REVISTA DA
A MULHER E O JUDAÍSMO
Aproximar-se e manter-se
JUNTO A DEUS
JUN • JUL 2014 SIVÁN • TAMUZ • AV 5774
z t e r A a B P CI
sua a a m m vel! í u o c e c e u ipe mília d e inesq c i t fa rtida Par ive d gem a i v Informações e inscrições: escolalafer@cip.org.br ou 2808-6219
23/dez/14 a 04/jan/15
vagas limitadas
A CIP e a Escola Lafer levam você e sua família para uma viagem a Israel cheia de aventura e emoção, na companhia do rabinato e da equipe pedagógica.
Fique por dentro de nossa programação: cipsp ou www.cip.org.br
Reinício 7/AGO
Programe-se para o próximo semestre Quintas-feiras, às 19h, após o Arvit
PENSAMENTO JUDAICO na Torá, no Talmud, na Filosofia e na Cabala com o rabino Ruben Sternschein
Reflexões sobre o pensamento judaico de todos os tempos a partir de temas como: Política e negócios • Espiritualidade, intelecto e emoção •
Informações: 2808-6299 ou Venha aprofundar, desafiar secretaria@cip.org.br
e manter jovem e dinâmico o seu judaísmo.
PRESIDÊNCIA
Caros associados Começo este editorial agradecendo e dando boas-vindas. Agradeço à morá Marli Ben Moshe, que tão bem coordenou nosso ensino e a Escola Lafer neste último ano e que agora nos deixa para assumir a diretoria do Colégio Renascença. Obrigado. E dou as boas-vindas à rabina Deby Grinberg Wajnberg, que passa a coordenar a área. A rabina Deby é formada pelo Seminário Rabínico Latino Americano Marshall Meyer, de Buenos Aires, e sua vinda reforça nosso comprometimento de fortalecer o conteúdo do ensino da Congregação. Com uma gama de cursos para crianças a partir dos quatro anos, jovens em preparação para o Bar e Bat-mitsvá, e adultos, acreditamos que a educação judaica é a chave para fortalecer nossa comunidade. Confira nesta edição a entrevista onde a rabina detalha suas expectativas e planos. Também tivemos em abril uma importante reunião de Conselho Deliberativo, quando foram situadas as contas de 2013, bem como apresentado o parecer do Conselho Fiscal. Na oportunidade, o Conselho conheceu um documento preparado pela diretoria e pela Comissão de Culto descrevendo as práticas religiosas da CIP. No final do mês de maio ocorreu a brilhante pré-estreia da ópera Carmen, no Theatro Municipal de São Paulo. Agradeço novamente aos patrocinadores e ao maestro John Neschling por esta oportunidade. Estamos avançados na venda de lugares para as Grandes Festas, este ano de volta ao Centro de Eventos São Luís, uma vez que o auditório do Memorial da América Latina foi, infelizmente, afetado pelo grande incêndio que atingiu o local no último ano. Caso não tenha confirmado seus lugares, faça o quanto antes e garanta sua participação. Lembro também que, por orientação de nossa Segurança e do Corpo de Bombeiros, manteremos a entrada mediante a apresentação do convite. É fundamental a participação de todos para garantirmos a existência de nossa comunidade no futuro. Os jovens com mais de 25 anos também devem se associar. Reforçamos que todas as atividades realizadas na CIP têm benefícios como prazo de inscrição e valores especiais para associados, e assim salientamos aos nossos frequentadores ainda mais vantagens para se associarem à comunidade que participam. A Revista da CIP, que é enviada aos sócios via Correios, pode também ser lida no site da CIP (www.cip.org.br/revistadacip). Ou seja: é acessível a todos, porém com vantagens para quem acredita e mantém a comunidade. Destaco também que a Congregação mantém programas específicos para ajudar aqueles que não têm condições financeiras para participar das Grandes Festas e também dos projetos da Juventude (machanót e acampamento). Consulte cada área e saiba como participar. Muito obrigado pelo seu contínuo apoio. SÉRGIO KULIKOVSKY • PRESIDENTE 3
EDITORIAL
A COPA E OS JUDEUS O Brasil está ocupado nestes dias com a realização de um dos maiores eventos esportivos internacionais. Os judeus que vivem no Brasil, por sua vez, também estão acompanhando de perto a evolução dos jogos da Copa do Mundo, e seu cotidiano tem sido impactado pela competição. Se os judeus possuem uma relação histórica muito forte com as áreas do conhecimento científico, como a engenharia e a medicina, e das artes, como a música e o cinema, o mesmo não pode ser dito em relação ao esporte. Na Antiguidade Clássica, a associação entre esportes e judaísmo não era bem vista. Durante o domínio grego, estádios eram sinônimos de paganismo e culto ao corpo. A chegada do Império Romano associou à arena esportiva elementos de crueldade e sadismo. Não é de se estranhar, portanto, que o judaísmo clássico tenha assumido uma atitude negativa com relação às atividades esportivas. Durante a Idade Média, Maimônides foi um defensor da busca de um corpo saudável. Como médico, rabino e filósofo, o sábio espanhol valorizava a busca do equilíbrio entre mente e físico sãos. Foi com a fundação do moderno Estado de Israel, no entanto, que esta relação mudou de forma sensível. No Segundo Congresso Sionista, o médico Max Nordau realizou um discurso vigoroso propondo o estabelecimento de um “judaísmo muscular”. O Congresso Sionista de 1927, na Basiléia, solicitou que uma atenção especial fosse dada para que existissem eventos atléticos no futuro país judeu, incluindo jogos em dias de semana para que os jovens religiosos pudessem também participar. Ironicamente, o mais importante evento esportivo do povo judeu recebeu o nome de Macabíadas. Com uma homenagem ao grupo de heróis que lutou contra os helenistas pela liberdade de religião para os judeus, incorporamos por opção a influência esportiva dos gregos na vida judaica contemporânea. Rabino Michel Schlesinger
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PRESIDENTE Sérgio Kulikovsky
A Congregação Israelita Paulista dá as boas-vindas aos novos sócios
RABINATO Ruben Sternschein Michel Schlesinger
• Alexandre Maurice Charles Flak e Rosa Cristina Flak
VICE-PRESIDENTE DE RELACIONAMENTO COM O SÓCIO Tatiana heilbut Kulikovsky
• André Fuhrman e Aline Klatchoian Fuhrman
DIRETORA DE COMUNICAÇÃO E MARKETING Laura feldman COLABORADORES DESTA EDIÇÃO: Andréa Kulikovsky Andréia hotz Deby Grinberg Wajnberg Débora Sor Eve Pekelman Guita feldman Juliana Portenoy Schlesinger Michel Schlesinger Ruben Sternschein Rudi Solon Sérgio Kulikovsky Tamara Siebner franken Theo hotz EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL Andréia hotz (MTB 61.981) MARKETING Simone Rosenthal PROJETO GRÁFICO JAM Design
• André Brawerman • Arnaldo Gomes da Rocha e Sharon Hess • David André Levy e Amelia Amaral Levy • Eduardo Weltman e Maria Fernanda Weltman • Fernando Awensztern Pavlosky e Rebeca A. Correa de Lima Stefanini • Guilherme truffi Viotti de Almeida e Mariana Schilis Viotti • Jaques Luiz Weltman e Sharon Laufer • Marc Yves e Edna Recwa Chalom • Marcelo Carrera e Monica Zanon Carrera • Marcelo Maghidman e Débora Judith Selener Maghidman • Mauro Cukier e Simone Barbosa Cukier • Piero Calo e Mila Serebrenic Calo • Roberto Podval e Ritienne Karina Soglio • Sergio Rubinato Filho e Luciana Coen Rubinato • Sergio Schalka e Mariângela Milena Santos Schalka BRUCHIM HABAIM
FOTOS Arquivo CIP e Shutterstock Esta é uma publicação da Congregação Israelita Paulista. É proibida a reprodução total ou parcial de seu conteúdo. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião da CIP.
coloniadacip Campanha Do Agasalho
FALE COM A CIP PABX: (11) 2808.6299 cip@cip.org.br www.cip.org.br Administrativo/financeiro: (11) 2808.6244 Comunicação: (11) 2808.6228 Diretoria: (11) 2808.6257 Escola Lafer: (11) 2808.6219 Juventude: (11) 2808.6214 Lar das Crianças: (11) 2808.6225 Marketing: (11) 2808.6247 Rabinato: (11) 2808.6230 Relacionamento com o Sócio: (11) 2808-6258 Serviço Social: (11) 2808.6211
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VOCÊ, SóCIO Shirat Miriam: a mulher e o judaísmo POR Tamara Franken
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GASTRONOMIA Salmão em massa folhada com pesto cremoso POR Andrea Kulikovsky
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LAR DAS CRIANÇAS Primeiro aniversário da República do PPV
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RABINATO Sobre o lugar, a identidade e a função de Deus POR rabino Ruben Sternschein
AÇãO SOCIAL Envelhecimento saudável e solidário POR Débora Sor
36 ENTREVISTA Célia Kochen Parnes Presidente da UNIBES
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CAPA Deus na teoria e na prática POR rabino Michel Schlesinger
38 ESPECIAL • Micvê POR moré Theo Hotz
42 ENTREVISTA Rabina Deby Grinberg Wajnberg
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RADAR CULTO PROGRAME-SE ACONTECE ESCOLA LAfER JUVENTUDE GIRO VALORES JUDAICOS
VOCÊ, SóCIO
Shirat Miriam: a mulher A Women for Reform Judaism, entidade filiada ao Union for Reform Judaism, foi fundada em 1913 nos EUA quando o país passava pelo decisivo momento de luta pelos direitos da mulher. De sua fundação até os nossos dias, o WRJ passou por diversas alterações em seus objetivos: do auxílio à relocação nos Estados Unidos de refugiados durante a primeira e a segunda Guerra Mundial, à participação ativa na formação da ONU e na luta contra a discriminação à mulher em qualquer manifestação religiosa. hoje, a Women for Reform Judaism tem como principal missão assegurar o futuro do judaísmo reformista através da educação e de projetos sociais focados, particularmente, na ótica feminina. A reflexão sobre o papel da mulher no mundo judaico é outro de seus pilares. foi com este objetivo inicial que em outubro de 2013 formou-se na CIP o primeiro grupo na América Latina do Women for Reform Judaism. Dora Brenner e Ruth Bohm são as responsáveis pela formação e também pelo nome do grupo no
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e o judaísmo POR Tamara Franken coordenadora de Relacionamento com o Sócio
Certificação recebida pelo grupo por ocasião de sua fundação e por sua primeira participação no congresso da Women of Reform Judaism.
