Nossa Senhora da J MSalvação G o povo e a fé esculpida
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Nossa Senhora da J MSalvação G o povo e a fé esculpida
E assim he digna esta Senhora de que a invoquemos com o título da Salvação; porque segundo dizem os Padres como João Geometra, ella he a salvação dos homes, & a salvação do mundo visível: «Salus mundi visibilis». (Frei Agostinho de Santa Maria, 1707: 388).
O concelho de Arruda dos Vinhos encerra uma empolgante paisagem,
dos séculos, onde o Menino representa todos os filhos de Arruda e a
demonstrando ser um reservatório - esculpido pelo tempo e pelos
Mãe, todas as mães.
homens - de ricas memórias e cargas memoriais. Um dos momentos mais singulares destas manifestações ocorreu no Registar, aprofundar e divulgar uma vertente importante da memória
dia 1 de novembro de 1755, aquando do grande terramoto que assolou
coletiva local, ligada à ancestral religiosidade das nossas gentes, é o
Portugal e especialmente a região de Lisboa. Refere o vigário da Igreja
mote para esta exposição, que agora se apresenta.
de Nossa Senhora da Salvação na altura que “estando a terra ainda em grandes tremores, o povo com grande fé entrando dentro da Igreja, tirou
As imagens são corpos dotados de sentido, e ainda que, perante a escassez
a Senhora da Salvação e [a] levou em procissão pelas principais ruas da
de documentação - praticamente inexistente acerca desta temática - esta
villa e recolhendosse se lhe cantou Missa Solemne para aplacar a ira do
breve resenha histórica e artística pretende dar a conhecer a evolução
bendito filho, e várias pessoas fizeram assistência contínua junto da
do culto mariano em Arruda dos Vinhos mas sobretudo a relação da
ditta Senhora de noite e dia…”. A leitura deste pequeno mas emotivo
Santa – Nossa Senhora da Salvação - com o seu Povo.
trecho permite não só testemunhar a procura de proteção divina, num momento de excecional aflição e desespero, mas também a necessidade
A História da Vila de Arruda confunde-se com a própria Imagem e a
de proteger e manter intocável a mais sagrada das mães, materializada
sua secular veneração. D. Manuel, ao ter mandado mudar a evocação da
na Imagem da padroeira.
Santa Maria de Arruda para Nossa Senhora da Salvação, ordenou ainda que se fizesse Procissão em sua honra a todos os 15 de Agosto, e esse
Apesar da Festa em Honra de Nossa Senhora da Salvação, ou comummente
desejo e ordem cumprem-se até hoje, julgando-se saber que nunca foi
conhecida como, Festas do Concelho ou Festa de Agosto, ter evoluído
interrompido desde então.
até aos nossos dias muito para além da questão religiosa, o dia 15 de agosto continua a ser concerteza a sua génese e aquele que mais pessoas
A relação de Nossa Senhora da Salvação com o “seu Povo” tem vindo a
“atrai” à vila de Arruda dos Vinhos. E estes, tanto são os residentes,
resistir e a consolidar-se ao longo de muitas gerações, através de uma
os forasteiros, ou aqueles que, por alguma razão daqui saíram, mas
ininterrupta manifestação de Amor, a que o povo se entrega e crê receber
voltam neste dia especial. Voltam nesta ocasião especial para estarem
da Sua Mãe. É uma relação que tem perpassado muito para além da
com os que lhes são mais próximos, incluindo a (sua) Mãe de todas as
religiosidade e da Fé, uma ligação umbilical, alimentada por um amor
Mães!
e por um amparo incondicionais, que se têm esculpido no desenrolar
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Referência das Memórias Paroquiais do ANTT Arruda, Torres Vedras - Memórias Paroquiais, vol. 5, n.º 20, p. 683 a 688 Trata-se de um aviso de 18 de janeiro de 1758 do Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, que fazia remeter, através dos principais prelados, e para todos os párocos do reino, os interrogatórios sobre as paróquias e povoações pedindo as suas descrições geográficas, demográficas, históricas, económicas e administrativas, para além da questão dos estragos provocados pelo terramoto de 1 de novembro de 1755.
