0
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESIGN
DANIELLE CAROLINA PAIVA DE ANDRADE
RESÍDUOS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA: POSSIBILIDADES DE REAPROVEITAMENTO DO MDF DAS INDÚSTRIAS DA GRANDE FLORIANÓPOLIS
FLORIANÓPOLIS 2010
1
DANIELLE CAROLINA PAIVA DE ANDRADE
RESÍDUOS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA: POSSIBILIDADES DE REAPROVEITAMENTO DO MDF DAS INDÚSTRIAS DA GRANDE FLORIANÓPOLIS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Design, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Design.
Orientadora: Prof.ª Cristina Colombo Nunes, Msc.
FLORIANÓPOLIS 2010
2
DANIELLE CAROLINA PAIVA DE ANDRADE
RESÍDUOS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA: POSSIBILIDADES DE REAPROVEITAMENTO DO MDF DAS INDÚSTRIAS DA GRANDE FLORIANÓPOLIS
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Design e aprovado em sua forma final pelo Curso de Design da Universidade do Sul de Santa Catarina.
Florianópolis, 22 de junho de 2010.
______________________________________________________ Professora e orientadora Cristina Colombo Nunes, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________________ Prof. Claudio H. da Silva, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina ______________________________________________________ Prof. Célio T. dos Santos, Dr. Universidade do Sul de Santa Catarina
3
Aos meus pais, maiores incentivadores e que de tudo fizeram para me proporcionar a melhor educação. Ao meu noivo, amigo e companheiro Luiz Mateus.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e aos meus guias espirituais que sempre estiveram presentes em todos os momentos da minha vida me dando força, luz e proteção. Aos meus pais, José Aluízio e Edna, por todo o amor e carinho que foram dedicados a mim e pelas lições de vida que me foram ensinadas, que me fizeram ser a pessoa que sou hoje. A minha irmã, Sarita, que é mais do que família, é minha melhor amiga. Ao meu noivo, Luiz Mateus, amigo e companheiro de todas as horas e que muitas vezes soube lidar com meus momentos de angústia, dúvida, estresse, confortando-me com palavras de incentivo ou com o silêncio do seu abraço. Agradeço a minha orientadora Professora Cristina Colombo por ter confiado no meu trabalho, pelos períodos de orientação no qual buscou transmitir todo o seu vasto conhecimento e por ter proporcionado momentos agradáveis com conversas casuais e descontraídas durante essas orientações. E, por fim, aos meus amigos que não são muitos, porém são valiosos. Não citarei nomes para não esquecer ninguém e não ser injusta, mas saibam que todos têm seus lugares reservados no coração.
5
O bom design é a inteligência tornada visível.” (Paul Hawken)
6
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo trabalhar com os resíduos sólidos, mais especificamente o MDF, gerados
pelas indústrias
moveleiras
da Grande
Florianópolis e utilizar do design como uma ferramenta gerenciadora com o objetivo de diminuir o impacto ambiental que tais resíduos causam. Para o desenvolvimento do projeto, utilizou-se a metodologia de Bürdek (2006), cujas etapas iniciais foram a fundamentação teórica e a pesquisa de campo. Por meio desta, chegou-se a conclusão de, basicamente, trabalhar com uma família de produtos do tipo utilitários/decorativos, de serem produtos de baixa complexidade em sua fabricação e manuseio e somente fazer o uso das ripas, materiais esses que são descartados em grandes quantidades e de difíceis reutilizações. Essas etapas serviram de subsídio para a formação do conceito e para a geração de alternativas. Com as alternativas finais selecionadas, produziram-se os protótipos que serviram também para demonstrar a facilidade com os quais foram fabricados, possibilitando que a produção dessa família seja feita por qualquer grupo de pessoas sem qualquer conhecimento de marcenaria.
Palavras-chave: Indústrias moveleiras. Resíduos sólidos. Ripas. MDF. Design.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1- Fluxograma do modelo do processo de Design ......................................... 17 Quadro 1- Características da Formação Industrial dos Pólos Moveleiros ................. 18 Quadro 2 - Classificação das Empresas Moveleiras do Brasil .................................. 19 Quadro 3 - Problemas da Indústria Moveleira Brasileira ........................................... 21 Figura 2 - Fluxograma da Cadeia Produtiva de Madeira e Móveis ............................23 Figura 3 - Fluxograma do Processo de Produção Moveleira..................................... 24 Figura 4 - Resíduos ................................................................................................... 28 Figura 5 - Resíduos ................................................................................................... 29 Figura 6 - Serragem .................................................................................................. 29 Figura 7 - Resíduos acumulados ............................................................................... 30 Figura 8 - Resíduos ................................................................................................... 30 Figura 9 - Serragem .................................................................................................. 31 Figura 10 - Caixa de madeira onde são depositados os resíduos.............................32 Figura 11- Resíduos .................................................................................................. 32 Figura 12 - Espaço da Produção ............................................................................... 33 Figura 13 - Exaustores ..............................................................................................33 Figura 14 - Caixa de madeira onde são depositados os resíduos.............................34 Figura 15 - Resíduos ................................................................................................. 34 Figura 16 - Espaço da Produção ............................................................................... 35 Figura 17 - Exaustores ..............................................................................................35 Figura 18 - Cavacos de madeira ............................................................................... 36 Figura 19 - Objetos feitos com resíduos de lata ........................................................38 Figura 20 - Objetos feitos com folhas de jornal .........................................................38 Figura 21- Objetos feitos com garrafas PET .............................................................39 Figura 22 - Objetos reciclados do espaço Novociclo................................................. 39 Figura 23 - Objetos feitos com resíduos de madeira ................................................. 40 Quadro 4 - Pontuação dos produtos ......................................................................... 41 Quadro 5 - Matriz Semântica.....................................................................................44 Figura 24 - Painel semântico de estilo de vida ..........................................................45 Figura 25 - Painel semântico de expressão do produto ............................................ 46 Figura 26 - Painel semântico de tema visual .............................................................47
8
Figura 27 - Alternativas de bandejas para braço de sofá .......................................... 48 Figura 28 - Alternativa de bandeja ............................................................................ 49 Figura 29 - Alternativas de fruteira ............................................................................ 50 Figura 30 - Alternativas de jogo americano ...............................................................51 Figura 31- Alternativas de descanso de panela ........................................................52 Figura 32 - Alternativas de malhas ............................................................................ 53 Figura 33 - Ripas de 6mm à esquerda e de 9mm à direita........................................ 54 Figura 34 - Mock-up da malha ...................................................................................54 Figura 35 - Esboço da nova malha ............................................................................ 55 Figura 36 – Tecidos utilizados para o fundo dos objetos........................................... 56 Figura 37 - Bandeja para braço de sofá – antes e depois ......................................... 57 Figura 38- Bandeja – antes e depois ......................................................................... 58 Figura 39 - Jogo americano – antes e depois ...........................................................59 Figura 40 - Descanso de panela – antes e depois ....................................................59 Figura 41 - Pequena curvatura da malha .................................................................. 60 Figura 42 - Fruteira planificada.................................................................................. 61 Figura 43 - Alternativa final da fruteira....................................................................... 62 Figura 44 - Modelo digital da bandeja para braço de sofá......................................... 63 Figura 45 - Modelo digital da bandeja ....................................................................... 63 Figura 46 - Encaixe das pegas laterais da bandeja...................................................64 Figura 47 - Modelo digital do jogo americano............................................................64 Figura 48 - Modelo digital do descanso de panela ....................................................65 Figura 49 - Modelo digital da fruteira ......................................................................... 65 Figura 50 – Objetos enrolados ................................................................................. 66 Figura 51 – Ambientação da bandeja para braço de sofá ......................................... 67 Figura 52 – Ambientação da bandeja........................................................................ 67 Figura 53 – Ambientação do jogo americano ............................................................68 Figura 54 – Ambientação do descanso de panela ....................................................68 Figura 55 – Ambientação da fruteira ........................................................................ 69 Figura 56 – Objetos enrolados ................................................................................. 69 Figura 57 - Kit mínimo para a fabricação dos produtos ............................................ 75 Figura 58 - Lixando a ripa..........................................................................................76 Figura 59 - Pintando a ripa .......................................................................................77 Figura 60 – Molde de papelão .................................................................................. 77
9
Figura 61 – Tecido cortado utilizando o molde .........................................................78 Figura 62 – Montagem do objeto .............................................................................. 78
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 1.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA ......................................................................... 12 1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 13 1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 13 1.2.2 Objetivo Específico ........................................................................................13 1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 14 1.4 ESCOPO DO PROJETO DE PESQUISA............................................................14 1.5 ADERÊNCIA À LINHA DE PESQUISA ...............................................................15 1.6 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ................................................................. 15 1.7 METODOLOGIA DE PROJETO .......................................................................... 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 18 2.1 INDÚSTRIA MOVELEIRA NO BRASIL ...............................................................18 2.1.1 Indústria Moveleira da Grande Florianópolis............................................... 22 2.2 MATERIAIS EMPREGADOS .............................................................................. 22 2.2.1 Fluxograma da Cadeia Produtiva de Madeira e Móveis ..............................23 2.3 RESÍDUOS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA ..........................................................24 2.4 IMPACTOS AMBIENTAIS ...................................................................................26 3 SITUAÇÃO CORRENTE........................................................................................28 3.1 EMPRESA DE RECICLAGEM ............................................................................ 35 3.2 RIPAS .................................................................................................................. 36 3.3 DEFINIÇÃO DO PÚBLICO-ALVO ....................................................................... 37 3.4 ANÁLISE DE MERCADO ....................................................................................37 3.4.1 Concorrentes Indiretos .................................................................................. 37 3.4.2 Produtos Similares .........................................................................................40 3.5 PRODUTOS DE DECORAÇÃO E UTILITÁRIOS ................................................ 40 3.6 ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................................42 4 DEFINIÇÃO DE METAS ........................................................................................43 5 CONCEITO ............................................................................................................ 44 5.1 CONSTRUÇÃO DE ALTERNATIVAS ................................................................. 47 5.1.1 Alternativas de Malhas...................................................................................52 5.1.1.1 Mock-up da malha .........................................................................................53
11
5.2 DEFINIÇÃO DAS CORES ...................................................................................55 6 VALORAÇÃO E PRECISÃO DE ALTERNATIVAS ............................................... 57 6.1 MODELO DIGITAL DAS ALTERNATIVAS FINAIS ............................................. 62 6.2 AMBIENTAÇÃO DOS OBJETOS ........................................................................ 66 6.3 DESENHO TÉCNICO ..........................................................................................70 7 MEMORIAL DESCRITIVO .....................................................................................71 7.1 FUNÇÃO ESTÉTICO-FORMAL .......................................................................... 71 7.2 FUNÇÃOSIMBÓLICA ..........................................................................................71 7.3 FUNÇAO DE USO...............................................................................................72 7.4 FUNÇÃO ERGONÔMICA ...................................................................................72 7.5 FUNÇÃO TÉCNICA.............................................................................................73 7.6 FUNÇÃO INFORMACIONAL .............................................................................. 73 7.7 FUNÇÃO DE MARKETING ................................................................................. 73 7.8 FUNÇÃO ECOLÓGICA .......................................................................................74 8 PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO E DE PRODUÇÃO ......................75 8.1 O PROCESSO DE FABRICAÇÃO ...................................................................... 76 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................79 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 80 APÊNDICE - Desenho Técnico ............................................................................... 82
12
1 INTRODUÇÃO
A indústria moveleira no Brasil é um setor no qual pouco se investe em sustentabilidade ambiental. Somente cerca de 5% das mais de 16000 empresas registradas no país possuem algum tipo de programa relacionado à preservação do meio ambiente. Sendo assim, este projeto terá como estudo os resíduos gerados pelas indústrias moveleiras da grande Florianópolis e a forma pela qual essas sobras poderão ser reaproveitadas da melhor maneira possível, utilizando o Design como ferramenta para este trabalho.
