Jornal Ágora n.º 10

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JORNAL UNIVERSITÁRIO

LABORATÓRIO DO CURSO DE CC/JORNALISMO DO

ISMAI

Este suplemento faz parte integrante da edição do Jornal de Notícias de 12.07.2010, não podendo ser vendido separadamente

Número 10 | Jornal Universitário Temático

24|Julho|2010


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Ágora |

12/Junho/2010

Fotógrafa de Moda ‘dispara’ sobre sentimentos e atitudes O que comanda o mundo da fotografia de moda? O corpo do modelo ou a atitude que ele mostra perante a câmara? A fotografia contribui para a crescente importância dada à imagem. Retrata cada pessoa como um ser único e é capaz de registar a individualidade de cada um. Exemplos deste registo são os trabalhos da jovem fotógrafa Ângela Azevedo. Para ela, o mais importante não é o corpo, mas o que o modelo faz com ele. O portfólio de Ângela Azevedo conta com fotografias de retrato, moda e nu. Nesta entrevista falamos do seu percurso e das particularidades do seu olhar sobre a moda. Quando é que descobriu que queria fazer da fotografia uma profissão? Sempre gostei. Empenhei-me na minha formação até descobrir o que realmente queria: ser fotógrafa de moda. Qual é a sua filosofia como fotógrafa? Procuro essencialmente transmitir serenidade com as minhas fotos, quero que elas reflictam paz a quem as vê. O que é que lhe dá mais gosto fotografar? Pessoas, de todas as idades e feitios. Qual a sua perspectiva em relação às pessoas que fotografa? Depende. No retrato, são as rugas e a intensidade de cada pessoa. Na moda, quero que os modelos explorem o corpo, que saibam o que querem e o mostrem. O que eu quero realmente é transmitir o sentimento das pessoas para todas as minhas imagens. Como é que as fotografa? Agendo todas as fotografias. É preciso estudar o ambiente para que este seja adequado à pessoa. Prefiro on location mas com as minhas luzes. O que é que tenta enaltecer ao fotografá-las?

Que cada pessoa é uma pessoa. Na moda procuro enaltecer a beleza do modelo. No retrato quero transmitir a força, o carisma. Tenho de tentar sempre jogar com a pessoa. Que tipo de pessoas gosta mais de fotografar? Gosto de tentar fugir aos estereótipos. Gosto essencialmente de tentar fotografar pessoas diferentes, sejam elas bonitas ou feias. A nível corporal tenho de seguir o padrão, mas a nível facial quanto mais diferente melhor. Adoro a sensação de olhar para uma pessoa e dizer “quero mesmo fotografá-la”. Quando escolhe alguém para fotografar, o seu aspecto físico é um factor decisivo? É, claro. Embora para mim seja muito mais importante a cara. Um “olhar vivo” e a atitude do modelo. Considera que a sua idade se reflecte nos seus trabalhos? Gosto de pensar que sim. Noto imensas diferenças nos últimos três anos. Penso que por ser mais nova sou mais sensível. Preocupo-me mais com o modelo. Que expectativas tinha na sua primeira exposição fotográfica? Nunca esperei que fosse muito vista. Ter conseguido levar

Olhares sobre a Imagem

um projecto desses do início ao fim já foi extremamente importante. Teve bem mais visitas do que eu esperava. Tem planos para novos projectos? Tenho sempre muitas ideias. Agora quero refazer o meu portefólio com base num só conceito. Se houvesse mais meios estava sempre a fotografar.

Ângela Azevedo Fotógrafa especializada na área de moda e retrato, é licenciada em Jornalismo e Ciências da Comunicação – Comunicação Multimédia. Estudou com alguns grandes nomes da fotografia a nível nacional - Paulo Roberto e Nanã Sousa - e internacional: Paolo Zambaldi, Andreas Bitesnich, Douglas Kirkland e Arthur Meyerson. Aos 26 anos tem já um estúdio na cidade da Maia, aberto em 2006. A sua primeira exposição teve como tema “Fragilidade Selvagem”.

Joana Silva Ana Lima Ana Fernandes

Apresentação. Naturalidade. Imitação. Cópia. Verniz. Manipulação. Espelho. Mito. Narciso espelha-se em milhões e milhões, ao longo de séculos. A imagem foi o ponto de partida para esta abordagem jornalística experimental. Alargada, mas não exaustiva. Tema inesgotável, a Imagem penetra em todos os sectores da sociedade. Desde a roupa, que nos tapa e nos descobre, até ao marketing dos produtos mais sofisticados. Tem um valor antropológico enorme. Aqui estão apenas alguns olhares sobre ela, a Imagem. Para ler e discutir. O Editor

e-mail: agora.editor.ismai@gmail.com

Ficha técnica: Ágora n.º 10 - Jornal do Curso de Ciências da Comunicação do ISMAI Editor: Luis Humberto Marcos (coordenador do curso) Redacção: Carlos Santos, Cristina Almeida, Catia neves, Marco Vieira, Gil Nunes, João Lapa, André Pinto, João Martins, Luís Lage, Filipa Vieira, Rita Ferreirinha, Catarina Pinto, Ana Lima, Ana Fernandes, Joana Silva, Pedro Correia, João Rocha, Erica Pinto, Diogo Nóbrega, Joana Castro, Diogo Queiroz

