Suplemento do JORNAL DE NOTÍCIAS, de 5 de maio de 2012, não pode ser vendido separadamente
NÚMERO 14 sábado, 5 maio 2012
JORNAL UNIVERSITÁRIO LABORATÓRIO DO CURSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
INSTITUTO SUPERIOR DA MAIA
CULTIVAR
O OTIMISMO Clube do Otimismo combate a crise pág. 3
Quatro caminhos até ao sucesso pág. 4 e 5
Empresas portuguesas conquistam o mundo pág. 6
Conheça alguém que fez do riso profissão pág. 2
Três histórias com saudade pág. 8
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“Sabemos o que somos, mas não o que poderemos vir a ser” | William Shakespeare
linha curva
Otimismo, realidade, sonho “O otimismo é o pessimismo em diluição” – disse-o Millôr Fernandes, figura ímpar do humor de expressão lusófona. Fez milhares de máximas, património que ficou vivo, tal como imensos cartoons, depois da sua morte, há semanas, no Rio de Janeiro. Millôr deixou uma obra imensa, caldeada no almofariz do humor. Pertencelhe também a ideia de que “a esperança é crónica; o medo é agudo”. O riso, a ironia e o sarcasmo foram sempre as suas armas. “Afinal, não precisamos de ser tão pessimistas: metade do mundo come”! Nesta edição especial sobre o otimismo, fica bem lembrar um génio do humor que soube sempre encontrar espaço e tempo para rir-se, castigando os costumes. Ser-se otimista hoje é remar contra a maré. É sublinhar o que corre bem e dar-lhe primazia. É continuar na senda da utopia e dos sonhos. Deles depende também a realidade. Foi este o sentido principal do Ágora n.º 14, feito por jovens que não desistem de procurar meios para a realização dos seus sonhos. Fazendo com Saber o que os fará Ser. Luís Humberto Marcos
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Gargalhadas saudáveis P ercorreu o país desde criança, como palhaço. Fez do riso profissão. Mas uma “doença nas articulações” travou a sua atividade circense. Agora, através do yoga, volta a fazer do riso profissão. Ana Banana recebe-nos de braços abertos em sua casa, em Vila Nova de Poiares. A conversa fluiu naturalmente, aliada a uma paisagem repleta de elementos rurais. Aqui, um burro de estimação. Mais além, um trampolim rodeado de espaços verdes. O yoga do riso é o motivo da presença do Ágora nesta vila. Ana Banana introduznos no tema: fala do processo de auto cura através do yoga do riso usado durante a sua doença nas articulações e diz que os resultados deram origem à abertura de uma escola: “até agora, já formamos mais de 400 pessoas e muitas delas ganham a vida a rir.” Quais os benefícios da prática de yoga do riso? Eu acho que o maior benefício é recuperar o espírito de brincadeira, ou seja, deixarmos de nos levar tão a sério. Quando acordamos a criança no nosso interior, torna-se mais fácil rir de todas as condicionantes negativas. A nível físico, para mim, o fator essencial é o oxigénio. Na nossa cultura, temos o mau hábito de não respirar o suficiente, não deixando o oxigénio entrar no corpo. Sem ele, o nosso cérebro fica afetado, inibindo-nos de pensar corretamente e de organizar o nosso sistema emocional e nervoso. É, por isso, um benefício para todo o corpo? Claro! O riso ajuda também no processo digestivo, bombeia o sistema linfático, ajuda a eliminar toxinas, fortalece o sistema respiratório, é um exercício cardiovascular e é uma excelente maneira de massajar
internamente todos os órgãos vitais, que, por posturas ou imobilidade, vão influenciar o funcionamento de todos os outros órgãos. Outro beneficio de bastante interesse é um estudo de 10 anos sobre o riso: é um influente ativo no processo de acasalamento. O riso é como que um elixir que embeleza a mulher, acendendo
“Antes de acabar com a crise financeira, há que curar a crise emocional para que possamos estar abertos à felicidade.” o lume no processo sexual. Posso ainda salientar o papel do riso como relaxante e analgésico. É muito mais rápido do que um comprimido. Que tipos de pessoas procuram esta terapia? Há pessoas que vêm fazer formação e outras que vêm simplesmente às nossas atividades e eventos. Toda a gente pode praticar yoga do riso, todos os seres humanos conseguem rir. Vêm pessoas de todas as profissões fazer formação connosco, como professores, enfermeiros, terapeutas, médicos, entre outros, e até pessoas que não se sentem realizadas profissional e pessoalmente. Há ainda aquelas que aparecem com curiosidade e querem apenas experimentar. Como é que funciona a Escola do Riso aqui em Portugal? A Escola do Riso é uma associação que