Brasil, Shirat Miriam, em homenagem à querida morá Miriam Gerber z’l. O grupo, que inicialmente contava com a participação de seis pessoas, reúne atualmente cerca de 25 participantes em seus encontros mensais. A idéia do Shirat Miriam, que é formado por homens e mulheres (a participação masculina é sempre bem-vinda), é estudar, refletir e debater temas judaicos sob a ótica feminina. Diferentes palestrantes participam de cada encontro do grupo, que discute temas como “Esther e Vashti: quem é a verdadeira heroína da Meguilat Esther?” e “Onde estavam as mulheres? - Uma leitura feminina da revelação do Monte Sinai”. “Fiquei impressionada com a abrangência do trabalho da WRJ não apenas na área de formação judaica das mulheres, mas também com os trabalhos de assistência social, políticas públicas e patrocínio a bolsas de estudo para a formação de rabinos”, comentou Dora Brenner. Para participar dos encontros, os associados precisam apenas entrar em contato através do email socios@cip.org.br e manifestar seu interesse.
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RADAR
INVESTIR EM CULTURA NA CIP POR Eve Pekelman coordenadora de Desenvolvimento Institucional
O Departamento de Desenvolvimento Institucional da Congregação, sob a vice-presidência de Dora Lucia Brenner, desenvolve, além de outros projetos, aqueles com a finalidade de captação de recursos. Em sua mais recente ação, a área teve um importante projeto de promoção cultural e social aprovado junto ao Ministério da Cultura para receber patrocínios através da Lei Rouanet. O projeto Diálogos promove ações voltadas para a literatura, a música, as artes plásticas, o cinema, a dança e o meio ambiente, e, a partir de palestras e atividades, tem como objetivo desenvolver um importante polo de cultura junto à comunidade paulistana. A vocação e a tradição em desenvolver e disseminar as artes tem alicerçado as inúmeras ações culturais e sociais da CIP. O Diálogos pretende sistematizá-las e ampliá-las, tornado a Congregação um espaço de atividades estruturadas de incentivo à cultura e às artes em todas as suas expressões. O projeto tem ainda como objetivo consolidar a CIP como um centro de excelência e difusão da cultura, incentivar estudos, e resgatar a memória e as tradições milenares judaicas, que muito acrescentam na vida cultural da cidade. Para as empresas, a importância de se tornar parceiro do projeto está na integração com a comunidade e no apoio às ações sociais que farão a diferença na vida de centenas de pessoas. Para conhecer melhor o Diálogos e tornar-se nosso parceiro, visite o site www.cip.org.br/dialogos ou entre em contato através do e-mail dialogos@cip.org.br.
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GASTRONOMIA
Salmão em massa folhada com pesto cremoso POR Andrea Kulikovsky chef e consultora gastronômica
INGREDIENTES: 1 folha de massa folhada 1 ovo 1 xícara de manjericão fresco 1/2 xícara de pecorino ralado (ou parmesão) 1/4 de xícara de pinoles levemente tostadas 1 cabeça de alho assada (ou ½ crua) 2 colher de chá de suco de limão fresco 1 1/4 de xícara de leite 3 colheres de sopa de manteiga 2 colher de sopa de farinha 4 filés de salmão 2 colheres de sopa de azeite de oliva extra-virgem 1 tomate cortado em fatias 4 galhinhos de manjericão sal e pimenta
MODO DE FAZER: Pré aqueça o forno em temperatura média e forre uma assadeira com papel manteiga. Descongele a massa folhada e reserve. Misture o ovo com uma colher de sopa de água. Abra a massa folhada e corte em quadrados de aproximadamente 7x7 cm, pincelando-os com o ovo. Coloque para assar por 10 a 15 minutos, até dourar. Bata no processador o manjericão, o queijo, o alho, o suco de limão e o leite. Processe até que a mistura fique cremosa. Reserve parte do queijo para decoração. No fogão, coloque a manteiga para derreter em uma panela. Adicione a farinha e misture até dissolver. Continue até que a mistura fique da cor de areia. Junte a mistura do processador a esta farinha, misturando constantemente, para que o queijo derreta e o molho engrosse. Tempere com sal e pimenta. Quando a massa folhada estiver pronta, retire do forno. Grelhe os filés de salmão em ambos os lados, até dourar, com o cuidado de não queimar. Monte o prato com um pedaço de massa folhada coberto por três colheres de sopa do molho, e um filé de salmão sobre o molho. Salpique queijo ralado e coloque duas rodelas de tomate e um galhinho de manjericão para enfeitar.
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CULTO
SERVIÇOS RELIGIOSOS DA CIP MANHÃ de segunda a sexta-feira, às 8h aos sábados às 9h30 aos domingos e feriados, às 8h30 NOITE de domingo a sexta-feira, às 18h45 sábado de junho e julho às 17h Chevra Kadisha A CIP está pronta para ajudar as famílias neste momento tão doloroso da perda de um ente querido, cuidando de todas as providências e detalhes burocráticos e religiosos. Plantão permanente: entre em contato com Sérgio Cernea, pelo tel/fax 3083-0005, cel. 99204-2668, ou e-mail: chevra@cip.org.br
SHABAT ÀS SEXTAS: Cabalat Shabat e Arvit com prédica, às 18h45, na Sinagoga Etz Chaim Shabat Ieladim, às 18h45, para crianças Cabalat Shabat e Arvit com prédica, às 18h45, na sede do Lar das Crianças da CIP no dia 27 de junho e nos dias 11 e 25 de julho. AOS SÁBADOS: Shacharit, às 9h30, com leitura da Torá e prédica na sinagoga Etz Chaim Shacharit Neshamá, às 9h30, participativo e igualitário na Sinagoga Pequena com leitura e estudo da Torá
JUNHO
LEITURA DA TORÁ 7 Behaalotechá 14 Shelách Lechá 21 Côrach (Shabat Mevarchím) 28 Chucát (Rosh Chódesh I)
JULHO
5 Balác 12 Pinchás 19 Matót 26 Massê (Shabat Mevarchím)
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FALECIMENTOS Raul Gerson Kopenhagen Feld, em 24/mar aos 57 anos Salik Goldfarb, em 29/mar aos 92 anos Irma Blumenthal Abraham, em 3/abr aos 92 anos Eva Dammann, em 7/abr aos 91 anos Boris Lerner, em 11/abr aos 94 anos Rosa Green Rodrigues, em 14/abr aos 82 anos Siegbert Hass, em 18/abr aos 89 anos Maia Ruhman Steinberg, em 19/abr aos 89 anos Gerry Lyngfield, em 19/abr aos 91 anos Sarah Serson Schwartz, em 20/abr aos 86 anos Edith Kraessel Kacelnik, em 23/abr aos 88 anos Erna Sara Peiser, em 24/abr aos 103 Hichil Luiz Goldman, em 25/abr aos 84 anos Jorge Jacobowicz, em 27/abr aos 60 anos Abram Menasze Jungman, em 2/mai aos 85 anos Haydeè Forsait, em 4/mai aos 67 anos Perla Frauman Gora, em 14/mai aos 89 anos Sérgio Sondermann, em 22/mai aos 58 anos Izzo Wajsberg Iuz, em 22/mai aos 79 anos Helga Ilse Berl, em 25/mai aos 84 anos Silvio Meyerhof, em 30/mai aos 67 anos Hannelore Rothschild, em 7/jun aos 90 anos Vivian Branca Goldbaum Lichtenstein, em 8/jun aos 51 anos Dawid Muller, em 13/jun aos 84 anos
MAZAL TOV BRIT MILÁ Felipe Angi Heilbut Dani Knobel Ulrych Simchat Bat Sofia Boimel Vivian Sonder Nicole Maya Schaffer Julia Fischer Scillington Gabriela Chvaicer Júlia Schlesinger Clara Souza Ferreira Murahovschi Liliana Malfitano Sutton
Bar-Mitsvá Isaac Berezovsky Pedro Buarque Dzialoschinsky Rafael Meyer Kahn João Rodolfo Kulikovsky Tiago Biskier Besen Alexandre e Fernando Zukerman Calderon Thomas Lewkowitz Bruno Steinman NOIVADO Sharon Laufer e Jaques Weltman Casamento Renata Koraicho Gonzaga e Adrian Flechtman Barbara Costa Gaiotto e Gabriel Tyles Camila Flávia Cerussi Mehlberg e David Abisch Mehlberg Andrea Krongold e Alberto Lustig Débora Vainer Barenboim e Stefan Salej
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PROGRAME-SE
GRANDES FESTAS Prepare-se para passar Rosh Hashaná e Iom Kipur junto com a CIP. • para aquisição de lugares, entre em contato através do email grandesfestas@cip.org.br ou do telefone 2808-6256/58 • para saber como ter a honra de receber uma aliá nas Grandes Festas, entre em contato através do email judaismo@cip.org.br
Atividades e eventos em destaque DANÇA ISRAELENSE Participe dos grupos de dança israelense da CIP. A harcadá, ou dança de roda, é voltada para todas as idades, enquanto para se juntar às lehacót - grupos de dança coreografados e que fazem apresentações - é necessário ter mais de 17 anos. Saiba mais em www.cip.org.br/danca-israelense ou mande um email para danca@cip.org.br.
