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Patrocinador Oficial
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Este ano tem início na nossa terra a primeira edição do Curt’Arruda – Festival de Cinema de Arruda dos Vinhos. O tema «A Ruralidade» serve de mote a todos os filmes a exibir, homenageando o património e os valores rurais de uma terra cada vez mais urbanizada, mas que continua a proporcionar-nos a “qualidade de vida do campo”. O festival pretende exibir curtas-metragens portuguesas, assim como promover a produção cinematográfica local e nacional através dos prémios: Film’Arruda – Melhor Curta-metragem de Arruda dos Vinhos e que se destina a filmes feitos em/ou sobre Arruda dos Vinhos; e o prémio Curt’Arruda – Melhor Curta-metragem Rural, ao qual se inscreveram cerca de 50 filmes de todo o território nacional. Haverá ainda uma mostra paralela à competição oficial, onde abrimos um pouco mais a noção de ruralidade e fomos contagiados por filmes experimentais, de ensaio, ou até mesmo diarísticos. Como forma de reavivar o espírito cinematográfico local, o Curt’Arruda terá lugar no Salão Nobre do Clube Recreativo Desportivo Arrudense, onde há muitos anos se exibiam filmes nacionais e internacionais. Assim, os arrudenses que por lá assistiram a diversas películas, terão a oportunidade de recordar os velhos tempos, tendo, simultaneamente, os mais novos a possibilidade de ter o “cinema da sua terra”. Foi há cerca de trinta anos que assistimos àquela que viria a ser a última exibição cinematográfica em Arruda dos Vinhos com o filme Manhã Submersa de Lauro António (1980). Como forma de tornar vivo esse espírito do passado, nesta primeira edição, o Curt’Arruda homenageia o realizador Lauro António, dedicando-lhe o Ciclo Lauro António, no qual voltamos a exibir o filme Manhã Submersa, a única longa-metragem do festival. No final de cada dia haverá um concerto de uma banda nacional. O primeiro a cargo dos First Breath After Coma – que em 2013 venceram o concurso Novos Talentos FNAC e na dia seguinte teremos os a Jigsaw, considerados pela revista holandesa Heaven Music como um dos projectos Indie Folk mais interessantes e originais do continente europeu. Bem-vindos ao Festival de Cinema Rural Mais Urbano de Portugal!
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programação
8 de Agosto - sexta-feira 16h ME MYSELFIES AND I - doc. 5’
9 de Agosto - sábado 16h CICLO LAURO ANTÓNIO
MACHINERGY RHYTHM BETWEEN SOUNDS - doc. 22’
VAMOS AO NIMAS – doc – 18’
FÚRIA – fic. 23’
PREFÁCIO A VERGÍLIO FERREIRA – doc – 14’
SAFRA – doc. 26’
O ZÉ POVINHO NA REVOLUÇÃO – doc. 18’ MARIA SOBRAL MENDONÇA – doc. 28’
18h A LUCIDEZ DO ABSURDO – doc., exp. 20’
18h É CONSIDERAVELMENTE ADMIRÁVEL DA TUA
WALK IN THE FLESH – exp. 7’
PARTE QUE AINDA PENSES EM MIM COMO SE AQUI ESTIVESSE – fic. 13’
O CAMPO AQUI – doc. 12’
MÁ RAÇA – fic. 20’
O ALÍVIO DOS APERTOS – doc. 30’
O RAPAZ QUE OUVIA PÁSSAROS – fic. 10’ ALDA – ani. 12’
21h SESSÃO DE ABERTURA
21h SESSÃO DE ENCERRAMENTO
CAÍMOS JUNTOS – fic. 7’
FILME VENCEDOR DO PRÉMIO CURT’ARRUDA
QUATRO HORAS DESCALÇO – fic. 16’
MANHÃ SUBMERSA – fic. 131’
MUPEPY MUNATIM – fic. 18’ O REINO – fic. 15’
22h CONCERTO FIRST BREATH AFTER COMA
23h CONCERTO a Jigsaw
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Curt’Arruda - Competição Oficial ALDA Ana Cardoso, Filipe Fonseca, Liliana Sobreiro e Luís Catalo, Ani., 12’ 9 Agosto, Sáb., 18h O filme retrata a evolução de um espaço rural, e consequências que isso trouxe na vida de alguém que sempre ali viveu. Alda é uma mulher idosa e solitária, que teve uma história de vida complicada. Perante esta mudança que lhe é imposta, e sem fuga possível, vê-se agredida a si e ao mundo que conhece, não tendo outra alternativa que não seja regressar ao lugar que sempre conheceu, a sua casa.