Ana Banana
tem como função ensinar a prática do yoga do riso a todo o país. O nosso próximo projeto é organizar o congresso do riso: pretendemos trazer profissionais de todo o planeta para falar sobre os benefícios do riso. Estamos também a organizar a vinda a Portugal do fundador desta prática no mundo, o Dr. Kataria. Tenta sempre adotar um ponto de vista positivo sob qualquer circunstância? Eu não posso garantir a uma pessoa que faça yoga do riso que nunca mais terá um pensamento negativo. O nosso cérebro é um músculo e, como tal, precisa de ser exercitado. Um bom truque para aliviar as más vibrações é: cada vez que pensarmos em algo negativo, interrompermos esse pensamento com uma gargalhada. O riso não serve para enganar ou fugir da emoção, o riso serve para transformar a emoção, o pensamento. E com muito treino diário e persistência chega-se lá. Catarina Sampaio e Rita Ferreira
Ficha técnica Ágora n.º 14 - Jornal do Curso de Ciências da Comunicação do ISMAI Editor: Luís Humberto Marcos (coordenador do curso) Coordenadores: Ana Costa, Inês Cardoso, Jorge Alas cultivaroptimismo.agora@hotmail.com
Redação: Ana Costa, Ana Santos, Andreia Cunha, Cátia Sá, Catarina Brás, Catarina Sampaio, Daniela Alves, Daniela Ferreira, Diogo Vieira, Hugo Lopes, Inês Cardoso, Jorge Alas, Márcio Faustino, Miguel Santos, Patrícia Gomes, Patrícia Silva, Pedro Maia, Raquel Caldas, Raquel Santos, Ricardo Dias, Rita Ferreira, Sandra Ribeiro e Vanessa Freitas
Alunos do ISMAI fazem
Grande Reportagem em URUEÑA Várias equipas de alunos do 2.º e 3º ano de Jornalismo do ISMAI foram à vila espanhola de URUEÑA. Objetivo: grande reportagem sobre a “Villa del Libro” da península ibérica. Foi no final de Abril e, em breve, o Ágora mostrará as descobertas jornalísticas.
Design Gráfico: Fernando Araújo, Rita Ferreira e Vanessa Freitas Endereço: Instituto Superior da Maia Av. Carlos Oliveira Campos Castêlo da Maia 4475-690 Avioso S. Pedro
Tel. (+351) 22 982 53 19 Fax: (+351) 22 982 53 19 E-mail: info@ismai.pt - www.ismai.pt www.facebook.com/jornal.agora Impressão: Naveprinter | ISBN: 978-989-97147-6-2
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“Um otimista ri para esquecer, um pessimista esquece como se ri” | Autor desconhecido
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Clube do Otimismo rema contra a maré Treinar o positivismo ajuda a superar obstáculos e a alcançar o sucesso
O
timismo pode ser uma arma eficaz para combater as adversidades atuais. Por isso, as instituições que difundem e treinam o positivismo e a motivação têm uma importância crescente na sociedade. Uma das instituições com mais visibilidade é o Clube do Otimismo. Numa conversa com a cofundadora do clube, a psicóloga Maria do Carmo Oliveira, ficamos a conhecer melhor o método da instituição, a importância que tem na sociedade e a ligação direta que existe entre o otimismo e o sucesso na vida das pessoas e das organizações. Como surgiu o Clube do Otimismo? O ponto de partida foi um projeto de intervenção num colégio. Os resultados obtidos foram tão positivos que surgiu a ideia de criar uma instituição cuja intervenção tivesse como base os pressupostos da psicologia positiva e que contribuísse para desenvolver as melhores competências das pessoas e, consequentemente, o seu bem-estar. Que tipo de ações desenvolve o clube? O Clube do Otimismo tem programas de intervenção junto de escolas, empresas, lares e outras instituições, abrangendo temáticas como a resiliência, o otimismo, a motivação, a autoestima e o relacionamento interpessoal positivo. Existem ainda sessões de coaching individuais e palestras interativas. Os conhecimentos são transmitidos de uma forma prática e experiencial. Qual é o principal objetivo dessas atividades? O principal objetivo é contribuir para o desenvolvimento das capacidades de cada participante e levá-lo a tomar consciência da sua responsabilidade na própria mudança. O coaching visa libertar o potencial e maximizar a eficácia e bemestar de cada um. O otimismo e a motivação são mesmo capazes de “curar”? Os otimistas são mais pró-ativos, quer no sentido de evitar a doença, quer na ultrapassagem das dificuldades, quer na perseguição dos objetivos e da felicidade. Todas as atividades do clube têm como