Design Gráfico: Janine Lafuente, Helder Ventura, Pedro Correia Capa: Fotografia tirada e trabalhado por: Helder Ventura e Pedro Correia Endereço: Instituto Superior da Maia Av. Carlos Oliveira Campos - Castêlo da Maia - 4475-690 Avioso S. Pedro Tel. (+351) 22 982 53 19 - Fax: (+351) 22 982 53 19 - E-mail: info@ismai.pt - www.ismai.pt Impressão: Naveprinter ISBN: 978-972-99378-8-0

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12/Junho/2010

Maria Gambina injustiçada pela Indústria Portuguesa Maria Gambina injustiçada pela Indústria Portuguesa

Ambiente tranquilo e acolhedor. Musica e literatura misturam-se numa miscelânea de conhecimento e lazer. Sente-se o aroma a café. Deslocada das passerelles e ateliês que habitualmente a rodeiam, chegava Maria Gambina. Com um sorriso estampado no rosto e uma disposição matinal invulgar, iniciou a conversa enquanto tomava o pequeno-almoço, oferecendo sempre uma disponibilidade afável. A imagem ‘transmite muito daquilo que somos’ e o vestuário ‘comunica muito do que é a nossa personalidade’, assim o garante Maria Gambina. A verdade é que a preocupação com a imagem tem aumentado gradualmente e a estilista portuense tem uma justificação simples para esta tendência. Explicou que ‘o aparecimento das grandes cadeias de lojas como a HM, a Zara, ou a Berskha, possibilitou que as pessoas se vistam melhor e barato. É notório que as pessoas andam muito mais bem vestidas.’ Porém, a chegada e o progresso das grandes cadeias de vestuário é visto por Maria Gambina como ‘uma grande ameaça para nós estilistas até porque nos copiam’ atirou. O novo culto à imagem, se assim o podemos denominar, é uma realidade contemporânea e veio para ficar, pois segundo a professora de design ‘cada vez mais, a imagem vai ser alvo de cuidado. Eu comecei a pintar as unhas tinha 35 anos, hoje em dia todas a miúdas de 20 anos, ou até mais novas, têm as unhas pintadas. Basta isso para perceber que as pessoas se preocupam muito mais com a imagem.’ É impossível não associar a imagem ao vestuário e o vestuário à marca. A estilista considera que ‘a marca continua a ser um critério de compra’. Contudo, a crise económica reduziu a obsessão pelas marcas e ‘só quem tem poder económico é que continua a comprar roupas de marca conceituada, onde pagam e valorizam a marca e a diferença’ defende. As dificuldades recentemente vivenciadas pela maioria da população provocaram algumas alterações no comportamento do consumidor, pois apesar de tal como a estilista portuense referiu “o culto da imagem ter fomentado, claramente, hábitos consumistas”, é perceptível que “já houve mais futilidade entre as pessoas do que actualmente. Penso que cada vez mais as pessoas têm a noção de que comprar por comprar não faz sentido, sobretudo nos mais novos.” Rematou.

Estado da indústria

Neste capítulo Gambina revela um certo descontentamento para com a indústria têxtil portuguesa, “penso que a indústria nunca se preocupou connosco. Nem nunca apostou nos designers portugueses, preferiu sempre pagar por designers estrangeiros ou por copiar as peças. A indústria têxtil tem maquinaria, tem trabalhadores, tem qualidade, mas depois falta-lhe o design.” Por este motivo, a estilista prevê que “a indústria têxtil portuguesa, infelizmente, está a acabar, não tem pernas para andar.” Justificando que “a falta de design torna a indústria claramente dependente de grandes marcas como as do grupo Inditex para continuarem a produzir. O problema é que estes grupos tanto trabalham hoje com empresas portuguesas como daqui a uns tempos trabalham com outras empresas que lhes oferecem uma mão-de-obra mais barata.” No que diz respeito à marca Maria Gambina, a criadora determinou algumas metas: “estou a pensar lançar a minha marca de uma maneira mais comercial, mais para lojas. Pois, se criamos e não vendemos não completamos o ciclo.” Numa fase da vida em que encontrou outra estabilidade, Gambina, ganhou vontade para “apostar num público não elitista, até porque é o público para quem gosto de trabalhar. Prefiro vender para muitos do que para um grupo restrito de pessoas.” Também a perspectiva com que olhava a moda se alterou, pois “durante 18 anos sempre pensei que a moda fosse arte, mas daqui para frente tenho que começar a vê-la como um negócio.”