1.1 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA
Segundo dados da Abimóvel – Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário –, em 2005, existiam 16298 empresas do setor moveleiro atuando no Brasil, sendo que 17% do total estavam representadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e o restante, 83%, nas regiões Sul e Sudeste. Com relação a essas duas regiões, 6665 empresas estão localizadas na região Sul e 6813 na região Sudeste. Porém, estima-se que o número de empresas do setor esteja entre 50000 e 70000, devido à existência de micro e pequenas empresas trabalhando de maneira informal, sem qualquer registro. Em Santa Catarina, na região do Planalto Norte (Alto Vale do Rio Negro), em São Bento do Sul, encontra-se o maior pólo moveleiro do estado e o maior pólo exportador de móveis do país. De acordo com a RAIS – Relação Anual de Informações Sociais -, dentro da cadeia produtiva de móveis no Brasil, 85% das empresas moveleiras fabricam móveis predominantemente de madeira, sendo que os 15% restantes utilizam outros materiais na sua produção como, por exemplo, metais e polímeros. A indústria moveleira em geral utiliza vários materiais distintos e integrados na produção dos móveis. Podem-se citar os seguintes materiais usados no processo de fabricação: madeira maciça e painéis derivados, lâminas de madeira, metais, produtos químicos, polímeros, vidros, tecidos, pedras ornamentais.
13
Devido a essa diversidade de materiais integrados, o processo de fabricação gera uma gama diversificada de resíduos, o que dificulta o gerenciamento dessas sobras. Além disso, segundo o engenheiro florestal Marcio Nahuz, “praticamente nenhuma empresa conta com qualquer tipo de planejamento referente à disposição final dos produtos fabricados, ao término de seu ciclo de vida.” No Brasil, são poucas empresas moveleiras (cerca de 5%) que possuem algum tipo de programa relacionado à preservação ambiental ou ao gerenciamento dos resíduos produzidos durante a produção. O design entra nesse processo como uma ferramenta gerenciadora, com o objetivo de diminuir o impacto ambiental que tais resíduos causam, aumentando o ciclo de vida desses materiais. Também é uma forma de gerar lucro para as empresas, apresentando-lhe alternativas de reuso desses resíduos como matéria-prima para outros diversos produtos.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Produzir um estudo exploratório sobre os resíduos gerados pela indústria moveleira, mais especificamente o MDF, e utilizar do processo de design sustentável para diminuir os impactos ambientais que tais resíduos podem causar.
1.2.2 Objetivo Específico
- Realizar uma revisão bibliográfica para conhecer melhor materiais e processos da indústria moveleira; - Conhecer, por meio de uma pesquisa de campo, a realidade das marcenarias da grande Florianópolis, bem como o atual mercado e público alvo; - Definir o produto a ser projetado;
14
- Analisar os dados coletados, definindo metas de projeto; - Gerar alternativas de projeto a partir do conceito formulado; - Fazer modelos bi- e tridimensional da alternativa escolhida;
1.3 JUSTIFICATIVA
Atualmente, com o tema do aquecimento global em alta, toda e qualquer atitude do homem em relação ao meio ambiente precisa mudar e os valores que guiam a sociedade precisam ser repensados. Como conseqüência desse aquecimento, surge a necessidade de se trabalhar com a sustentabilidade e de ser sustentável. Muitas empresas estão mudando suas estratégias iniciais para se encaixar nesse novo modo de vida consciente e ecologicamente correto. Trabalhar com o design sustentável é uma forma de minimizar a ação devastadora do homem sobre o meio ambiente. De acordo com Vezzoli e Manzini (2007, p. 5), “design para a sustentabilidade ambiental significa promover a capacidade do sistema produtivo de responder a pergunta social usando uma quantidade de recursos ambientais bem inferiores daquela necessária atualmente.” Dessa forma, o presente trabalho vai contribuir de forma significativa com a sustentabilidade ambiental por meio do reuso dos resíduos sólidos produzidos pelas indústrias moveleiras da grande Florianópolis, especialmente o MDF, cujo destino final não é apropriado, conforme será visto mais adiante.
1.4 ESCOPO DO PROJETO DE PESQUISA
O projeto de design a ser trabalhado no período de quatro meses envolverá micro e pequenas empresas da indústria moveleira no âmbito da grande Florianópolis. Tem como público-alvo empresários, marceneiros e todos aqueles que estiverem ligados ao processo de produção moveleira das empresas pesquisadas.
15
1.5 ADERÊNCIA À LINHA DE PESQUISA
Como o objetivo deste projeto é trabalhar com resíduos sólidos da indústria moveleira da grande Florianópolis, a linha de pesquisa que se encaixa neste perfil de projeto e que será seguida é o Eco-Design.
1.6 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Para este projeto e de acordo com os objetivos estabelecidos, o tipo de pesquisa a ser seguido é a exploratória, a qual, segundo Gil (2007, p. 41), “tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a tornálo mais explícito, a constituir hipóteses...e o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições.” Os procedimentos técnicos para a pesquisa exploratória serão a pesquisa bibliográfica, utilizando fontes como livros, publicações e impressos diversos e o estudo de campo, que procura o aprofundamento das questões propostas e permite que o pesquisador faça suas observações in loco, no momento em que ocorrem os fenômenos. A abordagem a ser adotada é a qualitativa, cujo modo de obtenção de dados é por meio descritivo e interpretativo. Nessa abordagem, o pesquisador conhece o espaço e vive em tempo real o que se passa com o investigado, proporcionando uma pesquisa com enfoque indutivo.
1.7 METODOLOGIA DE PROJETO
O método a ser seguido neste projeto será o de Bernhard E. Bürdek, o qual “é caracterizado por várias possibilidades de realimentação (feedback) que não deixam o processo de projeto parecer como um processo linear de resolução de problemas”. (BÜRDEK, 2006, P. 55)
16
Na
problematização,
que
neste
presente
trabalho
consta
como
fundamentação teórica, serão abordados o processo de industrialização moveleira, os resíduos produzidos durante o processo de produção, bem como os impactos ambientais causados com o descarte inadequado das sobras. A análise da situação corrente será uma pesquisa de campo em indústrias moveleiras de micro e pequeno porte da grande Florianópolis, com entrevistas, observações in loco e a captura de imagens com uma máquina fotográfica. Em cada empresa serão analisados os tipos de resíduos produzidos diariamente, o destino final que cada uma dá para suas sobras e se há o interesse por parte das empresas em reutilizá-las. Haverá também a definição do público-alvo por meio de uma abordagem qualitativa e uma análise de mercado com visitas em lojas que comercializem produtos reciclados, buscando avaliar os concorrentes diretos e indiretos e os similares. Com a definição do público-alvo e a análise de mercado finalizadas, será possível a escolha dos produtos que serão produzidos com os resíduos. Ao término de toda a análise da situação corrente, será feita uma avaliação dos dados coletados. Já a definição de metas consiste em abordar os requisitos de projeto; trata-se da etapa na qual se escolherá o material que será utilizado, de que maneira será a fabricação e o nível de complexidade, a forma e as cores predominantes. Essas metas serão condições estabelecidas para a elaboração da parte conceitual e da geração de alternativas do projeto. O projeto de conceitos contará com a utilização de duas ferramentas: a matriz semântica para conferir atributos ao projeto e os painéis semânticos de estilo de vida, expressão do produto e tema visual com o objetivo de formar o conceito do produto. Em seguida, tem-se a construção de alternativas baseada no conceito formado. A valoração e a precisão das alternativas ajudarão na escolha da melhor dentre todas as geradas. A melhor alternativa será aquela que solucionará o problema inicial do projeto, que atenderá ao mercado e ao público-alvo estabelecido e que cumprirá com os requisitos de projeto e com o conceito formado para o produto. Fará parte também a alternativa final em representação tridimensional com o produto feito no programa SolidWorks
17
Por fim, na etapa de planejamento do desenvolvimento e de produção contará com um protótipo a ser feito na maquetaria com imagens de todo o processo de fabricação juntamente com uma descrição detalhada do procedimento.
Problematização
Análise da situação corrente
Definição de Metas
Projeto de conceitos Construção de alternativas
Valoração e precisão de alternativas
Planejamento do desenvolvimento e de produção Figura 1: Fluxograma do modelo do processo de Design Fonte: BÜRDEK (2006)
18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 A INDÚSTRIA MOVELEIRA NO BRASIL
A indústria moveleira, setor que está relacionado à produção de móveis, teve sua consolidação na metade do século XX na cidade de São Paulo e arredores. Anteriormente, a fabricação de móveis nessa região ocorria em pequenas marcenarias de artesãos vindos da Itália com processos artesanais e conhecimentos tradicionais. A maior parte da produção era voltada para o mercado local, (LINKE, 2001). Santa Catarina e Rio Grande do Sul também se tornaram pólos moveleiros pouco tempo depois, “tendo a formação do mercado interno sido baseada no trabalho assalariado e no incremento do movimento migratório daquela época” (LINKE ,2001, p. 63). Quadro 1- Características da Formação Industrial dos Pólos Moveleiros Fonte: ABIMÓVEL
Pólos
Origem
Consolidação
Grande São Paulo (SP)
Marcenarias familiares (imigração italiana).
