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CITOTE
março 2016
20M€
É O LUCRO DO MINISTÉRIO COM
A FALTA DE OFICIAIS DE JUSTIÇA
CONGRESSO DISCUTE REFORMA JUDICIÁRIA
LICENCIATURA PARA ACESSO À CARREIRA REVISÃO DO ESTATUTO
CONCLUSÕES
SINDICATO DOS FUNCIONÁRIOS JUDICIAIS
CITOTE 04
Reforma Problema Tribunais velhos e sem funcionários,
07
Riscos Psicossociais Informar e prevenir
09
Ação sindical internacional SFJ na EU
12
Regreso da Revista A Reforma da Justiça. Qual?
CONGRESSO SFJ 14
Arraiolos, 2015 O papel dos FJ na reforma
17
Fernando Jorge enquadra o VII Congresso Nacional Luta sindical e carreira, hoje
23
Conclusões do Congresso Secretário-geral enquadra os três eixos de ação do Sindicato
CONCLUSÕES 26
Organização e ação sindical Linhas estratégicas do SFJ
27
Organização Judiciária Denunciar erros do modelo
29
Estatuto Socioprofissional Fazer aprovar a lei
20 M€ DE LUCRO 30
Ministério lucrou com a falta de funcionários judiciais Conheça os números por Comarca
36
Faltam recursos humanos Tribunais precisam de mais OJ
40
Reformar os reformadores Plágios, negócios e o abandono da interioridade
2 • CITOTE • www.sfj.pt
V
ivemos nos últimos tempos um contexto político e social que podemos
considerar inédito na nossa democracia. Sem risco de exagero, diremos que se trata da mais conturbada situação económica e social, após a revolução de 25 de Abril. Tivemos nos últimos anos um ataque aos serviços do Estado e aos respetivos funcionários públicos de que não há paralelo nas últimas quatro décadas. Houve, mesmo uma estigmatização dos funcionários públicos, apontando-os como parasitas da sociedade. Como se tivessem sido os funcionários públicos que durante anos ocuparam as cadeiras do poder executivo e legislativo; que atribuíram a si próprios e aos seus amigos, vencimentos exagerados e outras mordomias, bem como reformas, em muitos casos, iguais ou mesmo superiores às dos países mais ricos do mundo. O certo é que, de uma maneira indigna mas que se mostrou tremendamente eficaz, o governo atacou, uma a uma, todas as classes profissionais do Estado, retirando-lhes direitos e cortando nos vencimentos. E claro, nós sofremos também todas essas “agressões”! Foi pois neste contexto extremamente negativo e desfavorável que tivemos de desenvolver a nossa ação sindical. Foram vários os prejuízos e penalizações que a nossa carreira sofreu, mas também não esquecemos o que foi conseguido durante este período “negro”. A manutenção do direito ao transporte; pagamento das substituições; manutenção das 35 horas; conversão em definitivas das nomeações provisórias, com efeitos retroativos; realização de curso para promoção a escrivães e técnicos principais; admissão de 600 novos funcionários; reconhecimento à aposentação em 2013,
Edição e Propriedade
ao abrigo do regime transitório, entre outras questões. Tudo isto só possível através
Sindicato dos Funcionários Judiciais, geral@sfj.pt
de uma efetiva ação sindical, quer pela via da interpelação e negociação quer pela via jurídica. Obviamente que não estamos satisfeitos, mas temos a consciência do que fizemos e como fizemos. Mas claro que as críticas à atividade sindical e ao próprio sin-
Diretor
dicato existiram no passado, existem no presente e de certeza que existirão no futuro.
António Marçal, amarcal@sfj.pt Secretário geral do SFJ
Até porque criticar é sempre muito fácil. Mais difícil é assumir responsabilidades, tomar decisões, ou mesmo apresentar alternativas. Aprovado que está o Orçamento de Estado para este ano, o Ministério da Justiça sofre novo corte no seu orçamento, o que vai condicionar a desejável e necessária melhoria de funcionamento do sistema, anunciada pela nova Ministra da Justiça. Não se entende como será possível alargar e melhorar a resposta do sistema judicial sem investimento. Como é possível reaproximar a justiça dos cidadãos, reabrindo alguns tribunais, sem lá colocar funcionários e magistrados? Uma das medidas mais urgentes e incontornável
Coordenação de conteúdo Maria da Graça Polaco, imprensa@sfj.pt
Paginação MGP, gracapolaco@gmail.com
é a admissão de mais funcionários. Todos reconhecem essa necessidade. Todavia, convém relembrar que atualmente não existem vagas nos lugares de ingresso! O facto
Imagens
de se terem congelado as promoções “cristalizou” milhares de oficiais de justiça nas
SFJ, Arquivo Capa: © Paul Rommer Todos os direitos reservados.
categorias de ingresso. Assim é mais que evidente a necessidade de retomar essas promoções. Mas não só por isso. Essas promoções constituem um ato de justiça para quem está há mais de 15 anos estagnado na carreira. E ninguém trabalha com motivação quando é desconsiderado. Esta é a grande prioridade. Foi isso que, no devido tempo, transmitimos aos responsáveis do Ministério da Justiça e também aos grupos parlamentares da Assembleia da República. E também exigimos que os lugares de escrivão e técnico principal sejam agora colocados a concurso e preenchidos por quem concluiu com aproveitamento o recente curso. O que até nem tem implicações remu-
Sindicato dos Funcionários Judiciais Av. António Augusto de Aguiar, 56 4º Esq. 1050-017 Lisboa PT
neratórias! Naturalmente que a não concretização destas questões terá uma resposta sindical adequada. Fernando Jorge Presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais
WWW.SFJ.PT CITOTE • www.sfj.pt • 3
TRIBUNAIS ESTÃO VELHOS E SEM CONDIÇÕES. FALTAM MUITOS FUNCIONÁRIOS JUDICIAIS.
REFORMA PROBLEMA “A reforma mais importante dos últimos 100 anos!” Assim se anunciava, há pouco mais de um ano, a reforma do novo mapa judiciário. E o que mudou?
Várias críticas têm vindo a considerar que a reforma operada pelo anterior Governo não cumpriu nenhum dos seus objetivos. “Fundamentalmente, esta reforma é feita em nome da celeridade, da especialização e da proximidade, sendo que agravou a celeridade, aumentou as pendências e distanciou a justiça dos cidadãos”, disse Eldad Manuel Neto, vice-presidente da Ordem dos Advogados (OA), em outubro de 2015, em Coimbra. Problemas com as instalações e a manifesta falta de funcionários só vieram agravar os problemas nos tribunais. Perante a maioria dos operadores judiciários, esta reforma pouco ou nada inovou nos novos tribunais e serviços, para além do novo modelo de gestão. Mais processos nuns, menos noutros. Mais especialidade, instalações mais desadequadas e poucos funcionários.
4 • CITOTE • www.sfj.pt
(A reforma) já agravou a celeridade, aumentou as pendências e distanciou a justiça dos cidadãos” Eldad M. Neto, OA
Para além do modelo de gestão, as
O pior é que, já no tribunal, o utente
Decreto-Lei n.º 49/2014 de 27 de março,
mudanças visíveis na justiça resultantes
ainda precisa percorrer várias secções
que Regulamenta a Lei da Organização
desta reforma foram a deslocalização de
e de encontrar a pessoa certa que o irá
do Sistema Judiciário
processos e de funcionários bem como
atender, em função da informação que
a alteração na designação dos novos
procura ou da convocatória que lhe foi
tribunais (por exemplo, na Comarca do
enviada.
Porto: Instância Central Criminal de Vila
Isto porque o modelo de organização
instância
do Conde, que funciona no Palácio da
de secretaria não mudou. Continuam
1 - Em cada comarca existe uma única
Justiça - R. Augusto Gomes, 4450 - 053
a existir tantas seções centrais quan-
secretaria que assegura o expediente
MATOSINHOS.)
tas as competências judiciais, e muitas
das respetivas secções e dos tribunais
Aliás, terão sido estas as alterações que
vezes, estas secções até estão “escondi-
de competência territorial alargada ali
mais impacto tiveram junto do cidadão
das”, tornando-se difícil a sua acessibili-
instalados, a qual dispõe de acesso ao
comum.
dade. Ainda não compreendi por que até
sistema informático da comarca.
Identificar o tribunal ou a secretaria à
agora, em função as alterações propostas
2 - Em cada um dos municípios onde se
qual se deve dirigir o cidadão tornou-se
pela reforma, não foi criada, em cada
mostrem instaladas secções de instân-
complicado apesar de, em alguns locais,
município, uma secretaria central única
cia central, secções de instância local,
se encontrar o mesmo serviço, a mesma
e preferencialmente de acesso fácil ou
secções de proximidade ou tribunais de
secretaria, no mesmo tribunal de antes.
imediato para qualquer utente.
competência territorial alargada, existe
Artigo 39.º Secretarias dos tribunais de primeira
CITOTE • www.sfj.pt • 5
um núcleo que assegura as funções da
sos, desde que observados as limitações
buição do expediente entrado, gestão
secretaria.
previstas na lei para a publicidade do
da informação e estatística, arquivo,
3 - As secretarias compreendem serviços
processo e segredo de justiça.
contabilidade e liquidação, objetos, etc.
judiciais, serviços do Ministério Público e serviços administrativos, com funções de
Não sendo esta ideia peregrina, creio Duas componentes de trabalho
que este modelo apresenta reconheci-
centralização.
Tal como prevê o n.º 2 e 3, existirá uma
das vantagens e melhoria na qualidade
4 - As secretarias organizam-se em uni-
secção central única, que compreenda
dos serviços, dando a possibilidade de
dades centrais, que podem ser comuns
serviços judiciais, serviços do ministério
concentração de recursos, quer humanos
aos serviços judiciais e do Ministério
público e serviços administrativos.
quer materiais, que até agora são repli-
Público, e unidades de processos e
Esta secção poderia dividir-se em duas
cados em cada uma das seções centrais
podem, ainda, compreender, entre outras,
componentes
existentes, com tarefas idênticas.
unidades de serviço externo, unidades de
1. O front office, que “asseguraria a
Este modelo de organização da secretaria
arquivo e unidades para a tramitação do
receção de papéis, peças processuais,
- que não é uma ideia nova - apresenta
processo de execução.
documentos e requerimentos destinados
reconhecidas vantagens na melhoria da
5 - Quando a natureza e o volume proces-
a processos e prestaria informações de
qualidade dos serviços e que, se for
sual o aconselharem, pode existir uma
carácter geral ou de carácter processual,
implementada com os meios e ferramen-
única unidade central e de processos.
em razão do especial interesse nos atos
tas adequadas, só irá dignificar os tribu-
6 - Independentemente da sua localiza-
ou processos, desde que observados: as
nais, com provável impacto na celeridade
ção geográfica na comarca, os núcleos da
limitações previstas na lei para a publici-
processual, no desempenho e produtivi-
secretaria asseguram também a receção
dade do processo e o segredo de justiça”.
dade dos tribunais.
de papéis, peças processuais, documentos
Este serviço, funcionando como um ver-
As secções de processos ficariam assim
e requerimentos destinados a processos
dadeiro balcão de atendimento, situ-
desoneradas ou pelo menos reduzidas
de outros núcleos da mesma comarca,
ar-se-ia preferencialmente à entrada
no serviço de atendimento público, per-
não situados no mesmo município, e
dos edifícios, evitando a dispersão dos
mitindo-lhes uma maior concentração
prestam informações de carácter geral
utentes pelo edifício e reduzindo ou limi-
na prática dos atos próprios à tramitação
ou de carácter processual, em razão do
tando o acesso às secções de processos.
processual.
especial interesse nos atos ou proces-
2. O back office que trataria da distri-
6 • CITOTE • www.sfj.pt
José Manuel Lapa
RISCOS PSICOSSOCIAIS A Segurança e Saúde no trabalho do Oficial de Justiça
E
xistem várias
definições
É URGENTE INFORMAR SOBRE OS RISCOS E PREVENIR OCORRÊNCIAS
de personalidade” (OMS, 1981: 4).
das que mais sofre este tipo de riscos.
para “Riscos Psicossociais”.
As mudanças significativas que ocorre-
Veja-se a título de exemplo a implemen-
Optamos pela definição da
ram no mundo do trabalho, ao longo das
tação da nova organização Judiciária, no
Organização Mundial de
últimas décadas, resultaram em riscos
âmbito da qual foram criadas as 23 novas
Saúde (OMS): “os fatores psicossociais
emergentes no campo da segurança e
Comarcas (Lei nº 62/2013, de 26 de
no trabalho podem ser definidos como
saúde no trabalho.
