Argumento 139

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nº 139 setembro outubro 2011

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Capa editorial programa ccv set_out ’11 Aprender em festa Ciclo retoma estudo imagens na escola what’s up ccv?

“haverá sempre um futuro para as salas de cinema, pois existe uma experiência social que vem com isso”

f icha técnica Argumento (Inscrito no ICS sob o nº 111174) e-mail geral@cineclubeviseu.pt Direcção editorial Cine Clube de Viseu Concepção e execução gráfica dpx.com.pt

Karen Cooper, directora do Film Forum, Nova Iorque

Em Julho, o CCV conseguiu traduzir, de novo, a expressão social da sua actividade nas noites dedicadas ao cinema na Praça D. Duarte. Muito tempo depois das primeiras sessões ao ar livre, na década de 80, e com alterações radicais no consumo de cinema, como a extinção das salas de cinema aglomeradas, hoje, em centros comerciais, e o uso maciço da internet para ver filmes, é nossa convicção que o interesse, o inconformismo, o envolvimento de colaboradores, voluntários, e participação do público recuperam uma parte relevante do espírito inicial daquele que é um dos projectos culturais com maior tradição na cidade. Na realidade, em muitas outras cidades portuguesas, dinâmicas idênticas de exibição cinematográfica e participação de público confirmam os Cine Clubes como exemplo de resistência e renovação, em tempos de crise.

Editor e proprietário Cine Clube de Viseu (inscrito no ICS sob o nº 211173) Tiragem 500 exemplares Impressão Tondelgráfica (Tondela) ANO XXVIII, nº 139 Setembro / Outubro 2011

Após a habitual paragem para férias, em Setembro regressam as sessões de cinema pela mão do ciclo “Retoma”. “O tio Boonmee que se lembra das suas vidas anteriores” de Apichatpong Weerasethakul, “Vais encontrar o homem dos teus sonhos” de Woody Allen, ou “Carlos”, de Olivier Assayas, serão alguns dos filmes a exibir até final de Outubro. “Retoma” é o ciclo que o CCV dedica anualmente aos filmes não estreados comercialmente em Viseu. Sem unidade temática, autoral ou estética, o ciclo é pensado com o objectivo de exibir algumas obras recentes que ficaram de fora da oferta de cinema da cidade. Um ciclo que apresenta uma raridade nos dias que correm: todos os filmes serão exibidos em cópias 35mm. A distinção entre o acesso digital e a película é cada vez mais difícil, e vivemos uma época, que será necessariamente breve, em que os dois acessos co-existem. O mais importante, para quem gosta de cinema, será mesmo ver o filme em sala, projectado nas melhores condições possíveis.

Largo da Misericórdia, 24 2º // 3500-158 Viseu Tel 232 432 760 Tlm 922 192 984 geral@cineclubeviseu.pt www.cineclubeviseu.pt

sessões de cinema

cinema para as escolas

Numa actividade com a natureza daquela que é apresentada pelo Cine Clube de Viseu, a perenidade e crescimento dependem, em grande medida, do entusiasmo do público e dos associados. Procurando oferecer mais a todos os que nos apoiam, continuam as parcerias com o Teatro Viriato, ACERT de Tondela e Empório, garantindo descontos aos nossos associados, e a partir de Setembro um conjunto diversificado de instituições alarga esta rede de descontos e benefícios. Relembramos que, perante a escassez de políticas públicas culturais, o apoio de todos é uma condição indispensável para a continuidade e independência do projecto, e a manutenção dos seus padrões de qualidade.

apoio à divulgação

domínio, alojamento do site e e-mail

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setem bro out ubro ‘11 programação 13 . SET

O tio Boonmee que se lembra das suas vidas anteriores Uncle Boonmee who can recall his past lives de Apichatpong Weerasethakul, Tailândia, Alemanha, França, 2010, 113’ 20 . SET

Vais conhecer o homem dos teus sonhos You will meet a tall dark stranger de Woody Allen, EUA, Espanha, 2010, 97’ 27 . SET

Um ano mais

Another year de Mike Leigh, Reino Unido, 2010, 125’ 04 . out

Carlos

de Olivier Assayas, França, 2011, 167’ - Devido à duração do filme, o início desta sessão será antecipado para as 21h30. 11 . out

Poesia

Shi de Lee Chang-dong, Coreia do Sul, 2011, 139’ 18 . out

As quatro voltas

Le quattro volte de Michelangelo Frammartino, Itália, 2010, 88’ 25 . out

Mel

Bal de Semih Kaplanoglu, Turquia, 2010, 103’

sessões Todas as terças / IPJ - Viseu / 21h45 Entradas €4 sócios ccv - €1,5 / €2,5 Sócios acert / Inatel / amigos Teatro Viriato - €2,5

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APRENDER EM FESTA É com renovado prazer que o Cine Clube de Viseu convida toda a comunidade educativa a participar no APRENDER EM FESTA 2011, uma iniciativa do Cine Clube de Viseu (CCV) realizada anualmente em Outubro, no IPJ - Viseu.

APRENDER EM FESTA 2011 destina-se aos alunos, professores, educadores e outros agentes educativos, apresentando um programa diversificado de sessões de cinema e workshops variados. Pretende-se envolver a comunidade escolar nas actividades do projecto Cinema para as Escolas do CCV num mês em que se comemora em mais de 50 países o Dia Internacional da Animação (28 de Outubro), festa a que aderem também várias cidades portuguesas.

Programa 24 | 25 OUT ‘11

26 | 27 | 28 OUT ‘11

2/3º Ciclo e Secundário

1º Ciclo do Ensino Básico

MOSTRA DE FILMES

MOSTRA DE FILMES

Inscrição: €1 / aluno

Inscrição: Gratuita | Duração total: 60’

HORÁRIOS: 10h00 | 15h00

HORÁRIOS: 09h30 | 11h00 | 13h30 | 15h00

banksy

Filmes realizados por crianças e jovens no âmbito do projecto CINEMA PARA AS ESCOLAS:

de Banksy, Reino Unido, 2010, 86’ Nível de escolaridade: Secundário Dia 24, 10h00 Documentário assinado pelo mítico artista de rua Banksy, que traça a história do movimento street culture. O filme segue vários artistas, alguns dos quais considerados hoje estrelas, entre os quais o próprio Banksy que apesar do anonimato é um dos mais famosos artistas britânicos, ao mesmo tempo que perspectiva o valor da arte e o que é ou não considerado autêntico hoje em dia.

ÁGUAS TURVAS realizado na EB1 Pego (Abrantes) com orientação de Graça Gomes

VOAR realizado no Lugar Presente (Viseu) por crianças com idades compreendias entre os 12 e 16 anos, com orientação de Yann Thual

E-MAGICIENS

O ATLETA

BEST OF 2010 (Programa da Casa da Animação), 70’ Nível de escolaridade: 3º CEB e Secundário Dia 25, 15h00 Apresentação dos 17 filmes premiados no E-Magiciens 2010, um festival de cinema de animação digital, orientado para a jovem criação artística, que acontece em França. Todos os anos se anunciam ali os melhores filmes provenientes das melhores escolas de animação do mundo. www.e-createurs.net

realizado no Teatro Viriato por crianças e jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 17 anos, com orientação da AVISCO (Itália)

Filmes do PANORAMA INFANTIL CASA DA ANIMAÇÃO Pequenas histórias animadas cheias de lirismo e fantasia.

OFICINAS DIÁRIAS Inscrição: €2,5 / aluno | Até 20 alunos | Duração: 90’

HORÁRIOS: 09H30 | 11H00 | 13H30 | 15H00 OFICINA DE PIXILAÇÃO orientação: Graça Gomes Exploração da técnica da pixilação, que consiste na animação de pessoas e objectos, através da decomposição do movimento e captura imagem a imagem. Neste workshop os alunos serão transformados em bonecos animados e irão viver uma pequena aventura, que só é possível no ecrã da televisão; serão também os realizadores e os responsáveis pela captura das imagens no computador.

