7ª edição - Maio/2011 Revista digital de cinema da Jornalismo Júnior
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
Coco depois de Chanel TOP 10: os melhores looks de Hollywood
Os realities da modaZuzu Angel e Audrey Hepburn -
editorial
Fim de temporada
D
epois de o tema desta edição ter sido escolhido, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: “por que não pensamos em moda antes?”. Não só há tantos filmes sobre moda, como também a moda roubou a cena em muitos filmes. Sem contar que o figurino é uma peça importante nessas produções, já que ele pode, por exemplo, revelar a personalidade dos personagens. Além disso, quem não gosta de comentar sobre as roupas dos filmes depois de sair do cinema? Há mais uma característica que marca esta edição em particular. É a última realizada pelo grupo que faz a revista desde a 2ª edição (junho/2010). Como a Cinéfilos funciona dentro da lógica da empresa júnior, os diretores e as equipes mudam todo ano. A nova gestão da Jornalismo Júnior já está formada. Assim, eu me despeço do Cinéfilos como editora e dou as boas-vindas às equipes que virão. Garanto que todos os próximos integrantes vão gostar muito da experiência nesse projeto. Aguardarei ansiosamente pelas próximas edições, pois serei sempre uma fã do Cinéfilos. Boa leitura! Patrícia Chemin
Cinéfilos Revista Digital 7ª Edição Maio/2011 Equipe
Editora: Patrícia Chemin Repórteres: Beatriz Montesanti, Carolina Vellei, Jéssica Stuque, Juliana Santos, Paulo Fávari, Rafael Aloi, Rafaela Carvalho e Rafaella Peralta
Diagramação e edição de arte:
Ana Carolina Marques, Anna Carolina Papp, Lucas Rodrigues, Meire Kusumoto e Paula Zogbi O Cinéfilos é um projeto da Jornalismo Júnior | Empresa Júnior de Jornalismo ECA/USP Presidente: Paula Zogbi Vice-presidente: Meire Kusumoto
it c i ĂŠf
D e am
d Ma
indice
OT Pes rabal ade ho d los o de s Dua s
Gar
ota
Am oda pro com tes o to
o d a
s
o x i l
h n i u
q
e n o
B
s i o p e l d o Cocchane de
Do
tr
Os loo me ks lho de res Ho lly wo
as
ha
op
op
od
A mo
da n
o pa
reda
o
uxo l e d s o h n i d Vesti
´
fazendo historia
Madame DĂŠficit
E
princesa britânica Kate Middleton. Mas voltando ao século XVIII, quando as roupas e as fofocas eram mais suntuosas, as gigantescas despesas com joias, sapatos e tecidos valeram à austríaca o apelido que vai ao título, além de um livro séculos mais tarde. “Rainha da Moda”, escrito pela historiadora Caroline Weber e publicado em 2006, conta como a madame déficit trouxe de Paris Rose Bertin – estilista, costureira e fashion designer oficial da donzela – e Leonard – cabeleireiro responsável pelas obras capilares tridimensionais. A história toda também valeu um dos filmes mais sensíveis e esteticamente bem produzidos de Sofia Coppola, Maria Antonieta (Marie Antoinette, EUA, França, 2006). Com um orçamento hollywoodiano digno de revolução francesa, a figurinista italiana Milena Canonero conquistou o Oscar, o Satellite Awards e o BAFTA de melhor guarda-roupa. Entre os demais prêmios levados pelo longa, estão o BAFTA de melhor maquiagem e cabelo para Jean-Luc Russier e Desiree Corridoni, melhor design de produção para K.K. Barrett e Véronique Melery, que também levaram o Satellite Awards da categoria. Maria Antonieta morreu guilhotinada pela furiosa população que teve o pão trocado por pó de cabelo (não para eles próprios, evidentemente). A esse tempo, a cabeleira loura já estava esbranquiçada, a face cansada e retraída e o espírito dilacerado como o de alguém que vê o sangue da família despedaçada escorrer pelo vestido. c
´
stá nos livros didáticos de história, aqueles do fundo da gaveta, guardados por precaução: em 1789, às vésperas da Revolução Francesa, o Estado encontrava-se completamente falido. Falta de investimento na industrialização, atolamento na guerra de independência americana e, entre portentosos motivos políticos, os gastos da corte. No palácio de Versalhes, em meio a fontes de anjinho, glace, glamour e brioches, duques e duquesas desfilavam suas sapatilhas de presilhas, vestidos de tafetá e perucas espalhafatosas. A alta costura Clássica. Destoante do rebanho real, a jovem austríaca Maria Antonieta, levada à corte francesa aos 14 anos para esposar o pávido e débil herdeiro ao trono, futuro Luís XVI. Maria Antonieta fazia-se presente na rebuscada vida social francesa, com alguns metros a mais de cabelo, quadril e três quartos (o cômodo mesmo) de guarda-roupa. A opulência visual corresponderia à pompa e esplendor político: graças às inúmeras camadas sobrepostas de vestidos de linho, a rainha ganhava visibilidade e autoridade. A política dos excessivos gastos levianos, casamentos arranjados e requintes alimentícios é também, porque não, a política da moda. A indumentária é, definitivamente, instrumento político quando a imagem é tudo. Isso dito desnecessariamente em tempos nos quais os noticiários políticos despejam olhares e palavras no estilo ladylike de Michelle Obama, na trança embutida (feita na diagonal) de Marcela Temer e nas botas a altura do joelho da agora
fazendo historia
Beatriz Montesanti
LETRAS NA TELA
O TRABALHO DOS PESADELOS DE DUAS GAROTAS
~ Não pedi um vestido azul, pedi um vestido cerúleo!
