EUA (Cosmopolitan, First National, Warner Bros.) 119 min. P&B Idioma: ingles / francês
CAPITÃO BLOOD (1935) (CAPTAIN BLOOD)
Direção: Michael Curtiz
Uma aventura exuberante por excelência dirigida pelo especialista Michael Curti/,
1'ioduçào: Harry Joe Brown, Gordon
Capitão B/ood tornou o australiano Errol Flynn, com seu charme divino, um astro da
llollingshead.Hal B. Wallis
noite para o dia. Seu magnetismo animal impressionou enormemente Jack Warner, que
llotciro: Casey Robinson, baseado no
lhe deu o papel depois que Robert Donat o desdenhou. Este é o primeiro de uma série
llvio de Rafael Sabatini
de bem-sucedidos filmes românticos de capa e espada que Flynn fez em parceria com
Imografia: Ernest Haller, Hal Mohr Música: Erich Wolfgang Korngold, Liszt Elenco: Errol Flynn, Olivia de Hlvllland, Lionel Atwill, Basil K.itlibone, Ross Alexander, Guy
Olívia de Havllland, cuja beleza elegante era uma charmosa contrapartida à exuberân cia e ao sex appcal atlético dele. Flynn faz o papel de Peter Blood, um honrado médico irlandês do século XVII injustamente deportado para o Caribe, onde se torna escravo e lança comentários
Klhbi'i'. Henry Stephenson, Robert
insolentes c olhares sugestivos para a requintada Sra. de Havilland. Liderando uma
U.in.it. Hobart Cavanaugh, Donald
fuga, ele se torna um pirata, o vingativo justiceiro do alto-mar, e forma uma aliança
Meet. H'ssie Ralph, Forrester Harvey,
conturbada com o covarde bucaneiro francês Basil Rathbone. Os ânimos esquentam
11.ink MiGlynn Sr., Holmes Herbert, David Torrence
quando eles brigam por conta do butim e da bela prisioneira (de Havilland), o que resulta em um duelo até a morte na primeira de suas muitas empolgantes lutas de espada
Indicação ao Oscar: Harry Joe Brown,
nas telas. Copitòo B/ood tem tudo o que você pode querer de um filme de capa e espada:
(
Inn llollingshead, Hal B. Wallis
(
Mien filme), Michael Curtiz
batalhas no mar; lâminas cintilantes; um herói destemido; uma heroína em perigo,
(illii'lui). Casey Robinson (roteiro),
porém corajosa; gargantas cortadas; chapéus emplumados; equívocos solucionados;
l n i 1.1 orbstein (trilha sonora),
homens balançando em mastros como ginastas; e uma empolgante trilha composta
Nlthan I cvinson (efeitos sonoros)
por Erich Wolfgang Korngold. Superdlvertldo. AE
IUA (Ml,M) 132 m i n . P&B Direção: Frank Lloyd
•toduçlo: Albert Lewin, Irving Thalberg
0 GRANDE MOTIM
(1935)
(MUTINY ON THE BOUNTY) Sintetizando o espírito hollywoodiano clássico, O grande motim, de Frank Lloyd, é uma
Knti'iro: lalbot Jennings, Jules
obra-prima do cinema de estúdio. A cenografia suntuosa, o caráter de relato de viagem
11111 i i i r i a n , baseado n o livro de Charles
e a moral central resultam em uma aventura de extraordinária beleza. Obviamente,
N M I I I I K I I I & James Hall
para apreciar essas qualidades é preciso fazer vista grossa a um estilo de atuação há
Fotografia: Arthur Edeson
muito abandonado. E também ao fato de um elenco americano imbuir esta fábula
Mdllca: Herbert Stohart, Walter tm 111.11111. Gus Kahn, Branislau Kaper rlenco: Charles Laugbton, Clark Gable, I I.MH hol rone, Herbert Mundin, Eddie 11.111, Dudley Digges, Donald Crisp, I ii'tiiy S t e p h e n s o n , Francis Lister, '•piing Kyington, Movita, Mamo Clark, I'.VIIHI Russell, Percy Waram, David 1
IH
o
Oscar: Albert Lewin, Irving Thalberg
moralizante Inglesa de um otimismo típico da era da Grande Depressão. Ainda assim, essas críticas pontuais servem para sustentar quão bem produzido é o filme, levando em conta o estilo dos estúdios MGM, que almejavam ao mesmo tempo lucro, escapismo e entretenimento da forma mais abrangente possível. No fim do século XVIII, no auge do controle do Império Britânico sobre sua Marinha, a tripulação do navio Bounty se amotina depois de meses de maus-tratos. Liderados por Fletcher Christian (Clark Gable), eles jogam o cruel capitão Bllgh (Charles Laughton) no mar, porém ele consegue voltar para terra em um esforço nada menos que espetacu-
(MII-IIIUI filme)
lar. No seu encalço, o Bounty segue para o Pacífico Sul, perseguido por várias c o m -
Indicação ao Oscar: Frank Lloyd
plicações.
(diretor), Jules Furthman, Talbot Irnnings (roteiro), Clark Gable, 11.im hoi Tone, Charles Laughton (.ihn), Margaret Booth (edição), NatW. I Initon (trilha sonora)
Aqui, Gable aparece sem seu bigode, e os lábios carnudos de Laughton se agitam com rígida disciplina. Em meio a isso existe uma série de pequenas subtramas, embora o filme talvez seja mais memorável como um marco primordial para a arte do desenho de produção. C C - Q
UMA NOITE NA OPERA (1935) (A NIGHT AT THE OPERA) i a muito jovem, não tinha mais de 10 anos de idade, quando entrei em um cinema na França para assistir a Uma noite na ópera - ou, mais precisamente, fui levado por l l g u m adulto que sabia tão pouco quanto eu sobre os Irmãos Marx. Nessa idade, ler as iidas ainda era muito difícil para m i m , especialmente com aquele sujeito de bigode c charuto gritando palavras para a platéia como uma metralhadora enlouquecida. No entanto, tive muito pouco tempo para me preocupar com esse problema: logo eu (Stava deitado no chão, rindo tanto, de forma tão incontida e, se me permitem, tão nhsofuta que passei a maior parte do filme lá, entre os assentos. Desde então, tive o piazer de rever Uma noite na ópera diversas vezes, juntamente com o restante das obras
EUA(MGM)96min. P&B Idioma: inglês / italiano Direção: Sam Wood Produção: IrvingThalberg Roteiro: James Kelvin McCuInneSI, George S. Kaufman Fotografia: Merritt B. Gerstad Música: Nacio Herb Brown, w.ihei Jurmann, Bronislau Kapcr, H e r d e i i Stothart Elenco: Groucho Marx, Chico M.n • Harpo Marx, Kitty Carlisle, Allan
ilos Irmãos Marx. Tenho conhecimento tanto da cronologia quanto da diversidade de
Jones, Walter Woolf King, Slg Rumin,
'.eus filmes, e sempre fiquei impressionado com o grau de excelência de suas perfor-
Margaret Dumont, Edward Ke.uie,
mances. Porém ainda sinto - no meu íntimo e também na pele - a incrível força
Robert Emmett O'Connor
inventiva e transgressora que este filme em particular transmite. Uma noite na ópera continua sendo uma comédia poderosa e fascinante, não tanto por suas cenas principais, como a da multidão que se junta numa cabine de navio, quanto por seus momentos mais simples: uma única palavra ou gesto empregado com uma incrível noção de ritmo. Há muito a dizer sobre a maneira como as armas transgressoras dos três irmãos iniciam uma crise num espetáculo de ópera. O quarto Irmão, o escada Zeppo, é inútil nesse processo. Croucho, com sua avalanche de palavras econtor1 ionismo; Harpo, com seu silêncio sobrenatural e poder de destruição infantil: Chico, com sua virtuosidade e "ethos estrangeiro" - todos servem para tumultuar uma ópera baseada na repulsa à arte, à ganância e à corrupção. Esses elementos existem e são, sem dúvida, interessantes, porém eles ficam atrás da seguinte característica, mais óbvia: Uma noite na ópera foi, e continua sendo, um filme engraçadíssimo. J - M F
OS 39 DEGRAUS
Inglaterra (Gaumont British) 86 min.
(1935)
I'&B
(THE 39 STEPS)
Idioma: inglês
Após várias tentativas iniciais e alguns pequenos avanços, Os 39 degraus foi o primeiro
Direção: Alfred Hitchcock
exemplo claro de excelência criativa dentro do período inglês de Alfred Hitchcock,
i n . d m .10: Michael Balcon, Ivor Montagu
podendo ser considerado o primeiro filme completamente bem-sucedido de uma obra
Hoteiro: Charles Bennett, baseado no
que ganhava corpo com rapidez - tendo começado no fim da era muda, na época de Os
llvin dr John Buchan
39 degraus ele já havia dirigido 18 filmes. Depois de alcançar sucesso de bilheteria e de
•OtOgrafla: Bernard Knowles
critica, Hitchcock solidificou ainda mais sua reputação de mestre do cinema ao
Muvica: Jack Beaver, Hubert Bath
embarcar em uma série praticamente sem paralelos de thrillers cativantes e divertidos,
1 Irnco: Robert Donat, Madeleine ' II, I ucle Mannheim, Godfrey Ip.irle, I'eggy Ashcroft, John Laurie, I li'lcn Haye, Frank Cellier, Wylie
que se estenderia por várias décadas. E, de fato, é fácil notar que muitos de seus filmes mais populares - Intriga internacional
(1959), por exemplo - bebem na fonte desta
pérola do início de sua carreira.
w . i i M i n , Gus McNaughton, Jerry
Dentre suas várias conquistas notáveis, Os 39 degraus apresentou um elemento
VIM no, I'eggy Simpson
hitcheockiano básico: a noção do homem errado, o espectador inocente acusado, perseguido ou punido por um crime que não cometeu. (O diretor voltaria diversas vezes a esse tema, mais
v -~~— v
abertamente no seu filme de 1956, O homem errado.) Richard Hannay (Robert Donat), um canadense de férias na Inglaterra, conhece uma mulher que mais tarde é assassinada sob circunstâncias misteriosas. A partir daí, o personagem entra em uma trama de espionagem envolvendo algo chamado de "os 39 degraus" e percebe que, uma vez ciente disso, somente ele pode evitar um desastre. Algemado a uma cúmplice feminina que o acompanha a contragosto (Madeleine Carroll), Hannay precisa fugir da polícia e de um arquivilão com um dedo a menos que o persegue, além de ter que resolver o mistério do título antes que seja tarde demais. Como de hábito, em se tratando de Hitchcock, a revelação do que são de fato "os 39 degraus" - e, na verdade, toda a trama de espionagem - é quase periférica diante da interação repleta de flertes entre os protagonistas. Literalmente presos um ao outro em uma provocativa paródia do casamento, Donat e Carroll enchem seus diálogos belicosos de pequenas indiretas - quando a perseguição lhes dá um tempo para respirar, é claro - , transformando este thriller de espionagem na mais improvável das histórias de amor. O filme, como o relacionamento dos dois, segue em um ritmo frenético, uma série ininterrupta de seqüências de ação e cenas de perseguição pontuadas por diálogos espirituosos e um suspense cativante. JKl
A NOIVA DE FRANKENSTEIN (1935)
EUA (Universal) 75 min. P&B
(BRIDE OF FRANKENSTEIN)
Direção: James Whale
1 Lidios da Universal tiveram de esperar quase quatro anos até James Whale liiulmente aceitar a oferta de dirigir a seqüência de Frankenstein,
seu sucesso de
bilheteria de 1931. No entanto, a espera valeu muito a pena: sob o controle quase irres11 lio do diretor (o produtor, Carl Laemmle Jr., estava de férias na Europa durante a maior 1
da produção), A noiva de Frankenstein
é uma surpreendente mistura de terror e
Comédia que acabou sendo, em muitos aspectos, superior ao original. Apesar da relutância de Boris Karloff, foi decidido que o Monstro deveria ser capaz (l( 111 onunciar algumas poucas palavras. Sua humanização aqui o deixa mais completo
Produção: Carl Laemmle Jr., James Whale Roteiro: William Hurlbut, John L Balderston Fotografia: John J. Mescall Música: Franz Waxman Elenco: Boris Karloff, Colin Clivc, Valerie Hobson, Elsa Lanchester, Ernest Thesiger, Gavin Gordon,
I fiel ao romance de Mary Shelley, e dificilmente sua busca desesperada por uma
Douglas Walton, Una O'Connor, E. [
Companheira poderia ser mais tocante. De um modo geral, embora Isso tenha sido
Clive, Lucien Privai, O. P. Heggie,
mizado a pedido dos censores, A noiva de Frankenstein representa o Monstro como .1 figura aos moldes de Cristo, levada a matar pelas circunstâncias e pelo medo que Inspira na sociedade. Mesmo a monstruosa companheira feita especialmente para ele , à primeira vista, repulsa pela sua aparência física. Sem dúvida, a noiva interprei.iil.i por Elsa Lanchester continua sendo até hoje uma das mais impressionantes • 11,iiuras já vistas nas telas: sua aparição - numa espécie de versão grotesca de uma ( 1 1 imônia de casamento - é ainda um dos pontos altos do gênero terror, com o corpo mumificado; a voz sibilante, como um canto de cisne; e o estranho penteado egípcio preto com mechas brancas. A trama de A noiva de Frankenstein
se sustenta em contrastes que fazem o espec-
i.nlor passar do terror para o pathos ou a comédia. O senso de humor peculiar de Whale, que foi multas vezes definido como burlesco, é veiculado principalmente por Minnie (una O'Connor), a empregada doméstica, c também pela atuação descaradamente .ilrminada de Ernest Theslger, que interpreta a figura demoníaca do Dr. Pretorius. O imenso interesse despertado por A noiva 1I1' Frankenstein
deriva também da sua repre-
sentação das relações sexuais, considerada por muitos, no mínimo, potencialmente transgressora. A introdução de um segundo cientista louco (Pretorius), que força o Henry Frankenstein de Colin Clive a gerar vida novamente, enfatiza uma das implicações fundamentais e perturbadoras do mito de Shelley: a (procriação é algo alcançado apenas pelo homem. Quatro anos depois, a própria obra-prima de Whale deu à luz um "filho"; no entanto, o pai da noiva não teve nada a ver com isso. FL
Dwight Frye, Reginald Barlow, Mary Gordon, Anne Darling Indicação ao Oscar: Gilbert Kurlani (som)
EUA (RKO) 101 min. P&B Idioma: inglês
0 PICOUIMO
(1935)
(TOP HAT)
Direção: Mark Sandrich
Não há nenhum clássico absoluto entre os musicais da década de 30 da dupla Fred
Produção: Pandro 5. Berman
Astaire-Cinger Rogers - todos são, no geral, maravilhosos, embora tenham defeitos
Roteiro: Allan Scott, Dwight Taylor
cruciais -, mas O picolino é provavelmente o que chega mais perto disso. Sua trama
i mografia: David Abel
segue a fórmula básica da série de filmes: Fred Astaire se apaixona à primeira vista poi
Música: Irving Bêrlin, Max Steiner
Ginger, mas algum tolo mal-entendido (aqui, ela o confunde com seu amigo casado) .1
Elenco: Fred Astaire, Clnger Rogers,
mantém hostil até os últimos instantes.
I dward Everett Horton, Erik Rhodes, 1 IÍI Hlore, Helen Broderick Indicação ao Oscar: Pandro S. I'•!'iiii.in (melhor filme), Carroll Clark,
O diretor é o subestimado Mark Sandrich, cujo toque impecavelmente superficial maximiza a sofisticada malícia tão essencial à série. O mais famoso número do filme é "Top Hat", que conta com uma fantástica coreografia com bengalas entre Fred e um
v.in Nest Polglase (direção de arte),
coro de homens de cartola; porém o coração de O picolino está em dois grandes duetos
living Berlin (música), Hermes Pan (coreografia)
românticos: "Isn't It a Lovely Day" e "Cheek to Cheek", o primeiro passado em um coreto em Londres durante uma tempestade e o segundo, nos brilhantes canais da pueril versão art déco de Veneza dos estúdios RKO. Essas danças, com sua progressão da relutância para a entrega, são a principal arma que Fred usa para ganhar Ginger; porém seria um erro interpretar esse processo como mera conquista sexual. Conforme o divertimento que Ginger esconde deixa claro, os dois personagens lidam com seus respectivos papéis de galã apaixonado e moça que se faz de difícil com brincalhona Ironia, ajudando a prolongar e intensificar um deliciosamente elegante jogo erótico. MR
1 rança (Pantheon) 40 min. P&B Idioma: francês
U M DIA NO CAMPO
(1936)
(UNE PARTIE DE CAMPAGNE)
Direção: Jean Renoir
Um dos mais poderosos e perturbadores recursos do cinema de ficção é o epílogo no
Produção: Pierre Braunberger
formato "anos depois", que geralmente nos leva, com uma amarga tristeza, do tempo
Roteiro: Jean Renoir, baseado no tonto de Guy de Maupassant Fotografia: Jean Bourgoin, Claude Renoir Música: Joseph Kosma Elenco: Sylvia Bataille, Georges St. Saens, Jeanne Marken, André
em que se passa a história, durante o qual tudo ainda era possível, para o destino inescapável que se seguiu a ele. No final de Um dia no campo, de Jean Renoir, Henriette (Sylvia Bataille) é mostrada em um casamento infeliz com o homem que era seu noivo no início do filme, o Insosso balconista Anatole (Paul Temps). No entanto, entre esses dois pontos, nada parece muito decidido ou resolvido. Adaptado de um conto de Guy de Maupassant, o filme não foi concluído na forma
d.ibriello, Jacques B. Brunius, Paul
originalmente vislumbrada por Renoir. Ele permanece, contudo, uma pérola que se
lemps, Gabrielle Fontan, Jean Renoir,
sustenta por seus próprios méritos. A ação central se concentra na união ilegal de dois
Marguerite Renoir
aventureiros locais, Rodolphe (Jacques Bruníus) e Henri (Georges St. Saens), com Henriette e sua mãe, Juliette (Jeanne Marken). Renoir constrói um soberbo diagrama de contrastes entre esses personagens: Rodolphe e Juliette são lascivos, frívolos, enquanto Henri e Henriette são sufocados por emoções sombrias. Assim, o que começou, nas palavras de Henriette, como "uma espécie de vago desejo", que evoca tanto a beleza quanto a crueldade da natureza, termina mal, à medida que "os anos passam, com seus sábados e domingos iguais em sua melancolia". A M
TEMPOS MODERNOS
(1936)
(Ml)HFRN TIMES)
87 min. P&B
demos foi o último filme em que Charles Chaplin fez o papel de Carlitos, e m que ele criara em 1914 e que lhe trouxe fama e carinho universais. Nesse íeinpo, o mundo havia mudado. Quando Carlitos nasceu, o século XIX ainda rnximo. Em 1936, com o mundo ainda sob os efeitos da Depressão, ele confronnsiedades que não diferem tanto daquelas do século XXI: pobreza, desemprego, lura-greves, intolerância política, desigualdade econômica, a tirania das N t l q u l i u s e os narcóticos. iam os problemas que passaram a preocupar de fato Chaplin no decorrer de iie mundial de 18 meses de duração em 1931-1932, período em que observou a i-iM
,io nacionalismo e os eleitos sociais da Depressão: o desemprego e ,1 11,,10. Em 1931, ele declarou numa entrevista a u m jornal: "O desemprego é a d questão... as máquinas devem beneficiar a humanidade, e não causat
Ifigrill.is e tirar dela o trabalho." i rimando essas questões sob o foco da comédia, Chaplin transforma Carlitos em milhões de peões de fábrica espalhados pelo mundo. Ele primeiro surge como erário enlouquecido por seu trabalho monótono e desumano na esteira de uma linha .lê produção e sendo usado como cobaia de uma máquina para alimentar os traies enquanto eles exercem suas funções. Casualmente, Carlitos encontra um r.iiihciro na sua batalha nesse novo mundo: uma jovem (Paulette Goddard) cujo pai MI em uma greve e que se une a Chaplin. Os dois não são rebeldes nem vítimas, u Chaplin, mas "apenas duas almas vivas em um mundo de autômatos", i i i época do lançamento de Tempos modernos, os filmes falados já existiam havia uma década. Chaplin cogitou usar diálogos e chegou até a preparar um roteiro, ni.e. leionheceu, no fim das contas, que Carlitos dependia da pantomima do cinema l i n um momento, no entanto, sua " I ouvida, quando, ao ser contratado coM garçom cantante, ele improvisa uma cani.aii e m uma maravilhosa embromação de
Italiano. cbldo em quatro "atos" - cada qual •Ufvalente a u m a de suas antigas comédias dr dois rolos -, Tempos modernos mostra 1 hiplln ainda em seu ápice, imbatível como 1 i i a i l o r de comédias visuais. O filme resiste, m i mínimo, como um olhar sobre a sobrevi• I I . i a humana nas circunstâncias indus111 a s . econômicas e sociais do século XX 1 llvez, do século XXI. DR
EUA (Charles Chaplin, United Artists)
e,
Idioma: inglês Direção: Charles Chaplin Produção: Charles Chaplin Roteiro: Charles Chaplin Fotografia: Ira H. Morgan, Roland Tot he roh Música: Charles Chaplin Elenco: Charles Chaplin, Paulette Goddard, Henry Bergman, Tiny Sandford, ehester Conklin, Hank Mann, Stanley Blystone, AI Ernest Garcia, Richard Alexader, Cecil Reynolds, Mira McKInney, Murdock MacQuarrle, Wilfred Lucas, Edw.ml LeSaint, Fred Malatesta
EUA (RKO) 103 min. P&B Direção: George Stevens Produção: Pandro S. Berman Roteiro: Erwin Gelsey, Howard Lindsay, Allan Scott, baseado no ronto "Portrait of John Garnett", de Llwin Gelsey Fotografia: David Abel Música: Jerome Kern, Dorothy Fields
RITMO LOUCO
(1936)
(SWING TIME) Uma fantasia de música e dança. Ritmo louco, de George Stcvens, é um espetai iiln audiovisual que gira em torno dos bastidores de um musical. Certamente um marcol para os meados da década de 30, o filme é também uma prévia do que a parceria entio Fred Astaire e Ginger Rogers ainda levaria às telas. Idealizado por Pandro S. Berman, o lendário produtor da RKO, Ritmo louco coni.i .1 história de Lucky Garnet, um renomado sapateador noivo da simpática, porém deslnle
Elenco: Fred Astaire, Ginger Rogers,
ressante Margaret Watson (Betty Furness). Quando ele é forçado a arranjar um vultoso
Victor Moore, Helen Broderick, Eric
dote para manter seu noivado, os planos matrimoniais do casal são colocados em sus
Wore, Betty Furness, Georges Metaxa
penso para que Lucky possa correr atrás da fortuna na cidade de Nova York. Uma vez I I ,
Oscar: Jerome Kern, Dorothy Fields
ele conhece Penny (Ginger Rogers), seu verdadeiro amor, e daí em diante o filme engen
(música) Indicação ao Oscar: Hermes Pan (coreografia)
dra uma série de contratempos até permitir que os dois caiam um nos braços do outro, Naturalmente, há várias cenas de mal-entendido, algumas viradas nâo-trágicas n.i trama e um final feliz, a despeito dos breves instantes de tristeza e angústia. No entanto, o propósito do filme é, inegavelmente, apresentar seus números musicais, muitos dos quais fazem parte do cânone do gênero. Jerome Kern escreveu as músicas, com .1 maioria das letras a cargo de Dorothy Fields. Seus esforços combinados formam os ali cerces da trilha sonora, embora a puia energia, a vivacidade e a alegria de Astaire e Rogers sejam o que faz cada número brilhar com o acréscimo de movimento e sapateado. Dentre os pontos altos estão os dois solos de Lucky em "The Way You Look lo night", um clássico dos clubes noturnos, e "Never Gonna Dance", uma canção triste que soa irônica, dada a célebre capacidade do ator de andar no ar. Dois duetos enriquecem esta pintura cinematográfica em "Waltz in Swing Time", com Astaire e Rogers, e, é claro, a famosa performance da dupla em "A Fine Romance". Porém a canção "Bonjangles of Harlem" pode ser considerada o ápice do filme: nela, Lucky começa sua performance dentro de um coro de fundo, com o rosto pintado de preto. Definitivamente uma homenagem às suas origens - ainda que também um exemplo antiquado e potencialmente ofensivo de história cultural -, o número cresce até um clímax em que um Astaire triplicado dança com projeções dele mesmo. C C - 0
l.'f,
IRENE, A TEIMOSA
(1936)
(MV MAN GODFREY)
EUA (Universal) 94 min. P&B Direção: Gregory La Cava
i n u m u m dos mestres do género das sofisticadas comédias de salão, Gregory La Cava
Produção: Gregory La Cava, Charles l<
pnili n.io ter tido a consciência social mais pulsante da Hollywood da década de 30. No
Rogers
o, seu talento para a sátira de cunho social c político fica claro em filmes como >ver the White House (1933), S/ic Married Hcr lioss (1935) e, principalmente, Irene, a i, sua obra mais notável. Produzido no fim da Depressão, este clássico das is escrachadas apresenta o mendigo Godfrey (William Powcll) sendo contratado iiordomo, como parte de uma brincadeira feita por um grupo de figurões da Park Alguns diálogos afiados depois, ele assume total controle da casa dos ricaços, 1.1 a bela Irene (Carole Lombard), revela que o amante Idiota da mãe (que é 1 llamado de "protege" por conta do Código de Produção) é um vigarista e ajuda o pai i.iliiir.rnto a evitar a falência e uma prisão por fraude. 1 iivisivelmente, a trama revela que o próprio Godfrey estava apenas se fazendo r 1 „11 por mendigo quando o grupo de ricaços o encontrou para poder se casar com a ilite dos seus sonhos. No entanto, a essa altura a classe dominante já desfilou • li 11 iif• da câmera como um bando de idiotas narcisistas c infantis. Sem dúvida, esse foi los motivos do sucesso do filme entre as platéias da época. Irene, a teimosa perde
Roteiro: Eric Hatch, Morrie Rysklnd, baseado no livro de Eric Hatch Fotografia: Ted Tetzlaff Música: Charles Previn, Rudy Schrager Elenco: William Powell, Carole Lombard, Alice Brady, Gail Patrick, Eugene Pallette, Alan Mowbray, Jisin Dixon, Molly, Mischa Auer, Carlo, Robert Light, Pat Flaherty Indicação ao Oscar: Gregory 1.1 (,iv,i (diretor), Eric Hatch, Morrie Rysklnd (roteiro), William Powell (ator), Mischa Auer (ator coadjuvante), Carole Lombard (atriz), Alice Brady (atriz coadjuvante)
ouço da sua acidez na segunda metade, quando os ingredientes de contos de issumem o controle e terminam o filme com uma mensagem boba: o dinheiro ludo! Porém mesmo então ele consegue cativar através da pura Inteligência do leiro espirituoso, escrito pelo romancista Eric Hatch em parceria com Morrie ni. Ele carrega a marca de um legítimo grande filme ao não ter uma só linha de 1 ruim ou um personagem fraco que seja. Às vezes, o ritmo de La Cava é de uma <' ini idade impressionante, levando duelos verbais alucinados a quase todas as cenas e IH ih/ando uma economia narrativa de forma tão natural que o filme poderia servir de 1'iiiniiipo para o cinema clássico de Hollywood. Embora tenha estreado quase 70 anos Irene, a teimosa ainda se sustenta de forma notável e poderia facilmente ser refllmado para qualquer tipo de público. MT
1-7
EUA (Columbia) 115 min. P&B Direção: Frank Capra Produção: Frank Capra Roteiro: Clarence Budington Kelland. Robert Rlskin Fotografia: Joseph Walker Música: Howard Jackson
0 GALANTE MR. DEEDS
<1936)
(MR. DEEDS GOES TO TOWN) Este filme Inventou a comédia escrachada e solidificou a visão do diretor amerlca Frank Capra da vida americana, tendo por base uma cidade pequena e valores tradlcI nais contra a sofisticação egoísta da cidade grande. Longfellow Deeds (Gary Cooper) é um poeta de Vermont cuja vida muda quando
Elenco: Gary Cooper, Jean Arthur,
recebe a herança de um tio multimilionário. Os advogados de seu tio (acostumado
George Bancroft, Lionel Stander,
fraudar contas em benefício próprio) tentam convencê-lo a mantê-los no empir
Douglas Dumbrllle, Raymond
Porém, depois de uma série de desventuras e uma viagem a Manhattan, Deeds se i n
Walburn, H. B. Warner, Ruth
vence de que o dinheiro não lhe fará bem e tenta repassá-lo a uma comunidade 111
Donnelly, Walter Catlett, John Wray
para fazendeiros desapropriados. Os advogados o levam ao tribunal, afirmando que
Oscar: Frank Capra (diretor)
está louco. Um elemento essencial para a subseqüente libertação de Deeds é Ba
Indicação ao Oscar: Frank Capra (melhor filme), Robert Rlskin (loteiro), Gary Cooper (ator), John P. I Ivadary (som)
Bennett (Jean Arthur), uma repórter que a princípio explora a ingenuidade do calpl para escrever matétlas cruéis sobre o "Homem Cinderela". Babe, no entanto, é tran formada pelo idealismo de Deeds, e seu testemunho coloca o tribunal a favor dele. Repleto de momentos cômicos brilhantes (Deeds tocando tuba para clarear idéias, oferecendo donuts para os cavalos), O galante Mr. Deeds é uma ode ao antima riallsmo e à vida simples do campo no melhor estilo Henry David Thoreau. RBP
A DAMA DAS CAMÉLIAS
(1936)
(CAMILLE)
EUA (MGM) 109 min. P&B Idioma: inglês
i.r. camélias, de George Cukor, é um dos triunfos do início do cinema sonoro, IH 1111' para as atuações fabulosas dos protagonistas Greta Garbo e Robert Taylor, In l o m o apoio dos habilidosos coadjuvantes do estúdio Lionel Barrymore e l l n i i v 1 i.iniell. Cukor evoca na medida certa a Paris da metade do século XIX para tornar lie .1 estilização melodramática daquela que é, talvez, a mais famosa peça l i escrita, adaptada para o teatro por Alexandre Dumas Filho, a partir de seu •••li.il romance. Com seus diálogos espirituosos e sugestivos, o roteiro dá vida IHt prisunagens do escritor para uma platéia americana de outra era. lerite Gautier (Garbo), que é chamada de Camille por conta de sua paixão lias, é uma "cortesã" que se apaixona pelo seu "companheiro", Armand i.iylor), herdeiro de uma família Influente. O relacionamento dos dois, que nideria ser legitimado por conta do passado duvidoso dela, precisa terminar, o ! 1 e m duas cenas famosas e adoradas por atrizes de todas as épocas. Primeiro, Armand convence Camille de que ela deve desistir de seu filho para que este r.uir a carreira diplomática. Com o coração partido, ela rejeita Armand com a
Direção: George Cukor Produção: David Lewis, Bernard H. Hyman Roteiro: Zoe Akins, baseado no livro e na peça A dama das camélias, de Alexandre Dumas Filho Fotografia: William H. Daniels. Kail Freund Música: Herbert Stothart, Edward Ward Elenco: Greta Garbo, Robert Taylor, Lionel Barrymore, Elizabeth Allan, Jessle Ralph, Henry Danlell, Leu Ulric, Laura Hope Crews, Rex 0'Malley Indicação ao Oscar: Greta Garbo (atriz)
de que não se interessa mais por ele. Armand volta mais tarde para descobri-la leito de morte, no qual ela falece enquanto ele chora copiosamente. O Breen ( l l l l i e , M",ponsãvel pela aplicação do reacionário Código de Produção da época, tame ler se sensibilizado com a história, exigindo o corte de apenas uma cena na MI lomântico, tecnicamente "ilícito", troca juras de amor eterno. RBP
SABOTAGEM
(1936)
(SABOTAGE) p d I liichcock tinha acabado de fazer um filme chamado O agente secreto, baseado nus escritos por W. Somcrset Maugham; portanto, seu próximo projeto, baseado .ince homônimo de Joseph Conrad, teve que ser reintítulado Sabotagem. Oskar Ika é o Sr. Verloc, um sinistro agente de uma nebulosa potência estrangeira que I ui.i atos de sabotagem. Diferentemente do romance original, Verloc e sua esposa 11 Sldney) são donos de um pequeno cinema, o que permite a Hitchcock se divertir hm < 1 .indo acontecimentos da narrativa aos filmes que passam na tela. •iiliotagem possui duas seqüências memoráveis. Na primeira, Stevie (Dcsmond Mei), irmão mais novo da Sra. Verloc, é enviado pelo marido desta para entregar uma 1.1 de filme. Sem que Stevie saiba, ela contém uma bomba programada para explodir '
1 1 , . À medida que acompanhamos Stevie por Londres, uma série de contratempos 1
Itrtsa e a bomba acaba explodindo enquanto ele está sentado em um ônibus. 1.111 nck se arrependeu disso mais tarde, julgando que se tratava de uma violação do • li i . i i n do diretor com o espectador - não causar mal a um personagem com o qual nu levado a simpatizar - , embora tenha acabado fazendo a mesma coisa em Psicose ii.ii). De qualquer forma, a morte de Stevie engendra a segunda seqüência brilhante: • HSSlnato por vingança de Verloc por sua mulher. EB
Inglaterra (Gaumont British) /(> iiiin P&B Idioma: inglês Direção: Alfred Hitchcock Produção: Michael Balcon, Ivoi Montagu Roteiro: Charles Bennett, Ian Hay, Helen Simpson, E. V. H. Emmett, baseado no livro O agente secreto, de Joseph Conrad Fotografia: Bernard Knowles Música: Louis Levy Elenco: Sylvia Sidney, Oskar Homolka, John Loder, Desmond Testerjoyce Barbour, Matthew Boulton, S. J. Warmington, William Dewhurst
FOGO DE OUTONO (v.m (DODSWORTH) A cativante adaptação de William Wyler do romance de Sinclair Lewis sobre a desintegiai,Au do casamento de um casal americano rico representa o auge da produção clnematogialli .1 inteligente de Hollywood. Walter Huston interpreta o personagem do título original, um magnata da indústria automobilística que, depois de vender seu negócio, precisa em .11.11 os desafios de uma aposentadoria opulenta e decide fazer uma grande viagem pela Euiiipj com sua esposa, Fran (Ruth Chatterton). Eles deixam os Estados Unidos para conhecer I cultura e o refinamento do velho continente. Na Europa, os dois descobrem que desejam coisas diferentes da vida, embora ambos, cada um ao seu modo, queiram protelar a velhice. Fran começa a flertar com os playboys que rondam o meio dos ricos e sofisticado*, mostrando-se cada vez mais impaciente com a postura inflexivelmente americana e provinciana de Dodsworth. Ele, por sua vez, não consegue se reconciliar com Fran e tem medo desesperado de se tornar inútil. Durante a viagem, eles conhecem Edith Cortrlghl (Mary Astor), uma americana expatriada que encontrou uma nova maneira de viver sem perder o vigor, c pode oferecer uma solução para Dodsworth. EUA (Samuel Goldwyn) 101 min. P&B
Os aspectos mais extraordinários do filme são sua complexidade moral e seu tom
Idioma: inglês
agridoce. Wyler tem o cuidado de não retratar Fran apenas como vilã. Somos levados .1
Direção: William Wyler
compreender tanto o marido quanto a mulher e a sentir empatia pelos dois. Alguns dos
Produção: Samuel Goidwyn, Merrltt
momentos mais pungentes de Fogo de outono se dão quando Fran percebe que a vida que
Hulburd
ela vinha tentando criar está desmoronando ao seu redor. Huston, que foi indicado para o
Roteiro: Sidney Howard, baseado no
Oscar de Melhor Ator, está Impecável nesse papel abrangente. Seu personagem começa
livro de Sinclair Lewis
como um confiante magnata que se fez sozinho e se transforma em um senhor de idade,
Fotografia: Rudolph Maté Elenco: Walter Huston, Ruth ( hatterton, Paul Lukas, Mary Astor,
deprimido e mais reflexivo. Huston transmite essas mudanças em uma atuação introspec tiva e desoladora. Astor, David Nivcn multo jovem e cheio de vida, e Maria Ouspenskaya
David Nlven, Gregory Gaye, Maria
estão maravilhosos em papéis coadjuvantes. Na época atual, em que o todo o clnemão
Ouspenskaya, Odette Myrtil, Spring
americano parece estar voltado para as preferências de garotos de 14 anos, Fogo de outono
Hylngton, Harlan Briggs, Kathryn
é um lembrete bem-vindo de que Hollywood um dia fez filmes para adultos. RH
Marlowe, John Payne Oscar: Richard Day (direção de arte) Indicação ao Oscar: Samuel doldwyn, Merritt Hulburd (melhor Ulme), William Wyler (diretor), Sidney Howard (roteiro), Walter Huston (ator), Maria Ouspenskaya (atriz coadjuvante), Oscar Lagerstrom (som)
DAQUI A CEM ANOS
(1936)
Inglaterra (London) 100 min. P&B
(IIIliMGS TO COME)
Direção: William Cameron Menzies
para as telas de William Cameron Menzies das especulações de H. G. Wells inlm H luiuro do mundo depois que uma desastrosa Segunda Guerra Mundial arrasa a > ' européia talvez seja o primeiro filme de ficção científica de verdade. Antes nas Metrópolis
(1926), de Fritz Lang, traz a mesma visão do futuro como
Produção: Alexander Korda Roteiro: H. G. Wells, baseado no seu livro The Shape of Things to Coma Fotografia: Georges Périnal Música: Arthur Bliss
ncia das mudanças tecnológicas e da evolução política resultante delas. No
Elenco: Raymond Massey, Edward
'i filme de Lang não oferece, como aqui, uma análise detalhada do novo curso
Chapman, Ralph Richardson,
loria pode vir a tomar. Na realidade, poucos filmes de ficção científica se fMem i i | i . i m , como Daqui a cem anos, em mostrar uma profecia fictícia dentro de uma 111 rigorosamente histórica. Isso talvez se dê pelo fato de o próprio Wells ter H roteiro, baseando-se em idéias presentes em sua popular obra
História
(WWr-.ul. 1 m i o Wells quanto Menzies não se interessaram em criar uma narrativa sustentada onagens (todos os protagonistas representam Idéias importantes), de modo 1 muitos, o filme parece frio e desinteressante, uma Impressão exacerbada pelo 1 rama abranger um século inteiro da História. A segunda guerra européia dura I onsegue destruir a maior parte do mundo, que retorna a algo parecido com I' ii mi i h , m o sem lei do começo da Idade Média. O progresso humano, no entanto, é el, graças ao fato de que o elemento intelectual e racional do homem sempre se 11 1 iiperlor ao seu impulso inato para a autodestruição. Assim, Derqui rr cem anos uma interpretação mais otimista da teoria de Freud sobre o eterno conflito e Tanatos, amor e morte, nas relações humanas. Como muitos escritores . Wells vê o futuro marcado significativamente pelo controle do homem sobre He. As seqüências finais do filme, como em Metrópolis, são dominadas pelas de uma cidade futurista. É na maneira como Menzies Ilda com esses aspectos <tii|i MI eh micos e de desenho de arte do filme que está sua mais importante e reveladora 1 iinitllniição. Apesar da narrativa em episódios, Daqui a cem anos é visualmente espe1 H um precursor de outras obras de ficção científica que imaginam um futuro entre elas Blade Runner, o caçador de andróides, de Ridley Scott. II da presença de atores bem conhecidos (incluindo Raymond Massey, Cedric h l e e Ralph Richardson), 0 que é mais notável neste filme incomum é seu com 11 com uma filosofia histórica e com a natureza humana. Ele retrata as ansieesperanças da Inglaterra da década de 30 com perfeição, prevendo de forma I m i e o ataque que recairia sobre Londres apenas quatro anos depois do seu lanRBP
Margaretta Scott, Cedric Hardwicke, Maurice Braddell, Sophie Stewart, Derrick De Mamey, Ann Todd, Pearl Argyle, Kenneth Villiers, Ivan Brandi, Anne McLaren, Patricia Hi I Hard, Charles Carson
França (Cinéas) 85 min. P8tB
LE ROMAN D'UN TRICHEUR
11935)
idioma: francês
(A HISTÓRIA DE UM TRAPACEIRO)
Direção: Sacha Guitry
Apontado por muitos como a obra-prima de Sacha Guitry (embora seja rivalizadu pui
Produção: Serge Sandberg Koteiro: Sacha Guitry Fotografia: Marcel Lucien Música: Adolphe Borchard Elenco: Sacha Guitry, Marguerite Moreno, Jacqueline Delubac, Roger Duchesne, Rosine Deréan, Elmire
Les Per/es de la Couronne, de 1937), este tour de force de 1936 pode ser consideradi
>
espécie de veículo para o tipo especial de inteligência arredia do roteirista / diretor / ator. Depois da seqüência dos créditos que nos apresentam o elenco e a equipe, Ir H11 man d'un Tricheur entra em um flashback que conta como o herói do título (inlrt pretado pelo próprio Guitry) aprendeu a se beneficiar de trapaças no decorrer da vida Um cineasta notoriamente anticinemático cuja primeira paixão foi o teatro, Gulliv,
V,nu ici, Serge Grave, Pauline Carton,
no entanto, tinha talento para extravagâncias cinematográficas quando se tratava dl
I ichel, Pierre Labry, Pierre Assy, Henri
adaptar suas peças (no caso, seu romance Memoirs d'un Tricheur) para as telas Li
l'Ieifcr, Gaston Dupray
Roman d'un Tricheur pode ser visto como um filme mudo cheio de vigor e de uma inventividade estllosa, que tem como narrador o personagem de Guitry. François Truffam \c impressionou a ponto de chamar o diretot de irmão francês de Ernst Lubitsch, emhni 1 Guitry difira claramente desse mestre do romance continental no sentido de que sul própria personalidade sempre se sobrepõe à dos seus personagens. JS
f u a (MGM) 115 min. P8cB Direção: Victor Fleming Produção: Louis D. Lighton Hotciro: Marc Connely, John Lee M.1I1111, Dale Van Every, baseado no IIVIII de Rudyard Kipling Fotografia: Harold Rosson
MARUJO INTRÉPIDO
(1937)
(CAPTAINS COURAGEOUS) Rudyard Kipling, que morreu em 1936, não viveu o bastante para ver três de seus livros adaptados para o cinema no ano seguinte, entre eles Marujo intrépido, o empolgante épico infantil de Victor Fleming. Freddie Bartholomew interpreta Harvey Cheyne, um menino rico mimado que, depois de tomar seis sorvetes, cal do transatlântico no qual
Musica: Franz Waxman
ele e o pai (Melvyn Douglas) estão viajando. Ele tem a sorte de ser resgatado por um
Elenco: Freddie Bartholomew,
barco pesqueiro vindo de Gloucestet, cuja tripulação, que inclui o bem-intencionado
Spencer Tracy, Lionel Barrymore,
Manuel Fidélio (SpencerTracy), pouco se impressiona com sua riqueza e "posição". Hu-
Melvyn Douglas, Charley Grapewin,
milhado, Harvey tem que se virar sozinho, porém, sob a atenciosa tutela de Manuel, ele
Mil key Rooney, John Carradine,
aprende o valor do trabalho duro e do sucesso merecido. Antes de poderem voltar a tet-
I in .11 O'Shea, Jack La Rue, Walter
ra firme, no entanto, Manuel morre em um acidente. Uma vez em terra, Harvey é rece-
Klngsford, Donald Briggs, Sam Mi Daniel, Bill Burrud Oscar: Spencer Tracy (ator) Indicação ao Oscar: Louis D. Lighton (melhor filme), Marc Connely, John
bido pelo pai, mas prefere ficar com os pescadores. Contudo, depois de um tocante funeral para seu amigo morto, pai e filho se reconciliam. O astro infantil Bartholomew está excelente em um papel que exige que ele seja tanto detestável quanto Irresistível. E Spencet Tracy, com o cabelo enrolado e o rosto
1 r r Malrin, Dale Van Every (roteiro),
maquiado para ficar moreno, faz uma ótima Imitação de um marinheiro português.
