boletim informativo cineclubeviseu nยบ 132 . julho 2009
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entrada livre
Cinema no Museu
fotogramas
Megacities
Cinema ao ar livre Canary Beat de Jürgen Haas, 2006, 4’ Sunny Day de Gil Alkabetz, 2007, 7’ o joão foi ao dentista EB1, S. Martinho de Orgens, 2008, 5’
de Jean-Luc Godard, França, 1965, 99’
Cinema no Museu
ontem & hoje
Alphaville
de Michael Glawogger, Austria, 1998, 90’
Foto Germano e Luís Belo apresentam fotos de Viseu
Almoço de 15 de Agosto Pranzo di Ferragosto, de Gianni Di Gregório, Itália, 2008, 75’
Cinema no Museu
A barriga de um arquitecto
The belly of an arquitect, de Peter Greenaway, Reino Unido e Itália, 1987, 118’
Cinema ao ar livre Equilibrium 2’ Nutrimorphosis 1’ Contradições 7’ Curtas da Escola Profissional Mariana Seixas
Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos
Little Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris, EUA, 2006, 100’
Cinema no Museu
Koyaanisqatsi
de Godfrey Reggio, EUA, 1982, 86’
Cinema ao ar livre Neighbours de Norman McLaren, 1956, 7’
Cada um o seu cinema Chacun son Cinema, de vários realizadores, França, 2007, 100’
Cinema no Museu
Mystery Train
de Jim Jarmusch, EUA, 1989, 110’
ficha técnica
Argumento (Inscrito no ICS sob o nº 111174) e-mail geral@cineclubeviseu.pt Direcção editorial Cine Clube de Viseu Concepção e execução gráfica DpX
cine clube de viseu Largo da Misericórdia, 24 2º // 3500-158 Viseu Tel 232 432 760 . Tlm 922 192 984 geral@cineclubeviseu.pt . www.cineclubeviseu.pt NIF 501 441 182
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cinema na cidade ‘09
Editor e proprietário Cine Clube de Viseu (inscrito no ICS sob o nº 211173) Tiragem deste número 1.600 exemplares Impressão Novelgráfica ANO XXV, nº 132 Julho 2009
editorial Cinema na Cidade O Cine Clube de Viseu (CCV) mantém, ao longo da sua história, a tradição de apresentar com regularidade actividades em vários espaços da cidade, procurando aliar à diversidade dos filmes exibidos as várias salas de espectáculo, museus, ruas, parques, praças e cafés de Viseu. Preenchendo o vazio deixado em 2001 pelo fim do cinema ao ar livre no Parque Aquilino Ribeiro, o CCV apresenta, desde 2005, no Museu Grão Vasco, sessões de cinema, conversas e exposições que decorrem no mês de Julho. Em 2009, o projecto CNC - Cinema na Cidade dá continuidade à actividade cinéfila no Museu Grão Vasco, e acrescenta outras novidades distribuídas pela cidade, como o regresso das sessões de cinema ao ar livre no centro histórico. Novidades no centro Pretendemos, desta forma, explorar todos os benefícios que pode trazer esta intervenção cultural ao centro da cidade, numa altura em que o Cine Clube de Viseu e a Câmara Municipal estão a lançar as bases para o futuro centro de actividades educativas, documentação
e arquivo do Cine Clube, na Rua Escura. Associar a valorização dos espaços e a dinâmica cultural e associativa: eis o reiterado contributo do CCV para o centro histórico. Uma actividade para todos! Para todos os filmes, no Museu e na Praça D. Duarte, as entradas são livres. Se pretender apoiar a actividade associativa do CCV, pode tornar-se sócio durante as sessões. Estamos cá para exibir cinema de autor, desde 1955, de forma independente e organizando ciclos de cinema temáticos, tendo sido reconhecida ao CCV a Utilidade Pública “pelo mérito cultural desenvolvido ao longo da sua história” em prol do cinema e da cultura da cidade, em 1997. Vasco Granja O legado inspirador de cinefilia e espírito de descoberta de Vasco Granja leva o CCV a propor a exibição diária, antes de todas as longas-metragens, de pequenos filmes, na sua maioria em animação, reveladores de um universo rico de produção, liberdade criativa e imaginários fascinantes. Teremos sempre a Pantera Cor-deRosa, Vasco Granja.