THAT’S ALL!
Rafael Aloi
Florais? Na primavera?
L
auren Weisberger arranjou o emprego pelo qual milhões de garotas matariam: ela era assistente de Anna Wintour, editora da Vogue americana. Após sair deste emprego, que quase a matou, ela resolveu escrever o livro O Diabo Veste Prada, dando vida a Andrea Sachs. Só que desta vez Andy é assistente da lendária Miranda Priestley, editora da revista Runaway americana. O livro é fortemente baseado nessa experiência de Lauren. Algumas coisas foram obviamente alteradas: Anna Wintour virou Miranda Priestley, a Vogue virou a Runaway, e a editora Condé-Nast virou a Elias-Clark. Obviamente também, os episódios que se encontram tanto no li-
vro como no filme não existem de verdade. São ficcionais, baseados na personalidade e nos pedidos de Starbucks, almoços e outras coisas sem maiores explicações de Anna Wintour, que passou tudo isto para Miranda. Lauren apenas pegou um trabalho infernal e o transformou em uma história ágil e divertida, que logo se tornou um grande best-seller e rapidamente teve seus direitos vendidos para o cinema. Essa mesma história foi transformada novamente, ficou ainda mais ágil e mais visual e logo virou um grande sucesso de público - mas ambas versões mantêm o mesmo espírito leve. O livro não é nenhuma grande literatura, mas é uma maravilhosa diversão para as férias. A história principal é exatamente a mesma, mas o filme, como sempre, seleciona apenas as cenas mais marcantes e as mistura. No entanto, é o livro que consegue exprimir melhor a personalidade de cada personagem. Nes-
te, Emily não é aquela ajudante malvada que vemos no cinema, mas se mostra mais humana; ela e Andy se ajudam mutuamente contra a ira de Miranda. Ao mesmo tempo, no filme foi Miranda quem ganhou um aspecto mais humano, mais gentil, desde o momento em que contrata Andrea. A contratação é uma grande diferença, já que, na obra de Lauren, Andy é contratada diretamente pela Elias-Clark sem a presença de Priestley, que está viajando, e só conhece a nova assistente quase um mês depois. Que alívio para Andy. No filme é possível ver referências diversas ao livro. Logo no começo, Andrea tem que buscar algumas saias Calvin Klein, trabalho originalmente feito por todas as assistentes, que devem escolher diversas saias para enviar à Miranda durante sua viagem. E, como sempre, ela não especificou estilo, cor, tecido nem grife. As echarpes brancas Hermès, que são a marca de Miranda Priestley e as quais “ela usa independentemente de qualquer coisa”, também são uma constante no filme. O cinema torna a vida dos leigos na moda mais fácil, sem se atrapalhar com Jimmy Choo, Gucci, Prada, Versace, Fendi, Armani, Chanel, Barney’s, Chloé, Bergdorf, Roberto Cavalli, Alexander Mc-
Queen, Dolce & Gabbana e Saks. Pois mesmo que eles não saibam o que essas marcas significam, Está parecendo eles podem ver os moo Lacroix de julho, delitos e perceber a diferença estética quando precisa escolher os Andy começa a usá-las. A grande diferença acessórios corretos! entre os dois está no final. Andrea não sai simplesmente andando por Paris, deixa Miranda desamparada para trás e esta acaba por gostar da menina. No livro Andrea só foi para Paris por que Emily ficou doente, e não porque era a melhor assistente, apesar de que Miranda já deixasse aparentar isto. Miranda despediu Andrea em pleno desfile, após esta mandar a outra ir “se foder”. Óbvio que, após isso, Miranda destruiu a vida de Andy, que não conseguiu trabalhar em lugar algum, tendo que se unir a outra desafeta de sua ex-chefe para conseguir um novo emprego. O filme no geral é mais divertido do que o livro, com sua narrativa mais ágil e por ser um pouco mais moderno. Sem contar que o filme fez com que Meryl Streep se tornasse uma grande estrela para o público jovem, que em sua grande maioria não a conhecia, além de alavancar a carreira de Anne Hathaway. Mas o ponto a favor do livro é que nele Andrea termina com o namorado e não volta mais. Afinal, esse cara está no topo da lista dos namorados mais malas que já existiram. “That’s All”. c
LETRAS NA TELA
Este aqui está perfeito!