Agosto - Lei da Organização do Sistema
os fatores que influenciando a saúde
Essas mudanças levaram
– além de
Judiciário – LOSJ) e à luz da regulamen-
e o bem-estar do indivíduo e do grupo
riscos físicos, químicos e biológicos – a
tação prevista no Decreto-Lei nº 49/2014
derivam da psicologia do indivíduo e da
riscos psicossociais emergentes.
de 27 de Março.
estrutura da função da organização do
Neste âmbito, em Portugal, não existe
A forma desorganizada e atribulada como
trabalho. Incluem aspetos sociais, tais
ainda qualquer estudo divulgado relati-
ocorreu, exigiu da parte de todos os
como as formas de interação no seio
vamente à profissão de Oficial de Justiça
Oficiais de Justiça um esforço quase
dos grupos, aspetos culturais, tais como
(OJ).
sobre-humano em termos de gestão de
os métodos tradicionais de resolução
A função de Oficial de Justiça, pelo
Stress. Ocorreram obras em edifícios nos
de conflitos, e aspetos psicológicos, tais
seu conteúdo funcional e pela pressão
quais se trabalhava e atendia público ao
como as atitudes, as crenças e os traços
mediática, é, em nosso entender, umas
mesmo tempo. Pôde observar-se uma
CITOTE • www.sfj.pt • 7
parede a ser serrada a cerca de quarenta
riscos ou combater situações de perigo.
centímetros das costas do funcionário
Tão importante como implementar medi-
enquanto este tratava de expedientes
das de prevenção é informar as pessoas
urgentes de arguidos detidos e de inter-
de como identificar os riscos e como agir
namentos compulsivos.
perante o perigo pois se não existir esse
Exemplos de situações que conduzem a
conhecimento, de nada valerá colocar os
riscos psicossociais nesta profissão são
meios à disposição.
as próprias salas de audiências. Nelas o funcionário passa um elevado número de
Sabemos que estão a ser dados os primei-
horas com julgamentos consecutivos, há
ros passos nesse sentido, mas vai ser um
a falta de um período obrigatório de des-
longo caminho que só se conseguirá
canso (o atual estatuto próprio do OJ não
percorrer com muita resiliência e com a
permite ausências enquanto decorre um
colaboração de todos, sem exceção, que
determinado ato). Este facto faz com que
intervêm em cada processo. Desde o fun-
os ritmos de trabalho sejam inadequa-
cionário, que deve reportar as situações
dos, com largas exigências ao nível dos
que causam desconforto e alerta para
horários de trabalho, já para não mencio-
as dificuldades diárias, até aos órgãos de
nar a monotonia e a repetitividade das
gestão de cada instituição, que devem
tarefas em sala.
promover as políticas que conduzam à
É urgente que exista informação sobre a
melhoria das condições de trabalho de
temática Segurança e Saúde no Trabalho
todos nós.
bem como que se equipem as salas de audiência de meios para poder prevenir
8 • CITOTE • www.sfj.pt
João Lopes
Nas salas de audiência o funcionário passa um elevado número de horas com julgamentos consecutivos, sem o período obrigatório de descanso.”
AÇÃO SINDICAL INTERNACIONAL DESAFIOS SUPRANACIONAIS
V
ivemos numa época de globalização, onde os
namento interno, um conjunto de diretivas e diretrizes que têm
acontecimentos do outro lado do globo têm
que ser acatadas, ficando assim, aqueles, reféns e condiciona-
quase imediatamente efeito nas nossas vidas,
dos na sua ação.
condicionando-as e refundando os pressupostos
A ação sindical que muitas vezes se faz internamente junto dos
que admitíamos não serem possíveis de alterar.
responsáveis políticos, esbarra em condicionamentos que não
Vivemos em crises permanentes e os estados não escapam a
permitem qualquer decisão e resolução, por muita que seja
esta premissa, sentindo-se incapazes e impotentes para lidar
a atividade reivindicativa e a justiça dos protestos.
com os desafios que lhes são colocados. Os mercados emanci-
Ora, se os governos transferem mais competências para o nível
param-se da tutela do poder político e isto traduziu-se afinal,
supranacional, passam a decidir esses assuntos no Conselho de
num rude golpe no poder exercido pelos estados.
Ministros. E decidem sem o jugo parlamentar. Decidem unila-
No passado, eram as decisões políticas que condicionavam o
teralmente.
comportamento dos mercados. Hoje, as decisões dos poderosos
A sua margem de manobra nunca foi tão ampla. Mais grave é o
mercados são um garrote que influencia a decisão política de
que daí resulta, a desproteção dos cidadãos. Sem darem conta,
cada país.
estão à mercê das decisões dos respetivos governos, sem que o
Desde logo, com a transferência do seus poderes nacionais
órgão de soberania que os representa, possa passar em revista
para outras instâncias supranacionais, que ditam para o orde-
as opções de governação. Neste sentido, e no que concerne à
CITOTE • www.sfj.pt • 9
atuação sindical há também que pensar
vamente aprovada e que é de extrema
numa estratégia sindical a nível inter-
importância para os profissionais de
nacional.
polícia.
Quando a intervenção sindical fica
Outro exemplo, o Sindicato dos Guardas
muitas vezes anulada nos canais do
Prisionais, dada a relevância que esta
poder político, deve dar-se início a
matéria tem para a estratégia sindi-
outras, que permitam atuar noutros
cal, tem mantido negociações e muito
planos, por forma a interagir com out-
brevemente vai aderir à EPSU (European
ros atores que exercem a sua pressão
Federation of Public Service Unions).
e atuação junto dos agentes que são
O STI (Sindicato dos Trabalhadores dos
detentores dos poderes supranacio-
Impostos) está filiado na UFE (União de
nais, designadamente, aqueles que
Sindicatos de Impostos e Alfândegas da
atuam junto da Comissão Europeia e
Europa).
do Conselho Europeu, como são as ONG
Isto para realçar que este debate tem
(Organizações Não Governamentais).
que ser feito e o SFJ deve e tem de
Desenganem-se aqueles que julgam que
aproveitar as oportunidades que estão
é uma pura perda de tempo e que esta
ao seu alcance, como o fazem os magis-
estratégia “só serve para alguns anda-
trados judiciais, do ministério público e
rem a viajar e a passear” (sic).
advogados.
Pelo contrário, se estivermos à altura da
Neste sentido e resultante da filiação
responsabilidade que nos é delegada,
na European Union of Rechtspfleger
temos aqui um papel fundamental e
(EUR), que se herdou da extinta AOJ
crucial: o de fazer chegar a estas instân-
(Associação de Oficiais de Justiça), o
cias os nossas reivindicações, preocupa-
SFJ tem aceite os convites que lhe são
ções e anseios.
endereçados e participado como mem-
O SFJ tem participado como membro de pleno direito na European Union of Rechtspfleger (EUR).
bro de pleno direito na EUR, fundada em Temos assim, a oportunidade de chamar
1967.
atenção de organismos supranacionais que fazem parte e têm assento
A EUR, que congrega as associações sin-
nos órgãos de decisão da Comunidade
dicais mais representativas dos oficiais
Europeia e do Conselho da Europa, o
de justiça em toda a Europa, é uma ONG
que acontece com muitas estruturas
com o estatuto de membro participante
sindicais a nível nacional, e que condi-
no Conselho da Europa e, desde 2003,
cionam o atuação dos poderes execu-
organização com estatuto de observador
tivos nacionais, obrigando-os a repor
permanente com Comissão Europeia
muitas vezes a legalidade e anulando as
para a Eficiência da Justiça (CEPEJ).
suas derivas ideológicas.
A relevância incontornável da partici-
Vejamos, a título de exemplo, o caso do
pação do SFJ, juntamente com outras
Sindicato dos Profissionais de Polícia.
representações sindicais europeias
A filiação deste sindicato na CESP
(Alemanha, Áustria, França, Bélgica, Itália,
(Confederação Europeia de Sindicatos
Suécia, Dinamarca, Noruega, Espanha,
de Polícia) - uma ONG com sede em
Hungria, Eslovénia) enquanto mem-
Bruxelas e que tem assento no Conselho
bros da EUR, é feita numa situação de
da Europa - pressionou esta organização
paridade com as demais organizações
supranacional para que interviesse ao
associadas, destacando-se aqui: Conseil
nível interno do nosso país, de forma
de Barreaux de L´Uninion Européenne;
que a lei sindical policial fosse efeti-
Association Européenne des Magistrats;
10 • CITOTE • www.sfj.pt
Temos a oportunidade de chamar atenção de organismos supranacionais que fazem parte e têm assento nos órgãos de decisão da Europa.”
Realce-se também a participação do SFJ na elaboração do “White Book”, com o objetivo de lançar as bases de uma visão da profissão no futuro e da uniformização, ao nível europeu, das funções e competências dos oficiais de justiça.” Magistrats Européenne pour la
didaturas para formação em competên-
que a luta dos trabalhadores europeus,
Democratie et les Libertes; Federation
cias linguísticas dos oficiais de justiça.
também é a luta dos trabalhadores
Européenne de Juges Administratifs;
Para além da vertente europeia, não
portugueses por melhores direitos e
Union Européenne de Greffiers de
devemos também descorar a importân-
condições de trabalho.
Justice, entre outros.
cia do relacionamento e do intercâmbio
EPSU é parceiro social a nível da UE que
A nossa participação neste fórum foi
com os PALOP, onde temos tido uma
representa os sindicatos para Comités
muito importante para a apresentação
participação muito ativa, através de ofi-
Sectoriais do Diálogo Social (eletrici-
de um relatório sobre o funcionamento
ciais de justiça que se deslocam a estes
dade, gás, cuidados de saúde/hospitais,
da justiça em Portugal, onde foram
países para várias iniciativas formativas.
autoridades locais e regionais, administração central e europeu, educação).
apontadas as deficiências que emergiram com a entrada em vigor do novo
Em 2014, a convite da Fundação
Inicialmente, poder-se-á pensar que uma
mapa judiciário.
Friedrich Ebert, participei a título pesso-
federação europeia estará muito dis-
al, num grupo de trabalho que se deslo-
tante dos problemas das pessoas, mas
Realce-se também a participação ativa
cou a Bruxelas, no sentido de esta orga-
temos de reconhecer que é uma questão
do SFJ na elaboração do “White Book”,
nização se reunir com os vários respon-
vital para os dias que correm e para a
com o objetivo de lançar as bases de
sáveis das estruturas sindicais europeias,
nossa reivindicação de classe existirem
uma visão da profissão no futuro, bem
entre as quais com EPSU (European
organizações sindicais ao nível europeu
como da uniformização ao nível euro-
Federation of Public Service Unions).
e mundial que possam dar resposta aos
peu dos aspetos essenciais das funções
Esta ONG é a Federação Europeia de
nossos problemas.
e competências desempenhadas pelos
Sindicatos dos Serviços Públicos.
oficiais de justiça, bem como outros
Estou convicto de que o movimento
aspetos estatuários relevantes. Este
É a maior federação Europeia de
sindical só tem futuro com um maior
documento já aprovado em reunião de
Sindicatos e integra 8 milhões de tra-
esforço de coordenação internacional,
vice-presidentes vai ser brevemente
balhadores do serviço público, de mais
para que os problemas possam ser mais
publicado pela EUR.
de 250 sindicatos. Organiza e defende
facilmente resolvidos, junto das instân-
Recentemente e a convite da DG de
os trabalhadores nos setores da energia,
cias internacionais.
Justiça da Comissão Europeia, o SFJ, bem
água e resíduos, saúde, serviços sociais e
Para finalizar, e se pretendemos mel-
como membros do COJ e da DGAJ, esteve
administração local e central do estado,
hores condições nos locais de trabalho,
representado pelo secretário-geral, no
em todos os países europeus.
defendemos um estatuto que reconheça
âmbito da uma conferência “European
Foi uma reunião muito importante
a especificidade das nossas funções,
Cooperation on Judicial Training for
e na qual se destacou a missão e os
uma remuneração ajustada ao nosso
Court Staff and Bailifs”, onde se salien-
objetivos desta Federação. Penso que
desempenho, não podemos descorar
tou a importância da formação técnica e
aqui também temos uma oportunidade
esta janela de oportunidades.
foi equacionada a apresentação de can-
para estarmos representados, uma vez
Francisco Medeiros
CITOTE • www.sfj.pt • 11
REGRESSO DA REVISTA AFINAL O CITOTE NÃO FOI ENTERRADO!