Década de 50
Noroeste Paulista (Votuporanga e Mirassol) Ubá (MG)
Iniciativa dos empresários locais.
Década de 80
Empresas atraídas pela instalação da Móveis Itatiaia na década de 60.
Década de 80
Arapongas (PR)
Iniciativa de empresários locais, com apoio governamental (em particular do município).
Década de 80
São Bento do Sul (SC)
Instalação nos anos 60 e início dos Década de 70 anos 70, com apoio do governo.
Bento Gonçalves (RS)
Manufaturados de móveis de madeira e metal originados da fabricação de instrumentos musicais e telas metálicas.
Década de 60
19
Nos anos 80, a indústria moveleira passou por momentos difíceis devido à crise econômica brasileira: houve diminuição do consumo e encarecimento de matérias-primas. Para sobreviver à crise, algumas empresas recorreram ao mercado externo. Foi a partir desse momento que se notou uma modernização no setor para atender às exigências dos países importadores e Santa Catarina se tornou o maior exportador nacional de móveis (LINO, 2001). Segundo dados da Abimóvel, das 2033 empresas moveleiras registradas em Santa Catarina, 215 são empresas exportadoras, sendo que o maior pólo exportador do estado se encontra na região do Planalto Norte (Alto Vale do Rio Negro), em São Bento do Sul. No Brasil, essa região se destaca como maior centro de exportação de móveis do país. Apesar de relevante participação no mercado moveleiro de Santa Catarina e do Brasil, a produção da região do Planalto Norte Catarinense ainda é predominantemente realizada por micro e pequenas empresas, algo que é característico do setor, como pode ser observado no quadro 2 abaixo. Quadro 2 – Classificação das Empresas Moveleiras do Brasil Fonte: SEBRAE
Classificação das Empresas Conforme o Número de Funcionários Microempresas Pequenas Empresas Médias Empresas Grandes Empresas
N° de Funcionários
N° de Empresas Moveleira
1 a 19
12108
20 a 99
3446
100 a 499
432
+ 500
313
A estrutura das micro e pequenas empresas geralmente é familiar, verificando-se o compartilhamento dos bens da família com os da empresa. Os proprietários são os próprios administradores e os demais membros da família trabalham como empregados da empresa, executando atividades de apoio. Segundo LUZA (2003, p. 21), “O principal capital advém da mão-de-obra, sendo esta considerada bastante intensiva, mas, em grande parte, não especializada. Aliada a este fato está a pouca instrução dos proprietários de pequenas e médias empresas.” O processo produtivo das indústrias moveleiras geralmente é bastante verticalizado, ou seja, todas as etapas de fabricação, da secagem e processamento
20
da matéria-prima até a produção do produto final, são feitos na mesma instalação industrial (LINO, 2001). Os móveis, segundo seu modo de produção, de acordo com os dados da DEPEC – Bradesco (Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos), podem ser classificados em retilíneos ou torneados. Os móveis retilíneos se subdividem em seriados e sob encomenda. Nos seriados, o processo de produção é simples e com poucas etapas, por serem móveis retos e por não haver detalhes sofisticados. Seu fluxo de produção é contínuo e não há estoques. Utilizam-se o aglomerado e o MDF como materiais. Os móveis sob encomenda são feitos de acordo com as medidas dadas pelo cliente, o que faz com que sejam destinados a um mercado mais restrito. A venda ocorre diretamente entre a marcenaria e o cliente final. Com relação aos móveis torneados, o processo produtivo é mais complexo e tem várias etapas devido à maior quantidade de detalhes. As empresas desse setor trabalham com elevados estoques de matérias-primas. A venda se dá para grandes magazines e redes de lojas de móveis. Esse tipo de móvel tem um alto índice destinado à exportação e às classes com rendas maiores. São de madeira maciça de floresta nativa ou de reflorestamento. Sobre essa classificação, SANTANA (1996 apud LINO, 2001, p. 76) diz que O Rio Grande do Sul é mais especializado na produção de móveis retilíneos seriados, de aglomerado de madeira e móveis torneados. Em Santa Catarina existe um predomínio da fabricação de móveis torneados de madeira...O pinus é a madeira utilizada, especialmente em produtos para exportação.
Quanto aos meios de distribuição dos produtos, estes variam de acordo com o porte das empresas. As de micro e pequeno porte produzem móveis sob medida, os quais são vendidos diretamente ao consumidor final. Esse contato direto com o cliente permite que essas empresas fabriquem móveis de acordo com o gosto pessoal de cada consumidor, fazendo produtos diferenciados em relação aos fabricados em empresas de médio e grande porte, onde existe uma linha de produção natural. As empresas de maior porte geralmente possuem representantes responsáveis pela venda dos móveis a grandes lojas ou distribuidoras. Normalmente os produtos são fabricados em série sendo, muitas vezes, pré-modulados ou
21
modulados. Não há o contato direto com o cliente final como no caso de micro e pequenas empresas. Em relação ao mercado a que atende, a indústria moveleira segmenta-se em móveis residenciais, móveis para escritório e móveis institucionais. Segundo indicadores da Abimóvel, 60% do faturamento anual da indústria de madeira e do mobiliário refere-se a móveis para residências, 25% a móveis de escritório e 15% a móveis institucionais. Mesmo com o crescente faturamento e com o aumento da qualidade dos móveis em comparação aos anos anteriores, conforme dados da Abimóvel, a indústria moveleira do Brasil apresenta alguns problemas, os quais foram elencados no Quadro 3 abaixo. Quadro 3 – Problemas da Indústria Moveleira Brasileira Fonte: LUZA, 2003, p. 24
PROBLEMAS - Aceleração do desenvolvimento técnico e científico; - Ciclos de vida mais curtos dos produtos; - Não possuir cultura exportadora; - Grande verticalização da produção industrial; - Carência de fornecedores especializados em partes e componentes de móveis; - Falta de normalização técnica; - Elevada informalidade; - Baixos investimentos em design; - Pesquisa de mercado deficitária.
Com o acelerado desenvolvimento técnico e científico, o surgimento de novos produtos é muito rápido, fazendo com que o seu ciclo de vida seja cada vez mais curto. As pessoas passarão a consumir mais e com isso as indústrias terão que se adaptar à nova realidade para evitar o fracasso. Outro problema é o setor moveleiro do país não possuir cultura exportadora. Para ingressar no comércio internacional de forma mais significativa, as indústrias de móveis precisarão realizar muitas transformações. O que tem impedido um melhor desempenho exportador é: “grande verticalização da produção industrial, carência de fornecedores especializados em partes e componentes de móveis, falta
22
de normalização técnica, elevada informalidade e baixa pesquisa de mercado” (LUZA, 2003, p. 24).
2.1.1 Indústria Moveleira da Grande Florianópolis
Conforme dados adquiridos com uma funcionária que trabalha na SIM (Sindicato da Indústria do Mobiliário da Grande Florianópolis), existem 700 empresas cadastradas no sindicato. Porém, esse número inclui, além das indústrias de móveis, madeireiras, marmorarias, estofarias e empresas de esquadrias. Por isso, não é possível precisar o número de empresas da grande Florianópolis que trabalha somente com a produção de móveis de madeira.
2.2 MATERIAIS EMPREGADOS
No mercado doméstico, nota-se uma nítida preferência do consumidor brasileiro por móveis residenciais de madeira. Conforme levantamento feito pela RAIS, 85% das empresas moveleiras formais produzem móveis predominantemente de madeira, 7% fabricam móveis com predominância de metal e o restante, 8%, fabricam móveis de outros materiais. Quanto às empresas que utilizam a madeira como matéria-prima predominante, a madeira maciça e a madeira processada (aglomerados, MDF) são os principais materiais utilizados no processo de fabricação. De acordo com dados da DEPEC – Bradesco (Departamento de Pesquisas de Estudos Econômicos), “painéis de aglomerado e MDF são provenientes de florestas plantadas, basicamente de Pinus e Eucalipto. Do total de placas consumidas no Brasil para a fabricação de móveis, 75% são aglomerado e 25% são MDF.” O MDF (Medium Density Fiberboard), que será o foco de estudo e projeto deste trabalho dadas suas características (facilidade de uso e dificuldade de descarte e destinação), revolucionou a indústria de móveis. Ele foi introduzido na Europa na década de 80 e começou a ser produzido no Brasil em 1997. “É um
23
material fabricado a partir das fibras das partículas do tecido lenhoso que são reaglomeradas pela adição de resina sintética uréia-formaldeído e parafina sendo, posteriormente, submetido à ação de pressão e calor.” (LIMA, 2006, p. 105) O MDF se caracteriza por ser resistente a empenos, muito hidroscópico, fácil de trabalhar (cortar, furar, lixar) e por permitir um excelente acabamento superficial. Além disso, é considerado o substituto mais próximo da madeira maciça. Durante o processo de produção de móveis, muitas indústrias trabalham com MDF e madeira maciça juntos para diminuir custos do produto final.
2.2.1 Fluxograma da Cadeia Produtiva de Madeira e Móveis
Figura 2 – Fluxograma da Cadeia Produtiva de Madeira e Móveis Fonte: NAHUZ, 2005, p. 2
Conforme visto anteriormente, 85% das indústrias moveleiras formais produzem
móveis
predominantemente
de
madeira.
Essa
matéria-prima
é
proveniente de florestas nativas e florestas plantadas e é fornecida às indústrias de painéis e serrarias, as quais, por sua vez, fornecem às indústrias moveleiras em forma de madeira maciça ou de painéis. Os painéis podem ser chapas de madeira compensada, madeira aglomerada, chapas de fibras duras e MDF. Na indústria, ocorre a produção dos móveis, que, finalizados, seguem para a distribuição. A
24
distribuição pode ser no atacado ou no varejo, fazendo com que o produto chegue aos consumidores dos segmentos residenciais, institucionais, de escritórios e de grandes ambientes, (NAHUZ, 2005). Neste projeto não serão abordadas outras matérias-primas da indústria moveleira nem produtos intermediários (vernizes, tintas, metais e plásticos).