I I i i i i i V l T O n (edição)
Com humor, pothos e uma moral Interessante, este é um dos melhores filmes Infantis já produzidos em Hollywood. A M
CANÇÃO DA NOITE
(1937)
(YEBANGESHENG) B "
i a n c e O fantasma da ópera, de Caston Leroux, inspirou uma série de filmes.
I onçâo da noite, de Ma-Xu Weibang, realizado em Xangai no ano de 1936, é indiscutivelnte um dos mais Inspirados de todos. Ma-Xu (1905-1961) começou no cinema como desenhista de créditos, tornando-se em seguida desenhista de produção, ator e, por Inn, diretor. Quando a era muda chegou ao fim, já contava com seis filmes. Canção da fe/te foi seu segundo filme sonoro. Canção da noite estabelece sua atmosfera sombria e sinistra desde o começo, com I I hegada dos membros de uma companhia de ópera itinerante a um teatro caindo aos pedaços, que eles descobrem estar abandonado e se deteriorando desde a suposta 1
le no local da grande estrela da ópera Song Danping, 10 anos antes. O jovem astro
d.i companhia está ensaiando sozinho no teatro quando ouve uma bela voz, que o j|uda a cantar sua música. É, obviamente, o fugitivo Song Danping, agora terrlvelmen| l desfigurado, que se revela e conta sua história trágica, mostrada em flashback. Seu o físico lhe foi infligido por ordem de um cruel senhor feudal, furioso com o amor (eSong pela sua filha. Desde então, ele se esconde no teatro, esperando um cantor que possa assumir seu papel e desempenhar sua grande criação operistica. O jovem cantor I 1 olhldo para a tarefa, servindo também de mensageiro para a paixão perdida de g, Li Xiaoxia, enlouquecida pela tristeza. A diferença revolucionária entre esta versão e as versões ocidentais da obra de I i i i i u x é que, aqui, o Fantasma deixa de ser uma ameaça sorrateira para se tornar um protagonista empático e benevolente. Em todas as demais adaptações, a protegee do 1,miasma é uma cantora, de modo que ele é motivado pela inveja sexual que sente do noivo dela. Mudando o s e x o desse personagem, Ma-Xu desenvolve relações mais com pli a s e ambíguas. Song vê o jovem como um substituto de si mesmo no seu amor por II Xiaoxia, sentindo ciúmes no lugar dela ao descobrir que o rapaz tem uma namorada. Tudo isso se passa em cenários de atmosfera rica, com o uso magistral de luz e •., 1111 bra claramente Inspirado pelo cinema expressionista alemão. Um importante elemento para o enorme sucesso do filme está nas canções, que são, até hoje, clássicos populares na China. Em 1941, Ma-Xu foi obrigado a realizar uma seqüência, Ye Ban Ce lheng Xu li, e o filme Inspirou duas refilmagens feitas em Hong Kong, Mid-Nightmare [1962) e The Phanton Lover (1995). DR
China (Xinhua) 123 min. P&B Idioma: mandarim Direção: Ma-Xu Weibang Produção: Shankun Zhang Roteiro: Ma-Xu Weibang Fotografia: Boqing Xue, Xingsan Yu Música: Xinghal Xian (canção) Elenco: Menghe Gu, Ping Hu, Shan Jin, Chao Shi
A GRANDE ILUSÃO
(1937)
(LA GRANDE ILLUSION) Às vezes, somente diante dos horrores da guerra percebemos as coisas que todos temos em comum. Essa ironia humanista é o conceito central por trás de A grande ilusão, a obra prima de Jean Renoir, um filme que se passa durante a Primeira Guerra Mundial e enxerga leviandade e fraternidade em um campo de prisioneiros alemão. O tenente Marechal (Jean Gabin) e o capitão De Boeldieti (Pierre Fresnay) são dois oficiais franceses que lidam com seus homens da melhor forma que a situação permite, sob o olhar vigilante do educado comandante alemão von Rauffenstein (Erich von Stroheim). Eles desenvolvem uma imagem espelhada na sociedade arlstrocática, que se baseia na honra e na ordem, um sistema protocolar de respeito mútuo baseado por sua vez em anos de tradição. França (R.A.C.) 114 min. P8cB
No entanto, isso é apenas um oásis - ou, mais especificamente, uma mitagem - em
Idioma: francês / alemão / inglês
meio a um conflito devastador. Daí o título do filme: a grande ilusão é que, de alguma
Direção: Jean Renolr
forma, a classe e a formação desses oficiais os coloca acima da banalidade da guerra, na
Produção: Albert Pinkovitch, Frank
qual as balas não sabem diferenciar uma linhagem da outra. Eles cavam Incansavelmente
Rollmer
um túnel para fugir, sem pensar que, assim que voltatem à liberdade, a falsa camarada-
Roteiro: jean Renolr, Charles Spaak
gem incentivada pelo cárcere voltará a dar lugar à dura realidade da vida.
Fotografia: Christian Matras Música: Joseph Kosma Elenco: Jean Cabin, Dita Parlo, Pierre I resnay, Erich von Stroheim,Julien Carette, Georges Péclet, Werner
Um dos mais pungentes aspectos de A grande ilusão é a sensação de que os personagens centrais compreendem multo bem essa verdade, porém, subconscientemente, desejam que as coisas sejam diferentes. Fica claro que o melancólico comandante de von Stroheim gostaria de estar se socializando com os oficiais franceses sob outras
Florian, Jean Dasté, Sylvain Itklne,
circunstâncias menos críticas. No campo de prisioneiros, Rosenthal (Matcel Dallo) é um
Gaston Modot, Mareei Dalio
dos companheiras. Lá fora, é apenas um judeu, um chocante lembrete dos horrores
Indicação ao Oscar: Frank Rollmer,
iminentes da Segunda Guerra Mundial. Os alemães proibiriam A grande ilusão durante
Albert Pinkovitch (melhor filme)
sua ocupação da França, tamanha a eficiência da sempre atual visão humanista do
Festival de Veneza: Jean Renoir
filme. O fato de esta extraordinária obra de Renoir, com todos os seus personagens
(contribuição artística), Jean Renoir,
memoráveis, temas instigantes e diálogos cativantes, ter corrido o risco de se perder
indicação (Troféu Mussolini)
para sempre por conta de seu ponto de vista político é uma prova contundente do poder do cinema e da capacidade da ficção de transmitir os tipos de verdades profundas e orientações morais que usamos - e das quais necessitamos - para guiar nossas vidas. JKI
STELLA DALLAS, MAE REDENTORA
(1937)
(STELLA DALLAS)
EUA (Samuel Coldwyn) 105 min. P&11 Idioma: inglês
Itello Dallas, mãe redentora, de King Vidor, oferece um retrato vibrante e comovente de i mulher proletária forte o bastante para se sacrificar em prol de uma melhor io para sua filha na sociedade. O famoso romance de Olive Higgins Prouty já havia ilmado com sucesso em 1925. Porém, ao contrário da versão muda de Henry King, •dor tem a vantagem de contar com Barbara Stanwyck no papel de protagonista. stanwyck interpreta Stella como uma mulher inabalável, glamourosa e inteligente. I In il entender por que o bcm-succdido Stephen Dallas (John Boles) se interessa por ela
Direção: King Vidor Produção: Samuel Coldwyn, Merrill Hulburd Roteiro: Joe Bigelow, Harry Waj',s!.ill Gribble, Sarah Y. Mason, Gertrude Purcell, Victor Heerman, baseado no livro de Olive Higgins Prouty Fotografia: Rudolph Maté
quando decide abandonar sua família c seguir seu caminho sozinho. No entanto,
Música: Alfred Newman
I
Elenco: Barbara Stanwyck, John
o depois do nascimento de Laurel (Anne Shirley), a filha dos dois, Stephen resolve
vuliar para sua antiga namorada. Stella cria Laurel sozinha, devotando a vida à felicida-
Boles, Anne Shirley, Barbara 0'Nell,
de da filha; contudo, na adolescência, Lautel se vê atraída pelo estilo de vida mais
Alan Hale, Marjorie Main, George
In uoso do pai e passa a querer viver com ele. A princípio, Stella resiste à mudança, pol e i n acaba por ceder, forçando a filha a partir, fingindo estar entregue à bebida e não mais desejar a companhia dela. Laurel se muda para a casa do pai e logo se casa com Um playboy em uma cerimônia grandiosa que sua mãe, com lágrimas escorrendo pelo
Walcott, Ann Shoemaker, Tim Heli. Neila Walker, Bruce Satterlec, Jiininv Butler, Jack Egger, Dickie Jones Oscar: Barbara Stanwyck (atii/). A n n e Shirley (atriz coadjuvante)
insto, acompanha da rua, por uma janela. Stella segue adiante; no entanto, jamais atravessará novamente a barreira social que a separa de Laurel. Uma história tocante e sincera que, sob a direção firme de Vidor, nunca resvala no sentimentalismo barato. RBP
A VIDA DE EMILE ZOLA
11937)
(THE LIFE OF EMILE ZOLA) A vida de Emile Zola, de William Dieterle, é o sucessor de sua cinebiografia A história de 1 unis Pasteur, que alcançou grande sucesso ao trazer o ator Paul Muni em outra trama sobre os esforços que um ftancês de princípios e esclarecido faz para superar pre1 onceitos. O filme começa com Zola lutando para se estabelecer como escritor, até a publicação de Nana, seu sensacional romance sobre uma prostituta. Depois de alcançar
EUA (Warner Bros.) 116 min. P&B Direção: William Dieterle Produção: Henry Blanke Roteiro: Norman Reilly Raine, I leni Herald, Geza Herczeg, baseado no livro de Matthew josephson Fotografia: Tony Gaudio Música: Max Steinet
0 sucesso, o autor está preparado para gozar uma velhice próspera quando é visitado
Elenco: Paul Muni, Gale Sondergaard,
pela esposa de Alfred Dreyfus, um oficial do Exército ftancês falsamente acusado de
Joseph Schildkraut, Gloria Holden.
servir de espião para os alemães e levado para a Ilha do Diabo. A história perturba a 1 onsciêncla de Zola e - em uma longa passagem feita sob medida para Muni - ele lê em voz alta seu famoso artigo "J'Accuse" ("Eu acuso") pata o editor de um jornal. Em uma
Donaid Crisp, Erin O'Brien-Monie. John Litel, Henry O'Nelll, Morris Carnovsky, Louis Calhem, Ralph Morgan, Robert Battat
seqüência de montagem dinâmica típica da Warner Brothers, a equipe do jornal se
Oscar: Henry Blanke (melhor filme)
reúne em volta dele para escutar, as prensas cospem o artigo e as pessoas correm para
Heinz Herald, Geza Herczeg, Norman
comprar o jornal. A vido de Emile Zola ganhou o Oscar de Melhor Filme c sua seriedade latente é impressionante. Embora Dreyfus tenha sido vítima de anti-semitismo, a palavra "judeu" não é dita em nenhum momento. Evidentemente, a Warner Brothers temia que, em 1937 - com a escalada do anti-semitismo na Europa -, filmes sobre sentimentos anti-semitas pudessem inflamar o mesmo preconceito que foram feitos para denunciar. EB
Reilly Ralne (roteiro), Paul Muni (ator), Anton Crot (direção de arte), Russell Saunders (assistente de diretor), Max Steiner (música), Nathan Levlnson (som)
A CRUZ DOS ANOS
(1937)
(MAKE WAY FOR T0M0RR0W) Nesta singular obra-prima de um dos maiores diretores americanos, Victor Moore e Beulah Bondi interpretam Bark e Lucy Cooper, um casal de Idosos que se encontra diante de um desastre financeiro e é forçado a se entregar à mercê dos seus filhos cie meia-idade. A primeira atitude dos filhos é separar os dois para que possam dividir ,i Inconveniência de hospedá-los. Aos poucos, a auto-estima e a dignidade dos idosos é dilapidada, até se submeterem a um acordo pelo qual um deles ficaria em uma casa de repouso em Nova York e o outro Iria para a Califórnia. A direção de Leo McCarcy cm A cruz dos anos supera qualquer elogio. Todas as interpretações são expansivas e naturais e a generosidade que McCarey dispensa aos seus personagens não conhece limites. Ele demonstra uma rara noção de quando cortar do casal central para revelar as atitudes das outras pessoas, sem sugerir que a compaixão deles é condescendente ou que a sua Indiferença é cruel, e sem nos forçar às I i i a (r.iumount) 91 min. P&B 1.fi.,111,1: jngles
nlrecao: Leo McCarey I'imliic.io: Leo McCarey, Adolph
lágrimas ou à indignação (o que seria uma forma de penalizá-los). Não há nada de artificial na maneira como McCarey lida com a história, portanto não há como escapar de sua pungência. Dois exemplos bastam para Ilustrar a extraordinária elegância do filme. Durante a
lukoi
dolorosa seqüência em que a presença de Lucy, sem querer, atrapalha a tentativa de sua
Rotciro: Vina Deimar, baseado no
nora de reunir amigos para jogar bridge em sua casa, ela recebe uma ligação de Bark.
II v n 1 I lie Years Are So Long, de
Por ela falar multo alto ao telefone - uma das várias características irritantes que
Josephine Lawrence
McCarey e a roteirista Vina Delmar não hesitam em dar ao casal de Idosos - , os
loiografia: William C. Mellor
convidados interrompem seu jogo de cartas para ouvir. Suas reações (não enfatizadas,
Mn'.ica: George Antheil, Victor 1 i',, Sam Coslow, Leo Robin, Jean
apenas mostradas) são uma mistura de Irritação, desconforto e tristeza.
•1 l l W . I I I /
A última parte do filme, que se concentra na breve reunião e derradeiro Idílio do
llltico: victor Moore, Beulah Bondi,
casal em Manhattan, é sublime. McCarey nos revela a compaixão dos estranhos (um
I ,iy Balnter, Thomas Mitchell, Porter
vendedor de carros, uma guardadora de casacos, um gerente de hotel, um cantor de
1 i l l . Barbara Read, Maurice Musi ovitch, Elisabeth Risdon, Minna bell, Ray Mayer, Ralph Remley,
I
OUlse Beavers, Louis Jean Heydt,
ticne Morgan
banda), mas jamais nos impõe as reações deles através de contraplanos supérfluos. Enquanto Isso, Lucy e Bark são constantemente mostrados juntos dentro dos mesmos planos. Com sua dedicação apaixonada ao universo íntimo dos dois, A cruz dos anos é verdadeira e profundamente tocante. C f u
BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES (1937)
EUA (Walt Disney) 83 min. Technicolor
(SNOW WHITE AND THE SEVEN DWARVES)
Idioma: inglês
tranca de Neve eos sete anões começa com um zoom lento para um enorme castelo, no
Roteiro: Ted Sears, Richard Creedon
qual a Rainha má faz ao espelho a pergunta Imortal: "Espelho, espelho meu, existe
Fotografia: Maxwell Morgan
liguem mais bela do que eu?" A resposta, obviamente, é sim: sua imaculada rival Brani .1 de Neve, que logo se torna alvo da vaidade da Rainha. Como na clássica história dos
Música: Frank Churchill, Leigh Harline, Paul J. Smith
Irmãos C r i m m na qual Branca de Neve é baseado, somos Imediatamente Impelidos a
Elenco (vozes): Roy Atwell, Stuart
mundo mágico e por vezes assustador. Contudo, na época, Hollywood considerou i primeira Incursão de Walt Disney na animação de longa-metragem uma loucura. Buem agüentaria assistir a 90 minutos de desenho animado? I desnecessário dizer que Branca de Neve respondeu a essa pergunta retórica i M i n a n d o - s e um dos maiores sucessos da história do cinema e consolidando a posição 1.1 Disney como o maior estúdio de animação do mundo. Na verdade, superar limites ira um dos objetivos declarados de Walt Disney. Eleja havia quebrado a barreira do som nos desenhos animados com Stecimboat Willy c, alguns anos mais tarde, deu cor às animações. Branca de Neve foi simplesmente o passo seguinte em termos artísticos e financeiros: longas-metragens significavam maior bilheteria. nspirando-se livremente na história dos Irmãos C r i m m , Disney soltou sua equipe de animadores cm cima do material, dando a ela bastante liberdade no desenvolvlnto desta grande Inovação criativa. O filme é salpicado de gags, mas também é repleto de emoção, alcançando uma sublime combinação de belas imagens e canções duradouras, como "Whistle Whllc You Work" e "Someday My Prlnce Will Come", esta ultima praticamente um clássico. Branca de Neve também é responsável pela primeira 1 rilha sonora a ser lançada comercialmente. É Impossível superestimar o impacto de Bronca de Neve. O filme não só estabeleceu de forma permanente a Disney como um dos maiores estúdios do mundo como t a m bém fez a animação evoluir a tal ponto que somente com o advento da computação gráfica pode-se afirmar que ela alcançou outros patamares. Um triunfo criativo, este lilme inspirou centenas de imitações, criou um império e continua sendo até hoje o nodelo-padrão para quase todos os longas de animação produzidos. JKl
Produção: Walt Disney
Buchanan, Adriana Caselotti, Eddie Collins, Pinto Colvlg, Marion Darlington, Billy Gilbert, Otis Harlan, Lucille La Verne, James McDonald, Scotty Mattraw, Moroni Olsen, l l . i n v Stockwell Oscar: (prêmio honorário - uma estatueta, sete estatuetas em miniatura) Indicação ao Oscar: Frank Churchill, Leigh Harline, Paul J. Smith (músli •')
EUA (Columbia) 91 min. P&B
CUPIDO E MOLEQUE TEIMOSO
(1937)
Idioma: inglês
(THE AWFULTRUTH)
Direção: Leo McCarey
Diz a lenda que Cupido é moleque teimoso, de Leo McCarey, foi feito à base de multl
Produção: Leo McCarey, Everett Klskin Roteiro: Vina Delmar, baseado na peça de Arthur Richman lotografia: Joseph Walker Música: Ben Oakland, George Parrish
improvisação. Esta lenda combina perfeitamente com o ethos do próprio filme, no qual espontaneidade, gaiatice e a capacidade de rir de seus próprios "atos" (assim como dt se ver pelos olhos da pessoa que está olhando para você naquele momento) sau essenciais para seu espetacular e cálido senso de humor, assim como para sua especu lação sobre como fazer um casamento dar certo.
l l t n c o : Irene Dunne, Cary Grant,
No entanto, a estrutura do roteiro, independentemente da abordagem, é satisfató-
Ralph líellamy, Alexander D'Arcy,
ria. Ele começa com uma ruptura: Jerry (Cary Grant) e Lucy (Irene Dunne), culpando se
1 ei il Cunningham, Molly tamont,
mutuamente de infidelidade, mentiras e - o que é piot - falta de confiança, decidem se
I slher Dale, Joyce Compton, Robert
divorciar. Lucy leva metade do filme - que, nesse melo-tempo, acompanha seu flerte
Allen, Robert Warwick, Mary Forbes
com Dan (Ralph Bellamy) - pata perceber que ainda ama Jerry. Porém chega a hora de
Oscar: teo McCarey (diretor) Indicação ao Oscar: Leo McCarey, I vnett Riskin (melhor filme), Vina I iclmar (roteiro), Irene Dunne (atriz), Ralph Bellamy (ator coadjuvante), Al ( l a i k (edição)
ele se envolver com alguém, uma "herdeira inconseqüente". Assim que todas essas apostas são encerradas, o filme se torna um road movie cujo destino é uma cabana na floresta - com duas camas e 30 minutos restando para o divórcio ser definitivamente decretado. Aqui, McCarey aperfeiçoa cada ingrediente da comédia romântica, desde a oposição entre nova-iorquinos e sulistas até o papel dos jogos, canções e danças como forma de revelar os sentimentos e princípios dos personagens. Repleto de coadjuvantes esplêndidos e de maneirismos inspirados, Cupido é moleque teimoso também possui um momento de pungente seriedade, quando Jerry c Lucy se lembram do voto de casamento informal que fizeram ("Do fundo do meu coração, eu sempre te amarei"). De todos os gtandes filmes, este talvez seja o mais difícil de se descrever em palavras. Isso pode ser explicado em grande parte pelas suas pequenas piadas verbalmente sutis, nas quais frases comuns são distorcidas pelo timing, ritmo e tom de voz. Acima de tudo, o filme é um monumento à pura e adorável simpatia de suas estrelas. A M
0 DEMÔNIO DA ARGÉLIA
(1937)
(PÉPÉ LE MOKO) 11 demônio da Argélia foi o filme que consolidou o estrelato de Jean Cabin e definiu sua I" r.ona das telas como a de um sujeito durão e malandro que, embora abertamente 1 i n i i o , possui um velo romântico que causará sua derrocada. No papel de Pépé, um 1'..mister parisiense expatriado que se tornou um manda-chuva na Casbah (a parte Irabe de Argel), ele gosta do poder que tem, mas sente nostalgia de Paris. Quando uma bela turista francesa (Mircille Balln), a personificação de sua desejada terra natal, cham a sua atenção, a tentação se torna forte demais. No entanto, fora da Casbah ele fica vulnerável, pois lá um incansável policial (Lucas Cridoux) está à espreita. A capacidade que o diretor jullen Duvlvier tem de evocar toda uma atmosfera cria
França (Paris) 90 min. P&B Idioma: francês Direção: Julien Duvivier Produção: Raymond Haklm, Robeil Hakim Roteiro: jacques Constant, Jullen Duvivier Fotografia: Mare Fossard, Jules Kruger Música: Vincent Scotto, Mohamcd Ygerbuchen Elenco: Jean Cabln, Mireille Balln,
Uma visão vibrante (embora romantizada) da Casbah, um exótico labirinto de becos
Gabriel Gábrio, Lucas Gridoux, Gllbfitl
•ripeantes, repleto de detalhes pungentes. Pegando emprestados motivos dos clássl-
Gil, Line Noro, Saturnin Fabre,
COS de gângsters de Hollywood, mas temperando-os com um agourento romantismo 1:.111 lês, O demónio da Argélia prefigura o gênero nolr. Imagens de barras, grades e cercas 1
recorrentes no filme, frisando o aprisionamento de Pépé dentro de seu pequeno
Fernand Charpin, Mareei Dalio, Charles Granval, Gaston Modoi,
Ren4
Bergeron, Paul Escoffier, Roger legils, Jean Témerson
Irudo. O filme é permeado por um clima de anseio, de sonhos de juventude perdidos e de desejos que j a m a i s poderão ser saciados. Esse fatalismo o levou a ser proibido d u i.mte a guerra pelo regime de Vichy; no entanto, sua recepção calorosa após essa ausência temporária serviu apenas para confirmar seu status de clássico. Pl<
EZEBEL(1938)
EUA (First National, Warner Bros.)
1 1 segundo mais famoso retrato de Hollywood de uma mimada bela do Sul, Jezebel
103 min. P&B
ofereceu a Bette Davis o veículo perfeito para seus talentos como atriz em um papel
Direção: William Wyler
marcante. Davis Interpreta Julie Marsden, a mais cobiçada debutante da Nova Orleans
Produção: Henry Blanke, Hal Ii Wallis, William Wyler
de 1850, uma sociedade regida por códigos de comportamento inflexíveis que a jovem 1 onsidera sufocantes. Noiva de Preston Dillard (Henry Fonda), um nortista, Julie não 1 ermina seu relacionamento com Buck Cantrell (George Brent), um honrado cavalheiro do Sul e a figura mais compassiva da história. Logo em seguida, Preston deixa Nova orleans para voltar para o Norte; quando retorna à cidade, está casado com outra
Roteiro: Clements Ripley, Abem F i n k e l j o h n Huston, Robert Km kntr, baseado na peça de Owen Davis Fotografia: Ernest Haller Música: Al Du bin, Max Steimel, 11.111 v
mulher. Por petulância, Julie causa um duelo em que Buck é assassinado, o que a
Warren
1 ransforma em pária, até para sua própria família. No entanto, ela se redime através de
Elenco: Bette Davis, Henry Fonda,
um heróico sacrifício durante uma epidemia de febre amarela, quando acompanha
George Brent, Margaret Lindsay,
1'reston, que se encontra muito doente, à ilha miserável onde as vítimas da enfer-
Donald Crisp, Fay Bainter, Richard
midade estão confinadas.
Cromwell, Henry O'Neill, Sprlti]',
William Wyler faz uso de um orçamento generoso e de um meticuloso desenho de
Byington, John Lltel, Gordon Oliver, Janet Shaw, Theresa Harris, Maig.uet
arte nesta intrigante evocação do período. Um estudo de personagem multo mais
Early, Irving Pichel
1 ompleto do que E o vento levou (1939), Jezebel também foge do "mito do Sul agrário"
Oscar: Bette Davis (atriz)
que é tão proeminente naquele filme. Jezebel mostra uma Nova Orleans decadente,
Indicação ao Oscar: Hal B. Wallis,
sem negros felizes e dominada por uma elite latifundiária agarrada a sua Invejosa Idéia de honra. RBP
Henry Blanke (melhor filme), I ,iy Bainter (atriz), Ernest Haller (fotografia), Max Steiner (músll 1)
EUA (First National, Warner Bros.) 102 min. Technicolor Idioma: Inglês
11933)
(THE ADVENTURES OF ROBIN HOOD) Quer seja considerado capa e espada, romance de época ou comédia histórica, Al
Direção: Michael Curtis, William Keighley Produção: Henry Blanke, Hal B. Wallls Roteiro: Norman Reilly Raine, Seton I. Miller
AS AVENTURAS DE ROBIN HOOD
'
Fotografia: Tony Gaudio, Sol Polito Música: Erich Wolfgang Korngold I lenço: Errol Flynn, Olivia de Havllland, Basil Rathbone, Claude Ralns, Patric Knowles, Eugene IMllette, Alan Hale, Melville Cooper, Ian Hunter, Una O'Connor, Herbert Mundln, Montagu Love, Leonard Wlllcy, Robert Noble, Kenneth Hunter Oscar: Carl Jules Weyl (direção de irte), Ralph Dawson (edição), Erich Wnllf.ang Korngold (música)
aventuras de Robin Hoodé simplesmente a melhor produção do seu gênero já realizada. Com o rei Ricardo nas Cruzadas, o reino é governado por seu irmão corrupto, John, interpretado por Claude Rains, um tirano irascível que escuta gemidos vindos da câmara de torturas e reflete: "Ah, mais reclamações dos nossos amigos saxãos sobre ir. novos impostos." Sir Guy de Glsbourne, o aliado menos divertido porém mais mortífero de John, é encarnado pelo incomparavelmente desumano Basil Rathbone com uma malícia cortante. A dama mais bela da região é Marian, a absurdamente encantadora Olivia de Havllland, com sua pele em tons de Technicolor. No entanto, é o despossuído fora-daleí Robin de Locksley que dá vida à trama de intrigas, com o cavanhaque faceiro ! charme australiano de Errol Flynn fazendo dele um raro herói que pode ser um bemhumorado vigarista em um momento e no outro sacar um punhal, tornando-se um ousado rebelde ("Normando ou saxão, que diferença faz? É a injustiça que eu odeio, não os normandos") e um romântico escalador de sacadas. A velocidade do ritmo deste filme e a quantidade de elementos que ele comporta
Indicação ao Oscar: Hal B. Wallis,
são verdadeiramente impressionantes: a trama é tão complexa quanto uma comédia
Hrmy Blanke (melhor filme)
shakespeariana. As batalhas, com suas espadas se chocando e flechas sendo arremessadas, são deliciosas, e a história termina como todas deveriam terminar: com o bem ttiunfando e os amantes juntos. K N
IUA (I iist National) 97 min. P&B Direção: Michael Curtlz Produção: Samuel Bischoff Roteiro: Rowland Brown, John Wexley, Warren Duff lotografia: Sol Polito Musica: Max Steiner Elenco: James Cagney, Pat O'Brien,
ANJOS DE CARA SUJA
(1938)
(ANGELS WITH DIRTY FACES) Os filmes de Michael Curtiz pregam responsabilidade social e Anjos de cara suja é seu mais poderoso sermão. Rocky e Jerry, dois amigos que moravam em um bairro barrapesada de Nova York, se tomam um famoso gangster (James Cagney) e um padre engajado (Pat O'Brien), respectivamente. Uma gangue de adolescentes idolatra Rocky, até o padre Jerry convencer seu amigo condenado a "se acovardar" na sua execução. Ao
Humphrey Bogart, Ann Sheridan,
sustentar sua missão didática, o visual e o estilo de interpretação do filme são inflama-
(.eiiige Bancroft, Billy Halop, Bobby
dos e explícitos ao ponto da caricatura. Na verdade, a atuação de Cagney, com sua
lordan, Leo Gorcey, Gabriel Dell,
postura arrogante e ombros erguidos, serviu de modelo para Impressionistas como
Huntz Hall, Bernard Punsly, Joe
Frank Gorshin e Rich Little.
Downing, Edward Pawley, Adrian Morris. Frankie Burke Indicação ao Oscar: Michael Curtiz (iluelor), Rowland Brown (roteiro), 1 an... ( agney (ator)
Curtiz pode ser um moralista, mas não é um moralista simplório. A capitulação final de Rocky é aflitiva, e o diretor não a torna mais palatávcl. Rocky é um rebelde carismático, e o padre Jerry é um carola chato, porém o filme deixa poucas dúvidas sobre qual desses caminhos é o melhor para o bem comum. O angustiante clímax, um pesadelo de detalhes horripilantes e sombras expressionistas à medida que Rocky é arrastado choramingando para a cadeira elétrica, ainda mantém seu poder de enfurecer espectadores que não concordam com o rígido ponto de vista moral do filme. No entanto, para o padre Jerry esse tipo de atitude é, na melhor das hipóteses, sentimentalista e, na pior delas, irresponsável. Amém. MR
OLYMPIA (1938) OLYMPIA-PARTEI: ÍDOLOS DO ESTÁDIO (OLYMPIA 1. TEIL - FEST DER VÖLKER)
OLYMPIA-PARTE 2: VENCEDORES OLÍMPICOS (OLYMPIA 2. TEIL - FEST DER SCHÖNHEIT) imentário épico de Leni Riefenstahl sobre as Olimpíadas de ii Berlim é às vezes criticado por seu viés político. Patrocinado por Hitler, o filme Contém, de fato, algumas sequências que patecem apoiar a noção de superioridade i i u n a " . Ainda assim, a cineasta recebeu uma medalha de ouro pela sua obra do i
i i ê Olímpico em 1948, muito depois de o sonho de Hitler de um Reich de mil anos
i i i se desintegrado. Não se pretende negar com isso que Olympia seja propangadista; stahl jamais teria recebido o incrível financiamento e o apoio necessátio se o resultado não fosse útil politicamente. Em muitos aspectos, no entanto,
Olympia
.tende a política. No geral, ele é mais uma ode às proezas atléticas e à poesia do 1 H i p o humano em movimento.
Alemanha (IOC, Olympia Film, lohls) 118 min. e 107 min. P&B Idioma: alemão Direção: Leni Riefenstahl Produção: Leni Riefenstahl Roteiro: Leni Riefenstahl Fotografia: Wilfried Basse, Werner Bundhausen, Leo De Lafrue, Wallet Frentz, Hans Karl Gottschalk, Willy
Poucos cineastas demonstraram o interesse estético de Riefenstahl pela forma
Hamelster, Walter Hege, Carl
Ir.11.1 e pelo movimento, e a façanha que a realização deste documentário representa
Junghans, Albert Kling, Ernst
limais foi igualada. Filmar os jogos e supervisionar o imenso trabalho de pós-produção
Kunstmann, Guzzi Lantschnei, 1 IttO
exigiria um esforço hercúleo hoje em dia. No fim da década de 30, isso foi feito com
Lantschner, Kurt Neubert, Erich
1 i|iúpamentos primitivos. Apesar da mensagem abertamente política (a abertura ipanha a condução da tocha da Grécia à Alemanha como se ela fosse uma espécie de jornada sagrada), o filme é um triunfo artístico, prava não só do talento e da visão pessoais de Riefenstahl como também da energia e habilidade da sua equipe de assistentes, que chegou a várias centenas. Preparativos colossais foram necessários. Torres de ferro para as câmeras e plataformas para os travelings foram construídas no estádio e a Alemanha foi varrida de cabo a rabo em busca dos melhores profissionais. Quase 250 horas foram filmadas e a montaem (incluindo o acréscimo de efeitos sonoras c música) foi supervisionada pessoalmente por Riefenstahl. A edição, na melhot tradição do cinema de documentário
Nitzschmann, Hans Scheib, Hugo < > Schulze, Károly Vass, Willy /ielke. Andor von Barsy, Franz von Friedl, Heinz von Jaworsky, Hugo von Kaweczynski, Alexander von I aj'.i 11 in Música: Herbert Windt, Waliei Gronostay Elenco: David Albritton, Jack Beresford, Henri de Balllet-Latuui, Philip Edwards, Donald Finlay, Wilhelm Frick, Josef Goebbels, Hermann Göring, Ernest Harper,
alemão, possui um ritmo magistral, com
Rudolf Hess, Adolf Hitler, Cornelius
ortes belamente executados e a medida
Johnson, Theodor Lewald, Luz Long,
1 erta de variação nas provas repetitivas (como as competições de atletismo), para nantet o interesse visual. As alegações de Riefensthal de Inocência política podem soar pouco convincentes, porém
Olympia
possuí um outro lado, mais duradouro. Em poucas palavras, é o mais comovente tegisiro cinematográfico sobre o esporte e a competição física já produzido. FIESP
John Lovelock, Ralph Metcalle. Seung-yong Nam, Henri Nannen, Dorothy Odam, Martinus Osemlaip. Jesse Owens, Leni Riefenstahl, Julius Schaub, Fritz Schiigen, Kee chung Sohn, Julius Streicher, Forrest Inwns, Werner von Blomberg, Augusi v m i Mackensen, Glenn Morris, Conrad von Wagenheim Festival de Veneza: Leni Rlefenitlhl (Troféu Mussolini - melhor filme)
I I
A MULHER DO PADEIRO
0938)
(LA FEMME DU BOULANGER) Orson Wells considerava Raimu um dos maiores atores de sua época e A m u l / i c padeiro mostra que ele tinha razão. Dirigido por Mareei Pagnol e baseado em um rO 1 1
mance de Jean Giono, o filme conta a história de Almable Castanier, um padeira 1I1 meia-idade (Raimu) em um pequeno vilarejo na Provença. Quando sua jovem mulhri Aurèlie (Ginette Leclere) o abandona por um belo pastor, o atormentado padclio desiste de fazer pães e, sem eles, o vilarejo pára. Um padre católico, um professor esquerdista, um senhor de terras e todos os habitantes do vilarejo deixam de lado suai antigas rixas e se juntam para trazer de volta a esposa desgarrada. A vida volia ao normal e todos ficam felizes. A partir de um material tão simples, Pagnol criou uma pérola cômica e uma oln.i prima humanista. Com seu habitual grupo de atores - Raimu, Fernand Charpin, Robei 1 lï.inça (Marcel Pagnol) 133 min. P&B
Vattier e outros - , Pagnol dá vida a uma galáxia de personagens que é ao mesmo tempo
Idioma: francês
engraçada e comovente. Seu toque leve e o talento dos atores transcendem os estéreo
Direção: Marcel Pagnol
tipos grosseiros (o aristocrata mulherengo, o professor pedante, a velha rabugenta, o
Produção: Leon Bourrely, Charles
marido chifrudo), criando um mundo em que o papel de cada personagem é definido '
Pons
com clareza. A Provença de Glono e Pagnol é conservadora e patriarcal (a esposa não
llotciro: Marcel Pagnol, baseado no
tem multa voz), mas é um mundo no qual valores fundamentais compartilhados poi
livro A mulher do padeiro, de Jean Giono fotografia: Georges Benoît Musica: Vincent Scotto Elenco: Raimu, Ginette Leclere,
todos - aqui representados pelo pão, um símbolo tanto para o cristianismo quanto para o paganismo - cimentam a coesão social. A atuação majestosa de Raimu alterna, sem esforço aparente, teatralidade cômica e realismo minimalista, transformando seu cômico marido traído em um herói trágico.
Robert Vattier, Robert Bassac,
Raimu, ele mesmo do Sul da França, era um ator de teatro sublime, muito à vontade com
leniand Charpin, Edouard Delmont,
os floreios de linguagem e a impostação inflamada do vernáculo marselhês. Sua moder
1 harles nlavette, Marcel Maupi, M.iximilienne, Alida Rouffe, Odette Roger, Charles Moulin, Yvette Fourn 1er, Charblay, Julien Maffre
nidade cinematográfica, no entanto, está na habilidade de mudar, numa questão de segundos, para um tom mais brando em determinados momentos, causando um impacto emocional extraordinário, conforme ilustrado pela cena mais famosa do filme. Quando a esposa arrependida retorna, Raimu a recebe de volta como se nada tivesse acontecido, porém desabafa com a gata vira-lata, "Pomponnette", usando as palavras mais intensas e comoventes. Nesse momento de alta comédia, desafio qualquer pessoa a não chorar. O título pode ser A mulher do padeiro, mas o filme é, sem dúvida, de Raimu. GV
LEVADA DA BRECA (1938) (BRINGING UP BABY) i da breca, o ápice das comédias escrachadas, foi o primeiro de um contrato de < i lilmes que Howard Hawks fez com a RKO em 1937. Baseando-se de forma pouco promissora em um conto sobre um jovem casal e seu leopardo de estimação, as fllmastouraram o prazo em 40 dias, c também o orçamento. Ele arrecadou tão pouco quando lançado em 1938 que Hawks foi despedido da RKO e Katharine Hepburn teve Que pagar para rescindir o próprio contrato. À frente do seu tempo, seu ritmo alucinado
EUA (RKO) 1 0 2 min. P&B Idioma: inglês Direção: Howard Hawks Produção: Howard Hawks, ( l i l l Reid Roteiro: Hagar Wilde, Dudloy Nu holl Fotografia: Russell Metty Música: Roy Webb Elenco: Katharine Hepburn, 1 .11 v Grant, Charles Ruggles, W.ihei
I diálogos espirituosos irresistíveis estabeleceram novos padrões para todas as futuras
Catlett, Barry Fitzgerald, May RoblOfl
i iimédias do gênero.