E
Reforma na Justiça! Qual? “Uma que não mexa nos poderes corporativistas de Todos e cada um dos Operadores Judiciários”.
xistem opiniões, discutíveis ou nem sequer. Pode
não, estão previstos como um inovador auxílio para a eficiência
ser que estejamos perante um novo ciclo deste
e eficácia da Justiça; “a priori” pressupõem-se que toda a ajuda
propugnáculo opinativo da história do Sindicato
é bem-vinda. Alguém ouviu pugnar pelo preenchimento dos
dos Funcionários Judiciais. Sugestões válidas não
aludidos??!!
têm faltado! Haja vontade efectiva de Todos os Associados!
A “reforma do judiciário” lembra aquela construção em que se
Volvido mais de um ano de
descura condenatoriamente
implementação da “Reforma
da importância determinante
do Judiciário”, à excepção dos
dos alicerces.
estudos encomendados e
Obstinadamente, consagra-
de quem determinava o seu
se uma concepção de con-
“pagamento”, todos recon-
centração e especialização!
hecem o malogro. Inclusive,
Chavões aos quais subjaz
caiu-se no logro.
a corrente economicista de
Agora o insurgimento, com
redução de custos!
refutável legitimidade, cla-
Esses, bem vista a coisa,
mando
“inconstituciona-
recaíram sobre os cidadãos
lidades”! Legítimo é todos
e, em primeira linha, aos
terem um preço! Houve
lugares de chefia previstos
quem o estabelecesse e acei-
na carreira dos Oficiais de
tasse e daí, só restar uma atitude, assumi-lo, por inteiro!
Justiça. Secretários, Técnicos de Justiça e Escrivães. Só os primei-
Com piada ou sem ela, unanimemente, desde que me lembro, se
ros foram mais de dois terços!
defende uma reforma na Justiça! Qual? “Uma que não mexa nos
Promoções, nem vê-las nesta corporação! Não nos esqueçamos
poderes corporativistas de Todos e cada um dos - na sua medida
da nossa preponderância e façamo-la afirmar-se, de cabeça
- Operadores Judiciários”. Sem excepção mas com excepções!
erguida! As “sapatas” sustentadoras assentariam, necessaria-
Todavia, Uns e Outros, juntos, por conservadorismo atávico, con-
mente, em “questões” de recursos humanos, físicos, tecnológicos.
tinuamente e intrinsecamente, resistentes a qualquer profícua
Nenhuma delas se mostrou assegurada! Escreveu-se a história,
mudança! À excepção da “mudança pecuniária”. O previsível
triste. Disse alguém, com propriedade, “Alguns políticos são
comando!
assim: estão tão empenhados em lutar por um lugar na história
Somente um exemplo, os gabinetes de assessoria. Goste-se ou
que, nas suas pequenas vaidades, se esquecem de ser garantes
12 • CITOTE • www.sfj.pt
de qualidade da coisa pública!”
Congresso Nacional do SFJ”. Basta atentar-se nas suas con-
Nos recursos humanos, para além do número, sobressaiu a não
clusões mas com legítima ambição!
aprovação prévia dos Estatutos Profissionais! Sem tais diplomas,
Soube-se que o SFJ manifestou a sua solidariedade para
é caso para lembrar um Amigo que diz “ninguém leva isto a
com o Sr. Presidente do SMMP na “polémica” das declarações
sério!”. A sério!
públicas. Aceito numa perspectiva sindical, embora julgue que
Novo Governo, nova Ministra, novo Director-Geral. Novas
a instauração de um processo disciplinar não ser “conditio sine
Sensibilidades? Imprescindíveis Promoções? Novo Estatuto?
qua non” de uma sanção e porque, na minha opinião, o teor das
Justo Reconhecimento? Só o decurso do tempo permitirá uma
afirmações tecidas ter sido, no mínimo, incauto!
aferição intelectualmente honesta. Contudo, o orçamento indicia
Muito aprendi com Colegas que recentemente se aposentaram!
argumentos de limitação financeira.
Bem hajam! Outros, muitos, aguardam a sua vez! A CGA tem
O SFJ, na reunião tida com a Sra. Ministra, demonstrou “matemati-
demonstrado uma atitude deplorável! O SFJ, por sua vez, uma
camente” que o argumento financeiro não colhe! Imagine-se,
postura louvável!
agradavelmente, que a própria Sra. Ministra chegou a invocar, em
Cerca de 600 novos Oficiais de Justiça iniciaram-se na carreira!
sessão solene pública de “esclarecimentos”, tal exercício aritmé-
Não serei, por certo, o único a sentir uma renovada esperança! A
tico! No mínimo, concludente!
vida de Oficial de Justiça não é fácil mas a patente constatação
Estranho (ou não) se mostram as dissonantes percepções das
de uma nova geração, bem preparada e positivamente ávida de
duas associações representativas da classe. Duas hipóteses
demonstrar “serviço, seguramente e em sinergia com o “know
se aventam, ou a Sra. Ministra se mostrou naturalmente mais
how” existente, fará emergir potencialmente um paradigma
“confidente e interessada institucionalmente” com o SFJ ou se
indubitavelmente mais habilitado para alcançar os desideratos
opta, em alternativa sindical, por um discurso interpretativo pes-
a que nos propomos!
simista mas estrategicamente comodista e, quiçá, oportuno(ista),
Aos novos Colegas, “willkommen” e transmitir-lhes que, para
conquanto, quem coloca uma fasquia baixa nos seus horizontes
além de outras óbvias virtudes, o “Citote” permite, nem que mais
tudo o que possa advir pela positiva será fruto da sua propalada
não seja, livremente escrever sob a égide do “anterior” acordo
acção ou, ao invés, o negativo corresponderá à sua “pseudo-
ortográfico. Sempre que permissível, faço-o convictamente!
responsabilidade/perspicácia” sindical! Ardis habituais, tão só! Do famigerado “novo estatuto” muito e bem se debateu no “VII
Rui Octacílio
“Alguns políticos são assim: estão tão empenhados em lutar por um lugar na história que, nas suas pequenas vaidades, se esquecem de ser garantes de qualidade da coisa pública!”
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Os Oficiais de Justiça estão disponíveis para assumir outras competências funcionais, precedidas de novas exigências ao nível das qualificações de ingresso e de acesso às posições de chefia.” Fernando Jorge
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CONGRESSO NACIONAL SFJ ARRAIOLOS 27, 28 DE NOVEMBRO “Reforma judiciária. Que papel para os oficiais de justiça? O Congresso Nacional dos Funcionários Judiciais realizou-se a 27 e 28 de novebro, em Arraiolos. O papel dos funcionários judiciais perante a reforma da Justiça foi o tema central, tendo reunido cerca de três centenas de delegados eleitos em todos os tribunais do país. A sessão de abertura contou com intervenções dos convidados, que representaram sindicatos de outras profissões ligadas à Justiça, bem como das ordens profissionais. A mesa do congresso foi presidida por Rui Viana que dirigiu os trabalhos ao longo dos dois dias. Durante a definição da estratégia político sindical foram apresentadas e debatidas as moções e propostas admitidas. No último dia, foram eleitos dez membros para o Conselho Nacional, tendo sido apresentadas a eleição duas listas. No final dos trabalhos, foi elaborado e aprovado um documento com as conclusões do congresso que prevê alterações em três eixos de atuação: Organização e Ação Sindical, Organização Judiciária e Estatuto Socioprofissional. A Secretária de Estado Adjunta e da Justiça, representantes do PSD e da CDU fizeram parte do painel de encerramento, juntamente com o presidente do SFJ, que enalteceu a participação empenhada de todos no órgão máximo do sindicato.
CITOTE • www.sfj.pt • 15
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CONGRESSO
ARRAIOLOS, 2015 “REFORMA JUDICIÁRIA: QUE PAPEL PARA OS OFICIAIS DE JUSTIÇA?” FERNANDO JORGE ABRIU O DEBATE
R
ealiza-se este nosso VII Congresso num contexto politico e social que podemos considerar de inédito na nossa democracia. Com a justificação da necessidade de combater
essa denominada crise social e económica que se vive na Europa e obviamente também em Portugal, tivemos nos últimos anos um ataque do poder politico aos serviços do Estado e objectivamente aos respectivos funcionários públicos, de que não há paralelo nos últimos 40 anos. Assim, todos os funcionários públicos foram nos últimos anos confrontados com cortes e mais cortes, limitação ou mesmo retirada de direitos, imposições insuportáveis e em muitos casos o despedimento. Tudo isso sempre justificado pela necessidade de controlo da Despesa Pública. A denominada “consolidação orçamental” têm sido usada para reconfigurar a concepção de Estado, privatizando e desqualificando serviços, com os evidentes prejuízos para o cidadão Como se a única forma de controlar o famigerado deficit, fosse à custa dos funcionários públicos. Houve, mesmo uma estigmatização dos funcionários públicos, apontando-os como parasitas da sociedade. E assim, obviamente, colocá-los sob a desconfiança critica dos outros cidadãos. Ou seja dividindo a nossa sociedade em privilegiados – os funcionários públicos - e as vítimas - os outros. Como se fossem os funcionários públicos que durante anos ocuparam as cadeiras do poder executivo e legislativo; que atribuíram a si próprios e aos seus amigos, vencimentos exagerados e outras mordomias, bem como reformas escandalosas, em muitos casos, iguais ou mesmo superiores às dos países
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O certo é que de uma maneira indigna,
instalações e faltava um sistema infor-
mas que se mostrou tremendamente
mático fiável.
eficaz, o governo (PSD/CDS-PP) atacou,
Era reconhecida por quase todos os sec-
uma a uma, todas as classes profission-
tores a necessidade de intervir, alterar
ais do estado, retirando-lhes alguns dos
procedimentos, práticas, e claro, reformar
poucos e justos benefícios que tinham.
a organização judiciária do País.
E, claro, os funcionários judiciais não
Assim, com o sentimento de cooperação
foram excepção neste inédito ataque
e vontade de melhoria, todos deram o
aos direitos dos funcionários públicos
seu contributo e apresentaram as suas
Quem, há uns anos acreditaria que um
propostas e soluções.
Governo nos retiraria os subsídios – de
E se é verdade que numa primeira
férias e natal -, diminuía os vencimentos,
fase foi possível estabelecer pontos de
aumentava a carga fiscal, diminuía os
acordo, consensos em algumas matérias
dias de férias, retiraria feriados, congela-
– e para isso muito contribuiu na altura
va progressões e promoções?
a acção e a atitude de diálogo perma-
É neste improvável e imprevisível mas
nente e competente intervenção do Dr.
real contexto politico, social e económi-
João Miguel Barros a quem faço a justiça
co, de enorme desmotivação e natural-
desse reconhecimento, - a verdade é que
mente também de indignação que foi
com a sua saída e de outros elementos
implementada em Setembro de 2014: a
como por exemplo a equipa do Habillus
reforma da organização judiciária.
sediada em Coimbra, os desenvolvim-
Se os efectivos resultados desta
entos seguintes sofreram uma estranha
reforma estão ainda longe de poder ser
inflexão, encaminhando-se para o desas-
devidamente mensurados e avaliados,
tre previsível.
a verdade é que é incontornável hoje reconhecer que foi um precipitação, uma
Os responsáveis políticos, decidiram
manifesta imprudência, a implementa-
ignorar os diversos contributos e alertas
ção da mesma.
e assumiram um modelo de reforma que
Várias vezes alertámos os responsáveis
a princípio foi criticado por todos: juízes,
para a evidente falta de condições
procuradores, autarcas, advogados, fun-
essenciais para a implementação da
cionários e populações.
reforma: faltavam funcionários, faltavam
Também é verdade que com a evolução
O presidente do SFJ elencou as principais lutas e lançou o debate sobre temas estruturantes da carreira e do funcionamento dos tribunais
Os funcionários judiciais não foram excepção neste inédito ataque aos direitos dos funcionários públicos.”
