1001_Filmes_Para_Ver_Antes_de_Morrer_Parte_V

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!(hccoslováquia (Ceskoslovensky M.iini. liarrandov) 74 min. I istmancolor Idioma: tcheco Direção: Vera Chytilová ROttlro: Vera Chytilová, Ester Kiiimbachová

,

AS PEQUENAS MARGARIDAS

(1966)

(SEDMIKRASKY) Um dos exemplares mais deliciosamente psicodélicos e cheios de estilo dos anos 60, As pequenos margaridas,

de Vera Chytilová, é uma farsa feminista amalucada e agres-

siva, que explode em diversas direções. Embora muitos cineastas americanos e europeus ocidentais se orgulhassem, na época, de sua vocação para a subversão, é possível

fotografia: Jaroslav Kucera

que o filme mais radical da década - tanto formal quanto ideologicamente - seja pro-

Música: Jiri Slitr, Jiri Sust

veniente do Leste europeu, do caldeirão que fervia com a preparação para as reformas

I lenço: Julius Albert, Jitka Cerhová,

políticas de 1968: a Primavera de Praga na Tchecoslováquia, de tão curta duração.

Marie Cesková, Ivana Karbanová, Jan \- hisak

Duas desinibidas garotas de 17 anos chamadas Marie (Jitka Cerhová e Ivana Karbanová) protagonizam uma série de travessuras. Trata-se mais de uma seqüência de situações do que propriamente um roteiro, e essas cenas incluem gags antifálicas (como fatiar pepinos c bananas), uma queda para explorar velhos sujos e bocas livres de comida fina (coisa de rivalizar com Laurel e Hardy). O resumo da ópera levou Chytilová a ter problemas com as autoridades. Pertubador mas também libertador, este tour de force mostra o que a talentosa diretora pode fazer com liberdade para criar. As pequenas margaridas

influenciou profundamente o filme de Jacques Rivette Celine et julie vont en

bateau (1974). É uma coleção de risadas femininas que podem ser comparadas ao que foi descrito pelo crítico Ruby Ricli como a risada de Medusa: subversiva, envolvente, enérgica e um tanto desconcertante (e desafiadora) para a maioria do público masculino. JRos

Hong-Kong (Shaw Brothers) 95 min. Cor Idioma: mandarim Direção: King Hu Produção: Run Run Shaw Roteiro: Ye Yang I lenco: Cheng Pei-Pei, Hua Yueh, 1 hen Hung Lieh, Biao Yuen, Jackie I I1.111

DA ZUI

XIA

dill)

Muito antes de O tigre e o dragão havia o grande King Hu, talentoso diretor que, a começar por Do Zui Xia (Vem beber comigo), ajudou a revolucionar o drama de época e artes marciais. Depois do seqüestro de um jovem oficial, as autoridades enviam uma espadachim misteriosa mas magnífica chamada Vespa Dourada (Cheng Pei-Pei) para resgatá-lo. Auxiliada por Cato Bêbado, um mestre do kung-fu disfarçado de mendigo, Vespa Dourada desenvolve um plano audacioso para atacar um mosteiro corrupto onde o oficial se encontra preso. O filme esbanja refinamento visual. Cada seqüência é meticulosamente planejada por King Hu para ser um banquete de cor, movimento e muita ação. No entanto, apesar de seus encantos, ainda é a obra de um jovem diretor: sua maestria sobre todos os aspectos do meio, especialmente sua inimitável forma de edição, só seria aperfeiçoada em obras-primas posteriores como Hsia Nu. A jovem estrela Cheng Pei-Pei, que manipula a espada como ninguém, combina com perfeição determinação férrea e um toque de fragilidade tocante. Apesar de seus talentos, há sempre a sugestão de que a próxima batalha pode ser a derradeira. Ela teve depois uma bem-sucedida carreira no cinema de Hong-Kong e ganharia muitos elogios por sua volta às telas no papel da malvada babá de O tigre e o dragão, de Ang Lee. RP

IVI


SEGUNDO ROSTO (i966) (SECONDS) Ihomas Wolfe disse uma vez que "não se pode voltar para casa novamente", e qualquer Um que esteja familiarizado com a visão de John Frankenhcimer sobre alienação nos .nbúrbios americanos pode entender isso muito bem. Ignorado durante muito tempo pela elite da crítica, O segundo rosto conquistou seu lugar como um clássico cult. Arthur Hamilton (John Randolph) ganha a chance de deixar seu isolamento emocional de classe média e partir para uma nova vida desde que passe por uma cirurgia radical I esqueça seu passado. Esse milagre lhe é oferecido por uma organização sinistra

EUA (Joel, John Frankenheimer, Paramount) 100 min. P&B Idioma: inglês Direção: John Frankenheimer Produção: John Frankenheimer, Edward Lewis Roteiro: Lewis John Carlino, baseado no livro de David Ely Fotografia: James Wong Howe Música: Jerry Goldsmith

i (inheclda simplesmente como "a companhia", composta por atores que haviam caído

Elenco: Rock Hudson, Salome Jens,

n.i lista negra do mecarthismo e estão ali para roubar o filme, com Will Greei no papel do

John Randolph, Will Greer, Jeff Corey.

velho com todas as respostas e destacando Jeff Corey, um vendedor do inferno que implica com habilidade como Hamilton serã convertido no talentoso pintor, o bonitão i"uy Wilson (Rock Hudson). Logo que a transformação é efetuada, O segundo rosto se n.insforma em um pesadelo de Kafka, enquanto nosso protagonista renascido tem dificuldades para se ajustar ao estilo de vida boémio providenciado pela "companhia". A verdadeira estrela do filme é o experiente diretor de fotografia James Wong Howe, i ujas lentes distorcidas e inusitadas angulações de câmera lhe valeram uma indicação Jscar e transformaram O segundo rosto cm um dos grandes filmes em preto-ebranco do final dos anos 6o. Jcrry Coldsmith compôs um dos mais perturbadores fun-

Richard Anderson, Murray Hamilton, Karl Swenson, Khigh Dhiegh, Frances Reid, Wesley Addy, John Lawrence, Elisabeth Fraser, Dodie Heath, Robert Brubaker Indicação ao Oscar: James Wong Howe (fotografia) Festival de Cannes: John Frankenheimer, indicação (Palma de Ouro)

di i-, musicais jamais usados em psicodramas, criando uma atmosfera surrealista que se ' iinde dos créditos iniciais até o final paranóico. D D V

NO CALOR DA NOITE (mi) (IN THE HEAT OF THE NIGHT)

EUA (Mirisch Company) 109 min. Cor Idioma: inglês

chamam de senhor Tlbbs." O racismo ainda era tema pouco explorado na tela

Direção: Norman Jewison

indo o produtor independente Walter Mirisch e o diretor Norman Jewison resolveram

Produção: Walter Mirisch

.iptar o livro de John Ball pensando especificamente em Sidney Poitier. O resultado

Roteiro: Stirling Sllliphant, baseado

i Mi na vanguarda dos novos thrillers com viés social, elevando para a classe dos filmes

no livro de John Ball

1'iirtantes o que de outra forma poderia ser considerado apenas uma produção B.

Fotografia: Haskell Wexler

1

virgil Tibbs (Poitier) é preso simplesmente por ser um homem negro com dinheiro ivrssando a segregacionista cidade de Sparta, no estado do Mississipi, na noite do i.sinato de um industrial. Para desgraça do preconceituoso chefe de polícia (Rod Iger), Tibbs é detetive de homicídios na Filadélfia c a estranha e antagônica dupla é l.i a trabalhar em conjunto na investigação. A trama criminal em si e a atmosfera " marcantes (acentuadas por uma memorável trilha sonora de Quincy Jones), mas o ipicto mais permanente do filme é resultado do fascinante relacionamento que se rnvolve entre os homens. Poitier recebe o primeiro lugar nos créditos ostentando Irsdém altivo pelo lixo branco que o atrapalha enquanto desvenda uma trama digi l r Raymond Chandler. Mas foi Steiger que ganhou o Oscar de Melhor Ator, com seu agem de pavio curto, mascador de chicletes, imenso mas ainda assim cheio de -.. A obra também ganhou os prêmios de melhor filme, roteiro (Stirling Hphant), som e edição (Hal Ashby, que dirigiria alguns dos filmes mais interessantes , /o). Poitier repetiu o papel de Tibbs duas outras vezes. AE

Música: Quincy Jones Elenco: Sidney Poitier, Rod Steiger, Warren Dates, Lee Grant, Larry Gates,

James Patterson, William Schallent,

Bcah Richards, Peter Whitney, Kermli Murdock, Larry D. Mann, Matt Clark,

Arthur Malet, Fred Stewart, Quentlii Dean

Oscar: Walter Mirisch (melhor filme), Stirling Silliphant (roteiro), Rod

Steiger (ator), Hal Ashby (edição), (som)

Indicação ao Oscar: Norman Jewison (diretor), James Richard (efeitos especiais sonoros)



EUA (Chenault, Warner Bros.) 134 min.

QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF? (1957)

P&B

(WHO'S AFRAID OF VIRGINIA WOOLF?)

Idioma: inglês

Com o retrato impiedoso de um casal de meia-idade que arrasta outro casal, mais jovem,

Direção: Mike Nichols Produção: Ernest Lehman Roteiro: Ernest Lehman, baseado na peça de Edward.Aibee Fotografia: Haskell Wexler Música: Alex North Elenco: Elizabeth Taylor, Richard lUirton, George Segal, Sandy Dennis, I rank Flanagan

Oscar: Elizabeth Taylor (atriz), Sandy

a participar em destrutivos jogos de amor c ódio, a peça de Edward Albee, imenso sucesso da Broadway nos anos 6o, foi considerada a princípio brutal demais em termos de linguagem e tema para ser transformada em filme, por conta das restrições do Código de Produção. Mas, em meados da década, Hollywood abandonava o código e aderia a um sistema de classificação que permitiria a exibição de dramas mais adultos. A adaptação assinada por Mike Nlchols da peça de Albee foi uma das primeiras a aparecer nas telas (os cinemas receberam recomendação de não permitir a entrada de menores de 18 anos, pois as novas categorias de classificação ainda não tinham entrado em vigor). A versão de Nlchols para Quem fem medo de Virgínia Woolf? também é parte importante

Dfinnls (atriz coadjuvante), Richard

de uma nova tendência - um passo na direção de uma maior seriedade de temas, abando-

(direção de arte), Haskell Wexler

caracterizaria o renascimento de Hollywood no final dos anos 60 e na década de 70. Filmado

Sylbert, George James Hopkins

(lolografia), Irene Sharaff (figurino)

Indicação ao Oscar: Ernest Lehman

(melhor filme), Mike Nichols (diretor), Ernest Lehman (roteiro), Richard

nando a tradição de puro entretenimento do cinema. Essa busca por maior consistência em preto-e-branco, com um belo roteiro de Ernest Lehman que manteve multo dos diálogos originais, a direção de Nlchols (ele mesmo oriundo do teatro) preserva a essência da obra de Albee. A escalação do elenco foi um golpe extraordinário, ao colocar o casal mais tempestuo-

Burton (ator), George Segal (ator

so e apaixonado do mundo, Richard Burton e Elizabeth Taylor, nos papéis de George e Mar-

Alex North (música), George Graves

professor de História em uma faculdade e Ma ilha, a filha do reitor. Fies convidam um jovem

( oadjuvante), Sam O'Steen (edição),

ília, aijos hitessaiucs duelos mentais e verbais constituem a maior parte da ação. George I professor (George Segal) e sua esposa (Sandy Dennis) para um fim de noite cheio de jogulnhos mentais. Primeiro, "Humilhem o anfitrião", depois, mais destrutivamente, "Pe- 1 guem os convidados". Nessa competição desigual, o jovem casal honra o segundo lugar, desnudando aspectos menos honrosos de seu casamento e deixando o jovem esposo com a confiança cm sl mesmo seriamente abalada. Das muitas tentativas de se usar os Burton riu Mime (om efk lein ia, Quem lein m«lo de Viiqinia Woolf? é sem dúvida a mais bem-sucedida. Nlchols obteve ,1 melhor atuação da carreira de Taylor c Burton não fica atrás como o homem fraco, mas possuído por enorme força emocional e uma inexaurível capacidade de amar. O filme decididamente mereceu os cinco prémios da Academia que recebeu. É com certeza uma das melhores adaptações de um original do teatro transposto às telas. RBP



PERSONA (1966) Como aconteceu com outros exemplares famosos do cinema de arte europeu dos anos 6o, muito da discussão critica em torno de Persona, de Ingmar Bergman, classifica o filme como obscuro e difícil de descrever com palavras. É verdade que o diretor queria que a obra fosse um poema visual, e ele próprio compôs a famosa seqüência com os créditos iniciais para reforçar este conceito. No entanto, mesmo nessa montagem associativa e densa, a maioria das imagens podem ser reconhecidas como referências recorrentes na obra de Bergman: o Deus-Aranha (aranha), o legado cristão (crucificação, cordeiro), arte/ilusão como uma construção (o título do filme, detalhes de um projetor, filme dentro do filme com cenas de Prison, de 1949), um ventre frio (o interior de um necrotério com o garotinho de O silêncio [1964] que procura por uma "mae" fria e distante). A seqüência funciona como um prelúdio que resume o perfil artístico de Bergman, como se ele quisesse fazer um inventário de suas fixações e então partir para um novo começo artístico. De fato, o filme inteiro pode ser interpretado como uma jornada até um beco sem saída estético e existencial, onde identidade, significado e linguagem finalmente entram em colapso, destruindo a própria arte de Bergman à medida que o rolo de filme pára, derrete, se parte antes de começar mais uma vez. De um ponto de vista superficial, a trama de Persona é construída como uma variação do jogo de poder entre mulheres presente na peça A mais forte, de August Strindberg. A princípio, a mais forte das duas mulheres no filme aparem,1 ser Alina (Hibi Andersson), a enfermeira psiquiátrica, por parecer segura de si e falar sozinha (untmlo soliic sua cciiiliaparte silenciosa. Mas, .10 lidai I lis.ibcl Voglcr (I iv Ullm,

mantendo, assim, o

,1 enigmática paciente,

). 11111.1 famosa atriz, 110 isolamento dc uma casa de veraneio

em uma ilha afastada, a visão de mundo aparentemente estável c sensata de Alma começa a se abalar. As conversas terapêuticas se transformam em confissões de seus próprios segredos ocultos c desejos. Gradualmente, ela se despe da sua própria persona, a máscara de mentiras c enganos que constituem sua identidade e dão significado à sua vida. o clímax de Persona acontece na famosa cena em que as duas mulheres se sentam uma diante da outra, vestidas em roupas negras semelhantes. Alma começa a falar sobre a rejeição de Elisabet à maternidade e ao casamento, mas logo se descobre falando sobre suas próprias dúvidas a respeito da vida familiar que antes ela havia retratado com entusiasmo ingênuo. Ao perceber isso, luta paia recuperar o controle com novas palavras de certeza, mas a sua própria construção da linguagem ;

desaba e ela não é capaz de nada além de balbuciai palavras incoerentes. Nesse momento, Bergman utiliza o efeito ótico de fundir o rosto das duas mulheres em uma imagem inesquecível, uma visão aterrorizante da identidade em estado de total decomposição. o filme termina logicamente com Alma fazendo a única coisa possível para reconstruir sua vida e senso de ser. Ela volta ao mundo comum que a define e rejeita Elisabet como sendo "o outro". Em sua última cena juntas, estamos de volta ao hospital que serve de cenário para as primeiras cenas do drama. Alma, agora novamente em seu velho uniforme-identidade, força Elisabet a repetir a palavra "nada". Corte para o menino no necrotério - o filho indesejado de Elisabet? O feto abortado por Alma? E a projeção é interrompida. Escuridão. MT


França / Suécia (Anouchka, Argos Films, Sandrews, Svensk) 103 min. P&B Idiomas: francês / sueco Direção: Jean-Luc Godard Produção: Anatole Dauman Roteiro: Jean-Luc Godard, baseado

MASCULINO-FEMININO

<1966)

(MASCULIN. FE MIN IN) Desde o início de sua carreira houve pouca coisa que remotamente lembrasse um diálogo convencional dentro dos filmes de Jean-Luc Godard. Bate-papo entre personagens toma forma de entrevistas ou interrogatórios. Na época de Mascu/iiio-fciri/mno, esse era um princípio rigoroso. O que dá ao filme mais desolação é a sensação de que

nos contos "A mulher de Paul" e "O

as pessoas não podem mais sequer conversar entre si sem questionários, interrogató-

llgno", de Guy de Maupassant

rios agressivos, ou discutindo o perfil de "celebridades". A forma direta, em estilo jorna-

I litografia: Willy Kurant Música: Jean-Jacques Debout Elenco: Jean-Pierre Léaud, Chantai Goya, Marlene Jobert, Michel Debord, Catharine-lsabelle Duport, Eva-Britt '.I i.indberg, Birger Malmsten Eestival de Berlim: Jean-Luc Godard (Prêmio Interfilm, menção honrosa), (prêmio de melhor filme para jovens), Indicação (Urso de Ouro), Jean-Pierre I rand (Urso de Prata, ator)

lístico, de filmar essas trocas - este é o mais lírico de seus trabalhos em preto-e-branco - acentua o isoamento dos personagens cm suas celas existenciais. Godard concebe este filme - para desespero das platéias jovens de então - como uma antipática investigação sociológica. Sua visão sobre os papéis destinados ao gênero beira a misantropia: meninas são bonequinhas glamourosas e vazias, candidatas a estrela, vítimas da sociedade de consumo, enquanto meninos são falantes c sem graça, pretensos revolucionários. Iodas as ideias parecem vazias e transitórias, assim como os relacionamentos íntimos. Godard antecipava A mãe c a putu (1973). de Jean Eustache. Apesar di' tudo, alguma coisa tocante, um resíduo da poesia de Godard, permanece. No meio da confusão pública há os sonhos particulares, a melancolia da solidão, que ganham expressão imortal no olhar vivo de Jean-Plerre Léaud e em seus pensamentos interiores registrados em filme. AM

trança / Suécia (Argos, Athos, Pare, Svensk, Svenska) 95 min. P&B Idioma: francês Direção: Robert Bresson Produção: Mag Bodard Roteiro: Robert Bresson lotografia: Ghislain Cloquet Música: Jean Wiener Elenco: Anne Wiazemsky, François

A GRANDE TESTEMUNHA

(1966)

(AU HASARD, BALTHAZAR) O penúltimo íilme cm prelo e branco de Roberl Bresson

que faz par com Mouc/irlíe, de

1967 - é um estudo sobre a santidade, um conto poderoso e tocante sobre perversidade e sofrimento, e um olhai impiedoso sobre a ciueldade inala e os impulsos destrutivos do homem. Ao tratar o burrinho do título como símbolo de pureza, virtude e salvação e escolher uma estrutura episódica para sua obra, Bresson confere a A grande testemunha uma intensidade notável, que ainda é acentuada pelo estilo visual despojado.

i al.uge, Philippe Asselin, Nathalie

líalLhazar é um burro constantemente explorado, que passa de dono ,1 dono, e

Joyaut, Walter Green, Jean-Claude

experimenta e observa todos os aspectos bons e maus dos humanos. Sua existência

tiullbert, Pierre Klossowski, François

triste e dura, na qual é freqüentemente maltratado, é comparada ã de Marie (Anna

'.iillnol, M. C. Fremont, Jean Rémlgnard 1 estival de Veneza: Robert Bresson (PiemioOCIC)

Wiazemsky), uma jovem reservada que se envolve com um homem cruel e sádico, Gerard (François Lafarge), que acaba rejeitando-a. Ao final da sua vida difícil, porém, a antiga mascote das crianças, atração de circo e besta de carga passa a pertencer ao gentil dono de um moinho, que o considera um santo reencarnado. O filme de Bresson foi considerado por pelo menos um crítico como "o ponto mais alto da pureza no cinema". Mas o maior elogio de todos vem de ninguém menos do que Andrew Sarris. Em sua clássica crítica sobre o filme, publicada no Village Voice, Sarris escreve que A grande testemunha

"permanece solitário no topo do mais alto pináculo

da representação artística de uma experiência emocional". SJS


DUAS OU TRES COISAS QUE EU SEI DELA (mi)

(2 OU 3 CHOSES QUE J E SAIS DELLE) •li três coisas que eu sei dela é um dos muitos filmes de Jean-Luc Godard a tratar d i pina ituição como uma metáfora central para a vida no estado moderno capitalista. .Hilard, a mulher que se vende por dinheiro fornece uma imagem perfeita de como iie é mais pessoal e vibrante, o ato sexual, se transforma, como tudo, em uma Iniia. No processo, o ser humano se torna alienado de si mesmo, uma coisa • |u ilqini pronta para ser comprada ou vendida. Vivera vida (1962) havia sido um exame anterior de Godard sobre o tema. Nele a In 1

,1 se transforma cm uma prostituta em tempo Integral com resultados trágicos.

1 '11 1 "1/ três coisas foi provocado por uma série de matérias em uma revista francesa •|in investigava o fenômeno de mulheres casadas de subúrbio envolvidas com pros11 como um bico para complementar a renda familiar. O filme começa cotn uma I.i de uma mulher na janela de seu apartamento. O próprio Godard, na narração, 1 que se trata de Marina Vlady. "É uma atriz. Está usando um suéter com listras l.r.. É de origem russa. Seus rabelos sao 1 larns, talvez castanho (latos, nau estou 1

1 to." A seqüência anuncia uma série de motivos recorrentes. Primeiro, a técnica

IIH ' tu 1.ma de separar o ator do personagem, de fazei .1 plateia questionar a natureza da que vai ser narrada. Godard repete a tomada de outro ângulo, desta vez des11 lo a personagem e nao a ,11 ti/: "I la éjullette janson. Ela mora aqui. Está usando lictor..." Em segundo lugar, se dirigir diretamente ao público é outra técnica de 1 mil ml para criar um distanciamento do cspe< 1.1111 n cm relação ,1 ação, impedindo uma lli ação excessiva com a ficção. Em terceiro lugar, a hesitação ("Não sei ao cei 1 la dúvidas sobre o que vemos. O filme utiliza algumas técnicas do documenH.is Intervém constantemente para criar um vão entre a imagem e o significado, eqüência descrita acima não é exatamente a abertura do filme, que se Inicia com da cidade de Paris. É Paris, e não a protagonista, que é a "ela" do titulo. Não foi primeira nem a última vez que Godard investigou a natureza da vida urbana ma. Um de seus alvos é o consumismo e a estimulação artificial do desejo por i.iteriais, que produzem a necessidade por mais e mais dinheiro c daí levam á unção. Godard enche a tela min Imagens coloridas de objetos (xícaras de cale, latas de alimentos), tornando-os atraentes e absurdos. Sobreposto à superfície da do filme, parte documentário, parte ficção, está outro discurso, sobre eventos lis. O marido dejulictte (Itogcr Montsorct) é um viciado em rádio, que fica em vindo notícias sobre a Guerra do Vietnã. O filho pequeno do casal sonha que os is do Norte e do Sul estão unidos. A política revolucionária de Godard, até então ida pelo antiamericanismo (o outro lado da moeda é seu fascínio por Hollywood), 1 lomarla um completo maoísta. Seu senso de humor e a curiosidade sobre a !Za do cinema é o que dá a Duos ou três coisas um apelo duradouro. EB

França (Anouchka, Argos, Carrosse, Parc) 90 min. Eastmancolor Idioma: francês Direção: Jean-Luc Godard Produção: Anatole Dauman, Raoul Lévy Roteiro: Jean-Luc Godard, baseado em carta de Catherine Vimenet Fotografia: Raoul Coutard Música: Ludwigvan Beethoven Elenco: Joseph Gehrard, Marina Vlady, Anny Duperey, Roger Montsoret, Raoul Lévy, Jean Narbuni



FUA (imbassy, LawrenceTurman)

A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM <i967)

105 min. Technicolor

(THE GRADUATE)

Idioma: inglês Direção: Mike Nichols Produção: Joseph E. Levine, Lawrence human Roteiro: Buck Henry, Calder Willhigham, baseado no livro de Charles Webb Fotografia: Robert Surtees

Incrível como possa parecer nos dias de hoje, A primeira noite de um homem era ousado e até um pouco escandaloso ao estrear em 1967, ano em que a revolução sexual tão anunciada ainda estava tomando forma. Nenhum outro filme de primeira linha de Hollywood havia examinado o sexo nos subúrbios de forma tão honesta ou se concentrado em um triângulo romântico tão improvável: um recém-formado na universidade com tempo demais para gastar, uma esposa alcoólatra que está determinada a levá-lo para a cama e a filha dela, a boa moça encarnada, que não tem a mínima idéia de que

Musica: Dave Crusin, Paul Simon

sua principal rival sexual é a sua própria mãe predadora. Se algum filme produzido por

Flcnco: Anne Bancroft, Dustin

grandes estúdios fechou a tampa do caixão das "mãezinhas" de meados do século, foi

Hoffman, Katharine Ross, William Daniels, Murray Hamilton. Elizabeth Wilson, Buck Henry, Brian Avery, Walter Brooke, Norman Fell, Alice

este aqui. Nem a maternidade, nem a vida suburbana, nem os sufocantes padrões da classe média do pós-guerra seriam os mesmos novamente. A equipe de criação nos bastidores de A primeira noite de um homem era tão jovem

t;hostley, Marion lorne, Eddra Gale

quanto seu assunto e estilo cinematográfico. Mike Nichols tinha deixado uma boa im-

Oscar: Mike Nichols (diretor)

pressão com seu filme anterior, a adaptação da peça de Edward Albee, Quem tem medo

Indicação ao Oscar: Lawrence human (melhorfilme), Calder Willingham, Buck Henry (roteiro), Dustin Hoffman (ator), Anne Bancroft (atriz), Katharine Ross (atriz

de Virgínia Woo/f? ( 1 9 6 ( 1 ) . A primeira noite t/e uni homem lhe oleiei eu

11111,1

oportunidade

ainda melhor para sintonizar seu olhar em detalhes sardónicos e seus ouvidos em diálogos afiados, talento que ele desenvolveu junto com Elaine May, em um ato de comédia inovador que tornou a dupla sinônimo de urbanidade. Uma de suas idéias mais ori-

1 oadjuvante), Robert Surtees

ginais foi acrescentar a uma pequena lista de composições novas de Simon c Garfunkel

(lotografia)

(especialmente "Mrs. Robinson") uma série de canções antigas do duo ("The Sound of Silence", "Scarborough Fair/Canticle") que Já eram amadas por milhões de jovens. Ele usou .1 popularidade dos dois tomo um ponto ile venda e 1,111 ihci 111 01110 um importante sinal de que o filme estaria em sintonia com as sensibilidades do público jovem mais direta e mais simpaticamente do que qualquer outro na época. O ttuque funcionou do ponto de vista estético e comercial, influenciando a trilha sonora de Incontáveis filmes produzidos em Hollywood por muitos e muitos anos. Dustin Hoffman tornou-se um astro graças a sua atuação como Benjamin Braddock, o recém-formado que acaba de voltar para casa e tem horror ao materialismo c â superficialidade dos seus pais. Parte da lenda do filme é de que Nichols instruiu Hoffman a interpretar o papel sem atuar, e que a naturalidade da falta de graça de Ben é um das razões para o duradouro apelo emocional da fita. Em uma película com tantos momentos mitológicos, talvez um dos que tenha deixado maiores marcas na cultura pop norte-americana seja aquele em que Ben ouve um amigo da família dar em uma palavra a receita para a felicidade profissional e financeira: "Plástico!"

e reage com uma mistura de

medo, raiva e perplexidade de uma forma sutil, mas ainda assim inegável. O elenco de apoio foi escolhido com criatividade c inclui Anne Bancroft como Mis. Robinson, Katharine Ross, menos marcante como a filha, Norman Fell como um proprietário de imóveis com medo paranóico do que nos anos 60 se chamavam "os agitadores externos", Richard Dreyfuss, sem créditos, como um dos inquilinos de sua casa de cômodos e Buck Henry como funcionário de um hotel. Novato nos longas, Henry, junto com Calder Willingham, foi co-respon-

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sável pelo roteiro, inspirado no livro de Charles Wcbb. Nichols transformou seu roteiro em uma das principais conquistas do cinema dos anos 60. DS

1


rr.inça / Itália (Jolly, Specta) 155 min. I astmancolor Idiomas: francês / inglês / alemão Direção: Jacques Tatl Produção: René Silvera Roteiro: Jacques Lagrange, Jacques Tati, Art Buchwald Fotografia:Jean Badal, Andréas

Winding

Música: Francis Lemarque, James

Campbell

Elenco: Jacques Tati, Barbara Dennek, Rita Maiden, France Rumllly, France l'elahalle, Valérie Camille, Erika lientzler, Nicole Ray, Yvette Ducrcux, Nathalie Jem, Jacqueline Lecomte, oliva Poli, Alice Field, Sophie Wennek, Evy Cavallara

PLAYTIME

(1967)

Playtime (Hora de brincar) é menos um filme do que uma bem-sucedida tentativa de um artista disposto a nos encorajar a observar o mundo com novos olhos. De fato, esta obra-prima do diretor Jacques Tati se preocupa, do Início ao fim, em fornecer ao espec tador um conjunto completamente novo de experiências sensoriais. Como nenhuma outra obra, Playtime tem o poder de nos fazer questionar nossos próprios sentidos de visão e audição. Conhecido por muitos anos como o desajeitado senhor Hulot em trabalhos maravilhosos como As férias do senhor Hulot (1953) e Meu tio (1958), Tatl era bem mais do que um simples palhaço, embora interpretasse o papel com categoria. A obra cômica de Tati c uma ponte entre os filmes mudos e os sonoros, entte o vaudcville e a era moderna. Mas hoje ele é mais lembrado por sua sensibilidade visual. As gags de seus filmes não são realmente gags, mas pequenos momentos esquisitos que, somados, dão a noção de um mundo que anda ligeiramente fora de esquadro. Quando há uma série longa desses momentos

e Ploytime está lotado deles, cm uma direção de cena inacreditavelmente

densa -, nós começamos a perceber que eles não são feitos para provocar risadas, e sim para nos provocar o questionamento de nossos papéis enquanto espectadores. Playtime acontece na versão fria e asséptica de uma cidade futurista, c os cenários retilincos foram construídos do chão, com altos custos. O filme foi muito caro - não apenas por ter sido filmado em 70 mm - e seu retorno comercial foi minúsculo, o que manteve Tati fora das telas por uma década depois de seu lançamento. "Tativillc" é uma giandr c nnquht.i cm inalei ia de design de < enarios

ou algo nieg.il

.1111,11depen-

dendo do poiílo de vista. O cen.11 ¡ 0 linha suas próprias estradas e sislemas elétricos. Um dos edifícios comerciais contava até com uni elevador de verdade. Nunca, desde os tempos do expressionismo alemão, um dlretoi obteve tanto com .1 utilização da perspectiva foiçada: a construção cuidadosa em escala para fazer alguma coisa parecer mais distante do que lealmente está. o mundo de Tativille é asséptico, árido c estéril, mas Hulot, que vaga por tudo com distanciamento divertido, ocasionalmente encontta pequenos cantos com matéria oig.inka. I le eiKonlia uni vendedoi de liou", que da um pouco de cot ,1 uma cidade cinzenta, e Hulot, sozinho, encontra sentido nos bizarros postes de luz ao comparar seu formato ao de um pequeno buquê. Playtime tem muito o que dizer sobre uma modernidade fria que tenta se impor sobre formas mais antigas e calorosas de vida. Em certo nível, trata-se de uma película sobre como a vida moderna nas cidades tem o potencial de destruir qualquer traço de Individualidade. As sofisticadas piadas visuais de Playtime são numerosas demais para serem recontadas aqui. Basta dizet que quase todo os ícones da existência moderna

televisores, carros, supermercados, aeroportos,

aspiradores de pó - recebem nova vida e nova forma como objetos cômicos. Todos os temas presentes desembocam na incrível cena passada em um restaurante, que dura 45 minutos e é tão densa do ponto de vista visual c auditivo que é absolutamente essencial vê-la repetidas vezes. Mas as repetições são simplesmente motivo para mais prazer. Nenhum filme oferece uma experiência tão rica para o espectador quanto Playtime. EdeS


Ml PORT

(1967)

i" .iv.assinato de John F. Kennedy, Bruce Conner começou a gravar imagens das morte do presidente que passavam na televisão com uma câmera Super 8.

EUA (Canyon) 13 min. P8cB i6mm Idioma: inglês Direção: Bruce Conner

, de trabalho obsessivo e montagem da metragem resultaram em Report i. um clássico de vanguarda, com 13 minutos de duração. -111•.• sonora, ouvimos comentários do rádio e da televisão naquele dia relatan• m 1 > com histeria crescente. Na seleção de imagens, porém, Conner retira a 11.1 hora da morte, vemos uma tela branca c então uma alternância violenta IIHir quadros brancos e pretos. Imagens representativas voltam - às centenas, retirauTcjornais, anúncios, desenhos animados e filmes de ficção, montadas com frenética associação livre. 1

n> se Conner tivesse intuído desde o início, do primeiro momento na televisão, ' 1 it dali toda a nossa relação com o evento seria feita através de imagens e sons e disseminados pelos meios de comunicação de massa e que nossa obsessão iii. 11 sentido se materializaria através de incessantes repetições das mesmas 11 previu as duas reações opostas ao assassinato de Kennedy: por um lado, 111 diante da ausência de informações satisfatórias no arquivo audiovisual; l i . .1 tendência a ver demais e imaginar uma conspiração atrás da outra, ao 'liver Stone. AM

HOMBRE (1967) Paul Newinan é um homem branco que foi raptado pelos Apaches na infância e mo se fizesse parte da tribo. Ao herdar propriedades e voltar ao mundo dos ele se descobre numa carruagem no Novo México, acompanhado por um Hiiipn ei letico de viajantes, como Diane Ci lento, uma viúva espevitada, Irederic March, iiipto agente dos índios, e Martin Balsam, o condutor mexicano. No meio da via ,10 aprisionados por uma gangue associada a um outro passageiro, Richard Ncwman, demonstrando seu treinamento apache, mata dois bandidos mas não ies para oferecer mais ajuda aos viajantes, muitos dos quais já demonstraram

EUA (20th Century Fox, Hombre Productions) 111 min. Cor Idioma: inglês Direção: Martin Ritt Produção: Irving Ravetch, Martin Rill Roteiro: Irving Ravetch, Elmore Leonard, Harriet Frank Jr., baseado no livro de Elmore Leonard Fotografia: James Wong Howe Música: David Rose

In', índios. Hombre, dirigido por Martin Rltt, apresenta muito do sentimento

Elenco: Paul Newman, Frederic

|uc se tornou lugar-comum nos westerns dos anos 60 e seguintes, mas a prega-

March, Richard Boone, Diane Cilenlo,

in segundo plano diante das tensões crescentes entre os personagens à • que se intensifica o jogo de gato e rato entre a gangue e suas vítimas. Ncwman iiavilhoso como o gélido John Russell, cuja dupla etnia lhe confere uma visão il nine o preconceito racial, e Richard Boone, como seu adversário, jovialmente

Cameron Mitchell, Barbara Rush, Peter Lazer, Margaret Blye, Martin Balsam, Skip Ward, Frank Silvera, David Canary, Val Avery, Larry Ward

o veu da hipocrisia que é usado por cidadãos mais respeitáveis. EB

/IIP,


Trança / Itália {Five, Paris) 101 min.

A BELA DA TARDE

I .istinancolor

(LA BELLE DE JOUR)

Idioma: francês uireção: Luis Bunuel Produção: Henri Baum, Raymond Ilakim, Robert Hakim itoteiro: Luis Bunuel, Jean-Claude (arrière, baseado'em livro de Joseph Kessel Fotografia: Sacha Vierny

Elenco: Catherine Deneuve, Jean

Sorel, Michel Piccoli, Genevieve Page, Pierre Clementi, Françoise Fabian,

(1967)

Luis Bunuel não tinha problemas pata descrever A bela da tarde como "pornográfico", mas acrescentava que o filme explorava um "erotismo casto". De fato, este é provavelmente o último grande filme sobre sexo nos anos 6o antes que a maior permissividade e as normas (temporariamente) mais brandas da censura criassem uma nova representação erótica, mais gráfica. A bela da tarde também é bem representativo dos anos 6o por outras razões. Ao lado de obras como Acossado e La Dolce vita, que tiveram relançamentos mundiais desde os anos 90, A beln captura um certo "estilo" de uma era em seus menores detalhes de discurso, gestos, figurino c atitude. A bela da tarde é deliciosamente fetlchista. Bunuel não liga para a nudez de Cathe-

Macha Meril, Muni, Pallas, Maria

rine Deneuve, mas para as roupas e véus que a cobrem e para sua superfície feminina

Iska Khan, Bernard Musson, Marcel

tos em um bordel de alta classe, o sexo nunca é mostrado. Acontece atrás de portas

Latour, Claude Cerval, Michel Charrel, Lharvey, François Maistre, Francisco Kabal, Georges Marchai, Francis Manche

Festival de Veneza: Luis Bunuel (Leão tie Ouro), (Premio Pasinetti, melhor filme)

requintada e bem acabada. Embora o filme se desenvolva em torno dos acontecimenfechadas, cm cantinhos secretos c até debaixo de um caixão, em uma cena hilariante. A perversão sexual e sugerida de fornia .1 desafiai .1 mais desvairada imaginação. Deneuve é Séverine Scrizi, esposa burguesa frigiria (talvez até virginal) com o marido Pierre (Jcan Sorel). Acaba assumindo uma vida dupla nas tardes da semana como prostituta. É, ao que parece, a forma que encontra para se sentir segura e explorar suas fantasias sexuais prodigiosas e masoquistas. Mas a conveniência do seu sistema vira de cabeça para baixo quando um gãngster extravagante (Pierre Clementi) conquista seu cotação e invade sua vida respeitável. Resumido dessa forma, A Bela da tarde pode parecer uma fantasia masculina esquemática e ultrajante. Em realidade, é um dos filmes mais misteriosos, poéticos e complexos jamais realizados. A psicologia dos personagens nunca é apresentada com simplicidade ou clareza. Nem a natureza do mundo cotidiano onde eles residem. Com sutileza e segurança, Bunuel nos leva a um estranho território perfeitamente localizado entre sonho c realidade. Efeitos alucinatórios, ao mesmo tempo cngiaçados e perturbadores, enchem a fita - coisas como personagens difetentes se referindo ameaçadoramente a "deixar os gatos entrar", coisa que ouvimos mas nunca vemos .11 (iniec r i . 1'.c• 111 .11 i i i " . do exi 1.

Iln.irio final, os espectadores que conseguem se abrir

a essa textura onírica e sedutota não mais procurarão saber o que está acontecendo, uma doce liberação. A M


t T . t R A Y M O N D

H

CATHERINE DENEUVE J E A N SOREL MICHEL PICCOLI dan* un Ulm d«

JOSEPH KESSEL

GENEVIEVE PAGE PIERRE CLÉMENTI RANCISCO RABAL RANÇOISE FABIAN MACHA MERIL

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ARIA LATOUR -MUNI

„ GEORGES M A R C H A L avec la participation de FRANCIS BLANCHE E&STWANGOLOR

MIJN NAAMIS

BELLE DE JOUR

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França (Madeleine, Pare) 120 min. Fastmancolor Idiomas: inglês / francês Direção: Jacques Demy, Agnes Varda Produção: Mag Bodard, Gilbert de Goldschmidt Roteiro: Jacques Demy Fotografia: Ghislain Cloquet Música: Michel Legrand Elenco: Catherine Deneuve, George Chakiris, Françoise Dorléac, Jacques Perrin, Michel Piccoli, Jacques Hiberolles, Grover Dale, Véronlque Duval, Genevieve Thérnicr, Henri Crémieux, Pamela Hart, Leslie North, Patrick Jeantet, Gene Kelly, Danielle Darrleux Indicação ao Oscar: Michel Legrand,

Jacques Demy (música)

DUAS GAROTAS ROMÂNTICAS

w)

(LES DEMOISELLES DE ROCHEFORT) Duos garotos românticas c a obra de Jacques Demy que faz par com o maravilhoso Guardachuvas do amor (1964). O filme consegue cumprir um objetivo que poucos outros conquistaram ou mesmo se arriscaram a obter. Por duas horas, mantém um tom de completa alegria e exuberância, beirando o êxtase para os verdadeiros amantes do cinema. Tudo no filme conjura felicidade, leveza e alegria de viver, coisa nunca repetida nas telas. Mesmo Guarda-chuvas, com sua capacidade inigualável de Impressionar, tem momentos em que a tristeza da história contrasta com a vivacidade das imagens. Aqui não existe esse tipo de tensão. As cores saltam de cada quadro e vão direto aos centros de prazer do cérebro

o mesmo se aplica aos figurinos, cenários e especialmente às

atuações e aos números musicais. Trabalhando mais uma vez com o maestto Michel Legrand, Demy cria um mundo mágico que tem referência específica nos mundos criados pelos musicais da MGM nos anos 50. Nele, Irmãs trajadas de forma idêntica cantam a alegria de serem irmãs, uma feira de fim de semana se transforma em uma apoteose de amor e felicidade e até a travessia de uma ponte inspira amostras de frivolidade cuidadosamente coreografadas. Paia simplificar. Duas garotas românticas vai deixar você mais feliz do que qualquer outro filme. E isso não é pouco. EdeS

França / Itália (Ascot, Comacico, ( opernic, Lira) 105 min. Eastmancolor Idioma: francês Direção: Jean-Luc Godard Roteiro: Jean-Luc Godard Fotografia: Raoul Coutard

WEEK-END A FRANCESA

(1967)

(WEEK-END) Weck-end ã francesa pode ser o mais selvagem e obscuro de todos os filmes de Jean-Luc Godard, o que quer dizer alguma coisa. É também uma de suas obras mais audaciosas. Vale tudo na tela. Uma < (inversa telefônica mundana se transforma em um número mu-

Musica: Antoine Duhamel, Guy

sical absurdamente encantador, nossos heróis se encontram com personagens de con-

Bran. Wolfgang Amadeus Mozart

tos de fadas no bosque, e protagonistas podem tet finais horríveis a qualquer hora. A

Elenco: Mireille Darc, Jean Yanne, Iran Pierre Kalfon, Valérie l.igi.ingr, Iran Pierre Léaud, Yves Beiieyton, Paul Cégauff, Daniel Pommereulle, Viiglnle Vignon, Yves Afonso, Blandine Jeanson, Ernest Menzer, 1 .rniges Staquet, Juliet Berro, Helen Scott lrstiv.il de Berlim: Jean-Luc Godard, indu ação (Urso de Ouro)

decisão de Godard de avançar do episódico para o episódico e bizarro foi ousada e de grande repercussão. Cineastas radicais de todas as tendências devem muito a esta obra. Mas "radical" seria um rótulo bem infeliz para a película, pois conota uma politização simplista e falta de humor. Pode tet certeza de que Week-end não padece desses males. Na realidade, é um filme extremamente engraçado, em parte por conta das suas atitudes políticas. A capacidade de mistutar o sério, o cômico, o belo e absurdo era apenas um dos muitos dons de Godard. Nenhuma discussão sobre Weck-end estaria completa sem a menção a sua tomada mais famosa, provavelmente uma das mais famosas do cinema. Talvez o esteio do filme seja a tomada panorâmica de mais ou menos 10 minutos sobre o pior engarrafamento de trânsito do mundo, interrompida pelo gosto de Godard por subtítulos didáticos e elípticos. Mas não se trata de um engarrafamento comum: a versão assustadora mas hilariante de Godard inclui animais de zoológico, barcos, um piquenique ocasional e um bocado de sangue. Mas, como o diretor disse uma vez, não é nada para se preocupar. É tudo tinta vetmelha. EdeS


0 SAMURAI

use?)