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O Culto Mariano: a sua evolução Portugal vs Arruda Desde muito cedo que os Cristãos reconheceram o paralelismo simbólico entre a
Com a instituição e afirmação, no séc. V, do culto a Maria, verifica-se que a Virgem
Virgem Mãe e a Igreja Mãe, ambas, igualmente Virgens e fecundas. Maria, sendo
foi sendo representada e interpretada de diferentes formas, que se alteraram ao
Mãe de Cristo, é Mãe dos Cristãos, mas também a Igreja, esposa mística de Cristo,
longo dos séculos, ao sabor das conjunturas histórico-artísticas, e até mesmo da
é Mãe dos mesmos Cristãos, chamados por isso, filhos da Igreja (filii ecclesie >
leitura que dela fazia a própria Igreja.
filigreses > fregueses). Maria foi-se tornando humana, a sua atitude perante Cristo morto torna-a humana, Por esta razão, a grande maioria das catedrais e das igrejas portuguesas tomaram
revelando-se a sua devoção cada vez mais emocional e próxima. Os diferentes
a Virgem Maria por padroeira.
papéis com que foi representada: Mãe, Virgem, Rainha e Intercessora, entre outros, refletem a importância considerável que revelou possuir nos começos da
Por isso se percebe que a fundação e o povoamento de Portugal coincidiram com
Nacionalidade, escolhida como patrona de todas as catedrais da nação.
um grande incremento da devoção mariana, motivada e inspirada pelo ideal cavalheiresco da idade Média de exaltação da mulher, cujo protótipo perfeito era
O culto a Nossa Senhora é portanto, uma história secular e glorificante, que
a Virgem Maria.
arrancou nos primórdios da Nacionalidade.
É nesta continuidade que, no séc. XVII, D. João IV nomeou Nossa Senhora, Rainha
Desde a Idade Média multiplicaram-se as invocações a Nossa Senhora, figura
de Portugal. Desde então, os reis portugueses deixaram de usar Coroa Real, que
primacial da religiosidade e espiritualidade popular em Arruda dos Vinhos. Coube
passou a fazer parte da representação de Nossa Senhora da Conceição.
ao Papa Clemente VIII instituir a prática de coroar, como sinal de realeza, as imagens de Maria e de a proclamar Rainha de diversos países (Portugal, Espanha
Na História de Portugal, registam-se dois momentos importantes no processo da sua independência: a Revolução de 1383–1385 e a Restauração de 1640. Na primeira, salienta-se o significado da vitória alcançada por D. Nuno Alvares Pereira em Atoleiros a 6 de abril de 1384 e a eleição do Mestre de Avis para Rei de Portugal, curiosamente a 6 de abril de 1385. Em 15 de agosto, travou-se a Batalha de Aljubarrota, sob a chefia de D. Nuno Alvares Pereira, símbolo da vitória e da consolidação do processo revolucionário de 1383–1385. No movimento da restauração destaca-se a coroação de D. João IV como Rei de Portugal, a 15 de dezembro de 1640, no Terreiro do Paço em Lisboa. A Solenidade da Imaculada Conceição liga estes dois acontecimentos, decisivos na História da independência de Portugal no contexto das Nações Europeias. Segundo a secular tradição, foi o condestável D. Nuno Alvares Pereira quem fundou a Igreja de Nossa Senhora do Castelo em Vila Viçosa e quem ofereceu a imagem da Virgem Padroeira, adquirida em Inglaterra. Este gesto do Condestável reconhece que a mística que levou Portugal à vitória, veio da devoção de um povo a Nossa Senhora da Conceição. Assim, a formação e a afirmação da nacionalidade Portuguesa consolidaram-se no meio de um cenário onde a sua religiosidade se afirma pelas mãos de uma sociedade guerreira. E era neste cenário de conflitos que se mesclavam intenções políticas e religiosas. Em Portugal durante vários séculos, a alma dos fiéis floresce e assiste-se ao erguer de magníficos templos Marianos até ao séc. XVI. A veneração a Santa Maria, potenciada pelo Clero, foi sendo gradualmente assumida pelos cristãos que se traduziu numa imensa proliferação de diferentes invocações à Virgem.
e França).
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O Culto Mariano: a sua evolução Arruda até ao séc. XVI tinha como oráculo Santa Maria de Arruda Gerações de vários séculos viveram sob a proteção espiritual de Santa Maria de Arruda. A Igreja Matriz de Arruda dos Vinhos terá conhecido vários oragos ligados ao culto Mariano. Grande parte da documentação paroquial e tabeliónica sobre a Igreja Matriz de Arruda dos Vinhos desapareceu, o que nos leva, ainda que com breve base histórica, a realçar quatro invocações deste monumento: Santa Maria da Arruda, Nossa Senhora do Pranto, Assunção e Nossa Senhora da Salvação. Santa Maria da Arruda, invocada por D. Afonso Henriques como já se demonstrou, e ter-se-á mantido muito provavelmente até ao séc. XV. Segundo Frei Agostinho de Santa Maria:
He servida de hũa fervorosa Confraria, cujo compromisso foy feito no anno de 1447. no qual se intitula a Imagem da Senhora, a quem obsequiosamente se dedicou naquelle tempo, a Senhora do Pranto.
