Diálogos • Revista da CIP

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DEZ 2016 • JAN 2017 KISLÊV • TEVÊT • SHEVÁT 5777

REVISTA DA CIP


Educação e igualitarismo

30 EVENTOS


PRESIDÊNCIA

CHAG URIM SAMÊACH Fechamos o ano do 80º aniversário de nossa congregação começando a comemorar os 80 anos do Lar das Crianças da CIP. Para nós, voluntários, é sempre incrível ver o trabalho que nossos imigrantes pioneiros, com menos recursos e pouco conhecimento da nova terra, conseguiram executar em tão pouco tempo. Quanto mais eu trabalho voluntariamente, mais admiro os que nos antecederam. Em 2017 o Lar completa 80 anos, o lugar que foi a casa dos filhos dos imigrantes de nossa congregação – que precisavam trabalhar e ganhar a vida – e que lá eram educados na língua portuguesa e nos costumes locais, para que pudessem sobreviver com dignidade neste país que tão bem os recebeu. Hoje o Lar das Crianças acolhe mais de 370 crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. O grande desafio do Lar nos últimos anos, porém, foi se transformar em um local de aprendizado no contraturno escolar que fortalecesse os conhecimentos básicos e essenciais de português e matemática, além de outros cursos de extrema importância para a vida profissional. É preciso continuar o trabalho do Lar, buscando continuamente melhorar a sociedade à nossa volta. Uma comunidade como a nossa precisa de ação social em suas atividades diariamente. Nestas férias de dezembro e janeiro tivemos uma procura excepcional para a turma Sharsheret da Colônia da CIP em Campos do Jordão. Um resultado diretamente proporcional ao investimento em liderança e juventude que realizamos nos últimos anos. E a prioridade de inscrições dada aos associados fez com que os mesmos valorizassem ainda mais sua escolha pela nossa comunidade. Queremos estar cada vez mais presentes na vida de nossos associados, e não apenas de forma passageira, conforme aparecem necessidades momentâneas das famílias. Os movimentos juvenis Avanhandava e Chazit Hanoar também extrapolaram suas projeções de participação, porém ainda com o desafio de aproximação destes pais e famílias à comunidade CIP.

Com muito orgulho, vimos em dezembro a formação de mais um grupo de jovens do curso Manhigut de formação de madrichim) e também a participação de nossas lehacót de dança israelense com muito sucesso no festival Carmel. Col haCavód! Terminamos o ano com três lindas cerimônias de Bat-mitsvá e, para 2017, temos uma novidade muito bacana criada pela rabina Fernanda Tomchinsky. Nos últimos anos diminuímos o tamanho do grupo das cerimônias coletivas, buscando uma participação mais ativa das meninas. Neste novo ano vamos reduzir ainda mais os grupos melhor destacando a participação das meninas. Neste novo formato teremos as cerimônias principalmente durante cerimônias de Havdalá e com até três bnót-mitsvá. Em dezembro nossa querida rabina Fernanda finalizou seus estudos e recebeu sua Smachá - ordenação rabínica. Parabéns por todo o esforço e dedicação, sabemos que não foi um caminho fácil. Estamos preparando para depois das férias uma homenagem especial à rabina por esta importante realização. A Cip contratou Leandro Galanternik para a posição de Gerente Comunitário da Congregação, promovendo uma importante mudança organizacional. Trata-se de uma posição nova que, junto com a de Gerente Administrativa, ocupada por Ilana Chenker, passa a gerir todas as atividades da CIP. A posição foi criada para permitir cada vez mais à CIP progredir profissionalmente sem depender tanto de seus voluntários. Em breve serão promovidas eleições para renovação de parte do Conselho Deliberativo no mandato 2017-2020, e também do novo presidente. Candidate-se. Precisamos da participação de todos no futuro da CIP. Termino esta carta desejando Chag Urim Samêach por ocasião de Chanucá e desejando um excelente 2017 a todos. Que consigamos continuar os milagres de nossos pioneiros pelos próximos 80 anos. SÉRGIO KULIKOVSKY • PRESIDENTE 3


2016, ANO DE FESTA PARA A CIP Como verdadeiros macabeus do século 20, os fundadores da Congregação Israelita Paulista acenderam uma chama que não durou somente 8 dias, mas 80 anos. E que segue vigorosa. O ano de 2016 foi dedicado à celebração do aniversário de fundação da CIP. Inspirados pelo Pirkei Avót, denominamos este o ano da guevurá, do heroísmo, porque a Mishná faz esta associação afirmando que um indivíduo que faz 80 anos entra na idade da guevurá (da palavra guibór, herói). O ano começou com um Cabalat Shabat comemorativo para o qual foram convidados todos os rabinos e presidentes que já atuaram na Congregação. Com a sinagoga lotada, abrimos o ano de celebrações. Depois tivemos a apresentação do musical Broadwish, quando destacamos as composições da Broadway realizadas por músicos judeus. Organizamos uma exposição de textos e fotos sobre a história da CIP, sediamos uma convenção da World Union for Progressive Judaism, inauguramos um curso preparatório para rabinos em parceria com o Seminario Rabínico Latinoamericano, recebemos uma homenagem da Câmara dos Vereadores de São Paulo, a Salva de Prata, e ainda gravamos um CD que será lançado no início do próximo ano. Macabeus são também aqueles que abraçaram o desafio de dar continuidade, com criatividade, ao trabalho iniciado pelos fundadores de nossa Congregação. Agradecemos aos voluntários, doadores, associados, frequentadores e doadores que alimentam todos os dias essa chama. Rabino Michel Schlesinger

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PRESIDENTE Sérgio Kulikovsky RABINATO Michel Schlesinger Ruben Sternschein VICE-PRESIDENTE INSTITUCIONAL Tatiana Heilbut Kulikovsky DIRETORA DE MKT E COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL Laura Feldman COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Aidê Firer Andrea Kulikovsky Andréia Hotz Juliana Somekh Michel Schlesinger Miriam Vasserman Paula Barouchel Caracini Ruben Sternschein Ruth Bohm Sergio Kulikovsky Theo Hotz EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL Andréia Hotz (MTB 61.981) PROJETO GRÁFICO Juliana Abram Mermelstein FOTOS Arquivo CIP e Shutterstock Esta é uma publicação da Congregação Israelita Paulista. É proibida a reprodução total ou parcial de seu conteúdo. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião da CIP.

