‘Autonomous Grid’: reimaginar a rede elétrica do futuro

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vozes de mercado

‘Autonomous Grid’: reimaginar a rede elétrica do futuro

Martina Tomé VP Power Systems Iberia Schneider Electric

ERRATA: Um artigo publicado na edição anterior (n.º 49) desta revista e assinado por Martina Tomé, VP Power Systems Iberia da Schneider Electric continha imprecisões e foi, por isso, corrigido na versão digital e removido de quaisquer publicações futuras.

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Reflitamos por um momento sobre a transformação que a rede elétrica está atualmente a sofrer. Passámos de um sistema centralizado, baseado em grandes centrais elétricas que distribuem a energia num único sentido, para um modelo descentralizado e de fluxo bidirecional, que integra centenas de milhões de pontos de geração renovável ao longo de toda a rede. Embora este novo sistema permita uma maior eficiência e flexibilidade, também acrescenta uma maior complexidade e pressupõe desafios em termos de funcionamento, comunicação e cibersegurança, bem como ao nível da gestão da rede. Esta geração distribuída inclui novas tecnologias para ligação à rede e utiliza mais ferramentas de comunicação, controlos, dados, entre outros. Além de tudo isto, existe toda uma outra panóplia de tecnologias que se ligam à rede, como os veículos elétricos, o armazenamento distribuído ou mesmo as redes inteligentes, como as microgrids, que se regulam a si próprias. Nesta nova abordagem distribuída, devido à enorme quantidade de pontos, a otimização e o controlo devem começar a ser considerados de forma distribuída localmente para depois se prosseguir a nível global. Esta estratégia baseia-se no estabelecimento de determinados controlos a nível local nos pontos de fronteira físicos, como os centros de transformação dos quais dependerá a geração distribuída, veículos elétricos e mesmo o armazenamento. As microgrids ligadas à rede de distribuição também serão um destes pontos de fronteira. Este controlo distribuído permitirá uma maior agilidade, rapidez e eficiência. Basicamente, o objetivo passa por dividir o controlo em áreas mais pequenas de forma autónoma e depois, numa perspetiva mais abrangente, acabar por delinear um controlo global de toda a rede. Pensemos numa microgrid autónoma numa zona industrial ou num utilizador final com capacidade de geração e armazenamento. Graças a estas novas tecnologias, a empresa de eletricidade saberá que energia está disponível nestes pontos da rede para participar no mercado da procura, ajudando a reduzir os picos e a regular a frequência da rede. A este propósito, é importante referir que, em 2022, está previsto que a figura do agregador independente da

procura seja efetivamente acionada, o que permitirá a qualquer consumidor ou comunidade de energia participar nos mercados de flexibilidade. Desta forma, a flexibilidade presente na geração distribuída é integrada na rede. Este é, em suma, o ADN da nova ‘Autonomous Grid’: uma rede que é autogerida a partir de baixo, ligando autonomamente os centros de transformação aos prosumers de baixa tensão, às microgrids de média tensão, aos veículos elétricos – tendo em conta, entre outros elementos, as comunidades de energia. Um superorganismo em constante mudança e otimização, procurando um equilíbrio em tempo real entre todos os intervenientes, reduzindo os custos operacionais e energéticos e integrando energias renováveis e tecnologias inovadoras. Esta “fotografia” da ‘Autonomous Grid’ que acabo de mostrar representa uma grande promessa, mas também um grande desafio em muitos aspetos. Dotar o sistema elétrico de inteligência é fundamental para integrar as energias renováveis distribuídas, os sistemas de armazenamento e as ferramentas de flexibilidade, como a agregação e a gestão da procura, mas requer um esforço, tanto em termos de investimento como de gestão, e por esta razão as administrações públicas estão a promover ajudas. Tem havido vários desenvolvimentos recentes a este respeito, e é sabido, por exemplo, que o Governo português atribuiu uma dotação de 715 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para promover e apoiar financeiramente a descarbonização da indústria nacional. Em conclusão, contar com milhares de milhões de dispositivos que geram energia de forma variável é algo difícil de gerir e integrar na rede atual. Fazê-lo com as técnicas e tecnologias atuais será demasiado complexo – precisamos de novas abordagens, novos caminhos, para chegar a ela e garantir a sua estabilidade e resiliência. Através de aplicações locais que permitam estabelecer instruções regulamentares diretas, assim como de softwares de alto nível que antecipem possíveis problemas em áreas ou zonas através da simulação de parte da rede, poderemos ir pondo em prática esta via de integração. Todos os intervenientes do ecossistema energético estão atualmente a desenvolver e a investir em novas tecnologias, software e serviços para o desenvolvimento de sistemas energéticos autónomos e a sua integração na rede.


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