2.3 RESÍDUOS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA
Durante a cadeia produtiva de madeira e móveis ocorre a geração de resíduos sólidos e emissões de gases na atmosfera, sendo que estes nem sempre têm uma destinação correta, causando impactos ambientais. Com relação aos resíduos sólidos, a maior parte da perda da madeira acontece durante o processamento primário, porém as perdas nas indústrias moveleiras, durante o corte e o acabamento, também são bastante relevantes. Conforme Nahuz (2005), os resíduos sólidos são sobras dos materiais utilizados durante o processo de produção, podendo ser de diferentes dimensões. Constituem-se em aparas, pedaços e recortes de madeira maciça ou serrada. Também são resíduos restos de todos os tipos de painéis (aglomerados, MDF, chapas de fibra) in natura, revestidos ou com acabamentos. Podem ser incluídos ainda os retalhos e aparas de lâminas decorativas e não decorativas, lâminas impressas, laminados plásticos e fórmica. A serragem, que é gerada durante o processo de corte da madeira, também é um resíduo bastante comum na indústria de móveis. Existem outros tipos de resíduos sólidos que a indústria moveleira produz, como metais, plásticos, vidros, tecidos, pedras, que se distinguem por extensão e intensidade. Entretanto, eles não serão estudados com profundidade neste projeto, cujo foco são os resíduos de madeira, mais especificamente o MDF. O fluxograma a seguir representa o processo de produção de móveis, com as etapas em que ocorre a geração de resíduos:
25
Figura 3 – Fluxograma do Processo de Produção Moveleira Fonte: (KOZAK et al, 2008, p. 4)
O início do processo acontece com o corte de diversos tamanhos dos painéis, que se transformam em peças prontas para a produção dos móveis. Essas peças seguem para o setor de fresagem, “onde máquinas (tupia, serra fita e brocas) fazem operações como arredondamento de bordas, cantos e entalhes de superfícies das peças” (KOZAK et al., 2008, p. 4). As peças prontas no formato esperado seguem para a furação e depois para o setor de montagem. Aquelas que não possuem revestimento passam por lixadeiras mecânicas antes de serem pintadas. Após todas essas etapas, as peças passam pelo setor de controle de qualidade, no qual se produzem mais resíduos, como aparas, pó e vapores orgânicos. Finalmente, as peças seguem para o setor de expedição. Deve-se levar em consideração que o percentual de resíduos gerados varia de indústria para indústria e que “depende, além dos fatores tipo de processo empregado, tipo de matéria-prima utilizada e produto final obtido, das condições tecnológicas empregadas” (HILLIG et al., 2006).
26
Existem indústrias que, além de não possuírem um gerenciamento dos restos produzidos, ainda têm um alto índice de produção de resíduos, devido à abundância de matéria-prima na região. Porém, no geral, Nahuz (2005) afirma que a indústria moveleira “se caracteriza por uma forte preocupação em otimizar o uso de matérias-primas e componentes, visto que estes itens têm grande peso no custo final do produto”, maximizando o aproveitamento e, conseqüentemente, gerando menos resíduos. Há a necessidade de se preocupar com a quantidade de resíduos gerada pelas indústrias moveleiras, mesmo que elas já trabalhem para diminuir a produção de sobras. Segundo Hillig et al., (2009, p. 1), “o potencial de aproveitamento destes resíduos é significativo, quer seja como matéria-prima secundária, quer seja pelo seu potencial energético.” Além disso, o gerenciamento desses restos pode ter um grande potencial econômico.
2.4 IMPACTOS AMBIENTAIS
Os impactos que os resíduos da indústria moveleira causam no meio ambiente geram uma grande preocupação entre as agências ambientais e também nas empresas do setor. Quanto a estas, a preocupação tem caráter principalmente financeiro, devido aos custos da disposição correta dos resíduos ou ao pagamento de multas caso haja uma disposição inadequada dos restos (NAHUZ, 2005). Nos grandes centros urbanos, os resíduos gerados pela indústria de móveis são percebidos com menor intensidade por se diluírem no meio da enorme quantidade de lixo produzido nesses locais. Esse fato, entretanto, não exime as empresas de buscar um destino correto para seus resíduos. Segundo classificação da NBR 10.004 (ABNT, 2004), os resíduos podem pertencer à Classe I – Perigosos ou à Classe II – Não-perigosos. Esta categoria se subdivide em Classe II A – Não-inerte e Classe II B – Inerte. Os resíduos de Classe I apresentam riscos à saúde pública e ao meio ambiente; os de Classe II A têm características de biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água, porém não se encaixam na Classe I; os de Classe II B não apresentam constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água.
27
Assim, como a maior parte dos resíduos produzidos pelas indústrias moveleiras são sobras de retalhos de madeira, painéis e partículas menores como serragem, trata-se de resíduos de Classe II A – Não-perigosos Não-inertes, causando impacto de menor intensidade no meio ambiente (NAHUZ, 2005). Tais características podem representar alguma periculosidade quando os resíduos não têm disposição adequada e quando constituem-se em material de alta combustibilidade, especialmente se estiverem estocados de maneira inadequada, próximos às instalações industriais ou aglomerações urbanas. Adicionalmente, os depósitos de resíduos de madeira e produtos derivados invariavelmente irão se constituir em atração para insetos xilófagos (térmitas ou cupins). Estes alimentam-se de celulose, material abundante nos restos de madeira e produtos derivados. Tais depósitos de alimento irão funcionar como focos de atração e disseminação desses insetos, facilitando a contínua infestação da área ou da edificação (NAHUZ, 2005, p. 8).
Há também outro impacto ambiental causado pela disposição inadequada dos resíduos sólidos das indústrias de móveis: a possibilidade do solo ser contaminado com os compostos químicos presentes na madeira e derivados, os quais são liberados diretamente sobre a terra. Conforme o engenheiro florestal Nahuz, uma forma adequada para a correta disposição dos resíduos é a sua remessa a aterros sanitários controlados, o que nem sempre acontece. Geralmente os resíduos são entregues a terceiros para a queima, muitas vezes clandestina, em lugares isolados e a céu aberto. Deve-se evitar a queima, pois durante esse processo é liberada uma quantidade significativa de dioxinas, furanos e outros compostos que são prejudiciais à saúde.
28
3 ANÁLISE DA SITUAÇÃO CORRENTE
Para este projeto foi realizada uma pesquisa de campo com o objetivo de aprofundar a questão proposta. Foram visitadas quatro marcenarias na grande Florianópolis, duas microempresas e duas pequenas empresas. A primeira microempresa visitada está situada em São José, no bairro Barreiros. Foi aberta há dois anos e meio por um marceneiro com 25 anos de experiência que trabalhava em uma indústria de móveis de maior porte e que resolveu abrir seu próprio negócio no terreno de sua casa. É formada por três funcionários: o dono e dois ajudantes. O modo de fabricação é sob medida, utilizando como material o MDF. A produção é destinada ao segmento residencial. São de cinco a seis projetos por mês, ocorrendo aumento da demanda no período entre outubro e dezembro. O empresário foi questionado sobre o que é feito com os resíduos e se há interesse na sua reutilização. Com relação à primeira pergunta, todos os dias, no final do expediente, os resíduos produzidos são levados a um local de coleta, sendo posteriormente encaminhados pelos lixeiros ao aterro sanitário comum. Sobre a reutilização dos resíduos, o empresário demonstrou certo interesse, porém, não vê outra solução além do lixo. As Figuras 4 e 5 mostram os resíduos depositados no chão em frente à máquina de corte, durante o processo de produção dos móveis. Há muitas ripas e sobras maiores de madeira que não podem ser reutilizados.
Figura 4: Resíduos Fonte: Acervo próprio
29
Figura 5: Resíduos Fonte: Acervo próprio
Já a Figura 6 mostra o acúmulo de serragem gerado no corte da madeira. A serragem não se concentra somente sob a máquina de corte, mas encontra-se espalhada por toda a área da produção.
Figura 6: Serragem Fonte: Acervo próprio
A segunda microempresa visitada, também situada em Barreiros, São José, existe desde 1989 e conta com cinco funcionários, o dono mais quatro ajudantes. O estabelecimento, assim como o anterior, também funciona no mesmo terreno onde o proprietário mora. O material utilizado é o MDF, o modo de fabricação é sob medida e a produção é para o segmento residencial.
30
O proprietário não demonstrou interesse ao ser questionado sobre a possibilidade de reutilizar os resíduos gerados. Para ele, não compensa investir neste reuso devido ao baixo retorno financeiro. Os restos se acumulam no local de trabalho até encher uma caçamba de entulho, o que ocorre uma vez por mês. O destino final dos resíduos também é o aterro sanitário comum. Abaixo algumas imagens da empresa. A Figura 7 mostra o acúmulo das sobras no espaço onde os marceneiros trabalham. Elas serão recolhidas somente quando encherem uma caçamba de entulhos.
Figura 7: Resíduos acumulados Fonte: Acervo próprio
As Figuras 8 e 9 apresentam os resíduos gerados durante a produção: muita serragem, ripas, fitas de acabamento, além de lixo doméstico.
Figura 8: Resíduos Fonte: Acervo próprio
31
Figura 9: Serragem Fonte: Acervo próprio
Com relação às pequenas empresas, a primeira visitada situa-se na Área Industrial do município de Palhoça. Dois marceneiros e um vendedor resolveram abrir a empresa há dezoito anos e, desde aquela época, a sociedade atua no mercado moveleiro. A empresa conta com 32 funcionários e produz móveis sob medida para o segmento residencial. Os materiais utilizados são o MDF, a madeira maciça, o compensado e o compensado naval, porém 90% dos móveis produzidos são de MDF. São cerca de 20 projetos e 100 chapas de MDF (1,83m x 2,75m) por mês. Sobre os resíduos gerados durante a produção, uma empresa terceirizada fornece uma grande caixa de madeira, onde são depositados todos os resíduos produzidos. São coletadas duas caixas de sobras por semana. A empresa não tem interesse na reutilização dessas sobras por considerar que o lucro é baixo. A Figura 10 mostra a caixa que é utilizada para armazenar os resíduos gerados durante a produção, apresentada na Figura 11. Nota-se uma grande quantidade de ripas de MDF e serragem de madeira maciça.
32
Figura 10: Caixa de madeira onde são depositados os resíduos Fonte: Acervo próprio
Figura 11: Resíduos Fonte: Acervo próprio
A serragem do MDF é capturada por exaustores conectados às máquinas de corte, conforme se pode ver na Figura 13. Devido à existência desses exaustores e de um funcionário que está sempre limpando o ambiente, percebe-se que o local da produção é limpo, vide Figura 12.