A Congregação Israelia Paulista dá as boas-vindas a seus novos associados. • Cecilia Halpern e Bruno Halpern • Chana Rosenberg • Edison Ribeiro dos Santos • Fabio Alperowitch • Isabela Hutzler e André Hutzler • Luciane Lima Katz e Alexandre Katz • Monica Tabacnik Hutzler e Heitor Weltman Hutzler • Patricia Vivian Lieutaud de Carvalho e Fernando B.de Carvalho • Paula Cristina Cagnoni de Melo e Daniel Grinspan • Silmara Regina F. Naftal e Rodrigo Naftal BRUCHIM HABAIM

FALE COM A CIP PABX: 2808.6299 cip@cip.org.br www.cip.org.br Administrativo/Financeiro: 2808.6244 Comunicação: 2808.6228 Diretoria: 2808.6257 Escola Lafer: 2808.6219 Juventude: 2808.6214 Lar das Crianças: 2808-6225 Marketing: 2808.6247 Rabinato: 2808.6230 Relacionamento com o Associado: 2808.6256 Serviço Social: 2808-6211

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8 SHIRAT MIRIAM Dois anos de grandes projetos e realizações POR Ruth Bohm e Miriam Vasserman

18 LAR DAS CRIANÇAS Você sabia que... POR Aidê Firer

20 AÇÃO SOCIAL Trabalho e pertencimento POR Paula Barouchel Caracini


22 RABINATO Nós e a História: suposições, ironias e aprendizados POR Ruben Sternschein

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ENSINO Do passado ao futuro na preparação para o Bar e Bat-mitsvá POR Andrea Kulikovsky

30 RABINATO Natucá POR Michel Schlesinger

e mais...

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SHIRAT MIRIAM CULTO ACONTECE JUVENTUDE


ESPECIAL

Shirat Miriam: dois anos de grandes projetos e realizações POR Ruth Bohm e Miriam Vasserman, respectivamente, presidente e voluntária do Shirat Miriam O grupo Shirat Miriam, criado por Dora Lucia Brenner e por mim, Ruth Bohm, em 2013 na Congregação Israelita Paulista, é o primeiro grupo na América Latina afiliado a Women for Reform Judaism. A escolha do nome do grupo é muito significativa, pois remete à passagem bíblica: “E tomou Miriam, a profetisa, irmã de Aarão, um tamborim na sua mão e saíram todas as mulheres atrás dela, com tamborins e dançando; e respondeu-lhes Miriam: Cantemos ao Eterno (...)” (Êxodo, 15:20). Também é uma homenagem a querida e saudosa morá Miriam Gerber z’l. O Shirat Miriam tem como proposta o estudo, a reflexão e o debate de temas judaicos sob a ótica feminina. Mas vai muito além disso: abraça a comunidade em todos os shabatot com o delicioso Café veUgá e desenvolve eventos que congregam e transmitem judaísmo de forma divertida e acolhedora.

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O ano de 2016 foi intenso em realizações de eventos diversificados e bem sucedidos. Nos encontros de estudos e palestras mensais, o grupo recebeu convidados ilustres como Ilana Casoy, pesquisadora e escritora na área criminal; Sonia Sales, autora do livro “D. Pedro II e seus amigos judeus”; e a jornalista e relações públicas Marcia Glogovski. Também houve momentos de muito estudo com Juliana Portnoy Schlesinger e Renata Portnoy, e com rabinos Deby Ginberg , Michel Schlesinger, Rogério Zingerevitz Cukierman e Ruben Sternschein. Em Sucót, a sucá da CIP ficou repleta de congregantes que tiveram a oportunidade de degustar vinhos e ouvir os especialistas Fernando Lottenberg, István Wessel e Michel Freller. Outra grande inovação foi o projeto Bat-mitsvá para Adultas sob coordenação do rabino Ruben Sterschein e de um corpo docente altamente qualificado.


A iniciativa, que é apoiada pela World Union for Progressive Judaism e pela Women for Reform Judaism, conta com 30 alunas de toda a América Latina e uma celebração coletiva no Kotel em maio do próximo ano como parte do programa da conferência mundial da WUPJ, a Connections. A alma do grupo Shirat Miriam é formada por seus voluntários, sempre devotos e comprometidos. Por isso, o grupo já planeja para 2017 uma celebração do esforço voluntário de toda a CIP. Acompanhe os canais de comunicação da Congregação para ser informado sobre o evento. O grupo está sempre receptivo a novos voluntários, uma vez que trabalhamos com vários projetos e certamente há espaço para todo tipo de contribuição. Para saber como, entre em contato através do email shiratmiriam@cip.org.br.

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CULTO

SERVIÇOS RELIGIOSOS DA CIP MANHÃ de segunda a sexta-feira às 8h aos sábados às 9h30 aos domingos e feriados às 8h30 NOITE de domingo a sexta-feira às 18h45 sábados: 19h em 03/dez; 19h15 nos dias 10, 17, 24 e 31/dez; e às 19h15 em janeiro SHABAT ÀS SEXTAS: Cabalat Shabat e Arvít com prédica às 18h45 na sinagoga Etz Chaim Shabat Ieladim às 18h45 para crianças AOS SÁBADOS: Shacharít às 9h30 com leitura da Torá e prédica na sinagoga Etz Chaim

Chevra Kadisha A CIP está pronta para ajudar as famílias neste momento tão doloroso da perda de um ente querido, cuidando de todas as providências e detalhes burocráticos e religiosos. Plantão permanente: entre em contato com Sérgio Cernea pelo tel/fax 3083.0005, cel. 99204.2668, ou email: chevra@cip.org.br.