Fritz Feld, Leona Roberts, George
Cary Grant, no auge da sua comicidade, é o Dr. David Huxley, um belo e avoado p.ileontologista que passa os dias montando um esqueleto de brontossauro enquanto
Irving, Tala Birell, Virgínia Walker, John Kelly
ui.isado pela sua noiva dominadora. Faltando apenas um osso para terminar o pro|tto de quatro anos do museu, Huxley consegue arruinar uma importante reunião em campo de golfe com um rico patrocinador em potencial. Lá, conhece Susan Vance (Hepburn). Tão bonita e cabeça-de-vento quanto ele, ela rouba sua bola de golfe; depois ilr.so, o mundo de Huxley nunca mais volta ao normal. Fazendo de tudo para evitar que lie se case com outra garota, Vance usa Baby, o leopardo amestrado enviado para ela da América do Sul pelo seu irmão, para distrair o paleontologista. Quando o cachorro da família enterra o precioso osso de Huxley, o casal é preso. Os risos em Levada da breca são autênticos, a ponto de mascararem quase totalmente lua habilidosa análise das expectativas de gênero, do sexo e do casamento na década 1 le 30. A censura suspeitou de tal forma dos significados mais profundos e possivelmente •exuais do roteiro que questionou se a procura de Huxley pelo seu "osso perdido" não laria referência à perda da masculinidade. A cena em que Huxley veste o roupão feminino emplumado de Vance não ajudou a afastar essa Idéia ao conter uma das primeiras citações da palavra "gay" com outro significado que não o de "extremamente feliz". Os crítii os podem ter odiado, as platéias podem ter passado longe dele e o Oscar pode não tê-lo lavorecido na época, mas Levada da breca riu por último dos seus detratores. Continua sendo uma das verdadeiras obras-primas de espirituosidade em celulóide. K K
M I
I UA (Walter Wanger) 96 min. P&B
NO TEMPO DAS DILIGENCIAS (1939)
Idioma: inglês
(STAGECOACH)
Direção: John Ford
A década de 30 não foi uma das melhores para os faroestes. Depois de alguns fracasso',
Produção: Walter Wanger, John Ford
que custaram caro, como A grande jornada (1930) e ümarron
Hoteiro: Ernest Haycox, Dudley
de um modo geral deixaram o gênero para produtotes pés-de-chlnelo de filmes B. John
(1931), os grandes estúdios
Nichols
Ford não fazia um filme desse estilo havia mais de uma década quando escalou John
lotografia: Bert Clennon
Wayne e Claire Trevor para uma história sobre uma viagem de diligência através de um
Música: Louis Gruenberg, Richard llagcman, W. Franke Harling, John I lipoid, Leo Shuken I lortCO: Claire Trevor, John Wayne, Andy Devine, John Carradine, Thomas
perigoso território indígena. Ao tentar vendê-lo para o produtor David O. Selznick, Ford descreveu No tempo das diligências
como um "faroeste clássico", um ponto acima das
produções B que o próprio Wayne vinha fazendo. Isso significava, entre outras coisas, tornar o filme mais interessante pata a platéia feminina. Assim, Ford e o roteirista
Mite hell, Louise Piatt, George
Dudley Nichols acrescentatam ao roteiro original de Ernest Haycox uma história de
II.111110ft, Donald Meek, Berton
amor mais elaborada e o nascimento de uma criança. Isso, no entanto, não foi
• l i n n lull, Tim Holt, Tom Tyler
suficiente para Selznick, que rejeitou o projeto.
O i c a r : Thomas Mitchell (ator . oidjuvante) imlu .H.10 ao Oscar: Walter Wanger
Não que No tempo das diligências
economize nos attativos mais tradicionais do
gênero. A última parte do filme é repleta de ação, Incluindo uma troca de tiros entte
i n . Hu 11 tilme), John Ford (diretor),
Wayne c o bando de Plummer e um empolgante ataque de índios enquanto a diligência
Men Gli-nnon (fotografia), Alexander
dispara pelo deserto. A seqüência é enriquecida por um excelente trabalho de duble de
iiiliilinll (direção de arte), Otho
Yaklma Canutt, que, no papel de um dos apaches do ataque, salta em cima de um dos
r. Dorothy Spencer (edição), RI, haul llageman, W. Franke Harling,
lohn Lelpold, Leo Shuken
(música)
cavalos da diligência, leva um tiro e tem que cair entre os cascos dos animais e passar por debaixo das rodas. Esta foi a segunda chance de Wayne de alcançar o estrelato depois do fracasso de A grande jornada,
e ele a agarrou com unhas e dentes. Desde sua enttada em cena, de
pé no deserto acenando para a diligência, ele Impressiona como Ringo Kid, que fugiu da cadeia para se vingar dos Plummers, os assassinos de seu pai e seu irmão. Contudo, a aparição de Wayne é postergada enquanto Fotd explora a personalidade dos demais passageiros. Cada um é esboçado com habilidade e de forma memorável: Dallas (Claire Trevor), a garota despudorada que é expulsa da cidade junto com o bêbado Doe Boone (Thomas Mitchell) pelas senhoras puritanas defensoras da lei e da ordem; Peacock (Donald Meek), um tímido vendedor de uísque; Hatfield (John Carradine), um jogador do Sul; Mrs. Mallory (Louise Platt), a esposa grávida de um soldado de cavalaria; e Garcwood (Berton Churchill), um banqueiro que esl 1 fugindo com os ativos do seu banco. Do lado de fora da diligência estão Buck (Andy Devine), o corpulento cocheiro, e Curly (George Bancroft), o xerife local. A interação entre os membros desse estranho grupo permite a Ford explorar um de seus temas pteferidos, as superiores qualidades morais daqueles que a sociedade "respeitável" tejelta. No tempo das diligências
foi o primeiro filme que Ford rodou no
Monument Valley, uma paisagem de imponentes colinas de arenito na fronteira de Utah com o Arizona. À medida que a pequena diligência segue pela vastidão do deserto, a fragilidade dos seus ocupantes é duplamente enfatizada quando a câmera se move na direção de um grupo de índios que observa seu progresso. Ford não tenta apresentar os índios como indivíduos; eles são apenas uma força da natureza. O ótimo desempenho de bilheteria do filme ajudou a restabelecer o gênero faroeste. EB
lapão (Shochiku) 143 min. P&B Idioma: japonês
CRISÂNTEMOS TARDIOS (1939) (ZANGIKU MONOGATARI)
Direção: Kenji Mizoguchi
No século XIX, um ator de teatro Kabukl preguiçoso e sem talento nascido em urr
Notciro: Matsutarõ Kawaguchi,
família famosa se apaixona pela ama-seca do seu irmão. Contrária à união dos dois,
t 1 >.111k, 11a Yoda, baseado no livro de
família dele a expulsa de casa. Ele a segue e ela devota sua vida a ajudá-lo a desenvolvi
'.liulu Muramatsu
sua arte, arruinando sua saúde no processo. No fim, ela morre em casa enquanto el
Fotografia: Yozô Fuji, Minoru Miki
alcançando finalmente o reconhecimento como ator, lidera sua trupe em um triunf
Música: Shirô Fukai, Senji Itô
desfile de barco por Osaka.
1 lanço: Shõtarô Hanayagi, Kôkichi l.ik,i<ln, Gonjurô Kawarazaki, Kakuko Mini, lokusaburo Arashi, Yoko 1 iim-mura
Crisântemos tardios é um dos filmes essenciais de Kenji Mizoguchi, uma obra de fascinante elegância e rigor formal, além de um poderoso ataque às estruturas soci.u-. que impõem o papel de vítimas martirizadas às mulheres. Os planos longos de Mlzo guchi conduzem lentamente a narrativa, acomodando a inexorável lógica dos aconteci mentos em estruturas mais amplas e complexas. O filme dá ao espectador tempo paia reflexão e Interiorização, à medida que os personagens, reconhecendo seus papéis dentro das relações de poder, reagem com medo, horror, tristeza ou revolta aos acon teclmentos. A narrativa, com sua ênfase em jornadas metafóricas - as migrações da trupe de atores e a jornada do herói rumo à excelência artística -, permite a Mizoguchi criar um duplo filtro metafórico. Para ele, cinema e teatro são máquinas para destilar a beleza e a conquista de uma compreensão trágica. C f u
I U A (MGM) 93 min. P&B Direção: Busby Berkeley
SANGUE DE ARTISTA (1939) (BABES IN ARMS)
Produção: Arthur Freed
Busby Berkeley, principal colaborador dos então decadentes musicais que giravam em
Hoi i-iro: Jack McCowan, Kay Van
torno de espetáculos da Warner Brothers, realizou Sangue de artista logo depois de Ir
HI per
para a MGM, mais interessada em adaptações de livros. Seu sucesso gerou três outros
I ntografia: Ray June
filmes no mesmo estilo, voltando a reunir Berkeley com os ídolos adolescentes Mlckey
Música (canção): Harold Arlen, Nació
Rooney e Judy Garland.
Herb Brown, Richard Rodgers I lenco: Mickey Rooney, Judy Garland, ( h,ules Winninger, Guy Kibbee, June
O filme se concentra no conflito de gerações, tal como entendido pela MGM e nos padrões de 1939. Para resolver esse conflito, ele segue em duas direções, apresentando
1'ieisser, Grace Hayes, Betty Jaynes,
ao mesmo tempo uma reminiscência nostálgica do quase extinto entretenimento tra-
I singlas McPhail, Rand Brooks, Leni
dicional (representado pelos minstrel shows, em que atores brancos pintavam o rosto de
1 v n i i . I rciiry Hull, Barnett Parker, Ann •I
maker, Margaret Hamilton,
losepli Crehan Indicação ao Oscar: Mickey Rooney (.inn), Roger Edens, George E. Stoll (iiiiisif a-trllha)
preto, e pelo vaudevllle) - praticado pelos pais dos adolescentes - e a necessidade destes de assumirem o lugar dos pais sob os holofotes. Essa tensão explode no mais i m pressionante número do filme: "Babes In Arms". Rooney lidera um Impetuoso grupo de jovens com tochas nas mãos por becos sinuosos até um playground onde cantigas de ninar surgem como contraponto à canção principal e uma fogueira flamejante simboliza a imolação das coisas infantis. Esses adolescentes tão apaixonados tendem a ficar um pouco melosos de vez em quando, de modo que Sangue de artista se beneficia da presença mais sisuda de June Preisser, como uma arrogante, ainda que amável, ex-estrela infantil, e de Margaret Hamilton, no seu melhor estilo Bruxa Má, como uma velhota que quer meter todos os artistas pestinhas em uma escola profissionalizante. MR
A MULHER FAZ O HOMEM
(1939)
(MR. SMITH GOES TO WASHINGTON) do Frank Capra ao sistema de governo americano foi considerada tão incisiva em enuncia da corrupção de alto escalão que algumas pessoas em Washington li li iram que A mulher faz o homem não deveria ser lançado em um mundo à beira da cm 11,1. Para mostrar como funciona o sistema, Capra precisou demonstrar como ele se corrigir. O republicanismo (e não a democracia) é salvo no filme graças aos os heróicos de um idealista fetrenho, que, na melhor tradição do individualismo 1 ti lefferson (do qual é homônimo), se recusa a obedecer a chefes de partido, que r 1 ;am a planejar sua ruína. Envergonhado, o político governísta de fala mansa escaI.11I" pata desacreditá-lo publicamente confessa a armação. lames Stewart está petfeito como Jcfferson Smith, cuja malot qualificação para o ' 111 '.o é o fato de ele ser Incorrigivelmente humilde, um homem que passa seu tempo • lie liando um grupo de jovens escoteiros. No entanto, sua simplicidade não se traduz liotice ou covardia. Primeiro, Smith convence uma mulher cínica (Jean Arthur),
EUA (Columbla) 125 min. P&B Idioma: inglês
1 niivocada para ficar de olho nele, da sua virtude e sensatez. Em seguida, depois de
Direção: Frank Capra
1 n u problemas ao propor, inocentemente, a construção de um acampamento para j o -
Produção: Frank Capra
vens n o exato local que a "máquina política" quer usar para seu esquema de corrup-
Roteiro: Lewis R. Foster, Sidney
le se defende contta acusações falsas em um discurso de várias horas que o deixa
Buchman
quase Incapaz de falar o u continuar de pé. Quem desempenha um papel essencial na
Fotografia: Joseph Walker
trajetória de Smith da irrelevância à desgraça e daí para a retaliação é o petsonagem do
Música: Dimitri Tiomkin
M.idor Joseph Paine (Claude Rains). Ao conttário do líder político Impiedosamente "iiupto Jim Taylor (Edward Arnold), Paine é um homem que acredita no sistema imericano, mas que foi seduzido por uma política de concessões e clientelismo. Smith MI pode ser salvo attavés da conversão de Paine. O discurso de Smith também só se faz piissível por conta da peculiar lei americana da obstrução dos trabalhos, conhecida
Elenco: Jean Arthur, James siew.n 1 Claude Rains, Edward Arnold, c.nv Kibbee, Thomas Mitchell, Eugene Pallette, Beulah Bondl, H. B. W
ir,
Harry Carey, Astrld Allwyn, Ruth Donnelly, Grant Mitchell, Pónei ll.ill
I i i i o fillbuster, que permite ao indivíduo - não a um grupo, o que é muito simbólico -
Pierre Watkin
liberdade de expressão ilimitada dentro de regras preestabelecidas. Assim, Smith
Oscar: Lewis R. Foster (roteiro)
' nnsegue contra-atacar o grupo que o condenaria, garantindo sua defesa.
Indicação ao Oscar: Frank Capra (melhor filme), Frank Capra (dlretOI I
Um impressionante exemplo de americanismo, o filme de Capra é repleto de m o mentos memotáveis, entre eles a seqüência que acompanha a turnê do senador recém' liegado pelos monumentos de Washington, incluindo o Lincoln Memorial. RBP
Lewis R. Foster e Sidney Buchin.in (roteiro), James Stewart (ator), Claudl Ralns (ator coadjuvante), Harry 1 ircy (atot coadjuvante), Lionel Banks (direção de arte), Gene Havlkk. Al Clark (edição), Dimitri Tiomkin (música), John P. Livadary (som)
lUA (MCM) íoi min. Idioma: inglês Direção: Victor Fleming Produção: Mervyn LeRoy, Arthur Freed Roteiro: Noel Langley, Florence Ryerson, Edgar Allan Woolf, baseado no livro de L. Frank Baum lotografia: Harold Rosson Música: Harold Arien, E. Y. Harburg, I a'orge Bassman, George E. Stoll, Herbert Stothart Mcnco: Judy Garland, Frank Morgan, Riy Holger, Bert Lahr, Jack Haley, Brille Burke, Margaret Hamilton, I harley Grapewin, Pat Walshe, Clara llindlck Oscar: Herbert Stothart (música), Harold Arien, E. Y. Harburg (canção)
O MAGICO DE OZ
(1939)
(THE WIZARD OF OZ) Baseado no romance infantil homônimo de L. Frank Baum, escrito no fim do século XIX, es te clássico eterno é um dos grandes contos de fadas do cinema, sendo também um musical de primeira grandeza e o filme que fez Judy Garland deixar de ser apenas uma talentosa atriz mirim para se transformar em uma estrela atemporal e Icônica. Embora não tenha obtido lucros vultosos quando lançado, talvez por ter sido uma produção caríssima, O mágico de Oz conquistou várias gerações. Como A felicidade não se compra (1946), sua popularidade foi impulsionada na década de 50 por conta de suas exibições natalinas na televisão, que o tornaram um dos filmes mais queridos de todos os tempos. Junto com seu cãozinho Totó, a Dorothy Gale de Garland (com os seios presos por uma cinta para parecer mais jovem) é arrancada de um Kansas em tons de sépia por um tornado e vai parar na Terra de Oz (representada nas cores vibrantes do Technicolor). Lá, sua casa cai em cima de uma bruxa, que morre esmagada e cujos sapatos de rubi mágicos lhe são dados de presente por Gllnda, a Bruxa Boa (Billie Burkc). Dorothy então segue pela Estrada de Tijolos Amarelos em direção à Cidade Esmeralda para encontrar o caminho de volta para a fazenda da qual antes queria escapar. O tema "Não há lugar como o lar", que
Indicação ao Oscar: Mervyn LeRoy
serve para o roteirista manter todos os personagens concentrados nas suas respectivas
(melhor filme), Harold Rosson
jornadas, sempre pareceu um pouco forçado (por que alguém quereria abandonar as ma-
(lotografia), Cedric Gibbons, William A, Horning (direção de arte), A, Arnold Gillespie (efeitos especiais), I louglas Shearer (efeitos sonoros) I estival de Cannes: Victor Fleming, Indli ação (Palma de Ouro)
ravilhas de Oz para voltar para o Kansas?). Ele entra em contradição com a interpretação estraga-prazeres de que o filme Inteiro é um sonho delirante no qual Dorothy transformou todos que ela conhece na vida real em seus amigos c inimigos da Terra de Oz. O filme tem vários esplendores: a magnífica trilha de Harold Arlcn e E. Y. Harburg (que vai desde a assobiável "Over the Rainbow", passando pela alegria contagiante de "Off to See the Wizard" e "Ding-Dong, the Witch is Dead", até a cômica "lf I Only Had a Braln"); a incrível cenografia da MGM; centenas de Munchkins estridentes e macacos voadores; a gag do "cavalo que muda de cor" e as atuações perfeitas de todo o elenco. Há também uma série de momentos inesquecíveis: O Espantalho de Ray Bolger sendo desmembrado enquanto o Homem de Lata de Jack Haley lamenta: "Bem, você está por todo lado"; o Leão Medroso de Bert Lahr tentando ser assustador ("Vou lutar com você com uma pata nas costas"); a morte da Bruxa Má de Margaret Hamilton depois de levar um balde d'água na cara ("Estou derretendo, estou derretendo!"); Frank Morgan saindo de trás da cortina ("Eu sou um homem muito bom, mas sou um péssimo mago"). Como em E o vento levou, também produzido pela MGM em 1939, os créditos pela direção de O mágico de Oz vão para o profissional Victor Fleming, porém o filme é na verdade fruto da arte dos produtores, com Mervyn LeRoy harmonizando todos os diversos elementos de uma filmagem problemática: Buddy Ebsen foi escalado como Espantalho e depois passou a Interpretar o Homem de Lata, até descobrlr-se que ele era alérgico à maquiagem; um número de dança inteiro foi cortado e arquivado até aparecer em Era uma vez em Hollywood (1974); além do boato de que os anões escalados para o papel dos Munchkins eram Incontroláveis. Melhor fala: "Corações nunca vão ser práticos até serem feitos de material inquebrável." K N
EUA (Universal), 94 min. P&B
ATIRE A PRIMEIRA PEDRA
(1939)
Idioma: inglês
(DESTRY RIDES AGAIN)
Direção: George Marshall
Como a maioria das comédias de faroeste, Atire a primeira pedra, de George Marshall,«
Produção: Islin Auster, Joe Pasternak
uma sátira às convenções do heroísmo masculino. Destry (interpretado por J,
Roteiro: Felix Jackson, baseado no
Stewart no seu melhor estilo "Ah, droga!"), xerife da ingovernável cidade de Bottlencc k,
livro de Max Brand
prefere leite a uísque e se recusa a portar uma arma. Isso o torna especialmente na
intografia: Hal Mohr
ressante para a artista de saloon Frenchy, com Marlene Dietrich obviamente repetindo
Música: Frederick Hollander, Frank skinner, Ralph Freed
o papel que a tomou famosa em O anjo azul. Dietrich canta alguns números musi, al
Elenco: Marlene Dietrich, James Stewart, Mischa Auer, Charles Winninger, Brian Donlevy, Allen Jenkins, Warren Hymer, Irene Hervey, Una Merkel, Billy Gilbert, Samuel S. Hinds, Jack Carson, Tom Fadden, Virginia Brissac, Edmund MacDonald
provocantes no Last Chance Saloon, incluindo o famoso "See What the Boys in the Bai l Room Will Have". Em outro caso de clichê às avessas, a habitual cena de "luta nO saloon" se dá entte duas mulheres, com Frenchy e Lily Belle (Una Merkel) se atracandi em uma briga feia. Frenchy, que antes gostava de Kent (Brian Donlevy), se apaixona por Destry, lidera as mulheres da cidade na última batalha contra os bandidos e então se joga na frentl de Destry para levar um tiro que era para ele. Uma história divertida, conduzida poi mãos habilidosas e com um espírito bastante difetente do romance original de MaBrand - o mais prolífico dos escritotes de faroeste -, que já havia sido filmado em 193? com Tom Mix no papel principal e o seria novamente em 1954, com Audie Murphy. EB
PARAÍSO INFERNAL (1939)
EUA (Columbia) 121 min. P&B
(ONLY ANGELS HAVE WINGS)
Direção: Howard Hawks
Imlidi.i Howard Hawks já tivesse lidado com a camaradagem masculina em profissões
Produção: Howard Hawks
(especialmente a aviação) em filmes de ação do i n í c i o da década de 30, como A ia da madrugada,
Delirante
e Heróis do or, este drama de 1939 indica uma
iiiunação no seu estilo, ao imprimir uma marca pessoal em um gênero melodralii.li li o para estabelecer o tom herólco-cômico-romântlco que ele buscaria mais tarde Ki aventura na Martinica,
Onde começa o inferno e Cl Dorado. Atenção às cantorias
Roteiro: Jules Furthman, Howard Hawks Fotografia: Joseph Walker Música: Dimitri Tiomkin, Manuel Alvarez Maciste Elenco: Cary Grant, Jean Arthur,
•Ml giupo, às brincadeiras entre amigos, à divisão das tarefas domésticas, aos apelidos
Richard Barthelmess, Rita Hayworth,
t folocas, à divertida afetação compartilhada pelos sujeitos "durões" e ao verniz de
Thomas Mitchell, Allyn Joslyn, Slg Ruman, Victor Killan, John Carroll,
1 l i i l . i n o que mascara sentimentos sinceros. Paraíso infernal possui extraordinárias, empolgantes e arriscadas seqüências de vôo rui especial uma arriscada aterrissagem seguida de decolagem no altiplano andino - , 0 coração do filme está no solo, onde acompanhamos a união de um grupo que 1 torno do heróiCeoff Carter (Cary Grant). Uma cabeça mais alto do que sua 1 • I• 111> 1' e sem deixar dúvidas de que é a estrela, Ceoff comanda um serviço de correio ia América do Sul, inspirando um grupo de veteranos de guerra traumatizados,
Don "Red" Barry, Noah Beery Jr., Manuel Maciste, Milisa Sierra, l.urln Villegas, Pat Flaherty Indicação ao Oscar: Joseph Walkei (fotografia), Roy Davidson (efeitos especiais), Edwin C. Hahn (efeitos sonoros)
is e vagabundos a saltar sobre os Andes em aviões obsoletos. A showgirl Bonnie 1 i c (Iran Arthur) se vê presa no campo de aviação: a princípio, fica aterrorizada com a llltude ostensivamente machona dos pilotos quando um deles é morto em um acidente i"i'
porém aos poucos passa a ver o lado sensível deles e acaba se juntando a Geoff em mimada interpretação da música "The Peanut Vendor". I ssencialmente uma novela com testosterona, o filme conta com um grupo de pesM v a r i a d a s " mostrando seu valor em momentos de crise e alterna diálogos engraça-
dos e picantes e cenas de ação aérea que funcionam até hoje. Além de contar t a m b é m com it imo elenco de apoio de rostos conhecidos: Richard Barthelmcss (tentando apagar .1 reputação de covarde por ter abandonado um avião em queda e deixado seu mei mico para trás), Thomas Mitchell (que esconde dos companheiros que está ficando ' ida vez mais cego com a idade), Noah Beery jr., Slg Ruman e Rita Hayworth (como o tipo • I' mulher com o qual os homens não deveriam se meter, mas geralmente se metem). K N í
4
4SF*
I',1
tUA (Selznlck) 222 min. Technicolor
E 0 VENTO LEVOU (1939)
Idioma: inglês
(GONE WITH THE WIND)
Direção: Victor Fleming, George
O best-seller sobre a Guerra Civil de Margaret Mitchell foi agarrado pelo megalom
Cukor Produção: David O. Selznick Moleiro: Sidney Howard, baseado no llvio de Margaret Mitchell Fotografia: Ernest Haller, Ray
produtof David O. Selznlck, que resistiu à sugestão de escalar Basil Rathbone como Rhell Butler em favor da única escolha que os fãs aceitariam: Clark Gable. Depois de u ( l f ] talentos no país inteiro e de uma briga de foice em Hollywood envolvendo cada prougo nista feminina em potencial da cidade, Selznlck conttatou a inglesa Vlvien Leigh pji*
Rennahan, Lee Garmes
Interpretar Scarlett 0'Hara. Insistindo em que cada detalhe fosse suntuoso, Selznii k IISHII
Musica: Max Steiner
pelo menos três diretores (Sam Wood, George Cukor c Victor Fleming), botou fogo um
Elenco: Clark Gable, Vivien Leigh,
cenários que haviam sobrado de King «ong para encenar o incêndio de Atlanta, conii.iiiiu
I eslle Howard, Olivia de Havilland,
figurantes suficientes para reencenar a Guerra Civil e aguardou o Oscar para ser aclamado,
rhomas Mitchell, Barbara O'Neill, I velyn Keyes, Ann Rutherford, George Reeves. Fred Crane, Hattie McDaniel,
Concebido desde o Início para ser o maior de todos os filmes de Hollywood, £ o ventt levou permaneceria por décadas a fio como a principal referência para os épicos cinema-
I isc ,11 I'olk, Butterfly McQueen,
tográficos. Embora o filme seja monumental o bastante para estar além de qualque
Vu hn |ory, Everett Brown
crítica, a maioria das cenas verdadeiramente excelentes está na primeira metade, eu
Oscar: William Cameron Menzies
grande parte dirigida por Cukor, que trouxe seu talento para o desenvolvimento de pet
(jiieinio honorário - uso de cor), David
sonagens e nuances ao material empregando um ótimo ritmo épico. Fleming, por sua
< » '.elznick (melhor filme), Victor
vez, mais conhecido por dirigir cenas de açáo vigorosas, acabou ficando com os trechos
I Inning (diretor), Sidney Howard (inleiio), Vivien Leigh (atriz), Hattie M. 11.miei (atriz coadjuvante), Lyle R. wheelei (direção de arte), Ernest Haller, r IV Rennahan (fotografia), Hal C. Kern, Iami". I. Newcom (edição), Don Mii-.gi.ive (prêmio de inovação técnica) Indicação ao Oscar: Clark Gable (•tor), Olivia de Havilland (atriz
mais novelescos, à medida que o casamento dos protagonistas entra em crise, sofrendo altos e baixos durante o pós-guerra. Estes, no entanto, são bem menos cativantes do que o romance dilacerado pela guerra e conturbado que os uniu. O que move a trama é o coração indeciso de Scarlett, que Leigh intetpteta como ftívola e depois como empedernida: ela é tão apaixonada pelo galante Ashley Wilkes (Leslle Howard) que se casa com vários bobalhões medíocres (e malfadados) quando ele escolhe ficar com a mais feminina (e malfadada) Mclanie (Olivia de Havilland). Rhett
ÍOldjuvante), Max Steiner (música),
Butler, mais ptagmático do que idealista, entra em cena e ela se sente atraída por ele
H u m u s T. Moulton (som). Jack
quando a guerra destrói o estilo de vida sulista. Os dois se casam depois de Scarlett ter
I osgrove, Fred Albin, Arthur Johns
jurado nunca mais passar fome e manter Tara, a fazenda de seu pai, funcionando ape-
(eleitos especiais)
sar dos estragos da guerra. Ela só percebe que ama Rhett de verdade quando ele a rejeita, gerando o clássico final em aberto em que o personagem de Gable vai embora ("Francamente, minha querida, estou pouco me lixando") e ela jura conquistá-lo de volta ("Amanhã é um novo dia"). Como O nascimento de uma nação (1915), E o vento levou maquia boa patte de uma história complexa, mostrando apenas escravos felizes e obedientes e retratando o envolvimento de Ashley em uma organização nos moldes da Ku Klux Klan durante o pós-guerra como algo genuinamente heróico (embora malfadado). Contudo, o ritmo do filme é quase Irresistível e as seqüências de Selznlck estão entre as mais emblemáticas da história do cinema: o zoom out a partir de Scarlett enquanto ela cuida dos feridos, enchendo de cinza a tela com soldados mutilados; a câmera que corre por entre as chamas enquanto Atlanta pega fogo; Gable carregando Leigh escada acima para sombras sensuais. Adornado com o exuberante Technicolor de 1939 - os vestidos em tons pastel e as paixões em vermelho vivo - e com a retumbante trilha de Max Stelner, este filme ainda pode ser considerado, com justiça, a última palavra em termos de cinema hollywoodlano. K N
Trança (Sigma, Vauban) 93 min. P&B Idioma: francês Direção: Mareei Carne Roteiro: Jacques Prévert, Jacques Viot Fotografia: Philippe Agostini, André K.K , Albert Viguier, Curt Courant Música: Maurice Jaubert Elenco: Jean Gabin, Jules Berry, A i l r i i y , Mady Berry, René Cénin,
TRÁGICO AMANHECER
(1939)
(LEJOURSE LEVE) Embora não tenha sido o primeiro filme a usar fusões para marcar flashbacks, li amanhecer,
de Mareei Carne, foi considerado tão Inovador em 1939 que os produlnim
insistiram em que uma mensagem fosse colocada antes do título para desfazer qu.ilqiiiM confusão: "Um homem cometeu um assassinato. Preso em um quarto, ele recorda 1 uniu se tornou um assassino." O assassino é François (Jean Gabin), um peão de fábrica comum que foi levado 1
Arthur Devère, René Bergeron,
cometer o assassinato pela própria vítima, um ator de vaudeville amoral e manipul.idiii
Bem and Blier, Mareei Pérès,
chamado Valentln (Jules Berry). O destino deles está ligado ao de duas mulheres: t
i.rimaine Lix, Gabrielle Fontan,
mundana e sensual Clara (Arletty), que abandona Valentin para se envolver (oin
|.i< quês Baumer, Jacqueline Laurent Festival de Veneza: Mareei Carne fTroféu Mussolini - melhor filme)
François, e a pura e idealizada Françoise (Jacqueline Laurent), que François ama, mas qiit j foi corrompida pela sua associação com outro homem. Dentre a extraordinária série de clássicos que a parceria de Carne com o r o t e l r l s t í Jacques Prévert geraria (alguns deles são Caís das sombras [1938], Os visitantes da nollf [1942] e, em posição de destaque, O boiílevaíd da crime [i94S|}, liui/iio amanhecer pode ser considerado o mais Influente. Certamente ensaia temas ao quais a dupla voli.m mais tarde em O boulevard do crime. Embora o filme apresente seus temas a l e g o r i a , com discrição, François representa claramente o proletariado francês, e Trágico amanhecer dá voz ao desespero daqueles que apoiavam a Frente Popular no fim d l década de 30 à medida que o Estado abolia as reformas socialistas de cunho progres-slsta e a ameaça do fascismo ganhava vulto. Quando um amigo de François grita da mui tldão reunida diante do seu prédio que ainda há esperança, ele retruca: "Está acabado, |.i não existe François... já não existe mais nada." O clima fatalista de alienação existencial do filme e sua atmosfeia austera e claustrofóblca foram, sem dúvida, os precursores do clima e da forma do filme nolr americano. Na verdade, a RKO refilmou Trágico amanhecer com Henry Fonda e Vincent Price sob o título Noite eterna, em 1946 (o estúdio tentou destruir todos os traços do original - e, felizmente, fracassou -, sendo Noite eterna que praticamente desapareceu no tempo). Da mesma forma, o romântico bronco de Gabin antecede suas contrapartes americanas, como John Carfield e Humphrey Bogart, como um leõnico herói proletário. Trágico amanhecer é. provavelmente, a obra prima do realismo poético francês. T C h
GUNGA DIN (1939) u n i ' pura história de aventura de Hollywood vem, estranhamente, de um poema de
EUA (RKO) 117 min. P&B Idioma: inglês
Niiily.iul Kipling, que forneceu aos roteiristas Ben Hecht e Charles MacArthur apenas a
Direção: George Stevens
ih
Produção: George Stevens
ifera e o personagem menor do título. lis famoso registro de uma série de produções da década de 30 que louvam o is ingleses como sustentáculos do fatdo do homem branco, Congo Din conta a I de três soldados profissionais (Cary Grant, Douglas Fairbanks Jr. e Victor i 1 Jen) na índia. A princípio, o trio parece estar prestes a se separar, com a proximii) casamento de um deles - um destino pior do que a morte neste mundo de 1
I
exclusivamente masculinos. Felizmente, uma terrível ameaça à comunidade i.uda a aparecer na forma de uma seita fanática que pratica sacrifícios humanos,
11» Iugues. Duas seqüências de batalha se seguem, encenadas com maestria por riis. No clímax do filme, os três sargentos são aprisionados durante um confronto I Bi tugues, sendo usados como isca pelo cruel líder destes para atrair o regimento
Roteiro: Ben Hecht, baseado no poema de Rudyard Kipling Fotografia: Joseph H. August Música: Alfred Newman Elenco: Cary Grant, Victor McLaglen, Douglas Fairbanks Jr., Sam Jaffe, Eduaido Ciannelli, Joan Fontaine, Montagu Love, Robert Coote, Abner Biberman, Lumsden Hare Indicação ao Oscar: Joseph H. August (fotografia)
na armadilha. No entanto, Gunga Din (Sam Jaffe) praticamente tessuscita para na corneta e alertar a tropa, que então massacra os fanáticos. O trio volta a se lll com seu regimento e juntos celebram o heroísmo do seu companheiro morto. I iio com o que era um grande orçamento para a época, Cungn Din é um banquete I
olhos, um dos mais impressionantes filmes de ação já feitos - e o maior de M o s os filmes sobre a camaradagem masculina. RBP
NIN0TCHKA<1939)
EUA (Loew's, MGM) 110 min. P8.B
A mais charmosa e bem-humorada comédia de costumes européia traz Greta Garbo em
Idioma: inglês
no papel cômico. Passada na Paris da década de 20, a trama de Ninotchka gira em 1
11 da tentativa do governo soviético de recuperar jóias inestimáveis da grão-
duquesa exilada Swana (Ina Claire). Três burocratas arrogantes falham nessa missão e em seduzidos pelos luxos e liberdades da sociedade ocidental. Assim, Ninotchka
Direção: Ernst Lubitsch Produção: Ernst Lubitsch Roteiro: Melchior Lengyel, C.11.1111 • •. Brackett, Walter Reisch, Billy Wlldei Fotografia: William H. Daniels
11 lio) fica responsável por recuperar o tesouro através do amante da grão-duquesa, o
Música: Werner R. Heymann
lulor e charmoso Leon (Melvyn Douglas).
Elenco: Greta Garbo, Melvyn
No final, Ninotchka só consegue recuperar as jóias ao retornar para Moscou e i com Leon, que logo a segue até a Rússia. Embora estejam apaixonados, ela se a a trair seu país e Leon recorre a subterfúgios pata fazê-la viajar até Istambul, • n i I r ela o encontra e os dois decidem se casar. Os temas políticos do filme não devem ivados a sério e servem de pano de fundo para uma seqüência cômica atrás da Dutra. A mais memorável delas talvez seja a tentativa de Ninotchka de fazer as • aventes de um banheiro feminino de uma boate chique de Paris entrarem em greve. Uglas está perfeito no papel do apaixonado e auto-indulgente Leon, mas o filme 1 1 lence a Garbo, em seu último grande papel no cinema. RBP
Douglas, Ina Claire, Bela Lugosi, sig Ruman, Felix Bressart, Alexandei Granach, Gregory Gaye, Rolfe Sedan. Edwin Maxwell, Richard Carie Indicação ao Oscar: Sidney Franklin (melhor filme), Melchior Lengyci, Charles Brackett, Walter Reisch, Billy Wilder (roteiro), Greta Garbo (atriz)
França {Les Nouvelles Editions Françaises) no min. P&B Idioma: francês Direção: Jean Renoir Produção: Claude Renoir Roteiro: Carl Koch j e a n Renoir Fotografia: Jean-Paul Alphen, Jean Hachelet, Jacques Lemare, Alain Renoir Música: Roger Désormières
A REGRA DO JOGO
(1939)
(LA RÈGLE DU JEU) Depois do grande sucesso de A grande ilusão (1937) e A besta humana {1938), Jean Reuoli, juntamente com seu Irmão Claude e três amigos, fundou sua própria produtora, I N Nouvelles Editions Françaises. O primeiro projeto a ser anunciado pela NEFfoI uma adapta çâo e atualização da peça Les caprices de Marianne, de Alfred de Musset; quando lhe pedi ram para descrever como seria seu filme, Renoir respondeu: "Uma descrição exata da bui guesia do nosso tempo." Este é o filme que acabou recebendo o nome de A regra do jogo. Depois de completai um vôo transatlântico em tempo recorde, o aviador Andif
Elenco: Nora Gregor, Paulette Dubost,
Jurieux (Roland Toutain) anuncia pelo rádio sua decepção com o fato de uma certa pes
Mila Parély, Odette Talazac, Claire
soa não estar no aeroporto para recebê-lo. Essa "pessoa" é Christine (Nora Gregor), uma
Gerard, Anne Mayen, Lise Elina, Marcel
austríaca casada com o colecionador de aviões Robert de la Cheynlest. Octave (inter
l'.ilio, Julien Carette, Roland Toutain, ( .asion Modot, Jean Renoir, Pierre Magnier, Eddy Debray, Pierre Nay
pretado pelo próprio Renoir), amigo e confidente tanto de André quanto de Christine, convence Robert a convidat André para uma festa em La Collnière, sua luxuosa casa de campo, como forma de ele salvar sua reputação. Robert, por sua vez, espera que a presença de André distraia Christine enquanto ele se acerta com Geneviève (Mila Parély), sua amante de longa data. Isso é o que está acontecendo entre os "pattões". Do lado dos "criados", temos Lisette (Paulette Dubost), empregada de Christine e casada com Schumacher (Gaston Modot), o caseiro de La Colinière, que chama a atenção de Marceau (Julien Carette), um ladrão que é contratado por Robert como criado. O roteiro de Renoir irá amarrar as várias aventuras amorosas de patrões e criados, conduzindo por fim ao tiro "acidental" que atinge André, que é sacrificado para que uma ordem social corrupta possa permanecer intacta. Um estilo de filmar que favorece a profundidade de campo e uma câmera em mo vimento constante alcança aqui seu auge, à medida que Renoir reforça a atmosfera teatral dominante tanto dentro quanto fora de cena. A maioria das atuações é impecável: Dallo como Robert, Carette como Marceau, Dubost como Lisette, Modot como Schumacher. Durante anos, críticos desmereceram a atuação de Gtcgor como Christine, se perguntando por que tantos homens no filme são apaixonados por ela - porém talvez essa seja exatamente a questão. Renoir se escalou corajosamente como Octave, em uma representação devastadora de um homem que preenche o vazio de sua vida servindo de intermediário para os casos amorosos de outtas pessoas. Um desastre cometcial quando lançado no verão de 1939, A regra do Jjj
jogo foi montado e temontado, mas sem sucesso; logo depois do come-
JH
ço da guerra naquele outono, foi proibido 1 orno sendo um pei igo .1 mora I
da população. A partir do fim da década de 40 e no decorrer dos anos 50, a lenda do filme foi mantida viva pot André Bazin e seus discípulos da Cahiersdu
Cinema, que afirmavam que, juntamente com Cidadão Kane, A
regra do jogo foi o precursor do cinema moderno; ainda assim, o filme era conhecido apenas na sua forma radicalmente encurtada (88 minutos). Em 1956, passou por uma restauração que lhe devolveu quase por completo a duração original (113 minutos), mas ainda falta uma cena, e depois foi apresentado em 1959 no Festival de Veneza. O resto é história do cinema, com o filme sendo finalmente aclamado internacionalmente como a obra-prima que de fato é. RP
EUA (Samuel Coldwyn) 103 min. P&B Idioma: Inglês Direção: William Wyler Produção: Samuel Coldwyn Itotciro: Ben Hecht, Charles M.u Arthur, baseado no livro de Emily Rrontè
*
fotografia: GreggToland M Ú s k a : Alfred Newman 1 Itnco: Merle Oberon, Laurence lllvler, David Niven, Flora Robson,
0 MORRO DOS VENTOS UIVANTES
(1939)
(WUTHERING HEIGHTS) A versão cinematográfica de William Wyler de O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontc, é um incomparável conto gótico sobre uma paixão indestrutível, frustrada pelai circunstâncias sociais e pela desgraça. Um viajante solitário, Dr. Kenneth (Donald Crlsp), ao atravessar os pântanos do Norte da Inglaterra, passa a noite em Wuthering Helghts, onde uma criada idosa lhe conta a trágica história de Heathcliff (LaureimOlivier), o atual dono da casa. Um cigano errante, ele é adotado pelos Earnshaws e criado com seus dois filhos legítimos. Heathcliff está sempre na companhia da jovem Cathy (Merlc Oberon) e é alvo da zombaria de Hindley, seu Irmão esnobe. Edgar Linton
Donald Crisp, Geraldine Fitzgerald,
(David Niven), um vizinho rico, se apaixona por Cathy e ela descarta Heathcliff, que vai
Hugh Williams, Leo G. Carroll, Miles
para a América. Cathy o esquece e acaba se casando com Edgar. Heathcliff retorna 1
M.inder, Cecil Kellaway, Cecil
Inglaterra como um homem rico. No entanto, furioso com a traição de Cathy, casa-se
Humphreys, Sarita Wooton, Rex
com a irmã de Edgar (Geraldine Fitzgerald), maltratando a pobre mulher como uma
Downing, Douglas Scott
forma de vingança. Cathy é infeliz com Edgar e adoece; porém, antes de ela morrer, os
Oscar: Gregg Toland (fotografia) Indicação ao Oscar: Samuel Goldwyn (ini'lhoi filme), William Wyler (diretor),
ex-amantes gozam de uma breve união. O monólogo de Heathcliff sobie a vida que eles terão juntos é um dos momentos
Hen Hecht, Charles MacArthur
mais pungentes de toda Hollywood. São as atuações de Olivier e de Oberon como os
(inii'lio), Laurence Olivier (ator),
amantes malfadados, tendo como pano de fundo a brutalidade proibitiva dos pântanos
1
liraldlne Fitzgerald (atriz coadjuvante),
criados em estúdio, que tornam este filme tão notável. RBP
Allied Newman (música), James Basevi (dlirçáo de arte)
I U A (i olumbia) 92 min. P&B
JEJUM DE AMOR
(1940)
Idioma: inglês
(HIS GIRL FRIDAY)
Dlicção: Howard Hawks
O clássico folhetim de Ben Hecht e Charles MacArthur The Front Page já havia sido
Produção: Howard Hawks
filmado com sucesso antes e o seria novamente depois desta brilhante versão de 1939,
Roteiro: Ben Hecht, Charles
roteirizada por Hecht e Charles Lederer. No entanto, o astuto e espirituoso diretor
Mat Arthur
Howard Hawks se compraz com uma simples modificação que é um toque de mestre: a
1 litografia: Joseph Walker
transformação do super-repórter Hildy Johnson em mulher. E, voilò, jejum de amor se
Música: Sidney Cutner, Felix Mills rlenco: Cary Grant, Rosalind Russell, Ralph Bellamy, Gene Lockhart, Porter Hall. Ernest Truex, Cliff Edwards,
torna a mais afiada guerra dos sexos da história das comédias românticas escrachadas. A cintilante Rosalind Russell é a debochada repórter estrela que seu editor e exorando (Cary Grant, no papel do Inescrupuloso e agressivamente charmoso Walter
(l.uence Kolb, Roscoe Karns, Frank
Burns) não pode perder no melo de uma matéria quente sobre um assassinato. Quando
links, Regis Toomey, Abner
ela anuncia que vai pedir demissão para se casar com um sujeito quadrado e submisso
Blberman, Frank Orth, Helen Mack,
(Ralph Bellamy), a incredulidade e a decepção de Walter o fazem trabalhar a mil por
|0hn I malen
hora. Segundo os cálculos do ardiloso Walter, Hildy não conseguirá resistir a uma última grande história, e ela logo se vê envolvida até o pescoço com uma rebelião em um presídio e um escândalo de corrupção. Grant e Russell entram em duelos verbais de uma velocidade estonteante em uma trama que chega às raias da caricatura, com um grande leque de personagens de redação de jornal - mascadores de chicletes, fumantes Inveterados e jogadores de póquer - fazendo um cínico coro para os dois. Teatral e estiloso, Jejum de amor é incomparável em seu tlming cômico e falta de papas na língua. AE
Itl BECCA, A MULHER INESQUECÍVEL
(i940)
(Ml BECCA) i u m u n t o surpreendente que, apesar da sua longa e prolífica carreira e das várias "cs que receberia, apenas Rebccca, a mulher inesquecível, seu primeiro filme mo, tenha tendido a Alfred Hitchcock um Oscar de Melhor Filme. No entanto, vez sirva mais para indicar o poder de persuasão do produtor David O. Selznick. olhendo os louros do sucesso de £ o vento levou, de 1939, Selznick agarrou a npni 1 unidade de trabalhar com Hitchcock, casando o diretor com a história de l.mi asmas gótica de Daphné du Maurier. 11 .ibalhando com um grande orçamento, Hitchcock transformou a mansão M a n drrley ela mesma em um personagem - o que mais tatde serviria de inspiração para a Imp mente Xanadu de Cidadão Knnc. A suntuosa propriedade à beira-mar é o cenário lenso romance entre Joan Fontaine e Laurence Olivier. Ele é um rico viúvo que Corteja a inocente Fontaine; ela, por sua vez, jamais questiona sua sorte em encontrar u n e m tão bom. Eles se casam depois de um namoro relâmpago, porém, à i i " lula que o relacionamento se aprofunda. Fontaine é cada vez mais atormentada pilo espírito da esposa morta - Rebecca. Será o fantasma apenas um delírio da sua Imaginação, fruto de uma paranóia, ou alguma força mais nefasta em ação? E o que a 'aa Danvers, uma criada suspeita, tem a ver com os estranhos acontecimentos, se é i p i e tem algo a ver com eles? Rebecca marcou a promissora chegada de Hitchcock à América. Na verdade, ironiiinente, o filme derrotou no Oscar o último filme inglês do diretor.