França/ Itália (CIC, Fida, Filmei, N I 105 min. Eastmancolor

LI SAMOURAI In

1

Melville teve o talento para inventar uma citação do "Livro Bushido do Saprefácio de seu filme. "Não há solidão maior do que a do samurai, a não

i••!<• na selva... talvez..." Nenhuma outra alusão à cultura japonesa é neces' i hasta para dar a O samurai uma aura abstrata, mítica e atemporal. É uma ih.ii o fôlego, estilizada ao ponto da asfixia, onde o mundo imaginário do deirota a realidade com uma mão nas costas. Não é para menos que cineastas, Woo a Paul Thomas Anderson, passando por Quentin Tarantino e Walter Hill, bebido das suas águas como se fosse uma verdadeira Bíblia, stello (Alain Delon) é um assassino de aluguel tão frio que o adjetivo "durão" I I Inima sutil demais para descrevê-lo. Metódico, assexuado e aparentemente i sua prontidão para seguir as ordens de matar, Jef cai numa armadilha e passa 1 mm perseguido - tal como seu xará interpretado por Rohert Milclium em Fuga ao i' 11 /), jef está "numa cilada" e precisa "ver o panorama". Seu confronto final com • ihiiília que poderia incriminá-lo expõe o enigma das suas motivações interiores,

Idioma: francês Direção: Jean-Pierre Melville Produção: Raymond Borderie, I ugrni' Lépicier

Roteiro: Jean-Pierre Melville, &

gi".

Pellegrin, baseado no livro The Knniu. de Joan McLeod Fotografia: Henri Decaé Música: François de Roubaíx Elenco: Alain Delon, François ivrin. Nathalle Delon, Cathy Rosier, Jacques Leroy, Michel Boisrond, Roberi I ,iv.n 1 Jean-Pierre Posier, Catherine Jourdan. Roger Fradet, Carlo Neil, Roberi Rondo, André Salgues, André Thorent, Jacques Deschamps

lis do filme de Melville é apresentada através do filtro do seu amor pelos filmes nnli .iiuriii .inos: casas de jazz com cantores negros, ruas escuras e chuvosas. Os ni iam em cena como nos filmes de Fritz Lang, mapeando a cidade através de mpllcado sistema de vigilância, atrás desse escorregadio pontinho humano, m u . a envolvente atmosfera de fantasia cinematográfica é contrabalançada pela 11' maníaca atenção de Melville aos detalhes, o que por si só beira a obsessão de iilimento policial. A logística de cada gesto, de cada movimento pela cidade, é i r iializada de forma impecável, i

Lin il ver O samurai sem lembrar de Robert Bresson

a maior parte do filme é

ilugos, cada som (como o chilrear de um pássaro no apartamento de Jef, o roii i h ih' um motor ou o barulho de um chaveiro) é isolado c amplificado e os atores se oi iin como belíssimos manequins (Delon aqui parece ser feito da mesma M i de Catherine Deneuve em A bela da tarde, de 1967). Melville rejeitou a compaI I I Bresson, mas é verdade: Jef é quase tão ascético quanto um sacetdote e .mimado por uma missão interioi. A M

.|i.'i



REBELDIA INDOMÁVEL

(1967)

(COOL HAND LUKE) Existem estrelas e existem atores como Paul Newman, de presença icônica e olhos azuis penetrantes, que transcendem com regularidade até o melhor material que lhes é entregue. A esperteza de Rebeldia indomável pode tropeçar de tempos em tempos, mas a personalidade magnética de Newman empresta ao filme o peso que sua história relativamente simples luta nobremente para conquistar. Filmado de forma arrebatadora por Conrad Hall para a tela panorâmica (a forma mais impressionante de captar o brilho do sol do meio-dia e os prisioneiros sem camisa, acorrentados, cobertos de suor), o filme de Stuart Rosenberg vacila ambiciosamente entte ser uma história francamente contra o autoritarismo e uma aventura de machões e acaba como uma curiosa e CUA (Jalem, Warner Bros.) 126 mln. In hnlcolor Idioma: inglês

incompleta alegoria sobre Cristo. Que o resultado final deixe a desejar nâo surpreende ninguém, mas, apesar de tudo, Rebeldia indomável é envolvente do início ao fim. Newman interpreta um sujeito

Direção: Stuart Rosenberg

enigmático, delinqüente recalcitrante, chamado Lucas "Cool Hand" Jackson, que é

Produção: Cordon Carroll, Carter De Haven Jr.

jogado na cadeia por vandallzar parquímetros. Uma vez encarcerado, como era de se

Roteiro: Donn Pearce e Frank Picrson, baeado no livro de Donn Pearce Fotografia: Conrad L. Hall Música: Lalo Schifrin Elenco: Paul Newman, George Kennedy, J. D. Cannon, Lou Antonio, Robert Drlvas, Mrother Martin, Jo Van Fleet, Clifton lames, Morgan Woodward, Luke Askew, Marc Cavell, Richard Davalos, Robert 1 'miner, Warren Finnerty, Dennis I lopper, Harry Dean Stanton Oscar: George Kennedy (ator coadjuvante) Indicação ao Oscar: Donn Pearce, I rank Pierson (roteiro), Paul Newman (ator), Lalo Schifrin (música)

esperar, ele esbarra em um sistema de regras ainda mais estritas. À medida que seu estoicismo provocador causa mais problemas, as punições que recebe passam a ser cada vez mais severas. Cheio de frases Inesquecíveis e cenas memoráveis, Rebeldia indomável é um ícone enganadoramente superficial no significado, mas cheio de significações culturais (e contracultutais). De fato, muitos diálogos do filme se tornaram antológicos (um exemplo é o eufemismo ameaçador: "O ptoblema aqui é falta de comunicação") e cenas como a competição para ver quem come mais ovos e uma ttoca de socos no pátio da prisão se transformaram em lendas. Muito do charme de Rebeldia Indomável deriva do elenco de atores coadjuvantes, um contingente de rostos notáveis como um jovem Dennis Hoppet, Harry Dean Stanton e Gcotge Kenncdy, que Interpreta o rival de Newman que acaba virando seu melhor amigo. Kenncdy levou pata casa a estatueta do Oscar dc Melhor Ator Coadjuvante por seu retrato dc Dragline, um durão que na verdade não perdeu a ingenuidade. Mas o coração do filme é o desempenho de Newman, serenamente carismático, que apresenta o ator em sua melhor forma c o empurrou para o auge da popularidade. Comparada à performance exuberante de Jack Nicliolson em Um estranho no ninho, filme estranhamente parecido com Rebeldia Indomável, a atuação de Newman é toda sutileza, toda sotrisos e confiança. O Luke de Newman não perde tempo com gtandes declarações, não explica todos os seus movimentos nem esclarece suas motivações. Parece praticamente ter procurado o encarceramento como uma espécie dc desafio arbitrário, comprando um conflito com o sistema só pata ver se consegue vencer. De fato, somente um pouco antes da conclusão do filme ficam mais claros os estragos feitos pelo aprisionamento sobre o espírito livre de Luke. Ao contrário dos outros prisioneiros, Luke rejeita incessantemente a conformidade institucional que decorre do confinamento e sua postura pouco cooperativa acaba levando à tragédia. Rebeldia Indomável é em parte um filme sobte o quanto um homem pode dobrar o sistema, mas também trata do que acontece quando há a reação do sistema. J K l


TUA (MGM) 92 min. Metrocolor Idioma: inglês Direção: John Boorman 1'rodução: Judd Bernard, Robert ( hartoft

A QUEIMA ROUPA

(1967)

(POINT BLANK) Baseado no romance The Hunter, de Donald E. Westlakc, publicado em 1964, o thriller de John Boorman permanece arrebatador e naturalmente elegante como na época de seu lançamento. Tudo começa com o aparente assassinato do protagonista. As duas balas

Itoteiro: Alexander Jacobs, David Newhouse, Rafe Newhouse, baseado no livro The Hunter, de Donald E. Wcstlake

que ferem Walker (Lee Marvin) colocam em movimento este filme masculino, cheio de

Fotografia: Philip H. Lathrop

Reese (John Vernon, com marcas de varíola no rosto). Descobre-se então que Reese é

cenas de ação violentas e de circunstâncias sexuais mais violentas ainda. Walker é tido como morto depois de ter sido traído pelo amigo, o gângster Mal

Música: Stu Gardner, Johnny Mandel

amante da esposa de Walker. Depois que as feridas se curam, Walker quer recuperar os

Elenco: Lee Marvin, Angle Dickinson,

93 mil dólares que Reese roubou dele, bem como se vingar da mulher Lynne (Sharon

Keenan Wynn, Carroll O'Connor, I loyd Bochner, Michael Strong, John Vernon, Sharon Acker, James Sikking, Sandra Warner, Roberta Haynes, Kathleen Freeman, Victor Creatore, I awrence Hauben, Susan Holloway

Ackcr), de Reese e seus comparsas. O plano de Walker arrasta para o meio do redemoinho a irmã de Lynne, Chris (Angie Dickinson), que é levada para a cama, sofre abusos e então é abandonada. O longo momento em que ela seduz Reese como parte da vingança de Walket petmaneie como uma cena de amor perveisamente sexual e cheia de agonia, erótica, mas ao mesmo tempo visceralmente desagradável. Em formato e visão, este é um thriller perfeito. É um dos raros filmes que funciona tão bem na tolinha da televisão quanto no cinema. Kl<


WAVELENGTH (1967)

ilr ser declaradamente um arquétipo do minimalismo, Wavelength (Cotmprile onda) está na realidade recheado de ação não apenas em seu conteúdo temático, mas até mesmo na quantidade de história que consegue aludir

. nq

lo joga um jogo rigoroso com o espaço da tela e o tempo. Como filme experi|tie reconhece as convenções do mistério e da narrativa inerentes a todo o fie foi pensado de forma a alterar para sempre a relação do espectador com a i•..indo as platéias a ter consciência de processos e fatores que estão como usto na maioria dos filmes.

E U A / Canadá (Canyon) 45 min 16mm Cor Direção: Michael Snow Produção: Michael Snow Roteiro: Michael Snow Fotografia: Michael Snow Elenco: Hollis Frampton, Joyce Wieland, Amy Yadrin, Lyne Grossman, Maoto Nakagawa, Roswell Rudd

11 diretor Michael Snow apresenta o filme todo em um único plano, um travelling m um grande cômodo urbano e que se conclui ao focalizar um detalhe de uma i i (de ondas) pendurada na parede mais distante. É um filme de fôlego, sagaz inprio prejuízo ao forçar o espectador a lidar com o espaço físico e as intrusões 1

iiiHii

ires

elementos de narrativa humana. Há até um aparente assassinato quando

" in (Hollis Frampton) caminha durante uma confusão, cai morto e uma mulher mais tarde, descobre o cadáver e chama a polícia. As sirenes policiais indicam ii ussões crescentes desse evento, mas, quando o melodrama está no auge, a l i foi tão longe que o grande quadro inicial nao esta mais disponível. Ja esta i i i ) demais da parede, entrando no que poderia ser um outro universo através da I

f i .dia, para poder compreender o que aconteceu. Inil"iia lA/ave/ength consista de apenas um plano, não foi feito em uma só tomada. I H através do cômodo, os filmes, piocessos de cor c iluminação se modificam, In em conta elementos aparentemente aleatórios, mas na realidade planejados. Mo i.so, na trilha sonora, uma onda oscilatória progride da freqüência mais ,111 idos por segundo) para a mais alta (12.000 ciclos) com fragmentos irônicos • dos Beatles ("Strawberry Ficlds Forcver") misturados com o mlnimelodrama. muito do cinema underground c experimental, Wavelength é facilmente tachado iisioso ou descartado como narcisismo Intelectual, mas ainda é uma obra vital, me e necessária. KN

•1/'.



BONNIE E CLYDE: UMA RAJADA DE BALAS (1967)

EUA (Tatira-Hiller, Warner Bros., Seven Arts) 111 min. Technicolor Idioma: inglês Direção: Arthur Penn

(BONNIE A N D CLYDE)

Produção: Warren Beatty

A tentativa de Arthur Penn de fazer um filme sobre foras-da-lei com o mesmo estilo da

Itoteiro: David Newman, Robert Benton

nouvelle vague francesa e uma exuberância juvenil provou ser um Imenso sucesso com as

I

platéias, que apreciaram seu conteúdo anti-sistema. Os críticos também acabaram

fotografia: Burnett Guffey

aplaudindo o esforço do diretor em infundir uma nova energia e seriedade ao cinema

Música: Charles Strouse

norte-americano. Na época de seu lançamento, entretanto, Bonníc e Clyde foi fortemente

Elenco: Warren Beatty, Faye Dunaway,

condenado por sua representação grafica da violência. Desenvolvimentos tecnológicos ti-

Michael J . Pollard, Gene Hackman,

nham tornado possível que se filmassem feridas de bala de forma mais realística e a Ca-

Estelle Parsons, Denver Pyle, Dub

mera de Penn com freqüência se demora sobre os efeitos de corpos baleados e pela dore

Taylor, Evans Evans, Gene Wilder

sofrimento resultantes. Naturalmente, filmes americanos anteriores haviam se concen-

Oscar: Estelle Parsons (atriz

trado na violência, mas Bonnie e Clyde foi o primeiro produto de Hollywood a fazer com

t oadjuvante), Burnett Guffey

que o espectador experimentasse com Intensidade o horror c até mesmo sua fascinante

(fotografia)

beleza. As primeiras críticas do filme foram, de modo geral, negativas e até condenavam

Indicação ao Oscar: Warren Beatty (melhor filme), Arthur Penn (diretor), I i.ivid Newman, Robert Benton (roteiro), Warren Beatty (ator), Faye Dunaway (atriz), Michael J . Pollard (ator coadjuvante), Gene Hackman (ator coadjuvante), Theador.i Van Runkle (figurino)

a obra, mas a maré de opiniões críticas logo mudou de forma dramática, motivando algumas revistas a publicarem críticas revisionistas. Alternando com eficiência cenas de terror c realismo brutal com outras que beiram a comédia pastelão, Bonnle e Clyde c vagamente biográfico e tem um viés multo realista por conta da dlteção meticulosa e das locações das filmagens no Nordeste do Texas, onde a paisagem da época é reproduzida com cuidado. Com algumas incongruências históricas, acompanha as aventuras c o eventual fim trágico da dupla mais famosa de assaltantes de banco da época da Depressão, que em seu próprio tempo foram celebrados como heróis populares. Warrcn Beatty e Faye Dunaway cintilam como o casal criminoso, com o apoio sensacional fornecido por Gene Hackman, Estelle Parsons e Michael J . Pollard, que Interpretam os outras membros da quadrilha. Depois de uma série de roubos bem-sucedidos logo no início, a quadrilha é cercada pela polícia em lowa, onde o Irmão de Clyde, Btick (Hackman), é morto e a sua esposa, Blanche (Parsons), fica cega e é capturada. Os outros três escapam da perseguição policial, mas logo Bonnle e Clyde são atraídos para uma cilada que termina com uma tajada de balas de metralhadoras e um balé mortal em câmara lenta. O tratamento que o filme dá ao sexo,

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particularmente â relação incomum entre o impotente Clyde c a agressiva Bonnie, também foi novidade. Ao final dos anos 6o, Hollywood tinha abandonado as restrições do Código de Produção e adotado um sistema de classificação que permitia maior liberdade

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para retratar sexo e violência. Bonnie e Clyde foi um dos primeiros c mais bem-sucedidos filmes feitos sob o novo sistema. Recebeu lo indicações ao Oscar e seu imenso apelo nas bilheterias colaborou para tirar os cinemas ameticanos do vermelho e reencontrar o lucro.

i

Bonnie c Clyde é uma poderosa c ambígua declaração sobre o lugar da violência e do indivíduo na sociedade americana. Na história do cinema, entretanto, sua importância é muito maior. O sucesso crítico e popular demonstrou a uma Hollywood que lutava para se reaproxlmar das platéias nacionais que filmes que combinavam a estilização européia e a seriedade com temas ameticanos tradicionais (mediados por gêneros convencionais) poderiam ter sucesso, especialmente se tivessem um ritmo ágil e cenas de ação espetaculares. Bonnie e Clyde abriu caminho para o "Renascimento de Hollywood" nos anos 70 e obras-primas como O poderoso cliefâo, de Francis Ford Coppola, que lisonjeiam o filme de Penn com o tributo sincero da imitação próxima. RBP


CSILLAGOSOK, KATONÁK <1967) O longa de 1967 foi o primeiro do cineasta húngaro Miklós Jancsó a ter algum impacto nos Estados Unidos, e o virtuosismo estilístico, poder ritualístico e pura beleza de seu trabalho já estavam inteiramente evidentes aqui. Nesta festa em preto-e-branco, encenada ao final da Revolução Russa, os vermelhos são os revolucionários c os brancos as forças do governo que devem esmagá-los. Ao trabalhar em longos planos elaborados, com vistas espetaculares em muitos casos, Jancsó nos convida a estudar de forma quase abstrata os mecanismos do poder (como é sugerido pela tradução do título, O vermelho e o branco, que lembra a obra de Stendhal), com um erotismo frio que pode sugerir vagamente algo do trabalho posterior de Stanley Kubrick. Isso não deve levar à conclusão equivocada de que Jancsó não tinha interesse cm política ou emoções. Para começar, os elementos fortemente nacionalistas de Csil/rrgosok, Katonúk poderiam ser e foram interpretados como anti-russos, especialmente se considerado que o filme foi feito menos de uma década depois da repressão soviética contra a Revolução Hungria/URSS go min. P&B

Húngara, que deixou mais de 7.000 húngaros mortos. Significativamente, apesar de se

Idiomas: húngaro / russo

tratar de uma co-produção húngaro-russa, as autoridades russas se recusaram a exibir

Direção: Miklós Jancsó

o filme na União Soviética.

Produção: Jenoe Goctz, András Németh, Kirill Sirjajev Roteiro: Gyula Hernádi, Miklós Jancsó, Luca Karall, Valeri Karen, diorgi Mdivani Fotografia: Tamãs Somló

A preferência de Jancsó pelos planos distantes não pode ser considerada uma espécie de desdém por seus atores. József Madaras, um dos nomes freqüentes nas escalações de Jancsó, explicou: "Com ele, o rosto do ator tem um papel secundário. Ele formulará e expressará a psique através dos movimentos das massas humanas. Isso é o que .r. plateia:

is tu madas .1 representação 11 uivem nni.il podem ai I1.11 esl ranho. Mas ele

Elenco: József Madaras, Tibor Moinar,

insiste cm uma colaboração inteiramente criativa com seus atores, apenas de uma

András Kozák, Jácint Juhász, Anatoli

forma diferente da convencional. Ele nunca fará psicologia, nunca analisará. Ele faz com

Y.ibbarov, Sergei Nlkonenko, Mikhail

que você se movimente. E, da maneira com que ele mantém você em movimento, eu

Kozakov, Bolot Bejshenallyev, Tatyana Konyukhova, KrystyiM Mikolajewska, Viktor Avdyushko, (ileb Strizhenov, Nikita Mikhalkov, Vladimir Prokofyev, Valentin Bryleyev

consigo entender o que ele quer que eu faça, como ele visualiza um personagem. Ele pensa em termos de música e enxerga em termos de ritmo." Sc você nunca teve a oportunidade de conhecer a obra de Jancsó, esta é a ideal para começar. Csil/agosok, Kotonrik foi o primeiro de seus longas que eu vl e me levou a querer ver muitos outros. Ele talvez possa ser considerado o principal cineasta húngaro da era sonora e, certamente, personagens como Béla Tarr seriam inconcebíveis sem ele. JRos


MARKETA LAZAROVA

(1967)

Tchecoslováquia (Barrandov) 162 min

ih.ido no século XIII, nas florestas da Boêmia, o denso e ambicioso épico de l Vlácil fala da transição do paganismo ao cristianismo através do rapto e lupro praticados pelo enérgico guerreiro pagão Mikolás Kozlík (Frantisek irndo como vítima a personagem do título (Magda Vásáryová), a inocente filha du lldri de um clã, prestes a seguir para um convento. ii i •)iiica do seu lançamento (depois de seis anos em produção), a revista Variety 'ii Marketá Lazarova, com quase três horas de duração, narrativa elíptica e com mi símbolos e metáforas, "uma obra Impressionante, Inadequada a ter um inçamento comercial". Esta obra prima gótica em preto-e-branco, baseada em • de vanguarda escrito antes da guerra, com visual que lembra Carl Theodor Akira Kurosawa e Ingmar Bergman, acabou obtendo o merecido reconhecimento, 'Ha em 1998 o melhor filme tcheco de todos os tempos por um júri de críticos e I' destaque da indústria cinematográfica do país. 11 il era conhecido por seu lirismo poético e pelos filmes históricos (seu filme de Mnvii Past, se passa durante a contra-reforma, e Udoli Vcel, de 1967, tem um herói

P&B Idioma: tcheco Direção: Frantisek Vlácil Produção: Joset Ouzky Roteiro: Frantisek Pavllcek, Fiaiin-.eí Vlácil, baseado no livro de Vladislav Vancura Fotografia: Bedrich Batka Música: Zdenek Liska Elenco: Joset Kemr, Magda Vásáryová, Nada Hejna, Jareslav Moucka, Frantisek Velecky, Karel Vasicek, Ivan Palúch, Martin Mi.i/eí. Václav Sloup, Pavia Polaskova. Alena Pavlíková, Michal Kozuch, Zdenek Lipovcan, Harry Studt, Vlastlmil Harapes

ilado como membro dos Cavaleiros Teutões). Ao invés de reduzir a história a 1 ni ura cheia de ação embora superficial, ele utiliza uma fotografia marcante e de época para se aprofundar nos estados psicológicos e espirituais de perso.1111 estrais. Assim, Marketá Lazaiova permanece como "um pesadelo atávico, um mático difícil de se classificar em termos de gênero ou temor". SJS

MOGLI-0 MENINO LOBO (1967)

EUA (Walt Disney) 78 min. Technicolor

( l l l l J U N G L E BOOK) m,iis amado de todos os desenhos animados produzidos por Disney, Mogli I11I10

'

o

parte de uma história de Rudyard Kipling sobre um garoto criado na selva

Ao contrário das versões de Zoltan Korda (1942) e Stephan Sommcrs (1994), entram nas experiências de sua volta à civilização, o desenho é sobre os úl-

ii r. de Mogli na floresta. O retorno do feroz tigre Shere Khan significa que, para mais seguro ficar por ali. Mogli hesita, mas, como Pinóquio, também é desencaminhado e só é salvo do abraço mortal de Kaa (a serpente) e do Rei l e i ' aro) graças a seus amigos Bagheera (uma pantera) c Balu (o urso). ' m i m m.1,1 história seja mínima e a animação não seja particularmente excepcional, on/.M,,10 dos personagens e a trilha sonora dão um toque diferente ao filme. O 1 . ' I .uompanhado pelo próprio Walt Disney, Mogli foi também o primeiro a • nelas para dublar as vozes dos personagens. George Sanders está incon1' ' m

insidioso Shere Khan, Louis Prima canta "Pm the King of the Swingers"

1 ml'. 1,1/ a festa como Balu, uma espécie de beatnik fracassado que tem como 1 l i e Peai Necesslties". Uma continuação tardia foi produzida em 2003. TCh

Idioma: inglês Direção: Wolfgang Reitherman Produção: Walt Disney Roteiro: Larry Clemmons, Ralph Wright, Ken Anderson, Vance Gerry, baseado no livro de Rudyard Kipling Música: George Bruns, Terry Gilkyson, Richard M. Sherman Elenco: Phil Harris, Sebastian Cabol, Louis Prima, George Sanders, Sterling Holloway, J. Pat O'Malley, Bruce Reitherman, Verna Felton, Clint Howard, Chad Stuart, Lord Tim Hudson, John Abbott, Ben Wright. Darleen Carr Indicação ao Oscar: Terry Gilkyson (canção)

I


Tchecoslováquia/Itália (Carlo Ponti, Harrandov) 71 min. Eastmancolor Idioma: tcheco

0 BAILE DOS BOMBEIROS (mi) (HORÍ, MÁ PANENKO) Embora Milos Forman nunca pretendesse produzir uma alegoria, O baile dos bombeiros

Direção: Mllos Forman Produção: Rudalf Hãjek, Carlo Ponti Roteiro: Milos Forman, Jaroslav I'apousek, Ivan Passer, Vaclav Sasek

é ainda assim uma poderosa comédia de humor negro sobre os males de uma sociedade no estilo soviético. Filme premiado e uma das razões da defecção de Forman para o Ocidente, a obra foi fustigada pelo co-produtor Carlo Ponti por causa de seu subtexto

Fotografia: Miroslav Ondrícek

político, apesat de se tornar um grande sucesso que estreou exatamente quando os

Música: Karel Mares

tanques invadiram Praga para reerguer a Cortina de Ferro.

Elenco: Jan Vastrcll, Josef Sebanek, Josef Valnoha, Frantlsek Debelka, Josef Kolb, Jan Stõckl, Vratislav Cermák, Josef Rehorck, Václav Novotny, Frantisek Reinstein, Frantlsek Paska, Stanislav Holubec, Josef Kutálek, Frantisek Svet, Ladislav Adam Indicação ao Oscar: tchecoslováquia (melhor filme estrangeiro)

Encenado em uma pequena aldeia tcheca, o filme tem muitos aspectos interessantes: o tal baile do título, uma cerimônia para homenagear o líder aposentado da brigada de bombeiros voluntários, um bingo com géneros alimentícios valiosos tomo prémios, um concutso de beleza e um i

mlio que irrompe no final da nuile c leva ,1 ic.iill.idoMi.igicômicos.

Mesmo (pie o enredo 11,10 seja exatamente o seu ponto fone, O txiile dos bombeiros é Iniperdível, reunindo um conjunto eclético de não-profisslonals descobertos na cidade onde ocorreram as filmagens. De estrutura episódica, estilo naturalista e um humor abetto a todas as possibilidades, desde o pastelão físico até a comédia de erros, a película desenvolve com habilidade a obseivação cuidadosa sobte o comportamento ilc um >, 1111 k» cm ((iiuliioi", de ((intinamenfo. ludo começa quando os bem Intencionados membros de uma comissão de bombeiros voluntários encomendam um troféu para homenagear o chefe que está ptestes a se aposentai. A assembléia da cidade guarda alimentos caros para servirem de prêmio aos vencedores de um bingo. Enquanto o salão se enche de convidados e a comissão se concentra no esforço de encontrar jovens bonitas para um concurso de misses oportunidade pata que seus integrantes possam babai um pouco diante da exposição da carne feminina , os prêmios do bingo são roubados um por um. Todos os presentes passam a ser suspeitos porque a óbvia escassez torna exttemaniente tentador o furto de produtos como carne e bebidas caras. O concurso de misses, em seguida, degringola e um incêndio começa do outro lado da cidade. Apesar de todos os esforços para controlar o fogo por parte da comissão, cuja malotia dos integrantes a essa altura já se encontra bem alcoolizada, um velho acaba vendo sua casa arder na paisagem nevada. No final

1

do filme, os membros da comissão devem lidar com um fracasso triplo: o bingo, o concurso de beleza e o Incêndio fora de controle. Ao homenagear o antigo chefe reformado, apesar do cinismo Implícito sobre comitês, camaradas c otimismo cm relação a um futuro melhor - todos valores básicos da retórica comunista predominante -, a demonstração de respeito aos mais velhos emerge apenas como pompa e circunstância vazias. Escrito por Forman, Jaroslav Papotisek e Ivan Passer, que se inspitaram em um autêntico baile de bombeiros, o filme demonstra uma consciência crítica sobre a sociedade soviética. Sem supetvalorizar essa condição e a conseqüente escassez e sacrifícios que faziam parte da vida tcheca em 1967, O baile dos bombeiros sugere ainda como a força moral fraqueja diante de uma liderança corrupta que beneficia poucos em detrimento de muitos. Naturalmente, essa tendência deriva da falta de itens de uso cotidiano como alimentos e água, mas pode ser estendida a um colapso geral no comportamento civilizado que parece dar ao filme uma ressonância alegórica, seja lã qual tenham sido as intenções de Forman. CC-0


Tl RRA EM TRANSE

(1967)

I de 19S4 aconteceu no Brasil um golpe militar que abriu caminho para 25 anos Para a esquerda brasileira, muito ativa e ruidosa, o maior choque em ilpe não foi o fato de ele ter sucesso, mas a rapidez com que o governo civil I H derramamento de sangue. A combinação perturbadora de raiva, culpa e erou curiosamente uma série de notáveis meditações cinematográficas violência e o papel dos intelectuais. Terra em transe, de Gláuber Rocha, 11 " melhor exemplo dessa safra impressionante. Em um país chamado tia e jornalista Paulo Martins (Jardcl Filho) decide abandonar a proteção

Idioma: português Direção: Gláuber Rocha Produção: Luiz Carlos Barreto, Cailir, Diegues , Raymundo Wanderley Reli, Gláuber Rocha, Zelito Viana Roteiro: Gláuber Rocha Fotografia: Luiz Carlos Barreto Música: Sérgio Ricardo Elenco: Jardel Filho, Paulo Autran,

político Porfírio Diaz (Paulo Autran) para apolar o populista Felipe Vieira

José Lewgoy, Glauce Rocha, Paulo

) para governador. Vieira é eleito, mas logo renega suas promessas de

Gracindo, Hugo Carvana, Danuza

lha e abafa violentamente uma revolta de camponeses, o que leva Paulo a abanai ornar à vida selvagem e orglástica que ele conhecia tão bem. Liderados I H e Rocha), ex-amante de Paulo, um grupo de "radicais" que apoiam Vieira l i Paulo de que é seu dever usar seus contatos para destruir seu antigo "

Brasil (Mapa) 106 min. P&B

Diaz. Paulo concorda, mas a experiência o deixa desgostoso com toda a aber mais tarde que foi traído e que a lei marcial foi decretada, Paulo opta

Leão, Jofre Soares, Modesto de Souza, Mário Lago, Flávio Migliaccio, Teima Restou, José Marinho, Francisco Milani, Paulo César Peréio Festival de Cannes: Gláuber Rocha (Prêmio FIPRESCI), indicação (Palma de Ouro)

1 armada e militante, mas acaba sendo morto pela policia, história, mas o que vem à tona enquanto se assiste ao filme é algo bem iiado em flashback, o filme de Rocha é uma mistura selvagem de grande iiiini.i verdade, Vllla-Lobos e exorcismos afro-brasilciros. A turbulência poli il personificada por Paulo Martins é representada visceralmente por um II il que alterna cortes rápidos com longas e ousadas seqüências filmadas com III

1111,10.

Rocha cria uma galáxia de arquétipos que capturam adequadamente

1 política latino-americana nos anos 50 e 60, experiências que até o início le /o levaram a ditaduras militares em toda a região. Poucos filmes foram 1 ••• em sua visão e ao mesmo tempo tão criticados. Atacada com igual inpel.i esquerda e pela direita, a película foi um tanto negligenciada diante dos le Gláuber, como Deus e o Dlaho na terra do Soi (1964) e O dragão da mal nulo guerreiro (1969). Hoje, porém, é vista não apenas como a obra-prima 1 mas lambem como uma obra-prima do novo cinema latino-americano. RP

I "I



Tchecoslováquia (Barrandov) 92 min. P&B/Cor Idiomas: tcheco / alemão Direção: Jirí Menzel Produção: Zdenek Oves Roteiro: Jirí Menzel, baseado no livro de Bohumil Hrabal Fotografia: Jaromír Sofr

TRENS ESTREITAMENTE VIGIADOS

(196T|

(OSTRE SLEDOVANÉ VLAKY) Com humor doce e amargo, detalhes observados com amor e um humanismo afetuos pessimista, Trens estreitamente vigiados permanece como o melhor representante do n< cinema tcheco. Foi o primeiro longa de Jirí Menzel e, como muito de seu trabalho Inic trata-se de uma adaptação de escritos do novelista tcheco Bohumil Hrabal. O relacionamej to entre o escritor e o diretor, que trabalharam juntos no roteiro, era excepcionalmente pu

Música: Jírí Pavlik, Jirí Sust

ximo c cordial. Menzel, ao aceitar o Oscar de melhor filme estrangeiro, atribuiu todo osuce

Elenco: Vaclav Neckar, Josef Somr,

so ao novelista, enquanto Hrabal sempre disse que preferia o filme ao original literário.

Vlastimil Brodsky, Vladimir Valenta, Alois Vachek, Ferdinand Kruta, Jitka Bendová, Jitka Zelenohorská, Nada Urbánková, Libuse Havelková, Kvcta Flalová, Pavia Marsálková, Mllada Jezková, Zuzana Minlchova, Vâclav Fiser Oscar: Tchecoslováquia (melhor filme estrangeiro)

1

Trens estreitamente vigiados utiliza como principal fio narrativo um tema que é mu eterno favorito: a educação sentimental de um adolescente tímido c sensível. Milo interpretado por Václav Neckár, tem um olhar arregalado e pensativo que frequenteme te lembra Buster Keaton. O jovem está comovedoramente orgulhoso de seu novo unifoi me de guarda da estação, que vai permitir a ele "ficai na plataforma e evitar o trabalh duro". Consumido de amor por uma bela maquinista de um trem local, ele mergulha no desespero quando o nervosismo o impede de consumar sua paixão. Seu modelo é u colega mais velho, o cínico e incansavelmente mulherengo lluhkka (Josef Somr), qu divide o tempo entre silenciosamente sabotar a autoridade e perseguir qualquer rabo-dc saia que cruze seu caminho. () lema, mesmo i um um olhar novo e atraente, seria convencional não fosse pelo sen ( eu. 11 ¡ 0 uma sonolenta oslaçan de liem perdida no interior, durante os últimos anos a Segunda Guerra Mundial. A guerra está sempre presente, mas a princípio é quasi ignorada. Gradualmente, toma conta dos acontecimentos, acrescentando camadas de ( omplexldade c tragédia à história de Milos Ao tratai desse pe

lo (geralmente retr.il .1

do em filmes tchecos anteriores como uma era de resistência heróica contra a ocupaçá de um angulo oblíquo e Irônico, a intenção de Menzel era desconstruir o mito heróico d ,1 gticna "poiquo a maioria dos filmes, intencionalmente ou

11,10,

da glamour à guerra

Trens não trata de heróis. Hubicka está muito mais preocupado com suas aventuras amorosas do que com a contribuição paia ,1 Resistência, por exemplo, enquanto que Milos se envolve quase que acidentalmente. Da mesma forma, ninguém é demonizado. Um grupo de soldados alemães que 0II1 tristemente um trem cheio de belas enfermeiras não é formado por monstros fascistas marchar, mas por jovens perdidos e saudosos. O colaborador tcheco pró-nazista, con selheiro Zednícek (Vlastimil Brodsky), c mais um bobalhão do que um vilão acompanhado por música pomposa na trilha sonora que ridiculariza sua pretensões wagnerianas. Não há insistência em lançar um olhar de soslaio pa a dominação soviética da Tchecoslováquia, mas o pouco que há certamente fo percebido pelas platéias do país na época. O espírito do "Bravo Soldado) Schveik", personificação do gênio tcheco para a insubordinação sorridente e Insolência boba, permeia todo o filme. O ponto máximo é a reação cara-de-pau dos funcionários da estação ao ouvir Zednícek explicar de que forma a retirada da Wehrmacht de todos os fronts é uma estratégia brilhante para garanta .1 vitória. Como no romance clássico de Hasek, Trens estreitamente vigiados mistura comédia, tragédia, farsa, erotismo e sátira, naturalismo e absurdo com um resultado altamente Idiossincrático e atraente. E, graças a Hrabal, Men/iT persuadlu-se a manter o final trágico do livro. PK

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URSS (Mosfilm) 7 8 min. Cor Idioma: russo Direção: Georgi Kropachyov, Konstantin Yershov Roteiro: Georgi Kropachyov, Aleksandr Ptushko, Konstantin Yershov, baseado no conto de Nikolai

V I J , 0 ESPIRITO DO MAL

(1967)

(VIJ) Baseado no mesmo conto de Nlkolai Gogol, escritor russo do século XIX, que inspirou o clássico italiano de terror A máscara

de Satã (1960), Vij, o espírito do mal, de Georgi

Kropachyov e Konstantin Yershov, é um filme exuberante, divertido e aassustador de verdade, com demônios e feitiçaria que empregam alguns dos melhores recursos

Gogol

de efeitos especiais utilizados pelo mestre da fantasia cinematogtáfica russa Aleksandr

fotografia: Viktor Pishchalnikov,

Prushko (Novvy Gulliver [1935], Kamenny Tsvetok [1946], Ruslan Lyudmila [ 1 9 7 2 I ) ,

fyodor Provorov Música: Aram Khachaturyan Elenco: Leonid Kuravlyov, Natalya Varley, Aleksei Glazyrin, Vadlm /akharchenko, Nikolai Kutuzov, Pyotr Vesklyarov, Dmitri Kapka, Stepan shkurat, G. Sochevko, Nikolai

O desventurado estudante Khoma Brutus (Lconid Kuravlyov) se perde no campo durante as férias e acaba passando a noite no estábulo de uma velha. Logo a mulher revela ser uma bruxa e usa Khoma como uma vassoura viva. Depois de bater nela até deixá-la inconsciente, Khoma observa, com uma mistura de culpa e horror, a megera se transformar em uma bela jovem. Em seguida, Khoma é convocado a ir a uma aldeia distante, onde foi escolhido para presidir o velório de uma jovem cm uma antiga igreja.