Caímos Juntos Frederico Parreira, Fic., 7’ 8 Agosto, Sex., 21h Uma mulher passa os seus dias sozinha em casa. À noite o marido regressa mas evita o confronto. Portas fechadas e corredores silenciosos são o território de medos e esperanças. Nos sonhos, passado e futuro cruzam-se.
É CONSIDERAVELMENTE ADMIRÁVEL DA TUA PARTE QUE AINDA PENSES EM MIM COMO SE AQUI ESTIVESSE André Mendes e Andreia Neves, Fic., 13’ 9 Agosto, Sáb., 18h Zé, um rockstar esquizofrénico, que está retirado do mundo da música decide voltar.
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Curt’Arruda - Competição Oficial MÁ RAÇA André Santos, Marco Leão, Fic., 20’ 9 Agosto, Sáb., 18h Um retrato sobre o vazio numa relação primária entre mãe e filha. Duas personagens movidas pela culpa e pelo ressentimento vivem solitariamente juntas com um cão nervoso, a única presença masculina na casa.
MUPEPY MUNATIM Pedro Peralta, Fic., 18’ 8 Agosto, Sex., 21h Um Homem regressa de França a Portugal em busca da campa de sua Mãe. Quer-lhe fazer uma homenagem. Quer redimir-se do passado. Apenas tem o contacto de uma pessoa. Encontra-a. Porém ela não sabe o paradeiro da campa. Quando está pronto para desistir tem uma revelação. A promessa tem que ser cumprida.
O RAPAZ QUE OUVIA PÁSSAROS Inês Rueff e João Seguro, Fic., 10’ 9 Agosto, Sáb., 18h Rui é um jovem escritor de sucesso que vive sozinho numa casa isolada no meio dos bosques. Um dia, enquanto está a caçar, sente uma impressão nos ouvidos. Semanas depois, Rui perde totalmente a audição. Perante esta alteração brutal da sua vida, Rui isola-se no seu mundo, tentando fingir a normalidade da sua vida. Ele está seguro de que voltará a ouvir. É no jardim da sua casa, no meio do bosque, que Rui, envolto na sua escrita, é interrompido pelo som de um estrondo nos seus arbustos.
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Curt’Arruda - Competição Oficial O REINO Paulo Castilho, Fic., 15’ 8 Agosto, Sex., 21h Caminhando nas fronteiras perdidas do Reino, o nosso herói encontra o seu maior inimigo... Trata-se uma adaptação de época perspectivada intemporalmente. Com uma forte componente introspectiva sobre a necessidade/ dependência de relações sociais para a sobrevivência enquanto Homens. Um filme que conta a história por trás da História...
QUATRO HORAS DESCALÇO Ico Costa, Fic., 16’ 8 Agosto, Sex., 21h Numa aldeia de montanha do interior de Portugal, alguém é morto. Um rapaz de dezasseis anos sai de casa descalço, sob a noite fria, em direcção à floresta. Caminha ao longo de trinta quilómetros, subindo e descendo a montanha. Tem um só pensamento na cabeça.
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FILM’ARRUDA - Competição Oficial Machinergy - RHYTHM BETWEEN SOUNDS Hélder Rodrigues, Rui Vieira, Doc., 22’ 8 Agosto, Sex., 16h Ano de 1988. Arruda dos Vinhos. Alguns jovens despertam para o mundo do heavy metal e fundam a primeira banda de som pesado de Arruda. Sempre cercados por um certo isolamento e dificuldades, nunca desistiram do que mais queriam fazer: MÚSICA
ME MYSELFIES AND I Cláudia Teodoro e Nélson dos Santos, Doc., 5’ 8 Agosto, Sex., 16h Trata-se de um documentário em jeito de vídeos-selfies, captado através de um telemóvel, em que o espectador é convidado ou até mesmo desafiado, a identificar ou reconhecer locais e pessoas que marcam o quotidiano e também a memória coletiva de Arruda dos Vinhos.