Correspondente
geiro. Aqui, todos os seus traços autorais são usados à perfeição: temos a s o m l n i a e misteriosa história antes da história, as suspeitas mal contidas, o romance de • 1 1 1 1 1 0 de fadas condenado pelo passado invasivo e, é claro, a sensação crescente de trilçâo. No entanto. Rebccca carece do tom jocoso que é a matca registtada de heock e o filme nâo possui senso de humor. Essa falta de leveza pode set creditada e m grande parte à natureza ininterruptamente lúgubre e gótica do romance meloilt.imático de du Maurier. A inocente Fontaine é quase levada à loucura pelos segredos que se arrastam em Mandetley, porém Hitchcock fica mais que feliz em deixar a tensão . rescer e crescer até o apavorante desfecho. JKl
EUA (Selznick) 130 min. P&B Idioma: inglês Direção: Alfred Hitchcock Produção: David O. Selznick Roteiro: Joan Harrison e Philip MacDonald, baseado no livro de Daphne du Maurier Fotografia: George Barnes Música: Franz Waxman Elenco: Laurence Olivier, Joan Fontaine, George Sanders, Judith Anderson, Gladys Cooper, Nigel Bruce, Reginald Denny, C. Auhiev Smith, Melville Cooper, Florence Bates, Leonard Carey, Leo G. Carroll, Edward Fielding, Lumsden Hare, Forrester Harvey Oscar: David O. Selznick (melhor filme), George Barnes (fotogralia) Indicação ao Oscar: Alfred Hitchcot k (ditetor), Robert E. Sherwood, Joan Harrison (roteiro), Laurence Oliviei (ami), Joan Fontaine (atriz), Judith Antler (atriz coadjuvante), Lyle R. Wheelet (direção de arte), Hal C. Kem (edição), Jack Cosgrlve, Arthur Johns (efeltOI especiais), Franz Waxman (músii a)
T U A (Walt Disney) 120 min. technicolor
FANTASIA
(1940)
Embora hoje em dia seja lugar-comum, criar imagens para interpretar música efl
Idioma: ingles
revolucionário quando este audacioso marco da animação e da gravação de som n u
Direção: Ben Sharpsteen (supervisor)
estéreo foi concebido e realizado pelos estúdios Walt Disney para aclamação e esp.inin
Produção: Walt Disney, Ben sharpsteen Koteiro: Joe Grant, Dick Huemer I otografia: James Wong Howe, M.ixwell Morgan Música não original: Bach,
universais. Agraciadas pelo astro da música clássica Leopold Stokowski na regência dl Orquestra da Filadélfia, as oito abrangentes seqüências de Fantasia compreendem um concerto com desenhos ambiciosos, divertidos, portentosos e experimentais que acompanham obras de Tchaikovsky, Mussorgsky e Schubert, entre outros. Mesmo em telas IMAX, a tecnologia de exibição escolhida para a mais recente das
Beethoven, Dukas, Mussorgsky,
várias restaurações, regravações e relançamentos de aniversário da Disney do seu
St hubert, Stravinsky, Tchaikovsky
estimado marco da animação de 1940 (acrescentado com razoável sucesso de cinco na
Elenco: Leopold Stokowski (maestro,
vos segmentos na produção atualizada de Fontosin 2000), o filme pode decepcionai
1 )M|iiestra da Filadélfia}, Deems raylor (narrador), Julietta Novis (solista) Oscar: Walt Disney, William E. Garity, I N. A. Hawkins (prémio honorário),
pois ainda é uma experiência descaradamente kitsch, por mais impressionante c inovador que seja. Os filhos do pós-guerra que o assistiram à base de alucinógenos na juventude talvez sejam os que mais gostam dele hoje em dia. Contudo, existem algumas seqüências mágicas que resistiram ao tempo, o que faz sentido em um filme
1 eopold Stokowski & associados
realizado por 60 animadores trabalhando com nada menos do que 11 diretores (sob a
(prémio honorário)
supervisão de Ben Sharpsteen). Mais assistívels são as abstrações à frente do seu tempo em cima da música de Bach, nas quais o som multicanal é perfeitamente sincronizado aos desenhos e parece alçar vôo da tela. Mickey Mouse, mais encantador do que nunca como o Aprendiz de Feiticeiro tentando desesperadamente conter as vassouras auto-replicantes conjuradas por ele para fazerem suas tarefas; os cogumelos chineses dançarinos; um adorável coral de paquidermes de cílios pestanejamos; os hipopótamos de tutu saltitando elegan temente e fugindo de crocodilos usando gorros ao som de "A dança das horas" - tudo Isso ainda é uma diversão. Se juntarmos tudo, temos uma doce hora de grandeza. Contudo, em meio a esses momentos, há seqüências que não envelheceram tão bem. As fadas saltitantes que estão nuas mas que, por uma questão de bom gosto, não têm órgãos sexuais, o aparentemente interminável declínio dos dinossauros ao som da "Sagração da primavera", de Stravinsky, e o absurdo de vulgaridade a que a "Pastoral" de Beethoven foi submetida (centauros perseguindo, enamorados, centauros fêmeas tímidas c de aparência pubescente, todas com penteados estilo joan Crawford) perdem feio no quesito credibilidade. AE
NÚPCIAS DE ESCÂNDALO
hmoi
(IHE PHILADELPHIA STORY) ptação de 1 9 4 0 de George Cukor da farsa teatral de Philip Barry é o clássico 1 estável de todas as comédias pastelão sofisticadas. Katharine Hepburn estrelou I pri 1 na Broadway e diz-se que o dramaturgo Philip Barry baseou a protagonista na lu
putação à época. Depois de ela ter deixado a RKO não exatamente em bons ter0 público via Hepburn como mandona e masculinizada, certamente longe do
Ideal lemlnino do fim da década de 3 0 . Na cena de abertura, agora famosa por sua fúria praticamente sem diálogos, a herdel-
EUA (MGM) 1 1 2 min. P&B Idioma: inglês Direção: George Cukor Produção: Joseph L. Manklewic/ Roteiro: Donald Ogden Stewart, baseado na peça de Philip Barry Fotografia: Joseph Ruttenberg Música: Franz Waxman Elenco: Cary Grant, Katharine Hepburn, James Stewart, Ruth
I I n u y Lord (Hepburn) observa seu recém-dlvorciado marido playboy Dexter Haven (Cary
Hussey, John Howard, Roland Young,
1 ii.nii) colocar alguns dos seus pertences no carro e bater com um taco de golfe em sua
John Halliday, Mary Nash, Virgínia
le raiva. Numa tentativa de provar que ela não é Impossível de se amar, Tracy planeja ir com um homem respeitável embora Insosso, na mansão da família, quando volta com dois repórteres a reboque, Mike Connor (James Stewart) e Llz Imbrie lussey), especificamente para arruinar o casamento. Mais radiante do que nunca, Hepburn se supera em üm papel que exige um timing cômico impecável, assim como ibilldade genuína. Suas cenas com Stewart no jardim à noite, antes do seu fatídico 1 iniento, capturam a essência da atração impetuosa que eles sentem um pelo outro. Hepburn foi a responsável por Núpcias de escândalo ser como é. Ela detinha os direitos do projeto, que então vendeu sabiamente para a MGM sob a condição de que repetisse o pipel principal e pudesse escolher o diretor e o elenco. Ela queria Clark Gable como Dexter SpencerTracy como Mike, porém, por problemas de agenda, nenhum dos dois estava disponível. No lugar deles foram escalados Grant, que já havia sido seu parceiro nas telas • Ni ires ocasiões anteriores, e Stewart. O diretor George Cukor conseguiu fazer a imagem pública negativa de Hepburn funcionar a seu favor através da personagem, suscitando lalxão por uma mulher tão bonita e tão incompreendida. O filme foi um enorme 1
,so, com um roteiro ganhador do Oscar que misturava comédia com crítica social. Em 1 peça foi refilmada, com o acréscimo de números musicais, como Alta sociedade. Kl<
Weldler, Henry Daniell, Lionel Pape, Rex Evans Oscar: Donald Ogden Stewart (roteiro), James Stewart (ator) Indicação ao Oscar: Joseph L. Mankiewicz (melhor filme), Geoige Cukor (diretor), Katharine Hepburn (atriz), Ruth Hussey (atriz coadjuvante)
EUA (Fox) 128 min. P8<B Idioma: inglês
AS VINHAS DA IRA (1940) (THE GRAPES OF WRATH)
Direção: John Ford
Poucos filmes americanos da década de 30 lidaram com o sofrimento e os transtornos
Produção: Nunnally Johnson, Darryl
da Depressão. Hollywood, em sua grande maioria, deixou que outras mídias, como o
F. Zanuck
teatto, a literatura e a fotografia, documentassem o desastre nacional. O tomance d l
Uoteiro: Nunnally Johnson, baseado
John Steinbeck As vinhas da ira, publicado em 1939, foi baseado em uma pesquisa
no livro de John Steinbeck Fotografia: Gregg Toland lltrtco: Henry Fonda, Jane Darwell, liihn ( arradine, Charley Grapewin,
rigorosa, em que o autot seguiu famílias agricultoras desalojadas de Oklahoma na sua jornada até as lavoutas da Califórnia em busca de trabalho. Apesar das objeções dos conservadores que controlavam o estúdio, Darryl Zanuck
Dorrls Howdon, Russell Simpson,
comprou os direitos do livro para a 20th Century Fox. Ele sabia que John Ford era o
Oi Z. Whitehead, John Qualen, Eddie
homem certo para dirigir o filme, com sua sensibilidade para com o povo americano <•
( mill,in, Zeffie Tilbury, Frank Sully, 11.ink Darien, Darryl Hickman, Shirley Mills, Roger Imhof Oscar: John Ford (diretor), Jane
sua história. Ford também se identificava com o que há de mais doloroso no suplício da família Joad - não a pobreza aguda, mas o trauma psicológico de quem é arrancado do seu lar, jogado na estrada, desenraizado. Em uma cena memorável, a Mãe (Jane Dar-
Darwell (atriz coadjuvante)
well) queima os pertences que não pode levat consigo na noite anterior ao dia em que
indicação ao Oscar: Darryl F. Zanuck,
precisam abandonai a fazenda.
Nunnally Johnson (melhor filme), Nunnally Johnson (roteiro), Henry I mula (ator), Robert L. Simpson (edii,ao), Edmund H. Hansen (som)
Para o papel do protagonista Tom Joad, Ford escalou Henry Fonda, que pouco tempo atrás havia esttelado A mocidade de Lincoln (1939) e Ao rufar dos tambores (1939), dois outros filmes sobre a história da América, também dirigidos por Ford. Dentre os outtos membros da Sociedade Anônima John Ford presentes aqui estão Russell Slmpson como o Pai, John Qualen como o amigo Mulcy e John Carradinc como o pastor itinerante. E, para o posto de cinegraflsta, Ford fez uma escolha inspirada. Gregg Toland capturou de forma brilhante o olhar documental das fotografias que haviam sido titadas da tragédia por fotógrafos contratados pelo governo, como Dorothea Lange. Em nenhum momento isso fica mais patente do que na seqüência em que a família Joad chega a um acampamento de sem-terra, com a câmera detendo-se nos rostos soturnos dos ocupantes e nos batracos caindo aos pedaços em que eles vivem. Embora As vinhas da ira não deixe de mostrar a enormidade do sofrimento dos seus protagonistas, há uma importante divergência em relação ao livro. No romance de Steinbeck, a família a princípio encontta condições mais favoráveis em um acampamento do governo, porém, no fim, se vê reduzida a salários de fome. No filme, ela chega ao mesmo acampamento mais tarde, de modo que seu progresso se dá em uma curva ascendente, marcada pela última fala da Mãe: "Nós somos o povo... jamais deixaremos de existir." EB
A VIDA E UMA DANÇA
o940)
(DANCE, GIRL, DANCE) lonhecem Lucille Ball apenas por conta de sua popular série de tevê da década
EUA (RKO) 90 min. P&B Idioma: inglês Produção: Harry E. Edlngton, Erich
rir ',n deveriam conferir seu trabalho neste A vida é uma dança, o clássico camp de
Pommer
1
Roteiro: Tess Slesinger, Frank Davis,
1 liy Arzner. No papel de "Bubbles"/ "Tlger" Lily White, Ball praticamente rouba o la dedicada bailarina de Maureen 0 ' H a r a , que é forçada a trabalhar como ia de boate pata não passar fome. A vida é uma dança traz a batida história da vida no mundo sótdido das dançarinas dos olhos de Judy 0'Brian (0'Hara), uma aspirante a bailarina incentivada por HL mentora, Madame Basilova (a sempre camp Maria Ouspenskaya), que infelizmente pelada por um caminhão antes de sua protegida poder revelar seu talento,
lubbles ofetece a Judy uma vaga de escada no seu número de dança. Pouco depois, 10 suporta mais e grita furiosamente para uma platéia só de homens: "Podem açam valer seus cinqüenta centavos!" Muitos considetatam isto uma postura I' " m i s t a por parte de Arzner, anos-luz antes de esse tipo de atitude virar moda. Não Obstante, é de Ball que Arzner retira mais graça e é impossível esquecer Lucy dançando
baseado no argumento de Vlckl Baum Fotografia: Russell Metty, Joseph II. August Música: Chet Forrest, Edward Waid. Bob Wright Elenco: Maureen O'Hara, Louis Hayward, Lucille Ball, Virginia I leid. Ralph Bellamy, Maria Ouspenskaya, Mary Carlisle, Katharine Alexander, Edward Brophy, Walter Abel, Harold Huber, Ernest Ttuex, Chester (lute, Lorraine Ktueger, Lola Jensen
I111I.1 hula ou cantando a plenos pulmões "Jitterbug Bite". Se você acha brigas de camarim e uma pitada de mulheres um espetáculo diver •ntão não deixe de ver A vida é uma dança. Como diria Bubbles: "Olha só, garota, 11111.10 calo na sarjeta; sempre escolho bem onde cair." Ironicamente, Ball ainda viria a '.ei ,1 dona do estúdio que produziu este filme: a RKOI D D V
PINOQUIO
(1940)
EUA (Walt Disney) 88 min.
(PINOCCHIO)
Technicolor
Alguns dos mais sombrios elementos da fábula italiana original de Carlo Collodl foram,
Idioma: inglês
naturalmente, descartados assim que Disney pôs as mãos na história. Porém apenas
Direção: Hamilton Luske, Ben
mis. O encanto duradouro deste Pinóquio em desenho animado prova que nem nulas as altetações feitas pelo estúdio na história de um boneco de madeira que ganha oram necessariamente pata piot, e muitos dos detalhes mais assustadores dela Kintinuam presentes. O clássico ainda consetva muito de seu horror à medida que i inóquio encara os perigos das pressões alheias que o distraem do seu objetivo de se iar um menino de verdade. Guiado (mas nem sempre conduzido) pelo Grilo Falante,
Sharpsteen Produção: Walt Disney Roteiro: Aurelius Battaglia, baseado no livro de Cario Collodl Música: Leigh Harline, Paul J . '
ih
Ned Washington Elenco (vozes): Dickie Jones, Don
•na "consciência" na forma de inseto, ele precisa aprender não só a ser responsável,
Brodie, Walter Catlett, Frankie Dai ro.
' nino a ter coragem e amor durante sua inconscientemente subversiva jornada em
Cliff Edwards, Charles Judels,
'liieção à vida.
Christian Rub, Evelyn Venable
Como segundo longa-mettagem da Disney (depois de Branca de Neve), Pinóquio mostrou que o mundo inexplotado da animação era prenhe de possibilidades, resuli.indo em criações encantadoras e etéreas, como a luminosa Fada Azul, e seqüências impressionantes, como a escapada da amaldiçoada Ilha dos Prazeres e o empolgante encontro com a Baleia, apropriadamente batizada de Monstro. Acrescentem-se a isso 1 anções já clássicas como "When You Wish Upon a Star" e não é de se espantar que 1'inóquio tenha permanecido um padrão de excelência a partir do qual tantos filmes de animação são julgados. JKl
Oscar: Leigh Harline, Paul J. Smith, Ned Washington (música), Leigh Harline, Ned Washington (canção)
i'UA (Loew's, MGM) loo min. P&B
TEMPESTADES DALMA ( m o )
Idioma: inglês
(THE MORTAL STORM)
Direção: Frank Borzage
Um dos poucos filmes antlnazistas produzidos por Hollywood antes de Pearl Harboi.
Produção: Frank Borzage Poleiro: George Froeschel, Hans Rameau, Claudine West, baseado no livro de Phyllis Bottome lotografia: William H. Daniels Musica: Branislau Kaper, Eugene Zador tlenco: Margaret Sullavan j a m e s Stewart, Robert Young, Frank Morgan, Robert Stack, Bonita (a.invllle, Irene Rieh, William T. Orr, Maria Ouspenskaya, Gene Reynolds, Russell Micks, William Edmunds, I hei Dale, Dan Dailey, Granville Bales
Tempestades d'alma, de Frank Borzage - uma obra detalhista e apaixonada na sua con denação do regime -, começa no dia em que Adolf Hitler se torna chanceler da Alemanha. O dia também calha de ser o sexagésimo aniversário do professor Viktor Roth (Frank Morgan), um admirado professor de ciências de uma universidade no Sul do país. O filme mostra a consolidação da Alemanha nazista através da destruição do "não ariano" Roth e sua família: sua esposa, seus enteados arianos, que se tornam nazistas fanáticos, e sua filha, Freya (Margaret Sullavan). Borzage retrata o nazismo como uma forma de loucura à qual muitos homens - e apenas uma mulher, pelo que vemos - sucumbem, como se por contágio ou predls posição natural (o filme não analisa as raízes socioeconómicas do regime fascista), mas com o qual, através de alguns indivíduos, a humanidade remanescente entra em conflito. A magnífica cena final situa o conflito dentro do personagem interpretado por Robert Stack. Sozinho na casa do padrasto, ele caminha por seus cômodos vazios. A câmera o ultrapassa, explorando o espaço Imerso em sombras, com uma trilha sonora feita de diálogos de cenas anteriores; ouvimos os passos do jovem à medida que ele sai da casa. Tempestades d'alma é uma das maiores histórias de amor do cinema americano. A abordagem pungente e sutil de Borzage da relação entre Freya e Martin (James Stewart) está de acordo com o compromisso do diretor, que o acompanhou por toda a carreira, com o poder transcendente do amor - um idealismo ao qual as atuações admiráveis de Sullavan e Stewart mantêm-se fiéis. Pouco antes de os amantes seguirem para o desfiladeiro que cruza a fronteira austríaca, a mãe de Martin (Maria Ouspenskaya) os faz celebrar sua união bebendo de uma taça cerimonial de vinho. Essa cena é uma das mais brilhantes de toda a carreira de Borzage. O produtor não creditado Victor Saville afirmou ter dirigido boa parte do filme, uma declaração que foi multo repetida, porém refutada por vários dos principais membros do elenco e da equipe. Sem dúvida alguma. Tempestades d'alma representa plenamente o estilo, a filosofia e as preocupações de Frank Borzage. C f u
0 GUARDA
(1940)
(THE BANK DICK) 1
por W. C. Fields sob o pseudônimo de "Mahatma Kane Jeeves", o que dá a
u n h-la das suas ambições, e dirigido pelo amigável guarda de tránsito Eddie Cllne • ni" i i.ibalho era abrir caminho para Fields ficar à vontade para pôr em prática todas as liossincraslas -, O guarda mostra o astro no habitual papel de um resmungão Inolenslvo, porém melindrado, que só quer ser deixado em paz, mas que é forçado por undo enlouquecido a reagir a vários chatos que acabam com o seu sossego. i j-.bert Sousè, um rabugento de quem todos tiram vantagem e que só quer passar a ios bares enchendo a cara em paz, é importunado por sua pavorosa mulher (Cora WMlicrspoon), sua medonha sogra (Jessie Ralph), sua filha adolescente irritante (Una i
el), seu noivo idiota (Grady Sutton) c pelo próprio capeta do seu filho mais novo, sistem em que ele faça algo de útil. Quando frustra acidentalmente um assalto a
i' un o ao trombar com o ladrão, ele ganha o emprego de segurança uniformizado e o
EUA (Matty Fox, Universal) 74 min. P&B Idioma: inglês Direção: Edward F. Cline Produção: Jack J. Cross Roteiro: W. C. Fields Fotografia: Milton R. Krasner Música: Charles Previn Elenco: W. C. Fields, Cora Witherspoon, Una Merkel, Evelyn Del Rio, Jessie Ralph, Franklin Pangborn, Shemp Howard, Dick Pu reel I, Grady Sutton, Russell Hicks, Pierre Walkin. Al Hill, George Moran, Bill Wolfe, J.n V Norton
In Ito de causar problemas em uma sucessão de esquetes absolutamente perfeitos •i I'
levam de encontro a policiais arrogantes (Franklin Pangborn como um inspetor de s distraído), bandidos barra-pesada (um suposto ladrão é afugentado em uma
leqüência de perseguição de carros hilária que rivaliza com qualquer pastelão mudo) e ' lumes abusados. Como em todos os melhores filmes de Fields IH Sa C/ft [1934] e Never C/ve a Sucker an Even Rreak | I I 11|), a premissa aqui é apenas uma desculpa para unia sucessão de esquetes em estilo vaudeville nos quais ele é confrontado com parceiros que são ex1 ' n i ricos demais para serem chamados de escadas, m e , ao mesmo tempo cruéis demais para serem ví1 imas. Algumas das seqüências cômicas de O guar1/11 (como, por exemplo, um trecho no qual Sousè de U u m a forma se vê sentado na cadeira do diretor ' iiipianto o filme está sendo rodado) se passam inulto longe do banco, porém os suntuosos saguões de mármore, com seus ricaços interesseiros que levam o troco quando Sousè fica rico e "se regene1.1". são o cenário ideal para suas travessuras e anarquia. Fields era um raro comediante que conseguia I I I engraçado estrangulando uma criança pequena, e esta pérola de 74 minutos está entre suas obraspnmas. K N
in , 1
IUA (Mercury, RKO) 119 min. P&B Idioma: inglês Direção: Orson Welles Produção: Orson Welles, Richard Baer, George Schaefer Roteiro: Herman J. Manklewicz, oison Welles
CIDADÃO KANE (194D (CITZEN KANE) Desde 1962, a freqüentemente citada lista dos melhores filmes de todos os tempos feita pelos críticos da revista Sight and Sound coloca Cidadão Kane, a extraordinária estréia no cinema de Orson Welles, em primeiro lugar. Em 1998, o American Film Institute o considerou o melhor filme já produzido. Ele também ganhou ptêmios de Melhor Filme do
rotografia: GreggToland
New York Fllm Critics Circle e do National Board of Revlew, além de tet conquistado o Oscar
Música: Bernard Herrmann, Charlie
de Melhor Roteiro. A lenda de Cidadão Kane foi em parte alimentada pelo fato de que
Barnet, Pepe Gufzar
Welles tinha apenas 24 anos de idade quando o realizou, mas também pelas óbvias com-
tlcnco: Orson Welles, Joseph Cotten, Dorothy Comingore, Agnes Moorehead, Ruth Warrick, Ray ( ollins, Ersklne Sanford, Everett •.lame, William Alland, Paul Stewart, 1 leorge Coulouris, Fortunio Uonanova, Gus Schilling, Philip Van / . n u l l , Georgia Backus, Harry Shannon
parações entre o personagem-título e o magnata da imprensa William Randolph Hearst, que moveu mundos e fundos para impedir a produção do filme e, quando não conseguiu evitar que fosse distribuído, tentou difamá-lo. No entanto, desconsiderando a ridícula pretensão de se eleger qualquer filme que seja como "o melhor de todos os tempos", Cidadão Knneé uma obra de tremendo interesse e impottãncia por vários motivos. O filme conta uma grande história: Charles Foster Kane (interpretado de forma brilhante pelo próprio Welles) nasce pobre, mas enriquece por conta de uma mina de outo herdada pela mãe. Na juventude, começa a etguet um império populista jor-
Oscar: Herman J. Mankiewicz, Orson Welles (roteiro)
nalístico e radiofônico, casando nesse íntetim com a sobrinha de um presidente ame-
Indicação ao Oscar: Orson Welles (melhor filme), Orson Welles (diretor), Orson Welles (ator), Perry I etguson, Van Nest Polglase, A. Roland Fields, Darrell Silvera (direção DE .iite), Gregg Toland (fotografia), Robert Wise (montagem), John
frustradas e, à medida que este lhe escapa, Kane se torna cada vez mais violento com
Aalberg (som)
ricano e concorrendo a governador. No entanto, todas as suas ambições de poder são as mulheres da sua vida; primeiro com sua esposa, depois com sua amante. Ele morre praticamente sozinho em seu castelo reconstruído, porém inacabado, ansiando pela simplicidade da sua infância. Fiel às tradições do populismo do New Deal, Cidadão
Kane
exalta o ideal americano de que o dinheiro não pode comprar felicidade, mas de uma maneira extremamente prosaica, quase ao estilo de Dlckens. Mais Importante do que o enredo é o fato de o filme começar com a morte de Kane e com sua enigmática última palavra: "Rosebud". Um grupo de intrépidos repórteres tenta descobrir seu significado e entrevista uma série de conhecidos do magnata. O filme não só é contado em flashback, como cada personagem só conhece o homem através de uma determinada perspectiva, que é apresentada consecutivamente. A complexidade narrativa »
s
do f i l m e - e m b o r a nunca viole a continuidade e a causalidade clássicas de Hollywood - é um extraordinário tour
ORSON W hLLES
de force, responsável em grande parte pela afirmação de Paulino Kael de que a verdadeira genialidade do filme não está nas mãos do garoto-prodígio Welles, mas nas do roteitista Herman J. Mankiewicz. O verdadeiro poder do filme, no entanto, está na fotografia: Gregg Toland desenvolveu uma técnica de profundidade de campo em que o primeira plano, o central e o último ficam todos em foco ao mesmo tempo, permitindo que o olho do espectador se fixe em qualquer parte da Imagem. Essa técnica foi criticada à época por violar as regras da fotografia hollywoodiana clássica, pelas quais a boa fotografia deveria ser invisível. Contudo, a fotografia de Cidadão Kane é impactante e inesquecível. M K
EUA (Paramount) 97 min. P&ß
A S TRÊS NOITES DE EVAIIMD
Idioma: inglês
(THE LADY EVE)
Direção: Preston Sturges Produção: Paul Jones Itoteiro: Monckton Hoffe, Preston Slurgcs lotografla: Victor. Milner Música: Clara Edwards, Sigmund Krumgold Elenco: Barbara Stanwyck, Henry onda, Charles Coburn, Eugene i i l l r i t r , William Demarest, Eric Blore, Melville Cooper, Martha O'Driscoll, l.ini't Beecher, Robert Greig, Dora 1 I,• 11H-nt, Luis Alberni Indicação ao Oscar: Monckton Hoffe (iulciio)
As três noites de Evo é uma comédia escrachada clássica e um perfeito exemplo do cinema de Preston Sturges, refletindo a visão que o roteirista e diretor tem do romance como a maloi de todas as trapaças. O roteiro é repleto de falas extraordinárias, os diálogos são rápidos e Si
0 LOBISOMEM ( m n
EUA (Universal) 70 min. P&B
(THE WOLF MAN) llgura do homem-lobo -
Direção: George Waggner a versão cinematográfica
bípede do arquétipo do
lobisomem, que personifica de forma dramática a dicotomia Jekyll/Hyde (superego/id) I existe em todos nós - assumiu o status de protagonista pela primeira vez em O
pirituosos e a trama oferece uma Inteligente variação da velha e conhecida guerra dos sexi >
i 'jnem de Londres (1935), com Henry Hull no papel reprlsado décadas depois por Jack
O filme começa em um cruzeiro marítimo onde a rica, sofisticada e sedutora Jean
Me hulson em Lobo (1994). Logo c m seguida, Curt Siodmak concluiu o roteiro para o que
Harrington (Barbara Stanwyck) tenta seduzir o Ingênuo especialista em cobras Charles
m u 1 o último clássico de terror da Universal Pictures - depois de Drócti/a (1931),
"Hopsie" Pike (Henry Fonda) para lhe roubar a fortuna conquistada com sua cervejaria, a Pike's Ale. Em uma virada na trama altamente Inverossímil mas ao mesmo tempo deliciosa, a ação passa para a mansão de Hopsie em Connecticut, onde Jean reaparece como uma herdeira inglesa, Lady Eve Sldwlch. Ela seduz novamente Hopsie e o faz se
iiste/n (1931) e A múmia (1932) - O lobisomem, dirigido por George Waggner. Nesta que ainda é a mais reconhecida e estimada versão do mito, Lon Chaney Jr. interpreta 1 awicnce Talbot, um galês educado nos Estados Unidos que deseja apenas se curar da •aia irreprimível (quando a lua está cheia) llcantropia.
casar com ela, com a Intenção de largá-lo logo em seguida como vingança por ele tê-la abandonado antes. Porém, no fim das contas, o tiro sai pela culatra quando ela se apaixona de fato por ele. Em As três noites de Eva, Sturges consegue driblar boa parte das restrições impostas pela censura. Tecendo inúmeras referências à história bíblica da Queda do Paraíso, ele enfatiza a sexualidade de uma maneira que poucos cineastas da época teriam ousado. As crês noites de Eva foi refilmado em 1956 como (o consideravelmente inferior) O otário e a vigarista, com Mitzi Gaynor e David Niven. R d e
O rei da maquiagem Jack Plerce desenvolveu para Chaney uma complexa fantasia • li
H-lo de iaque que se tornaria modelo de incontáveis máscaras de Halloween. O que
distingue a trama de Siodmak de outras histórias de lobisomem é a ênfase velada na •iieigla sexual reprimida como mola propulsora das transformações de Talbot cm noites de lua cheia. Conforme explica a cigana Malcv.i (Maria Ouspenskaya): "Mesmo um homem puro de 1 oração e que faz suas orações toda noite pode se tornar u m lobo quando a mata-lobos desabrocha e a In/ de outono brilha no céu." Somente na década de 40, o sucesso do filme de Waggner gerou outros quatro filmes de lobisomem lendo à frente Chaney. Desde então, dezenas de Imitações, releituras e paródias se seguiram a ele. SJS
Produção: Jack J. Cross, George Waggner Roteiro: Curt Siodmak Fotografia: Joseph A. Valentine Música: Charles Prevln, Hans J. SaltFrank Skinner Elenco: Claude Rains, Warren William, Ralph Bellamy, Patrlc Knowles, Bela Lugosl, Maria Ouspenskaya, Evelyn Ankers, J. M. Kerrigan, Fay Helm, Lon Chaney Jr., Forrester Harvey
O FALCÃO MALTES ( m i )
EUA (First National, Warner Bros.)
(THE MALTESE FALCON)
101 min. P8tB Idioma: inglês
Em 1941, o grande romance de detetive de Dashiell Hammett já havia rendido dual
Direção: John Huston
adaptações passáveis para o cinema. Primeiro com o filme homônimo de 1931, com Kl
Produção: Henry Blanke, Hal B. Wallis
cardo Cortez como Sam Spade, e depois com Satan Met a Lody, de 1935, com Warrefl
Roteiro: John Huston, baseado no
William no papel. John Huston, tendo experiência de escritor, escolheu o livro do
livro de Dashlell Hammett lotografia: Arthur Edeson
catálogo de obras compradas pela Warner Brothers e confiava de tal forma na força do
Música: Adolph Deutsch
material que seu roteiro consiste essencialmente em uma transcrição dos diálogos de
i lenco: Humphrey Bogart, Mary
Hammett. Ele teve a sorte de ter nas mãos um elenco simplesmente impecável e
Altor, Gladys George, Peter Lorre,
comedimento suficiente para não cair no exagero.
Bllton MacLane, Lee Patrick, Sydney
Muitas vezes considerado o fundador do gênero noir, O falcão maltês é contido 1111
Greenstreet, Ward Bond, Jerome
uso de sombras simbólicas - que são guardadas para o final, quando a porta do ele
i nw.in, Elisha Cook jr., James Burke,
vador as lança na forma de barras de cela de prisão no rosto da dissimulada heroína - e
Murray Alper, John Hamilton
se passa quase por inteiro em quartos de hotel impessoalmente bem arrumados e
Indicação ao Oscar: Hal B. Wallis (melhoi filme), John Huston (roteiro),
escritórios a quilômetros de distância do glamour maltrapilho de À beira do abismo
Sydney Greenstreet (ator
(1946) ou Até a vista, querida (1944). Humphrey Bogart, evoluindo de papéis de vilão
i oadjuvante)
para heróis românticos durões, é Sam Spade, um detetive particular de São Francisco. Ele é um homem de negócios bem alinhado que está disposto a encontrar o assassino do seu parceiro e frustrar os planos de um grupo de aventureiros traiçoeiros. Estes se tornaram tão obcecados em sua procura pelo fabuloso pássaro Incrustado de jóias do título que cometem o erro fatal de supor que todos são tão corruptos e gananciosos quanto eles. A ptincípio, Mary Astor pode parecer um pouco matrona demais para uma femme foto/e, mas, curiosamente, sua estranha elegância de terninhos bem-comportados e penteados mais bem-comportados ainda combina com uma mulher que tem sempre um álibi na manga. O Kaspar Gutman tagarela, obeso e narcisista de Sydney Greenstreet e o Joel Cairo educado, triste, perfumado c resmungão de Peter Lorre - uma espécie de o Gordo e o Magro do crime - são um clássico imortal do cinema, juntamente com o eterno fracassado / bode expiatório Elisha Cook Jr. como Wilmer, o capanga Irritadinho que está fadado a sempre ficar fora da jogada. A reputação de Hammett é sustentada pelo fato de ele tet acrescentado um certo realismo social às histórias de mistério americanas, com detetives particulares que são profissionais de verdade em vez de superlnvestigadores. Ele também era viciado em tramas tão doentias e bizarras quanto as do teatro jacobiano: o clímax de O falcão maítês HUMPHREY
B
O
G
A
possuí não só a hilária surpresa de que o pássaro negro -
R
MARy
A
S
T
T
pelo qual todos se dispuseram a matar e conspirar - é, na verdade, uma farsa como também o momento clássico em
O
R
que o detetive admite a m a r a assassina, mas ainda assim a deixará ser arrastada para a cadeia. Enquanto outros grandes diretores de Hollywood seguiam suas próprias visões, o melhor de Huston - desde O tesouro de Sierra Madre (1948), passando por O segredo das jóias (1950), Cidade das
ilusões
(1972) e Wise Blood (1979), até Os vivos e os mortos (1987) está em suas adaptações fiéis de romances clássicos menores. K N
I UA (W.irner Bros.) 134 min. P&B
SARGENTO
YORK0941)
Idioma: inglês
(SERGEANT YORK)
Direção: Howard Hawks
Sargauo York exalta o bom combate da Primeira Guerra Mundial no momento em qui
ProduçSo: Howard Hawks, Jesse L l.r.ky, Hal B. Wallis
os Estados Unidos se preparavam para entrar na Segunda. Um subtexto beligerante In .1
itiiiciro: Harry Chandlee, Abem Finkel,
morais do protagonista do título.
I in Huston, Howard Koch loiografia: Sol Polito
t
Mn-.il ,K Max Steiner 1 linco: Gary Cooper, Walter Brennan,
claro em todo o filme, porém ele é facilmente assimilado pelo conjunto de valorei
Alvin York, conforme caracterizado por Gary Cooper, usa gírias caipiras e fala com sotaque do interior. Sua transformação de um fazendeiro cheio de energia da Tennessee em um pacifista cristão e, por f i m , em herói de guerra exalta uma série de
10.1 it I L'slie, George Tobias, Stanley
convenções hollywoodianas, como mães santificadas e líderes bondosos. Clichê? Sein
Ridges, Margaret Wycherly, Ward Bond,
dúvida. Porém a importância desta pérola do cinema está em ter tornado Gary Coopei
Noah Beery Jr., June Lockhart
um astto, se não em rettatar de forma honesta a guerra de trincheiras meses antes de
OlCir: Gary Cooper (ator), William
Pearl Harbor.