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do processo e algumas negociações
furtos, difamações, injúrias, ameaças,
pública, todos os outros factores já atrás
sectoriais, e sobretudo com a promessa
etc.), o efeito pretendido, com relevo na
referenciados contribuíram para aquela
de algumas regalias a algumas classe
pacificação social, só se alcança quando
que foi provavelmente a maior pertur-
profissionais, estas foram alterando a
o processo, o julgamento e a eventual
bação do nosso sistema judicial, do fun-
sua posição, nomeadamente “evolu-
condenação se faz no seio da comuni-
cionamento dos tribunais, nas últimas
indo” para uma aceitação tolerante do
dade onde o desvio ocorreu. E quando
décadas.
modelo proposto e mesmo da data de
as pessoas dessa mesma comunidade
implementação, ignorando os riscos que
têm a efectiva possibilidade de serem
Os resultados desse caos não foram
sabiam existir.
testemunhas da concretização da justiça.
ainda mais graves, porque houve da parte de funcionários, magistrados
Mas, nós os oficiais de justiça - e é justo
e advogados um enorme empenho,
fazer este reconhecimento: também os
senso prático, capacidade de iniciativa
advogados e os autarcas -, sempre mantivemos uma a posição coerente e firme de crítica às decisões do MJ. A decisão de reduzir a organização judiciária de 231 comarcas para 23, concentrando os grandes tribunais nas capitais de distrito sem qualquer consideração pelas realidades locais e pelas assimetrias regionais, e desde logo promovendo o encerramento de 47 tribunais – 20 de imediato e 27 a prazo (as denominadas secções de proximidade) - constitui uma decisão incompreensível porque objectivamente afasta a justiça do cidadão.
Os resultados do caos não foram mais graves porque houve da parte de funcionários, magistrados e advogados um enorme empenho...”
Para além de que nessas 47 localidades
e mesmo o tradicional “desenrascanço”, para resolver muitas situações com o mínimo de prejuízo para o cidadão, nomeadamente a realização de diligências urgentes. O que seria da vida de todos nós se o sistema informático dos bancos ou da segurança social paralisasse durante mês e meio?! Claro, há ainda que referir essa situação lamentável de instalar tribunais em contentores não só pelas deficientes condições, mas sobretudo porque constitui uma descredibilização deste órgão de soberania, que não dignifica a justiça e o estado de direito. Que outro órgão de soberania se sujeitava a ser instalado em contentores?
o tribunal – órgão de soberania - consti-
Aliás, essa importância da visibilidade
tuía um factor de presença e afirmação
e publicidade de realização da justiça
E Passado um ano o que melhorou no
do Estado e de credibilidade da justiça,
é das razões por que as audiências de
sistema judiciário?!
junto das populações. E constituíam um
julgamento são públicas.
Existem Secções – grandes instâncias
importante factor de dinâmica social
- com sete e oito mil ou mais proces-
e económica ao nível das respectivas
Ora, o modelo agora adoptado, tudo isto
sos, e que têm três, quatro Juízes e igual
localidades e suas populações.
ignorou e o Governo insistiu e persistiu
número de funcionários. Ou seja tantos
Não menos relevante, é que a justiça,
na implementação no dia 1 de Setembro
generais, quantos soldados!
além das várias funções que de facto
de 2014! Com os resultados conhecidos:
Nos Juízos de Execução, a situação é
têm – instrumentais, politicas, sociológi-
um enorme colapso no funcionamento
caótica: por exemplo em Montemor-
cas-, tem também uma importante fun-
dos tribunais, derivado sobretudo do
o-Novo ou Silves, para 20.000 proces-
ção simbólica.
tremendo fracasso da transferência
sos, existem três funcionários em cada
Por exemplo, ao nível penal, especial-
electrónica dos processos, um enorme
um destes tribunais. Em Almada, para
mente na pequena litigância (ou de
falhanço do CITIUS!!
120.000 há oito funcionários. No Porto,
pequena importância se se preferir,
Mas se é verdade que o caos provocado
com cerca 250.000 processos há 12
mas por vezes de enorme significado
pela inoperacionalidade do sistema
funcionários e em Lisboa, com 300.000
no respectivo meio social – agressões,
informático teve uma enorme relevância
processos, há 18 funcionários.
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audiovisuais. Destacam-se também as
Esta matriz territorial da organização judiciária, dificulta o acesso dos cidadãos à Justiça”.
devidas exigências de conhecimentos técnico-científicos advindas das necessidades de relacionamento com os demais operadores judiciários do dia-a-dia. Dificilmente se encontrará na administração pública, uma classe profissional com tamanhas exigências e tão vasto leque de conteúdo funcional. A nossa legitimidade para exigir da administração mais e melhor formação é tanto mais forte quanto este sindicato
Como é possível, assim, falar em celeri-
a outras situações que se arrastam há
tem assumido ao longo dos últimos
dade processual?
algum tempo foram agora agravadas.
anos um efectivo contributo para o
Como é possível falar em justiça
Cumpre aqui, pois, mencionar algumas
criando mesmo um Departamento
de proximidade se os cidadãos de
das questões que nos afectam e preo-
de Formação autónomo. Implica um
Barrancos tem de se deslocar 130 Km
cupam:
enorme esforço financeira do sindicato,
reforço formativo dos oficiais de justiça,
para ter acesso a um tribunal de Família
mas o reconhecimento da sua importân-
e Menores em Ferreira do Alentejo?
FORMAÇÃO
cia, competência e eficácia no factor
E os de Carrazeda de Ansiães até
Ao mesmo tempo que temos constatado
formativo dos colegas, tem sido recon-
Bragança? 96 Km.
um louvável aumento da carga forma-
hecido.
Ou de Vila de Rei a Fundão? – 140 Km,
tiva de outros operadores judiciários,
nas questões de comércio
os oficiais de justiça continuam lamen-
Pampilhosa da Serra a Coimbra – 93 Km
tavelmente a ser esquecidos nessa
Aljezur a Olhão – 118 km comercio
necessidade de formação.
Mora a Évora – 60 Km antes era
legais de higiene e segurança no tra-
A questão da formação, generalizada,
Arraiolos a metade do caminho- 35 Km;
balho impõem também a necessidade
disponível para todos os oficiais de
melhorar as condições de trabalho em
justiça é também um factor central da
muitos tribunais. Por exemplo há tribu-
eficiência que todos pretendem.
nais em que as temperaturas, no Verão
Não há volta a dar: Esta matriz territorial da organização judiciária, dificulta
SEGURANÇA E HIGIENE A dignidade dos tribunais e as condições
chegam aos 45º!! E no Inverno são
o acesso dos cidadãos à Justiça, inverte
Não é possível, nem sério, exigir mais
por completo a definição de proximi-
competência e capacidade de desem-
dade de cada pessoa à realização da
penho aos oficiais de justiça, se não
justiça, proporcionando exactamente o
Importa implementar e rapidamente
se proporcionar a todos mais e melhor
efeito contrário daquilo que pretensa-
condições de segurança adequadas em
formação.
mente se pretendia, ou seja com esta
todos os tribunais.
Quem conhece a realidade dos tribunais
organização resulta uma pior, ineficaz,
portugueses não ignorará, certamente,
mais distante, mais cara e lenta aplica-
as exigências de desempenho e o vasto
ção da Justiça.
conteúdo funcional dos oficiais de
FALTAM FUNCIONÁRIOS
justiça.
É urgente repor em níveis minimamente
negativas.
aceitáveis o número de funcionários
Mas se os cidadãos e as empresas sofreram com esta reforma, os oficiais de
São vários os códigos com que trabal-
judiciais nas secretarias e serviços do
justiça foram também prejudicados e
hamos, a necessidade de permanente
ministério público. Note-se que não é
vítimas de algumas situações decorren-
actualização legislativa, os devidos
uma exigência de cariz corporativo, mas
tes da reforma. Estas vieram a juntar-se
conhecimentos informáticos e de meios
uma constatação de facto, uma evi-
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dência notada e alertada por todos, do CSM à PGR da Ordem dos Advogados a responsáveis do MJ. Mas relativamente à enorme falta de pessoal em quase todos os tribunais quero ainda referir outro aspecto. Parece que há ainda quem pense e até afirme que a falta de funcionários é apenas um problema de mobilidade. Nada mais falso! Claro que entendemos a necessidade de um regime de mobilidade eficaz e que permita rentabilizar os recursos. Mas a mobilidade deve ser utilizada com racionalidade, respeitando os direitos individuais e sempre com o objectivo de melhorar a prestação do serviço. Nunca como forma de escamotear as realidades ou, pior ainda, de penalizar ou castigar quem trabalha. Até porque a mobilidade,
Não pactuaremos com revisões de “faz de conta” ou que apenas pretendam retirar ainda mais direitos e impor mais obrigações. (...) Importa também descongelar rapidamente as promoções e progressões.”
em si mesma, é prejudicial à estabilidade funcional dos serviços. É difícil entender e aceitar que, no exacto momento em que um Oficial de Justiça é colocado num núcleo, seja deslocado para outro núcleo. Tal decisão só pode ser entendida por lapso ou esquecimento do respectivo Conselho de
tos adquiridos e que consagre aqueles
cionários, porque ninguém trabalha com
Gestão de comunicar à DGAJ as neces-
que há muito se justificam, como por
motivação quando é desconsiderado
sidades de preenchimento de vagas em
exemplo, a integração do suplemento
desta forma.
cada um dos núcleos da sua comarca.
no vencimento – promessa assumida por todos os ministros da Justiça, desde
Os oficiais de justiça estão disponíveis
REVISÃO DO ESTATUTO
1999 (e já foram sete: 4 do PS, 2 do PSD,
para assumir outras competências fun-
É preciso rever rapidamente o nosso
1 do CDS), e nunca concretizada por
cionais, precedidas de novas exigências
Estatuto profissional. Mas não pactu-
nenhum!! Exigimos a consagração da
ao nível das qualificações de ingresso e
aremos com revisões de “faz de conta”
licenciatura para ingresso na carreira e a
de acesso às posições de chefia.
ou que apenas pretendam retirar ainda
definição de um regime de aposentação
O oficial de justiça deve ser, tem de ser,
mais direitos e impor mais obrigações.
que compense o desgaste intenso a que
um verdadeiro coadjuvante do magistra-
Exigimos uma revisão do Estatuto sócio
está sujeita esta carreira.
do, libertando-o, de facto e de direito, de funções de mero expediente e rotineiras
profissional séria, justa que reconheça o nosso desempenho.
Importa também descongelar rapida-
para se poder dedicar à sua nobre e
Por exemplo que as inúmeras horas
mente as promoções e progressões. É
exigente função – dizer direito, fazendo
de trabalho gratuito que todos os dias
incompreensível que haja centenas de
justiça!
damos aos serviços sejam devidamente
oficiais de justiça que estão há 15 e
Ora nós sabemos bem o imenso tra-
reconhecidas e justamente compensa-
20 anos na categoria de ingresso. Urge
balho que os senhores magistrados
das. Um estatuto que defenda os direi-
descongelar a promoção destes fun-
têm, o enorme volume de processos a
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A Justiça não é um luxo, nem pode estar apenas ao dispor dos que têm meios vultuosos para assegurar a defesa dos seus interesses, com o que isso significa de discriminação de cidadania para largos extractos da população.”
aguardar decisões, e por isso certamente
dispuséssemos da vontade e dos meios
é também importante que ela se dê ao
que também querem reconduzir a sua
para os resolver. A justiça, a qualidade
respeito, que se mantenha credível.
actuação à verdadeira dignidade profis-
e eficácia da justiça, a todos interpela.
