UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ARQUITETURA E URBANISMO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CINDY NAMI OKINO
HARAS E CENTRO DE TREINAMENTO EQUESTRE: UMA SEGUNDA CHANCE PARA CAVALOS DESCARTADOS
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CURITIBA 2017
CINDY NAMI OKINO
HARAS E CENTRO DE TREINAMENTO EQUESTRE: UMA SEGUNDA CHANCE PARA CAVALOS DESCARTADOS
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo - DEAAU - da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR. Orientador: Prof.a Esp. Iaskara Florenzano Coorientador: Prof.a Dra. Christine Laroca
CURITIBA 2017
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, por estar sempre presente em minha vida, guiando-me em minhas escolhas e dando-me forças diante das dificuldades. Agradeço aos meus familiares pelo cuidado, pela dedicação, pelo incentivo e por sempre acreditarem em mim; à minha mãe pelos anos dedicados à educação das filhas, sempre dando o seu melhor; e ao meu marido pelo apoio e compreensão. Agradeço à minha égua Rocher Rouge, mais conhecida como Cacau, que chegou a mim após ser descartada por perder uma corrida, pela experiência, aventuras e aprendizado durante o tempo que passamos juntas. Agradeço aos professores pelos valiosos ensinamentos e dedicação durante o curso; em especial à minha orientadora e à coorientadora pela ajuda, conselhos, amizade, paciência e dedicação. Por fim, gostaria de agradecer aos amigos e colegas de sala, que contribuíram para o meu crescimento pessoal e profissional; afinal, a arquitetura não se faz sozinha.
“A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados.” - Mahatma Gandhi.
RESUMO
OKINO, Cindy Nami. Haras e Centro de Treinamento Equestre: Uma Segunda Chance para Cavalos Descartados. 2017. 108 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2017.
A maioria dos haras, centros de treinamento, clubes hípicos e outros estabelecimentos que abrigam cavalos em Curitiba e Região Metropolitana, assim como em outros países, têm o costume de confinar os animais em pequenas cocheiras, muitas vezes por longos períodos de tempo, impossibilitando-os de expressar os comportamentos naturais da espécie, limitando-se o acesso ao alimento, as relações sociais com outros cavalos e o movimento; levando a um baixo nível de bem-estar nos animais. Além desse, outro problema desconhecido por muitos é a grande quantidade de cavalos de corrida descartados anualmente. Sem incentivos ou instituições brasileiras que busquem uma inserção destes animais no mercado para outros esportes e lazer, muitos são negligenciados, abandonados e até mesmo enviados a abatedouros pela sua carne, uma vez que esses cavalos parem de gerar lucros aos seus proprietários. O presente trabalho traz a proposta de um haras e centro de treinamento equestre projetado levando-se em conta o fato de os cavalos serem animais gregários e sociais, utilizando soluções que possibilitem diminuir os efeitos do confinamento e trazer uma melhor qualidade de vida aos cavalos domesticados; abordando novos conceitos e formas de se manter um cavalo além do tradicional confinamento em baias, bem como conceitos de manejo, doma e equitação natural, que possibilitam a construção de um relacionamento mais harmonioso entre o homem e o cavalo a partir do respeito, confiança, companheirismo e cumplicidade ao invés de violência e força; acolhendo os cavalos descartados pelos jockey clubes, treinando-os e encaminhando-os para novos esportes, dando assim uma nova utilidade e uma segunda chance a esses animais. O haras também contará com um programa de equoterapia utilizando cavalos aposentados e abandonados, o qual atenderá à população carente de uma escola de educação especial próxima à área de intervenção, podendo expandir o atendimento às pessoas dos municípios vizinhos conforme a disponibilidade de vagas. Serão oferecidos também serviços de hospedagem e treinamento dos animais, além de aulas de equitação e cursos, a fim de se levantar fundos para o programa de treinamento e reabilitação dos cavalos de corrida e o programa de equoterapia. O empreendimento ainda será sustentável, com o reaproveitamento das águas pluviais e o tratamento dos resíduos sólidos (estrume e cama das cocheiras) através da compostagem e vermicompostagem; além de possuir áreas de pastejo rotacionadas e capineiras para a alimentação dos cavalos, capazes de dispensar o gasto com o volumoso adquirido fora da propriedade.
Palavras-chave: Confinamento. Equoterapia. Bem-estar. Haras. Sustentabilidade.
ABSTRACT
OKINO, Cindy Nami. Horse Farm and Equestrian Training Center: A Second Chance for Discarded Horses. 2017. 108 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2017.
Most horse farms, training centers, equestrian clubs and other establishments that house horses in Curitiba and the Metropolitan Region, as well as in other countries, have the habit of confining animals in small stables, often for long periods of time, making it impossible to express the natural behaviors of the species, limiting access to food, social relations with other horses and movement; leading to a low level of welfare in animals. In addition, another problem unknown for many is the large number of racehorses discarded annually. Without incentives or institutions in Brazil that seek to insert these animals into the market for other sports and leisure, many are neglected, abandoned and even sent to slaughterhouses for their meat, once these horses stop generating profits to their owners. This work presents the proposal of a horse farm and equestrian training center designed considering the fact that the horses are gregarious and social animals, using solutions that can reduce the effects of confinement and offer a better quality of life to domesticated horses; approaching new concepts and ways of maintaining a horse beyond the traditional confinement in stalls, as well as concepts of handling, natural horsemanship and natural riding, that enable the construction of a more harmonious relationship between man and horse from the respect, confidence, companionship and complicity rather than violence and force; receiving the horses discarded by the jockey clubs, training them and directing them to new sports, thus giving a new use and a second chance to these animals. The horse farm will also feature a hippotherapy program using retired and abandoned horses, which will serve the needy population of a school of special education next to the intervention area, and may expand the service to people from neighboring municipalities according to availability. They will also be offered hosting services and training of animals, as well as riding lessons and courses in order to raise funds for the exracehorses training and rehabilitation program and the hippotherapy program. The project will be sustainable even with the reuse of rainwater and treatment of solid waste (manure and bedding from stalls) through composting and vermicomposting; as well as having rotational grazing areas and pastures for feeding the horses, that will able to dispense expenses with the hay acquired outside the property.
Keywords: Confinement. Hippotherapy. Welfare. Horse farm. Sustainability.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Cerca de arame liso com balancins. ........................................................ 21 Figura 2 – Cerca e mourão de madeira plástica........................................................ 22 Figura 3 – Cercas de PVC......................................................................................... 22 Figura 4 – Cama de maravalha e piso de borracha sem cama. ................................ 24 Figura 5 – Cavalos coçando-se mutuamente e usando a cauda para espantar as moscas um do outro. ................................................................................................. 27 Figura 6 – Pequeno harém de cavalos selvagens no Wyoming, Estados Unidos. .... 28 Figura 7 – Aerofagia com apoio. ............................................................................... 33 Figura 8 – Dentes desgastados devido à aerofagia e colar anti-aerofagia em nylon e metal. ........................................................................................................................ 33 Figura 9 – Coprofagia e cavalo com trombeta plástica para impedir a alimentação ou mordidas.................................................................................................................... 34 Figura 10 – Cocheiras tradicionais que impedem a socialização entre os cavalos. .. 35 Figura 11 – Cocheiras com grades ou meias paredes que possibilitam a interação entre os cavalos. ....................................................................................................... 36 Figura 12 – Coordenador e detentos que participam do programa Second Chances. .................................................................................................................................. 43 Figura 13 - Um soldado e seu cavalo com máscaras de gás em 1918 e cavalos puxando toras de pinheiro em Minnesota, 1904........................................................ 46 Figura 14 – Filme Cavalo de Guerra e The Animals in War Memorial em Londres. .. 47 Figura 15 – Monumento à égua Sargento Reckless em Camp Pendleton e uma foto na guerra. .................................................................................................................. 48 Figure 16 – Atividades desenvolvidas nas sessões de equoterapia. ........................ 50 Figure 17 – Praticantes de equterapia com deficiências mentais e físicas. .............. 52 Figura 18 – Aparelho para transferir pessoas para o cavalo e cadeirante andando a cavalo. ....................................................................................................................... 53 Figura 19 – Documentário The Horse Boy: A Father's Miraculous Journey to Heal His Son. ........................................................................................................................... 56
Figura 20 – Movement Method.................................................................................. 57 Figura 21 – Atividades realizadas na Square Ped Foundation, utilizando o Horse Boy Method. ..................................................................................................................... 57 Figura 22 – Implantação Centro Hípico Polana. ........................................................ 59 Figura 23 – Pista de areia com cocheiras e pavilhão ao fundo; vista para a pista e vale. ........................................................................................................................... 59 Figura 24 – Planta Térreo Cocheiras. ....................................................................... 60 Figura 25 – Planta Subsolo Cocheiras. ..................................................................... 61 Figura 26 – Pavilhão de cocheiras térreo; mirante e subsolo. ................................... 61 Figura 27 – Corte AA Cocheiras................................................................................ 62 Figura 28 – Corte BB Cocheiras................................................................................ 62 Figura 29 – Cocheiras com meia parede de alvenaria e fechamento em aço corten Haras Polana............................................................................................................. 62 Figura 30 – Corte Ampliado Cocheira. ...................................................................... 63 Figura 31 – Corte Transversal do pavilhão de leilões e restaurante. ........................ 63 Figura 32 – Esquema da estrutura da cobertura em madeira laminada colada. ....... 64 Figura 33 – Pavilhão de leilões e restaurante Haras Polana, cobertura em madeira laminada colada. ....................................................................................................... 64 Figura 34 – Pista de areia, café e pavilhão de cocheiras ao fundo. .......................... 65 Figura 35 – Croquis dos níveis .................................................................................. 66 Figura 36 – Planta primeiro nível. .............................................................................. 66 Figura 37 – Planta Segundo Nível. ............................................................................ 67 Figura 38 - Planta Terceiro Nível............................................................................... 68 Figura 39 – Corte AA. ................................................................................................ 68 Figura 40 – Corte BB. ................................................................................................ 69 Figura 41 – Corte CC. ............................................................................................... 69 Figure 42 – Pista de areia, arquibancadas, cocheiras e área social. ........................ 70 Figura 43 – Serra do mar e represas. ....................................................................... 72 Figura 44 – Localização de Piraquara no Paraná. .................................................... 73 Figura 45 – Mapa turístico do Roteiro Caminho Trentino. ......................................... 74
Figura 46 – Eventos da cidade, turismo e belezas naturais. ..................................... 75 Figura 47 – Localização do terreno em Piraquara. .................................................... 76 Figura 48 – O terreno e entorno antes e depois de implantada a Represa Piraquara II. ............................................................................................................................... 77 Figura 49 - Entorno do terreno proposto. .................................................................. 78 Figura 50 – Distância entre o terreno proposto e Hípica, Jockey e os centros das cidades mais próximas. ............................................................................................. 79 Figura 51 – Mapa Síntese. ........................................................................................ 80 Figura 52 – Terreno e pontos das fotografias............................................................ 80 Figure 53 – Fotografias do terreno proposto. ............................................................ 81 Figura 54 – Centros de equoterapia em Curitiba e Região Metropolitana e centro proposto no haras. .................................................................................................... 82 Figura 55 – Os pilares do projeto. ............................................................................. 83 Figura 56 – Esquema do Paddock Paradise Track System. ..................................... 84 Figure 57 – Paddock Track com pedras para condicionar os cascos e área de alimentação. .............................................................................................................. 85 Figura 58 – Casco com ferradura, casco natural “barefoot”, e novas formas de proteção para os cascos. .......................................................................................... 86 Figura 59 – Cavalos com embocadura e cavalo “bitless”, sem embocadura. ........... 86
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Equídeos abatidos no Brasil entre 2008 e 2015. ..................................... 39 Gráfico 2 – Principais destinos de exportação da carne equídea em 2015. .............. 39 Gráfico 3 – Resumo das áreas do programa............................................................. 93
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Estimativa de áreas do programa do Haras Polana. ............................... 58 Tabela 2 - Estimativa de áreas do programa do Hípico del Bosque.......................... 69 Tabela 3 – Descrição dos ambientes do setor 1: Pavilhão de Cocheiras. ................ 88 Tabela 4 – Descrição dos ambientes do setor 2: Pavilhão de Equoterapia e Convivência. .............................................................................................................. 88 Tabela 5 – Descrição dos ambientes do setor 3: Equipamentos e Serviços. ............ 89 Tabela 6 – Descrição dos ambientes do setor 4: Áreas Verdes. ............................... 89 Tabela 7 – Cálculo do consumo de capim e das áreas de capineiras e pastejo rotativo. ..................................................................................................................... 89 Tabela 8 – Organograma e Fluxograma. .................................................................. 90 Tabela 9 – Quadro de Áreas Pavilhão de Cocheiras. ............................................... 91 Tabela 10 – Quadro de Áreas Pavilhão de Equoterapia e Convivência. ................... 91 Tabela 11 – Quadro de Áreas Equipamentos e Serviços. ......................................... 92 Tabela 12 – Quadro de Áreas das Áreas Verdes. ..................................................... 92 Tabela 13 – Resumo das áreas do programa. .......................................................... 92
LISTA DE SIGLAS E ACRÔNIMOS
AANHCP
Association for the Advancement of Natural Horse Care Practices
ABA
Applied Behavior Analysis
ABNT
Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABCCMM
Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador
ANDE
Associação Nacional de Equoterapia
APAE
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
APR
Associação Paranaense de Reabilitação
ASPCA
Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade aos Animais
FAO
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
PETA
People for the Ethical Treatment os Animals
UNESCO
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UTFPR
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Ha
Hectare
IPEs
Intervenções Psicoterapêuticas na Equoterapia
RPMON
Regimento de Polícia Montada
TAA
Terapias Assistidas por Animais
TCA
Thoroughbred Charities of America
TRF
Thoroughbred Retirement Foundation
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................14 1.1. PROBLEMÁTICA ..............................................................................................15 1.2. HIPÓTESE ........................................................................................................15 1.3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................16 1.4. OBJETIVO GERAL ...........................................................................................16 1.5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................17 1.6. METODOLOGIA ...............................................................................................17 2. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA ...........................................................................19 2.1. O QUE É HARAS? ............................................................................................19 2.1.1. Sobre o Pasto ...............................................................................................19 2.1.2. Sobre as Cercas ...........................................................................................20 2.1.3. Sobre as Cocheiras ......................................................................................22 2.1.4. Sobre o Planejamento do Haras ...................................................................25 2.2. O CAVALO: LIBERDADE X CONFINAMENTO X ESTEREOTIPIAS ...............26 2.3. A INDÚSTRIA DO CAVALO E UMA SEGUNDA CHANCE AOS ANIMAIS DESCARTADOS, ABANDONADOS E APOSENTADOS ........................................36 2.4. O CAVALO NA HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO HUMANA ..................................44 2.5. O CAVALO COMO AGENTE TERAPEUTA .....................................................49 3. ESTUDOS DE CASO .........................................................................................54 3.1. SECOND CHANCE THOROUGHBREDS ........................................................54 3.2. SQUARE PEG FOUNDATION..........................................................................54 3.3. HARAS E CENTRO HÍPICO POLANA .............................................................57 3.4. HÍPICO DEL BOSQUE .....................................................................................65 4. INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE .................................................................72 4.1. PIRAQUARA: CIDADE DOS MANANCIAIS .....................................................72 4.2. A ÁREA DE INTERVENÇÃO ............................................................................76 4.1. O TERRENO: MAPA SÍNTESE E CONDICIONANTES....................................79 4.2. CENTROS DE EQUOTERAPIA E O PÚBLICO EM CURITIBA E REGIÃO......81 5. DIRETRIZES PROJETUAIS ...............................................................................83 5.1. O PROGRAMA DE NECESSIDADES ..............................................................87 5.2. ÁREAS DO PROGRAMA DE NECESSIDADES...............................................91 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................94 REFERÊNCIAS .......................................................................................................96
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1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho trata da proposta de um haras que foge do padrão tradicional. O projeto será feito de forma a proporcionar maior bem-estar animal, bem como uma melhor relação do homem com o cavalo, além da conscientização sobre a indústria do cavalo e promover a inserção dos animais descartados em atividades esportivas, lazer e terapias. Para compreender melhor a essência da proposta apresentada, foi feita a divisão em cinco capítulos: introdução, conceituação temática, estudos de caso, interpretação da realidade e diretrizes projetuais. No primeiro capítulo estão definidos a problemática, a hipótese, a justificativa, o objetivo geral, os objetivos específicos e a metodologia. No segundo capítulo buscou-se definir o que é um haras, o seu funcionamento, suas partes e principais estruturas a fim de se proporcionar segurança e conforto aos animais. Para se projetar um haras é preciso conhecer os principais usuários do local; para isso, foi feita uma pesquisa sobre como vivem os cavalos na natureza e quais são as necessidades inerentes à espécie. Após apresentar os dados necessários à compreensão do animal e suas necessidades, foi abordada a questão do confinamento em cocheiras e as estereotipias ou problemas comportamentais causados pela domesticação, confinamento e a falta de atenção quanto às necessidades dos mesmos. Logo em seguida foram apresentados dados sobre a equinocultura no Brasil e no mundo, e também sobre os bastidores da indústria de cavalos no mundo e o descarte causado pela superpopulação dos animais e a exploração comercial dos mesmos. O capítulo ainda aborda a história do homem e cavalo, mostrando os benefícios dessa interação na evolução da civilização; além da importância e dos benefícios do uso do cavalo em tratamentos terapêuticos. O terceiro capítulo apresenta dois estudos de caso de referencial teórico a serem utilizados como base para definir os serviços a serem oferecidos pelo haras; e dois estudos de caso projetuais em que serão avaliados os projetos arquitetônicos de dois haras, um nacional e um internacional, com ênfase nas estruturas e materiais utilizados, fluxos, setorização, entre outros. No quarto capítulo buscou-se compreender a área de intervenção, seu entorno imediato e a sua relação com a cidade no qual está inserido e as cidades do entorno. Por fim, o quinto capítulo contém
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as diretrizes para a elaboração do projeto com base nos estudos dos capítulos anteriores.