33
Figura 12: Espaço da Produção Fonte: Acervo próprio
Figura 13: Exaustores Fonte: Acervo próprio
A segunda pequena empresa visitada também se encontra em Palhoça e está no mercado há vinte anos com projetos para escritórios. Dois irmãos, um dos quais morava em Criciúma, resolveram abrir uma empresa de móveis aqui na grande Florianópolis. Possui 30 funcionários e os móveis são feitos de acordo com o catálogo que a empresa possui. O material utilizado é o MDP, que é um aglomerado coberto com uma lâmina de MDF. A mesma empresa terceirizada que faz a coleta dos resíduos da indústria moveleira citada anteriormente, também faz a coleta desta pequena empresa, a qual tampouco tem interesse na reutilização das sobras, por considerar um investimento caro.
34
Na Figura 14, vê-se que o mesmo tipo de caixa de madeira empregado pela empresa citada anteriormente é utilizado nesta indústria com o mesmo fim, ou seja, para depósito dos resíduos produzidos. Esses resíduos são, em sua maior parte, ripas de madeira, conforme mostra a Figura 15.
Figura 14: Caixa de madeira onde são depositados os resíduos Fonte: Acervo próprio
Figura 15: Resíduos Fonte: Acervo próprio
Na área de produção, tem-se um ambiente limpo e não se encontram restos de madeira no chão, conforme Figura 16, por estarem sempre recolhendo e depositando na caixa de resíduos e a serragem gerada com o corte da madeira é capturada por exaustores ligados às máquinas (Figura 17).
35
Figura 16: Espaço da Produção Fonte: Acervo próprio
Figura 17: Exaustores Fonte: Acervo próprio
3.1 A EMPRESA DE RECICLAGEM
A empresa terceirizada que atua nas duas pequenas empresas descritas anteriormente encontra-se no bairro Alto Aririu, no município de Palhoça. Trabalha com a coleta e reciclagem de madeiras descartadas em obras e outros segmentos da construção civil. Toda a madeira coletada, inclusive os resíduos de MDF, é colocada em uma trituradora, na qual é transformada em pequenos pedaços chamados cavacos,
36
conforme se vê na Figura 18. Estes são vendidos às olarias, que os utilizam nos fornos para a queima.
Figura 18: Cavacos de madeira Fonte: www.mfrural.com.br/usuarios_nt/marceloz/marceloz_23012010092156.jpg
3.2 AS RIPAS
Ao observar e analisar os quatro estabelecimentos acima descritos e os resíduos por eles gerados, é possível perceber que a quantidade de ripas existentes é muito grande e que a probabilidade de reuso é pequena. Sendo assim, o presente projeto focar-se-á na utilização dessas ripas para a fabricação de produtos. Devido às dimensões restritas dos resíduos que serão trabalhados, não será possível a produção de objetos grandes, fazendo com que o trabalho se concentre em objetos pequenos do tipo decorativos e/ou utilitários. Produtos maiores, como móveis produzidos com essas sobras, requereriam uma mão de obra mais qualificada, como a de um marceneiro ou projetista. O objetivo do projeto, porém, não é esse, como será indicado mais à frente na definição de metas.
37
3.3 DEFINIÇÃO DO PÚBLICO ALVO
Após uma análise qualitativa por meio de entrevistas com funcionários e observações em lojas que vendem, entre outros produtos, objetos reciclados de arte e decoração, chegou-se à conclusão de que o público-alvo é composto por mulheres da faixa etária entre 30 e 40 anos. Muitas delas possuem consciência ecológica e vão ao estabelecimento à procura de produtos reciclados, enquanto outras são convencidas a comprar por causa do apelo sustentável que têm esses objetos. São mulheres que estão presenteando alguém, redecorando ou passando por reformas em seus lares e que procuram por produtos de alto valor agregado e estético.
3.4 ANÁLISE DE MERCADO
3.4.1 Concorrentes Indiretos
A princípio, não é conhecida na grande Florianópolis uma loja ou alguém que venda trabalhos feitos com resíduos de MDF, logo, não há concorrentes diretos. Adiante, algumas imagens de produtos reciclados que foram encontrados nos estabelecimentos visitados e considerados concorrentes indiretos. A Figura 19 mostra produtos feitos com os mais diversos tipos de embalagens de lata, de embalagens alimentícias a cosméticas. Elas passam por um tratamento a fim de que se tornem matéria-prima para a confecção dos objetos. Não há necessidade de pintura, pois o artesão usa as cores dos próprios recipientes para compor o objeto, sem perder a harmonia. A função da maioria dos produtos é decorativa.
38
Figura 19: Objetos feitos com resíduos de lata Fonte: http://haruetorres.blogspot.com
O espelho, a luminária e o painel, conforme Figura 20, foram confeccionados com folhas de jornal e percebe-se a predominância de formas circulares e orgânicas, focando um universo mais feminino. Devido à matéria-prima não possuir uma grande variação cromática, os produtos requerem o uso de tintas coloridas. A função principal desses produtos é decorativa.
Figura 20: Objetos feitos com folhas de jornal Fonte: http://www.oficinadeartesboracea.com.br
A Figura 21 mostra vaso, flores e luminárias feitos com o predomínio de garrafas PET. Há o uso de tintas, mas também se utiliza a própria cor da matériaprima para compor os produtos. São peças mais femininas e com formas bastante figurativas. A função predominante desses objetos é decorativa.
39
Figura 21: Objetos feitos com garrafas PET Fonte: http://www.lailaassef.com.br
A Figura 22, por sua vez, apresenta produtos expostos no espaço Novociclo, situado no bairro de Coqueiros. Nesse local, pessoas cadastradas deixam seu lixo reciclável e acumulam pontos, que são trocados por objetos reciclados feitos por artesãos e comunidades. O Novociclo tem por objetivo aplicar o conceito “Lixo Zero” e tentar conscientizar o maior número de pessoas possível. A primeira imagem mostra sandálias feitas de pneu, com um bom acabamento e para ambos os sexos. Na segunda, vê-se um banco também feito de pneus, que foram forrados com espuma e tecido de chita para dar conforto. Já na terceira imagem, têm-se capas de cadernos feitas com filtros de café usados. Esses produtos são mais utilizáveis no cotidiano, perdendo um pouco da função decorativa dos objetos vistos anteriormente.
Figura 22: Objetos reciclados do espaço Novociclo Fonte: Acervo próprio
40
3.4.2 Produtos Similares
Por meio de pesquisas na internet, foi possível encontrar similares. Não se trata, porém, de produtos feitos com resíduos de MDF, mas sim outros tipos de madeira. Os similares encontrados, apresentados na Figura 23, possuem formas mais retas, geométricas. Na primeira imagem, há um pequeno armário, para o qual foram utilizados vários tipos de madeira, o que conferiu ao objeto esta conformação de cores. Na segunda e terceira imagens, quadro e relógio respectivamente, já houve a necessidade do uso de tintas coloridas, que atribuíram aos objetos uma aparência mais divertida.
Figura 23: Objetos feitos com resíduos de madeira Fonte: http://decoracaodeaaz.blogspot.com/2009/03/sobras-de-madeira.html
3.5 PRODUTOS DE DECORAÇÃO E UTILITÁRIOS
Para a escolha dos produtos que serão produzidos neste projeto, quatro lojas de decoração e utilitários domésticos foram visitadas. Observaram-se e listaram-se vários objetos que poderiam ser produzidos com resíduos de MDF. Dentre os objetos listados, uma família de cinco produtos foi escolhida por meio de sistema de pontuação. Foram dadas notas de 1 a 5, sendo 1 – muito baixo, 2- baixo, 3 – médio, 4 – alto e 5 – muito alto, para os requisitos “Valor Agregado”,
41
“Possibilidades de Fabricação” e “Estética”. Quanto ao “Nível Tecnológico”, os objetos escolhidos não deverão ser complexos e, por esse motivo, inverteram-se os valores, representando o número 1 o conceito de muito alto, 2 – alto, 3 – médio, 4 – baixo e 5 – muito baixo. O objetivo é facilitar a escolha dos produtos mais pontuados. O Quadro 4 mostra que os produtos que obtiveram maior pontuação foram a fruteira, o jogo americano, o descanso de panela e a bandeja, com 18 pontos cada um; a maior soma foi obtida pela bandeja para braço de sofá, com 20 pontos. Quadro 4: Pontuação dos produtos Fonte: Acervo próprio
Produtos Porta guardanapo Porta papel toalha Fruteira Jogo Americano Descanso de panela Relógio Porta toalha Porta copo Porta talher (gaveta) Luminária Porta treco Porta vela Porta CD Revisteiro Vaso Porta retrato Quadro Bandeja Porta vinho (embalagem) Porta caneta Bandeja para braço de sofá Cinzeiro Porta chaves Ganchos para parede
Valor Agregado 3
Possibilidades de fabricação 5
Estética
Total
3
Nível Tecnológico 5
2
3
2
4
11
5 4
4 5
4 4
5 5
18 18
4
5
4
5
18
2 2 3 4
3 3 4 3
4 2 4 5
3 4 5 5
12 11 16 17
4 2 3 2 4 3 3 3 4 3
4 5 5 2 2 4 4 4 4 4
5 4 4 4 4 5 5 5 5 5
3 5 5 5 5 5 4 5 5 5
16 16 17 13 15 17 16 17 18 17
3 5
4 5
4 5
5 5
16 20
3 2 1
5 3 3
4 3 3
5 4 4
17 12 11
16
42
3.6 ANÁLISE DOS DADOS
Após visitar as quatro empresas durante a pesquisa de campo para o aprofundamento dos dados para o projeto, pode-se concluir que nenhuma possui uma política de gestão de reaproveitamento dos resíduos gerados durante a produção e somente um marceneiro, dono de uma das microempresas visitadas, demonstrou certo interesse na reutilização dos resíduos; a outra microempresa e as duas pequenas não se interessaram, por considerarem que é um investimento com baixo retorno financeiro. No caso das microempresas, o destino dos restos de madeira é o aterro sanitário comum e uma empresa terceirizada de reciclagem faz a coleta das sobras das duas pequenas empresas. Nessa reciclagem de madeira, o destino final dos resíduos de MDF não é adequado, pois os cavacos vendidos seguem para os fornos das olarias. Como já foi dito anteriormente, a queima de MDF libera para a atmosfera uma quantidade significativa de compostos químicos prejudiciais à saúde do homem. Outro fator importante a ser apontado é que a quantidade de ripas encontradas nos resíduos é muito grande. Às vezes, pedaços maiores de madeiras são reutilizados, o que não se verifica quanto às ripas. Com relação à análise de mercado, o público-alvo deste ramo de produtos reciclados é composto por mulheres na faixa etária entre 30 e 40 anos. Não há, na grande Florianópolis, uma concorrência direta, mas sim indireta. Nos estabelecimentos visitados onde há produtos que concorrem indiretamente com o projeto, foi possível constatar que boa parte dos objetos é voltada ao público feminino, devido às formas orgânicas, às formas figurativas femininas e às cores empregadas. Nos produtos similares, não há a utilização de MDF, mas sim outros tipos de madeira. E, por fim, os produtos de decoração e utilitários que farão parte da família serão a fruteira, descanso de panela, jogo americano, bandeja e bandeja para braço de sofá. Dentre esses objetos, os que obtiveram a maior pontuação no quesito “Valor Agregado” foram a fruteira e a bandeja para braço de sofá, com cinco pontos cada.