Ora, e infelizmente, não é o que sucede.
sional e jurisdicional, daí que tenham
Profissionais do foro certamente, mas
Não raras vezes, por culpas de quem
a condução funcional dos processos
todos os cidadãos. É que se a qualidade
tudo deveria fazer para que a Justiça
que ninguém ousa colocar em crise.
da Justiça depende do empenho e da
fosse encarada pelos concidadãos como
Não devem preocupar-se com questões
capacidade dos seus agentes formais,
uma instituição forte, digna e credível.
menores de índole administrativa que
depende também, e muito, do modo
em nada dignificam essa função jurisdi-
como cada um, em responsável exercício
E assim se vai queimando o que resta
cional nem contribuem para a desejada
da cidadania, coopera com as institu-
numa autêntica fogueira de vaidades,
celeridade processual.
ições judiciárias.
enquanto cresce a ideia nos cidadãos de que a Justiça maltrata os fracos e
Estamos convencidos que a rentabi-
A Justiça não é um luxo, nem pode estar
desfavorecidos e protege os ricos e os
lidade e eficácia dos tribunais passa
apenas ao dispor dos que têm meios
fortes. Isto a par de um sentimento de
também por uma definição e até sepa-
vultuosos para assegurar a defesa dos
impunidade, que se vai enraizando na
ração de competências e responsabili-
seus interesses, com o que isso significa
população e para o qual contribui e
dades. E assim se dignificam magistra-
de discriminação de cidadania para lar-
muito o arrastar anos a fio de processos
dos e oficiais de justiça. De bem pouco
gos extractos da população.
de grande mediatismo.
valerá ter direitos ou deveres, se não
No momento actual em que os prob-
houver garantia de que os direitos são
lemas do sistema de administração
Os Funcionários judiciais sabem bem
respeitados e os deveres cumpridos.
de justiça se tornaram portanto numa
os seus deveres decorrentes das fun-
questão central e actual para a vida
ções institucionais cuja responsabili-
A justiça e o funcionamento dos tribu-
política, as responsabilidades são de
dade sempre assumimos. Também este
nais, debatem-se presentemente com
todos nós e não só dos vários agentes
Sindicato está, como sempre esteve e
várias preocupações e problemas, alguns
da justiça!
sempre estará, disponível e determinado
já referidos.
na luta por um sistema de justiça, efici-
Mas em democracia, ter problemas
A justiça, que hoje nos junta, é actual-
ente e justo, onde todos tenham igual
não é dramático. Só os regimes totali-
mente um dos bens de maior consumo
possibilidade de acesso e de tratamento.
tários não têm problemas, porque os
na sociedade portuguesa. Nunca o tema
escondem. Seria, sim, dramático se não
mereceu tanta atenção e nunca se falou
É sem dúvida um combate pela igual-
estivéssemos atentos a eles ou, despidos
tanto de justiça. Mas se é importante
dade e pela liberdade.
de injustificáveis corporativismos, não
uma justiça escrutinada pelos cidadãos,
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Fernando Jorge
VII CONGRESSO SFJ
CONCLUSÕES As medidas aprovadas no Congresso Nacional foram apresentadas por António Marçal, secretário-geral, que falou perante a Secretária de Estado Adjunta e da Justiça, Helena Mesquita Ribeiro, recém-empossada e no seu primeiro ato público.
FORAM DEFINIDAS AS LINHAS DE AÇÃO DO SFJ
Os Funcionários Judiciais, reunidos no Congresso Nacional do SFJ, aprovaram a moção de estratégia sindical para os próximos quatro anos. Neste Congresso, assumindo que, quer em termos conjunturais quer em termos estruturais, se vivem tempos
E TOMADAS POSIÇÕES
difíceis, no que é uma constatação que merece a concordância
ACERCA DA NOVA
na ação dos sindicatos.
ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA
financeiras de âmbito global, pela insegurança que reina
E ESTATUTO SOCIOPROFISSIONAL
vivemos num mundo e num tempo de intolerância, de competi-
generalizada, requer-se uma maior acutilância e assertividade Os tempos são difíceis, não apenas pela sucessão de crises em todos os lugares, mas também porque, e principalmente, tividade selvagem sem limites e quase sem valores! A destruição da matriz social do estado como foi sendo construído na Europa
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do pós guerra, acarreta agora novas e mais profundas desigual-
Aceitamos e entendemos a necessidade de contenção orçamen-
dades e destrói, sem qualquer ponderação, direitos adquiridos,
tal. Mas tem de ser feita, principalmente, através do combate ao
numa unilateral modificação de relações laborais firmadas há já
desperdício e à informalidade na economia. Tem de significar
dezenas de anos, como é o caso das aposentações ou da redução
uma reestruturação do Estado, que urge fazer, acabando com
de salários.
os boys e girls de várias gerações, que se vão perpetuando no
Na verdade, nestes 40 anos de democracia, submetemo-nos
banquete orçamental, e para o qual vão convidando os amigos
ao FMI, as falências sucederam-se -não raras vezes de forma
através dessa inovação que são as PPP!
fraudulenta -, cresceram os despedimentos, e a legislação laboral
A contenção orçamental tem de significar um real combate à
evoluiu de forma errada.
corrupção e ao compadrio.
Hoje, poucas dúvidas restam de que o fosso entre ricos e pobres
No caso especifico da administração pública, e citando Daniel
aumentou, com a agravante da quase total destruição da classe
Oliveira sobre a perda de direitos na função pública: «A estra-
média. Classe média onde se situa, ou situava, a maioria dos
tégia de concentrar o fogo sobre os trabalhadores do Estado
funcionários judiciais.
é inteligente. Criar um bode expiatório, isolá-lo socialmente
Temos vindo a assistir a uma regra de “governação” baseada na
e começar por aí o combate político e ideológico. A extrema-
imposição de sacrifícios aos trabalhadores e pensionistas, com
direita faz isso com os imigrantes, a direita conservadora com os
permanente e insustentável retirada de direitos e, em muitos
miseráveis que vivem “à custa dos subsídios” e os liberais com
casos, com o desemprego e a miséria.
os funcionários do Estado.»
Por isso, urge relançar o debate sobre os mais profundos ali–
Por isso mesmo, a consciencialização de todos nós desta reali-
cerces da nossa sociedade, designadamente pela procura e relançamento de uma ética que legitime o exercício democrático do poder político. E é aqui que importa lembrar a importância e o papel fundamental dos sindicatos. Não podemos aceitar que se continue a basear a estratégia para o país numa política de redução de salários (de notar que a redução real é uma constante desde há muitos anos), no congelamento de pensões e aumento da vida contributiva, acompanhada do aumento da carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho (em detrimento da tributação do património e das transações) e da diminuição dos apoios sociais.
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dade e a participação de todos no seu combate é de crucial
Na nossa tradição de 40 anos, sempre privilegiámos o diálogo e
importância.
o compromisso construtivo, ou postura de proposição se prefe-
Os sindicatos têm de ser capazes de agir por forma a influenciar
rirmos, mas, e sempre o dissemos e praticámos, sem deixar de
uma estratégia de desenvolvimento integral para o país, com um
defender sempre que necessário, uma postura de reivindicação,
crescimento económico sustentado e uma política fiscal e de
não recusando, nem temendo, o conflito.
redistribuição da riqueza que inverta a tendência de aumento
Sabemos que a necessária intervenção social não é compa-
das desigualdades.
ginável com posturas imobilistas. E por isso mesmo apostámos
Em face da mudança constante que se opera na sociedade,
numa política de evolução e de afirmação do SFJ.
existe o dever, o imperativo, de os sindicatos se adaptarem de
Não há dúvida de que hoje temos um sindicato moderno, com
forma a poderem responder aos novos desafios, sem que tal sig-
uma atuação fundada numa filosofia de sindicalismo democráti-
nifique abdicar dos seus objetivos e valores fundadores.
co e vertical, no seio da qual se qual se dá primazia ao diálogo
Por isso consideramos importante realçar e reforçar esses
face ao conflito. Mas, conforme dissemos, jamais abdicarmos da
valores humanos, que não meramente sindicais, e que se fundam
luta quando esta for a via que resta na defesa, intransigente e
na justiça e na solidariedade, enquadradores de uma sociedade
determinada, dos direitos e interesses da classe dos funcionários
que fomente a participação. Nesta sociedade, os direitos labo-
judiciais.Não esquecemos, nunca, que a razão e o fim da atuação
rais, cívicos e culturais, são percebidos e acolhidos como vetores
sindical são os trabalhadores.
de desenvolvimento económico e social.
António Marçal
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1. ORGANIZAÇÃO E AÇÃO SINDICAL 1 – Proceder a uma alteração da organização do SFJ, consubstan-
Desde logo, melhorando e alargando os serviços prestados pelo
ciada na alteração estatutária aprovada, e que se funda nessa
nosso Departamento Jurídico. Tal necessidade é consequência do
filosofia de dinamismo, assertividade e competência na busca
aumento da conflitualidade gerada pelas sucessivas mexidas na
das melhores soluções para os nossos associados sem esquecer
organização judiciária e na cada vez maior atividade legislativa
que prestamos um serviço público de máxima importância para
avulsa com impacto na nossa vida profissional, que impõem uma
a vida em sociedade.
intervenção e apoio jurídico cada vez maior.
2 – Reiterar que as posições assumidas pelo SFJ, além de defen-
7 - Continuar a apostar na área social, em sentido lato, e aí
derem os trabalhadores, têm um alcance mais profundo pois
cabendo realçar a importância da Assistência Médica do SFJ
também buscam um melhor serviço público de administração
(AMSFJ), que pretendemos reforçar e alargar, de forma susten-
da justiça que responda cabalmente aos anseios de quem a ele
tada e sustentável.
recorre. 8 – Reforçar a política de protocolos com Universidades, 3 – Reforçar a ação do sindicato nas estruturas de base e nos
Institutos, Seguros, e outras entidades, que permitam aos asso-
delegados sindicais. Para cumprir esse objetivo promover-se-
ciados usufruir de serviços de qualidade ao mais baixo custo
ão ações de formação sindical,
possível.
eleição de delegados sindicais e a criação de secções sindicais.
9 – Procurar soluções que permitam melhorar ou acautelar a vida dos nossos
4 – Reforçar a intervenção sindi-
associados na aposentação.
cal na defesa dos nossos colegas aposentados. Porque, como
10 – Reforçar a formação contínua e
temos vindo a constatar, tam-
continuada dos funcionários judiciais,
bém aqui importa uma entidade
sem abdicarmos de lutar para que a
de cariz sindical que zele pelos
administração assuma os seus deveres e
interesses e direitos dos trabal-
obrigações na formação profissional dos
hadores após terminarem a sua
trabalhadores.
vida laboral.
Consideramos que devemos manter o nosso Departamento de Formação.
5 – Apostar numa filosofia comu-
Importa realçar que em muitos países
nicacional que seja vetor de crescimento e implantação da
são as estruturas profissionais que, baseadas no estatuto
estratégia sindical. Nesta área, a par de uma cada vez maior uti-
socioprofissional, assumem por inteiro a responsabilidade da
lização das ferramentas digitais e das plataformas online, iremos
formação contínua dos trabalhadores. Iremos continuar a apo-
também revitalizar a comunicação escrita, designadamente com
star numa formação mista – presencial e à distância – e nesse
o relançamento do CITOTE como espaço de reflexão e fórum
sentido aproveitar de forma adequada os programas do Quadro
privilegiado da discussão dos assuntos que mais importam aos
Comunitário 2020.
associados. 11 – Contratualizar com Instituições Universitárias soluções que 6 – Continuar o melhoramento, e alargamento, da quantidade
visem a formação e a certificação de grau para os oficiais de
e qualidade dos serviços que prestamos aos nossos associados.
justiça não licenciados.
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2. ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA Defendemos que a organização judiciária, isto é, a definição do
Relembremos que, instalações, meios humanos e plataforma
modelo de organização deva ser a que melhor sirva os superi-
eletrónica adequada à nova arquitetura, eram os três pilares
ores interesses daqueles a quem se destina: Os Cidadãos. É um
basilares para a reforma ter êxito. Vejamos:
desafio a que os operadores judiciários, conhecedores da realidade “concreta”, devem responder, contribuindo de forma escla-
1. Tínhamos as instalações adequadas para fixar as novas uni-
recedora e não meramente corporativa para a eficácia real de tal
dades orgânicas?
debate, assumindo postura proactiva perante o poder político.
Não. Instalaram-se contentores e as obras continuam a decorrer em vários tribunais por todo o país. Deslocalizaram-se instâncias
Denunciar a falaciosa posição do anterior Governo sobre o
devido a erros de previsão de espaço necessário para acomodar
sucesso da Reorganização Judiciária de 2014, a qual se baseava,
os processos, isto sem referir as pessoas...
supostamente, em três princípios estruturantes: eficácia, proximidade, especialização. E que foram os três dos chavões que
2. Tínhamos recursos humanos suficientes para dotar as novas
marcaram o discurso oficial sobre a maior “reforma dos últimos
unidades orgânicas - Núcleos - em número suficiente de pessoas
200 anos”!? Decorrido pouco mais de um ano é visível que não
que assegurassem as tarefas da tramitação processual?
se logrou atingir os objetivos e o SFJ considera ser de particu-
Não! Faltavam e faltam Oficiais de Justiça, mesmo se consid-
lar relevância para a melhoria da administração da justiça em
erado como adequado (que não é!) o número previsto pelo
Portugal fazer a análise desta reforma.
