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ARQUITETURA CONTEMPORร NEA NO BRASIL | FAU-UnB | Ano 1 | Nยบ 1 | junho 2016

ArqCon REVISTA

ZANINE CALDAS

PAISAGISTA, MAQUETISTA, MOVELEIRO, ESCULTOR E ARQUITETO BRASILEIRO



EDITORIAL Essa edição da Revista ArqCon é dedicada ao paisagista, maquetista, moveleiro, escultor e arquiteto José Zanine Caldas, uma pesonalidade excepcional em diversas áreas do design brasileiro. Embora tenha tido uma vasta produção artística, não há muita documentação sobre suas obras. Este periódico visa, então, contribuir em seu reconhecimento. Jéssica Ferreira Luana Leyendecker Marina Nakamura

ÍNDICE Biografia 2 Zanine Caldas Cenário 4 Tra jetória de Zanine Caldas 6 Maquetes 7 Design de mobiliário 8 10 12 16

Obras de arquitetura Casa Itaipava Casa em Joatinga Casa Bettiol Casa do Nilo

Entrevista 18 Zanine à aU 19 Depoimentos 20 Artigo Análise do diálogo estabelecido pelo projeto entre a construção e a natureza, através do estudo de três obras 26 Referências

Arquitetura Contemporânea

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JOSÉ ZANINE CALDAS

BIOGRAFIA

2 Arquitetura Contemporânea

José Zanine Caldas (Belmonte BA 1918 - Vitória ES 2001). Arquiteto, designer, maquetista. Trabalha, na década de 1940, como desenhista do escritório Severo & Villares e como membro do Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional - Sphan. Abre um ateliê de maquetes no Rio de Janeiro, onde trabalha entre 1941 e 1948, e, por sugestão de Oswaldo Bratke, transfere-o depois para São Paulo, em atividade de 1949 a 1955. O ateliê atende os principais arquitetos modernos das duas cidades, e é responsável pela maioria das maquetes apresentadas no livro Modern Architecture in

Brazil, 1956, de Henrique E. Mindlin. Em 1949, Caldas funda em São José dos Campos, São Paulo, a fábrica Móveis Artísticos Z e se desliga da empresa em 1953. Caldas trabalha como assistente do arquiteto Alcides da Rocha Miranda na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAU/USP, entre 1950 e 1952. Na capital paulista, desenvolve projetos paisagísticos até 1958, quando se transfere para Brasília, onde constrói sua primeira casa, em 1958, e coordena a construção de outras até 1964. Indicado por Rocha Miranda a Darcy Ribeiro, ingressa na


Universidade de Brasília UnB em 1962, dá aulas de maquetes até 1964, quando perde o cargo em virtude do golpe militar. Nesse ano via ja pela América Latina e África, e, retornando ao Rio de Janeiro, constrói sua segunda casa, a primeira de uma série construída na Joatinga até 1968. Nesse ano, muda-se para Nova Viçosa, Bahia, abre um ateliê-oficina, que funciona até 1980, e participa do projeto de uma reserva ambiental com o artista plástico Frans Kra jcberg, para quem projeta um ateliê em 1971. Simultaneamente, entre 1970 e 1978, mantém o escritório no Rio de Janeiro, para onde retorna em 1982. Um ano depois funda o Centro de Desenvolvimento das Aplicações das Madeiras do Brasil - DAM, e o transfere em 1985 para a UnB. Nesse período propõe a criação da Escola do

Fazer, um centro de ensino sobre o uso da madeira da região para a construção de casas, mobiliário e objetos utilitários para a população de baixa renda. Em 1989 é reintegrado no seu posto na UnB, mas não chega a dar aulas. Nesse ano vai para Europa, onde projeta residências em Portugal e dá aulas na École d’Architecture de Grenoble, França. Em 1975 o cineasta Antonio Carlos da Fontoura faz o filme “Arquitetura de Morar”, sobre as casas da Joatinga, com trilha sonora de Tom Jobim, para quem Caldas projeta uma casa. Dois anos depois, a obra do arquiteto é exposta no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Masp, em Belo Horizonte, e no ano seguinte no Solar do Unhão, em Salvador. Em 1986, a publicação de sua obra na revista Projeto

Lúcio Costa, Zanine Caldas e sua neta Julieta Sobral na Praça dos Três Poderes, em 1987 Foto: Nilson Otaviano de Lima

n. 90 inicia uma polêmica no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura - Crea sobre o fato de Caldas ser autoditada. Vários arquitetos saem em sua defesa, entre eles Lucio Costa, que lhe entrega cinco anos depois, no 13º Congresso Brasileiro de Arquitetura em São Paulo, o título de arquiteto honorário dado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB. O Musée des Arts Decoratifs de Paris mostra suas peças de design em 1989, ano em que recebe a medalha de prata do Colégio de Arquitetos da França1. Zanine morreu de enfarte, aos 82 anos, em 2001. Casado por seis vezes, deixou seis filhos, entre eles o arquiteto José Zanine Caldas Filho, o designer Zanini de Zanine Caldas, que em seus desenhos tem como inspiração os projetos do pai.