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• homenageie seus entes queridos inserindo seus nomes no Livro de Memórias. Preencha o formulário no site: www.cip.org.br/livro-de-memorias
CABALAT SHABAT NO LAR
Atividades
A CIP convida a comunidade judaica para os serviços religiosos de Shabat realizados, quinzenalmente, no Lar das Crianças, em Santo Amaro. Programe-se para o segundo semestre de 2014:
regulares da CIP
11 e 25/jul • 8 e 22/ago • 5 e 19/set 17 e 31/out • 14 e 28/nov • 12/dez Informações: socio@cip.org.br ou 2808-6258
TERCEIRA IDADE
OUTROS
INFORMÁTICA PARA SÊNIOR segundas e quartas-feiras às 9h30 e 11h
DANÇAS
COSTURA DA BOA VONTADE terças-feiras às 13h
BAR E BAT-MITSVÁ Prepare seus filhos para esse momento tão especial. Cultura e tradição judaica, além de vivência comunitária, fazem parte do compromisso da Escola Lafer com a sua família. As matrículas já estão abertas para meninos e meninas que farão Bar e Bat-mitsvá em 2016.
CORAL SAMEACH quartas-feiras às 15h CLUBE DAS VOVÓS LOTTE PINKUSS terças-feiras às 14h (encontros quinzenais)
CULTO GRUPO DE ESTUDOS DA PARASHÁ segundas-feiras às 20h
IA TOLERÂNC
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JUVENTUDE MANHIGUT
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sextas-feiras às 16h CHAZIT HANOAR sábados às 14h
TSEDACÁ
Lehacat Eretz segundas-feiras, às 20h Harcadá terças-feiras, às 20h Lehacat Nefesh quintas-feiras, às 19h
CORAL ABANIBI quartas-feiras às 20h30
PENSAMENTO JUDAICO quintas-feiras às 19h
CORAL KAVANÁ terças-feiras às 20h30
ENSINO ESCOLA LAFER segundas, terças e quartas-feiras às 16h30 sextas-feiras às 8h30 e às 16h30
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IT
E SP
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Informações: escolalafer@cip.org.br ou 2808-6219
DIVERSIDADE
AVANHANDAVA sábados às 14h SHAAT SIPUR sábados às 14h30
Informações: secretaria@org.com.br ou 2808-6299
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ACONTECE 1
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01. Mais de 500 convidados prestigiaram a pré-estreia da peça Meu Deus! no Teatro da Faap e com renda destinada aos projetos do Lar das Crianças da CIP. 02. Bruchim haBaim, a primeira maratona de dança israelense da CIP, reuniu 450 participantes no Salão Nobre da entidade.
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03. O Lar das Crianças foi uma das onze entidades judaicas que comemoraram juntas os 66 anos de existência do Estado de Israel em evento no Teatro Arthur Rubinstein, na Hebraica. 04. A edição deste ano do Blood Day, ação da Avanhandava que promove a doação de sangue no Hospital Israelita Albert Einstein, lotou o banco de sangue: foram 44 doações.
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05. A abertura da exposição de hagadót realizada pela CIP por ocasião de Pêssach, Ma Nishtaná, contou com a presença de associados, frequentadores, funcionários e alunos da Escola Lafer.
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6. As 15 jovens da Escola Lafer que farão seu Bat-mitsvá este ano participaram com seus pais de um inesquecível final de semana na sede da CIP em Campos do Jordão.
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7. Entre chanichim, madrichim, bogrim, ex-bogrim e familiares, quase 80 pessoas participaram da Machané Mishpachti da Avanhandava. 8 e 9. Cerca de 300 pessoas participaram do evento de Iom Hashoá realizado na CIP e em parceria com a Unibes e a Sherit Hapleitá. 10. O novo espaço de trabalho da Costura da Boa Vontade e da Costura da Chevra Kadisha foi inaugurado com a presença das voluntárias dos dois grupos e também pelas colegas do Clube das Vovós Lotte Pinkuss e do Coral Sameach. 17
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11 e 12. O maestro John Neschling participou de um bate-papo com a imprensa judaica, diretores e conselheiros da CIP, e patrocinadores da apresentação de Carmen, que foi realizada em prol da Congregação. 13. O Clube das Vovós Lotte Pinkuss recebeu em sua Tarde Musical dois corais femininos: Coral Sameach, da Congregação, sob a regência do maestro Thelmo Cruz, e o Vocal Pérola, conduzido pela maestrina Heloísa Junqueira. 14. A apresentação do concerto Erudito, realizado pela Orquestra Vozes do Violão, do Lar das Crianças, acompanhada pelo solista Fábio Zanon, lotou o teatro Anne Frank da Hebraica. Sob a regência do maestro Claudio Weizmann, a apresentação marcou o lançamento dos violões com naipes e tamanhos diferenciados - fato inédito em apresentações deste tipo.
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15 e 16. Os rabinos Michel Schlesinger e Ruben Sternschein participaram do terceiro encontro com pré-candidatos à Presidência da República promovido pela Conib e que recebeu como convidada a presidente Dilma Rousseff.
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17. Comunidade presente no bate-papo com o jornalista Milton Blay, que falou sobre política e o panorama internacional. 18. Encontro do projeto Shirat Miriam com a presença do rabino Rogério Zingerevitz Cukierman. 19
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19 a 23. A sétima edição do tradicional Ticun da Virada de Shavuót da CIP reuniu um total de 400 convidados e teve como tema central “Corpo e Alma: o diálogo entre o físico e o espiritual no judaísmo”. Participaram o atleta Igor de Souza, único brasileiro a fazer a travessia ida e volta do Canal da Mancha, o médico Cláudio Lottenberg, a endocrinologista Alessandra Rascowsky, e os chefs István Wessel e Rita Lobo, entre outros. O ilustrador Leandro Spett fez caricaturas do público e dos participantes durante o evento.
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24 a 28. Carmen em prol das obras sociais da CIP. A apresentação da ópera de Georges Bizet reuniu a comunidade no Theatro Municipal de São Paulo. O espetáculo contou com a participação da mezzo-soprano israelense Rinat Shaham e com o jovem cantor lírico brasileiro Thiago Arancam. A regência foi do espanhol RamonTebar e a introdução foi feita especialmente pelo maestro John Neschling, diretor artístico do Municipal. 21
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ESCOLA LAfER
A TEFILÁ NA ESCOLA LAFER POR Andrea Kulikovsky diretora de Ensino Quando buscamos no dicionário o significado da palavra “rezar”, encontramos várias definições. Entre elas a de que se trata da “repetição de palavras decoradas que nem sempre expressam o verdadeiro sentimento do coração. Ao contrário dessa explicação, a equipe da Escola Lafer acredita que, ao rezar, buscamos ativar uma ligação, uma conexão, uma conversa, um pedido, um agradecimento, uma manifestação de reconhecimento, ou ainda um ato de louvor a Deus. Por esses princípios e buscando mudar a relação dos alunos da Lafer com a tefilá (oração) e fazendo com que ela deixe de ser um “exercício de repetição” e passe a ser a “palavra do coração”, a Escola Lafer alterou a estrutura de sua aulas. E os resultados desta mudança têm deixado a equipe extremamente satisfeita e até bastante orgulhosa. Nas aulas, o início do estudo da tefilá se dá com a leitura do texto em hebraico. Em seguida, os alunos são convidados a conhecer sua tradução em português e compreender seu significado literal. A próxima etapa é cuidar da estrutura musical da reza. Nesse momento eles aprendem a melodia da tefilá estudada. Somente depois desses passos iniciais é que os alunos são consideramos aptos a se apropriarem da tefilá. E é nesse momento que a mágica acontece: os alunos são, então, convidados pelos professores a refletir sobre o texto original, trocar impressões entre eles e encontrar um significado próprio para o mesmo. A partir da interpretação que os próprios alunos fazem da reza, eles a reescrevem com suas palavras, tornando-a personalizada e exclusiva, e contemplando um significado único. Eles passam a ser os autores da reescrita da tefilá. Os resultados são incríveis: “Obrigado Deus por criar a luz a partir da escuridão, gerar minha coragem a partir dos meus medos, os meus amores a partir dos meus ódios, gerar o bem a partir do mal.”* Desta maneira, a Escola Lafer tem a certeza de que, mais do que simplesmente aprender e repetir palavras difíceis e distantes, seus alunos estão aprendendo a entender, apropriar-se e encontrar-se com nossa liturgia. É assim que eles levam a reza para dentro deles mesmos, apoiando-se em suas capacidades de se conectar com Deus e fazendo desse um encontro de conforto, respostas e diálogo constantes.
*tefilá escrita pelo aluno João Kulikovsky e escolhida pelo rabinato da CIP para ser lido, em sua homenagem, em seu Bar-mitsvá.