ca entre nos
A MODA
como protesto
Jéssica Stuque
M
oda e ditadura. Essas palavras não parecem ter sido criadas para serem postas lado a lado. Quando se pensa em moda, vêm a nossa mente roupas, acessórios, tendências, desfiles e muito glamour. Já a ditadura só nos remete ao AI-5, aos anos de censura, às vidas perdidas, aos regimes militares, aos protestos, ao Cálice (música de Chico Buarque que, na época, foi censurada). E quem iria imaginar que o mundo fashion iria se envolver na bebida amarga que foi a ditadura? Mesmo calada a boca resta o peito, o peito de Zuzu Angel. Filme dirigido por Sérgio Rezende, Zuzu Angel (Zuzu Angel, Brasil, 2006) é uma cinebiografia de uma estilista que impulsionou
a fama do Brasil na moda internacional. O filme, no entanto, não se foca no período de ascensão de Zuzu, nem fala de sua moda, mas mostra o drama vivido pela estilista mineira (Patrícia Pillar), cujo filho, Stuart Edgard Angel Jones (Daniel de Oliveira), desapareceu durante a ditadura militar. Tentando de todos os meios descobrir o paradeiro do filho, Zuzu passou a acreditar que tudo era uma farsa e ela, que até então não havia se envolvido com a ditadura, começa sua luta contra a mesma. Após descobrir que seu filho estava morto, descobrir tanta mentira, tanta força bruta, ela se empenha ainda mais em encontrar o corpo do filho e seus protestos aumentam. Ela organiza um des-
telespectador do início ao fim da trama, sem precisar apelar para a violência. E ainda que não se fale tanto da moda, ela empenhou um grande papel no filme e na vida da estilista. Geralmente, a moda acompanha o ritmo de seu tempo, ajuda a compreender o que estava acontecendo em determinado período. Mas no caso de Zuzu Angel, ela não apenas refletiu o momento histórico, mas se materializou como protesto, como a voz daqueles que queriam lançar um grito desumano, mas eram obrigados a ficar calados. c
Obs: Todas as partes em itálico correspondem a trechos da música Cálice, de Chico Buarque.
ca entre nos
file totalmente diferente, o uso de cores tropicais e materiais brasileiros não tiveram vez. Usou estampas de pássaros engaiolados, balas de canhão disparadas contra anjos, meninos aprisionados, pombas negras, crucifixos. Era o primeiro protesto brasileiro através da moda, que é uma maneira de ser escutado. Talvez o mundo não seja pequeno. E realmente não foi para Zuzu. Ela conseguiu angariar forças internacionais para fortificar os seus protestos. Apela ao senador norte-americano Edward Kennedy que, por sua vez, leva o caso ao Congresso dos Estados Unidos. O filme é forte e impactante e ao mesmo tempo mostra as fragilidades humanas. Além disso, tem uma harmonia que prende o
Bonequinha
vale a pena ver
no lixo Paulo Fávari
M
eados da década de 1960. Em uma festa, uma jovem socialite pede para ser apresentada a um jovem artista underground. Assim se encontram o criador e o que viria a ser sua criatura: Andy Warhol e Edith “Edie” Sedgwick. Assim começa Uma Garota Irresistível (Factory Girl, EUA, 2006), cinebiografia de Edie. O título em português, apesar de ter a ver, não elucida muito o que está por vir. Ela é irresistivel! Mas por quê? Para quem? Traduzindo o título original, Factory Girl, ao pé da letra temos uma noção melhor do que virá. Garota da Fábrica. Fábrica, com f maiúsculo mesmo. Assim era conhecido o famoso ateliê de Warhol, onde ele criava suas obras, promovia festas e mais: rodava seus filmes. Eram filmes B que estavam começando a ficar conhecidos no meio artístico novaiorquino. Então chegou Edie, que tomou conta da cena. Virou a “It Girl” de Warhol, a “Youthquaker” da Vogue, a desgraça de sua família. As relações dela com sua família, aliás, sempre foram conturbadas, o que deixa a personagem Edie
muito atraente dramaticamente falando. Seu pai, Fuzzy, a molestara quando criança; seu irmão suicidou-se após declarar-se gay e o pai não mais aceitá-lo como filho - no filme Edie conta que foi a única a chorar no seu velório. Em sua vida - se é que se pode dizer - particular, outro conflito: dedicar-se a Warhol, grande amigo e responsável pelo seu estrelato, ou a Bob Dylan, o grande amor de sua vida? Acabou optando pela primeira opção, o que acabou a levando à decadência - e ao uso excessivo de heroína após romper com Warhol e descobrir que Dylan havia se casado. A relação entre ela e Warhol já não era mais a mesma, ele ficara com muito ciúme de Dylan, seu oposto artístico. Curiosamente, o nome Bob Dylan não aparece em nenhum momento do filme. Uma Garota Irresistível é um longa a ser visto pela densidade da personagem de Edie. Mas também é uma boa pedida para amantes de pop art e para aqueles que querem sentir um pouco do clima de efervescência cultural dos anos 60 e 70 - só o trio parada-dura Edie-Warhol-Dylan já dá uma coceira de curiosidade em ver. c
principal
Paulo Fávari e Juliana Santos
O
nome Gabrielle pode não inspirar grandes exclamações. Mas quando se diz o apelido e o sobrenome desta francesa nascida no longínquo ano de 1883, tudo muda. Coco Chanel. A órfã de origem humilde, a chapeleira arrojada, a mulher independente em plena primeira metade do século XX, a criadora do pretinho básico, do Chanel nº5 e colaboradora nazista. Uma personagem e tanto para grandes romances e películas. Em Coco Antes de Chanel (Coco Avant Chanel, França, 2009), no entanto, a personagem é de certa forma esvaziada. A opção por tratar de seus anos antes da fama dá ares de melodrama a Coco. O filme conta a trajetória da órfã pobre que conhece alguns homens ricos, se envolve sexualmente e, apadrinhada por eles, consegue abrir seu próprio negócio. Termina com o primeiro desfile de sua grife - como que dizendo ao espectador “depois disso você sabe o que aconteceu”. Mas talvez não seja bem assim...