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Mostra de Cinema A Lucidez do Absurdo Francisca Marvão e Tatiana Saavedra, Doc., exp., 20’ 8 Agosto, Sex., 18h Uma troca de correspondência entre duas jovens portuguesas na tentativa de alcançarem alguma coisa, de forma a darem um certo sentido à existência. Pode-se dizer que é o início de uma busca pela verdade impossível de encontrar mas que, mesmo assim, vale a pena tentar fazê-lo.
FÚRIA Sérgio Grilo, Fic., 23’ 8 Agosto, Sex., 16h Depois de ter feito Guerra em Angola, António, reencontra a paz na humildade do trabalho agrícola no terreno de um ex-camarada de armas. Dedicado à filha, vítima de um acidente, António é assombrado pelo trauma de uma guerra que o tempo tenta fazer esquecer. Um grupo de jovens ataca a filha e desperta em António instintos que ele tentara adormecer! Os limites das regras de interação quebrados pela guerra voltam como um turbilhão ao seu quotidiano.
O ALÍVIO DOS APERTOS Catarina Neves, Doc., 30’ 8 Agosto, Sex., 18h “Ressuscitou, como disse! Aleluia! Aleluia! Aleluia!”. Assim se canta na Páscoa, na procissão das “Tochas Floridas”, uma tradição que, em São Brás de Alportel, Algarve, se mantém igual há mais de 70 anos e onde Afonso faz questão de regressar todos os anos.
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Mostra de cinema O CAMPO AQUI Carla Mota, Doc., 12’ 8 Agosto, Sex., 18h Num cenário urbano é ainda possível encontrar traços de um mundo rural ancestralmente ligado ao trabalho braçal e ao ritmo da terra.
SAFRA David Cachopo, Doc., 26’ 8 Agosto, Sex., 16h Uma vida de trabalho, experiência e histórias, sob o sol abrasador, num ambiente de serenidade e comunhão com a Natureza. O documentário “Safra” dá a conhecer as salinas tradicionais de Castro Marim, a sua importância, bem como o testemunho de quem nelas trabalha.
WALK IN THE FLESH Filipe Afonso, Exp., 7’ 8 Agosto, Sex., 18h Walk in the Flesh é um vídeo que se apropria das imagens originais de “Scanners”, de David Cronenberg. Estas imagens foram comprimidas e foram submetidas, juntamente com o som, a um tratamento robótico e repetitivo, dando-lhes uma nova leitura. Os carateres que se arrastam e vagamente se deixam ser vistos no filme a vagar em uma luta para ganhar vida, a vida na carna, ao invés de uma existência digital e mental, que falha.
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CICLO LAURO ANTÓNIO
Lauro António Nascido em Lisboa a 18 de Agosto de 1942, licenciou-se em História na Faculdade de Letras de Lisboa em 1969. Foi membro do Cine-clube Universitário de Lisboa e, mais tarde, director do ABC Cine-Clube, actividades que o levaram à crítica cinematográfica a partir de 1963 e, mais tarde, à coordenação da programação de algumas salas de cinema como “Estúdio Apolo 70”, “Caleidoscópio” e “Foco”. Foi diretor de Festivais de Cinema como “Festival Internacional de Lisboa” em 1966”, “Festroia” em 1989, “Festival Internacional de Portalegre” de 1988 a 1990 e “FESTIVIANA, Festival Internacional de Cinema de Viana do Castelo” em 1991. Tem exercido regularmente a critica cinematográfica em inúmeros jornais e revistas e é crítico e ensaísta de cinema com mais de cinco dezenas de obras publicadas como “O Cinema Entre Nós”, “Cinema e Censura em Portugal” e “Horror Film Show – O Cinema Fantástico nos Anos 70”. Foi coordenador do grupo “Cinema e Audiovisual”, do Ministério da Educação entre 1990 e 1993. Foi membro de júri em diversos festivais de cinema nacionais e internacionais como “Festival Internacional de Cine de Humor de La Corunã, Espanha”, “Festival de Cinema Hungaro, Budapeste – Hungria” ou “Festival Internacional de Cinema Fantástico do Porto – Fantasporto – Prémio George Méliés”.