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CENÁRIO

LINHA DO TEMPO A TRAJETÓRIA DE ZANINE CALDAS 1919

1941

Nasce em Belmonte, Bahia, em 25 de abril.

1950

Abre o ateliê Maquete Estúdio, no Rio de Janeiro

1939

Trabalha no setor de maquetaria da FAU-USP até 1952.

1948

Autodidata, começa a trabalhar como desenhista de arquitetura no escritório Severo & Villares, em São Paulo, SP.

Em São Paulo, SP, abre ateliê de maquetes. Cria a Móveis Artísticos Z

1990

2001

Recebe diploma da Academie d’Architecture de Paris

Morre em Vitória, Espirito Santo, em 20 de dezembro

1991

Recebe título de arquiteto honorário pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). Recebe da Unesco uma bolsa para realização de estudos, pesquisas e ensino. Entre 1991 e 1993 realizou palestras e ofereceu cursos em cidades da França e da Suíça 4 Arquitetura Contemporânea

1989

É homenageado pelo Museu de Artes Decorativas de Paris, com exposição de suas peças de design. Na capital francesa também foi condecorado com medalha de prata oferecida pelo Colégio de Arquitetos da França.


1968

Muda-se para Nova Viçosa, na Bahia. Executa projeto para o ateliê do artista plástico Frans Kracjberg.

1962

Ingressa na FAUUnB como professor de maquetes

1958

1964

Muda-se para Brasília, DF, onde constrói suas primeiras casas.

É afastado da UnB. Via ja por países latinoamericanos e pela África. Ao retornoar, transfere-se para o Rio de Janeiro e inicia a construção de uma série de residências de alto padrão no bairro da Joatinga.

1982

1987

Voltou a residir no Rio de Janeiro. Realizou exposição individual, na Galeria de Artes do Teatro Nacional, Brasília.

É reintegrado ao quadro de funcionários da UnB, mas não retomou atividade docente.

1984

Tornou-se colaborador do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), elaborando projetos arquitetônicos para a ONU. No Rio foi um dos fundadores do Centro de Desenvolvimento das Aplicações da Madeira (DAM).

1975

Realização do filme “Arquitetura de Morar”.

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MAQUETES

De maquetista dos principais arquitetos modernos brasileiros nas décadas de 1940 e 1950 a arquiteto de prestígio a partir do fim dos anos 1960, José Zanine Caldas se destaca no cenário arquitetônico nacional por explorar as potencialidades construtivas e as qualidades plásticas das madeiras brasileiras. Nascido em Belmonte, Bahia, e auto-didata, foi uma figura polêmica pois mesmo não sendo formado em arquitetura, deixou uma produção de 500 casas e pequenas construções2. No final dos anos 1960 até 1978, mantém o escritório no Rio de Janeiro, onde apresenta um estilo muito original misturando o desenho clássico das plantas com técnicas de construção vernaculares e utilização de materiais de demolição, coerente com sua natureza nacionalista, endossando uma produção independente da industrialização e completamente pautada no saber e fazer dos brasileiros3. Zanine se torna designer e arquiteto principalmente por suas habilidades em reproduzir modelos reduzidos. Por meio do ateliê de maquetes, ele propõe soluções para problemas de projeto e mostra genialidade desde muito jovem, identificando contrastes em projetos ainda na execução das maquetes.

Maquete na escala 1:50 da residência Beth e Paulo, Rio de janeiro

Maquete na escala 1:20 do edifício de apartamentos com fechamento em mármore

Maquete do projeto para desabrigados das enchentes - casa de pedra, escala 1:20

Projeto de pesquisa / Residência de fazenda executada em eucalipto, escala 1:20 6 Arquitetura Contemporânea


DESIGN DE MOBILIÁRIO

Cadeiras e Poltronas / Móveis Artísticos Z

Devido à este talento, descobre no Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP a madeira compensada. O contato com este novo material permite que Zanine crie a Fábrica de Móveis Z, que tem por filosofia o uso racional de madeira compensada e que no processo industrializado a necessidade tanto do desperdício quanto a mão-de-obra especializada seja quase zero. Se nos anos 1950 os móveis de Caldas são desenhados segundo essa lógica industrial, nos anos 1970, quando retoma o trabalho como designer, seus móveis passam a ser esculpidos artesanalmente,

em completa oposição à racionalidade dos móveis da Z. Essa mudança se dá após uma viagem reveladora a qual Zanine visita em 1964 a América Latina e África, reconhecendo a importância do saber fazer popular, remetendo a sua infância em Belmonte, onde o mestre-de-obras era o senhor do construir. Em Nova Viçosa, com os canoeiros e com a paisagem ameaçada daquela cidade baiana é que ele se aproxima dos ambientalistas. Os móveis são construídos com toras brutas de madeira, cujas linhas retorcidas inspiram seu desenho4.

