Extremezine Extra #01

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BATMAN & ROBIN HOOD POR CLESON HAZIEL

Não, o título não está escrito errado, não é do menino-prodígio que iremos falar, falaremos do famoso arqueiro ladrão e também do famoso morcego justiceiro. O que estes dois ícones da cultura pop têm em comum? Veremos a seguir. Começaremos contando uma curiosa história… Há cerca de 800 anos, um Rei conhecido por rei João SemTerra, ou príncipe John (lembram dele?), arrochava seus súditos com impostos pesados. Uma das lendas mais famosas do local conta que, fartos de deixar seus ganhos com o soberano, os habitantes de um certo vilarejo pararam de pagar que levou sua majestade a marchar com seu exército em direção à cidade. Apavorados com a possível retaliação, os moradores chegaram a um acordo para evitar o pior: se fingiriam de loucos. Quando o rei chegou ao vilarejo, teria se deparado com cenas das mais esquisitas. Vacas foram colocadas no telhado das casas para pastar. Homens construíram uma cerca ao redor de uma árvore para

aprisionar um relógio cuco, pois queriam ouvir seu canto para sempre. Pescadores se esforçavam para afogar uma enguia. O rei entendeu muito pouco de tudo aquilo e decidiu buscar uma explicação. Um de seus súditos abordou, então, um camponês, montado sobre seu cavalo, que carregava ele mesmo duas sacas de trigo nas costas. Indagado, respondeu que era para não cansar seu animal com o excesso de peso. Nada fazia sentido. Naquela época, acreditavase que a loucura fosse contagiosa. Com medo de ficar pirado também, o rei abandonou o local e desistiu das taxas. A partir daí, a cidade ficaria conhecida nas imediações como a “vila dos loucos”. Tempos depois, os menestreis de antanho cantariam em versos aquela história de heroísmo, quando simples camponeses passaram a perna no rei. Tudo bem, mas o que o morcegão e o flechoso têm a ver com tudo isso? Bem, esse vilarejo se chama Gotham, isso mesmo, é a Gotham real e pertencente ao condado inglês de Nottingham, onde está a

Floresta de Sherwood, local onde o lendário herói se escondia do Xerife de Nottingham e do Príncipe John. Mas espera aí um pouquinho, e o que a Gotham dos quadrinhos têm a ver com essa? Bom, é aí é que começamos a juntar as peças do quebra-cabeça. O escritor Washington Irving, após passar umas seis semanas hospedadas perto da cidade, deu o estranho apelido, sabe-se lá por que, de Gotham à sua cidade natal, Nova York, na revista literária Salmagundi, em 1807. O apelido pegou, e por todo lugar se via nomes de estabelecimentos com esta alcunha, tal qual naqueles interiores por onde a gente passa hoje em dia. Foi quando um dos criadores de Batman, o americano Bill Finger (aquele passado para trás pelo Bob Kane), usou-o para ambientar suas histórias. A cidade do homem-morcego sempre tinha sido Nova York, mas Finger queria uma nova metrópole com a qual mais leitores pudessem se identificar. Para isso, cogitou nomes como Coast City (pa-

Curiosidades: • A existência de tolos é comum à maioria dos países, e há muitos outros conhecidos centros imbecis na Inglaterra além de Gotham. Na Alemanha, existem os “Schildburger”, da cidade de “Schilda”, na Holanda, o povo de Kampen, na Boêmia, as pessoas de Kocourkov, na Moravia, as pessoas de Simperk. Entre os antigos gregos, Boeotia era a morada dos tolos, entre os Trácios, Abdera, entre os antigos Judeus, Nazaré, entre os antigos asiáticos, Phrygia. Então, “bobo” tem em todo

lugar. •As peripécias dos habitantes de Gotham foram narradas inúmeras vezes na tradição oral e em músicas folclóricas. Mais tarde, seriam organizadas em coletâneas escritas. Dois dos livros mais famosos sobre os episódios foram Towneley Mysteries (Mistérios de Towneley), publicado no século 15, e Merrie Tales of the Mad Men of Gotham (Contos dos Loucos de Gotham), do século 16, ambos de autores desconhecidos