Conselheiro para a área do cinema na TVI entre 1993 e 1997 foi autor do programa “Lauro António Apresenta” onde apresentava filmes da sua escolha. Diretor de programação do “Fórum Académico do Porto”, com sessões semanais no ISEP de 1997 a 2007. Tem organizado ciclos dedicados a Richard Brooks, John Huston, Humphery Bogart, entre outros. Organizador do “Cinema na Reitoria” na Reitoria da Universidade de Lisboa em 2013. Começou a carreira de realizador em 1974 com a curtametragem “Vamos ao Nimas” tendo realizado desde então 13 longas metragens incluindo “Manhã Submersa” de 1980 que é ainda considerada como a sua obra maior e que teve estreia no Festival de Cannes e representou Portugal na edição dos Óscares de 1981 com a nomeação para melhor filme estrageiro.
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CICLO LAURO ANTÓNIO
VAMOS AO NIMAS Planificação, Montagem, Realização: Lauro António (Portugal, 1975); Fotografia (preto e branco): Moedas Miguel; Texto: Maria Eduarda Reis Colares; Locução: Lia Gama, Nuno Martins; Montagem Sonora: Raul Ferrão; Misturas Luís Barão; Assistente de Realização (estagiário): Luís Sarmento; Assistente de Montagem: Emília de Oliveira; Assistente de Imagem: João Abel; Pelicula: 35 m/m, Ilford; Laboratório de Imagem: Ulyssea Filme; Laboratório de Som: Nacional Filmes; Filmagens entre Setembro de 1974 e Marco de 1975, em Lisboa; Distribuição: Filmes Lusomundo; Classificação etária: Para Todos; Estreia em Lisboa, Cinema Tivoli (28 de Maio de 1975); Subsidiado pelo lnstituto Português de Cinema; Duração: 18 minutos. A curta-metragem de Lauro António “Vamos ao Nimas” analisa a decadência dos cinemas populares. Ontem Tarzan. Hoje sexo e violência. Reconheçamos que não se ganhou com a troca. Um filme é, muitas vezes, rico pelas associações que provoca. O problema de “Vamos ao Nimas” talvez seja uma síntese muito rápida entre três componentes ou fases: idade romântica ou ingénua - a venalidade que produziu Sartanas e quejandos - e uma espécie de terra prometida da cultura socialista ainda por estrear (vejam-se os programas e as duvidas desaparecem).
Fora isso, esta curta-metragem é um verdadeiro ponto de partida para o reencontro com um cinema de consumo popular tão digno como o folhetim e tão indispensável como o café do bairro. O nimas dos bons tempos, no entanto, vai ter um destino menos risonho. Figurará como uma das primeiras vítimas da crise urbana. Não vai sobreviver nas cidadesdormitório e, em certas zonas, rapidamente transforma-se numa sombra. As novas receitas vão funcionar, impingindo a um consumidor desistente géneros adulterados. Os “westerns” passam a ser europeus, os policiais a elogiar as policias, o “karaté” substitui a aventura. O cinema de qualidade virou as costas ao povo. Fugiu para a área dos bilhetes caros, dos centros comerciais ou de sala-estúdio de frequência “snob” com filmes para entendidos. Um pouco como em “A Última Sessão” de Peter Bogdanovich, os velhos cinemas foram morrendo. Salas destruídas. Portas encerradas. As vezes substituídas por estabelecimentos de outro tipo, outras, pura e simplesmente, deixadas apodrecer. Na zona oriental, o “Max” deu mesmo lugar a uma igreja. Já será a altura de voltar a ser cinema? Os tempos mudam. “Vamos ao Nimas” é também uma nota sobre a mudança dos tempos. E dos ídolos que se esquecem, por mais sonhos que tenham povoado a “Idade do Ouro”? Talvez sejamos mais modestos, outra idade. Crise também dos heróis. A diversidade, a alegria e a possibilidade de sonho que eles exibiam transformaramse em subprodutos em que só falava a capacidade de vingança e o primarismo dos instintos. Pode-se dizer que o cinema da evasão se transformou numa mistela de embrutecimento. Para milhões e milhões de pessoas, o cinema que as esclareça e possa integrar ainda não chegou, até por não existir a dobragem. Um pouco como o doente que é envenenado enquanto espera pela vacina. Mas “Casablanca”, Bogart, “O Comboio Apitou 3 Vezes”, Chaplin, os musicais? Pode-se dizer que foram verdadeiramente populares? Ou populares para quem? Se atentarmos no baixíssimo índice de frequência das salas do nosso Pais, fácil será concluir que era ainda a uma camada relativamente reduzida, em estreia ou re-exibição, que eles falavam. José Vaz Pereira