O TEMPO ENTRE DOIS FOTOGRAMAS orientação: Yann Thual Exploração da técnica da animação 2D em mesas de animação. Neste workshop cada aluno irá realizar alguns segundos de um filme animado, numa mesa com computador e palco de filmagem, através de diversos materiais à disposição: recortes em papel e cartão, plasticina, areia e outros objectos. Técnicas a explorar: movimento e transformação de objectos, ritmo da animação.

INSCRIÇÕES

232 432 760 | 922 192 984 geral@cineclubeviseu.pt

cine clube de viseu largo da misericórdia, 24 2º, apartado 2102 3500-158 viseu www.cineclubeviseu.pt

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retoma : 13_set ‘11

O tio Boonmee que se lembra das suas vidas anteriores Uncle Boonmee who can recall his past lives de Apichatpong Weerasethakul

APRENDER O APICHATPONG Não é preciso muito tempo, bastam dois ou três planos (até que o boi amarrado se solte e se aventure por uma floresta filmada em “noite americana”, ou que assim parece) para se ter a sensação, muito clara, muito nítida, mas também, como dizer, muito calma, de que “O Tio Boonmee que se Lembra das suas Vidas Anteriores” é uma espécie de janela que alguém abriu, uma corrente de ar fresco soprada sobre a tristíssima avalanche de entulho que semanalmente se abate sobre o chamado “circuito comercial”. É um filme extraordinário, em todos os sentidos da palavra, um filme que devolve o cinema à sua (quase) esquecida vocação demiúrgica. É verdadeiramente um filme de “criação”, de criação de um “mundo”. E se com isto evocamos o que Godard escreveu, há muitos anos, sobre o “Índia” de Rossellini (que se tratava do “filme da criação do mundo”), fazemo-lo porque “O Tio Boonmee”, no seu trabalho sobre o folclore, a mitologia, a história, empregues como maneira de “dobrar” a realidade sobre a sua própria fantasia (ou vice-versa), tem momentos em que nos traz o filme de Rossellini à cabeça - e evidentemente não apenas por, também aqui, os animais falarem (coisa que provavelmente desde o filme de Rossellini eles não faziam tão bem). Lembra-nos mais coisas: Disney (o Disney genuíno), Powell / Pressburger, o “Brigadoon” de Minnelli, e claro, os indianos, certas coisas de Satyajit Ray ou Ritwik Ghatak, influência maior do cinema tailandês que talvez Apichatpong Weerasethakul nunca tivesse denunciado desta maneira. É assim tão especial, como são especiais os momentos, cada vez mais raros, em que sentimos o

cinema a reencontrar-se consigo próprio. De resto, Api- -o ao que foi a sua vida, aos seus fantasmas, aos seus chatpong disse que “O Tio Boonmee” era a sua “peque- remorsos, aos seus desejos, às suas memórias, que se na lamentação” pelo cinema. Voltaremos a ela, porque materializam por acção combinada do cinema e da natureza. É isto “O Tio Boonmee”, é isto “o Apichatpong”. parece condensar-se no derradeiro plano. E os que ficam depois dele, pobres diabos, ficam espeO observador distante totalmente alheado do folclore cados em frente a um minúsculo ecran de televisão. É o e das tradições tailandesas, em vez de lamentar que a derradeiro plano. sua ignorância o condene a ver “O Tio Boonmee” como um objecto hermético, deve congratular-se por isso Luís Miguel Oliveira, Ípsilon mesmo: está em óptima posição para remeter tudo o que não percebe para o “folclore e as tradições tailandesas” e limitar-se a apreciar o que vê. É mais misterioso, e se calhar ainda mais belo, assim. E no entanto, perfeitamente claro: é como dizia Jean Douchet nos anos 50, não precisamos de “aprender japonês” para perceber Mizoguchi, basta que “aprendamos Mizoguchi”. Precisaremos, de facto, de saber alguma coisa da Tailândia para perceber o fabuloso intróito da princesa desfigurada à procura da sua imagem “redimida” pelo reflexo nas águas do lago? Ou por que razão foi o Tio Boonmee, numa vida anterior, um peixe-gato? Ou porque é que os homens-macacos de olhos que brilham no escuro confraternizaram e tiraram fotografias com os soldados que andavam pela floresta a matar comunistas? Claro que não, basta que saibamos “aprender Apichatpong”. E o “Apichatpong”, aqui, é um cinema que funde todas as ordens de realidade, o vivido e o sonhado, a experiência e a imaginação, a profundidade e a ligeireza, a metafísica e o aparte anedótico (a não negligenciar, o seu sentido de humor, que já conhecíamos pelo menos desde “Síndromas e um Século), com uma graça, uma delicadeza e um equilíbrio pouco menos que perfeitos. O Tio Boonmee, que está moribundo (mal dos rins), evidentemente não morre; ou por outra, a morte entrega-

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é um cinema que funde todas as ordens de realidade, o vivido e o sonhado, a experiência e a imaginação, a profundidade e a ligeireza, a metafísica e o aparte anedótico


retoma : 20_set ‘11

Vais conhecer o homem dos teus sonhos You will meet a tall dark stranger de Woody Allen

O último filme de Woody Allen, estreado em Cannes e ensaia na janela do prédio em frente. Ou seja, neste 2010 (fora de competição), arranca com uma citação filme-puzzle, cada personagem vai encontrar uma nova em forma de epitáfio: “ A vida é uma história cheia de cara-metade. Ou será que a cara-metade não passa de ruído e de furor contada por um idiota e que nada signi- uma ilusão? fica.” A frase é de Shakespeare, um dos dois pilares es- As personagens de “Vais Conhecer o Homem dos Teus senciais do trabalho de Woody Allen (o outro chama-se Sonhos”, todas protagonistas de uma mesma história Ingmar Bergman). E o idiota que conta a história, num feita de desapontamentos, continuam fiéis à ‘família gesto de autoironia a que o cineasta nos habituou, bem de Woody’: estão demasiado ocupadas com o seu egopodia ser Woody himself; ele que tem vindo a atraves- centrismo e os seus problemas, vivem presas a crises sar (teoria nossa) a década de trabalho mais irregular da existenciais que Woody sabe serem comuns a todas as sua carreira, década de altos e baixos que se traduziu no idades. Desta vez, vão juntar-se a um mesmo coro que fulgurante (“Match Point”) mas também no irrelevante se impõe pela graça e nos fala subtilmente da desgraça, de ilusões perdidas. (“Vicky Cristina Barcelona”). “Vais Conhecer o Homem dos Teus Sonhos”, ‘opus 46’ de Woody depois da surpresa de “Tudo Pode Dar Certo”, Francisco Ferreira, Expreso, 21.01.2011 confirma que o homem, que já se está nas tintas para as obras-primas, não perdeu a mão. A comédia, essa, é agridoce como sempre e espeIha-se na simplicidade do quotidiano, sem mistérios nem transcendências - o velho Woody é hoje um autor funcional e pragmático, igual à sua ‘fábrica de produção’ que lhe permite fazer pelo menos um filme por ano. No centro da história temos um casal de sexagenários, os Shepridge, com o casamento em crise, Alfie (Sir Anthony Hopkins) e Helena (Gemma Jones). Temos um casal de trintões, a filha do casal anterior, Sally (Naomi Watts), e o marido, Roy (Josh Brolin), a passar por igual tormenta. Alfie encontrará uma call girl 30 mais nova que se diz ‘atriz’ -e põe fim abrupto a 40 anos de casamento. Helena, que frequenta sessões de espiritismo, conhecerá um velho alfarrabista espirituoso. SaIly, por seu lado, começa a apaixonar-se pelo seu patrão sedutor, dono de uma galeria de arte (Antonio Banderas). E Roy, escritor falhado, não se fica por menos: enfeitiça-se pelos acordes de uma jovem de origem indiana (Freida Pinto, atriz de “Slumdog Millionaire”) que anda a estudar música

depois da surpresa de “Tudo Pode Dar Certo”, confirma que o homem, que já se está nas tintas para as obras-primas, não perdeu a mão.