principal
Antes de Chanel Gabrielle nasceu em 1883, na comuna francesa de Saumur. Sua mãe faleceu muito cedo, deixando ela e seus quatro irmãos (dois meninos e duas meninas). Abandonada pelo pai, Gabrielle passou a infância num orfanato. Ela ganhou o apelido de Coco, que pode ser traduzido como “queridinha”, por volta de 1905, quando cantava em cafés com uma de suas irmãs. Como a carreira de cantora dava claros sinais de que não engrenaria, Coco decidiu entrar para o mundo da moda. Ela abriu sua primeira loja em 1910, em Paris, na rua Cambon, onde vendia chapéus. Os homens com os quais ela
se envolveu nesta época - ambos ricos -, o oficial da cavalaria Etienne Balsan e depois o militar Arthur ‘Boy’ Capel, ajudaram-na tanto a abrir a loja quanto a cooptar clientes. Mais tarde, devido ao sucesso que começava a fazer, ela abriu duas filiais, em Deauville e em Biarritz, e passou a confeccionar também roupas. O estilo imortal Até os anos 20 as roupas femininas eram marcadas pelos espartilhos, pelas múltiplas camadas de roupa e chapéus excêntricos. Além disso, a ostentação de jóias era muito bem vinda. Quanto mais acessórios, melhor. Quanto mais roupa, mais rica e mais fina era a mulher. Neste contexto surge Chanel, seguindo a tendência criada por Paul Poiret em abolir o espartilho. E indo adiante, estabelece como termômetro de requinte a simplicidade. As roupas femininas deveriam ser as mais confortáveis, dando às mulheres liberdade para se movimentarem - é o início do século XX, o jazz está em alta. Surgem os cortes retos e secos, inspirados em roupas masculinas. Chanel passa a usar o jersey em suas roupas por ser um tecido confortável. Estaria tudo ok, não fosse o uso que faziam deste tecido até então: ceroulas, cuecas e afins. É nesta época, em 1926, que Chanel cria o “pretinho básico”. “Coco quis desenvolver uma peça que fosse prática, podendo ser utilizada tanto para o dia quanto para noite, sem deixar de ser sexy”, afirma Cynthia Amâncio, jornalista, produtora de moda e estilista, que participou de editorial sobre Chanel. O modelo foi clicado para uma edição da revista Vogue e, desde então, a combinação de vestido de cortes simples com a cor preta se tornou referência de elegância. “O
O número Não foi com sua alta costura que Chanel tornou-se milionária. Seu sucesso financeiro se deu em outro departamento, o de perfumes. Criado em 1921, Chanel nº 5 é primeiro perfume do mundo a levar o nome de seu designer. Apesar de muitos atribuírem o número do perfume ao que seria seu número de sorte, o motivo da escolha é outro. Chanel encomendou a Ernest Beaux “um perfume com cheiro de mulher” e ele lhe entregou seis fragrâncias. Obviamente, ela gostou mais da quinta. “Chanel nº 5 foi o primeiro perfume famoso criado a partir de aldeídos (composto químico orgânico que desperta fortemente o olfato), e
também o primeiro a unir olfato e sedução”, explica Cynthia Amâncio. De início, o perfume era dado apenas às melhores clientes de sua loja de roupas. Mas logo acabou caindo nas graças de sua freguesia e se tornando carro chefe da marca, sendo por muito tempo o perfume mais caro do mundo. Em 1951 Marilyn Moroe, então garota-propaganda da marca, fez alvoroço em torno do perfume. Quando questionada por um jornalista sobre como se vestia para dormir, disparou “tudo o que uso para dormir são duas gotas de Chanel nº 5”. Oito anos depois, o frasco do perfume, estilo art déco, foi incorporado à coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York.
principal
que antes de Chanel era considerado luto, se tornou clássico e elegante”, conta a jornalista. A inspiração de Coco em peças do vestuário masculino levou a uma de suas maiores criações: as calças femininas. Cynthia explica de onde veio a ideia: “apaixonada por montar à cavalo, Coco desenvolveu essa peça para possibilitar maior liberdade às mulheres. Ela usava calça curta durante o dia e para as noites criou calças largas, que ficaram famosas após o uso da Marlene Dietrich em Hollywood em 1933” Além de Marlene, atrizes holliwoodianas como Audrey Hepburn, Gloria Swanson e Grace Kelly usaram roupas Chanel. “Vale a pena destacar as atuais: Keira Knightley, Cameron Diaz , Eva Mendes, Carey Mulligan e Drew Barrymore”, completa Cynthia. Chanel teve também participação no teatro e no cinema, tendo feito roupas para peças como Antigone (1923) e Oedipus Rex (1937) e diversos filmes, incluindo “A regra do jogo” ( La Regle de Jeu, 1939).
principal
Foi só um acidente... A fama de Chanel vai além de roupas e perfumes. Um dos cortes de cabelo mais célebres, e que apesar dos altos e baixos nunca sai completamente de moda é justamente o corte Chanel. Atualmente cheio de variações, o cabelo curtinho e prático foi criado quase sem querer. Segundo Cynthia, “estudiosos afirmam que o corte surgiu quando a estilista estava se arrumando para uma reunião no salão do hotel em que morava e seu secador estourou. Assim, ela cortou o cabelo rente à nuca para retirar o cabelo queimado”.