A popularidade do CCV na cidade, no concelho, no distrito de Viseu, nos anos 80, fez-se da actividade regular, das iniciativas extra-cinematográficas, da itinerância, e, a partir de 1982, também se fez dos ciclos grandes de Cinema no Parque. Grandes pelos espaços, grandes pelas estreias, grandes pelo público. Fernando Giestas, CINE CIDADE _ As salas de cinema, os protagonistas e os filmes do Cine Clube de Viseu 1955.2007
Sessões ao ar livre Na Praça D. Duarte serão realizadas as sessões ao ar livre. Depois do Parque Aquilino Ribeiro e Fontelo, um novo espaço nobre acolhe esta actividade emblemática, uma das propostas culturais com maior tradição na cidade. De 15 a 17 de Julho, a não perder três noites irresistíveis!
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22h00 | praça d. duarte
Almoço de 15 de Agosto Um filme encantador e despretensioso, Almoço de 15 de Agosto é um leve sussurro tão delicadamente equilibrado que se o abundarmos em elogios podemos furar o seu modesto casulo. Esta história de um tipo de sessenta e tal anos, que vive com a mãe e é forçado a tomar conta de outras três idosas, tem um naturalismo que deve servir como referência a aspirantes realizadores, que frequentemente acreditam que nem vale a pena pensar “pequeno”. A estreia em realização do argumentista Gianno Di Gregorio é um prazer garantido para o público de uma certa idade, e deveria ganhar todos os festivais espalhados pelo mundo. Graças aos anos de experiência neste ramo como argumentista e assistente de realização, Di Gregorio foi capaz de reunir uma equipa de técnicos apesar do orçamento super reduzido. Além de contar com Matteo
curtas pré-filme Dois brilhantes exemplos de estúdios alemães de animação. E uma curta realizada pelo Projecto Cinema para as Escolas do CCV
Garrone de Gomorra como produtor, o filme tem ainda o editor de topo Marco Spoletini e o argumentista Massimo Gaudioso a colaborar como director artístico. O realizador recusa criar um fetiche à volta do envelhecimento, mas não deixa de lhe reconhecer os estragos. Embora não sejam profissionais, estas garotas trazem algo inefavelmente genuíno aos seus papéis. Grazia Sforza, em particular, tem uma naturalidade singela e uma grande sensibilidade para o timing de comédia A reduzida luz no interior pode ter ajudado as contas de electricidade, mas também captou a penumbra invariável dentro das casas italianas durante o calor de Agosto. A câmara é fluida, sem quaisquer sinos ou apitos, enquanto uma luz de mão e música nos previne da doçura que vai brotar deste “Almoço”. © Jay Weissberg / Variety
Canary Beat de Jürgen Haas, Alemanha, 2006, 4’
Sunny Day de Gil Alkabetz, Alemanha, 2007, 7’
o joão foi ao dentista EB1, S. Martinho de Orgens, 2008, 5’ 4
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Título original Pranzo di Ferragosto Itália, 2008, 75’ Realização e argumento Gianni Di Gregorio Intérpretes Valeria de Franciscis, Marina Cacciotti, Maria Calì, Grazia Cesarini Sforza, Alfonso Santagata, Luigi Marchetti , Marcello Ottolenghi , Petre Roso , Gianni Di Gregório Produção Matteo Garrone Música Ratchev e Carratello Fotografia Gian Enrico Bianchi Montagem Marco Spoletini Som Filippo Porcari
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22h00 | praça d. duarte
Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos
A caravana Primeira longa-metragem de dois realizadores, Jonathan Dayton e Valerie Faris, que já não são nenhumas crianças. Têm perto de cinquenta anos e um longo currículo na área dos telediscos, com obra realizada para grupos tão significativos como REM, Smashing Pumpkins e Red Hot Chili Peppers. Mas o filme não faz lembrar, em ponto nenhum, um teledisco - desprovido de efeitos ou de “tiques de linguagem”, é razoavelmente seco, como se para Faris e Dayton (como para alguns outros realizadores de “clips” recentemente convertidos ao cinema) não se reduzisse tudo ao “audiovisual” e escolher o cinema fosse escolher uma relativa austeridade e um novo conjunto de códigos. Há um grupo de personagens, há uma história (um argumento, que parece notável, de Michael Arndt) e é preciso pôr isto a mexer, gerindo tempos e conjuntos, ambientes e curvas, narrativas e emocionais. Fora um “grand finale” (e melhor momento do filme) em que estes dados de base, totalmente realistas, se transfiguram em comboio-fantasma todbrowninguiano, é só isto que Faris e Dayton fazem, e fazem-no bem.