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retoma : 27_set ‘11

Um ano mais Another year de Mike Leigh

voyeurismo, sem a condescendência altaneira ou o ção incondicional à recusa mais absoluta. Mas já demos AS VIDAS DOS OUTROS O novo filme do realizador de “Nu”, “Segredos e Menti- desprezo que muitos críticos teimaram em ver no filme. por nós a pensar que “Um Ano Mais” é tão incisivo e desencantado que talvez seja essa franqueza que inras” e “Vera Drake” é um instantâneo desencantado soA verdade é que todos conhecemos gente como a que comoda quem vê. Para nós, é o melhor Leigh desde o bre a solidão pelos olhos de quem não a sente. faz parte deste filme - gente que se esforça por ser feliz magistral “Segredos e Mentiras” - e isto, num ciclo que Há uma tradição de grandes interpretações nos filmes e que dá graças pelas suas pequenas bênçãos, gente incluiu “Topsy-Turvy” ou “Vera Drake”, não é dizer pouco. do cineasta inglês Mike Leigh e “Um Ano Mais” não foge perdida que não consegue reunir a energia para reenà regra. A David Thewlis (“Nu”), Brenda Blethyn (“Segre- contrar o caminho. Personagens que ficam desenhadas Jorge Mourinha, Ípsilon dos e Mentiras”), Imelda Staunton (“Vera Drake”) e Sally com meia dúzia de pinceladas magistrais e que transHawkins (“Um Dia de Cada Vez”) vem-se agora juntar formam “Um Ano Mais” na mais recente manifestação Lesley Manville, no papel de uma secretária solitária do olhar cirúrgico, lúcido, que Leigh lança sobre a Inglaque se refugia no álcool e nos sonhos impossíveis para terra contemporânea, erradamente descrito muitas vecombater a sua solidão. O que há de invulgar no caso zes como fazendo parte do “realismo social”. de Manville é que, por uma vez, ela não é a personagem principal do filme. “Um Ano Mais” é um filme de conjun- Definição tecnicamente correcta mas que falha porque to, e a Mary a que a actriz dá corpo e alma é apenas um Leigh não está tanto interessado no “realismo social” dos “satélites” que orbitam à volta dos “heróis” aparen- por si próprio, mas antes em captar uma vibração emotes: Tom e Gerri, um casal londrino que parece ter a vida cional no trabalho dos actores que transponha a barperfeita, ele engenheiro geólogo, ela assistente social. reira entre o real e a ficção e evite a lógica fechada das (Desenganem-se se acharem que os nomes, Tom e narrativas tradicionais, excertos de um contínuo sem princípio nem fim. Os riscos desse trabalho são consGerri, são coincidência.) tantes no cinema de Leigh, que alinha clássicos inconMas este casal feliz (que está longe de ser tão santo tornáveis e obras menores numa sequência irregular, como o olhar superficial sugere) é mais o “fio condu- mas é reconfortante ver alguém que não se acomoda. tor” do filme do que o centro deste olhar desencantado Basta ver como a própria estrutura “televisiva”, episódisobre a solidão. São personagens que Leigh usa como ca, da narrativa consegue uma densidade e uma gravi“ponto de entrada” dos espectadores, “substitutos” dos dade que as exigências do pequeno écrã só raramente espectadores que, tal como nós, assistem à litania de permitem (e que, na maior parte dos casos, só mesmo a misérias e grandezas que os seus convidados trazem ficção televisiva britânica está em condições de manter, à sua casa confortável ao longo das quatro estações mas nunca deste modo tão incisivo). do ano. Espectadores investidos nas vidas dos outros: Mary, claro, mas também Ken, o velho amigo que parece Paradoxalmente, “Um Ano Mais”, exemplar do método estar a matar-se aos poucos, Joe, o filho que ainda não Leigh no seu melhor, tem sido um dos seus trabalhos assentou, Ronnie, o irmão viúvo que não sabe o que fa- menos unânimes desde que estreou em Cannes 2010, zer da vida. Espectadores investidos mas, atenção, sem com as opiniões a abrangerem o espectro da aclama-

A verdade é que todos conhecemos gente como a que faz parte deste filme (...) gente perdida que não consegue reunir a energia para reencontrar o caminho

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Devido à duração do filme, o início desta sessão será antecipado para as 21h30.

retoma : 04_out ‘11

Carlos de Olivier Assayas

Ilich Ramírez Sánchez, mais conhecido por Carlos, é um esquerdistas do velho continente, com destaque para Jorge Leitão Ramos, Expresso, 03.06.2011 combatente revolucionário venezuelano que, nos anos a Alemanha Federal. O filme dá-nos a ver essa teia e até Texto escrito segundo o novo acordo ortográfico. 70/80 levou a cabo alguns espetaculares atos terroristas o recorte romântico com que, a partir de certa altura, na Europa, o mais conhecido dos quais o sequestro dos Carlos se aureola -a boina à Guevara, o olhar sedutor -, ministros da OPEP reunidos em Viena, em 1975. Com a como se ele fosse um combatente pela liberdade. Asqueda do Muro de Berlim, a implosão da União Soviética sayas ousa mesmo chegar à erotização da violência (are o sequente fim da Guerra Fria, a atividade de Carlos repiante -e não apenas no sentido medonho da palavra esfuma-se, ao mesmo tempo que, sempre perseguido -a fetichização sexual das armas) e a criar efeitos de suspelos serviços secretos do Ocidente, tenta refúgio em pense que invocam, à boa maneira hitchcockiana, uma vários países árabes. Capturado em Cartum, no Sudão, empatia do público com o protagonista. Tememos por em 1994, de onde é raptado pelos franceses, que o le- ele, por exemplo, durante a operação OPEP ou quando vam para Paris, Carlos acaba julgado em 1997 e conde- os polícias franceses entram pelo apartamento em Paris, desejamos, no íntimo, que ele se safe (até porque a nado a prisão perpétua, pena que, atualmente, cumpre. Estes são os factos que perturbaram o mundo durante ambiência é cordial, fraterna, musical) – mais eis que a muitos anos, sumarizados em voo rápido para efeitos de violência rebenta e ficamos paralisados com a ferocidacontexto. Devem parecer arqueológicos, a esta distân- de. Magnífico resultado de um trabalho fílmico onde se cia -e, sobretudo, para quem não os viveu e, entretanto, quer perceber como foi possível (no fundo, como é que se habituou a tomar Osama bin Laden como emblema gente decente pôde andar por tais caminhos), ao mesdo terrorismo do século XXI. Evidentemente, a realida- mo tempo que não se vira a cara ao horror inteiro. de política na Europa é, hoje, muito diversa da dos anos “Carlos” é um filme épico com um protagonista, mas sem 70/80. Mas não é possível compreendermo-nos sem o herói. Matiza-se a personagem principal com uma gama que então aconteceu. O filme de Olivier Assayas é uma de cambiantes que a excelente interpretação de Édgar soberana oportunidade de nos aproximarmos dessa Ramírez e a extensa duração tornam possíveis (e estamos compreensão. Antes de mais, o filme dá-nos a ver um em presença de uma versão curta, esperemos poder ver momento traumático no seio da esquerda europeia, em Portugal a versão integral de mais de cinco horas!). É quando muita gente, descrente dos velhos partidos co- um filme onde a política internacional aparece como uma munistas, se radicalizou numa luta revolucionária arma- coisa viscosa, despida de dignidade. É uma tragédia onde da que depressa se confundiu com terrorismo. Carlos é um homem sem escrúpulos é conduzido por vários podeum produto desse caldo cultural. Estudou em Londres res em presença que jogam com ele (e com quem ele joga) e em Moscovo, tornou-se poliglota e ainda não tinha 25 num eixo que vai de Tripoli a Beirute, a Damasco, a Baganos quando se foi oferecer ao líder do braço armado dade, a Moscovo e a Berlim. Um homem que, um dia, se da Frente Popular de Libertação da Palestina. É a soldo apaga, quando os franceses lhe deitam a mão -e já estava dessa organização que leva a cabo os primeiros aten- reduzido a has been. Daí que o desfecho do filme, brutaltados, incluindo o assalto à reunião da OPEP em Viena. mente seco e abrupto, seja como que uma pedra sobre o Move-se em território europeu e na sua rede de con- assunto e a personagem. Como quem diz que aquilo acatactos e pontos de apoio vão estar vários movimentos bou e acabou mesmo. Com um suspiro de alívio.

