensores de perceção, incluindo tecnologia LIDAR no topo do seu tronco, para que possa mapear e percorrer ambientes complexos e, finalmente, um poderoso hardware de computador a bordo [36, 37, 38];

• Dois braços, que auxiliam o equilíbrio e o movimento do robot, ao balançarem em coordenação com a marcha. Além disso, os braços do DIGIT ajudam-no a segurar-se quando cai e a reorientar-se para voltar a ficar de pé [39];

• Consegue pegar, empilhar e transportar caixas que pesem até 18 kg [39].

O sistema do DIGIT pode ser controlado por uma API desenvolvida para poder executar trajetórias pré-definidas ou subir escadas, por exemplo. A API pode ser controlada de duas formas: a bordo ou via wireless [43].

Possui ainda uma biblioteca de simulação que permite planear um modelo 3D de trajetórias nas mesmas condições do ambiente envolvente, antes de colocar o robot no mundo real. Desta forma, é possível testar e aperfeiçoar todas as situações em contexto de simulação, prevenindo que o robot se danifique ao bater contra uma parede ou um objeto, ou que cause um acidente e ponha em perigo a vida de terceiros.

A Ford e a Agility Robotics aliaram-se neste projeto e, juntos, ambicionam lançar um robot de entregas que irá ajudar os seus clientes de veículos comerciais, incluíndo de veículos autónomos, a tornar o armazenamento e a entrega mais eficientes e acessíveis [42].

De destacar que, ao contrário da maioria dos robots apresentados na secção 3.1, que ainda se encontram em fase de estudo, a tecnologia do DIGIT já está totalmente desenvolvida, e o seu lançamento para o mercado ocorreu no início deste ano. Segundo a Agility Robotics [42], a Ford comprou os primeiros 2 robots da linha, e planeia lançar, já em 2021, um modelo do DIGIT apto para entregar encomendas, desde o veículo até à porta de casa das pessoas [44].

No entanto, para além desta aplicação, o DIGIT mostra-se como um robot extremamente promissor em termos de aplicabilidade na área da saúde, em particular, no meio hospitalar, tendo a capacidade de automatizar uma série de processos, o que é particularmente importante e necessário tendo em conta a atual pandemia do COVID-19. A automatização contribuirá significativamente para a prevenção da disseminação da doença.

De um ponto de vista logístico, a utilização do DIGIT em ambiente hospitalar poderá automatizar processos de distribuição de medicamentes, equipamentos e consumíveis, diminuindo deste modo a quantidade de auxiliares indiferenciados e, por conseguinte, reduzindo contactos desnecessários e prevenindo a disseminação de doenças infeciosas.

Devido ao sistema de visão que reconhece diferentes objetos, pode ainda ser aplicado no processo de recolha dos excedentes dos consumíveis para eliminação e dos equipamentos usados para posterior esterilização. A esterilização e organização do material hospitalar, frequentemente concretizada por enfermeiros poderá ser facilmente efetuada pelo robot, diminuindo o risco de infeção cruzada e permitindo redirecionar estes profissionais de saúde para o tratamento de doentes.

É ainda de considerar a possibilidade da utilização do robot DIGIT como um auxiliar nas enfermarias que recebe, por exemplo, os pedidos dos doentes que pressionarem a campainha e os transmite à distância para o balcão de enfermagem (basta para isso incluir um microfone e sistema de transmissão), o que resulta numa diminuição de contactos desnecessários. Seguindo esta linha de raciocínio, facilmente se chega à utilização desde robot para humanizar a telemedicina: situação em que um doente é visitado pelo robot que está conectado, por exemplo, ao computador do médico. Desta forma, o médico poderá consultar o doente à distância, o que será útil não só em situações de pandemia, como já antes explicado, mas também permitirá que a medicina especializada chegue a áreas remotas onde os cuidados de saúde sejam escassos.

5. PERSPETIVAS PARA O FUTURO

Como anteriormente mencionado, os robots humanoides estão ainda numa fase inicial de desenvolvimento quando comparados com outras categorias de robots devido, quer à sua alta complexidade do ponto de vista mecânico, quer ao desejo de que estes robots sejam autónomos e consigam lidar com a imprevisibilidade da vida humana. Os robots humanoides com aplicações na área da saúde estão, deste modo, dependentes dos robots humanoides com aplicações mais generalistas que,

artigo científico 4 robótica
robótica 129, 4. o Trimestre de 2022
Alexandra Pereira, Beatriz Santos, Rita Pereira Supervisao: J. Norberto Pires Universidade de Coimbra

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