Percurso e história de vida

Num pequeno esboço do seu percurso académico e profissional, e sem desprezar os principais traços da época de onde emergiu, é notória a singularidade de Maria Cristina Lopes no panorama da moda em Portugal. No mesmo ano que concluiu estudos, em 1992, apresentou a sua primeira colecção. Os seus primeiros trabalhos valeram-lhe, nesse ano, vários prémios e reconhecimento. Maria Gambina era uma nova e distinta marca que começava a despontar. “Quando apareci marquei uma certa diferença, até porque era tudo muito escuro. Vivia-

se um fashion anos 80. Os estilistas eram muito underground. E como eu apareci com uma atitude mais streetware [jovem e urbano], ligada à música, com uma postura descontraída, acho que foi isso que fez com que o meu trabalho fosse valorizado.” Hoje Maria Gambina, dá aulas na escola onde se formou, e as suas criações são sinónimo de um estilo de vida leve e funcional. “Tenho sempre em conta o factor de ser prático”. Como contou a estilista, a marca Maria Gambina caracteriza-se por uma postura jovem e “relaxada”. Não fossem as T-shirts estampadas as roupas com que mais se identifica. Ainda sobre marcas, a professora considera que representam autênticas formas de ser e de estar. “Não compro só a marca, compro o estilo, ou aquilo que representa.” E são cada vez mais as pessoas que se revêem nas marcas que usam. “Em todo o lado há pessoas obcecadas por marcas e Portugal não é excepção.” Acrescenta dizendo que quando desenha não o faz a pensar num público-alvo mas “em qualquer coisa que queira transmitir.” Sobre o seu sucesso, considera que foi a frescura da imagem nova dos seus desenhos que veio destoar do estilo sombrio dos finais da década de 80. Mas considera também que foi o profissionalismo com que encarou a moda que fez as coisas resultarem. “Não basta sermos criativos e ter ideias se depois não cumprimos prazos.”


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“Há um código de ética, postura e imagem que tem de ser seguido na RTP.”

Ágora |

12/Junho/2010

“É essencial instituir nas escolas e universidades formação sobre Imagem” Qual o tratamento e a importância que é dada à imagem na RTP? Na RTP é dada importância e devia ser dada importância em qualquer área. Amanhã estão a ser profissionais das vossas áreas e necessitam saber como se devem vestir. Penso que devia haver formação de moda nas escolas, nos liceus, nas faculdades, um módulo pequeno porque os jovens saem da faculdade e não sabem como vestir, como ir a uma entrevista ou como ir para o primeiro emprego e ficam com dúvidas, com receios e com incertezas e acho que há uma condição que devia ser indispensável para todo o tipo de pessoas, não só especificamente para a televisão. Claro que na televisão essa preocupação é importante e antes de eu estar na RTP havia uma pessoa responsável por esta área e quando saiu cada pessoa vestia o que lhe apetecia, por isso não havia organização. Mas a partir do momento que há um código de ética, postura e imagem que tem de ser seguido são criadas condições para que haja uniformidade. É importante vestir os apresentadores e jornalistas com uma determinada marca? A marca não é importante e não a utilizo como uma condição. Uso sim a qualidade, a apresentação e o rigor. Trabalho para a Televisão Pública e isso exige-me profissionalismo e a maior preocupação com a Imagem que é transmitida. Nessa medida, não tenho vínculo a marca nenhuma e faço acordos com as marcas anualmente. O tratamento da imagem é diferente mediante os conteúdos dos programas? Sim, não é propriamente o tratamento da imagem mas sim as peças de roupa que eu tenho que escolher. Comparando, no “Praça da Alegria” visto a Sónia Araújo e o Jorge Gabriel de uma forma mais casual tendo em conta o público que está a assistir, maioritariamente são ‘donas-de-casa’; No “Jornal da Tarde” há um maior rigor, o pivô está vestido de uma forma mais clássica, ou seja, com fato, gravata e camisa. A aparência física é um factor importante na TV? É na televisão e em qualquer lugar mas na televisão muito mais, porque aquele quadradinho entra na porta dos telespectadores todos os dias e aquela imagem é transmitida e passada diariamente. Os jornalistas e apresentadores têm a responsabilidade

de se apresentarem convenientemente, no dia-a-dia. Não têm de andar obrigatoriamente clássicos, mas mesmo casual não devem ser descuidados com a imagem. Alguma vez se sentiu condicionada? Às vezes, no início. Eu quando fui convidada para trabalhar e para fazer este trabalho, esta carreira – já são nove anos – tive algumas dificuldades no início a nível dos jornalistas e apresentadores - mais jornalistas - porque não me conheciam de lado algum e quem era eu para vir dar regras, dicas e escolher aquela marca com qualidade ou com menos qualidade e sustentar as minhas opções. No início desta minha carreira não foi fácil. Tenho de lidar com cerca de 30 pessoas, cada uma com personalidade diferente e eu moldo-me e adapto-me impondo sempre as regras, a ética e o profissionalismo. A decisão final nunca é tomada na totalidade por mim, é em conjunto com o jornalista ou com o apresentador. Vamos à loja e analisámos os prós e os contras relativamente à marca. Faço os coordenados que é no fundo combinar as possibilidades de um fato com as respectivas camisas e gravatas, por isso tenho de ter alguma flexibilidade para que as coisas corram pela melhor forma. Os convidados dos programas também são tratados a nível de roupa ou maquilhagem? Não, os convidados dos programas entram conforme vêm vestidos e depois são maquilhados na RTP porque a maquilhagem é no fundo retirar o brilho que, em termos de televisão, se nota bastante.