Carlos acaba julgado em 1997 e condenado a prisão perpétua, pena que, atualmente, cumpre.

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retoma : 11_Out ‘11

Poesia Shi de Lee Chang-dong

Revelação portuguesa de um cineasta coreano nasci- “A poesia tende a ser abstrata. Poemas, em geral, são sodo em 1954, que ainda ninguém se tinha lembrado de bre coisas que não vemos e parecia-me intrigante traestrear por cá - vai para doze anos a Cinemateca pas- balhar com abstrações num meio tão concreto e visual sou um dos seus primeiros filmes, “Uma Faísca Solitá- como o cinema. A poesia responde a questões profunria”, que pela memória que guardamos pouco tem em das, ao próprio sentido da vida. Satisfaz a nossa necescomum com “Poesia”. E “Poesia” também tem muito sidade de beleza e tudo isso contribui para a tessitura pouco - nada - em comum com o cinema coreano mais temática, e dramática do filme. A poesia interage com conhecido em Portugal (nada a ver com a agitação de as histórias. Foi um argumento escrito num ápice, mas que depois foi polido. Acho que se percebe isso.” Lee Park Chan Wook, por exemplo). É a história de uma velha senhora que vive com o seu Chang-dong ao jornal O Estado de S.Paulo, na altura da desagradável neto (que ele sim, podia ter saido de um estreia do filme no Brasil em Fevereiro de 2011. filme de Park Chan Wook) e tem problemas de sobra (com o neto, responsável moral pelo suicídio de uma miuda, e consigo própria: alzheimer ou coisa parecida). O que é interessante, e perfeitamente conseguido, é que todos estes ingredientes narrativos, que tão facilmente seriam postos no centro de tudo, são superados em função de um elogio da contemplação - o mundo exterior, e o mundo interior da senhora, unidos pela poesia que ela, de um momento para o outro, começa a escrever ou a tentar escrever. História de uma “fuga” à realidade factual (os encontros com os implicados na história do neto) que se transforma não num “alheamento” mas numa espécie de outro tipo de consciência, ou de relação com o mundo. Algo de muito filosoficamente “oriental”, passe o exotismo simplista da expressão. A protagonista (Jeong Ye-Hun), que pelo que podemos ler estava retirada há doze anos e fez aqui um “come back”, é extraordinária. Luís Miguel Oliveira, Público

O que é interessante, e perfeitamente conseguido, é que todos estes ingredientes narrativos, que tão facilmente seriam postos no centro de tudo, são superados em função de um elogio da contemplação - o mundo exterior, e o mundo interior da senhora

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retoma : 18_out ‘11

As quatro voltas Le quattro volte de Michelangelo Frammartino

PALAVRAS PARA QUÊ? As Quatro Voltas, um filme em que não se fala, mas em que não fica nada por dizer. O silêncio é um dos recursos mais difíceis das artes, mas também um dos mais enriquecedores. No cinema, muitas vezes, as palavras explicitam o que as imagens sugerem, fechando as leituras, retirando as dúvidas. Mas o silêncio desafia-nos e enobrece-nos. Impacienta-nos à medida que nos abre horizontes. O silêncio é de ouro, diz-se por aí. E de facto tantas vezes faz falta, para que se ouça todo o resto. Mas nada de confusões, Le Quattro Volte, o segundo filme do italiano Michelangelo Frammartino, não é um filme mudo, é apenas um filme em que ninguém fala de forma percetível. Se fosse um qualquer realizador brasileiro não resistia a encher as imagens com uma voz off descritiva, porventura pensando que assim ganharia um cunho literário, Frammartino optou simplesmente por deixar o filme calado. Sem que nada disto tenha a ver, insista-se, com o cinema mudo, em que as personagens falavam mas nós só as conseguíamos ouvir através das legendas nos separadores. Le Quattro Volte é um filme sonoro, claro está, a ausência de palavras apenas evidencia o som ambiente, belo como a paisagem que retrata, e dá um tom documental a uma ficção atípica. É evidentemente um filme experimental, que busca uma nova forma de fazer cinema, quebrando barreiras e fugindo ao óbvio, mas nem por isso se perde em deambulações estéticas. Até porque estruturalmente está longe de ser gratuito, apesar da narrativa não ser entrelaçada ou rebuscada e, a rigor, não se passar grande coisa (mas nem a nível narrativo é vazio). Frammartino refugia-nos nos confins de uma remota Calábria, perdida nas montanhas de um Sul, com gentes em vias de extinção, onde um velho pastor sobre-

vive como elemento da própria natureza, entre ecos e murmúrios. O lado bucólico é exposto, pela beleza das paisagens vazias de gente, de um mundo que se desfaz. Mas é o próprio ciclo da vida que interessa ao realizador, representado de forma tão incessante na imagem do pastor como na da árvore que cresce, é cortada e feita lenha, nas festas da aldeia. O envolvimento do pastor com a natureza é tal que esta compete consigo em termos de protagonismo. A mesma atenção é dada ao homem e às cabras que pastam, ao cão que o acompanha, às árvores que se cruzam pelo caminho, e mesmo a alguns objetos que tem na sua casa. Encontramos uma vida consonante, de um homem com o seu habitat, mas que não deixa de ter os seus contrastes. Curiosamente, toda esta toada contemplativa, em que nos deixamos arrastar pelos fios do horizonte, não impede o realizador de polvilhar o enredo aqui e ali com apontamentos de humor, que servem também de sarcasmo, que não escondem a consciência externa perante o que filma. Nunca poderia ser o humor verbal, nem sequer um humor físico propriamente dito... Mas um humor de situação, tão raro, que nos remete logo para o génio de Jacques Tati. A habilidade está em encontrar o caricato dentro da própria banalidade quotidiana, sem estragar o tom bucólico e lírico que nos maravilha. Le Quattro Volte é um filme em forma de poema, com uma forte carga contemplativa e emocional, exacerbada pela ausência de palavras, de um jovem realizador que soube experimentar. E enche-nos de vida, mesmo quando nos mostra de forma tão explícita e natural a própria morte. Um filme em que não se fala, mas em que não fica nada por dizer. Manuel Halpert, Visão, 27 de Abril de 2011

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Le Quattro Volte é um filme sonoro, claro está, a ausência de palavras apenas evidencia o som ambiente, belo como a paisagem que retrata, e dá um tom documental a uma ficção atípica. É evidentemente um filme experimental