1 |l limes (edição) i h . I k .iç.ío ao Oscar: Jesse L Lasky, Hal B. Willis (melhor filme), Howard Hawks (diretor), Harry Chandlee, Abem Finkel, |0hn I lii'.ion, Howard Koch (roteiro),
O fato de não haver uma melhor contextualização da Primeira Guerra Mundial faz todo o sentido aqui. Sargento York está intetessado apenas na coragem e no sacrifício. Qualquer outra coisa sabotaria sua postulação da defesa da liberdade como o mais nobre dos objetivos. Enaltecendo as virtudes bíblicas ao mesmo tempo que mostra
W.ilici Brennan (ator coadjuvante),
tiroteios exttaordinários, o filme mistura, sem cetimônia, camaradagem, romances
Marga rei Wycherly (atriz coadjuvante),
castos e trocas de socos. Resumindo, temos o mundo de Hawks perfeitamente trans-
•.ill I'oliio(fotografia),John Hughes, 1 red M. MacLean (direção de arte), Max Stelnei (musica), Nathan Levinson (som)
I UA (Wall Disney) 64 min. Technicolor Direção: Ben Sharpsteen
posto para u m a cinebiografia que capricha nos valores intetioranos e economiza no conflito violento que tornou o Alvin York da vida real famoso. G C - 0
DUMBO
(1941)
Mesmo nos dias de hoje, as animações dos estúdios Disney se voltam com freqüência para contos de fadas tradicionais e célebres histórias folclóricas em busca de
Produção: Walt Disney
Inspiração. No entanto, o quatto longa-metragem de animação da produtora, Dumbo,
H e l e n o : o i t o Englander, baseado no
como o subseqüente Bambi, tem suas origens em um livro relativamente modesto, o
llvui de Helen Aberson Múlli -e 1 rank Churchill, Oliver W.ill.lie I lein o (vozes): Herman Bing, Billy
que aparentemente livrou os animadores do habitual romantismo no estilo príncipesalva-princesa. Dumbo ainda é banhado em sentimentalismo, porém os protagonistas antro-
l l t t l her, I dward B r o p h y j i m
pomorflzados - Dumbo, o elefantinho de circo rejeitado, cujas orelhas gigantes e jeito
1 .11
trapalhão o tornam alvo de zombaria, e Tlmothy, seu experiente companheiro roedor -
Ii.iel, Hall johnson Choir, Cliff
I dw.iids, Verna Feiton, Noreen
se prestam a momentos de ação divertidamente caótica e também a algumas seqüên-
1 i l m m l l l , sterling Hoiloway, Malcolm
cias circenses executadas com criatividade. Contudo, duas cenas no decorrer da busca de
1 lui in11. Harold Manley, John Ml 1 ellh, lony O'Neil, Dorothy Scott, • 11 111 selby, Billy Sheets, Charles
Dumbo por seu amor-próprio se destacam de todo o testo: a alucinação protopsicodélica do elefante cor-de-rosa e o encontra terno e angustiante de Dumbo com sua mãe equi-
Muhle.. Margaret Wright
vocadamente "enjaulada". Raras vezes um filme de animação foi tão inventivo, co-
Oncar: I rank Churchill, Oliver Wallace
movente e vivo quanto nesses dois trechos, que são acompanhados por canções igual-
(nill'.li a)
mente memoráveis. O triunfo final de Dumbo sobre as adversidades, assim como sua
u n i e .,, an ao Oscar: Frank Churchill,
reunião com a mãe, podem estar subentendidos desde o início, porém a estrutura emo-
lied Washington (canção)
cional do filme é tão bem construída que os desafios mirabolantes encarados pelo pobre
IrMlv.il de Cannes: Walt Disney lui. Hun piodução de animação)
elefante servem justamente para dar mais intensidade ao desfecho entemecedor. J K l
O ULTIMO REFUGIO mu (HIGH SIERRA) 0 i i í i i i i i o refúgio, de Raoul Walsh, é um marco do gênero gângster, uma virada na m i i i . i de Humphrey Bogart e um exemplo de filme de ação existencialista. Como M u n i ' , esquecidos (1939), a obra anterior de Walsh, O último refúgio é um filme de gangslei cm forma de elegia, atípico dentro desse período dominado pelo Código de Produ11 conta do seu retrato compassivo do gângster como um proscrito fora de época. II
nsano Roy Earle (Bogart) mostra estar acima dos marginais e hipócritas que encon-
I I I em ambos os lados da lei ao liderar um roubo malfadado a um hotel, cometer a tolice de perseguir uma garota respeitável (Joan Leslie) e encontrar brevemente na pi-r.onagem também proscrita de Ida Lupino uma melhor companheira. Em contraste com seus contemporâneos John Ford. Howard Hawks, Frank Capra e Mi' li.u'1 Curtiz, que frisavam o valor de uma comunidade ou grupo, Walsh deu mais peso ao i i n o , inconformismo e qualidades anti-sociais dos seus heróis. A visão de O último refúgio de uma sociedade moralmente rígida é de uma mordacidade extraordinária, 1I1 .inçando seu auge na seqüência em que Roy é rejeitado de forma humilhante por sua piinceslnha insossa de classe média em favor de seu namorado arrogante e conformista. Depois de uma década interpretando quadrados c marginais, Bogart conseguiu seu papel mais substancioso até então em O último refúgio. Em O falcão maltês, seu outro Ulme importante de 1941, Bogart é expansivo, presunçoso, dominador. Aqui, no universo de Walsh, sua atuação mais sutil cria uma persona claramente diferente: soturno, rel v a d o e tenso, com os ombros encurvados e gestos econômicos, enfatizando a natureza retraída do personagem. Mesmo nas cenas mais íntimas com sua alma-gêmea i.irie (Lupino), Walsh coloca objetos e barreiras entre os amantes para frisar seu isolamento fundamental. O último refúgio começa e termina no elevado pico do monte Whitney, que surge em lodo o filme, sua presença hipnotizadora conduzindo o herói a o seu destino solitário. Um outro personagem do submundo diz a Roy: "Você se lembra do que Johnny Dillinger lalou sobre sujeitos como você e ele? Ele disse que vocês estavam apenas correndo em direção à morte. É, isso mesmo: apenas correndo em direção à morte!" A ótima cena de
EUA (Warner Bros.) 100 min, P& B Idioma: inglês Direção: Raoul Walsh Produção: Mark Hellinger, II.il 11 Wallis Roteiro: John Huston, baseado no livro de W. R. Burnett Fotografia: Tony Gáudio Música: Adolph Deutsch Elenco: Ida Lupino, Humphrey
perseguição de carros na qual os policiais seguem Roy pela montanha fatal acima - um
Bogart, Alan Curtis, Arthur Kennedy,
espetacular desfecho para o estilo tenso e movimentado do filme - traduz essas palavras
Joan Leslie, Henry Hull, Hen 1 y li.ivei',,
para a linguagem visual dinâmica do cinema de ação em seu auge. MR
Jerome Cowan, Minna Gombell, Barton MacLane, Elisabeth R i s d n n , Cornel Wilde, Donald MacBride, Paul Harvey, Isabel Jewell
F IIA (iMi.imount) 90 min. P&B
CONTRASTES HUMANOS (1941)
D l r t Ç l o : Preston Sturges
(SULLIVAN'S TRAVELS)
Produção: Paul Jones, Buddy G.
Preston Sturges foi um dos primeiros autores do cinema americano e, com sua persona
DeSylva, Preston Sturges
lidade claramente moderna (a melhor amiga de sua mãe era Isadora Duncan; ele passo
Roteiro: Preston Sturges
a juventude zlguezagueando pelo Atlântico; um batom "à prova de beijos" e um teletip
•OtOfrafla: John F. Seitz
estão entre suas invenções patenteadas), ele foi responsável por uma enxurrada de
Musica: Charles Bradshaw, Leo
filmes na década de 40, hoje considerados clássicos. Esses filmes são conhecidos por sua
Sllllken
Elenco: Joel McCrea, Veronica Lake, [Oben Warwick, William Demarest, i.inklln Pangbom, Porter Hall, Byron nulgcr, Margaret Hayes, Robert
Irilg,
Lire Blore, Torben Meyer, Victor
'ulcl. Richard Webb, Charles R. Moore, Almiia Sessions
sofisticada espirltuosidade verbal, comédia física agitada e pela maneira carinhos como retratam seus excêntricos personagens coadjuvantes, que roubam as cenas Porém a obra de Sturges faz uma sólida exploração das possibilidades e perspectivas d escalada - e ocasionalmente da derrocada - social. Neste Contrastes
humanos,
qu
talvez seja seu melhor e mais complexo filme, Sturges mistura de forma brilhante humor com uma crítica social mordaz, revelando mais uma vez - como em O homem que se vendeu (1940), Natal em julho (1940) e As três noites de Eva (1941) - que a Identidade social é um conceito altamente Instável, capaz de passar por transformações hiperbólicas através de métodos prosaicos como disfarces, mal-entendidos e auto-engano. John L. Sullivan (Joel McCrea) é um diretor hollywoodlano infalível que se especializa em entretenimento leve, à maneira de comédias acessíveis como seu filme de 1939 chamado Ants In Your Pants (Formigas nas calças). Ingênuo e amparado por uma equipsolíclta que não está interessada em ver seu ganha-pão mudar de gênero ou tornar-se multo ambicioso em suas pretensões cinematográficas, Sully ainda assim pretend dirigir uma crítica social épica sobre os tempos difíceis da Depressão na América, qu se chamaria O Brother, Where Art Thou? (um título fictício que seria usado pelos Irmãos Coen em seu filme de 2000 E aí, meu irmão, cadê você?, em uma inteligente homenagem a Sturges). Para pesquisar seu tema, que envolve coisas desagradáveis, como sofrer privações e preconceito racial, Sully insiste em se disfarçar de mendigo e cruzar o país para experimentar "a vida real" na própria pele. Uma vez na estrada, uma série de aventuras, encontros (aquele com a Ingênua azarada personagem de Verônica Lake sendo o de maior destaque) e percalços - algun hilários, outros surpreendentemente pungentes - se dão antes de Sully acabar aceitando sua verdadeira vocação para cineasta popular com um dom para fazer as pessoas rirem. A lição aqui é que a seriedade exagerada e a profundidade forçada são multo menos úteis para as massas do que o bom e velho humor, com seu poder de ajudar as pessoas a esquecerem seus problemas, ainda que momentaneamente. É impossível negar que Contrastes humanos possui um aspecto autobiográfico, com Sturges afirmando o valor daquilo que ele próprio fazia de melhor - comédias inteligentes com o poder de animar seus espectadoresao mesmo tempo que arrasa a pretensão dos cineastas mais sisudos e "socialmente comprometidos" de Hollywood. Comentários pessoais à parte, no entanto, o tour de force em forma de roteiro reúne um fabuloso leque de gêneros, incluindo comédia pastelão, ação, melodrama, documentário social, romance, musical e filme de prisão. Embora não tenha conquistado uma só indicação ao Oscar, Contrastes humanos é o mais extraordinário filme da carreira de um dos maiores cineastas americanos. SJS
COMO ERA VERDE MEU VALE
(1941)
(HOW GREEN WAS MY VALLEY) Embora John Ford seja obviamente mais famoso por seus faroestes, ele também tinha uma predileção por tudo que envolvesse a Irlanda. Não que esta adaptação, ganhadoi.i do Oscar, do romance de Richard Llewellyn tenha sido ttansportada pelo Mar da Irlanda de sua ambientação nos vales mlneradores do País de Gales; em vez disso, o filme 4 imbuído do mesmo tipo de nostalgia das necessidades excêntricas da vida em família nu Velho Continente que caracterizava Depois do vendaval, de 1952. O País de Gales de Ford, na verdade, é tanto um país Imaginário quanto o era sua amada Irlanda (pelo menos na maneira como é representada na tela ou invocada em palavras). Isso explica por que a vila mineradora belamente projetada de Richard Day, mesmo com o excruciante nível de detalhe aplicado à sua construção nos terrenos da Fox, parece mais uma representação onírica de um arquétipo daquela região do que um vilarejo de verdade. Isso, no entanto, combina perfeitamente com o clima de nostalgia que alimenta Como era verde meu vale do início ao fim. A história é narrada por um homem que reflete sobre sua infância já longínqua, na qual, como o caçula (Roddy McDowall) da família Morgan, ele observava o pai (Donald Crlsp) e seus quatro irmãos subirem a pé diariamente a colina a caminho da mina. Ele se lembta não só das dificuldades - as arriscadas condições de trabalho, a ameaça da pobreza, o frio e a fome - e das mortes trágicas como também do senso de comunidade caloroso e temo que imperava nas vidas tanto da família quanto da lUA (I ox) 118 min. P8cB
vila como um todo. Contudo, essa unidade feliz se perdeu para sempre quando cortes sa-
Idioma: inglês
lariais acarretaram greves e conflitos entre os patriarcas amáveis, porém tradicionais, e os
irliri ,u>: loliii Ford
filhos (ligeiramente) mais militantes, o que resultou na partida dos filhos pata a Terra
Produção: Darryl F. Zanuck
Prometida da America - onde m a i s ? - , em busca de trabalhos mais bem remunerados.
ii
no: Philip Dunne, baseado no Ir Richard Llewellyn
O filme todo é permeado por recordações agridoces: da morte do pai, da inocência infantil, do país de origem e de um pai rígido, porém justo. Ford, sem dúvida, idealiza o
i ningi.ilia: Arthur C. Miller
mundo que retrata, entretanto, é isso que o torna tão eficaz. Sim, o filme é feito para
Minie a: Allied Newman
arrancar lágrimas, repleto de clichês (os mlneradores nunca param de cantar) e os
I lento: Waller Pldgeon, Maureen
sotaques são uma esttanha mistura de todas as partes do Reino Unido e da Irlanda -
i l e a . Auna Lee, Donald Crisp, Roddy MeDowall, John Loder, Sara Allg I, Harry Fitzgerald, Patrie I I
I- nowles, Morton Lowry, Arthur • liielil-,. Aun E. Todd, Frederick W i n lurk. Richard Fraser, Evan S. Evans
mas os sonhos não são sempre assim? G A
E^C3
E1
,n i i.myl I. Zanuck (melhoi
Filme), |ohn Ford (diretor), Donald I lisp (ator coadjuvante), Richard Day, N.un.ni luían , Thomas Little (direção de .mc), Arthur C. Miller (fotografia) in.li, a, ao ao Oscar: Philip Dunne (uilelin), Sara Allgood (atrlz Oldjuvante), James B. Clark (edição), allied Newman (música), Edmund H. Hansen (som)
•ff
,3^'^iSr,
MULHER DE VERDADE <1942) (THE PALM BEACH STORY) <•'<•-1v Vallee tem a melhor atuação de sua carreira como o milionário gentil e franzino Inhii D. Hackensacker III nesta brilhante comédia escrachada de 1942, que é ao mesmo tempo singela e mordaz. Claudette Colbert, esposa de um arquiteto ambicioso, porém •.em um tostão (Joel McCrea), viaja para a Flórida e acaba sendo cortejada por Hackensacker. Quando McCrea chega, ela o convence a fingir ser seu irmão. Para Completar, temos algumas criações inesquecíveis de Sturges, como o Rei das Salsichas 1 1 Dudley), os alucinadamente destrutivos membros do Ale and Quall Club, a irmã B e d a de Hackensacker (Mary Astor) e seu namorado europeu de origens obscuras. 0 personagem de Hackensacker talvez seja a coisa mais próxima de um auto-retrato em l i i i m a de paródia no cânone de Sturges, no entanto, Mulher de verdade é imbuído de 1 amanha sabedoria irônica e humor que transcende sua natureza pessoal. O papel foi 1 ito para Vallee depois que Sturges o viu em um musical, percebeu que a platéia ria toda
EUA (Paramount) 8 8 min. P 8 t B Idioma: inglês Direção: Preston Sturges Produção: Paul Jones Roteiro: Preston Sturges Fotografia: Victor Milner Música: Victor Young Elenco: Robert Dulley, Frank Faylen, Claudette Colbert, Joel McCrea, Mary Astor, Rudy Vallee, Slg Arno, Robei 1 Warwick, Arthur Stuart Hull, rorben Meyer, Jimmy Conlin, Victor Potcl, William Demarest, Jack Norton, Robert Creig, Roscoe Ates, Dewev Robinson
vc/ que ele abria a boca e concluiu que aquele homem era hilário sem nem ao menos saber disso. Essa inconsciência da própria graça exercia um papel fundamental no conceito de Comédia de Sturges, que incluía também a ingenuidade da platéia e dos próprios personagens. A frenética seqüência de abertura "entrega" o final-surprcsa da trama antes de os espectadores começarem a entender o que está acontecendo. Conforme o crítico laines Harvey notou muito bem: "Neste filme, sempre que a realidade se toma um problema - no caminho para a Penn Station, por exemplo, quando um taxista interpretado por 1 i.ink Faylen concorda em levar Colbert até lá de graça -, ela é simplesmente revogada" JRos
A ESTRANHA PASSAGEIRA (1942) (NOW, VOYAGER)
EUA (Warner Bros.) 117 min. PBcB Idioma: inglês
O fato de A estranha passageira, de Irving Rappcr, ter conservado sua popularidade pode
Direção: Irving Rapper
ser explicado pelos despudorados crescendos emocionais do filme, pelo carisma de sua
Produção: Hal B. Wallis
estrela e, especialmente, pelo prazer - por mals perverso que ele seja - que retiramos de
Roteiro: Casey Robinson, baseado no
ver a transformação de Bette Davis de um patinho feio em um cisne (sua atuação lhe
livro de Olive Hlggins Prouty
tendeu uma Indicação ao Oscar).
Fotografia: Sol Polito
Um dos melodramas americanos clássicos e o precursor dos filmes de "translormação", A estranha passageira conta a complexa história da solteirona Charlotte Vale (Davis), a filha inacreditavelmente desleixada (basta olhar para as sobrancelhas grossas
Música: Max Steiner Elenco: Bette Davis, Paul Henreld, Claude Rains, Gladys Coopei, Bonltl Granville, John Loder, Ilka Chase, I ee
e para os óculos dela) de uma matriarca opressora de Boston. O psiquiatra Dr. Jaquith
Patrick, Franklin Pangborn, Katharine
(Claude Rains) salva Charlotte mandando-a para um sanatório, onde sua cura é ante-
Alexander, James Rennie, Maiy
cipada quando o médico quebra de forma teatral seus óculos (que mulher "normal"
Wiekes
precisa deles?) e dá-se seu renascimento (ao som da trilha dramática de Max Stelner)
Oscar: Max Steiner (música)
como a estrela de cinema Bette Davis: deslumbrante desde as sobrancelhas feitas até
Indicação ao Oscar: Bette Davis
suas sapatilhas bicolores. Essa borboleta recém-saída do casulo decide viajar e se apaixona por Jerry Durance (Paul Henreld), um homem casado; o romance deles é contado em grande parte através do uso expressivo dos cigarros, que sugerem o sexo que não vemos na tela. A trama se desenrola maravilhosamente a partir daí, terminando com a decisão de não buscar mais que amizade com a célebre, embora misteriosa, fala de Charlotte: "Oh, Jerry, não vamos almejar a Lua. Nós temos as estrelas." M O
(atriz), Gladys Cooper (atriz coadjuvante)
I i m (Warner Bros.) 102 min. P&B
CASABLANCA
Idioma: inglês / francês / alemão
O mais querido de todos os ganhadores do Oscar de Melhor Filme, este romântico
119421
Direção: Michael Curtiz
melodrama de guerra sintetiza a febre da década de 40 por exotismos de estúdio, t nu 1
Produção: Hai B. Wallis, Jack L.
os terrenos da Warner transformados em um Norte da África fantástico que parece
Wamel
muito mais autêntico do que qualquer outro lugar meramente real poderia ser. Casablmi, ,1
Roteiro: Julius J. Epstein, Philip C.
também conta com mais atores cult, falas passíveis de citação, clichês instantâneos e
i pitein, Howard Koch, baseado na " -i <lr Murray Burnett e Joan Alison Iningrafia: Arthur Edeson
descaramento hollywoodiano do que qualquer outro filme da era de ouro do cinema. O Rick de Humprey Bogart ("De todas as espeluncas que servem gim..."), vestindo
Múllca: M. K. Jerome, Jack Scholl,
ternos brancos ou sobretudo com cinto, e a lisa de Ingrld Bergman ("Eu sei que jamais
Max Stelner
terei forças para deixá-lo novamente"), com seus figurinos mais apropriados para um
i lenço: llumphrey Bogart, Ingrid lieignian, Paul Henreid, Claude Rains, ad Veidt. Sydney Creenstreet, Pelei l n i l e , S. Z. Sakall, Madeleine I r l i c i u , Dooley Wilson, Joy Page, lohn D u a l e n , Leonid Kinskey, Curt hui', c Dooley Wilson Oicar: Hai B. Wallis (melhor filme),
estúdio do que para uma cidade no meio do deserto, flertam em um café-cassino en-
lel Curtiz (diretor), Julius J. i piteln, Philip c. Epstein, Howard Km h (roteiro) Indicação ao Oscar: Humphrey BOgarl (ator), Claude Rains (ator (Oldjuvante), Arthur Edeson (fotografia), Owen Marks ( Hagem), Max Stelner (música)
quanto aquela canção inesquecível ("As Time Goes By") soa ao fundo, transportando-os de volta para uma vida mais simples antes de a guerra arruinar tudo. Contudo, a melhor interpretação fica por conta de Claude Rains, como o cínico, porém romântico, chefe de polícia Renault ("Reúna os suspeitos de sempre"), um Irônico observador dos absurdos da vida que é ao mesmo tempo um sobicvivente oportunista c o mais verdadeiro romântico do filme - merecendo plenamente seus últimos e famosos instantes ("Louis, acho que este é o começo de uma bela amizade"), que mostram que ele, e não lisa, é o parceiro ideal para o herói recém-comprometido-com-a-liberdade de Rick. O extenso elenco de coadjuvantes também é memorável: Victor Laszlo, o tcheco patriota de Paul Henreid, liderando a escória do continente em uma empolgante execução da Marselhesa que abafa a cantoria nazista e restaura o fervor patriótico até dos mais ardorosos colaboracionistas e parasitas; o vigarista Ugarte de Peter Lorre, admitindo timidamente que confia em Rick por ele o desprezar; o vilão nazista Major Strasser de Conrad Veidt, tentando fazer uma ligação que jamais conseguirá completar; o leal Sam de Dooley Wilson, dedilhando seu piano e trocando olhares com os protagonistas; Carl, o obeso mordomo de S. Z . Sakall, um austro-húngaro deslocado e suarento apesar do ventilador de teto; e o Improvável empresário ãrabc-ltallano Ferrari de Sydney Greenstreet, acocorado no que parece um tapete mágico com seu barrete. Mesmo os figurantes foram escalados de forma brilhante, acrescentando à atmosfera viva, sedutora e povoada de um filme que, mais do que qualquer outro, seus fãs desejam habitar, um impulso que serve de combustível para Sonhos de um sedutor, a charmosa homenagem de Woody Allen. Curtiz conta uma história complicada e cheia de truques - que sofre com um excesso de explicações e é estruturada em torno de um flashback no meio do filme, que se passa em Paris e quebra boa parte das regras de roteiro - com tão pouco alarde e tanta segurança que o conjunto parece Impecável, apesar de ter sido supostamente reescrito dia a dia para que Bergman não soubesse até a filmagem da cena final se ela iria partir no avião com Henreid ou ficar com Bogey. Sua grandeza duradoura como cult se deu por conta dessa postura, mas também pela sua rara sensação de incompletude: realizado antes do fim da guerra, ele ousa deixar seus personagens literalmente no ar ou no meio do deserto, fazendo com que seus espectadores originais - e os muitos que descobriram o filme no decorrer dos anos - ficassem se perguntando o que teria acontecido com aquelas pessoas (cujos problemas mesquinhos não passam de "um monte de feijões") nos turbulentos anos que se seguiram. K N
I UA (Knmaine) 99 min. P&B Idioma: inglês
SER
OU
NAO
SER
<1942)
(TO BE OR NOT TO BE)
Direção: Ernst Lubitsch
"O que ele fez com Shakespeare nós estamos fazendo com a Polônia", brinca um
Produção: Alexander Korda. Ernst
coronel alemão referindo-se a um ator de teatro exagerado na ultrajante comédia de
I nbltsch Roteiro: Melchior Lengyel, Edwin Justus Mayer Ilitografia: Rudolph M a t e Musica: Werner R. Heymann, Miklós Rózsa I lenco: Carole Lombard, Jack Benny, Robert Mack, Felix Bressart, Lionel
humor negro de guerra de Ernst Lubitsch. Em uma era em que nada é sagrado ou sério demais para ser satirizado, é difícil Imaginar a controvérsia que cercou originalmente a escrachada farsa antinazista brilhantemente espirituosa e hilária de Lubitsch. Lubitsch era um judeu alemão que se estabeleceu nos Estados Unidos na década de 20 e realizou uma série de comédias arrasadoras e de estilo inimitável. Mesmo assim, o diretor hesitou quando Melchior Lengyel - que concebeu Ninoichka
(1939), também
dirigido por ele - surgiu com esta idéia sobre uma trupe de atores que se fingem de
/Mwill, Stanley Ridges, Sig Ruman,
membros da Gestapo para salvar membros da Resistência polonesa. No entanto, o
Ibm i lugan, Charles Halton, George
diretor acabou por acreditar - e esperar - que os americanos se preocupariam mais
I v i m , Henry Victor, Maude Eburne,
com a Polônia se ele pudesse estimular a compaixão deles através do riso, aplicando o
Hllllwell Hobbes, Miles Mander hulii ação ao Oscar: Werner R. 1
• i n . i n n (música)
famoso Toque de Lubitsch (com u m roteiro sofisticado de Edwin Justus Mayer) aos nazistas e seus adversários. O comediante Jack Benny, em seu momento mais brilhante, interpreta Josef Tura, o vaidoso ator-diretor de uma companhia de teatro eternamente em conflito com sua vo lúvel esposa Maria, a atriz principal do grupo, interpretada pela deliciosa Carole Lombard (que aceitou o papel contra a vontade de seu marido Clark Gable e foi tragicamente assassinada antes do lançamento do filme). Depois dessa batalha na guerra dos sexos, os Turas têm coisas mais importantes para se preocupar - como a invasão da Polônia - e se envolvem em espionagem. O tom muda a partir de uma traição e volta a mudar quando a trupe briguenta de Tura põe suas divergências de lado e bola uma audaciosa farsa para resgatar Maria e seu admirador - o herói da Resistência interpretado por Robert Stack - do quartel-general da Gestapo. Este já foi considerado por muitos o filme mais engraçado de Lubitsch, justamente por ser o mais sério deles prova disso é Sou ou não sou, a refllmagem de Mel Brooks de 1983, que, apesar de engraçado, não compartilha da mesma urgência de se realizarem proezas desesperadas em uma época perigosa. Os momentos sarcásticos (como a imitação perversa que Tom Dugan faz de Hitler) não ofuscam a essência da sátira, que é o olhar do filme sobre o mal de que homens comuns são capazes quando sentem o gosto do poder, ou sua mensagem de que mesmo atores egoístas podem fazer algo de bom quando agem como seres humanos. AE
A MARCA DA PANTERA (1942) (CAT PEOPLE)
EUA (RKO) 73 min. P&B Idioma: inglês
O i I ilmes de terror produzidos pela Val Lewton/RKO na década de 40 são um ponto alto nero, obras célebres pela aura sutil de medo em vez de efeitos especiais repugnanh". A marca da pantera, dirigido por Jacques Tourneur, apresenta a história trágica de In II 1, a mulher-felina que teme destruir aqueles que mais ama. Ollie Reed (Kent Smith) vê a bela e sexy Irena Dubrovna (Simone Simon) dese-
Direção: Jacques Tourneur Produção: Vai Lewton, Lou L. Ostrow Roteiro: DeWitt Bodeen Fotografia: Nicholas Musuraca Música: Roy Webb
nhando uma pantera negra no zoológico. O breve romance dos dois leva ao casamento,
Elenco: Simone Simon, Kent Smith,
in.is sinais de problemas não tardam a surgir, Irena parece obcecada por grandes felinos
Tom Conway, Jane Randolph, Jack
I " I I V E seus gritos ("como os de uma mulher") à noite. No entanto, quando Ollie leva
Holt
gatinho para casa para lhe dar de presente, ele rosna e bufa. "Estranho", fala o dono 1I.1 loja de animais para Ollie, "gatos sempre percebem quando há algo de errado com n i n a pessoa." O que há de errado com Irena permanece essencialmente ambíguo e essa é a força do filme. Será ela uma jovem reprimida com medo de consumar seu casamento, conloime sugere seu psiquiatra (Tom Conway), ou uma herdeira das malévolas bruxas adoradoras de Satã de seu vilarejo natal na Sérvia? Irena teme que emoções fortes como luxúria, ciúme ou raiva libertem a pantera assassina que vive dentro dela. De fato, essas , inoções fogem ao seu controle: em uma cena ela arrasa seu afetuoso analista e, em mitra seqüência assustadora, ela persegue sua rival Alice (Jane Randolph), que trabalha com Ollie e também o ama. A marca da pantera não vai matá-lo de medo; por outro lado, também não exagera na abordagem sexual como a risível refllmagem de I982, de Paul Schrader, com suas cenas de bondage e violência gráfica. O filme é assustadoramente eficaz, especialmente no uso de luz e sombra. Em uma cena merecidamente famosa, Irena segue Alice até uma piscina subterrânea, forçando-a a nadar em pânico enquanto ouvem-se sons misteriosos e sombras bruxuleiam em reflexos líquidos de luz. Embora um tanto datado, A marca da
pantera
conta com diálogos afiados. Alice provoca simpatia o r n o "o novo tipo de mulher" - inteligente, independente, respeitável e amorosa. Ollie é provavelmente dócil demais para merecer o amor de uma mulher do seu tipo. É Irena quem domina a atenção e permanece na cabeça do espectador, um dos monstros mais dignos de compaixão do cinema de horror (como Bóris Karloff no papel da criatura de Frankenstein). Simon está encantadora - um pouco "exagerada" com seu rosto de gata, doce, triste e inconscientemente perigosa. CFr
INI
I I M (Mercury, RKO) 88 min. P&B
SOBERBA
(1942)
Idioma: inglês
(THE MAGNIFICENT AMBERSONS)
Direção: Orson Welles, Fred Fleck
O contrato sem precedentes de dois filmes que Orson Welles assinou com a RKO Plctuies
Produção: Jack Moss, George
em 1940 lhe permitia liberdade criativa total, porém dentro de orçamentos limitados
Si haefer, Orson Welles Itoieiro: Orson Welles, baseado no H i e de Booth Tarkington I nio|;rafia: Stanley Cortez M i e . i i . i : Bernard Herrmann, Roy Wehl,
I Irnco: Joseph Cotten, Dolores I OStello, Anne Baxter, Tim Holt, Ag
• Moorehead, Ray Collins,
I i J m e s.inford, Richard Bennett, I irson Welles (narrador) Indll ação ao Oscar: Orson Welles (1111 • 111 o I filme), Agnes Moorehead
Soberba é o multas vezes ignorado segundo filme desse contrato. Ele foi iniciado após tétmino de Cidadão Kane (1941), mas antes de a ira de William Randolph Hearst "arruinar a carreira de Welles como cineasta hollywoodlano. O desejo de Welles de levar romance The Ambersons,
de Booth Tarkington (ele também escreveu Alice
Adam;
Monsieur Beaucaire e os contos de Penrod- todos adaptados para o cinema), para as tela era obviamente um projeto mais pessoal do que Kane. Ele já havia realizado uma adaptação do livro com o Mercury Theatre, que foi apresentada pelo tádio. Baseado no mundo da alta burguesia da virada do século que Welles recordava da própria infância. Soberba conta a história de George Amberson Minafer (Tim Holt), o ta lentoso, porém detestável, rebento de uma família aristocrata que recebe o castigo qu todos desejam para ele. Além dos demais paralelos, o prenome omitido de Welles er
(.ii uz I oadjuvante), Stanley Cortez
George. Como isso deve ter parecido não só autobiográfico como, à medida que o film
(Inlugiafia), Albert S. D'Agostino, A.
era feito, tettivelmente profético, deve-se dat o crédito a Welles por seu ego te
Roland fields, Darrell Sllvera (direção
permitido que Holt, um caubói juvenil em um raro papel sério (que só repetiria em
de . n i e )
O tesouro de Sierra Madre, de 1948), fosse escalado como protagonista. Os primeiros 70 minutos revelam o gênio criativo, chegando a supetat Kane. O fil me começa com uma charmosa, porém mordaz, palestra sobre costumes masculinos natrada por Welles e demonstrada por Joseph Cotten, e então recria o mundo confuso tacanho, vívido e estranho dos Ambersons, que é destruído aos poucos pelo século X - simbolizado, com perspicácia, pelo automóvel - e por suas próprias fraquezas ocultas. Trabalhando com o fotógrafo Stanley Cortez em vez de Gtegg Toland, Welles engen dra um filme que é tão visualmente impactante quanto Kane, mas que também trans mlte uma nostalgia mais terna e melancólica de passeios de trenó e cartões de visita mesmo mostrando como as injustiças de uma sociedade de classes condenam pessoa decentes a uma vida de miséria. O empresário Eugene (Cotten) perde seu amor, a bemnascida Isabel (Costello), para um palerma de uma família de renome, porém é incapaz de se dissociar da magnificência dos Ambersons, mesmo à medida que o tempo os reduz a frangalhos. Enquanto Cidadão Kane é composto por uma série de cenas memoráveis. Soberba é um todo impecável: exemplo disso é a seqüência de baile em que a câmera rodopia por entre os dançarinos, coletando pedaços da trama e de diálogos, seguindo um elenco numeroso e submetendo-se à música e à história. É uma ttagédia que a versão original de Welles tenha sido tirada de suas mãos - confessadamente, enquanto ele estava no Brasil se divertindo e não tetornando ligações - e editada. Nos últimos 10 minutos, o elenco se torna inexpressivo enquanto se attasta por um final feliz enxertado por alguma outra pessoa (provavelmente pelo montador Robert Wise). É como um bigode pintado no rosto da Mona Lisa, embota a refllmagem de 2002 de Alfonso Arau, que se atém ao fim original de Welles, não tenha sido multo bem recebida: a mágica era obviamente Impossível de set repetida. K N
I U A (Warner Bros.) 126 min. P&B
A CANÇÃO DA VITORIA (1942)
Idioma: ingles
(YANKEE DOODLE DANDY)
Direção: Michael Curtiz
Seria extremamente fácil formular uma perspectiva pós-moderna, pollticamenir
Produção: William Cagney, Hal B. Willis, Jack L Warner Kotclro: Robert Buckner, Edmund |usc|ih
1
Fotografia: James Wong Howe Musica: George M. Cohan, Ray Hllndorf, Heinz Roemheld rlenco: James Cagney, Joan Leslie, W.iliei Houston, Richard Whorf, Irene Manning, George Tobias, Rosemary Dei .imp. Jeanne Cagney, Frances ford, George Barbier, S. Z. Sakall,
correta e sofisticada para classificar A canção da vitória como propaganda ultranacln nalista. De fato, esta cinebiografia na forma de extravagância musical, que detalha a vida do patriota showman George M. Cohan - um americano de origem irlandesa e o primeiro artista a receber a Medalha de Honra do Congresso - , é repleta de números musicais sentimentais e simplistas, caracterizados invariavelmente pelo estilo de dan ça sem ginga, exaltado e Impetuoso que era a marca registrada de Cohan, e que defen dem através de suas letras as mais rígidas instituições americanas, como, por exemplo, "Grand Old Flag", "Give My Regards to Broadway", "Over There" e a canção do título original. O filme é um flashback - contado por um modesto Cohan a Franklin Delano Roosevelt - que termina com uma propaganda descarada da intervenção dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial: "Eu não me preocuparia com este país se fosse o
W.iliei Catlett, Douglas Croft, Eddie
senhor. Vai ser moleza. Em que outro lugar do mundo um cara normal como eu pode
Fey h . Minor Watson
chegar e bater um papo com o presidente?"
Oicar: James Cagney (ator), Ray Hllndorf, Heinz Roemheld (música), I 1 M i 1 evinson (som)
Contudo, uma leitura tão cínica assim cometeria a terrível falha de Ignorar algo surpreendente, tocante e grandioso que atravessa A canção da vitória como um rio
Indli i ç l o ao Oscar: Jack L. Warner,
límpido: a magnífica sinceridade de James Cagney no papel principal. Isso fica claro no
1 III I: Wallis, William Cagney (melhor
seu jeito de sorrir sem acanhamento para frisar suas idéias; no seu tom de voz tranqüilo
lil
). Michael Curtiz (diretor),
Knlir 11 Buckner (roteiro), Walter Houston (ator coadjuvante), George Anny (edição)
e civilizado; no extraordinário virtuosismo da sua dança - com seu estilo persuasivo e original -, que é de um atletismo incansável e ao mesmo tempo infantil, brincalhona e lindamente absurda; e em algo que é raro vermos hoje em dia, uma vez que um distanciamento alienado tomou conta das atuações de Hollywood: a total e apaixonada crença de Cagney em tudo o que faz. A direção de Michael Curtiz jamais o ofusca, a fotografia em preto-e-branco exuberante de James Wong Howe jamais deixa de mostrar cada nuance da sua postura e expressão com uma iluminação bem articulada. E, quando seu pai sapateador
(Walter
Houston) está morrendo, com Georgie ao lado do seu leito de morte, Cagney se rende a um sincero arroubo emocional que o leva às lágrimas. Na verdade, nos Importamos tanto com aquele homem que esquecemos que estamos diante de uma interpretação. Cagney
se torna Cohan.
Mais do que nunca, ele se torna o espírito otimista na tela. MP
MESHES OF THE AFTERNOOIM (1943) i imagem famosa do clássico de vanguarda Mesfies of the Aftemoon (Malhas da tarde) mostra Maya Deren, diretora e estrela do filme, em uma janela, com folhas de refletidas liricamente no vidro: ela olha para fora, pensativa, as mãos na vidraça. I v . . i imagem foi metamorfoseada diversas vezes - em Anna Karina em uma janela de iiiniel futurista (Alphavllk [1965]); em Annette Bening em uma cela acolchoada (A pn-Mioniçõo [1998]); em Caroline Ducey cm seu apartamento branco e reluzente (líninance [1999]). Seja qual for sua mutação, a Imagem continua sendo uma 11'piesentação vívida, onírica e aterrorizante do confinamento feminino. Meshes faz parte daquela vertente da vanguarda americana que compreende um tipo especial de história, a jornada surrealista de uma figura através de uma paisagem i m constante mutação. Deren, trabalhando a partir de suas próprias fantasias c filmando na sua própria casa, deu um salto intuitivo que conferiu ao filme sua repercussão duradoura. Sua visão de Los Angeles liga esse Impulso mitopoético a uma atmosfera que é protonolr em seu uso da arquitetura e design de interiores, isso sem mencionar o clima de medo e ameaça. Este foi um dos primeiros filmes a fazer a relação Indelével entre a experiência gótica de uma mulher que se despedaça - estllhaçando-se em múltiplas personalidades, atormentada por visões, resvalando por entre realidades alternativas - c os espaços ensolarados do seu lar, no qual cada pequena faceta, desde a escadaria da sala de estar até a faca de pão na mesa da cozinha, é realçada. Para Deren, é o cotidiano doméstico que tece as malhas que aprisionam e traumatizam as mulheres. Dentre as muitas artes com as quais Deren se envolveu, a dança tem um lugar de destaque. Em Meshes, sua extraordinária linguagem corporal se une à coreografia dos rituais comuns, outra combinação que influenciou por décadas o cinema "feminino". Deren usava seus movimentos como meio de impulsionar a montagem, sugerindo formas rítmicas e criando objetos pictóricos: neste fluxo de projeções oníricas, ela é a única âncora existente. Ainda assim, apesar de todo o seu movimento, o último plano de Meshes revela que essa heroína moderna provavelmente nem saiu da sua cadeira na sala de estar. No entanto, o que ela Imaginou consegue destruí-la. Esta é uma história sobre um desejo de morte, sobre um sonho que mata. A M
EUA 18 min. Mudo P8cB Direção: Maya Deren, Alexander Hammid Roteiro: Maya Deren Fotografia: Alexander Hammid Música: Teljl Ito (acrescentada et 1952) Elenco: Maya Deren, Alexander Hammid
Inglaterra (Crown) 8o min. P8cB
FIRES WERE STARTED
Idioma: ingles
Uma versão mais longa do clássico de guerra de Humphrey Jennings foi exibida antes do
Direção: Humphrey Jennings
lançamento sob um título mais cativante - / Was a Fireman (Eu era um bombeiro)
Produção: Ian Dalrymple
não combinava com a visão resolutamente coletivista da Inglaterra sob ataque. Em 194;,
(1943) . mil
Fotografia: C. M. Pennington-
Flres Were Started (Os Incêndios começaram) foi considerado um "documentário" e
i i hauls
comparado a um cinema de tradição mais comercial - aclamado como mais autêntku ,ln
Música: William Alwyn
que o filme de ficção dos estúdios Ealing sobre o mesmo tema: The Beíls Co Down. Hojl
tlcnco: Philip Dickson, George Cravett, rred Griffiths, Johnny Houghton, Loris Key
em dia, seu uso de atores não profissionais, que eram bombeiros de verdade, interpre tando personagens fictícios em uma história atquetípica sobre um dia de plantão e um incêndio sob a lua cheia ("uma lua de bombeiro") parece muito mais um exemplo de neo realismo ou até mesmo de cinema não-hollywoodiano. Algumas imagens de arquivo de cinejornais são usadas, mas o quartel de bombeiros é um cenário e o fogo consiste em efeitos especiais. O filme possui uma credibilidade tosca que às vezes é ajudada pela inépcia de alguns atores - embora as reações à morte trágica do membro mais adora velmente cockney da equipe pareçam forçadas ("Jacko bateu as botas") e a Injeção de moral ("Saia dessa") perca para o "Quem é Joe?" de Paraíso infernal (1938). No elenco estão Fred Griffiths, que virou ator profissional e fez muitos filmes como coadjuvante, e - no papel do novato da equipe - William Sanson, que se tornou um escritot de contos interessantemente assustadores. O filme é a síntese do livro Mith offhe Blitz, de Angus Calder, com seu grupo composto de várias classes sociais, que chega a ser até multicultural (há um chinês), se esforçando para fazer seu trabalho. Não há sinal de pomposidade entte os bem articulados burocratas ou entre os telefonistas cujas funções são tão vitais para combater os incêndios quanto os próprios bombeiros (um momento muitas vezes parodiado é aquele em que um telefonista se desculpa pela intetrupção depois de se jogar para debaixo da mesa quando uma bomba explode). O final eletrizante, no qual um incêndio é controlado antes de alcançat um navio de munições, oferece ação e suspense. No entanto, Jennings patece menos instigado por ele do que pelo dia-a-dia, capturado com perspicácia, no qual ele mostra os homens cantando em volta do piano, jogando sinuca, treinando, fazendo ttabalhos braçais e, no geral, agindo como pessoas de verdade. K N
T H E M A N I N G R E Y (1943) ma inglês talvez seja mais famoso por seus dramas realistas, porém uma ante segunda tradição sua é a do melodrama de costumes, do qual The Man in i homem de cinza) é provavelmente o melhor exemplo e um dos filmes mais populares já realizados pelos estúdios Cainsborough. A trama é bastante esquecível, endo duas jovens cujas vidas se cruzam de forma Interessante. Clarissa (Phyllis ,) se casa com o marquês de Rohan (James Mason), que a trata com cruel indifc porém sua amiga Hesther (Margaret Lockwood) a apresenta a outro patife, o Itfi ido e imoral Rokeby (Stewart Cranger). Logo as duas trocam de parceiros, mas t u -
Inglaterra (Gainsborough) 116 min. P&B Idioma: inglês Direção: Leslie Arliss Produção: Edward Black Roteiro: Leslie Arliss, Margaret Kennedy Fotografia: Arthur Crabtree Música: Cedrlc Mallabey Elenco: Margaret Lockwood, James
do termina mal, com Clarissa morrendo tragicamente e o marquês enlouquecido es-
Mason, Phyllis Calvert, Stewart
pjn .indo Hesther até a morte.
Granger, Helen Haye, Raymond
No entanto, a trama, retirada de um romance barato de Lady Elcanor Smith, não era o das atenções do diretor Leslie Arllss. Calvert e Lockwood apresentam desempenhi is de uma intensidade sutil como protagonistas, com seus cabelos respectivamente e pretos em contraste, e Mason está sorrateiro o suficiente no papel de marquês.