1.1. PROBLEMÁTICA
Descarte, abandono e confinamento animal: como lidar com os cavalos descartados pela indústria e de que forma a arquitetura e o espaço projetado podem ser úteis a fim de se permitir uma melhor qualidade de vida aos animais confinados, melhorando a relação entre homem e cavalo?
1.2. HIPÓTESE
Milhares de cavalos de corrida, jovens e com potencial para a montaria e outros esportes hípicos, são descartados anualmente após não atingirem os resultados esperados nas pistas. Uma alternativa a essa situação é utilizar como modelo instituições norte-americanas que acolhem esses cavalos descartados e os reabilita, retreina e encaminha para uma nova carreira esportiva, permitindo que tenham uma segunda chance. Os cavalos são, por natureza, animais sociáveis e precisam movimentar-se regular e constantemente devido à sua fisiologia. Sendo assim, não é desejável que sejam confinados o dia todo em pequenas cocheiras que restringem o movimento e os isolam dos outros de sua espécie. O estresse causado pelo confinamento e manejo tradicionais inadequados impactam negativamente sobre o desempenho e qualidade de vida do animal, seja ele de esporte ou lazer. Deve-se, então, buscar que os centros equestres disponham de espaço verde planejado, adequado e suficiente aos animais, bem como projetar cocheiras que permitam, entre outros fatores, a socialização dos equinos, minimizando os efeitos do confinamento. Uma vez que o cavalo esteja saudável física e mentalmente, sua relação com o ser humano será mais harmoniosa, beneficiando as duas partes.
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1.3. JUSTIFICATIVA
As principais justificativas para a escolha do tema deste trabalho foram, em primeiro lugar, a grande quantidade de centros equestres existentes em Curitiba e Região Metropolitana onde não é possível se verificar um nível adequado de bemestar animal, principalmente devido ao confinamento e à incapacidade do cavalo expressar seus comportamentos naturais, o que resulta em estresse e problemas comportamentais. A segunda razão é a grande quantidade de cavalos de corrida descartados anualmente, sem ter para onde ir, não havendo incentivos ou instituições que busquem uma inserção destes no mercado e em outros esportes, o que faz pertinente o estudo da implantação de um haras que acolha estes animais e os reabilite e retreine, para que possam ter uma segunda chance em uma nova carreira. Por fim, há a necessidade de informar sobre os benefícios obtidos pelo contato com o cavalo e pela equoterapia, além de difundir novas ideologias sobre o bem-estar animal e a possibilidade de se construir um relacionamento mais ético e harmonioso entre o homem e o cavalo a partir do respeito, confiança, companheirismo e cumplicidade ao invés de violência e força.
1.4. OBJETIVO GERAL
O objetivo deste trabalho é desenvolver o projeto arquitetônico e paisagístico de um haras voltado ao bem-estar animal, que ofereça a estrutura necessária para atender aos cavalos, enfatizando-se a importância da qualidade do espaço projetado como ferramenta capaz de minimizar os efeitos do confinamento e o seu impacto sobre a saúde física e mental dos equinos estabulados, bem como a importância dos piquetes e áreas verdes planejadas para a socialização, relaxamento e exercício dos animais. O projeto também deverá atender, ao mesmo tempo, às necessidades das pessoas que frequentarão o local, promovendo lazer, recreação, atividades físicas e terapias junto aos cavalos; a conexão com a natureza; e o aprendizado e divulgação de ideologias sobre o bem-estar equino, capazes de trazer benefícios à interação entre homem e cavalo.
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1.5. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Mostrar que existe uma indústria de cavalos de corrida no Brasil e no mundo, a qual ocasiona uma superpopulação e o descarte de milhares de animais anualmente; e buscar incentivar a inserção desses cavalos no mercado e sua utilização em outros esportes hípicos.
Enfatizar a importância de um espaço arquitetonicamente projetado levandose em conta o bem-estar animal, a fim de minimizar os efeitos do confinamento sobre a saúde física e mental dos equinos estabulados; bem como a importância dos piquetes e áreas verdes planejadas para a socialização, relaxamento e exercício dos animais; locais esses que tem sido cada vez mais deixados de lado apesar de serem essenciais em se tratando de cavalos.
Difundir novas ideologias sobre o bem-estar animal e o relacionamento entre homem e cavalo, baseadas no respeito, confiança, companheirismo e cumplicidade, a fim de que o homem tenha uma convivência mais harmoniosa e equilibrada com o cavalo, com a natureza e com ele mesmo.
Mostrar a importância da interação com o cavalo e os benefícios obtidos pela convivência e parceria das duas espécies.
Ampliar os conhecimentos sobre a equoterapia, terapia com o uso do cavalo, os benefícios proporcionados aos pacientes e o público que pode se beneficiar desta atividade.
Mostrar como a arquitetura pode ser aplicada em busca de melhores resultados em instalações rurais e na criação de animais, incentivando seu uso nesse tipo de empreendimento.
1.6. METODOLOGIA
O desenvolvimento do presente estudo foi feito a partir dos métodos exploratório, descritivo e analítico. A pesquisa foi elaborada principalmente através de bibliografias, com a consulta de livros, artigos científicos, teses, dissertações, revistas eletrônicas, e webgrafia. Também foram examinados estudos de caso teóricos e projetuais, além do levantamento de dados através de visitas de campo ao local de
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intervenção e aos haras de Curitiba e região, realizando entrevistas informais não estruturadas a fim de compreender melhor o programa básico de um haras e os cuidados com os cavalos.
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2. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA
2.1. O QUE É HARAS?
Um haras é um local, um pedaço de terra, destinado à criação, reprodução e treinamento de cavalos (FERREIRA, 2010). É essencial haver a preocupação com o bem-estar do cavalo, garantindo que suas necessidades básicas sejam supridas e a sua natureza respeitada, de forma que esteja saudável física e mentalmente. Além dos cuidados com os animais, o haras precisa ser pensado também para as pessoas que frequentarão o local diariamente: tratadores, treinadores, proprietários de cavalos, praticantes de equoterapia, entre outros. Tendo em vista a diversidade do público que o frequentará, deve-se levar em conta o conforto e a segurança, prevendo instalações acessíveis à pessoas de todas as faixas etárias e portadoras de necessidades especiais. As instalações necessárias são basicamente piquetes, cocheiras, lavatórios para banhar os cavalos, farmácia veterinária, depósito de feno, depósito de ração, depósito de serragem ou outro material para a cama das cocheiras, depósito para equipamentos e maquinários, quarto de sela, casa do caseiro, casa sede, sanitários e vestiários, redondel e pista de areia para doma e treinamento, estacionamento, escritório, entre outros (MUNDO EQUINO, [200-?]).
2.1.1. Sobre o Pasto
O cálculo para o dimensionamento das pastagens é de 1 hectare (10.000 m 2) para um cavalo, o que exige uma área extensa para a criação. No entanto áreas destinadas à fenação1 e capineiras2, são opções que permitem maior aproveitamento do capim, uma vez que este não sofre o pisoteamento pelos animais (Id., [200-?]). Outra prática para se aproveitar melhor as pastagens é a utilização do pastejo rotativo, no qual divide-se a área dos pastos em piquetes menores, onde os animais
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Fenação é o processo de produção do feno. O feno é composto de gramíneas ou leguminosas cortadas, secas e estocadas para posterior consumo dos animais (DUARTE, 2016). 2 Capineiras são áreas destinadas ao plantio de capim para corte, visando à alimentação dos animais com o capim fresco (MUNDO EQUINO, [200-?]).
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permanecem durante certo tempo para consumir a forragem disponível, passando para o próximo piquete logo em seguida (PEDREIRA e MORENO, 2011). Assim, é possível ao capim se recuperar e crescer até que os animais sejam colocados naquele mesmo piquete novamente. Havendo a possibilidade de se cultivar o capim na propriedade, é possível obter-se uma economia significativa referente à alimentação dos cavalos.
2.1.2. Sobre as Cercas
As cercas são elementos essenciais em um haras. A segurança dos cavalos no pasto está diretamente ligada ao sistema utilizado. Uma boa cerca deve ser resistente, durável, e de alta visibilidade pelos animais para evitar acidentes. Também é interessante que possua um baixo custo de manutenção, além de agradar esteticamente. A altura pode variar entre 1,40 m e 1,70 m, de acordo com as necessidades e características dos animais. A seguir serão apresentados alguns sistemas de cercas:
Madeira É um dos sistemas mais comuns em grandes propriedades e tido como o ideal
pelo senso comum. A cerca de madeira possui custos elevados de instalação e manutenção, uma vez que sofre desgaste pelo tempo e pelos animais. Recomendase o uso de madeiras duras e resistentes, que não lasquem ou quebrem com facilidade, sendo importante um tratamento prévio das tábuas. Geralmente são utilizadas entre 2 e 4 tábuas, as quais costumam ter de 10 a 15 cm de largura por 3 cm de espessura. Os palanques devem ser externos ao piquete, para evitar que algum animal se machuque. Tábuas soltas ou quebradas, pontas de madeira, pregos e outras saliências podem causar acidentes, sendo importante a utilização de madeiras de boa qualidade. Outro problema é o caso de cavalos que costumam mastigar a madeira, o que aumenta os custos de manutenção, além de oferecer riscos aos animais (BROOKS, 2016a; MIRANDA, [201-?]).
Arame liso As cercas de arame liso são muito utilizadas em pequenas e médias
propriedades devido ao baixo custo. Entretanto, são necessários alguns cuidados quanto à montagem e manutenção, a fim de se evitar acidentes com os animais. As
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cercas de arame liso devem ter os mourões de madeira ou concreto sempre próximos, com uma distância máxima de 6 m e possuir balancins, preferencialmente de madeira, para uma maior segurança. Os fios devem ser esticados utilizando-se torniquetes, a manutenção é importante para manter os fios sempre bem esticados. Os acidentes com cercas de arame liso provocam ferimentos graves, cortes profundos, lesões nos tendões e membros, podendo invalidar o animal e algumas vezes levar à morte. O perigo está na baixa visibilidade do arame, sendo interessante o uso de artifícios como pintar o arame ou envolvê-lo com tubo plástico, o que o torna visível e pode diminuir a gravidade dos cortes e lesões (MIRANDA, [201-?]).
Figura 1 – Cerca de arame liso com balancins. Fonte: MUCHE, [201-?].
Madeira plástica A madeira plástica possui alta resistência e durabilidade, resiste a intempéries
e pragas, não enferruja, não solta farpas. A
instalação
é
rápida
e
fácil,
não
necessitando de reparos como os sistemas convencionais. As cercas são feitas de material atóxico e totalmente reciclável. Levando em conta a vida útil, pode-se considerar um investimento de baixo custo e ecológico, além de seguro para os animais. Os palanques plásticos podem ser preenchidos com areia, brita, terra, concreto, entre outros, a fim de aumentar a sua resistência, sendo a distância entre os palanques de aproximadamente 2,5m (ECOPEX, [201-?]).
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Figura 2 – Cerca e mourão de madeira plástica. Fonte: Ecopex, [201-?].
PVC Assim como as cercas de madeira plástica, as cercas de PVC são ecológicas,
uma vez que não utilizam árvores e possuem uma grande durabilidade, necessitando de praticamente nenhuma manutenção. O sistema utiliza menos postes, permitindo distâncias superiores a 4 metros, e não utiliza pregos ou parafusos, não corta, não solta farpas, é resistente ao sol, umidade e cupim, não permite ao animal morder a cerca; também não necessita de pintura, sendo lavável e higiênico, apresentando uma boa relação custo x benefício (PLÁSTICOS SOLUÇÕES, [201-?]).
Figura 3 – Cercas de PVC. Fonte: Brooks, 2016a.
2.1.3. Sobre as Cocheiras
Quando em climas quentes as baias devem ser frescas e ventiladas; já em climas frios, deve-se maximizar a utilização do sol e oferecer proteção dos ventos
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predominantes. Independentemente do clima, o pavilhão de cocheiras deve ser projetado a fim de se evitar a umidade, de forma que o ar se mova verticalmente - o ar que está perto do chão deve sair pela parte superior, pois “quando o ar se move horizontalmente ele transfere bactérias e patógenos de um cavalo para outro”. As baias geralmente possuem entre 9 m2 e 16 m2 podendo variar de acordo com a raça e a função dos animais, sendo que quanto maior for melhor será para o cavalo. Os tipos de piso podem ser permeáveis, como a terra batida, ou impermeáveis, como o concreto. Quando permeáveis, é necessária uma fundação com areia, carvão, cascalho entre outros materiais para ajudar na drenagem da urina. Já os pisos impermeáveis necessitam ter um sistema de drenagem auxiliar com inclinações e drenos. O ideal é que o piso não retenha odores e umidade, seja antiderrapante, durável, resistente, de baixa manutenção e de fácil limpeza (BROOKS, 2015b). Sobre o piso coloca-se a cama ou substrato, que pode ser de diversos materiais. Alguns exemplos são:
Palha de arroz É um substrato excelente por não ter pó e as cascas formarem uma cama muito
seca e absorvente, além de ser ecologicamente correto, uma vez que facilita a compostagem e não depende do corte de árvores, sendo um produto dispensado pela indústria do arroz, portanto de baixo custo. Porém, não recomenda-se a utilização no caso de equinos que tendem a ingerir a cama, pois pode provocar irritações no estômago e intestinos dos animais (ESCOLA DO CAVALO, [201-?a]; JORGE, 2010).
Bagaço de cana Assim como a palha de arroz, é um material de baixo custo e apresenta
problemas se ingerido em grandes quantidades. Uma forma de se evitar a ingestão da cama é oferecer volumoso3 à vontade aos animais (Id., [201-?a]; Id., 2010).
Areia Substrato de uso comum em algumas regiões do Brasil, necessita de uma boa
drenagem para que não fique úmida. É preciso atenção quanto a sua ingestão pelos animais, pois pode ocasionar cólicas de areia, nas quais os grãos se depositam nas partes inferiores do intestino, não sendo deslocadas pelo movimentos intestinais,
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Pastos e forragens desidratadas (DITTRICH, 2010 apud PEREIRA, 2016).
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podendo causar fortes dores e tornar a absorção intestinal insuficiente (Ibid., [201-?a]; Ibid., 2010).
Maravalha São raspas de madeira, geralmente de pinus. É o tipo de cama mais
comumente utilizado no sul e sudeste do país. É macia e absorve muito bem a urina e odores, sendo de fácil manejo quanto à limpeza. É considerado uma das melhores camas para cavalos, desde que seja de boa qualidade, sem pó (ESCOLA DO CAVALO, [201-?a]; JORGE, 2010).
Pó de serragem Utilizado em regiões ou épocas do ano em que não é possível se encontrar a
serragem em flocos. Tem a mesma capacidade de absorção da maravalha e é mais macio; porém, pode causar irritações respiratórias, sobretudo em animais alérgicos (Id., [201-?a]; Id., 2010).
Piso de borracha Não é um uma cama, mas um revestimento para cocheiras com piso de
concreto e dreno, que pode vir a substituir as tradicionais camas, facilitando o manejo. É um material flexível, macio e confortável, de alta durabilidade e resistência, antiderrapante, seguro, e não produz poeira, além de transmitir uma imagem de um ambiente moderno e inovador. No entanto, os animais tendem a se sentir melhor em ambientes com produtos naturais; nos casos de cavalos que ficam muito tempo confinados, é necessário o uso de uma cama por cima do piso para que possam se deitar (VEDOVATI, [201-?]).