43
4 DEFINIÇÃO DE METAS
Para este projeto, os requisitos adotados serão o uso de MDF e, para a fabricação dos produtos, ripas dessa madeira, devido à grande quantidade desse tipo de resíduo observada na pesquisa de campo. O objetivo inicial deste projeto era trabalhar com o Design Social juntamente com o Eco Design, entretanto, devido ao curto prazo para a execução deste projeto, algumas medidas foram adotadas que também se tornaram requisitos. A fabricação dos produtos deverá ser de baixa complexidade e com o mínimo de maquinário necessário para que não haja a necessidade da mão-de-obra de marceneiros e para que qualquer pessoa ou grupo de pessoas possa executá-la sem dificuldade. Tais requisitos têm por objetivo, após o término deste TCC, colocar o projeto em prática em comunidades ou associações interessadas em produzir e vender produtos com resíduos de MDF como uma fonte de renda extra. Os objetos serão de simples manuseio, com formas mais expressivas e emocionais e cores intensas para que os produtos possam atrair as mulheres já que, conforme analisado, o público-alvo deste ramo de produtos reciclados é o feminino. Esses dados serão melhor avaliados na etapa seguinte por meio do uso de duas ferramentas de projeto: a matriz semântica e os painéis semânticos.
44
5 CONCEITO
Para ajudar na elaboração do conceito da família de produtos selecionada para este projeto, duas ferramentas foram utilizadas: a matriz semântica e os painéis semânticos. Com essa matriz semântica foi possível chegar a alguns atributos que os objetos selecionados terão. Serão produtos de alto valor agregado, produzidos com matéria-prima abundante. Dessa forma, o preço será equilibrado, sem tender nem para o muito caro e nem para o muito barato, com valores acessíveis à classe média. Como o objetivo deste projeto é fazer produtos com o mínimo de complexidade, o uso deles também será o mais simples possível. As cores que prevalecerão serão as mesmas encontradas na análise de mercado, inclinando-se para as mais intensas e fazendo pouco uso das cores neutras. O projeto buscará por produtos com formas mais emocionais, sem perderem suas funções práticas pelas quais foram projetadas, para que possam despertar a atenção do público feminino definido para este trabalho. As formas dos objetos serão mais expressivas, de modo a se diferenciarem dos demais produtos existentes e evitando que sejam apenas mais um no mercado. Os objetos terão como foco não parecerem reciclados para que sejam adquiridos pelos consumidores por seu alto valor estético. Serão projetados para serem duradouros e reutilizáveis. A reutilização se daria por meio do reuso das ripas em diferentes novos projetos. Quadro 5: Matriz Semântica Fonte: Acervo próprio
Caro
Barato
Complicado
Simples
Cores neutras
Cores intensas
Forma funcional
Forma emocional
Forma expressiva
Forma rígida
Parecer reciclado
Não parecer reciclado
Durável
Não - durável
Descartável
Reutilizável
45
Com os painéis semânticos mostrados a seguir, procurou-se chegar a um conceito. O painel de estilo de vida da Figura 24 mostra mulheres da faixa etária entre 30 e 40 anos que possuem consciência ecológica e que no seu cotidiano buscam produtos reciclados tanto para si como para outras pessoas. São mulheres que estão redecorando suas casas e que procuram por produtos de alto valor agregado e estético.
Figura 24: Painel semântico de estilo de vida Fonte: Acervo próprio
A Figura 25 é o painel de expressão do produto cujas imagens indicam os atributos que os objetos terão. Serão simples, de cores fortes, duráveis, com formas mais emocionais e expressivas, reutilizáveis, com preços acessíveis e sem parecerem produtos reciclados.
46
Figura 25: Painel semântico de expressão do produto Fonte: Acervo próprio
E, por fim, o painel de tema visual indicado na Figura 26 mostra imagens da família de cinco produtos que será produzida - fruteira, jogo americano, descanso de panela, bandeja e bandeja para braço de sofá – já com seus atributos desejados para este projeto.
47
Figura 26: Painel semântico de tema visual Fonte: Acervo próprio
Os painéis semânticos acima buscam expressar a modernidade, elegância, simplicidade, sustentabilidade, suavidade e praticidade da mulher contemporânea que estabelece uma relação entre os produtos e seu estilo de vida.
5.1 CONSTRUÇÃO DE ALTERNATIVAS
Com a parte conceitual finalizada, dá-se continuidade ao projeto com a construção de alternativas da família de produtos selecionada. Para criar uma unidade entre os cinco objetos que serão produzidos, a bandeja, a fruteira, o jogo americano e o descanso de panela seguirão como modo de fabricação principal de suas estruturas a bandeja para braço de sofá devido à facilidade de produção. São ripas de madeira coladas paralelamente sobre um tecido, transformando-se em um objeto maleável e que, ao ser colocado sobre um braço de sofá, toma a forma do mesmo. A Figura 27 mostra algumas alternativas de formas de bandejas para braço
48
de sofá. A imagem circulada, por ser a alternativa com a forma diferenciada dentre as feitas e a que não existe no mercado, é a escolhida a ser produzida. Apesar de sua diferenciação, sua fabricação é de baixa complexidade.
Figura 27: Alternativas de bandejas para braço de sofá Fonte: Acervo próprio
Quanto à bandeja, chegou-se a apenas uma alternativa viável, devido à restrição do resíduo e ao modo de fabricação estabelecido, conforme se vê na Figura 28. Tem-se a estrutura de ripas coladas sobre algum tecido e duas peças que se encaixam lateralmente na estrutura, evitando que esta se enrole. As peças laterais são desencaixáveis podendo, assim, guardar a bandeja desmontada.
49
Figura 28: Alternativa de bandeja Fonte: Acervo próprio
A Figura 29 mostra alternativas para a fruteira. Na primeira imagem, as ripas sobre o tecido são sustentadas por uma estrutura retangular e que serve também como base da fruteira. Na segunda imagem, a sustentação se dá por meio de duas chapas laterais, nas quais se encaixa a estrutura de ripas, formando uma concavidade. E, por fim, na terceira imagem, tem-se uma base com uma forma orgânica que conforma a estrutura maleável da malha. Dentre as geradas, a alternativa escolhida para a produção foi a terceira. Sua baixa complexidade na fabricação e sua forma emocional foram fatores decisivos de escolha.
50
Figura 29: Alternativas de fruteira Fonte: Acervo próprio
As alternativas geradas na Figura 30 são de jogo americano. Na imagem 1, tem-se uma forma simples, apenas com as ripas das extremidades deslocadas para cima. A segunda imagem mostra um jogo americano cuja forma leva em consideração somente o espaço para o prato na parte redonda e o espaço para os talheres e o copo na parte retangular. A imagem 3 é de uma estrutura móvel, que se desloca para os dois lados. A quarta imagem indica que há um desencaixe da parte central do jogo sendo que essa peça se transforma em um porta copos. A quinta é uma alternativa em que há ripas de tamanhos diferentes dispostas de forma intercalada. Nas extremidades as peças vão diminuindo gradualmente. Já a imagem 6 mostra um jogo que não está totalmente em contato com a mesa. Há “pés” nas laterais que evitam o contato direto. As alternativas 1,3 e 4 possuem formas muito simples e geométricas. A segunda imagem restringe o uso, podendo dificultar a utilização de outros tipos e tamanhos de louças. A sexta alternativa, embora não tenha as pegas laterais, é bastante similar a da bandeja. Sendo assim, a quinta imagem é a escolhida para ser
51
produzida, devido à baixa complexidade de sua fabricação e à maneira como foram organizadas as ripas, dispondo de um produto com forma mais expressiva.
Figura 30: Alternativas de jogo americano Fonte: Acervo próprio
E, para finalizar, a Figura 31 mostra alternativas de descanso de panela. As alternativas sugerem peças modulares. Estas se encaixam formando um grande descanso sobre a mesa, sendo que a quantidade a ser empregada vai depender do número ou do tamanho das panelas utilizadas. Dentre as três alternativas, a que está circulada é a que será produzida, devido ao encaixe diferenciado e à forma expressiva.
52
Figura 31: Alternativas de descanso de panela Fonte: Acervo próprio
5.1.1 Alternativas de Malhas
As alternativas geradas até o momento foram todas pensadas utilizando uma estrutura com ripas paralelas sobre um tecido, sem sair do padrão. Porém, durante o processo de geração de alternativas, surgiu a ideia de pensar em estruturas diferentes com as ripas, as quais foram denominadas malhas. A partir da estrutura diferenciada escolhida, as alternativas geradas até aqui serão repensadas, aplicando-se a nova malha e/ou a nova malha será utilizada para a construção de novas alternativas. Na Figura 32, têm-se algumas construções de malhas. A primeira imagem mostra uma estrutura feita com ripas cortadas em pequenos pedaços, formando uma malha quadriculada e bem maleável. Na imagem 2, também são utilizados pequenos pedaços de ripas, que formam uma malha triangular. Na terceira, são peças menores dispostas de forma a se intercalarem. Na quarta, a estrutura é formada por ripas maiores intercaladas por peças menores. E na última alternativa, a malha é formada por ripas maiores intercaladas por ripas menores, sendo que estas estão dispostas perpendicularmente àquelas.