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LAR DAS CRIANÇAS
Primeiro aniversário da
República do PPV No início dos anos 2000, quando o Lar das Crianças atendia crianças e jovens até os 14 anos de idade, percebeu-se a necessidade de dar continuidade ao trabalho tão bem realizado. Na época notou-se que os adolescentes que saíam da instituição eram muito melhor preparados do que seus colegas que não frequentavam o Lar, mas, muitas vezes, pela falta de um acompanhamento individualizado até que se desse por completa sua formação profissional, alguns acabavam deixando para trás oportunidades que poderiam se concretizar. Desta necessidade, surgiu então o Programa Passaporte para a Vida. A assistente social Selma Souza foi contratada para organizar e coordenar o novo projeto que beneficia jovens a partir dos 15 anos de idade. A criação do PPV permitiu a continuidade do atendimento, onde o vínculo institucional é preservado para dar um sentimento de apoio ao jovem que é orientado a ser produtivo e participativo do processo social, buscando uma visão ampliada da sociedade e aquisição de habilidades de autogestão, sendo a educação, o caminho para melhoria da qualidade de vida. No último ano, dando mais um importante passo no processo de autonomia dos jovens, a CIP cedeu ao programa um imóvel em contrato de comodato. É a República do PPV, que tem como função principal facilitar o acesso deles à faculdade e ao trabalho. Os jovens que residiam na zona sul gastavam, em média, mais de quatro horas por dia para se deslocar pela cidade, de suas casas para os locais de estudo e de trabalho. A República surgiu da ideia de oferecer a eles a oportunidade de residirem em um local que lhes propiciasse maior qualidade de vida e mais tempo para se dedicarem aos estudos. O apartamento, localizado na região central de São Paulo, dá também ao grupo a importante oportunidade de desenvolver sua sociabilidade e disciplina. Parte das despesas é dividida entre eles, que também se submetem a um regimento interno para manter o bom funcionamento do local. Miguel Jerônimo, um dos moradores da República do PPV, comentou sobre o apoio que recebe do Lar há 17 anos. “Muitas portas foram abertas para minha irmã e para mim: cursos, faculdade, a república em que hoje resido. Sou um sonhador, e através das minhas poesias pretendo ser exemplo para as próximas gerações, não só do Lar, mas também do mundo. ‘Oportunidades geram oportunidades’, ‘com pequenos gestos podemos fazer a diferença’, ‘amigos podem ser eternos’, e ‘crescer é uma arte’ são conhecimentos que levarei para sempre comigo. Agradeço todos os dias por ter o Lar na minha vida.” Em abril o Lar comemorou o sucesso do primeiro ano do projeto. Neste período, um dos jovens,
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Marcos Medeiros, concluiu seus estudos e voluntariamente deixou a República, abrindo vaga a outro jovem que cursará Engenharia. No dia da festa, além dos quatro moradores, Miguel, Maria Clara, Geisa e Eduardo, o evento contou com a presença de profissionais do Lar das Crianças; do vice-presidente da área social da CIP, Marcos Lederman; da ex-diretora do Lar, Margrit herzberg; de Carlos Baruch, diretor administrativo da Congregação; e dos voluntários e apoiadores Silvio hotimsky, Vera Moll, Irina Premisleaner e Ivete Aizemberg. O Lar investe no desenvolvimento do protagonismo juvenil como ferramenta para romper o círculo vicioso que vincula a carência financeira e social ao baixo índice de escolaridade, possibilitando a inserção no mercado de trabalho e futura ascensão social do jovem. É por este caminho que o Lar responde ao chamado para participar na solução de problemas sociais, mantendo e reforçando seus princípios judaicos. 1
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1. Jovens participam de sarau do projeto Passaporte para a Vida. 2 e 3. Comemoração do primeiro ano da República do PPV.
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AÇÃO SOCIAL
Envelhecimento saudável e solidário Inspirado pelos valores de renovação e continuidade, o Departamento de Ação Social está ampliando suas atividades com foco no envelhecimento ativo. POR Débora Sor coordenadora de projetos de terceira idade 26
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A longevidade da população cresceu muito no século 20 e é cada vez maior o número de pessoas que vivem até os 100 anos de idade. E como forma de estimular uma vida sempre dinâmica e saudável, a Ação Social passa a oferecer palestras informativas sobre temas atuais, oficinas de preservação e resgate de histórias de vida, e o Cinematuridade, cujas sessões, seguidas de bate-papo, trarão filmes e documentários de interesse do público acima de 60 anos. As novas atividades têm como objetivo maior a inclusão social, a melhora da autoestima e o estímulo pela busca da qualidade de vida não apenas do idoso, mas também de seus familiares e amigos, uma vez que um longevo feliz e saudável impacta positivamente a vida de toda a família. De acordo com a tradição religiosa judaica, chegar a uma idade mais avançada é considerado uma das maiores benções. E a prática da religiosidade tem grande importância para os longevos, pois além de fortalecer a espiritualidade, ajuda a entender melhor questões como envelhecimento e finitude, e facilita a manutenção do vínculo social com a comunidade. O trabalho voluntário é outra importante ferramenta que contribui para o fortalecimento de vínculos para pessoas acima de 60 anos, gerando apoio aos que mais necessitam. Além dos bem sucedidos projetos Vida-Chai e Costura da Boa Vontade – voltados exclusivamente para a terceira idade -, o Departamento de Ação Social da CIP tem realizado campanhas de mobilização baseadas na participação de toda a comunidade. A mais recente delas, de arrecadação de produtos de higiene para os imigrantes haitianos acolhidos pela Paróquia Nossa Senhora da Paz, no centro de São Paulo, no mês de abril. A pretensão da Ação Social é intensificar a realização campanhas que mobilizem um número maior de voluntários e construir uma rede permanente de solidariedade para situações específicas e emergenciais. Para conhecer melhor os projetos do Núcleo da Maturidade promovidos pela Congregação, visite o site da CIP (www.cip.org.br/acaosocial) ou entre em contato através do e-mail ssocial@cip.org.br.
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1 e 2. Inauguração do novo ateliê dos grupos de costura da Congregação. 3. Atividade do projeto Vida-Chai com idosos carentes da cidade de Campos do Jordão. 4. Tarde musical do Clube das Vovós Lotte Pinkuss.
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RABINATO
Sobre o lugar, a identidade e a função de Deus “Tomara que a Mim me abandonem e fiquem com meus preceitos e ações.” (Talmud de Jerusalém, tratado Chaguigá) POR Ruben Sternschein rabino da Congregação
Qual é o lugar e a função de Deus no judaísmo? Qual sua identidade e valor? O judaísmo foi acusado, não sem razão, de ser uma religião pouco religiosa. Para entender em quê tal acusação foi baseada, basta observar que o dia dedicado à espiritualidade, o Shabat, inclui a melhor comida da semana, a melhor roupa, o descanso do corpo, as relações sexuais e o encontro social com amigos e familiares. Pode-se também assinalar o fato de que, nas fontes judaicas clássicas, são inúmeros os debates sobre as ações práticas, os detalhes técnicos, os significados éticos, educativos e sociais, em comparação com as pouquíssimas palavras acerca da natureza da divindade, o mundo vindouro e a vida após a morte. Os rabinos filósofos da Idade Media, inclusive, levantaram o debate sobre se a fé é ou não um dever. Apesar de tudo, existem visões variadas e apaixonantes sobre Deus e a religião no judaísmo de todos os tempos. Sobre o Deus da Bíblia Na Torá, Deus cria, avalia, se arrepende, se ofende, destrói, mata, perdoa, manda modificar leis, reconstrói, consola. Protagonistas como Abraão, Moisés e Jó não apenas aceitam diretrizes e mudanças provenientes da divindade, mas também discutem e negociam e são premiados por Deus por isso. Quando fogem, são perseguidos por Ele para que desenvolvam e cumpram seu potencial. Deus é visto pelos profetas como Aquele que detesta os rituais cujas orientações estão na própria Torá mas não são realizados com ética e retidão, com sensibilidade e transparência. Sobre o Deus do Talmud Os sábios do Talmud foram, talvez, os mais atrevidos entre nossos oradores teológicos. Eles atribuíram a Deus não apenas a preferência pela realização dos mandamentos em detrimento da fé Nele, mas também estabeleceram que o pró-
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prio Deus reza para ser mais misericordioso do que rígido, e que pede, para isso, a ajuda do homem. É o homem que pode consertar o mundo e a postura divina, no mínimo querendo-o e pedindo-o o suficiente. Na Filosofia e na Mística Medieval O Deus dos filósofos clássicos era racional e, da mesma forma, eram Seus mandamentos. Tanto aqueles cuja razão é evidente, quanto aqueles que requeriam uma reflexão mais profunda ou uma interpretação simbólica. Estudar ciência, psicologia ou lógica eram também formas de conhecer Deus e se unir a Seu projeto. Na Cabalá, Deus tem um aspecto imutável, como exige a lógica da perfeição (um Deus perfeito não poderia ouvir uma prece porque, nesse caso, mudaria na hora de ouvi-la, e deveria ser perfeito apenas antes ou depois da mudança). Mas também outro dinâmico que existe em tudo e portanto depende de tudo, principalmente da vida humana. Cada ato humano pode desestabilizar ou restabelecer a própria divindade. Cada amor, ódio, palavra, silêncio, sensibilidade, indiferença, autenticidade ou hipocrisia. Na modernidade Mordechay Kaplan é, talvez, o maior representante da teologia judaica contemporânea. Ele propõe que Deus seria a imagem mais perfeita da realização de nossos valores. Nem mais nem menos. Não um ente que atua. Uma referência, um modelo. Uma garantia de que tudo pode ser ou se aproximar do ideal e, portanto, cabe ao homem tentar sempre.
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CAPA
DEUS NA teoria e na prática POR Michel Schlesinger rabino da Congregação
Duas pessoas estavam em um barco conversando. — Você conhece Aristóteles? - perguntou uma delas. — Não - respondeu o outro. — Então você perdeu um quarto de sua vida. E Kant, você conhece? — Também não. — Você perdeu mais um quarto de sua vida. Neste momento um furo no fundo do barco fez com que a água começasse a entrar na embarcação. Aquele que não conhecia nada de filosofia perguntou ao outro se ele sabia nadar. — Não - respondeu o filósofo. — Então você acaba de perder sua vida inteira.