Ministério da Justiça - que para o SFJ é um número desadequado
CITOTE • www.sfj.pt • 27
da realidade. Esta falta de recursos humanos implica uma
Garantir o princípio da prevenção geral e especial nas penas em
demora na tramitação processual que prejudica toda a gente, em
matéria penal com a necessária proximidade do Tribunal julga-
primeiro lugar o cidadão, que vê os processos a arrastarem-se
dor, em especial na pequena criminalidade;
durante mais tempo, mas também quem trabalha nos tribunais
Alterar as regras de distribuição dos processos, desde logo com
porque sofre um enorme stress.
a criação de regras de contingentação;
3. O sistema informático estava em condições e era adequado
Fazer a revisão e adequação funcional dos Mapas de Pessoal das
ao novo figurino?
secretarias judiciais e do Ministério Público;
Não! O SFJ alertou para o facto de o Citius não estar preparado
Redimensionar as Secretarias de molde a permitir que seja
para a transferência dos processos. O plano de ação para a
aumentada a sua funcionalidade;
justiça na sociedade de informação, que tinha sido previsto para
Afirmar o Escrivão de Direito e o Técnico de Justiça Principal,
ser implementado antes da reforma, não foi feito. Tentou-se uma
como as figuras garante do funcionamento eficiente e ágil das
transferência simples e aconteceu o que aconteceu: os tribunais
secretarias;
paralisaram durante um mês e meio. E ainda hoje se verificam
Apreciar mais rigorosamente as condições de concessão do
constrangimentos a este nível...
apoio judiciário e da viabilidade da ação; Melhorar o sistema informático, com a implementação de uma
O Congresso Nacional do SFJ considera ser urgente:
única plataforma que sirva todos os serviços da administração
Proceder à correção das assimetrias criadas com as atuais 23
tiva e fiscal, e em todas as instâncias e serviços;
da justiça. Tal significa a adoção da mesma arquitetura informacional para a jurisdição comum e para a jurisdição administra-
comarcas, dividindo as maiores e as mais dispersas, o que significa que urge fazer uma reorganização geográfica do mapa,
Promover a interoperabilidade desse sistema com todos aqueles
reavaliando e eventualmente atribuindo mais competências a
que de forma direta ou indireta se conexionem com a atividade
alguns núcleos, revendo o funcionamento das Secções de pro–
dos Tribunais e a necessidade de decidir em tempo útil.;
ximidade, alterando a dimensão de algumas comarcas;
Rever a excessiva centralização no IGFEJ de algumas competências. Por exemplo, remeter para unidades ao nível da comarca a
Garantir a igualdade de acesso das populações, em especial nas
contabilidade processual, pagamento de custas de parte, apoio
áreas da família e menores e do trabalho;
judiciário, entre outras.
28 • CITOTE • www.sfj.pt
3. ESTATUTO SOCIOPROFISSIONAL O Congresso considerou a revisão do estatuto socioprofissional
profissão. Um juiz, num tribunal, não pode estar preocupado com
como a maior tarefa e o maior desafio que iremos ter de travar.
a regulamentação do estacionamento do tribunal, com a compra
Desde já, importa alterar a lei de forma a permitir, e prevenir no
do papel, com os mapas de férias dos funcionários, ou até com a
futuro, as injustiças que decorrem da interpretação (abusiva no
extração de certidões.
nosso entender), que tem impedido os devidos procedimentos
O juiz deve ter tempo para poder exercer a sua nobre função
para levar a cabo os concursos de auxiliares para adjuntos.
que é julgar e decidir. O juiz não tem que andar a regulamentar parques de estacionamento, a justificar faltas, isso são
Há centenas de funcionários que há cerca de dez anos exercem
atos administrativos que podem ser praticados por superiores
funções de adjunto sem receberem em conformidade. De notar
hierárquicos da carreira do oficial de justiça.
que, no caso dos adjuntos a exercerem funções de Escrivão de Direito, tal já não sucede porque existe a figura estatutária da
Mas existem outros atos que poderiam e, no nosso entender,
“substituição” e o CAAD condenou a administração a fazer o
deveriam passar a ser competência do oficial de justiça.
pagamento pelo salário do substituído.
Por isso julgamos que no Estatuto do Funcionário Judicial,
Uma injustiça que urge retificar!
deverão ser concretizados e densificados os seguintes princípios:
Há que fazer uma revisão dos estatutos das três profissões.
1. Ingresso na carreira com o grau de licenciatura com a inerente
Fala-se muito dos estatutos do ministério público e dos juízes,
alteração do grau de complexidade funcional da carreira;
mas também os estatutos dos funcionários judiciais têm de ser alterados, porque há normas no nosso estatuto que são incom-
2. Vínculo de nomeação, exigível pelas funções desempenhadas,
patíveis com a nova realidade. É importante envolver todos os
cujo acréscimo se defende, mas também que tal vínculo repre-
operadores judiciais nos ajustes a fazer.
senta em termos da independência da judicatura.
O novo Estatuto dos Funcionários Judiciais terá de signifi-
3. Consagração do princípio de colocação em sede de movi-
car uma mudança de paradigma. E por isso defendemos que
mento anual, em lugar concreto.
se estude com a profundidade o modelo seguido na vizinha Espanha com a reforma de 2003.
4. Consagração do Conselho dos Oficiais de Justiça (COJ) e do
É importante reavaliar as competências profissionais de cada
inerente regime específico de avaliação.
CITOTE • www.sfj.pt • 29
20 MILHÕES €
MINISTÉRIO LUCRA COM FALTA DE OJ ESTADO POUPOU 1 M€ SÓ COM O
O
O funcionalismo judicial tem sido reiteradamente prejudicado, seja por omissão seja por ação. Por omissão porque temos sido esquecidos em termos de valorização de carreira em comparação com outras (algumas até de menor exigência) e por ação pela atribuição de maiores cargas de
AUSTERO NOVO
serviço e exigências funcionais (quase sempre sem a devida formação prévia).
ESTATUTO
tribunais, quando não o único com quem contactam. Somos aqueles se desdobram e
DE APOSENTAÇÃO
Somos não só o primeiro rosto que aos cidadãos aparece quando se deslocam aos multiplicam para que o sistema de justiça não crache de vez. Na reforma de 2014, foi adotado um sistema de média simples das entradas processuais nos três anos anteriores (o que na altura o SFJ considerou errado) com as consequências de se obter uma pendência expectável, que favorecia uma redução efetiva de quadros.
Na vigência da Reforma do Mapa Judiciário, o esforço financeiro suportado pelos oficiais de justiça ascende a 20 milhões de euros.
Acresce que, se enquanto para as magistraturas judiciais foram observadas, as regras decorrentes do regime de VRP, 1 no caso dos funcionários judiciais nem sequer as «fórmulas» que constavam dos vários documentos elaborados para a reforma no que concerne á composição das «secções» foram cumpridas, resultando uma «drástica» redução do número de oficiais de justiça considerados necessários para a previsão. Mas, mesmo assim, e recorrendo a dados do Ministério da Justiça, a reforma arrancou (com o caracter trágico que todos conhecemos) a 1 de setembro de 2014 com uma carência de 931 oficiais de justiça. Se atentarmos que a previsão total era de 7.438 funcionários constatamos que a reforma arrancou com um défice de 13%, mas que em algumas das 23 comarcas atingia os 33%. Por categorias o défice era de 173 ED/TJP2, 585 EA/TJA3 e 173 EAux/TJAux4. Tomando por referência os valores da remuneração de início em cada categoria, chegamos à conclusão que os oficias de justiça contribuíram, até Setembro de 2015 com um esforço de consolidação orçamental de 17.232.312,16€5. ____________________________________ 1 Valor de referência Processual 2 escriVão de direito/técnico de Justiça PrinciPal 3 escriVão aJunto/técnico de Justiça adJunto 4 escriVão auxiliar/técnico de Justiça auxiliar 5 No cálculo considerou-se que os lugares de ED/TJP em falta foram preenchidos em regime de substituição por EA/TJA
30 • CITOTE • www.sfj.pt
Durante o primeiro ano da reorganização do Mapa Judiciário, os oficiais de justiça tiveram de acumular trabalho que deveria – nas previsões do próprio ministério – ser realizado pelos 931 em falta, o que significou uma poupança superior a dezassete milhões de euros.”
Ou seja, durante o primeiro ano da reorganização do Mapa
No mesmo movimento deverão ser também realizadas coloca-
Judiciário, os oficiais de justiça tiveram de acumular trabalho
ções nos lugares de adjuntos, iniciando um processo de regulari-
que deveria – nas previsões do próprio ministério – ser realizado
zação dos mapas de pessoal, exigência que se reforça pelo facto
pelos 931 em falta, o que significou uma poupança superior a
de só por esta via poderem ser libertados os lugares de ingresso
dezassete milhões de euros!
uma vez que, e de forma unânime, se considera ser inadiável a
Considerando a entrada de 600 «provisórios», e para simplifica-
admissão urgente de funcionários. Urgência que aumentará ao
ção de cálculo, todos com referencia a 1 de setembro de 2015,
concretizar-se a intenção da Ministra Justiça de reabrir os tribu-
até 29 de fevereiro de 2016, acresce o valor de 2.575.477,76€
nais encerrados em 2014.
. Tal significa que na vigência da Reforma do Mapa Judiciário o
Ora, este procedimento a ter lugar no movimento de junho,
esforço financeiro suportado pelos oficiais de justiça ascende a
terá impacto financeiro apenas a partir de Setembro. Vejamos,
cerca de 20 milhões de euros.
considerando que o movimento de concretiza a 1 de setembro
Uma outra conta que há que fazer é a dos 412 oficiais de justiça
e abrange apenas 300 Oficiais de justiça. Tomando como refe-
que entretanto se aposentaram ou estão em vias de serem des-
rência que estes EAux/TJAux se encontram todos no 3.º escalão
ligados do serviço, com a consequência de o custo orçamental
remuneratório, teremos que o impacto orçamental em 2016 será
deixar de ser suportado pelo Ministério da Justiça. Mais uma vez
inferior a 130 mil euros, ou seja equivale a menos de 3% da
pra simplificação de cálculo, tomará como referência o número
redução remuneratória obtida por via das aposentações.
de 250 EA/TJA e 162 ED/TJP, no terceiro escalão remuneratório, teremos que o valor da redução de gastos com pessoal será de
Para além da questão da neutralidade orçamental (pelo contrá-
5.870.172,48€.
rio até de redução de custos com pessoal na DGAJ no que con-
Não contabilizaremos por ora os funcionários que durante este
cerne aos oficiais de justiça), uma outra regra a que se atende na
período transitaram para outras carreiras.
reivindicação destas progressões é que ela obedece ao princípio de 1 para 2, defendido pelo governo em termos de pessoal.
Teremos assim que a progressão ou regularização de situação
Convém referir que não é só ao nível das contas do Ministério
funcional na categoria não tem impacto orçamental.
da Justiça que esse impacto é nulo. Também em termos das
Vejamos, considerando que o movimento de junho contempla
contas do país o mesmo sucede, uma vez que os funcionários
a colocação dos oficiais de justiça aprovados nos concursos de
agora aposentados, por força da «roubalheira» consubstanciada
ED/TJP, esta medida não tem impacto orçamental uma vez que,
nas sucessivas alterações ao Estatuto de Aposentação, há uma
por força da decisão judicial proferida em consequência de uma
diferença da ordem de um milhão de euros a menos em termos
ação do SFJ, se trata apenas de dar consagração legal no preen-
de custos.
chimento dos lugares de ED/TJP bem como consubstancia uma postura ética e profissional por parte da administração, dando
O SFJ tem, durante este período mantido contactos com o
aproveitamento aos gastos havidos com aqueles concursos.
Ministério da Justiça e com todos os Grupos Parlamentares na
CITOTE • www.sfj.pt • 31
A progressão ou regularização de situação funcional na categoria não tem impacto orçamental.”
Assembleia da República, tendo obtido a concordância com a jus-
Respondendo com uma reescrita de Eclesiastes, dizer que sabemos
teza do que está em causa, bem como o unânime reconhecimento
que para tudo há uma ocasião, que há um tempo de calar e um
da especificidade das funções desempenhadas.
tempo de falar. Sabemos que se há um tempo para dialogar e aju-
Parafraseando Péricles, importa perguntar: Até quando abusarão os Governos da nossa paciência? Por quanto tempo ainda hão-de zombar de nós? A que extremos se irá prolongar a sua obstinação em não reconhecer a importância e a especificidade das nossas funções nos tribunais? Oh tempos, oh costumes! As instituições da República têm conhecimento destes fatos, a Ministra têm-nos diante dos olhos. Todavia, esta situação continua a degradar-se! E nós, funcionários diligentes, cuidamos e teimamos em cumprir, muito para além do nosso dever, as funções que assumimos perante o Estado! Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?