“Mel”, encerra a ‘trilogia de Yusuf’, criada pelo realizador turco Semih Kaplanoglu, um dos nomes mais respeitados daquela cinematografia

retoma : 25_Out ‘11

Mel Bal de Semih Kaplanoglu

“Mel”, encerra a ‘trilogia de Yusuf’, criada pelo realizador turco Semih Kaplanoglu, um dos nomes mais respeitados daquela cinematografia, embora praticamente desconhecido em Portugal. Foi também com essa trilogia que Kaplanoglu, de 48 anos, se impôs nos festivais de cinema internacionais, primeiro com “Ovo”, exibido em 2007 na Quinzena dos Realizadores de Cannes (e, por cá, na primeira edição do Festival do Estoril), depois com “Leite”, que competiu em Veneza 2008 (o IndieLisboa mostrou-o em Portugal) e por fim com “Mel”, que agora chega às salas. “Mel” foi surpreendentemente premiado a ouro no Festival de Berlim do ano passado, que Werner Herzog presidiu. E deixamos uma questão meramente factual antes de avançarmos mais: quantos cineastas se podem orgulhar de ter apresentado três filmes consecutivos nos três festivais mais importantes do mundo? A trilogia em causa é pouco habitual. Há quatro anos, Kaplanoglu, que é também romancista, estava a trabalhar num texto sobre um rapaz que vivia com a mãe numa região rural, algures nas profundezas da Anatólia, num tempo de sonho e de lenda difícil de datar. Esse rapaz chamava-se Yusuf. Aos 18 anos, era um poeta promissor que começava a ensaiar os primeiros versos. Foi nessa altura, a meio do texto, que Kaplanoglu se perguntou: como será Yusuf com a idade de 40 anos? E o que terá sido ele em criança? “Num fim de semana”, disse o cineasta em Berlim, “decidi lançar-me para a trilogia. Comecei pela personagem adulta, pois senti-a mais próxima de mim. As suas inquietações podiam ser as minhas: donde venho, quem sou, para onde vou...”

Nascia “Ovo” e começava aqui uma trilogia contada da Kaplanoglu é um cineasta sensível que se dirige ao âmafrente para trás. Nesse filme de 2007, Yusuf é um homem go da natureza humana, para um cinema pictórico e maduro que deixa a grande cidade para voltar à sua aldeia contemplativo, solto das regras comuns da narrativa. É natal quando lhe morre a mãe. Em “Leite, Yusuf é um rapaz um devoto confesso da luz artificial, da película em 35 solitário da província que ajuda a mãe nos afazeres domés- mm, e trabalha com atores não profissionais (o miúdo ticos enquanto acaba o liceu, numa altura em que as suas deste filme, Bora Altas, é um achado), em longuíssimos primeiras obras de fim da adolescência começam a ver a planos-sequência. Estamos a falar de um cinema em luz do dia, em obscuras publicações literárias. Por fim, che- que a sensibilidade à luz (ou a influência - revelada pelo gamos a: “Mel”, o filme mais secreto dos três - talvez porque, cineasta em Berlim - da pintura de Vermeer) pode ser aqui, Yusuf é uma criança. Apesar desta lógica aparente, mais importante do que a definição de uma personanada é líquido nesta trilogia, que jamais nos dará os seus se- gem ou do que a explicação dos seus gestos. Aquilo que gredos de barato. É que, efetivamente, não estamos certos mais interessa a Kaplanoglu é a criação de um hino à beque o Yusuf de “Ovo”, de “Leite” e de “Mel” sejam exatamen- leza da natureza e da criação, toda uma cosmogonia de te a mesma personagem em três fases diferentes da vida. imagens e sons a priori inatacável e em que a ação das Digamos que se tratam antes de três variações poéticas palavras é com frequência interdita. sobre a mesma figura, provavelmente baseadas na biograMas bastará tudo isto para fazer um grande filme? Se o fia ou em memórias pessoais do realizador. Em “Mel”, Yusuf tem apenas 6 anos. Acabou de entrar na cinema de Kaplanoglu é solene e impõe respeito, resulescola, está a aprender a ler, mas enfrenta alguns proble- tando invariavelmente em planos de uma beleza arrebamas de gaguez. Mais importante do que isso: Yusuf tem um tadora (esperamos que a qualidade da cópia de 35mm a pai que é apicultor e do qual pouco ou nada se sabia nos exibir assim o comprove), não deixa contudo de levantar filmes anteriores. No primeiro plano do filme, o pai sobe a problemas. É que “Mel”, um filme sobre a infância e a dor uma árvore para recolher o mel de uma colmeia, segundo da perda paterna, viagem simbólica à inocência e às orium método tradicional, já em desuso. É um trabalho de ris- gens da Humanidade, é de tal modo controlado ao milíco. O mel, neste filme, é de certa forma uma metáfora da metro, de tal modo compenetrado na composição dos natureza e do espírito da floresta, como o milagre da vida, seus elementos, que nos deixa a sensação do ‘belo pelo que se produz a si próprio e sem explicação. Acontece que belo’, de um filme deslumbrado pelo seu próprio gesto o ramo da árvore à qual o pai de Yusuf lança a sua corda estético. O talento cinematográfico existe, mas será que ameaça quebrar-se, deixando-o suspenso entre a vida e a ele não está sempre a correr o risco de se sufocar a si prómorte. O que vem depois é um longo flashback, narrado a prio? Resta-nos um filme bonito - talvez até em demasia. partir do universo interior da criança (o mundo é visto pe- Para ver - definitivamente - e para dividir. los seus olhos), sobre o percurso da sua aprendizagem. Até que Yusuf descubra que a morte de um pai, afinal, não é o Francisco Ferreira, Expresso, 26.03.2011 fim do mundo, somente uma etapa decisiva da existência. Texto escrito segundo o novo acordo ortográfico.

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estudo

QUE NOS DIZEM AS IMAGENS QUE VÊeM OS NOSSOS ALUNOS? Uma reflexão sobre as imagens que os professores de EVT mostram aos seus alunos. © Ricardo Reis Professor de EVT | Universidade de Barcelona ricardoreis@apecv.pt

Porque é importante saber que imagens foram mostradas aos alunos? As imagens são estímulos poderosos para a mente humana. Isso mesmo foi reconhecido e utilizado como instrumento de persuasão e di spositivo de poder muito antes da invenção dos meios de comunicação de massas. As imagens estão por toda a parte mas não aparecem simplesmente, são produzidas em diferentes contextos históricos, institucionais e discursivos (Hernández, 2010: 48) com vista a atingir determinados objectivos, logo não são inócuas. Nos tempos mais recentes temos assistido em Portugal, embora com menos pujança que noutros países, a uma proliferação das publicações sobre arte dirigidas às crianças Imagem 1 . São essencialmente livros que pretendem sensibilizar e instruir as crianças para os grandes mestres da arte, para a história da arte, ou para as colecções dos museus. Veja-se por exemplo as cada vez maiores secções de livros infantis nas livrarias e nas lojas dos museus, também cheias de objectos “artísticos” prontos a levar para casa pelos seus milhares de visitantes. E tudo isso porque a imagem tem uma primazia absoluta em matéria de aprendizagem, pois tem o poder da activação da atenção e das emoções do observador, sendo usada como meio de incorporação de conceitos (Costa, 2006: 157-8).

temos assistido (...) a uma proliferação das publicações sobre arte dirigidas às crianças (...) E tudo isso porque a imagem tem uma primazia absoluta em matéria de aprendizagem

literacia visual: evolução e perspectivas Aquilo que se ensina e aprende na escola tem mudado ao longo dos tempos e as competências que se encaixam no conceito de literacia visual têm evoluído, pelo que podemos identificar três principais momentos nessa evolução: i) a literacia em artes como codificação e descodificação das notações simbólicas; ii) a literacia em artes como resposta às obras de arte; iii) a literacia em artes como consequência do fazer, criar, como resposta e como reflexão em relação aos objectivos, processos e contextos da arte (Hong cit. por Reis, 2009: 319). O conceito de literacia visual, apesar de ter aparecido nos EUA no final dos anos 60, é relativamente recente em Portugal, aparece em 2001 com a publicação das Competências Essenciais�, pois até aí o conceito de literacia estava unicamente ligado à capacidade de ler e escrever. A definição apresentada é próxima da perspectiva das multiliteracias (The New London Group, 1996), pois encerra em si três áreas de competência no campo das artes: a comunicação, que se relaciona com a capacidade de ler e escrever nas diferentes linguagens das diferentes formas artísticas; a criação, que se relaciona com a capacidade de usar, com sentido e de forma crítica e criativa, os sinais e símbolos associados a cada