Lovell, Nora Swinburne, Martlta Hunt, Jane Gill-Davis, Amy Veness, Stuart Lindsell, Diana King, Beatili c Varley
A vrtdadelra estrela do filme, entretanto, é a produção de arte. A Inglaterra da Regência I nssuscltada com fidelidade com sua elaborada decoração de Interiores e mobília peia, além das roupas elegantes e ricas em detalhes tanto dos atores quanto das in i/es. O visual luxuoso de The Man In Grey estabelece um contraste perfeito com sua ação do lado oculto e sombrio da vida aristocrática, com os elementos góticos da história causando um oportuno frisson no já cativado espectador. RBP
CORONEL B L I M P - VIDA E MORTE
(1943)
(THE LIFE AND DEATH OF COLONEL BLIMP) 1 live Wynne-Candy (Roger Livesey) é um veterano tanto da Guerra dos Boers quanto da limeira Guerra Mundial, duplamente reformado, que acredita que todos os conflitos la vida podem ser encarados com honra e decoro. Ele não percebe que o mundo mudou sua volta e que suas regras de comportamento antiquadas talvez não se apliquem mais ao cenário da Segunda Guerra Mundial; no entanto, com a teimosia de um bom .oldado, ele se agarra com firmeza a esses princípios e segue adiante. Michael Powell e Emeric Pressburger realizaram Coronel Bllmp - vida e morte no
Inglaterra (Independent. An her.) 163 min. Technicolor Idioma: inglês Direção: Michael Powell, Emeric Pressburger Produção: Michael Powell, Enteiii Pressburger, Richard Vernon Roteiro: Michael Powell, Emeric Pressburger Fotografia: Georges Périnal
auge da Segunda Guerra, quando Londres estava sendo bombardeada todas as noites
Música: Allan Gray
pelos alemães. Uma comédia de costumes talvez não pareça a melhor maneira de abor-
Elenco: James McKechnie, Neville
dar os acontecimentos no calor do momento, porém a dupla Powell / Pressburger volta
Mapp, Vincent Holman, Roget
.1 acertar aqui, revelando de forma delicada a terrível verdade da guerra moderna com elegância e humor. O fato de eles contarem a história através de três romances também
Livesey, David Hutcheson, Spencct Trevor, Roland Culver, James Knighl, Deborah Kerr, Dennis Arundell, I sivid
ajuda, à medida que Livesey corteja Deborah Kerr (em três papéis diferentes) ao longo
Ward, Jan Van Loewen, Valentine
dos anos. Tudo conspira para uma das conquistas mais ambiciosas não só dos diretores
Dyall, Carl Jaffe, Albert Lieven
• orno de todo o cinema inglês. JKI
IUA (RKO) 69 mm. P&B
A MORTA-VIVA
(1943)
Idioma: inglês
(I WALKED WITH A ZOMBIE)
Direção: Jacques Tourneur
A morta-viva,
Produção: Vai Lewton
a história do livro Jane lyre para as índias Ocidentais, onde uma jovem enfermeiia
Kotciro: Inez Wallace, Curt Siodmak
(Frances Dee) descobre que a esposa aparentemente catatônica (Christine Cordon) de
segundo filme de terror da dupla Val Lewton / Jacques Tourneur, ttansfere
lotografia: J. Roy Hunt
seu patrão foi transformada através do vodu em um zumbi. Envolvido por uma canção
Música: Roy Wetfo
que permeia a trama de fundo ("Shame and Sorrow in the Family"), este é um filme
I l t n c o : James Ellison, Frances Dee,
extraordinariamente sinistro.
l o i n C o n w a y , Edith Barrett, James Bell, Christine Cordon, Theresa Harris, Sir Lancelot, Darby Jones, Jeni
A heroína Betsy Connell (Dee) sucumbe a uma atmosfera sobrenatural evocada primorosamente, embora se esforce para compreender a cultura dos nativos, que outros filmes desdenhariam como supersticiosa. Aqui, no entanto, eles acabam se mostrando mais em sintonia com o que está acontecendo do que os supostamente civilizados personagens brancos. Como em muitos dos filmes de Lewton, a seqüência mais memorável é uma caminhada noturna, em que Dee conduz a morta-viva loira através das plantações de cana, topando com uma inesquecível criatura esbugalhada da Ilha (Darby Jones). A morta-viva faz uso do folclore caribenho e de estranhas imagens religiosas (um busto de São Sebastião) para apimentar um imbróglio romântico, que termina com todas as partes infelizes e com o vilão sendo atraído para as ondas no encalço de sua amada zumbi. Mais distante de Bela Lugosi em O cadáver
desaparecido,
impossível. K N
I UA (RKO) 71 min. P&B
A SÉTIMA VITIMA
(1943)
Idioma: inglês
(THE SEVENTH VICTIM)
Direção: Mark Robson
Talvez o melhor da série de excelentes filmes de hotror da RKO produzidos por Val Lewton
Produção: Vai Lewton
na década de 40, A sétimo vítima é de uma modernidade surpreendente e poeticamente
Roteiro: DeWitt Bodeen, Charles
fatalista. Mary Cibson (Klm Hunter), uma órfã ingênua, vai a Manhattan em busca de sua
O'Neal
estranha Irmã mais velha Jacqueline (Jean Brooks, com uma Inesquecível peruca de
lotografia: Nicholas Musuraca
Cleópatra) e descobre que ela se envolveu em uma seita de elegantes adoradores do diabo
Musica: Roy Webb I lenço: Tom Conway, Jean Brooks, Isabel Jewell, Kim Hunter, Evelyn
que agora querem levá-la ao suicídio por ter traído o culto. O diretor Mark Robson encena várias seqüências de suspense extraordinárias - dois
(rent, Irford Cage, Ben Bard, Hugh
satanistas tentando se livrar de um cadáver em um metrô lotado; Brooks sendo perse-
itaumont, Chef Milani, Marguerita
guida pela cidade por figuras sinistras e pelas suas próprias neuroses - e se permite
•viva. I llsabeth Russel
toques estranhamente artísticos que afastam este filme de terror da tradicional bruxaria, levando-o em direção a algo muito próximo da angústia existencial. A sétima vítima é repleto de aspectos que devem ter sido chocantes em 1943 e ainda são incomuns até hoje: um bando de personagens lésbicas (nem todas antipáticas), uma heroína que acaba se mostrando tão calculista quanto os vilões e um final desesperador que contrapõe uma mulher moribunda (Elizabeth Russel) vestida para sair à rua pela última vez a Jacqueline, no limite de suas forças, trancando-se em um quarto de hotel sombrio para se enforcar. K N
CONSCIÊNCIAS MORTAS
(1943)
(THE OX-BOW INCIDENT) I Onsciíncias
mortas
é um filme-chave na história dos faroestes, um dos muitos
EUA (Fox) 75 min. P8<B Idioma: inglês Direção: William A. Wellman
produzidos em 1940 que mostraram que o gênero - que anteriormente gozava de baixo
Produção: Lamar Trotti
prestígio cultural - poderia abordar questões importantes. Em 1885, numa cidadezinha
Roteiro: LamarTrotti, bascule nu
iln estado de Nevada, se espalha o boato de que um rancheiro local teria sido assassina-
livro de Walter Van Tilburg (lark
do por ladrões de gado. Enquanto o xerife está fora da cidade, um grupo de linchadores
Fotografia: Arthur C. Miller
le reúne e captura dois estranhos de passagem por lá. Apesar de se proclamarem
Música: Cyril J. Mockridge
inocentes, os homens são enforcados. Logo em seguida, os responsáveis descobrem que
Elenco: Henry Fonda, Dana Andrewl, Mary Beth Hughes, Anthony Qi William Eythe, Harry Morgan, Jane Darwell, Matt Brlggs, Harry Davenport, Frank Conroy, Man Lawrence, Paul Hurst, Victor Klllan, Chris-Pin Martin, Willard Robertson, Leigh Wbipper
I I rancheiro não está morto e que os verdadeiros ladrões haviam sido presos. Este filme conciso (de apenas 75 minutos de duração) traz uma bela quantidade de 1 relas. Henry Fonda é um caubói local, apresentado de Início como um inconseqüente biigâo de saloon, mas que acaba ficando contra os linchadores. As três vítimas são nterpretadas por Dana Andrews, um homem de família claramente inocente; Anthony • iiilnn, um andarilho mexicano; e Francis Ford, irmão do mais ilustre John, um velho senil. Frank Conroy está excelente como um ex-major confederado violento que força o próprio filho a ajudar nos enforcamentos, e Jane Darwell, famosa como a Mãe em As vinhas da ira, de John Ford, é uma implacável velha criadora de gado. Consciências
monas defende de forma incisiva o cumprimento da leí como base da
1 ivillzação. Além de Fonda, as únicas pessoas que resistem à histeria dos linchadores são um comerciante (Harry Davenport) e um pastot negro (Lelgh Whipper), cujos motivos para protestar são maiores do que os dos demais, por ter visto o próprio irmão ser linchado. No f i m , quando a verdade é revelada, Fonda enche os linchadores de vergonha ao ler em voz alta uma carta escrita pelo personagem de Andrews para a esposa. Darryl Zanuck, presidente da 20th Century Fox à época, Insistiu em que o filme íosse rodado em cenários de estúdio para baratear os custos. Na verdade, os espaços reduzidos dão a Consciências mortos uma intensidade maior do que a que poderia ter sido alcançada através das vastas paisagens típicas dos faroestes. O roteiro é baseado no primeiro romance de Walter Van Tilburg Clark, natural de Nevada, que teria outra obra sua, The Track of the Cot, também filmada por William Wellman. EB
Indicação ao Oscar: Lamar Tint 11 (melhor filme)
A SOMBRA DE UMA DÚVIDA
11943)
(SHADOW OF A DOUBT) Quando entrevistado pelo admirador e famoso acólito François Truffaut, Alfred Hitchcock se referiu a A sombra de uma dúvida como seu filme favorito. É também uma de suas obras mais ostentosas, um singelo estudo de personagem que se passa no coração dos subúrbios. Embora esse coração dos subúrbios de Hitchcock ainda seja corrompido por assassinatos e traições, ele dá mais ênfase ao ritmo de suspense tradicional do que a seqüências complexas, abastecendo a história com medidas iguais de humor e mistério. Charlie (Teresa Wright) fica entusiasmada quando seu tio e xará Charlie (interpretado com uma petfeição servil por Joseph Cotton) vem fazet uma visita a ela e à sua mãe doente. Potém ela logo suspeita de que seu adotado tio Charlie é na verdade um serial ki/Jer- "O Assassino da Viúva Alegre" - fugindo do seu último assassinato. Ao se tornar alvo de suas suspeitas, o tio não parece interessado em deixar para trás nenhum ponto sem nó, mas sua sobrinha não sabe como conciliar o amor que sente por ele com seus medos. Hitchcock filmou A sombra de uma duvido em locação, na pequena cidade de Santa IUA (skiil).ill. Universal) 108 min. P8cB
Rosa, na Califórnia, o que serviu para desfazer a tênue ilusão dos subúrbios como
Itlloma: ingles
lugares tranqüilos e seguros e mostrá-los como o ninho de segredos que são na
Dlrcclo: Alfred Hitchcock
realidade. O roteiro, escrito por Thornton Wilder com sugestões de Alma Reville, esposa
'
de Hitchcock, tem um prazer perverso em destruir noções preconcebidas da vida pacata
in .10: j.u k H. Skirball
unh'in
iidon McDonell, Thornton
Wllili'i
e à dicotomia bem e mal, confrontando a confiável e inocente Charlie com seu tio
Inlngi.ifia: loseph A. Valentine M I C K
1
das cidades pequenas. O filme é também apimentado por várias referências a gêmeos
1 : Dlmltrl Tiomkin
II-IHII:
[ru'sa Wright, Joseph Cotton,
Mil 1 miulil c:arey, Henry Travers, .1 ( nllinge, Hume Cronyn, w.ill.11 r I IIKI, Edna May Wonacott, 1 h,iilcs Hales, Irving Bacon, Clarence "I e, lanel Shaw, Estelle Jewell Imlli acao ao Oscar: Cordon Mi liniiell (roteiro)
perigoso e falso. A trilha de Dimitri Tiomkin mantém o suspense nas alturas, especialmente com sua valsa "A viúva alegre", que simboliza a culpa do tio Charlie e é o aterrorizante tema que representa os impulsos terríveis que ele mal consegue disfarçar ou reprimir. Uma dupla de vizinhos enxeridos também ofetece comentários contínuos, discutindo as várias maneiras e métodos para se cometer um assassinato e acobertá-lo em seguida. O fato de um assassino de verdade estar escondido na porta ao lado é uma generosa fonte de humot Irônico. Os vizinhos continuam tagatelando sobre várias possibilidades de homicídio enquanto Charlie tenta resolver seus sentimentos contraditórios pelo tio antes que ele o faça permanentemente pata ela. J K l
Itália (ICI) 142 min. P&B Idioma: italiano Direção: Luchino Visconti Produção: Libero Solaroli Roteiro: Luchino Visconti, Mario Alicata Fotografia: Domenico Scala, Aldo Tonti Música: Guiseppe Rosati Elenco: Clara Calamai, Massimo Glrotti, Dhia Cristiani, Elio Mau 1 1 / / 0 , Victorio Duse, Michele Riccardlnl, Juan de Landa
BSESSAO
(1943)
(OSSESSIONE) Uma das grandes especulações que se pode fazer sobre a história do cinema gira em torno de Obsessão, de Luchino Visconti: e se este tivesse sido o filme a anunciar a chegada de um novo e empolgante movimento cinematográfico vindo da Itália, em vez de Roma, cidade aberta, de Rosselllni, em 1945? Sem dúvida teria sido interessante, mas, infelizmente, jamais saberemos o que teria acontecido, pois, uma vez que o roteiro de Visconti foi claramente Inspirado no livro O destino bate à porta, de James M. Caln, o escritor e seus editores Impediram que ele fosse exibido cm telas americanas até 1976 data de sua estréia, com imenso atraso, no Festival de Cinema de Nova York. Caln acabara de morrer e provavelmente nunca viu o filme; uma pena, pois teria descoberto a melhor adaptação de sua obra para o cinema. Massimo Cirotti é Gino Costa, um andarilho suarento de camiseta que arranja um emprego em um restaurante de beira de estrada cujo dono é Bragana (Juan de Landa), um corpulento fã de ópera. Bragana tem uma esposa, Giovanna (a radiante Clara Calamai, a primeira escolha de Rossellinl para o papel de Anna Magnanl em Roma, cidade aberta), e logo ela e Gino estão um nos braços do outro, fazendo planos para fugir. Atendo-se à história de Caln, Visconti é imensamente ajudado pela pura química entre Calamai e Girottl; todas as descrições de Cain de corpos ardentes e desejo animal são representadas em Obsessão com uma intensidade quase assustadora. Conseqüentemente, todo o Imperativo econômico para o subseqüente assassinato fica, de certa forma, em segundo plano. Visconti também não evita as conotações obviamente homossexuais da relação de Gino com "lo Spagnolo" (Elio Marcuzzo), um artista de rua espanhol com o qual ele pega a estrada por um tempo, o que é um tanto extraordinário, considerando-se que o filme foi realizado sob o regime fascista. Uma cena que certamente teria encantado Cain - ele mesmo filho de um cantor de ópera - é a competição local de cantores de ópera da qual Bragana participa. Uma figura grosseira e de certa forma inigualável - multo distante do tolo convencido de Cecil Kellaway na versão hollywoodiana de 1946 do romance, dirigida porTay Garnett - , ele ganha vida subitamente ao soltar a voz em uma ária, com um floreio final que leva a audiência reunida a aplaudi-lo de pé. Obsessão poderia ter sido o grande exemplo da junção do filme nolr americano com o realismo italiano; em vez disso, continua sendo uma espécie de elo perdido entre os dois movimentos. RP
Dl
EUA (MCM) 113 min. Technicolor Idioma: inglês
A G O R A S E R E M O S F E L I Z E S <1944) (MEET ME IN ST LOUIS)
Direção: Vincente Minnelli
Uma garotinha chamada Tootie (Margaret O'Brien), chorando e furiosa, sal de dentro d l
Produção: Rogers Edens, Arthur Freed
casa e corre para a neve. Uma vez lá, começa a destruir seus adorados homens de neve
Roteiro: Irving Brecher,
- um símbolo de tudo o que é estável e teconfottante na sua existência familiar - c
I red I. Finklehoffe, baseado no livro tie Sally Benson Fotografia: George J. Folsey Música: Ralph Blane, Hugh Martin, N,K io Herb Brown, Arthur Freed, George E. Stoll
uma energia e virulência extremamente perturbadoras. Quem imaginaria que Judy Garland cantando "Have Yourself a Merry Little Christmas" teria um efeito tão devastador na frágil psique de uma criança, ou na nossa? Agora seremos felizes, de Vincente Minnelli, é um dos musicais mais incomuns e emotivos da história de Hollywood. Ele mistura os dois gêneros dos quais Minnelli era
I lenco: Judy Garland, Margaret
mais adepto - o musical e o melodrama -, chegando até, em seus momentos mais
O'Brien, Mary Astor, Lucille Bremer,
sombrios (como a seqüência dedicada aos horrores do Halloween), a quase se tornar
I eon Ames, Tom Drake, Marjorle
um filme de terror. Ele é também um filme que, tanto na época quanto agora, se
. " i n n . Harry Davenport, June
permite ser interpretado de formas totalmente contrastantes: ou como uma celebração
101II ia 11, Henry H. Daniels Jr., Joan 1 i
II, Hugh Marlowe, Robert Sully,
perfeitamente inocente e ingênua dos valores familiares, ou como uma reflexão sobre
1 hill Wills, Gary Gray, Dorothy Raye
tudo que destrói a unidade familiar por dentro. Em outras palavras: seria ele um
Indicação ao Oscar: Irving Brecher,
entretenimento reconfortante e escapista que admite ser problemático para poder
I led I. Finklehoffe (rotelroj, George J.
desobsttuir e reforçar o status quo ou - quase à sua própria revelia - um gesto sub-
Folsey (fotografia), George E. Stoll
versivo no coração do sistema hollywoodlano, um grito de raiva incontida como o
i i i n e . u a), Ralph Blane, Hugh Martin I, am, ,10)
massacre de Tootie da sua tribo imaginária de homens de neve? Sim, estou falando sobre o mesmo filme em que Garland observa apaixonada seu vizinho e canta "The Boy Next Doot" e - em um ponto alto espetaculat - rodopia com um monte de passageiros coloridos enquanto canta "The Trolley Song" ("Zing, zing, zing went my heartstrings...").
O projeto de Minnelli é discretamente ambicioso: ele não
pretendia apenas contar a história de uma adorável família "comum" - e dos desafios que ela enfrenta com estoicismo -, mas também esboçar a história de uma audaciosa sociedade do século XX, definida por acontecimentos como a Feira Mundial. A sensibilidade artística de Minnelli - a sexualidade dele pode ser tanto uma questão em aberto quanto um segredo escancarado, dependendo de qual história de Hollywood você consulta - estava em sintonia com os anseios femininos e com a ansiedade masculina, e um excesso de ambos torna este musical inexoravelmente dramático. O patriarcado surge na forma estúpida e rabugenta de Leon Ames, que tenta afirmar bravamente sua autoridade em face de uma família esmagadoramente feminina. A série de namorados das garotas também precisa ser instigada, manipulada e informada de seu verdadeiro destino conjugal. Quanto aos desafios estéticos de um musical, Minnelli e seus colaboradores conseguiram praticamente Integrar canções e dança a um fluxo de incidentes extravagantes, dignos de um conto de fadas. Canções começam como frases jogadas, faladas ou cantaroladas na rua ou diante de uma porta e somem de repente quando uma intriga surge na trama. Sob a elegante demonstração de estilo cinematográfico e o verniz civilizado das boas maneiras, apenas Tootie é capaz de expressar emoções selvagens e indomadas como "Under the Bamboo Tree", seu exótico dueto com Judy, indica com jovialidade. A M
ig
1 H A (w.iinei Bros.) 100 min. P&B
UMA AVENTURA NA MARTINICA m m )
Idioma: inglés
(TO HAVE AND HAVE NOT)
nlieiao: Howard Hawks
Co-rotelrizado por dois ganhadores do Prémio Nobel, Ernest Hemingway e William
I
Faulkner, a partir do livro homônimo de Hemingway, Uma aventura na Martinica
w
lucau: Howard Hawks, Jack L. I
Rotclro: Jules Furthman, baseado no u n í i' dc Ernest Hemingway lotografia: Sidney Hickox Música: Hoagy Carmichael, William I av.1,1 ranz Waxman 1 Ii
: I lumphrey Bogart, Walter
i'.i• n i i . i i i , Lauren Bacall, Dolores
foi
praticamente improvisado pelo diretor Howard Hawks e por seu elenco incomparável. Um dos muitos filmes realizados depois do sucesso de Humphrey Bogart em
Casablanca
(1942), esta obra ainda mais romântica tem como núcleo um caso amoroso que ameaça jogar a Segunda Guerra para escanteio. Hawks, que descobriu Lauren Bacall antes de Bogart, sentiu-se traído pelo casamento das estrelas, porém foi ele o principal responsável pela criação dos personagens que o casal acabaria interpretando na vida real. Passado na Martinica durante o regime de Vichy - e nâo em Cuba, como no roman-
Mm.in, Hoagy Carmichael, Sheldon
ce - , Uma aventura na Martinica traz novamente Bogart como um expatriado ianque que
11'nii.iid, Walter Szurovy, Marcel
se envolve com as Forças Francesas Livres e acaba se comprometendo com a causa
1 lallo, Waller Sande, Dan Seymour, Aldn N.idl
aliada. A eletricidade genuína que faísca entre Bogie e a estreante Bacall - como a garota que entra em sua vida e assume o controle dela - conduz a um final picante e otimista que deixa o espectador com uma sensação de alegria maior do que a resignação melancólica de Casablanca.
Ao contrário de Rick (Bogart) e lisa (Ingrid Bergman) no filme
anterior, que priorizam o bem comum em detrimento do amor, Harry e Slim salvam-se mutuamente do isolacionismo e conseguem manter seu relacionamento porque estão dispostos a trabalhar juntos para vencer a guerra. Hawks não teria paciência com uma mulher que achasse que sua única função era oferecer uma vida doméstica feliz para o herói, de modo que torna a Sllm de Bacall tão Intrépida e corajosa quanto o Harry de Bogart - não apenas um caso amoroso, mas uma parceira. Hawks enche cada cena de Uma aventura na Martinica com momentos deliciosos: diálogos amorosos hilários, porém sensuais, entre os protagonistas ("Você sabe assobiar, não sabe?"); Walter Brennan fornecendo alívio cômico ao perguntar: "Você já foi picado por uma abelha morta?"; Hoagy Carmichael cantando "Hong Kong Blues" e acompanhando uma Lauren Bacall de voz rouca (ou a voz seria de Andy Williams?) em "How Little We Know"; e Bogie vociferando com um tom de voz típico de um democrata sabe-tudo. Quando John Huston ficou sem um final para Paixões em fúria, Hawks lhe deu o clímax do tiroteio em um barco do romance de Hemingway que nunca chegou a incluir no filme. K N
nil
LAURA i
1
(1944)
homens a adoram. As mulheres a admiram. No entanto, a encantadora Laura Hunt
EUA (Fox) 88 min. P8<B Idioma: inglês
(Cene Tierney), uma jovem designer, não monopoliza Laura mais do que Ann (Judith
Direção: Otto Preminger, Rouben
Anderson), sua fria amiga socialite; Shelby (Vincent Price), seu dissimulado pretenden-
Mamoulian
te; ou o detetive durão Mark McPherson (Dana Andrews), que, em busca do assassino
Produção: Otto Preminger
da protagonista, se apaixona por seu fantasma. Porém o autor/radialista perversamente servil Waldo Lydecket (Clifton Webb) nos fascina pot completo, adotando Laura 1 0 sua protegida, tornando-a famosa, para em seguida obcecarse por sua vida como uma aranha que a tivesse prendido em sua teia. Se este Laura de Otto Preminger nos intriga com sua discordante mistura de estilos noir, psicodrama, melodrama e thtillet - em alguns breves momentos ele se torna
Roteiro: Jay Dratler, Samuel Hoffenstein, Elizabeth Reinhardt, baseado no livro de Vera Caspary Fotografia: Joseph LaShelle, Lucicn Ballard Música: David Raksin Elenco: Gene Tierney, Dana Andrew..
monumental. Urna cena particularmente notável: Ann explicando a Laura por que é ela
Clifton Webb, Vincent Price, Judiili
quem deveria ficar com Shelby ("Somos ambos fracassados"); ou o encontro romântico
Anderson, Cy Kendall, Grant Mitchell
u,i delegacia quando, ao apagar as luzes ofuscantes de Interrogatório, Mark vê o
Oscar: Joseph LaShelle (fotognili.i)
verdadeiro esplendor da personagem de Tierney. Contudo, nada supera a atitude venenosa de Lydecker ao brindar Laura com a traição de Shelby: "Vou ligar para ele", diz ela ansiosamente; "Ele não está lá", rettuca com acidez Waldo. "Está jantando com Ann,
Indicação ao Oscar: Clifton Webb (ator coadjuvante), Otto Premingei (diretor), Jay Dratler, Samuel Hoffenstein, Elizabeth Relnli.inli
nao sabia?" Ele não só se encontra fascinado pela sua vida como a toma pata si, no que
(roteiro), Lyle R. Wheeler, Leland
ulvez seja o primeiro exemplo no cinema de um homem que deseja ser uma mulher. MP
Fuller, Thomas Little (direção de
arte)
IDA (mc;m) 114 min. p&B
A MEIA-LUZ
(1944)
Direção: George Cukor
(GASLIGHT)
Piodução: Arthur Hornblow Jr.
A versão hollywoodlana de George Cukor da história de amor gótica filmada ante
Itotciro: John Van Druten, Walter Rllli h, John L. Balderston, baseado na p l ç i Anrjcl Street, de Patrick Hamilton I litografia: Joseph Ruttenberg
Mormente na Inglaterra é carregada de uma atmosfera ameaçadora, com um arreplanir enredo de thrlller. Paula Alqulst (Ingrid Bergman) se vê cortejada pelo charmoso, embora estranhamente possessivo, Gregory Anton (Charles Boyer), que parece mais
Música: Bronislau Kaper
Interessado na casa de Paula em Londres do que na própria mulher tímida. Anton acaba
1 Itni Ol 1 liarles Boyer, Ingrid Bergman,
se mostrando um ladrão esperto que, cerca de 10 anos antes, matara a tia de Paula em
Joseph Cotten, Dame May Whltty,
uma tentativa fracassada de roubar suas jóias Imensamente valiosas. Enquanto revista
Angela l ansbury, Barbara Everest, Emil
sistematicamente sua casa à noite, ele faz de tudo para convencê-la, e aos demais, que
K.inieau, Edmund Breon, Halliwell
ela está enlouquecendo. O que pretende é subjugá-la por completo para poder ficar
llobbes, Tom Stevenson, Heather 1 Ii.in her, Lawrence Grossmith Oscar: Ingrid Bergman (atriz), Cedric i aillions. William Ferrari, Edwin B. Willis. Paul lluldschlnsky (direção de arte)
livre para vasculhar a casa. O plano de Anton, no entanto, é descoberto por Brian Cameron (Joseph Cotten), que, ao se apaixonai pela mulher que vê sendo maltratada e ameaçada, Intervém bem a tempo para salvá-la do pior. Apesar de a trama de À meia-luz
ser um tanto rala, Cukor extrai bons desempenhos
Indicação ao Oscar: Arthur Hornblow
de todo o elenco, incluindo a estreante Angela Lansbury como a criada atrevida que,
Ii (melhor filme), John L. Balderston,
como tudo e todos na casa, parece estar tramando contra sua dona. Com seu clima de
Wallis Uelsen, John Van Druten (iiilclio), Charles Boyer (ator), Angela 1 imbury (atriz coadjuvante), Joseph
perseguição e paranóia, À meia-luz é um elegante representante da série de filmes noir realizados à época por Hollywood. RBP
Unnenberg (fotografia)
Inglaterra (Two Cities) 135 min. I n hnicolor Idioma: Inglês / francês Direção: Laurence Olivier Produção: Dallas Bower, Filippo Del (.liullce, Laurence Olivier Roteiro: Dallas Bower, Alan Dent, baseado na peça de William Shakespeare lotografia: Jack Hildyard, Robert Krasker
HENRIQUE V (1944) (HENRY V) Henrique
V foi considerado pelo governo Inglês uma propaganda patriótica ideal
durante a guerra. Laurence Ollvier, que servia na Aviação Naval britânica, foi dispensado para atuar nele e - depois que William Wyler recusou o projeto - dirigi-lo. Buscando preservar tanto o engenho teatral Inato de Shakespeare quanto as alturas protocinematográficas alcançadas pela sua Imaginação, Ollvier acerta ao enquadrar o filme dentro de uma apresentação da peça no próprio Globe Theatre. Na abertura de Henrique V, a câmera paira por sobre uma maquete extraordinariamente detalhada de Londres,
Musica: William Walton
alcançando a agitação e libertinagem da platéia reunida no Globe e adentrando um
f lenco: Felix Aylmer, Leslie Banks,
espetáculo extravagante - expandindo-se em seguida para o espaço cinematográfico à
RobeM Helpmann, Vernon Greeves,
medida que a ação se transfere para a França.
I
1 1.1I111 ase, Griffith Jones, Morland ¡1 hi.mi. Nicholas Hannen, Michael
W.uie, I aurence Olivier, Ralph Truman, I I iii-si Ibesiger, Roy Emerton, Robert
O filme inteiro joga com diferentes níveis de estllização, desde as cenas na corte francesa - que pegam emprestadas das pinturas em miniatura medievais suas cores delicadas e perspectiva naíf - até o realismo das cenas de batalha, Inspiradas no
Newinn, Freda Jackson
dinamismo exuberante de Alexandre Nevsky (1938), de Sergel Eisenstein. O ritmo do tex-
Oicar: Laurence Olivier (prêmio
to de Shakespeare, discretamente adaptado para se encaixar no contexto da guerra - os
honorário)
três traidores ingleses foram cortados, por exemplo - , é sustentado pelo vigor da atua-
Indicação ao Oscar: Laurence Olivier
ção de Ollvier e pela trilha arrebatadora de William Walton. Henrique V é o primeiro
(inellioi filme), Laurence Olivier (ator),
filme que consegue ser ao mesmo tempo genuinamente shakespeariano e plenamente
Paul sheriff, Carmen Dillon (direção de arte), William Walton (música)
cinematográfico. P K
IVAN, O TERRÍVEL - PARTES 1 E 2
(1944)
(IVAN GROZNYJ I E II)
Idioma: russo
Eisenstein é um daqueles nomes que surgem inevitavelmente quando se estuda teoria do cinema e estética cinematogtáfica. Especialmente famoso pela dramática ência da escadaria de Odessa em O encouraçado I '
Potemkin (1925), o diretor russo
.1 mais uma vez seu imenso talento com Ivan, o Terrível. Este épico natra a vida do
despótico czar e foi concebido originalmente como uma trilogia, cujas filmagens "çaram no início da década de 40 a pedido de Stalin. Eisenstein, no entanto, guiu concluir apenas as partes 1 e 2 por conta de sua motte prematura. A primeira parte foi lançada em 1945, ao passo que a segunda foi censutada pelo governo. Stalin viu em Ivan, o Terrível uma ctítica ao seu próprio despotismo e, conseqüentemente, proibiu o filme. A parte 2 foi finalmente lançada em 1958, após a motte tanto de II
nstein quanto de Stalin. Ivan, o Terrível conta a história da ascensão e queda do mais famoso czar da Rússia,
Ivan IV, responsável pela unificação do país no fim da Idade Média. O primeiro filme começa com a coroação de Ivan (Nikolai Chcrkasov) c seu plano para derrotar os boiardos. 1 la se concentra na instauração do poder de Ivan e mostta sua aprovação pelos c a m III meses. A segunda parte narra as maquinações dos boiardos na sua tentativa de assassinar Ivan e revela a progressiva crueldade do czar, que cria sua própria polícia para manter o país sob controle. Ivan descobte os planos contta ele e derrota seus inimigos, assinando-os. As atuações são particularmente encenadas: Eisenstein faz uso extensivo de doses exttemos e parece mais preocupado com a reação dos personagens is acontecimentos do que com os acontecimentos em si. Na parte 2 há um curioso uso de cenas em duas cores em um filme que é quase completamente preto-e-btanco. Alexandre Nevski (1938) e Ivan, o Terrível são os únicos filmes falados de Eisenstein. '.c os compararmos aos filmes mudos que ele dirigiu na década de 20, veremos não só uma mudança de estilo, graças essencialmente à chegada do som, 1 o r n o também uma mudança nos próprios temas narrados. Aqui, Eisenstein renuncia à representação das lutas do proletariado que está no âmago dos seus filmes anteriores, voltando-se em vez disso pata uma história épica, ligada a um passado "seguro" que não envolve críticas abertas a acontecimentos políticos contemporâneos. Cfe
URSS (Alma Ata) 100 min. P8<B Direção: Sergel M. Eisenstein Produção: Sergei M. Eisenstein Roteiro: Sergei M. Eisenstein Fotografia: Andrei Moskvin, Eduaul Tisse Música: Sergei Prokofiev Elenco: Nikolai Cherkasov, Lyudiiiila Tselikovskaya, Serafima Blrman, Mikhail Nazvanov, Mikhail Zharov, Amvrosi Buchma, Mikhail Kuznelsov. Pavel Kadochnikov, Andrei AbrikolOV, Aleksandr Mgebrov, Maksim Mikhajlov, Vsevolod Pudovkin
PACTO DE SANGUE
(1944)
(DOUBLE INDEMNITY) Adaptado pelo diretor Bllly Wilder e pelo escritor Raymond Chandler do romance de detetive de James M. Caln, Pacto de sangue é o filme noir arquetípico, a história de uma mulher desesperada e de um homem ganancioso, de um assassinato por dinheiro sujo e de uma traição repentina e violenta. Ainda assim, possui um romantismo estranho e evocativo ("Como eu poderia saber que um assassinato às vezes pode ter cheiro de madressilva?") e tetmina, extraordinariamente para 1944, com uma confissão não só de assassinato como também de amot entre dois homens. A última fala, dirigida pelo I UA (I'.ii.iniount) 107 min. P&B lilnnn.i: 1111.1 ( s 1
moribundo Fred MacMurray ao Inconsolável Edward G. Robinson, é: "Eu também te amo." Um homem ferido entra mancando à noite no escritório de uma agência de seguros de
Dlirçáo: Hilly Wilder
Los Angeles. Acomoda-se diante de sua mesa para ditar suas observações confessionais
I
lução: Joseph Sistrom
sobre "o contrato Dietrlchson". Ele se apresenta como "Walter Neff, vendedor de seguros,
Kotclro: Billy Wilder, Raymond
35 anos, solteiro, sem cicatrizes visíveis - isto é, até agora há pouco". MacMurray passou
I handler, baseado no livro
toda a sua carreira, primeiro na Paramount, depois na Disney e por fim em seriados de tevê,
Indenização dupla, de James M. Cain. I otografla: John F. Seitz MÚ1I1 a: Miklós Rózsa Elenco: Fred MacMurray, Barbara
fazendo o papel de bom sujeito, cordial, sempre sorrindo, sempre amigável; duas vezes (sua outra mudança de estilo, também pata Wilder, pode ser vista em Se meu apartamento falasse) ele se esconde atrás de seu sorriso, interpretando maravilhosamente um completo
Stinwyi k, lidward C. Robinson,
patife, seu queixo rachado suarento e com a barba por fazer, sua conversa mole de
I'mir-i II,ill,Jean Heather,Tom
vendedor um disfarce para Intenções luxuriosas, desonestas e homicidas. A isca que instiga
Powers, Byron Barr, Richard Gaines,
este joão-ninguém a sair da linha aparece recém-saída de um banho de sol, envolvida em
Fortúnio Bon a nova, John Philliber Indicação ao Oscar: Joseph Sistrom [melhoi filme), Billy Wilder (diretor), Raymond chandler, Billy Wilder
uma toalha reveladora e ostentando uma totnozeleira. Visitando uma falsa mansão espanhola no Los Feliz Boulcvard a propósito de uma renovação de seguro de automóvel, Neff conhece a Sra. Phyllis Dietrichson (Barbara Stanwyck) c não resiste a passat cantadas
(totelro). Barbara Stanwyck (atriz),
nela. Neff volta atrás quando ela petgunta inocentemente se é possível fazer um seguro
Inliii I seitz (fotografia), Miklós
contta morte acidental para seu marido mais velho (Tom Powers) sem que ele saiba disso.
Rôzsa (música), Loren L. Ryder (som)
Neff pensa a respeito e, depois de um encontro amoroso com Phyllis em seu apartamento, concorda cm participar do plano de assassinato. O casal faz o Sr. D. assinar uma apólice que paga o dobro caso a morte ocorra em um trem, e então arma para que o cadáver seja encontrado nos trilhos. Entra em cena Barton Keyes (Robinson), um investigador de seguros tenaz cujo único ponto fraco é sua devoção a Neff. Keyes trabalha no caso, descartando suicídio em um brilhante discurso sobre a improbabilidade de alguém se suicidar pulando de um trem. Em seguida, chega à conclusão de que a destemida loura é a assassina e tenta enconttar seu parceiro no crime. Keyes não precisa se esforçar muito, pois as pressões que se seguem ao assassinato começam a desunlt Neff e Phyllis à medida que os dois tentam não entrar em pânico e passam a suspeitar de traições adicionais mútuas. Naquela mansão sufocante e sombria, com "Tangerine" tocando no rádio e o cheiro de madressilva no ar, os amantes se crivam de balas e Neff foge mancando para se confessar. Keyes se reúne a ele e, para sua tristeza, pega o fim da história. Neff pede quatro horas para poder fugir para o México, mas Keyes sabe que é impossível: "Você nunca vai chegar à fronteira. Não consegue nem chegar ao elevador." KN
IH
ATE AVISTA, QUERIDA
(1944)
(MURDER, MY SWEET/ FAREWELL MY LOVELY) A primeira adaptação para o cinema de Adeus, minha adorada, de Raymond Chandlei, foi The Falcon Takes Over, de 1942, no qual Philip Marlowe, o detetive partlculai d l Chandler, foi substituído pelo Investigador gentleman de George Sanders. Quando I reputação de Chandler aumentou, a RKO descobriu que já detinha os direitos cinemato gráficos para esta adaptação mais fiel, na qual o ex-crooncr Dick Powell surpreendeu com seu jeito durão e irônico e romantismo ferido como a primeira encarnação adequada em celulóide de Marlowe. O filme ganhou outro nome porque se imaginou que as platéias o tomariam por um romance de guerra sentimentalólde, embora o título do romance fosse mantido na Inglaterra, onde Chandler era o mais respeitado. O livro é um dos vários romances protagonizados por Marlowe que Chandler elaborou a partir de diversas novelas anteriores, mais cruas, o que explica por que a trama possui tantos fios que acabam se interligando através de coincidências estranhas e improváveis. Até a vista, querida começa com Marlowe vendado e sendo interrogado pelos policiais - o que restringe boa parte dos comentários em primeira pessoa de Chandler - à medida que flashbacks conduzem o protagonista através de um mistério que começa com o ex-detento "Moose" Malloy (Mlke Ma/urki) contratando o detetive para localizar sua ex-namorada que o delatou, mas pela qual ele ainda é lUA (RKO) 95 min. P&B
apaixonado. A história dá uma reviravolta quando ele é também contratado por Helen
ldlom,i: inglês
Grayle (Claire Trevor), uma furtiva vampe da alta sociedade, para resgatar uma certa pe-
OlrcçSo: Edward Dmytryk
dra de jade roubada e se livrar de um "consultor psíquico" chantagista (Otto Krueger).
Piodução: Sid Rogell, Adrian Scott
Nenhum outro filme sintetiza com tanta perfeição as delícias do gênero noir, com o
Roteiro: John Paxton, baseado no
diretor Edward Dmytryk desfilando sombras, chuva, alucinações induzidas por drogas
am e Adeus, minha adorada, de
("Um lago negro surgiu") e explosões repentinas de violência dentro de um emaranhado
Raymond Chandler
de armadilhas na trama, bandidos que são mestres na vigarice, femmes fatales que não
I litografia: Harry J. Wild
valem nada, capangas com cérebro de gorila, policiais exaustos e médicos charlatões. O
MOlIca: Roy Webb
Marlowe de Powell - acendendo um fósforo no traseiro de mármore de um Cupido e
Elenco: Dick Powell, Claire Trevor,
jogando amarelinha no piso da mansão de um milionário - chega mais perto do tom de
Anne Shirley, Otto Krueger, Mike M.i/uikl. Miles Mander, Douglas Walton. Donald Douglas, Ralf H.uolde, Esther Howard
insolência juvenil d e Chandler do que as leituras mais bem conhecidas do papel de Humphrey Bogart ou Robert Mltchum. Como sempre no caso de Chandler, a vilã acaba se mostrando a mulher mais forte da trama - quando a leviana Velma de Moose e a Insinuante assassina Helen se revelam a mesma pessoa. K N
A BATALHA DE SAN PIETRO (1945) (THE BATTLE OF SAN PIETRO) ido para o exército como filme de propaganda, A batalha de San Pietro, de John Huston, continua sendo o melhor documentário de guerra já feito, apesar das m u d a n 1
pelas quais passou para eliminar material considerado perturbador demais para adores civis. O filme detalha a tomada de uma cidade italiana localizada em uma
EUA (U.S. Army) 33 min. P&B Idioma: inglês Direção: John Huston Produção: Frank Capra Roteiro: John Huston Fotografia: Jules Buck
Colina dos seus tenazes e bem entrincheirados defensores alemães, uma batalha que
Música: Dimitri Tiomkln
< Ultou às tropas americanas mais de mil baixas.