“Aprendi que a madeira tem duas vidas. A primeira como árvore; e a segunda como mesa e cadeira, cama e armário, assoalho e vassoura, gamela e colher de pau, casa e curral, berço e caixão.5” Zanine Caldas Sofá e Mesa de Centro / Móveis Artesanais

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OBRAS ARQUITETURA

RESIDÊNCIA ITAIPAVA, RJ

A visita a Nova Viçosa também rendeu a Zanine um novo estilo construtivo, usando madeiras nativas da região e de maneira mais rustica e bastante artesanal, que consiste na montagem no chão de um gabarito, no tamanho real da casa a ser construída em que se definem e aparelham as peças e se ergue a estrutura, que é depois desmontada para a numeração das peças e o envio 8 Arquitetura Contemporânea

da estrutura para o local da obra. Na Joatinga, e outras tantas erguidas em Itaipava, Friburgo, Búzios, Angra dos Reis e Salvador, a estrutura de madeira se destaca das paredes de vedação, a cobertura de telha de barro de largos beirais e os materiais de demolição dão à construção a sensação de rusticidade, aconchego e nostalgia.


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OBRAS ARQUITETURA

RESIDÊNCIA EM JOATINGA, RJ Em suas casas a madeira, a pedra, o vidro e o aço são as matérias primas. Ao adentrar a casa é nítida a sensação de reverência à natureza. Esta residência em Joatinga, Rio de Janeiro, fica na encosta do morro. A posição da escada no projeto e até mesmo as esquadrias tem seu lugar certo e bem pensado, enquadrando a paisagem fora dali, de onde pode se ver o mar e as ilhas. Zanine não deixava de decorar as casas também com seus móveis e esculturas. Nesta residência em especial, 10 Arquitetura Contemporânea

essa cadeira dupla (Namoradeira) é um dos grandes destaques da decoração pois se mistura perfeitamente com o ambiente por ser rustica e elegante ao mesmo tempo. Em certos momentos, o jogo de cheios e vazios da arquitetura de Zanine faz parecer como se o ar também fosse um elemento de construção de suas obras, pois as composições com painéis vazados, panos de vidro e janelas enormes fazem esta ligação entre interior e exterior de maneira muito peculiar e revigorante.


Em suas casas, o ponto de partida sempre foi a natureza: ora mais trabalhada, ora mais natural e rustica, e sempre fazendo o jogo com a madeira trabalhada, a pedra, a transparência e o ferro. As casas apresentam ritmos horizontais e verticais, utilizando-se de uma pureza cultural ditada pelo bom senso das proporções formais. A incorporação de muros brancos em suas construções assim como telados de cerâmica e esquadrias de madeira da arquitetura do tempo colonial trazida para a contemporaneidade pelos materiais de demolição de prédios do período mostra a experiência do Zanine mestre-de-obras e do Zanine arquiteto, trabalhando com maestria o lado construtor e criador. “Na verdade, não há nas minhas obras, sejam casas ou móveis ou objetos místicos, outra intenção que não seja a de abrigar e refletir a natureza humana e não humana do Brasil. [...] Devemos trazer a floresta para dentro da casa, virar as raízes de árvores mortas para o teto, conviver com todos os animais reais e imaginários [...].5”

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OBRAS ARQUITETURA

RESIDÊNCIA BETTIOL, DF A casa Bettiol, em Brasília, foi construída predominantemente em madeira, destacando-se o ipê e a aroeira. O telhado do living, de quatro águas, possui barrotes dispostos de maneiras diferentes em seu interior e exterior, conferindo ao ambiente maior autonomia visual. A madeira utilizada por Zanine fora lavrada utilizando uma tradicional técnica de carpinteiros utilizando o enxó, uma ferramenta que é usada para 12 Arquitetura Contemporânea

moldar a madeira e que é constituída por uma lâmina curvada montada perpendicularmente em uma longa alça ou Haft. O terreno possui uma área de 22mil m2, sendo que a casa ocupa 1300m2. A maior parte do piso térreo é feita de tijolo natural 10x10cm. Neste projeto observa-se, ainda, o amplo uso do vidro, especialmente no living octogonal central, onde o vidro ocupa uma posição que tradicionalmente