32 • CITOTE • www.sfj.pt
dar a construir, há também um tempo para lutar. Um tempo para questionar o que ganha o trabalhador com todo o seu esforço? Dizer que até finais de Abril será tempo de continuar a dialogar e ajudar a procurar soluções. Mas que findo esse tempo será altura de irmos à luta. Convictos da razão que nos assiste e que não poderá continuar a ser olvidada, a pretexto circunstâncias ou conjunturas para as quais não contribuímos, antes pelo contrário. Neste tempo de luta teremos de estar juntos e nessa união ganhar as batalhas que se nos colocarem. António Marçal
Escrivão-Adjunto
Comarca
Diferença
Açores Aveiro
Escrivão Auxiliar Previstos
Escrivão de Direito
Previstos
Diferença
Diferença
Previstos
-22
59
-40
69
-5
24
-19
139
13
164
-9
56
Beja
-13
34
-10
34
-6
13
Braga
-12
150
26
182
-18
65
Bragança
-10
29
6
28
-4
10
Castelo Branco
-11
42
-9
50
-9
19
Coimbra
-15
84
0
99
-3
37
Évora
-5
32
7
35
-1
15
Faro
-29
102
-30
127
-12
43
Guarda
-5
32
9
30
1
13
Leiria
-21
96
2
111
-11
40
Lisboa
21
311
36
395
7
122
Lisboa Norte
5
94
-18
121
-7
41
Lisboa Oeste
-26
142
-36
175
-13
62 19
Madeira
-9
45
2
45
-5
Portalegre
-7
27
-4
32
-3
8
Porto
-21
288
16
391
-14
120
Porto Este
-11
76
-17
102
-5
31
Santarém
-9
86
-6
105
-6
35
Setúbal
-7
56
-8
68
-14
25
Viana do Castelo
-6
50
-8
62
-2
19
Vila Real
-6
37
2
43
-4
15
Viseu
-4
63
15
64
-2
27
-242
2074
-52
2532
-145
859
Total
Tecnico Justiça Principal
Técnico de Justiça Adjunto
Técnico de Justiça Auxiliar
Comarca
Diferença
Previstos
Diferença
Previs tos
Diferença
Previstos
Açores
1
1
-10
28
-5
17
Aveiro
2
4
-24
58
-1
56
Beja
0
1
-6
14
-2
5
Braga
-2
7
-22
60
-11
60
Bragança
0
1
-3
14
0
8
Castelo Branco
1
1
-8
17
-7
15
Coimbra
0
4
-15
38
-7
38
Évora
-2
2
-10
17
-3
14
Faro
-3
7
-21
51
-12
52
Guarda
0
1
-3
13
-1
6
Leiria
-3
5
-16
37
-3
33
Lisboa
-12
27
-43
149
-16
152
Lisboa Norte
-3
8
-23
47
-11
45
Lisboa Oeste
-7
15
-37
87
-26
84
Madeira
0
2
-5
19
2
15
Portalegre
0
1
-2
9
-1
5 145
Porto
-3
26
-34
144
8
Porto Este
-1
3
-13
27
-6
28
Santarém
3
1
-9
35
-5
34
Setúbal
-1
4
-17
30
-6
26
Viana do Castelo
0
1
-7
19
-2
15
Vila Real
1
1
-6
17
-2
14
Viseu
1
2
-9
29
-4
22
-28
125
-343
959
-121
889
Total
(Na portaria do MJ para a reforma do Mapa Judiciário) a previsão total era de 7.438 funcionários. Constatamos que a reforma arrancou com um défice de 13%, mas em algumas das 23 comarcas atingia os 33%.”
CITOTE • www.sfj.pt • 33
Escrivão de Direito 79
21
84
Os mapas apresentados permitem constatar a falta de funcionários nas várias comarcas com referência à data da implementação do novo Mapa Judiciário. A vermelho verifica-se que, logo no arranque, o défice de funcionários era extremamente elevado, em particular no que diz respeito a categorias de chefia (ED/TJP) bem como no que concerne a Adjuntos. Hoje a situação é muito pior, mas a opção por realizar a infografia com referência a setembro de 2014, visa fazer a demonstração clara de que, para além dos sistemas informáticos, “o pilar” recursos humanos também não minimamente foi acautelado.
16
54
B Braga
28
60
B Bragança
40
53
C Castelo Branco
47 92
8 C Coimbra
93
7 É Évora
72
F Faro
28
-8
G Guarda
108 73
L Leiria
28
-6
L Lisboa
106 83
17
79
21
74 63
L Lisboa Norte L Lisboa Oeste MMadeira
26
P Portalegre
38
12 P Porto
88 84
16
P Porto Este
83
17
S
Santarém
S
Setúbal
44
56 89
11 V
73
27 93
Viana do Castelo
Vila Real V Viseu
7 V
Escrivão Auxiliar
Escrivão Adjunto 63
37 86
14
62
38 92
66
8 34
74
26
A
Açores
A
Aveiro
B
Beja
B
Braga
B
Bragança
42
Castelo Branco Coimbra
84
16
É
Évora
16
78
22
F
Faro
G
Guarda
L
Leiria
-7
100
L
Lisboa
-5
100
L
Lisboa Norte
82
18
L
Lisboa Oeste
80
20
M
Madeira
P
Portalegre
74
26 93 86
7 P 14
B
114
-21
C
28
A 29
-14
C
A
108 71
18
84
58
-8
82 72
B
121 82
B 18
C
100 -20
0C 120
76 -30
F
130 -2
G
102
-9
L
109 85
L 15
79
L
21
-4
L
104
M
88
Porto
É 24
-4
13 104
P P
P
Porto Este
90
10 S
Santarém
88
13
S
Setúbal
88
12
S
88
12
V
Viana do Castelo
87
13
V
V
Vila Real
84 94
34 • CITOTE • www.sfj.pt
A Aveiro B Beja
46 72
A Açores
16
6 V
Viseu
83
17 94
-5 -23
P 6 S
105
V 123
V
Técnico de Justiça Principal -100
200
-50
Açores
150
Aveiro
71
Judiciais Previstos na Portaria nº
Braga
29
161/2014
0 Bragança
100 -100
Diferença, em percentagem,
Castelo Branco
200
0
Percentagem de Funcionários
0 Beja
100
de Funcionários Judiciais
100
0 Coimbra
100
Évora
entre entre a previsão da Portaria
Faro
nº 161/2014 e as transições mais
57
43
as afetações.
0 Guarda
100 40
Leiria
60 56
Lisboa
44
63
Lisboa Norte
38
53
Lisboa Oeste
47 100
0 Madeira
100
0 Portalegre
88
Porto
12
67
Porto Este
33
Santarém
-300 75
Setúbal
25
0 Viana do Castelo
100 -100
Vila Real
200
-50
Viseu
150
Técnico de Justiça Auxiliar
Técnico de Justiça Adjunto A
Açores
59
41
A
Aveiro
57
43
B
Beja
64
36
63
37 79
21
53
47
61
39
41
59 59
41 77
23
57
43 71
51
29 49
57
43 74
26
78 76 52
43
65
35
69
A 2A
60
40
B
82
18
B
100 53
0B 47
C
Castelo Branco
C
Coimbra
82
18
C
É
Évora
79
21
Év
F
Faro
77
23
Fa
G
Guarda
L
Leiria
L
Lisboa
L
Lisboa Norte
L
Lisboa Oeste Madeira Portalegre
24
P
Porto
31
29 98
C
P
57 37
Bragança
22
26
63
Braga
B
M
48 74
B
71
P
Porto Este
S
Santarém
S
Setúbal
V
83
17
91
G 9 Le
89
11 Li
76
24
69
L
31
-13
L
113 80
-6
M 20
106 79 85 77
P P
21 15 23
P S Se
Viana do Castelo
87
13
V
V
Vila Real
86
14
V
V
Viseu
82
18
V
CITOTE • www.sfj.pt • 35
Variação 2010 / 2014 60 40 20 0 -20 -40 -60 -80 -100 -120 -140 -160 -180 -200 -220 -240 -260 -280 -300 -320 -340 -360 -380 -400 -420
Administrador
23
Secretário de Justiça
-45
Escrivão de Direito -113 Escrivão Adjunto
-135 -178
Escrivão Auxiliar Técnico de Justiça Principal
-220
Técnico de Justiça Adjunto
-258
Técnico de Justiça Auxiliar
-387
RECURSOS
A MEDIATIZAÇÃO
HUMANOS
SOBRE
Versus organização judiciária
A
EXERCE PRESSÃO
O SISTEMA DE JUSTIÇA
Justiça consubstancia-se
implementadas. Não é apenas o sistema
Recursos Humanos
como pilar civilizacional e
judicial, vulgo os Tribunais, que estão
A morosidade, as elevadas pendências
estruturante da sociedade,
numa situação periclitante, o que está em
processuais, as constantes alterações
na medida em que surge
causa é o Estado de Direito.
legislativas, a falta de recursos huma-
como a última ratio, do Estado de Direito Democrático.
nos (oficiais de justiça) e a pressão dos A crescente complexificação das estru-
media, têm impelido o sistema judicial
turas sociais, do relacionamento socio-
para uma desconfiança generalizada da
A pressão no sistema de justiça tem
económico, político, laboral, patronal e
população e, consequentemente, a crise
como causas mais evidentes: i) o sig-
sindical, bem como a consciencialização
passou, também, a ser de legitimação do
nificativo aumento da litigiosiodade; ii) a
e integração dos direitos e deveres dos
poder judicial.
morosidade e iii) a crescente pendência
cidadãos perante a sociedade e, ainda,
processual. Esta tríade - litigiosiodade,
entre estes e o Estado, têm aumentado
Os RH são os activos mais preciosos de
morosidade e pendência processual -
a pressão sobre o sistema de justiça1,
qualquer organização (capital humano) e
está a conduzir o sistema judicial, tal
devido ao significativo aumento da liti-
o que temos vindo a assistir, no que con-
como o conhecemos, para a rutura, apesar
giosidade.
cerne à Organização Judiciária / Tribunais,
de todas as reformas que têm vindo a ser
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1 Um dos pilares primordiais de um Estado de Direito é o da Justiça
é que o número de Magistrados tem
aumentado anualmente e o de Oficiais
Público 1397 (+27%) e Magistrados
de Justiça diminuído significativamente.
Judiciais 1438 (+24%).
Oficiais de Justiça – 2523 Oficiais de Justiça (-26%); Magistrados do Ministério
Esta redução drástica de Oficiais de Justiça, aliada ao aumento dos quadros das Magistraturas na proporção inversa, está a causar grave prejuízo na realiza-
9.500
ção atempada da justiça e a sobrecarregar os oficiais de justiça. Os lugares de chefia (Secretários de
8.500
Justiça, Escrivães de Direito e Técnicos de Justiça Principais) foram fortemente penalizados com as reduções dos quad-
7.500
ros operados pela Organização Judiciária de 2014. De referir que apesar da drástica redução de quadros que se cifrou em menos 1313
6.500
lugares, tendo como referência o período entre 2010 (8196) e 2014 (6883), encontravam-se por preencher, em 31.12.2014,
5.500
1306 lugares nas diversas categorias. Apesar do congelamento das carreiras e da proibição de promoções, vimos várias
4.500
profissões serem objecto de excepção (Magistraturas / PSP / GNR / Militares). Qual a razão de não nos situarmos no
3.500
patamar da excepção? Afinal coadjuvamos os titulares do Órgão de Soberania – Tribunais.
2.500
Na minha humilde opinião, temos sido quem mais tem sofrido na redução de quadros, na perspectiva de carreira
1.500
Esta redução drástica de Oficiais de Justiça, aliada ao aumento dos quadros das Magistraturas está a causar grave prejuízo na realização atempada da justiça e a sobrecarregar os OJ.”