Elenco: John Huston (narração)
Ainda que a inconcluslvidadc da batalha sugira um erro estratégico americano ,11 da narração patriótica do diretor), o principal objetivo de Huston era retratar a iência de guerra através do ponto de vista daqueles que a lutam e não se preoI upam com as conjecturas mais abrangentes de vitória ou derrota. A equipe de Huston • aptura o horror e o caos do combate: soldados americanos sendo feridos; a dor e o soIninento dos civis; o tédio e a campanha das tropas distantes de casa; o custo ineviI da "vitória", medido pelo enorme número de sacos com corpos amontoados em I imlnhões; e as fileiras e fileiras de covas provisórias cavadas para recebe los. O filme acabou sendo lançado para o público americano apenas depois da vitória final na Europa, tarde demais para exercer alguma Influência na opinião pública sobre 1 guerra. A batalha de San Pietro é o tributo de John Huston aos homens corajosos com >s quais ele conviveu, assim como um tratamento gráfico c pungente da batalha e das nas conseqüências, cujas poucas imagens de arquivo e seqüências encenadas não diminuem o efeito geral de autenticidade e objetividade. RBP
QUANDO FALA 0 CORAÇÃO (1945) (SPELLBOUND)
Idioma: inglês
Quando fala o coração, de Alfred Hitchcock, apresenta uma trama em forma de quebralabeça intrigante e promissora. Um amnésico Gregory Peck, ao descobrir que não é quem pensa ser, convoca a Dra. Constance Peterson (Ingrid Bcrgman) para ajudá-lo a descobrir sua verdadeira identidade, assim como o destino do indivíduo que ele aparentemente está personificando. No entanto, fascinado pela novidade da psicanálise, Quando
fala o coração
EUA (Selznlck) 111 min. P&B
concentra-se um pouco demais no subconsciente e não o
Direção: Alfred Hitchcock Produção: David O. Selznlck Roteiro: Angus MacPhail, Ben l lei hl Fotografia: George Barnes Música: Miklós Rózsa Elenco: Ingrid Bergman, Gregory Peck, Michael Chekhov, Leo C.
bastante no suspense de fato. Este, porém, é um dos "fracassos" mais interessantes de
Carroll, John Emery, Steven Gn.iv.
Hitchcock, notável por suas atuações, desenho de produção e música, mas não exa-
Paul Harvey, Donald Curtis, Rhonda
tamente por seu mistério central.
Fleming, Norman Lloyd, Wallai e Fordi
Apesar disso, Hitchcock teve a esperteza de convocar (com bastante deferência) o artista surrealista Salvador Dali para conceber as famosas seqüências de sonho do filme, vislumbradas por Peck em estado de hipnose. Essas visões assustadoras e alucinadas de jogos de cartas, olhos e paisagens estranhas são até hoje louvadas com justiça
Bill Goodwin, Art Baker, Regis Toomey, Irving Bacon Oscar: Miklós Rózsa (música) Indicação ao Oscar: David O. Selznll í (melhor filme), Alfred Hitchcock
como mini-obras de arte por sl mesmas. Igualmente inovadora foi a trilha sonora
(diretor), Michael Chekhov (ator
ganhadora do Oscar de Mlklós Rózsa, a primeira a incorporar o zumbido eletrônico do
coadjuvante), George Barnes
teremim, cuja sonoridade sinistra e ondulante se tornou uma pedra angular de muitos
(fotografia), Jack Cosgrove (efeltO!
filmes do gênero. Embora o roteiro de Ben Hecht exagere um pouco na conversa fiada
especiais)
psicanalítica, Quando fala o coração serviu para apresentar o interesse cada vez maior de Hitchcock no subconsciente. JKl
.un
ALMA EM SUPLICIO
(1945)
(MILDRED PIERCE) Tiros estouram na noite e um homem moribundo arqueja: "Milidred!" Em um flashback clássico que remonta à gênese da obsessão e do assassinato, a assassina confessa Mildred Pietce (Joan Crawford no papel ganhador do Oscar que ressuscitou a carreira estagnada da atriz de 41 anos) explica em um interrogatório policial como batalhou como dona-de-casa, garçonete e confeiteira até se totnar uma próspera dona de restaurante para satisfazei as exigências de sua filha Veda (Ann Blyth) por coisas luxuosas. Quando as duas são fatidicamente seduzidas por um cafajeste de fala mansa e dissimulado (Zachary Scott), a transigência sufocante e neurótica da possessiva Mildred e os desejos precoces da Ingrata Veda resultam inevitavelmente em traição sexual e ódio. Um típico filme para mulheres da década de 40 e uma novela doméstica fervilhante, o filme de Mlchael Curtiz, adaptado por Ranald MacDougall de um romance surpreendentemente perverso de James M. Ca In (famoso por Pacto de sangue e O destino bate à porta), é também um filme noir esplendidamente cruel, que devasta o ideal da época de devoção materna e tortas de maçã da mamãe. Mildred é inteligente, ambiciosa e obstinada, qualidades respeitadas e recompensadas pela ética americana. Porém, aos poucos, ela se distancia do seu honesto, porém fracassado, marido (Bruce Bennett) e, à I UA (Wamel Bros.) m min. P&B
medida que favorece a insolente Veda em detrimento da sua mais doce filha caçula,
Idloma: ingles
deixando a morte da criança para trás aparentemente sem pensar duas vezes, começa-
Dltri.to: Michael Curtiz
mos a notar um aspecto pouco saudável - e talvez até patológico - da sua compulsão.
Producäo: Jerry Wald j a c k L Warner ÜOtilro: Ranald MacDougall, baseado i
.Hu e de James M. Cain
l oiogi .ifin: I inest Malier
Nunca o melodrama foi tão convincente. Mesmo para aqueles que são geralmente desestimulados por Crawford, com seus traços duros e ombros quadrados, sua atuação intensa e incontida como Mildred é tragicamente doentia e cativante. Blyth, de apenas 17 anos, está sarcastlcamente sensacional como a femme fatale desdenhosa. Curtiz é
M u i l o : Max Steiner
um diretor que impôs sua personalidade em filmes de todos os gêneros. A forma m a -
tlenco: Joan Crawford, Jack Carson,
gistral como ele dispõe do seu elenco (que conta com coadjuvantes excelentes como
.' i' I I I iv ' . n i i i , Eve Arden, Ann Blyth,
r-
• Bennett, Lee Patrick, Moroni
' iKrii, vnl.i Ann Borg, Jo Ann
Eve Arden, Jack Carson e Lee Patrick) e os diversos elementos técnicos - as alternâncias expressivas dos subúrbios ensolarados para pesadelos sombrios de Ernest Haller, o
M.iiluwi'
fotógrafo ganhador do Oscar por E o vento levou, e a trilha sonora dramática de Max
Otcar: joan Crawford (atriz)
Steiner - são inebriantes. AE
Inillc .n,.»o no Oscar: Jerry Wald lli"i Minie), Ranald MacDougall (rottlro). iveArden (atriz i N d J U V i n t e ) , Ann Blyth (atriz I d j u v a n t e ) , Ernest Haller lllilU.illil)
fiança (Pathé) 190 min. P&B Idioma: francês Direção: Mareei Carné Piodução: Raymond Borderie, I icd Orain Roteiro: Jacques Prévert fotografia: Marc Fossard, Noger Hubert Música: Joseph Kosma, M.niiii e Thiriet I Itnco: Arletty, Jean-Louis Barrault, l'Irne Brasseur, Pierre Renoir, Maria I liares, Gaston Modot, Fabien Loris, M.m e! Pérès, Palau, Etienne Decroux, l i n e M.uken, Marcelle Monthil, Louis I lincncie, Habib Bengalia, Rognoni, M . I K ri Herrand Indicação ao Oscar: Jacques Prévert (llltt'iio)
0 BOU LEVAR D DO CRIME
(1945)
(LES EIMFANTS DU PARADIS) Desde sua triunfante estréia na recém-libertada França em 1945, O boulevard do crime manteve seu posto de um dos maiores filmes franceses de todos os tempos. He representa o auge do gênero muitas vezes chamado de "realismo poético" (embora "ro mantismo pessimista" talvez seja o termo mais adequado) e também da parceria que o levou à perfeição - a do roteirista Jacques Prévert e do diretor Mareei Carne. Eles faziam uma dupla peculiar: Prévert gregário, passional, altamente comprometido polltlcamen te e um dos melhores poetas populares franceses do século; Carne circunspecto, rabu gento, reservado, um perfeccionista frio. Ainda assim, juntos eles criaram uma magia cinematográfica que nenhum dos dois conseguiria alcançar depois de separados. O boulevord do crime foi seu último sucesso. O filme ficou cerca de 18 meses em produção e envolveu a construção do maior cenário de estúdio da história do cinema francês - a rua de meio quilômetro, reprodu zida nos mínimos detalhes, representando o "boulevard do crime", a região que comportava os teatros de Paris nas décadas de 1830 e 40. Este teria sido um empreendimento intlmidador na mais favorável das épocas; na França da guerra, sob ocupação nazista, foi algo praticamente heróico. Transporte, materiais, figurinos e película eram escassos. Os co-produtores Italianos se retiraram quando a Itália capitulou. O produtor francês original teve que se afastar quando passou a ser Investigado pelos nazistas. Um dos atores principais, um proeminente simpatizante do nazismo, fugiu para a Alemanha depois do Dia D e teve que ser substituído no último minuto. Alexandre Trauner, o brilhante cenógrafo, e o compositor Joseph Kosma, ambos judeus, foram obrigados a trabalhar escondidos e transmitir suas idéias através de intermediários. Apesar de tudo isso, O boulevard é um êxito total com toda a riqueza e complexidade de um grande romance do século XIX. As cenas de multidão que se passam no boulevard agitado e exuberante distribuem seus 1.500 figurantes em uma ruidosa profusão, enchendo cada canto da tela com detalhes vivos. Uma ousada afirmação da cultura teatral francesa em uma época em que o país estava conquistado e ocupado, o filme oferece uma reflexão em várias camadas sobre a natureza da farsa, da fantasia e da representação. Cada diálogo é realçado; cada ação, encenada de forma magistral. Os três protagonistas masculinos são todos artistas performátlcos: Lemaítre, o grande ator dramático (Pierre Brasseur); Debureau, o grande mímico (Jean-Louis Barrault); e Lacenaire, o dramaturgo fracassado que se torna um mestre do crime dândi (Mareei Herrand). Todos são personagens históricos reais. A mulher que os três a m a m , a grande horizontaie
Garance (Arletty em seu maior papel no cinema), é fictícia - menos uma
mulher real do que um ícone do feminino eterno, evasiva e infinitamente desejável. Embora tenha mais de três horas, O boulevard não parece nem um minuto longo demais. Uma celebração do teatro como a maior arte popular do século XIX (como o cinema o foi no século XX), ele mistura farsa, romance, melodrama e tragédia em uma narrativa irresistível. Carne foi, acima de tudo, um grande diretor de atores, e o filme oferece um banquete de excelentes atuações, além da sua espitituosldade, graça, paixão e de uma sensação generalizada de efemeridade - a melancolia que está por trás de toda a arte romântica. PK
ROMA, CIDADE ABERTA
(1945)
(ROMA, CITTÀ APERTA) .iderado o estopim de uma revolução estética no cinema, Roma, cidade aberta, de i
selllni, foi a primeira grande obra do neo-realismo italiano e conseguiu explodir as venções do "cinema dos telefones brancos" do regime de Mussolini, em voga na
Itália no começo da década de 40. O filme de Rossellini sobre a Resistência Italiana foi rito na época da luta subtetrãnea contra os nazistas. Lembrando a fórmula de i Isenstein do "filme coral", ele conta a história de um grupo de patriotas escondidos no apartamento
de um litografo
chamado
Francesco (Francesco Grandjaquet). O
• nmunista que lidera o grupo, Manfredi (Marcello Pagliero), é perseguido pela Gestapo • linalmente capturado e executado. Pina (Anna Magnani), esposa de Francesco, e Don Pietro (Aldo Fabrizi), um padre de boa índole, morrem também, tentando ajudar Manfredi a escapar. Potém é a solidariedade de Roma enquanto cidade que antecipa a
Itália (Excelsa, Mlnetva) 100 min P818
vitória final contra os Invasores.
Idioma: italiano / alemão
A escassez de recursos técnicos e financeiros acabou se mostrando uma virtude de Romo, cidade aberta, que foi filmado em um estilo documental. Ao mostrar pessoas irais em locações reais, o filme trouxe uma lufada de ar fresco para o cinema do Ocidente. A liberdade de movimentos da câmera e a autenticidade dos personagens, aliados a uma nova maneira de se contat uma história, foram algumas das qualidades que transformaram o filme na revelação do Festival de Cannes de 1946, em que tecebeu a Palma de Ouio. O neo-realismo logo se tornou o modelo estético pata diretores interessados em uma descrição vívida da História e da sociedade.
Direção: Roberto Rossellini Ptodução: Giuseppe Amato, Ferruccio De Martino, Roberto Rossellini Fotogtafia: Ubaldo Arata Roteiro: Sergio Amidei, Federico Fellini Música: Renzo Rossellini Elenco: Aldo Fabrizi, Anna M. 11 •. 11.1111. Marcello Pagliero, Maria Mir hl,
Um dos aspectos mais impressionantes de Roma, cidade aberta é a abordagem de
Harry Feist, Francesco Gi.iiidj.iqiiri
Rossellini do drama de cada personagem. Alguns dos heróis do filme permanecerão
Indicação ao Oscar: Sergio Amldel,
para sempre nos corações dos espectadores. Quem é capaz de esquecer a visão de Pina,
Federico Fellini (roteiro)
grávida, correndo por entre as balas, ou do bom padre alvejado diante dos olhos apavo-
Festival de Cannes: Roberto
rados das crianças? Embora possa pender para o melodramático, a história é tão como-
Rossellini (Palma de Ouro)
vente hoje em dia quanto na época. Não é de surpreender que, depois desse papel, Magnani tenha se tornado uma das maiores atrizes do cinema Italiano. D D
11ia (Paramount) 101 min. P&B Idioma: inglês Direção: Billy Wilder Produção: Charles Brackett Roteiro: Charles Brackett, Billy Wilder, baseado no livro de Charles R. lackson fotografia: John F. Seitz M i e . i , .1: Miklós Rózsa Elenco: Ray Milland, Jane Wyman, Phillip Ferru, Howard Da Silva, Doris
FARRAPO HUMANO
(1945)
(THE LOST WEEKEND) Antes de Farrapo
humano, bêbados em Hollywood eram em sua maioria figuras
cômicas; na verdade, caricatas: bufões adoráveis cambaleando, fazendo piadas com a voz arrastada e passando cantadas em garotas bonitas. Billy Wilder e Charles Brackeli. seu co-roteirista habitual, ousatam fazer algo diferente, criando a primeira abordagem adulta, inteligente e impiedosa do cinema americano da terrível degradação do alcoolismo. Mesmo hoje em dia, algumas cenas são quase dolorosas demais de assistir. Ray Milland, em um papel que definiu sua carreira e lhe rendeu seu primeiro Oscar, interpreta Don Birnam, um escritor nova-iotquino lutando contra seu vício e final-
1 lowllng, Frank Faylen, Mary Young,
mente sucumbindo a ele no espaço de um longo e calotento fim de semana de verão na
Anita sharp-Bolster, Lillian Fontaine,
cidade. Assim como fizera com Fred MacMurray em Pacto de sangue (1944), Wildei
11.ink Orth, Lewis L. Russell, Clarence Muse Oscar: Charles Brackett (melhor filme), Wily Wilder (diretor), Charles hi.ii kelt, Billy Wilder (roteiro), Ray
deslinda e explora avidamente a insegutança por trás da persona cinematográfica afável de Milland. Em vez de deixar que nos distanciemos e julguemos Birnam com uma compaixão imparcial, Wilder nos empurra junto com ele para o abismo. Somos obrigados a acompanhá-lo à medida que ele abdica de todos os seus escrúpulos, mos
Milland (ator)
trando-se disposto a mentir, trair e roubar para arranjar dinheiro para beber, até que, de
Indie ação ao Oscar: John F. Seltz
forma tetrivelmente inevitável, acaba no Inferno de uma ala de alcoólatras de um
(luiogiafla), Doane Harrison (edição),
hospital público gritando de horror diante das alucinações do delirium tremens.
Miklns Rózsa (música) lestival de Cannes: Billy Wilder palma de Ouro), Ray Milland (ator)
Algumas partes do filme foram rodadas em locações em Manhattan, e Wilder aproveita ao máximo as ruas secas e banhadas de sol, filmadas por seu diretor de fotografia John F. Seitz para parecerem áridas e vulgares, como se estivessem sendo vistas através do olhar turvo e autodepreciativo de Birnam. Em uma seqüência inesquecível, o escritor, que se rebaixa a ponto de tentar penhorar sua máquina de escrever para conseguir dinheiro para bebida, atravessa toda a poeirenta 3rd Avenue arrastando a máquina pesada - apenas para descobrir que é Yom Kippur e todas as lojas de penhores estão fechadas. Mais angustiante ainda é a cena em uma boate em que Birman sucumbe à tentação e tenta roubar dinheiro da bolsa de uma mulher - apenas para ser pego e humilhantemente jogado para fora enquanto o pianista lidera a clientela em um coro que canta "Somebody Stole Her Purse" ("Alguém roubou a bolsa dela") à melodia de "Somebody Stole My Gal". A trilha de Miklós Rózsa faz uso magisttal do teremim, o antigo instrumento eletrônico cuja sonoridade sinistra e oscilante evoca perfeitamente a visão de mundo embriagada e fora de controle de Birnam. A censura do Código de Produção impôs um final feliz, embora Wilder e Brackett tenham conseguido evitar algo muito absurdamente animadot. Mesmo assim, a Paramount estava convicta de que o filme seria um fracasso, com a alarmada Indústria de bebidas oferecendo ao estúdio 5 milhões de dólares para que ele fosse enterrado de vez. Os adeptos da Lei Seca, por outro lado, estavam em polvorosa, afirmando que ele encorajaria o hábito de beber. Apesar de tudo. Farrapo humano foi um grande sucesso de crítica e de público. "Foi depois dele", afirmou Wilder, "que as pessoas começaram a me levar a sério." Nenhum outro filme posterior sobre o alcoolismo, ou sobre qualquer outra forma de vício, conseguiu evitat uma mesura a Farrapo humano.
Pl<
lUA (I'KC) 67 min. P&B
CURVA DO DESTINO
(1945)
Idioma: inglês
(DETOUR)
Direção: Edgar C. Ulmer
"O destino ou alguma outra força misteriosa pode mexer comigo ou com você sem
1'indução: Leon Fromkess, Martin
nenhum motivo especial." Um dos maiores filmes B já produzidos, Curva do destino não
M I Kiney
tenta ir além dos seus orçamento e cronograma de filmagem apertados. Em vez disso,
Uotelro: Martin Goldsmith, baseado
se aproveita da sua própria simplicidade, apresentando um mundo em algum lugar
no livro de sua autoria Fotografia: Benjamin H. Kline M i r . i i .1: Leo Erdody, Clarence Gasklll, llnitny McHugh Elenco: Tom Neal, Ann Savage,
entre a ficção pu/p e o existencialismo, no qual a vida tem valores de produção baixos e duração curta. Um músico de jazz maltrapilho (Tom Neal) que viaja de carona pelos Estados Unidos vê sua vida se transformar em um inferno quando um motorista cai morto, Incrimi-
1 I.nulla Drake, Edmund MacDonald,
nando-o. Ele se envolve com uma mulher vulgar (Ann Savage) que o leva à degradação e
Hm Ryan, Esther Howard, Pat
ao assassinato, culminando em uma briga Inesquecível em um quarto de hotel barato
1 ILR.LMHL
na qual Savage acaba com um fio de telefone enrolado em volta do pescoço. Edgar C. Ulmer, um expressionista alemão suando a camisa em produções baratas, era um cineasta mais pretensioso do que seus admiradores gostariam de admitir, porém esta é uma das verdadeiras obras-primas da época em que ele passou nas trincheiras da classe Z. Os astros desconhecidos (Neal, um fracassado na vida real, mais tarde cumpriu pena por assassinato) são resolutamente desprovidos de glamour e os cenários de estúdio, beiras de estrada anônimas e paisagens retroprojetadas evocam um mundo saindo do controle - no qual os desdobramentos Impulsionados por coincidências de um roteiro mal amarrado de filme B podem sugerir a influência maligna de um destino impiedoso. K N
Inglaterra (Rank, The Archers)
SEI ONDE FICA 0 PARAÍSO
(1945)
•IJ mln. P&B
(IKNOW WHERE l'M GOING)
Dlrccao: Michael Powell, Emeric
delirantes realizadas pela dupla Mlchael Powcll e Emeric Pressburger na década de 40.
Iriloma: ingles Pirssburger
1'iodiicao: George R. Busby, Michael Powell, Emeric Pressburger
ROttlro: Michael Powell, Emeric rirssburger lotografia: Erwln Hllller iviir.ua: Allan Gray l l r n c o : Wendy Hiller, Roger Livesey,
Sei onde fica o paraíso se destaca como uma das mais perfeitas da série de obras-primas
Joan Webster (Wendy Hiller), muito sexy com seus terninhos, é uma jovem inglesa prática, típica do pós-guerra, que viaja para as ilhas Hébridas para se casar com um milionário velho o bastante para ser seu pai. No entanto, sua obstinada caça ao ouro é atrapalhada por um bando de escoceses estranhos que trama para que ela caia nos braços de seu amor predestinado: Torquil MacNeil (Roger Livesey), um herói de guerra local sem um tostão. Além de serem os únicos cineastas capazes de chamar impunemente um herói ro-
.riiige Carney, Pamela Brown, Walter
mântico de "Torquil", Powell e Pressburger vão contra a visão cínica de ilhéus escoceses
ludd, ( aptain Duncan MacKenzie,
conspiradores e beberrões de Alegrias a granel (1949), dos estúdios Ealing, apresentando
11 s.idler, Flnlay Currie, Murdo - I m m i m u i , Margot Fitzslmmons, iptaln C. W. R. Knight, Donald - 1 1 . 1 1 ban. John Rae, Duncan liuyrc, Jean Cadell
um grupo tão trapaceiro quanto, mas que trabalha por uma boa causa. A inflexibilidade urbana de Joan é logo desarmada por um monte de lendas celtas envolvendo o redemoinho da região, que representa os deuses e permite um empolgante clímax de resgate no mar. Em um elenco de apoio enorme, Pamela Brown está especialmente memorável como Catriona Pottis, uma nativa sinistramente encantadora. K N
EUA (Samuel Goldwyn) 172 min. P&B Idioma: inglês Direção: William Wyler Produção: Samuel Goldwyn Roteiro: Robert E. Sherwood, baseado no livro Glory for Me, de MacKinlay Kantot Fotografia: Gregg Toland Música: Hugo Friedhofer Elenco: Myrna Loy, Fredric March, Dana Andrews, Teresa Wright, Virginia Mayo, Cathy O'Donnell. Hoagy Carmichael, Harold Russell, Gladys George, Roman Bohnen. Ray Collins, Minna Gombell, Waliei Baldwin, Steve Cochran, Dorothy Adams
/IDAS
(1946)
(THE BEST YEARS OF OUR LIVES)
Oscar: Harold Russell (prêmio honorário), Samuel Goldwyn (melhOI filme), William Wyler (diretoi). RODil 1 E. Sherwood (roteiro), Fred rir Man Ii
Hoje em dia este épico doméstico sobte três veteranos da Segunda Guerra Mundial
(atot), Harold Russell (ator
retornando para a vida civil, de 172 minutos de duração e premiado nove vezes com o
coadjuvante), Daniel Mandell
Oscar, é considerado datado. Críticos mordazes como Manny Farber e Robert Warshow foram bastante desdenhosos em relação a ele quando de seu lançamento - embora aparentemente por opiniões políticas opostas. Farber o viu como uma bobagem liberal valendo-se de uma abordagem conservadora, enquanto Warshow o avacalhou através de uma perspectiva mais marxista. Seu diretor, William Wyler, e sua fonte literária, o lomance de MacKinlay Kantor, não estão nem um pouco em moda atualmente. O veterano no elenco, Harold Russell, que perdeu as mãos na guerra, foi alvo de reflexões indignadas de Warshow sobre masculinidade tolhida e até mesmo de piadas infames do humorista Terry Southern muitos anos depois. Por tudo isso, eu o chamaria de o melhor filme americano sobre o retorno de soldados para casa que já vi - o mais tocante e o que cala mais fundo. Ele serve de testemunha de seu tempo e dos seus contemporâneos como poucos outros longas de Hoolywood, e a fotografia de Gregg loland, que explora bem a profundidade de campo, é um de seus melhores trabalhos. Parte do que é tão incomum sobre Os melhores anos de nossas vidas enquanto filme hollywoodiano é o seu senso de distinção de classe - a maneira como os destinos e carreiras de veteranos bem de vida (Match), de classe média (Russell) e proletários (Andrews) são sobrepostos. Confessadamente, o fato de todos se encontrarem em um bar cujo dono é Hoagy Carmichael tem algo de atdil sentimental, porém o relativo apagamento das fronteiras de classe no serviço militar que é brevemente transferido para a vida civil também tem seu lado plausível. As limitações de Russell como ator também foram usadas como argumento contra o filme, no entanto o fato de o aceitarmos como o veterano de guerra deficiente que ele era soa como uma verdade muito mais importante e documental que, nesse caso, suplanta os interesses da ficção. As cenas entte ele e sua noiva (fictícia) são arrebatadoras tanto por sua ternura quanto pot sua honestidade. Poucas passagens no cinema americano se igualam a elas. JRos
(edição), Hugo Friedhofe! (músli 1) Indicação ao Oscar: Gordon Sawyei (som)
DESENCANTO
(1946)
(BRIEF ENCOUNTER) Os épicos imponentes da maturidade de David Lean às vezes ameaçam ofuscar os rela tlvamente modestos primeiros trabalhos do diretor. Porém concentrar-se demais no puro espetáculo de Lawrence da Arábia e Doutor jivago significaria ignorar algumas das maiores façanhas de Lean. Afinal, apenas um cineasta de primeira grandeza poderia dirigir Lawrence da Arábia, e este mesmo domínio da forma está patente nos seus filmes anteriores, embora em escala muito menor. Lean já havia dirigido três adaptações da obra de Noel Coward quando iniciou Desencanto, baseado na peça de um ato do autor chamada Still Life. Contudo, a brevidade da peça o forçou a expandir o material e, durante o processo, ele ampliou também seu próprio vocabulário cinematográfico. Contado em flashback, Desencanto acompanha o caso amoInglaterra (Cineguild, Rank) 86 min. I T . li
roso platônico entre a dona-de-casa Laura (Celia Johnson) e o médico Alec (Trevor Howard).
Idioma: inglês
dois, porém ambos sabem que o romance não pode ir além de alguns almoços furtivos.
Direção: David Lean 1'iodução: Noel Coward, Anthony Havelock-Allan, Ronald Neame Roteiro: Anthony Havelock-Allan, I livld I ran, Ronald Neame, baseado • li peça Still Life, de Noel Coward Intografla: Robert Krasker Musica não original: Rachmanlnoff I
Itnco: Celia Johnson, Trevor Howard,
Stanley Holloway, Joyce Carey, Cyrill Raymond, Everley Cregg, Marjorle Mars Indicação ao Oscar: David Lean (dlirioi), Anthony Havelock-Allan, David Lean, Ronald Neame (roteiro), | ella Inlinson (atriz)
que se conhecem por acaso em uma estação de trem. Há obviamente uma conexão entre os
Ao elaborar um dos mais eficazes arranca-lágrimas da história do cinema, Lean realizou uma série de avanços formais que lhe deram rapidamente a reputação de mais do que um mero seguidor de Noel Coward. Para começar, ele retirou a história da estação de trem, acrescentando mais detalhes ao romance malfadado. Explorou também todo o aparato cinematográfico à sua disposição; a iluminação, por exemplo, se aproxima do visual grave de suas adaptações posteriores de Dickens, tornando o mais simbólica possível a estação escura e esfumaçada. Os efeitos sonoros também são bem utilizados (especialmente o de um trem acelerando), assim como a música, que incorpora o "Concerto para piano n 2" de Rachmanlnoff como tema do filme. 9
No entanto, o mais importante é a utilização por parte de Lean de ciosos freqüentes nos olhos de Johnson, que contam melhor uma história do que muitos roteiros. Ela e Howard estão excepcionais nesta que é a mais triste das histórias, cada movimento dos dois prenhe de significado e os diálogos impecáveis repletos de emoções profundas. Um olhar furtivo, um dedo acariciando a mão do outro e um riso compartilhado são
Irstival de Cannes: David Lean
praticamente tudo que é permitido a esses amantes desventurados, e Johnson e
(Palma de Ouro)
Howard transmitem belamente essa triste certeza. JKl
PAISA (1946) (PAISÀ) 1
Itália (Foreign Film, OFI) 120 min. P I n Idioma: italiano/ inglês / alemão
ik|uer um que vá assistir a Paísá sem saber do seu status como obra-prima do neo-
n.ilismo pode ser perdoado por desistir logo no começo: imagens de arquivo da i .inipanha americana na Itália, música ao estilo hollywoodiano, maus atotes vociferando Ordens militates. É apenas no final do primeiro dos seis episódios independentes que o I I I ilo improvisado de Roberto Rossellini começa a operar sua mágica dura: logo depois
Direção: Roberto Rossellini Produção: Mario Conti, Rod E. Gcigci, Roberto Rossellini Roteiro: Alfred Hayes, Federico Fellini, Sergio Amldei, Marcello Pagliero, Roberto Rossellini
que uma bala mata abruptamente um soldado que está contando sua história de vida,
Fotografia: Otello Martelll
vemos o cadáver do seu companheiro, morto pelos alemães e desprezado pelos
Música: Renzo Rossellini
americanos sobreviventes que o tomam por um "carcamano sujo".
Elenco: Carmela Sazio, Robei! Van
A crônica de 1943-46 de Rossellini é marcada pela devastação, brutalidade e incomensão em todos os níveis. Um americano não percebe que uma prostituta é a m u -
Loon, Benjamin Emmanuel, Hamld Wagner, Merlin Berth, Dots Johnson. Alfonsino Pasça, Maria Miclii, <..u
Iher que ele amou seis meses atrás; um menino de rua fica amigo de um soldado negro
Moore, Harriet Medln, Renzo Avan/n,
alcoólatta e rouba seus sapatos assim que ele cai no sono; a imagem final do filme -
William Tubbs, Dale Edmonds,
inesquecivelmente desoladota - mostra a execução Impiedosa de uma fileira de
Cigolani, Allen Dan
guerrilheiros.
Indicação ao Oscar: Alfred I layei,
Rossellini desenvolve uma estrutura à altura dessa sucessão de acontecimentos, baseando-se em elipses surpreendentes na trama, diálogos conflitantes em diversas línguas e uma apresentação dos horrores rigorosamente não-sentimental. Poiso
Federico Fellini, Sergio Amldei, Marcello Pagliero, Roberto Rossellini (roteiro)
ocaliza natrativas pessoais dentro do pesadelo histórico da guetra. A M
0 DESTINO BATE A SUA PORTA
(1946)
(THE POSTMAN ALWAYS RINGS TWICE)
EUA (MGM) il3min.P8(B Idioma: inglês
Lana Turner jamais esteve tão atraente como no papel de Cora Smith, que se casa com
Direção: Tay Garnett
um homem mais velho insosso (Cecil Kellaway) pata escapat da pobreza, mas que,
Produção: Carey Wilson
profundamente insatisfeita, sucumbe à sua atração por Frank Chambers (John
Roteiro: Harry Ruskln, basisidi
Carfield), um jovem andarilho. Como muitos filmes nolr, o relacionamento do casal
livro de James M. Cain
malfadado depende de um crime, o assassinato do marido de Cora. Com a ajuda de um
Fotografia: Sidney Wagner
advogado inescrupuloso, a dupla é inocentada. No entanto, eles não conseguem encontrar a felicidade, pois Cora é morta em um acidente de carro e Frank é executado por este "crime". Os enquadramentos claustrofóbicos de Tay Garnett enfatizam o aprisionamento dos amantes mortais e a mise-en-scène melancólica e proibitiva do filme é o cenário perfeito para sua trama sinistra. Com seu figurino branco e glamourizada pela iluminação, Turner se torna o centro visual da história, baseada no romance de James M. Cain publicado na década anterior. Cora não é uma femme fatale c o m u m . Seus sentimentos por Frank são verdadeiros, e não uma manipulação ardilosa. O destino bote à sua porta reflete a cultura da Depressão de 1930, com muitas de suas cenas se passando em um restaurante de beira de estrada que mantém sua respeitabilidade por um fio, um símbolo pungente de desenraizamento e falta de oportunidades. A narrativa em flashback combina com o pessimismo onipresente dos filmes noit, dos quais este é, com justiça, um dos mais célebres exemplos. RBP
Música: George Bassman Elenco: Lana Turner, John Garfleld, Cecil Kellaway, Hume Cronyn. Leon Ames, Audrey Totter, Alan Reed. Jell York
IHA
(I ox) 97 min. P&B
idioma: inglês
PAIXÃO DE FORTES ( m e )
(MY DARLING CLEMENTINE)
Direção: John Ford
Embora Sem lei, sem alma, A hora da pistola. Massacre
ProducSo: Samuel C. Engel, Darryl F.
justiça
.'.nun k
fotografia:
de pistoleiros,
Tombstone
A
está chegando e Wyatt Earp sejam todos mais "historicamente precisos" (seja
qual for o valor disso), a versão romântica e em ritmo de balada de John Ford dessa Joseph MacDonald
Roteiro: Samuel C.'Engel, Sam iilliii.in
MÚflca: Cyril J. Mockridge Elenco: Henry Fonda, Linda Darnell,
velha história continua sendo o filme sobre Wyatt Earp, Doe Holliday e o OK Corral. Wyatt (Henry Fonda), um pacífico criador de gado, chega à cidade infernal de Tombstone e recusa o emprego de xerife, embora seja o único homem que ousa intervir para acabar com a confusão armada por um índio bêbado. Quando ladrões de gado
« 1 1 ini Mature, Cathy Downs, Walter
assassinam um de seus Irmãos, ele trava uma conversa fordiana com a lápide do jovem
I r a n nan, rim Holt, Ward Bond, Alan
antes de assumir sua responsabilidade e colocar o distintivo. Ao limpar a cidade, Earp
Miiwln.iy, John Ireland, Roy Roberts,
torna a comunidade segura para os cidadãos que gostam de ir à igreja e dançar quadrilha
lane Harwell, Grant Withers, J. Farrell
e que vinham se escondendo nas sombras durante o domínio do cruel Old Man Clanton
M.II I lonald, Russell Simpson
(Walter Brennan) e seu bando de filhos assassinos. Contudo, apesar de todo o esplendor do Monument Valley (um cenário típico, acrescido de um cacto pitoresco) e da Integridade moral rígida de Fonda, há um porém na cruzada vencida apenas à custa da vida de Doe Holliday (Victor Mature), um fora-da-lei nobre que foi despachado a tiros e pela tuberculose juntamente com os maus elementos. Esse tema sombrio retornaria mais tarde em O homem que matou o facínora (1962), a revisão desiludida de Ford desse subgênero do faroeste em que um homem coloca ordem na cidade. Mature tem fama de ser inexpressivo, porém sua Interpretação aqui como o cirurgião-pistolelto tuberculoso é comovente e tem um quê de espirittiosidade amarga. O herói de Fonda empertiga-se lentamente, erguendo-se com uma graça de inseto em uma cena de dança comunitária (uma das marcas registradas de Ford) e sendo retratado de forma memorável em perfeito equilíbrio na varanda, com a cadeira apoiada em duas pernas e uma das botas contra um pilar. Como sempre no Velho Oeste de Ford, as emoções do elaborado tiroteio do último rolo são estimuladas por elementos cômicos, como o bêbado shakespeariano que precisa ser arrastado por Doe no meio de seu "Ser ou não ser" e as complicações românticas com a radiante Chihuaha (Linda Darnell) e a professora primária Clementine (Cathy Downs). Porém, no fim das contas, o filme é ditado tanto por sua melancolia ou pela beleza arrebatadora das paisagens quanto por seu carátet de animada matinê de sábado de banguebangue. K N
EUA (Haig, International, RKO)
0 ESTRANHO o 946)
95 min. P&B
(THE STRANGER)
Idioma: inglês
O filme menos conhecido de Orson Welles como diretor, O estranho foi um projeto de
Direção: Orson Welles
médio orçamento que ele aceitou do produtot Sam Spiegel para provar que conseguiria
Produção: 5am Spiegel
fazer um "filme dentro dos padrões, comercial". Representante de uma série de thrllleis
Koteiro: Anthony Veiller, Victor
realizados imediatamente após a guerra sobre a perseguição de criminosos nazistas
luv,is, Decla Dunning
(dentre outros exemplos estão Acossado [1945] e Interlúdio [1946]), este filme remete à
fotografia: Russell Metty
reputação antifascista conquistada por Welles com sua famosa montagem de Júlio
Música: Branislau Kaper
César e chega até a encontrar eco em um romance que ele considerou filmar antes de
I lenco: Edward C. Robinson, Loretta
decidir que Cidadão Kane (1941) seria seu projeto de estréia: The Smiler With a Knife, o
Young, Orson Welles, Philip Merivale,
livro de mistério anterior à guerra de Nicholas Blakc sobre o fascismo inglês.