seria de alvenaria. Nos dois outros pavilhões anexos, entretanto, essa relação não é tão bem observada, sendo a alvenaria predominante. Apesar de a casa ser ma joramente construída de madeira, é possível observar o uso do concreto armado no andar inferior, possivelmente, devido a maior resistência do concreto armado para carregamentos elevados, provenientes do nível superior (no caso, de automóveis, por exemplo). No térreo observa-se a presença de três arcos fazendo a junção entre a cozinha e a ala de serviço da residência. O projeto pode ser dividido em três partes: o pavilhão de uso dos filhos; pavilhão de uso do casal Bettiol e pavilhão de uso comum.

Perspectiva do volume central e o pavilhão dos filhos por Jéssica Ferreira

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OBRAS ARQUITETURA

-0.80

0.00

PLANTA BAIXA DO PAVIMENTO TÉRREO PLANTA TERREO ESCALA 1:150

-4.00

PLANTA BAIXA DO PAVIMENTO INFERIOR

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PLANTA INFERIOR ESCALA 1:150


PLANTA DE COBERTURA PLANTA COBERTURA

CORTE AA

ESQUEMA DA VOLUMETRIA E DO ZONEAMENTO

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OBRAS ARQUITETURA

CASA DO NILO - SÃO GONÇALO, RJ

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Apesar de muitas casas terem sido construídas para uma elite social e sítios muito especiais, não se pode esquecer da dedicação que Zanine empenha na criação do Centro de Desenvolvimento de Aplicações das Madeiras do Brasil - DAM, onde inicia pesquisas sobre habitação popular baseado em processos construtivos artesanais com a participação dos usuários. Situado em Brasília, o DAM estuda e elabora protótipos de casas populares com toras de eucalipto como estrutura e vedação em solo-cimento, apostando num ideal de autoconstrução já testado na Casa do Nilo, em São Gonçalo, Rio de Janeiro. A partir desse momento, como ocorrera com o desenho dos móveis, Caldas adota toras de madeira brutas, roliças e não mais aparelhadas, em geral descartadas, aliadas aos materiais de demolição, que radicalizam o efeito de rusticidade e aconchego.

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ENTREVISTA Em 1999, o jornalista José Wolf, da Revista aU, teve um bate papo com Zanine, que havia sido homenageado pelo Conselho Superior do IAB (Cosu) daquele ano. Leia a seguir o texto na íntegra6: “Processado duas vezes pelo Crea/RJ por ‘exercício ilegal da profissão’, Zanine Caldas, homenageado durante o 105o Cosu, vive atualmente em Vitória. Ao saudá-lo, Carlos M. Fayet, presidente do IAB nacional, reafirmou a grande contribuição de sua obra para a história da arquitetura brasileira. E Miguel Pereira lembrou que, em 91, Zanine, hoje na faixa dos 80 anos, recebeu do IAB o título de arquiteto honorário como reconhecimento legítimo ao profissional que sabe fazer arquitetura. Zanine, onde você nasceu? ZC Bem, segundo meu pai, que era médico, eu nasci de um parto feliz e tranqüilo. Foi em Belmonte, no Sul da Bahia, região de muita mata e cacau. Ali havia um rio que vinha do Norte de Minas Gerais: o rio Jequitinhonha. Esse rio marcou sua vida? Mudou minha vida. Às suas margens, havia a melhor madeira do Brasil. E, daí, os moradores de Belmonte eram exímios canoeiros, artesãos carpinteiros, que construíam suas casas utilizando essa madeira. E eu, desde criança, fui observando, aprendendo com eles. Aprendi vendo, sem explicação. Assim surgiu o arquiteto? Sim, fazendo maquetes. Então, pensei: se consigo fazer uma maquete tridimensional, com certeza, vou conseguir fazer uma casa também. E assim foi. Projetei mais de 600 casas. Desenhava tudo no papel milimetrado, 18 Arquitetura Contemporânea

sem precisar da régua ou compasso. E, hoje, você usaria o computador? Não, porque sempre usei. Quer melhor computador que o cérebro? Ao projetar uma casa, o que você procurava? Responder às necessidades de quem ia morar nela. Uma casa deve ser um abrigo, lugar para se descansar e se alimentar. Você chegou a lecionar? Sim, na França, quase quatro anos, em 77. Foi quando recebi a medalha de prata da Academia de Arquitetura francesa, reconhecendo meu trabalho. Em sua opinião, quem foi o grande arquiteto brasileiro deste século? Ah, o Lucio. Era meu amigo. Eu costumava conversar muito com ele. Lucio me ouvia, eu ouvia as coisas que ele tinha