Shacharít Neshamá às 9h30 participativo e igualitário na Sinagoga Pequena com leitura e estudo da Torá

FALECIMENTOS Clara Regina Kalisz de Kaminsky em 11/set aos 84 anos Jacks Rabinovich em 23/set aos 87 anos Fanny Ribenboim Fix em 12/out aos 97 anos Liliam (Lilian) Barmak em 29/out aos 68 anos Sandor Kubric em 30/out aos 87 anos Victoria Salama em 14/nov aos 93 anos Jolan Kovari em 29/nov aos 92 anos Marcelo Miascovsky em 30/nov aos 84 anos

DEZEMBRO

LEITURA DA TORÁ

03 Toldót 10 Vaietsê 17 Vaishlách 24 Vaiêshev (Shabat Mevarchím) 31 Mikêts

JANEIRO

07 Vaigásh 14 Vaichí 21 Shemót (Shabat Mevarchím) 28 Vaerá (Rosh Chódesh)

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Você sabia

POR Theo Hotz coordenador do Depto. de Culto e baal corê

Você sabia que Chanucá e Purim estão ligados entre si por diferenças e semelhanças? A diferença principal é que os acontecimentos de Purim ocorreram na Pérsia, enquanto os acontecimentos de Chanucá ocorreram na terra de Israel. Entre as semelhanças está o fato de que ambas as festas recordam momentos históricos em que o judaísmo correu risco de extinção. Em Purim, porém, tratava-se de um extermínio físico do povo judeu, enquanto que na época dos Macabeus os selêucidas buscavam a destruição espiritual do povo judeu através da extinção da nossa cultura e tradição religiosa.

E a principal semelhança entre as duas comemorações é que elas nos lembram as lutas que travamos no passado pelo direito de sermos nós mesmos, pelo direito à diversidade, pela liberdade religiosa. Nesses dois momentos do ano, somos chamados a nos levantar e resistir contra aqueles que tentam nos anular. Também é quando devemos nos conscientizar que outros tantos precisam de nosso apoio em suas lutas diárias contra aqueles que tentam anulá-los. Get up, stand up! Stand up for your rights! Get up, stand up! Don’t give up the fight.

MAZAL TOV SIMCHÁT BAT Julia Cabral Herzig Helena Pastorello Elkis Melina Habib Ring Beatriz da Costa Pekelman Rusu Anita Klatchoian Fuhrman Helena Stefanini Pavlovsky Laura Barouchel Caracini Eva Kovari Tatiana Bajgelman Martina Sarue Minerbo

BAR-MITSVÁ Henry Felberg Daniel Heilbut Kulikovsky David Guedes Gellhaar Gabriel Edelstein Steiner Alan Wolf Alan David Laurent Victor Waldman Gustavo Jacobsberg Felipe Finkel David Moeller Sztajnbok

BAT-MITSVÁ Karina Simone Rudge Fischer Sofia Koln Rudge Ribeiro Lara Kraiser Fernanda Cherutti Baumstein

ANIVERSÁRIO DE BAR-MITSVÁ Alexandre Krausz Yacov Kilsztajn Daniel Gruber Sansolo Gabriel Miltzman Ariel Domingues Zymberg

AUF RIF Flavio Rubinstein e Roberta Allmand L. Westin Samy Sznajder Mesnik e Andrea Feldon Marcelo Bergmann e Taly Czeresnia Wakrat Alexandre Terdiman Lerman e Stefanie Laufer Alexandre Zylberstajn e Maria Pia de S. Garcia Fábio Szerman Risnic e Mayan Ossietinsky CASAMENTO Estela Gallucci e Daniel H. Golcman Tathiana Feighelstein Fogel e Flávio Fogel Roberta Allmand L. Westin e Flavio Rubinstein Andrea Feldon e Samy Sznajder Mesnik Taly Wakrat e Marcelo Bergmann Stefanie Laufer e Alexandre Lerman Mayan Ossietinsky e Fábio Risnic

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Fotos: Eliana Assumpção

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1. a 4. Em comemoração ao 80º aniversário da CIP, o casal Lilian e Luis Stuhlberger ofereceu em sua residência um jantar em homenagem à instituição. Os convidados – parceiros e apoiadores que fazem parte da história da Congregação – ouviram o anfitrião, que, além de falar sobre a atualidade econômica e política do Brasil, deu um depoimento pessoal sobre a importância de ter passado pelos movimentos juvenis da CIP. Os rabinos Michel Schlesinger e Ruben Sternschein; o presidente da Congregação, Sérgio Kulikovsky; e Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, também falaram com os 120 convidados.


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Fotos: Eliana Assumpção

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Fotos: Eliana Assumpção

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5. e 6. Cerca de 60 convidados participaram do happy hour de degustação de vinhos e queijos promovido pelo grupo Shirat Miriam na sucá da CIP. Com participação dos rabinos da CIP, o evento foi conduzido pelos especialistas Fernando Lottenberg, István Wessel e Michel Freller. 7. e 8. Laerte Coutinho, cartunista que lutou na ditadura militar através do humor e que assumiu sua transgeneridade aos 57 anos, foi recebida na sucá da Congregação para um bate-papo. O encontro, promovido pela Juventude e pelo Rabinato, reuniu cerca de 120 participantes. Laerte falou, entre outros temas, sobre o humor no Brasil, seus limites e contextos; o momento atual do movimento LGBT brasileiro; e a questão da transgeneridade. 13


ACONTECE 9

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Fotos: Alberto Lefevre

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9. a 12. O Lar das Crianças da CIP promoveu no Teatro Santander do Shopping JK Iguatemi uma apresentação beneficente do musical My Fair Lady. O evento, que foi prestigiado por 770 convidados, teve sua renda revertida para os projetos sociais da entidade, que atende 370 crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.