Por aqui se entende que a imagem de Nossa Senhora da Salvação não poderá ser a mesma que a de Nossa Senhora do Pranto, pois o semblante sereno de Nossa Senhora da Salvação não se coaduna com a dor de Nossa Senhora do Pranto. A escultura é uma modalidade artística com expressão quantitativa nas valências patrimoniais da Igreja. Um dos exemplos mais destacados, no que toca à escultura, é a imagem de Nossa Senhora da Piedade ou Pietá, cremos tratar-se da imagem tutelar do templo. Considerando o material, a técnica escultórica, a modelação das figuras humanas e a estética que a obra revela consideramos ser obra de séc. XV. Com este intento, é possível identificar a escultura de Nossa Senhora da Piedade, quatrocentista, como sendo a antiga Nossa Senhora do Pranto:
(…) porque em hum altar da mesma Igreja, que fica á parte do Evangelho, se véhũa Imagem de nossa Senhora da Piedade, de vulto, muyto antiga, com o Santissimo Filho morto em seus braços; a qual tem para si as pessoas de mayor entendimento daquellaVilla, que esta era a Senhora do Pranto, em que a Irmandade tivera o seu principio. Refere, já no séc. XVIII, a falta de base documental: Nem se acha algum outro principio certo desta Santa Imagem, nem de onde veyo. Nem se descobre noticia, ou escritura da razão que ouve para que aquella Irmandade mudasse a invocação de Nossa Senhora do Pranto, para o dar á Senhora da Salvação.
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A Procissão Génese da festa Diz a tradição oral que, por ocasião da estada de D. Manuel I em Arruda, para fugir a um surto de peste que tinha assolado Lisboa, e em agradecimento à Virgem por se ter salvo e à sua família, mandou mudar a invocação de Santa Maria de Arruda para Nossa Senhora da Salvação, ordenando que se fizessem obras na Igreja e que se organizasse procissão em honra de Nossa Senhora, a todos os 15 de agosto, tradição essa que chegou aos nossos dias e ainda hoje se mantém. Não sendo possível até à data situar em concreto no tempo este episódio, acredita-se que a génese da festa em Honra de Nossa Senhora da Salvação de Arruda tenha aqui o seu início. “A Festa de Agosto” – como popularmente é referida e conhecida desempenha efetivamente um papel fundamental na vida do concelho, sobretudo na vila de Arruda. Ao analisarmos um pouco a evolução da Festa, percebem-se as repercussões que a mesma tem tido ao nível social e cultural na comunidade. A religiosidade é o fator mais relevante no percurso histórico destes festejos. Não obstante as atividades terem vindo a evoluir noutros sentidos mais profanos, o “15 de Agosto” mantêm o simbolismo e o peso do “dia mais importante” da Festa.
Julga-se então que as Festas se realizam desde 1528 /1531, ano em que a Igreja foi reedificada e posta em melhor forma.
Já no séc. XX, as festividades, fortemente marcadas pela componente
sendo conhecido pela Festa de Baixo ou pela Festa do Adro da Igreja.
religiosa, ocorrem de 6 a 18 de agosto. A organização e a promoção
Tal denominação ter-se-á usado sobretudo nas décadas de 20 e 30. Nos
da festa foram durante décadas da responsabilidade da Paróquia e de
finais dos anos 60, as pessoas terão deixado de fazer os seus contributos
Comissões de Festas, contudo, gradualmente a Câmara foi assumindo
em géneros, passando a fazê-lo em dinheiro.
a organização da parte profana e a paróquia, através das diferentes irmandades da Nossa Senhora da Salvação, “assumia” a organização da
Estes contributos em dinheiro eram materializados na ostentação de
parte religiosa. Até há pouco tempo, a (s) Irmandade (s), conjuntamente
medalhões ou palmitos na lapela da jaqueta no dia da Procissão, cujo
com os Párocos, organizavam a parte religiosa da festa.
tamanho variava de acordo com o valor da oferta feita a Nossa Senhora.
Em nome da Irmandade/ Paróquia, um grupo de fiéis, designado para o
Quem fazia os peditórios, fazia-se acompanhar por uma pequena Coroa
efeito, fazia um peditório à população que resultava na oferta de cereais:
que a dava a beijar a quem ofertava o contributo.