rece familiar?), Capital City e Civic City. Folheando uma lista telefônica, encontrou sua inspiração: uma joalheria chamada Gotham. E começou o mito da cidade mais violenta do mundo. Por causa de um sujeito chamado Tim Burton, gerou-se o erro de que Gotham viria de “gótico”, devido a atmosfera criada para o fatídico filme dirigido por ele. Na verdade, Gotham significa “casa de bodes”, Got vem de goat (bode, em inglês). Tudo a ver, portanto, com uma vila camponesa. A Gotham fictícia, criada para ser o lar de Batman, também teve, sem querer, um toque medieval. O maior inimigo do herói, o personagem Coringa, chama-se originalmente Joker, que em inglês designa o bobo da corte. Esse tipo de profissional, durante a Idade Média, era a única pessoa que podia zombar do rei sem ter sua cabeça cortada — do mesmo jeito que fizeram os antigos habitantes da Gotham real. Portanto Batman e Robin Hood, tem origem similar, são filhos da mesma cidade: Gotham City.

Curiosidades: e sem tradução em português. Com a propagação da história, os moradores ficaram conhecidos como “os sábios de Gotham” ou “os loucos de Gotham”. • “Os Sábios de Gotham” se reconhecem em uma antiga “cantiga de roda”: Três sábios de Gotham Foram numa vasilha ao mar Se a vasilha fosse mais forte Esta história iria continuar. • Alguns dizem que é provável que o uniforme do Robin, parceiro do Batman, talvez tenha sido influenciado pelo Robin Hood (Errol Flynn) do cinema.

Divã do Jung: Bruce Wayne

Por Rafael Camargo

Quem não o conhece com certeza já deve pelo menos ter visto em algum lugar conceitos de sua autoria, tais como inconsciente coletivo, arquétipos e individuação. O que poucos sabem é que Jung desenvolveu um trabalho tentando desvendar a mente dos heróis, sim! Exatamente isso que você acabou de ler. E o Extremezine teve acesso exclusivo a esses documentos perdidos deste notável psiquiatra e que resolvemos expor antes que o WikiLeaks o fizesse e levassem todo o crédito… Arquivo I – Paciente: Bruce Wayne Todos sabem aquele lenga-lenga da DC Comics sobre a origem do Batman, certo? Recontada inclusive pelo grande diretor de cinema Frank Miller em Batman Ano Um. Pois bem, sinto muito lhes dizer, mas aquilo tudo se resume em marketing! A verdadeira história de como Bruce Wayne se tornou o batman devemos ao nosso grandioso Jung. Acompanhe! (Em cena Jung sentando na sua cadeira almofadada e ao lado dele Bruce está deitado no famoso divã, idealizado por Freud) Jung: Então você anda tendo sonhos estranhos, certo? Bruce: Sim senhor! Jung: Certo, mas me explique melhor como são esses sonhos… Bruce: Então, eu sonho todos os dias com um morcego e eu tenho fobia a esses ratos com asas! Jung: Trauma de infância, certo? Bruce: Exato! Eu cai num poço cheio de morcegos, meu pai me salvou. A partir daí essas criaturas começaram a me causar pavor. Jung: Humm (anotando no seu pequeno bloco de notas) Bruce: É isso doutor, quero saber o que está acontecendo. Estou muito assustado com essa situação. (Jung pega algumas plaquinhas com o “teste do borrão”, de Hermann Rorschach e mostra a Bruce) Jung: Caro Bruce… Vamos fazer um pequeno teste. Está vendo essas placas? Quero que me diga o que está vendo em cada uma delas. Isso vai me ajudar a desvendar o mistério do seu subconsciente. Então seja sincero no que vê… Bruce: Certo! Posso começar!? Jung: Claro, o que está vendo nesta? Bruce: Hum… Um morcego!