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Fotos: Eliana Assumpção

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13. a 16. Cerca de 130 pessoas participaram do encontro do projeto Dilemas Éticos que discutiu o impacto das novas tecnologias em nossas escolhas diárias. Com a colunista Rosana Hermann, o advogado Rony Vainzof, o empresário Sergio Kulikovsky, o jornalista Gilberto Dimenstein e o rabino Michel Schlesinger, a atividade aconteceu no teatro Eva Herz da Livraria Cultura do Conjunto Nacional. 15


ACONTECE 17

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17. e 18. O primeiro encontro de culinária judaica para jovens adultos, promovido pela Juventude da CIP em parceria com a Escola Wilma Kövesi de Cozinha, teve István Wessel como convidado. No final da atividade, o rabino Michel Schlesinger falou aos participantes sobre a importância da comida na tradição judaica. 19. e 20. A vigésima edição do projeto Vida-Chai, promovido pelo Núcleo de Maturidade da Ação Social da CIP, promoveu atividades e presenteou idosos de instituições de longa permanência de Campos do Jordão e também crianças das creches públicas da periferia da cidade.


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Fotos: Eliana Assumpção

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21. a 24 A Congregação recebeu da Câmara Municipal de São Paulo a Salva de Prata, concedida a instituições que se destacam no ramo em que atuam. A homenagem, por ocasião do octogésimo aniversário da instituição, aconteceu durante um serviço religioso de Shabat e reuniu na sinagoga Etz Chaim a kehilá da CIP e lideranças comunitárias. 17


Foto: Luciano Finotti

LAR DAS CRIANÇAS

Você sabia que... POR Aidê Firer, coordenadora geral do Lar • 100% das crianças atendidas pelo Lar concluem o ensino fundamental e que 82% concluem o ensino médio e profissionalizante? • 20% de quem é atendido pelo Lar conclui o ensino superior, e que, dos que não são atendidos, apenas 8% conclui? • a taxa de empregabilidade de jovens do Lar é de 84% enquanto que na população de mesma idade, mesma origem familiar mas que não passou pelo Lar a taxa é de 52%? • os Jovens do Lar têm salários quase três vezes superiores à média da população de mesmo perfil? • 27 jovens judeus já foram atendidos no Lar desde 2002, sendo que dez deles vivem em Israel e três participaram do Taglit? • em 2016 a orquestra Vozes do Violão e o Coral do Lar em fizeram 14 apresentações e tiveram um público superior a duas mil pessoas? • desde 2012 já passaram mais de 120 crianças e jovens pela equipe de judô? E que em 2014 foram federados três

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atletas e em 2016 foram 30? Sabia que a equipe foi classificada em 1º lugar no torneio Paulista da Federação Paulista de Judô com sete troféus? • foram servidas no Lar em 2016 mais de 152 mil refeições para as crianças e jovens atendidos, funcionários e prestadores de serviço? E que nesse período foram utilizadas duas toneladas de arroz, uma tonelada de feijão e quatro toneladas de carnes, além de legumes, hortaliças, frutas, leite e outros alimentos? • em 2016 todas as crianças do Lar comemoraram o aniversário com mesa decorada, bolo e refrigerante, além de terem ganhado presentes? • em 2016 o Lar teve várias fontes de receita e que a CIP foi responsável por 12% delas? • 100% as crianças e jovens do Lar que necessitaram de atendimento psicológico em 2016 tiveram sua demanda suprida em virtude das parcerias firmadas entre o Lar e entidades formadas por esses profissionais?



AÇÃO SOCIAL

Trabalho e pertencimento POR Paula Barouchel Caracini, coordenadora de projetos de empregabilidade

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O trabalho ocupa, sem dúvida alguma, um lugar central na vida de quem o realiza. Seja pelo fato de ser um meio de sobrevivência, seja pelo tempo da vida a ele dedicado (muitas horas por dia, e muitos dias durante a vida) ou por ser um meio de realização profissional e pessoal, o trabalho é um dos principais instrumentos através dos quais o homem dialoga com seu meio social. E é através dele que a identidade é construída. Podemos entender “identidade” como a consciência que o sujeito tem sobre si mesmo e sobre as características capazes de diferenciá-la de outras pessoas. A CIP – consciente do seu papel agregador, de pertencimento e fortalecimento da identidade de seus frequentadores – mantém com bastante ênfase atividades voltadas para o fim social, como o Núcleo da Maturidade e a Central de Orientação ao Trabalho. Há cinco anos a COT vem modificando e aprimorando seu modelo de atuação para se manter mais próxima das expectativas de quem a procura, especialmente nos períodos de crise econômica, quando existem menos oportunidades de empregos e mais procura por um espaço no mercado de trabalho.


É perceptível a diversidade cada vez maior do perfil de quem busca orientação e colocação através da COT. Há quem busque sua primeira oportunidade de trabalho, quem deseja mudar de área de trabalho, ansiosos positivamente por novos aprendizados, como aqueles que já se dedicaram mais de 40 anos para o mercado de trabalho mas não querem parar e desejam se manter pertencentes a sociedade pelo viés do Trabalho. É cada vez mais clara a importância de ter um espaço de acolhimento para esses profissionais, que demonstram dúvidas, inquietações e, muitas vezes, necessitam apenas de um leve “empurrão” para se sentirem capazes de enfrentar o concorrido mercado. A Central de Orientação ao Trabalho oferece esse espaço de escuta através de entrevistas de triagem realizadas com todos os profissionais que procuram o projeto. Além disso, apoiamos na elaboração e ajustes de currículos para que sejam analisados mais facilmente pelos empregadores e oferecemos sugestões das melhores fontes de recrutamento. Para os empregadores, a COT ajuda no encaminhamento dos currículos dos candidatos mais próximos ao do perfil da vaga solicitada. Sempre estabelecendo um forte vínculo de confiança, para que todos tenham êxito: o profissional, a empresa e a própria Central. Dessa forma, as atividades do Departamento de Ação Social fortalecem o vínculo de pertencimento, pois, ao oferecer um ambiente acolhedor àqueles que nos procuram – seja pelo Núcleo da Maturidade ou pela Central de Orientação ao Trabalho – nos colocamos mais próximos do judaísmo e de seus valores. Esperamos que em 2017 possamos continuar realizando essas e outras ações, e que as expectativas sejam sempre atendidas.

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RABINATO

Nós e a História: suposições, ironias e aprendizados. POR Ruben Sternschein rabino da Congregação Modelo do Segundo Templo do Museu de Israel, em Jerusalém.