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CICLO LAURO ANTÓNIO
PREFÁCIO A VERGÍLIO FERREIRA Planificação, Montagem, Realização: Lauro António; Fotografia: Abel Escoto; Textos seleccionados por Lauro António de obras de Vergílio Ferreira, ditos pelo próprio; Montagem Sonora: Raul Ferrão; Misturas: Luís Barão; Película: Eastmancolor-Kodak; Laboratório de Imagem: Ulyssea Filme; Laboratório de Som: Nacional Filmes; Produção: Manuel Guimarães, Lauro António; Subsidiada pelo Instituto Português de Cinema; Filmagens entre Junho de 1974 e Maio de 1975, em Melo, Serra da Estreia, Évora e Lisboa; Distribuição: Filmes Lusomundo Classificação: Para Todos; Estreia: Cinemas Estúdio Apolo 70, Berna, Éden e Pathé, em Lisboa; S. João e Águia d’Ouro, no Porto; Processo 35 mm - cor - 14 min. As qualidades do filme começam pela justeza do título, pois a palavra “prefácio” significa que a obra prefaciada não faz parte dele. Assim, as imagens e os sons da película como que apresentam o escritor, sem analisar a sua personalidade, a sua obra, os seus méritos e os seus deméritos.
Vergílio Ferreira aparece e com ele os lugares e as personagens do seu peregrinar por este mundo. Mas não falam, a sua presença é meramente coral, evocativa. Em “off”, acompanhando as imagens mais num sincronismo interior do que num sincronismo técnico, ouve-se a voz do escritor e, nessa voz, explicam-se certos porquês sobre a vida e a obra, designadamente as suas opiniões sobre a criação literária e sobre uma visão do mundo que escolheu. Acontece, quanto a mim, que os trechos escolhidos são admiráveis, mostrando, por obra e graça da voz do autor, que ele é, de facto, um grande criador do verbo, um pensador e um ficcionista de primeira água. Deixa-nos, digamos assim, o apetite de ir ler as suas obras e creio ser essa a melhor missão de qualquer prefácio: abrir o apetite para a leitura da obra. Luís de Pina Esta segunda curta-metragem realizada por Lauro António tem para nós um significado muito particular: como para Vergílio Ferreira o Alentejo não é mais do que a projecção natural das suas pedras, também para Lauro António a realização é a própria projecção na prática das suas reflexões sobre o cinema. Não há a teoria e a prática. Há o cinema, há uma tentativa de ler a distância que vai do olhar ao ver e há, naturalmente, o fazer aquilo que se descobriu. É para nós, habituados as estáticas biografias que o cinema nos tem dado, uma muito agradável surpresa o dinamismo que deste “Prefácio” transpira, a “decoupage” que o filme faz da frigidez de um autor e de uma obra. Saltando a barreira do formal, tentando ir ler nas próprias pedras que, elas sim, escreveram “Cântico Final”. O Jornal ... Esse admirável e doloroso “Prefacio a Vergílio Ferreira”, do Lauro António, trabalho febril e tenso sobre a encenação da fala, sobre a representação do discurso (...). José Camacho Costa Lauro António fez uma curta-metragem sobre mim que eu não arriscaria muito em considerar uma obra-prima Vergílio Ferreira
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CICLO LAURO ANTÓNIO
O ZÉ POVINHO NA REVOLUÇÃO Planificação, Montagem, Realização: Lauro António; Fotografia Abel Escoto; Musica: Banda de Musica de Trofa, José Afonso, Paco Bandeira, Paulo de Carvalho, Ermelinda Duarte, Fernando Tordo, João Maria Tudela, GAC - Vozes na Luta, Coro da Academia de Amadores de Musica, etc.; Texto: Maria Eduarda Reis Colares, Lauro António; Locução: Lia Gama; Montagem Sonora: Raul Ferrão; Misturas: Luís Barão; Assistente de Realização: Mário Damas Nunes; Assistente de Montagem: Emília de Oliveira; Laboratório de Imagem: Ulyssea Filme; Laboratório de Som: Nacional Filmes; Pelicula: Eastmancolor – Kodac; Genérico: Carlos Paulo Simões; Produção: Lauro António, subsidiada pelo Instituto Português de Cinema. Filmado em Lisboa, em Novembro de 1977; Desenhos de Rafael Bordallo Pinheiro, António, Baal, Cid, Crocodilo, Edmundo Tenreiro, Hélder, João Abel Manta, João Benamor, José de Lemos, José Vilhena, Luís Guimarães, Manuel Vieira, Xcmlxxvi, Miranda, Palha, Pedro, Sam, Vasco, V. Silva, V. Peon. Estreia Lisboa, Cinema Estúdio Apolo 70 (23 de Junho de 1978). Processo 35 mm - cor - 18 min.