Jung: E nesta! Bruce: é… Morcego! Jung: Humm. Tudo bem. E agora? Bruce: Morcego. Jung: E agora? Bruce: Morcego. Jung: Meu deus… Isso vai ser difícil! Bruce: O senhor disse algo? Jung: Não. Continue… Bruce: Nossa! Jung: O quê? Tá vendo alguma coisa diferente? Bruce: Sim! Tá de cabeça pra baixo! Jung: O quê? Bruce: O morcego! Jung: Aff! Incrível. (Jung guarda as placas) Bruce: Eu tenho algum problema grave? Jung: Eu odeio dizer isso, mas tenho que concordar com Freud! Bruce: Nossa! Falando nele… você por um acaso faz parte da comunidade dele, num é? Jung: Eu faço parte da comunidade “Freud pervertido sexual!” Bruce: Essa mesma. Legal! Jung: Você tá saindo do nosso foco… Bruce: Desculpe… Prossiga. Jung: De duas uma… Bruce: hã… Jung: Ou você é tarado por morcegos, ou você quer se tornar um homem-morcego! Bruce: Pô Jung, acho que já sei o que devo fazer, brigadão! Vou deixar a grana da consulta com sua secretária! (Bruce se retira) Jung (anotando no seu bloquinho de notas): Só espero que ele não vá se engraçar com algum morcego… E foi assim que Jung ajudou Bruce Wayne a se tornar o HomemMorcego!


Mulher-Maravilha e Batwoman Por Rafael Camargo

Quem disse que a bebida causa discórdia? Quem alguma vez ousou dizer uma asneira dessas!? Com certeza foi algum eupátrida erudito que vive trancafiado em suas ressacadas literárias, preso a um universo cheio de livros e de tédio. Mal sabe ele que o que une as diferenças é a bebida. Ora, pensem comigo: chapado você perde o sentido do que é bom, ruim, mais ou menos… Aonde tem três você enxerga cinco, e aonde tem cinco você enxerga dez. Mas vamos direto ao ponto! É com essa premissa que unimos heróis e vilões porque nada como um pouco de álcool para fazer alguém namorar com o monstro do pântano (sim, ele tinha uma namorada!). E também aqueles que confundem a She-Hulk com um sinalizador de trânsito e arrebenta o carro em cima dela… Só que isso não vem ao caso porque tira toda a nossa apologia etílica! Depois desta pequena introdução, voltemos ao cotidiano do Bar e nada como o período noturno onde os que não estão “trabalhando” decidem afogar as mágoas no bar. (Recepção do bar. Em cena Lex e o Hulk-Vermelho) Lex: Fala Hulkão! Hulk: … Lex: Nossa, tu pegou um sol e tanto hein? Tá parecendo um pimentão! Hulk: GrRrRrRrRr… Lex (à parte): Eu hein, que cara mais sem senso de humor! (Interior do bar. Em uma das mesas jogando truco está Xavier em parceira com o MorcegoHomem e ScarFace juntamente com o Bizarro) Bizarro: Não vou trucar! Xavier: Seis! (Os jogadores mostram seus jogos) Scarface: Tu sabia né careca? Xavier: Pegunte pro bizarro Bizarro (furioso!): Ele não sabia! (Lex chega ao balcão onde está Stark organizando as bebidas) Lex: Fala metaleiro! Stark: e aí calvo! Lex: hahahaha… Putz, que gritaria é essa. E tá chaqualhando tudo… Stark: liga não, é o Raio Negro no Karaokê. Lex: Quem!? Stark: Um personagem de segundo escalão da Marvel Lex: ah sim… E qual é a boa!?

Stark: Vem umas gatinhas aí cara! Lex: Uia, quem? Stark: Ué. A mulher-maravilha me ligou e talvez venha a Kathy Kane*. (*Batwoman) Lex: Pô sardinha! Nossa ideia era trazer mais garotas pra esse bar, só vem cueca aqui! Stark: Sim, por isso convidei elas quando me ligaram. Lex: Mas são dois machos aquilo! Mais macho que o Hulk… Falar nisso, ele tá todo griladinho, só porque ele tava parecendo um pimentão e eu comentei. Stark: Burro! Aquele não é o hulk. Na verdade ele odeia o Hulk… Lex: eita, depois me conta esse babado com mais detalhes, as duas testosteronas vem ai. E a Diana tá doida pra me dar um coro… Stark: relaxa, aqui é a linha branca. Sem violência. Sem caçar uns aos outros! Lex: Lá vem elas… (entra em cena Kate e Diana) Diana: Olá rapazes! Lex: Oi princesa. Oi morceguinha! Kathy: Oi. Stark: Sejam bem vindas… Lex: é e sem me bater Diana. Diana: Pode deixer, hoje vim na paz. Até porque já bati em muito homem essa semana Lex: ih…