A movimentada vida amorosa Conforme suas roupas caiam no gosto das francesas - e das européias em geral - Chanel se tornava uma mulher cada vez mais importante na alta sociedade. Neste período, ela conheceu muitos artistas importantes, tais como Pablo Picasso, Luchino Visconti, Greta Garbo e o compositor Igor Stravinsky. Com este último ela viveu um não muito divulgado romance. Após a Revolução Russa e o término da Primeira Guerra Mundial, Stravinsky encontra-se pobre e exilado. Chanel acolhe ele, sua esposa Katarina e seus quatro filhos num gesto de hospitalidade, mas logo o envolvimento entre os dois
principal
se torna inevitável. Sobre esse romance proibido foi lançado em 2009 o filme Coco Chanel & Igor Stravinsky (Coco Chanel & Igor Stravinksy, França, 2009), de Jan Kounen, baseado em um livro de Chris Greenhalgh. Outro importante romance teve início em 1923, quando Coco conheceu o Duque de Westminster à bordo de seu iate. A duradoura relação chegou ao fim quando o duque a pediu em casamento: ao negar o pedido, Chanel explicou que “haveria vários duques de Westminster, mas apenas uma Coco Chanel”. Colaboração com o Nazismo A depressão econômica dos anos
30 havia afetado seus negócios, mas foi a eclosão da Segunda Guerra Mundial que a fez fechar de vez suas lojas. Coco acreditava que “não era um momento para a moda”. O filme Coco Antes de Chanel aborda a vida pessoal da estilista, mas faz questão de apagar completamente de sua história a questão da sua colaboração com o regime nazista. Segundo relatos, antes da ocorrência do conflito propriamente dito, Chanel já era considerada racista e simpatizante de ideias nazistas. Além disso, se aproveitando do antissemitismo reinante na França na época, Chanel tentou espoliar os irmãos Wertheiner, seus sócios.
principal
Durante a ocupação da França pelos alemães, Chanel ficou hospedada no hetel Ritz, considerado quartel-general dos alemães. Neste período, envolveu-se num affair com Hans Gunther von Dinck¬lage, oficial nazista enviado para preparar a invasão à França. Paralelamente, mantinha um contato estreito com o inglês Hugh Richard Arthur Grosvenor, o duque de Westminster e seu ex-amante, que, por sua vez, era próximo a Winston Churchill. Estava armado o cenário necessário para a operação Modelhut, palavra alemã que significa “chapéu da moda”, numa clara alusão a Chanel. A ideia era a de que Chanel funcionasse como facilitadora de relações entre o alto comando alemão e Churchill. O objetivo? Fazer com que os ingleses se juntassem à causa nazista.
O retorno a Paris Chanel retornou à França em 1954.
A situação encontrada não foi das melhores: o look de Christian Dior, que resolvera voltar a feminilizar as mulheres, estava em alta, e as roupas Chanel eram consideradas ultrapassadas. Mas a estilista não se deu por vencida, e com o lançamento de sua nova coleção, em 1958, ela voltou a conquistar as francesas. Além de seus conhecidos tailleurs, ela introduziu calças boca-de-sino e jaquetas de lã em estilo marinheiro (conhecidas como pea jackets). O cárdigã, os vestidos pretos e as pérolas tornaram-se seus símbolos. Em 1969 a história de sua vida seria transformada em um musical, chamado Coco, e estrelado na Broadway por Katharine Hepburn. Chanel faleceu em 1971, aos 88 anos - idade na qual ainda trabalhava em uma nova coleção. c
principal
Quando a guerra chegou ao fim e os nazistas foram derrotados, aqueles que agiram em favor deles foram punidos. As penas iam além do judicial: milhares de mulheres acusadas de envolvimento com os alemães tiveram as cabeças raspadas e foram exibidas nuas em praça pública. Chanel, por sua vez, não foi acusada, nem recebeu qualquer punição. Especula-se que isso se deva a sua relação com o duque de Westminster, que teria agido em seu favor às escondidas. Ainda assim, ela não escapou à opinião pública. Sua popularidade decrescente e o repúdio decorrente do fato de ter sido considerada “traidora de sua pátria” levaram-na a se “auto-exilar” na Suíça.