Yakovchenko, Nikolai Panasyev,

Isso envolve dormir três noites sozinho com o cadáver, que parece estranhamente

Vladimir Salnikov

familiar, e apenas sua fé hesitante para protege lo. É a partir desse momento que o filme se torna impressionante, conforme criatutas aterrorizantes do Além começam a desfilar pela tela. A cena na igreja culmina com a aparição do demônio Vlj, que, nas palavras de um crítico, "faz sua aparição à frente de um dos melhores conjuntos de diabinhos, fantasmas e monstros de pernas longas" a aparecer no cinema. SJS

Irã (Ministério da Cultura do Irã) 1 0 0 min. P8<B

Idioma: farsi Direção: Dariush Mehrjui Produção: Dariush Mehrjui Roteiro: Dariush Mehrjui, baseado na peça de Gholam-Hossein Saedi Fotografia: Fereduyn Ghovanlti Música: Hormoz Farhat Elenco: Ezzatolah Entezami, Mahmoud Dowlatabadl, Parvlz I anizadeh, Jamshid Mashayekbi, Ali Nassirian, Esmat Safavi, Khosrow shojazadeh, Jafar Vali Festival de Berlim: Dariush Mehrjui (recomendação para o Prêmio OCIC, lórum do novo filme)

A VACA

(1968)

(GAAV) Elá boatos que garantem que, depois de uma exibição de A vaca, o aiatolá Khomeini teria dito que talvez pudesse haver um lugar para a produção cinematográfica na República Islâmica, assim criando pelo menos a possibilidade teórica para o cinema iraniano de Abbas Klarostami, Mohsen Makhmalbaf, Jafar Panahl, e outros. Primeiro longa iraniano a atrair significativa atenção internacional, A vaca foi o segundo longa de Dariush Mehrjui, cineasta formado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles, que voltou ao Irã detetmlnado a criar um novo tipo de linguagem cinematográfica comparável ao que estava acontecendo com o cinema novo no Terceiro Mundo. Baseado em peça de Gholam-Hossein Saedi, que também contribuiu no roteiro, A vaca é a história de Masht Hassan (Ezzatolah Entezami), otgulhoso proprietário da única vaca existente em uma aldeia pobre. Um dia, quando ele viaja a negócios, a vaca morre inesperadamente. Ao invés de contar a verdade, os outros aldeões decidem dizer que o animal simplesmente se perdeu. Com tanto de sua Identidade e de seu status relacionados à vaca, Hassan fica cada vez mais obcecado com a busca, ao ponto de enlouquecer. Financiado em grande parte pelo governo do xá, as Imagens do filme do interior do Irã e da pobreza deixaram tão ultrajados os produtores que eles obrigaram os cineastas a adicionar uma observação de que os eventos retratados haviam ocorrido muito antes do atual tegime. RP


ERA UMA VEZ NO OESTE (1968) ( C l HA UNA VOLTA IL WEST) |i faroeste, obra-prima de Sergio Leone, Charles Bronson assume o papel do i .em nome, Harmônica, que busca a vingança, enquanto Henry Fonda deixa de •lii lua imagem de Wyatt Earp c interpreta Frank, o inexpressivo assassino de olhos M l A abertura é um espetáculo - Woody Strode, Al Mulock e Jack Elam esperam por ii ii

são incomodados por uma mosca e uma goteira -, explorando os mínimos

i •li" • por um tempo fascinante e sem acontecimentos até a chegada de Bronson 11« o tiroteio que dá início ao filme, i ia nino vez no Oeste é o primeiro filme de Leone a colocar a violência em um con1

i ii l.ideiramente político, condenando o corrupto (e aleijado) magnata das ferro-

' que deixa "dois brilhantes e pegajosos trilhos como uma lesma" enquanto arrasa em, empregando bandidos para se livrar de colonos inconvenientes que não leixar suas terras com tanta facilidade. A civilização voraz conspurca as paisatas enquanto Harmônica segue em sua jornada para perseguir o sádico que 1

'I

i eu irmão, a prostituta viúva Claudia CardInale tenta realizar o sonho do faleii Ido de criar uma verdadeira comunidade no Oeste c o bandido jason Robards

i' i ipenas ser deixado em um estado de abandono infantil que lhe é natural. Com i omposições que tiram proveito da tela panorâmica e tempo de duração : é um autêntico western que ganha pontos pelo seu tamanho. KN

EUA (Paramount, Rafran, San Man o) 165 min. Technicolor Idioma: italiano Direção: Sergio Leone Produção: Bino Cicogna, Fúlvio Morsella Roteiro: Dario Argento, Bernardo Bertolucci, Sergio Donati, Mickey Knox, Sergio Leone Fotografia: Tonino Dell Colli Música: Ennio Morricone Elenco: Henry Fonda, Claudia Cardinale, Jason Robards, Charles Bronson, Gabriele Ferzetti, Paolo Stoppa, Woody Strode, Jack Elam, Snaky, Keenan Wynn, Frank Wolff, Llonel Stander


EUA (Fox, APJAC) 112 min. Cor Idioma: inglês Direção: Franklin J. Schaffner Produção: Mort Abrahams, Arthur P. Jacobs Roteiro: Michael Wilson, Rod Serling, baseado no livro Planéte des Singes, de Pierre Boulle Fotografia: Leon Shamroy Música: Jerry Goldsmith Elenco: Charlton Heston, Roddy McDowall, Kim Hunter, Maurice Evans, James Whitmore, James Daly, Linda Harrison, Robert Gunner, Lou Wagner, Woodrow Parfrey, Jeff Burton, Buck Kartalian, Norman Burton, Wright King, Paul Lambert Oscar: John Chambers (prêmio especial de maquiagem) Indicação ao Oscar: Morton Haack (figurino), Jerry Goldsmith (música)

0 PLANETA DOS MACACOS (ises) (PLANET OF THE APES) Um clássico entre as aventuras de ficção científica que permanece tão poderoso hoje quanto na época de seu lançamento, O planeta dos macacos foi um projeto que tinha potencial para dar terrivelmente errado. A refilmagcm de Tim Burton em 2001 é um exemplo de tudo de errado que poderia acontecer. Mesmo se o orçamento de 100 milhões de dólares ainda estivesse a duas décadas de distância, eta ainda uma premissa arriscada realizar um filme a partir do livro de Pierro Boulle Planéte des Singcs. Ter tantos atotes vestidos em roupas de macaco poderia bem ser um convite para a troça das platéias, mais do que para os sustos. Antes de o filme entrar cm produção, o maquiador John Chambers aliviou os medos dos clieloes d

,1 uclio ,10 Ilimar um leste com (liai Iton I leston (como o h

,11111 Taylor)

e Edwatd G. Roblson (como o macaco Dr. Zaius). Ao demonstrar que a maquiagem de macaco era convincente, Chambers recebeu 50 mil dólares para desenvolver os efeitos símios no filme. Robinson, temendo que horas na cadeira do maquiador ameaçassem sua j.i deliilil.ida saúde, saiu do elenco e (oi substituído por Maurlce Evans. Foi um dinheiro bem gasto. Os macacos que Taylor e seus dois colegas astronautaB encontram quando sua espaçonave cai em um planeta desolado são realmente assusladores, especialmente quando nós c layloi percebemos que eles mandam e que os humanos s.io animais silenciosos neste lugai estiando. A escalarão do elenco é perfeita. Heston, que passa a maior parte do filme vestindo potico mais do que um lenclnho de couro, é másculo e durão. Roddy McDowall e Klm Hunter, como os macacos "amistosos" Cornélius e /iia, conseguem escapai do conlinanienlo de sua maquiagem inipiessionante e têm desempenhos emocionantes. Pontuado por cenas antológicas como a ptimeita visão de Taylor do novo planeta, sua captura e naturalmente o final inesquecível, o toteiro de Rod Serling e Michael Wilson e inteligente c recheado de diálogos sensacionais. ("Tire suas patas de cima de mim, seu maldito macaco fedorento!"). Este clássico teve três continuações, uma série de TV, a já lai,ida frustrante iclilmagem e até uma paródia hilariante em um episódio de Os Símpsons. J B


FACES (1968) 'I ser tão difícil de ser interpretado, freqüentemente aparece na tela de uma soa falsa. Mas, em Faces, todo tipo de risada - lunática, excitada, nervosa, defensiva - aparece com absoluta autenticidade, mesmo quando no roteiro é mil' Ml' i que a sincronização do som foi posterior. I era o segredo de John Cassavctes? Sua relação com os atores era tão total, seu lnhiill

m eles tão intensamente detalhado, que ele era capaz de capturar a Ir vivida como nenhum outro diretor americano. Depois das experiências com

llliiiiiiiv. (i')59) e más experiências com o sistema de Hollywood, Faces marca com li,,i o começo de uma "assinatura" de Cassavetes. Filmado em sua casa, registra lliiantes das vidas de pessoas que são completamente carentes e alienadas, no

Itivl

io todos os personagens de Cassavetes, entre as responsabilidades da rotina intoxicações inconseqüentes da vida noturna. Cassavetes mostra seu elenco

" H l ' inii'

John Marley e Lynn Carlln estão especialmente memoráveis - sempre In • um os corpos fora do centro do quadro, as palavras e os gestos truncados na

iihi, In i .ida cena é baseada em uma virada imprevisível e com freqüência aterrori-

Direção: John Cassavetes Produção: John Cassavetes, Mauilie McEndree Roteiro: John Cassavetes Fotografia: Maurice McEndree, Al Ruban Música: Jack Ackerman, Charlie Smalls Elenco: John Marley, Cena Rowlands, Lynn Carlin, Seymour Cassei, Fred Draper, Vai Avery, Dorothy Gulliver, Jerry Howard, Carolyn Fleming, Don Kraatz, John Hale, Midge Ware, Kay Michaels, Laurie Mock, Christina Crawford Indicação ao Oscar: John Cassavetes

iii i súbita mudança no humor do personagem ou na forma de se comportar

(roteiro), Seymour Cassei (ator

• I H .1" outro. Faces inventa uma nova forma de se experimentar o tempo no

coadjuvante), Lynn Carlin (atriz

i iile pausas repentinas funcionam (nas palavras de Cassavetes) "como saltar in movimento". i

EUA (Castle Hill) 130 min. P&B Idioma: inglês

pietado por alguns como a condenação de um materialismo sem coração da nédia, mais do que isso, o filme é um relato dolorosamente íntimo e cheio de

iiinpii- I H sobre o sofrimento do cotidiano. Cassavetes explora um terreno que iria reheqüência — crises matrimoniais, sexo casual, entrega hedonista, laços de dentro de uma narrativa que constantemente muda de rumo e compaia a (MMitd.i do prisonagem através de uma longa noite e suas reverberações. ir Inces é o primeiro filme na história do cinema onde os personagens falam ilem até se acabar) sobre cunnl/lngus? Uns 35 anos mais tarde, diretores colin Ni 11 I .iliuie c Lars von Trier ainda tentam alcançar a surpreendente habilidade de na mostrar a complexidade desordenada dos relacionamentos adultos. A M

coadjuvante) Festival de Veneza: John Marley (In .1 Volpi, melhor ator), John Cassavetes, indicação (Leão de Ouro)



EUA (Paramount) 136 min. Technicolor Idioma: inglês

0 BEBE DE ROSEMARY

dees)

(ROSEMARY'S BABY)

Direção: Roman Polanski

Dona de um rosto anguloso e de olhos fundos, Rosemary Woodhotise (Mia Farrow) exclama

Produção: Wiliiam Castle, Dona

com alívio "Está vivo", mais ou menos no primeiro do terço da fita, ao sentir o bebê que cresce

Holloway

Roteiro: Roman Polanski, baseado no livro de Ira Levin

em seu ventre finalmente chutat, coisa que até então estranhamente não havia acontecido. Nesse momento, seu marido Cuy (John Cassavetes) recua com medo de tocar sua barriga. Em sua animação, Rosemary não percebe a reação. Mais importante: ela se recusa a seguir seus me-

Fotografia: William A. Fraker

lhores instintos e a suspeita crescente de que o marido, o novo apartamento, os vizinhos e até

Música: Christopher Komeda Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, Ralph Bellamy, Victoria Vetri, Patsy Kelly, Elisha Cook Jr., Emmaline Henry, Charles Grodin, Hanna Landy, Phil Leeds, D'Urville

mesmo a gravidez estão misteriosamente ligados de uma forma obscura. Ao fazê-lo, ela segue em frente na trama do que é, indiscutivelmente, um dos melhores filmes de horror já feitos. Cristalizada nessa cena em particular estão muitas das preocupações familiares e características do diretor Roman Polanski - traição, corrupção, as fronteiras da sanidade e os "mistérios" da inulhei. Ao lecei esses elementos de forma magnifica, Polanski eleva um material de origem levemente popularesca (o best-seller de Ira Levin) ã condição de um

Martin, Hope Summers

clássico cinematográfico. O tempo não diminuiu o sentimento de terror, construído de

Oscar: Ruth Gordon (atriz coadjuvante)

forma tensa, concentrada e progressiva durante a projeção. E a familiaridade com o filme

Indicação ao Oscar: Roman Polanski (roteiro)

só aumenta a admiração pela preocupação de Polanski com os detalhes, o ritmo e as pausas, e sua habilidade com os atores e o bom roteiro que ele adaptou para a tela. Rever o filme permite descobrir um humor astuto c intencional. Como, pot exemplo, a escalação de Cassavetes, um ícone do cinema nos dias de hoje

símbolo fulgurante do artista puro

daquele tempo -, pata interpretar um homem que vendeu a alma ao demônio para ter sucesso no show business. Há também o humor que foi acumulado pelo passar dos anos c depois do fato. O desespero de Mia Farrow para se tornar mãe agora inspira risos nervosos por si só, graças às notícias publicadas nos tablóides quando a atriz chegou à meia-idade. Cenas e personagens de O bebê de Rosemary estão marcados na memória. Farrow curvada sobre a pia da cozinha com a boca ensangüentada, a mascar carne de um animal, e seu choque ao perceber o que eslava fazendo. A atmosfera de sonho que cerca o estupro/consumação de Rosemary, muito mais perturbadora pelo que é sugerido do que pelo que é realmente mostrado. A anciã vacilante interpretada por Ruth Cordon que lentamente se transforma em algo mais sinistro. Perto do final do filme, Rosemary irrompendo na reunião da tribo com uma faca, desesperada para acalentar o bebê que lhe disseram estar morto. Mas não é apenas o aspecto satânico do filme que provoca calafrios. O bebê de Rosemary cutuca em medos viscerais ao falar sobre o abuso da confiança conjugal, da Idéia de que a segurança fornecida por familiares e amigos pode ser apenas uma ilusão, uma força antagônica e não um apoio. Não conseguimos realmente conheceras pessoas a nossa volta. Não podemos confiar em ninguém, nem em nós mesmos. Não há proteção garantida. A manipu Paramounl PníIuíqs Presanls

Mia Farrow

In a William Castle Production

".' ni. if A P.-irar'ount Picture •• rMatureAudiencesÓS

i:;i,

John Cassavetes

lação maglsttal desses medos existenciais por Polanski confere ao filme seu poder. E quem entre os espectadores não se identifica com Rosemary enquanto ela vê todas as pessoas boas que a cercam morrerem ou ficarem doentes, ao mesmo tempo que descobre o quão resistente é o mal que a envolve? EH


Inglaterra (Memorial) 111 min. P&B / Eastmancolor

SE... (1968) OF...)

Idioma: Inglês

Inspirado no breve hino à anarquia escolar de Jean Vigo, Zero de conduto (1933), Lindsay

Direção: Lindsay Anderson

Anderson, depois de This Sporting Life (1963), se afasta do realismo e da rebeldia pro-

Produção: Lindsay Anderson, Michael Medwin

satírico que agora parece um elo entre os surrealistas clássicos e a trupe Monty

Roteiro: David Sherwin, John Howlett Fotografia: Miroslav Ondricck Música: Marc Wilkinson Elenco: Malcolm McDowell, David Wood, Richard Warwick, Christine Noonan, Rupert Webster, Robert

letária que caracterizaram o movimento de cinema "pia da cozinha" e adere a um estilo Python. Enquanto a obra anterior exigiu que Anderson, proveniente da classe alta respeitável, fizesse um estudo etnográfico de brutamontes jogadores de rugby do Norte da Inglaterra, Se... c paradoxalmente um filme genuinamente mais realista, feito por alguém que realmente veio do sistema de escola pública tão rigorosamente atacado. A abertura do filme acompanha Mick Travls (Malcolm McDowell), de 16 anos, e

Swann, Hugh Thomas, Michael

alguns dos seus amigos "anti-sociais" enquanto se entediam com seus mestres e

Cadman, Peter Sproule, Peter Jeffrey,

sofrem nas mãos dos representantes de turma, esbarrando em um sistema que impõe

Anthony Nlcholls, Arthur Lowe, Mona

punições que são ao mesmo tempo cômicas e cruéis, como o açoitamento no ginásio,

Washbourne, Mary MacLeod, Geoffrey Chater Festival de Cannes: Lindsay Anderson (Palma de Ouro)

realizado como se se tratasse de uma cerimônia de execução do século XIX. Alternando película colorida e preto-e-branco, assumidamente por razões orçamentárias e não como uma opção estética - a verba para película colorida acabou antes da conclusão das filmagens -, Se... abandona os confins rígidos da escola com atores que encarnam personagens endurecidos e predadores homossexuais, enquanto Mick começa um caso, talvez imaginário, com uma garçonete voluptuosa (Christine Noonan). A cena de sexo, explícita para 1969, é incomum e derruba tabus, uma vez que descreve não o esi up

1,1 odiosa promisi uid.ulc cm que a moralidade vence no final, mas simples-

menle um 1 asai apret iando o amoi íisii o 1 nquaiilo Vigo virou de cabeça para baixo a dignidade desgastada de sua escola ma giien.i de 11.ivesseiios, Anderson, trabalhando depois das revoltas estudantis de 1968 e com o crescimento dos movimentos de protesto, faz com que Mick e seus amigos usem roupas no estilo guerrilha chique e preparem um ataque contra a escola no Dia do Discurso, alvejando o diretor benevolente (Peter Jeffrey) e outras figuras do sistema. Embora filmado de forma fantástica, com estranhas gags, tais como um defunto falante dentro de um arquivo, não há retorno à "realidade" para apaziguar o fervor da realização de desejos revolucionários. Anderson, o escritor David Sherwin e o astro McDowell reeditaram o personagem Mick Travis em duas outras sátiras bem diferentes: Um homem de sorte (1973) e Britonnio Hospirnl (1982), KN


MEMORIAS DO SUBDESENVOLVIMENTO

Cuba (ICAIC) 97 min. P&B Idioma: espanhol

(iges) (Ml MORI A S DEL SUBDESARROLLO) " nmentário, parte ficção, Memórias do subdesenvolvimento,

Direção: Tomás Gutierrez Alea Produção: Miguel Mendoza de Tomás Gutierrez

luta um importante segmento da vida cubana entre 1961 e 1962. No centro da 1,1 Sergio (Sergio Corrieri), um rico ex-homem de negócios aspirante a escri1 . " 11 Ulme acompanha seu relacionamento com a transformação de Havana em uma 1 omunista organizada em torno de um Estado policial. Suas interações com o 1 paisagens domésticas são apresentadas com a palidez da descrença, tristeza • ia, mas também com otimismo, porque Sergio tem consciência da sua falta 10 com o mundo enquanto tenta voltar a ser um homem Inteiro. No Inicio, ele é visto enviando os pais e a ex-mulher para uma nova vida em Miami. In .11 para trás, esperando encontrar alguns indicadores genuínos sobre o que é 1 ' l'or isso, começa a escrever um original, que inclui fantasias com sua empreiiilnança de um amor verdadeiro perdido e o início de uma ligação complicada l i l lena (Daisy Granados). Acusado e em seguida absolvido de estupro, depois T 11 por pouco de um casamento forçado - uma parábola sobre a liberdade 11 i'in um sistema de justiça organizado pelo Estado com valores corrompidos ' I malmente se conforma em esperar e ver o que poderá acontecer com o fervor aiio em seu país. inações freqüentes, Alea apimenta a história da vida de Sergio com dis "lue diversos temas. Há um esclarecedor monólogo sobre a dialética marxista, des sobre as dificuldades de se envelhecei em um clima tropical, o tema " I n subdesenvolvimento e as inconsistências sociais durante os primeiros dias le Fidel Castro. Este talvez seja o filme de maior fama internacional pro111 1 uba e dirigido por um dos fundadores da companhia de cinema estatal, iiliano dei Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC). Memórias do subdesen• nina crítica impiedosa do sistema capitalista e da revolução comunista. ' liislória simples da crise de um homem estão elementos de fantasia, cenas mais e loques de drama que expressam ao mesmo tempo deleite e desprezo desenrolar da Guerra Fria. Elegante e poderoso, é um tributo à Influência de 1 uba em um momento de aguda supressão cultural usada como uma paia um futuro melhor. G C - Q

Roteiro: Edmundo Desnoes, lom.r. Gutierrez Alea, baseado no livro Memorias dei subdesarrollo, de Edmundo Desnoes Fotografia: Ramon F. Suarez Música: Leo Brouwer Elenco: Sergio Corrieri, Daisy Granados, Eslinda Núnez, Ornai Valdes, René de la Cruz, Yolanda 1.111 Ofélia Gonzalez, Jose Gil Abad, Daniel Jordan, Luis Lopez, Rafael Sosa


EUA (Crossbow, MGM, Springtime) 8 8 min. Pathécolor Idioma: inglês Direção: Mel Brooks Produção: Sidney Glazier, Jack Grossberg

PRIMAVERA PARA HITLER

m)

(THEPRODUCERS) "Os Hitlcrs bailarinos podem, por favor, esperar nas coxias?" O primeiro longa do roteirista, escritor e produtor Mel Brooks é uma jóia. Menos vulgar e mais perigoso do que qualquer outra coisa em sua obra. Primavera para Hitler ganhou o Oscar de Melhor

Roteiro: Mel Brooks

Roteiro e é uma farsa clássica com ironia de fazer engasgar: um judeu nova-iorquino do

Fotografia: Joseph F. Coffey

show business, mesmo que com as piores intenções, montando um espetáculo, mes-

Música: Norman Blagman, Mel Brooks, John Morris Elenco: Zero Mostel, Gene Wilder, Kenneth Mars, Estellc Wlnwood, Kcnée Taylor, Christopher Hcwctt, Lee Meredith, William Hickey, Andreas Voutsinas, David Patch, Dick Shawn, Barney Martin, Madelyn Cates,

mo detestável, sobre Hitler. A maior alegria do filme é o incomparável Zero Mostel, um titã dos palcos da Broadway que voltava às telas depois que a lista negra prejudicou sua carreira no cinema e encontrando a imortalidade como o irrepreensível canalha Max Bialyslock. Seu comparsa é o contador reprimido Leo Bloom (Gene Wildcr), que inocentemente observa que um homem desonesto poderia fazer uma fortuna se soubesse de antemão que o show fracassaria. Bastaria levantar milhões de dólares para produzir, usar uma fração da quantia e, quando a carreira do show

shimen Ruskin, Frank Campanella

fosse interrompida, ninguém esperaria receber o dinheiro de volta. Elctrizado pela informa-

Oscar: Mel Brooks (roteiro)

ção, Max perpetra a fraude com um fracasso certo, Primavera para Hitler, obra de um nazista

Indicação ao Oscar: Gene Wilder

demente (Kenneth Mars), l'or mais absurdo que possa parecer, o show é um sucesso e leva

(ator coadjuvante)

até o Teatro Leavcnworth a peça que Max escreve na prisão, Prisioneiros do amor o famoso número musical do filme, "Springtimc for Hitler", dá novo significado à expressão "de parar o show", com uma homenagem a Bushy Berkeley feita por dançarinos que formam uma suástica. Desvario bem encenado e representado, Primavera para Hitler fica melhor a cada apresentação. AE

Brasil (Urano Filmes) 92 min. P&B idioma: português Direção: Rogério Sganzerla Roteiro: Rogério Sganzerla Fotografia: Peter Overbeck Edição: Silvio Renoldi Desenho de produção: Andrea Tonacci Elenco: Paulo Villaça, Helena Ignez, Pagano Sobrinho, Luiz Linhares

0 BANDIDO DA LUZ VERMELHA

<1968)

Certa vez, nos anos 90, o júri do Festival de Brasília criou um prêmio esdrúxulo de "melhor colagem antropofáglca". Deviam estar pensando neste clássico de 1968, que só pode ser explicado assim. Para o diretor Rogério Sganzerla, é um "fllme-soma"

faroes-

le, musical, documentário, policial, comédia, ficção científica. O que impressiona é a rapidez e a violei u ia rom que lais gêneros se misturam na lela, a pon tu de o espectador já capta los defotmados, criando a ambiência cacofónica de Terceiro Mundo que Sganzerla desejava. A vertigem se estabelece já nos créditos Iniciais, que piscam num letreiro de cinema, Integrados à colagem de Imagens da vida urbana pelas quais transita o ladrão, vivido por Paulo Villaça, enquanto ouvimos ao fundo a narração de um programa sensacionalista de rádio. Em 1968 o nome disso era cinema marginal, alcunha adotada por dlretotes como Sganzerla e Júlio Bressane para se distanciai do engajamento político do cinema novo (ainda que o ressentimento social pingue aqui pelos cantos, como no grito emblemático do pregador: "O Terceiro Mundo vai explodir! Quem tiver de sapato não sobra!"). Hoje, imagens fragmentadas e uso irônico da música são largamente utilizados até em clipes musicais e filmes publicitários. Mas o fim apocalíptico cm que se chocam rock, samba, discos voadores, candomblé e a dinâmica do cinema policial ainda é feroz. JBi


VI KGONHA (1968) (HKAMMEN) fûmes que Ingmar Bergman realizou nos últimos anos da década de 60 mi Sydow e Liv Ulmann, na sua querida ilha de Faroe, Vergonha talvez seja o que Bergman, ao reconsiderar a obra no livro Imagens: Minha vida cm filme, I ri ficado muito feliz com ele. Sentia que o roteiro era irregular, resultando •I

Suécia (AB, Svensk) 103 min. PWt Idioma: sueco Direção: Ingmar Bergman Produção: Lars-Owe Carlberg Roteiro: Ingmar Bergman Fotografia: Sven Nykvist Elenco: Liv Ullmann, Max von Sydow,

I |)i Imeira parte fraca e uma segunda parte melhor. Também sentia que talvez

sigge Fürst, Cunnar Björnstrand,

lo ambicioso demais em sua tentativa de descrever a guerra. Tal avaliação

Birgitta Valberg, Hans Alfredson,

' l o . a demais. Este estudo sobre os devastadores efeitos da guerra sobre um ir dos relatos mais persuasivos sobre um relacionamento transformado por Ih '

lu- as quais há pouco ou nenhum controle. Bergman pode não ter tido os Hollywood para encenar destruição espetacular e carnificina, mas com-

Ingvar Kjellson, Frank Sundström, Uli Johansson, Vllgot Sjöman, Bengt Eklund, Costa Prüzelius, Willy Peter», Barbro Hiort af Ornäs, Agda Helln

llmitações materiais com ousadia, segurança e convicção no seu drama e ide de suas observações psicológicas, emocionais e sociais, e Von Sydow interpretam um casal cujo • ' I ' lormado pela fraqueza e complacência, mas ay.ue se manter unido. Porém, quando a les I onseguem ignorar por um tempo fi I' iparece na sua porta, os dois são forçados a "'

sinos e seu relacionamento com uma nova e cruel. A violência, morte e trai-

I ! dm deles são ao mesmo tempo arbitrárias e ma', lalvez menos do que essas revela• m i imas e mais chocantes. Tudo como cos" i i i e i nos corrosivos dramas de câmara de aqui esses elementos ganham força i.iis amplo de um mundo cm conflito. M I d e wen Nykvist em preto-e-branco é .enipre, eloqüente nos closes de rosei n i " ' , que mostram tanques em movlmenquelmadas e paisagens destruídas. Junto • Mipeiilio

dos atores, honra a concepção

'I de heigman. Os dois protagonistas estão ena merecidamente famosa em que ' "In

hieve momento de felicidade do-

preoi upação antes que o conflito atinja "li

Mas há também Cunnar Bjórnstrand I " hem lelacionado que os ajuda só para

n i posição privilegiada mais tarde. Som11• I- >..111it-rite belo e ainda assustadora-

lllf.

I.

Mlle

CA

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Inglaterra (M G M, Polaris) 141 min. Metrocolor Idiomas: inglês / russo Direção: Stanley Kubrick Produção: Stanley Kubrick Roteiro: Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke, baseado no conto "A sentinela", de Arthur C. Clarke Fotografia: Geoffrey Unsworlh Música: Aram Khatchaturyan, Gyõrgy Ligeti, Richard Strauss, Johann

2001, UMA ODISSEIA NO ESPAÇO mm (2001, A SPACE ODISSEY) Um artefato de evidente origem extraterrestre detona e monitora estágios ctuciais na jornada do homem, de macaco até explorador das estrelas. No alvorecer da idade do homem,

um misterioso monólito é o catalisador de um salto evolucionário entre os

primatas, de coletores e necrófagos a caçadores armados c assassinos. Milénios mais tarde, um monólito descoberto por geólogos em serviço na Lua emite alarmantes sinais de ondas curtas na direção de Júpiter. Uma expedição para investigar (comandada de forma impassível por Kelr 0'Dullea e Cary Lockwood enquanto os especialistas dormem em animação suspensa) é sabotada pelo computador da espaçonavc Discovery,

Strauss

HAI (dublado por Douglas Kain), que está psicologicamente perturbado. Bowman

Elenco: Keîr Dullea, Gary Lockwood, William Sylvester, Daniel Rich ter, Leonard Rossiter, Margaret Tyzack, Robert Beatty, Scan Sullivan, Douglas Rain, Frank Miller, Bill Weston, l d Bishop, Glenn Beck, Alan Gifford, Ann Gillis

(Dullea), o astronauta sobrevivente, faz contato com otitto monólito na órbita de Júpi-

Oscar: Stanley Kubrick (efeitos especiais visuais)

Indicação ao Oscar: Stanley Kubrick (direção), Stanley Kubrick, Arthur C. Clarke (roteiro) Anthony Masters, Harry Lange, Ernest Archer (direção de arte)

ter, atravessa com ele um portal "cheio de estrelas" attavés do tempo e do espaço, para envelhecer, morrer e renascer em uma nova fase da existência. Esse é o resumo de um filme que desenvolveu sua reputação por ser difícil de compreender. Com ampla repercussão, mas ainda único, friamente distanciado, obsessivo, pre tensioso, confuso e para sempre fascinante, 2001 é tudo isso e mais. Certamente desviou se ila íi 111

111.10

dei I.nada de Stanley Kubiick de Ia/ei um "bom e típico filme de

ficção científica" a paitir do Intrigante conto de Arthur C. Clarke (co-autor do roteiro) "A sentinela". O filme des.iíia as convenções de género e difere de qualquer outra obra de ficção científica feita anteriormente. Do ponto de vista visual, 2001 é inegavelmente Incrível. Efeitos especiais revolucionários, que mereceram o Oscar (projetados pelo exigente Kubrlck, supervisionados pelo pioneiro Douglas Trumbull), oferecem uma adml r.ivel mistura de imaginação e ciem ia. h.ib.ilho de míniii a meticuloso e a melhor maquiagem disponível na epoi .1 iriam, 110 primeiro dos quatro atos do filme, a mais perfeita representação de macacos por seres humanos já vista na época (c ainda muito eficiente, embora superada pela 1 ilação de John (bambeis em O plnnetn dos macacos, de

1968).

A película está repleta de Imagens inesquecíveis: o inesperado e atordoante

corte de um osso empunhado por um homem-macaco e jogado para o alto até se transformar em um satélite: o alinhamento do Sol e da Lua diretamente na beirada do monólito, a valsa orbital na estação espacial e o pouso de uma nave espacial; o habitat circular da tripulação do Discoveiy (que se tornou realidade em escala mais reduzida dentto do programa do ônibus espacial da NASA). O som é igualmente rico, com música coral experimental, temas clássicos ("Assim falou Zaratustra", de Richard Sttattss, e a valsa "Danúbio azul", de Johann Strauss) que estão eternamente associados ao filme e pílulas de diálogo minimalista ("Abra as portas de entrada das cápsulas espaciais, Hal") que costumam citar uma ampla gama de homenagens c referências culturais. 2001 pode ser considerado uma aventura misteriosa, um sermão, uma visão, a ser apreciada compreensivamente como uma tremenda viagem pelos hippies dos tempos psicodé licos, mas, mesmo considerado apenas como um espetáculo marcante, é insuperável, exigindo ser visto em tela grande para ser apreciado em toda a sua extensão. Suas fraque zas - absttação exagerada e uma narrativa deficiente de uma especulação mal articulada, mal resolvida sobre as origens e o destino da vida humana - são mais do que compensadas pelo relacionamento arrebatadot entre homem e máquina, seu despojamento visual e setenidade e, acima de tudo, a rapsódica exaltação do céu, da Terra e do infinito. AE 492


A HORA DO LOBO mm (VARGTIMMEN) O roteiro original, escrito em 1964, era intitulado Os canibais c foi concebido para ser um filme caro e monumental. Devido a uma crise de pneumonia e à decisão subse quente, durante a convalescença no hospital, de fazer Persono, um projeto de baixo orçamento, o roteirista e diretor Ingmar Bergman retrabalhou o argumento para que este se tornasse uma obra complementar, numa escala menor do que aquela original mente pretendida. Em A hora do lobo, o tormento espiritual do artista não é retratado como um enigma que vem do mundo exterior, como acontece cm Persono, mas é representado diretamente do ponto de vista interior do artista, pela encenação tios textos de seu diário. Claramente Inspirado pelos escritos pouco convencionais de E. T. A. Hoffmann - até mesmo nos nomes dos personagens -, este é um filme de completo horror sobre um artista sensível (embora não muito simpático) feito espiritualmente em pedaços Suécia (Svensk) 8o min. P&B idioma: sueco Direção: ingmar Bergman Produção: Lars-Owe Carlberg Roteiro: Ingmar Bergman Fotografia: Sven Nykvlsl Música: Lars Johan Werle Elenco: Max von Sydow, Liv Ullniann. Gertrud Fridh, Georg Rydebcrg, Erland Josephson, Nalma Wifstrand, Ulf Johansson, Gudrun Brost, Bertil Anderberg, Ingrid Thulin

por seus críticos demoníacos c pela platéia. Aqui ressurge a metáfora vampiresca usada em Persono, onde a enfermeira Alma (Bibi Andersson) sonha que a atriz Elisabet Vogler (Liv Ulmann) suga seu sangue. Em A hora do lobo, o pintor Johan Borg (Max vou Sydow} eni ara seus benfeitores lenda Is e burgueses no castelo do Barão von Mcrken (Erland Josephson) como mortos-vlvos, criaturas da noite com uma necessidade vampiresca cie se tom,nem predadores de um artista. Para sua diversão sádica, cie é convidado a uma festa apenas para ser tratado como um bobo da corte. Suas pretensões de liberdade artísticas são abertamente ironizadas enquan to os algozes apresentam uma versão do teatro de bonecos para "A flauta mágica", de Mozart (que mais tarde seria encenada e filmada por Bergman), e então elogiam a obra como um produto, sugerindo que seu valor deriva do fato de ter sido uma obra feita sob encomenda. A humilhação final acontece na cena em que Johan se descobre utilizando uma maquiagem de palhaço, feminina c recebe provocações de sua amante Verônica Vogler (Ingrld Thulin) enquanto seus algozes observam no escuro dando risadas. I nu cl,

IScigman lambem sugeie epie |ohan nao merece confiança enquanto

narrador. Seus algozes possuem qualidades sobrenaturais e um conhecimento incomum de sua psique que, em última instância, se revelam como projeções das forças destrutivas no interior do artista. Isso torna o filme mais uma variação de um tema recorrente na obra de Bergman vinculado ao relacionamento predatório entre o artista e a plateia. MT


NA

MIRA DA MORTE (1968)

•ARGETS)

,i que Peter Bogdanovich conseguiu a chance de dirigir quando o produ

I irman percebeu que Bóris KarloiT ainda lhe devia dois dias de filmagem. Fie i"

'rca de 20 minutos de sobras do filme O terror (1963), que mandou

i' li iilllizar. Mas, ao invés de alguma coisa vagamente inspirada cm Edgar |in' 1 orman esperava, Bogdanovich apareceu com um brilhante roteiro origiII de lalo, interpreta a si mesmo (o personagem é um antigo astro dos filmes • himado Byron Otlok), e Bogdanovich também atua como um jovem e bem lo diretor que tenta convence lo a uma última atuação. a r entrecortada de uma história paralela em que um jovem aparentemente |di P.obby Thompson (Tim 0'Kclly), assassina sua esposa e a mãe e em seguida 1

I

' i i e de tiros ao acaso, primeiro do alto de uma torre de caixa-d'água a estrada e depois atrás da tela de um cinema drive-in onde Orlok está

EUA (Saticoy) 90 min. Pathécolor Idioma: Inglês Direção: Peter Bogdanovich Produção: Peter Bogdanovich, Daniel Selznlck Roteiro: Polly Piatt, Peter Bogdanovich, Orson Welles Fotografia: László Kovács Elenco: Tim O'Kelly, Boris Karloff, Arthur Peterson, Monte Landis, Nancy Hsueh, Peter Bogdanovich, Daniel Ades, Stafford Morgan, James Brown, Mary Jackson, Tanya Morgan. Timothy Burns, Warren White, Mark Dennis, Sandy Baron

nua aparição como convidado de honra (e é aqui que Bogdanovich trabalha com " i de 1) rerror, incluindo tomadas que mostram um jovem Jack Nicliolson). '•1 dii iim/leé o equivalente americano os filmes da nouvelle vague francesa feitos 11 I H François Truffaute Claude Chabrol. Como os dois, Bogdanovich também • ensaísta de cinema. Seu filme apresenta referências diretas ou sublimlna-

rtm/noi

í ode, de Howard Hawks (filme de 1931 estrelado por Karloff), A marca da

de 1 Hson Welles, e Psicose (1960), de Alfred Hltchcock. A estética pós moder Mil' .1 auto-reflexão presente no filme. "Sou um anacronismo", diz Orlok. "O ti| i i e t'u faço não é mais horror." Baseado obviamente no franco-atirador da 1 1 harles Whitman, um ex-fuzllelro que assassinou a mãe e depois atirou em 1"'. em 1966, Thompson é bem-apessoado, "um garoto normal e saudável"

1

i h um fascínio por armas. Carrega consigo, na traseira do seu carro, um ll (> liline brinca com essa mesma fixação, pondo a câmera atrás da linha de impion, lomo se perguntasse, como Harry Lime (Orson Welles) em O terceiro ' ia ' I quanto realmente nos importamos com aqueles pontinhos na distância. il 1

11 ivo e montado com inteligência, Na mira da morte é um instantâneo a America a ponto de entrar em uma nova e violenta era. T C h • in'



EUA {Image Ten, Laurel, Market Square) 96 min. P&B Idioma: inglês Direção: George A. Romero Produção: Karl Hardman, Russell Streiner, Karen L. Wolf Roteiro: George A. Romero, John A. Russo Fotografia: George A. Romero Música: Scott Vladimir Licina Elenco: Duane Jones, Judith O'Dea, Karl Hardman, Marilyn Eastman, Keith Wayne, Judith Ridley, Kyra Schon, Charles Craig, S. Willi.1111 Hlnzman, George Kosana, Frank Doak, Bill Cardille, A.C. McDonald, Samuel R. Sollto, Mark Riccl

A NOITE DOS MORTOS VIVOS (1968) ( N I G H T O F THE LIVING DEAD) Parece ser uma produção barata e no início dá a impressão de que vai se transformar numa comédia. Irmão e Irmã visitam a sepultura da mãe. A certa altura, o irmão tenta lhe dat um grande susto, fingindo ser um fantasma querendo pegada. Minutos depois, contudo, ele é morto c a irmã se tranca dentto de uma casa de fazenda, junto com diversas outras pessoas, enquanto são atacados pot uma multidão de zumbis recémsaídos das tumbas, desprovidos de qualquer pensamento a não ser o desejo de comer carne humana. Aos poucos, por meio das transmissões de emergência no rádio e na televisão, os refugiados começam a compreender o que está acontecendo. Os cadáveres estão se levantando por todo o país, talvez por todo o mundo, e atacando os vivos para comer a sua carne. Surgem discussões entre os heróis enquanto decidem como proceder. Devem tentar fugir ou, em vez disso, manter sua posição c esperar por uma ajuda que talvez nunca chegue? Quem deve assumir o comando e dar as ordens: o negro calmo e racional ou o chefe de família impulsivo? O número de mortos vivos não pára de crescer e a casa de fazenda talvez não agüente muito tempo: é preciso tomar alguma medida drástica. Logo todas as cartas estão na mesa. Cada vislumbre de esperança e expectativa que poderíamos ter ao longo da história é minado por uma decisão incorreta, má sorte ou uma guinada cruel do destino. O que testa é apenas horror e desespero. Este foi o filme de terror que definiu um novo padrão para o gênero na segunda metade do século XX, deslocando as narrativas das antiquadas convenções góticas do passado c trazendo-as para a luz fria e impiedosa do presente. A noite dos mortos vivos, um clássico de George Romero, com seu estilo seco, quase documental, aborda questões que preocupavam os norte-americanos no final dos anos 6o: distúrbios civis, racismo, o colapso do núcleo familiar, o medo das massas e o próprio Dia do Juízo Final. Tudo é incerto e o bem nem sempre triunfa. Pela primeira vez, um filme de terror refletiu o sentimento de preocupação que permeava a sociedade da época sem oferecer qualquer conforto ou segurança. Em


França (FFD, Pléiade, Deux Mondes, Carrosse, Losange, Guévllle, Renn, Slmar, 5FP, Two World) 110 min. P&B Idioma: francês Direção: Eric Rofimer Produção: Pierre Cottrell, Barbet Schroeder Roteiro: Eric Rohmer Fotografia: Nestor Almcndros

MINHA NOITE COM ELA (IWJ) (MA IMUIT CHEZ MAUD) Minha noite com ela, o teiceiro dos seis "Contos moials" de Eric Rohmer, e muitas vezes considerado o melhor deles, transcorre durante alguns dias de inverno na cidade pro vincial de Clcrmont, na França. Jean-LouisTrintignant interpreta um engenheiro, jesuíl.i praticante, que decide casar-se com uma estudante, Françoise (Marie Christine Barrault). que viu numa missa mas nunca encontrou. Poi sorte, ele se depara com um velho amigo de escola (Antoine Vitez) que o leva ao apartamento de Maud (Françoise Fabian), uma

Elenco: Jean-Louis Trintlgnant,

médica divorciada, divertida e inteligente. Durante uma longa convcisa que constitui n

Françoise Fabian, Marie-Christine

ponto central do filme, o herói e Maud descobrem suas afinidades mútuas.

Barrault, Antoine Vitez, Léonlde Kogan, Guy Léger, Anne Duhol Indicação ao Oscar: França (melhor filme estrangeiro), Eric Rohmer (roteiro) Festival de Cannes: I rlc Rohmer, indicação (Palma de Ouro)

Não há otitto diretot em cuja obra o lugar e a estação sejam mais importantes. Em Min/iri noite com ela, a neve caindo aumenta o fiio na longa cena do apartamento de Maud, fornecendo um pictexto para que o herói passe a noite lá, c mais tarde também permiti* que encontie a estudante e passe a noite com ela. A complexidade do filme e sua angústia se devem tanto à fotografia em preto-e branco de Nestor Almondros, com sua ampla variedade de tons sutis, quanto ao diálogo vigoroso e brilhante. Uma atmos fera de détente constrangedora prevalece, emotivamente vinculada à agiadável aliena tao ilo hetoi. Apes.it da glande empatia de Trintlgnant (em uma de suas melhores atuações), o roteiio nau se inclina paia o lado do herói e ie< ebe as suas decisões com uma tristeza que o espectadoi levai,i consigo muito depois de tenninaclo u filme. CFu

Cuba (ICAIC) 160 min. P&B Idioma: espanhol Direção: Humberto Solas Roteiro: Julio Garcia Espinosa, Nelson Rodriguez, Humberto Solas Fotografia: Jorge Herrero Elenco: Raquel Revuelta, Esllncla Núhez, Adela Lcgrá, Eduardo Moure, Ramon Brito, Adolfo Llauradó, Idália

LUCIA (1969) Lucía, de Humberto Solas, é sem dúvida alguma uma das obras mais significativas do cinema cubano moderno e pós-revolucionário. Pode-se dizer, em vários sentidos, que oferece uma espécie de somatório de muitos dos princípios centtais do cinema de sua decida

Issa inistui.i aiiebat.icloia de estilos e tons é em paite sustentada

pell

estrutura do filme, composta pot três partes, acompanhando o destino - eas histórias de amoi

de lies petsonagens < llamadas lucia em momentos lundamentais da

história cubana "moderna".

Anreus, Silvia Planas, Flora Lauten,

De uma perspectiva contemporânea, o aspecto mais notável de Lucía é a sua

Rogelio Blain, Maria Elena Molinet,

capacidade de transitar dinamicamente entre vários modos de fazer cinema e apresen

Aramis Delgado, Teté Vergara, Flávio Calderín

tar quadros fantásticos de Igual beleza c honor. Nesse aspecto, o segmento que abte o filme é provavelmente o mais comentado e o mais lembrado. Especificamente, as seqüências de batalha

apresentando cavaleiros negros nus massacrando tropas do

governo - têm a ferocidade visceral de Badaladas

à meia-noite (1965), de Orson Welles.