Numa conversa no Edifício Península, na Boavista, Paula Parracho falou do modo como a Imagem é trabalhada na Televisão Pública e a importância que lhe é dada. A Consultora de Imagem da RTPPorto e RTPN é licenciada em Educação Física, pós-graduada em Marketing e em Arte Contemporânea e fez um Mestrado em Madrid de Gestão de Empresas de Moda. Para além disso, trabalhou como manequim profissional durante 12 anos. Actualmente, paralelamente à sua profissão, é também formadora numa Escola Profissional nas áreas de Organização de Eventos, Imagem, Protocolo Empresarial e Social. André Pinto João Martins Luís Lage

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“A arte de representar, pressupõe no entanto que nos possamos transformar, metamorfosear.”

Ágora |

12/Junho/2010

Ágora | 12/Junho/2010 Imagem vale como cartão de apresentação Uma voz. Uma figura. Uma imagem que se desdobra em múltiplas imagens. “Não é a imagem que determina se um actor é bom (…) mas não se deve desvalorizar o peso da imagem”- as palavras são dele. Diogo Infante falou ao Ágora sobre a importância da imagem no teatro. De que maneira é que a imagem pode intervir no teatro? A nossa imagem carrega em si uma série de dados e de informações que acabam por funcionar como um cartão de apresentação e, pode condicionar o tipo de personagens que nos são oferecidos. A arte de representar, pressupõe no entanto que nos possamos transformar, metamorfosear. Essa transformação pode ser sugerida ou física com a ajuda de figurinos, caracterização ou adereços. O Teatro favorece tradicionalmente o talento, a capacidade em palco de comunicar de transmitir emoções e criar empatia com o público. Determinada imagem pode favorecer esse objectivo, sim. Existem critérios de selecção relativos à imagem que interfiram na selecção dos actores? Normalmente, aqueles que são ditados pelas personagens e pelas necessidades que o texto pressupõe. Há vários factores que normalmente são tidos em consideração: sexo, idade, timbre, altura, peso, feições, cor, etc. O Teatro permite que possamos criar convenções numa espécie de jogo de faz de conta, em que os actores e público mergulham num universo partilhado em que tudo se torna possível. Claro que os estilos e géneros de texto representados também são marcantes nas escolhas dos actores, quanto mais não seja por uma questão de verosimilhança, pelo que em função das características físicas individuais de cada actor e consequentemente da sua imagem, há personagens a que dificilmente teremos acesso. Actualmente, quais são as qualidades que uma pessoa deve reunir para conseguir entrar no mundo teatral e, obter bons resultados a nível profissional? Creio que é fundamental ter-se talento, vocação e um enorme

espírito de sacrifício. Digo isto porque é absolutamente essencial dedicar tempo e investir em formação capaz de nos ajudar a desenvolver o nosso potencial. É uma falsa questão dizer que basta ser natural, é preciso criar para além da aparente naturalidade e provocar a inquietação em nós e nos outros. Na representação, é mais importante um bom actor com uma imagem menos arrojada ou um actor medíocre com uma imagem atractiva? Não é a imagem que determina se um actor é bom, idealmente um bom actor irá construir ou encontrar em si a imagem que melhor sirva a personagem que quer compor. Não se deve, no entanto, desvalorizar o peso da imagem, no mundo de hoje. Ela é cada vez mais um factor de consideração, embora não seja necessariamente determinante no sucesso de um actor. Se a imagem não for suportada por uma estrutura profissional e emocional será difícil lidar com a enorme pressão que o mercado de trabalho impõe. Considera que em certas peças que contam com a presença de figuras públicas acabam por atrair mais público às salas de espectáculo? Acho que podem eventualmente atrair mais atenção dos media, não necessariamente mais público. Na maior parte das vezes são fait-divers, acontecimentos mediáticos, estratégias de marketing; convém no entanto salvaguardar que em alguns casos pontuais, são tentativas serias e validas de experimentar algo diferente, o que, na minha opinião, é perfeitamente legítimo!