Figura 4 – Cama de maravalha e piso de borracha sem cama. Fonte: Escola do cavalo, [201-?b]; Vedovati, [201-?].
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Dentro de cada cocheira deve haver um bebedouro, de preferência automático, que mantenha a água sempre fresca e disponível, uma vez que um cavalo bebe entre 25 e 70 litros de água por dia. O cocho para a ração deve estar a uma altura baixa para facilitar a alimentação, pois na natureza o cavalo come com a cabeça baixa, e ficar no sentido oposto do bebedouro, para evitar que o cavalo suje a água com restos de alimento. Deve-se também dispor de um pequeno cocho para o sal mineral e um local para o feno, de preferência baixo, podendo ser uma manjedoura de ferro ou madeira, uma rede ou até mesmo no chão (JORGE, 2010).
2.1.4. Sobre o Planejamento do Haras
O primeiro passo na elaboração do projeto de um haras é definir quais os tipos de atividades realizadas: se será um empreendimento apenas para a criação e venda de cavalos; um local de uso particular para a família; ou um haras aberto ao público, que ofereça serviços de hospedagem, treinamento, aulas, entre outros. Dependendo do uso, haverá diferentes tipos de estruturas para atender às pessoas e aos animais; éguas de cria com potros necessitam de cuidados diferentes de cavalos de esporte ou de garanhões, por exemplo (MUNDO EQUINO, [200-?]). Quanto à topografia, o terreno escolhido deve ser de preferência plano ou levemente ondulado e com boa drenagem; terrenos montanhosos e íngremes não são indicados devido aos riscos de acidentes e lesões nos animais, além de dificultar a mão de obra e a mecanização do manejo dos pastos, enquanto que os terrenos alagadiços podem acarretar em problemas nos cascos; segundo um ditado popular no meio hípico “sem cascos, sem cavalo”. Já no que diz respeito à localização, é conveniente que o haras esteja localizado em uma “região de tradição na criação de cavalos, que disponibiliza as facilidades necessárias ao desenvolvimento da criação, além de reduzir custos de transporte para participar de eventos”. Outro aspecto positivo é a proximidade com alguma cidade com boa infraestrutura, como hospitais, farmácias, supermercados, entre outros. No caso de haras aberto ao público, a proximidade com as cidades é importante também para facilitar e estimular a frequência dos clientes no local durante a semana (Id., [200-?]). O depósito de feno deve ficar próximo ao pavilhão de cocheiras, entretanto em lugares onde o clima é seco e há riscos de incêndio, é importante respeitar uma
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distância de pelo menos 20 metros, a fim de se reduzir o tempo de propagação do fogo. O local deve ser arejado e fresco para evitar a formação de bolores nos alimentos. As edificações devem ser de fácil acesso, com espaço suficiente para manobrar os veículos ao redor, independente do clima; de forma que a circulação de veículos e máquinas não ofereça riscos e nem perturbe os animais (BROOKS, 2016b). “Primeiro você localiza feno, equipamentos e armazenamento de veículos, acesso para retirada de estrume, as entregas de caminhão e talvez os hóspedes e visitantes. Todos estes equipamentos têm inter-relações, e eles precisam ser planejadas para o início. Só então você pode se concentrar em edifícios de fato” (MARTINOLICH apud Id., 2016b).
Cerca de 70% dos gastos em um haras são referentes à alimentação dos cavalos e à mão de obra; sendo importante planejar, se possível, áreas de pasto e capineiras, bem como uma implantação que facilite o fluxo dos trabalhadores e veículos, a fim de reduzir-se os custos de manutenção e otimizar o trabalho. (MUNDO EQUINO, [200?]). "Um planejamento adequado pode reduzir os custos - menos estradas, menos cercas, melhor drenagem - e garantir que toda a fazenda, não apenas as cocheiras dos cavalos, mas toda a coleção de estruturas no local, funcione de forma eficiente e segura". (JOHN BLACKBURN apud BROOKS, 2016b).
Sendo assim, o bom planejamento do haras diminui os fluxos e distâncias percorridas durante a rotina de trabalho diária, o que significa economia de tempo e, consequentemente, de dinheiro; além de contribuir para o bem-estar, conforto e segurança dos animais e pessoas que frequentarão o local.
2.2. O CAVALO: LIBERDADE X CONFINAMENTO X ESTEREOTIPIAS
Originados em campos e pradarias, os cavalos em liberdade gastam entre 10 e 18 horas do dia com o pastejo, inclusive no período noturno, com duração de 2 a 3 horas por refeição, separadas por curtos intervalos utilizados com socialização, descanso e movimentando-se à procura de novas áreas de pasto (KEIPER, 1976; DUNCAN, 1980). Além de herbívoros, os cavalos são animais gregários; ou seja, assim como o homem, têm o instinto de viver em grupos e a necessidade de se comunicar uns com os outros. Segundo Keiper (1976), são animais extremamente
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sociáveis, possuem relações complexas com todos os integrantes do grupo e a sociedade é hierárquica, com respeito e imitação dos mais experientes. Na natureza, os cavalos vivem em pequenos haréns familiares de aproximadamente 10 indivíduos, constituídos por um garanhão, uma ou duas éguas e a prole. Os jovens potros deixam o grupo familiar aos dois ou três anos de idade, quando atingem a maturidade sexual. O grupo sempre é liderado pela égua alfa, a mais velha e experiente, responsável pelas decisões relacionadas à sobrevivência e à educação dos animais mais jovens; em conjunto com o garanhão cujas funções são a reprodução e a proteção do harém. (ZHARKIKH e ANDERSEN, 2009 apud SARRAFCHI, 2012, p.4). As relações sociais entre os membros da manada são frequentemente reforçadas pelo ato de brincar e descansar uns com os outros, pelo compartilhamento de alimentos, a imitação de comportamentos e as ações de coçarse mutuamente e espantar as moscas uns dos outros com a cauda, o que traz um maior bem-estar, aliviando a coceira e o incômodo causado pelos insetos.
Figura 5 – Cavalos coçando-se mutuamente e usando a cauda para espantar as moscas um do outro. Fonte: Mary, 2007; Alamy, 2008.
Considerados presas na natureza, o principal objetivo dos cavalos é a sobrevivência, razão do forte instinto de fuga e de defesa, presente mesmo em animais domesticados (BOYD 1988 e 1991). Logo, viver em grupos é o que os faz sentirem-se seguros e felizes.
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Figura 6 – Pequeno harém de cavalos selvagens no Wyoming, Estados Unidos. Fonte: Walker, 2013.
As atividades relacionadas à alimentação ocupam grande parte do tempo diário dos cavalos devido às particularidades de sua fisiologia digestiva. De acordo com Duncan (1980), o aparelho digestivo evoluiu para ingestão de alimentos lenta e contínua. Conforme Sneddon e Argenzio, (1998) e Hoffman, (2001) (apud SARRAFCHI, 2012) apesar de relativamente pequeno, o estômago raramente se esvazia completamente sob condições naturais, sendo que do ponto de vista fisiológico, o estômago deveria ser mantido relativamente cheio durante todo o dia. Em condições naturais, os cavalos costumam alimentar-se de plantas variadas com alto teor de fibras porém pobres em energia, e para compensar o baixo nível de energia passam a ingerir grandes quantidades de forragens, o que aumenta a taxa de passagem gastrointestinal. Keiper (1986 apud SARRAFCHI, 2012) estima que os animais em liberdade caminhem mais de 10.000 passos por dia em busca de pastagens e fugindo de predadores, o que, juntamente com o grande volume de capim
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ingerido é essencial para o bom funcionamento do intestino, prevenindo cólicas, laminites e outros problemas de saúde. No passado, quando eram utilizados como principal meio de transporte, as cidades possuíam um espaço amplo destinado a estes animais, com disponibilidade de piquetes para eles se movimentarem e pastarem. Porém, com o crescimento e adensamento das cidades, o espaço reservado a eles foi sendo diminuído, resultando no confinamento em baias cada vez menores. Com isso, três características do cavalo selvagem estão ausentes na vida do cavalo estabulado: a convivência com outros animais, a capacidade de locomoção e o tempo de pastejo (REZENDE et al., 2006; SARRAFCHI, 2012; KONIECZNIAK, 2014). Os animais submetidos ao confinamento estão mais propícios a apresentarem alterações comportamentais (REZENDE et al., 2006; SARRAFCHI, 2012). O confinamento prolongado pode privá-los de uma ou mais das “Cinco Liberdades” do bem-estar animal; são elas: os animais devem estar livres de fome e de sede; livres de desconforto; livres de dor, livres de maus-tratos e de doenças; livres para expressar seu comportamento natural e livres de medo e de tristeza. As “cinco liberdades” foram definidas no relatório do Comitê Brambell, publicado na Inglaterra, em 1965. Esta foi a primeira vez que o conceito oficial de Bem-estar Animal foi citado oficialmente (FROEHLICH, 2015). “Bem-estar animal é um termo abrangente que diz respeito tanto ao bemestar físico quanto mental. Portanto, qualquer tentativa de se avaliar o bemestar de um animal deve considerar desde aspectos físicos (fisiológicos) como mentais (comportamentais)” (VIEIRA, [200-?]).
Ainda segundo Vieira ([200-?]) “o objetivo do bem-estar animal é conhecer, avaliar e garantir as condições para satisfação das necessidades básicas dos animais que passam a viver sob o domínio do homem”. De acordo com o pesquisador Donald Broom (apud PROTEÇÃO ANIMAL MUNDIAL, 2016), o bem-estar é uma qualidade inerente aos animais. Logo, o homem deve oferecer condições para que os animais sob o seu cuidado possam adaptar-se da melhor forma possível ao ambiente. Quanto melhor a condição oferecida, mais fácil será a adaptação (VIEIRA, [200-?]; Id., 2016).
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Sérgio Beck4 (2015) discorre sobre a necessidade e os malefícios das cocheiras, definindo-as como um “mal geralmente desnecessário”. Segundo o autor, as cocheiras são desnecessárias principalmente pelo fato de que o Brasil é um país, na sua maior parte, tropical. Em países onde os invernos são extremamente rigorosos a cocheira pode ser um mal menor e às vezes necessário, porém esse não é o caso. Beck conta que a ideia de cocheira veio dos países que colonizaram o Brasil; uma vez que os colonizadores não levaram em conta as grandes diferenças do clima em relação ao da terra natal deles, acabaram por repetir o costume de construírem cocheiras. Ainda segundo Beck, “tendemos a copiar quase tudo que se faz nos países desenvolvidos de clima frio e cocheira foi uma dessas coisas”. Na visão do autor, o uso de cocheiras no Brasil normalmente é um conforto mais para o homem do que para o cavalo, uma vez que o animal encocheirado está sempre pronto e ao seu dispor, sem poder afastar-se, o que torna muito mais fácil o trabalho para o homem. Entretanto, o confinamento em cocheiras tem um impacto direto em relação ao bemestar dos cavalos: “A curto prazo o confinamento na cocheira pode ser a causa de excessivas excitações e de nervosismo. A médio prazo a ociosidade e o tédio do encocheiramento por muitas horas seguidas geralmente são a causa de mau humor e de vícios de comportamento como engolir ar (aerofagia), tique de urso, etc. A longo prazo um sedentarismo obrigatório, decorrente da imposição de ficar trancafiado várias horas por dia numa concheira, representa para o equino quase uma sentença de morte anunciada” (BECK, 2015).
Ainda segundo o autor, o cavalo na natureza não possui o costume de alimentar-se e deitar-se perto de suas fezes e urina, o que faz com que seja necessária a limpeza das cocheiras várias vezes ao dia, o que não ocorre sempre. A cama suja, além de trazer desconforto, é ruim para a saúde dos cascos, pele e sistema respiratório do cavalo. Beck compara a cocheira para os cavalos com uma solitária para os presidiários: “O equino é um animal de grupo, um animal gregário. Estar sozinho numa cocheira significa uma privação social terrível. Imaginemos nós humanos sermos obrigados a ficar trancados num quarto bem pequeno por doze ou mais horas todos os dias. Sem televisão, sem música, sem algo para ler, sem amigos para conversar, sem telefone, enfim sem nada para nos entretermos ou nos ocuparmos. Com certeza esta é uma condição deveras ruim. Tédio, 4
Cavaleiro profissional e instrutor de Doma e Equitação. Atuou como juiz da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) e como professor universitário na PUC-PR. Autor de livros e artigos sobre cavalos (BECK, 2015).
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ansiedade, tristeza, depressão, mau humor são algumas das consequências da tripla conjugação de solidão com ociosidade e falta de espaço. Uma das piores punições a um ser humano que já está na cadeia é ser enviado para a solitária por um ou mais dias. Nada a fazer, isolamento e mínimo de espaço. Quase o pior dos mundos. Para um cavalo o longo encocheiramento diário é uma punição, um castigo, maior do que a solitária para o presidiário” (BECK, 2015).
Em contrapartida, Rose (2004 apud KONIECZNIAK, 2014), cita diversos motivos que levam a se estabular um cavalo; são eles: reduzir o risco de lesões musculoesqueléticas, reduzir lesões nos cascos, reduzir doenças dermatológicas, parasitárias e respiratórias, obter um maior controle da qualidade e consumo de água e alimentos, garantir segurança ao animal, proteção contra intempéries e um melhor controle de pastagens. O uso da baia também é útil em situações em que o cavalo precisa repousar em casos de algumas doenças nos cascos e patas ou após cirurgias. Entretanto, o confinamento individual em cocheiras limita drasticamente o comportamento natural da espécie, privando os cavalos do convívio social, do exercício e diminuindo significativamente o tempo gasto com a alimentação (REZENDE et al., 2006; SARRAFCHI, 2012; KONIECZNIAK, 2014). De acordo com Dittrich (2010), no manejo alimentar tradicional a dieta dos cavalos foi simplificada em duas classes principais de alimentos, os volumosos (pastos e forragens desidratadas) e concentrados (alimentos à base de grãos altamente energéticos e/ou proteicos), atendendo principalmente as necessidades nutricionais dos cavalos, mas não levando em conta o comportamento alimentar dos animais e a forma de disponibilização destes alimentos (apud PEREIRA, 2016). “A domesticação dos cavalos criou uma série de situações nas quais o bem-estar dos animais foi reduzido e os transtornos comportamentais, as injúrias físicas e o aparecimento de estereótipos ficaram cada vez mais frequentes” (JULIANO et al., 2009 apud AFONSO, 2010) Konieczniak (2014) afirma que há muitos estudos sobre as estereotipias em equinos e cita o autor Moore, que já em 1902 falava sobre as consequências de se estabular um cavalo e atribuía os comportamentos estereotipados como possíveis respostas à ociosidade, devido ao uso de alimentos concentrados com grãos ao invés de forrageiras, o que reduz o tempo de alimentação; além da falta de socialização e o confinamento, o qual restringe a locomoção do indivíduo. O estado emocional de tédio, frustração e a ociosidade podem levar à manifestação de vários distúrbios comportamentais, conhecidos como estereotipias. De acordo com Cooper e Nicol
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(1993) e Würbel et al. (1998) apud (TRINDADE, 2013), “as estereotipias ocorreriam em situações adversas na tentativa de amenizar e reduzir o nível de estresse”. Definição de estereotipia por Mills; Taylor; Cooper, 2005; Mills; Nankervis (2005 apud TRINDADE, 2013): “Estereotipias são caracterizadas de um modo geral por comportamentos repetitivos e invariáveis sem objetivo óbvio ou aparente como, por exemplo, movimentação em círculos na baia, inquietude, síndromes de aerofagia, oscilação, coprofagia, geofagia, automutilação, comportamentos agressivos, lambedura de cochos5, movimentos com a língua (...) entre outros, que induzirão a decadência do rendimento em sua função”.
Segundo Waran (2002 apud PEREIRA, 2016) as estereotipias podem ser classificadas em locomotoras e orais. As estereotipias locomotoras geralmente estão relacionadas à falta de contato social, ansiedade de separação e frustração, associados com a estabulação; enquanto que as estereotipias orais costumam ter relação com a alimentação. Alguns dos comportamentos estereotipados mais comuns nos animais confinados serão apresentados abaixo:
Aerofagia É uma estereotipia oral em que ocorre a ingestão de ar pelo animal. Pode ser
classificada em dois tipos: sem apoio, na qual o cavalo faz a ingestão de ar sem apoiar-se em um objeto; e com apoio, em que o animal utiliza a porta da baia ou demais objetos próximos à ele como apoio para os lábios e dentes. Pode causar o desgaste anormal dos dentes, a hipertrofia dos músculos do pescoço, e perda de peso, além de predispor à ocorrência de cólicas. A principal prevenção pode ser feita através de manejos sociais e nutricionais adequados, de preferência com a disponibilidade de alimentos volumosos de boa qualidade e à vontade, de forma que o cavalo gaste mais tempo se alimentando. Outras formas de se prevenir e tratar a aerofagia podem ser feitas evitando-se superfícies de apoio ou utilizando cercas elétricas; fazendo-se o uso do colar anti-aerofagia, o qual torna o ato de engolir ar desconfortável ou doloroso; e até mesmo através de cirurgia, em que são extraídas diversas combinações de músculos e nervos do pescoço (KONIECZNIAK, 2014; PEREIRA, 2016).