Imagem 1. Capas de alguns livros de arte para crianças publicados em Portugal

uma das linguagens; e a compreensão, que se relaciona com a capacidade de entender as obras de arte nas diferentes dimensões do seu contexto. No entanto a definição do conceito e o que ele implica varia consoante a perspectiva sobre a qual se olha. Fernando Hernández (2007: 22), por exemplo, assinala que adquirir literacia visual deve permitir aos alunos analisar, interpretar, avaliar e criar, a partir das relações estabelecidas entre saberes que circulam pelos “textos” orais, auditivos, visuais, escritos, corporais e, em especial, aqueles vinculados às imagens que saturam as representações mediadas pela tecnologia nas sociedades contemporâneas. 1

A direccionalidade das imagens O conceito de direccionalidade deriva dos estudos fílmicos, onde se colocava sempre a pergunta “quem pensa este filme que és tu?”. O conceito de direccionalidade nunca antes tinha sido associado à pedagogia, até Elisa1  Não posso deixar de assinalar a polémica que existe em volta da própria designação (não tanto em volta do conceito) de literacia visual. Essa polémica baseia especialmente na perspectiva de que a palavra literacia (que se funda na ideia de ler) não deverá aparecer associada à palavra visual, pois as imagens não se lêem, vêem-se! Esta é uma discussão bastante interessante e tratada detalhadamente por Elkins (2003; 2008) mas a qual não cabe tratar neste trabalho, embora não a queira deixar passar em claro.

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beth Ellsworth o ter feito no seu livro Teaching positions, de 1997. Aplicar o conceito de direccionalidade ao terreno da pedagogia permite dar visibilidade e problematizar o modo como todo o currículo convida os seus usuários a adoptar posições particulares dentro das relações de conhecimento, poder e desejo (Ellsworth, 2005: 12). Aplicar este conceito às imagens, e à pedagogia das imagens em particular, permite-nos perguntar: quem pensa esta imagem que és tu? A pergunta colocada deste modo pretende indagar sobre como funcionam as dinâmicas de posicionamento no visionamento das imagens: em que lugar te coloca a imagem? Quem se dirige a ti nesta imagem para que te sintas implicado com ela? O lugar que te é designado altera o modo como vês e utilizas a imagem? (Ellsworth, 2005; Hernández, 2010). Penso que estas perguntas ajudam o professor a tornar mais claro para si próprio que as imagens que mostramos, e como as mostramos, têm mais influência nos alunos do que à partida poderíamos supor. 2

2  Para que se tenha uma ideia mais clara sobre a importância que Ellsworth (Ibidem: 14) atribui aos efeitos da direccionalidade na escola afirma que se tornou professora porque as raparigas não chegam a ser astrónomas, ou seja, ela considera que a escola lhe designou uma “direcção” simplesmente porque é rapariga e dá vários exemplos sobre isso no seu livro.


Que imagens os professores de EVT partilharam comigo e o que interpretei quando olhei? Ao olhar para as centenas de imagens recolhidas optei por não fazer uma análise estatística das respostas mas sim uma análise qualitativa, pois considero que este tipo de análise permite olhar para além da tirania dos números, olhar com o objectivo de compreender mais do que quantificar. Deste modo criei algumas categorias que pretendem colocar em evidência as concepções de literacia visual que os professores têm, sendo possível vinculá-las com alguns referentes. A visão mediada A grande maioria das respostas revela que as imagens são quase sempre projectadas com um videoprojector e raramente se privilegia o contacto directo, ou não mediado, com o mundo, fruto do acesso à tecnologia e crescente capacitação para a usar. Este modo de visualização traz grandes vantagens para o professor pois apresenta as imagens em grandes dimensões, conseguindo assim prender a atenção dos alunos. No entanto há que ter em atenção que as representações visuais (visão mediada) diferem das percepções do natural (visão não mediada) porque são modos de comunicação intencional, codificados, e porque são a representação de algo, não a coisa em si (Walker & Chaplin, 2002: 42). Este tipo de visualização mediado pela tecnologia não é novo nem é desconhecido dos alunos, pois estão habituados a ver televisão e a visualizar imagens no computador. O que me parece novo nestes resultados é a utilização massiva destes meios na escola, levando a que estas simulações se tornem omnipresentes e se introduzam cada vez mais na nossa experiência de realidade (Walker & Chaplin, 2002: 43).

Imagem 2. Imagem mostrada aos alunos para estudo dos elementos da forma.

As imagens de arte e o predomínio da pintura Verifico com frequência que as obras de arte são apresentadas aos alunos numa É inegável que os professores mostram muitas imagens de obras de arte aos seus perspectiva contextualista e não essencialista, pois são privilegiados os valores exalunos. A maioria das imagens enviadas documenta isso mesmo, o que parece corro- trínsecos e utilitários da arte (Rocha, 2001). É o que parece acontecer com a recorborar a ideia de Duncum (cit. por Reis, 2009) de que as artes visuais se tornaram um rente escolha de obras que os professores encaixam na categoria “geometria na lugar-comum residindo a sua especial importância na sua ubiquidade. No entanto, arte”. São obras que apresentam pontos, linhas e formas básicas como quadrados, verifico que as obras escolhidas encaixam essencialmente nos cânones da História rectângulos, triângulos e círculos Imagem 3 . da Arte, sendo normal que a mesma obra seja enviada por diferentes professores de Tendo em conta as imagens que me foram enviadas, penso não ser abusivo afirmar que diferentes lugares, ou seja, obras de artistas que alcançaram notoriedade e reconhe- a concepção de Educação Artística predominante está orientada para “o conhecimencimento. A maioria das obras apresentadas é da época moderna e pertence à cha- to das artes em vez de usar as artes para aumentar o conhecimento” (Agirre, 2010: 39). mada “arte europeia”. Verifico também que há maior tendência para mostrar pintura aos alunos do que qualquer outra forma de arte ou cultura visual. Também os ma- A “reprodução do aborrecido” e o legado dos Trabalhos Manuais nuais escolares parecem optar por fazer uma selecção idêntica, pois verifica-se que Os professores parecem reproduzir de forma imediata as metodologias de trabalho apresentam a pintura como forma de arte privilegiada (Ribeiro, 2005) . Deste modo, com as quais eles mesmo foram formados, fazendo aquilo a que Acaso (2009: 16) parece estar esbatida a ideia Expressionista de preservar as crianças das obras de chama a reprodução do aborrecido, pois continuam a ser propostas aos alunos actiarte e da história da arte (Agirre, 2010: 37), tendo em conta a presença cada vez maior vidades como a capa e a sua identificação Imagem 4 , ou seja, as mesmas propostas que eu tive enquanto aluno há mais de duas décadas atrás. deste tipo de imagens na vida das crianças. Além dos artistas “incontornáveis” da história da arte europeia há também referências Outro tipo de actividade bastante recorrente é a elaboração de objectos utilitários, sea obras de artistas portugueses, na sua maioria autores do séc. XIX e XX, tais como guindo um modelo predefinido, dado pelo professor, que garante a qualidade do produSarah Afonso, Nadir Afonso, Eduardo Viana, mas também a artista contemporânea to final. Este modo de fazer tem a sua génese nos antigos trabalhos manuais educativos onde se dizia ser importante dar aos alunos as regras e os preceitos mais próprios para Joana Vasconcelos. A utilização de obras de arte essencialmente figurativas ou, quando abstractas, ge- realizar as tarefas com perfeição e facilidade, com arte e ciência (Lima, 1932). ométricas, parece basear-se na ideia de que as crianças são seres inocentes e detentores de pouco conhecimento, capazes apenas de entender estas obras destes Sobre o que não se fala artistas, com formas e cores básicas, como se estivesse a nascer um novo estilo de De um modo geral, as imagens enviadas denotam algo muito característico na cultura ocidental: a necessidade de manter as crianças à margem da vida real, tentando “arte para a infância” Agirre (2010: 38). preservá-las dos problemas sociais, das imagens violentas ou de cariz sexual. Agirre (2010: 38) chama a isso “temas açucarados”, pois deixamos que as crianças vivam O academismo das propostas de trabalho Parece haver um paradoxo entre as imagens que são escolhidas e as propostas de num mundo sem conflitos, onde tudo é felicidade, paz e bem-estar, ou seja, um muntrabalho que são sugeridas. As imagens parecem reportar-se a uma visão romântica do de fantasia, cor e alegria. Este não é um problema apenas estético mas, sobretudo, e simplista da infância enquanto as propostas de trabalho parecem indicar um retor- é um problema pedagógico que tem a sua origem na nossa própria concepção de no do academismo à escola, como se o objectivo neste nível de ensino fosse ensinar infância. É esta concepção romântica da infância, fundada por Rousseau e Locke no séc. XVII e consolidada durante o séc. XIX, que tem fundamentado em grande mediarte e formar artistas. Os dados fornecidos pelos professores indicam que grande parte das actividades da a resistência dos professores em tratar temas habitualmente associados à cultura são orientadas para conhecer a biografia do artista e as suas obras, fazer a cópia de visual, como as questões de género e raça, os estereótipos sociais, o prazer ou a rereproduções das obras dos artistas estudados, simular do seu modo de pintar ou re- presentação do corpo, por exemplo (Hernández, 2010). petir procedimentos puramente mecânicos como recortar ou pontilhar; respeitar os cânones de representação do rosto ou do corpo humano; ou estudar dos elementos da forma Imagem 2 . 1