O teatro, uma arte da imagem Entrou pela primeira vez no Teatro Nacional S. João em 1996, a convite de Ricardo Pais e, ficou ligado à casa até hoje, como encenador residente e director. Nuno Carinhas fala-nos da relação entre a imagem e o teatro. Como encenador, valoriza muito o factor imagem na escolha dos actores para as suas peças? Quais os critérios de selecção que utiliza para a escolha dos mesmos? Quando a imagem é um preconceito discriminatório, está errado. Claro que a imagem está relacionada com os objectivos e constituições de elencos, mas a imagem não é ponto de partida, não pode. Que importância é que a imagem adquire no teatro? O Teatro é uma arte da imagem, uma Arte Visual. Uma arte dos Sentidos. Faz-se Luz para que se projecte o que se quer dar a ver, a ouvir a partir de um corpo que se projecta, de um espaço-território, de um espaço-som. Todos os elementos do espectáculo. Quais as qualidades principais que uma pessoa deve reunir para conseguir entrar no mundo da representação? Não tenho fórmulas nem receitas. Um intérprete é um ser atento e capaz de devolver realidades universais e partilháveis e, tem que estar na plena faculdade dos seus recur-

sos. Treinar, manter-se, estudar, estar disponível e atento. Nos dias que correm, é mais importante um bom actor com uma imagem mais simples, menos arrojada, ou um actor medíocre com uma imagem mais atractiva? Um actor medíocre será que existe? Uma imagem não se substitui ás condições indispensável. Um intérprete quanto mais simples melhor. O Teatro é a arte da simplificação, pura e dura. Partir do zero com toda a sabedoria e toda a simplicidade. Actualmente, como se encontra o teatro em Portugal? O Teatro em Portugal está mais diversificado e mais activo que nunca. Assim, o poder tenha projectado para reconhecer e ajudar a desenvolver o que nunca está parado e se reproduz todos os dias por pertinência dos fazedores e por reconhecimento dos projectos em curso, o Teatro não é de modas, é de modos de fazer, cuja exigência reclama atenção, qualidade e exigência.


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Ginásio, uma nova moda

A imagem é, na actualidade, um factor que afecta várias áreas do nosso dia-a-dia. Devido ao grande aumentodo número de ginásios desde o ano 2000, (quando apenas existiam 600 clubes) e aos 1400 que vigoram desde 2008, denota-se que a população portuguesa está mais atenta à sua imagem. Esta preocupação com a imagem traz benefícios, não só a quem se cuida, mas também à área de emprego, que abrange cerca de seis a nove mil postos de trabalho, para cerca de 18 mil monitores/professores/instrutores que estão no mercado. Mas afinal, porque é que os portugueses aderiram a esta nova moda? Podemos garantir que o preço, ( preço médio ronda os 48€), foi um factor decisivo para várias jovens questionadas, que frequentam o ginásio VIVAFIT.

70. A razão que leva as mulheres a inscreverem-se nos ginásios, diz-nos Isabel, “já não é tanto pela moda, mas sim porque começam a dar mais importância à saúde e ao bem-estar”.

Para além do grande crescimento do número de ginásios e de frequentadores, surgiu também um novo conceito: ginásios exclusivos para o sexo feminino. Este conceito fez aumentar de forma considerável a quantidade de mulheres inscritas em instituições desportivas. Desde sócias a monitoras, todas são mulheres. A maior rede de ginásios femininos a nível nacional é a rede VIVAFIT. Com 100 ginásios espalhados por todo o país, esta marca, cujo logótipo é uma maçã verde, símbolo de saúde e bem-estar, é apologista de treinos rápidos, num ambiente descontraído e saudável. Conta apenas com três modalidades distintas: circuito, pilates e bodyvive. “Fazer exercício de forma divertida.”, é a maneira como Isabel Santos, gerente e monitora do VivaFit de Matosinhos, descreve este conceito. As idades das frequentadoras deste ginásio variam principalmente entre os 30 e 50 anos, mas a verdade é que as inscrições vão desde meninas de 13 anos, a senhoras de

CULTURISMO Culturismo ou musculação? Dois termos que ao serem proferidos despertam nas pessoas uma imagem muito singular, um corpo musculado, relembrando as esculturas de atletas olímpicos da antiga Grécia. No entanto são duas palavras que apelam realidades distintas. A musculação surgiu primeiro, sendo uma das mais antigas modalidades desportivas, são diversos os relatos históricos de estátuas de corpos musculados, algumas datando de 400 anos antes Cristo. Actualmente, é compreendida como um tipo de exercício de resistência que combina o uso de pesos com actividades cardiovasculares. Devido às vantagens que traz para a saúde, é das actividades mais procuradas pelas pessoas. É em 1901 em Londres que se dá a primeira competição onde se elegeu o “físico mais fabuloso do Mundo”, contando com 156 atletas. Nasce aqui a musculação de competição ou culturismo. Considerado como uma prática de exercício físico com pesos com o objectivo de estimular o crescimento muscular, ela difere das outras actividades desportivas na medida em que é algo que vive 24 horas por dia, 7 dias por semana, não é o tipo de desporto que se treina 2 ou 3 horas por dia e acabou, como o próprio nome indica, culturismo é o culto do corpo. Os praticantes de culturismo procuram atingir um nível de desenvolvimento muscular maior mas com qualidade e definição, no fundo um físico esculpido, estético e maior que a vida. Contudo, para atingir isso ele planeia métodos de treino, faz planos de alimentação e respeita as horas de descanso, acima de tudo ele é o estudante do seu corpo e o seu maior crítico. O culturismo assume-se como um estilo de vida mais rígido e disciplinado, mas ao mesmo tempo mais saudável, especialmente em competição, onde são avaliados pelo tamanho, harmonia e estética muscular. Em Portugal o mundo competitivo da musculação está a cargo de duas entidades, a FLCF (Federação Lusa de Cultura Física) e a WABBA (World Amateur Body Building Association). As duas organizações realizam ao longo do ano competições, quer