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Cocho: Sinônimo: Manjedoura - Espécie de tabuleiro em que comem os animais na cavalariça ou no estábulo (AURÉLIO, 2016).
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Figura 7 – Aerofagia com apoio. Fonte: Kogima, [200-?a]; Equino mania, [201-?].
Figura 8 – Dentes desgastados devido à aerofagia e colar anti-aerofagia em nylon e metal. Fonte: Horse Shop, 2011; Western Shop, [201-?a].
Coprofagia Estereotipia oral que consiste no ato vicioso adquirido pelos animais em comer
suas próprias fezes. Em potros recém-nascidos o hábito é muito comum, pois estão formando sua flora intestinal ao ingerir fezes de animais adultos, apesar de estarem ao mesmo tempo adquirindo larvas e ovos de vermes. Já em animais adultos, a coprofagia pode ser induzida após mudanças na dieta ou com dietas deficientes em fibras e proteína; o hábito pode causar a síndrome cólica. A fim de se evitar o comportamento, aconselha-se o fornecimento de alimentos de boa qualidade ao animal, dividido em várias porções diárias, de forma que o cavalo passe mais tempo
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se alimentando (FALLANTE, 2003; SCHURG et. al., 1978; MEYER, 1995 apud PEREIRA, 2016). Também pode-se fazer uso da trombeta, a qual impede a ingestão de fezes, podendo ser também utilizada em animais que mordem pessoas e outros animais. Segundo Pereira (2016) os cavalos adultos que apresentam o comportamento de coprofagia são aqueles submetidos a restrições alimentares por um grande período de tempo.
Figura 9 – Coprofagia e cavalo com trombeta plástica para impedir a alimentação ou mordidas. Fonte: Kogima, [200-?b]; Western Shop, [201-?b].
Balançar e passo/dança do urso (síndrome do urso) É uma estereotipia locomotora, caracterizada pelo andar em círculos dentro da
baia ou pelo balançar da cabeça e membros anteriores de forma lateralizada com o animal voltado para a porta da cocheira (NICOL, 2000; RIEZEBOS, 2005; HEMMINGS, 2009 apud KONIECZNIAK, 2014). “Esta estereotipia tende a ocorrer devido a um período de frustração e ansiedade antes do fornecimento de concentrado, perturbações sociais e ambientais” (HOUPT, 1993; MCDONNEL, 1993; McGREEVY, 2004 apud Id., 2014). Os movimentos podem causar fadiga, alterações nos músculos, hipertrofia lombar, atrofia lateralizada, perda de peso, desgaste excessivo dos cascos e sobrecarga dos membros, podendo causar claudicações e levando a uma queda no desempenho dos animais acometidos; além de dificultar a higiene da cama da baia
(SARRAFCHI, 2012; KONIECZNIAK, 2014). O uso de cocheiras vem se tornando inevitável. De acordo com Afonso (2010): “O confinamento é uma realidade cada vez mais presente na vida de cavalos destinados ao esporte e lazer. E dificilmente este cenário retornará a manejos com animais livres em pastagens, pois estes vivem em jockeys, centros hípicos e ranchos, os quais geralmente não possuem espaços para piquetes e pastos” (apud PEREIRA, 2016).
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Sendo assim, é necessário uma maior atenção para com a saúde física e, sobretudo, a saúde mental dos cavalos que necessitam viver em cocheiras, buscando soluções a fim de se obter uma melhor qualidade de vida ao animal confinado. Prevenir o desenvolvimento de estereótipos é mais eficaz do que tentar pará-los, uma vez que já tenham se estabelecidos (SARRAFCHI, 2012). Beck (2015) sugere algumas medidas que podem ser tomadas a fim de se minimizar os efeitos do confinamento:
Retirar o cavalo da cocheira diariamente permitindo que ele possa se movimentar e relaxar por algumas horas;
Oferecer volumoso à vontade enquanto o animal estiver na cocheira;
Utilizar como divisórias internas das cocheiras paredes de meia altura ou grades metálicas, permitindo a visualização, tato, interação entre os vizinhos, além de uma melhor ventilação e iluminação;
A construção de pequenas áreas individuais anexas às cocheiras, de livre acesso, que funcionam como solário e permitem que o animal relaxe, amenizando os efeitos do confinamento maior;
Equipar a cocheira com objetos para o entretenimento como bolas de brinquedo penduradas e espelhos altos onde o cavalo possa se enxergar sem tocar em seu reflexo;
Utilizar abrigos de livre acesso nos piquetes e pastos ao invés de cocheiras, quando possível;
Figura 10 – Cocheiras tradicionais que impedem a socialização entre os cavalos. Fonte: Tripadvisor, [201-?]; HarasFB, [200-?].
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Figura 11 – Cocheiras com grades ou meias paredes que possibilitam a interação entre os cavalos. Fonte: Hipismoeco, 2015; Brooks, 2015a.
Os conhecimentos sobre o comportamento natural dos cavalos e os problemas comportamentais comuns em animais confinados, devido ao manejo inadequado, são essenciais para a elaboração do projeto arquitetônico de um haras onde se preze o bem-estar animal. “Cada animal pertencente a uma espécie, que vive habitualmente no ambiente do homem, tem o direito de viver e crescer segundo o ritmo e as condições de vida e de liberdade que são próprias de sua espécie” (UNESCO, 1978).
Em situações onde não se permite ao animal uma qualidade de vida satisfatória, o cavalo pode apresentar comportamentos indesejáveis e até mesmo perigosos e agressivos durante a interação com o ser humano. Logo, uma vez que o cavalo seja saudável e feliz, o seu relacionamento com o homem também o será.
2.3. A INDÚSTRIA DO CAVALO E UMA SEGUNDA CHANCE AOS ANIMAIS DESCARTADOS, ABANDONADOS E APOSENTADOS
O Brasil possui o quarto maior rebanho de equinos do mundo com aproximadamente 5,5 milhões de cabeças, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (9,5 milhões), China (6,8 milhões) e México (6,3 milhões), sendo o total mundial de aproximadamente 59 milhões de cabeças. A equinocultura brasileira está em ascensão, movimentando 16 bilhões de reais por ano, com crescimento de quase 12% ao ano nos últimos 10 anos (FAO, 2011 apud DIAS, 2016). O agronegócio do cavalo
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gera cerca de 640 mil empregos diretos e 3,2 milhões de empregos indiretos no Brasil, o que, segundo Guerra e Medeiros (2006 apud TRINDADE, 2013) é “seis vezes mais do que a indústria automotiva e 20 vezes mais do que a aviação civil” (FAO, 2009 apud TRINDADE, 2013). A economia gerada pelos cavalos e o tamanho do rebanho nacional e mundial representam números expressivos. Os animais são criados para diversos fins, que vão desde o lazer, esporte e trabalho, até o consumo humano. Dentre os esportes equestres pode-se destacar o turfe. Popularmente conhecido como corrida de cavalos, o esporte movimenta 1 bilhão de reais por ano no País. A lógica do esporte é simples. Cerca de oito animais alinham-se nos box de largada. Dada a largada, todos partem em disparada pela pista, geralmente oval, podendo conter ou não obstáculos. O primeiro a cruzar a linha de chegada é o vencedor. Nos bastidores das corridas acontecem as apostas que, juntamente com a loteria, representam os únicos jogos de azar permitidos no Brasil (SILVA, [2015?]). Quando se pensa na corrida de cavalos, o que vem à cabeça das pessoas é o glamour, o “esporte dos reis”. Geralmente acredita-se que todos os animais nascem em berço de ouro, ganham prêmios e são aposentados, cheios de mimos e gastos extraordinários. Porém essa percepção não reflete a realidade (TRF, 1983). Para algumas pessoas o turfe se resume a dinheiro. “Um cavalo que dá lucro é tratado como um rei, super bem cuidado, mas quando ele para de dar lucro, a não ser que os proprietários e treinadores sejam muito dedicados, eles correm perigo” (WHERE..., 2009). Segundo Michael Blowen, ex-repórter do turfe, presidente e fundador da fazenda Old Friends, uma instituição que acolhe cavalos de corrida aposentados, muitos empresários e esportistas buscam criar o cavalo perfeito para vencer a prova mais importante, a fórmula 1 do turfe: o Derby de Kentucky. Porém são criados 36 mil cavalos todo ano e três anos depois apenas um ganhará o grande prêmio. E o que acontece com os outros cavalos? Alguns conseguem ser adotados e uma minoria recebe a merecida aposentadoria, enquanto outros são sacrificados ou simplesmente abandonados. A indústria do turfe não regulamenta o destino de cavalos aposentados (Id., 2009). Segundo o People for the Ethical Treatment os Animals (PETA), cerca de 130 mil cavalos americanos foram enviados para matadouros no México e no Canadá em 2015. Estima-se que, nos Estados Unidos, a indústria de cavalos de corrida envie 10
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mil cavalos para abatedouros anualmente; ou seja, metade dos 20 mil cavalos nascidos a cada ano poderão ser mortos por sua carne, uma vez que não sirvam mais para as corridas. “A criação excessiva sem planos de aposentadoria adequados é letal” (PETA, 2016). Em entrevista ao The New York Times, Michael Blowen afirma: “é como lidar com resíduos, ninguém sabe o que fazer com esses cavalos quando eles não podem mais correr” e “não podemos tratá-los como lixo e jogá-los fora”. A carreira de um puro sangue nas pistas geralmente dura dos 2 aos 6 anos, mas esses animais vivem mais de 20 anos (WHERE..., 2009). Em 2007 o governo americano fechou o seu último abatedouro de cavalos após uma ação da comunidade local. O consumo da carne de um animal intimamente ligado ao Velho Oeste é um tema tabu; eles são utilizados somente em esportes ou como animais de estimação, pois “segundo os ativistas, não há propaganda capaz de estimular o apetite por seu consumo entre os americanos” (VEJA, 2011). No entanto, muitos cavalos ainda são leiloados para serem abatidos no México e no Canadá. A carne é exportada para a Europa e Ásia, onde é considerada uma especiaria (Id., 2011). O Brasil chegou a ficar entre os quatro maiores produtores de carne de equídeos (cavalos, jumentos e mulas), com 11 frigoríficos em funcionamento. Porém, em 2010, a União Europeia passou a ter exigências parecidas com as do comércio de carne bovina para as importações, os frigoríficos precisariam fornecer um histórico detalhado dos últimos seis meses de vida do animal. Diferentemente dos animais especificamente criados para o consumo, a grande maioria dos cavalos enviados aos matadouros são tratados com inúmeros anti-inflamatórios, antibióticos, vermífugos, hormônios, esteroides e até mesmo drogas ilegais para melhorar a performance, substâncias que podem ser perigosas aos humanos (PETA, 2016), motivo das exigências impostas pela União Europeia sobre a carne importada para o consumo humano. Essa exigência aumentou os custos da produção, pois os animais deverão permanecer em quarentena por seis meses, até que as substâncias saiam do organismo do seu organismo, o que, aliado à falta de consumo no mercado interno brasileiro e a concorrência com outros países fornecedores, fez com que houvesse uma queda na produção, perceptível no gráfico 1. Assim como os americanos, os brasileiros não têm o costume de consumir carne de cavalo, o que faz com que praticamente toda a produção seja exportada para a Europa e Ásia. Conforme o
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gráfico 2, o país que mais importou carne equídea brasileira em 2015 foi a Bélgica, seguida da Itália, Rússia, Japão e China (BRASIL HIPISMO, 2013; BÔAS, 2016; ARNASON, 2016).
Gráfico 1 - Equídeos abatidos no Brasil entre 2008 e 2015. Fonte: Bôas, 2016.
Gráfico 2 – Principais destinos de exportação da carne equídea em 2015. Fonte: Bôas, 2016.
No Brasil há atualmente dois estabelecimentos autorizados a abater e produzir carne de equídeos, um no Rio Grande do Sul e outro em Minas Gerais, sendo que o Paraná já foi o estado que mais produziu carne de equídeos no Brasil, mas teve o seu último frigorífico, que funcionava em Apucarana, fechado em julho de 2016. De acordo com dados do Serviço de Inspeção Federal (SIF), no primeiro semestre de 2008 mais
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de 22 mil equídeos foram abatidos somente no Paraná. Criar cavalos para o abate geralmente é inviável pois o cavalo converte pouco do que consome em carne, sendo muito mais caro se criar um cavalo do que outro animal destinado ao abate. Na Europa há fazendas que criam cavalos especificamente para o consumo humano, assim como é feito com o gado de corte; para isso são utilizadas raças de grande porte e com maior massa muscular. Porém a maior parte da carne produzida no mundo vem de animais descartados (SANTIN, 2008; COSTA, 2011; BÔAS, 2016). Os cavalos enviados aos abatedouros no Brasil são velhos, defeituosos, desnutridos e muitas vezes doentes, uma vez que não há animais criados para o abate no Brasil e na maioria dos países produtores de carne equídea. No entanto, entre os muitos cavalos indesejados por não terem mais utilidade ao seu dono, há os cavalos de corrida, que, com exceção dos gravemente lesionados, são saudáveis, atléticos, muito jovens e com um enorme potencial. O problema é a grande quantidade de cavalos puro sangue que são descartados; a superpopulação gera a desvalorização desses animais, que acabam sendo vendidos a preços extremamente baixos apenas para não causarem prejuízo aos proprietários; podendo ainda acabar em um desses matadouros ou serem abandonados, sem que tenham uma segunda chance em outra carreira esportiva (BÔAS, 2016; PETA, 2016). Conforme o artigo 6 da Declaração Universal dos Direitos dos Animais; cada animal que o homem escolher para companheiro tem o direito a uma duração de vida conforme sua longevidade natural. O abandono de um animal é um ato cruel e degradante (UNESCO, 1978). Levando-se em consideração que o homem obteve benefícios às custas do animal, seja para sua diversão ou para a geração de lucro, não é ético o descarte do animal através do matadouro. O artigo 2 da Declaração Universal dos Direitos dos Animais defende que: “Cada animal tem o direito ao respeito. O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os outros animais ou explorá-los, violando esse direito, mas tem o dever de colocar a sua consciência a serviço dos outros animais. Cada animal tem direito à consideração, à cura e à proteção do homem” (UNESCO, 1978).
Segundo a Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade aos Animais (ASPCA, 2017), os cavalos destinados ao abate normalmente viajam por mais de 24 horas em caminhões lotados sem comida, água ou descanso e os métodos usados para mata-los os cavalos raramente resultam em uma morte rápida e indolor.
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Enquanto a eutanásia é definida por ser uma forma de morte gentil, rápida e sem dor, uma alternativa para evitar o sofrimento, o matadouro é um fim terrível e brutal. “Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia” (UNESCO, 1978). Os cavalos utilizados no turfe são domados, treinados e competem quando ainda são muito novos e em processo de formação; os seus ossos e músculos não estão preparados para aguentar a pressão de correr em uma pista dura, em alta velocidade e, ainda por cima, carregando uma pessoa nas costas. Somados esses fatores, grande parte dos cavalos acabam sendo descartados devido a lesões nos tendões músculos e ossos, antes mesmo de chegarem a competir; são potros descartados aos 3 ou 4 anos em média e que ainda poderão viver mais 20 anos. Muitos são drogados para que não sintam dores e forçados a correr mesmo apresentando pequenas lesões, sendo descartados somente após serem explorados até o limite, quando realmente não há mais como correr. Quando um cavalo quebra uma pata correndo em alta velocidade, os ossos podem “explodir” em vários pedaços, tornando impossível a recuperação no caso de uma fratura exposta, enquanto que, nos casos menos graves, onde talvez seja possível uma recuperação, muitos proprietários acabam optando por eutanasiar o animal a fim de poupar gastos e esforços em um cavalo que não terá mais serventia. “Os cavalos de corrida na América são vítimas de uma indústria multibilionária que está cheia de abuso de drogas, ferimentos e morte" (THE HORSE FUND, [201-?]; ANIMALS..., [201-?]). De acordo com Hal Handel, diretor de operações da Associação de Corridas de Cavalos de Nova York, “a responsabilidade é de todos: hipódromos, criadores, proprietários, todos que ganham a vida com os cavalos ou tenham algum contato com eles, têm uma dívida com esses animais”. Segundo ele a população anual de cavalos que se aposentam é previsível, e a maioria pode ser reabilitada e adotada (WHERE..., 2009). As instituições para puro sangues aposentados dos Estados Unidos estão lotadas de cavalos indesejados, todos criados para serem campeões. Michael Blowen afirma: “nós somos uma gota no oceano, é preciso criar muito mais lugares para dar a esses cavalos uma aposentadoria digna” (WHERE..., 2009). Nos Estados Unidos existem diversas organizações que visam a resgatar e possibilitar uma vida digna aos cavalos descartados pela indústria do turfe. A seguir serão apresentadas algumas delas:
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Thoroughbred Charities of America (TCA) O TCA é uma organização de caridade que fornece subsídios para
organizações sem fins lucrativos que trabalham para melhorar a vida dos cavalos de corrida descartados e as pessoas que cuidam deles. São quatro os tipos de organizações subsidiadas pelo TCA: organizações que trabalham com a reabilitação, treinamento para outras carreiras, adoção e aposentadoria dos cavalos; programas de terapia assistida por cavalos, que utilizam o puro sangue inglês; programas de formação de funcionários agrícolas; e programas de pesquisa equina. Nos últimos 26 anos, o TCA distribuiu mais de 21 milhões de dólares a mais de 200 organizações relacionadas ao Puro Sangue Inglês (TCA, [200-]).