Stark: uai, como assim? Diana: É nosso novo movimento. Alguns rapazes se revoltaram. Kathy: Sim. Homens idiotas! Lex: Peralá! Expliquem isso direito! Diana: Claro. Eu e a Kathy fundamos o movimentos feminista das super-heroínas… Lex: que perigo… Kathy: Então estamos divulgando a todos, inclusive expandimos o movimento e nos unimos a população como um todo. Nossa primeira medida seria reivindicar o fim de algumas atitudes machistas… Stark: Quais!? Diana: No geral, todas as mulheres serem usadas como símbolos sexuais. Tendo que pousar de biquinis e coisas do tipo. Enquanto os homens aparecem de terno e gravata e são exaltados intelectualmente. Kathy: exatamente. Inclusive nós superheroínas que devemos usar roupas que apertam nossa flor de liz e as nádegas… Lex: Acho isso super sexy. Diana: Mas não queremos ser unicamente sexy. Queremos ser valorizadas intelectualmente. Muitas de nós são mulheres de família e devem se submeter a isso. Vejam a nossa querida Canário! Lex: Vocês não estão sendo muito radicais. Stark: Concordo com o Lex. Kathy: Estamos só começando. Diana: exato. Nossa radicalidade ultrapassará alguns extremos, pois só assim para sermos respeitadas. Lex e Stark: Uau! Lex: e qual é a ideia radical de vocês? Diana: Isso a Kate explica melhor. Kathy: Claro dianinha! A nossa ideia primeiramente é dar o fim naquele pensamento absurdo dos homens nos tratarem como equinas. Stark: Meu Deus! Lex: Não! Diana: é, todo homem fica assim quando dizemos isso. Lex: ESSA É A MELHOR POSIÇÃO. NÃO PODEM FAZER ISSO! Stark: Sim, o Lex tem razão moças. Isso é o cúmulo. Kathye: Estamos pensando também numa greve do sexo! Stark: O quê!? E deixar de ser o garanhão da marvel!? Jamais! Lex: hahaha. O enlatado vai ter que tentar conquistar o colossus agora, hihihihi. Stark: E você vai formar o triângulo amoroso Apolo-Lex-Midnighter. Diana: Vamos parar rapazes! Isso já está

soando um tanto quanto preconceituso. Kate: É verdade. E não se esqueçam de minha opção. Lex (à parte para Stark): Tive uma ideia, pega aquelas bebidas prata da casa. Stark (à parte para Lex): Tu tá maluco. Isso vai pirar as duas! Lex (à parte para Stark): É essa a intenção (dá uma piscadinha pra Stark) (Stark vai pegar as bebidas) Lex: Queridas proponho um brinde! Ao movimento feminista! O meu sócio foi buscar a nossa bebida especial para ocasiões especiais! Diana: Ótimo! Kathy: Boa! (Horas e horas depois!) Diana: deeeeeeeeeeeeeeeeesceeeeeeeee mais uma! (Kathy em cima da mesa alisando a careca do Lex) Kathy: Nooooooooooooossaaaaaaaaaaaaaaaaaa, tua careca tá brilhando. Que Sexy. Juro que se tu me der uma chance hoje acho que nunca mais me enrosco com mulher nenhuma! Diana: Tô malz. Stark: Vem, vamos pros fundos, tem uma cama lá e você descansa. Diana: Tá querendo me pegar! Stark: Imagina. Diana: Vem, quero que me pegue, mas lembre-se… Stark: Do quê? Diana: VIVA O MOVIMENTO FEMINISTA! Kathy: Viva! Lex (piscando pra Stark): Viva! Stark (retribuindo): Viva!

FIM!?