base os resultados de investigações levadas a cabo nas áreas da Psicologia Positiva e das Neurociências. Estes resultados sugerem também que um maior otimismo poderá estar relacionado com menores sintomas depressivos. Qual é o feedback que recebem dos participantes das vossas ações? O feedback tem sido extremamente positivo. São muitas as pessoas que nos dizem “estava mesmo a precisar disto!”. Quais as perspetivas para o futuro do Clube do Otimismo? Pretendemos continuar a contribuir para a mudança positiva de todos quantos pretendam frequentar as nossas formações, ajudando a aumentar a esperança, a motivação e a confiança, motores que possibilitam a construção ativa de um futuro melhor. Esperamos, a médio prazo,
“Os otimistas são mais próativos na perseguição dos objetivos e da felicidade” ter os nossos programas implementados nas escolas do país. Considera que o país está triste e desmotivado? A cultura do pessimismo tem estado muito presente no nosso país, agora agravada pela conjuntura atual, que desencadeia um sentimento de insegurança que se repercute negativamente na nossa atitude e bem-estar emocional. No entanto, somos considerados um povo lutador e corajoso… É verdade, no outro prato da balança temos a persistência e a criatividade dos portugueses, que lhes permite ativar a esperança e continuar a lutar, aconteça o que acontecer. É uma garra extraordinária que nos pode levar a grandes feitos se alimentarmos estrategicamente o nosso otimismo. Disso é prova a História de Portugal.
Por que motivos é necessário combater o negativismo e a passividade? Uma atitude pessimista e desesperançada, com expectativas negativas em relação ao futuro, tem o poder nefasto de bloquear a nossa ação e criatividade. Assim, sentir-nos-emos menos motivados para prosseguir rumo aos objetivos traçados, pois não acreditamos na possibilidade de os alcançar. É por isso que o otimismo está diretamente interligado com o sucesso? Também. Estando mais positivos, conseguiremos mais facilmente mobilizar competências como a criatividade, a motivação, a autoestima e a persistência, responsáveis pelo sucesso e satisfação pessoal. Estas pessoas tendem a ser mais bem-sucedidas a vários níveis: académico, desportivo, profissional e relacional. O que seria necessário mudar para difundir o positivismo? Seria importante que houvesse uma mudança ao nível dos discursos, começando pela comunicação social, dando mais ênfase aos casos de superação de adversidades, àquilo que nós portugueses e o nosso país tem de bom. Precisamos de semear a esperança e relembrar as nossas potencialidades. Por vezes basta um pequeno catalisador para desencadear uma reação positiva. Como devemos preparar-nos psicologicamente para enfrentar a crise? Devemos tomar atenção ao poder condicionador das palavras que usamos. A carga emocional que elas carregam determina o modo como o nosso cérebro e o nosso corpo reagem às adversidades. Comecemos então por designar por “desafio” e não “crise” a situação atual. Faz toda a diferença. Maria do Carmo Oliveira sublinha a importância de se cultivar o otimismo e termina dizendo que “ajudar os outros é o nosso desafio e a nossa paixão, contagiando a população com o espírito positivo. É isso que nos faz felizes no Clube do Otimismo.” Jorge Alas e Vanessa Freitas
Maria do Carmo Oliveira
O Clube do Otimismo foi fundado em 2006 por um casal de psicólogos: Maria do Carmo Oliveira e Manuel de Oliveira. Tem sede em Lisboa mas desenvolve projetos e formações por todo o país. Também promove workshops para o público em geral, onde são trabalhadas capacidades como o otimismo, a resiliência, a autoconfiança, a motivação, a definição de objetivos e de estratégias para os alcançar.