inicialmente cevada e milho e mais tarde, trigo. O dinheiro obtido da venda destes produtos revertia a favor da igreja para a realização dos festejos do dia 14 e 15 de agosto, que decorriam no adro da igreja,
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A Procissão Componente Religiosa De 6 a 14 de agosto, realizam-se as tradicionais novenas, sendo que, na noite de 12, tem lugar a procissão de velas em honra de Nossa Senhora de Fátima. A origem deste culto e a inauguração da capela de Nossa Senhora de Fátima na igreja matriz celebrou-se em 1928. Nos anos 30, esta procissão era acompanhada por cânticos apropriados no adro da igreja. Durante este período, também se realizavam no dia 13 festejos a Nossa Senhora de Fátima com Missa Solene, Sermão ao Evangelho e Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento. Este ato era acompanhado por música e cânticos próprios desta devoção. Durante algum tempo, a noite de 12 de agosto marcou a inauguração da Iluminação da festa. Por seu lado, o final das novenas era marcado por uma Oração e um Hino em louvor à Padroeira. A existência de um hino e de uma oração em Honra da Nossa Senhora da Salvação beneficiava de autorização, por parte do Patriarcado. Tal facto revela a importância da devoção do culto mariano sob esta invocação. A partir de 1928, no dia 14 de agosto, passou a ser celebrada Missa Solene, acompanhada de um Te Deum, dedicada ao Beato D. Nuno Alvares Pereira. Recorde-se que neste dia se assinala o aniversário da vitória dos Portugueses na Batalha de Aljubarrota, atribuída à intercessão da Virgem Maria. No dia 15 de agosto, dia dedicado à Padroeira, a festa atinge a sua plenitude. A população desperta ao som de uma alvorada de foguetes e morteiros que se inicia pelas 8 horas. Segundo as informações recolhidas oralmente, entre os anos 50 e os anos 90, realizavam-se três missas no dia 15 de agosto. A primeira Missa, realizada por volta das 9 horas, era frequentada, sobretudo, por mães de família e por empregados que não podiam assistir às outras duas que se realizariam mais tarde. Com efeito, o dia 15 de agosto continua a ser por excelência o dia do almoço de família onde se recebem alguns familiares e amigos que visitam Arruda nesta altura. Pelas 12 horas, tinha lugar a missa da festa em que participavam três padres, sendo o principal o Pároco da freguesia. Esta missa era acompanhada por um grupo coral proveniente de Lisboa, muito assiduamente, o Grupo Coral de Santa Cecília.
Antes dos anos 50, há notícia da vinda de músicos de Lisboa, com o objetivo de acompanhar os atos religiosos. Já durante o séc. XIX assim acontecia, veiculando a tradição oral, que alguns destes grupos embarcavam no Cais do Terreiro do Paço até Alhandra, onde os esperariam as galeras que os trariam para Arruda. Cerca das 17 horas, iniciava-se a Missa Solene para os forasteiros, que antecedia a Procissão. Mas nem sempre terá sido assim. Segundo o Jornal Vida Ribatejana de 1931, há notícia da realização de duas missas. Realizava-se uma às 10 horas: “Missa rezada, ouvindo-se no coro a Banda de Música de Alhandra. Em seguida, distribuição no adro do Bodo aos Pobres; às 13 horas missa em Honra de Nossa Senhora da Salvação, sendo o coro composto pelos melhores artistas de Lisboa, sob a regência do grande maestro Carlos Araújo…”. Na década de 40, esta Missa das 13 horas contava com a participação regular do Grupo Coral de S. Vicente de Fora. Para a realização destes atos religiosos, a Igreja era ornamentada de forma majestosa com ricos paramentos. Estas missas caracterizavam-se também pela utilização de riquíssimos paramentos litúrgicos bordados a ouro e alfaias de prata. Terminada a missa dos forasteiros, iniciava-se a Procissão. A Procissão de Nossa Senhora da Salvação sempre foi uma manifestação de fé muito importante, verificando-se uma exteriorização de emoções e sentimentos acumulados durante todo o ano, que se materializam através de orações, participação nos atos religiosos, pagamento de promessas e ofertas à Virgem. No caso particular de Arruda dos Vinhos, a procissão é efetivamente solene e majestosa pelo facto de apenas apresentar um andor, cuja dimensão é bastante considerável, se se tiver em conta que a imagem da Virgem com o Menino tem cinco palmos e meio de altura, coroada por uma elegante coroa em prata.
