Mulheres Unidas da Ilha do Baixio: gênero e sustentabilidade na Amazônia

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Abril de 2012 Mulheres Unidas da Ilha do Baixio: gênero e sustentabilidade na Amazônia

Relatório Parcial 2012


PROJETO: Mulheres Unidas da Ilha do Baixio: gênero e sustentabilidade na Amazônia ORGANIZAÇÃO REQUERENTE: Associação de Desenvolvimento Comunitário Santa Luzia da Ilha do Baixio ORGANIZAÇÃO EXECUTORA: Grupo de Mulheres Unidas do Baixio COORDENAÇÃO: Valdiza dos Santos Silva Período de execução: agosto/2011 a julho de 2012 Período a que se refere o relatório parcial: agosto/2011 a maio/2012 PARCEIROS: Universidade Federal do Amazonas/ Departamento de Ciências Sociais Núcleo de Socioeconomia Comunidade de Santa Luzia do Baixio Associação de Desenvolvimento Comunitário de Santa Luzia da Ilha do Baixio FOTOGRAFIAS Grupo de Pesquisa Mulheres da Floresta


A COMUNIDADE DE SANTA LUZIA DA ILHA DO BAIXIO

A Ilha do Baixio está localizada na margem esquerda do rio Solimões a 12 km da sede do município Iranduba, município ao qual pertence oficialmente, no estado do Amazonas. Possui uma área de 8.690.000 m² e localiza-se entre as coordenadas geográficas 3◦17’43”S/60◦07’34”O e 3◦16’31”S/60◦02’25”O , conforme o mapa abaixo:

A comunidade se localiza em um ambiente de várzea, que possui um regime fluvial caracterizado pela cheia/enchente e vazante/seca do rio Solimões. Desta forma, as águas começam a subir em novembro, atingindo o clímax de maio a junho, diminuindo a partir de agosto e atingindo o nível mínimo em outubro. Nesse período ocorre a retração das águas nas partes mais baixas da várzea, que normalmente ficam longe dos rios, esta retração cria lagos interiores que retém

a fauna

aquática em lagos que viabilizam e intensificam as atividades de caça e a pesca, tornando a região de várzea bastante produtiva (PORRO, 1995). Nesse período ocorre uma significativa mudança na paisagem da ilha, conforme as imagens a seguir:


O adensamento demográfico na Ilha do Baixio iniciou-se em 1947 quando chegaram seus primeiros moradores, na época a principal atividade era a plantação de juta, mandioca, milho e feijão-de-praia, assim como a pesca e caça de jacaré para a comercialização do couro, que ajudava na renda das famílias.

Com o passar do tempo mais pessoas foram chegando e a ilha foi

adensando-se. Como eram devotos de Santa Luzia, em 1960 os comunitários passaram a organizar as novenas em honra a Santa e mais tarde construíram juntos com os comunitários a igreja de Santa Luzia, que hoje dá nome à comunidade formada na ilha. Na década de 1970 surge o Movimento de Educação de Base (MEB), o Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) e a ACAR–AM que colaboraram como a organização comunitária. Em 1980 são criados a Unidade Agrícola, o Clube Mães, o Clube de Jovens, nesse ano comunidade formada na Ilha do Baixio passou a se chamar “Comunidade de Santa Luzia do Baixio”. A partir de então a comunidade passa a melhorar suas estruturas, e a atividade de plantação de juta é substituída pela plantação de hortaliças como couve, repolho, alface, tomate, pimentão, pepino, feijão-de-corda, cebolinha, melancia, dentre outros, que ainda hoje representam a maior fonte de renda da população, merecendo inclusive a criação da Festa das Hortaliças, uma festa anual que já caminha para sua VI edição, e onde as hortaliças ganham lugar destaque e indicam sua importância para os moradores locais. Atualmente a população da Ilha está estimada em 450 pessoas distribuídas em 115 famílias. A festa religiosa mais tradicional da Ilha do Baixio é a festa da padroeira Santa Luzia realizada em Dezembro, esta atrai devotos e muitos turistas. A Festa das Hortaliças também se destaca, esta acontece nos meses de novembro.Em 2007, a localidade passou a integrar um Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE), criado a partir da Portaria 065 de 10 de dezembro de 2007 do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que trouxe cosigo diversos elementos para o processo de formação da identidade cultural da população local.