(menos lugares de chefia) e premiados com mais e mais trabalho, por força da mencionada redução dos efectivos
500 31-12-2002
31-12-2014
Oficiais de Justiça Magistrados do Ministério Público Magistrados Judiciais
(-26,8% no período que mediou entre 2002 a 2014). Temos contribuído, com a nossa boa vontade e know how para o bom andamento da justiça. Quem não se recorda do esforço e dedicação que todos fizemos
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Tornou-se imperativo, imprescindível e inadiável qualificar ao nível do ensino superior todos os oficiais de justiça (não só os candidatos a ingressar na carreira), pelo que o actual regime de ingresso e acesso não se compagina com os actuais e futuros desafios (...).” para que a entrada em vigor no novo
(ao seu âmbito regional e ao número
Mapa Judiciário não fosse um falhanço
de licenciados a que está condicionada
completo.
a licenciatura de Técnico Superior de Justiça, ministrada pela Universidade
Licenciatura para os OJ Apesar de tudo e da discriminação que se tem feito sentir, continuamos, diariamente a dar o nosso melhor e a dedicarmo-nos com abnegação. Assim, chegou o momento de exigirmos uma negociação séria e urgente do Estatuto dos Funcionários de Justiça,
de Aveiro), e por outro, como já mencionámos, porque não correspondem às necessárias matrizes de excelência que se encontram na génese da carreira profissional de oficial de justiça. Tais desígnios de excelência e proficiência, só poderão ser alcançados através da
nomeadamente nas seguintes áreas:
formação contínua e ao longo da vida, no
Ingresso
excelência a nível profissional, aliás, tra-
Tornou-se um imperativo, imprescindível e inadiável, a qualificação ao nível de ensino superior todos os oficiais de justiça (não só os candidatos a ingressar na carreira), pelo que o actual regime de ingresso e acesso não se compagina com os actuais e futuros desafios, no que concerne, por um lado às qualific ações inerentes ao ingresso na profissão2
sentido de alcandorarmos patamares de ta-se até de um dever da administração3. A Licenciatura no ingresso: - Propicia a resolução das condicionantes do regime de nomeação - Resolve a problemática relativamente às Carreiras Especiais - Beneficia a negociação com a Administração (Carreira / Remunerações).
2 Escolas Profissionais 3 Cfr. art. 87.º alinea d) e 90.º do Regime do Contrato de Trabalho em Portaria nº 948/99, de 27 de Outubro - Aprova o Curso de Técnico de
Funções Públicas – Lei n.º59/2008, de 11/09
Serviços Jurídicos. “art. 87.º alinea d) - Contribuir para a elevação do nível de produtiPortaria nº 217/2000, de 11 de Abril - Reconhece o curso de técnico de
vidade do trabalhador, nomeadamente proporcionando-lhe formação
serviços jurídicos, aprovado pela Portaria nº 948/99, de 27 de Outubro,
profissional;”
como requisito habilitacional de ingresso nas carreiras de pessoal oficial de justiça.
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FORMAÇÃO SUPERIOR DOS OFICIAIS DE JUSTIÇA 1. Alteração do art. 7.º do DL n.º 343/99, 26/08, Requisitos de Ingresso – Regime Regra, passando a habilitação de ingresso a ser a de Acesso
Licenciatura apropriada;
Propugnamos, também, que o acesso na carreira de oficial de justiça terá de ocorrer de entre indivíduos com formação académica. Tal poderá surgir através de diversos mecanismos (aprendizagem ao longo da vida – formação profissional e formação contínua ) 4
No que concerne aos oficiais de justiça sem licenciatura consideramos que se poderá acolher, com as devidas adaptações, o procedimento instituído há uns anos para a classe profissional dos professores que, como se sabe, beneficiou da possibilidade de idêntica reconversão profissional – Lei de Bases do Sistema Educativo, onde mediante formação, nas suas diversas formas – inicial de nível superior, contínua ou flexível e integrada, assegurada por escolas superiores e universidades – conferiu o grau de
2. Implementação de uma Licen-
No que concerne aos OJ sem licenciatura, consideramos que se poderá acolher o procedimento instituído ,há uns anos, para a classe profissional dos professores.”
ciatura, que possibilite a todos os oficiais de justiça a obtenção de tal habilitação académica, tendo em consideração as suas competências profissionais; 3. Formação anual e obrigatória, (no mínimo duas acções de formação por ano), para todos os oficiais de justiça; 4. Formação obrigatória a todos os oficiais de justiça promovidos; 5. Direito a abono de ajudas de custo, no âmbito da frequência em ações de formação; 6. Que as ações de formação frequentadas com aproveitamento,
licenciatura . 5
Alexandre Silva
sejam tidas em conta para efeitos do disposto no art. 41.º e 70.º do DL n.º 343/99, 26/08
4 Fonte: http://www.univ-ab.pt/ualv/detailmenu.php?menu=16&id=12
7. Definição de fatores de ponderação, tais como ações formação;
5 Nomeadamente através da Creditação de Competências Académicas e Profissionais Despacho (extracto) n.º 1974/2008 - Diário da República, 2.ª série — N.º 12, de 17 de Janeiro de 2008 Pela deliberação n.º 48/2007 do Senado Universitário, em sessão de 13 de Dezembro, é aprovado o regulamento da Universidade Aberta de Creditação de Competências Académicas e Profissionais.
pós graduações; publicações, entre outras, a levar em consideração na grelha de avaliação para os concursos de acesso.
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REFORMAR OS REFORMADORES AS REFORMAS EM PORTUGAL PLÁGIOS, NEGÓCIOS E O ABANDONO DA INTERIORIDADE
N
o inicio da década de oitenta, Pedro Ayres de
bões que desmantelam o já de si carcomido e esmifrado Estado
Magalhães, numa homenagem a um conterrâneo
Português. Eu não conheço nenhum rico luso que não tenha
meu, cantava: “ E todo o planeta devia telefonar
“negócio” com o Estado. Conhecem? Em caso afirmativo devem
para Portugal”. Nessa peça musical exaltava a
ser amigos íntimos do filósofo Diógenes e da sua inseparável
idiossincrasia do ser “português” num labirinto de arte, engenho,
lanterna. Coitado, se vivesse hoje, com o preço da eletricidade e
ego, reinvenção, mas também de incompreensão pelas razões
das compensações que se pagam aos “nossos amigos chineses”
que radicam no nosso portuguesismo, saloio, bacoco, rendido
abandonava por certo a sua incessante busca, aliviando a Sra.
aos ventos que passam e à visão messiânica que perpassa por
Merkel e os compinchas do Bilderberg (aquele famoso e sinistro
muitos exemplares lusos. Se hoje, essa peça musical tivesse
grupo que constitui a mão que embala o berço da economia
de ser reescrita, muito provavelmente diria: “E todo o planeta
mundial, dos seus conceitos, atitudes, e opinion makers).
deveria telefonar para Portugal para encontrar um reformador,
E por falarmos em reformas, falemos da reforma do mapa judi-
ou um plagiador-mor”.
ciário, sem lateralizar para outras questões igualmente impor-
Há uma editora que todos os anos elege uma palavra de marca,
tantes, como a reforma da ação executiva inspirada no modelo
distintiva do ano, que a todos toca indelevelmente. Se, porven-
francófono, com reminiscências até da francofonia, imagine-se,
tura, dedicasse a sua atenção aos tempos pós 25 de Abril, iria
do Quebec (fruto das viagens inspiradoras dos nossos eminentes
esbarrar, necessariamente, num vocábulo: reforma.
reformadores).
Se há reformadores e reformas é em Portugal, mas isso não quer
Enquanto Pedro Ayres de Magalhães falava na sua música da
dizer que o nosso avanço seja evidente, marcante, de charneira
bravura, do improviso, do arrojo, longe estava de imaginar estes
ou significativo até e, se falarmos, no sentido económico, sinto
tristes exemplares que plagiam modelos, descontextualizados,
uma dor lancinante, reconhecendo apenas uns quantos patriotas
sem registo e identificação nacional que impingem ao nosso
que reformaram as suas carreiras, refugiando-se nas cinzentas e
burgo. Ao mero esboço de resistência e desconforto destas
blindadas instituições europeias. Um super Estado, entre outros
medidas, o Zé Povinho é olhado com desprezo e desdém por
estados menores. Ainda os laicos falam do Vaticano e dos seus
quem tem olhos altaneiros e que se acha no direito divino de
escândalos. Meninos de coro!
impor o caminho aos seus atávicos patrícios. Uma lapela com a
Isto para não falar da total transparência das instituições e das
bandeira nacional, nem que seja comprada na baixa do Chiado, é
pessoas que a coberto do malfadado segredo e reserva da esfera
muito convincente e conveniente. Os arautos da mudança apre-
privada, alimentam um polvo insaciável de corruptos e aldra-
goaram a reforma que os portugueses há muito desesperavam,
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A forma como traçaram o mapa judiciário, nem foi inteligente, nem eficaz e conduziu à litoralização e à concentração nas urbes das magnas instâncias...” retirando-os de um atraso civilizacional de 200 anos, devolven-
cinco elementos e um Juiz de Direito, escamoteando o facto
do a celeridade processual e uma justiça de proximidade. Não
de que, em média, o número de ações declarativas (embargos,
vos faz lembrar um qualquer movimento religioso recentemente
oposições, habilitações de todo o tipo, reclamações de créditos,
introduzido em Portugal, ou então aquela cartilha dos idos
etc.) ultrapassa, e muito, a média das ações dirimidas nas outras
países da cortina de ferro que cantavam aos seus concidadãos
instâncias. Julgar que as ações executivas só são tramitadas pelo
dogmatizados pela ideologia regente. A forma como traçaram
agente de execução e residualmente o juiz de Direito intervém
o mapa judiciário, nem foi inteligente, nem eficaz e conduziu à
é um ultraje, para não chamar outra coisa mais grave. Mas quem
litoralização e à concentração nas urbes das magnas instâncias,
reforma em laboratório, ao sabor do imediatismo, sem chamar
votando ao abandono a interioridade do país e os seus habitan-
todos os sujeitos processuais, os agentes locais, regionais
tes. Se fosse uma barcaça a atravessar o Tejo, virava, sem apelo
arrisca-se a este descalabro, cujas ondas de choque ninguém
nem agravo. Minaram de tal modo o edifício judiciário que nem
consegue prever com exatidão os seus reais efeitos.
sei como o poderão restaurar. É o que se vê: viaturas policiais
Para qualquer boa reforma é preciso planeamento, conhecer
e camarárias a conduzirem sujeitos processuais aos tribunais,
bem os enquistamento do passado, as assimetrias do presente
tentando diminuir o fosso que os burocratas já tinham cavado
e projetar o futuro. É necessário dinheiro e adesão das pessoas
com o mapa e com um regime de custas judiciais verdadeira-
para construir um modelo verdadeiramente eficaz.
mente inacessível neste país cada vez mais depauperado.
Neste mapa tudo isso esteve ausente e veio ao de cima a
Entretanto, nas urbes ao serviço do “grande capital” como diria
impreparação e a cegueira da mudança, independentemente de
com toda a propriedade um célebre político português, engen-
todos os riscos sinalizados e da pouca discussão pública sobre
dram-se pepex(s) e afins, afastando as pessoas dos tribunais,
a matéria.
com significativos atropelos aos seus legítimos direitos. Isto
Por isso a minha inequívoca proposta é que se reformem os
não é uma país. É sim, como diria Pedro Sena Lino, um Despaís
reformadores, com tudo a que têm direito, desde salário e
(romance de provocação que recomendo vivamente que leiam).
cumulativamente pensões, avenças e afins. Mesmo que essas
E a distribuição dos quadros pelas instâncias de execução e de
mordomias sejam eticamente reprováveis e possam ofender a
comércio é de uma barbaridade incrível e esbarra numa insus-
expectativa do comum dos mortais, ainda assim o país irá lucrar,
tentável leveza de conhecimento que até ofende o mais dis-
diminuindo o défice estrutural (se não financeiro, pelo menos de
traído observador. Acreditar que um Juízo com a magnitude de
coluna vertebral dos seus cidadãos).
duas a três dezenas de milhar processos pode ter no seu quadro
Rui Caires
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DESAFIO CITOTE Preencha com as palavras relacionadas com a atividade dos Funcionários Judiciais. S
❈
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E
❆
✸ letras
ATO ROL
8 letras
PROCESSO ACUSACAO EMBARGOS ANULACAO NULIDADE
12 letras
4 letras
AUTO ERRO JUIZ ONUS TAXA PENA
9 letras
USUFRUTUARIO
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5 letras
ACAREACAO AUDIENCIA INSTANCIA
14 letras
PROVA PRAZO PARTE CAUSA CARTA
10 letras
6 letras
CORPUS CUSTAS EDITAL ESCUSA EXAMES DEBATE
LEGALIDADE LITIGANCIA
JURISPRUDENCIA
11 letras
7 letras
O JUSTICA PETICAO RECURSO JULGADO DILACAO OFICIAL SEGREDO
ARROLAMENTO
Soluções na próxima edição do Citote.
DEPARTAMENTO JURÍDICO FORMAÇÃO
ASSISTÊNCIA MÉDICA
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