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A Procissão Quanto à organização da procissão, verificam-se determinados preceitos obedecendo a uma determinada ordem: À frente, apresenta-se a cruz, ladeada por dois círios, seguindo-se o pendão, transportado por membros do Apostolado da Oração. A estes, seguem-se os apóstolos da oração, organizados em corredor, sendo que a partir dos anos 50, estes elementos eram identificados por uma pequena medalha com uma fita vermelha. Logo atrás, seguem os anjinhos dispostos também em duas filas, que são acompanhados por adultos, albergando capa branca e azul. A este propósito e no cartaz da festa de 1960 podia ler-se: “Só homens com capas acompanharão os anjinhos, e estes não poderão ser juntos ou só registados civilmente. É completamente proibido irem senhoras, mesmo a cumprirem promessa junto do andor. Irão em lugar especial, atrás da Banda…”
Para além dos anjinhos, que participam normalmente por promessa, fazem parte também as figurantes de Nossa Senhora (Virgens – jovens que faziam a Comunhão solene). Imediatamente atrás dos anjinhos e das virgens, apresentam-se o Turíbulo e a Naveta em prata. Segue-se em todo o seu esplendor a Veneranda Imagem de Nossa Senhora da Salvação, que até à década de 70, ostentava jóias (nomeadamente fios e cordões de ouro) e dinheiro pregado em fitas. A partir desta altura, o ouro era exposto em vitrina própria na igreja, durante os dias da festa. O andor, trabalhado em madeira dourada, é transportado por seis homens que nos momentos de pausa da procissão socorrem-se dos forcados para o apoiar. O andor da Senhora é ainda acompanhado por seis bombeiros e quatro elementos da Guarda Nacional Republicana. Imediatamente atrás da imagem, segue-se outro turíbulo, seguido do pálio sustentado por oito varas. Este é levado pelas personalidades mais ilustres do Concelho, sendo que à frente, do lado direito vai o Senhor Presidente da Câmara e à esquerda o Vice-Presidente. Até aos anos 80 iam três padres sob o pálio, sendo o padre do meio o da freguesia, que transporta o Santo Lenho.
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A Procissão O padre que preside à cerimónia enverga uma capa de asperges, os outros dois envergam dalmáticas normais. Logo atrás do pálio, seguem-se os pagadores de promessas, normalmente descalços, antes da banda de música que acompanha a procissão. Por último vêm os fiéis. Segundo a tradição oral e na sequência de recolha de informação alusiva ao historial destas celebrações, houve anos em que a procissão foi “aberta” por elementos da Cavalaria da Guarda Nacional Republicana. Atualmente a abertura da Procissão cabe à Fanfarra dos Bombeiros. Durante todo o percurso da procissão, ouve-se o dobrar do sino grande da Igreja, que no passado, se fazia graças à força de três homens. Relativamente ao percurso da procissão, sabe-se que o mesmo sofreu
Seja no momento da saída da Igreja, seja no momento do recolher da
alterações ao longo dos tempos. Atualmente o percurso toma o seguinte
imagem, o adro encontra-se sempre repleto pela multidão que ali acorre.
itinerário: Adro da Igreja, Rua Padre José Lopes, Rua Heliodoro Salgado, Rua 5 de outubro (antiga Rua da Palma), Rua Costa do Castelo, Corujeira,
Conta a lenda que num 15 de agosto particularmente quente do início
Rua de Santo António, Rua do mel, Rua Cândido dos Reis, Alcambar,
do séc. XX, alguém terá desabafado: “Meu Deus, que calor insuportável,
Rua João de Deus, Rua 5 de Outubro, Rua Heliodoro Salgado, Rua Padre
quanto custa estar aqui e tanta gente que me sufoca”. Ao desabafo, teria
José Lopes e Adro da Igreja. No passado a procissão chegou também a
respondido Nossa Senhora do alto do seu andor: “Muitos mais são os
subir o Jardim Municipal e a descer a Rua Luis de Camões. Ao longo de
Anjos e os santos que me acompanham aqui em cima e que me louvam
todo o percurso é possível avistar janelas e varandas engalanadas com
e veneram sem cessar”.
as melhores colchas.
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Interpretação Artística da Imagem de Nossa Senhora da Salvação Está colocada a imagem da padroeira no altar-mor da Igreja Matriz de Arruda dos Vinhos, coroada num opulento retábulo barroco. A crença piedosa na milagrosa Santa Maria de Arruda dos Vinhos leva a que, segundo a tradição, e após D. Manuel I se ter estabelecido em Arruda dos Vinhos, aquando de um surto de peste no séc. XVI, a sua invocação tenha sido alterada para a de Nossa Senhora da Salvação, joia artística do concelho. As festas de Nossa Senhora são sempre celebradas com grande fervor e entusiasmo, sobretudo de maio a outubro, estando as de Arruda dos Vinhos confinadas ao mês de agosto, de 6 a 18, anualmente. As festas religiosas são para o povo arrudense uma rutura com o quotidiano operoso e rotineiro. A afirmação da sacralidade do tempo, a possibilidade do encontro pessoal e comunitário com as santidades, entre outros fatores, fazem das “Festas de Agosto” um marco importantíssimo para Arrudenses e não só.