José Wolf

Zanine

para me dizer também. E Vitória, como surgiu na sua vida? Um dia vim aqui para proferir uma palestra e gostei tanto que desejei voltar e voltei para ficar. A paisagem natural é bonita e pessoas daqui me respeitam muito. Aliás, temos que pensar na sorte de termos nascido no Brasil, um país tão pródigo e criativo. E essa homenagem deixou você feliz? Muito feliz, não sei até onde vai a minha felicidade porque eles entenderam meu trabalho... O que o mantém vivo? A fé numa energia divina. O que você diria aos jovens que pretendem se tornar arquitetos? Que estudem e aprendam a manusear e conhecer os objetos, os materiais, antes de desenhar.”


DEPOIMENTOS “Nunca me recusei a falar de um colega quando nele encontro razões para isso. E Zanine é um deles. Um velho camarada que conheci em Brasília lá pelos anos cinquenta, ainda mexendo com plantas, decoração e maquetes. Depois, muitos anos depois, fui visitar uma casa que construí na Barra. Já não era o mesmo Zanine daqueles tempos, mas um arquiteto que descobria os segredos da arquitetura, capaz de criar espaços e contrastes com sua tendência artesanal de construir casas de madeira.

João Filgueiras Lima (Lelé) Arquiteto e Urbanista

Surpreendi-me com o seu talento, com a desenvoltura com que, de repente, sabia utilizar nas suas casas tão simples e despretensiosas, uma bela e grande placa de vidro. E gostei de ver como escolhia bem os velhos elementos – portas, janelas, gradis – que comprava pelos antiquários da cidade para com eles dar o seu trabalho o caráter peculiar que aprendia. Zanine é um caso feliz de autodidata. Sua escola foi própria vida e a arquitetura seu caminho natural e inevitável.2”

“Zanini é um verdadeiro criador. Além do admirável talento, tem a capacidade de sempre realizar o que imagina, por seu espírito sensível, inquieto e revolucionário. Apoiando-se no incrível domínio das técnicas mais diversas, ele gerou, ao longo desses anos, um acervo formidável. Dotado de uma extraordinária capacidade de trabalho, consegue, com a mesma segurança e desenvoltura, atuar tanto nas grandes escalas do urbanismo, arquitetura e paisagismo, quanto nas pequenas e delicadas, como os famosos arranjos com

Oscar Niemeyer Arquiteto e Urbanista

galhos e folhas secas de Brasília, resultantes de uma sutil observação da flora do cerrado. Apesar de ser um artesão e autodidata que imprime sempre um caráter intuitivo à sua produção, consegue se dedicar, com rara capacidade de racionalização e disciplina, a atividades que envolve a produção de massa no campo da agricultura, indústria de mobiliário, etc. Enfim, Zanine é um grande arquiteto, um grande artista e, sobretudo, uma personalidade singular e atraente que todos nós, que acompanhamos seu trabalho não cansamos de admirar.2” Arquitetura Contemporânea

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ARTIGO

Casa Canoas, Casa Gerber e Casa Itaipava, respectivamente

ANÁLISE DO DIÁLOGO ESTABELECIDO PELO PROJETO ENTRE A CONSTRUÇÃO E A NATUREZA, ATRAVÉS DO ESTUDO DAS SEGUINTES OBRAS: Casa de Canoas, Oscar Niemeyer (1950-54) Casa Gerber, Paulo Mendes da Rocha (1973-74) Casa Itaipava, Zanine Caldas (Década de 1970) Por Jéssica Ferreira “Entre natureza e artifício, entre natureza e ação humana a relação se revela complexa.”7 José Zanine Caldas foi considerado um mestre da arquitetura moderna. Ele se destacou no cenário arquitetônico nacional por explorar as potencialidades construtivas e as qualidades plásticas das madeiras brasileiras, de maneira sustentável e ecológica, no momento em que o “gosto pelo alternativo e o rústico disseminou-se por todo o território brasileiro [...], incentivado pelas campanhas de preservação ambiental, pelos desgastados modelos vigentes em concreto armado e pela re-emergência do ideal regionalista no panorama internacional”8. Zanine tem uma maneira bem própria de 20 Arquitetura Contemporânea

construir. A madeira é sua matéria-prima e ele é conhecido como aquele que constrói sobre as montanhas, dado à importância que ele reserva à natureza e o conhecimento que ele tem sobre ela. Se atenta ao belo quando diz, “Se a pessoa sabe o que é bonito, eu faço bonito, e ela vai gostar”9, porém, sua maior preocupação é a de não interferir negativamente na natureza, utilizando-se de meios não agressivos e fazendo com que a obra se mimetize na mesma. A partir dessas informações, é importante entender as diferenças entre as obras dos arquitetos que se destacaram nesse período, com relação à