a nível regional como nacional. No dia 15 de Novembro de 2009 o auditório municipal de Vila do Conde sobrelotou com adeptos do desporto quando a WABBA realizou o III Open de culturismo que contou com a presença de vários atletas oriundos de diferentes pontos do país. Entre eles João Caneco, atleta, preparador físico e proprietário de um ginásio que quando questionado sobre o que o levou a praticar culturismo respondeu “Eu sempre gostei de tudo o que era competitivo, faço culturismo para ultrapassar os meus limites.” “O culturismo levou-me a encontrar o melhor de mim, quer naquilo que tento obter a nível pessoal, como também na preparação de atletas para competir. De uma forma geral dar o melhor de mim.”. Quisemos saber ainda se houve algo ou alguém que o tenha influenciado a seguir este desporto, “Cresci numa época de bons filmes, com actores como o Stallone, o Vandame e o Schwarzenegger que me marcaram na adolescência, fui habituado a ver o corpo daqueles homens, o perfeito, o super-homem. Eu acho que todos nós podemos tentar aperfeiçoarmo-nos ao máximo, nada é impossível.” Por fim e por curiosidade perguntamos ao João que tipo de reacções costuma receber pelas pessoas, “È normal que as pessoas parem e olhem, eu neste momento como tenho um corpo mais atlético, mas a partir do momento que falam comigo e me conhecem como pessoa, deixam de ter a ideia de que eu sou intocável e inacessível, sou como toda a gente.”, finalizou. Embora em Portugal o culturismo esteja longe de atingir o nível de popularidade, reconhecimento e recompensas monetárias que goza nos Estudos Unidos da América ou ate mesmo em Espanha, é inegável o número crescente de apaixonados por esta modalidade.

12/Junho/2010

“Se é homem, não entra”

A imagem torna-se cada vez mais importante para muitas áreas profissionais. Quem se apercebeu disso foram os próprios portugueses, que provocaram a maior (r)evolução de mentalidade dos últimos anos ao aderirem em massa aos escultores da imagem. Pelo que tudo indica, Portugal quer ficar mais tonificado, e faz por isso.

Carlos Santos Cátia Neves Cristina Almeida


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“Não é pela manipulação que a fotografia pode ser branqueada”

Ágora |

12/Junho/2010

“Condenar a manipulação hoje, é condenar toda uma história da fotografia e mesmo da arte” A manipulação de imagens é uma realidade presente nas revistas, na televisão e na internet. Por isso o é que entende por manipulação de imagem? A manipulação de imagens sempre acompanhou a prática fotográfica. Por curiosidade, para intrigar, para esconder. Até nas casas fotográficas de retrato era comum criar a esbelteza que não havia no retratado: pintando de branco o negativo eliminavam-se ancas, adelgaçavamse as pernas, tiravam-se duplo-queixos... Os fotógrafos também excluem das suas fotos de paisagem e património o que lhes negava a estética. Manipular uma imagem pode passar pela foto-montagem tradicional, pelo apagamento de figuras no cenário, pela coloração estranha à tomada de vista, (e é um processo artístico legítimo), pela aproximação de objectos, (juntar num cartaz turístico as 3 pirâmides de Giseh), ou seja usar processos que alteram a tomada de vista original. A manipulação de imagem é condenável do ponto vista ético? Condenar a manipulação hoje, é condenar toda uma história da fotografia e mesmo da arte. Tudo depende da perspectiva com que se olha a fotografia. A recente polémica com um jornal americano e Edgar Martins, (que usou imagens de espelho digital e não a imagem directa) mostrou onde radica a condenação: a fotografia se é encomenda, deve responder a essa encomenda; o jornal pretendia um retrato da realidade. Em todo o caso a manipulação é tão alargada e tem interesses tão diversos que é difícil considerá-la condenável como um todo. A arte vive muito dela, a publicidade também. Querer fazer corresponder a imagem

fotográfica à visão da realidade é sempre uma ilusão: a imagem varia no tamanho, na espessura, tem apenas a dimen são da superfície, não tem cheiro, tem um brilho e uma cor que não são os reais. E é essa crença na imagem como duplo do real que está na base dos apocalípticos da manipulação. Em que aspecto pode a manipulação de imagem afectar uma actividade governamental ou desportiva? Teoricamente a imagem pode afec-

