DANÇA Já reparou o que você faz quando ganha um presente que tanto queria, ou seu time faz um gol, ou recebe uma notícia que deixa você muito feliz? Pula de alegria, não é? Você faz isso porque está obedecendo a um ritmo interno, e seu corpo se movimenta para expressar esse sentimento. Assim surgiu a dança: pela necessidade de o homem pôr para fora suas emoções. Antes de procurar se comunicar com palavras, as pessoas já se expressavam com movimentos corporais. Por isso, a dança é considerada a mais antiga das artes, e talvez a mais completa também, pois quem dança ao mesmo tempo cria um movimento e o expressa através do próprio corpo. E não é só isso! A dança sempre teve grande presença e importância na vida do homem, pois o acompanha ao longo da sua história - desde os rituais dos povos primitivos, passando por acontecimentos sociais e religiosos, e influenciando até nas festas dos dias de hoje, como o carnaval, por exemplo. A dança é uma arte que revela todo tipo de emoção sem necessidade de uma única palavra. BAILE DE MÁSCARAS NAS CAVERNAS Os primeiros registros de movimentos corporais que podem ser chamados de dança são de aproximadamente 15 mil anos atrás, do período pré-histórico chamado Paleolítico - época em que o homem primitivo começou a fazer desenhos e pinturas rupestres nas paredes e tetos das cavernas. Essas figuras mostram nossos antepassados em caçadas, usando máscaras de animais e fazendo movimentos que representam danças mágicas para conseguir abater suas presas. Há estudos da evolução humana explicando que as danças dos homens primitivos serviam para aquecer os corpos antes da caça e do combate. Esse hábito devia ser comum naquele tempo, pois há várias pinturas rupestres representando essa cena. O desenho sempre termina com o animal atingido pela lança. "BAILA COMIGO, COMO SE BAILA NA TRIBO" Com a evolução de nossos ancestrais, talvez eles tenham achado que dança sem música não tinha muita graça. Assim, inventaram os instrumentos musicais. Isso aconteceu por volta de 6500 a.C. (no período Neolítico). Em algumas escavações arqueológicas, foram encontrados assobios feitos de osso, flautas e matracas (que são um tipo de instrumento de percussão bem simples). Ainda no período Neolítico, a dança começou a ter grande importância para os povos primitivos, pois passou a fazer parte dos rituais e a ser uma espécie de "reunião social". Nesses acontecimentos, todos se juntavam para dançar em adoração aos espíritos ou homenagear os mortos. Com o passar do tempo e a evolução dos homens, tudo virou motivo para entrar na dança: um culto religioso, as forças da natureza, o casamento, o nascimento de uma criança, a fertilidade, a época da colheita, uma nova estação. NO BRASIL, a dança está diretamente ligada à história, pois representa nossas raízes: a mistura do índio, do negro e do europeu. Desses três povos, herdamos os costumes, as tradições e a cultura. São riquezas transmitidas de geração a geração. Na formação das danças brasileiras, os negros trouxeram uma ginga que os portugueses não tinham, dançavam descalços, para eles, a dança tinha um significado religioso e mágico. Apesar das tentativas dos senhores de acabar com esse costume, eles o mantiveram, e assim conseguiram também espantar seus sofrimentos e humilhações como escravos. Aos poucos, a casa grande foi sendo contagiada pela tradição africana e surgiram as festas religiosas, que deram origem a várias danças. Muitos instrumentos indígenas eram usados como acompanhamento. Esse conjunto de costumes e tradições de um povo é chamado de folclore. E a dança folclórica é um dos mais ricos representantes da nossa cultura. Em cada estado do Brasil, ela recebeu influências das origens de pessoas que ali viveram e ensinaram um pouco da sua arte. Baião, balaio, bumba-meu-boi, capoeira, carnaval, cateretê, frevo, maracatu, quadrilha e samba são algumas das danças folclóricas mais populares do Brasil. O baião surgiu no Nordeste e tem um ritmo contagiante. Foi por causa de Luiz Gonzaga, chamado "o rei do baião", que música e dança percorreram o nosso país e até atravessaram fronteiras, chegando à Europa e aos EUA. Os passos da dança são feitos de cruzamento de pernas, giros, trejeitos e muito molejo ao som da sanfona, do pandeiro, da viola, entre outros. Bumba meu boi é uma