Suposição: exercício especulativo. Encenação e significação Imaginemos por um momento que o país no qual vivemos estabelece uma lei que impede os judeus de usarem nomes hebraicos para seus filhos, comer de forma casher, observar qualquer tradição vinculada ao Shabat e praticar o Brit Milá. Qual seria nossa reação como indivíduos, como famílias e como comunidade? Esse exercício, além de ser sempre interessante, é necessário. O judaísmo em geral e o liberal em particular não pretende apenas contar ou lembrar a história passada. Em todas as celebrações espera-se que aceitemos o desafio de nos colocarmos na situação que lembramos para revivê-la com nossas próprias ferramentas. Assim, em Pêssach somos convocados a sair do Egito atual e pessoal, além de nos colocarmos na situação dos velhos escravos.; e em Shavuót buscamos novas formas de receber renovadamente a Torá.

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A palavra “chanucá” significa inauguração ou reabilitação de um espaço, mas ao mesmo tempo provém da palavra educação, portanto poderia se tratar de uma renovação mental e espiritual inspirada pelo desafio de se colocar no lugar dos protagonistas com nossos repertórios, nosso medos e confianças, e nossas capacidades e fraquezas. “Essas são as proibições helenistas que enfrentaram nossos antepassados, os protagonistas da história de Chanucá. O que faríamos então diante de tal desafio?” Alguns não notariam uma grande diferença pois nenhuma das proibições incluídas na suposta lei mudaria nada. Em outras palavras, como não dão nomes hebraicos a seus filhos, nem observam a cashrut nem o Shabat, sistematicamente, apenas o Brit Milá ficaria como desafio, e talvez a proibição justamente liberaria a pessoa do desconforto, com a desculpa de que a lei não o permite.


Para outros poderia ser, sim, um incômodo, pois com certa frequência celebram o Shabat na sinagoga ou em público e até argumentam que essa experiência tem a ver com a qualidade e o sentido de suas vidas. Alguns ainda dirão que os nomes hebraicos são significados que brindam a seus filhos e que acabaram os marcando de modo importante, além de conectá-los com sua história familiar e nacional. Renunciar a eles seria como renunciar a uma parte importante de seu ser e do seu perfil pai/ educador das gerações futuras. Por fim, alguns dirão que mesmo sendo mais ou menos atingidos por uma ou outra das proibições, trata-se de diretos que não podem ser negados por nenhum governo a nenhum indivíduo. Para esta postura, não nos encontraríamos diante de uma pergunta de utilidade ou conveniência, senão de princípio e de direito. Quais seriam as ações? Aceitar? Continuar com as práticas clandestinamente? Fugir do país? Negociar? Lutar? E qual seria o efeito? Será que alguns se tornariam justamente mais próximos do judaísmo pela indignação? Será que, pelo contrário, o peso da lei conseguiria enfraquecer inclusive aqueles mais identificados? Fugir de Israel terminaria com o sonho? Negociar seria possível? Denunciar teria algum efeito, além de uma matéria na Veja, uma entrevista no Roda Viva ou nos jornais ou mesmo no Facebook? A luta política, e até física, teria adeptos? Teria chances?

Fatos: o que aconteceu Todas as opções mencionadas existiram na história do povo de Israel diante das adversidades. Em todas as épocas houve quem, como sabemos, fugiu e deu lugar ao conceito do “judeu errante”; e houve quem negociou tanto com as autoridades quanto com si próprio, sua família e sua comunidade. Por exemplo, durante a invasão romana, Rabi Iochanan ben Zakai ficou famoso por aceitar renunciar à soberania e em troca ganhar espaços de autonomia educativa e ideológica. Por fim encontramos a oposição em forma de denúncia na narrativa de Purim e em forma de luta armada, como no caso dos macabeus, na história de Chanucá, no caso de Bar Cochba, da grande rebelião e de Massada, na época romana dos levantamentos dos guetos e campos na época nazista. Claro que, em cada uma, o que estava em jogo não era o mesmo, bem como os perigos e as chances. No caso especifico da história de Chanucá, temos informações e narrativas que contam que, antes mesmo de o império helenista optar pelos editos que proibiam o curso normal da vida judaica em Israel, os judeus já tinham começado a “dialogar” com o helenismo. Alguns admiravam bastante a cultura e buscavam adotá-la o máximo possível. Outros nem tinham percebido que já começavam a se helenizar paulatinamente. Houve também quem estabeleceu uma troca consciente e crítica, adotando partes da cultura e rejeitando criteriosamente outras. E finalmente estavam os mais radicais, que não aceitavam nem queriam nenhum tipo de contato.

Detalhe do Arco de Tito, em Roma, mostrando os espólios de Jerusalém sendo levados para a capital romana após destruição do Templo.

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Diante das proibições o último grupo acabou protagonizando e escrevendo a história. Aparentemente, apesar de serem minoria no começo, acabaram ganhando muitos adeptos entre os grupos que aceitavam o diálogo com a cultura helênica desde que fosse diálogo livre, digno e criterioso e não imposição e castração. A historia é conhecida: a família dos Hasmoneos, ou Macabeus, liderou a luta contando com a ajuda crescente dos apoiadores, e, embora todos, menos Simeon, tivessem morrido em combate, a luta foi um sucesso, o templo foi libertado e vida judaica recuperou sua autonomia completa. Ironias Todavia, três ironias em nossa retrospectiva registram-se nessa história. A primeira é que justamente os próprios Hasmoneos, que ganharam e herdaram o poder, foram se assimilando e perdendo identificação judaica, precisamente quando sufocaram as pressões helênicas. Comprovamos este fenômeno, precisamente nos nomes dos líderes que sucederam a Simeon, que eram gregos ou de influência grega. A segunda é que a forma de celebrar Chanucá e o termo “macabeu” nos últimos séculos até nossos dias, justamente se associa a esportes, ao desenvolvimento corporal. Que era o que caracterizava a cultura helênico-grega ao menos em seu aspecto espartano, além do intelectual, que era mais caracteristicamente judaico (embora Atenas tivesse sido o berço da Filosofia). Por fim, a terceira ironia surge ao nos perguntarmos quem seriam hoje os macabeus. Os grupos mais ortodoxos, mais radicais e mais fundamentalistas dizem serem eles, pois