maneira de se construir, num momento em que a atenção se volta para o concreto armado, no qual, grandes edifícios surgem se impondo à natureza, causando, como consequência, grandes contrastes. Para tal, serão estudadas, a seguir, três casas importantes e relevantes para o entendimento da Arquitetura Moderna, vista de vários ângulos, por arquitetos diferentes, a saber: a Casa de Canoas, de Oscar Niemeyer; a Casa Gerber de Paulo Mendes da Rocha e a Casa de Itaipava de Zanine Caldas. Dessa forma, qual a relação que elas mantêm com o meio no qual foram inseridas?


ESTUDO DE CASO Casa de Canoas, Oscar Niemeyer (1950-54) A Casa de Canoas, localizada no Rio de Janeiro, projetada pelo e para o próprio arquiteto Oscar Niemeyer entre 1950 e 1954, construída de concreto e vidro, é considerada uma das obras mestras da arquitetura residencial moderna. Essa casa surgiu em consequência do amadurecimento da carreira do arquiteto. A cobertura define o projeto, porém, no terreno, a natureza cria um rico contraste em harmonia

com o construído. A casa insere-se na paisagem, repousando sobre um amplo platô, e destaca-se na mesma, ao mesmo tempo que a natureza é enfatizada por ela. Isso se dá pela presença de uma grande rocha que está inserida à casa. “Todo o projeto gira

em torno e parece surgir dela (a rocha); para quem está dentro, essa rocha parece atravessar as paredes e janelas, formando parte íntegra do ambiente; pela área externa, ela parece brotar do interior da casa e deslizar suavemente pela piscina”(10).

A natureza, neste caso, é utilizada como um elemento configurador do projeto, da mesma forma que a la je, a piscina, os esbeltos pilares tubulares e as transparentes esquadrias de caixilhos negros. Niemeyer novamente faz uso do artifício de enterrar ambientes e se utiliza da luz natural para iluminar o interior, controlada através de singulares esquadrias e aberturas. Segundo Lauro Ca-

valcanti11, “além da beleza, a Casa das Canoas emociona pela pequena escala e a conversa visual de ecos e contrastes que estabelece com a natureza monumental. É um exemplo de dinamismo do espaço e de exímios jogos de transparência e opacidades”12, que se dá no diálogo não mimético com a natureza e nos adequados sensos de escala e implantação no terreno. A construção, com-

pletamente integrada à floresta, está em lote inclinado. Dessa forma arquiteto proporciona um tra jeto em declive de aproximadamente oito metros com uma visão ampla da casa e de sua implantação. Do interior, “uma pequena janela enquadra a paisagem de céu e mar na altura dos olhos daqueles sentados em um dos sofás, domesticando a natureza, como um quadro que não deixa esquecer a beleza do local”12. Arquitetura Contemporânea

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ARTIGO Casa Gerber, Paulo Mendes da Rocha (1973-74) A Casa Gerber localiza-se em Itapirapuã, próximo à Angra dos Reis, e se ergue sobre uma grande rocha, a poucos metros do mar. O acesso se dá por uma trilha sinuosa, inserida numa vegetação exuberante. “Em consequência, nos encontramos a poucos metros da residência sem ao menos nos darmos conta da sua presença. Quase sem querer, já se está no seu interior.”7 A casa repousa-se sobre uma rocha, no estado bruto, que funciona como uma parede, no ambiente interno. Essa rocha, mais do que ser parte integrante da casa, possui função estrutural e apoia

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seus quatros pilares, funcionando como suporte da estrutura de concreto armado. “Aquilo que à primeira vista aparece como natural é agora, ao mesmo tempo, a base sobre a qual repousa o artifício criado pelo homem”7. Ainda segundo Daniele Pisani13, a casa volta-se para a paisagem perturbando-a o menos

possível. Porém, isso não se dá de modo a diluir-se na paisagem, a mimetizar-se, pois possui sua própria natureza diversa e uma inteligência particular em si própria. “Uma vez imerso na sua inesperada víscera se compreende, assim, a sofisticada relação que a casa estabelece com o entorno”7.


Casa Itaipava, Zanine Caldas (Década de 1970)

A Casa Itaipava, localizada no Vale da Boa Esperança, no Rio de Janeiro, projetada por Zanine Caldas, foi construída no topo de uma grande rocha arredondada, em meio a uma natureza exuberante, com vista para o vale. O arquiteto, projetou a casa seguindo os ideais de sustentabilidade, respeitando a natureza e mantendo uma relação harmônica entre elas, camuflando-as. Nenhum tipo de intervenção no terreno foi feita, permitindo inclusive, que o rio que corta a propriedade, tivesse o seu curso mantido.