“Mulheres Unidas do Baixio”

O grupo Mulheres Unidas do Baixio, surgiu em 2005, formado por mulheres da comunidade de Santa Luzia da Ilha do Baixio. Como é uma comunidade de várzea, que fica alagada por metade do ano e seca a outra metade, toda a vida e a dinâmica das relações de produção e sociais são influenciadas pela sazonalidade das águas. O grupo nasceu para atender a uma necessidade das mulheres da Ilha de criarem um espaço próprio onde pudessem se reunir para discutir seus problemas peculiares em meio ao seu trabalho na roça, aos afazeres domésticos, além de produzir algo como artesanato ou comidas, para serem vendidas e poderem obter uma renda alternativa para ajudar no orçamento doméstico. Na Ilha do Baixio, assim como várias as demais Ilhas da várzea do Rio Solimões a principal atividade é o cultivo de hortaliças, culturas de ciclo curto, possíveis no período de baixa das águas. As mais antigas, dizem que as mulheres são as mais atuantes nas organizações locais, quer seja na Associação de Produtores, quer seja na comunidade, mas não ocupam posto de liderança e sua própria organização, incentivada por alguns políticos em épocas de campanha eleitoral, se ressente de períodos de desarticulação em função das múltiplas atribuições e da falta de assessoria no processo de fortalecimento da sua organização social.


PROJETO “Mulheres Unidas da Ilha do Baixio: gênero e sustentabilidade na Amazônia”

Justificativa

Embora, ativamente participantes das organizações sociais da Ilha do Baixio, quer seja nas reuniões da Associação, nas reuniões da Comunidade, na liderança dos grupo de jovens, na Escola da Comunidade, as mulheres da Ilha não aparecem nos relatos como ativas protagonistas do processo e se ressentem muito da recente desarticulação do grupo o que tem fragilizado sua participação no processo de implantação do assentamento agroextrativista. Parte dessa desarticulação deve-se ao fato de que elas se encontram muito envolvidas em suas atividades cotidianas e com a sobrevivência material de suas famílias o que as desmotivam para realizarem reuniões que demandaria diminuir o tempo envolvido na produção. Desse modo, o projeto de extensão “Mulheres Unidas da Ilha do Baixio: gênero e sustentabilidade na Amazônia” tem buscado atender esta demanda das mulheres da Ilha do Baixio fomentando o processo de organização social por meio de oficinas de conscientização e mobilização com a assessoria técnica pra definição de estratégias para construção de alternativas de geração de renda para as mulheres da Ilha, além de se oferecer cursos e treinamentos coletivos de confecção de produtos a partir das riquezas da floresta e do reaproveitamento de itens descartados indevidamente no ambiente para a obtenção de um incremento na renda familiar. Essas oficinas também tem possibilitado o encontro dessas mulheres entre si e com seus dilemas e experiências comuns de modo a fomentar sua organização social e sua inserção mais qualificada na realidade da Ilha a partir da criação do Projeto de Assentamento Agroextrativista. Por ser uma área de várzea, ecossistema rico, porém frágil do bioma amazônico, o projeto também tem buscado contribuir com o fortalecimento da consciência em torno da conservação ambiental e da construção de estratégias participativas de desenvolvimento sustentável onde as mulheres possam atuar e ser reconhecidas como protagonistas.


Da elaboração da proposta

A proposta de apresentar um projeto à FLD surgiu numa reunião com uma professora da Universidade Federal do Amazonas que desenvolve na comunidade uma pesquisa intitulada Mulheres da floresta: memória, território e políticas públicas nas várzeas do Amazonas, e que além da pesquisa está empenhada em apoiar o Grupo de mulheres no seu processo de reorganização. Desse modo, a professora nos apresentou os editais e nos estimulou a desenvolvermos um projeto visando fomentar a participação das mulheres a partir da possibilidade de produzirem coletivamente alguns produtos que possam gerar um incremento à renda familiar, realizar atividades que apoiem o seu processo produtivo e fomentar a partir do protagonismo das mulheres o incremento à discussão das questões ambientais. Assim, algumas lideranças das mulheres, juntamente com a liderança da comunidade e com o apoio da professora da UFAM e da Associação Comunitária, reuniu-se para elaborar o projeto “Mulheres Unidas da Ilha do Baixio: gênero e sustentabilidade na Amazônia” que foi submetido e aprovado pela FLD.