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O judaísmo é uma religião que valoriza muito mais a ação do que o pensamento. A filosofia se desenvolveu em uma época relativamente tarde da história judaica. O primeiro filósofo do judaísmo foi Filo, que viveu em Alexandria nos primeiros anos da Era comum, ou seja, depois de três mil anos de história judaica. Outras religiões valorizaram muito mais o pensamento filosófico do que o judaísmo. Perguntas sobre a origem de Deus e sua natureza, questionamentos sobre a vida após a morte e reencarnação, estão presentes na literatura judaica, mas são marginais quando comparados à quantidade de obras produzidas sobre ética e comportamento. Pode se afirmar, sem medo de errar, que o judaísmo se preocupar pouco com aquilo que o indivíduo pensa, e muito com o que ele faz. Provavelmente, e exatamente por isto, existem debates ricos e conflitantes nas áreas teóricas da religião judaica sem a necessidade de uma padronização. É legítimo pensar diferente e, às vezes, muito diferente, desde que este pensamento nos conduza a fazer o bem. A Torá é um tratado de como ajudar o outro. O texto traz uma série de leis sociais que devem ser praticadas para que nos tornemos kedoshim, sagrados. No judaísmo é a ação que nos confere a santidade. O status de homens e mulheres sagrados não acontece com o nascimento nesta ou naquela casta, mas na atitude que escolhemos ter na vida. Às vezes encontro alguém que me diz: “Rabino, mas o mais importante é o que temos no coração, não é?”. E eu respondo que não. Penso que o mais importante não é o que temos no coração, mas o que efetivamente fazemos com aquilo que temos no coração. Durante a contagem do Ômer, este período de 49 dias que separa as festas de Pêssach e Shavuót, refletimos sobre esta ponte que liga os conceitos de liberdade e lei. Pêssach é a festa da libertação. Podemos comparar a saída do Egito com o pensamento, a teoria, que são extremamente livres e comportam inúmeras construções abstratas. No entanto, o êxodo somente se concretiza em Shavuót, a festa da lei, do comportamento. A festa que celebra nosso compromisso com Deus e com a sociedade. Quando os Filhos de Israel deixaram o cativeiro egípcio, iniciaram uma viagem rumo ao desconhecido. Foi então que o povo, aos pés do Monte Sinai, pronunciou sua maior declaração de fé. Col asher diber Adnai Naasê Venishmá, “Tudo o que disse o Eterno, faremos e escutaremos”. Por meio destas palavras solenes, o povo comprometeu-se a cumprir as palavras de Deus. Nossos sábios interpretaram a declaração do povo com uma demonstração absoluta de fé. Os rabinos viram na sequência das palavras “Naasê Venishmá”, “Faremos e escutaremos”, uma disposição de cumprir os preceitos Divinos mesmo antes de compreendê-los.
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O Talmud nos traz uma visão interessante sobre essa passagem. Rabi Elazar disse: “Quando Israel pronunciou “naassê” antes de “venishmá” uma voz celestial surgiu e falou – “Quem revelou este segredo, que é conhecido dos anjos, aos Meus filhos? Apenas os anjos sabem que é preciso comprometer-se para depois escutar”. Esta pequena passagem traz uma enorme contribuição para a compreensão das palavras dos Filhos de Israel ao pé do Monte Sinai e também uma importante lição para todos nós. “Naassê venishmá” não deve ser compreendido como uma declaração infantil de fé cega e absoluta. Pelo contrário: “faremos e escutaremos” é uma receita que até então era conhecida apenas pelos anjos e que passou a pertencer a todos aqueles que estão dispostos a aprender esta poderosa lição. Primeiro precisamos nos comprometer para depois conseguir escutar. Apenas depois que nos comprometemos com nossa herança judaica e o destino do nosso povo, somos capazes de escutar acerca dos caminhos para realizar esta missão. Só depois que nos comprometemos com a construção de uma sociedade mais justa, escutamos os necessitados e buscamos meios para ajudá-los. A falta de comprometimento nos torna surdos, enquanto o compromisso com uma causa nos garante a capacidade de ouvir. Recentemente vivi uma situação interessante. Recebi um casal em minha sala na CIP, servi um café ao marido e perguntei se ele tomava com açúcar ou adoçante. Ele disse que não bebia com nada, que preferia puro, mas que queria uma colherinha. Entreguei a colher e fiquei observando. O homem mexeu o café e tomou. Não aguentei de curiosidade e perguntei o porquê de ele mexer o café puro com uma colherinha. E ele respondeu que esta era a sua mishigaz. Então eu disse: “Que bom. Continue com ela porque esta é uma mishigaz que não faz mal a ninguém.” No entanto, sabemos que existem mishigazes perigosas. Às vezes, o apego de um indivíduo a uma prática irracional gera dor, discriminação, sofrimento e angústia. O apego exacerbado ao ritual, que por excelência é irracional, pode ser uma mishigaz inofensiva, mas pode também criar situações de desconforto. Shavuót relembra uma das passagens mais marcantes da história religiosa do nosso povo, o aniversário do encontro entre Deus e os israelitas no Monte Sinai. Este encontro ficou conhecido na tradição judaica como a Revelação. O momento em que Deus se revelou para Moisés e para os Filhos de Israel que estavam presentes ao pé da montanha. A Torá não deixa claro qual foi a natureza do texto que acompanhou aquele encontro místico. Apenas com a narrativa bíblica, não é possível estabelecer com precisão o que exatamente Deus ensinou naquele contato no cume do Sinai. Algumas fontes judaicas, com destaque especial para o Talmud de Jerusalém (Peá 17a), adotam uma postura maximalista. Segundo esta versão, Deus teria transmitido a Moisés toda a literatura judaica que viria a ser criada depois daquele encontro. Desta forma, não apenas a Torá e o Talmud, mas todos os códigos legais e livros de filosofia que surgiriam depois do Sinai já teriam sido revelados a Moisés. Até mesmo uma simples aula, prédica ou artigo de um rabino, como este, também estariam presentes no conjunto de informações passadas naquele encontro, há mais de três mil e trezentos anos.
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Outros rabinos preferiram acreditar que o conteúdo passado foi mais restrito. Alguns defendem que apenas a Torá Escrita e Oral (o Talmud) teriam sido transmitidos. Outros defendem que somente a Torá Escrita foi entregue naquela ocasião. Teorias ainda mais minimalistas acreditam que apenas as Tábuas da Lei com os Dez Mandamentos teriam sido dadas para o líder e o povo. Nos últimos anos, a filosofia contemporânea passou a desenvolver a teoria de que nenhuma palavra tivesse sido entregue no Sinai. Segundo estes pensadores modernos, o encontro no Monte Sinai teria sido uma experiência religiosa repleta de sensações, mas sem texto algum. Heschel, por exemplo, entende a Torá como uma interpretação humana da experiência da Revelação. Os livros sagrados são entendidos, segundo esta hipótese, como uma descrição humana do encontro com Deus. Qual é a implicação destas diferentes visões? Penso que se crermos que tudo o que é judaico foi entregue pronto por Deus, temos muito pouco a dizer sobre esta literatura. Temos que executá-la sem maiores questionamentos. Ao passo que se acreditarmos que os textos sagrados são um resultado compartilhado entre Deus e o homem, passamos a assumir protagonismo em relação a nossa religiosidade. Quando acredito que as escrituras são um produto de encontros que Deus e os seres-humanos tiveram e continuam tendo, chancelo o caráter dinâmico da religião. Permito a mulheres e homens comuns dialogarem com a tradição. Esta visão aproxima, ao meu ver, a religião de nós. O pensamento é muito importante desde que nos conduza a fazer aquilo que é correto. Que possamos nos inspirar no Ômer, na capacidade de pensar livremente, mas agirmos de forma comprometida com o bem, o correto, o ético. Que nos aproximemos de Deus por meio de nosso compromisso com a sociedade. Que busquemos o pensamento filosófico, mas, principalmente, saibamos nadar.
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JUVENTUDE • Garinim
DIÁLOGO, AMIZADE E TROCA DE EXPERIÊNCIAS
O projeto Garinim, que promove o diálogo, a aproximação e a troca de experiências entre os jovens da CIP e as crianças do Lar das Crianças, comemora seu primeiro aniversário e os excelentes resultados já alcançados. A mais recente turma do projeto, formada por madrichim da Avanhandava, Chazit hanoar e Colônia da CIP fritz Pinkuss, após participarem de atividades de capacitação com profissionais de diferentes áreas e conhecerem a equipe e a sede do Lar das Crianças da CIP e as crianças atendidas pela entidade, já estão desenvolvendo e participando de atividades com as crianças. De acordo com a coordenadora do projeto, Ana Karlik, o Garinim fala de amor, respeito, troca e aprendizado. “Poder coordenar um projeto como este, em que jovens e crianças de realidades sociais distintas trocam experiências, aprendizados e se desenvolvem juntos, tem sido muito gratificante. O brilho nos olhos de um jovem madrich que descreve um encontro com uma criança do Lar me faz acreditar que estamos caminhando para um mundo melhor”, comentou. Além de fortalecer – sob os aspectos social e emocional – as crianças do Lar para o desenvolvimento de seus potenciais, o projeto oferece à juventude da Congregação uma excelente oportunidade do convívio com outras realidades. “É raro ter uma oportunidade como essa, de sair de nossa zona de conforto e doar nosso tempo a uma criança que ainda estamos conhecendo. Os encontros não são bons apenas para as crianças, para nós, que vamos ao Lar e buscamos tirar o melhor proveito desse incrível momento de troca, é muito gratificante”, disse o madrich fábio fridman. No Garinim, cada jovem é responsável por uma criança, que será seu “amigo mais velho”. A partir de tal relação, eles têm a oportunidade de conversar, brincar, passear e, acima de tudo, criar um laço de amizade. As atividades incluem brincadeiras e dinâmicas sobre temas relevantes e de interesse das crianças, como por exemplo: “sua escola, sua família e seu futuro”. De acordo com o rabino Michel Schlesinger, a criação do projeto está entre as grandes conquistas da Juventude da CIP no último ano. “A partir dele, os madrichim ganham experiência e concretizam o Ticun Olam, enquanto as crianças do Lar ganham autoestima e um acompanhamento repleto de afeto. Minha esperança como rabino da CIP é de que este projeto de sucesso ganhe ainda mais corpo em 2014, continue mudando a vida dos tutores e das crianças e que, como consequência, continue enriquecendo a CIP como um todo.” Os jovens que participam do projeto contam com a supervisão de profissionais que fornecem instrumentos necessários para que os encontros sejam produtivos, além de auxiliá-los caso alguma dificuldade venha a surgir. Para o Lar das Crianças, o trabalho dos jovens do Garinim também tem sido muito positivo. “Através do projeto, nossas crianças e jovens têm a possibilidade de contar com um olhar, uma atenção a mais. A troca é muito positiva. Percebi que ao longo do semestre o vínculo entre os madrichim e crianças foi se intensificando e se fortalecendo”, comentou a psicóloga do Lar, Soraia Bocchi. Para hellen fernandes, de sete anos, que contou com o apoio e o incentivo de uma madrichá para conseguir dormir no escuro, o projeto tem sido muito especial. “Eu já durmo na minha cama sozinha com tudo apagado. E minha mãe até comprou uma luzinha para quando fica muito escuro. Já estou com saudades da minha amiga mais velha.”