1  Esta tese de Ângelo Ribeiro (2005) refere-se apenas aos manuais escolares de Educação Visual (3º ciclo) mas o rápido folhear de um conjunto de manuais escolares de EVT, ainda que sem uma estatística exacta, permite-me corroborar estas conclusões.

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Imagem 3. Algumas obras de arte enviadas pelos professores sobre o tema “A geometria na arte”. Obras de Kandinsky, Sónia Delaunay e Matisse

as obras de arte são apresentadas aos alunos numa perspectiva contextualista e não essencialista, pois são privilegiados os valores extrínsecos e utilitários da arte

Imagem 4. Projecto de uma capa a construir pelos alunos e modelos de letras em papel quadriculado

“O que podemos aprender a partir deste estudo?” Este estudo não deverá ser entendido isoladamente mas sim como parte de um conjunto de procedimentos de investigação integrados numa tese de doutoramento que tem por objectivo indagar sobre o papel da escola no desenvolvimento e valorização social da literacia visual. A tese será construída com base em três pontos de vista: os discursos do campo científico da Educação Artística; discursos Administrativos (Projectos Educativos dos Agrupamentos, currículos, documentos oficiais e legislação); e os discursos dos Sujeitos (Professores e Alunos). O estudo pretende recolher os discursos dos professores. Discursos que eles próprios produziram baseados na sua experiência educativa com as imagens, partilhando-os generosamente comigo. É bom ter a consciência de que a acção de um professor não é inócua. Cada imagem que escolhe, cada actividade que propõe, cada decisão que toma no decorrer da sua acção pedagógica está arreigada nas suas concepções sobre o que é a Educação Artística; sobre o que os seus alunos têm de aprender na sua disciplina; sobre o que é a Literacia Visual; sobre quem pensa que são os seus alunos , ainda que disso não esteja totalmente consciente. Com base nestes resultados, podemos celebrar a chegada das imagens de arte à escola. No entanto, o género da pintura domina essas imagens que os alunos vêem na escola esquecendo que, do ponto de vista educativo, uma instalação ou uma fotografia contemporânea podem ser tão formativas como uma pintura (Agirre, Ibidem: 39). De realçar também que as imagens da cultura visual, que inundam o quotidiano dos jovens, não são abordadas nas aulas, permitindo assim que as vivências e as aprendizagens realizadas pelos alunos fora do contexto escolar continue fora da escola, cavando ainda mais o fosso que separa o “dentro” e o “fora” da escola. As propostas de trabalho baseadas em análises formalistas de obras de arte, na aprendizagem de técnicas e sua reprodução mecânica, ou na reprodução de modelos estéticos tidos como “mais adequados” aos alunos assenta na ideia de formar aquilo a que Rogoff (2002) define de “bom olho”. O bom olho é aquele que é capaz de discernir, de analisar profundamente, ou seja, o olho do conhecedor que sabe gramática visual; distingue os elementos da forma; e conhece a história da arte, mas tem dificuldade em relacionar, em interpretar, em avaliar ou em criar. Parece-me que estes resultados apontam para possamos situar as concepções de literacia visual subjacentes à prática dos docentes, em perspectivas de educação artística orientadas para o estudo da história da arte, para a reprodução de objectos, para a aprendizagem de técnicas, ou para a preparação para o trabalho seguindo determinados procedimentos específicos. Espero que este estudo seja um contributo para uma reflexão séria e profunda sobre as disciplinas da área das artes visuais no currículo do Ensino Básico, sobre os conteúdos e sobre as práticas, mas também ­– e não menos importante ­– sobre que jovens queremos na nossa sociedade e sobre o nosso papel como professores no seu percurso de vida.

Bibliografia Acaso, M. (2009). La educación artística no son manualidades: nuevas prácticas en la enseñanza de las artes y la cultura visual (p. 240). Catarata. Agirre, I. (2010). Sobre los usos del arte en la escuela infantil. In R. G. Vida, M. Á. M. Viana, & C. G. Castro (Eds.), I Congreso Internacional “Arte, Ilustración y Cultura Visual en Educación Infantil y Primaria: construcción de identidades” (pp. 35-45). Granada: Universidade de Granada. Departamento de Educação Básica. (2001). Curriculo Nacional do Ensino Básico: Competências Essenciais. Lisboa: Ministério da Educação. Elkins, J. (2003). Visual studies: a skeptical introduction (p. 230). Routledge. Retrieved from http://books. google.com/books?id=rj17dl8IGvUC&pgis=1 Elkins, J. (2008). Visual literacy (p. 217). London: Routledge. Ellsworth, E. (2005). Posiciones en la enseñanza: diferencia, pedagogía y el poder de la direccionalidad. Madrid: Akal. Hernández, F. (2007). Espigador@s de la Cultura Visual: otra narrativa para la educación de las artes visuales (p. 125). Barcelona: Octaedro. Hernández, F. (2010). Direccionalidad y análisis dialógico-performativo frente a los discursos sobre la infancia. In R. G. Vida, M. Á. M. Viana, & C. G. Castro (Eds.), I Congreso Internacional “Arte, Ilustración y Cultura Visual en Educación Infantil y Primaria: construcción de identidades” (pp. 47-59). Granada: Universidade de Granada. Lima, A. (1932). Metodologia (Vol. II). Lisboa: Livraria Ferin. Reis, R. (2009). The Literacy in Visual Arts: A view about Elementary School Curriculum in Portugal. International Journal of the Arts in Society, 4(1), 317-328. Retrieved from http://ija.cgpublisher.com/ product/pub.85/prod.390 Ribeiro, Â. (2005). A imagem da imagem da obra de arte no uso dos manuais de Educação Visual. Dados. Universidade do Minho. Retrieved from http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/3961 Rocha, M. M. da S. (2001). Educação em arte - concepções e práticas: um estudo sobre o acto educativo de professores do 2o ciclo do ensino básico. Universidade Nova de Lisboa. Retrieved from http://run.unl.pt/ bitstream/10362/325/1/rocha_2001.pdf Rogoff, I. (2002). Studying Visual Culture. In N. Mirzoeff (Ed.), The Visual Culture Reader (2nd ed.). London: Routledge. The New London Group. (1996). A Pedagogy of Multiliteracies: Designing Social Futures. Harvard Educational Review, 66(1), 60-92. Retrieved from http://wwwstatic.kern.org/filer/ blogWrite44ManilaWebsite/paul/articles/A_Pedagogy_of_Multiliteracies_Designing_Social_Futures.htm Walker, S., & Chaplin, J. A. (2002). Una introducción a la cultura visual (1st ed.). Barcelona: Ediciones Octaedro - EUB.