cine trash
p o p o a h s a r t do Carolina Vellei
N
em sempre um filme ruim é trash e, do mesmo modo, nem todo filme trash é ruim. Esse é o caso de The Rocky Horror Picture Show (Rocky Horror Picture Show, EUA, 1975). O filme é trash, mas é impossível não gostar dele. Desde o figurino, até as canções, em algum momento você será conquistado por esse musical. Lançado em 1975 na Inglaterra, o longa ficou por quatro anos seguidos em exibição. E virou uma febre. Até hoje ele ainda é relembrado. No final de 2010, a série norte-americana Glee exibiu no quinto episódio de sua segunda temporada uma homenagem à produção, encenando algumas de suas músicas no episódio chamando “The Rocky Horror Glee Show”. O filme nasceu trash, mas virou um ícone pop. O longa é uma sátira às ficções científicas. Uma boca gigante, com batom vermelho vivo aparece cantando
no começo do filme. Com um fundo todo preto, essa música começa a citar ícones da ficção científica em situações que os impossibilitariam de salvar o mundo. Para resolver isso, um enviado extraterrestre, no caso, o Dr. Frank-N-Furter (Tim Curry) construiria um androide, o Rocky Horror (Peter Hinwood). O Dr. Furter é introduzido na história depois que Brad (Barry Bostwick) e Janet (Susan Sarandon), um casal de noivos com o pneu furado em uma noite de chuva, acaba tendo que procurar ajuda no castelo assombrado do cientista. Jovens certinhos, de vestuário conservador, típicos do interior. O castelo até poderia ser do criador do Frankenstein, se no momento em que eles entrassem no salão de festa não fossem recepcionados por um irreverente e animado travesti e um bando de esquisitões de smoking dançando. O travesti em questão é o Dr. Furter e de cara eles vão conhecer sua criação, Rocky, um homem musculoso trajando em seu nascimento apenas cueca e botas douradas. O filme brinca com muitas fantasias gays e com o imaginário das ficções científicas. Por se tratar de um musical, as roupas são trocadas com bastante frequência e o figurino é sempre o mais inusitado. Além disso, o filme não dispensa as cenas trashes mais comuns: sangue falso, tripas para fora de um corpo, fumaça de gelo seco e outros efeitos especiais risíveis. Um clássico do cinema trash. c
Beatriz Montesanti, Paulo Fávari, Rafaela Carvalho e Rafaella Peralta
É
indiscutível a capacidade do cinema de lançar moda. Talvez você não saia por aí vestido de pirata ou com uma macacão amarelo gema colado ao corpo; mesmo assim, lembrará para sempre os figurinos que marcaram época pela criatividade, beleza e bom gosto. De delicado requinte do filme à peça de museu, aqui vão as roupas que saíram da moda pra entrar pra história da sétima arte.
top Io
Os 10 melhores looks do cinema
10 A fantástica
fábrica de chocolate Pó compacto, óculos de aros brancos, cabelo channel e cartola nunca combinaram tão bem. Ou melhor, nunca combinaram senão no excêntrico Willy Wonka (Johnny Depp) montado pelo ainda mais excêntrico Tim Burton. As luvas roxas e a bengala dão o toque final de esquisitice, cor e surrealismo. O figurino de Gabriella Pescucci é fantástico, embora não comestível.
Charlie and the Chocolate Factory, EUA, 2005
9
101 Dálmatas
Muito mais que um look de oncinha, um look de dálmatas. Cruela de Vil levou a crueldade ao auge da moda com a macia pele de filhotes da raça. Ambientalismos e bom-senso a parte, não se pode negar a classe de Glenn Close, que somou aos casacos de pele, luvas e colares de dentes caninos. O visual criado por Anthony Powell e Rosemary Burrows recebeu todas as atenções da versão liveaction da animação.
101 Dalmatians, EUA, 1996
8
O Diabo veste Prada
Quando Andrea Sachs, personagem de Anne Hathaway, começa a trabalhar na revista de moda Runaway, descobre que o Diabo, literalmente, veste Prada. Além da marca italiana, muitos outros nomes famosos da moda estão presentes nos figurinos de Andy e de sua diabólica chefe, Miranda Priestly (Meryl Streep). O filme conta com a participação do estilista Valentino e foi indicado ao Oscar de melhor figurino em 2007.
The Devil Wears Prada, EUA, 2006
7
Bonequinha de luxo
Audrey Hepburn é sinônimo de elegância. Em Bonequinha de Luxo, filme de 1961, a atriz desfila alguns modelitos clássicos. Um deles é um vestido preto da Givenchy, copiado por muitas mulheres até hoje. Em 2006, o item foi arrematado em um leilão por 850 mil dólares. Com a grana foram construídas escolas para crianças
6
James Bond
5
E o vento levou...
Ele não influenciou só os filmes de
A mais bem utilizada tapeçaria do
agentes especiais, ele trouxe glamour
cinema, com exceção do tapete mágico,
à classe. A combinação é perfeita:
era de veludo verde musgo, com
terno feito sob medida, calças combi-
mangas justas e um cinto de corda.
nando, sapatos lustrosos e um carrão
Usado por Scarlett O’Hara, no além-do-
super equipado. Quem imaginaria
clássico E o Vento Levou..., o vestido
um James Bond sem tudo isso? E
de cortina demorou 200 horas pra ser
em quem galãs dos filmes mais
feito. Junto com outros extravagantes
badalados nos prêmios mais chiques
vestidos da coleção do cineasta David
pensam quando se vestem? Bond,
O. Selznick, estava exposto até pouco
James Bond.
tempo no Centro Harry Ranson, no
carentes na Índia.
Texas, que agora busca verbas para a restauração da roupagem.