Nas imagens do filme perpassam os melhores desenhos dos cronistas políticos de Abril, alguns novos, outros consagrados, mas todos notáveis. Lá estão os desenhos sombrios de João Abel Manta, os traços searlianos de Cid, a perplexidades do Guarda Ricardo, o estilo “<Gaiola Aberta” de Vilhena, as notáveis fotomontagens de Portela no “Jornal Novo”, que constituem um dos melhores momentos do nosso humor revolucionário. Muitos outros aparecem também e eu diria que o trabalho de selecção dos desenhos é um dos méritos da fita, que procura uma forma própria de contar, misturando uma partitura musical tipicamente portuguesa e tocada de forma algo brincalhona com as situações descritas nos “cartoons” escolhidos. Parece-me mesmo que o melhor do filme é esta tentativa de articulação audiovisual, bem humorada, que dispensaria o texto se este não fosse preciso para explicar a evolução da própria política portuguesa. Da sequência de imagens nasce assim, paralelamente, uma historia alegre da revolução, demonstrando que o povo, seguindo o Zé seu mestre, nunca deixou de rir nem de mostrar ao poder, seja ele revolucionário, provisório ou constitucional, que está sempre vivo e disposto e dizer o que tem a dizer. Ninguém consegue calar a sua voz, e aí o temos nos últimos anos, fotografado pela camara colorida e bem disposta do meu amigo Abel Escoto e filmado por gente nova que tem para mim o mérito de saber rir sem olhar a compromissos nem filiações. Luís de Pina
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CICLO LAURO ANTÓNIO Regeneração? Pois seja. Todos os caminhos são caminhos de algum Senhor para chegar a um mundo melhor. Cada um escolhe os seus caminhos e todos nos poderemos encontrar, lá no fim, na mesma meta. Lauro António Ideia e Realização: Lauro António Imagem e Som: Frederico Corado Montagem e Sonorização: Lauiro António e Frederico Corado Produção: LA Produções Cinematográficas e Magazin Produções Apoio: Bazar do Vídeo
MARIA SOBRAL MENDONÇA Seria impensável aproximar-me do universo pictórico de Maria Sobral Mendonça sem uma prévia aproximação do tema que a levou a desterrar-se para terras de Montemoro-Novo, para, no frio mais intenso e no calor tórrido de um casarão sem nenhumas comodidades, executar em voluntária clausura, que durou um ano, trinta telas que nos falam do pecado e da culpa, que nos mostram mulheres cujos rostos apenas se adivinham, vestidas por coloridas vestimentas que escorrem passado, personagens e situações de dramas e culpas, de remorsos e libertações que tendem para a purificação do corpo e sobretudo da alma. Mas o que mais me apaixona na obra de Maria Sobral Mendonça é a sua técnica, a busca de uma textura sólida, o exercício dos pincéis, da espátula, dos próprios dedos, a misturar as tintas, a desenhar uma sensualidade óbvia de cores e formas, a partir do figurativo para atingir uma quase abstracção, que é a busca da “alma” da tela. Há nesta pintora (e nesta mulher) uma complexidade de olhar e uma exigência de atitude que mistura o prazer de viver e a sua recusa, que argamassa com as mesmas cores, numa mesma tela, virtude e pecado, que reúne, contra natura, a presença e a ausência, a vida e a morte, o branco e o negro, todas as cores e cores nenhumas, para no final a sensação ser de exaltação da vida e nossa própria exaltação. Mesmo quando nos quadros o negro domina e a viuvez impera. Na escuridão do luto, as mãos e os pés rasgam com violência a sua própria imposição.