Uma família, portanto. (…) Metem-se numa velhíssima furgonete Volkswagen e põem-se em marcha para a Califórnia, para o tal concurso de “misses” da miúda mais pequena. “Filme de grupo”, “road-movie”. Ou... “western”? Bom, já vimos cenários menos propícios a isso do que o Novo México (arredores de Albuquerque), que é de onde eles partem, e a Califórnia. A carrinha Volkswagen é como aquelas caravanas de tantos “westerns”, onde uma família atravessa território agreste contra tudo e contra todos. Ou enfim, como o seu reverso: fazer deste “conjunto” de pessoas tão distantes umas das outras um “grupo”, a que os próprios possam chamar uma “família”, eis o que parece o projecto do filme de Faris e Dayton. Peripécias, comoções, catarses (e, sempre, diálogos excelentes), e no fim o “freak show” do concurso das pequenas misses, notável construção de um grotesco de meter medo recorrendo apenas à escala de planos (ou, dizendo de outro modo, à maneira como se enquadra uma criança). Docemente subversivo, encerra-se sem epifanias nem metafísica: apenas um gentil manguito, e toca de regresso a Albuquerque. Precisamos mais disto do que de revelações. © Luís Miguel Oliveira, Público, 13-10-2006
curtas pré-filme A produção de curtas pela EPMS tem conquistado importantes prémios em Festivais da especialidade, como o FOOD4-U, de Itália, premiando o cuidado e as opções de realização.
Equilibrium 2’ Nutrimorphosis 1’ Contradições 7’
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Curtas da Esc. Prof. Mariana Seixas
Título original Little Miss Sunshine EUA, 2006, 99’ Realização Jonathan Dayton e Valerie Faris Argumento Michael Arndt Intérpretes Abigal Berger, Greg Kinnear, Paul Dano, Alan Arkin, Toni Collette, Steve Carell, Marc Turtletaub, Jill Talley, Brenda Canela, Julio Oscar Mechoso, Chuck Loring, Justin Shilton Produção Albert Berger, David T. Friendly, Peter Saraf, Marc Turtletaub, Ron Yerxa Música Mychael Danna, Devotchka Fotografia Tim Suhrstedt Montagem Pamela Martin
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22h00 | praça d. duarte
Cada um o seu cinema
Alguns dos episódios do filme colectivo Cada Um o Seu Cinema têm mesmo a cara dos realizadores que os fazem. Literalmente. Nanni Moretti: sozinho numa sala, faz o seu diário de espectador, e isso leva-o a aproximar-se do habitual registo de fúria (para falar dos pés de Michelle Pfeiffer em What Lies Beneath, do momento em que Rocky levou os braços ao ar em Rocky Balboa, do momento em que o filho de dois anos lhe pediu para irem ver Matrix 2.) (…) Os irmãos Coen não aparecem, mas às primeiras imagens o seu episódio é reconhecível (pode-se, aliás, fazer um exercício ao longo das duas horas de Cada Um o Seu Cinema: adivinhar a quem pertence cada pequeno filme). Nele, um cowboy, no desolado Oeste, aventura-se pela cinéfila, ainda por cima em língua estrangeira. Não sabe o que há-de ver, se A regra do jogo, do francês Jean Renoir, ou se Climas, do turco Nuri Bylge Ceylan. Que aconselhariam? “Filmes dentro de filmes” é o que mais há neste projecto, encomenda do festival a toda a gente que é alguém da família do cinema. Cannes reivindica-se como espaço natural para todos eles. São mais de 30 realizadores, contam em poucos minutos o que sentem como experiência cinematográfica.