A Corrente – Parte 01 Por Baltazar

Três passos apenas, espera, mais três passos. Agora respira fundo, não devia ter me alistado, pensa consigo. Farrel Blage, mapeador de campo minado, curta carreira para alguns, mas com ele era diferente. Era como se já soube-se onde os explosivos estavam, um sexto sentido macabro, mas que o mantinha vivo. Mais três passos, espera, mais três passos. “Como está indo, Blage?” “Bem, se você não ficar me desconcentrando.” Ele responde, andando mais três passos. Seu assistente, Willian, pareceu não entender o aviso. “Como você consegue, sabe, não morrer?” “Simples, não consigo, pra que acha que preciso de um assistente? Se eu morrer, você assume o meu lugar, simples.” A resposta teve o efeito desejado, Willian se calou imediatamente. Péssimo lugar pra uma batalha, uma floresta em um país inimigo, o terreno desconhecido trabalhava contra eles. Montes íngremes em ambos os lados, um caminho estreito, cortado por um campo minado, bela paisagem. Doze passos a frente, ele sente algo. “Willian, me passe uma pedra.” Diz em tom casual. “Pra quê?” “Não questione, apenas obedeça.” O assistente lhe alcança um pedaço de granito, muito fartos por aquela região. “Agora nós vamos retroceder seis passos pelo caminho, devagar.” “Você é louco, Blage, louco mesmo.” O ponto seguro finalmente alcançado, ele mira, respirando tranquilamente, não é hora pra preocupações. Movimenta o braço direito decididamente, com firmeza, então solta a pedra. Dezoito passos à frente, ela atinge o alvo, uma mina terrestre, que ocasiona uma sucessão de explosões, que rodearam o ponto onde eles estavam sem, ao menos, um fragmento os atingir. “Isso que eu chamo de corpo fechado, você é o cara mais sortudo que eu já conheci Blage.” Balbuciou Willian, ainda de joelhos, com as mãos num gesto de oração. “Chega de papo” ele responde batendo a poeira das roupas.

FUGINDO NUMA TELA DE VAN GOGH Por André L. Soares

Cansado das vãs teorias, busco a letargia dos alienados felizes. Não quero saber da política, viro as costas ao feio e à hipocrisia. Entrego-me à incoerência;… só vou ouvir os pássaros e apreciar as orquídeas! Chega de tantas mentiras, da esperança perdida da pesada leitura. Fico à margem dos dias, da falsa engrenagem das tristes notícias. Cedo-me à ignorância;… só vou ouvir os pássaros e apreciar as orquídeas! Farto das ideologias, dos beijos de Judas, das falas prolixas; renego as tramas noturnas, as turvas matizes e as falácias da vida. Rendo-me à intolerância;… só vou ouvir os pássaros e apreciar as orquídeas!



ENTREVISTA

ADRIANA MELO

Estamos aqui para mais uma entrevista! Desta vez, decidimos convidar Adriana Melo, uma quadrinhista incrível que já passou pela DC, Top Cow e Marvel. Vemos seus belíssimos traços em personagens como Homem de Ferro, Quarteto Fantástico, Surfista Prateado, Emma Frost, Witchblade (Danielle Baptiste), e mais recentemente a Miss Marvel, entre vários outros. Na entrevista percebemos, além de uma excelente profissional, um ser humano fantástico. A Adriana fala um pouco de suas preferências pessoais e profissionais, sempre com um singular bom humor. Adriana Melo é paulista, nasceu em 19 de junho de 1976 e quando pequena era mais fácil a encontrar perdida numa montanha de papéis e lápis do que brincando de casinha e bonecas. Quando perguntada sobre o que faria quando crescesse, a resposta estava na ponta da língua: “desenhista de Historia em Quadrinhos”. Foi aos 16 anos, enquanto cursava o Ensino Médio (com técnico em desenho) que Adriana teve seu primeiro contato com Comics, onde graças a um trabalho que tinha como proposta a reprodução de traço e cor de uma página (no caso, “A Morte do Superman”). À mesma época, saiu uma matéria no Jornal da Tarde falando dos brasileiros trabalhavam para editoras americanas e na entrevista com o desenhista Roger Cruz, à partir daí, graças a aulas semanais de Figura Humana, e a esse trabalho, ela percebeu como ela se divertia umana e arte em geral; lá ela teve contato pela primeira vez com quadrinhos de super-heróis. Pensando em unir as duas coisas de que gostava (o estudo da figura humana e quadrinhos)passou a treinar sozinha em casa. Aos 18 anos visitou seu primeiro evento de quadrinhos em São Paulo, onde 2 profissionais da área fariam uma palestra e avaliariam portfolios. Levando o material fruto dos meses de treinamento, alem de alguns especialmente preparado para a convenção. Após a avaliação, Roger Cruz e Marc Campos gostaram do material e a indicaram para a agencia que os agenciava a Art & Comics. Foi dessa forma que após 6 meses de treinamento e estudo diário, surgiu a primeira oportunidade: Homem de Ferro. Logo em seguida, Adriana trabalhou também em títulos como Quarteto Fantástico,Surfista Prateado entre outros. Alguns anos depois, quando sua primeira filha nasceu, Adriana teve que pausar a carreira, enquanto dava atenção a pequena. Voltando à ativa após 5 anos, seu primeiro trabalho foi uma edição especial para a LucasArts (a revista vinha junto ao um jogo chamado RTX- RED ROCK) esse trabalho a levou a revista Star Wars Empire onde trabalhou por um ano como desenhista foi então a primeira vez que trabalhou o roteirista Ron Marz. No mesmo período trabalhou pra DC Comics, numa minisérie chamada Rose & Thorn, no