Em sua mistura de diversos estilos de atuação, em sua encenação fatalista da história, bem como em seu movimento entre proximidade e distância, dose extremo e plano aberto, pode-se dizer que é similar à obra Igualmente operística de Sergio Leone. Em seu confronto de petspectivas e abordagens, Lucía explora as possibilidades do cinema de elevar a consciência dos espectadores, bem como o vínculo entre o cinema cubano pós-revolucionário e a nouvelle vague da Europa e da América do Sul. AD

498


U M A NU (1969) ii.il do título chinês deste filme é "Uma guerreira" e, ainda assim, não faz a ia. H á um motivo para que Hsia Nu seja considerado uma referência no m* c liiiii". r como uma Pedra de Roseta do wuxa, ou gênero espada-e-magia. A a de forma bastante simples, centrando-se na vida de um erudito ih i hun) que mora em um forte abandonado nos arredores de Pequim, ideu as esperanças de que um dia se case e tenha filhos para continuar a uilll.ir. Ele fica fascinado com Yang (Feng Hsu), uma mulher misteriosa que nesse forte. O lugar é tido como assombrado, e insinuações sobre uma "|,i

i

miasmas

envolvendo a moça vêm à tona. A revelação de que Yang é uma

indo dos assassinos de seus pais dá à história uma dimensão ainda mais i ida na trama abre a narrativa ainda mais e, antes do final, monges i " os com poderes sobrenaturais também são adicionados à mistura. No Is iiadicionais são invertidos: a princesa não é uma mulher tímida e ia exímia esgrimista, altamente treinada, que pode se defender de um Ir. de elite, enquanto o erudito é um rato de biblioteca incapaz de lutar. ih", horas de duração, o ritmo c surpreendentemente energético porque I um Ulme Imprevisível: você está sempre à espera do que irá acontecer em i próxima cena pode mudar todas as suas suposições anteriores, i ii ig. Mu é considerado, com justiça, o pioneiro dos filmes de wuxa, apesar i existir na história do cinema desde os tempos dos filmes mudos. É pie os romances de wuxa já possuíssem um alto grau de riqueza e iii.is foi Hu quem conseguiu transpor esses traços para o cinema, • i um a acrobacia e o esplendor da Ópera de Pequim e fundamentos de Mn (ompreendeu que os filmes sao vivenciados com os sentidos e la do Cinemascope com um redemoinho constante de cores e movi11 ii-i fciçoado sua arte em vários filmes de wuxa anteriores, Hsia Nu é o l É i i a u e i m de Hu. AT

Taiwan (International, Lian Bang, Union) 200 min. Eastmancolor Direção: Kiog Hu Produção: Jung-Feng Sha, Slilqing Yang Roteiro: King Hu, Songling Pu Fotografia: Yeh-hslng Chou, Hul ylng Hua Música: lai Kong Ng, Dajlang Wu Elenco: Billy Chan, Ping-Yu Chang, Roy Chiao, Shih Chun, Hsue Han, Yin-Chleh Han, Feng Hsu, Ching-Ying Lam, Tien Miao, Hong Qiao, Peng Tien, Cien Tsao, Pai Ying Festival de Cannes: King Hu (grande prêmio técnico), indicação (Palma de Ouro)

.pri


BUTCH CASSIDY

(1969)

(BUTCH C A S S I D Y AND THE S U N D A N C E KID) "Como assim, não sabe nadar? A própria queda já vai te matar!" A clássica parceria de Paul Newman e Robert Redford foi tão mágica - e tão lucrativa, marcando o maior sucesso do ano - que esta comédia de ação com jeitão de faroeste, imersa nos matizes sépia da fotografia de Conrad Hall premiada com o Oscar, tornou-se um marco dos filmes de brigas entre amigos. Os fora-da-lei Butch (Paul Newman) e The Kid (Robert Redford) pertencem ao notório bando Hole in the Wall, mas um roubo de trem multo bem-sucedido torna as coisas mais difíceis, e uma perseguição Incansável faz com que Butch repita várias vezes a pergunta que se tornou um bordão: "Quem SÀO esses caras?" A perseguição também leva os dois a decidirem recomeçar sua carreira de crimes fora dos Estados Unidos com a amante de The Kid, Etta Placc (Katharlne Ross), ao lado deles. O famoso último ato tem a sua parte memorável de humor, enquanto ele pratica a frase "Isto é um assalto; de costas para a parede!" em espanhol, almejando tornar-se a escória dos bandidos na Bolívia. Mas o que torna o filme imortal é a imagem congelada da dupla, no fim, correndo para atacar todo um exército num tiroteio. Butch Cassidy é uma combinação absolutamente irresistível de um roteiro intellEUA (Fox, Campanile) no min. P&B

genle e original, um Irei o Uai amento visual e o podei das esl relas de cinema. Além de

(Sepiatone) Cor

todas as piadas c poses, o filme mantém um interesse real em torno dos personagens

Idiomas: espanhol / inglês Direção: George Roy I lili Produção: John Foreman Roteiro: William Goldman Fotografia: Conrad L Hall Música: Burt Bacharach

bem definidos c contrastantes. Butch, o cérebro, é bom de papo e possui visão, levado por seu entusiasmo. The Kid é um cara popular que tem algo obscuro dentro de si, cool e cínico, Incapaz de admitir qualquer fraqueza. t) lotelro premiado de William Goldman é empolgante, divei titio e romântico, dlslet.iinenle sal it zando e se apiopiiando de uma lenda do faroeste (i lai o que os verda

Elenco: Paul Newman, Robert

deiros Butch e Sundance estavam longe de ser as figuras encantadoras c carismáticas

Redford, Katharine Ross, Strother

de Newman e Redford). Também possui alguma audácia, como quando The Kid aborda

Martin, Henry Jones, Jeff Corey, George Furth, Cloris Leachman, Ted Cassidy, Kenneth Mars, Donnelly Rhodes, Jody Gilbert, Timothy Scott, Don Keefer, Charles Dierkop Oscar: William Goldman (roteiro), Conrad L. Hall (fotografia), Burt Bacharach (música), Burt Bacharach, Hal David (canção) Indicação ao Oscar: John Foreman (melhor filme), George Roy Hill (diretor), William E. Edmondson, David Dockendorf (som)

"a professora" Etta e ordena que ela tire a roupa sob a mira da arma. Depois do choque inicial, é um alívio imenso c uma reviravolta divertida quando fica claro que os dois já se conhecem bem. O interlúdio com a canção de Burt Bacharach "Raindrops Keep Falllng on My Hcad" é o único elemento datado. Não há outro filme tão atraente e agradável quanto este. AE


IM KDIDOS NA NOITE (1969)

EUA (t lorim, Jerome Hellman)

(MIDNIGHT COWBOY)

113 min. Cor

NDO aqui!" O texano Joe Buck (Jon Voight, em uma atuação espetacular) ' i s iva York-ao som da lamurlosa canção "Everybody's Talkin At Me", Interpreta I tu i y Nllsson - acreditando que mulheres ricas estai ao ansiosas paia pagai um lio ele para fazer sexo (o título original do filme é uma gíria americana para D do programa"). O seu progresso tragicõmicode recém chegado ingênuo éacentuaii ks tristes, perturbadores, cm particular uma agressão terrível contia Joe c lazy Annie, interpretada por Jennifer, filha do roteirista Waldo Salt. O "desen' M i . i rir sua cattelta" em Nova Yotk consiste em uma seqiiciii i.i de etiinniins -.. sobretudo um com Sylvia Miles. .p.'Pui ido c solitário, Joe se junta ao vigarista inválido e autodesttutivo Enrico i

11 (I iitstin Hoffman, num convini ente desempenho como uni "malandro das i ouvida a compartilhar o seu refúgio. As expectativas de Joe diminuem i fracassos se acumulam, enquanto, por outro lado, a piora na condição física

• il i • i oi ii que seus sonhos de uma nova vida na Flórida aumentem. Embota o filme •rja chamado de cáustico e descspeiaiiçoso, a obi.i Irala, em última sperança. Esse ponto de vista é justificado pelo fato de Joe abandonar sua Igi .lo justamente quando parece possível atingi-la, em troca de uma relação iiiiiii.inu. Schleslngertrouxe um agudo olhar britânico à sua estréia americana, In uma vitalidade rude na cidade que acentuou o Isolamento desesperado dos As lilmagens em locações reais realçaram a verossimilhança subjacente. 1'iilea escolha mais audaz já feita para um Oscar, Perdidos na noite é o único fil ai. i.l

mo " X " (maiores de 17 anos) nos Estados Unidos a ter ganho o Oscar de filme também ganhou prêmios pela melhor direção c pela adaptação que

Idioma: inglês Direção: John Schlesinger Produção: Jerome Hellman, Kenneth Utt Roteiro: Waldo Salt, baseado no livre de James Leo Herlihy Fotografia: Adam Holender Música: John Barry, Floyd Huddleston, Fred Neil Elenco: Dustin Hoffmanjon Voight

Sylvia Miles, John McGiver, Brenda Vaccaro, Barnard Hughes, Rutil White, Jennifer Salt,

Cllman Rankin, Gary Owens,

T. Tom Marlow, George Eppersen, AI Scott, Linda Davis, J . T. Masters Oscar: Jerome Hellman (melhor filme), John Schlesinger (diretor), Waldo Salt (roteiro) Indicação ao Oscar: Dustin Hoffman (ator), Jon Voight (ator), Sylvia Miles (attlz coadjuvante),

Hugh A. Robertson (edição)

Festival de Berlim: John Schlesinget (Prêmio OCIC), indicação (Urso de Ouro)

> tli Leo Herlihy. Tais distinções fizeram com que sua classificação fosse repcnde abordar temas difíceis para a época, como homossexualidade e prostitui.11 11.nulo filme foi alterada para "R" (menores de 17 anos somente acompanhanerclal comprova que o público estava pronto para abraçar a sua maturi111 in. no e a emotividade de suas atuações. Apesar das referências visuais do Ins anos 60

bastante óbvias na seqüência da festa dos amigos de Warhol - a

ilngei nas relações, e não no estilo, perdura e continua a nos tocar. AE .in



Itália / França (PEA) 138 min. Technicolor idioma: italiano Direção: Federico Felllnl Produção: Alberto Grimaldi Roteiro: Federico Fellini, Brunello Rondi, Bernardino Zapponi, baseado

SATYRICON

(1969)

A popularidade dos filmes de arte europeus junto ao público americano começou com o filmes neo-realistas italianos da década de 40 e se ampliou com as obras engajadas visionárias do sucessor mais influente daquele movimento, Federico Fellini. Mai famoso, talvez, por suas produções que investigaram os hábitos e dificuldades da sociedade contemporânea - assim como outros na indústria cinematográfica italiana

no livro de Petrônio

o diretor demonstrou interesse por reconstruções históricas. Satyricon é uma reinvenção

Fotografia: Giuseppe Rotunno

épica de um texto de Petrônio sobre a vida no tempo de Nero. O filme "espaçoso" de

Música: Tod Dockstader, llhan Mimaroglu, Nino Rota, Andrew Rudln Elenco: Martin Potter, Hiram Keller, Max Born, Salvo Randone, Mario Romagnoli, Magali Noel, Capudne, Alain Cuny, Fanfulla, Danica La Loggia, Giuseppe Sanvitale, Genius, Lúcia Bosé, Joseph Wheeler, Hylette Adolphe indicação ao Oscar: Federico Felllnl (diretor)

Fellini (a ação se desdobra cm diversas partes do mundo romano) foi um êxito imediato de público nos cinemas de arte. As cenas chocantes de decadência, atos grotescos humor negro mereceram uma classificação R no sistema de avaliação que havia si recentemente implantado nos Estados Unidos, aproveitando se da nova liberdade expressão propiciada pelo fim do Código de Produção, o sistema de classificação anteri Ao mesmo tempo um retrato bastante fiel da Roma antiga, na tradição dos filme históricos Italianos, c uma remissão à revolução sexual da década de 60, Satyricon te muito em comum com os primeiros filmes do diretor, cm particular A doce vida (196 Contudo, vários críticos acharam que ele não possuía a abordagem intelectualizada as estilizações significativas dos filmes anteriores de Fellini. Certamente a ênfase e nudez e sexo foi um atrativo para determinados segmentos do público de "cinema arte" do período. Seguindo de perto as características fragmentárias da narrativa orí nal, Fellini criou 25 episódios distintos, unidos muito superficialmente pela presença jovem e cínico Encolpio (Martin Pottcr), Como Odisseu, Encolpio se vê levado por u série contínua de aventuras que beiram a morto e o desastre, mas das quais sempr consegue escapar. A amizade de Encolpio c Ascllto (Ellram Keller) e a atração mútua por um bel jovem escravo (Max Bom) são colocadas no centro do filme, cujas guinadas e rev voltas são muitas vezes difíceis de seguir. Uma coisa é certa, contudo: Encolpio, ass como o espectador, tem grande dificuldade em entender a moral e o comportamen de muitas das personagens estranhas que encontra. O filme é cheio de seqüênci memoráveis: um bordel cheio de clientes c prostitutas obesos, sacrifícios de anima com rios de sangue, um terremoto que derruba o edifício onde Encolpio esta hospedado, uma ninfomaníaca encontrada no deserto a quem Encolpi deve satisfazer, um encontro com um minotauro aventura de lescu

como na famosa

e a riqueza impressionante da festa de Trimalquíão

(Mario Romagnoli), cujos hóspedes, dentro do espírito dos "novos-ric exibem uma vulgaridade assombrosa. Na tradição picaresca, Satyricon não termina com o rcstabeleclme da ordem social, mas com a partida do herói para novas aventuras, comentário, talvez (como encontramos em outras obras de Fellini), s o hedonismo e o materialismo irrefreáveis da sociedade moderna, o fil é mais memorável como um festim de imagens surpreendentes, ou ai mesmo chocantes, com rimas visuais e temas repetidos que impõem uma espécie de unidade ao fluxo contínuo. Lançado em 1972, Roma de Fellini é uma espécie de continuação, mas foi incapaz de recapturar ,1 magia estranha e cativante do original. RBP

502


Argélia / França (Office National pour le Commerce et l'Industrie Cinématographique, Reggane, Valoria) 127 min. Eastmancolor Idioma: francês

Z (1969) O drama político em ritmo acelerado de Costa-Gavras confirmou a alta cotação do dltetor na comunidade internacional de cinema, ao mesmo tempo que chamou atenção para as questões por que passava o regime democrático grego, dissolvido após o

Direção: Costa-Gavras

terrível assassinato do professor c legislador de tendências esquerdistas Gregorios

Produção: Jacques Perrin, Ahmed

Lambrakls, cm Salónica, em 1963.

Rachedi, Eric Schlumbergcr, Philippe

Embora Z seja falado em francês e seus atores sejam majorltariamcnte franceses,

il'Argila

Costa-Gavras (um emigrante grego) baseou-se na narrativa ficcional escrita pot Vassllis

Roteiro: Jorge Semprún, baseado no

Vassilikos sobre o caso Lambrakis. Quando um político liberal (Yves Montand) é

livro de Vassills Vassllikos Fotografia: Raoul Coutard Música: Mikis Theodorakis Elenco: Yves Montand, Irene Papas, Jean-Louis Trintignant, Jacques Perrin, Charles Denner, François Périer, Pierre Dux, Georges Géret,

brutalmente assassinado após um discurso durante uma manifestação de paz, a investigação traz à tona uma tede de corrupção que ameaça derrubar todo o aparato militar. O sentimento de ansiedade e ampliado pelas técnicas de edição descontínuas, em staccato, usadas pelo diretor e equilibradas pela fotografia aguda de Raotil Coutard. Nas palavras de Pauline Kael, "Z é quase insuportavelmente instigante - um thriller político que gera tanta tensão que você provavelmente se sentirá com um nó na gar-

Bernard Fresson, Marcel Bozzuffl,

ganta quando tiver acabado". Além de suas realizações estilísticas, o filme conta com

Julien Guiomar, Magali Noël, Renato

atuações perfeitas de Jean-Louls Trintignant, como o magistrado responsável pela

Salvatori, Habib Reda, Clotilde Joano Oscar: Argélia (melhor filme estrangeiro), Françoise Bonnot (edição) Indicação ao Oscar: Jacques Perini,

Ahmed Rachedi (melhor filme), Costa-Gavras (diretor), Jorge

Semprún, Costa-Gavras (roteiro) Festival de Cannes: Jean-Louis Trintignant (ator),

Costa-Gavras (prêmio do júri), indicação (Palma de Ouro)

investigação, c de Irene Papas, como a esposa de Montand. SJS


O CONFORMISTA (iges)

Itália / França / Alemanha Ocidcni.il (Maran, Marianne, Mars) 115 min

(IL CONFORMISTA) " i

ii i i I n

do filme de Bernardo Bertoluccl refere-se a Marcello Clerici (Jean-Louis Trintig-

i|iie prontamente abraça o governo fascista de Mussolini. Ele se junta à polícia i' começa uma nova vida, inclusive com uma nova esposa (Stefania Sandrelll). M.r, sua lua-de-mel está ligada a motivos escusos: ele deve assassinar um velho ii universitário (Enzo Tatascio), líder do movimento antifascista. Contudo, nosii In i' ii começa a tet dúvidas sobre a validade de sua missão, provocadas em parte por

Idioma: italiano Direção: Bernardo Bertoluccl Produção: Giovanni Bertoluccl, Maurizio Lodi-Fe Roteiro: Bernardo Bertolucci, baseado no livro de Alberto Moi.ivi.i Fotografia: Vittorio Storaro

is de Infância reprimidas. Há algum outto filme que contradiga tão completamente scti título como O misto? O filme de Bertoluccl não pode set mais imodcsto em seu uso audacioso lio: a confotmidade parece ser o elemento mais distante da sua intenção. A n.ii i o i i I M O é linear, pulando para a frente e pata trás ao longo do tempo, com flashbacks (mu ii.ii,ar um rettato mais detalhado do complexo protagonista de Trintignant. Ainda ilidis ini|iii'sslonante é a fotografia sublime de Vittotio Storaro. O conformista faz um ' bom de cor, colocação de câmera c design que a natrativa muitas vezes parece

Música: Georges Delerue Elenco: Jean-fouis Trintignant, Stefania Sandrelli, Gastone Moschlu, Enzo Tarasclo, Fosco Giachettl, José Quaglio, Dominique Sanda, Pierre Clementi, Yvonne Sanson, Giuseppe Addobbati, Christian Allgny, Catlo Gaddi, Umberto Silvestri, Furlo Pelleranl

lUlneivIente às imagens. ' olírio para os olhos dos apreciadores de bom cinema

Technicolor

assassinos disfarça-

do-, i ini iiga política nunca pareceram tâo elegantes. Ainda assim, neste filme a políti1 1 ii a inteiramente relegada a segundo plano: trata-se, afinal de contas, de uma

Indicação ao Oscar: Bernardo Bertolucci (roteiro) Festival de Berlim: Bernardo Bertolucci (Prêmio Interfilme),

i ii usação contta os colaboradores fascistas. Trintignant é representado como

(prêmio especial dos jornalistas),

uldoi sem força de vontade que acaba pagando o preço por basear a sua vida

Indicação (Urso de Ouro)

li ções radicais (e errôneas) dos outros. i.imente, Bertolucci realmente encobre a narrativa com uma dose de pslcoliivldosa. O comportamento de Trintignant parece estar ligado a um encontro i sua infância, um vínculo literal entre i' sexo que se encontraria na raiz de .li i |o pela ordem. É como se a sua decisão ii le ao partido fascista de algum modo m u homossexualismo. Assim como i . olsas no filme, a psicanálise é em graniperficial e Introduz pouca substâni iHiilucci tira proveito dessa psicoloi induzindo numerosas referências e llmbóllcas, algumas delas óbvias, m tanto - todas, contudo, fascinantes lllaiiiilh.u J K I



EUA (BBS, Columbia, Pando, Raybert) 94 min. Technicolor Idiomas: inglês / espanhol Direção: Dennis Hopper Produção: Peter Fonda, William Hayward, Bert Schneider Roteiro: Peter Fonda, Dennis Hopper,

SEM DESTINO (ism) (EASY RIDER) Sem destino é um daqueles filmes cuja importância vai muito além de seu status como obra de arte. A narrativa não é muito densa. Dois jovens, apelidados de Captain America (Peter Fonda) e Billy (Dennis Hopper), ganham multo dinheiro vendendo drogas que compram ao sul da fronteira com o México. Sentindo-se ricos, decidem realizar uma

Terry Southern

antiga ambição de visitar Nova Orleans durante o Mardi Gras, o maior carnaval ameri-

Fotografia: László Kovács

cano. Compram um par de motocicletas e partem para cruzar o país. Ao longo do

Música: Hoyt Axton, Mars Bonfire,

caminho, passam por alguns ícones célebres do Oeste americano, Incluindo Monument

Roger McCulnn, J i mi Hendrix Elenco: Peter Fonda, Dennis Hopper, Antonio Mendoza, Jack Nicholson, Phil Spector, Mac Mashourian. Warren Finnerty,Tita Colorado, Luke Askew, Luana Anders, Sabrlna Scharf, Robert Walkci Jr., Sandy Wyeth, Robert Ball, Carmen Phillips, Ellie Wood Walker Indicação ao Oscar: Peter Fonda, Dennis Hopper, Terry Southern (roteiro), Jack Nicholson (ator coadjuvante) Festival de Cannes: Dennis Hopper (melhor estréia), Indicação (Palma de Ouro)

Vallcy e Taos Pucblo, e acabam sendo presos. Seu companheiro de cela é um simpático advogado bêbado que os ajuda a sair da cadeia e resolve seguir viagem com eles. Finalmente em Nova Orleans, entram numa viagem de LSD com duas prostitutas em um cemitério e tudo isso leva a um final chocante. Essa narrativa aparentemente sem importância tornou-se um dos filmes mais importantes da geração pós-1968 em l-lollywood, um dos primeiros a colocar a "sociedade alternativa" na tela. Os dois tornaram-se personagens emblemáticos: Hopper com seu rabolo longo, oiulos escuros e colai indígena, Fonda com o seu capacete e motocicleta pintados como a bandeira americana. Há consumo de droga abundante (supostamente entre o elenco c a equipe, bem como no filme em si). Nossos heróis mergulham nus com algumas hlpples amáveis e se dedicam à filosofia alimentada pela maconha, em torno da fogueira, com o seu amigo advogado George. Interpretado porjack Nicholson em seu primeiro grande papel, George é filho de um homem rico que rejeita a sociedade careta, articulando a maior parte do que é visto como a posição ideológica do filme. Na sua visão, o país está arruinado, apavorado com tudo o que nao e convencional: "L realmente difícil ser livre quando você pode ser comprado e vendido no mercado." Sem destino desafiou boa parte da sabedoria convencional de Hollywood. É um filme de e para os jovens (Hopper só tinha 32 anos quando o dirigiu), com a trilha sonora de grandes expoentes da contracultura como Steppenwolf, Jiml Hendrix e Bob Dylan. Nenhum dos atores principais (Nicholson, Hopper e Fonda) era uma grande estrela. A narrativa é tão liberal quanto os personagens. Não há uma história de amor convencional e o filme tem um final brutal e infeliz. Feito com um orçamento muito pequeno, foi um enorme êxito de bilheteria. Ajudou a abrir o caminho para obras que desafiaram as convenções de Hollywood, inclusive novos filmes para exibir o talento de Nicholson, como Cada um vive como quer e O dia dos loucos. Algum tempo depois houve uma forte discordância sobre quem fez exatamente o quê no filme. Hopper reivindicou que a concepção havia sido sua, não só como diretor e ator principal mas também, de acordo com cie, como responsável pelo roteiro. Há quem veja a situação de outra forma, afirmando que a maior parte das cenas mais articuladas do filme, como as conversas que envolvem George, por exemplo, foi cuidadosamente redigida com antecedência porTerry Southern, cujos créditos anteriores incluem Dr. Fantástico,

de Stanley Kubrick. Contudo, há uma

coisa sobre a qual todos concordam - que o título foi criação de Southern. EB


EUA (Osti) 75 min. P&B

HIGH SCHOOL

Idioma: inglês

O segundo documentário de Fredcrick Wiseman é um dos mais terríveis c ambíguos de

Direção: Frederick Wiseman

seus estudos institucionais. O documentário mostra a vida na escola secundária

Produção: Frederick Wiseman

Northeast, na Filadélfia, uma escola pública servindo a uma comunidade basicamente

uses)

Roteiro: Frederick Wiseman

branca e de classe média baixa. Desde o início, Wiseman deixa bem claro que o seu foco

Fotografia: Richard Leiterman

está no autoritarismo dos professores c administradores, no fracasso da escola em promover a auto-expressão e o pensamento crítico, assim como na ênfase em rituais sem sentido e na burocracia. Um professor espanhol faz seus estudantes repetirem as palavras "Jcan-Patil Sartre" e "existencialista" sem discussão alguma sobre quem seja Sartre ou o que seja a filosofia existencialista. Um professor de inglês recita um poema para alunos de 16 anos e depois apresenta a seguinte pérola de sabedoria: "O dicionário é o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho." Dizem a um estudante que reclama de uma suspensão que lhe foi imposta que aceitai punir oes sem questionai é sinal de maturidade. Um conselheiro educacional informa a um dos alunos sob sua tutela que se prepare para o pior e se inscreva em uma universidade barata com baixos padrões acadêmicos. Um ginecologista que está apresentando uma palestra sobre educação sexual para um auditório cheio de rapazes trata o hímen como "uma cereja" e obtém aplausos ao brincar dizendo que é pago para colocar o seu dedo cm vaginas. As moças devem aturar uma aula de ginástica sem sentido (ao som entorpecedor de "Simon Says", jlngle de imo da liultgiim Comp.uiy) e um ensaio pata desllle de modas cuja piolessora diz a uma menina que ela leni "um problema de peso"

com total

Indiferença, na presença da própria e de suas colegas. No agonizante linal do íiline,

.1

dhetota le

ceni i 01111,1 do pela escola e que na epo<

,1

11111.1 i .11

ta que lei ebeu de

eslava sei vindo

110

uni

aluno re-

Viel 11.1, onde se ofereceu

como voluntário para uma missão perigosa. Agradecendo á escola pelas lições que lá aprendeu, o estudante refere-se a si mesmo como "apenas um corpo fazendo um trabalho". Nos últimos sons que podem ser ouvidos no filme, a diretora que leu a carta afirma que aquela é uma comprovação de que "temos multo sucesso na escola Northeast". Nenhum outro diretor obteve um efeito mais impressionante ao fechar com uma tela preta. Wiseman permite que as palavras da diretora c a visão de mundo por trás delas sobressaiam nuas por sobre o quadro negro silencioso tio filme ao fundo. O retrato não é inteiramente negativo. Não sendo nunca uma difamação grosseira de problemas óbvios, a crítica social do diretor é baseada em uma exposição detalhada e Irônica de fatos situacionais e comportamentais. Acima de tudo, a câmera, sensível à forma como os seus sujeitos se revelam, respeita a humanidade até mesmo do mais condenável dentre eles. Ao fazê-lo, desafia tanto as antipatias quanto as cumplicidades do espectador. Como Jean Renoir, Wiseman nos lembra de que "todo mundo tem suas razões" - uma mensagem não mais tranquilizadora cm High Sc/100/ do que em A regra do jogo. Cfu

508


IN THE YEAR OF THE PIG 0969)

EUA (Pathé) 101 min. P&B

I I » 11111.. meios indiretos para seu debate, In the Vear of tlie Pig (No ano do porco), de

Idioma: inglês

Antonio, desfecha um ataque impressionante contra a política externa a Guerra do Vietnã. Um dos resultados disso é um documentário extraor-

Emile de Antonio

i que são mais facilmente percebidas como simples arrogância.

Fotografia: Jean-Jacques Rochut

los Estados Unidos no Sudeste da Ásia, supostamente para defender o munilinl.i Inl iliiação comunista, o que exige uma digressão na história do colonialismo. Em |iiiim hn lugar vem a China, depois vários poderes europeus antes de os franceses seis de Dien Bien Phu, em 1954. Durante todas essas seqüências, por mais inintcs que possam ser, o filme de Emile de Antonio desperdiça um tempo precio-

«11 p 11 1 limiar seu argumento - especificamente, o de que todas as guerras do Vietnã M

Produção: Vincent Hanlon,

nte provocante. Outro é um exemplo clássico das falhas da sensibilidade Abrindo com imagens de protesto, o filme esboça fundamentos sobre o envol-

•II

Direção: Emile de Antonio

foi l i n d e modo algum inevitáveis, humanas ou úteis em auxiliai a população local

I ruim.11 uma nação soberana, ainda quando esse parecesse ser o seu propósito.

Elenco: Harry S. Ashmore, Daniel Berrigan, Joseph Buttinger, William R.

Corson, Philippe Devillers,

David Halberstam, Roger Hillsman,

Jean Lacouture, Kenneth P. Landon, Thruston B. Morton, Paul Mus,

Charlton Osburn, Harrison Salisbuiy. Ilya Todd, John Toller, David K. Tuck, David Werfel.John White

Indicação ao Oscar: Emile de Antonio (documentário)

i i espaço para material encontrado ou confiando em entrevistas cuidado•1

Ilíadas, o filme manipula declarações de pessoas sem afirmar abertamente o

t»u pnnlo de vista. Desse modo, Emile e sua equipe de produ l" nii.inecem fora da tela embora a sua marca esteja preta parte. Assim, as figuras históricas incluídas pro I' nos discursivas no duplo eixo de fama c contexto. 1

1 verdadeiro desfile de personalidades: líderes 1 mtes, escritores e críticos. Naturalmente alguns desar, conhecidos, como os ex presidentes americanos

hl 11 eiihower, John Kennedy, Lyndon Johnson, Picharei • .1 i.ild Ford, além do herói vietnamita Ho Chi Minh. o ÉJOI

de

1

omunlstas Joseph McCarthy e o belicoso Robert

e i ( ontudo, o peso maior é trazido pelos persona |mr. q u e luinccem contexto e não pelos que ditam a marcha flpulllli a. 1

s primeiros, David Halbcrstam, Jean de Lattre de • 1 In iy S. Ashmore, Hubert Humphrey e até George S.

1 •«• - -•. 111 d.10 vida à grande confusão em meio à qual solda mos foram enviados para o Vietnã. Naturalmente, dessas figuras se tornaram, com o passar dos anos, do pensamento da classe dominante. Em 1969, eus pontos de vista formaram a base desse tratado 1 unhem um dos mais bem-sucedidos filmes contra a quase antinorte-americano em alguns momentos - e li seiiação sobre a perversidade das conveniências I

I I CC-Q

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URSS (Mosfilm) 181 min. P8cB / Cor Idiomas: russo / italiano Direção: Andrei Tarkovsky Produção: Tamara Ogorodnikova Roteiro: Andrei Konchalovsky, Andrei Tarkovsky Fotografia: Vadim Yusov Música: Vyacheslav Ovchinnlkov Flenco: Anatoli Soionitsyn, Ivan

ANDREI RUBLEVi K!) (ANDREI RUBLYOV) É um mistério. Não um mistério sussurrado, mas um mistério cantado pela poderosa voz de sinos gigantescos, gritado pelas tempestades, Iluminado pelas fogueiras da guerra, da fé, do amor. A origem desse mistério poderoso é perfeitamente óbvia: Andrei filma Andrei. O objetivo não é evocar as semelhanças entre Andrei Kublev (interpretado por Anatoli Soionitsyn), o monge do século X que se tomou um mestre da pintura de ícones, c Andrei Tarkovsky, o grande diretor soviético do século XX. Seria mais como uni

I apikov, Nikolai Crlnko, Nikolai

enorme caldeirão no qual o medo c a esperança, a dedicação pessoal (aproximando-se

Sergeyev, Irma Raush, Nikolai

da loucura) e o Impulso de massa pudessem ser fervidos em conjunto.

I'anlyayev, Yuri Nazarov, Yuri Nikulin, Rolan Bykov, Nikolai Grabbe, Mikhail Kononov, Stepan Krylov, Irina Mlroshnichenko, llulot Bejshenallyev Festival de Cannes: Andrei Tarkovsky (prêmio FiPRESCi)

O filme diz icspcito às relações entre o homem e Deus, o homem e a natureza, o artista e o povo, o artista e a forma de arte, bem como o russo e a sua terra, vista como um elemento físico e místico. Contudo, por mais rico que Andrei Rublev possa ser no nível temático (de fato é rico, tanto quanto foi ao ser concebido como uma arma contra o regime comunista soviético), a obra-prima criada por Tarkovsky, como um afresco, não é feita de idéias. É feita de luz e sombras, de ruídos e silêncios, de rostos humanos e material em estado bruto. É um movimento telúrico e uma suspensão mágica elevada acima do vazio. Escuro, sensual e profundamente comovente, o filme é um mistério, no melhor sentido da palavra. J-MF

I.'


MACUNAIMA

m

Brasil (Confor Filmes, Grupo I iliues,

hoça no meio do mato, uma figura grotesca grita com os olhos esbugalhados fixos i orte para uma tomada do chão e vemos duas pernas arqueadas, de onde desapoucos segundos, o pequeno Grande Otelo travestido de bebê. Só então se enImiili' que era uma mãe dando à luz. E pronto: está registrado o nascimento de na, o parto mais irreverente, abjeto e desrespeitoso para com a instituição sacrosinaternidade que o cinema já registrou. E está estabelecido o tom dessa fábula personagem cujas primeiras palavras na tela - e na vida - são "Al, que preguiça!", iinaíma, o herói sem caráter de Mário de Andrade, personifica a indolência e o ismo associados ao Brasil pelo folclore e pelas crenças populares.

Macunaíma,

li' Joaquim Pedro de Andrade, também adota esses traços para si. Se não trata icntos com solenidade, o mesmo vale para mortes {a mãe do protagonista cal forma caricata logo após citar a crendice de que sonho com dente significa parente) ou para preconceitos, esfregados na cara do país (a mágica mudança le Macunaíma, que passa a ser vivido por Paulo José, é um comentário ácido i.itus de cidadão de segunda classe do negro), i mando o filme não precisa mais de certo personagem, se livra dele com desfaçaindo não tem recursos para ser sofisticado, assume a esculhambação e vai para ii (Titio da rua, com figurantes incautos olhando para a câmera. 11' • entanto, a pantomima é encenada com afinco, como se vê na seqüência pas nu edifício-garagem, quando Macunaíma conhece a guerrilheira vivida por Dina "garota papo-firme". Nesse momento, a trilha sonora lança mão da canção de nome, de Roberto Carlos, enquanto a garota promove uma verdadeira chacina, aos rituais religiosos e até à violência, tudo é carnavalizado no filme, que abre "unicamente ao som anacrônico da marcha-exaltação "Paisagens da minha le Lamartine Babo, na voz de Francisco Alves. Apesar de ou por causa disso, Mcjciinciímn é, musicalmente, a tradução perfeita do mo i lopicallsta de que c contemporâneo, no olhar moderno para o folclore e no desniau gosto. E, na essência, ecoa tanto o refrão da canção do Legião Urbana "Que • le:'" quanto o tradicional grito da platéia em resposta: "É a porra do Brasil!" JBi

Filmes do Serro) 102 min. Cor Idioma: português Direção: Joaquim Pedro de Andrade Roteiro: Joaquim Pedro de Andrade, baseado no livro Macunaíma. de Mário de Andrade Fotografia: Guido Cosullch Edição: Eduardo Escorei Desenho de produção: Anislo Medeiros Elenco: Grande Otelo, Paulo José, Dina Sfat, Jardel Filho, Milton Gonçalves, Joana Fomm, Hugo Carvana. wilza Carla


U R S S / Armênia (Armenfilm) 73 min.

ACOR DA ROMA

Cor

(SAYAT NOVA)

Idioma: armênio

0 maior dos filmes de Sergcl Parajanov é também o seu mais radical e obscuro. Foi o

Direção: Sergei Parajanov, Sergei Yutkcvich Roteiro: Sergei Parajanov, da poesia

ile Sayat Nova

Fotografia: A. Samvelyan, Martyn

dees)

princípio das mais sérias dificuldades que teve com as autoridades soviéticas, culminando em sua prisão, em 1973, acusado dc homossexualismo, entre outras coisas, depois de já ter sido atacado por ser formalista, nacionalista ucraniano e por desvio ideológico. Só pôde voltar a filmar após mais de uma década e conseguiu terminar um úni-

slukhbazyan, Suren Shakhbazyan

co novo filme antes de morrer de câncer em 1990. Nascido em uma família armênia na

Música: Tigran Mansuryan

Geórgia em 1924, Parajanov sofreu durante a maiot parte da sua vida por causa de sua

Elenco: Sofiko Chiaureli, Melkon

celebração de cultutas não russas, bem como por seus ataques à burocracia, e esta obra-

Aleksanyan, Vilen Calstyan, Giorgi (jegechkori, Spartak Bagashvili, Medea Djaparidze, Onik Minasyan

prima Inovadora permanece como a expressão mais radical dc sua visão excêntrica. Um mosaico místico e histórico sobre a vida, a obra e o mundo interior de Aruthin Sayadin

o puna ,11 inèiilo do século XVI11 popularmente conhecido como Sayat Nova

("Rei da Canção") -, A cor da romd durante anos só esteve disponível em uma vetsão russa etnicamente "corrigida". A versão original, muito superior, foi encontrada em um 1 ".índio .11 num

1111

los

,90 Apesai de não podei sei considerada definitiva,

é certamente a melhor disponível: alguns planos e seqüências são novos, outros estão posicionados de outra forma e, o que é particularmente vantajoso pata os espectadotes ocidentais, há mais subtítulos nas poesias. Em ambas as vetsões, o uso notável do enquadramento similar ao de uma pintura evoca o espaço restrito de filmes feitos há cerca dc um século, ao passo que o uso magnífico da cor e os extravagantes conceitos poéticos e metafóricos parecem núgin.iiios de algum < ineina utópico do futuro. A i ilação de Sayadin na abertura pode ser lida como uma tessalva do diretor: "Minha água é multo especial, / Nem todos podem bebê-la. / Minha escrita é muito especial, / Nem todos podem lê-la. / Minhas fundações não são de areia, / Mas de granito sólido." Não temos, entretanto, que decifrar as imagens de modo sistemático para experimentar o seu assombroso poder. Os planos da abertura mostram três romãs que espalham seu suco vermelho sobre uma toalha de mesa branca, um punhal manchado de sangue, pés descalços esmagando uvas, um peixe (que Imediatamente vira três peixes) se agitan do entre duas tábuas de madeira c água caindo sobre livros. Ao mesmo tempo "difíceis" e imediatas, enigmáticas e encantadoras, as Ima gens perfeitas em todo o filme nos lembram ^

Ml

miniaturas persas infundidas em ecstasy. JRos


KES

(1969)

Inglaterra (Kestrel, Woodfall)

, seu primeiro longa-metragcm, o diretor Ken Loach essencialmente transferiu l ilogla realista que estava usando em seus trabalhos na televisão e apresentou lei laração de intenções para seus futuros filmes. Trabalhando com Barry Hlnes li111 adaptação do romance deste último. Loach nos apresenta a breve oportuni• fuga que se abre quando um jovem de Barnsley (David Bradley) localiza c treina mi. O seu crescente interesse na arte da falcoaria junto com a sua admiração i-1'

i' iliilidades de caça e pela independência orgulhosa do pássaro lhe permitem ao

no min. Technicolor Idioma: inglês Direção: Ken Loach Produção: Tony Carnett Roteiro: Tony Garnett, Ken Loach, baseado no livro A Kestrel For A Knuve, de Barry Hiñes Fotografia: Chris Menges

vislumbrar uma alternativa ao presente tediosamente opressivo e ao futuro

Música: John Cameron

idavelmente restrito de sua vida na classe trabalhadora de uma cidade inglesa.

Elenco: David Bradley, Freddie

11 iai h evita os clichês sentimentais de muitos dos primeiros filmes passados no ustrial britânico, enfocando não as ruas e chaminés deprimentes e sujas, mas uno as relações humanas e as aspirações são retardadas c distorcidas por um untínuo de privação econômica e cultural. É daí que surge a força emocional m i que o entusiasmo do rapaz - há muito negligenciado, em vez de apoiado, nlla, amigos e outros, exceto por um professor - é traído e, finalmente, extinto,

Fletcher, Lynne Perrle, Colin Welland. Brian Clover, Bob Bowes, Bernard Atha, Laurence Bouid, Joey Kaye, Ted Carroll, Robert Naylor, Agnes Drumgoon, George Speed, Desmond Guthrie, Zoe Sutherland

.i iii perfeita de Chris Menges captura o poder do falcão em vôo, equilibrando ute a agilidade real do pássaro com o seu valor como um símbolo da niuítiva. GA

lltlSTANA, UMA PAIXÃO MÓRBIDA

(1970)

(IIIISTANA) • • é dito que a característica que define os classiclstas, de John Ford a Clint i r a invisibilidade de seus estilos. Mas até os seus filmes parecem ostentosos 11.11 los ao lado das últimas obras de Luis Bunuel. O que torna Tristano tão inquic1 aparente simplicidade de sua forma e o sentimento de que se desdobra, com 1 i i|',orosa e brutal, em uma tragédia inevitável. Mi I desejava filmar esta adaptação do romance clássico de Benito Pérez Galdós i le aborda um de seus tópicos favoritos: a sedução e a corrupção de uma 1 ii 1111 ente, Tristana (Catherine Deneuve), por Dom Lopc (Fernando Rey), um cava111IIo mais velho cujos ideais políticos declarados são muito mais radicais do que a i de tratar as mulheres. Tristana sobrevive a essa opressão, depois da perda de Mi 1. duplicando sua crueldade e estendendo seus efeitos, como na cena perin que ela exibe o seu corpo ao jovem empregado Saturno (Jesus Fernandez). "

oi 11 filme surrealista? Não de forma óbvia, mas sim profunda: um mundo

França / Itália / Espanha (Coroa, Selenla, Talía, Época) 95 min. Eastmancolor Idioma: espanhol Direção: Luis Bunuel Produção: Luis Bunuel, Robert Dorfmann Roteiro: Julio Alejandra, Luis Bunuel, baseado no livro de Benito Pérez Galdós Fotografia: José F. Aguayo Música não original: Frédéric Chopin Elenco: Catherine Deneuve, Fernando Rey, Franco Nero, Lola Caos, Antonio Casas, Jesus Fernandez, Vicente Solar, José Calvo, Fernando Cebrian, Antonio Ferrandis.

" " 11 de motivações inconscientes, uma dimensão paralela, parece espreitar

José Maria Caffarel, Cândida Losada.

da superfície de tudo que Bunuel nos apresenta - surgindo apenas no

Joaquin Pamplona, Mary Paz Pondal,

11 iie para mostrar como esta história triste poderia ter seguido uma direção Ih 1. nie A M

Juanjo Menendez Indicação ao Oscar: Espanha (melhoi filme estrangeiro)

'ilS


EUA (BBS, Columbia, Raybert) 96 min.

CADA UM VIVE COMO QUER

Technicolor

(FIVE EASY PIECES)

(1970)

Idioma: inglês

Coda um vive como quer, de Bob Rafelson, deve ser assistido ao menos pelo prazer de ver

Direção: Bob Rafelson

Jack Nlcholson incapaz de conseguir que lhe sirvam uma totrada. Em seu primeiro

Produção: Bob Rafelson,

papel como estrela, após a notoriedade que obteve com o papel secundário do advoga

Richard Wechsler

do de Sem destino (1969), Nlcholson interpreta Robert Dupea, um operário de refinaria

Roteiro: Carole Eastman, Bob Rafelson

que vive cm um parque para trailers com sua amiga garçonete Rayette (Karen Black).

Fotografia: Lãszló Kovács

Robert decide botar o pé na estrada e subir a Costa Oeste para se reconciliar com seu

Música não original: Bach, Chopin, Mozart

do pai, o estilo do filme é uma Inconstante divagação, perfeitamente adequada à reve-

Elenco: Jack Nicholson, Karen Black, Billy Green Bush, Fannie Flagg, Sally

Struthers, Marlena MacGulre, Richard stahl, Lois Smith, Helena Kalllanlotcs,

Toni Basil, Lorna Thayer, Susan

Anspach, Ralph Waite, William Challee, John P. Ryan

Indicação ao Oscar: Bob Rafelson,

Richard Wechsler (melhor filme), Bob Rafelson, Carole Eastman (roteiro),

Jack Nicholson (ator), Karen Black (atriz coadjuvante)

pai, que está doente. Estruturado em torno dessa viagem e do regresso de Robert à casa lação do caráter e ao prazer de ver os sutis desempenhos dos atores em uma série csttuturada de passagens. I las( inanle vei os primórdios da persona de Nlcholson aqui, como um anti-herói carismático com um lado de violência e vulnerabilidade. Black se destaca como uma garota que curte a vida, já um pouco velha para Isso, e a quem cabe apenas observai enquanto lentamente perde Robert para seu passado. O filme é um estudo de personalidade sério, meticuloso e, no final das (untas, tocante e surpreendente. Cada um vive como quer se situa no principio de um período inovador e frutífero da produção 1

Ineinalogialii

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H TOPO (1970) lei nda de 6o e no início da década de 70, quando o gênero faroeste estava se raiitii. 111 • I

,e transformando com o wcstcrn spaghetti, introduzindo mensagens marxis1 is tentativas de unir comédia c musical em filmes como Divido de sanguee Os

n ia 1 li. I H p-, do ouro, Et Topo destacou-se como o mais perfeito "faroeste cabeça". lo a pista de Felllni, o escritor diretor-ator Alejandro Jodorowsky conta a inosamente simples de um pistoleiro que pretende derrotar os maiores 11., hl.