curtas pré-filme A obra de Norman McLaren, mestre da animação canadiana, foi a grande inspiração de Vasco Granja para a sua causa do cinema de animação. Neighbours cruza animação de objectos com actores, numa história anti-bélica que coincidiu com o início da Guerra da Coreia. 8
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O mais aplaudido E um encontro entre o camarada Nikita Krutstchev e o (camarada?) Papa João XXIII? Manoel de Oliveira filmou Nikita (Michel Piccolli) e o papa (João Bénard da Costa) a compararem o que têm em comum: as barrigas, a necessidade de comer. Como um filme mudo, e serenamente libertário. O episódio mais aplaudido: o do brasileiro Walter Salles, contagiante batucada, em frente a um cinema no sertão brasileiro, que passa “Os 400 golpes”, de Truffaut. Os batuqueiros cantam tudo o que sabem de Cannes, e sabem tudo desse filme... por causa da Net. Salles dizia que assim quis mostrar que a experiência que o continua a interessar é ver cinema numa sala, não num telemóvel. O rosto de David Cronenberg não mostrou sinais de expressão quando Salles falou. Gostaríamos de saber o que ele pensa. Ele que é autor de um episódio que (não é possível ter a certeza) deverá contar a seguinte história: um homem, “o último judeu na terra” (o próprio Cronenberg), está numa casa de banho, o sítio para onde retrocedeu essa coisa a que se chama “experiência de cinema”. O homem suicida-se. Aceitar-se-iam hipóteses de interpretação, mas Cronenberg deu-as a seguir ao filme: “O meu episódio é sombrio? Não sei. O cinema, tal como nós o conhecemos e amamos, já não existe, já é coisa do passado. O cinema se calhar já não está aqui”. © Vasco Câmara, Público, 15.05.2009
Neighbours de Norman McLaren, Canadá, 1956, 7’
Título original Chacun son Cinema França, 2007, 100’ Realização Abbas Kiarostami Aki Kaurismaki Amos Gitai Andrei Konchalovsky Atom Egoyan Bille August Chen Kaige Claude Lelouch David Cronenberg David Lynch Elia Suleiman Gus Van Sant Hou Hsiao-Hsien Jane Campion Jean-Pierre Dardenne Ken Loach Lars Von Trier Luc Dardenne Manoel de Oliveira Nanni Moretti Olivier Assayas Raoul Ruiz Raymond Depardon Roman Polanski Takeshi Kitano Theo Angelopoulos Tsai Ming-Liang Walter Salles Wim Wenders Wong Kar-Wai Youssef Chahine Zhang Yimou
Š Aki Kaurismaki 9
Nascido no auge da metrópole moderna, o cinema impôs-se como entretenimento urbano por excelência durante o século passado, ao mesmo tempo que a própria cidade figurava como um dos elementos mais reproduzidos e recriados nos filmes. Através do registo e reprodução do real, inicialmente, e de ficções, imaginários e futuros mais ou menos utópicos, depois, a ideia de cidade no cinema é uma construção colectiva para a qual muitos autores incontornáveis da história do cinema contribuiram. Este programa Cinema no Museu apresenta alguns filmes experimentais, de culto e documentários dedicados à representação da cidade no cinema, concentrados entre o período dos anos 60 e 90 do século passado, realizados por Godard, Jarmusch, ou Greenaway, entre outros.