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insistem em se opor a todo contato com culturas alheias ao judaísmo. Porém, por outro lado, justamente os macabeus são o exemplo de quem não se apoia no milagre divino, de quem toma as rédeas da história nas próprias mãos e procura esgotar sua capacidade de fazer diferença. Os macabeus não aceitaram em silêncio, não se ocultaram, não tentaram disfarçar e não negociaram. Partiram para a luta. Argumentaram que lutariam também durante o Shabat, pois era melhor sacrificar um ou mais shabatot do que renunciar de antemão a todos, a tudo. Deram a vida. Justamente como fazem os soldados do exército israelense, do qual não participam os ultraortodoxos em sua ampla maioria, e que é majoritariamente formado por não ortodoxos. Aprendizados Cada um tirará suas próprias conclusões desta leitura. Talvez uma delas seja a de que, em matéria de ideias, de princípios, valores, crenças e afetos, não existe espaço para usar a força. Além de não ser ético nem correto, não traz resultados verdadeiros. As pressões podem disfarçar e estabelecer cenários, mas nunca criam crenças verdadeiras ou descrença, adesão ou rejeição de um valor ou afeto. Já a paz, ela é o verdadeiro desafio. É nela que se verifica o que realmente acreditamos que queremos. Quando não há pressões, quando tudo é possível. Um judaísmo que depende do antissemitismo para se manter, é pobre. Como um afeto que se sustenta apenas nas circunstâncias, no conforto, na inércia ou na falta de opções. Ambos precisam de sentido em si mesmos para serem verdadeiros e perdurarem.


secretaria@cip.org.br


ENSINO

Foto: Yad Vashem

Cerimônia de Bar-mitsvá em Bucareste, na Romênia (1944).

Do passado ao futuro na preparação para o Bar e Bat-mitsvá POR Andrea Kulikovsky diretora de Ensino Por que você quer fazer Bar-mitsvá? O que significa o Bat para você? Estas são perguntas que os jovens nem sempre sabem responder quando chegam na Escola Lafer. E, de certa forma, muitos pais também não têm estas respostas. Sempre ouvimos: “tradição”, “religião”, “porque é assim que deve ser”. No decorrer dos dois anos de estudos que compõem o curso de Bar e Bat-mitsvá na CIP, esse movimento ganha significado: os alunos aprendem o que significam as rezas, as tradições, os chaguim, o hebraico. E principalmente conectam-se com suas histórias e a história de seus antepassados. O primeiro motivo que faz uma família buscar a Congregação para o Bar ou Bat-mitsvá é seu histórico familiar. Os caminhos tomados pelos pais e avós desses jovens são determinantes para esta escolha. Cada caminho é único,

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cheio de ramificações, e entendê-lo cria possibilidades de crescimento e conhecimento para o jovem que ele levará para toda a vida, além da cerimônia em si. Para estimular os jovens a buscarem por esta história, a Escola Lafer tem o projeto do Álbum de Família. Partindo de um roteiro simples de entrevistas familiares, alunos, alunas e suas famílias buscam fotos, documentos e histórias, e descobrem muitas curiosidades sobre suas raízes. O formato atual do projeto é muito mais forte no processo de preparação para o Bat, por conta da trajetória coletiva pela qual as meninas passam. Nosso objetivo é trazer esta mesma experiência, com a mesma intensidade, para os meninos. Conectando, assim, todos os nossos alunos com suas histórias de vida e família.


Existe, no entanto, um motivo maior para o processo de preparação para a maioridade religiosa judaica: fazemos parte de um povo. Ele tem uma história milenar, marcada por muitos momentos fortes e determinantes de quem somos e o quê nos distingue como povo. Em nossa história recente, o momento mais incisivo dessa trajetória é a Shoá. Entender e se apropriar desta história é muito importante para o judeu moderno. Criar a ligação com este momento de maneira indelével faz com que o jovem entenda o sentido de fazer parte do nosso povo. Para isso incorporamos o projeto Remember Us, do Museu do Holocausto de Los Angeles, no qual um jovem ou uma jovem adota uma criança que foi morta durante o Holocausto e por isso não teve a oportunidade de celebrar seu Bar ou Bat-mitsvá. Na data do Bar ou Bat de nossos alunos, a criança adotada é homenageada de maneiras diferentes: conta-se a história da criança (quando possível), acende-se uma vela, é rezado o Kadish em nome dela. Anualmente, no dia de aniversário do Bar ou Bat, o aluno deve se lembrar desta criança e fazer uma homenagem. Assim, a conexão se estende para o futuro. Conhecer o passado pessoal, conhecer o passado do povo, fazer um elo com essas histórias e leva-las para o futuro. É por esses motivos que celebramos Bar e Bat-mitsvá. Porque temos uma história e fazemos parte de um povo. E esta história passa pelos rituais religiosos do judaísmo, pelo Bar e pelo Bat-mitsvá. O passado é a raiz, a pedra fundamental para a construção do futuro de nossos alunos e desta comunidade. Apropriar-se desta história e dar a ela significado é um trabalho levado a sério na Escola Lafer da CIP.

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RABINATO

NATUCÁ

POR Michel Schlesinger rabino da Congregação

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Este ano Chanucá começa dia 24 de dezembro, véspera de Natal, quando cristãos de todo o mundo celebrarão sua data religiosa mais importante. Uma comemoração que tem o seu ápice em uma ceia que reúne a família e os amigos em volta de uma mesa iluminada pelas luzes da árvore enfeitada. Pela proximidade com a nossa festa de Chanucá, houve quem tentasse traçar paralelos entre as duas comemorações. Na realidade, as luzes, a decoração, a comida e os presentes são comuns às duas datas religiosas. Também existe a coincidência de calendário: comemoramos Chanucá também no dia 25, não de dezembro, mas do mês hebraico de Kislêv. Em 2016, excepcionalmente, 25 de Kislêv cairá em 25 de dezembro (com início na véspera, 24). E talvez isso não seja uma mera coincidência, uma vez que os primeiros cristãos já conheciam a festa de Chanucá, data próxima ao nascimento de Jesus em uma família que praticava a festividade judaica. Assim está escrito na Bíblia cristã: “Em Jerusalém celebrava-se a Festa da Dedicação (Chanucá, em hebraico). Era inverno. Jesus andava pelo templo, no pórtico (ou colunata) de Salomão” (João 10:22,23).