Thoroughbred Retirement Foundation (TRF) Fundada em 1983, a Thoroughbred Retirement Foundation tem a missão de
salvar os cavalos puro sangue ingês que não são mais capazes de correr, e correm riscos de serem negligenciados, com possível abuso e abate; tendo como objetivo final livrar todos os cavalos de corrida descartados pela indústria do sofrimento desnecessário e do abate. A fundação não tem fins lucrativos e depende de doações. A maioria dos cavalos acolhidos pela TRF sofreram graves lesões e agora desfrutam de uma merecida aposentadoria, porém centenas de cavalos foram treinados, adotados e ganharam novas vidas como animais de estimação, cavalos de competição, cavalos policiais ou parceiros de terapia com eqüinos. A Thoroughbred Retirement Foundation, além de ajudar cavalos em necessidade, possui desde 1984 o TRF Second Chances Program, voltado ao treinamento vocacional de cuidados e manejo de equinos para os internos de penitenciárias em nove estados nos Estados Unidos. Em troca da mão de obra, os detentos participam de um rigoroso programa de treinamento onde aprendem sobre a anatomia do cavalo, sobre nutrição, como cuidar de lesões, entre outros aspectos do cuidado de cavalos. Após receberem a liberdade, os graduados têm trabalhado como ferreiros, assistentes de veterinários e tratadores de cavalos. Além de aprender uma nova profissão e se tornarem cidadãos produtivos, os presos apresentam benefícios emocionais e uma maior autoestima, derivada de cuidar, confiar, conquistar a confiança e, em muitos casos, amar outro ser. Muitos detentos se identificam com os cavalos de corrida indesejados, o que faz com que eles criem laços e empatia pelos animais, além de se sentirem úteis e ter a vontade de ajudar e fazer a diferença,
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permitindo uma segunda chance a esses cavalos e a eles mesmos. Para a TRF salvar cavalos é também salvar pessoas (TRF, 1983; SALK, 2015).
Figura 12 – Coordenador e detentos que participam do programa Second Chances. Fonte: Salk, 2015.
Tendo em vista a superpopulação e descarte da indústria, problema ainda desconhecido por muitos, é pertinente um estudo sobre um haras que resgate os cavalos de corrida descartados e os encaminhe para uma nova função, além de resgatar outros abandonados ou aposentados devido à idade e que poderão servir como terapeutas. De acordo com a UNESCO (1978), na Declaração Universal dos Animais, todos os animais nascem iguais diante da vida, e têm o mesmo direito à existência. Esses animais merecem uma segunda chance; um exemplo real é a história do Snowman, um cavalo resgatado de um caminhão que transportava cavalos a um matadouro para uma fábrica de cola. Snowman foi comprado por Harry deLeyer por 80 dólares, se tornou campeão de salto de obstáculos nos anos 50, e depois ficou aposentado até a sua morte. Já Harry enriqueceu e se tornou um treinador renomado graças ao cavalo.
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2.4. O CAVALO NA HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO HUMANA
Quando se pensa na história da civilização e evolução do homem, é inevitável imaginá-la sem o cavalo, fiel companheiro e amigo. Assim como o uso do fogo e a invenção da roda, a domesticação do animal possibilitou grandes avanços ao homem. “O cavalo foi também o mais importante instrumento de desenvolvimento, desde os primórdios da civilização até a invenção da máquina. O transporte de mercadorias e a capacidade de rapidamente chegar a informação, constituíram a mola essencial do desenvolvimento das sociedades até ao século vinte.” (ANDRADE, 2008).
A figura do cavalo está presente na mitologia, lendas e contos de fadas de diversos povos. Seres como o Pégasus, Unicórnio, Centauro, Pesadelo, Hipocampo, Cavalos de Diomedes, Helhest, Buraq, Hipogrifo, entre outros, mostram que o cavalo sempre gerou um fascínio no homem, sendo um dos animais mais citados nas histórias. Na Grécia antiga, o mito do Centauro, uma criatura metade homem e metade cavalo significava a junção da inteligência do homem com a força e vigor dos equinos. Durante a colonização americana, conquistadores espanhóis teriam espalhado boatos sobre os cavalos serem bestas demoníacas, o que teria aterrorizado os nativos. Segundo Hernán Cortéz, responsável pela dominação do México, a importância do cavalo na conquista do continente americano só perdia para a intervenção divina (SOUSA, [201-]). A primeira relação entre os dois foi alimentar. Historicamente, essa relação teve início na época das cavernas, quando o homem primitivo caçava o animal para a obtenção de alimento e vestimenta. Com a evolução, o homem descobriu no cavalo uma ferramenta de guerra e conquista e passou a domesticá-lo para o trabalho e o transporte. Não se sabe com exatidão o local e época onde foram domesticados os primeiros cavalos. Alguns historiadores citam a China e Mesopotâmia, entre os anos 4.500 a 2.500 a.C., mas sabe-se que no ano 1.000 a.C. os equídeos domesticados já haviam sido difundidos em grande parte da Europa, Ásia e norte da África. (SOUSA, [201-]; HIPOLOGANDO, 2015). “Logo após a sua domesticação, o cavalo foi utilizado como poderoso instrumento de conquista, transporte, carga, tração, diversão e de competições esportivas. São incontestáveis os benefícios que a domesticação dessa espécie trouxe para a humanidade, pois todas as grandes conquistas dos diferentes povos, desde as mais antigas civilizações até a idade moderna deram-se no dorso dos eqüideos. Muitas são as provas
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desta estreita relação, onde a mitologia e a própria história mostram cavalos imortalizados como Bucéfalo, Roan Barbary, Incitatus e Marengo. Nas conquistas intercontinentais, como por exemplo a colonização das Américas, os cavalos também tiveram presença marcante. Quando os primeiros europeus desembarcaram no ‘Novo Mundo’ trouxeram muitos eqüideos que foram os principais recursos desses conquistadores” (DITTRICH, 2001).
O cavalo foi então a principal força motriz até a Revolução Industrial e invenção da máquina, ferramenta de tração no campo, meio de transporte individual e coletivo, e poderoso instrumento de guerra. Estima-se que durante a Primeira Guerra Mundial 8 milhões de cavalos tenham sido mortos, “a cada dois homens atingidos por tiros, bombas e gases letais, um cavalo morreu” (LOIOLA, 2014). Com o fim da guerra, a Europa foi atingida pela grande fome, o que, segundo o historiador Zagni apud Loiola (2014), tem uma relação com a morte dos animais durante a guerra: “há uma relação direta entre a desmobilização de setores como a indústria e agricultura, feita pelo esforço conjunto de homens e cavalos e a crise de abastecimento europeu”. Os poucos cavalos que sobreviveram à guerra foram vendidos aos camponeses e, segundo Loiola, o trabalho desses animais, apesar de cansados e pouco produtivos, foi essencial para a retomada econômica de algumas regiões da Europa (id., 2014). Além da grande fome, a morte dos cavalos abalou também o psicológico dos soldados, segundo Baldin: “Ele era o animal considerado mais parecido com o ser humano, além de o mais numeroso nos acampamentos e próximo dos soldados. Os soldados da I Guerra conheciam bem seus cavalos. Nas batalhas, cavalos e cavaleiros formavam um só e, por todos esses motivos, perder o animal era particularmente doloroso” (apud LOIOLA, 2014).
Ainda segundo o autor, o relato de psiquiatras militares demonstrou que presenciar a morte de um companheiro, homem ou animal, era uma agressão mental aos combatentes e podia gerar revolta, horror e indignação. Segundo ele há sempre uma transposição entre bichos e humanos (BALDIN apud Id., 2014).
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Figura 13 - Um soldado e seu cavalo com máscaras de gás em 1918 e cavalos puxando toras de pinheiro em Minnesota, 1904. Fonte: Santos, 2014; Corbis, 1904.
Desde então, diversos monumentos foram construídos para lembrar os serviços prestados pelos cavalos em guerras e batalhas. Na cidade de Saumur, na França, foi feita uma placa para homenagear os serviços dos 1,2 milhões de cavalos que morreram durante a I Guerra Mundial (LOIOLA, 2014). Em Londres, foi construído um monumento no Hyde Park, em 2004, dedicado a todos os animais que serviram e morreram ao lado das forças britânicas e aliadas nas guerras e campanhas ao longo do tempo, chamado “The Animals in War Memorial” (HYDE PARK, 2004). No ano de 2012 foi lançado o filme Cavalo de Guerra, de Steven Spielberg, que conta a história de Joey e sua trajetória pelos campos de batalha durante a Primeira Guerra Mundial. O longa-metragem foi baseado em um livro infantojuvenil lançado na Inglaterra em 1982, e faz homenagem aos cavalos utilizados na guerra (RESENDE, 2012).
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Figura 14 – Filme Cavalo de Guerra e The Animals in War Memorial em Londres. Fonte: Resende, 2012; Hyde Park, 2004.
Nos Estados Unidos foram feitas duas homenagens à égua Reckless, o primeiro animal a se tornar Sargento do exército norte-americano. A primeira ocorreu em julho de 2013, com uma estátua no National Museum of the Marine Corps, no estado de Virgínia; e a segunda em outubro de 2016, onde foi criado um memorial no Camp Pendleton, na Califórnia. A história de Reckless se passou entre 1950 e 1953, durante a guerra da Coreia. A égua foi treinada para transportar armas e munições pelo campo de batalha, sem se intimidar pelas explosões e, quando necessário, se esconder e se abaixar para não ser vista ou atingida por balas. Reckless demonstrou muita coragem, fazendo 51 viagens entre o depósito de munições e o front, sozinha e em um só dia. Ela carregou 386 cartuchos de munição nas costas, totalizando mais de 4 toneladas e andando mais de 56 km; também ajudou a salvar centenas de vidas, levando soldados feridos para locais seguros. Mesmo ferida duas vezes, ela não parou. A história de Reckless é contada no livro “Sgt. Reckless: America’s War Horse” (HUTTON, 2014; MARINE CORPS BASE CAMP PENDLETON, 2016).
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Figura 15 – Monumento à égua Sargento Reckless em Camp Pendleton e uma foto na guerra. Fonte: Hutton, 2016; Hutton, 2014.
O cavalo passou, então, a ser um companheiro respeitado e admirado, possuidor de um valor simbólico no qual ele sai da esfera de utilidade concreta e passa a ser uma necessidade subjetiva. Segundo Denise Ramos et al., em “Os animais e a psique”: “É interessante notar como são poucas as histórias e lendas que fazem essa mesma relação com outros animais. Isso provavelmente se deve à projeção de um vínculo intenso entre cavalo e homem. Ao se tornar um auxiliar, o cavalo se distancia dos outros animais e chega até mesmo a traí-los” (RAMOS et al., 2005).
Hoje há ainda cavalos utilizados para o trabalho e como meio de transporte pelo mundo, porém a maior utilidade desses animais atualmente é como forma de lazer, esportes, terapias, como animal de estimação e companhia, alimento, e até mesmo na medicina, onde são utilizados na produção de diversos tipos de soros como, por exemplo, o soro antiofídico, que é usado contra a picada de cobras venenosas, e o soro antitimocitário, usado para reduzir as possibilidades de rejeição de certos órgãos transplantados. Sendo assim, as atividades envolvendo equinos possuem grande importância, pois fizeram e fazem parte da história e do desenvolvimento da civilização humana, além de proporcionarem cura e bem-estar através de terapias e lazer, o que faz com que o cavalo tenha um papel importante no passado, presente e futuro ao lado do homem.
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2.5. O CAVALO COMO AGENTE TERAPEUTA
Os benefícios da interação entre o homem e o cavalo já eram citados por Hipócrates em 377 a.C. Conhecido como Pai da Medicina, ele conceituava a equitação como meio de regeneração da saúde, preservando o corpo humano de diversas doenças e útil no tratamento de insônia, além de mencionar a melhora do tônus com a prática da equitação ao ar livre. A rapidez com que a sociedade evoluiu trouxe muitos benefícios e avanços científicos e tecnológicos à humanidade; entretanto esse ritmo de vida frenético acabou por afetar a qualidade de vida das pessoas. Hoje são muito comuns os problemas de saúde ligados ao estresse, depressão e ansiedade, conhecidos como as “doenças do século” e causados, em parte, pelo ritmo acelerado ao qual os indivíduos são submetidos. Diante disso, as pessoas estão buscando formas de se melhorar a qualidade de vida, através de atividades que proporcionem a recuperação física e mental. Pesquisas e experiências têm mostrado que a interação com o cavalo por meio do lazer ou esporte contribuem significativamente para alívio de problemas físicos e transtornos psicológicos, como a síndrome do pânico, estresse e depressão; além de sevir à socialização, equilíbrio emocional, concentração e organização (FURTADO, 2015). De acordo com Brito (2010), o cavalo é um animal único, dotado de uma capacidade de afeto muito especial. Se aliarmos essa interacção à prática desportiva ou ao lazer, isso só poderá oferecer-nos resultados positivos. Além do lazer e esporte, a equitação pode ser utilizada como terapia, conhecida como equoterapia. A equoterapia é um método terapêutico de autoconhecimento que utiliza o cavalo como instrumento de trabalho dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, em busca do desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiências físicas ou mentais e com necessidades especiais, sendo reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina como um recurso terapêutico de reabilitação motora em abril de 1997 e pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional em março de 2008. As pessoas com deficiências ou portadoras de necessidades especiais que fazem uso dessa terapia são denominados praticantes de equoterapia (ANDE-BRASIL, 2017). O emprego do cavalo como instrumento terapêutico promove ganhos físicos e psíquicos, pois a atividade exige a participação do corpo inteiro juntamente com a concentração, o que contribui para o
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desenvolvimento da musculatura, relaxamento, conscientização do próprio corpo e aperfeiçoamento do equilíbrio e coordenação motora. A interação com o cavalo e as atividades que envolvem o cuidado com o animal, além do ato de montar, desenvolvem a autoconfiança, autoestima e a capacidade de socialização, fortalecendo o vínculo homem-animal (ANDE-BRASIL, 2017). “Para os praticantes a possibilidade de trabalhar com os cavalos os faz sentir úteis e mais responsáveis contribuindo assim para sua inserção na sociedade. Isto o integra socialmente e o faz reconhecer-se como indivíduo. Desta forma, a Psicologia Social Comunitária tem o seu papel de ampliar esta consciência com o auxílio da Equoterapia que é um espaço facilitador de relações sociais e interpessoais igualitárias” (ZAMO, [200-?]).
Segundo a teoria da hierarquia das necessidades de Maslow, o homem tem a necessidade de status e autoestima, além de buscar continuamente a conquista, a confiança, o respeito dos outros e o reconhecimento pessoal; e o cavalo é capaz de oferecer tudo isso. Na interação com o cavalo, o homem passa por diversas situações em que é preciso aceitar os fatos, trabalhar as frustações e ser criativo para solucionar os problemas e superar os limites, o que levará à autorrealização, onde a pessoa procura se tornar aquilo que ela pode ser. Estes são uns dos principais recursos das Intervenções Psicoterapêuticas na Equoterapia - IPEs (HIPOLOGANDO, 2015).
Figure 16 – Atividades desenvolvidas nas sessões de equoterapia. Fonte: Lester, 2012; Jersey Tribune, 2015.