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what’s up ccv ? espaço de informação da actividade do cine clube de viseu

Parceria entre o Cine Clube de Viseu e a Fundação Lapa do Lobo

Financiamento plurianual do projecto Cinema para as Escolas

O Cine Clube de Viseu e a Fundação Lapa do Lobo ini- A Secretaria de Estado da Cultura e o Instituto do Ciciam no mês de Setembro uma colaboração que incide nema e Audiovisual definiram a atribuição de financiaem duas áreas complementares: a exibição cinemato- mento plurianual a nove projectos de sensibilização e gráfica e a formação de novos públicos. formação de públicos para o cinema e audiovisual. Esta A 24 de Setembro terão inicio as sessões de cinema, com medida, há muito reivindicada pelos promotores dos vista a enriquecer as possibilidades de fruição cultural projectos, beneficia a estabilidade e continuidade dos e artística que a actividade da Fundação Lapa do Lobo programas de actividades, e desta forma deve optimiproporciona ao público, e a sugerir a descoberta ou re- zar os seus resultados. No caso específico do projecto encontro com grandes filmes, num contexto particular. Cinema para as Escolas, realizado pelo CCV desde 1999, Situada na freguesia de Lapa do Lobo, em Canas de Se- o financiamento sofreu uma redução próxima dos 20%, nhorim, a actividade pedagógica, artística e social desta comparativamente com 2010, fixando-se agora nos fundação constitui uma referência local incontornável. 16.500 euros / ano. Entre outras considerações, o Júri As sessões de cinema terão em conta, além da impor- responsável pela avaliação dos projectos valorizou “os tância artística, histórica e social dos filmes, os possíveis êxitos comprovados, não só audiência/participação enquadramentos com os diversos projectos da Funda- como de reconhecimento público (presença em fesção ou mesmo as épocas e datas de especial relevância tivais nacionais e internacionais, com varias menções para a comunidade. honrosas); a produção de fichas de análise dos filmes As sessões realizam-se no último sábado de cada mês, com muita informação e boa apresentação gráfica, inà excepção dos meses de Novembro a Fevereiro, em cluindo propostas de análise adequadas a cada escalão que têm lugar ao Domingo. etário (…)” do projecto Cinema para as Escolas. “Ainda Em Novembro, serão as escolas de Nelas, Carregal do que sobretudo vocacionado para alunos do ensino báSal e Canas de Senhorim a beneficiar desta colabora- sico, tem acções específicas para outros níveis (secunção. Neste caso, com as sessões do projecto Pequeno dário, superior, publico em geral, ... ). Para o triénio, prevê Cinema, ao longo do ano lectivo 2011-2012, que incluem um painel de formadores com competências nas áreas projecções de curtas-metragens de diferentes épocas do cinema (designadamente de animação), pedagogia, e estilos, devidamente enquadradas através da realiza- artes plásticas, cenografia, marionetas, teatro, etc ...”. ção de exercícios de exploração. O projecto Pequeno Cinema, apoiado financeiramente pelo Instituto do Cinema e Audiovisual, teve início em 2010 e destina-se ao pré-escolar e 1º ciclo.

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Rua de Santa Catarina, 30 3525-625 Lapa do Lobo 232 671 084

as férias do sr. hulot Les Vacances de Monsieur Hulot de Jacques Tati, França, 1953 84 min.

Clássico absoluto do cinema francês, um filme sobre um invulgar veraneante na costa atlântica francesa.

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último fim-se-semana de

Setembro sáb _ 21h30

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FILMES VENCEDORES Festival dedicado aos filmes realizados na região de Viseu, por autores da região ou sobre temas da região.

Uma palavra da organização: Em 2010 nasceu o VISTACURTA, para em 2011 se refazer num primeiro ano assumido por inteiro. O Festival de Curtas de Viseu mereceu tudo quanto lhe pudémos dar e cumpre o objectivo de tentar contribuir para a construção (primeiro) e consolidação (a prazo) de um verdadeiro sector cultural e criativo, em meio a uma região (a de um Viseu maior que o seu Distrito) que tantas e tão grandes valências possui. O audiovisual é um dos futuros desse sector e os seus agentes primários, autores das obras que dão corpo ao VISTACURTA, são quem, em particular motiva certas continuidades. A Projecto Património / EMPÓRIO e o Cine Clube de Viseu, co-organizadores desta aventura colectiva, cumprindo as suas missões e as suas visões, agradecem a todos quantos a tornam possível.

MELHOR FILME vistacurta

Maybe

de Pedro Resende Uma obra que concilia uma competência técnica e uma precisão narrativa invulgares. Um filme notável, sob qualquer ponto de vista e em qualquer circunstância.

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JÚRI VISTACURTA 2011 Luis Nogueira (Presidente) Dalila Rodrigues josé Fernandes


MENÇÕES HONROSAS MELHOR DOCUMENTÁRIO

Tipografia Minerva da Beira

de Luís Belo Um filme que assume e prolonga uma longa tradição cinematográfica de atenção ao tempo, às coisas e, sobretudo, às pessoas.

FICÇÃO

MELHOR ANIMAÇÃO

João Torto

de Yann Thual Um filme surpreendente que usa a abstracção experimental em vez da figuração narrativa e o discurso infantil em vez do historiográfico para apresentar um retrato de João Torto.

O Desaparecimento do Sr. Constâncio

de Ana Seia de Matos Porque alia a comoção e a ousadia, recobrindo a narrativa com um toque de experimentação.

MELHOR FILME EXPERIMENTAL

Suburbia

de José Crúzio Uma ideia simples mas com grandes implicações, e que demonstra que as maiores inquietações podem surgir das mais prosaicas imagens.

MELHOR FILME ESCOLAR – PRÉMIO INSTITUTO PIAget

Book domination

Colectivo (1º turno da oficina de multimédia do 12ºQ ESAM) Um exercício de stop-motion que valoriza o contexto pedagógico em que foi criado na mesma medida em que o supera.

ANIMAÇÃO

Brincarolas

de Graça Gomes Porque domina bem os ritmos narrativos e possui um visual lúdico e apelativo, revelando ainda uma boa competência técnica.

MELHOR FILME SUB«21 – PRÉMIO MOVIJOVEM

PRÉMIO DO PÚBLICO - SAPO

Linha da Vida

À flor da Pele

de Mafalda Matias Um pequeno filme que demonstra que a sabedoria se pode vislumbrar numa metáfora muito singela, e em qualquer idade.

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de Miguel Castilho, 2011 (Viseu), 24’’ Atribuído à curta que, estando em exibição na plataforma online (videos.sapo.pt/ccv) registe maior número de votos.


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