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Jurí
Margarida Cardoso
Realizadora e argumentista. Nasceu em Portugal e viveu até aos 12 anos em Moçambique. Tirou o curso de Imagem e Comunicação Audiovisual da Escola António Arroio. De 1983 a 95 trabalha como anotadora e assistente de realização em mais de 50 filmes portugueses e estrangeiros. É professora do curso de Cinema, Vídeo e Comunicação Multimédia da Universidade Lusófona de Lisboa. Desde 96 que realiza filmes de ficção e documentários. Em 1999 foi premiada com o “Léopards de Demain” no 52º Festival de Locarno e a sua primeira longa metragem “A Costa dos Murmúrios” teve a sua primeira apresentação no Festival de Veneza – Venice Days, 2004. Nos últimos anos afirmou-se como um dos nomes mais consistentes do cinema português. “Natal 71″ , “Kuxa Kanema – O Nascimento do Cinema”, “A Costa dos Murmúrios” e a sua última longa metragem “Yvone Kane” têm em comum o tema da memória ligada a questões coloniais e pós-coloniais.
Artur Pinheiro
Nasceu em Lisboa no ano de 1972. Em 1990 concluiu o Curso TécnicoProfissional de Artes Gráficas na Escola António Arroio, e em 1993 terminou o Bacheralato em Realização Plástica do Espectáculo, na Escola Superior de Teatro e Cinema. Rapidamente começou a trabalhar no Teatro, Ópera e Cinema, deixando para trás as Artes Gráficas. Em 2001 aceitou fazer a Direcção Artística de um telefilme para a SIC, “Anjo Caído” de Jorge Costa, e de uma série para a RTP, “Sociedade Anónima” de Jorge Paixão da Costa. Depois começou a fazer Direcção de Arte em filmes publicitários, colaborando estreitamente com Marco Martins, e a sua produtora Ministério dos Filmes, durante 3 anos. De 2004 para cá fez a Direcção Artística de vários projectos dos quais destaca “Alice” e “Como Desenhar um Circulo Perfeito”, ambos de Marco Martins, “República”, uma mini-série histórica de Jorge Paixão da Costa, e a mais recente longa metragem do realizador brasileiro Alberto Graça - ainda por estrear. Em publicidade, trabalha não só com realizadores nacionais como com realizadores estrangeiros, dos quais destaca Vaughan Arnell, a dupla Ne-O, Ivan Bird, Floria Sigismondi e Gerard de Thame.Nos últimos anos voltou a trabalhar no Teatro e Dança, criando a cenografia de alguns projectos de Maroo Martins e Clara Andermatt.
Carla Henriques
Nasceu em Moçambique. É jornalista na RTP - RDP África há 17 anos, onde foi coordenadora de informação durante mais de uma década. Realiza e produz o programa semanal de rádio sobre cinema nos países de língua portuguesa - GRANDE PLANO. Colabora com o programa de cinema - CINEMAX - Antena 1 e Antena 3 . É consultora do Shortcutz Porto, júri e curadora de festivais de cinema. Colabora com a revista de arte contemporânea - Artecapital.