Considera que a manipulação de imagem é uma forma de esconder dados ao público em geral? Como falei na publicidade isso acontece; mas a educação mediática actual ensina a saber essa manipulação. Viver com os Media significa isso mesmo, aprender a usar o seu valor e evitar o seu malefício. A manipulação também é defendida por lei; por exemplo são proibidas as imagens subliminares, que não se vêem, mas que o cérebro recebe,

tapar as matrículas dos automóveis para respeitar a intimidade de cada um. Até que ponto a verdade pode ser melhorada? Não consigo ver graus na verdade; ou é verdade ou não é. Mas é uma procura difícil, a nossa cultura ainda é da aparência. Mentimos por gentileza, por deferência, por ignorância. Mentimos quando escolhemos o que consideramos a nossa melhor fotografia, eliminando as outras. É difícil saber se melhorar

Maria do Carmo Serén, historiadora, investigadora e teórica da imagem fotográfica esteve desde a primeira hora ligada a quase tudo o que se escreveu no Centro Português de Fotografia. Foi coordenadora do Departamento de Comunicação e Informação, onde dirigiu também a revista Ersatz, entretanto extinta. Escreveu vários livros de história da fotografia, especialmente relacionados com o Porto, mas tem também obras publicadas na área da fotografia contemporânea.

tar a actividade governamental: os políticos estão num palco e a imagem, pode, a título de exemplo, comprovar o que eles negam. Nos média rápidos, como a TV é mais difícil avaliar a manipulação, mas o ênfase da imagem também pode ter o mesmo efeito. Veja-se o caso da Guerra do Golfo em que imagens vídeo e já efectuadas foram apresentadas como o real da acção e do momento. Se afectou um pouco a imagem, não impediu a Guerra do Iraque. No desporto sabemos como mesmo uma imagem que parece clara desperta opiniões contrárias. Não é habitual a manipulação de imagens no campo desportivo. Tratandose de um grande negócio, no Desporto a imagem manipulada é um risco.

agindo sobre o sujeito. Qual deve ser o limite da manipulação de imagem? É evidente que se aconselha que haja limites; por isso mesmo há as leis de protecção moral de imagem, de publicidade enganosa, de falseamento de realidade, etc. A imagem com que se pretende fazer o levantamento da realidade, que tem esse objectivo específico, (como no jornalismo, na documentação, etc.) deve evitar a manipulação. Mas ela pode ser informada, o que por vezes acontece. Já nos habituamos a que, para defender o direito pessoal à imagem, aceitamos ver pessoas com o rosto esbatido e a voz disfarçada, prática que a imprensa já usa quando não se trata de pessoas públicas. O Google geográfico é obrigado a

a verdade, considerando uma outra verdade melhor é persistir na ilusão ou na perversidade. Diz-se que uma imagem vale mais do que mil palavras e uma imagem manipulada quanto vale? Há uma ou outra imagem que, para quem a saiba ler, (e nem todos sabem) vale mais do que palavras; mas essa é uma lenda da crença da foto como duplo da realidade. O mesmo valor tem uma imagem manipulada; tem de surgir e ser entendida como evidência. Essa evidência, (que a imagem nunca tem, somos nós com a nossa cultura que lhe damos evidência) é mais uma manipulação simbólica do que digital. Sendo a manipulação uma realidade, qual será o futuro da

fotografia? Não pela manipulação que a fotografia química ou digital pode ser branqueada. Toda a nossa vida é simulação, a fotografia também o pode ser, sem perder a importância na divulgação da realidade. Mas tem um efeito mais perigoso para a historiografia que hoje se faz muito com imagens fotográficas e para outras verificações de tipo científico. Mas o cruzamento de informações fez sempre parte do método científico. O grande problema da fotografia hoje é a facilidade com que acumulamos informação e a facilidade com que a não seleccionamos, (é fácil apagar sem avaliar, uma imagem na câmara digital). Perderá a credibilidade? A imagem hoje não tem a credibilidade que tinha com o Positivismo; o mundo pós-Einstein é relativo. O mundo consumista, tem a qualidade da efemeridade. Sabemos que há tantos reais como as formas de vida, as espécies e as suas formas de apreensão do mundo. Sabemos que os sentidos enganam, que a memória deforma a informação, que o sistema nervoso cria simulações para nos proteger do real. Estamos afinal na teia da destruição dos paradigmas que mais nos eram caros. Tudo tende a perder credibilidade, porque fomos nós que lhe demos essa credibilidade e nós somos hoje outros, com outros interesses e outras finalidades. Acredito que continuaremos a viver num mundo fantasmático, (imagens em vez de pessoas, sons electrónicos em vez de vozes) com progressão das vídeo-comunicações e vídeo-conferências. A ser fotografados por vídeo na rua, nos super-mercados, pelos programas da Net.