,1,1 rerra e transforma o filme em uma alegoria sobre a busca de um homem irão. El Topo, o pistoleiro, viaja através de um deserto cheio de gangues bem como guerreiros grotescos e surreais, cada um deles simbolizando uma icnte na viagem do herói. Hâ um desfile infinito de referências bíblicas, udianos e símbolos jungianos. Jodorowsky não deixa nada ao acaso. El Topo

(iiiH •

1

le loi ma vã e egoísta, ansioso para alcançar o poder e a glória, para finalmente

| A » » < i I m i i destituído e vazio quando consegue realizar o seu objetivo. Percebendo a

México (Pânicas) 125 min. Cor Idioma: espanhol

e sua missão, renuncia âs suas ambições mundanas e à necessidade de

Direção: Alejandro Jodorowsky

seu ego. Sofre uma morte simbólica antes de retornar do deserto como um

Produção: Juan López Moctezuma,

azio, carregando o peso do sofrimento do mundo cm seus ombros, tentaniim grupo de pessoas aleijadas e deformadas, bizarras criaturas infantilõl • anado com um mundo tão brutal e sem compaixão quanto o que deixou, o lllho vingativo que abandonou, não tem outra escolha senão fazer um ilido, um ato de auto imolação que evoca a imagem do monge vietnamita 11 logo a si mesmo para protestar contra a guerra c a destruição, o 11 io de outros faroestes, El Topo não tem qualquer pretensão quanto ao na¡1 exatidão histórica. O mundo representado e uma paisagem altamente na alegoria do ciclo Vida, Morte e Renascimento. F bem verdade que se pode "dorowsky por vezes usou de mau pesada; que ler escalado a si mesmo piincipal é o cúmulo do orgulho e narcisismo. Mas El Topo é fascinante por luto de seu tempo, um documento das lições e da filosofia que as pessoas na época, bem como de seus medos, tanto conscientes como inconscien permanece completamente único na história do cinema. AT

Moshe Rosemberg, Roberto Viskin Roteiro: Alejandro Jodorowsky Fotografia: Rafael Corkidi Música: Alejandro Jodorowsky, Nacho Méndez Elenco: Alejandro Jodorowsky,

Brontis Jodorowsky, José Legarreta, Man Alfonso Arau, José Luis

Fernández. Alf Junco, Gerardo

Cepeda, René Barrera, René Alis. Federico Gonzales, Pablo Leder,

Giuliano GirinI Sasseroli, Cristian

Merkel, Aldo Grumelli, Mara Lorenzin



EUA (Wadlelgh-Maurlce, Warner

W00DST0CK, ONDE TUDO COMEÇOU (1970)

Bros.) 184 min. Technicolor

(W00DST0CK)

Idioma: inglês

A geração dos anos 6o bateu de frente com o idealismo não questionado e as ptessões

Direção: Michael Wadleigh Produção: Bob Maurice Fotografia: Don Lenzer, David Myers, Richard Pearce, Michael Wadleigh, Al Wertheimer

Música: Sly Stone, Jlmi Hendrix, John Lennon & Paul McCartney, Joni Mitchell, Alan Wilson

Elenco: Richie Havens, Joan Baez,

Roger Daltrey, John Entwistle, Keith Moon, Pete Townshend, Joe Cocker,

da realidade quando o último boby boomer totnou-se adulto no final daquela década. Depois disso os Estados Unidos viveram conflitos de gerações centrados em música popular e na ambivalência crescente do projeto americano. O verão de 1969 foi, poitanto, um divisor de águas e uma brecha no tempo. Embora os boomers já tivessem se ftagmentado em facções com uma variada gama de valores culturais - do patriotismo radical a drogas alucinógenas -, era realmente necessário um evento marcante para transmitir o espírito fragmentado da Inocência no vértice da experiência. Durante três dias, o Festival de Música e Atte Woodstock na cidade rural de Bethel, no estado de Nova York, serviu precisamente como essa matca, tornando-se um evento

Country Joe McDonald, Arlo Guthrie,

histórico. Seus valores culturais foram, mais tarde, cooptados para vender refrigerantes e

Stills, Alvln Lee, John Sebastian,

juventude dos anos 60 é mostrado em um instantâneo de celebração e música.

David Crosby, Graham Nash, Stephen

Carlos Santana, Sly Stone,

Jlmi Hendrix, 10 Years After,

Richard Alvarez, Lennie Baker, Jon

Bauman, Canned Heat, Jack Casady,

Chick Churchill, Johnny Contardo,

Crosby, Stills, Nash 81 Young, Spencer Dryden, Lawrence Ferllnghettl, Jerry

Garcia, Bill Graham, Frederick Greene, Bob Harvey, Bob Hite, Jefferson

Airplane, Janis Jopiln, Jorma

Kaukonen, Michael Lang, Rlc Lee, Leo

Lyons, Jocko Marcelllno, Hugh Romney, Sha-Na-Na Group,

Screamin' Scott' Simon, Grace Slick,

novas bandas de música, embota continuem a ser o espelho por melo do qual o estado da Como foi capturado pelo documentarista Mlchael Wadleigh, que emptegou, entre outros, Mattin Scotsese, George Lucas e Thelma Schoonmaker no filme, os planos dos responsáveis pelo concerto fracassaram diante dos fatos. Situado em uma área rural não multo próxima dos centras urbanos da Costa Leste e com poucas estradas de acesso, uma tempestade Ilansíoiniou os campus de Woodstock em uma grande poça de lama. o público compareceu aos milhares, muito a< ima das estimativas, pata ouvir o melhor do R&B, rock, folk e funk. Por mais encharcados e desconfortáveis que estivessem, tornaram-se a mais famosa massa de gente reunida para otivit um dos maiores eventos de música ao vivo organizados. Que o concerto tenha dado prejuízo é algo curioso. Apesar disso, as geiaçòes subseqüentes vêem Woodstock como o grande símbolo de concerto de rock ao ar livre. A

the Who, Johnny Winter. Max Yasgui,

música, a atmosfera, os mitos simbolizam hoje tudo o que foi perdido nos anos 70 e no

Sidney Westerfield

forma mais vigorosa na brilhante edição do filme de Wadleigh, com ttês bóias de dura-

Donald York, Swami Satchidananda,

Oscar: Bob Maurice (documentário) Indicação ao Oscar: Thelma

Schoonmaker (edição), Dan Wallin, Larry Johnson (som)

resultante fenômeno de crescimento dos anos 80. Essa argumentação assume sua ção, desde então imitado por inúmeros filmes sobre música e espetáculos de mídia. As 1 técnicas de divisão de tela de Woodstock, o som em estéreo, a cobertura simultânea de eventos c o ponto de vista neutro enchem a tela com obseivações absolutamente fiéis. O estilo de reportagem do filme contribui ainda mais para seu valor como um retrato daqueles tempos, sem impor um ponto de vista demasiado autoral, mas ainda assim observando tudo com um fascínio agora perdido, mas que um dia foi gloriosamente verdadeiro. As vinhetas estão centradas nos fteqüentadores do show às voltas com as dificuldades do festival, assim como nos habitantes locais reagindo às hordas de intrusos que invadiram sua cidadezinha. Pílulas de ácido percorrem a multidão. Propostas de casamento são feitas. A comida é transportada por via aérea para ajudar a aliviar o estado de emergência. Gente mergulha sem roupa, limpa banheiros ao ar livre, fuma maconha, sorri e dorme, tudo Isso em meio a gtandes nomes da música, como Crosby, Stills e Nash, Janis Joplin, Canned ^^iW

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H e a t e S a n t a i , a

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Inglaterra / Polônia / Alemanha Oriental (Bavaria Atelier, COKC, Kettledrum, Maran) 88 min. Fastmancolor Idioma: Inglês Direção: Jerzy Skolimowski Produção: Helmut Jedele Roteiro: Jerzy Gruza, Jerzy skolimowski, Boleslaw Sullk Fotografia: Charly Steinberger Música: The Can, Cat Stevens Elenco: Jane Asher, Sean Harry-Weske, Erica Beer, Will Danin, Diana Dors, Dieter Eppler, Cheryl Hall, Anne-Marie Küster, Burt Kwouk, Karl I udwig Lindt, Eduard Linkers, Anita Lochner, Louise Martini, Peter Martin, Ursula Mellinjohn Moulder Brown, Christina Paul, Gerald Rowland, i hrlstopher Sandford, Jerzy skolimowski, Uli Steigberg, Kail Michael Vogler, Erika Wackernagel

ATO FINAL (1970) (DEEP END) O primeiro filme em língua inglesa de Jerzy Skolimowski após escrever A fden na água, de Roman Polanski, é uma incursão notável pela mente de um garoto de 15 anos sexualmente frustrado. Ato finoi é tanto uma comédia sexual de humor negro como uma narrativa de rito de passagem com conseqüências trágicas para todos os envolvidos. John Moulder-Brown interpreta um jovem com uma sensibilidade satírica que se torna mais obscura conforme o objeto de seu desejo rejeita suas investidas, enquanto Jane Asher Interpreta a jovem que é alvo de sua obsessão com grande discernimento sua atuação como Susan, semi-improvisada, gerou um resultado brilhante. Ambos estão aprisionados no mundo sórdido da casa de banhos Newford, cheia de gente infeliz que vive em torno de sexo c futebol. Susan se aproveita de sua beleza para ganhar algum dinheiro extra com os clientes e sugere que Brown faça o mesmo. Ele sente repulsa pelo estilo de vida da moça e deseja levá-la para longe daquilo tudo. Skolimowski mostra um profundo insight sobre as excentricidades dos britânicos e captura uni lado da assim chamada "swinglng lonilon" que é, ao mesmo tempo, repugnante e embotado por um verdadeiro sentido de colapso espiritual iminente. O filme alcança um tom voyeut quando Mouldet líiown se lança em uma busca pelos clubes de strlp-teasc do Soho até conseguir roubar um recorte em cartolina com a foto de Susan para uma fantasia final do lado mais profundo de sua mente. Um filme sobre encontros pata ver antes de morrer! D D V

Itália (RAI, Red Film) 100 min. fastmancolor Idioma: italiano Direção: Bernardo Bertoluccl Produção: Giovanni Bertolucci Roteiro: Bernardo Bertolucci, Eduardo ile Gregorio, Marilú Parollni, baseado

A ESTRATÉGIA DA ARANHA

(1970)

(LA STRATEGIA DEL RAGNO) A estratégia da aranha, de Bertolucci, é para muitos o filme de arte europeu definitivo. A narrativa é fragmentada, os personagens comportam-se de forma inconsistente, é quase impossível compreender tempo ou lugar e, no final, os espectadores são deixados com uma Impressão de total incerteza. Tudo isso, naturalmente, é intencional.

na história Theme of the Traitor and

Bertolucci, como Michclangelo Antonloni, Alain Resnais c outros, estava interessado

Hero, de Jorge Luis Borges

em nos fazer questionar os elementos de compreensão de um filme que normalmente

Fotografia: Franco Di Giacomo,

temos como mais certos: narrativa, trama, tempo, espaço, ação. Este é um cinema

Vittorio Storaro Música não original: Arnold S( hônberg, Giuseppe Verdi Elenco: Giulio Brogl, Alida Valli, I'lppo Campanini, Franco Ciovanelli, I Ino Scotti

"anti Hollywood". Mas não deixe que isso o afaste do filme. A estratégia da aranha (um título nunca explicado) é desafiador, mas poucas obras cinematográficas estimulam tal consternação esteticamente encantadora: se você entrar nele sem esperar que qualquer de suas perguntas seja respondida, será recompensado. A narrativa diz respeito a um homem (Giulio Brogi) que viaja à cidade natal de seu pai, onde pretende descobrir as circunstâncias das suas atividades políticas duvidosas. Mas essa busca tão simples logo toma conta da vida do protagonista, e, de fato, Bertolucci insinua que ele começa não apenas a se apaixonar pela antiga amante de seu pai como também a se tornar o próprio pai. Usando edição e enquadramento inteligentes e inovadores, Bertolucci frustra constantemente nossas expectativas sobre a narrativa. A estratégia da aranha é um filme desconcertante, mas estamos sendo manipulados pelas mãos de um mestre. EdeS


PEQUENO GRANDE HOMEM (1970) I I I I I I E B I G MAN) ince de Thomas Berger (publicado em 1964) no qual Pequeno grande homem de 1'enn se baseia é uma das obras mais engraçadas e originais de ficção no gênero riiur.ie. Narra as aventuras picarescas de Jack Crabb, no decorrer das quais ele é ido várias vezes por índios, torna-se um pistoleiro, encontra Wild Bill Hickok e 111 general Custer na batalha de fittle Big Horn. No filme, Jack é interpretado por I I H nu 1 lolfman e aparece pela primeira vez quando tem 111 anos de idade, entrevistado

Stockbridge-Hiller Productions) 147 min. Technicolor Idioma: inglês Direção: Arthur Penn Produção: Gene Lasko, Stuart Mill.11 Roteiro: Calder Willingham, baseadi no livro de Thomas Berger Fotografia: Harry Stradllng Jr.

pesquisador dedicado que engole por inteiro suas histórias improváveis.

Música: John Hammond

|tie se segue é uma grande e divertida desmistificação do mito do faroeste,

Elenco: Dustin Hoffman, Faye

ido Custet como um brigão orgulhoso e Hickok como um neurótico ansioso. Em le, os cheyennes, qtie adotam Jack em sua tribo, são um povo cortês c amante o que é especialmente personificado por Old Lodge Sklns ("Peles Velhas de M o " ) , maravilhosamente interpretado por Cliief Dan George. A representação •li mu M.ique a um acampamento cheyenne pela Sétima Cavalaria de Custer (baseado 11 re dos Washlta, cm iHf>8) pouco se preocupa em disfarçar sua referência urra do Vietnã, que estava no auge na época em que o filme foi realizado • I

EUA (Cinema Center 100 Prodi 11 tloni

Dunaway, Chief Dan Geotge, Martin Balsam, Richard Mulligan, Jeff Corey, Aimée Eccles, Kelly Jean Peters, Caiole Androsky, Robert Little Stat, Cal Bellini, Ruben Moreno, Steve Shemayne, William Hlckey, James Anderson Indicação ao Oscar: Chief Dan George (ator coadjuvante)

Imente ao Infame Massacre de My I ai. EB

Vi



rchecoslováquia (Barrandov) 94 min.

PitB

Idioma: tcheco Direção: Karel Kachyna Produção: Karel Vejrík Roteiro: Karel Kachyna, Jan Piochãzka, Ladislav Winkelhöfer Fotografia: Josef lllig Música: Svatopluk Havelka Elenco: Jlrina Bohdalová, Radoslav Brzobohaty, Jirí Osler, Miroslav Holub, Borivoj Navrátll,

ORELHA

(1970)

(UCHO) Filmado sob os olhos vigilantes das forças de ocupação soviéticas, o ousado drama político de Karel Kachyna foi retirado de circulação imediatamente após sua realização. Somente em 1989 o filme foi exibido pela primeira vez para o público de cinemas de arte. Embora a crítica direta feita por Orelha ao regime do líder direitista do Partido, Gustav Husák, separe Kachyna de outros diretores da nouvelle vague tcheca, o visual simples do filme e os inslghts duramente conquistados sobre a vida nem tão privada de um casal apaixonado, ainda que amargurado, são duas das principais razões pelas quais o filme permanece Interessante. I udvik (Radoslav Brzobohaty) é um funcionário sênior na burocracia do Partido

Gustav Opocensky, Lubor Tokos

Comunista que governa Praga. Anna (Jlrina Bohdalová) é sua esposa alcoólatra, filha de

Festival de Cannes: Karel Kachyna,

um proprietário de bar de uma cidade pequena. O casal tem um filho jovem c mora em

indicação (Palma de Ouro)

uma casa confortável, numa rua tranqüila com uma vizinhança bonita. No início, os insultos cruéis, os olhares duros e a hostilidade aberta com que se dirigem um ao outro parecem ser, para o espectador, pouco mais do que o desenvolvimento dos personagens no filme

I udvik c Anna sendo apresentados como típicos cidadãos apolíticos da

sociedade tcheca da época. Depois percebemos, contudo, que sua complexa relação conjugal está no centro das preocupações de Orelha, criando ao mesmo tempo uma alegoria e se distinguindo da iclaçao igualmente complexa enlie um regime político cruel e opressivo e seus cidadãos justificadamente paranóicos. A ação do filme transcorre durante uma longa noite. Regressando à sua casa após uma cerimónia política com um, I udvik e Anna ent 01111.1111 o poi lao abei lo e notam que as chaves extras da casa desapareceram. Inicialmente acreditando que não se trata de nada importante, outras ocorrências estranhas - a falta de luz e os telefones mudos gradualmente fazem com que pensem estar sendo vigiados pelas suspeitosas e antiéticas autoridades comunistas. Em sua memória, Ludvlk repete as cenas anteriores àquela noite. O que inicialmente parecia sem importância agora passa a ter a qualidade surreal de um pesadelo e cada frase dita a Ludvlk - "Desculpe, os camaradas estão escutando"; "Tudo o que importa é saber se aceitam os objetivos socialistas"; "Eles não o avisaram?" - parece agora significar que ele está em grande perigo pessoal. Unindo os pontos, Ludvlk passa a acreditar que ele é alvo do Partido Comunista e que sua prisão é iminente. tentando desesperadamente destruir qualquer material que possa ser citado como evidência contra ele, Ludvik queima a sua correspondência. Anna, enquanto isso, o perturba quanto ao estado da relação dos dois, que se deteriora, bem como sua completa falta de interesse por cia, tanto sexual quanto emocionalmente. Mas, quando o amanhecer se aproxima, uma dinâmica submersa do casal vem à tona. Expressando uma grande ternura, proteção e um sentimento profundo, os dois discutem como proceder quando as autoridades vierem para levar Ludvik. Anna chora histericamente. Ludvik tenta consolá-la, a guerra psicológica terminando conforme o Grande Irmão se aproxima. As analogias previamente estabelecidas entre matrimônio e cidadania são agora menos importantes. Em vez disso, percebemos as desona/ogias: a capacidade Ilimitada dos que estão no poder para tramar, conspirar, usar tecnologias avançadas, aterrorizar, manipular e controlar uma população. SJS


EUA (Fox) 170 min. Cor

PATT0N - REBELDE OU HERÓI?

(1970)

Idioma: inglês

(PATTON)

Direção: Franklin J . Schaffner

"Quero que vocês se lembrem de que nenhum fllho-da-mãe jamais ganhou uma guerra

Produção: Frank McCarthy Roteiro: Francis Ford Coppola, Edmund H. North Fotografia: Fred J . Koenekamp Música: Jerry Goldsmith

morrendo por seu país: ele ganhou a guerra fazendo com que outro pobre filho-da-mãe morresse por seu país." Assim começa o prólogo de Ptrtton, de Franklin J . Schaffner. Depois de um monólogo tão impressionante, o filme segue os passos de Patton em uma corrida para cumprir o seu destino. Primeiro vem a Tunísia, depois a Sicília, algumas

Elenco: George C. Scott, Karl Maiden,

trocas de Impropérios por insubordinação, várias inserções da vida real, muita preocupação

Mephen Young, Michael Strong,

dos alemães com o seu paradeiro c uma corrida em melo à neve rumo à batalha do Bulge,

Carey Loftin, Albert Dumortier

na França. Encerrando com o rebaixamento de Patton, o retrato detalhado pintado pelo

Oscar: Frank McCarthy (melhor Mime), Franklin J . Schaffner (diretor), Francis Ford Coppola, Edmund H. North (roteiro), George C. Scott (ator), Urie McCleary, Gil Parrondo, Antonio Mateos, Pierre-Louis Thévenct

filme dá vida a uma personalidade fascinante durante um momento crucial da História. () Patton Interpretado por Scott é tanto um "enfermeiro" para seus homens prestes a motrer quanto alguém que causa tetror ao inimigo. Também se vê em conflitos diversos quanto a ser um guerreiro nos tempos atuais, explorado pelas exigências políticas de seu tempo. Como poeta, assassino treinado e acólito da reencarnação, ele

(direção de arte), Hugh S. Fowler

é um enigma cuja sensibilidade radicalmente dissidente cta interessante na época da

(«lição), Douglas O. Williams, Don J .

Guerra do Vietnã, tanto para seus opositores como para seus defensores.

Bassman (som) Indicação ao Oscar: Fred J . Koenekamp (fotografia), Alex Weldon (efeitos especiais), Jerry Goldsmith (música)

EUA (Fox, Aspen, Ingo Preminger) 116 min. Cor Idioma: inglês Direção: Robert Altman Produção: Leon Ericksen, Ingo lieminger Roteiro: Ring Lardner Jr., baseado no livro de Richard Hooker Fotografia: Harold E. Stlne Música: Mike Altman, Ahmad Jamal,

A sua história é composta em torno de seqüências de batalha realistas e nasceu de um rateiro escrito em conjunto com Francis Ford Coppola. Assim, Patton valoriza uma máquina de guerra burocrática ao mesmo tempo que santifica a individualidade por meio da voz grave de um militar de carreira naquele que pode muito bem set o filme biográfico definitivo da década de 70. CC-Q

M*A*S*H (1970) Nao levou muito tempo para que as inovações da comédia M*A*S*H, de Robert Altman, sobre a Guen.i da Coreia si- [ornassem quase ultrapassadas em sua simplicidade e obviedade, especialmente depois que o próprio Altman ampliou os seus feitos com Nashvllle, ainda mais ambicioso. Ainda assim, o uso de diálogos sobrepostos em meio a cenas de ação em planos abertos se mostrou surpreendente e chocante quando o filme foi lançado, assim como os cenários sangrentos de operações de guerra que Altman usou como veículos para sua comédia de humor negro. A técnica do diretor capturava as improvisações de seus atores fazendo um zoom

lolinny Mandel

de média distância, resultando em uma divertida anarquia teatral. O espectro da

Elenco: Donald Sutherland, Elliott

Guerra de Vietnã estava bem presente naquela época. A vela antleonformista de refletiu, de muitas formas, os sentimentos do movimento antiguerra, que

Gould, Tom Skerritt, Sally Kellerman,

M*A*s*H

Robert Duvall, Roger Bowen, Rene

cada vez mais via a loucura do Vietnã como sendo, em si, uma comédia de humor

Aubcrjonois, David Arkin Oscar: Ring Lardner Jr. (roteiro) Indicação ao Oscar: Ingo Preminger (melhor filme), Robert Altman (diretor), Sally Kellerman (atriz coadjuvante), Danford B. 1 acene (edição) I estival de Cannes: Robert Altman (Palma de Ouro)

VI

negro. Altman criou a maior parte de M*A*S*H na surdina, enganando o estúdio, que pensava que ele estava fazendo um filme de guerra patriótico. O estúdio estava pronto para relegar o filme à prateleira até que o público de teste tcaglu favoravelmente. O lançamento levou a uma onda de aclamação coroada com um bom número de Indicações ao Oscar e uma bem-sucedida série na televisão, imediatamente consolidando a reputação de Altman. Kl


PERFORMANCE (1970) nina reflexão sobre a contracultura dos anos 6o, uma afronta ao Verão do Amor, Performance (co-dirlgldo por Donald Cammell e Mli "las Koeg) marcou as alterações nos costumes e atitudes com um -i nililu de estilo ao mesmo tempo confrontador e audacioso. Embora ( oncluído em 1967, o filme ficou nas prateleiras durante dois quanto o estúdio tentava entender o que fazer com uma obra Mn um .1 e excepcional. ido, a longa espera fez bem ao filme. Quando Performance foi In. o idealismo hippie estava em baixa e a utopia de Woodslock li lo lugar ao inferno dos Rolllng Stones no episódio de Altamont, lo no filme-concerto de 1970, Ginime Shclter. O fato de Perforirelado pelo cantor Mick Jagger 1

no papel de um pervertido

ik que está envelhecendo - só aumentou o seu impacto <m é vai ter uma cara engraçada quando tiver 40 anos", diz Chas, personagem lux. ao Turner interpretado por Jagger).

Inglaterra (Coodtlmes) 105 min. Pftlt

rativa é relativamente simples. Chas é um gangster (um "performer") que

/ Technicolor

ilsindonar sua vida de crimes e sumir de cena. Procurando um lugar paia se .1 alvo de seus violentos perseguidores, descobre um astro do rock recluso, que vive em função de sexo e drogas em uma casa que se parece com um le diversões. Chas percebe que aquele é o último lugar onde seria procurado, iluga um quarto e se refugia com Turner e suas duas companheiras (Anila e Michèle Breton). Depois de alterar o seu visual o seu estilo de vida

tendo

1 sua turma sádica como catalisadores , Chas começa a mudai também, lu a história chega ao fim, nada (e ninguém) que tenhamos visto e neces pie pensávamos. O roteiro de Cammell e a câmera de Roeg mantêm tudo , não somente por meio da enviesada lógica das drogas, mas também uma edição intencionalmente confusa, pontuada por súbitas explosões de h

1 ieqiienr.es alucinações impulsionadas pelas drogas levam Performance rumo

m. lu s,10 perturbadora, quando arte e Identidade se cruzam e a linha que separa 1 .alidade finalmente se desfaz no esquecimento. Kl

Idioma: inglês Direção: Donald Cammell, Nicolas Roeg Produção: David Cammell, Sanford Licberson Roteiro: Donald Cammell Fotografia: Nicolas Roeg Música: Jack Nitzsche Elenco: James Fox, Mlck Jagger, Anita Pallenberg, Michèle Breton, Ann Sidney, John Bindon, Stanley Meadows, Allan Cuthbertson, Anthony Morton, Johnny Shannon, Anthony Valentine, Kenneth Colley, John Sterland, Laraine Wickens


GIMME SHELTER

(1970)

Os documentários de rock geralmente são triviais. Na melhor das hipóteses, são bons e extensos filmes promocionais de suas bandas: os piores, contudo, se tornam vídeos pop demasiado longos com entrevistas chatas. Há nobres exceções, a mais famosa sendo o documentário de D. A. Pennebakcr sobre Bob Dylan, A caminho do leste. Mesmo esse, contudo, nada mais é que um diário aumentado, um estudo de personalidade fel to por um observador invisível. O documentário de rock mais impressionante e dramaticamente satisfatório é seguramente Gimme Shelter, dos Irmãos Maysles, lançado em 1970: um filme sobre a turnê americana dos Rolling Stones em 1969. Com a sua estrutura narrativa - parcialmente Imposta e não Inerente, como no estilo vérité - e o seu clímax, o desastroso e trágico concerto gratuito em Altamont, no dia 6 de dezembro de 1969, Gimme Shelter é angustiante, um excitante comentário social e bom rock 'n' roll, tudo ao mesmo tempo. O filme começa de fotma bem convencional, com os Stones tocando no Madlson Square Garden, mas então cotta para uma sala de edição, meses depois, onde .1 banda eslá ouvindo uma reportagem no rádio sobre as EUA (Maysles Films) 91 min. Cor

conseqüências de Altamont. Isso é uma narrativa dirigida, produto da crença que Albert

Idioma: inglês

c David Maysles (assim como a editora/co-diretora Charlotte Zwerin) tinham no Cinema

Direção: Albert Maysles, David

Direto, usando técnicas tiradas de filmes "ficcionais" e apllcando-as a obras de não-

Maysles, Chatlotte Zwerin

ficçâo. Dessa forma, o concerto de Altamont é "reeditado" para aumentar a tensão

Produção: Ronald Schneider

dramática - os patrtilhelros do realismo podem censurar o fato de que o assassinato de

Fotografia: Ron Dorfman, George Lucas, Albert Maysles, David Maysles, McKlnney Música: Mick Jagger, Keith Richards, lhe Rolling Stones

Elenco: Mick Jagger. Keith Richards, Mirk Taylor, Charlie Watts, Bill

Wyman, Marty Balin, Melvin Belli,

Dick Carter, Jerry Garcia, Meredith

Hunter, Paul Kantner, Michael Lang, Phil Lesh, Ronald Schneider, Grace

Mick, Ike Turner, Tina Turner, Boh Weir

Mercdith Hunter, um negro que estava na platéia, acontece durante a canção errada dos Stones, mas os Irmãos Maysles estavam editando para obter um efeito dramático e não para esetever a história do rock. Gimme Shelter termina com os Rolling Stones vendo o assassinato (cometido por um dos Hclls Angels contratados pela banda para "fins de segurança") em sua sala de edição. É um momento único, em que estrelas do rock são confrontadas com as conseqüências de suas próprias ações. O lilme ajudou a selar a imagem dos Stones como demônios do rock e também - e talvez Isso seja o mais Importante

a de Altamont como o "antl-Woodstock", um

fechamento negativo para a década de 60. Ele sugeriu que a contracultura nada mais era do que muitos tolos drogados que acharam o assassinato "um saco" e que o sonho dos anos 60 estava completamente acabado. Tudo Isso pode ser debatido, mas a força c o drama deste documentário não. Kl<


ABRISKIE POINT (1970)

EUA (MCM, Trianon) 110 min.

I m i . i d único filme americano de Michelangelo Antonioni tenha sido mal recebido do foi lançado, em 1969, de forma geral Zabriskie Point envelheceu melhor do que o , pmduzido uma década antes. A abordagem francamente não realista e poética P diretor apresenta dos mitos da contracultura americana, bem como sua abordadeliberadamente lenta da narrativa, ainda pode afastar algumas pessoas. )i também escalou dois jovens desconhecidos como seu par romântico: um fiteiro (Mark Frechette) e uma universitária (Daria Halprin) - nenhum dos dois foi d t l d e então -, ao lado de um profissional relativamente inexpressivo. Rod Taylor, ij - rir seu prestígio comercial naquele momento, o diretor tinha acabado de lanItU Único sucesso internacional na Inglaterra [Blow-Up - Depois daquele beijo) e as |l tu ivas de que produziria algo do mesmo nível em relação â contracultura ameri111 foram, sem dúvida, exageradas. 11 seu belo manejo das composições em plano aberto, das cores tiradas da Pop do tssunto (basicamente inspirado nos quadros de avisos e cartazes da Califórnia

Metrocolor Idioma: inglês Direção: Michelangelo Antonioni Produção: Carlo Ponti, Harrison 'a.in Roteiro: Michelangelo Antonioni, Franco Rossetti, Sam Shepard, Tonino Guerra, Clare Peploe Fotografia: Alflo Contini Música: Jerry Garcia, David Gilmoin, Nick Mason, Roger Waters, Richard Wright, Roy Orbison Elenco: Mark Frechette, Daria Halprin, Paul Fix, G. D. Spradlln. Bill Garaway, Kathleen Cleaver, Rod Taylor

sim como dos climas melancólicos, tem muitos efeitos retardados que "i.iio até o final apocalíptico, grandioso c espetacular. Alguns dos outros filmes de , sobretudo Dilema de uma vida, Eclipse e O passageiro - profissão

repórter,

ou quase terminam, com passagens de virtuosismo estilístico que fazem I releitura

drástica e também resumem tudo o que estava contido nos filmes que os

.li Neste caso, Antonioni não desaponta. Ras

PÁSSARO DAS PLUMAS I CRISTAL (1970) (I ÜCCELLO DALLE PIUME Dl CRISTALLO) Ins piumos de cristal, de Dario Argento, é uma adaptação não autorizada do I I 1 d e I ledric Brown The Screaming Mimi, muito mais fiel à trama original do que i " "oficial" de Gerd Oswald, de 1958, The Bird with the Crystal Plumage. Dario • d 111'i rizes gerais estabelecidas por Mario Bava em The Evil Eye (1963) e Blood and lace (i')64) para produzir uma versão bem italiana do thriller no estilo de BOCl Ao fazê-lo, o diretor criou um subgênero próprio com seu primeiro longa, dl da noite, Sam Dalmas (Tony Musante), um escritor americano em Roma, está quando passa por uma galeria de arte moderna e percebe uma luta lá dentro. . ido entre duas portas de vidro, vê um homem lutar com uma mulher c é 11 quando ela é apunhalada. A vítima sobrevive e o herói fica sabendo que te era um serial killer à solta na cidade, mas Musante fica obcecado com a ll q u e viu algo durante o incidente que não fazia sentido. Como sua namorada > 1 hl) intrigada inevitavelmente chama a atenção do assassino e os policiais

Itália / Alemanha Ocidental (CCC Filmkunst, Glazler, Seda Spettacoll) 98 min. Eastmancolor Idioma: italiano Direção: Dario Argento Produção: Salvatore Argento Roteiro: Dario Argento, baseado no livro The Screaming Mimi, de Fredde Brown Fotografia: Vlttorio Storaro Música: Fnnio Morricone Elenco: Tony Musante, Suzy Kendall, Enrico Maria Salerno, Eva Renzi, Umberto Raho, Renato Romano, Giuseppe Castellano, Mario Adorf, Pino Patti, Gildo Di Marco, Rosita Torosh, Omar Bonaro, Fúlvio Mingoz/I, Werner Peters, Karen Valenti

.1 pista relacionada ao título do filme, Musante chega a um conflito com o . 1 v i I assassino de rosto cadavérico (Reggie Nalder) de O Homem que sabia li 1 in. In ock (1956). Em um final irônico e terrível, o herói acaba descobrindo mpre lota o "homem que não percebeu o que já sabia". K N

VI


Itália / Alemanha Ocidental (CCC i llmkunst, Documento) 9 4 min. I astmancolor Idioma: italiano Direção: Vittorio De Sica Produção: Artur Brauner, Arthur ( ohn, Gianni Hecht Lucari

0 JARDIM DOS FINZI CONTINI (1970) (IL GIARDINO DEI FINZI CONTINI) O jardim dos Finzi-Contini,

de Vittotio De Sica, matcou o retorno internacional de um

diretor que nunca tinha deixado de trabalhar, mas cuja fama tinha decaído desde os tempos de obras-primas neo-realistas como Umberto D (1952). A sua história, adaptada do romance de Giorgio Bassani sobre os judeus italianos que lentamente se adaptam à

Roteiro: Vittorio Bonlcelll, baseado

opressão fascista que estava próxima, chamou a atenção de um público dos anos 70

no livro de Giorgio Bassani

que apreciava o ressurgimento de temas políticos e históricos no cinema de arte.

Fotografia: Ennio Guarnieri Música: Bill Conti, Manuel De Sica Flcnco: Uno Capollcchio, Dominique Sanda, FabioTesti, Romolo Valli, 1 lelmut Berger, Camillo Cesarel, Inna Alexeieff, Katina Morisani, Barbara Pllavln, Michael Berger, Ettore Geri Oscar: Itália (melhor filme estrangeiro) Indicação ao Oscar: Ugo Pirro. Vlitorio Bonicelli (roteiro) Festival de Berlim: Vittorio De Sica (Urso de Ouro), (prémio Otto

A narrativa mantém em suspenso o seu trágico desfecho até o final, embora o Insinue como uma sombra escura ao longo do filme, enquanto as personagens se divertem distraidamente com suas últimas festividades. As belas jovens que se teúnem em seu paraíso da alta burguesia são transportadas em uma angustiante seqüência de eventos sobre desejos não resolvidos: ninguém, hetero ou gay, é amado pela pessoa desejada. Estilisticamente, o filme não é nenhuma obra-prima. Mas ganha vida nos momentos em que De Sica gruda a sua câmera em doses de suas estrelas fascinantes (Dominique Sanda e Helmut Berger, especialmente) para observar o dardejar furtivo de seus olhos nobremente expressivos. O jardim dos Finzi-Contini

loin.i as palpilaçoes lom.inlk.is poi ve/es insignificantes, desesperadas, absurdas e

Dibelius)

pungentes. A M

EUA (Foundation for Filmakeis)

WANDA

102 min. Cor

Idioma: inglês Direção: Barbara Loden Produção: Harry Shustet Roteiro: Barbara Loden Fotografia: Nichoias T. Proferes Elenco: Barbara Loden, Michacl

é uma parábola aguda e tocante sobre a relação entre os

dl amas pessoais e poln ii os, piivailos c públicos. O dl,ima social que invade a história

(1971)

A pungente imagem final de Wanda

uma imagem congelada da personagem cpónlma

epie segue tristemente à deriva por uma vida em bares de uma 1 idade pequena, em silenciosa miséria - ganha uma ressonância trágica adicional quando se sabe que esta obra-prima do cinema independente americano é o único filme dirigido por sua estrela, Barbara Loden, antes que sucumbisse ao câncer, cm 1980. Esposa de Elia Kazan (e também atriz nos filmes Rio violento I1960] e Clamor do sexo [1961], de seu marido), Barbara

I llgglns, Dorothy Shupenes, Peter

extraiu inspiração adicional dos ritmos improvisatórlos no cinema-verdade do movi-

shupenes, Jerome Thler, Marian Thier,

mento de filmes Independentes que florescia em fins dos anos 60. Este é um retrato cru

Aiuhony Rotell, M. L. Kennedy,

e naturalista de uma jovem empobrecida e sem educação em uma cidade Industrial da

1 iiiald Grippo, Milton Glttleman, 1 lia tjittleman, Arnold Kanigjoe Dcnnis, Charles Dosinan, Jack Ford

Pensilvânia que abandona o marido e os filhos com o mesmo grau de apatia que irá guiar o seu envolvimento com um ladrão de bancos intimidante (Michacl Hlgglns). Barbara evita, admiravelmente, transformar sua protagonista em uma conveniente mártir simbólica das causas feministas, assim como nunca se abstém de demonstrar a cumplicidade de Wanda ao fazer escolhas ruins que só contribuem para a sua desesperança - e, ainda assim, é Impossível deixar de lado uma grande empatia pot Wanda e por sua auto-estima despedaçada. Obtendo com maesttia desempenhos autênticos de um elenco que mistura profissionais com pessoas comuns, Barbara criou a crônica de um tipo de personagem raramente visto em filmes americanos - e, no processo, criou também uma das maiotes realizações de direção "de primeira" na história do cinema norte-americano. TCr


W. R.: MISTERIJE ORGANIZMA

(1971)

Iugoslávia / Alemanha Ocidental

t) Ulme do diretor iugoslavo Dusan Makavejev mais aclamado pela crítica, W. K.: Mltlnije Organizma

(W. R.: Mistérios do organismo) é uma paródia magnificamente

Ibuena de política e tradições sociais da Guerra Fria. Também possui uma excelente lillh.i sonora, com a canção "Kill for Peace" interpretada pela banda nova-iorquina The hip/. Uma colagem psicodélica de várias tramas, W. R. conta a história de três culturas •ira até o final dos anos 6o: o comunismo antiquado no estilo soviético, o mili-

(Neoplanta, Telepool) 85 min. PScB Idioma: servo-croata Direção: Dusan Makavejev Roteiro: Dusan Makavejev Fotografia: Aleksandar Petkovic, Predrag Popovic Música: Bojana Marijan

U i I m i i o burguês dos Estados Unidos e os revolucionários sexuais cujos valores colocam

Elenco: Miodrag Andric, Jim Bucklev

milhos em xeque.

Jackie Curtis, Betty Dodson, Milena

i . as culturas são exploradas por narrativas entrelaçadas cuja justaposição é lamente tola e perturbadora ao mesmo tempo. Em uma delas - uma visão li

ental sobre a vida do psiquiatra radical Wilhelm Reich - somos Introduzidos à ichlana dos "orgones", uma unidade de energia da vida erótica que ele acrcdi-

liiva poder ser capturada em caixas especialmente desenvolvidas. Quando o governo ano ouviu falar nas práticas terapêuticas peculiares de Reich - que incluíam a seus pacientes cm grandes grupos para gemer, gritar e mexer seus quadris A liistória sobre Reich é entrecortada com uma patética imitação imaginária da avia comunista, na qual Milena, feminista-comunista sexualmente liberada, Ipiii.i seduzir um artista que faz o estilo antigo de "artista do povo", com resultados losos

- homenagem ao clássico cult de 1962 The Brain T/i«t Wouldn'l

longo de Manhattan enquanto ele se veste como um dado, marcha com o passo de ganso dos soldados nazistas i s aleatórios e faz de conta que está masturbando o seu .ivejev

mistura tomadas de Stalin retiradas de um filme

ih puipaganda soviético de 1946 seguidas de filmes clínicos de 111 terapia de cletrochoque. Ocasionalmente surgem 1 a s com subversivos sexuais norte-americanos que con1 eu nu evitar o destino de Reich: a inocente transexual Jackie n

descreve as suas primeiras tentativas atrapalhadas de -o como um homem; a ativista Uetty Dodson discorre nslnar as mulheres a tocarem as suas próprias vaginas.

' 1 eleito cumulativo desses fragmentos de histórias e um lescente de que o mundo está caótico porque os poli• leniam - mas não conseguem - reprimir o desejo sexual. |ev Meou famoso por ter dito que sua produção de filmes "l.igens representa a verdadeira materialização do ideal ' nsiein da montagem dialética, já que o próprio Eisen.10 leria, segundo ele, senso de humor suficiente para 1 Iiiiii

Ionar direito. W. R. pode ser o único documentário

isi.i de vanguarda sobre sexo em formato de comédia i' si ompromissada já feito. Por si só, isso o torna um

Ivkov, Mi Ian Jelic, Jagoda Kalopei, I11I1 Kupferberg, Zivka Matlc, Nlkola Milli, ÍZoran Radmilovlc, Wilhelm Reich, Ivica Vidovic Festival de Berlim: Dusan Makavejev (menção especial - Prêmio FIPRESCI), (Prêmio Interfilm - recomendação do fórum do novo cinema)

i .unente -, ele foi detido e passou o resto de sua vida na prisão.

nquanto Isso, seguimos o cantor do The Fugs, Tull Kupfcr-

Dravic, Nancy Godfrey, Dragoljub

D/e.



Inglaterra (Hawk, Polaris, Warner

LARANJA MECÁNICA

Bros.) 137 min. P8cB/ Cor

(A CLOCKWORK ORANGE)

Idioma: inglês

O filme mais controverso de Stanley Kubrlck, uma fábula de ficção científica social,

(1971)

Ulrcção: Stanley Kubrick

produzido em 1971, foi retirado de circulação no Reino Unido pelo próprio dlretot durante

Produção: Stanley Kubrick

quase 30 anos, apesar de seu lançamento inicial ter sido muito bem-sucedido mas

Roteiro: Stanley Kubrick, baseado no

fortemente criticado. Ressurgiu, envolto em mística, não muito após sua morte. Laranja

livio de Anthony Burgess

mecânica

Fotografia: John Alcott

romance distópico de Anthony Burgess que, por sua vez, foi publicado com aprovação e

Música: Nado Herb Brown, Walter

notoriedade em 1959, mas durante muito tempo acreditou-se que era Impossível filmá-lo.

Carlos, Rachel Elkind, Edward Elgar, < liuacchlno Rossini, Ludwig van Beethoven, Henry Purcell, Nikolai Rlmsky-Korsakov Elenco: Malcolm McDowell, Patrick

Magee, Michael Bates, Warren Clarke.