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concertos
FIRST BREATH AFTER COMA 8 Agosto Sex., 22h
Os portugueses FIRST BREATH AFTER COMA revelam uma maturidade composicional pouco comum para uma formação com músicos ainda tão jovens. A rodagem deuse, por certo, na anterior incarnação, denominada de Kafka Dog, onde entre garagens bolorentas e clubes fumarentos experimentavam clássicos que iam dos Joy Division aos Doors, de Iggy Pop a Velvet Underground, não descurando a incurssão por alguns originais onde se notavam influências com doses equitativas de grunge e post-punk… Resolveram parar. Dar um tempo. Esperar para voltar a respirar. Apareceram os FIRST BREATH AFTER COMA, que em menos de dois anos vencem o ZUS! (concurso da FADE IN), o casting Vodafone Mexefest, vão à final do Festival Termómetro, são eleitos novos talentos FNAC e lançam um disco. E o que são afinal os FIRST BREATH AFTER COMA? São um segredo por descobrir, uma pérola por burilar. Uma lufada de ventos frios que vem da Islândia, adensa nos trópicos e acaba a beijar, ao de leve, as praias quentes das Caraíbas… Roberto Caetano, Telmo Soares, Rui Gaspar e Pedro Marques vão dar que falar. Depois de contribuírem com um tema para o Sampler 2013 e para um 7” split da Omnichord e para os Novos Talentos FNAC, eis que em Outubro é lançado o disco de estreia “The Misadventures Of Anthony Knivet”. O disco de estreia levou-os inclusivamente a Espanha e foi apontado como um dos melhores discos do ano para alguma imprensa musical.
A JIGSAW
9 Agosto Sáb., 23h Considerados pela revista holandesa Heaven Magazine como um dos projectos Indie Folk Americana mais interessantes e originais do continente Europeu, a banda Portuguesa a Jigsaw, originária de Coimbra pelo trio: João Rui, Jorri e Susana Ribeiro; editou o ano passado o single Rooftop Joe. A banda que um dia adoptou o nome da música Jigsaw You composta por dEUS, estreou-se em 2004 com o EP From Underskin. Em 2007, com o ábum Letters From The Boatman, chega aos tops A3-30 da Antena 3. Este álbum manteve-se nos tops de rádios nacionais e foi descrito como um dos melhores do ano. Na sequência deste reconhecimento, os a Jigsaw foram considerados uma das revelações de 2007, quer pela sua performance ao vivo, quer pela sua sonoridade que tem tanto de intimista como logo de seguida se torna electrizante. No segundo álbum, Like the Wolf, decidiram multiplicarse em vários instrumentos e partilhar com o público um álbum rico e complexo, onde os detalhes anseiam por atenção e fomentam músicas de beleza singular. É um trabalho descrito como “irresistível”, “obrigatório”, “viciante” e como um dos melhores álbuns do ano 2009. Em 2011, lançam o álbum Drunken Sailors & Happy Pirates, atraindo a atenção internacional, ao serem referidos pela revista francesa Les Inrockuptibles, The Guardian e a Ruta66, de Espanha. a Jigsaw tem dado concertos por toda a Europa, desde Espanha, França, Itália, Bélgica, Suiça e mais recentemente na Polónia. Agora é altura de Arruda dos Vinhos recebê-los para um grande concerto e gritar bem alto Rooftop Joe!
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sala e bilhetes SALA
CLUBE RECREATIVO DESPORTIVO ARRUDENSE Rua João de Deus, 34 2630-278 Arruda dos Vinhos Tel: + 351 263 975 169
BILHETES
Bilhetes à venda a partir de 8 de Agosto na bilheteira do CRDA Bilhete diário €1,5 (inclui 3 sessões e 1 concerto) Passe dois dias €2 (inclui 6 sessões e 2 concertos) Crianças até aos 12 anos – entrada gratuita
EQUIPA CURT’ARRUDA Organização
Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos
Direcção
André Agostinho Joel Rodrigues
Produção
André Agostinho Joel Rodrigues
Apoio à Produção Augusto Salgueiro Joana Ricardo Tânia Serreira
Programação André Agostinho Joel Rodrigues
Gestão de Cópias André Agostinho Joel Rodrigues
Direcção Técnica Joel Rodrigues
Direcção Artística André Agostinho
Spot
André Agostinho Joel Rodrigues
Design
André Agostinho Antony Ferreira Joel Rodrigues
Prémios
Ana Maria Ramos
Website
Augusto Salgueiro
Edição de Catálogo e Programa
Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos - Cláudia Jaleco
Equipa Reportagem Filipa Figueiredo Luís João Fortunato Mariana Pinheiro
Voluntários
Ana Maria Ramos Ana Raquel Machado Cátia Silva Cláudia Teodoro Lucinda Carvalho Patrícia Pardal Costa Pedro Carvalho
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Organização
Parceiros
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