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JUVENTUDE • Avanhandava
ACAMPANDO EM FAMÍLIA POR Rudi Solon madrich e Vaadat Tikshoret da Avanhandava
Diversos trabalhos acadêmicos mostram as vantagens de se passar alguns dias na natureza. Esta vivência permite abandonar os problemas cotidianos, além de promover um aumento da criatividade. E juntando a vida mateira com a família, não tem o que dar errado. A Machané Mishpachti da Avanhandava, que aconteceu em Sorocaba, juntou estes dois elementos. Os pais puderam ter um resgate de sua infância, aprendendo coisas junto aos seus filhos. Jogos de roda, dinâmicas de trabalho em grupo e atividades sobre a Ava propiciaram um ambiente divertido e construtivo. Os filhos, por sua vez, tiveram atividades dos mais variados temas e puderam aproveitar o ambiente familiar que existe na Avanhandava entre chanichim, madrichim e pais. Com “Um por todos e todos por um”, como diz um dos lemas da tnuá, cantado ao fim de todas as atividades, todos puderam desfrutar de momentos livres com atividades como futebol, pioneirias (nós e amarras escoteiras) e harcadot (danças). O clássico fogo de conselho, uma grande fogueira que acontece em todos acampamentos, foi um sucesso! Na mesma ideia de união que havia sido trabalhada mais cedo, todos se juntaram e ajudaram a construir este momento marcante, que, por sinal, coincidiu com o feriado judaico de Lag BaOmer, que é totalmente ligado à Avanhandava em sua essência. A tnuá Avanhandava, que alia escotismo e o bandeirantismo ao judaísmo e sionismo, está sempre aberta para receber com alegria e carinho novos chanichim a partir dos sete anos de idade. Mas, se considerarmos o entusiasmo dos pais na machané, dá para perceber que, se pudessem, eles formariam com grande entusiasmo um novo ramo permanente da Avanhandava.
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ENTREVISTA
Assistência social e
promoção da
autonomia POR Andréia Hotz editora da Revista da CIP
Presidente da Unibes desde o início de 2012, Célia Kochen Parnes tem uma longa história de atuação voluntária. Formada pela FEA-USP em Administração de Empresas e com especialização em gestão pela mesma entidade, atualmente preside também o conselho da Fisesp, além de integrar o da Hebraica e O dos Patronos da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Nesta entrevista à Revista da CIP, Célia fala sobre sua dedicação à assistência social e sobre o trabalho da Unibes nas áreas de promoção humana, educação, saúde e cultura. Revista da CIP • Como define o papel do trabalho voluntário e da assistência social em sua trajetória pessoal? Célia Kochen Parnes • A primeira vez que me dediquei ao trabalho voluntário foi aos 14 anos. Desde então a atividade está sempre presente na minha vida. Hoje, como presidente da Unibes, dedico minha formação acadêmica e minha experiência profissional 100% ao terceiro setor. Os focos principais são a ampliação das atividades do Serviço Social, a inserção da área à Lei Orgânica de Assistência Social, e a estruturação dos setores responsáveis por Negócios e Geração Interna de Recursos.
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RC • Quais os principais objetivos da Unibes como entidade filantrópica? CKP • Nosso maior propósito é oferecer oportunidades e ajudar os usuários de nossos projetos a ter autonomia e a usar seu potencial da melhor maneira. A instituição atende hoje cerca de 14 mil pessoas, de 2 a 100 anos. De bebês, cujas mães precisam de um lugar seguro e confiável para deixá-los enquanto estão no trabalho, a sobreviventes da Shoá, por exemplo, que, a partir da ajuda da Unibes, conseguem ter acesso às verbas indenizatórias provenientes de programas assistenciais de governos europeus. Os idosos contam com programas específicos para a terceira idade, como o Centro de Convivência, que oferece atividades de artesanato, coral, danças, palestras, oficinas gourmet, passeios e viagens para pessoas com mais de 60
anos de idade. No total, atendemos 80 idosos no Centro de Convivência e 290 sobreviventes do Holocausto. RC • É comum pensar em filantropia apenas como a doação de alimentos, remédios e roupas. O trabalho da Unibes vai muito além, não? CKP • A Unibes faz muito mais. Nosso objetivo é, antes de tudo, oferecer ferramentas para a autonomia da população que se encontra em situação de vulnerabilidade e risco social. Nosso esforço está voltado para a transformação de comportamento e de hábitos dos usuários, no sentido de restaurar suas forças, proporcionar confiança no futuro e promover o alcance de sua autossuficiência. Dar oportunidades e ajudar a formar cidadãos autônomos é a base dos programas desenvolvidos pela Unibes. A instituição atende crianças de dois a cinco anos oferecendo atividades pedagógicas que estimulam a pré alfabetização, oficinas recreativas de contação de histórias, jogos, e brincadeiras, arte e leitura, além de cinco refeições diárias. Para o público dos seis aos quatorze anos, são disponibilizadas no contra turno escolar atividades como balé, teatro, arte, leitura, acompanhamento escolar, orientação sobre saúde e sexualidade, convivência esportiva, música e judô. Jovens de 16 a 29 anos podem participar de oito cursos profissionalizantes, sendo que a Unibes também possui programas de auxilio à educação formal. São realizados estudos socioeconômicos e acompanhamento junto à família para garantir a adaptação do aluno e o compromisso com a escola. Às famílias, a instituição oferece programas de caráter preventivo, protetivo e proativo com o intuito de ajudar no desenvolvimento de potencialidades e na conquista de independência e autonomia. Além do serviço de assistência social ao grupo familiar, a Unibes disponibiliza programas de odontologia, psicologia, fisioterapia/fonoaudiologia e psicopedagogia, por exemplo. Ao todo, são 14 mil pessoas atendidas por ano e 2500 famílias beneficiadas por ações do Serviço Social Márcia Nigri. RC • Você acredita que existem diferenças entre o trabalho assistencial realizado por uma mulher e aquele conduzido por um homem? CKP • Acredito que as diferenças se apresentam muito mais entre os tipos de pessoas do que entre os gêneros.
Tanto homens quanto mulheres podem ter um perfil mais “coração “ ou um perfil mais “administrativo”. Eu tenho mais jeito para o trabalho administrativo, mas aprendi muito com as assistentes sociais a ter um olhar para os detalhes que as planilhas não apresentam. Na assistência social os planos de metas se dobram à dura realidade dos nossos assistidos, os números almejados se rendem frente às necessidades mais primárias. RC • Qual a maior dificuldade para adequar os objetivos estratégicos à realidade e às demandas dos assistidos? CKP • É preciso olhar além, prestar atenção aos detalhes de cada situação. Em uma recente reunião, por exemplo, um doador sugeriu premiar os alunos com melhores notas com sua continuidade no programa. Então, com a anuência da coordenadora do Serviço Social, Arlete Nago, apresentamos uma outra visão da situação: às vezes, o talento de uma pessoa fica escondido pelos problemas familiares, e seu desempenho fica comprometido, refletindo, ao invés de seu potencial, as situações problemáticas pelas quais ela está passando. Dar atenção e procurar entender cada situação. É assim que a Unibes trabalha. Voltando à questão das diferenças de gêneros na assistência social, acredito que toda organização precisa de níveis equilibrados de homens e mulheres. O equilíbrio traz, além da força do grupo, ponderação e experiências diversas. Pode ser, sim, a base da fórmula ideal para o sucesso do trabalho filantrópico.
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ESPECIAL • Micvê
MICVÊ A SUBLIME EXPERIÊNCIA DO
ENCONTRO CONSIGO MESMO POR moré Theo Hotz Coordenador do Depto. de Culto
Todos nós aprendemos que a origem da vida em nosso planeta se deu em meio aquático. Em outras palavras, a Biologia nos diz que “a água é a fonte da vida”. Em seus primeiros versos, a Torá relata que “Primeiramente, Deus criou o Céu e a Terra. A Terra era sem forma e vazia, e o Espírito divino movia-se em face às águas” (Gn 1:1-2). E assim vemos que, antes mesmo que o Eterno dissesse “Que exista a luz!”, a água já estava presente. Para o autor do texto bíblico, toda a criação e toda a vida na Terra não seriam possíveis sem a existência da água. A água precede os seres vivos e se torna a fonte da vida quando a divindade toca sua superfície. A água se tornou o símbolo máximo de vitalidade no texto bíblico, influenciando muitas das práticas judaicas ao longo da história. Quando a Torá lida com as várias questões de pureza e impureza ritual, o texto repete diversas vezes: “e se banharão na água, e se purificarão”. Em Lv 15:13, o texto reitera: “banhará sua carne nas águas vivas e será purificado”. A Torá aponta que deve ser purificado todo aquele que teve algum contato com a morte, direta ou indiretamente. Deste modo, aquele que havia tocado em um cadáver estaria impossibilitado do ofício religioso até sua purificação. Até hoje, ao deixarmos o cemitério, lavamos nossas mãos como sinal de que nosso contato com a morte foi passageiro e que nós ansiamos novamente pelo contato com a vida.