© Koyaanisqatsi, de Godfrey Reggio
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18h30 | museu grão vasco
Alphaville de Jean-Luc Godard, França, 1965, 99’
Logo no início se nos recorda que Alphaville é o nono filme de Godard, depois de À Bout de Souffle (1960), Le Petit Soldat (1960), Une Femme Est une Femme (1961), Vivre Sa Vie (1962), Les Carabiniers (1963), Le Mépris (1963), Bande à Part (1964) e Une Femme Mariée (1964). E Godard não contou as curtas-metragens e os “sketches” (quatro para cada lado, não incluindo as obras anteriores a 1958) que dão a ideia do prodigioso ritmo de sete anos de trabalho. Na década do filme (que ainda nos trouxe mais sete longas metragens, antes da viragem post-68), Godard era o cineasta que uma geração trazia de Paris. Aqui chegaram apenas, com contemporaneidade relativa, os “sketches” dos filmes Rogopag (1962) e de Les Plus Belles Escrocqueries du Monde (1963- esse o primeiro Godard que passou em Portugal) para além de Pierrot Le Fou (1965). Tudo o resto, para trás ou para a frente, o vimos já nos anos 70, antes do 25 de Abril (À Bout de Souffle, Alphaville, Masculin-Féminin) ou depois dele (quase
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tudo). Assim as “maravilhas fatais da nossa idade” (da minha pelo menos) eram vistas em Paris, donde trazíamos o último “Nouvel Obs” e o último Godard, tudo coisas que a censura por cá proibia. E entre referências, filmes perdidos, viagens esporádicas, poucos puderam seguir cronologicamente o percurso que levou de À Bout de Souffle a Bande à Part e depois inflectiu com Une Femme Mariée, ou, por outras voltas, o percurso que vai de Le Petit Soldat a Made in USA, o ciclo, com raras, excepções, de Anna Karina. Se comecei por aqui, não é apenas pelo facto da memória deste filme me ser inseparável desse saltos e rupturas no que nos era permitido ver aqui, mas sobretudo porque só o percurso anterior explica que Godard se tinha aventurado no ano 2000, às 24h e 17m, hora oceânica, nos bairros de Alphaville, cidade do futuro. © João Bénard da Costa, Folhas da Cinemateca (excerto).
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18h30 | museu grão vasco
Megacities de Michael Glawogger, Austria, 1998, 90’
No início deste novo milénio, e pela primeira vez na história da humanidade, a maioria da população mundial vive em grandes centros urbanos. Este é o pretexto para “Megacities”, um documentário ambicioso de Michael Glawogger que observa à lupa o sub mundo de Bombaim, México, Moscovo e Nova Iorque, quatro exemplos de metrópoles excessivamente povoadas, monstros simultaneamente sedutores e repelentes. Em doze capítulos e onze testemunhos, o
realizador esboça um retrato destas populações e da sua luta diária pela sobrevivência. Apesar da distância cultural e geográfica, partilham problemas como a prostituição, a falta de casa, o crime e a toxicodependência. Mas têm também em comum a resistência e a esperança, a coragem e a dignidade. Porque se este é um documento sobre trabalho, miséria, violência, amor e sexo, é-o também sobre a beleza das pessoas. © www.ruadebaixo.com
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Porque se este é um documento sobre trabalho, miséria, violência, amor e sexo, é-o também sobre a beleza das pessoas.
18h30 | museu grão vasco
A barriga de um arquitecto The belly of an arquitect de Peter Greenaway , Reino Unido e Itália, 1987, 118’ Roma por Peter Greenaway, e Etienne-Louis Boullée (extraordinário arquitecto francês, 1728-1799) por Stourley Kracklite, arquitecto norte-americano que viaja à capital italiana para preparar uma exposição dedicada a Boullée. O título, as dores de estômago de Kracklite, e a gravidez da sua mulher remetem para as construções esféricas do visionário arquitecto francês, de forma exemplarmente trabalhada e irónica por Peter Greenaway. A banda sonora de Wim Mertens acompanha a grandeza visual do filme.
É a própria matéria do cinema: quando se põe uma câmara a filmar, quando se enquadra algo, muda-se o mundo. É por isso que o meu cinema é “artificial”, “barroco”, porque o barroco é o excesso e a ilusão – e, quando se vê um “filme de Greenaway”, apenas vos quer dizer que estão a ver um filme. Não é a realidade, não é um pedaço de vida, é uma construção artificial.
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18h30 | museu grão vasco
Koyaanisqatsi
de Godfrey Reggio, EUA, 1982, 86’
Herdeiro da linguagem visual das primeiras experiências do documentário sem palavras de Dziga Vertov ou Walter Ruttmann, o realizador Godfrey Reggio preconiza uma nova forma de olhar as imagens e ouvir os sons, propondo uma nova relação expressiva entre ambos meios de comunicação. Com a música de Philip Glass, Reggio mostra-nos um mundo saturado de imagens pré-fabricadas,
fruto da sociedade hiper-acelerada e materialista, uma sociedade onde a Natureza foi suplantada pelo advento maciço da tecnologia digital. Koyaanisqatsi é o primeiro filme da Trilogia Qatsi, que configura uma nova era da comunicação audiovisual que influenciou o cinema, a publicidade, a produção televisiva e a cultura do videoclip.
