PORTFOLIO cĂnthia figueiredo santana
Desenhos de observação minuciosos e espontâneos que se desdobram em massas de cor e volumes de corpo. Essas pinturas nos remetem ao modo como olhamos o corpo feminino, nas revistas e na publicidade.
De forte apelo gráfico e intimista, essas imagens também dialogam com o enquadramento fotográfico do universo da moda e se aproximam com o desejo da auto-representação e auto-afirmação tão presente no mundo de hoje, onde há excessos de compartilhamentos a cada momento. Imagens do cotidiano, cenas caseiras, hábitos, e cenas de comportamentos banais preenchem um vazio que é impossível escapar. O belo aqui assume um papel fútil e evasivo, semelhante ao de quem navega numa rede, posta uma selfie e surfa nas falsas interações das mídias sociais.
PINTURA - corpo feminino
PINTURA-
objetos e paisagens relacionais
“O que se costuma chamar “realidade” é uma montagem. Mas a montagem em que vivemos será a única possível? A partir do mesmo material (o cotidiano), pode-se criar diferentes versões da realidade. Assim, a arte contemporânea apresenta-se como uma mesa de montagem alternativa que perturba, reorganiza ou insere as formas sociais em enredos originais” (Bourriaud, 2009)
Ninguém escapa ao bombardeio de informações, nem tampouco às pressões sociais, às necessidades onlines e constantes, de se posicionar e/ou de possuir algum comportamento que se encaixe em determinado grupo. Essas pinturas continuam a ser o reflexo de nosso comportamento, ainda que inevitável e estranho. Dessa forma, encontra-se a possibilidade de leitura sob uma película muito fina - a da relação. Essas pinturas de pequenos formatos às vezes acompanhadas de legendas que não cooperam em trazer sentido à imagem, demandam por reflexões demoradas e mais profundas de um público que está acostumado à uma contemplação histérica e fácil em relação à arte, em que você encontra a resposta ou entende a piada no final. O meu desejo com essa série de pinturas é compor uma relação entre duas ou mais imagens, como uma narrativa não linear, através de ícones, paisagens e figuras que inquietem a busca de sentido de quem o vê.
COLAGENS - scape land Uso constante de imagens terceirizadas. Ora observadas diretamente da tela, ora garimpadas em revistas antigas da National Geografic. Ambas técnicas fazem parte da investigação da nossa própria essência que envolvem uma busca de sentido ou a quebra dele. No Renascimento, almejava-se representar a realidade detalhadamente através de suas técnicas de proporção e estudos científicos. Hoje, vivemos um momento de digestão dessa realidade, em que a usamos como próprio recurso e principal elemento e a devolvemos ao mundo de forma diferente, de maneira que ela subverta valores e estratégias previsíveis. “Nossas vidas transcorrem sobre um fundo cambiante de imagens, entre fluxos de informações que envolvem a vida cotidiana. Toneladas de imagens são formatadas como produtos ou destinadas a vender outros objetos; circulam volumes maciços de informações”. (Bourriaud, 2009)
A série de colagens Scape Land são resultado desse processo que constitui nossa busca pelo auto-conhecimento e compreensão do mundo e sua origem, o encarando como um dilema atemporal em que o homem questiona desde sempre. E essa indagação traz consigo o sentimento de pertencer e se perpetuar. É natural partir de elementos como as rochas e o céu pra tratar dessa questão, uma vez que ninguém duvida da existência e brutalidade desses elementos. A montanha e as nuvens estão intactas, e são de sua natureza intocáveis, o que signifca que o homem, por mais avançado e sofisticado, tecnologicamente falando, jamais irá controlar tais forças. Essa realidade aqui, no entando, está sendo apresentada como uma construção, de sobreposições de camadas, de imagens das imagens. Elas constituem, de fato, uma outra realidade.
Ainda no universo das colagens e fazendo uso da observação e de recursos encontrados entre os excessos do mundo contemporâneo, o desenho e as formas prevalecem em silêncio. Uma vez em que a arte se encontra em um momento servil ao mercado autoritário e engajada em megalomanias e histerismo, há ainda uma esperança em fazer refletir, olhar pela janela e pular. A síntese de formas que beiram ao abstrato prestam reverências à Hélio Oiticica em seus metaesquemas. Assim como para ele, os metaesquemas eram “a primeira indicação efetiva do salto para o espaço, e não simplesmente guache sobre o papel, essas janelas e vitrôs são estudos de uma silênciosa manifestação de um grito. Situa-se entre o figurativo e o abstrato, e por coincidência e vontade própria concordam com o signifcado de metaesquemas que Oiticica deu à eles: ‘esquema’ (estrutura) e ‘meta’ (transcendência da visualização).
COLAGENS - observer
O desenho surge da necessidade de se consumir - explorar o objeto graficamente. Atua como um estudo de processamentos de ideias e pensamento e é através dele que se dá a construção e elaboração de conceitos e práticas. O desenho, as frases e palavras, aparentemente deslocadas de seu sentido imediato, são matéria-prima desse jogo de idéias que estabeleço. Por isso nota-se predominantemente um desenho com áreas de cor bem demarcadas, seriação e sistemas com ênfase no conceito do objeto/figura.
DESENHOS - silent dolls “A linguagem não traduz imagens verbais de origem motora e sensorial nem representa idéias feitas por um pensamento silencioso, mas encarna as significações. As palavras têm sentido e criam sentido”. (Chauí, 2009)