das danças mais populares do Brasil, e pode ser vista no Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí. Em cada região, o tema pode variar, mas o enredo é: o negro escravo Pai Francisco mata o boi do patrão para satisfazer sua mulher grávida, Catirina, que está com desejo de comer língua de boi. Como o amo fica furioso, ele tenta ressuscitar o boi para escapar do castigo. O boi então volta à vida e todos comemoram gritando: bumba-meu-boi! Vários personagens atuam cantando e dançando ao som do violão, sanfona e rabeca. A capoeira é uma dança e ao mesmo tempo uma luta, é praticada em todo o país. Surgiu na Bahia, no período da escravidão. As condições em que viviam os negros eram desumanas e tentar manter suas tradições era a única coisa que lhes restava. Para enganar os senhores, os escravos continuavam praticando suas crenças disfarçadas de cantigas e danças, sempre acompanhadas de muita ginga, cantos, palmas e do som envolvente do berimbau. Dos gestos que faziam nesses rituais, surgiu a capoeira. Os movimentos da dança também eram usados pelos escravos como defesa, pois, como não tinham armas, utilizavam o próprio corpo contra os inimigos. O Carnaval começou no Brasil para substituir uma festa popular meio esquisita trazida pelos portugueses: o entrudo. Os foliões comemoravam jogando água, farinha e ovos uns nos outros. Essa festa foi proibida e então começaram as passeatas nas ruas, organizadas pelas pessoas ricas do RJ. Surgiram os bailes a fantasia, as ruas eram enfeitadas, pessoas mascaradas. Antes de surgirem as escolas de samba cariocas, os blocos saíam fantasiados pelas ruas, dançando e tocando. Hoje, existem escolas de samba no mundo inteiro O cateretê é uma dança rural muito antiga, conhecida em: MG, GO, MT, S, RJ, SE, entre outros. Recebe vários nomes: catira, xiba ou chiba, dependendo da região. É de origem indígena e de caráter religioso, e foi aproveitado pelo padre José de Anchieta na catequese dos índios. O padre, bem esperto, traduziu para o tupi alguns textos católicos para que os índios cantassem enquanto dançavam. O frevo nasceu em Pernambucano, os bailarinos, chamados de passistas, improvisam os passos em ritmo alucinante e levam nas mãos um pequeno guarda-chuva colorido, que acompanha o tom de suas roupas. O maracatu é uma dança com raízes religiosas e históricas de Pernambuco. Os personagens são nobres soberanos - como reis negros e brancos, rainhas e embaixadores - vestidos luxuosamente e acompanhados de toda a corte. Quadrilha é dança de caipira, mas surgiu na Inglaterra, e, quando foi levada a Paris, tornou-se a dança preferida pela sociedade da época, iniciando os bailes da corte de toda a Europa. Foi trazida ao Brasil pelos portugueses e era dançada nos salões da nobreza. Logo caiu nas graças do povo, que a adaptou e incluiu elementos de sua cultura. Com o tempo, passou a ser mais praticada pelas pessoas que viviam nos campos e era dançada em homenagem aos santos juninos: Santo Antônio, São João e São Pedro. Nessas ocasiões, o homem do campo agradecia a boa colheita aos santos. Os passos da quadrilha embalados pela sanfona, variam muito de região para região, assim como os nomes que ela recebe: quadrilha caipira, sarauê, baile sifilito, mana-chica ou mana-joana, dependendo do estado de onde vem. O samba pede passagem e toma conta de todo o Brasil. Afinal, "quem não gosta de samba, bom sujeito não é/ É ruim da cabeça ou doente do pé..." como já diz uma das músicas mais populares que tem o samba como tema. Há várias explicações para a formação desta dança que, como era de se imaginar, vem da África. Uma delas diz que sua origem está na palavra semba, que significa umbigada. E a dança era assim no início: um bailarino ficava no centro da roda dançando sozinho, então chamava outra pessoa para substituí-lo batendo nela com o umbigo. Com o tempo, o samba foi se modificando e sofrendo alterações, e em cada estado do Brasil tem uma cara diferente, mas está sempre acompanhado principalmente pelo violão, pandeiro e surdo, entre outros instrumentos. Quando o samba foi levado ao Rio de Janeiro pelos baianos, no início do século 20, encontrou um parceiro que foi feito sob medida para ele: o carnaval. Essa dupla incendeia as ruas e salões do Brasil inteiro e ficou conhecida pelos quatro cantos do mundo.