53
Figura 32: Alternativas de malhas Fonte: Acervo próprio
O objetivo inicial é utilizar a mesma malha para os cinco produtos da família. Porém, a bandeja requer uma malha menos flexível, em virtude de sua função prática. Como não será possível aplicar as alternativas 1, 2 e 3 à bandeja, as únicas malhas que se encaixam para todos os objetos são a 4 e a 5. Como a malha 4 ainda ficou bastante semelhante à malha padrão utilizada anteriormente às alternativas geradas, a malha escolhida foi a 5.
5.1.1.1 Mock-up da malha
Com a alternativa da malha escolhida, foi-se até a maquetaria construir um mock-up com as ripas recolhidas de uma indústria moveleira da grande Florianópolis. Ao analisar a grande variedade e quantidade de ripas coletadas, notou-se que havia principalmente dois tipos: a de 6mm de espessura com larguras
54
diversas e a de 9mm de mesma largura. Por meio de pesquisa com marceneiros, concluiu-se que as ripas de 9mm de espessura de mesma largura são as sobras da máquina de perfilar chapas de MDF (Figura 33).
Figura 33: Ripas de 6mm à esquerda e de 9mm à direita Fonte: Acervo próprio
Com essa análise, um primeiro mock-up foi feito utilizando somente as ripas de 9mm de mesma largura. Conforme se pode observar na Figura 34, a malha se tornou pesada visualmente devido à quantidade de peças pequenas e juntas e essa conformação impossibilitou o uso das outras variações de ripas.
Figura 34: Mock-up da malha Fonte: Acervo próprio
Por isso, trabalhar-se-á também com as ripas de 6mm de espessura. As ripas compridas da malha serão todas feitas com as perfiladas de 9mm e as de 6mm
55
e 9mm de larguras variadas serão sempre as menores, que farão o entremeio das ripas longas. Para diminuir o peso visual que as ripas estão causando, haverá um espaçamento entre essas peças menores podendo, assim, evidenciar e trabalhar os fundos das malhas. A Figura 35 mostra um esboço de como as malhas serão feitas daqui em diante.
Figura 35: Esboço da nova malha Fonte: Acervo próprio
5.2 DEFINIÇÃO DAS CORES
As cores aplicadas nos produtos foram definidas de acordo com a cor dos tecidos utilizados como fundo dos objetos. No ato da compra, todas as estampas foram analisadas, ou seja, os tecidos não foram adquiridos de forma aleatória. Procurou-se por padronagens menores com o intuito de que elas fossem vistas através dos espaçamentos deixados entre as peças de entremeio das malhas. Na primeira imagem da Figura 36, tem-se um tecido 100% algodão, que será o fundo da bandeja para braço de sofá, com predomínio das cores verde e vermelho. Já a segunda e terceira imagens mostram tecidos PVC de cores neutras, que serão os fundos da bandeja, fruteira, jogo americano e do descanso de panela. Como a função prática desses produtos está relacionada à atividade de se alimentar, para esses fundos optou-se pelo uso de cores quentes tais como a vermelha, o laranja e o amarelo. Essas cores, principalmente a vermelha, são bastante utilizadas em gêneros alimentícios.
56
Figura 36: Padronagem dos tecidos Fonte: Acervo pr贸prio
57
6 VALORAÇÃO E PRECISÃO DE ALTERNATVAS
Com o processo de criação de uma nova malha concluído, as alternativas escolhidas geradas anteriormente para a bandeja para braço de sofá, bandeja, jogo americano e para o descanso de panela foram adaptadas, enquanto a alternativa escolhida para a fruteira teve que ser repensada. A Figura 37 mostra a bandeja em dois momentos – antes e depois da nova malha. Na imagem à esquerda, tem-se a peça com suas ripas paralelas dispostas de uma forma diferenciada em relação às existentes no mercado. Na imagem à direita, por sua vez, tem-se a bandeja para braço de sofá com a mesma forma da primeira, porém utilizando a nova malha.
Figura 37: Bandeja para braço de sofá – antes e depois Fonte: Acervo próprio
A alternativa anterior da bandeja, conforme se pode ver na Figura 38, era a malha padrão de ripas com duas pegas que se encaixavam lateralmente na
58
estrutura. Com a nova malha, manteve-se a ideia inicial, mudando somente o encaixe, que agora se dá na parte frontal da peça.
Figura 38: Bandeja – antes e depois Fonte: Acervo próprio
O jogo americano continua com a forma expressiva que tinha antes, porém agora se utiliza a nova malha, como mostra a Figura 39.
59
Figura 39: Jogo americano – antes e depois Fonte: Acervo próprio
A Figura 40 mostra o antes e o depois do descanso de panela. O conceito de quebra-cabeça não mudou, mas tão somente ocorreu a adaptação à nova malha.
Figura 40: Descanso de panela – antes e depois Fonte: Acervo próprio
60
A fruteira é um produto que precisa de uma profundidade e de uma estrutura firme. Por isso, a malha será utilizada com o lado para cima. Fazendo alguns testes com o mock-up para trabalhar a profundidade, percebeu-se que a curvatura da malha era ínfima devido às ripas estarem muito juntas (Figura 41).
Figura 41: Pequena curvatura da malha Fonte: Acervo próprio
Com o objetivo de se ter uma curvatura mais acentuada e formar a concavidade da fruteira, a nova malha sofreu algumas adaptações. Conforme se pode ver na Figura 42, para evitar que o produto tombe, a base foi aumentada com a utilização de ripas centrais maiores. Além disso, foram deixados pequenos espaços entre as peças perpendiculares para que, após a montagem da fruteira, forme-se a sua concavidade.
61
Figura 42: Fruteira planificada Fonte: Acervo próprio
Com os espaçamentos entre as peças, foi possível fazer a concavidade do objeto. Para mantê-la, duas partes foram encaixadas em duas ripas da malha, como pode ser visto na Figura 43.
62
Figura 43: Alternativa final da fruteira Fonte: Acervo próprio
Apesar dos ajustes, essa alternativa adaptada não fugiu do conceito e não perdeu sua identidade em relação à malha utilizada nos quatro outros produtos da família.
6.1 MODELO DIGITAL DAS ALTERNATIVAS FINAIS DOS OBJETOS
Os modelos digitais foram todos feitos a partir do programa SolidWorks. As Figuras 44, 45, 47, 48 e 49 expõem os modelos de forma aberta. A Figura 46, referente à bandeja, mostra como será o encaixe das pegas laterais. Já as imagens da Figura 50 referem-se aos objetos enrolados.
63
Figura 44: Modelo digital da bandeja para bra莽o de sof谩 Fonte: Acervo pr贸prio
Figura 45: Modelo digital da bandeja Fonte: Acervo pr贸prio
64
Figura 46: Encaixe das pegas laterais da bandeja Fonte: Acervo pr贸prio
Figura 47: Modelo digital do jogo americano Fonte: Acervo pr贸prio
65
Figura 48: Modelo digital do descanso de panela Fonte: Acervo pr贸prio
Figura 49: Modelo digital da fruteira Fonte: Acervo pr贸prio
66
Figura 50: Objetos enrolados Fonte: Acervo próprio
6.2 AMBIENTAÇÃO DOS OBJETOS
Para uma melhor compreensão dos objetos, foram feitas algumas imagens de cada produto em seu devido ambiente de utilização.
67
Figura 51: Ambientação da bandeja para braço de sofá Fonte: Acervo próprio
Figura 52: Ambientação da bandeja Fonte: Acervo próprio
68
Figura 53: Ambientação do jogo americano Fonte: Acervo próprio
Figura 54: Ambientação do descanso de panela Fonte: Acervo próprio
69
Figura 55: Ambienta莽茫o da fruteira Fonte: Acervo pr贸prio
Figura 56: Objetos enrolados Fonte: Acervo pr贸prio
70
6.3 DESENHO TÉCNICO
O desenho técnico tem por finalidade reproduzir graficamente no plano bidimensional, objetos tridimensionais. Ele deve transmitir com exatidão todas as características do objeto que representa. O desenho técnico encontra-se no apêndice, com pranchas detalhadas de todos os produtos da família.
71
7 MEMORIAL DESCRITIVO
7.1 FUNÇÃO ESTÉTICO-FORMAL
Essa função refere-se à aparência e à organização visual da forma. Sendo assim, há o predomínio de formas com linhas mistas por meio do equilíbrio entre linhas geométricas – mais retas – e linhas orgânicas, mais arredondadas. Devido ao fato de a produção não ser industrializada, focada somente no trabalho manual, o estilo tem como referência o período histórico arts and crafts, O Arts and Crafts Movement inglês englobava uma livre colaboração de arquitetos e designers progressistas cujo alvo era reformar o design e por fim a sociedade através do retorno à manufatura. Preocupados com as consequências ambientais e sociais da industrialização e com a profusão de produtos de fraca qualidade feitas à maquina e excessivamente decorados, os designers de meados do século XIX travaram uma batalha contra a era em que viviam e advogaram uma abordagem mais simples e ética ao design e à manufatura. (FIELL, 2006, p.28)
De acordo com as leis da Gestalt, os objetos são simétricos e possuem simetria em ambos os eixos, exceto o descanso de panela cuja assimetria acontece no eixo vertical. A família possui uma boa pregnância da forma, pois os objetos são de fácil compreensão visual. Utiliza-se o MDF, que é um material que permite um ótimo acabamento superficial, proporcionando uma alta qualidade estética.
7.2 FUNÇÃO SIMBÓLICA
A família de produtos se relaciona com o contexto sócio-ambiental. Ela está vinculada com a sustentabilidade por meio da reutilização dos resíduos sólidos (MDF) da indústria moveleira.
72
7.3 FUNÇÃO DE USO
A função principal da bandeja para braço de sofá é a decorativa, enquanto a secundária é servir como apoio para utensílios de mesa. A função decorativa da bandeja, ao contrário do objeto anterior, é secundária, pois possui como função principal o transporte de utensílios de mesa de um lugar para outro. Já a principal função da fruteira é servir como recipiente para frutas, embora também decore o ambiente. O jogo americano, por sua vez, é principalmente um objeto decorativo. Sua função secundária é evitar o contato direto de pratos, copos e talheres com a mesa. E, por fim, o descanso de panela tem como função de uso evitar que panelas ou recipientes quentes entrem em contato direto com a superfície da mesa. Como todos os outros produtos, também possui função decorativa.