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Também entravam em estado de impureza o homem que tivesse tido uma polução, e a mulher durante e depois do ciclo menstrual, pois, no caso do homem, sua semente de vida foi transformada em “não-vida” e, no caso da mulher, o útero vê frustrada sua preparação para gerar a vida. Também se entedia como impureza o contato com sangramentos ou secreções em geral, vistos como “vida derramada”. Antes de comermos pão, lavamos nossas mãos. É necessária a tomada de consciência de que estamos vivos antes de ingerir o alimento que nos revigora e fortalece. Em nossas rezas, pedimos diariamente que Deus envie chuva e orvalho nos momentos adequados do ano, para que a terra viva nos dê seus frutos. E em dois momentos marcantes do ano – a primeira manhã de Pêssach e a manhã de Sheminí Atséret – a tefilá de mussáf é marcada por dois dos ofícios mais belos de nossa liturgia, recheados de poesias melodiosas e fluidas como a água, exaltando o caráter vivificador do orvalho e da chuva. Estamos cercados de água, somos compostos majoritariamente por água, e o judaísmo nos convida a despertar nossas consciências para esta realidade e experimentar cotidianamente este contato. O judaísmo entende que a experiência religiosa deve ser viva e que a vida deve emanar desta experiência. Ao utilizar o termo “banhar-se em águas vivas”, a Torá mostra que não se trata simplesmente de um banho. Esta deve ser uma completa imersão na fonte da vida por excelência, um contato que nos revigora e nos eleva espiritualmente, purificando-nos. “Serão puras as fontes, as cisternas e os lugares de ajuntamento de água (micvê máim)”, lemos em Lv 11:36. A imersão na micvê não é ligada apenas aos ritos de purificação devido ao contato com a “não-vida”. A imersão nesta agradável piscina ritual é obrigatória em processos de conversão, por exemplo, e altamente recomendável sempre que quisermos acrescentar mais vida em nosso cotidiano, como às vésperas do casamento, do Bat ou Bar-mitsvá. Cada vez mais as micvaót são procuradas não somente pelas mulheres que observam as leis de nidá, mas, sobretudo por mulheres e homens que procuram marcar um momento especial em suas vidas, como o início de uma nova etapa profissional, por exemplo, que queiram entrar “com o pé direito” no ano novo, refletir sobre si mesmos antes do Kipur e de cada chag ou Shabat. Convido a cada um que viva a experiência de mergulhar nas águas vivas da micvê, desfrutando deste sagrado e revigorante contato com o líquido vital que é, sem dúvida, a essência de cada ser vivo.
A micvê da CIP passou recentemente por uma importante reforma para oferecer ainda mais conforto a seus associados e à comunidade judaica em geral. O forro e as luminárias foram modernizadas e uma nova pintura foi feita em todo o espaço, deixando o local mais moderno e acolhedor. Para agendar um horário para utilizar a micvê da Congregação, entre em contato através do email micve@cip.org.br ou do telefone 2808-6257.
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GIRO
360 GRauS POR Guita Feldman
AIPAC O Comitê de Assuntos Públicos Americano-Israelense tem como missão fortalecer, proteger e promover o relacionamento EUA-Israel de forma a aumentar a segurança de Israel e dos Estados Unidos. O AIPAC capacita ativistas pró-Israel de todas as idades, religiões e raças, independente de serem politicamente engajados, a construir relacionamentos com os membros do Congresso de ambos os países para promover a relação EUA-Israel. Seja por meio das Conferencias anuais em Washington DC , palestras regionais e universitárias, petições e ações diretamente no congresso Americano.Thais e Roberto Alcalay, brasileiros que moram nos Estados Unidos, são ativistas do AIPAC.
NOVO PRESIDENTE A World Union for Progressive Judaism anunciou o rabino Daniel Freelander Hillel, atual vice-presidente sênior da Union for Reform Judaism na América do Norte, como seu novo presidente. “A nomeação do rabi Freelander é uma boa escolha para a World Union. Ele traz larga experiência em liderança e um profundo entendimento de como fortalecer o compromisso e a identidade judaica. Sua
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paixão por envolver judeus globalmente através dos valores do judaísmo progressista faz dele a escolha ideal para liderar a WUPJ “, foi comentado em sua nomeação.
Você
?
sabia ... POR Theo Hotz coordenador do Departamento de Culto, baal corê e moré da Escola Lafer
8,2 MILHÕES DE HABITANTES A população de Israel cresceu 2%, ou 157 mil pessoas, de Iom haAtzmaút de 2013 até a mesma data deste ano. Agora são 8,2 milhões de habitantes, de acordo com a The Central Bureau of Statistics de Israel. A instituição divulgou que no último ano nasceram 178 mil bebês, 42 mil pessoas morreram e 24 mil imigrantes chegaram ao país. Do total da população atual, 75% são judeus (6,13 milhões), 20,7% são árabes (1,69 milhões) e 4,3% se definiram como “outros”. Atualmente, 14 cidades têm uma população que supera os 100 mil habitantes, sendo que seis delas têm mais de 200 mil moradores. 75% da população judia nasceu em Israel e 50% destes são israelenses de segunda geração. Em 1948 apenas 35% da população era de judeus nascidos no país.
Na última edição da Revista da CIP, falamos sobre como os sefaradím iniciaram um grande fluxo imigratório após a Inquisição. Mas já na Idade Média os ashkenazím passaram a imigrar do centro para o leste da Europa e outras regiões. A partir do ano 1000, inúmeras perseguições se desencadearam na Europa, contra os judeus. A partir do século XI, ocorreram as Cruzadas, a Peste Negra, os Libelos de Sangue e ainda outras acusações, que influenciaram diretamente as comunidades judaicas europeias. Assim, os judeus começaram a imigrar dentro da Europa, fugindo. É por esse motivo que podemos encontrar tantos sobrenomes germânicos entre judeus russos e poloneses, e vários sobrenomes eslavos entre os judeus alemães. Também surgiram sobrenomes germânicos escritos com a grafia polonesa (como Sztajn e Zylber), ou grafados de acordo com a pronúncia do yídishe, quando Kaufman virou Coifman. Alguns ashkenazím também se fixaram na Itália. Por isso há sobrenomes italianos que são tradução direta de sobrenomes germânicos: Tedesco (Deutsche), Montefiore (Rosenberg), entre outros. Com o tempo, praticamente todo o judaísmo mundial estava polarizado entre ashkenazím e sefaradím, que se tornaram os dois maiores troncos judaicos, justamente devido a esse histórico imigratório.
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ENTREVISTA
Ensinar a partir do
EXEMPLO Conheça melhor a rabina Deby Grinberg Wajnberg, que já trabalhou em entidades e projetos judaicos na Argentina, Chile, Israel e Brasil, e é a nova coordenadora geral da Escola Lafer da CIP. POR Andréia Hotz editora da Revista da CIP
Revista da CIP • Como recebeu o convite para assumir a coordenação geral da Escola Lafer da CIP? Rabina Deby • Como meu marido, André, é o sheliach da CIP desde 2010, tenho, de alguma forma, acompanhado as atividades da Juventude e os eventos e atividades da Congregação. Algumas vezes, inclusive, fui convidada por ele e pelos coordenadores de projetos do departamento a conduzir capacitações e workshops sobre educação e judaísmo. Em outras oportunidades, os rabinos Michel e Ruben me chamaram para, em diferentes ocasiões, dar aulas sobre os chaguim, como em Purim e no Ticun de Shavuót. Assim, acabei sendo conhecida pelos associados e frequentadores da CIP, e também conhecendo mais da instituição: sua Juventude, diretoria e rabinos. Então, quando começaram a buscar um profissional para assumir a coordenação do Ensino, o presidente da CIP e os diretores de Culto e da Escola Lafer me convidaram para fazer parte da Família CIP e aceitar o enorme desafio de
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coordenar a área, que oferece, entre seus muitos projetos, atividades para crianças a partir dos quatro anos de idade, estudo e preparação para Bar e Bat-mitsvá, e cursos para jovens e adultos. Fiquei bastante feliz com a proposta e aceitei este grande desafio. RC • Como sua experiência na área educacional pode ajudar a instituição a melhorar ainda mais seus processos e resultados? RD • O fato de ter tido a oportunidade de conviver com diferentes culturas e trabalhar para diferentes instituições me deram uma visão ampla e diversificada, com diversos caminhos e metodologias para a criação de processos educacionais. E também meus estudos rabínicos, que trazem um conteúdo a mais. Acredito fortemente no trabalho em conjunto. Em minha opinião, os melhores resultados são sempre obtidos a partir do trabalho em equipe. É também o tipo de trabalho com o qual me sinto mais confortável. Em grupo, posso contribuir
com meus conhecimentos e experiências e juntá-los às competências dos morim, que já têm uma trajetória relevante dentro da CIP. Juntos, com essas experiências e conhecimentos somados, podemos definir o melhor processo educativo para os nossos talmidim. Para mim, é essa a melhor maneira de obter resultados significativos para os alunos e suas famílias. Outro foco de dedicação é, e continuará sendo, a constante capacitação e aperfeiçoamento da equipe de professores. É fundamental também estarmos próximos aos talmidim, mantermos aberto esse canal de diálogo e questionamento, e refletirmos juntos sobre os diferentes valores e mensagens da nossa tradição. Além disso, como israelense, gostaria muito de colaborar com minha experiência e vivência em Israel para incorporarmos ainda mais a cultura israelense em todas as áreas da Congregação. RC • Quais serão os valores que conduzirão seu trabalho? E por que definiu estes como seus valores-base? RD • Para responder esta pergunta, gostaria de compartilhar o seguinte texto do filósofo moderno Abraham I. Heschel: “Hoje precisamos muito mais do que livros de texto, precisamos de pessoas de texto. Tudo depende da pessoa que se encontra na frente da sala de aula. O professor não é uma fonte automática de conhecimentos que os alunos devem captar. Para guiar os alunos do Egito até a Terra Prometida, o professor precisa ter, ele mesmo, estado lá, no deserto, e entrado na Terra de Israel. Ao parar em frente à sala, o professor deve se perguntar: ‘eu acredito no que eu digo?’. E a resposta deve ser afirmativa. Muito mas do que livros de texto, precisamos de pessoas de texto. A personalidade da morá ou do moré é o texto que o aluno lê, e que nunca vai esquecer.” Meu maior desejo é que, coordenadores e morim nos tornemos uma referência relevante para nossos talmidim. Que eles possam se sentir inspirados e sensibilizados como pessoas e como judeus. Assim como o texto da Torá inspira nossas tradições e valores, nós mesmos devemos nos tornar o texto que inspira nossos alunos, através do que ensinamos em palavras e ações. Talvez em dez ou vinte anos eles não se recordem de tudo o que lhes foi ensinado na Lafer, mas se perceberem que foi uma etapa definitiva na concretização de sua identidade judaica, de seu compromisso com o povo judeu, e de seu modo de vida judaico, e que tudo foi motivado por seu moré ou morá, pelos rabinos e pelos chazanim que os acompanharam em todo o processo, então teremos sido bem sucedidos. Os conteúdos, o saber, são tão importantes quanto a vivên-