Objetivos propostos no projeto

Geral

Possibilitar às mulheres do Projeto de Assentamento Agroextrativista da Ilha do Baixio, seus familiares e vizinhos o fortalecimento de suas organizações sociais, por meio da reflexão em torno das questões de gênero, saúde e produção agroextrativista, além de proporcionar assessoria técnica que promova uma maior consciência ambiental e para construção de alternativas de geração de renda, principalmente para as mulheres, a partir do beneficiamento de produtos da floresta.

Específicos 

Realizar oficinas educativas de beneficiamento de produtos da floresta e trabalhos educativos que sirvam não somente para gerar renda alternativa mas atraiam mais mulheres para o processo de organização comunitária tornando-as agentes importantes de conscientização ambiental;

Realizar palestras para as mulheres da Ilha do Baixio acerca das questões de gênero; saúde da mulher; organização social; questões agrárias; sustentabilidade ambiental;

Apoio à organização da Festa das Hortaliças do Baixio.


ATIVIDADES JÁ DESENVOLVIDAS

1. Oficina de produção de sabão ecológico

Esta oficina teve como objetivo capacitar as mulheres para a fabricação do sabão despertando sua consciência ambiental, de forma que estas pudessem pensar no sabão artesanal como um alternativa econômica, já que os sabões foram feitos a partir de óleo de cozinha utilizado.


2. Oficina de Pintura em panos de prato

O principal objetivo desta oficina foi fazer com que as mulheres pudessem criar peças para serem comercializadas nas festas e feiras que organizam ou que participam, especialmente a festa das hortaliças. Participaram desta oficina cerca de 25 mulheres, que desenvolveram as atividades com bastante expectativa quanto ao produto a ser obtido. Esta oficina foi dividida em 2 etapas, a primeira contou com noções de desenho, cores e formas. Na segunda etapa foi colocada em prática a pintura em tecidos.



3. Oficina de produção de pão caseiro

Essa oficina teve como principal objetivo capacitar mulheres na fabricação de pão caseiro e a geração de renda alternativa com a venda dos pães.


4. Oficina de produção de doces e compotas

Essa atividade buscou capacitar as mulheres do grupo a produzirem doces e compotas com frutas encontradas na localidade, dessa forma foram trabalhados a produção de geleia de abóbora, melancia e outras frutas. A atividade também visa o incremento da renda a integração do grupo de mulheres.


5. Oficina de higiene e manipulação de alimentos

O principal objetivo desta oficina foi capacitar as mulheres para produção e conservação de alimentos de forma saudável.


6. Oficina de pintura em juta

Como o objetivo de intensificar a produção de bolsas e tapetes de juta, para posterior comercialização, fez-se uma oficina de pintura em juta em malva, onde foram trabalhados elementos técnicos da pintura em juta. Observa-se que posteriormente serão feitas oficinas de costura e confecção de bolsas e tapetes em Juta.


7. Dinâmicas e atividades de integração

Em todos os encontros trabalhamos técnicas de integração em grupo e dinâmicas que pudessem promover uma melhor interação do grupo de mulheres.


8. Apoio à organização da V Festa das hortaliças Durante os efeitos o grupo de mulheres assim como a equipe do projeto “Mulheres Unidas da Ilha do Baixio: gênero e sustentabilidade na Amazônia” participou ativamente dos preparativos para a V Festa das hortaliças e da festa, observando-se bastante integração do grupo de mulheres e dos demais participantes.


9. Exposição de produtos na V Festa das hortaliças

Durante a V Festa das hortaliças realizada na comunidade de Santa Luzia da Ilha do Baixio entre os dias 4 e 6 de novembro, o grupo de mulheres manteve uma tenda de exposições na festa, divulgando os trabalhos do grupo e comercializando produtos feitos pelo grupo.


CONSIDERAÇÕES

As atividades tem sido executadas de forma bastante positiva, as mulheres da comunidade tem se integrado ao grupo “Mulheres Unidas do Baixio” e novas possibilidades tem surgido, de fato, o projeto “Mulheres Unidas da Ilha do Baixio: gênero e sustentabilidade na Amazônia” tem impulsionado a perspectiva e a ação prática em busca de novos elementos de desenvolvimento local. As atividades até aqui desenvolvidas tem indicado novos horizontes, a exemplo da oficina de pintura em juta e a que está por vir sobre corte e costura, para produção de bolsas e tapetes em juta, que representam uma nova etapa que se configura em conquistas fortalecidas pelo projeto “Mulheres Unidas da Ilha do Baixio: gênero e sustentabilidade na Amazônia”. Dessa forma, as mulheres têm intensificado suas reuniões, tem discutido novas possibilidades e planejam implementar novas ações.



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