John Clive, Adrienne Corri, Carl

Iiiicring, Paul Farrell, Cllve Francis,

Michael Gover, Miriam Karlln, James Marcus, Aubrey Morris, Godfrey

Quigley, Sheila Raynor

Indicação ao Oscar: Stanley Kubrick

(melhor filme), Stanley Kubrick

(diretor), Stanley Kubrick (roteiro), William Butler (edição)

permanece um filme eletrizante, uma ttadução corajosa para o cinema do

Delinqüente porém inteligente, o cspcrtallião-malandro Alex De Large (Malcolm McDowell) tem como prazeres a pornografia, Beethoven e principalmente a liderança de seu bando, os "Droogs" (incluindo o jovem Warren Clarke), sempre vestidos de macacões brancos c usando chapéus-coco pretos, em acessos ftenéticos e descontrolados de "ultravlolência", nos quais usam um dialeto peculiar, uma gíria rimada criada a partir de um híbrido de russo e inglês. A cena mais perturbadora nesta primeira seção do filme, com 20 minutos, é aquela que voltará para assombrar Alex quando ele se encontrar Indefeso na parte final. Depois de invadir uma luxuosa casa futurista, eles espancam o marido (Patrick Magee) e estupram sua esposa (Adriennc Corri) enquanto Alex canta " Slngin' In The Rain" aos berros e dispara fortes chutes com suas (então na moda) botas Doe Marten, ao ritmo da música. É intetessante notar que a cena do estupro fica na memória dos espectadores como sendo especialmente sórdida, embora Kubrlck < orle . 1 1 ena viólenla assim que Alex termina de recortar o macacão vermelho colante da mulher. Outto passeio em busca de emoções termina quando Alex estoura os miolos de tuna mulher com uma gigantesca escultura fálica, crime pelo qual acaba sendo pego. Mas a brutalidade institucionalizaria que resulta 11,1 punição de Alex e a "reabilitação" que o ttansforma em um covarde sem vontade própria são tão assustadoras quanto os crimes dos Droogs, e também mais provocadoras, como uma sátira corrosiva da hipocrisia, corrupção e sadismo da sociedade. Vendo uma chance de sair da prisão, Alex torna-se voluntário para uma terapia de aversão experimental com fins políticos. Submete-se a uma terrível "cura" behaviorista - amarrado, com os olhos mantidos abertos à força - que suprime sua tendência violenta mas também retira sua humanidade. Incapaz de cometer maldades, ele se torna um indivíduo enfraquecido. De volta ao mundo, não aprecia a sua "liberdade". Traído por seus antigos camaradas, que, ironicamente, tornaram-se policiais, recebe uma retribuição hilarlamente Intimidadora em um encontro com uma de suas vítimas. A Impressionante visão de Kubrick de um futuro não muito distante ficou datada em alguns detalhes sutis (discos de vinil, a máquina de escrever IBM de Alex), porém a violência pela qual foi tão criticado em seu lançamento tornou-se discreta para os padrões viscerais contempo râneos. A visão de tolos agressivos e sem propósito que descarregam o seu enfado em uma crueldade sem restrições é assustadoramente atual, assim como a questão central do filme - a fragilidade dos direitos individuais quando estes não se conformam com os desejos do Estado. Sempre elegante e multas vezes engraçado, com a trilha sonora original futurista de Walter Carlos, Laranja mecânica do que muitos de seus óbvios derivativos. AE

permanece mais vigoroso


11 .iin.i / Alemanha Ocidental / Suíça

(NliK, Télévlsion Rencontre, TSR) 2b2 min. P&B

Idiomas: francês/ alemão / Inglês Direção: Mareei Ophüls Produção: André Harris, Alain de Sedouy Roteiro: André Harris, Mareei Ophüls Fotografia: André Cazut, Jürgen Ihieme Elenco: Georges Bidault, Matheus,

LE CHAGRIN ET LA PITIE (197D Durante mais de duas décadas, a sociedade francesa pareceu sem vontade de examinar as perguntas morais levantadas pela ocupação alemã, mas as perturbações profundas das revoltas de maio de 1968 propiciaram uma nova abertura. O documentário de Marcel Ophüls Le Chagrin et la pitié (A tristeza c a compaixão) concentra-se em eventos ocorridos na cidade de Clcrmont Ferrand. Apesar de ter recebido inicialmente o apoio da televisão nacional francesa, Ophüls não pôde transmitir seu documentário pela TV. Em vez disso, o filme estreou em cinemas de arte, tornando-se rapidamente a produção mais controvertida do ano. A distribuição mundial veio em seguida e este registro de quatro horas das reminiscências de sobreviventes do período, entremeado com cenas de arquivo, logo

lilcibinger, Charles Braun, Maurlce P i k kniaster, Emile Coulaudon, I mmanuel d'Astier de la Vigerie, René de Chambrun, Anthony Eden, Mareei (Iphüls, Denis Rake, Henri Rochat,

se consagrou como um dos documentários mais aclamados do cinema mundial. Ophüls escolheu uma cidade localizada na "zona neutra" da França durante o governo de Vichy, de forma que pudesse explorar os caminhos pelos quais o governo colaboracionista operou. Os seus informantes vão de membros da nobreza a camponeses,

Paul Schmidt, Mme. Solange, Edward

passando por ex-soldados alemães que são filmados usando as suas medalhas. Com

Spears, Helmut Tausend, Roger lounze. Mareei Verdier

11111 mínimo de narração e generalizações distorcidas, Le Chagrin et In pitié captura as

Indicação ao Oscar: Mareei Ophüls

do, é o chagrin ("tristeza", mas também "vergonha") de seu título, estabelecido pelas

(documentário)

ambigüidades e as contradições do período. O sentimento resultante do filme, contuperguntas insistentes do entrevistador e as mentiras ou distorções que ficam óbvias .iii.ivi", das difeienies humas de leslemunho c icaçoes 11.m ensaiadas das pessoas entrevistadas a perguntas difíceis e embaraçosas. RBP

EUA (David L. Wolper, Quaker Oats, Warner Bros.) 100 min. Technicolor Idioma: inglês Direção: Mel Stuart Produção: Stan Margulies, David L. Wolper

A FANTÁSTICA FABRICA DE CHOCOLATE (197D (WILLY WOIMKA AND THE CHOCOLATE FACTORY) Em sua maior parte, filmes para crianças são melosos ou mesmo tolos. Contudo, a adaptação de Mel Stuart do popular livro infantil de Roald Dahl é uma exceção feliz. A fan-

Roteiro: Roald Dahl, baseado no livro

tástico fábrica de chocolate é uma comédia de humor negro para jovens, repleta de cená-

A fantástica fábrica de chocolate

rios chamativos, canções atraentes e com ,1 impeiavel atuação de Gene Wilder como

Fotografia: Arthur Ibbetson

personagem principal, cuja reputação é a de ser o maior fabricante de doces do mundo.

Música: Leslie Bricusse, Anthony Newley Elenco: Gene Wilder, Jack Albertson, Pelei Ostrum, Roy Kinnear, Julie

Wonka escondeu cinco ingressos dourados cm suas barras de chocolate e aqueles que os encontrarem poderão conhecer a fábrica e também receber uma provisão vitalícia de doces. A fábrica contém uma galeria de esplendores, incluindo um rio de cho-

Djwn I ole, Leonard Stone, Denise

colate. A armadilha que os felizes vencedores devem enfrentar é que precisam obedecer

11 it • 1111 nen, Ursula Reit, Michael

ficar uma criança que seja realmente honesta (ela acaba sendo, naturalmente, a mais

Nli kerson, Nora Denney, Paris

Bolinei, Diana Sowle, Aubrey Woods, 1 'avid liattley, Gunter Melsner

Indicação ao Oscar: Leslie Bricusse, Anthony Newley, Walter Scharf ( l l l l l ' . l l .1)

às duras e arbitrárias regras de Wonka. O objetivo do passeio, contudo, é o de identiencantadora e irascível do grupo). Sua recompensa é herdar a fábrica de Wonka: um dia esse felizardo se tornará o fabricante de chocolate cujo dever é não apenas satisfazer as crianças, mas também fornecer um rito de passagem para o mundo adulto. Assim como O mágico de Oz (1939), A fantástico

fábrica de chocolate é cheio de criaturas estra-

nhas, cenários artificiais, música e alegres números de dança. Um filme para entreter os jovens e colocar os adultos para pensar. RBP


JOGOS E TRAPAÇAS - QUANDO OS HOMENS SÃO HOMENS (1971)

EUA (Warner Bros.) 120 min. Technicolor idioma: Inglês

(MCCABE A N D M R S . MILLER) dos anos 70, Robcrt Altman parecia capaz de fazer tudo. Mesmo assim, Jogos c

Nu

Bipacris - Quando os homens sdo homens, produzido entre M*A*S*H c Nashville,

é

I, um conto elegíaco do Velho Oeste imbuído do sentido da aventura contempolllir.i de produzir filmes. Passado no noroeste do Pacífico no Início dos anos 1900, o Melado

por um Warrcn Beatty

à

vontade no papel título: um fanfarrão, covarde

Direção: Robert Altman Produção: Mitchell Brower, Robert Eggenweiler, David Foster

Roteiro: Robert Altman, Brian Mc Kav. Edmund Naughton Fotografia: Vlimos Zsigmond

iiismático, que deu sorte e conquistou poder. Mas o país está mudando ao seu

Música: Leonard Cohen

,eu personagem não consegue ver as conseqüências Inevitáveis e violentas do

Elenco: Warren Beatty, Julie Christie.

,0, independentemente de todos os seus narcisistas castelos no ar.

Rene Auberjonois, William Devane, John Schuck, Corey Fischer, Bert Remsen, Shelley Duvall, Keith Carradine, Michael Murphy, Antony Holland, Hugh Millais, Manfred Schulz, Jace Van Der Veen, Jackie Crossland Indicação ao Oscar: Julie Christie

Alunan quis que o filme capturasse a atmosfera de uma velha fotografia e instruiu igmond a superexpor o filme, criando uma densa névoa que fica suspensa por imagem. Outra decisão brilhante foi a escolha de Leonard Cohen para a trilha anacrônica, já que sua música folk é adequada ao clima sombrio e ,10 cenarlo • n e v e . Mas o melhor é julio Chrlstie como uma viciada em ópio com um ,11 pie contrasta com a atuação mais natural de Beatty como um bufão barbudo ide casaco de pele, e sua ptesença espei Uai ,11111111 ia c olsas mins. '• trapaças chora a morte do Oeste selvagem, mesmo que assinale a fértil ih .1 da produção de filmes dos anos 70. Os formidáveis planos abertos e a D oi errante de Altman transmitem uma tristeza palpável: a i h ' o progresso e 11 capitalismo andam junios, .• nem para o bem. O êxito florescente da cidade fronteiriça de

tMHy 1

piincípio

atrai operários, depois pessoas bem intendo

mas o seu trabalho duro c sua visão nada querem dizer D 1

tens que, em última instância, desejam mudar tudo. A

I dc Ahman da Amética como um experimento de Darwinis HIR («celerado pelas armas) pode parecer cáustica para alguns, • i.ual espectral dá ao filme uma tristeza palpável que

Minta qualquer mensagem especifica. JKI

(atriz)


ALONGA CAMINHADA (197D (WALKABOUT) O segundo longa de Nicolas Roeg como diretor (e seu primeiro trabalho solo) é enga liosamente simples: um funcionario de escritorio (John Melllon) dirige rumo ao coração vazio da Australia com sua filha de 16 anos (Jenny Agutter) e o filho bem mais novo (Luí Roeg). O pai bota fogo no carro e se mata, deixando os irmãos perdidos 110 deserto. Em uma fonte de água seca, os dois encontram um jovem aboríginc (David Gulpilil) que estl no seu "walkabout"

uma longa caminhada, um tempo afastado da tribo durante o qual

deve comungar com a natureza. Naturalmente, o período que as crianças da cidade pas sam no ambiente selvagem também serve como um "walkabout" para elas mesmas, durante o qual aprendem algo que é silenciado quando voltam às suas vidas pregress.r.. deixando para trás uma devastação que só o aborígine condenado entende. A longo caminhada é um filme profundo, masé também evasivo: constantemente força I espectador a pensar por conta própria ou a aceitar que alguns dos misterios nunca serão re solvidos. A história começa e termina com suicídios que não temos como "entender". Se o romance de James Vanee Marshall fosse abordado de forma convencional, o filme seria cheio de excitam es perigos da selva e según ia tapidamente na diíeç, 10 de um i aso de amor no estilo de ííK/oii A/11I. entre a moça reprimida e o rapaz selvagem, mas Roeg, escolheu uma aborda gem mais velada e cuigniálka. Uni drama de ii.insfouu.nao e iiageilia e Inteiiamente transmitido por melo de um diálogo sem maiores conseqüências. Lampejos de truques cine matográficos, cenas parecidas com uma nota de rodapé, fornecem um 1 muraste "civilizado" com o comportamento selvagem - Gulpilil cravando a lança e batendo com o porrete em uni canguru cuja carne ele corta Impessoalmente com uma faca de açougueiro , combinados com Inglaterra (Fox, Litvinoff) 95 min.

cenas de documentários mostrando lagartos rastejando e enxames de insetos.

I astmancolor

As habilidades normais associadas a uma "atuação" não são necessárias aqui, e

Idioma: inglês

Roeg colocou em dois dos papéis principais pessoas que atuavam pela primeira vez: o

Direção: Nicolas Roeg

aborígine Gulpilil - depois uma presença constante no cinema australiano, de The Losi

Produção: Si Litvinoff, Max L. Raab

Wtivea Crocodilo Duiultr

Roteiro: Edward Bond, baseado no

taslas de toda uma geração porque Jenny Agutter, dentro e fora do uniforme da escola

livro de James Vance Marshall

(há uma famosa cena em que ela nada nua), emergiu da sua imagem afetada da série

Fotografia: Nicolas Roeg

de TV

Música: John Barry, Warren Marley, Billy Mitchell, Rod Stewart, Karlheinz

para a cidade uma "memória" de algo que nunca aconteceu. KN

Stockhausen

llenco: Jenny Agutter, Luc Roeg, David Gulpilil, John Melllon, Robert McDarra, Peter Carver, John Illingsworth, Hilary Bamberger, Barry Donnelly, Noellne Brown, Carlo Minchini Festival de Cannes: Nicolas Roeg, Indll ação (Palma de Ouro)

'.'.I

RcJilway

e seu próprio filho Luc. A longa caminhada

sobrevive nas fan

Childrcn como uma jovem surpreendentemente sensual que leva de volta


Kl UTE, O PASSADO CONDENA

(1971)

IKIIITE) • -1n ihllldade pós-Vietnã/Watergate do cinema dos anos 70 nunca ficou tão evidente H

111 'I

Direção: Alan J . Pakula

, Iniciais, o diretor nos torna conscientes da era de vigilância que culminaria

Produção: C. Kenneth Deland, David

il que ao mesmo tempo é um thriller e uma comédia, transbordando de sub i K i i r . Miliie a decadência urbana e com um sentimento claustrofóbico de desamparo. ,11 do título, esta é a história de Brce Daniels (fane Fonda) e o seu sucesso se iplexa vida interior dessa garota de programa, que não é nem uma típica 'i ll

11 < om um coração de ouro nem uma sacana completa. O trabalho de Fonda • 1 .lior feito de sua carreira. Brec quer ser atriz c modelo, c a forma como Pakula

11 •Hl"'

11,1 Nova York torna compreensível que ela tivesse que fazet programas para '

no se fosse outra atuação. urge John Klute (Donald Sutherland), detetive de uma cidade pequena

na il

i" perdido no submundo de perversão e fraude de Nova York, c um enigma pa que ele parece estar além da corrupção. O investigador moralmente Irrentherland a fascina a tal ponto que ela lhe fornece uma entiacla em uni I H qual ele jamais teria acesso sozinho. Assim como em Hardcorc -- No siihiniiu Ic Paul Schrader (1979), um Inocente de uma pequena cidade é lançado na "oia da maldade utbana so para descnbiii qurc patética, ecsicnde a mau para • 1 1 ilidida que busca a salvação, mesmo que qualquer relação seja impossível, uno um filme de suspenso, não há em K/ute nenhuma expectativa verda• 1 que a identidade do assassino é conhecida logo no Início. A dinâmica entre '. principais é o que mantém o centro do filme. O verdadeiro prazer vem da I ide da atuação de Fonda e de sua capacidade de registrar tantas sutilezas e o " , diante da câmera. A eslclic ,1 de Pakula esla cem rada no prazer voyctirísti1 var Bree se transformar em uma nâo-heroina à medida que o medo envolve

11

Idioma: inglês

lássico neonoir de Alan Pakula Klutc. Desde a fetichlsta conversa telefônica icnte em A conversação, de Francis Coppola. Kíute 6 um filme não con-

I

EUA (Cus, Warner Bros.) 114 min. Technicolor

do e sua casca resistente começa a se esfacelar quando ela precisa confiar possivelmente pela primeira vez. 1 Pakula, as suas três obras-primas (Klutc, A trama c Todos os homens do o lis do que justificam o seu lugat entre os grandes diretores dos anos 70 ou piri outra década. Seu estilo permaneceu único até o fim. DDV

Lange, Alan J . Pakula Roteiro: Andy Lewis, Dave Lewis Fotografia: Cordon Willis Música: Michael Small Elenco: Jane Fonda, Donald Sutherland, Roy Schelder, Charles Cioffi, Dorothy Tristan, Rita Cam, Nathan George, Vivian Nathan, Morris Strassberg, Barry Snider, Betty Murray, Jane White, Shirley Stoler, Robert Milli, Anthony Holland Oscar: Jane Fonda (atriz) Indicação ao Oscar: Andy Lewis, David P. Lewis (roteiro)



EUA (Paramount) 91 min. Technicolor Idioma: ingles Diretor: Hal Ashby Produtor: Colin Higgins, Mildred lewis, Charles Mulvehill Roteiro: Colin Higgins

ENSINA-ME A VIVER (197D (HAROLD A N D MAUDE) O rótulo de "filme cult" é hoje comumente usado como um truque de marketing pari filmes semi-mdepcndcntes ou comerciais que flertam com várias subculturas. Ensina me a viver, contudo, é um cult autêntico, combinando os talentos de direção do ex-edl

Fotografía: John À. Alonzo

tor Hal Ashby com as figuras excêntricas dos atores principais Bud Cort c Ruth Cordon.

Música nào original: Cat Stevens,

Cort, com 21 anos, tinha acabado de fazer o seu primeiro papel principal como uma

Johann Strauss, Tchaikovsky

criança obcecada com vôos em Voar é com os pássaros (1970), de Robert Altman. A ex

Elenco: Ruth Gordon, Bud Cort, Vivian Pickles, Cyril Cusack, Charles lyner, Elien Geer, Eric Christmas, (.. Wood, Judy Engles, Shari Summers, Tom Skerritt, Susan Madigan, Ray K. Goman, Cordon Devol, Harvey Brumfield

roteirista Ruth Cordon, então com 76 anos de idade, atuou em diversos papéis secun dálios memoráveis ao longo cia década de do, o mais conhecido sendo ,1 bruxa cif Manhattan

premiada com um Oscar - em O bebê de Rosemary, de Roman Polanskl

(1968). Em Ensina-me a viver, uma química peculiar fez deles um par romântico inesquecível, desafiando tabus de idade, envelhecimento, sexo, morte e felicidade. Mais interessante, possivelmente, é que o desafio apresentado não é apenas uma postura-padrão da contracultura contra a sociedade patriarcal tradicional, sendo mais agressivamente dirigido contra o comportamento dos jovens daquela época. O efeito é obtido sobretudo pela Inversão do conceito da década de Cio onde a juventude era vista como a força vllal capaz de quebrar o s moldes, em oposição ao inevitável embotamento físico c espiritual que afetaria todos com mais de 30 anos. No filme, Harold, jovem e rico, é um morlo-vlvo por causa de sua incapacidade de livrar-se de uma fixação edlplana por sua fria mãe (Vivian Pickles), cuja atenção ele tenta atrair, em vão, por melo de uma série hilariante de falsas tentativas de suicídio. Somente quando encontra Maude, velha mas energética e anárquica, ele passa a viver de fato. Assim, o medo que Harold tem da vida é Igualado ao medo de crescer e envelhecer. Maude, por outro lado, não teme a morte, tendo sobrevivido aos campos de concentração nazistas (o que é insinuado pelo número tatuado cm seu braço, mostrado de passagem em uma tomada). Na verdade, descobrimos perlo cio final do filme que ela anseia pela morte. Ironicamente, esla estranha história de amor surge a partir do hábito obsessivo de ambos de assistir a funerais, que - por motivos diferentes - tem valor terapêutico para eles. Louve-se Ashby por não ter convertido tudo isso em uma narrativa sentimental de amizade platônica, na qual o velho sábio dá lições de vida ao jovem despreocupado. Em vez disso, Maude é a despreocupada, impulsivamente transformando em ações todas as suas fantasias, chegando mesmo a roubar carros e seduzir rapazes 60 anos mais jovens do que ela. A chave deste filme está na liga ção sexual que se forma, gerando revolta cm muitos dos perso nagens e possivelmente em parte do público, até mesmo nos que se vêem como "liberais". As palavras da pregação do sacerdote (Eric Christmas) sobre como o pensamento do corpo jovem de Harold tendo relações sexuais com a carne envelhecida dc Maude "mefaz querer vomitar" trazem à mente atos de necromancia ou algum filme de horror gótico no qual o velho monstro se alimenta da vítima jovem. Triunfantemente, entretanto, Ensina-me a vivemos livra de todos os preconceitos culturais. Na cena final, em que Maude se prepara para morrer em seu 8 0 aniversário, este viés em s

direção aos jovens é substituído pelo ínsight existencial de que a morte é, em última instância, aquilo que dá significado à vida. MT


Hungria (Mafilm) 88 min. Eastmancolor Idioma: húngaro Diretor: Miklós jancsó

SALMO VERMELHO <1971) (MÉG KÉR UM

NÉP)

Assim dançou o comunismo,

o documentário de 1997 de Dana Raga, presume que tudo o

que os diretores do bloco comunista queriam fazer eram extravagâncias no estilo de

Produtor: Ottó Fòld

Hollywood que invariavelmente pareciam forçadas, quadradas, e às quais faltava quali

Roteiro: Yvette Biro, Cyula Hernádi

dade. Mas Salmo Vermelho, uma deslumbrante cerimônia revolucionária ao ar livre, de

Fotografia: János Kende

Miklós Jancsó, é um musical comunista altamente sensual que emprega a nudez ocaslo

Música: Tamás Cseh -

nal de forma tão lírica quanto o canto, a dança e a natureza. Dentro de seus próprios

Elenco: Lajos Balázsovits, András

idiomas, ele é tanto um impulso de júbilo quanto um lamento.

l'.alint, Gyöngyi Büros, Erzsi i serhalmi, Mari Csomós, László i surka, Andrea Drahota, Zsuzsa I eidinándy, Ilona Gurnlk, Péter l laumann, Jáclnt Juhász, János Koltal, Jrázsef Madaras, Tibor Moinar, Elemér Kagályi, Bertalan Solti, Éva Spányik, i uiitisek Velecky, Márk Zala Festival de Cannes: Miklós Jancsó

(diretor), indicação (Palma de Ouro)

Ambientado no século XIX, quando um grupo de camponeses exigiu direitos básicos de um proprietário de terras e soldados chegaram a cavalo, o flme é composto por apenas 26 planos, cada um deles uma coreografia intricada com câmeras em panning, paisagens e corpos agrupados. A fusão impressionante que Jancsó faz de forma com conteúdo, política com poesia, iguala as Inovações excitantes da nouvelle vague francesa. A música ficará tocando em sua cabeça durante dias e as cores são encantadoras. Este pode ser o melhor filme húngaro de seu tempo, resumindo toda uma vertente que foi esquecida nos Estados Unidos. Uma das conquistas de Jancsó foi a de criar uma continuidade notável entre o passado e o presente, um sentimento de urgência em relação .1 lllstoi la que e r u i onliariu em poucos oul ros Mimes do período Isso sugou que a acusação de formalismo leita contra ele vem da incompreensão dos sentidos históricos e políticos que ele criava, ao lado de um esforço compreensível para se deixar Intoxicar pela virtuosidade estilística e pela beleza. Jras

Inglaterra (MGM) 112 min. Metrocolor

CÁRTER, 0 VINGADOR

Idioma: inglês

(GET CÁRTER)

Diretor: Mike Hodges Produtor: Michael Klinger

(1971)

O gângster Jack Cárter (Michael Caine), que trabalha como um capanga para uma gangue de Londres, retorna à sua cidade natal, Newcastlc, pata vingar a morte de seu

Roteiro: Mike Hodges, do livro Jack's

irmão. Enquanto está lá, acaba se envolvendo de forma homicida cm uma complicada

Return Home, de Ted Lewis

série de lutas de facções do submundo local, e cal numa armadilha por cometer a im

Fotografia: Wolfgang Suschitzky

prudência de se meter com Anna, a namorada de seu chefe (Brltt Ekland).

Música: Roy Budd Elenco: Michael Caine, Ian Hendry, '•on 1 kland, John Osborne, Tony s i kley, George Sewell, Geraldine

Mullat, Dorothy White, Rosemarle Dunham, Petra Markham, Alun Ai ur,t rong, Bryan Mosley, Glynn

1 ilw.uds, Bernard Hepton, Terence Rlgby

Em meio ao elenco Interessante de criminosos provinciais de Cárter, o vingador estão o dramaturgo John Osborne figura do submundo

surpreendentemente convincente como uma afetada

e o confiável Ian Hendry, memoravelmente descrito como tendo

olhos "como buracos de xixi na neve". Duro e enérgico, fazendo uso eficaz de locações pouco usadas, o filme de Mike Hodges não faz nenhuma concessão â moralidade e, apesar disso, dificilmente perdoa a brutalidade de seus personagens: Caine fica chocado ao descobrir que sua sobrinha (que poderia ser sua filha) estrelou um filme pornô amador, e termina mal quando ele consegue uma justiça brutal em uma praia deserta. As cenas inesquecíveis incluem Caine completamente nu com uma espingarda expulsando um par de capangas de sua pensão; o catro que mergulha das docas com um passageiro despercebido na mala; e um chefe da máfia que cal do alto de um edifício garagem. KN


MM RAÇÃO FRANÇA (197D

EUA (Fox, D'Antoni, Schine-Mooie) 104 min. Cor

l l l l l FRENCH CONNECTION) llcln ilc Bullitt (1968) c Perseguidor implacável (1971), Operação

França liderou a

dos filmes policiais na década de 70. Livremente Inspirado em aconteclmeno filme gira em torno dos esforços fanáticos de "Popcye" Doyle (Gene • ( k m in), detetive de polícia da cidade de Nova York, para interceptar um enorme ento de heroína planejado por Charnicr (Fernando Rey), um empresário de 1 mbora sua visão da guerra contra as drogas como uma luta de classes travail 1 inn I" 'Ileiais de rua contra os figurões da alta sociedade hoje nos pareça antiquada, nl inua sendo tremendamente excitante e vigoroso, principalmente por causa .tilo rápido de edição, sua visão épica da decadência urbana e seu final Mitliiilsia. sem concessões. i.igem - com sua energia bruta acentuada por transições de cena irregulares e 11

las

transmite tanto uma desorientação fora de eixo quanto um movimento irre' lebrada cena de perseguição na qual o carro de Doyle dispara por uma avenida ida atrás de um metrô de superfície não parece forçada, pois apenas amplia o

iiei ieo, corrido, de visão-de-túnel que persiste ao longo de todo o filme. do filme de uma "drogópolis" cm guerra vai além das locações decadentes c ma relação ressonante entre diferentes panoramas urbanos. A Nova York suja nada é Inicialmente contrastada, com ironia, com a espaçosa e graciosa (mas •

n u l o

cruel) Marselha e, depois, dividida em dois bairros: Manhattan, reduto dos

••Iriosos, e Brooklyn, poleiro de drogados, delinqüentes e policiais de rua. Uma ii 1.11 n i i . ninai é dada por uma breve cena em Washington, D. C. - mostrada como uma • ti .1, sem vida, afastada dos verdadeiros campos de guerra urbanos. nitro ganhador do Oscar de Melhor Filme com um final tão negativo? guii Cfiarnier até um edifício completamente dilapidado. Doyle não só perde mio é engolido pela obsessão deste último. Transtornado demais para aceitar de detonar um agente do FBI, Doyle desaparece em uma perseguição fútil. A I pode ser lida como uma visão .I'll 1. .1 do futuro da cidade, o prédio • ido sendo uma relíquia de uma clvi|0 perdida, a porta através da qual iparei e como no portal do inferii . . I iiupactantedessa conclusãoé 1 inn. eleva Operação França acl•1 '

dlo dos ganhadores do Os-

11 .1 1 alegoria dos filmes realmente li p u l u l e i nossa atenção. MR

Idiomas: inglês / francês Direção: William Frledkin Produção: Philip D'Antoni, G. David Schine, Kenneth Utt Roteiro: Ernest Tidyman, baseado nó livro de Robin Moore Fotografia: Owen Roizman Música: Don Ellis Elenco: Gene Hackman, Fernando Rey, Poy Scheider, Tony Lo Bianco, Mareei Bozzuffi, Frédéric de Pasquale, Bill Hickman, Ann Rebbot, Harold Gary, Arlene Farber, Eddie Egan, Andie Ernotte, Sonny Grosso, Ben Marino, Patrlck McDermott Oscar: Philip D'Antonl (melhor filme), William Frledkin (diretor), Ernest Tidyman (roteiro). Gene Hackman (ator), Gerald B. Greenberg (edição) Indicação ao Oscar: Roy Scheider (ator coadjuvante), Owen Roizman (fotografia), Theodore Soderberg, Christopher Newman (som)


SHAFT (1971) "Ele é cool e durão. E um detetive particular negro, uma máquina de sexo com todas as gatas. Não recebe ordens de ninguém, preto ou branco, mas arriscaria seu próprio pescoço por seu irmão. Estou falando do Shaft. Sacou?" Esses versos, da múslca-tema de Isaac Hayes, vencedor do Oscar, são a introdução perfeita para o herói/rcbelde/ídolo negro americano John Shaft, interpretado por Richard Roundtiee, estrela homônima do longa extremamente bem-sucedido dirigido por Gordon Parks. Shaft seguiu a trilha aberta pot Sweet Swcclback's Baadasssss Song (1971), de Melvin Van Peebles, e é amplamente reconhecido como o filme que iniciou a curta (mas afetuosamente lembtada) explosão de cinema blaxploitation (filmes para os negros com atotes negios, música funk e soul, criticados pot seus estereótipos, mas ainda assim importantes) dos anos 70. O roteiro foi escrito por Ernest Tidyman, autor de uma série popular de histórias de detetive estreladas pelo protagonista do filme. Depois do êxito de Sweetback, a MGM deu a Parks - um negro norte-americano, prestigioso escritor, compositor, fotógrafo e diretor de filmes

a permissão para realizar um projeto a fim de explorar o emergente

mercado de público negro. Parks queria uma cara nova para o papel principal e encontrou exatamente o que procurava em Roundtree, um antigo modelo da Ebony e atot de teatro ocasional cuja presença física e forma de atuar continham a combinação exata de machismo, virilidade e confiança necessários para o papel. EUA (MCM) 100 min. Metrocolor

A trama complicada c típica de filmes de detetives dutões. Depois de causar

Idioma: inglês

Inadvertidamente a morte de um gãngstei que aparece cm seu escritório, Shaft é coa-

Direção: Cordon Parks

gido por uma dupla de inspetores de polícia brancos a ajudá-los a rcunii informações

Produção: Joel Freeman, David Golden Roteiro: Ernest Tidyman. John D. F. Black, adaptado do livro de Ernest I idyman

Fotografia: Urs Furrer Música: Isaac Hayes, J . J . Johnson Elenco: Richard Rotindtree, Moses Gunn, Charles Cloffi, Christopher St. John, Gwenn Mitchell, Lawrence Pressman, Victor Arnold, Sherri Brewer, Rex Robbins, Camille Yarbrough, Margaret Warncke, Joseph I con, Arnold Johnson, Dominic Barlo, George Strus Oscar: Isaac Hayes (música)

sobre uma guerra de gangues supostamente prestes a acontecer no Harlem. Entretanto, um chefào negro do tráfico contrata Shaft para salvar sua filha dos homens que a raptaram. Descobre se que os captores pertencem à máfia italiana e, com a ajuda de um antigo colep,.1 e sua tintua de seguidores nacionalistas negros, Shaít empreende uma missão de resgate perigosa, mas que termina betrr. A ação quase contínua é Interrompida duas vezes por episódios românticos. Shaft não tem qualquer escrúpulo quanto a trair sua namorada e se mostra um amante adepto da "Igualdade de oportunidades". Sc já houve um filme no qual a narrativa é simplesmente um veículo para exibir um personagem, este filme é Shaft. Em conjunto, Tidyman, Parks c Roundtree criaram um forte protagonista negro que - pela primeira vez nos filmes de Hollywood

cria as suas

próprias regras, não escuta ninguém, dá ordens em vez de recebê-las c não tem o menor receio de fazer piadas à custa das autoridades brancas. Apesar (ou possivelmente poi conta) de suas Insinuações subversivas e militantes, Shaft foi extremamente rentável tanto entte negros quanto entre brancos, gerando uma receita bruta de mais de 23 milhões de dólares apenas nos Estados Unidos. Um êxito tão amplo pode ser parcialmente explicado pelo fato de Shaft estar perfeitamente à vontade em qualquer situação, com pessoas de todos os tipos (inclusive um barman nitidamente homossexual, que tem vontade de beliscar sua bunda), e por seu magnetismo e frieza em meio aos tiros transcenderem qualquer limite de cor. Shaft foi seguido por duas continuações, Shaffs B/g Score! (1972) e Shaft no África 0973). Em 2000, John Singleton dirigiu uma nova versão de sucesso, estrelada por Samuel L. Jackson, com Roundtree como coadjuvante. SJS


PERSEGUIDOR IMPLACÁVEL (1971)

EUA (Malpaso, Warner Bros.) io-> min Cor

(l)IUTY HARRY) Um ih i', filmes policiais mais Influentes e controversos já feitos, Perseguidor

implacável

uistura equilibrada do simples com o sofisticado. Do superpollcial Harry (Cllnt d) ao supervllão Scorpio (Andy Roblnson), os personagens são caricaturas víviliperbólicas que ganham definição não devido a sua profundidade e suas is psicológicas, mas graças à sua interação com os ambientes Intricados e bem iiiiii

libidos do filme. I Mi irando brilhantemente as locações cm São Francisco, o diretot Don Slcgel arma i no de altos e baixos já nas primeiras cenas, fazendo um zoom out para revelar ilher nadando em uma piscina azul-celeste na cobertura de um prédio enquan•I dador de elite mira nela do topo de um edifício ainda mais alto. Daí em diante, •/na e mergulha em curvas de montanha-russa delineando uma metrópole de níveis onde uma precária cidade celeste feita de helicópteros, colinas, tetos de lorres de vidro e uma névoa envolvente está empoleirada sobre um submundo

•llmlilvo de esconderijos, túneis, becos e poços. Mais do que um cenário para a ação,

Idioma: inglês Direção: Don Slegel Produção: Don Siegel Roteiro: Harry Julian Fink, Rita M Fink, Dean Riesner Fotografia: Bruce Surtees Música: Lalo Schlfrin Elenco: Cllnt Eastwood, Harry Gtiardino, Reni Santoni, John Vernon, Andrew Robinson, John Larch, John Mitchum, Mae Mercer, Lyn Edgington, Ruth Kobart, Woodrow Parfrey, Josef Sommer, William Paterson, James Nolan, Maurice Argent

inildável labirinto dá forma aos personagens e os põe à prova conforme eles se ni e abrem caminho à força dentro dele. Isso é retratado vividamente no tout lie luí' '• que é a seqüência na qual Scorpio deixa Harry exausto atravessando a cidade ido a outro como parte de uma estratégia evasiva para receber o dinheiro de um MR

0 SOPRO NO CORAÇÃO

(1971)

(II S O U F F L E A U C O E U R ) lalle gostava de dizer que O sopro no coraçdo era seu "primeiro filme". Na verda.eu oitavo longa-mctragem, mas o primeiro cujo roteiro ele escreveu sozinho, < 11,1 sua opinião, "o primeiro filme feliz, otimista". Inspirado livremente nas meti adolescência do próprio Mallc, o filme se passa em um mundo visto inteiraiiiavés dos olhos de seu herói, o jovem de 15 anos Laurent Chevalier (Benoit A 1 lama traz poucas surpresas: Laurent não se dá com o pai, adora sua bela c oi.lê, alterna imprevisivelmente entre a infância e a vida adulta e fica fascinado

França / Itália / Alemanha Ocidental (Franz Seitz, Marianne, NEF, Vides) 118 min. Eastmancolor Idioma: francês Direção: Louis Malle Produção: Vincent Malle, Claude Nedjar Roteiro: Louis Malle Fotografia: Ricardo Aronovich Música: Sidney Bechet, Gaston

o "liado com sua sexualidade crescente. O frescor do filme está em sua

Frèche, Charlie Parker, Henri Renaud

vocativa da sociedade provinciana da alta burguesia francesa do início dos

Elenco: Lea Massari, Benoît Ferreux,

r na proximidade física da vida em família, retratada como uma mistura viva ' de piadas, brigas, vexames, brincadeiras brutas, rixas e alianças. 1 ' momento central do filme - que gerou problemas com o governo francês - é o ,u entre Laurent e sua mãe, filmado com grande sutileza e discrição por ml 11 lusamente, ele não o trata como uma fonte de culpa e trauma, mas como

Daniel Gélln, Michael Lonsdale, Ave Nlnchl, Gila von Weltershausen, Fabien Ferreux, Marc Winocourt, Micheline Bona, Henri Poirier, Liliane Sorvai, Corinne Kersten, Eric Waltei. François Werner, René Bouloc

o i " amoroso e libertador, a ser recordado (como a mãe de Laurent lhe diz) "não

Indicação ao Oscar: Louis Malle

• • " " . l i . mas com carinho... como algo belo". PK

(roteiro) Festival de Cannes: Louis Malle, Indicação (Palma de Ouro)


EUA (Yeah) 97 min. Cor Idioma: inglês Direção: Melvin Van Peebles Produção: Jerry Cross, Melvin Van Peebles Roteiro: Melvin Van Peebles Fotografía: Robert Maxwell Música: Earth, Wind 8c Fire, Melvin Van Peebles l lenco: Simon Chuckster, Melvin Van Peebles, Hubert Scales, John luillaghan, West Gale, Niva Rochellc, Rhetta Hughes, Nick Ferrari, Ed Rue, John Amos, Lavelle Roby, Ted Hayden. Mario Van Peebles. Sonja Dunson, Michael Agustus

SWEETSWEETBACKS BAADASSSSS SONG (197D "Este filme é dedicado a todos os Irmãos e Irmãs que já estão cheios do Homem." Com os 70 mil dólares que ganhou por sua comédia de 1970, Watermeíon Man, além de fundos adicionais (inclusive um empréstimo de Bill Cosby), Melvin Van Peebles - um dos primeiros diretores negros americanos a trabalhar em Hollywood - financiou o seu novo projeto, Sweet Sweetback's Baadasssss Song. Para controlar os custos, simulou estar fazendo um filme pornográfico, o que lhe permitiu contratar uma equipe de negros e que não era sindicalizada. Van Peebles escreveu, dirigiu, criou a trilha sonora e estrelou o filme, o que foi uma sábia decisão econômica e também assegurou seu total controle criativo sobre a produção. No início de 1971, Sweetback estreou nos dois únicos cinemas que aceitaram exibi-lo. No final daquele ano, o filme havia se tornado a produção independente mais lucrativa da História. Sucesso em toda a América, gerou uma receita bruta de mais de 15 milhões de dólares. sweetback é tão original em termos de conceito e de realização que desafiou todas as expectativas, satisfazendo assim o desejo de uma alternai iva popular ao paradigma dominante em Hollywood. Mas também toma emptestados temas narrativos e convenções de uma variedade de gêneros, incluindo filmes de perseguição, de gângster, de motoquelros e o pornô soft-core. Finalmente, Sweetback é um filme cujo êxito comercial imprevisto assegurou lhe um lugar à frente de uma explosão de produções voltadas para o mercado de negros, com elencos negros e/ou dirigidos por negros

movimento

que logo ficou conhecido pelo nome ambivalente de "blaxploitatlon". A primeira cena chocante nos mostra um Sweetback pré-adolescenle (Interpretado por Mario, filho de Melvin) trabalhando em um bordel, onde uma garota de programa agrader ida gi ha o seu apelido duram e um orgasmo. Depois observa

s Swecl back, já

adulto, atuando como ator pomo em uni show de sexo em South Central, Los Angeles. Vendo dois policiais brancos espancarem até quase inalar um jovem ativista negro (l-lubeit Scales), Sweetback ataca os oficiais e por pouco não os mata. O resto do filme segue as desventuras do herói: ele corre, pega caronas ou dirige em melo a partes decadentes da cidade em 11111 esforço desesperado para evitar ser capturado. A certa altura, a vida de Sweetback é ameaçada por uma gangue de motociclistas e ele só consegue sobreviver ganhando um duelo sexual público com a líder feminina. Como disse um resenhista, Sweetback "escapa da polícia estuprando uma mulher negra à ponta de faca, transpassa um policial com um laco de bilhar, mata diversos cães que o seguem, cura-se com a própria urina e arranca a cabeça de um lagarto com uma mordida antes de fugir pela fronteira mexicana para o deserto". O filme termina com uma nota ameaçadora para o público branco, quando as palavras "um negro 'Baadasssss' (barrapesada) está vindo para cobrar algumas dívidas" passam rapidamente pela tela. Seja o que for que cada um conclua sobre a "mensagem" sociopolítica de Sweetback, a energia e o Inovador estilo de direção de Van Peebles dificilmente podem ser negados. Fazendo uso criativo de técnicas como montagem, superposição, imagens congeladas, jump cuts (cortes rápidos), zoom ins, tela dividida, diálogos estilizados, exposição múltipla e uma bela trilha sonora, Van Peebles criou um novo território e desafiou espectadores de todas as cores. SJS


A ULTIMA SESSÃO DE CINEMA

(1971)

li III LAST PICTURE SHOW) ii ilista ardente numa época cm que seus colegas dos anos 70 estavam dedicados ii regras, Peter Bogdanovlch obstinadamente se ateve a Idéias e ideais antlquaiiido A última sessão de cinema. Nesse sentido, a sua adaptação do livro de Larry deve ser vista como um elogio à gctação anterior de grandes diretores (como il.iwks ou John Ford) no momento em que uma nova gnaçau de jovens dircttonava a produção de filmes para um rumo mais solto e mais visceral. 1 historia detranslção para a maturidade passada em uma pequena cidade em 11 do texas, A última sessão de cinema é uma despedida dos anos 50, captando as nas tradições e nos intetesses da América. Um elenco fantástico de novos M U 111111 cIo Jeff Bridges, Cyblll Shepherd, Randy Quaid e Timothy Bottoms) atua veteranos como Goris Lcachman c Ben Johnson enquanto tentam encontrar 11 num mundo em mudanças. A visão de Bogdanovich é sombria mas honesta ipia (em um duro porém belo preto-e-branco) os momentos desajeitados cm que 11111 se transforma em experiência, sem emitit juízos e sem espaço para a 1 11 lilme representa o final de toda uma era, pleno com o sentimento de l i i ..indo transparecer uma pesada e inconfundível tristeza. JKl

EUA (BBS, Columbia) 118 min. P8<B Idioma: inglês Diretor: Peter Bogdanovich Produtor: Stephen J . Friedman Roteiro: Peter Bogdanovich, James Lee Barrett, baseado no livro de Larry McMurtiy Fotografia: Robert Suttees Música: I lank Williams, John Philip Sousa Elenco: Timothy Bottoms, Jeff Bridges, Cybill Shepherd, Ben Johnson, Clorls Leachman, Ellen Burstyn, Eileen Brennan, Clu Culagci. Sam Bottoms, Sharon Ullrick, Randy Quald Oscar: Ben Johnson (ator coadjuvante), Clóris Leachman (atriz coadjuvante) Indicação ao Oscar: Stephen J . Friedman (melhor filme), Peter Bogdanovich (diretor), james Lee Barrett, Peter Bogdanovich (roteiro), Jeff Bridges (ator coadjuvante), Eilen Burstyn (attiz coadjuvante), Robert Surtees (fotografia)

M I


SOB 0 DOMÍNIO DO MEDO (197D (STRAW DOGS) Sam Peckinpah não foi um diretor conhecido por sua delicadeza e, de fato. Sob o domínio do medo é o seu filme mais eletrizante e o mais controverso, especialmente por vir depois da violência estilizada do faroeste de 1969 Meu ódio será tua herança. Dustín Hoffman interpreta um matemático tímido que se muda com sua esposa (Susan George) para o vilarejo onde ela nasceu, no Reino Unido. Lá, ela ostenta seu êxito e sua beleza diante dos habitantes da cidade isolada, que tratam a chegada de Hoffman e Susan como uma Intrusão. Fica claro que o matrimônio dos dois, já abalado, pode sucumbir à tensão. Hoffman, por sua vez, se sente cada vez menos confortável e os habitantes da cidade tornam cada vez mais claro seu desprezo pelo casal. Somente quando sua esposa é estuprada, contudo, Hoffman explode em violência. Inglaterra (ABC, Amerbroco, Talent) 118 min. Eastmancolor Idioma: inglês Diretor: Sam Peckinpah Produtor: Daniel Melnick Roteiro: David Zelag Goodman, Sam Peckinpah, adaptado do livro ffie Siege of Trencher's Farm, de Gordon M. Williams Fotografia: John Coquillon Música: Jerry Fielding Elenco: Dustin Hoffman, Susan George, Peter Vaughan, T, P. McKenna, Del Henney, Jim Norton, Donald Webster, Ken Hutchison, Len Jones, Sally Thomsett, Robert Keegan, Peter Arne, Cherina Schaer,