A diretora do Ensino, Andrea Kulikovsky, e a rabina Deby
cia, a responsabilidade de descobrir sua identidade como judeu e judia. O que pode ser ainda melhor se for acompanhado por morim que vivem a religião, que são apaixonados pela história e cultura do povo judeu, que sentem o hebraico como a língua sagrada, milenar e, ao mesmo tempo, nova e inspiradora. O valor que guia meus passos é a educação, é sermos não apenas professores de judaísmo, mas sim educadores judeus. RC • O que alunos e pais podem esperar de ter uma rabina como coordenadora do Ensino da Congregação? Como seus conhecimentos religiosos favorecerão o trabalho da área? RD • O maior benefício será que alunos, pais e morim poderão ter uma rabina para acompanhá-los ainda mais de perto, tirar dúvidas e enriquecer suas vivências judaicas. A decisão de me tornar rabina esteve diretamente ligada ao propósito de educar e realizar o Ticun Olam. Decidi educar a partir do judaísmo para que este pudesse tocar a essência dos alunos e da comunidade, e ajudá-los a conhecer uma expressão judaica que permita que questionem, aprendam e criem. Quis fazer com que suas vidas e as daqueles que os rodeiam fossem contagiadas e repletas de coisas boas. Ser rabina e coordenadora do Ensino me dá a oportunidade de aproximar os alunos e suas famílias do judaísmo liberal, além de mostrar a legitimidade de seu caminho e de seus valores. Tanto quanto como fazer parte da vida religiosa e das ações comunitárias e de Ticun Olam promovidas pela Congregação. RC • Quais as suas expectativas para a Lafer no próximo ano? RD • Principalmente continuar no caminho de crescimento e excelência em que a Lafer se encontra. O trabalho do Ensino é realizado com muita paixão, com muito amor. É, talvez, uma das melhores projetos de ensino judaico que já tive a oportunidade de participar. Quero aproximar mais as crianças e jovens de todas as
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propostas oferecidas pela CIP em educação judaica, e atingir cada vez mais pessoas, sempre com ações de muita qualidade. Como educadores temos essa responsabilidade, e como kehilá temos em nossas mãos a continuidade de nossa história e tradição. Para que seja não apenas relatados, mas também vividos de forma vibrante e significativa. Espero que mais crianças participem do Ktanim, que é voltado para crianças de 4 a 10 anos de idade e cujas aulas – lúdicas e divertidas acontecem na CIP ou na residência de cada família. E que mais jovens escolham aprender e refletir sobre seu judaísmo de forma significativa e comprometida com os morim responsáveis pelas aulas de Bar e Bat-mitsvá. Gostaria de poder criar coisas novas e continuar com as propostas para jovens que acabam de se tornar Bar ou Bat-mitsvá, e colaborar com todas as áreas do Ensino, nas aulas, nos projetos e nos sonhos. Quero aperfeiçoar ainda mais o conteúdo de todas as áreas de estudo. Mas talvez minha maior expectativa seja a de que as famílias encontrem satisfação e significado nas atividades que participam junto com seus filhos na Lafer, e que sejam verdadeiros parceiros do que acontece no Ensino e em toda a comunidade. RC • Quais os próximos passos do Ensino? Podemos esperar novidades para o segundo semestre? RD • Sim. Sempre. Para o segundo semestre de 2014, na verdade, pretendo dar continuidade ao excelente trabalho da coordenação anterior. A morá Marli ben Moshe deixou a Lafer com um nível muito alto e uma base igualmente forte, a partir da qual posso começar a criar e recriar. O maravilhoso do ensinar é que nunca há um limite, sempre é possível criar mais, aprender mais, fazer mais. Assim, minha intenção é criar a partir do que já foi feito pela morá Marli. Talvez no próximo semestre tenhamos grandes novidades. Certamente 2015 será repleto delas. Será quando estaremos prontos para desenvolver novas ideias e sonhar e realizar novos sonhos. A Escola Lafer está sempre aberta a sugestões e ideias de todos que queiram participar desta grande família de Ensino, onde somos responsáveis e comprometidos em continuar criando os anéis de nossa corrente milenar.
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Morim da Lafer acompanhados pela coordenadora e pela diretora da área
VALORES JUDAICOS
TEMPO DE CONTINUAR E DE RENOVAR POR Juliana Portenoy Schlesinger pesquisadora de pós-doutorado da USP com apoio da FAPESP na área de língua e literatura hebraica
Em Shavuót, quando comemoramos a entrega da Torá ao povo de Israel, dois dos Dez Mandamentos despertam minha atenção: amar um único Deus e respeitar o pai e a mãe. Abraão foi um grande revolucionário. Ouviu o chamado do Deus único, um chamado interior, e partiu para uma terra nova, longe da casa de seus pais. “Lech lechá”, disse Deus a Abraão, e lá se foi ele em busca do desconhecido, rompendo estruturas e crenças. Acredito que o mandamento “Lo ihie lecha elohim acherim al panai”(Você não deve ter outros deuses além de mim. Êxodo 20:3-6), presente nos Dez Mandamentos, significa, hoje, para mim “Ouça a si mesmo, você é único”. Como se Deus, este chamado divino interno, fosse a voz que nos dá coragem para seguirmos nosso rumo, nossas crenças, confiarmos em nós mesmos, quebrarmos ídolos e mitos - sejam eles ideias, inspirações, aprisionamentos -, e irmos em busca de nós mesmos. Lecha lechá, lechi lechá, vá. O mandamento “Kabed et avicha ve et imecha” (Respeite seu pai e sua mãe. Êxodo 20:12) aparece também nos Dez Mandamentos. Abraão deixou a casa de seus pais ordenado pelo mesmo Deus que o obrigou a respeitar seu pai e sua mãe. Como isto pode se dar? De que maneira é possível pacificar estes dois mandamentos, aparentemente opostos? Ou: de que maneira estes dois mandamentos paradoxais podem conviver? O que significa obedecer sua mãe e seu pai? Qual o papel geracional que Deus dá tanto valor ao ponto de torná-lo uma obrigação? Entendo que se, na tradição judaica, nosso primeiro patriarca rompeu com a tradição de seu pai e de sua mãe, talvez seja exatamente isso que devemos obedecer, ou seja, esta possibilidade de rompimento, de inovação, de descolamento que teve o nosso primeiro pai. Minha mãe foi um grande exemplo de rompimento para mim. Ela me disse: “filha, respeite a si mesma e ao próximo, seja você e ele como e quem forem”. Ou seja, quando a mensagem da sua mãe ou pai induzi-lo ao rompimento, como respeitar os mandamentos de ouvir a si mesmo e de romper com o chamado de seus pais? No caso bíblico, como continuar rompendo a tradição de seus pais quando eles já não são mais idólatras? Uma possibilidade que se abre é pensar que a idolatria permeia a maternidade e paternidade. Não serão todo pai e mãe um pouco idólatras (no desejo de que haja uma continuidade dos seus filhos serem suas cópias fiéis)? A idolatria aqui é a chave para interpretarmos estes dois mandamentos, tão opostos e complementares que são. Respeitar seus pais na sua possibilidade de rompimento e superação de si mesmo. Romper com a tradição dos seus pais é missão estabelecida pela cultura ocidental geral, mas romper com a tradição idólatra dos seus pais é missão estabelecida pela nossa crença judaica particular. É somente na leitura crítica da nossa tradição, no ato de romper com a leitura idólatra dos nossos pais, sejam eles quem forem, que encontraremos a possibilidade de conviveremos numa eterna dialética, num sem fim de dúvidas e questões, de perguntas e respostas, na busca do que há de particular em nós mesmos e do que há de alguém que nos transcende em nós mesmos, que manteremos as leis da Torá vivas em nosso dia-a-dia. E que estas leis estejam sempre abertas a divagações, anulações ou reinterpretações.
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JUDAíSMO
Pergunte ao
RaBino PELO Depto. de Culto da Congregação
PERGUNTA • Rabino, eu sei que o judaísmo não busca converter pessoas, mas isso não é um pensamento exclusivista? O judaísmo se acha superior a outras religiões? RESPOSTA • Estas foram impressões errôneas desenvolvidas ao longo do tempo, a partir da distorção da ideia de “povo escolhido”, quando grupos não judaicos entenderam que o judaísmo acreditava ser a única religião verdadeira e o único caminho espiritual válido. Mas a visão judaica destes conceitos é diferente. Para se ter ideia, há 1800 anos nossos rabinos afirmam que não importa o caminho religioso de uma pessoa, desde que certos valores estejam presentes em sua vida. O conceito de tsadikêi haumót – justos entre os povos – entende que qualquer pessoa que siga uma vida de justiça e retidão, de valores espirituais e morais elevados, seguramente, chegará até Deus. Além disso, também existem as “Leis de Noé”, sete leis básicas da Torá para toda a humanidade, não sendo assim necessário tornar-se judeu para se realizar a vontade divina. Por fim, a atitude judaica se apoia na noção de que não se pode haver coerção em matérias de fé. Não se deve tentar convencer uma pessoa a mudar seu caminho religioso, pois isso seria um ato de violência espiritual.
Produtos
judaicos
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(pergunta enviada em 5 de maio de 2013)
Tire suas dúvidas. Entre em contato através do site da CIP (www.cip.org.br/pergunteaorabino) ou do email judaismo@cip.org.br. 46
Detalhe da atará de um dos talitót disponíveis
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