Em função da proximidade entre as duas festas, surgiram iniciativas de reuni-las em uma única comemoração. Assim, nasceu nos Estados Unidos o termo Chrismukkah, que equivaleria em português a algo como Chanucal ou Natucá. Seria uma oportunidade para as famílias compostas por membros de diversas religiões reunirem em uma só as duas comemorações. Penso que este tipo de iniciativa, por mais bonita que possa parecer, afronta a um só tempo as duas tradições religiosas.Tenho a impressão que, quando tentamos reunir comemorações que, embora tenham alguns símbolos semelhantes, possuem motivações históricas e religiosas completamente distintas, desrespeitamos ambas as tradições. Aliás, Chanucá é a comemoração da liberdade religiosa. Depois de uma tentativa frustrada dos gregos de impor sobre nós seus símbolos e estátuas pagãos, a bravura dos macabeus nos rendeu a possibilidade de continuar com nossa religião e retirar os símbolos idólatras do templo de Jerusalém. Os motivos principais da celebração de Chanucá são a vitória dos macabeus sobre os gregos e o milagre do azeite que durou oito dias. A crença em Deus é importante. Devemos ter esperança mesmo quando as condições físicas e materiais são extremamente adversas. O judaísmo nos convida a ter fé sempre. Ao mesmo tempo, o milagre do azeite nunca teria ocorrido se não fosse a coragem de Matitiahu e seus filhos. Caso não tivesse Iehudá Hamacabí liderado uma revolta a favor da nossa liberdade religiosa, não teria acontecido milagre algum. O milagre, na perspectiva judaica, é a responsabilidade que delegamos a Deus depois de realizarmos absolutamente tudo que se encontra ao nosso alcance. Acendemos as velas de Shabat dentro de nossas casas. O local correto de se colocar as duas chamas que iluminam nossos jantares de sexta-feira é perto da mesa de jantar, para que possamos nos utilizar da luz da chama durante a refeição. Já em Chanucá é diferente. Devemos colocar a vela perto da janela ou do lado de fora de nossas casas. Havia antigamente um costume de se colocar a chanukiá nos batentes das casas, no lado oposto ao da mezuzá. Isso porque o milagre deve ser divulgado.Temos a obrigação de propagar a luz para além dos nossos lares. Devemos fortalecer o particularismo judaico para sermos melhores cidadãos do mundo. Mais uma vez vemos a busca do equilíbrio entre aquilo que nos é privado e nossa responsabilidade universal. A própria luz traz uma interessante contradição. Quando não existe claridade alguma, ficamos perdidos. Ao mesmo tempo, quando somos expostos à luz excessiva, também ficamos cegos. O termo aramaico para cego é saguei nahor, ou “demasiadamente iluminado”. A luz excessiva traz tantos danos quanto a ausência absoluta de luz. Nosso desafio é buscar

uma iluminação que seja forte, por um lado, mas que não ofusque nossa visão por outro. As comemorações judaicas são, de uma maneira geral, a conjugação de um motivo histórico e a celebração de uma nova etapa da natureza. Pêssach comemora a saída do Egito e também o início da Primavera; Shavuót celebra a entrega dos Dez Mandamentos e também a chegada dos primeiros frutos; Sucót relembra a vida em moradias temporárias no deserto e a última colheita do ano agrícola. Será que a festa de Chanucá lembra somente a história dos macabeus e o jarro de azeite ou também tem algum motivo ligado à natureza? Segundo os estudiosos do judaísmo, existe ainda um motivo ligado a Chanucá que foi esquecido com o passar dos anos: o solstício de inverno. A Festa das Luzes também marcava o dia mais curto do ano no hemisfério norte e o início do aumento das horas de luz a partir daquele instante. Segundo estes pesquisadores, o ritual de acender uma vela a mais a cada dia pode ter se relacionado, no princípio, com o renascimento anual do sol. Na medida em que os dias iam se tornando mais longos, os judeus acendiam velas para celebrar esta transição. A comemoração de uma festa de luzes a partir do dia mais curto do ano ajudava a espantar a escuridão que assombrava o coração das pessoas. Enquanto muitos ficavam deprimidos e alimentavam sentimentos derrotistas, nosso povo se engajava em um ritual de esperança, coragem e luz. Existe a famosa discussão entre Shamai e Hillel sobre a forma correta de se acender as velas. Enquanto Shamai queria que diminuíssemos as chamas a cada dia, Hillel sustentava de deveríamos sempre acrescentar uma chama. Isso porque, em termos de santidade, devemos sempre incrementar e nunca diminuir. Sabemos que não é possível. Sabemos que nossa observância religiosa cresce e diminui

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ao longo de nossa vida. Nossa cashrut não é sempre a mesma, rezamos mais, ou menos, em períodos diferentes; conseguimos ser mais ou menos altruístas em fases distintas da nossa vida. Às vezes, agregamos luzes e outras tantas acendemos velas a menos. Tive um professor em Jerusalém, Shlomo Fucs, que acendia duas chanukiót todos os dias da festa. Em uma ele acrescentava velas e na outra diminuía. O óleo é um dos símbolos de Chanucá. Por isso comemos alimentos fritos, como os sonhos e os latkes. Sabemos que, ao colocarmos azeite em um copo com água, eles não se misturam. Apenas uma fina camada do azeite entra em contato com a água. Assim é o desafio da sobrevivência judaica. Se nos misturamos totalmente, perdemos nossa identidade própria. Ao mesmo tempo, se ignoramos o mundo que nos cerca, perdemos a oportunidade de nos enriquecer com aquilo que é estranho e deixamos de cumprir nossa missão de tornar o mundo mais humano. É justamente por meio de um instrumento supostamente grego - o pião ou sevivón- que celebramos a sobrevivência judaica.