Richard Long, Konstantin Shayne, Byron Keith, Billy House, Martha
Wilson (Edward G. Robinson), designado como investigador do governo, persegue o
Wculwofth Indicação ao Oscar: Victor Trivas
carismático nazista Ftanz Klndler - que é supostamente o inventor dos campos de extetmínio - até uma pequena cidade universitária em Connecticut. Kindler está fin-
(roteiro)
gindo ser o professor de história Charles Rankin e acaba de se casar com Mary (Loretta
I estival de Veneza: Orson Welles,
Young), a filha de um juiz da Suptema Corte. Menos complicado do que o triângulo
Indli ação (Leão de Ouro)
político-amoroso de Interlúdio, o filme se estrutura sobre um tema parecido, à medida que Wilson tenta persuadir Mary a delatar seu marido cruel, antes de se tornar uma variante thrillcrs populares na década de 40 (como À
daqueles meia-luz
[1944] e Inspiração trágica [1947]), no qual um esposo malvado planeja assassinar sua mulher inocente. Welles interpreta um vilão übermensch convincente entregando-se em um diálogo em que afirma que "Marx não era alemão, ele era judeu", sua podridão destilando-se no mundo insignificante da cidadezinha pitoresca à medida que dá vazão a seu hobby obsessivo, consertando um relógio antigo. O estranho ainda tem a força visual de Welles, porém, em 1946, os filmes noir já haviam absorvido seu amor pelas sombras e pelo grotesco, de modo que ele acaba se misturando ao outras representantes do gênero. O filme se torna especialmente melodtamático no clímax, que se dá no topo de uma escada sabotada na torre do relógio. Kindler é encurralado como King Kong e morto por um boneco mecânico das engrenagens do relógio, que o empala com sua espada estendida - o tipo de violência explícita justificável em um filme hollywoodiano de 1946, se o vilão fosse um nazista não-arrependido. Antecipando David Lynch pot décadas, Welles estabelece uma atmosfera amigável de cidadezinha do interior e a subverte, com filósofos de fatmácia que roubam no jogo de damas e rainhas do baile que se casam com fascistas. K N
A BELA E A FERA ( m e )
França (DisCina) 96 min. P&B
(LA BELLE ET LA BÊTE)
Idioma: francês
|e ni Cocteau nunca se intitulou um cineasta, per se. Ele se considerava um poeta; o
Direção: Jean Cocteau
i n u m a era apenas um das multas formas de arte que abraçou no decorrer de sua
Produção: André Paulvé
i 111 ei ra. No entanto, mesmo que Cocteau se visse como um poeta em vez de um
Roteiro: Jean Cocteau, Jeanne Marie
"mero" cineasta, sua versão brilhante e visionária desta história folclórica clássica cer-
Leprince de Beaumont
I,miente provou que os dois títulos não se excluíam mutuamente. Além disso, o fato
Fotografia: Henri Alekan
que, de todos os seus projetos, o onírico A bela e a fera continue sendo sua obra mais
Música: Georges Auric
.¡dorada revela não apenas sua imensa versatilidade e talento como também a pereni-
Elenco: Jean Marals, Josette Day, Mlla Parély, Nene Germon, Michel Am lui
dade e aceitação em massa do cinema acima de todos os seus formatos de preferência. De fato, Cocteau abordou A bela e a fera - apenas seu segundo longa-metragem t o m plena consciência do alcance da mídia e impulsionado por uma série de c o m promissos. Por um lado, seus colegas esperavam que ele colocasse o cinema francês de volta no mapa depois do atraso cultural maciço causado pela ocupação alemã; o filme deveria ser, na prática, uma afirmação nacional dos propósitos da comunidade artística francesa. Por outro, Cocteau também estava sendo rechaçado pelos críticos, que o ai usavam de elitismo artístico e de estar fora de contato com os gostos do público. Poderia ele produzir uma obra comercial que fosse bem recebida pelas massas? Com esses dois desafios e m mente, Cocteau abordou a fábula centenária d e " A Bela e a Fera" como uma válvula de escape para seus Impulsos criativos mais exóticos e lantásticos. Na verdade, a estrutura relativamente direta da história original encorajava esse tipo de experimentação. Quando seu pai é aprisionado por uma Fera aparentemente monstruosa (Jean Marals) em um castelo remoto, a filha, a Bela (Josette Day), se oferece para ficar no seu lugar. Porém a barganha da Fera é mais do que parece: ele diz à Bela que pretende desposá-la. Potém ela precisa ver além das aparências e descobrir o bom coração do seu pretendente peludo antes de tomar sua decisão. Cocteau Instaura essa corte em um castelo mágico - que se prova cenário para uma série de belos efeitos. A Bela não se limita a andar pelos corredores; ela desliza por eles. Velas não são sustentadas por candelabros tradicionais, mas agarradas por braços afixados às paredes. Espelhos são transformados em portais líquidos, chamas queimam e se extinguem por vontade própria e estátuas ganham vida. O castelo serve tanto como metáfora para a personificação do processo criativo quanto como desculpa para várias imagens freudianas. Uma vez que a Bela não pode exatamente consumar seu relacionamento com a Fera antes de ele se transformar, Cocteau a faz acariciar facas e descer longos corredores para revelar seus desejos subconscientes. Entretanto, a maior façanha de Cocteau foi tornar a Fera monstruosa ao mesmo tempo convincente e cativante. Com Marals enterrado debaixo de uma maquiagem complexa, a bondade da Fera precisa ser transmitida através de atos e gestos, revelando assim a humanidade que jaz literal e figurativamente sob a pelagem e as presas. Na verdade, a representação de Marals é tão bem-sucedida que, na estréia do filme, quando a Fera finalmente se transforma no singelo Príncipe e ele e a Bela vivem felizes para s e m pre, a atriz Creta Carbo exclamou sua famosa frase: "Quero minha fera de volta!" JKl
Raoul Marco, Marcel André
IUA (I list International, Warner), ii|
nun. P&B
Iriloma: ingles Dlrccao: Howard Hawks Pmducäo: Howard Hawks, Jack L Wamel KOtllro: William Faulkner, baseado im Iivin de Raymond Chandler lotografia: Sidney Hickox M n s i i ,i: Max Steiner I l i m 0! I lumphrey Bogart, Lauren li ill lohn Ridgely, Martha Vickers, I »niolhy Malone. Peggy Knudsen, Regis loomey, Charles Waldron, i Harles l>. Brown, Bob Steele, Elisha I i i . fouls Jean Heydt
A BEIRA DO ABISMO (wb) (THE BIG SLEEP) Diz-se que, quando o diretor Howard Hawks pediu ao romancista Raymond Chandlei para expllcat as várias traições, viradas e surpresas reveladas presentes no seu livro O sono eterno, a famosa e honesta resposta do escritor foi a seguinte: "Não faço a menor idéia." Isso não significa que as diversas reviravoltas da trama não sejam importantes para o livro, ou que a presença delas seja apenas um caos arbitrário. Em vez disso, o mistério notavelmente confuso de Chandler apenas complica mais uma história já complicada de corrupção na cidade de Los Angeles, contaminando ainda mais uma lista aparentemente interminável de personagens soturnos. Portanto, não deveria causar surpresa que Hawks tenha feito a gentileza de transferir o foco da sua adaptação do investigado pata o investigador, no caso Humphtey Bogart no papel do detetive particular durão Philip Marlowc. Aproveitando-se do sucesso do filme Uma aventura na Martinica, de 1944, Hawks reuniu Bogart com Lauten Bacall e enfatizou a química palpável dos dois. Quando estão juntos na tela, a história de detetive fica em segundo plano (eles se casatam seis meses após o término das filmagens). Hawks explorou aquela tensão sexual, actescentando cenas extras com a dupla e frisando os diálogos cheios de indiretas e particularmente ligeiros (cm especial aquele sobre cavalos e selas), tendo em vista que se tratava da era do Código de Produção. E quanto ao mistétio? Felizmente, a investigação central, por mais confusa que seja, ainda dá prazer de se assistir Matlowe faz as vezes de guia à Virgílio, descendo até os recônditos mais escuros e sujos de Hollywood para desvendar uma ttama de assassinato/chantagem que envolve pornógrafos, ninfomaníacas e um bando de capangas que mal têm tempo de revelar mais detalhes da história (e pistas falsas) antes de levarem um tiro. O título do livro, O sono eterno, é uma referência à morte e, de fato, a morte permeia também o filme. Esta é uma obra-prima noir que carece de muitos dos princípios tradicionais do gênero. Há várias femmes
fatales,
mas nenhum flashback: iluminação chiaroscuro, mas nenhuma narração. E, o que é mais importante, o Marlowe de Bogart não parece petdido em um mundo de mentiras e traições, e sim plenamente confiante e no controle a todo momento. Ele é um antiherói singular, frio diante da crueldade, i m passível diante da libertinagem vulgar e sempre interessado em um rosto bonito. JKl
OS ASSASSINOS
(1946)
EUA (Mark Hellinger, Universal)
(THE KILLERS)
105 min. P&B
* I primeiros 10 minutos do filme noir clássico de Robert Siodmak reproduzem o conto
Idioma: inglês
de 1927 de Hemingway quase literalmente: dois assassinos Invadem uma vila
Direção: Robert Siodmak
adormecida para matar o recluso Swede (Burt Lancaster), que não oferece resistência.
Produção: Mark Hellinger
iaisando da imaginação, os rotelristas Anthony Velller c John Huston Inventam
Roteiro: Anthony Veiller, baseado no
Rlordan (Edmond O'Brien), um dedicado investigador da companhia de seguros, que
conto de Ernest Hemingway
desvenda o passado de Swede: um ex-pugilista que se envolveu com uma mulher de
Fotografia: Elwood Bredell
leputação duvidosa (Ava Gardner), um roubo e uma traição.
Música: Miklós Rózsa
Cidadão Konc fragmentou sua narrativa cm flashbacks relatados por diferentes narradores: Os assassinos leva a Idéia um passo além ao misturar a ordem cronológica ilos flashbacks. O processo de montagem desse quebra-cabeça reforça a ligação lecíproca entre o espectador e Rlotdan. À medida que mergulha no passado de Swede. 0 infatigável Riordan sente a emoção de vivet através do outro uma vida de filme noir sem sofrer as conseqüências. A relação entre ele e o mundo ilícito de Swede se torna análoga àquela do espectador com o filme - um conceito que é cristalizado quando, logo antes do embate final, a silhueta de Riordan senta-se em primeiro plano como se estivesse na primeira fileira de um cinema. Os assassinos é não só um excelente filme
Elenco: Burt Lancaster, Ava Gaidnei, Edmond O'Brien, Albert Dekker, Sam Levene, Vince Barnett, Virginia Christine, Jack Lambert, Charles D. Brown, Donald MacBride, Charles McGraw, William Conrad, John Huston Indicação ao Oscar: Robert Slodmal (diretor), Anthony Veiller (roteiro), Arthur Hilton (edição), Miklós Rôzsi (música)
noir, mas também uma teflexão sobre por que gostamos do gênero, que nos oferece uma escapatória da segurança monótona, levando-nos em direção ao perigo e à perdição, mas a uma distância segura. MR
NESTE MUNDO E NO OUTRO
(1946)
(A MATTER OF LIFE AND DEATH) A fantasia de 1946 de Michacl Powell e Emeric Pressburgcr Neste mundo e no outro (que ganhou o título Stairway to Heaven [Escada para o céu] no mercado americano) foi feita pata ser um filme-propaganda para melhorar as relações estremecidas entre a Inglaterra e os Estados Unidos. O filme, no entanto, supera seu propósito inicial, tornando-se uma história atemporal sobre o romance c a bondade humana que é ao mesmo tempo visualmente empolgante e verbalmente divertida. Quando está prestes a pular do seu avião em chamas para a morte certa, um piloto
Inglaterra (The Archers, Independem Rank) 104 min. P&B & Technicolor Idioma: inglês Direção: Michael Powell, Emerli Pressburger Produção: George R. Busby, Mii linel Powell, Emeric Pressburger Roteiro: Michael Powell, Emeric Pressburger Fotografia: Jack Cardiff
da Segunda Guerra Mundial (David Nlven) se apaixona pela voz de uma operadora de
Música: Allan Gray
rádio americana (Kim Hunter). Ele acorda na praia, acreditando estar no Céu. Ao des-
Elenco: David Niven, Kim Hunter,
cobrir que está vivo, aproveita a oportunidade para se apaixonar pela garota americana em pessoa. Porém os poderes divinos cometeram um erro, e o Condutor Celestial 71 (Marins Corlng) é enviado para lhe dizer a verdade e levá-lo ao Paraíso, que é onde ele deveria estar. A cenografia excepcional de Alfred Junge eleva o filme para além de suas já impressionantes intenções e roteiro engenhoso, intercalando-se com desenvoltura entre a Terra (filmada em Technicolor) e o preto-e-branco etéreo do Céu. Além do uso de imagens congeladas e decorações cênicas de tirar o fôlego, o trabalho de câmeta inclui uma tomada por detrás do globo ocular que receberia a aprovação de Salvador Dali. K K
Robert Coote, Kathleen Byron, Richard Attenborough, Bonar Colleano, Joan Maude, Marlus Goring, Roger Livesey, Robert AI kins. Bob Roberts, Edwin Max, Betty is it Ma Abraham Sofaer, Raymond Massey
hil'.l.Herra (Cineguild, Rank) 118 min. P8tB
GRANDES ESPERANÇAS ( m e )
(GREAT EXPECTATIONS)
Idioma: inglês
Filmado em 1946 na esteira dos bem-sucedidos Desencanto e Uma mulher do outro n i n e
Direção: David Lean
do, esta é a primeira adaptação de David Lean dos romances de Charles Dickens; O/ivei
Produção: Anthony Havelock-Allan, Ronald Neame
Twist viria em seguida em 1948. Assumindo a obra-prima literária como um desafio
Heleno: Anthony Havelock-Allan, Divld i ean, Ronald Neame, baseado rio livro de Charles Dickens
cinematográfico em todos os sentidos da expressão, Lean explora e se aproveita dn amplo horizonte emocional da história e a torna também uma jornada arrebatadora e de um visual hipnotizante. O resultado é a melhor adaptação da literatura já reaIí/. 1,1.1
lotografia: Guy Green
assim como um dos maiores filmes Ingleses de todos os tempos.
Música: Walter Goehr, Kenneth I'akeluan
vasto pântano que leva a um cemitério abandonado. Essa cena de abertura era tão
Elenco: John Mills, Anthony Wager,
essencial que Lean, que tinha uma idéia precisa de como deveria ser o visual do filme,
Valerie Hobson, Jean Simmons,
substituiu o fotógtafo original Robert Krasker por Guy Green. Aqui, o jovem herói Pip é
Bernard Miles, Francis L. Sullivan, 1 Inlay ( urrie, Martita Hunt, Alec Guinness, Ivor Barnard, Freda |ai kson, Eileen Ersklne, George
Grandes esperanças traz elementos de muitos filmes de terror, começando em um
ameaçado por um prisioneiro fugitivo feroz e desesperado chamado Magwitch (Finlay Currie), que exige comida e uma lima para poder se livrar de suas correntes. Mais tarde, Pip é levado à mansão decrépita da igualmente decrépita e amargurada Miss Havisham
Hayes. Hay Petrie, John Forrest
(Martita Hunt). Abandonada no altar muitos anos atrás, ela ainda veste os restos do seu
Oscar: John Bryan, Wilfred
vestido de noiva e anda por entre os restos empoeirados, apodrecidos e infestados de
Shlngleton (direção de arte), Guy 1 ,ieen (fotografia) Indicação ao Oscar: Ronald Neame (melhoi fllme), David Lean (diretor),
ratos do fatídico banquete de recepção. Seu plano macabro é transformar sua pupila, a jovem e bela Estella (Jean Simmons), em um instrumento de vingança contra todos os homens. Isso inclui Pip, que se apaixona por ela. A situação dele muda quando um
David Lean, Ronald Neame, Anthony
benfeitor misterioso financia a mudança de Pip para Londres e sua transformação em
1 lavelock Allan (roteiro)
um refinado gentleman. Dividindo um flat com Herbert Pocket (Alec Guiness em seu primeiro papel importante), o Pip adulto (John Mills) se torna um esnobe que acredita que Miss Havisham é sua benfeitota e que Estella está destinada a ser sua esposa. Qualquer leitor acostumado com Dickens sabe que não é bem assim. Houve quem sustentasse que Mills, de 38 anos de Idade, era velho demais para interpretar um personagem que tinha de 20 para 21, conforme estabelecido pelo romance. Contudo, o fato é que Pip precisa apenas ser testemunha do drama encenado ao seu redor, em vez de um participante ativo do seu próprio destino. Lean, que passou sete anos como montador antes de dirigir seu primeiro longa, sabia muito bem disso e cerca Mills de um elenco de apoio sólido, porém cheio de vida. Algumas cenas são puro encanto, como a visita de Pip à casa de Wemmick (Ivor Barnard), o assistente de seu advogado, onde nosso herói conhece seu pai ancião e ligeiramente senil, que se chama "Velho P" - abreviação de "velho pai" - , um termo que alguns ainda usam para se referir aos seus próprios pais. Embora não seja essencial para a trama, essa cena é de uma ternura e graça memoráveis, trazendo consigo um bocado de charme dickensiano. Apesar de antigo, Grandes esperanças não perdeu nada de sua grandiosidade ou pungência. Tendo conquistado a quinta posição na lista dos melhores filmes ingleses de todos os tempos do British Film Institute, ele foi premiado em duas categorias do Oscar - Melhor Direção de Arte e Melhor Fotografia em Preto-e-Btanco - , além de ter sido indicado para os prêmios de Melhor Direção, Melhor Fllme e Melhor Roteiro Adaptado. Em termos de alcance, visão e coerência, este continua sendo o maior de todos os filmes baseados na obra de Dickens. KK
;|H
I IM (RKO, Vanguard) 101 min. P&B Idiomas: inglês / francês Direção: Alfred Hitchcock Produção: Alfred Hitchcock Roteiro: Ken Hecht fotografia: Ted Tetzlaff Musica: Roy Webb Elenco: Cary Crant, Ingrid Bergman, • laude Rains, Louis Calhern, i eopoldlne Konstantin, Reinhold '•' hünzel, Moroni Olsen, Ivan Friesau Ii. Alex Minotis Indli IçSo ao Oscar: Ben Hecht (lolclio), Claude Rains (ator • oidjuvante)
INTERLÚDIO
(1946)
(NOTORIOUS) Embora o produtor David O. Selznick tenha reunido a equipe bem-sucedida do drama psicanalítico Quando fala o coração (1945), que Incluía o diretor Alfred Hitchcock, a estrela Ingrld Bergman e o roteirista Ben Hecht, e supervisionado (com sua habitual avalanche de memorandos) a produção desta história de espiões cheia de classe e romance, ele acabou vendendo todo o pacote para a RKO c deixou Hitchcock produzir a sl mesmo. Até mesmo David Thomson, o biógrafo de Selznick, admite que a qualidade do filme se deve ao fato de Selznick não ter estado lá para arruinado. Perto do fim da Segunda Guerra Mundial, o cordial superespiãoT. R. Devlln (Cary Grant) recruta Alicia Huberman (Ingrid Bergman) - uma jovem sem perspectivas que se afastou do pai, um traidor condenado - para se Infiltrar em um grupo de nazistas exilados na Argentina. Alicia se aflige quando sente que Devlln a está usando para a causa e é impelida a levar sua missão a extremos ao se casar com o quase paternal Alexander Sebastian (Claude Ralns), um fascista. Dentro da mansão fria e luxuosa de Sebastian, Alicia passa a ser odiada pelo verdadeiro poder entre os vilões exilados: a mãe sufocadora e monstruosa de Sebastian (Madame Konstantin), que é o tipo de criatura que a Sra. Bates teria se tornado se tivesse sido deixada viva. Em uma festa - na qual um mecanismo de suspense clássico é utilizado quando o champanhe acaba, obrigando um criado a descer para a adega, onde a angelical Alicia e o demoníaco Devlln estão bisbilhotando -, Hitchcock revela seu detalhe mais elegante, embora tópico: garrafas de vinho cheias de urânio sendo usadas para criar uma bomba atômica nazista. O resultado é um momento aflitivo de descoberta, quando Sebastian é levado a cter que sua mulher é apenas infiel, e nâo uma espiã. O intenso drama triangular de Interlúdlo nos força constantemente a mudar a m a neira como nos sentimos a respeito dos três protagonistas, com Rains chegando a mostrar um heroísmo bizarro no fim. O filme é também um romance suntuoso, com Grant e Bergman realizando o que era, até aquele momento, o beijo em dose mais longo do cinema. Fotografado de forma magnífica por Ted Tetzlaff em um pteto-ebranco resplandecente e com seus astros mais belos (e Inspirados) do que nunca, o último rolo é extremamente agonizante, com a mãe monstruosa supervisionando o lento envenenamento de Alicia. K N
NARCISO NEGRO ( i r o )
(BLACK NARCISUS)
A afirmação de David Thomson de que Narciso negro é "um caso raro, um filme inglês irótlco sobre as fantasias sexuais de freiras" provavelmente não faz jus a ele. Baseado COm muita fidelidade no tomance de Rumer Godden, de 1939, o filme acompanha um ueno grupo de Irmãs que são presenteadas com uma construção bem no alto do Himalaia, a qual tentam transformar em uma escola de freiras e em um hospital. A 1 DIISTRUÇÃO arejada foi no passado um harém e ainda é enfeitada por murais explícitos,
Inglaterra (Independem, Rank, The Archers) 100 min. Technicolor Idioma: inglês Direção: Michael Powell, Emeric Pressburger Produção: George R. Busby, Michael Powell, Emeric Pressburger Roteiro: Michael Powell, Emeric Pressburger, baseado no livro de
10 passo que uma criada hindu tagarela remanescente da época de devassidão prevê
Rumer Godden
alegremente que as irmãs sucumbirão à atmosfera do local.
Fotografia: Jack Cardiff
Em um nível, Narciso negro é um relato em tom casual dos ftacassos do império: aquelas cristãs sensíveis chegam com boas intenções, potém encontram-se numa mação absurda, ensinando apenas alunos que são pagos pelo marajá local para assistir a aulas que não significam nada para eles e prestando atendimento hospitalar apenas em casos simples - uma vez que, se fracassarem em salvar um paciente, o
Música: Brian Easdale Elenco: Deborah Kerr, Sabu, David Farrar, Flora Robson, Esmond Knighl, Jean Simmons, Kathleen Byron. Jennv Laird, Judith Furse, May Hallati. I ddle Whaley Jr., Shaun Noble, Nancy
hospital seta fechado como se fosse amaldiçoado. Os diretores Powell e Pressburger
Roberts, Ley On
vêem o humor por trás da frustração das freiras, percebendo um conflito cultural sem,
Oscar: Alfred Junge (direção de . 1 1 1 r).
contudo, desdenhar tanto o ponto de vista racional quanto o primitivo, divertindo-se
Jack Cardiff (fotografia)
com a ironia de que os personagens mais religiosos são também os mais sensíveis (quando deveriam tender a toda sorte de crenças infundadas), enquanto os ateus são os mais inclinados a superstições. A irmã Clodagh (Deborah Kerr), que c promovida muito jovem, tenta manter a missão unida como um oficial inexperiente em um filme de guerra, sendo atirada para junto do ardoroso e mal-afamado Mr. Dean (David Farrar), estimulando, assim, o ciúme homicida da mais reprimida das freiras, a irmã Ruth (Kathleen Byton). À medida que as obsessões começam a agir, o filme se torna mais surreal, com o exotismo de estúdio resplandecendo sob a vívida fotografia em Technicolor de Jack Cardiff e Kerr e Byron tremendo sob suas toucas como freiras apaixonadas. Um dos mais surpreendentes momentos do cinema inglês é a "tevelação" da irmã Ruth sem o hábito com um vestido encomendado por correio e batom vetmclho vivo -, transformada em uma harpia que tenta empurrar Clodagh de cima de um precipício enquanto toca o sino do convento. O filme conta ainda com um Sabu quase adulto (o Mowgli da versão de 1942 de O livro da selva) e uma jovem Jean Simmons (com um caracol incrustado de jóias no natiz) como os sensuais inocentes que dão mau exemplo. K N
EUA (Liberty, RKO) 130 min. P&B Idioma: inglês
A FELICIDADE NAO SE COMPRA ( i r o ) (IT'S A WONDERFUL LIFE)
Direção: Frank Capra
Depois de celebrar o homem comum em clássicos da década de 30 como
Roteiro: Philip Van Doren Stern,
naquela noite, A mulher faz o homem e Do mundo nada se leva, o primeiro filme de I i.ml-
Frances Goodrich Elenco: James Stewart, Donna Reed, Lionel Barrymo/e, Thomas Mitchell, Henry Travers, Beulah Bondl, Frank Laylen, Ward Bond, Gloria Grahame, H. B. Warner, Frank Albertson, Todd Karns, Samuel S. Hinds, MaryTreen, Virgínia Patton Indicação ao Oscar: Frank Capra (melhor filme), Frank Capra (diretor), James Stewart (ator), William I lornbeck (edição), John Aalberg (som)
Acoimou
Capra realizado no pós-guerra enaltece, sem o menor pudor, a bondade das pessoas 1 o muns e o valor dos sonhos humildes, mesmo que eles não se tornem realidade. Baseado em The Createst Cift, um conto escrito em um cartão de Natal por Philip Van Doren. g vital protagonista do filme, um jovem sobrecarregado de responsabilidades, foi quase recusado pelo cansado de guerra James Stewart. Lançado em 1946 sob críticas confll tantes, ele foi, não obstante, Indicado a cinco prêmios Oscar (incluindo Melhor Filme e Melhor Ator), porém não venceu em nenhuma categoria. Hoje em dia, especular se ele era um filme que precisava ser assistido várias vezes para ser apreciado plenamente ou se foi apenas produzido na época errada é irrelevante. Na década de 60, o copyright dele expirou, o que permitiu a circulação a baixo custo de uma versão de "domínio público" e exibições freqüentes na tevê. Reprisado à exaustão por volta das festas de fim de ano, ele se tornou o baluarte das "sessões para toda a família". Depois de consolidado como uma pedra de toque emocional para várias gerações, canais públicos de televisão, em 1970, cristalizaram sua reputação de qualidade exibindo-o em contraste com a progra mação comercial obtusa e materialista da época de festas. George Bailey (Stewart), um homem desengonçado e de bom coração, cresce na pequena cidade de Bedford Falis, em Connecticut, mas sonha em viajar pelo mundo. O dever, no entanto, está sempre entrando no caminho para frustrar esse sonho. Sua perda de liberdade é aliviada apenas pelo seu casamento com Mary (Donna Reed), a beldade local, e posteriormente por sua jovem família e por seu próprio senso de filantropia ao ajudar os trabalhadores da cidade a comprarem suas próprias casas. Por f i m , ao se ver forçado a recorrer à poupança da família, que Mr. Potter (raras vezes Lionel Barrymore esteve tão detestável), o ganancioso banqueiro da cidade, ameaça confiscar, George sente-se tão pressionado que tenta o suicídio saltando de uma ponte. No entanto, um milagre acontece: um anjo chamado Clarence (Henry Travers) é enviado do Céu para mostrar a George o que teria sido da cidade caso seu desejo se realizasse e ele jamais tivesse vivido. Somente depois de George se convencer do próprio valor seu suicídio será desfeito, a cidade voltará ao normal e Clarence, um anjo de segunda classe, ganhará suas asas. Quase 60 anos depois, A felicidade não se compra continua sendo um dos mais queridos filmes de fim de ano por conta de sua mensagem otimista e clima amedrontador de "o que teria acontecido se...". Assistido no cinema, sem as distrações das festividades, ele se revela mais uma comédia escrachada deliciosa, repleta de comentários ligeiros e incisivos sobre o amor, o sexo e a sociedade. A grande qualidade dessa brincadeira se deve especialmente à participação não creditada no roteiro de Dorothy Parker, Dalton Trumbo e Clifford Odets. O filme era um dos favoritos de Capra e Stewart e ambos expressaram profundo descontentamento quando ele se tornou vítima precoce da febre da colorização. KK
EUA (Columbia) no min. P&B
GILDA
Idioma: inglês
"As estatísticas mostram que existem mais mulheres no mundo do que qualquer oulia
Direção: Charles Vidor
coisa", dispara o herói cínico Johnny Farrell (Glenn Ford), acrescentando, com peculiai
(1946)
Produção: Virginia Van Upp
aversão, "exceto insetos!" Ainda assim, essa misoginia coexiste, no filme de Charles
Roteiro: Jo Eisinger, E. A. Ellington
Vidor, com a própria - e bela - Gilda (Rita Hayworth). Uma personagem que é ao mesmo
lolografia: Rudolph Maté
tempo completamente apática e dona de uma Ironia magistral, cuja canção-assinatura
Musica: Doris Fisher, Allan Roberts,
"Put the Blame on Mame" - ao som da qual ela faz um sttip-tease extraordinariamente
Hugo Friedhofer
sensual envolvendo a retirada apenas das suas luvas de veludo que vão até os cotovelos
i lenco: Rita Hayworth, Glenn Ford,
- é uma exposição mordaz de como as mulheres são responsabilizadas pela destruição
i ge Macready, Joseph Calleia, Steven Geray, Joe Sawyer, Gerald M e i n , Robert E. Scott, Ludwig Donath, Donald Douglas
causada por homens que ficam obcecados por elas. Johnny, um jogador durão que parece ligeiramente desconfortável no seu smoking, torna-se o gerente de um cassino em Buenos Aires, trabalhando para Ballin Mundson (George Macready), um magnata inexptesslvo que carrega uma bengala que é na verdade uma espada, espia seus clientes e sócios attavés de uma sala de controle na casa de jogos e é o vértice de um triângulo amoroso que impulsiona a trama. Ford e Hayworth, ambos atores limitados, potém cativantes e fotogênicos, têm atuações definitivas arrancadas deles como dentes, e Macready se diverte como o complexo vilão. Como afirmam os cartazes: "Nunca houve uma mulher como Gilda!" K N
I.UA ((liarles Chaplin, United Artists),
MONSIEUR VERD0UX
iza, min. P&B
Charles Chaplin comprou a idéia da sua comédia mais negra (por s mil dólares) de
Idioma: inglés
Orson Welles, cujo plano original era fazer um documentário sobre o lendário assassino
Dlrcçâo: Charles Chaplin Pioduçào: Charles Chaplin Itoteiro: Charles Chaplin I otografia: Roland Tothetoh Música: Charles Chaplin
(1947)
em série de esposas francês Henri Désiré Landru. Chaplin deu à história uma abordagem sócio-satírica nova e mordaz, em resposta à paranóia crescente dos anos da Guerra Fria. Verdoux (Chaplin), um pequeno-burguês tranqüilo e charmoso, só adota sua profissão lucrativa de se casar com viúvas ricas e assassiná-las mais tarde, quando
Elenco: Charles Chaplin, Mady
a depressão econômica Impossibilita que ele ganhe a vida honestamente como caixa
i iniell, Allison Roddan, Robert Lewis,
de banco. Quando é finalmente levado à justiça, sua defesa consiste em que, enquanto
Audrey Betz, Martha Raye, Ada May,
o assassinato privado é condenado, a matança pública - na forma da guerra - é glori-
liobel í Isom, Marjorie Bennett,
ficada: "Um assassinato transforma uma pessoa em vilã - milhões, a transformam em
i lelene Heigh, Margaret Hoffman,
herói. Os números santificam." Esses não etam sentimentos populares na América de
Maiilyn Nash, Irving Bacon, Edwin
1946, e Chaplin se viu cada vez mais na mira da Direita - uma caça às bruxas que
Mills, Virginia Brissac Imlicaçâo ao Oscar: Charles Chaplin
resultou na sua partida definitiva dos Estados Unidos em 1952. Verdoux, acompanhado pela animada canção-tema (Chaplin, como sempre, compôs sua própria trilha), é um personagem rico e vívido. A economia rígida do pós-guerra obrigou Chaplin a trabalhar mais rápido e com multo mais planejamento do que em filmes anteriores. O resultado é uma de suas narrativas mais bem construídas, que ele mesmo considerou, sem modéstia, "o filme mais Inteligente e brilhante da minha carreira". DR
I JGA DO PASSADO
(1947)
EUA (RKO) 97 min. P&B
(OUT OF THE PAST)
Idioma: inglês
I m uma praia de Acapulco, com o mar brilhando por entre as redes de um pescador, o
Direção: Jacques Tourneur
detetive Jeff Markham (Robert Mitchum) beija Kathy Moffat (Jane Creer), a mulher que ele
Produção: Warren Duff
foi pago para encontrar para o gângster Whlt Sterling (Kirk Douglas), seu ex-namorado.
Roteiro: Daniel Mainwarlng, bascat
Kathy senta-se ao lado de Jeff e revela que sabe que ele foi enviado para encontrá-la. Ela
no seu livro Build My Gallows
Confessa tet atirado em Whit, mas nega ter roubado seus 40 mil dólares. Pede que Jeff
Fotografia: Nicholas Musuraca
acredite nela. Inclinando-se para beijá-la, ele quase sussurra: "Querida, eu não me importo."
Música: Roy Webb
lliiili
Fuga do passado, de Jacques Tourneur, uma adaptação do romance Build My Cailows
Elenco: Robert Mitchum, Jane Cree
lligh, de Daniel Malnwaring, talvez seja a obra-prima do gênero noir. Todos os elementos
Kirk Douglas, Rhonda Fleming, Richard Webb, Steve Brodie, Virgini Huston, Paul Valentine, Dickie Moore, Ken Niles
estão lá: a mulhet mentirosa, mas tão bonita que você é capaz de perdoar quase qualquer (olsa que ela faça, ou pelo menos morrer ao seu lado; o passado amargo que vem à tona novamente e destrói o personagem principal; o detetive particular, um homem Inteligente e experiente que comete o erro de sucumbir à paixão
mais de uma vez. Mitchum per-
sonifica perfeitamente essa figura. Como Humphrey Bogart, ele possui uma interioridade calma, que transmite independência e confiança. Como um dos personagens diz a seu lespelto: "Ele apenas se senta e fica dentro de si mesmo." Porém, ao contrário do cauteloso r.ogart, Mitchum literalmente mergulha no personagem de Jeff, com uma tranqüilidade * arregada que torna sua vulnerabilidade não só verossímil como também trágica. Será a paixão de Kathy por Jeff verdadeira? Apesar da sua Incapacidade de suportai dificuldades por ele e da sua atitude fatalista em relação ao amor, será que ela o ama de lato? Por outro lado, a paixão de Jeff por ela é sincera? Embora ligue para a polícia para ! ransformar a escapada final deles em uma armadilha, estará ele se rendendo a seus encantos novamente? Esta é a pergunta que Ann (Virgínia Huston), a namorada caipira de leff, faz a Kid (Dickic Moore), o companheiro surdo-mudo de Jeff, no final do filme. Kld faz que sim com a cabeça. Estará ele dizendo a verdade? Sentimos que esse gesto livrará Ann de qualquer outro relacionamento futuro com o mundo mortífero de Jeff. Porém isso significa que seja uma mentira? fuga do passado, como muitos dos filmes noir, nos deixa com os enigmas de desejos fatais, com as ambigüidades de amores envoltos em medo. T C
EUA (Fox) 104 min. P&B
0 FANTASMA APAIXONADO
(1947)
Idioma: inglês
(THE GHOST AND MRS. MUIR)
Direção: Joseph L. Mankiewicz
Uma história de fantasma romântica, suave e nada assustadora, O fantasma
Produção: Fred Kohlmar
brinca jovialmente com a idéia de almas que se encontram através dos tempos e dfl
Roteiro: R.A. Dick, Philip Dunne, baseado no livro de R. A. Dick Fotografia: Charles Lang Música: Bernard Herrmann Elenco: Gene Tierney, Rex Harrison, 1 ieorge Sanders, Edna Best, Vanessa
apaixonada
poder libertador da imaginação. Gene Tierney, com sua beleza tristonha sendo finalmen te bem utilizada, interpreta uma jovem e bela viúva que aluga um chalé assombrado no topo de um penhasco. Rex Harrison, um dos atores preferidos do diretor Joseph l . Mankiewicz, interpreta o fantasmagórico capitão naval que se torna seu guia e mentol - e cujas memórias ele a encoraja a publicar sob seu nome. A relação dos dois, carinhosa,
Hiown, Anna Lee, Robert Coote,
porém - por motivos óbvios - jamais consumada, sustenta o charme sutil do filme e lhe
Natalie Wood, Isobel Elsom, Victoria
acrescenta um toque picante. A atuação rabugenta de Harrisson e a representação
Horne
levemente antipática de George Sanders como o pretendente de Tierney evitam que a
indicação ao Oscar: Charles Lang
fantasia tesvale para a extravagância e mantêm o sentimentalismo sob controle.
(lotografia)
Apesar das restrições da censura da época, o roteiro elegante de Philip Dunne faz um engenhoso ttabalho de insinuação através do vocabulário malicioso do capitão. O fantasma apaixonado também se beneficia da fotografia translúcida de Charles Lang e de uma das ttilhas sonoras mais sutis e líricas de Bernard Herrmann. O filme foi lembrado com carinho suficiente para gerar uma bem-sucedida série de televisão no fim da década de 6o. P K
Inglaterra (Two Cities) 116 min. P&B
O CONDENADO mi)
Idioma: inglês
(ODD MAN OUT)
Direção: Carol Reed Produção: Carol Reed, Phil C. Samuel Roteiro: R. C. Sherrlff, baseado no livro de F. L. Green Fotografia: Robert Krasker Música: William Alwyn
A crônica de Carol Rced sobre um soldado republicano irlandês é representada como um sonho expressionista febril. James Mason, no papel de Johnny McQueen, interpreta o líder de um grupo antibritânico que planeja um roubo que ajudará a financiar sua causa. Na noite do crime, Johnny mata um homem, leva também um tifo e precisa fugir das autoridades, que armaram uma operação em toda a cidade para capturá-lo juntamente
Elenco: James Mason, Robert
com seus parceiros. O filme inteiro se passa no decorrer do resto da noite, enquanto
Newton, Cyril Cusack, Peter Judge,
Johnny tenta se refugiar e Kathleen (Kathleen Ryan), sua namorada, tenta encontrá-lo.
William Hartnell, Fay Compton, Denis u'Dea, W. G. Fay, Maureen Delaney, I Iwyn Brook-Jones, Robert Beatty, Dan O'Herlihy, Kitty Kirwan, Beryl Measor, Roy Irving, Kathleen Ryan Indicação ao Oscar: Fergus McDonnell (edição)
Johnny descobre que aqueles nos quais confiava - ou que pensava apoiarem sua causa - jamais se arriscariam por ele. Isso o obriga a se manter em constante movimento, à medida que é rejeitado por uma pessoa atrás da outra. Cada uma tem um motivo para não ajudá-lo ou usá-lo em benefício próprio. Quando seu ferimento piora, Johnny se torna delifantemente filosófico e começa a entender que está essencialmente sozinho no mundo. A trilha do filme e sua fotografia preto-e-btanco sombria aumentam a atmosfeta generalizada de incerteza moral. A maneira como O condenado
rompe as
amarras do gênero do th ri I ler político e se toma uma reflexão comovente, séria e poderosa sobre a existência social continuará surpreendendo platéias por muito tempo. RH
LADROES DE BICICLETAS
(1948)
(LADRI Dl BICICLETTE)
Itália (De Sica) 93 min. P&B Idioma: italiano
Aninnio Ricci (Lamberto Maggiorani), um desempregado na Roma do pós-guerra, con-
Direção: Vittorio De Sica
segue um emprego de colador de cartazes de cinema depois que sua mulher penhora as
Produção: Giuseppe Amato, Vittorio
milpas de cama da família para tirar sua bicicleta do prego. Porém, assim que ele começa
De Sica
.1 irabalhar, a bicicleta é roubada. Com Bruno (Enzo Staiola), seu filho pequeno, a
Roteiro: Cesare Zavattini, Oreste Blancoll, Suso d'Amico, Vittorio De Sica, Adolfo Francl, Gerardo Guerrieri, baseado no livro Ladri di 8/cfc/ette, de Luigl Bartolini.
ii buque, ele cruza a cidade tentando recuperá-la, deparando-se no caminho com vários ISpectos da sociedade romana, incluindo algumas das mais agudas diferenças sociais. Esta obra-prima é geralmente considerada - e com justiça - uma das peças-chave do realismo italiano. O crítico francês André Bazin também o reconheceu como um dos
Fotografia: Carlo Montuori
i i indes filmes comunistas já feitos. O fato de ter recebido o Oscar de Melhor Filme Es-
Música: Alessandro Cicognini
11.1 ngeiro em 1949 sugere que ele não foi visto dessa forma nos Estados Unidos à época. Mímicamente, a única coisa que chamou a atenção dos censores americanos foi uma - ena em que o garotinho urina na rua. Para alguns defensores da teoria autoral, ele perdeu um pouco do seu poder por não ter derivado de uma só mente. Uma colaboração
Elenco: Lamberto Maggiorani, I n/u Staiola, Lianella Carell, Gino Saitamerenda, Vittorio Antonuccl, Giulio Chlari, Elena Altieri, Carlo Jachino, Michele Sakara, Emma
entre o roteirista Cesare Zavattini, o diretot Vittorio De Sica, atores amadores e muitos
Druettl, Fausto Guerzoni
outros, a produção é tão carregada de um espírito coletivo que é quase Inútil tentar
Oscar: Giuseppe Amato, Vittoiio De
separar os méritos. Ladrões de bicicletas contém o que talvez seja a maior representação do relacionamento entre pai e filho da história do cinema, repleto de oscilações e gradações '«agressivas em termos de respeito e confiança entre os dois personagens, além de ser inpressionantemente desolador. Ele também tem seus momentos de comédia à ( haplin, como o comportamento conttastante de dois menininhos almoçando no mesmo restaurante. Se comparado a um filme como A vida é bela, ele dá uma Idéia de como 0 cinema comercial mundial e sua relação com a realidade foram Infantilizados no decorrer do século passado. JRos
Sica (prémio honorário - melhoi filme estrangeiro) indicação ao Oscar: Cesare Zavattini (roteiro)
EUA (Rampart, Universal) 86 min. P&B Idioma: Inglês Direção: Max Ophüls Produção: John Houseman Roteiro: Howard Koch, Stefan Zweig, baseado no livro Brief einer tltickannten, de Stefan Zweig
CARTA DE UMA DESCONHECIDA <1948) (LETTER FROM AN UNKNOWN WOMAN) Stefan Brand (Louis Jourdan), um pianista de Concetto dândi e cavalheiresco na Viena .l . virada do século XIX para o XX, volta para casa depois de mais uma noite de dissipação. Sua criada muda lhe entrega uma carta. É de uma mulhet, e suas primeiras palavi.e. o deixam estarrecido: "Quando você estiver lendo Isso, eu estarei morta..." O que se desenrola a partir dessa abertura extraordinária pode ser considerado com
Fotografia: Franz Planer
justiça não só o melhor filme do diretor Max Ophüls e uma grande conquista demui de
Música: Daniele Amfltheatrof
gênero muitas vezes injustamente difamado do melodrama como também um doi
Elenco: Joan Fontaine, Louis Jourdan,
maiores filmes da história do cinema. Ele é, por si só, uma das poucas obras que podem
Mady Christians, Marcel Journet, Art
ser apontadas como perfeitas até os mínimos detalhes.
'anitli, Carol Yorke, Howard Freeman, lohn dood, Leo B. Pessln, Erskine Sinford, Otto Waldls, Sonja Bryden
Adaptado de forma extraordinária da novela de Stefan Zweig por Howard Koch, este filme é a apoteose da ficção de "amor malfadado", valendo-se de um flashback para aconi panhara paixão platônica da jovem Lisa Brendl (Joan Fontainc) por Stefan, Ophüls nosole rece um tetrato vívido e pungente de um amot que jamais deveria ter acontecido. A idéia romântica e ingênua que Lisa faz dos artistas misturada à indiferença com que Stefan ve ai mulheres como objetos geta uma tragédia sombria. A compreensão Intuitiva de Ophüls da desigualdade dos papéis de gênero na sociedade ocidental do século XX é surpreendente. Ophüls constrói uma obra belamente equilibrada. Ao mesmo tempo em que incentiva uma identificação com o sofrimento de Lisa, e com os sonhos de toda uma sociedade alimentada pela cultura popular (um pano de fundo que serviria para filmes posteriores), Corto de limo desconhecida
é uma crítica mordaz c devastadora ao mito e
â ideologia do amor romântico. Nossa compreensão da história fica sujeita às mudanças sutis de atmosfera e ponto de vista. De forma implacável e hipnótica, a mise-en-scène de Ophüls retira os véus de ilusão que envolvem Lisa. Quando não são os cenários que revelam as condições banais de realidade por trás desses vôos de imaginação, a câmera sugere - em enqua-dramentos sutis e movimentos ligeiramente destacados do mundo da história - uma perspectiva independente que ilude os personagens. O filme é um triunfo não só em tetmos de um estilo significativo e expressivo, mas também de uma estrutura narrativa planejada. Através da narração pungente de Lisa, décadas são interligadas e anos-chave são saltados engenhosamente, gtaças ao ajustamento de detalhes organizados como motivos, que se concentram em gestos repetidos (como uma flor que é dada), diálogos (referências ao passar do tempo são onipresentes) e objetos-chave (a escada que leva ao apartamento de Stefan). Quando Ophüls atinge um chavão de Hollywood - a aparição fantasmagórica da jovem Lisa finalmente evocada na memória de Stefan -, o clichê é gloriosamente transcendido e lágrimas sobem aos olhos mesmo daqueles espectadores modernos que resistem a esse tipo antiquado de "novela". Carta de uma desconhecida
é de uma riqueza inesgotável,
uma obra que levou uma miríade de cinéfilos a tentar desvendar seus temas, padrões, sugestões e ironias. No entanto, nenhuma quantidade de análise cuidadosa será capaz de extinguir a emoção sublime e dilacerante evocada por esta obra-prima. A M