A Imagem de Nossa Senhora da Salvação E após quatrocentos e tantos anos de boa tradição, a mesma fé ainda hoje acalenta as almas simples e crentes do bom povo arrudense levando-o sempre, convicto e sincero, a recorrer às bênções do seu secular orago, e a procurar que cada a sumptuosidade das festas em sua honra, não desmoreçam das festas dos anos anteriores, festas que chama sempre milhares de forasteiros.” (Ribeiro, 1955: 6)
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Interpretação Artística da Imagem de Nossa Senhora da Salvação Os festejos em honra de Nossa Senhora da Salvação, que datam de 1531, mandados celebrar pelo rei D. Manuel em agradecimento à Virgem por sair ileso da epidemia, realizam-se desde aquela data, a 15 de agosto de cada ano, em Arruda dos Vinhos. Através dos campos, ter-se-á levado a imagem em procissão, levantando-se aos Céus o primeiro grande louvor de Nossa Senhora da Salvação. Seria ainda anterior o culto da antiga imagem: “Uma crença popular, parecendo comprovar a antiguidade da imagem e do antigo culto, consistia em que fora esta escondida pelos cristãos, no tempo da invasão sarracena, no sítio das Antas, conservando-se aí o culto, pelo que os três únicos fornos, feitos com pedra desse local que coziam o pão para os habitantes da vila e arredores, uma vez aquecidos, não necessitavam de o ser por muito tempo, perdendo a pedra essa virtude quando transportada para fora dali.” (Rogeiro, 1997 : 49-50). A finura do lavor, a cuidada expressão da face, a elegância de pose, o requinte na modelação do cabelo e a própria gestualidade fazem da imagem de Nossa Senhora da Salvação, uma imagem de elevado cariz
Segundo Tito de Bourbon e Noronha a imagem de Nossa Senhora “é uma escultura em madeira policromada, manto azul e túnica «grenat»,
devocional entre os seus fiéis.
tamanho natural, muito antiga, do séc. XV, ou anterior.” Segundo
O belíssimo rosto de expressão serena de Nossa Senhora, assim como
foi restaurada no séc. XVI, o que nos leva a crer que parte da escultura
a do Menino Jesus são de séc. XVI. São de autor desconhecido, contudo refletem a sua qualidade e exprimem uma elegância e sensibilidade, como que afaga, envolvendo-se numa graça que transparece na obra que concebeu.
documentação e tradição oral, a imagem de Nossa Senhora da Salvação primitiva, inteira e sentada, foi modificada, tendo lugar a necessidade de vestir a Santa, como tem sido referido, pela suas “imperfeições”. Ainda hoje se presencia a mudança de vestes: “algumas aias estavam encarregadas da conservação e substituição necessárias dessas mesmas vestes”. Vestes de elevada riqueza material e devocional, como nos salienta Armando Vitorino Ribeiro (1955): “ (…) ricos e antiquíssimos paramentos em veludo e seda, bordados a ouro, prata e matiz, de alto valor artístico.” A imagem de uma só peça, em madeira, tem a expressão confortante das virgens medievais. O Menino Jesus, que se ampara no braço esquerdo de Nossa Senhora da Salvação, tem semblante inocente, de comum representação iconográfica, estendendo as pequenas mãos a quem aos seus pés lhe dirige oração. Outra descrição de Nossa Senhora da Salvação: “É de roca, e esculpida em madeira policromada, no tamanho natural. Deverá ser do séc. XV, senão anterior. Apresenta-se sentada com o Menino Jesus deitado no colo, tudo trabalhado no mesmo grande bloco de madeira. Diz a tradição que possuía uma cadeira de espaldar de prata, que os soldados de Massena, quando por aqui se demoraram largo tempo, levaram com muitos outros objetos também de prata, do culto.” (Ribeiro, 1955: 6).
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Interpretação Artística da Imagem de Nossa Senhora da Salvação SANTUARIO MARIANO, Frei Agostinho de Santa Maria Da leitura deste documento, pode inferir-se que estariam vários milagres
Senhora da Salvação possuía uma bela cadeira de espaldar em prata, que
associados à Virgem de Nossa Senhora da Salvação para com os morados
foi saqueada pelos soldados franceses, durante as Invasões Napoleónicas.
da vila, mas também com as gentes de fora. A esta imagem “muyto
Essa cadeira, supõe-se ser uma, que está exposta no Museu do Louvre
devota, & antiquíssima” eram oferecidas muitas memórias de cera e
em Paris.
outros materiais pela sua intercessão “não só na salvação da almas, mas do corpos”, remetendo-nos para a época dos Descobrimentos.