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Fomos vítimas de imposição religiosa em diversos períodos de nossa história. Na Península Ibérica do século XV, muitos dos nossos tiveram que se converter ao catolicismo, pelo menos nas aparências, para sobreviver. Vivemos hoje uma oportunidade de vivenciar o judaísmo na maior parte dos países do mundo, inclusive no Brasil, com total liberdade. Esta mesma liberdade, de maneira contraditória, nos aproxima dos outros povos, faz com que aumente o índice de famílias multirreligiosas, e cria um ambiente favorável à mistura dos rituais. Ao longo da História, uma religião influenciou a outra. No entanto, em minha opinião, existe uma diferença impor tante entre um processo paulatino de adoção de costumes e uma tentativa ar tificial de reunir duas festas diferentes em uma só. Desejo que saibamos admirar o Natal como um feriado cristão e que continuemos a comemorar nosso Chanucá que celebra, entre outros valores, o privilégio de praticar rituais que são somente judaicos.


JUVENTUDE

UNICIDADE E DIVERSIDADE DE IDENTIDADE POR Juliana Somekh, coordenadora da Juventude da CIP “Lutaremos por nosso espírito e por nossa Torá, e ele (rei grego, Antiochos) fará com que estes guiem nosso caminho”, disse Iehuda Hamakabi,“Não mais seremos passivos às leis que nos obrigam a praticar”. Chanucá, tradicionalmente conhecido como o chag no qual comemos os deliciosos sonhos, jogamos sevivon com as crianças e acendemos uma vela por dia durante oito dias como forma de comemorarmos a vitória dos Macabeus e o milagre do jarro de azeite, também pode ser visto como o chag da luta de uma minoria - os judeus liderados pelos Macabim - contra os gregos - uma maioria dominante e poderosa - e a vitória espiritual da fé judaica contra a cultura helenista. Ao longo da história da humanidade temos muitos exemplos inspiradores de minorias que lutaram por seus direitos, como negros, homossexuais, mulheres e índios, entre outros. Mas por que eu, jovem, judia, do século XXI, da geração Y, “super plugada” e globalizada, vou me inspirar justo na história de Chanucá ou nas fontes e práticas judaicas para me aprimorar e transformar o mundo? No contexto de nossa sociedade atual percebe-se, muitas vezes, que o envolvimento comunitário e a vivência em sociedade ocupam um lugar secundário ou terciário em nossas vidas, uma vez que para obtermos sucesso pessoal, normalmente, nos é colocado que precisamos pensar em nós mesmos. Com isso, acabamos sendo absorvidos pela corrida competitiva do sucesso profissional e, dessa forma, alimentando uma sociedade mais individualista. Vivemos uma época na qual existe, além de individualismo, uma juventude questionadora e crítica em busca de seus propósitos para a transformação do mundo e a afirmação de seu “eu” autêntico, liberto das nomenclaturas e estereotipações. Ou seja: uma juventude em busca de sua identidade. Nesse sentido, assim como os Macabeus, nós da Juventude da CIP, lutamos diariamente por nosso espírito e por nossa Torá. Por meio de vivências e estudos judaicos, transmitimos conteúdos e valores que dialogam com os desafios do mundo moderno e que mostram que, fazer parte de uma comunidade e conviver em sociedade é estar comprometido, consciente e apropriado de nossa identidade judaica – uma vez que ela faz parte e tem um papel importante na constituição da nossa identidade total. Nas palavras de Zygmunt Bauman, filósofo moderno: “Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas para os problemas que as afligem”. Assim, hoje, no Departamento de Juventude da Congregação, buscamos entender a juventude atual e dialogar com ela. Para, juntos, construirmos processos educativos ainda mais significativos em nossa kehilá.

Atividade de conteúdo judaico promovida durante a Colônia da CIP Fritz Pinkuss

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JUDAÍSMO

Produtos

judaicos

Visite a CIP e confira as ótimas sugestões de presente para as mais variadas ocasiões: Brit Milá, Simchát Bat, Bar e Bat-mitsvá, casamento, feriados judaicos e muito mais. Para informações sobre os horários de atendimento e os produtos oferecidos, entre em contato: produtosjudaicos@cip.org.br.

Atividades

regulares da CIP

TERCEIRA IDADE

INFORMÁTICA PARA TERCEIRA IDADE segundas, terças e quartas-feiras às 8h30 COSTURA DA BOA VONTADE terças-feiras às 13h CLUBE DAS VOVÓS LOTTE PINKUSS terças-feiras às 14h (encontros quinzenais)

CULTO

COSTURA DA CHEVRA KADISHA quartas-feiras às 13h GRUPO DE ESTUDOS DA PARASHÁ segundas-feiras às 19h30 PENSAMENTO JUDAICO quintas-feiras às 19h10

Chanukiá

REFLEXÕES DE SHABAT sábados às 12h30 (após o kidush)

MÚSICA

JUVENTUDE MANHIGUT

sextas-feiras às 16h AVANHANDAVA E CHAZIT HANOAR sábados às 14h

DANÇA

HARCADÁ terças-feiras às 20h LEHACÁ ERETZ segundas-feiras às 20h LEHACÁ NEFESH quintas-feiras às 19h

ENSINO

HEBRAICO segundas-feiras às 19h30 ESCOLA LAFER segundas, terças e quartas-feiras às 16h30 sextas-feiras às 8h30 KTANIM segundas-feiras às 17h30 e sextas-feiras às 10h (Ktanim Babait todos os dias)

CORAL KAVANÁ terças-feiras às 20h30

SHABAT IELADIM sextas-feiras às 18h45

CORAL ABANIBI quartas-feiras às 20h30

SHAAT SIPUR sábados às 14h30

Informações: 2808.6299 ou secretaria@cip.org.br 34


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Ato em memória às vítimas do Holocausto A Congregação Israelita Paulista, em parceria com a CONIB e a FISESP, convida para o ato solene nacional em homenagem às vítimas do Holocausto, que terá a presença de autoridades civis e religiosas. 29 de janeiro • domingo na sinagoga Etz Chaim da CIP 17h30 abertura • 18h início (pontualmente) Duração do evento: 1 hora

Realização:

Apoio:


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