título Birds of Prey (onde cuidava das capas), Emma Frost, pinups para o personagem Samurai:Heaven & Earth entre outros. Mais recentemente, indicada pelo amigo Ron Marz, assumiu o lápis da revista Witchblade por um ano,onde junto a Ron, desenvolveu a nova portadora da luva: Danielle Baptiste. Foi a primeira mulher a desenhar o personagem Justiceiro no crossover Witchblade X Justiceiro. Seu mais recente trabalho, foi uma edição especial de Sinestro Corps Special: Parallax, uma revista centrada entre Parallax e o ex-LANTERNA VERDE, Kyle Rayner. Em seguida vieram Miss Marvel Jackpot, e novamente na DC, colaboração no volume 2 de Birds of Prey. Retirado de seu site pessoal : http://www.adrianamelo.com/

Capa de Birds of Prey - Bom, a gente podia começar com a pergunta clássica “Como surgiu seu interesse por HQ”, mas já li em algum lugar que os quadrinhos sempre estiveram presentes em sua vida desde muito pequena, então fiquei curioso em saber qual a primeira revista em quadrinhos que você folheou? Hmmm… vejamos… deve ter sido algo da Turma da Mônica ou uma revista do Mickey. Ambos estavam sempre em casa em uma quantidade misteriosamente igual. - Quando começou a trabalhar com quadrinhos de super-heróis, o que você acha que havia no teu portfolio que chamou a atenção a ponto de ganhar uma chance de ser contratada? Meu primeiro trampo foi numa revista do Homem de Ferro e se tem algo que eu sempre me diverti fazendo é o desenho de metal, reflexos etc. e sei que isso chamou a atenção quando comecei. Lembro que comentavam também sobre a força do desenho, o uso das sombras e layouts. À época meu desenho da anatomia era beeeem fraquinha e esse material eu prefiro esconder, bate vergonha hoje me dia. - Existe algum personagem você não tenha gostado de desenhar, ou sempre há um carinho especial por todos? E há algum que você pessoalmente não gostava e mudou de ideia quando desenhou? Geralmente quando começo um título me empolgo e fico morrendo de amores por ele, independentemente de quem seja. No entanto acho que Miss Marvel é uma personagem que eu não ligava muito quando comecei a desenhar e depois acabei me divertindo desenhando pancadaria, vôos, o próprio uniforme era divertido de ser desenhado. - Talvez você não queira falar, mas… Qual a melhor e pior editora para se trabalhar, e por quê? Eu diria que cada editora tem sua forma de trabalhar, tem um clima só dela e editores que trabalham