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«A pantomima é um espectáculo a solo»

Ágora |

12/Junho/2010

Artista de rua confessa-se:

«Uso o gesto e a imagem para compor os meus silêncios» Passa pouco das 9h da manhã. Aqui e ali, o murmúrio stam uma explanação plena da arte destes indivíduos. dos lojistas que ultimam os preparativos para mais um Ricardo, que actua no Porto há três anos, depara-se, dia de trabalho. Na rua ,junto à Capela das Almas, os não raro, com estes obstáculos. Porém, utiliza-os como vendedores ambulantes de artesanato e bijutaria ensaiam fonte de inspiração para conceber múltiplas cenas que compõem o seu repertório artístico. «A Pantomima é a os seus jingles comerciais. arte de exprimir sentimentos, paixões, ideias, por meio «Olha a pulseira da moda!» de gestos, de atitudes. A insensibilidade de uns e a rudeza «Duas, 5 euros!» Tal como o canto familiar das aves regressadas no final de de outros são expressões tão vulgares na sociedade como Março, os seus peculiares pregões são a banda sonora da quaisquer outras, por isso e, objectivamente, devem enprimavera no Porto. Mais à frente, no cruzamento com a contrar eco na expressão artística. Assim, nós artistas, Rua de Passos Manuel, defronte das majestosas Galerias não só evitamos mergulhar no desalento e no pessimisPalladium, um jovem «artista de rua» percorre meticu- mo, como também encontramos uma fonte inesgotável losamente a lápis negro o contorno dos seus olhos. No de inspiração». que à pantomima diz respeito, enquanto «l’art du silence», Fernando Pessoa identificava a «hiperexcitação» como a imagem assume uma importância extra, comparativa- uma regra na sociedade, há quase um século. Ricardo mente com outras artes performativas. «A pantomima observa nos dias de hoje essa mesma «tensão nervosa não pode ser confusa, ambígua, deve ser directa, frontal que acompanha os indivíduos no dia-a-dia». O stress e acessível a toda a gente. O figurino e a maquilhagem é, de resto, um dos temas mais presentes nas represendevem acompanhar esse objectivo. É um espectáculo a tações de Nep. «Outro dia passou por mim um senhor totalmente absorvido pelos seus afazeres. solo, por isso todos os elementos deCaminhava apressadamente, com uma vem convergir para aumentar o mag«O maior artista pasta na mão e olhava constantemente netismo pessoal do mímico», explica será o que menos para o relógio. Caminhei ao lado dele duRicardo Nascimento, de 22 anos, actor rante quase cem metros, imitando todos vde pantomima, que utiliza as ruas do se definir» os seus movimentos repentinos, sem ele Porto para tentar resgatar da asfixia insequer notar a minha presença, tal era a sua abstracção». evitável um espectáculo teatral há muito em queda livre. Inspirado em comediantes como Chaplin e os Irmãos À imagem de Chaplin em «Modern Times», Ricardo Marx, e em mímicos como Marcel Marceu, Ricardo criou satiriza a actividade frenética e trepidante das sociedades Nep, um palhaço de cara pintada, o seu alter-ego. «O modernas. Para isso reveste-se de toda uma série de apemaior artista será o que menos se definir. Nenhum artista trechos, como indumentária e maquilhagem específicos, deverá ter só uma personalidade». As aventuras de Nep, fundamentais para criar a imagem pretendida. «Visto interagindo com tudo e com todos, desde o executivo imensas vezes o macacão tradicional do operário fabril, que calcorreia freneticamente, ao gato que brinca na rua, enquanto recrio os bruscos e automatizados movimentos têm arrancado um pedaço de tempo aos portuenses mais que caracterizam a sua actividade». A par do figurino, a apressados. De Santa Catarina a Cedofeita, da Ribeira à pintura do rosto é essencial na pantomima. «Clara, obBatalha, Ricardo tem feito «bem mais do que simples to- jectiva e, sobretudo, abstracta, no seguimento do espírito stões». «Através do movimento do meu corpo, da maq- que anima a arte da pantomima, a maquilhagem assumeuilhagem do meu rosto, da indumentária que utilizo, pro- se como um elemento indispensável». No que concerne curo contar cómica e objectivamente os porquês de uma às tintas utilizadas no processo de caracterização, Ricardo história e, estabeleço como que uma relação mística com opta por pasta d’água de farmácia em virtude das suas propriedades anti-alérgicas. o meu público». As ruas são, amiúde, um palco ingrato para toda uma Se com Nietzsche afirmarmos que enganamos facilmente miríade de artistas que aí escolhem actuar. A indiferença com a boca, mas com a expressão que fazemos dizemos, e a chacota são apenas alguns dos empecilhos que ob- ainda assim, a verdade, percebemos até que ponto as rep-

resentações de Nep constituem um espelho da alma de Ricardo. «Em cada gesto do Nep, está a mais íntima expressão do meu ser, exposto de uma forma mais íntegra e mais profunda do que se eu o fizesse por palavras». É este o mais evidente traço de um mímico singular, profundo, senhor do mais subtil devaneio: «Uso o gesto e a imagem para compor os meus silêncios.»

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