7.4 FUNÇÃO ERGONÔMICA
Os cinco produtos da família, em relação à usabilidade, são de fácil utilização, manipulação e transporte. Eles foram projetados de modo a evitar acidentes, não causando, portanto, prejuízos aos usuários. Com relação aos movimentos das mãos, a família possui manejo fino, também chamado de manejo de precisão. Segundo IIDA (2005, p. 243), “Os movimentos são transmitidos principalmente pelos dedos, enquanto a palma da mão e o punho permanecem relativamente estáticos.” A bandeja, além de possuir manejo fino na sua utilização, possui também o manejo grosso. O encaixe das pegas laterais na malha exige um pouco mais de força e os movimentos são realizados pelo punho e braço. Os dedos têm somente a função de prender o objeto.
73
7.5 FUNÇÃO TÉCNICA
O sistema construtivo é simples. Cada objeto é composto pelo fundo, sobre o qual são fixadas as peças estruturais e os entremeios. Os materiais utilizados são os resíduos de MDF, tecidos de algodão e PVC e tintas Látex PVA. O projeto não se aplica somente ao MDF, podendo ser reaproveitados outros tipos de madeira. No processo de fabricação, utiliza-se a serra tico-tico de bancada para o corte das ripas; lixas e tintas para tratamentos superficiais e cola branca para a fixação das peças nos tecidos.
7.6 FUNÇÃO INFORMACIONAL
Todos os objetos podem ser guardados de forma enrolada. A bandeja e a fruteira requerem um pouco mais de atenção. Em relação à bandeja, é preciso desenrolar a malha e deixá-la esticada sobre a mesa. Depois, segura-se a pega lateral, encaixando-a devagar na malha, de cima para baixo (Figura 46). O procedimento deve ser repetido com a outra pega. A fruteira, por sua vez, possui duas peças soltas que servem para formar a concavidade do objeto. Cada uma delas deve ser encaixada nas duas ripas estruturais presentes na malha, que possuem o mesmo tipo de desenho de encaixe que as duas soltas (Figura 43).
7.7 FUNÇÃO DE MARKETING
Em um primeiro momento, o mercado a ser atingido será o regional, pois este projeto está vinculado às associações de bairros ou comunidades da grande
74
Florianópolis, que fabricarão a família de produtos. Desse modo, as vendas iniciais serão no próprio bairro, porta a porta ou em pequenas lojas da região. O sistema de propaganda e marketing inicialmente será por meio de panfletos distribuídos na região e arredores e cartazes de divulgação dos produtos.
7.8 FUNÇÃO ECOLÓGICA
A matéria-prima utilizada nesse projeto, que são os resíduos de MDF, é coletada nas indústrias moveleiras e passa pelos processos de lixamento, pintura, corte e colagem das peças nos tecidos, que podem ser comprados ou reaproveitados. O MDF é um material de grande resistência (desde que não entre em contato constante com água) e, assim, o ciclo de vida dos objetos será longo. No caso de descarte, as peças de madeira poderão ser reutilizadas para outros produtos e o tecido PVC poderá ser reciclado.
75
8 PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO E DE PRODUÇÃO
Durante a etapa de planejamento do desenvolvimento e de produção da família de objetos, será necessário um kit mínino de treze produtos (Figura 57), que conterá: uma serra tico-tico de bancada para o corte das ripas – por meio de pesquisas pela internet, foi possível encontrar essa serra com valores entre R$ 335,00 e R$ 1240,00 –; lixas de gramaturas diferentes para um bom acabamento do MDF; régua e esquadros para a correta marcação das medidas; lápis de grafite macio para marcações na madeira e nos tecidos; verniz fosco e tintas Látex PVA para a pintura das ripas; pincéis; tecidos de algodão e PVC de diversas padronagens e estampas para serem utilizadas como fundo; tesoura para o recorte dos tecidos; papelão para usar como molde dos fundos dos objetos; estilete para aparas e corte dos fundos; cola branca para a fixação das peças no fundo.
Figura 57: Kit mínimo para a fabricação dos produtos Fonte: Acervo próprio
Por serem mais baratos, foram testados outros objetos para o corte das ripas, como o serrote, o arco de serra e a serra tico-tico. No entanto, a atividade de cortar grandes quantidades de pequenas peças se tornou trabalhosa e apresentou certo grau de dificuldade. Por isso, preferiu-se inserir no kit uma serra tico-tico de
76
bancada, que, embora seja mais cara, torna o trabalho mais produtivo e menos cansativo. Esse kit básico ajudará associações, comunidades ou grupos de pessoas a darem início ao processo de produção da família de objetos projetada neste trabalho.
8.1 O PROCESSO DE FABRICAÇÃO
Com o kit mínimo definido, o segundo passo é, após a coleta dos resíduos nas indústrias moveleiras, fazer uma triagem das ripas, separando-as por espessuras e larguras. Como as larguras são variáveis, estabeleceu-se para o projeto a utilização de ripas que variem entre 15 e 25 mm para ambas as espessuras. Feita a triagem, todas as peças são lixadas nos dois lados, conforme mostra a Figura 58, utilizando inicialmente uma lixa de gramatura menor e finalizando com lixas mais finas.
Figura 58: Lixando a ripa Fonte: Acervo próprio
Com as peças lixadas, dá-se continuidade ao processo com a pintura (Figura 59). Cabe salientar que o uso das cores não é aleatório. Para cada largura de ripa será utilizada uma cor diferente. Esse processo facilitará na montagem das malhas de cada produto.
77
Figura 59: Pintando a ripa Fonte: Acervo próprio
Com todas as ripas pintadas e secas, segue-se para o corte, que se divide em duas etapas: o corte das peças estruturais, que são as ripais mais compridas da malha, e o dos entremeios, que são as peças menores. Todas as estruturais serão feitas com as ripas perfiladas de 9mm. Em relação aos entremeios, os de 6mm serão usados na fruteira e no descanso de panela, enquanto nos produtos restantes serão os de 9mm. Tal diferenciação ocorre devido à possibilidade do uso de copos e xícaras sobre as bandejas e o jogo americano, pois eventuais desníveis na malha dificultariam o uso dessas louças. Após o corte das ripas já pintadas, dever-se-á lixar e pintar novamente as laterais das peças para tornar seu acabamento igual ao feito anteriormente. Concluídas as etapas de lixamento, pintura e corte, o próximo passo é fazer o molde de todos os fundos dos produtos. A Figura 60 mostra as medidas do fundo – nesse caso, do descanso de panela –, sendo transferidas para o papelão e, ao lado, tem-se o molde já cortado.
Figura 60: Molde de papelão Fonte: Acervo próprio
78
O molde servirá para fazer o contorno nos tecidos utilizados como fundo, vide Figura 61. Isso facilitará a produção dos objetos.
Figura 61: Tecido cortado utilizando o molde Fonte: Acervo próprio
O processo é finalizado com a colagem das peças estruturais e dos entremeios, estes com espaçamento médio de 15mm. Procurou-se intercalar as cores das peças menores (Figura 62).
Figura 62: Montagem do objeto Fonte: Acervo próprio
79
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após quatro meses de trabalho, valendo-se de pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, o projeto realizado e exposto nos capítulos anteriores buscou mostrar novas e diferentes possibilidades de uso dos resíduos gerados pelas indústrias moveleiras da Grande Florianópolis, mais especificamente o MDF, utilizando do processo de design sustentável para diminuir os impactos ambientais que tais resíduos podem causar. Os objetivos citados no início do trabalho foram todos alcançados com êxito. Isso significa que o projeto é viável para ser desenvolvido com comunidades e associações interessadas em aplicá-lo. Entretanto, devido ao curto espaço de tempo, esse tipo de contato ainda não foi feito. Cabe salientar que há possibilidade de pesquisas futuras, pois para esse projeto foram utilizados somente ripas de 6 e 9mm. Porém, a quantidade de ripas de outras espessuras que são jogadas fora é muito grande, o que permite pensar em outras formas de reutilização e em novos projetos diferenciados.
80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÜRDEK, Bernhard E. Design: história, teoria e prática do design de produtos. São Paulo: Edgard Blücher, 2006. 496 p.
FIELL, Charlotte; FIELL, Peter. Design handbook: conceitos, materiais, estilos. Barcelona: Taschen, 2006. 189 p.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 175 p.
HILLIG, Éverton et al. Resíduos de madeira da indústria madeireira – caracterização e aproveitamento. ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 26, 2006, Fortaleza. Tópico temático...
HILLIG, Éverton; Vania SCHNEIDER, Elisabete; PAVONI, Eloide Teresa. Geração de resíduos de madeira e derivados da indústria moveleira em função das variáveis de produção. Scientific Electronic Library Online, São Paulo, vol.19, n 2, 2009. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010365132009000200006&script=sci_arttext>. Acesso: 19 mar. 2010.
IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: E. Blücher, 2005. 465 p
KOZAK, Pedro Altamir et al. Identificação, Quantificação e Classificação dos Resíduos Sólidos de uma Fábrica de Móveis. Revista Acadêmica: Ciências Agrárias e Ambientais. Curitiba, v. 6, n. 2, p. 203-212, abr./jun. 2008. Disponível em http://www2.pucpr.br/reol/index.php/ACADEMICA?dd1=2395&dd99=pdf. Acesso em: 19 mar. 2010.
LIMA, Marco Antonio Magalhães. Introdução aos materiais e processos para designers. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2006. 225p.
LINKE, José Carlos. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. A gestão do conhecimento como ferramenta de desenvolvimento das empresas da indústria moveleira da região de São Bento do Sul - SC. Florianópolis, 2001. 106 f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico. Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção
81
LINO, Sônia Regina Lamego; SILVEIRA, Amelia. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Centro Sócio-Econômico. Estrutura de informação sobre comércio exterior em Santa Catarina : a ótica do setor moveleiro catarinense. Florianópolis, 2001. 281 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Sócio-Econômico
LUZA, Rosilene Przydzimirski. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. A visão empresarial sobre o designer na indústria moveleira : um elemento agregador de valor. Florianópolis, 2003. 120 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção.
NAHUZ, Marcio. Resíduos da Indústria Moveleira. In: SEMINÁRIO DE PRODUTOS SÓLIDOS DE MADEIRA DE EUCALIPTO E TECNOLOGIAS EMERGENTES PARA A INDÚSTRIA MOVELEIRA, 3, 2005, Vitória. Tópico temático...
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Madeira e Móveis. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/setor/madeira-e-moveis/o-setor/dadossetoriais. Acesso em: 31 jan. 2010. VEZZOLI, Carlo; MANZINI, Ezio. Design per la sostenibilità ambientale. 1. ed. Zanichelli, 2007. 301 p.
82
APÊNDICE – Desenho Técnico