A pedra é parte integrante do projeto e uma forte característica do partido arquitetônico. Como em todos os seus projetos, Zanine cria uma certa ambiguidade entre o interior e o exterior. As linhas simples do projeto ganham tamanha importância. A sala, com chão de tábuas corridas, tem numa extremidade, a porta de entrada de madeira de demolição, vinda de uma antiga igreja e na outra, dois dormitórios, com armários de pinho-de-riga, que se abrem para a paisagem. Ainda no estar, ficam a varanda e o jardim de inverno. Uma escada

leva ao piso inferior, onde estão a cozinha e a sala de jantar8. A leveza foi garantida pela madeira, a entrada de luz natural pelo vidro e a solidez, pelo uso massivo de pedras da região. Estas, garantia também do não desperdício e da pouca alvenaria de tijolos. Somados a isso, tem-se uma vegetação exuberante somada a um paisagismo rico e bem cuidado. O mobiliário inclui ícones clássicos do modernismo brasileiro, como o sofá de Sergio Rodrigues e a poltrona-mole.

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ARTIGO Análise A partir do estudo das casas mencionadas, observa-se que, embora estejam inseridos em um mesmo período histórico, em um mesmo cenário arquitetônico (o modernismo e suas diversas fases), os arquitetos apresentam obras que revelam a identidade de cada um e que se relacionam de maneiras diferentes com a natureza. Zanine, teve um relacionamento sério com a natureza14. Segundo ele, “A madeira tem duas vidas. A primeira: ela vive para si mesma, como árvore; a segunda é gerada pela mão e pelo espírito humanos.

São objetos de madeira que saem da nossa imaginação e ganham formas reais, passando a conviver conosco e continua assim durante gerações, transformando-se, impregnando-se de vivência, servindo de testemunha mantendo a utilidade”9. Ele não abriu mão dessa matéria-prima, tão abundante no Brasil, e utilizou-se dela para estruturar e embelezar suas construções, ao passo que Oscar Niemeyer e Mendes da Rocha, embora utilizassem, por exemplo, as rochas do próprio terreno para gerar contraste em suas constru-

ções, utilizaram como material principal o concreto armado, muito comercializado na época (e continua nos dias de hoje, embora ultrapassado). Para Zanine, “Precisamos crescer para estar à altura da natureza do Brasil”9. Zanine diz ainda que uma madeira considerada ruim para a construção, o eucalipto, por exemplo, se tratado, dura cem anos. Dessa forma, ele prefere utilizar, quando houver, em suas obras, materiais de demolição, pois além de baratear o custo da construção, não agride a natureza.

Quadro-Síntese Casa de Canoas Oscar Niemeyer

Casa Gerber Paulo Mendes da Rocha

Materiais Predominantes

Concreto armado e vidro.

Concreto armado, vidro e rocha.

Natureza x Construção

Contraste; A natureza como elemento configurador do projeto; A construção completamente integrada à floresta; A natureza - bela imagem emoldurada pela janela.

Casa Itaipava Zanine Caldas Madeira (somadas às de demolição) que conferem leveza e beleza à construção; rocha.

Contraste; A construção possui sua própria natureza diversa e uma inteligência particular em si própria.

Ambiguidade; Camuflagem; Relação harmônica; Sustentabilidade; Não há intervenção no terreno.

Rocha

Todo o projeto gira em torno e parece surgir dela; Parte íntegra do ambiente.

Função estrutural (e estética)

Parte integrante do projeto; A rocha é mantida intacta; Garante a solidez do projeto.

Iluminação

A luz natural ilumina o interior e é controlada através de singulares esquadrias e aberturas.

Entrada de luz natural pelo vidro.

Entrada de luz natural pelo vidro.

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Acima. Casa Gerber. Um pedaço de rocha, à esquerda, foi deixado à mostra no andar principal. A vidraça da casa intercepta a pedra, ao contrário do que ocorre em na Casa das Canoas, de Niemeyer.

Acima. Casa Canoas. A esquadria não intercepta a rocha.