Breakfast at Tiffany’s, EUA, 1961
Quantum of Solace, EUA, 2008
Gone with the Wind, EUA, 1939
top io
4
Desejo e reparação
3
O pecado mora ao lado
O vestido longo de cetim verde
Uma das cenas mais marcantes da
usado por Keira Knightley em Desejo
história do cinema nunca poderia ser
e Reparação é certamente um dos
feita sem um certo vestido branco
destaques do filme. Tanto que, segundo
esvoaçante. A roupa de chiffon,
eleição realizada em 2008 pela InStyle
feita por Billy Travilla, foi usada com
Britânica, é o figurino mais bonito do
perfeição por ninguém menos que
cinema. O traje foi criado por Jaqueline
Marylin Monroe em O Pecado Mora ao
Durran, indicada ao Oscar em 2005 por
Lado. Artista e figurino tornaram-se
Orgulho e Preconceito. E está presente
um só, e hoje é impossível desas-
em uma dos momentos mais quentes
sociar a atriz do inquietante vestido.
do filme, no qual Cecília (Keira) e
Ou você costuma imaginar Marylin
Robbie (James McAvoy) protagonizam
Monroe de calça jeans?
uma cena de sexo na biblioteca.
Atonement, Inglaterra, 2007
The Seven Year Itch, EUA, 1995
top Io
2
Moulin Rouge
Os diamantes são os melhores amigos das mulheres. E também os sedutores vestidos vermelhos, os trajes orientais, góticos, hindus e os terninhos cor de creme. Os figurinos
1 Kill Bill Feita de lycra resistente ao fogo, o look mais ousado e marcante de todos os sanguinários das telas foi
desfilados pela bela Satine (Nicole
usado por Uma Thurman
Kidman) em Moulin Rouge, feitos por
em Kill Bill. O conjuntinho
Catherine Martin e Angus Strathie,
amarelo gema, composto
trocaram a fidelidade histórica pelo
por jaqueta de zíper, calça
glamour e vibração de outras divas no cinema. Assim, com pouca lã e muito choque, não levaram o Oscar, mas entraram para o nosso Top 10.
e espada samurai, permitia a agilidade necessária para trucidar centenas de japoneses. E com estilo.
Moulin Rouge, EUA, 2001
Kill Bill, EUA, 2003
´
Cinetcetera
A moda no paredão Carolina Vellei e Rafaela Carvalho
Q
uem disse que a moda vive só de semanas internacionais de desfiles, estilistas renomados e corpos esguios indo e voltando nas passarelas das mais famosas grifes? Além de também moldar figurinos do cinema, o ramo também é procurado por anônimos que buscam um espacinho nesse mercado cada vez mais seletivo. São aspirantes a estilistas e a modelos que não aparecem nas telonas, mas na televisão mesmo: nos reality shows de moda. Para mostrar o seu talento e ser o próximo Herchcovitch ou a próxima Gisele, é preciso dar a cara a tapa. Seriados como Project Runway, It MTV e Brazil’s Next Top Model ressaltam as dificuldades
de quem quer ganhar respeito em uma passarela – seja vestindo a modelo ou transformando-se nela. E, claro, se você não quiser ser estilista nem modelo e achar que tudo isso não faz diferença no seu dia-a-dia, fique esperto: sempre há chances de o Esquadrão da Moda bater à sua porta, te dar um banho de loja e mostrar que é possível ter um estilo que combine com você. Um dos programas de maior sucesso é o Brazil’s Next Top Model, reality inspirado na versão norte-americana que tem como apresentadora a modelo Tyra Banks. Em território tupiniquim, uma das principais juradas é a jornalista de moda Erika Palomino, que alega que o tempero do
Erika Palomino, jurada do Brazil’s Next Top Model
ela consegue ficar mais bonita”. O “tratamento de choque” é usado pelos apresentadores porque, segundo o diretor, “não é em um dia, nem em um mês que a cabeça de uma pessoa que se vestiu de maneira incorreta a vida inteira vai mudar”. O programa registra as mudanças de atitude dos participantes com o passar do tempo. Aldrin dá um exemplo: “a mulher se sente mais feliz quando veste uma roupa legal, diferente e se vê bonita”. Os 10 mil reais (sim, 10 mil reais para renovar o guarda-roupa!) são gastos com o participante tendo por base uma pesquisa que o programa faz sobre sua vida. “Quando escolhemos uma personagem, passamos um mês de pré-produção pesquisando sobre seus gostos para traçar um estilo e propor para a pessoa”, revela o diretor. c
Nem só de TV vivem os realities. Com a proposta de possibilitar a participação do público depois que o programa acaba, o It MTV fez uma parceria com a byMK, rede social pioneira sobre moda no Brasil. Flávio Pripas, sócio fundador, conta que o site democratiza o acesso das pessoas à moda. “Todos podem opinar e criar de acordo com seus gostos pessoais. Além disso, a rede social permite a comunicação direta com o programa, aproximando pessoas que antes estavam separadas por uma tela”, diz. A ideia de criar o byMK surgiu em 2008, quando Marcela (M) e Karin (K), esposas dos fundadores – Flávio Pripas e Renato Steinberg – pensaram em abrir uma loja de roupa. A internet foi uma saída econômica e, como já trabalhavam com tecnologia, os sócios desenvolveram um site onde o próprio usuário colaborasse com o conteúdo. “Percebemos que havíamos criado uma rede social de moda e que ela tinha potencial de fazer diferença para essa indústria”, conta Flávio.