Segundo documentação da época, terá D. Manuel I ofertado coroas a Nossa Senhora e ao Menino de elevado lavor artístico: “(…) com hũa
A imagem de Nossa Senhora da Salvação é uma bela escultura inteira
coroa Imperial de prata cobre-dourada, & com algũa pedraria; & a
de posição sentada, possuindo no entanto algumas imperfeições, mas
Senhora tem outra semelhante, de obras moderna, de grande preço, &
para as disfarçar, foi decidido cobri-la com vestes, como já se referiu.
feitio; & alem desta tem outras coroas antigas, que servem de comum.”
Estaria colocada no meio do retábulo “em hum nicho coberto todo de prata, & fechado com chave”. Diz-se que em tempos antigos, era neste
Segundo Frei Agostinho de Santa Maria não se “autheticaram milagres
retábulo que se encontrava exposto o Santíssimo Sacramento. A imagem
que tem obrado aquella Senhora.”
encontrar-se-ia coberta com “cortinas de seda”. A imagem sentada tem cinco palmos e meio de altura, sobre o braço esquerdo repousa o Menino, “que a estar em pé teria alguns sete”. No entanto falta-lhe a mão, levada como relíquia para a Índia, por um fidalgo de nome António de Castro Sande, devido à grande devoção a Nossa Senhora, mas as vestes e o Menino encobrem-lhe o defeito. Na mão direita, Nossa Senhora apresenta-nos um ramo de flores. Nossa
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Série Preta 3578
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A presente imagem integra um compilação de várias indulgencias, privilégios e outros atos, onde surge esta Imagem de Nossa Senhora da Salvação, que se julga poder tratar-se das representações mais antigas desta Santa - séc. XVII.
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Nossa Senhora da Salvação Porquê Salvação (No contexto da realidade de Arruda) Salvação tem duas aceções: a aceção mais vulgar, a preservação da felicidade global da pessoa e/ou da família, da saúde do bem estar, da prosperidade, etc. Esta é a que é mais comum à população de Arruda (D. Manuel agradece por se ter salvo). A outra, que é a mais importante em termos teológicos: a Senhora tem essa invocação (Salvação) porque ela foi medianeira da redenção do género humano. Quando Maria acedeu à proposta de Deus, que lhe foi feita pelo Anjo Gabriel, em se tornar a Mãe do Cristo feito Homem, disponibilizou-se completamente para colaborar com o “plano” que Deus tinha estabelecido para o seu encontro com o Homem. É neste sentido que Ela é invocada pela Igreja e que é honrada e festejada no dia 15 de agosto de cada ano – dia da sua Assunção ao Céu em Corpo e Alma.
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Hino a Nossa Senhora da Salvação Senhora da Salvação
Hino a Nossa senhora da Salvação
(Nas festas de Agosto em Arruda dos Vinhos)
Ouvi nossos rogos, Senhora da salvação. A todos ampara A Vossa protecção
“Avé Maria! Tão cheia de graça! Reza baixinho com Amor e Fé Gente de joelhos, quando o Andor passa. E quantas vezes está chorando até! As mais ensinando aos filhinhos seus A vida de dôr dêsse bom Jesus. Que por nosso Bem quis subir aos céus E que deus, por nós, fez soltar da Cruz! Salvai-nos Virgem! – Pede a multidão. Nosso Portugal, salvai-o também! Tende dó de nós! Dai-nos sempre Pão!
Vós fostes medianeira Da nossa redenção. Salvai-nos à Virgem, Senhora da salvação Ao céu nos levai, Senhora da Salvação Convosco os mortais Ditosos serão.
E eu, lembrando tempos já de além, Rezo com fervpr uma oração Das que me ensinou minha Santa Mãi!”
Séc.XIX, Autor desconhecido
(Este hino era e é cantado no final das novenas e no final das missas da festa.)
1938 Joaquim José de Azevedo e Silva
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Cerimonial para vestir Nª Sra. da Salvação para a Procissão No dia 14 de Agosto, depois da missa da manhã (caso haja), um conjunto
Seguidamente veste-se o fato da Senhora (cuja decisão de qual usar,
de quatro a seis homens (os voluntários que vigiam a Igreja e outros que
foi previamente acordado entre o Pároco e as Aias) seguindo-se o do
colaboram com a paróquia) trazem a Nossa Senhora do Altar colocando-a
Menino e só depois é colocado o Manto. Posteriormente, coloca-se a
numa peanha o mais próximo do Andor que entretanto já aguarda a
cabeleira (a que for mais nova e que só é usada na Procissão), o véu e
Imagem.
a Coroa.
As senhoras responsáveis por este processo retiram-lhe toda a roupa,
Por fim colocam-se os brincos e o fio (o uso destes adornos varia do
coroa e cabeleira, procedendo posteriormente à limpeza do rosto e do
gosto e da vontade das senhoras que no momento têm a responsabilidade
corpo.
de vestir a Senhora).