e se comunicam de forma diferente com a equipe. Eu prefiro as comunicativas, com clima informal e a figura do editor sempre presente. Minha editora favorita? Sempre aquela em que estiver trabalhando no momento, oras. Mwahahaha - Segundo li em outra entrevista, você não gosta de crossover porque é sempre a mesma “fórmula”, mas teve um crossover que você desenhou que li que é a sua HQ preferida, o que ela teve de diferente? É que nela eu pude desenhar o Justiceiro e eu amei a experiência! XD Mas sim, crossover geralmente tem uma fórmula definida, meio batida e por isso mesmo não me sinto muito atraída por histórias assim. - Um filme? Uma série? Uma HQ? Um personagem? Diversão? Filme: Retorno do Rei (não sei como não me desidratei assistindo, de tanto choro) Série: LOST HQ: Excalibur de Alan Davis (me fez gostar de quadrinhos). Personagem: Kitty Pryde (foi a primeira de que gostei). Diversão: Sair com amigas pra ver um bom filme e depois passar a tarde falando sobre o mesmo numa Starbucks da vida. - Sei que você é twitteira daquelas de tá lá sempre que pode (aliás, a gente te segue por lá). Você se acha viciada nas redes sociais (Twitter, Facebook, Orkut e tal)? E de que forma essas ferramentas te ajudam no trabalho? Qual a preferida? Hmm… viciada não, já que posso passar sem ela e não surtar, mas elas acabam sendo muito, muito divertidas. Na verdade, no momento eu uso mais o Twitter e Facebook, pois elas têm dois lados: o divertido (amigos+dividir coisas bizarras que acontecem bem na sua frente) e o útil (contato com outros profis-


sionais). No caso do Facebook mais ainda, já que por ali consegui conversar (ainda que rapidamente, via chat) com figuras dos quadrinhos que sempre admirei e foram importantes pra minha formação como profissional: Carlos Pacheco, Bryan Hitch, Art Adams, Geof Johns entre outros. É uma forma rápida e prática de divulgação do seu trabalho e arte, e sabendo usar acaba por te aproximar de editores. - Há muita discussão com relação a direitos autorais na tua área, você já teve problemas com isso? E qual a sua opinião com relação aos scans de quadrinhos? Bem, com relação a direitos de uso de imagem, eu já precisei mudar o desenho por ele parecer muito com um determinado ator. Com relação a scans de quadrinhos sei que minha voz vai se perder por aí já que todo mundo faz os downloads, mas isso está ferrando o mercado grandemente. Mesmo. Mas infelizmente não sei como as editoras vão lidar com isso. - Fala pra gente de teus projetos futuros e o que anda fazendo agora. Atualmente estou desenhando a revista quinzenal DCUO: Legends pra DC, contando um pouco do backstory do primeiro jogo Online deles. Tem sido divertido por desenhar Superman, Batman entre outros… e sobre o futuro muitas coisas em vista, só preciso esperar que elas se confirmem pra divulgação. - Que parte do Brasil tem as melhores paisagens, e quais locais gostaria de conhecer? Já buscou inspiração por aqui para desenhar algum projeto? Eu sou maluca por verde, praias e afins então… Ei! Alguém me leva pra Fernando de Noronha? Haha. Não, nunca cheguei a desenhar nada daqui, pois as histórias em que trabalhei eram bem específicas, geralmente mostrando Nova York. Mas com certeza se eu desenhasse algo sobre litoral paradisíaco, a inspiração viria daqui! - Como é teu cantinho de inspiração? Todo meu estúdio. Quando imprimo um roteiro novo, me jogo no sofá preto, grande e confortável do estúdio onde faço a primeira leitura e escrevo pequenas anotações (conforme as primeiras ideias surgem). Depois faço os layouts sob a luminária, colocando meus fones e ouvindo minhas músicas favoritas, tudo isso regado a café forte ou chá mate. Perfeição. - E para encerrar, fala um pouco da “mulher” e da “mãe” Adriana Melo. Sou mãe de uma pré-adolescente, acho uma delícia editar sites, blogs e afins, me divirto e ganho fios brancos resolvendo meus próprios problemas de informática (upgrades, jailbreaks, costumização dos meus computadores), sou apaixonada pela cultura oriental (a linguagem, as músicas e filmes) adoro fazer várias coisas ao mesmo tempo (pintar um quadro e intercalar isso com desenhar uma pinup pra mim mesma) enfim…acho que é isso. Adriana, foi uma honra entrevista-la, o Extremezine agradece pela entrevista e desejamos que

você continue fazendo muito sucesso no campo profissional e, principalmente, que seja muito feliz em sua vida pessoal. Obrigada, pra mim foi ótimo! Um abraço forte à todos vocês!


Snuck Binks Diagramação Cleson Haziel Edição Final & Capa



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