Mas por que o cavalo? As Terapias Assistidas por Animais (TAA), podem utilizar cães, gatos e outros bichos, porém os cavalos costumam oferecer um maior espaço para a mudança comportamental dos praticantes. Devido ao tamanho, o primeiro contato com ele pode ser intimidador para alguns; vencer esse desafio e superar o medo pode ser incrivelmente libertador e contribuir no desenvolvimento da
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confiança e autoestima. Por serem animais de rebanho, naturalmente desejam companhia e muitas vezes querem ser conduzidos, o que faz deles animais muito sociais e que desejam criar laços; além disso, os cavalos estão dispostos a desenvolver um relacionamento quando as pessoas estiverem prontas. Outro motivo pelo qual são usados é a capacidade inata com que espelham pensamentos e comportamentos dos outros; uma característica de animais presas é a habilidade de ler a linguagem corporal e responder instantaneamente; ou seja, se o indivíduo se aproximar do cavalo com uma atitude negativa e linguagem corporal defensiva, provavelmente ele não irá querer interagir; mas se a pessoa se aproximar com a sensação de calma, confiança e abertura, o animal responderá positivamente; essa característica convida o indivíduo a refletir sobre o seu comportamento e sobre a maneira que ele aborda situações dentro e fora da sessão de terapia. Por fim, os cavalos podem ser incrivelmente humanos em suas personalidades e esses traços de personalidade os tornam companheiros naturais durante o processo, proporcionando uma grande oportunidade de crescimento (COUNSELLING DIRECTORY, 2017). Ao se deslocar ao passo o cavalo realiza movimentos tridimensionais horizontais (direita, esquerda, frente e trás) e verticais (para cima e para baixo), fazendo com que o movimento provocado na bacia pélvica de quem o está montando seja 95% semelhante ao de uma pessoa caminhando. Após 30 minutos de exercício, o cavaleiro terá executado de 1.800 a 2.200 movimentos, que atuam diretamente sobre o seu sistema nervoso profundo, o qual é responsável pelas noções de equilíbrio, distância e lateralidade (QUEIROZ, 2015). “O simples andar do animal faz do cavalo uma máquina terapêutica capaz de garantir ao cavaleiro uma capacidade motora e, restituir-lhe, pelo menos em parte, as funções atrofiadas pelo comportamento de inatividade física tão comum na vida diária das pessoas” (FILHO, 2014).
Entre os benefícios obtidos pela interação e pelo biorritmo do cavalo destacam-se a percepção de movimentos e reflexos, o estímulo da visão e audição, o estímulo do aparelho digestivo, do sistema neurológico, do sistema cardiovascular e sistema respiratório; o desenvolvimento da boa postura através da melhora do tônus muscular, o aumento da concentração, o desenvolvimento da coordenação psicomotora e o estímulo do equilíbrio mental, além da paciência, calma, perseverança, autoconfiança e coragem. A atividade ainda estimula a disciplina, a responsabilidade e o
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desenvolvimento do entendimento de interação e comunicação entre os seres vivos, trazendo melhoras para as interrelações humanas; além de evitar o desenvolvimento de distúrbios comportamentais e sociais, diminuir a agressividade e aumentar a autoestima (FILHO, 2014). Segundo o autor, a equitação: “Proporciona um ambiente esportivo saudável, cooperativo, e ao mesmo tempo competitivo entre os praticantes da equitação, tornando o cavaleiro mais sociável, diminuindo antipatias, construindo amizades. Além disso, a equitação ensina padrões de comportamento como: ajudar, aceitar ser ajudado, aceitar as próprias limitações e respeitar as limitações dos outros” (Id., 2014).
Figure 17 – Praticantes de equterapia com deficiências mentais e físicas. Fonte: Gettyimages, 2003; Hambley, 2017.
Quanto à estrutura de um centro de equoterapia, aconselha-se o uso de uma pista de areia preferencialmente coberta, uma sala de avaliação, sala de recepção, brinquedoteca, banheiros adaptados e um quarto de materiais para os objetos utilizados durante as sessões. De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL), um centro de equoterapia deve ter uma equipe mínima de profissionais habilitados pela associação, sendo um psicólogo, um fisioterapeuta, e um profissional de equitação, além de um médico responsável pela avaliação inicial, pessoas para serviços auxiliares (guias e tratadores) e cavalos selecionados e treinados para Equoterapia. A prática da atividade é indicada para os seguintes quadros clínicos:
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Doenças
genéticas,
neurológicas,
ortopédicas,
musculares
e
clínico
metabólicas;
Sequelas de traumas e cirurgias;
Doenças mentais, distúrbios psicológicos e comportamentais;
Distúrbios de aprendizagem e linguagem;
Sendo assim, a equoterapia pode ser praticada por crianças, adultos e idosos com síndrome de Down, autismo, paralisia cerebral, acidente vascular cerebral, traumatismo cranianioencefálico, trauma raquimedular, esclerose múltipla, mal de Parkinson, dificuldades na aprendizagem ou linguagem, hiperatividade, traumas, depressão, estresse, doenças neurodegenerativas, entre outras. No entanto, é preciso ressaltar que a equoterapia não oferece uma cura; é uma terapia de suporte que oferece melhoras ao praticante e assim como outras terapias, podem haver restrições; logo é importante uma recomendação médica (MONTE, 2014; ANDE-BRASIL, 2017; RPMON, 2017).
Figura 18 – Aparelho para transferir pessoas para o cavalo e cadeirante andando a cavalo. Fonte: Spinalistips, 2013; Bridgeway Foundation, 2014.
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3. ESTUDOS DE CASO
Os estudos de caso a seguir serão divididos em dois tipos: teóricos e projetuais. Os teóricos apresentarão duas organizações que serão utilizadas como base para definir os serviços oferecidos pelo haras quanto aos cavalos descartados vindos dos Jockey Clubes e cavalos aposentados utilizados em terapias. Já nos projetuais serão analisados os projetos de dois haras com ênfase no programa de necessidades, tipos de materiais e estruturas utilizadas nos projetos.
3.1. SECOND CHANCE THOROUGHBREDS
O Second Chance Thoroughbreds é uma organização sem fins lucrativos dedicada a retreinar e encaminhar os cavalos de corrida aposentados para uma nova carreira e família. Os animais vêm diretamente dos Jockey Clubes ou através de vendas em que correm risco de vida. Quando eles chegam à organização, eles avaliados e passam por um período de descanso para se recuperarem física e mentalmente do seu passado; só depois começam o treinamento que irá prepara-los para uma nova carreira. A filosofia do treinamento é centrada no cavalo, ajudando-o a aprender uma disciplina que esteja disposto e capaz de realizar de acordo com as suas habilidades físicas e mentais. Os cavalos da organização destacam-se em muitas disciplinas como o salto, adestramento, cross country, baliza e tambor, rédeas e também na função de passeio e de companhia. Todos os cavalos são adotados em um contrato onde não é permitida a utilização dos cavalos para a reprodução, corridas ou leilões. Como parte da programação educativa, o Second Chance Thoroughbreds oferece aulas de equitação para adultos e crianças, com ênfase nos cavalos de corrida aposentados (Second Chance Thoroughbreds, [200-]).
3.2. SQUARE PEG FOUNDATION
A Square Peg Foundation iniciou suas atividades em 2004 e tem como objetivo ajudar crianças e adultos a encontrar o sucesso, a força e a inspiração dentro de si através da sua interação com cavalos resgatados e aposentados.
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Quando começamos o Square Peg em 2004 decidimos tornar o modelo de equitação terapêutica ainda mais poderoso. Em vez de dizer: ‘estamos levando você para o rancho porque você é pobre, ou autista, ou porque você esteve em apuros’, mudar para: ‘vamos para Square Peg porque esses cavalos precisam de você’ (SQUARE PEG FOUNDATION, 2017).
Os alunos e familiares que frequentam a fundação possuem uma variedade de diagnósticos e rótulos, como o autismo, síndrome de Usher, síndrome de Duvet, ansiedade, raiva, entre outros. A ideia do programa na Square Peg é que os diagnósticos ou rótulos não definem as pessoas mas reforçam que o que faz as pessoas diferentes é aquilo que as torna especiais. Criamos um espaço amigável que é fisicamente desafiador, mas emocionalmente seguro. Um espaço onde o estudante aprende em seu próprio ritmo e marca a realização porque é incentivado. Onde ajudar, da maneira que você puder, está fazendo parte de uma comunidade de carinho. Um espaço onde o cuidado dos animais nos faz lembrar que toda vida tem valor e merece respeito e outra chance. Porque estas são as lições reais e este é o movimento que nós nos propusemos a criar (SQUARE PEG FOUNDATION, 2017).
As atividades realizadas com os alunos utilizam o Horse Boy & Movement Method, e a Análise Comportamental Aplicada (Applied Behavior Analysis - ABA). O Horse Boy & Movement Method, é uma abordagem que acalma o sistema nervoso e ativa os centros de aprendizagem do cérebro através de movimentos específicos de balanceamento e balanceamento a cavalo. Os princípios orientadores do método são criar um ambiente para reduzir o estresse, permitir que as crianças se movam e explorar seu ambiente, ensinar através de "interesses especiais" e aprender com a criança. O método foi criado pelo jornalista Rupert Isaaccson, pai de um menino autista, que largou sua vida na cidade e viajou para a Mongólia em busca da cura para seu filho através dos cavalos e dos xamãs nômades. A história virou um documentário, lançado em 2009, chamado The Horse Boy: A Father's Miraculous Journey to Heal His Son e o método difundiu-se rapidamente pelo mundo, graças aos ótimos resultados no tratamento de crianças com autismo. Já a Análise Comportamental Aplicada é uma abordagem cientificamente comprovada para entender o comportamento e como ele é afetado pelo ambiente. São utilizadas técnicas e princípios para trazer mudanças significativas e positivas no comportamento; um exemplo de técnica é o reforço positivo, em que recompensa-se um comportamento para que este tenha mais chances de ser repetido. Os alunos aprendem através da
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brincadeira, aventura, humor e bondade (AUTISM SPEAKS, 2017; HORSE BOY, 2017; SQUARE PEG FOUNDATION, 2017).
Figura 19 – Documentário The Horse Boy: A Father's Miraculous Journey to Heal His Son. Fonte: IMDb, 2009; Amazon, 2010.
Os cavalos da fundação são animais resgatados e que precisavam de uma segunda, ou até uma terceira chance de vida e utilidade. A Square Peg conta com 22 deles, com idades entre 3 e 30 anos. São ex-cavalos de corrida, campeões de hipismo e estrelas de polo, que não puderam continuar em seus trabalhos, mas ganharam um santuário e ajudam muitas crianças e adultos na fundação. O local é mantido através de doações e da ajuda de voluntários.
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Figura 20 – Movement Method. Fonte: Square Peg Foundation, 2017.
Figura 21 – Atividades realizadas na Square Ped Foundation, utilizando o Horse Boy Method. Fonte: Horse Boy, 2017.
3.3. HARAS E CENTRO HÍPICO POLANA
O Centro Hípico Polana foi projetado em 2001 pelo escritório Mauro Munhoz Associados e as pistas de areia, pela empresa francesa Toubin e Clément, especializada em superfícies de provas equestres de qualidade internacional. Foi fundado em 2004 e localiza-se entre Campos do Jordão e São Bento do Sapucaí, na divisa de São Paulo e Minas Gerais; possuindo um terreno de 205.700 m² e área construída de 2.260 m². O haras mantém um plantel de cerca de 70 animais, tanto de clientes como dele próprio; sedia importantes provas de hipismo nacionais e oferece serviços de hospedagem, treinamento, criação e venda de cavalos, aulas de equitação, além de hospedagem para pessoas e aluguel do espaço para eventos. As
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edificações do Centro Hípico Polana incluem o seguinte programa: (SERAPIÃO, 2005; POLANA 2017). 28 cocheiras de alvenaria
1 pônei clube
4 selarias
1 cozinha industrial
1 farmácia veterinária
1 quarto de estoque para eventos
1 pavilhão de leilão e restaurante
1 depósito de feno
1 pista de areia aberta
1 depósito de serragem
1 redondel
1 depósito de jardim/manutenção/diesel
1 pista de areia coberta 20m x 40m
1 depósito de ração
1 esteira rolante para cavalos
2 casas de funcionários
1 área de ferrageamento
3 platôs para montagem de baias móveis
1 escritório com 2 quartos de estoque
11 piquetes
1 lavanderia para materiais dos animais
5 pastos grandes
1 casa de hóspedes
1 trator com 2 carretas e 2 lâminas
2 banheiros sociais
1 estacionamento
1 playground Tabela 1 - Estimativa de áreas do programa do Haras Polana.
Ambiente Casa de hóspedes Pista de areia coberta Pista de areia Pavilhão cocheiras térreo Pavilhão cocheiras subsolo Pavilhão de leilão e restaurante 2 casas de funcionários Estacionamento Redondel Total
Área (m²) 200 800 2800 1550 150 1100 200 375 706,50 7175
Fonte: Da autora.
Na implantação é possível se observar que o projeto foi desenvolvido em blocos separados, o que foi feito a fim de se obter grandes áreas planas com a menor movimentação de terra, pelo terreno ser bastante acidentado. A pista de areia foi posicionada em local estratégico, em uma porção mais baixa do terreno, com vista
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para o vale; logo atrás, em uma cota mais elevada, estão localizadas as cocheiras com um pátio gramado e um mirante com vista para a pista de areia e o vale. As cocheiras estão divididas entre quatro pavilhões paralelos, com uma angulação de 45 graus entre si, que formam um trapézio por conta da geometrização das curvas de nível existentes no local. Os platôs são áreas planas utilizadas para a montagem de baias temporárias em dias de competições.
Figura 22 – Implantação Centro Hípico Polana. Fonte: Mauro Munhoz (2005), adaptado pela autora.
Figura 23 – Pista de areia com cocheiras e pavilhão ao fundo; vista para a pista e vale. Fonte: Brasil Hipismo (2012); Conexão Campos (2015).
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O arquiteto Munhoz procurou quebrar os paradigmas das tipologias tradicionais desse tipo de construção. O projeto inovou ao ter meias paredes de alvenaria nas divisórias das cocheiras, o que segundo o arquiteto, deve-se ao fato do cavalo ser um animal de planícies, cuja “única arma é correr”, e portanto se sentir melhor tendo um plano de visão mais amplo. As paredes de alvenaria possuem 1,4 m de altura e acima delas há um fechamento com barras de aço corten para garantir a transparência e segurança dos animais. Outra novidade são portas de correr nas baias, presas pela parte superior, que parecem flutuar. Na circulação coberta se fez o uso de um piso especial emborrachado para absorver os impactos dos cascos dos animais e evitar escorregões. Já as pistas de areia foram projetadas com o auxílio do especialista francês Francis Clemont, com uma camada de brita e solo-cimento para formar a base para a impermeabilização, e acima uma camada de poliéster, betonita e areia, que conferem elesticidade e absorção de impactos (SERAPIÃO, 2005).
Figura 24 – Planta Térreo Cocheiras. Fonte: Mauro Munhoz (2005), adaptado pela autora.
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O pavilhão de cocheiras abriga 25 baias regulares (3x4m), 2 baias maternidade (6x4m), 4 selarias (3x4m), duchas, e bretes. Os bretes são estruturas em aço utilizadas para a contenção do animal durante atividades como a inseminação, medicação, coleta de sangue, cirurgias, castração, aplicação de vermífugos por via oral, marcação, testes de prenhes, casqueamento, limpeza, e outros tratos.
Figura 25 – Planta Subsolo Cocheiras. Fonte: Mauro Munhoz (2005), adaptado pela autora.
Figura 26 – Pavilhão de cocheiras térreo; mirante e subsolo. Fonte: Mauro Munhoz (2005); Serapião (2005).
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Figura 27 – Corte AA Cocheiras. Fonte: Mauro Munhoz (2005), adaptado pela autora.
Figura 28 – Corte BB Cocheiras. Fonte: Mauro Munhoz (2005), adaptado pela autora.
Figura 29 – Cocheiras com meia parede de alvenaria e fechamento em aço corten Haras Polana. Fonte: Mauro Munhoz (2005).
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Figura 30 – Corte Ampliado Cocheira. Fonte: Mauro Munhoz (2005), adaptado pela autora.
O pavilhão que abriga o espaço de leilões, restaurante, escritório e uma biblioteca destaca-se pela sua cobertura com estrutura de madeira em laminado colado de eucalipto e balanço de 12 metros. A obra é de 2010 e também foi projetada pelo mesmo arquiteto, que projetou os outros blocos do haras, concluídos em 2004.