(...) influenciou o cinema, a publicidade, a produção televisiva e a cultura do videoclip
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18h30 | museu grão vasco
Mystery Train
de Jim Jarmusch, EUA, 1989, 110’
Se talvez seja exagerado colocar o cerne deste filme no seu formalismo, não deixa por outro lado de fazer algum sentido: é que Mystery Train, antes de mais nada, é um filme sobre o vazio. O sítio onde estamos é Memphis, cidade emblemática dos anos de ouro do rock americano, terra natal de Elvis Presley e do Sun Studio onde o “rei” foi descoberto e começou a gravar. A Memphis que Jarmusch filma - e que vale no fundo por toda a América - é uma cidade-museu, no sentido pejorativo que a palavra pode ter: sem vida onde apenas restam os ícones, ou seja, os fantasmas. Nesse sentido há, logo no princípio, uma sequência claramente reveladora das intenções de Jarmusch: a visita guiada ao Sun Studio, com a espontaneidade postiça da cicerone a deixar evidente toda uma angustiante
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sensação de vazio. Tudo são assombrações, desde os retratos de Elvis presentes em cada quarto do hotel até à presença de Screamín’ Jay Hawkins, nos anos cinquenta um “performer” quase tão famoso como Elvis, e aqui remetido à condição de “figura de cera” como recepcionista que, aliás, vemos sempre na mesma posição. Memphis vale então como uma “miniatura” da América: um país que criou os seus próprios mitos para deles se alimentar, não reparando que nesse processo estava a criar os vampiros que lhe sugariam o sangue. Disto mesmo a melhor imagem será aquela que é a mais tocante cena do filme: a aparição do fantasma do próprio Elvis, surpreendentemente humano e vulnerável. © Luís Miguel Oliveira, Folhas da Cinemateca (excertos)
Memphis vale então como uma “miniatura” da América: um país que criou os seus próprios mitos para deles se alimentar
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22h00 | empório
ontem & hoje Foto Germano e Luís Belo apresentam fotos de Viseu
O que nos diz uma cidade vista por olhares e dispositivos separados por décadas entre si? A maior colecção de fotografias antigas de Viseu (Foto Germano) e o trabalho de Luís Belo (Viseu, 1987) cruzam-se nesta sessão dedicada à fotografia, projectando a história e imaginário colectivo da cidade através dos espaços e do tempo.
Foto Germano A Foto Germano recolhe imagens de Viseu há mais de 100 anos. Vendas nos estúdios da Rua Formosa. www.fotogermano.com
Empório Livros, faiança, objectos raros, mobiliário, material etnográfico. Loja na Rua Silva Gaio. www.projectopatrimonio.com
FOTO LUíS BELO Luís Belo, ilustrador, designer, fotógrafo. Vencedor do Concurso Viseu Patrimonium’09, Fnac. http://luisbelo.com 13
vende-se P.V.P.
nas sessões ao ar livre:
€ 15
Promoção € 12,50 Sócios CCV € 10,00
Cine Cidade
As salas de cinema, os protagonistas e os filmes do Cine Clube de Viseu 1955-2007
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- PIER PAOLO PASOLINI O SONHO DE UMA COISA - ROUBEN MAMOULIAN - JIM JARMUSCH MELANCÓLICA INDEPENDÊNCIA - MICHEL PICCOLI - PALAVRA (A) CARL TH. DREYER - RAINER W. FASSBINDER O AMOR É MAIS FRIO QUE A MORTE - ROBERTO ROSSELLINI E O CINEMA REVELADOR - ROGER CORMAN O ANJO SELVAGEM DE HOLLYWOOD - CIDADES E OS FILMES (AS) UMA BIOGRAFIA DE RINO LUPO - ERAM OS ANOS 60 - JACQUES RIVETTE O SEGREDO POR TRÁS DO SEGREDO. - JOHN CARPENTER MEMÓRIAS DE UM HOMEM BEM VISÍVEL - MANOEL DE OLIVEIRA CEM ANOS
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