Mais do que apenas apoiar implicitamente a idéia do "vigilante" - saída aparentemente inevitável quando um homem é levado ao extremo -, Sob o domínio do medo se mostra igualmente ambíguo no que diz respeito ao personagem de Susan. Ela desfila pela cidade em suéteres apertados e flerta abertamente com velhas paixões - quando finalmente é agredida, Peckinpah inicialmente nos faz pensai que ela de alguma forma estimulou aquele terrível evento, como uma afronta ao seu marido livresco e como uma resposta provocativa à sua Inação. Mas a ambigüidade rapidamente se dissolve quando Peckinpah mostra o terror da infame cena de estupro: quando ela termina, o espectador se sente quase tao perturbado quanto a personagem âv Susan. Considerando se o início brutal, Peckinpah nao dá muita chance ao publico quando chega à conclusão bárbara da narrativa. Tendo mantido o filme brilhantemente fora de centro com sua ediçáo desorientadora e seu constante e audacioso aumento de intensidade. Peckinpah vai alem, lensionanrio e manipulando as emoções do espectador para armar o jogo em detrimento dos antagonistas brutais. O resultado perturbador e sangrento, contudo, não resulta em catarse ou satisfação verdadeiras. Em vez disso, faz

Colin Welland

com que você se sinta ainda mais atordoado e inseguro quanto ao que viu. A morali-

indicação ao Oscar: Jerry Fielding (música)

valida os instintos de Peckinpah. Podemos não gostar do que vemos, mas somos com-

dade incerta de Sob o domínio do medo gerou multa controvérsia, o que Ironicamente pelidos a assisti-lo de qualquer forma. Kl


CORRIDA SEM FIM

(1971)

EUA (Michael Laughlln, Universal) 102 min. Cor

(TWO-LANE BLACKTOP) d sem fim, de Monte Hellman, é provavelmente o melhor filme da febre de Hollyde produzir road movies da era hippie, após o sucesso de Sem destino. Infelizn i . i i i r , nem os executivos nem a maior parte do público o compteendetam. tudo feito dois faroestes existencialista notáveis, A vingança de um pistoleiro (1965) ro certo (1967), Hellman resolveu que era hora de tirar o glamour dos cabelos dl- Sem destino (1969). Corrida sem fim é uma história em ritmo dclibetadamente tonlldn sobre uma corrida através do país entre uma dupla de amantes de automóveis 1

físicos James Taylor e Dennis Wilson, do Beach Boys) em um Chevrolet 55 e um 1

I I

Direção: Monte Hellman Produção: Gary Kurtz, Michael Laughlin Roteiro: Will Corry, Rudy Wurlltzer Fotografia: Jack Deerson Música: Biily James Elenco: James Tayior, Warren Oates, Laurie Bird, Dennis Wilson, David

altura - um neurótico sorridente dirigindo um Mustang GTO amatelo (Warren

Drake, Richard Ruth, Rudy Wurliizn,

presença constante nos filmes de Hellman). Laurie Bird, uma garota bonita e

jaclyn Hellman, Bill Keller, Harry

III il humorada, vai de carona. O prêmio é o carro do perdedor. implanto Sem destino e Corrida contra o destino (1971) cruzam as estradas em .11) apocalipse, o tema deste filme é, literalmente, o seu título, e o filme se 'l

Idioma: inglês

Dean Stanton, Dom Samuels, Charles Moore, Tom Green, W.H. Harrison, Alan Vint

.1110 projetor antes que se chegue a qualquer solução. Um retrato de um país em

» Uniu de profunda falta de fé, o filme possui muitos detalhes para os amantes de veis e pontas interessantes, como a de Harry Dean Stanton (como ttm mochilelmas apresenta um conjunto central de relacionamentos entte pessoas pouco uivas tão ligadas a seus carros e suas corridas quanto garotos a seus nas. KN

0

RAPAZ QUE PARTIA CORAÇÕES

(1972)

(THE HEARTBREAK KID) May é a diretota mais subestimada do cinema americano. O rapaz que partia i' o mais próximo que já chegou do sucesso de grande público, mas ela se in verdadeira quanto à sua visão cotrosiva e Inflexível. Embora permaneça essen• iie I lei ao roteiro de Neil Simon (com seus ecos do filme de 1967 A primeira noite homem), Elaine consegue massacrar a aura sentimental e Imbuída de uma lu de felicidade presente na contribuição nociva daquele escritor de filmes ies Ela faz essa passagem acentuando atos desagradáveis de crueldade, uai) e consttanglmento. dia negra, aqui, possui uma face mundana. Lenny (Charles Grodin em seu t i " Mi. 11 papel), um vendedor imbecil, está em lua-de-mel com a horrenda mas generosa iiinle Berlln - há alguma outta mãe que tenha dirigido a sua filha em um papel ih Mc e radical?). Sentindo-se aprisionado e sufocado, as fantasias bastante su ils de lenny se vitam pata o sonho americano da garota ideal, Kelly (Cybill i' |'Im id) ( ada conseqüência desse triângulo é um desastre. i"ii">', lilmes nos fazem mergulhar tão impiedosamente na vulgaridade dos i.intlcos e sexuais. O foco de May neste material é puto John Cassavetes: i h iiinrntação Inflexível do desconforto; a dor verdadeira mostrada em tempo

EUA (Palomar) 106 min. Cor Idioma: inglês Direção: Elaine May Produção: Michael Hausman, Erik I ei Preminger, Edgar J . Scherick Roteiro: Nell Simon, da história A Change of Plans, de Bruce Jay Friedman Fotografia: Owen Roizman Música: Cy Coleman, Sheldon Harnlck, Garry Sherman Elenco: Charles Grodin, Cybli! Shepherd, Jeannie Berlin, Audra Lindley, Eddie Albert, Mitchell Jason, William Prince, Augusta Dabney, Doris Roberts, Marilyn Putnam, Jack Hausman, Erik Lee Preminger, Art Metrano, Tim Browne, Jean Scoppa Indicação ao Oscar: Eddie Albert (ator coadjuvante), Jeannie Berlin (atriz coadjuvante)

Nossa risada, tão brilhantemente provocada pela atuação de Elaine, torna-se .entido psicanalítico do termo: um caminho para fugir temporariamente 1

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AGUIRRE, A CÓLERA DOS DEUSES

(1972)

(AGUIRRE, DER ZORN GOTTES) "Sou o grande traidor. Sou a Cólera de Deus." Werner Herzog produziu uma série notável de filmes importantes no radical e empolgante Novo Cinema Alemão. Contudo, suas aventuras épicas, apresentando o seu torturador maníaco, intérprete impulsivo, c inspirado, Klaus Klnskl, são as mais conhecidas. E Aguirre, a cólera dos deuses - primeiro dos longas de Herzog com boa penetração internacional - é a mais fascinante. O filme, supostamente narrado I partir do diário do monge espanhol Gaspar de Carvajal, é uma parábola perturbadora que en capsula o instinto de Herzog em relação às alegorias e metáforas, ao humor negra e ao gro tesco, assim como seu interesse em demência, obsessão e decadência social. Encontramos ainda o seu sentimento de uma paisagem que toma aspectos terríveis e humanos. Don Lope de Aguirre (Kinski) é um dos conquistadores de Pizarro encarregados de pilhagens, enveredando pelas florestas da América do Sul no século XVI. Tendo derrotado os Incas, os soldados de Pizarro estão ansiosos para obter mais conquistas e ouro, porém a expedição chega a um Impasse em terreno difícil. O que deveria ser uma viagem de uma semana para procurar comida e desbravar terreno, a cargo de um pequeno grupo que iria subir a bacia do Amazonas em balsas, rapidamente se torna uma sucessão de desastres. Os soldados e os escravos são mortos um a um por índios, doença e fome; Aguirre lidera uma revolta contra o seu comandante, A busca desesperada degenera, então, em uma viagem egomaníaca homicida impulsionada pela obsessão cada vez mais demente de Aguirre de alcançar a mítica cidade de ouro, El Dorado. Filmar em locações remotas no Peru com um orçamento multo pequeno já era Alemanha Ocidental / Peru / México

suficientemente problemático e árduo, mas o lelato de Herzog (especialmente vívido em

(Werner Herzog) 100 min.

seu documentário Meu melhor Inimigo) sobre um Kinski freqüentemente delirante acres-

I astmancolor Idioma: alemão Direção: Werner Herzog Produção: Werner Herzog Roteiro: Werner Herzog Fotografia: Thomas Mauch Música: Popol Vuh Elenco: Klaus Kinski, Daniel Ades, Peter Berling, Daniel Fartán, Justo Gonzalez, Ruy Guerra, Julio E. Martinez, Del Negro, Armando Polanah, Alejandra Repulles, Cecilla Rivera, Helena Rojo, Edward Roland

centa um contexto surreal e interessante ao filme. Perto do fim das filmagens, Herzog imi pediu Klnskl de ir embora ameaçando atirar nele. Claramente, as lutas da vida real ressal taram a intensidade do filme, a sua inevitabilidade trágica, transmitida pela esposa gra ciosa do comandante assassinado, cuidadosamente vestida em suas (improvavelmenie limpas) melhores roupas, determinadamente indo embora em meio à mata. No fim, um Aguirre louco governa um esquife flutuante coalhado de cadáveres e cheio de macacos aos gritos. A presença fascinante de Kinski pode dominar o filme, mas a visão inflexível e o controle de Herzog são aquilo que o mantém em seu curso alucinado e hipnótico. AE


CABARET (1972)

EUA (ABC) 124 min. Technicoloi

• iuIm ,ipenas o segundo filme de Bob Fosse - diretor, bailarino, coreógrafo e fenômeno idway -, Cabaret recebeu oito prêmios da Academia, inclusive o de Melhor Direndo O poderoso cbefão de Francis Ford Coppola. Cabaret foi provavelmente o iio-,ical realmente grandioso feito nos anos 70, apesar das profecias de que seria 1 1

avera de Hitler" de Bob Fosse - "quem quer ver um musical com nazistas?". • .posta é: qualquer um que queira ficar deslumbrado. Bob Fosse era um cínico, ai vaudeville, tendo crescido em boates burlescas e dúbias. Ninguém mais lei partido do musical de John Kander e Fred Ebb (baseado na peça de John Van r i u ri camera, por sua vez baseada em Adeus a Berlim, de Christopher Isherwood) ido um olhartão frio e brilhante sobre os pecadores sem alma que vagavam pela los anos 30. Os formidáveis números musicais do filme, os cortes incisivos eni' a i ' c o mundo do lado de fora criam um contraponto gélido para o cruel des• mito de amor incompreendido e de ambição que se passa em meio à ascensão

Idioma: inglês Direção: Bob Fosse Produção: Cy Feuer Roteiro: Jay Presson Allen, baseado no livro Adeus a Berlim, de Christopher Isherwood, na peça /'m a Camera, de John Van Druten, eno musical de Joe Masteioll Fotografia: Geoffrey Unsworth Música: John Kander Elenco: Uza Minnelli, Michael York, Helmut Grlem, Joel Grey, Fritz Weppei, Marisa Berenson, Elisabeth Neumann Viertel, Helen Vita Oscar: Bob Fosse (diretor), Liza Minnelll (atriz), Joel Grey (ator

ano. O sinistro apresentador Joel Grey é brilhante, mas, no final das contas, o

coadjuvante), Rolf Zehetbauer, Hans

ilence a Liza Minnelll, que trouxe uma energia nervosa e um certo desespero

Jürgen Kiebach, Herbert Strabel

i.idar à sua Sally Bowles, com vitalidade febril e depravação fingida, dando calor • o igllldade .1 uma obra-prima e a melodias estonteantes. AE

(direção de arte), Geoffrey Unsworth (fotografia), David Bretherton (edição), Ralph Bums (música), Rohen Knudson, David Hildyard (som) Indicação ao Oscar: Cy Feuer (melhor filme), Jay Presson Allen (roteiro)

ü ULTIMO TANGO EM PARIS (1972)

Itália / França (Artistes Associés, PIA)

( I I I 1 IMO TANGO A PARIGI)

Idioma: inglês / francês

lulu/o em Paris, de Bernardo Bertolucci, começou uma tendência erótica no de ai te que perdura até hoje. Filmes como intimidade

(2001) continuam a sua

sobre um caso sexual "sem perguntas" que dá lugar a uma familiaridade 1 s i m vez, a escritora Catherine Breillat (Romnnce [1999]), que figura nele, atua' 111.is de Eros e Thanatos. ''111 I H iitngoem Paris seria importante se não fosse por Marlon Brando? Sua atuação ilude a muitos papéis anteriores e marcantes. Seus monólogos obscenos, escato111'leins de alusões feitas por Bertolucci a teorias de Reich e Bataille permanecem 1 is 1 as emoções desse homem de meia-idade desesperado são palpáveis. Um ai isn na escalação do elenco colocou uma Maria Schneider relativamente inexpe 111 In de Brando. As suas cenas com Jean-Pierre Léaud são propositalmente super"iiiiasiando com a relação central, primordial, e seu despojamento das ilusões. • r.siiii, O ú/timo tango em Paris é mais do que a soma de suas idéias gran• 1 l i " hiperbarroco de Bertolucci nos leva a um espaço psíquico subterrâneo 1 nado. Divisórias, reflexos em espelhos, elementos incongruentes no cenário e . niieiiiiis descentralizados se multiplicam, desorientando o espectador a cada Isso perfeitamente acompanhado pelas prementes valsas de saxofone de iibleil Um filme com manchas de sangue obstinadas e paredes vazias, gritos il " t " s e corpos convolutos, O último tango em Paris representa energicamente a •ri1 M u ventre da morte". A M

129 min. Cor Direção: Bernardo Bertolucci Produção: Alberto Grimaldi Roteiro: Bernardo Bertolucci, Franco Arcalll, Agnès Varda Fotografia: Victorio Storaro Música: Gato Barbieri Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider, Maria Mlchi, Giovanna Galletti, Gitt Magrini, Catherine Allégret, l.uce Marquand, MarieHélène Breillat, Catherine Breillat, Dan Dlament, Catherine Sola, Mauro Marchetti, Jean-Plerre Léaud, Massimo Girotti Indicação ao Oscar: Bernardo Bertolucci (diretor), Marlon Brando (ator)


EUA (Malpaso) 105 min. Technicolor itiioma: inglês Direção: Clint Eastwood Produção: Robert Daley Roteiro: Ernest Tldyman Fotografia: Bruce Surtees Música: Dee Barton Elenco: Clint Eastwood, Verna Bloom, Marianna Hill, Mitch Ryan, Jack Ging, Stelan Gierasch, Ted Hartley, Billy Curtis, Geoffrey Lewis, Scott Walker, Walter Barnes, Paul Brlnegar, Richard Bull, Alex Tinne, John Hillerman

0 ESTRANHO SEM NOME

(1972)

(HIGH PLAINS DRIFTER) O segundo filme de Cllnt Eastwood como diretor e ator principal (após Perversa paixão) transfere sua persona de westetn spaghettl para um conto moral gótico americano. Um homem errante a cavalo, a barba por fazer, surge de dentro da névoa do deserto em Lago. Nessa cidade, em tempos passados, os habitantes olharam, sem nada fazer, um xerife ser chicoteado até a morte. Em uma retomada surreal de Maiar

ou morrei,

imploram a Eastwood - que poderia ser o espírito do homem assassinado ou, numa interpretação mais banal, seu Irmão - que enfrente três fora-da-lei recém libertados da cadela e de retorno para uma vingança violenta. O homem misterioso demonstta os seus podetes não só exibindo a maestria no manejo de armas e a violência que se esperava de qualquer anti-herói de filmes de cauból cm tomo de 1972, mas também forçando todos os cidadãos a participarem de uma flesta estranha. Essa envolve, entre outras coisas, eleger um anão como xerife e prefeito ao mesmo tempo, literalmente pintar toda a cidade de vermelho e trocar seu nome para "Inferno". Lembrando o slogan do Vietnã - "desttuímos a aldeia para salvála" -, o estrangeiro finalmente incendeia a cidade. Tendo como possíveis fontes tanto Luis Buíiucl quanto Sergio Leone, é um filme engraçado, brutal, assustadot e atrevidamente esquisito cm sua mistura de faroeste e temas de terror, filmado sob a perspectiva de uma auto análise ácida. KN

Inglaterra (Palomar) 138 min. Cor Idioma: inglês

JOGO MORTAL

(1972)

(SLEUTH)

Direção: Joseph L. Manklewicz

Considerando-se a reputação de Joseph L. Mankiewicz como um dos diretores que mais

Produção: Morton Gottlieb

valorizaram diálogos, alguém que sempre deu importância a conversas de alta

Roteiro: Anthony Shaffer, de sua

qualidade acima do brilho visual, foi uma escolha perfeita pata dirigir a versão filmada

própria peça

do longevo sucesso dos palcos da Broadway e do West End, Jogo mortal, de Anthony

Fotografia: Oswald Morris Música: John Addison, Cole Porter Flenco: faurence Olivier, Michael Caine, Alec Cawthorne, John Matthews, Eva Channing, Teddy Mailin Indicação ao Oscar: Joseph L. Mankiewicz (diretor), Michael Calne (.uni), Laurence Olivier (ator), John Addison (música)

Shaffer, Embora algumas tomadas "abram" a cenografia saindo para o jardim da casa (repleta de objetos) do misterioso escritor Andrew Wykc, o filme permanece essencialmente confinado à sala de estar enquanto dois atoies de diferentes gerações se confrontam sobre questões de estilo, temperamento c método. Sir Laurence Olivier, retomando a posição de estreia de cinema depois de trabalhos "mais sérios" no teatro, desempenha o papel de Wykc, um sádico perverso que tem um prazer infantil em aplicar truques maldosos e um vício por jogos complexos (como um quebra-cabeça todo branco). Michael Caine é Milo Tindle, cabeleireiro e amante da esposa negligenciada de Wyke. Aparentando inicialmente ser inferior em quase tudo ao seu oponente, acaba revelando uma amplitude de emoções sutpreendente no clímax do ptlmeito ato. Ele se sal, no segundo ato, com uma reviravolta que realmente funciona, mesmo que você perceba o que está por vir, convidado a ser envolvido por uma trama que tem muitas guinadas e mudanças antes de terminar de forma infeliz, mas justa, para todos. KN


AMARGO PESADELO (1972) (Dl IIVERANCE) obo domínio do medo, de Sam Peckinpah, e Aniversário ma" 'Ir Wes Craven, Amargo pesadelo fala sobre pessoas tranlc classe média, que se vêem diante de uma violência l" ii.nl 1.uioramente sexuallzada e irracional, longe da civilização, i obrir que são "assassinos por natureza". Ironicamente, ""i

o diretor norte-americano Peckinpah, que tinha cogitado irgo pesadelo, estava na Inglaterra rodando Sob o domínio 'britânico John Boorman estava na Geórgia, filmando o rio 1 (orno se fosse o rio Cahtilawassecdo poeta c romancista 'i' key, na sua própria viagem ao coração das trevas, lime começa com quatro personagens suburbanos bem 1' 1 i.iiiies - o silencioso Ed (Jon Volght), o sobrevivente Lewis Id vniilds), o fanfatrâo Bobby (Ned Bcatty) e o sensível Drew (Ronny Cox) - viajaninterior da Georgia, numa mata prestes a ser destruída por uma represa que

EUA (Elmer, Warner Bros.) 109 min.

in novo lago, tendo optado pot descer o rio de canoa em vez de jogar golfe,

Cor

h l r Bobby são atacados por uma dupla de caipiras armados, estes arrancam is de Bobby, fazem com que "grite como um porco" e o estupram, enquanto Ed 11

niado a uma átvote com seu próprio cinto, absutdamente mantendo firme seu iho durante toda a provação. Lewis intervém, armado com um arco e matando o ih a (Bill McKinney) com uma flecha, e o quarteto, com sentimentos profunda• mil usos, decide encobrir o incidente e fugir da região, em conflito com o caipira " i " (Herbert Coward), ainda armado com seu rifle, e a paisagem hostil, lia dos diretores teria feito um filme-padrão de aventura sobre "um grande 11'. mas Boorman segue uma abotdagem mais perturbadora, sempre Interroganheroísmo dos personagens realmente significa. O filme acaba concluindo I d " olhos tristonhos de Voight, tendo encontrado em si mesmo a bestialidade 11I.1 para sobreviver, saiu perdendo. Reynolds, a quem é dada uma chance de ara sua persona de "cara multo legal", apresenta uma atuação tão autocrítica 1 de |ohn Wayne em Rastros de ódio. Entre os destaques: a cena do "duelo de • i n que Drew toca um dueto memorável com Billy Redden, sentado à entrada

Idioma: inglês Direção: John Boorman Produção: John Boorman Roteiro: James Dickey, baseado em seu livro Fotografia: Vilmos Zslgmond Música: Eric Weissberg Elenco: Jon Voight, Butt Reynolds, Ned Beatty, Ronny Cox, Ed Ramey, Billy Redden, Scamon Glass, Randall Deal, Bill McKinney, Herbert Coward, fewis Crone, Ken Keener, Johnny Popwell, John Fowler, Kathy Rlckman Indicação ao Oscar: John Boorman (melhor filme), John Boorman (diretor), Tom Priestley (edição)

i-.a. e uma virada de última hora na trama (no estilo Carrie), muitas vezes Imllo o sono de Ed é perturbado por um sonho no qual uma mão emerge das vo lago segurando um rifle. KN

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1



IJKSS (Creative Unit of Writer's & cinema Workers, Mosfilm, Unit Four) I65 min. P&B/ Sovcolor Idioma: russo Direção: Andrei Tarkovsky Produção: Viacheslav Tarasov Roteiro: Fridrikh Gorenshtein, Andrei l.ukovsky, adaptado do livro de Stanislas Lern Fotografia: Vadim Yusov

SOLARIS

(1972)

(SOLYARIS) Adaptado do best-seller de Stanlslas Lem, Solaris, de Andrei Tarkovsky, medita sobre um planeta imaginário e segue a linha de 2001, uma odisséia no espaço (1968), de Stanley Kubrick. Uma obra-prima de ficção científica, o filme é igualmente uma epopéia executada quase sem orçamento. Em vez de oferecer efeitos especiais inovadores ou um espetáculo de som e luz, o filme permanece confinado à experiência de um personagem para quem a fantasia e o cotidiano se fundem. Quando o filme começa, o psicólogo Kris Kelvin (Donatas Banlonis) está prestes a

Música: Eduard Artemyev, Johann

partir para avaliar a sanidade da equipe de uma estação espacial orbitando o planeta

Sebastian Bach

Solaris. Antes de partir, ele ouve a história inquietante do astronauta Berton (Vladlslav

Elenco: Natafya Bondarchuk, Donatas Banlonls, Juri Jarvet, Vladislav Dvorzhetsky, Nikolai Grinko, Anatoli Solonltsyn Festival de Cannes: Andrei Tarkovsky (Prêmio FIPRESCI), (grande prêmio do júri), indicação (Palma de Ouro)

Dvorzhetsky). Alguns anos antes, quando havia a esperança de desvendar os segredos dos oceanos turbulentos e aparentemente conscientes desse novo mundo, várias coisas saíram errado e Berton foi o único sobrevivente de um acidente que matou vários exploradores. Intrigado e confuso, Kris visita a estação espacial e encontra o Dr. Snaut (Juri Jarvet) e o Dr. Sartorlus (Anatoll Solonitsyn) e se depara com o suicídio do Dr. Gibarian (Sos Sarkisyan). Várias coisas estranhas acontecem na estação durante sua visita. Os dois cientistas aconselham Kris a deixar passar um tempo para se ajustar. Entretanto, as visões e sons estranhos o deixam ansioso. Ele vê a sua esposa Harl (Natalya Bondarchuk), há muito tempo morta. Começa a perceber, então, que Solaris parece ser capaz de recriar, fisicamente, as memórias dos visitantes. Com medo de Harl, que ele pode tocar e com quem pode conversar, e que lhe parece cada vez mais real, Kris decide destruí-la, ou melhor, destrói várias "versões" diferentes de Hari, apenas para se deparar com outras perguntas sem resposta sobre Solaris. Compreende que as suas ilusões são materialmente reais, emocionalmente tão carentes quanto ele, e que é a primeira pessoa a criar uma relação duradoura com esses "fantasmas reais" gerados pelo planeta, cuja forma de ação e Intenção continuam não reveladas. Considerandose finalmente incapaz de executar o seu dever, Kris junta-se a Harl e a tudo o que ela representa. Snaut e Sartorlus reconhecem seus limites e concluem que o projeto Solaris está terminado. A intrigante e ambígua imagem final do filme é a de uma ilha se formando no planeta, remetendo à antiga casa do pai de Kris e à sua redenção final. Solaris é um argumento contra a ambivalência da realidade vivida e a favor da satisfação abrangente das fantasias. Por meio da viagem de Kris, passando de intruso indiferente distanciado de um mundo que se transforma apenas em função de seus desejos, vemos uma mente racional se desfazer pela pura força do desejo. Para isso, o filme de Tarkovsky usa planos abertos e longas tomadas para unificar imagens realmente belas. Assim, Solaris externaliza estados psíquicos interiores para recriar o humor de seu protagonista. O enigma Insolúvel do planeta - ao mesmo tempo completamente Insondável e tranqüilizador - se encontra perfeitamente expresso em várias seqüências filmadas em padrões circulares. Enquanto uma câmera estacionária gira lentamente sobre um eixo central, os atores e cenários mudam a fim de revelar novas camadas de interpretações para aquilo que existia poucos instantes antes. Um quebra-cabeça mental em parte similar a 2001, Solaris foi produzido em meio aos massacres soviéticos contra a llvre-expressão e certamente não contou com um grande orçamento. Sendo no mínimo um drama filosófico, o filme de Tarkovsky é um marco para o ímpeto cinematográfico de desvendar o que é "ser humano". G O O


EUA (Paramount) 175 min. Cor Idiomas: inglês / italiano Direção: Francis Ford Coppola Produção: Albert S. Ruddy Roteiro: Francis Ford Coppola, Mario lii/o, adaptado do livro de Mario Puzo

'

Fotografia: Cordon Willls Música: Carmine Coppola, Nino Rota Elenco: Matlon Brando, Al Pacino, Diane Keaton, Richard S. Castellano, Kobert Duvall, James Caan, Sterling

0 PODEROSO CHEFAO

(1972)

(THE GODFATHER) "Faça uma oferta que ele não possa recusar." O filho mais jovem, Michacl Corlcone (Al Pacino), retorna da Segunda Guerra fora dos negócios da família: o crime organizado. Quando seu pai, Don Corleone (Marlon Brando), é assassinado a titos, contudo, Michacl é levado a cometer uma vendera, um assassinato de retaliação, atado pelo sangue e pela "honra" a uma sequência violenta de eventos de poder e sobrevivência no submundo. Finalmente, Mlchael herda o papel de chefe da família, fechando as portas para sua Incompreensiva esposa nãoitallana (Diane Keaton) quando tecebe a homenagem como o novo "Padrinho", ou chefão. o diálogo e os personagens do filme enttaram imediatamente para o imaginário coletivo dos freqüentadores de cinema. Al Pacino e James Caan (o estourado irmão mais

Hayden, Talla Shire, John Marley,

velho Sonny) se tornaram estrelas, o filme ganhou o Oscar de Melhor Filme e de Melhor Ro-

Richard Conte, Al Lettieri, Abe

teiro, além de Melhor Atot para Brando, em um retorno triunfal. É um dos maiores filmes

Vigoda, Gianni Russo, John Cazale,

americanos, amado por todos. Ao adaptar o best-seller de Mario Puzo, Francis Ford

Rudy Bond

Oscar: Albert S. Ruddy (melhor

Ulme), Mario Puzo, Francis Ford

Coppola (roteiro), Marlon Brando (ator - recusou o prêmio)

Indicação ao Oscar: Francis Ford ( uppola (dlretot), James Caan (ator coadjuvante), Al Pacino

(ator coadjuvante), Robert Duvall (ator coadjuvante), Anna Hlll

Jnhnstone (figurino), William

Reynolds, Peter Zinner (edição),

Nino Rota (música - Inelegível por ter leutllizado a trilha de Fortunel/a),

< harles Grenzbach, Richard Portman, Christopher Newman (som)

Coppola fez uma ópera sobre gângstets no estilo pulp fiction, uma epopéia sobre o patriarcado, a família e a própria América. Os protestos de americanos de origem Italiana por difamação foram varridos pela Imensa popularidade do filme. Todos os descendentes de Imigrantes olharam com nostalgia o clã Corleone batendo a massa, celebrando e entristecendo-se em conjunto. As anedotas, as notas adicionais c os pós-escritos são hoje parte do folclore

Brando não encheu as bochechas com algodão, mas usou bolhas de tesina

grudadas em seus molares. O bebê batizado é Sofia Coppola. Brando mandou um falso índio, "Satcheen Llttlefeather", à cerimónia de entrega do Oscar para rejeitar o seu prêmio. f um trabalho magistral que merece a sua reputação. Coppola estabeleceu boa parte das regras de jogo do cinema dos anos 7 0 com o seu domínio técnico. As set pieces audaciosas, viscerais c pomposas são hoje uma lenda - a cabeça do cavalo na cama, a matança de Sonny, as cenas entrecortadas entre uma festa de casamento ensolarada no jardim e o séquito de Don Corleone dentro de casa e o estonteante final com assassinatos sendo executados durante o batismo do novo Corleone (na prática, os ritos de sagração para Michacl ao assumir o papel de novo chefão). As melhores qualidades do filme revelam a fluência de Coppola nos clássicos, em pulp, cinema nolr e dramas sociais, mas uma crítica persistente a O poderoso chcfdo é que ele glorifica a Máfia. O Michacl interpretado por Pacino é o herói do filme e Mlchael não é um bom sujeito. Contudo, a sua exploração mítica de laços de família, ainda quando sejam amaldiçoados pelo sangue e a ambição, continua atraindo espectadores com a idéia de que ter uma família (da Máfia, que seja) continua sendo melhor do que não tet família alguma. AE


GRITOS E SUSSUROS

(1972)

(VISKINGAR OCH ROP) is realizações mais perfeitamente executadas de Ingmar Bergman, Cr/tos e 1 nmeça com tomadas de uma casa no campo bem cedo pela manhã, a fotoSven Nykvist captando o jogo da luz do sol por entre árvores e névoa com efeito idor. Quando entramos na casa - onde as batidas de antigos relógios marcam o oravelmente e uma mulher é despertada de seu sono pela agonia do câncer

106 min. Eastmancolor Idioma: sueco Direção: Ingmar Bergman Produção: Lars-Owe Carlberg Roteiro: Ingmar Bergman Fotografia: Sven Nykvist Música não original: Johann

insome por dentro -, fica claro que estamos diante de um diretor no auge de seu

Sebastian Bach, Frédéric Chopin

ir.tico: os ritmos medidos de sua edição, o posicionamento da câmera c o uso

Elenco: Harriet Artdersson, Kari

tu de som e cores são sempre seguros e parecem até fáceis. São possivelmente as te lii a m mais vívidas na mente após assistira esta obra-prima e m tons de outono. I i n forte, anormalmente predominante tanto na mobília como nas paredes da • 11 te dos cômodos da mansão, contrasta com os longos vestidos brancos preferiI I - , quatro mulheres cujas vidas vislumbramos aqui. 11111 explicou que tinha imaginado a alma humana como aquele tom de in 1.1 eitamente a sua presença meditativa intensifica o seu ensaio sobre a morte "iliieiicia na vida. As quatro mulheres são a proprietária moribunda da mansão

Georg Árlin, Fredrik Oscar: Sven Nykvist (fotografia) Indicação ao Oscar: Lars-Owe Carlberg (melhor filme), ingmar Bergman (diretor), Ingmar Bergman (roteiro), Marlk Vos-Lundh (figurino) Festival de Cannes: Ingmar Bergman (grande prêmio técnico)

ides e inseguranças. Como as irmãs e a empregada tentam inicialmente consolar em seguida, conformar-se com sua morte, Bergman nos 1 111111 bre da vida interior de cada uma, esboçando os seus frustrações, inquietudes e remorsos por meio de memórias e, ii is no caso da empregada, fantasias apavorantes. Sua perícia " i i 1 e 1.10 grande que ele mistura material típico de filmes de beijos de vampiros, a perspectiva assustadora de u m cadáver IfldO } vida

com u m drama de câmara evocativo de Chekhov ou

i i " rgi e lorna tudo isso não apenas coerente e convincente mas a 1 um

Anders Ek, Inga Gill, Erland Josephson, Henning Moritzen,

1 iv Ullmann) que vieram para cuidar dela e m seus últimos dias. Das irmãs, a emocional e fisicamente reservada, e m parte graças a u m casamento sem

I

Sylwan, Ingrid Thulin, Liv Ullmann,

Anilersson), a sua empregada dedicada (Kari Sylwan) e as duas irmãs (Ingrld

nquanto a segunda é, ao menos superficialmente, mais calorosa, porém dada a

tile reconhecível como parte de seu próprio universo I auxiliado e m sua tarefa, naturalmente, por atuações Irias de atrizes com quem trabalhava há muitos anos - que

"ii

Suécia (Cinematograph AB, Svenska)

p.11.1 elas, foi o seu roteiro! GA


EUA (Columbia, Rastar) loo min. Cor Direção: John Huston 1'rodução: John Huston, Ray Stark Roteiro: Leonard Gardner, adaptado de seu livro lotografia: Conrad L. Hall Música: Kris Kristofferson i lenço: Stacy Keach, Jeff Bridges, Susan Tyrrell, Candy Clark, Nicholas ( olasanto, At Aragon, Curtis Cokes,

CIDADE DAS ILUSÕES (wi) (FAT CITY) O "pequeno filme" mais eficaz de John Huston, Cidade das ilusões conta a história de um boxeador que já passou por seu auge (Stacy Keach). Agindo de acordo com os estereótipos de Hollywood, ele prepara um retomo aos ringues que dá errado, mesmo quando a sua corajosa determinação diante da detrata lhe oferece uma espécie de transcendência. Como muitos dos heróis de Huston, Tully (Keach) perdeu a sua grande oportunidade, mas o acaso lhe apresenta uma nova chance de readquirir o seu autorespelto. Une-se com um boxeador mais jovem chamado Ernie (Jeff Brldgcs), tornando-

Mxto Rodriguez, Billy Walker, Wayne

se o seu mentor e rival enquanto o par procura um "grande sucesso". Ernle pode ser

Mahan, Ruben Navarro

talentoso o bastante para conseguir êxito como boxeador, mas também fica

Indicação ao Oscar: Susan Tyrrell (atriz coadjuvante)

aprisionado por circunstâncias, forçado a casar-se com sua namorada e a levar uma vida de responsabilidades intermináveis. Paradoxalmente, talvez, a pessoa de quem Tully gosta, a psicótica e autodestrutiva O r n a (Susan Tyrrell), o abandona por um antigo amante, um homem violento que a maltrata. No final. Tully não s e encontra muito "livre" para viver a vida de realizações masculinas, conformado com seu isolamento e fracasso. Huston sugete que não há nenhum caminho fácil para " a cidade das Ilusões" e de riqueza que é o sonho americano. Com as suas seqüências de boxe autênticas, locações desoladas n a Califórnia e uma n uai

pci lei ia

e sul

il (11 • um

i iiujnniu

i alei ii oso,

i

idade das ilusões oliicr e

um

retrato

realista, porém poético, da obsessão demasiado humana de realizar sonhos irrealizáveis de auto transformação e transcendência. RBP

Franca / Itália / Espanha (Dean,

Greenwich, Jet) 105 min. I BS1 mancolor

Idiomas: francês / espanhol Direção: Luis Bunuel Produção: Serge Silberman Roteiro: Luis Bunuel, Jean-Claude (au lere lolografia: Edmond Richard 1

linco: Fernando Rey, Paul Frankeur,

Delphine Seyrig, Bulle Ogler, Stephane

Audran, Jean-Plerre Cassel,

lullen Bertheau, Milena Vukotlc, Maria Gabriella Maione, Claude l'leplu, Muni, Pierre Maguelon,

0 DISCRETO CHARME DA BURGUESIA

(1972)

(LE CHARME DISCRET DE LA BOURGEOISIE) O discreto charme da burguesia, a obra-prima cômica de Luis Bunuel

sobre três casais

prósperos que tentam, mas nunca conseguem, sentar e comer juntos - é possivelmente o mais bem-acabado e executado de todos os seus filmes franceses da última fase. O filme prossegue com interrupções diversas, digressões e interpolações que identificam os personagens, a sua classe e a sua aparente Indestrutibilidade com os próprios processos de ilusão e continuidade da narrativa. Uma coisa que torna O discreto charme encantador, apesar de seu radicalismo, e que ajudou Bunuel a ganhar o seu único Oscar, é o elenco perfeito, no qual muitos dos artistas trazem associações quase míticas de filmes prévios. Desta forma, Delphine Seyrig nos faz pensar em O ano passado em Marienbad (1961), Stéphane Audran evoca a alta burguesia do período Intermediário de Claude Chabrol, a neurótica de Bttllc Ogler

I i . n i i o i s Malstre, Michel Piccoli,

se parece com uma versão leve e cômica da personagem louca Interpretada pot ela em

I llen Bahl

L'Amour Fou (1969), e mesmo Rey traz à mente Operação França (1971) quando exibe um

Oscar: França (melhor filme estrangeiro)

pouco de cocaína.

indicação ao Oscar: Luis Bunuel,

pot repórteres em um restaurante mexicano e, quando lhe perguntatam se esperava

Iran

ganhar, a sua resposta foi imediata: "É claro. Já paguei os 25.000 dólares que eles

t laude Carrière (roteiro)

Um pouco depois de este filme tet sido Indicado ao Oscar, Bunuel fol entrevistado

queriam. Os americanos podem ter seus pontos fracos, mas costumam cumprir as suas promessas." JRos

I


A S LAGRIMAS AMARGAS DE PETRA VON KANT (1972) (Oll BITTEREN TRÄNEN DER PETRA VON KANT) artistas gays reconhecidos, As mulheres (1939), de George Cukor, mostrounodelo irresistível para a narração de histórias cinematográficas em um modo 1 1 gitipo de mulheres fechadas cm uma casa, com seus destinos nominalmente is c dominados por homens fora da tela, mas vividos através da intensidade imática de trocas sexuais entre pessoas do mesmo sexo. rimas amargas de Petra von Kant é a variação lésbica de Fassbinder desse 1 iinservando e, na verdade, exagerando a teatralidade claustrofóblca de sua |nii

1 jsshinder nos oferece um desfile de mulheres elegantes que visitam Petra iisiensen), uma desenhista de moda, e sua empregada muda e sempre obe-

dii 111 • • Marlene (Irm Hermann). A dominação psicológica e a perícia de atuação nos |ii(IIS

forte de Petra e, em seu covil, as transações são uma dança dentro e em sua cama - enquanto a tempestuosamente ciumenta Marlene digita e cria einpre em segundo plano. - •.utilidades que surgem para o

hum

imp são muitas, como o uso ironi-

• 1111 • 1 onttapontual de velhos sucessos " . 1 pop, mas Fassblnder mantém 0 i>riii 1 0 0 I . O seu filme acaba se tor1 lição de vida simples mas vallo• 1 .11111 cl es enredados em relações m e sadomasoqulstas, algo que, 1 slander, quer dizer todo mundo: "o ", em qualquer situação, lern .1 final e devastadora - o poder de

Alemanha Ocidental (Autoren Tango) 124 min. Cor Idioma: alemão Direção: Rainer Werner Fassbindei Produção: Rainer Werner Fassbindei. Michael Fengler Roteiro: Rainer Werner Fassbindei, d

sua peça

Fotografia: Michael Ballhaus Música não original: Giuseppe Veidí Elenco: Margit Carstensen, Hanna Schygulla, Katrin Schaake, Eva Mattes, Gisela Fackeldey, Irm Hermann Festival de Berlim: Rainer Werner

Fassbinder, indicação (Urso de O h i o )


Inglaterra (Universal) 116 min. rei hnicolor

FRENESI

(1972)

(FRENZY)

Idioma: inglês

Alfred Hitchcock voltou à Inglaterra cm 1972 para colaborar com o dramaturgo Anthony

Direção: Alfred Hitchcock

Shaffcr cm uma versão filmada do romance de Arthur La Bern Coodbye

Produção: William Hill, Alfred Hitchcock

Farcwcll Leicester Square, que ressusciLa muitas das convenções do primeiro grande

Roteiro: Anthony Shaffer, adaptado do livro Goodbye Piccadilly, Farewell /natter Square, de Arthur La Bern Fotografia: Gilbert Taylor

Piccadilly,

sucesso do diretor, O pensionista (1926). Mais uma vez, Londres é atormentada por um serial killer similar a Jack, o Estripador, c o personagem principal só complica a sua situação agindo de forma tão estranha que se torna o principal suspeito. Hitchcock obtém uma mistura exata de fascinação lasciva e horror genuíno ao

Música: Ron Goodwin

mostrar a atitude inglesa diante dos assassinatos - algo que também é uma grande

Elenco: Jon Finch, Alec McCowen,

parte de sua própria obsessão. Um amargurado ex-ptloto da RAF, Richard Blaney (Jon

Harry Foster, Billie Whitelaw, Anna Massey, Barbara Leigh-Hunt, Bernard ( libbins, Vivien Merchant, Michael liâtes, Jean Marsh, Clive Swift, John Boxer, Madge Ryan, George Tovey, I Isic Randolph

Finch) é um alcoólatra que trabalha como garçom em um bar de Covent Garden, reduzido a limpar a mesa de sua perspicaz ex-namorada Brenda (Barbara l.cigh-Hunt), que, ironicamente, dirige uma próspera agencia matrimonial. Em uma das mais horripilantes c explícitas cenas que o Mestre do Suspense já dirigiu, Brenda é visitada pelo rústico c bonachão distribuidor de frutas no mercado de Covcntry Garden, Bob Rusk (Barry Foster), cujas exigências especiais não reveladas, porém perversas, ela não deseja cumprir profissionalmente. Rusk então revela ser o notório Assassino da Gravata estuprando a mulher e estrangulando-a com sua gravata estampada. Frenes/ prossegue entrecortando a narrativa do herói anti-social, desagradável e sem dignidade - reduzido a dormir em um abrigo para mendigos, a certa altura - e do vilão encantador, atraente e bem-sucedido, que torna a perturbar Blaney assassinando a sua namorada esporádica (Edith Massey), uma garçonete animadlnha. Como em Psicose e Pacto Sinistro, Hitchcock (liiigr uma sc-qüéiu 1.1 de suspense aliiiando nossa cumplicidade na tentativa de um assassino de encobrir o seu crime, mostrando Rusk atrapalhado com um cadáver nu em um saco de batatas no porta-malas de uma van para recuperar o seu prendedor de gravata incriminatório. Hitchcock tira proveito da censura mais branda do período para ser mais explícito em relação ao sexo e ã violência, embora ele também saiba quando um afastamento longo e lento, tirando a nossa atenção de um assassinato, transmitirá mais horror do que outro dose de violência e estrangulamento. Há um veio de comedia estilo "Mikc Lcigh", sobre constrangimento social, no enredo secundário de um inspetor de polícia (Alec McCowen) cuja esposa (Vivien Merchant) está sempre lhe servindo pavorosas refeições "gourmet". KN


PINK FLAMINGOS (1972)

EUA (Dreamland) 93 min. Cor

"iiiv.ivelmente o "melhor pior filme" j á feito - e certamente u m a das mais c queridas (se e s t a for a palavra adequada) obras de cinema trash já saídas do ni americano -, o longa de 1972 de John Waters oferece um verdadeiro .1 ibre a estética da criação cinematográfica "puramente vulgar". 1 Ilutado n a querida cidade natal de Waters, Baltlmore, em Maryland, Pink

Flamingos

Inevitável do travesti Divine, musa do escrltor-diretor, que vive em um

Hurla

11 sua família igualmente excêntrica - incluindo o seu filho hippie retardado, (ii.inny

Mills) e a sua mãe obesa que vive em um berço, Edlc (Edith Massey,

inesquecível), que é obcecada por ovos. A briga é para sobrepujar os Marble,

tiii'

lilemente anormais e antisociais (os atores habituais de Waters, Mink Stole e ni li.uy) em termos de comportamento repugnante e ¡moral, para se tornar n a d a nimio'., nu talvez mais, do que "a pessoa mais grotesca viva." 1 mbnra os Marble representem um forte desafio raptando e engravidando moças ileni

carona e vendendo os seus bebês a casais de lésbicas,

para

depois usar o

inundando a venda de heroína em pátios de escolas, a Babs Johnson de '• n e o duro em sua missão de manter o trono de sua família.