Figura 31 – Corte Transversal do pavilhão de leilões e restaurante. Fonte: Ebramem (2015), adaptado pela autora.
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Figura 32 – Esquema da estrutura da cobertura em madeira laminada colada. Fonte: Ita Construtora (2010).
Figura 33 – Pavilhão de leilões e restaurante Haras Polana, cobertura em madeira laminada colada. Fonte: Ita Construtora (2010).
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3.4. HÍPICO DEL BOSQUE
Com 7.000 m² de área construída sobre um terreno íngreme de quase 20.000 m², sendo a maior parte deste ocupada por uma floresta de pinheiros, o Hípico del Bosque está localizado na parte mais alta da cidade de Cuernavaca, no México. A abordagem arquitetônica feita pelo escritório mexicano APT Arquitectura Para Todos reflete a memória do lugar, combinando as necessidades dos clientes com as paisagens naturais, respeitando e adaptando-se às condições de topografia, orientação e paisagem.
Figura 34 – Pista de areia, café e pavilhão de cocheiras ao fundo. Fonte: Fonte: Archdaily (2013).
O projeto foi desenvolvido em três níveis que incorporam construção e topografia. Na porção mais alta do terreno (terceiro nível) estão os estábulos, depósitos de feno, ração, e serragem, quarto de sela e escritório. Muros de contenção, rampas e escadas, fazem a ligação com o nível médio (segundo nível), que abriga a pista de areia e área social com café, terraços, sanitários e vestiários. Na parte inferior do terreno (primeiro nível) está a área de serviço, área de preparação dos cavalos – pista de distensão, alojamento do tratador e cocheiras para competições.
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Figura 35 – Croquis dos níveis Fonte: Archdaily (2013).
Figura 36 – Planta primeiro nível. Fonte: Archdaily (2013), adaptado pela autora.
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Figura 37 – Planta Segundo NĂvel. Fonte: Archdaily (2013), adaptado pela autora.
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Figura 38 - Planta Terceiro NĂvel. Fonte: Archdaily (2013), adaptado pela autora.
Figura 39 – Corte AA. Fonte: Archdaily (2013).
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Figura 40 – Corte BB. Fonte: Archdaily (2013).
Figura 41 – Corte CC. Fonte: Archdaily (2013). Tabela 2 - Estimativa de áreas do programa do Hípico del Bosque.
Ambiente Depósito de feno e ração Depósito de serragem Ducha e área de manejo 18 Cocheiras Quarto de selas Escritório Pista de areia Pista de distensão Alojamento do tratador Área de serviço Café, vestiários, área social Arquibancadas Estacionamento Total
Área (m²) 24 24 96 288 20 20 1500 600 12 12 200 250 300 3346
Fonte: Da autora.
Como materiais foram utilizados concreto, pedra e madeira nas áreas externas e aplicada argamassa e uma tinta feita à base da terra da região nas paredes internas. O principal propósito do projeto foi ressaltar a pureza dos elementos que o moldam e
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a simplicidade dos materiais, utilizando técnicas construtivas e mão de obra locais, conservando seu aspecto natural. O projeto também possui coleta de água da chuva e iluminação com luzes LED e células solares.
Figure 42 – Pista de areia, arquibancadas, cocheiras e área social. Fonte: Archdaily (2013).
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Os estudos apresentados auxiliarão no desenvolvimento dos serviços a serem oferecidos e no projeto arquitetônico do haras, cuja principal proposta abordará a recuperação, treinamento e a inserção dos cavalos de corrida descartados no mercado, seguindo a filosofia de treinamento da organização Second Chance Thoroughbreds. Além de dar um destino aos ex-cavalos de corrida, o centro de treinamento proposto acolherá também animais aposentados e abandonados no seu programa de equoterapia, que atenderá à população carente com as técnicas, princípios e métodos utilizados na fundação Square Peg, reforçando a ideia de que as diferenças tornam as pessoas especiais. Como referencial arquitetônico, o Centro Hípico Polana possui área, número de cavalos e instalações semelhantes ao programa a ser utilizado no projeto, contando com cocheiras com meias paredes que propiciam o bem-estar animal. Destaca-se também a estrutura em madeira laminada colada do pavilhão de leilões, pelo grande vão e beleza. O Hípico del Bosque inova quanto à tipologia e materiais empregados, principalmente ao utilizar coberturas de concreto planas no pavilhão de cocheiras e resolve o desnível do terreno de forma simples, com a divisão em três níveis: cocheiras, área social e serviços. Este projeto buscará aliar o programa e estrutura em madeira laminada colada do Haras Polana à forma com que foi trabalhado o desnível do terreno e os materiais empregados no Hípico del Bosque a fim de se obter um projeto agradável e funcional, atendendo aos animais e às pessoas que frequentarão o local.
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4. INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE
Para o desenvolvimento do haras foi escolhido um terreno no município de Piraquara, localizado às margens da represa Piraquara II e aos pés da serra do mar. O local está inserido em uma região de tradição na criação de cavalos, com várias facilidades ao empreendimento como: agropecuárias, selarias e produtores de feno, além da grande oferta de veterinários, ferreiros e outros profissionais do meio equestre. A região também destaca-se devido ao potencial turístico e estradas rurais com belas paisagens para a prática do turismo de aventura e cavalgadas, além da proximidade com as cidades vizinhas.
4.1. PIRAQUARA: CIDADE DOS MANANCIAIS
"Piraquara” é um vocábulo indígena que significa "toca dos peixes". A cidade foi fundada no dia 29 de janeiro de 1890 e por possuir muitos mananciais e nascentes do Rio Iguaçu é conhecida como Berço das Águas e Cidade dos Mananciais. O município faz parte da Região Metropolitana de Curitiba, limitando-se ao norte com Quatro Barras, à leste com Morretes, ao sul com São José dos Pinhais e a oeste com Pinhais. Compreende em seu território as Áreas de Preservação Ambiental do Iraí e Piraquara, as quais englobam os mananciais que abastecem de água Curitiba e Região Metropolitana, e a Área Especial de Interesse Turístico do Marumbi, área de preservação da Serra do Mar composta pelos municípios de Morretes, Antonina, São José dos Pinhais, Piraquara, Quatro Barras e Campina Grande do Sul (PREFEITURA DE PIRAQUARA, 2017a).
Figura 43 – Serra do mar e represas. Fonte: Prefeitura de Piraquara, 2017b.
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Figura 44 – Localização de Piraquara no Paraná. Fonte: Wikipedia, 2017.
Em 1980 foi inaugurado o primeiro reservatório de água que abasteceu Curitiba, a Represa do Carvalho, hoje aberta à visitação como opção de lazer, onde os visitantes podem participar de atividades monitoradas como caminhadas e trilhas, com acesso a pequenas cavernas e cachoeiras. Em 1979 foi inaugurada a Barragem do Cayuguava – Piraquara I, a primeira grande barragem de acumulação de água para abastecimento público do Paraná, a qual garante o abastecimento contínuo para cerca de 350 mil pessoas de Curitiba e Região Metropolitana. Por fim, em 2008 foi inaugurada a Barragem Piraquara II, cujo reservatório garante o abastecimento para mais de 650 mil habitantes em Curitiba e outros seis municípios da Região Metropolitana, sendo uma das quatro barragens (Piraquara I e II, Iraí e Passaúna) que compõem o sistema de regularização e reforço para o abastecimento de água da capital. A cidade possui ainda parte da Represa do Iraí em seu território, juntamente com os municípios de Quatro Barras e Pinhais (Id., 2017a). Além da grande importância no abastecimento de água de Curitiba e Região Metropolitana, Piraquara destaca-se pelo grande potencial turístico, especialmente o turismo de aventura e ecoturismo. Situada aos pés da Serra do Mar e com a maior parte do município composto pela área rural, a região possui mais de 100 km de
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estradas rurais com belas paisagens para a prática de mountain bike, caminhadas, trekking, escalada e cavalgada. A cidade promove durante o ano vários eventos como pedaladas, caminhadas, rallys, a festa trentina, e a tradicional cavalgada de aniversário da cidade, a qual reuniu cerca de 300 cavaleiros na edição de 2015. Nos últimos anos o município tem buscado desenvolver a prática de esportes náuticos não poluentes no município através de caiacadas ecológicas e stand up paddle nas represas. A cidade possui ainda o Caminho Trentino, roteiro turístico que passa por comunidades locais onde há vários empreendimentos que oferecem passeios a cavalo e aulas de equitação, algumas pousadas e a venda de café rural, comida caseira, galinhas e ovos caipira, vinhos, queijos, manteiga caseira, mel, salame, carneiro, morangos orgânicos e entre outros produtos da colônia italiana. Piraquara possui patrimônio histórico e cultural resultantes da colonização de trentino-tiroleses, única colônia trentina no Paraná; possui também a aldeia indígena Araçaí, onde vivem cerca de 90 índios guaranis que vivem da pesca, caça, doações e da venda de artesanatos aos turistas que visitam a aldeia. Os índios não podem plantar alimentos pois a aldeia está localizada na reserva de proteção ambiental (Ibid., 2017a).
Figura 45 – Mapa turístico do Roteiro Caminho Trentino. Fonte: Prefeitura de Piraquara, 2017a.
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Levantamento fotogrĂĄfico da regiĂŁo:
Figura 46 – Eventos da cidade, turismo e belezas naturais. Fonte: Prefeitura de Piraquara, 2017b.
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4.2. A ÁREA DE INTERVENÇÃO
O terreno proposto para o estudo da implantação do haras localiza-se na APA Estadual do Piraquara, às margens da Represa Piraquara II, a qual foi inaugurada em 2008. Após a inauguração da represa e alagamento da região, ocorreram mudanças significativas quanto à ocupação e uso do solo, passando a haver uma preocupação com a conservação e a recomposição da vegetação ao longo da área inundada, para assegurar a qualidade da água. De acordo com o Decreto Estadual 6706/2002, toda a faixa de 100 m ao longo do reservatório faz parte da Zona de Preservação da Represa – ZPRE (PREFEITURA DE PIRAQUARA, 2017a).
Figura 47 – Localização do terreno em Piraquara. Fonte: Google Maps, adaptado pela autora.
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Figura 48 – O terreno e entorno antes e depois de implantada a Represa Piraquara II. Fonte: Google Earth, adaptado pela autora.
O entorno da área é composto por propriedades rurais utilizadas para a habitação, agricultura, criação de ovinos, caprinos, suínos, galináceos, bovinos e equinos; apicultura, piscicultura e minhocultura; além de pousadas e haras (TESSEROLLI, 2008). O Zoneamento Ecológico-Econômico da APA Estadual do Piraquara tem como objetivo proteger e assegurar condições à conservação dos mananciais destinados ao abastecimento público de água. A implantação do haras contribuirá com a preservação da região, uma vez que é um empreendimento de baixa densidade, não poluente e sustentável. O terreno proposto está localizado em uma região de tradição na equinocultura. Existem vários estabelecimentos voltados à criação, hospedagem, treinamento e
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aluguel de cavalos para cavalgadas, além de agropecuárias e fazendas produtoras de feno. Em um raio de 5 km a partir do terreno proposto há 14 haras e centros de treinamento, além do próprio terreno que hoje funciona como um criatório de cavalos de corrida (ver figura 49):
Figura 49 - Entorno do terreno proposto. Fonte: Google maps, adaptado pela autora.
Outra potencialidade é a proximidade com os centros das cidades, o que contribui para estimular a frequentação dos clientes no haras durante a semana. A área também é próxima do Jockey Club do Paraná, de onde virão os cavalos descartados para serem retreinados, e da Sociedade Hípica Paranaense, local que recebe as principais competições nacionais de hipismo.
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Figura 50 – Distância entre o terreno proposto e Hípica, Jockey e os centros das cidades mais próximas. Fonte: Google Maps, adaptado pela autora.
4.1. O TERRENO: MAPA SÍNTESE E CONDICIONANTES
O terreno escolhido está localizado na transição entre a rua Atílio Pedão e a Estrada da Butiatuvinha, com acesso pela Rua Vagner Luis Boscardin, BR-277 e BR116. A área em questão possui um total de 427.091,29 m² sendo 214.788,87 m² pertencentes à Zona de Preservação da Represa e à Zona de Conservação da Vida Silvestre II, com a recuperação da vegetação natural ao longo da represa e bosque composto por araucárias e árvores nativas. Logo, a área utilizável para pastagens e edificações é de 212.302,42 m², aproximadamente 50% do total. Durante o inverno os ventos predominantes vêm do leste e noroeste; durante o verão, do leste e sudeste. O perfil do terreno é levemente ondulado, com desnível de 28 metros, o que faz com que a água escoe e garanta uma boa saúde aos cascos dos animais.
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Figura 51 – Mapa Síntese. Fonte: Google Maps, adaptado pela autora.
O terreno e entorno foram fotografados nos pontos numerados da figura 52, as fotos estão apresentadas logo a seguir na figura 53. Nelas é possível verificar a vegetação existente, o leve desnível do terreno e a beleza da represa e serra do mar.
Figura 52 – Terreno e pontos das fotografias. Fonte: Google Maps, adaptado pela autora.
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Vista 1
Vista 2
Vista 3
Vista 4
Figure 53 – Fotografias do terreno proposto. Fonte: Da autora.
4.2. CENTROS DE EQUOTERAPIA E O PÚBLICO EM CURITIBA E REGIÃO
Estão cadastrados na Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL), três centros de equoterapia em Curitiba e Região Metropolitana: o Centro de Convivência Incluir, em Campo Magro; o Centro de Equoterapia Andaluz, no Bairro Tarumã em Curitiba, dentro da Sociedade Hípica Paranaense; e o Centro de Desenvolvimento e Pesquisa em Equoterapia Soldado Josué Cipriano Diniz, também no bairro Tarumã, pertencente ao Regimento de Polícia Montada (ANDE-BRASIL, 2017). A implantação de um novo centro de equoterapia junto ao haras proposto neste trabalho ajudará a atender à demanda pela atividade na região, uma vez que existem poucos estabelecimentos que a oferecem e os centros que existem estão localizados na porção norte da Grande Curitiba; o que permitirá às pessoas que moram principalmente na porção sul de Curitiba, São José dos Pinhais e Piraquara, praticar a terapia em um local mais próximo de suas residências. A Escola de Educação Especial Antônio Carlos Gabardo, localizada no centro de Piraquara e mantida pela APAE de Piraquara, atende cerca de 107 alunos, com idades entre zero e sessenta anos, sendo 29 crianças, 21 adolescentes e 57 adultos.
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Todos são especiais; 79 possuem alguma deficiência intelectual, enquanto 28 possuem deficiências intelectuais e físicas (APAE, [201-?]). O novo centro de equoterapia atenderá inicialmente famílias carentes provenientes da Escola de Educação Especial Antônio Carlos Gabardo e a população da região, após passarem pela APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), APR (Associação Paranaense de Reabilitação), mais a avaliação e solicitação medica. A escola está a apenas 20 minutos do local escolhido para a implantação do haras, o que estimula e facilita a frequência dos praticantes da terapia.
Figura 54 – Centros de equoterapia em Curitiba e Região Metropolitana e centro proposto no haras. Fonte: Google Maps, adaptado pela autora.
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5. DIRETRIZES PROJETUAIS
O projeto irá se apoiar em quatro pilares abordando o homem, a natureza e os animais:
Figura 55 – Os pilares do projeto. Fonte: Da autora.
A principal proposta é criar um centro de treinamento que atenderá os cavalos descartados no turfe. Os animais serão retreinados e reiniciados através da Doma Racional (doma sem violência) para tratar os traumas e problemas adquiridos no passado, bem como recuperados de lesões nas patas, possibilitando assim uma inserção desses cavalos no mercado, em novas carreiras esportivas ou no lazer. Os animais recuperados e treinados serão vendidos e o valor utilizado para ajudar outros cavalos no programa. Juntamente com o resgate desses animais em situação vulnerável, o foco do haras será também oferecer aos animais o melhor nível de bemestar possível, através de um planejamento pensado nos cavalos, a partir do estudo aprofundado sobre as necessidades fisiológicas; as quais uma vez atendidas,
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permitirão saúde física e mental. Para tal, será feito o uso de cocheiras amplas, com meias paredes que permitam a socialização com os animais vizinhos e livre acesso aos anexos externos individuais para os animais tomarem sol e ficarem em contato com a natureza; além de utilizar o conceito de “Paddock Paradise Track System”, do autor, pesquisador e ferreiro Jaime Jackson.
Figura 56 – Esquema do Paddock Paradise Track System. Fonte: Garbous, 2017.