´
“
Somos muito corretos e profissionais. As críticas não têm caráter pessoal”
Cinetcetera
o
programa é a variedade de estilos, além da experiência humana vivida pelas modelos. Para avaliar as candidatas que estão mais aptas a vencer o programa, Erika diz que não há receio de ser cruel com as jovens. “Somos muito corretos e profissionais. As críticas não têm caráter pessoal. Destacamos aquelas meninas que tem mais condições de reagir bem a essas situações e que se saem melhor nessas provas. Para os jurados e para o programa, é muito importante a candidata realmente ter condição de participar do mercado de trabalho, terminado o programa”, diz a jornalista. Outro sucesso mundial, o reality What Not to Wear da BBC chegou até o Brasil pelo SBT, que comprou os direitos para produzir o formato. Baseado no conceito de que se uma pessoa estiver munida de informação certa ela conseguirá se vestir melhor, o Esquadrão da Moda busca estimular a autoconfiança do participante. Aldrin Mazzei, diretor do reality, conta a razão para o seu sucesso: “a gente não muda a cara, nem o corpo de ninguém. Se uma pessoa tiver informação,
personagem
Vestidinhos de
Luxo
Juliana Santos
N
o início da manhã, um táxi para em frente à joalheria Tiffany’s. Dele sai uma mulher usando um vestido preto, colar de pérolas, cabelos presos e enfeitados com uma pequena tiara brilhante e óculos de sol bastante grandes para seu rosto. Ela tira um pão do pacotinho branco que trazia pendurado no braço e bebe um gole de café num copo de isopor enquanto observa a vitrine. A cena é do filme Bonequinha de luxo (Breakfast at Tiffany’s, EUA, 1961), no qual Audrey Hepburn representa um de seus mais célebres papéis: a garota de programa nova-iorquina Holly Golightly. Apesar dos figurinos mais “extravagantes” com que desfila no filme, como um vestido pink e um sobretudo vermelho, merecem destaque os “pretinhos básicos”. Acompanhado de pérolas ou de um imenso chapéu adornado com um lenço igualmente grande, o modelo ressalta o corpo esguio e a cintura fina da atriz. A atuação inesquecível na adap-
Sensibilizada, Audrey pediu desculpas ao estilista, e a partir daí grande amizade se inicia entre eles. Givenchy desenhou as roupas de Audrey em quase todos os filmes de Audrey depois disso, além do seu guarda-roupa pessoal. Em seu segundo casamento, com o italiano Andrea Dotti, ela usou um vestido de lã rosa e um lenço combinando, por Givenchy. Audrey é vista até hoje como ícone feminino, mas para os padrões dos anos 50, era considerada alta e magra demais, com pés e mãos muito grandes e seios pequenos. Seu sucesso marcou o início de uma mudança no conceito de beleza da época. Simples e elegante, seu estilo era marcado por calças capri, camisa social amarrada na frente e sapatilhas, em especial da marca Capezio, especialista em sapatilhas de ballet, que foram às ruas com a influência da atriz. Em 1988 Audrey deu início ao que consideraria seu mais importante trabalho: embaixadora da Unicef. Por cinco anos, ela viajou mais de 20 países, testemunhando e reportando a líderes mundiais condições extremas em que viviam crianças e sua luta pela sobrevivência. Falar fluentemente inglês, espanhol, italiano, francês e holandês ajudou-a nessa missão. Hepburn está entre poucas artistas a ganhar os 4 maiores prêmios artísticos norte-americanos: Tony (teatro), pela peça Ondine; Oscar (cinema), por A princesa e o plebeu; Grammy (música), prêmio póstumo pelo melhor álbum de histórias para crianças: Hepburn’s Enchanted Tales e Emmy (televisão), também póstumo, melhor performance individual num programa informativo por Gardens of the World. c
Hepburn ganhou os 4 maiores prêmios artísticos norteamericanos.
personagem
tação de Holly do romance de Truman Capote, assim como o estilo e sofisticação da personagem, se tornaram sinônimos da própria Audrey. Cinqüenta anos depois do lançamento do filme, ela permanece um ícone irrefutável tanto do cinema quando da moda. Essa imagem é tão comum para nós que é curioso pensar que o sonho de Audrey, na verdade, era ser bailarina. Nascida na Bélgica, Audrey foi estudar ballet na Inglaterra com cinco anos. Aos dez, com o início da II Guerra Mundial, mudou-se com a mãe para a Holanda, que seria invadida pela Alemanha, trazendo uma série de dificuldades para a infância da atriz. Ao fim da guerra, tinha 16 anos e sofria de anemia e má-nutrição. Anos depois, descobriria que, em conseqüência das privações sofridas, não poderia realizar seu sonho de dançar. Seu primeiro trabalho no cinema foi Monte Carlo Baby, de 1951. Mas foi em 1953, com A princesa e o plebeu (Roman Holiday, EUA) que se tornou conhecida. O filme foi indicado a dez Oscar e Audrey levou o de melhor atriz. No ano seguinte, estrelou Sabrina (Sabrina, EUA, 1954), dirigido por Billy Wilder. Nesta obra, releitura de Cinderela, tem destaque o vestido do baile, tomara-que-caia de cor clara, com bordados florais e uma ampla saia. Em cenas casuais, Audrey veste uma blusa de mangas longas preta, com decote em “v” nas costas, calça capri também preta, sapatilhas e brincos grandes. Os figurinos de Audrey no filme foram criados por ninguém menos que Hubert de Givenchy. Entretanto, quando Sabrina ganhou o Oscar de melhor figurino, Edith Head levou todo o crédito.