II lit

r o m granulada, com aspecto caseiro, de Pink Flamingos (com sua fotografia o.ti enquadrada e desfocada, zooms aparentemente casuais e aleatórios, .iililios

e qualidade sonora desigual) só acrescenta

à

experiência de ver o filme

l i 1 ult e trash. Afinal de contas, trata-se de um filme que dedica longo tempo • 11 .nu ionizações labiais feitas com o ânus, produtos de movimentação intesiin.i •-1 iilegues pelo correio e sexo com frangos - e isso é só o início. No epílogo '

1 1 ' i v i n e p á r a em uma rua no centro

para pegar a bosta ainda ' 1

1 cachorrinho. Ela a coloca na 1 i|',a por alguns instantes, depois n pouco e olha para a camera

ir

.o pode ser chamado de careta n e u merda. O crítico Justin .la exagerando quando identi

• •' 11.11 nino "a mais famosa (...) de •

ma underground - o equivalenUnderground, da cena do chuvel-

' (rose". I mbora Waters tenha conproduzido vários outros exercíívels rie mau gosto - inclusive iiouhle (1974) e Desperóte

Living

le se lomar ligeiramente m a i s I nos anos 80 e 90 -, nenhum • 1

lililíes combina tão perfeita • vulgaridade como este. SJS

Idioma: inglês Direção: John Waters Produção: John Waters Roteiro: John Waters Fotografia: John Waters Elenco: Divine, David Lochary, M.uy Vivian Pearce, Mink Stole, Danny Mills, Edith Massey, Channing wiliny, Cookie Mueller, Paul Swift, Susan Walsh, Pat Moran, Pat Lefalvei. Jai I Walsh, Bob Skidmore, Jackie Sldel


EUA (Superfly, Warner Bros.) 93min.

SUPERFLY

(1972)

lechnicolor

Um dos filmes mais amados e citados do ciclo de blaxpoitation, com uma trilha de

lilioma: inglês

funk fcrvilhante de Curtis Mayfield, um anti herói machão e traficante e trajes esfu-

Direção: Cordon Parks Jr.

ziamos dos anos 70, Superfíy ê inesquecível. Dirigido por Gordon Parks Jr., este drama

Produção: Sig Shore

de crime e ação "durão" foi financiado por um grupo independente de empresários

Roteiro: Phillip Fenty

afro-americanos (foi o primeiro filme a receber essa honra) e teve uma equipe de

Fotografia: James Signorelli

produção que também era quase totalmente negra. O filme antecipou a infiltração de

Música: Curtis Mayfield

roupas berrantes c drogas letais, sobretudo cocaína, na cultura pop americana.

Elenco: Ron O'Neal, Carl Lee, Sheila frazler, Julius Harris, Charles McGregor, Nate Adams, Polly Niles, Yvonne Delaine, Henry Shapiro, K. C, James G. Richardson, Make Bray, Al Kiggins, Bob Bonds, Fred Rolaf

Superfíy conta a saga de um traficante espertalhão do Harlem, Youngblood Priest (Ron O'Neal), que espera fazer uma última venda para converter toda a sua cocaína em dinheiro c começar uma vida nova longe do crime. O filme é uma declaração contundente sobre como a oferta contínua de drogas no gueto é causa de dor, sofrimento e de um ciclo infindável de violência. Também faz de Priest o cara mais rico e admirado da vizinhança, enchendo de glamoui .1 "consciência machista-cocainômana" da era e tornando a consciência política negra inconseqüente c ineficaz. É quase impossível criticar Superfly pela falta de uma mensagem coerente e politicamente correta. Os diálogos são tão diretos, a montagem em stills ao som de "Pusherman" tão despreocupadamente envolvente e o personagem de O'Neal tão carismático que a audiência mal pode conter a excitação de acompanhar o desenrolar do filme. Ou, como uma resenha ressaltou. Supcifly captura perfeitamente "a essência do que é a vida de um malandro". SJS

EUA (Universal) 129 min. Technicolor Idioma: inglês Direção: George Roy Hill Produção: Tony Bill, Robert L. Crawford, |Ulia Phillips, Mlchael Phillips Roteiro: David S. Ward Fotografia: Robert Surtees

GOLPE DE MESTRE

(1973)

(THE STING) George Roy Hill dirigiu Paul Newman e Robert Redford pela primeira vez em Butch Cassídy (1969). Os resultados tiveram grande influência, já que o filme confirmou o Interesse dos espectadores pelo faroeste ao mesmo tempo que demonstrou o apelo comercial da dupla Newman e Redford. Reunidos novamente quatro anos depois no

Música não original: Scott Joplln

rocambolesco Golpe de mestre, Hill deu aos atores mais espaço para se expressarem,

Elenco: Paul Newman, Robert Redford,

ainda que desta vez sem um fim trágico.

Robert Shaw, Charles Durning, Ray Walston, Eileen Brennan, Harold Could, John Heffernan, Dana Elcar, |ai k Kehoe, Dimitra Arliss Oscar: Tony Bill, Michael Phillips, lulia Phillips (melhor filme), George Puy Mil (diretor), David S. Ward (inteiro), Henry Bumstead, James Piyne (direção de arte), Edith Head (llgurino), William Reynolds (edição), M.uvin Hamllsch (música) Indicação ao Oscar: Robert Redford (.1101), Robert Surtees (fotografia), Kiinald Pierce, Robert R. Bertrand

Ml

Ambientado em Chicago na era pós Depressão, Henry Gondorff (Newman) e Johnny Hooker (Redford) são dois golpistas ambiciosos. Quando o mafioso Doyle Lonnegan (Robert Shaw) mata um de seus amigos, cies preparam sua vingança. A trama que se segue, construída com fumaça, espelhos e várias viradas, também depende de uma densa rede de conexões no submundo do crime de Chicago. Com um forte elenco coadjuvante de homens espertos usando seu estilo pessoal contra outros homens espertos, o filme tem um ar radiante de inteligência. A atemporalidade doragt/mede Scott Joplin está presente em toda a trilha sonora e, no final das contas, uma longa trapaça derrota até o mais intimidante dos bandidos. Ainda que não seja arte de alto nível, Golpe de mestre é uma diversão deliciosa. Newman com seus olhos azuis e o grisalho Redford estão ótimos, e na sua amizade está contido o prazer de mestres da tela engajados em uma aventura cômica centrada em lealdade e farsas. GC-0


A MAE E A PUTA

(1973)

França (Ciné Qua Non, Elite, Losangc, Slmar Films, V. M.) 219 min. P&B

(LA MAMAIM ET LA PUTAIIM) iinl" que diz respeito ao filme A mãe ca puta - duração, atuações, diálogos - é um tour e. Neste longa-metragem autobiográfico, Jean Eustache passa extensos 220 is representando um intenso ménage ã trois: Alexandre (Jcan-Pierre Léaud) vive • 11111 M.iríe (Bernadette Lafont) mas se apaixona por Veronlka (Françoise Lebrun). I limado em 16 mm e preto-e-branco, A mãe e a puto usa a estética da nouvelle para criar um retrato vigoroso da desilusão pós Maio de 6 8 . 0 trabalho de câme"I (pelo notável Plerre Lhomme) cartografa uma Paris sedutora: velhos apartais, bulevares e cafés nos quais os personagens se enttegam a um vasto fluxo de as. Enquanto os diálogos extraordinários de Eustache fundem alta literatuta, obscenidades, a câmera de Lhomme estica o tempo cm tomadas bastante leiiKas e cenas em tempo real. 0 0 1 0 muitos dos filmes da nouvelle vague, A mãe e a puta habita um mundo

1

uai parisiense no qual os críticos c diretores de filmes da vida real, inclusive o ustache, aparecem como personagens secundários. A referência mais forte à >•• vague, contudo, além de Lafont, é Léaud

11 alter ego de François Truffaut. O

intástico de Os incompreendidos (1959), o jovem caprichoso de Bel/os proibidos icsceu e tornou-se o maníaco, obsessivo, irritante porém ainda atraente lu Ao discutir o significado da vida, do amor e da arte, Léaud/Alcxandrc funde el homem da nouvelle vague com o libertário de Maio de 68. A mãe e a puta é, no tempo, o retrato narcisista e o desvelamento mordaz dessa figura, inserin1111. profundamente, em seu tempo. ' i|iir dizer da "mãe" e da " prostituta" do título? Como Alexandre, o filme oscila 1

l u r e troca dois esteteótipos femininos no processo. Ambas as mulheres, que 'tegos enquanto ele vive no ócio, emergem como figuras mais fortes do que o Alexandre. O filme as converte em figuras "trágicas" mas, em última instância, as, subservientes à sua (e do diretor) angústia existencial, apesar das atuações de I afont e da novata Lebrun. Nesse aspecto também, A mãe e a puta per.'•11 tempo, um monumento â confusa, "libertária" e ainda assim opressiva 1.1I patriarcal da França dos anos 70. Eustache (que se suicidou em 1981) teve istante para também tornar este filme profundamente comovente. CV

Idioma: francês Direção:Jean Eustache Produção: Pierre Cottrell, Vincent Malle Roteiro: Jean Eustache Fotografia: Pierre Lhomme Música não original: Mozart, Offenbach Elenco: Bernadette Lafont, Jean-Pietre Léaud; Françoise Lei 1, Isabelle Weingarten, Jacques R c u a o l Jean-Noél PIcq.Jessa Darrieux, Geneviève Mnich, Marinka Matuszewskl



TERRA DE NINGUÉM

(1973)

(BADLANDS) "Não posso negar que tenhamos nos divertido... e isto é mais do que outros podem dizer." Formado em Harvard, erudito de Rhodes, por vezes jornalista e professor de filosofia no MIT, Tcrrcncc Malick foi um verdadeiro artista, completamente indiferente às convenções e ao comercialismo da indústria cinematográfica americana. Ele escreveu, produziu e dirigiu apenas dois filmes nos anos 70, antes de se retirar do front durante os I UA (Badlands, Pressman-Williams)

20 anos que passou em reclusão (e depois voltou para fazer seu projeto longamente

•)', min. Cor

debatido sobre a Segunda Guerra Mundial, Além do linha vermelha], tornando-se, no

Idioma: Inglês

processo, tanto uma lenda reverenciada quanto uma petda terrível para o cinema

Direção: Terrence Malick

americano. O filme de 1979, Cinzas do paraíso, retira poder de sua beleza estupenda e

Produção: Jill Jakes, Terrence Malick,

recriação de climas. Seu filme cult mais interessante e o favorito de muitos, contudo,

I dward R. Pressman, Louis A. Stroller Koteiro: Terrence Malick lotografia: Tak Fujimoto, Stevan i

i, Brian Probyn

Música: Cunild Keetman, James l.ivlnr, George Aliceson Tipton, Carl Orff, Erik Satie I lenco: Martin Sheen, Sissy Spacek, Warren Oates, Ramon Bieri, Alan Vint, c u y I ittlejohn, John Carter, Bryan Montgomery, Gall Threlkeld, Charles llt/patrick, Howard Ragsdale, John Womack Jr., Dona Baldwin, Ben Bravo

é Terra de ninguém, um estudo perturbador e fatalista de uma odisséia impetuosamente violenta. É mais desolado c austero cm sua beleza visual, que não parece ser um artifício estudado, e sim natural e enérgica. Longe de ter se tornado datado, o filme possui uma qualidade atemporal e torna se cada vez mais relevante cm uma era de pouca inocência, mas com massas de pessoas desejosas de celebridade. Aos 30 anos, mas parecendo muito mais jovem, Martin Sheen Interpreta Kit, um desajustado perdido e sem objetivos do Meio-Oeste americano, ansioso pela notoriedade; um lixeiro que tem a fantasia de ser um sósia fora-da-lei de James Dean. Sissy Spacek, então com 24 anos mas totalmente convincente como uma garota de 15, faz o papel de uma irritante ninfeta vazia, passiva, namorada de Kit. Inspirada cm um caso teal dos anos 5 0 - 0 casal de adolescentes delinqüentes Charles Starkweather e Carol Fugatc , esta narrativa de um rapaz maldoso e sua bonequinha querida é fascinantemente terrível. A forma despreocupada pela qual eliminam o pai austero da menina (Warrcn Oates), a construção de uma casa de árvore cm uma plantação de algodão para lhes servir como ninho de amor e a travessia do país em melo a matanças e perseguições, tudo nos lembra Bonnle e Clyde. Iara de nintjaàn

é frio, desolador e assustador em sua consciência de que a menina

adolescente aparentemente ordinária juntou-se complacentemente com um sociopata apenas pot não tet nenhuma idéia melhot. Também é um filme erudito, já que Malick encontrou um distanciamento Imparcial e desapaixonado do psicodrama violento através de uma escrita Inteligente. Um recurso brilhante foi colocar Spacek lendo desajeitadamente as páginas romantizadas, porém banais, do diário de sua personagem, que imita o estilo das revistas populares para fãs de cinema dos anos 50 que ela Ha com a voz em off que acrescenta um estranho pathos ao progresso niilista da dupla. Os detalhes, usando a iconografia da era, são ao mesmo tempo irresistíveis (o casal, sem se Importar com sua situação, dançando ao ar livre como qualquer criança despreocupada ao som da música "Love Is Strange" ou perdido em devaneios, Iluminado pelos faróis, ouvindo Nat King Cole) e eloqüentes (Kit verificando o seu penteado no espelho durante uma perseguição de carro com os policiais já bem próximos, ou entregando alegremente souvenirs aos seus captores). Os contrastes - das belas paisagens do Centro dos EUA, com suas áreas decadentes, vidas tediosas e sonhos vazios; da trilha musical, brilhante e vibrante, com as imagens tecotrentes da morte - são notáveis. E os ecos do estilo pensativo de Malick continuam reverberando no gênero "amor em fuga" até hoje. AE


IUA (Lucasfilm, Coppola, Universal) no

min. Cor

Idioma: inglês Direção: George Lucas Produção: Francis Ford Coppola, < ,.u y Kurtz Koteiro: George Lucas, Gloria Katz, Wlllard Huyck Fotografia: Jan D'Aiquen, Ron Everslage

Música não original: Sherman

I dwards, Chuck Berry, Buddy Holly, Booker T.Jones

Elenco: Richard Dreyfuss, Ron

Howard, Paul Le Mat, Charles Martin

Smith, Cindy Williams, Candy Clark,

Mackenzie Phillips, Wolfman Jack, Bo Hopkins, Manuel Padilla Jr., Beau

Gentry, Harrison Ford, Jim Bohan, lana Bellan, Deby Celiz, Johnny

Weissmuller Jr., Suzanne Somers

Indicação ao Oscar: Francis I old

LOUCURAS DEVERÃO

(1973)

(AMERICAN GRAFFITI) Produzido por Francis Ford Coppola e dirigido pelo seu protegido c antigo assistente George Lucas, também co-autor do roteiro com toques autobiográficos, este filme sobre um rito de passagem enormemente interessante, que retrata pessoas graduadas que viajam numa noite de verão em 1962, foi muitas vezes Imitado, mas nunca sobrepujado cm hilaridade, penetração, ou virtuosidade técnica no gênero comédia de ritos de passagem com carros clássicos e uma dançante trilha sonora. Ele foi também a inspiração clara das comédias de costumes de televisão sadias e nostálgicas como Dias Felizes e Lavernce Shirley, retratando alguns dos mesmos personagens e fantasticamente revisitando a era de jovens supostamente despreocupados pré-VIetnã. O conjunto de atores de Loucuras de verão impressiona: Richard Dreyfuss e Ron lloward quando cie ainda era Ronny, a caminho da faculdade, Paul "que fim levou?" Le Mat como o bad boy cheio de brilhantina, Cindy Williams, Candy Clark, Charles Martin Smith, o lendário DJ de rock 'n' roll Wolfman Jack e, em papéis mais humildes, Joe Spano, Suzanne Somers, Kathy antes que se tornasse Kathleen Qulnlan, e um ator não muito promissor chamado Harrison Ford, no papel do corredor de arrancadas Bob Falfa. A confluência de jovens talentos trouxe a energia, a comédia, o discernimento e a perícia soberbamente captados pelo cineasta Haskcll Wcxlcr, um dos primeiros

( oppola, Gary Kurtz (melhor filme),

mentores de Lucas. Loucuras de verdo foi filmado nas cidades de Modesto c San Rafael,

Gloria Katz, Willard Huyck (roteiro),

era, há muito, um ritual estritamente observado: colocar a bunda de fora pela janela do

George Lucas (diretor), George Lucas, Candy Clark (atriz coadjuvante),

Verna Fields, Mareia Lucas (edição)

na Califórnia

onde .1 tradição cnusagiada pelo tempo de "cruzai pela rua principal"

carro, paquerar, borrifar espuma e ocultar bebidas alcoólicas furtivamente obtidas dentro de sacos de papel. Nesie filme, que foi apenas seu segundo longa, Lucas demonstrou um encanto e uma emotividade nao encontrados em sua estréia fria e futurista, THX 113S. Filmado em apenas 28 noites por bem menos de um milhão de dólares, Loucuras de verão foi o terceiro filme mais popular de 1973. Acabou se tomando um dos filmes mais lucrativos de todos os tempos e ainda recebeu elogios da crítica, assim como cinco Indicações ao Oscar

Inclusive Melhor Filme, Direção c Roteiro -, um triunfo que permitiu que Lucas atin-

gisse um patamar ainda mais fenomenal em seu próximo filme, Guerra nas estrelas. AE


PAPILLON (1973)

E U A / França (Allied Artists. (

I.• 11<i como "dois homens sem nada em comum exceto a vontade de vivet e um I ii p ira morrer", Papi/Ion, de Franklin J. Schaffner, continua sendo uma referência paus filmes de "fuga da prisão". Começa com Papillon (Steve McQueen) sendo d" para uma prisão na Guiana Francesa por um crime que supostamente não u lá, salva a vida de Dega (Dustin Hoffman), prisioneiro c falsário. A partir daí i ura as suas diversas tentativas de fuga, financiadas por Dega, até que ' malmente consegue escapar. A p.uiituta de Jerry Goldsmlth repercute a ambientação tropical para fazer de menos um filme de ação e mais um confronto entre o homem e a natureza. " é, portanto, o veículo para explorar a lealdade entre indivíduos e a dor - um ii sofrimento. Os espectadores atentos notarão quão pouco diálogo há no filme. Ilsso, o impacto de Papillon vem das atuações e da sórdida detenção. Posslii exemplo mais perfeito é o seu confinamento cm cela solitária: embora não i i u palavra, McQueen ainda assim demonstra ser uma estrela, com enorme |M*iriii,.i em cena. liiliçada" - dizem a Papillon, mas o filme torna-se um contta-atgumento pui o niiinfo é o de um homem Insignificante derrotando um sistema projetado niehi.i

lo.

CC-0

OIM-RAÇAO DRAGÃO

Direção: Franklin J . Schaffner Produção: Robert Dorfmann, Ted Richmond, Franklin J . Schaffner Roteiro: Dalton Trumbo, Lorenzo Semple Jr., adaptado do llvro dc llnul Charrière Fotografia: Fred J . Koenekamp Música: Jerry Goldsmith Elenco: Steve McQueen, Dustin Hoffman, Vitor Jory, Don Gordon, Anthony Zerbe, Robert Deman, Woodrow Parfrey, Bill Mumy, Georgi' Coulouris, Ratna Assan, William Smithers, Val Avery, Gregory Sierra, Barbara Morrison, Don Hammer, E. J . André, Richard Angarola, Jack Denhu. Len Lesser, John Quade, Fred Sadoll, Allen Jaffe, Liam Dunn Indicação ao Oscar: Jerry Goldsniii h

(1973)

(I N U H T H E DRAGON) i ibrlecido suas credenciais de superestrela de filmes de ação com produções de I long Kong, como A fúria do dragão e O dragão chinês, Bruce Lee, campeão ' • i ' ' ' li.i 1 lia (e também de caratê e kung fu), só teve a oportunidade de completar iii- min os padrões de produção de Hollywood. Lee, um ptaticante de artes iijas habilidades físicas alcançaram um nível espiritual, invade (junto com lo\ lobn Saxon e Jlm Kelly) o esconderijo de um grande vilão numa ilha e dá i

idioma: inglês

Vic Tayback, Mills Watson, Ron Soble,

me do filme, entretanto, nos vem por meio de um pesadelo. "Acuso-o de uma

i

o.i

General, Solat) 150 min. Cor

las de vilões de segundo escalão (Jacklc Chan tem seu pescoço quebrado -na rápida).

Iirloi Robert Clouse possui o estilo esperado de alguém que esteja dirigindo .1 de Brock Landers (uso intenso de zoom e reflexos de luz batendo nas i i i - , 1 ujo inglês de Hong Kong da vida real possuía um forte sotaque mas era 11 ii leristico, fica preso aos "diálogos de Charlie Chan", que consistem de muni iamentos enigmáticos. A ação continua sendo formidável, contudo, já in 1 ajuda de fios ou dos efeitos usados em filmes recentes, como O tigre c o • i i uia magnificamente seus movimentos, usando seus nunchakos caracviolentando o seu tótax oleado. Influente sobre todo um gênero de fll". marciais que veio depois, e também um padrão para todos os games "de Ki( ou ilragdo merece o seu lugar na história dos filmes puramente pela pre11 ai ii a de Lee e pelas seqüências de luta Impossíveis de serem imitadas. KN

Hong Kong / EUA (Concord, Sequolla, Wainer Bros.) 98 min. Cor Idioma: Inglês Direção: Robert Clouse Produção: Raymond Chow, Paul M. Heller, Bruce Lee, Fred Welnttaub Roteiro: Michael Allin Fotografia: Gil Hubbs Música: Lalo Schifrin Elenco: Bruce Lee, John Saxon, Kicn Shih, Jim Kelly, Ahna Capri, Robert Wall, Angela Mao, Bolo Yeung, Belly Chung, Geoffrey Weeks, Peter Archer, Ho Lee Yan, Marlene Clark, Allan Kent, William Keller



EUA (Taplin-Perry-Scorsese) no min. Cor idioma: inglês Direção: Martin Scorsese Produção: E. Lee Perry, Martin Scorsese, Jonathan T. TapIiia Roteiro: Martin Scorsese, Mardlk Martin Fotografia: Kent L. Wakeford Música não original: Eric Clapton, Bert Holland, Mickjaggere Keith Richards Elenco: Robert De Niro, Harvey Keltel, David Provai, Amy Robinson, Richard Romanus, Cesare Danova, Victor Argo, George Memmoll, Lenny Scaletta, Jeannle Bell, Murray Moston, David Carradine, Robert Carradire. Lois Walden, Harry Northup, Catherine Scorsese, Martin Scorsese

CAMINHOS PERIGOSOS

(1973)

(MEAN STREETS) O revolucionário filme de Martin Scorsese foi uma declaração Instantânea dos tem,as que ele continuou a elaborar desde então e de seu evidente talento. Passado em secu próprio território, o bairro de Little Italy, em Nova York - embora tenha sido quase todo filmado cm Los Angeles, com algumas cenas retiradas do festival religioso de San Gennaro -, Caminhos perigosos fala sobre marginais do escalão Intermediário do crime organizado. Explora a euforia e o impulso destrutivo de uma adolescência estendida e de uma busca peculiar por salvação que se prolongou por toda a filmografia de Scorsese. Um jovem e tranqüilo Harvey Keitel interpreta Charlie Cappa, o substituto semiautobiográfico de Scorsese (o diretor usa a sua própria voz para a narração feita pelo personagem), um Integrante sem Importância da máfia que acredita que "você paga os seus pecados na rua, não na igreja", mas ainda assim está disposto a segurar uma vela votiva para expiar os seus crimes. Tão preocupado em impressionar os outros a ponto de se arrumar como se fosse um cavaleiro colocando a armadura, Charlie acredita que é possível manter um antigo sentido de honra e lealdade e ainda assim progredir em um negócio conduzido por anciãos cavalheirescos. Contudo, sua prima-namorada (Amy Roblnson) questiona e corroí essas alIludes de "homem íntegro" Icmbrando-lhe que "São Francisco não jogava na loteria". Charlie passa o tempo andando por Little Italy com seus amigos; trocando tiradas rápidas com seu primo perigosamente irresponsável, Johnny Boy (Robert De Niro); indo ao cinema (corte para clipes de Rastros de ódio, de John Ford, e O túmulo sinistro, de Rogei Corman, para marcar as origens de Scorsese); fazendo pequenas trapaças (as Idas ao cinema são financiadas arrancando uma grana extra de estudantes em transações com dro gas); pensando sobre com que garota deseja ficar e esperando subir na hierarquia do crime. Contudo, sua constante preocupação acerca de como os outros devem vê-lo faz com que desmanche a relação com sua prima epllétlca porque teme que pensem que ele c esquisitão e logo se desvencilhe de uma possível ligação com uma mulher maravilhosa com quem esteve flertando somente porque é negra. Enquanto isso, a sua lealdade a Johnny Boy o arrasta claramente em direção ao desastre, uma vez que esse rebelde irresponsável, que simplesmente não dá a mínima para o que os outros pensam, irrita um poderoso agiota local (Richard Romanus) não apenas deixando de pagar o que deve, mas também fazendo questão de desdenhar dele em público. o intenso, contemplativo e respeitoso Charlie e o espertalhão Impulsivo Johnny Boy (cuja primeira aparição é quando explode uma caixa de correio) são personagens-chave do cinema dos anos 70, estabelecendo perso nas que suas estrelas explorariam em uma série de excelentes filmes de Scorsese e outros. A história termina em uma apoteose sangrenta, um tiroteio misturado com uma batida de carros que deixa alguns personagens sangrando e outros mortos - nunca fica inteiramente claro quem é quem. Em melo a isso, uma energia alegre se desprende enquanto Keltel, com seus ternos elegantes, marca presença em bares iluminados por luz néon, a câmera perambulando como sua sombra e a inigualável coleção de discos de Scorsese tocando na trilha sonora. David Carradine, estrela de Sexy e marginai (1972), filme anterior de Scorsese, faz uma ponta engraçada como um bêbado que é vítima de assassinato. KN

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EUA (E-K-Corp., Lions Gate) 112 min. lechnicolor Idioma: inglês Direção: Robert Altman Produção: Jerry Bick, Robert I ggenweiler Roteiro: Leigh Brackett, baseado no livro de Raymond Chandler Fotografia: Vilmos Zsigmond Música: John Williams Elenco: Elliott Gould, Nina Van Pallandt, Sterling Hayden, Mark kydell, Henry Gibson, David Arkin, Jim Bouton, Warren Berlinger, Jo Ann Brody, Stephen Coit, Jack Knight, Pepe Callahan, Vincent Palmieri, Pancho Córdova, Enrique Lucero

0 PERIGOSO ADEUS

(1973)

(THE LONG GOODBYE) O perigoso adeus, a versão lânguida e livre de Robert Altman para o último grande romance de Raymond Chandler, transfere a história de 1953 para 1973, sutilmente criticando os valores fora de época de Philip Marlowe. O detetive desalinhado, não barbea do e fumante inveterado interpretado por Ellíott Gould é um grande perdedor, apresentado em uma seqüência brilhante na qual tenta fazer com que o seu gato presunçoso coma ração de segunda. Movendo-se desajeitamente em meio ao esqueleto da trama de Chandler, Gould tenta ajudar um escritor alcoólatra, no melhor estilo "Hemlngway" (Steiling Hayden, que escreveu as suas próprias cenas), bem como livrar o seu único amigo (Jim Bouton) de uma acusação de assassinato. A trilha de John Williams cria infinitas variações sobre a melodia de abertura e há multas seqüências memoráveis: Jark Rydell, um gângster violento, marcando seu ponto de vista ao quebrar uma garrafa de refrigerante no rosto de sua amante ("Isso foi com alguém que amo, mas eu nem sequer gosto de você"), o suicídio de Hayden na praia c uma ótima fala cínica ("E perdi o meu gato") que, no final, transforma Marlowe em uma espécie de vencedor. Arnold Schwarzenegger em pessoa faz uma ponta não creditada como um capanga sem importância. Altman assegura-se de que boa parte da ação principal transcorra quase despercebida nos cantos da tela e gosta de destacar pequenos momentos de impacto visual e sonoro em meio a uma tapeçaria lavada ao sol do amorallsmo de Los Angeles. KN

Inglaterra (British Lion) 10? min. Eastmancolor Idioma: Inglês Direção: Robin Hardy Produção: Peter Snell Roteiro: Anthony Shaffer Fotografia: Harry Waxman

0 HOMEM DE PALHA (1973) (THE WICKER MAN) 1 lowie (Edward Woodward), um "policial cristão" escocês, Investiga o desaparecimento de uma garotinha em Summcrisle, onde um poderoso senhor de terras local, encantador mas perverso (Christopher Lee), está tomando medidas extremas para assegurar o êxito da próxima colheita. Escrito por Anthony Sliaffer (Sleuth), O homem de palha é

Música: Paul Giovanni

uma combinação original de filme de terror, histórias de mistério e assassinatos,

Elenco: Edward Woodward,

etnografia pagã c ainda um musical, estréia auspiciosa de seu diretor, infelizmente

Christopher Lee, Diane Cilento, Brltt Ekland, Ingrid Pitt, Lindsay Kemp, Russell Waters, Aubrey Morris, Irene Sunters, Walter Carr, Ian Campbell, Leslie Blackater, Roy Boyd, Peter Brcwis, Barbara Rafferty

nada prolífico, Robin Hardy. Ele obtém uma combinação audaciosa do sexy com o sinistro, levando a um final chocante que continua mantendo seu Impacto, embora o público que hoje assiste ao filme pela primeira vez em geral já saiba como as coisas vão terminar em um festival onde uma virgem sagrada é levada até uma fogueira, na praia, que tem a forma de um gigantesco homem. Um elenco peculiar inclui Bi itt Ekland, dublada e usando uma duble de corpo, como a filha sedutora do senhor de terras, a estrela cult Ingrid Pitt como a bibliotecária nua, a mímica Lindsay Kemp como uma maliciosa taberneira comp, e Diane Cilento como a alta sacerdotisa com jeitão de diretora de escola. Embora tenha sido muito editado em seu lançamento original, a versão mais comum no mercado restaurou em boa parte (se não toda) a metragem cortada. De certa forma, a edição mais curta funciona um pouco melhor porque a versão estendida é um pouco óbvia ao conduzir os espectadores rumo à virada final na trama. KN


A NOITE AMERICANA

(1973)

França / Itália (Carrosse, PECI. IH ) 115 min. P&B / Eastmancolor

(LA NUIT AMÉRICAINE) 1 ena típica de A noite americana o diretor Ferrand (interpretado por François Ilidi ti n) joga no chão uma pilha de suas últimas aquisições de livros sobre filmes (Bresson, I H , I litcheock), enquanto o tema musical de Georges Delerue é tocado attavés do MI 11 aparelho telefônico. A mistura de detalhes do cotidiano com rompantes inesuidadosamente contidos de lirismo éTruffaut no que ele tem de mais essencial, iic nmericana é uma declaração de amor de Truffaut ao processo de filmar. Em ilha controvertida pata o período pós-1968, ele optou pelo cinema clássico,

Idioma: inglês /francês Direção: François Truffaut Produção: Mareei Berbert Roteiro: Jean-Louis Richard, Suzanni Schiffman, François Truffaut Fotografia: Pierre-WiHiam Glenn Música: Georges Delerue Elenco: Jacqueline Bisset, Valentina

em estúdios e genético como premissa, em vez da nouvellc vague. A ênfase

Cortese, Dani, Alexandra Stewait.

nação de filmes como ofício e não arte (ninguém pensaria que o tolo filme-

Jean-Pierre Aumont, Jean Champion,

le lerrand, Meet Pamela, é uma obra-prima). Além disso, a ênfase é menos no • luzido do que no processo coletivo que leva até lá. Truffaut pinta um retrato de relações "familiares" gentis entre o elenco e a equipe, tornando A noite ia o completo oposto de O desprezo, de Jean-Luc Godard (1963), ou Bewareof a 11' (1970), de Ralner Werner Fassbinder. bedorla amena e agridoce dá o tom fundamental aqui, enquanto um excelente d' atores (do tranqüilo jean-Pierre Aumont ao estourado Jean-Pierre Léaud) 1

lha lições passageiras sobre a vida, o amor e a perda. O filme esboça uma am1 de personagens, Inteligentemente comparadas em pontos específicos: por as suas atitudes perante o sexo casual (trágico c histriónico para a persolai queline Blsset, vivendo um casamento feliz, quando Léaud torna pública "iiide para Natalie Bayc, uma assistente de direção eficiente), n u ' t u 11 realça a transitoriedade, a fragilidade e a Irrealidade da vida em uma locaigem - deixando até mesmo, em uma cena hilária e surpreendente, que um illc 11 verbo para criticar essa gente de cinema por sua imoralidade desenfreaumericana expõe de forma carinhosa muitas ilusões do ptocesso de nino podemos constatar quando o sentido de seu título nos é revelado -, 111 1 nossa admiração diante da magia dos filmes. Como ocorre em outras iiiillaut, as cenas de montagem rápida - dedicadas ao frenesi da sala de 1 ' iimplicada cena filmada com neve artificial - exprimem afeto profundo e las 1 uisas práticas e mundanas de seu ofício. .r. cenas de montagem estranhamente divertidas nos mosttam, o cinema nu r intrinsecamente não-espetacular. Não há qualquer ênfase melodramática nu

nem tampouco retórica pomposa para marcar um ponto de vista em sua liuffaut deseja manter um tom leve, uma narrativa fluida e sua capacidade incidentes com o máximo de economia: nesses pontos tealmente foi .11 oncisão controlada de Hitchcock ou Lang com a observação aguda de pi ker. Aqueles que não consideram A noite americana um filme sério estão

di peti eber a notável realização de Truffaut nesse nível. ' iiirssão bem-humorada de situações ordinárias, os raros momentos de " i h 1 orno interrupções súbitas (como a morte de Alexandet) que mudam a lilsleza desses eventos "pontuais" realça a transitoriedade dos prazeres igens: momentos secretos de intimidade ou cumplicidade, epifanias ""•• i.isuais de comédia e beijos roubados. A noite americana u l u l a s

mais encantadotas de Truffaut nesse gênero. A M

contém

Jean-Pierre Léaud, François Trul lai 11 Nike Arrighi, Nathalie Baye, Mauili e Seveno, David Markham, Bernard Menez, Gaston Joly, Zenaide Rossi Oscar: Fiança (melhor filme estrangeiro) Indicação ao Oscar: François Trtifi.iul (diretor), François Truffaut, Jean-Louis Richard, Suzanne Schiffman (roteiro), Valentina Cortese (atriz coadjuvante)


Inglaterra / Itália (Casey, Eldorado) no min. Technicolor Direção: Nicolas Roeg Produção: Peter Katz, Frederick Muller, Anthony B, Unger Roteiro: Allan Scott, Chris Bryant, liaseado em uma história de Daphne Du Maurler

INVERNO DE SANGUE EM VENEZA (1973) (DONT LOOKNOW) Baseado em um conto de Daphné du Maurier, Inverno de sangue cm Veneza, de Nicholas Roeg, exibe o estilo tipicamente não linear que o diretor britânico tem de narrar histórias, no qual as elipses temporais e seqüências freneticamente intercaladas servem para refletir e realçar a atmosfera já palpável de perturbação psicológica e medo. Um pouco depois que sua jovem filha morre afogada, o restaurador de arte John

Fotografia: Anthony B. Richmond

Baxter (Donald Sutherland) e sua esposa Laura (Julie Christie) viajam a Veneza fora da

Música: Pino Donaggio (como Pino

alta temporada para restaurar uma velha igreja c recuperarem-se da perda traumática.

Donnaglo)

Em vez disso, o que encontram é uma cidade assombrada, com canais vazios e figuras

Elenco: Julie Christie, Donald

excêntricas, inclusive uma estranha dupla de irmãs idosas (Hllary Mason c Clélia Mata-

Sutherland, Hilary Mason, Clélia

Matanla, Massimo Serato, Renato

Scarpa, Giorgio Trestini, Leopoldo

Trieste, David Tree, Ann Rye, Nicholas

Salter, Sharon Williams, Bruno ( attaneo, Adelina Poerio

ma), uma das quais é uma médium cega que afirma poder comunlear-se com a criança morta e avisa o casal de que há um perigo Iminente. John, inicialmente cético, começa a mudai de idéia depois de ter rápidas visões de sua filha < oi rendo pelas ruas e vestindo .1 mesma i apa veinielha impermeável (pie usava quando morreu. Na conclusão Inesquecível do filme, John corre pelas ruelas de Veneza à noite perseguindo a misteriosa aparição vestida de vermelho

que ele agoi.i acredita ser o

espírito de sua falecida filha - para alcançá-la em uma travessa escura, de costas para ele. A figura então se vira, revelando ser um anão de sexo ambíguo, c John fica parado, estonteado, enquanto o anão (bastante real c mortífero, há algum tempo realizando assassinai os pela (Idade) aproxima se dele e i ni la a sua garganta com uma navalhada. Não é exagero algum dizei que poucas cenas na história do cinema se mostraram tão clicazes em gel ar calafrios nos espei i.iiluies quanto esta. Mas o final horripilante de Inverno de sangue cm Veneza não é a cena mais conhe1 ida du filme I ssa honra cabe a longa < ena de sexo eut te John e I aura, entrecortada poi rápidos planos do casal se vestindo para o jantai, Impasslvelmente. Os boatos dizem que ,1 nolavel paixão démon su,ida dînante a cena resii liou tle um caso leal entre Christie c Sutherland. Seja como for, é essa mesma paixão que recobre o filme inteiro. SJS


O DORMINHOCO

(1973)

EUA (Rollins-Joffe Productions) 89 min. Cor

(SLEEPER) N r r um dos "filmes divertidos da primeira fase", como o próprio Woody Alien o descreve: lo, no estilo das comédias de Bob Hope, para o personagem judeu resmunguento ii o de Alien à solta em uma visão do futuro moldada por filmes como 2001: uma •MI espaço (1968). Laranja mecânica (1971), JHX JT38 (1971) cZ. P. C . (1972). M i l e s Monroe (Alien), músico de jazz e proprietário de uma loja de alimentos no Greenwich Village, é descongelado 200 anos depois de tet sido crionicaHlfiiir pieservado em papel alumínio por causa de complicações durante uma rotineira le úlcera. Como cm Bananas (1971) c em A última noite de Bóris Grushenko (1975), iiagem de Alien é um trapalhão que se envolve com um grupo revolucionário • 1' fadado a substituir uma titania pot outra. Há alguns trechos filosóficos cor>hre telaclonamentos românticos condenados ao fracasso, mas o foco principal .1 comédia. Esta varia desde alfinetadas satíricas a valores da época, vistos de pectiva futurista tortuosa (foi provado que comida gordurosa e cigarros são

Idioma: inglês Direção: Woody Allen Produção: Jack Grossberg Roteiro: Woody Allen, Marshall Brickman Fotografia: David M. Walsh Música: Woody Allen Elenco: Woody Allen, Diane Keaton, John Beck, Maty Gregory, Don Keclci John McLiam, Bartlett Robinson, Chris Fotbes, Mews Small, Peter Hobbs, Susan Miller, Lou Picettl, Jessica Rains, Brian Avery, Spencei Milligan

para você do que alimentos saudáveis), até o estilo pastelão do cinema mudo uma gigante naturalmente leva a uma gag com uma casca de banana gigante), pav,

uniu

pot surrealismo pirado durante uma sessão de desptogramação mental que uma em uma reprise de Uma rua chamada pecado (1951), com Diane Kcaton c papéis de Marión Brando e Vivicn I cigh. KN

SI RPICO

(1973)

EUA / Itália (Paramount, De

In ais e inconformistas eliminando a corrupção de seus departamentos são Iffl tema familiar em várias das séries policiais da TV. Em 1973, no entanto, esse era 11 lo novo para o cinema, bem explorado pelo dlretot Sldney Ltimet em Scrpico, "iii 1 ainda com o excelente desempenho de Al Pacino. Baseada na biografia de Pei'

de 1972, esta é a história de Frank Scrpico, um policial de Nova York. O Serplco li rei usava qualquer suborno, uma decisão que o tornava muito pouco popular

departamentos para onde era transferido. Depois de ser ameaçado pes• pui colegas policiais, ele leva um Inexplicável tiro no rosto em serviço

mas

testemunha em uma importante audiência sobre a corrupção na polícia, m i o de seu papel marcante cm O poderoso chefõo (1972), o desempenho l" 1

111 cheio de vigor de Al Pacino como Scrpico lhe valeu o Globo de Ouro e a li aias multas indicações ao Oscar. Serpico escapa de ser apenas um filme ' graças a seu retrato equilibrado do personagem principal - um homem iC torna um mártir amargurado. O único elemento conflitante é a trilha so1 11 de Mikis Theodorakis, com temas mediterrâneos. Judd Hirsch c F. Murray 111 pontas no filme. KK

Lautentis) 129 min. Technicolor Idioma: inglês Direção: Sldney Lumet Produção: Martin Bregman Roteiro: Waldo Salt, Norman Wexlei, baseado no livro de Peter Maas Fotografia: Arthur J . Ornitz Música: Mikis Theodorakis Elenco: Al Pacino, John Randolph, Jack Kehoe, Biff McGuire, Barbara Eda-Young, Cornelia Sharpe, Tony Roberts, John Medici, Allan Rich, Norman Ornellas, Edward Gravei, Albert Henderson, Hank Garrett, Damien feake, Joseph Bova Indicação ao Oscar: Waldo Salt, Norman Wexler (roteiro), Al Pacino (ator)


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