O sistema consiste em um método mais natural de se criar cavalos, um conceito baseado no estilo de vida de cavalos selvagens, em que Jaime Jackson em seu livro Paddock Paradise: A Guide to Natural Horse Boarding propõe, no lugar dos tradicionais piquetes e cocheiras, a criação de um percurso pela propriedade no qual há diversos tipos de solo e obstáculos, como rochas, troncos de árvores no chão e areia; com áreas para rolar e deitar, além de pontos com abrigos, feno, água e sal mineral espalhados pelo percurso. O acesso às áreas de pasto é controlado, podendo ser feita uma rotação de piquetes para melhor aproveitamento do capim. Segundo o
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pesquisador, propor caminhos e a diversidade no ambiente estimulam o instinto natural que os cavalos têm em se movimentar. Logo, os animais mantidos nesse sistema de criação atingem um melhor nível de saúde física e mental, se comparados com aqueles confinados ou mantidos em piquetes comuns (ver figuras 54 e 55).
Figure 57 – Paddock Track com pedras para condicionar os cascos e área de alimentação. Fonte: Inside-out hoofcare, 2017; AANHCP, 2017.
Para os proprietários que querem manter seus cavalos sem ferraduras (“barefoot”) e com cascos mais saudáveis, esse é o sistema de criação ideal, pois fortalece os cascos dos animais através do exercício e do condicionamento proporcionado pelos diversos tipos de solo. Além do “barefoot” e da Doma Racional, o haras irá difundir o conceito de “bitless”, no qual o cavalo é trabalhado sem a utilização de embocaduras (freio e bridão). Os conceitos de “bitless”, “barefoot” e “Paddock Paradise Track System” têm se alastrado com rapidez principalmente em países da Europa, América do Norte, Oceania e África, com cada vez mais adeptos em busca de uma melhor qualidade de vida aos seus animais. No Brasil estas correntes são recentes; há alguns proprietários de cavalos que já aderiram ao “bitless” e pouquíssimos ao “barefoot”. Já sobre o “Paddock Paradise Track System”, não há registros de haras e centros de treinamentos brasileiros que possuam esse sistema.
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Figura 58 – Casco com ferradura, casco natural “barefoot”, e novas formas de proteção para os cascos. Fonte: Bem, [201-?]; Barn Boots, 2017; Otimundo, 2017.
Figura 59 – Cavalos com embocadura e cavalo “bitless”, sem embocadura. Fonte: Kirkham, 2017; Acervo pessoal, 2016.
No geral enfrenta-se muito preconceito ao se tentar romper com as tradições e inserir novas formas de manejo no meio equestre. As práticas de hoje são as mesmas utilizadas há séculos, porém é preciso sempre buscar-se o aprimoramento e a evolução; logo, faz-se necessário o estudo de um haras que seja mais do que um centro de treinamento e hospedagem tradicional, mas um disseminador sobre as novas formas de se interagir com os cavalos, as quais são melhores não apenas para os animais, mas fazem com que a relação homem-cavalo seja enormemente beneficiada. Paralelamente às questões sobre o bem-estar animal e o resgate dos cavalos de corrida, o haras contará com um programa de equoterapia que atenderá à população carente da Escola de Educação Especial Antônio Carlos Gabardo, localizada no centro de Piraquara; posteriormente abrirá vagas para atender outras
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comunidades carentes dos municípios próximos, conforme a disponibilidade, sempre em
conjunto
com
as
APAEs e
APR.
Neste
programa
serão
utilizados
preferencialmente cavalos abandonados e aposentados, podendo-se vir a utilizar alguns puro sangues descartados que apresentarem bom temperamento. Os animais precisam ser mansos, calmos e dessensibilizados; logo é preferível que possuam uma idade mais avançada e mais experiência. O empreendimento será sustentável, com o reaproveitamento das águas pluviais e o tratamento dos resíduos sólidos (estrume e cama das cocheiras) através da compostagem e vermicompostagem, alternativas de baixo custo e sanitariamente eficientes na eliminação de patógenos dos resíduos sólidos, além de gerar um rico fertilizante natural, o qual poderá ser vendido ou utilizado na reposição de componentes orgânicos do solo, diminuindo ou dispensando a aplicação de adubos sintéticos. A compostagem é um processo controlado de biodecomposição anaeróbica e exotérmica6 através de microorganismos, com produção de gás carbônico e vapor de água, resultando em um composto humificado e rico em matéria orgânica. O material deve ser amontoado, revirado e umedecido periodicamente para o controle da temperatura e umidade. Já a vermicompostagem é a transformação da matéria orgânica, resultante da ação combinada das minhocas e da microflora que vive em seu trato digestivo (AQUINO et al., 1992 apud GONÇALVES, 2014), o composto resultante é conhecido como húmus de minhoca (GONÇALVES, 2014). Ainda no quesito de autossustentabilidade, o projeto contará com áreas pastejo rotacionado e áreas de capineira, o que diminuirá consideravelmente os custos com a alimentação, tornando o uso do feno adquirido fora da propriedade um complemento durante os meses de inverno, quando o capim tende a crescer menos. O haras oferecerá também serviços de hospedagem e treinamento de cavalos, além de aulas de equitação e cursos, a fim de levantar fundos para o programa de treinamento e reabilitação dos cavalos de corrida e o programa de equoterapia.
5.1. O PROGRAMA DE NECESSIDADES
O programa básico de necessidades do haras foi dividido em quatro setores: pavilhão de cocheiras, pavilhão de equoterapia e convivência, equipamentos e 6
Processo químico com produção de calor (LIMA, 2017).
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serviços, e áreas verdes. Foi pensado de forma a abrigar cerca de 60 cavalos, sendo 20 deles em cocheiras e entre 20 e 40 animais no campo em piquetes individuais e no “Paddock Paradise”. O local também irá sediar provas hípicas, ministrar cursos, palestras, entre outros eventos, sendo necessária uma estrutura para atender a esse público, além dos clientes e praticantes de equoterapia que frequentarão o haras diariamente. Nas tabelas a seguir é possível conferir os principais ambientes do programa e suas descrições: Tabela 3 – Descrição dos ambientes do setor 1: Pavilhão de Cocheiras. Setor 1 PAVILHÃO DE COCHEIRAS Ambiente Descrição Baias 20 acomodações individuais internas para cavalos (4x4 m) Anexos das Baias Áreas externas das baias, individuais e de livre acesso (4x6 m) Selaria Cômodo para equipamentos: selas, cabeçadas, etc. (4x6 m) Escritório Local para a administração do haras (4x6 m) Farmácia Veterinária Armazenagem de medicamentos, curativos, seringas, etc. (2x4 m) Depósito de Ração e Feno Armazenamento de rações, grãos , feno e suplementos (4x6 m) Depósito de Serragem Armazenamento de camas limpas (4x6 m) Lavatório/ducha Dois lavatório para a higienização dos animais (3x4 m) Hidroesteira Equipamento para o condicionamento e recuperação dos cavalos lesionados Área de Manejo Interna Local para procedimentos como casqueamento, fisioterapia e outros (4x8 m) Área de Manejo Externa Área para secagem dos animais banhados e procedimentos diversos Fonte: Da autora. Tabela 4 – Descrição dos ambientes do setor 2: Pavilhão de Equoterapia e Convivência. Setor 2 PAVILHÃO DE EQUOTERAPIA E CONVIVÊNCIA Ambiente Descrição Pista de Areia Indoor Picadeiro coberto para treinos e competições (20x60 m) Pista da Equoterapia Picadeiro coberto para as sessões de equoterapia ou distensão (20x40 m) Sanitários e Vestiários 2 Sanitários com vestiários e armários para os clientes Banheiros acessíveis 2 Sanitários acessíveis com vestiário Auditório Sala com projeção e som para aulas, cursos e palestras Enfermaria Armazenamento de medicamentos essenciais Convivência Copa, cantina, sala de estar, churrasqueira, salão de festas e deck Recepção Equoterapia Sala de recepção destinada aos praticantes de equoterapia e suas familias Sala de Avaliação Equoterapia Sala de avaliação médica do praticante de equoterapia Brinquedoteca Equoterapia Área destinada às crianças atendidas pelo programa de equoterapia Depósito Equoterapia Depósito de materiais e brinquedos utilizados nas sessões de equoterapia Fonte: Da autora.
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Tabela 5 – Descrição dos ambientes do setor 3: Equipamentos e Serviços. Setor 3 EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS Ambiente Descrição Pista de Areia Externa Pista de areia ao ar livre para treinos e competições (40x70 m) Redondel Picadeiro circular para o treinamento e exercício dos animais (Raio = 15 m) Vagas Estacionamento 20 vagas para estacionamento. Em dias de provas estaciona-se no gramado Playground Espaço destinado à recreação das crianças Casa Funcionário 1 Casa para o caseiro e sua família Casa Sede 1 Casa para o proprietário do haras Depósito Equipamentos 1 Depósito para trator, roçadeira e outras ferramentas e equipamentos Lavanderia 1 Lavanderia para lavar o material dos cavalos e material de limpeza Alojamentos Funcionários 2 Alojamentos para tratadores ou veterinários de plantão Fonte: Da autora. Tabela 6 – Descrição dos ambientes do setor 4: Áreas Verdes. Setor 4 ÁREAS VERDES Ambiente Descrição Piquetes Individuais Piquetes individuais com abrigo Piquetes de Pastejo Rotacionado Piquetes com capim Tifton 85, para pastejo rotacionado Capineiras Áreas para a plantação de capim, a ser oferecido cortado aos animais Paddock Track Percurso poposto para os cavalos viverem, em vez dos piquetes Compostagem Área de tratamento das camas e estrume dos cavalos Área de Preservação Área pertencente à ZPR e ZCVS II Fonte: Da autora.
A fim de garantir capim fresco a todos os cavalos, evitando gastos com feno comprado e garantir a qualidade da alimentação fornecida aos animais, foi feito um cálculo para as áreas de capineiras e pastejo rotacionado com base no capim Tifton 85, necessárias para atender ao plantel: Tabela 7 – Cálculo do consumo de capim e das áreas de capineiras e pastejo rotativo.
Nº de animais 1 cavalo 60 cavalos Capim Tifton 85
Consumo diário 10 kg de capim seco 600 kg de capim seco Produção anual por hectare 20 toneladas de capim seco
Consumo anual 3.65 toneladas de capim seco 216 toneladas de capim seco Quantidade de hectares 10
Fonte: Da autora.
A produção média do capim Tifton 85 é de 20 toneladas de matéria seca/hectare/ano (TIFTON-85, 2017). Considerando-se que cada cavalo consuma diariamente cerca de 10kg de capim seco, para alimentar os 60 cavalos seriam necessários aproximadamente 216 toneladas de capim seco ao ano, ou seja, 10 hectares para a produção do capim (100 mil metros quadrados).
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Tabela 8 – Organograma e Fluxograma.
Fonte: Da autora.
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5.2. ÁREAS DO PROGRAMA DE NECESSIDADES
Tabela 9 – Quadro de Áreas Pavilhão de Cocheiras.
Quadro de Áreas - Setor 1 Ambiente Baias Anexo das Baias Selaria Escritório Farmácia Veterinária Depósito de Ração e Feno Depósito de Serragem Lavatório/ducha Hidroesteira Área de Manejo Interna Área de Manejo Externa ÁREA TOTAL
PAVILHÃO DE COCHEIRAS Quantidade Área Unitária (m²) 20 16 20 24 1 24 1 24 1 8 1 24 1 24 2 12 1 16 1 32 1 36
Área Total (m²) 320 480 24 24 8 24 24 24 16 32 36 1012
Fonte: Da autora. Tabela 10 – Quadro de Áreas Pavilhão de Equoterapia e Convivência.
Quadro de Áreas - Setor 2 PAVILHÃO DE EQUOTERAPIA E CONVIVÊNCIA Ambiente Quantidade Área Unitária (m²) Pista de Areia Indoor 1 1200 Pista da Equoterapia 1 800 Sanitários e Vestiários 2 18 Banheiros acessíveis 2 3.4 Auditório 1 50 Enfermaria 1 16 Convivência 1 200 Recepção Equoterapia 1 12 Sala de Avaliação Equoterapia 1 24 Brinquedoteca Equoterapia 1 24 Depósito Equoterapia 1 16 ÁREA TOTAL Fonte: Da autora.
Área Total (m²) 1200 800 36 6.8 50 16 200 12 24 24 16 2984.8
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Tabela 11 – Quadro de Áreas Equipamentos e Serviços.
Quadro de Áreas - Setor 3 EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS Ambiente Pista de Areia Externa Redondel Vagas Estacionamento Playground Casa Funcionário Casa Sede Depósito Equipamentos Lavanderia Alojamentos Funcionários ÁREA TOTAL
Quantidade 1 1 20 1 1 1 1 1 2
Área Unitária (m²) 2800 706.5 12 50 60 150 60 8 24
Área Total (m²) 2800 706.5 240 50 60 150 60 8 48 4122.5
Fonte: Da autora.
Tabela 12 – Quadro de Áreas das Áreas Verdes.
Quadro de Áreas - Setor 4 Ambiente Piquetes Individuais Piquetes de Pastejo Rotacionado Capineiras Paddock Track Compostagem Área de Preservação ÁREA TOTAL
ÁREAS VERDES Quantidade 20 16 5 1 1 1
Área Unitária (m²) 600 5000 10000 20000 80 214788.87
Área Total (m²) 12000 80000 50000 20000 80 214788.87 376868.87
Fonte: Da autora. Tabela 13 – Resumo das áreas do programa.
RESUMO DAS ÁREAS Área Construída Áreas Verdes Área de Preservação Área Livre Área Total
8119.3 162080 214788.87 42103.12 427091.29
RESUMO DAS ÁREAS CONSTRUÍDAS Pavilhão de Cocheiras Pavilhão de Equoterapia e Convivência Equipamentos e Serviços Área total construída Fonte: Da autora.
1012 2984.8 4122.5 8119.3
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Gráfico 3 – Resumo das áreas do programa.
Resumo das Áreas 10%
Resumo Áreas Construídas
2%
12%
38% 51% 37% 50%
Pavilhão de Cocheiras Área Construída
Áreas Verdes
Área de Preservação
Área Livre
Fonte: Da autora.
Pavilhão de Equoterapia e Convivência Equipamentos e Serviços
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escolha do tema desta pesquisa surgiu a partir da experiência da autora e de estudos sobre o confinamento animal e o descarte de cavalos. Com base nisso buscou-se, através da arquitetura e suas ferramentas, resolver os problemas causadores do baixo nível de bem-estar nos animais domesticados; além de propor um uso e uma segunda chance aos cavalos aposentados e àqueles que tiveram suas carreiras encerradas no turfe. Para tal, o projeto irá propor espaços projetados levando-se em conta as necessidades inerentes à espécie, utilizando-se de medidas simples que amenizem os efeitos do confinamento. Entende-se por espaço não apenas os ambientes internos, mas também o exterior das edificações. As áreas verdes serão planejadas de forma a contribuir com a qualidade de vida dos animais, enfatizando-se a importância de sua existência para a saúde mental destes, uma vez que o confinamento sem o acesso a piquetes seja uma prática cada vez mais comum em cavalos de esporte. O projeto abordará a importância da relação do homem com o cavalo e os benefícios obtidos por essa parceria com o programa de equoterapia que atenderá à população carente da região, uma vez constatada a alta demanda por esse serviço e poucos centros de equoterapia na Grande Curitiba; o programa irá seguir o modelo da Square Peg Foundation, apresentado como estudo de caso. Também serão utilizadas e divulgadas novas ideologias sobre o bem-estar animal como: a Doma Racional, o “bitless”, o “barefoot”, e o sistema de criação “Paddock Paradise”. O haras será referência quanto às abordagens gentis que possibilitem um relacionamento mais ético e harmonioso entre o homem e o cavalo a partir do respeito, confiança, companheirismo e cumplicidade ao invés de violência e força. A implantação do haras às margens da Represa Piraquara II, em Piraquara, contribuirá para a preservação das matas e da qualidade da água utilizada para o abastecimento de Curitiba e Região Metropolitana, uma vez que o projeto é de baixo impacto e não poluente. Os resíduos sólidos gerados pelos animais serão tratados no local e transformados em adubo natural, que poderá substituir a adubação química dos pastos. Também está prevista a reutilização das águas pluviais, a fim de se obter um projeto sustentável.
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Cabe ao Arquiteto e Urbanista compreender o mundo à sua volta, isto é, entender a natureza e respeitar a fauna e a flora; buscando soluções pensadas no planeta como um todo, uma vez que a modificação do espaço não influencia apenas o ser humano, mas tem repercussão sobre todos os seres vivos e o meio ambiente. Logo, a arquitetura não deve ser feita e pensada apenas para o homem; deve-se levar em conta todos aqueles que utilizarão o espaço ou que serão influenciados por ele, ou seja: o ser humano, os animais e a natureza.
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