Segue-se então todo o cerimonial de vestir o fato e o manto que naquele
Por fim dois dos homens presentes colocam a Senhora no Andor e
ano a Senhora há de usar na Procissão do 15 de agosto.
procedem-se aos últimos retoques.
Primeiro é vestida a roupa interior que é composta por:
A ornamentação com flores frescas é feita posteriormente e em último
• Camisa de linho
lugar é colocado o ramo na mão de Nossa Senhora.
• Camisa de flanela, que tem como objetivo “dar enchimento / volume” ao fato e irá servir para se colocarem as fitas das ofertas / contributos,
No dia 14 à noite, enquanto decorrem os Festejos e a Largada, já é
pois esta camisa é um pouco mais comprida que o fato, de forma a
possível adorar / venerar a Imagem que aguarda serenamente pelo seu
evitar-se que se pique o fato com os alfinetes.
dia – 15 de agosto.
A Nossa Senhora da Salvação possui atualmente nove fatos, que são mudados ao longo do ano de acordo com as diferentes datas litúrgicas, e a guarda, manutenção, preservação e garantia de todos estes procedimentos são responsabilidade das Aias de Nossa Senhora que no momento são Manuela do Vale e Paula Narciso.
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Nossa Senhora da J MSalvação G o povo e a fé esculpida
Cerimonial para vestir Nª Sra. da Salvação para a Procissão
Nossa Senhora da J MSalvação G
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o povo e a fé esculpida
Bibliografia
Ficha Técnica
A.N.T.T., Série Preta 35781.
Conceção de conteúdos
ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, Lisboa, 1922. CÂMARA, Paulo, FERREIRA, Paula, Nossa Senhora da Salvação “A Magia da Festa”, novembro de 2006. CASTRO, Padre João Bautista de, Mappa de Portugal Antigo e Moderno, Lidboa, Officina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno, 3 volumes impressos entre 1762 e 1763 (2ª edição).
Ana Raquel Machado Licenciada em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mestre em Arte, Património e Teoria do Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade Lisboa. Pós-graduada em Gestão Cultural pelo ISCTE-IUL. Paula Ferreira Sousa Técnica de História do Município de Arruda dos Vinhos
CUNHA, Jorge da, A Festa de Nossa Senhora da Salvação, A.R.P.A (Associação para a Recuperação do Património de Arruda), 1997. GIL, Julio, “As Mais belas Igrejas de Portugal”, Vol.II, 1989 MARIA, Frei Agostinho de Santa, Santuario Mariano, E Historia das Imagens milagrosas de Nossa Senhora, E das milagrosamente aparecidas, em graça dos Prègadores, & devotos da mesma Senhora, Lisboa, Oficina de António Pedrozo Galram, 10 tomos impressos entre 1707 e 1723.
Conceção Gráfica Patrícia Simões (Designer) sob orientação de Cláudia Jaleco (Técnica de Comunicação do Gabinete de Comunicação e Imagem)
NIZA, Paulo Dias de, Portugal Sacro-Profano, ou Serie Particular de rodos os Padroeiros das Igrejas deste Reino, e de todas as que cada hum delles apresenta, Lisboa, Officina de Miguel Manescal da Costa, impressor do Santo Ofício, 1768. NORONHA, Tito Bourbon e “A Festa de 15 de Agosto a N.ª S.ª da Salvação em Arruda dos Vinhos”, A Vida Ribatejana, número 118/27 (Agosto de 1943). PIMENTEL, Alberto, A História do Culto de Nossa Senhora em Portugal, Lisboa, Libraria Editora Guimarães, Libanio&C.ia, 1899. PINTO, Roney Figueiredo, “A iconografia no espaço jesuíta português: culto e devoção à Virgem Maria na Igreja do Colégio de Jesus de Coimbra”, Dissertação de mestrado em História de Arte, Património e Turismo Cultural. Sob a orientação da Professora Doutora Maria de Lurdes dos Anjos Craveiro. Apresentada à faculdade de letras, 2014 RIBEIRO, Armando Vitorino, A Igreja Matriz de Arruda, Arruda dos Vinhos, 1955. ROGEIRO, Filipe Soares, Arruda dos Vinhos, Das origens à restauração do concelho em 1898, Arruda Editora, Dezembro 1997.
Colaboração IANTT – Arquivos Nacionais da Torre do Tombo Patriarcado de Lisboa Paróquia de Arruda dos Vinhos (Padre Daniel) Armazéns Arruda Manuela Vale Paula Narciso Retrosaria Cantinho dos Tecidos Rui Mendes, Investigador Teresa Prazeres
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Nossa Senhora da J MSalvação G o povo e a fé esculpida
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Nossa Senhora da J MSalvação G o povo e a fé esculpida