“Na Casa das Canoas, de Oscar Niemeyer, externamente ao vidro que circunda o piso superior mas em parte protegido pela cobertura, há uma rocha; trata-se de uma das várias presenças dispersas que o arquiteto carioca demonstra saber unir em uma síntese superior. Na Casa Gerber encontramos um detalhe que, à primeira vista, parece retomar esta solução: um pequeno pedaço de rocha, ramificação daquela sobre a qual se assenta a casa, aflora sobre o nível do chão também próximo da vidraça principal. Em vez de incluí-la na casa ou deixá-la fora como um objet trouvé, Mendes da Rocha a corta, porém, com o vidro.Aí está um detalhe demonstrativo. O aflorar da pedra, evocando a inevitável fricção entre a forma irregular da rocha e o plano perfeitamente horizontal da casa, atesta a consciência do arquiteto de que a natureza não pode ser mantida intocada: a arquitetura é condenada a construir um mundo que não é dado na natureza. O corte da rocha pela vidraça não é, assim, senão um momento inaugural, um dos inumeráveis inícios de um processo sem fim”7, Daniele Pisani.

À esq. Casa Itaipava. Relação interior e meio ambiente.

Arquitetura Contemporânea

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REFERÊNCIAS 1. Enciclopédia Itaú Cultural de Arte Brasileira. Zanine Caldas. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ pessoa25335/zanine-caldas>. Acesso em 02 jun 2016.

9. Letícia F. Zanine Caldas - Arte de Arquitetar com o Mestre da Madeira. Vídeo online. YouTube, 17 mai 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qCJ8t9xdy4Q> Acesso em: 28 jun 2016

2. CALDAS, José Zanine; XAVIER, Ana Maria (coord.). Ver Zanine. Curadoria Luís Antonio C. Magnani; texto Luís Antonio C. Magnani; ensaio Hugo Segawa. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2003. 83 p.

10. FRACALOSSI, Igor. Clássicos da Arquitetura: Casa das Canoas / Oscar Niemeyer. ArchDaily Brasil, 15 dez 2011. Disponível em <http://www.archdaily.com.br/14512/classicos-da-arquitetura-casa-das-canoas-oscar-niemeyer> Acesso em: 28 jun 2016.

3. CONDURU, Roberto. Tectônica tropical. In: ANDREOLI, Elisabetta; FORTY, Adrian. Arquitetura moderna brasileira. London : Phaidon, 2004. pp. 56 - 105, il p&b

11. Lauro Cavalcanti é arquiteto, antropólogo social e escritor. Autor de livros e ensaios sobre modernismo brasileiro. Curador de arte e arquitetura havendo feito no Rio, em São Paulo e em várias cidades europeias as retrospectivas de Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx. É professor da Escola de Desenho Industrial do Rio de Janeiro (Esdi) e diretor na mesma cidade do Paço Imperial, centro cultural de Patrimônio e Arte Contemporânea.

4. EXPOSIÇÃO virtual Zanine - Fábrica e Formão - mobiliário em madeira. Disponível em: <http://www.acasa.org.br/zanine/ index.html>. Acesso em 23/06/2016. 5. SILVA, Suely Ferreira da (coord.). Zanine, sentir e fazer. Rio de Janeiro: Agir, 1991. 144p, il. p&b. color 6. WOLF, José. Quase na reta final. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, ed. 83, abril 1999. Disponível em: <http://au.pini. com.br/arquitetura-urbanismo/83/quase-na-reta-final-24197-1.aspx>. Acesso em: 10 jun 2016. 7. PISANI, Daniele. Construir a natureza: uma casa de Paulo Mendes da Rocha. Projeto Design, São Paulo, ed. 423. Disponível em: <https://arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/paulo-mendes-rocha-casa-gerber-angra-reis-rj>. Acesso em 24 jun 2016. 8. ZANINE Caldas – Residência de Itaipava. Rio de Janeiro: UFRJ. 6 p. Artigo, Modelagem de Sistemas Estruturais, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Disponível em: <http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Modelagem-De-Sistemas-Estruturais/45740403.html> Acesso em 24 jun 2016.

12. CAVALCANTI, Lauro. A Casa das Canoas, em artigo de Lauro Cavalcanti. Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, ed. 226, janeiro 2012. Disponível em: <http://au.pini. com.br/arquitetura-urbanismo/226/artigo275939-3.aspx> Acesso em: 28 jun 2016. 13. O texto do historiador Daniele Pisani centra esforços na análise do diálogo estabelecido pelo projeto - e, no geral, pela arquitetura de Mendes da Rocha - entre a construção e a natureza, partindo do levantamento de material de época (fotos e desenhos pré-executivos) pertencente aos arquivos do arquiteto e dos proprietários, assim como da vivência da casa por Pisani. 14. FONTANA, Lucia. Jose Zanine Caldas. Modern Design, março 2012. Disponível em: <http://www.moderndesign. org/2012/03/jose-zanine-caldas.html>. Acesso em: 26 jun 2016.

Trabalho realizado para a disciplina de Arquitetura e Urbanismo no Brasil Contemporâneo, professora Amanda Rafaelly Casé Monteiro da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, 1/2016. 26 Arquitetura Contemporânea




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