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“É uma falta de responsabilidade esperar que alguém faça as coisas por nós” | John Lennon
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Paraplégico aos 3 anos procura a excelência aos 20 P
edro Bártolo viu desde cedo a vida pregar-lhe uma partida. Aos 3 anos foi-lhe diagnosticado um tumor benigno na medula óssea que o deixou paraplégico. No entanto, começou a praticar basquetebol aos 16 anos e aos 20 anos já procura a excelência. Aos 16 anos, decidido a levar a vida de outra forma, procurou um clube e, com ajuda do tio, foi parar ao APD Porto. Pedro Bártolo entrava alegremente para uma nova realidade: “Comecei a treinar, gostei e fiquei”. Atualmente joga na equipa do APD Paredes. O portuense, nascido em 1991, joga a “Base”. Vocacionado para os lançamentos, faz em média 20 pontos por jogo. Treina 3 vezes por semana e ainda escreve para um blogue de basquetebol. Apesar dos seus 20 anos, já foi chamado à seleção nacional, na altura com a selecionadora Inês Lopes, “uma das melhores treinadoras da modalidade em todo o Mundo.” A ida à seleção foi, sem qualquer dúvida, o topo da sua promissora carreira. Hoje recorda as palavras da selecionadora: “Tens muito futuro, vais ser um dos grandes lançadores do basquete nacional mas para já tens de dar outros passos, pois precisas de mais maturidade de jogo para aqui estar”. Ambicioso, otimista e com a noção das suas capacidades, Pedro Bártolo quer dar o salto para o estrangeiro onde existem mais e melhores condições, a modalidade tem mais visibilidade e é encarada com mais respeito. “Uma equipa modesta da segunda divisão espanhola está perfeitamente ao meu alcance, depois posso sonhar mais alto”. Para o atleta, o que mais conta na modalidade não é nem a força nem a técnica,
mas sim a cadeira. “A cadeira e a forma como a controlamos é fundamental, já que ocupa muito espaço e é essencial evitar toques”. Estudante de jornalismo na Faculdade de Letras do Porto, pensa nessa área só para o futuro, já que agora pretende atingir um patamar alto no basquetebol. Para ele, a prática do desporto tem de ser
“Nunca me rejo pelos padrões dos outros” mais do que uma forma de reabilitação. “A partir dos meus 15 anos deixei de ter pena de mim, e deixei de pensar no que não podia fazer nesta condição, mas sim no que podia fazer. Não devemos aceitar que nos rotulem de coitadinhos ou que nos façam preocupar com preciosismos ridículos!”. A família é um dos seus pilares. A mãe e o tio são o seu braço direito: “é muito gratificante estar nos jogos e vê-los sempre lá! Nunca falharam um jogo até hoje”, diz com enorme orgulho e satisfação. Os amigos que sempre o apoiaram de perto são outro aspeto fulcral. Pedro termina afirmando: “Acima de tudo, nunca me rejo pelos padrões dos outros. Se assim não fosse, as minhas expectativas de abraçar o desporto como forma de vida há muito que já se tinham desmoronado.”
Pedro Bártolo
Ricardo Dias
João Correia
foi o primeiro atleta luso a ganhar uma medalha internacional na categoria de cadeira de rodas. A proeza aconteceu em 2003 no Campeonato da Europa na Holanda, repetindo a prata em 2005, na Finlândia. No panorama nacional, João Correia tem vários recordes de velocidade, entre eles, os de 100, 200 e 400 metros Pista.
Atualmente é assistente administrativo e responsável pela Comunicação da Associação Portuguesa de Deficientes de Braga. O atleta, natural de Santo Tirso, não tem dúvidas: “Nunca desistam quer sejam ou não portadores de deficiência, porque se os outros conseguem vocês também vão conseguir.”
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“A vida é como andar de bicicleta... para manter o equilíbrio deve-se continuar em movimento” | Albert Einstein
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Mentalidade de campeão P aulo Coelho é o atleta paralímpico português mais medalhado de sempre. Tem 41 anos, é invisual de nascença e é Natural de Lisboa. Casado e com um filho, licenciou-se em Economia pela Universidade Nova de Lisboa e trabalha na Segurança Social no Departamento Financeiro. Aos 17 anos surge uma oportunidade que veio a mudar, aos poucos, a vida do lisboeta: integra uma equipa da ACAPO que trabalhava com deficientes visuais em diversas modalidades, apostando na modalidade de atletismo. Após a participação no primeiro campeonato nacional para deficientes visuais, em 1988, foi uma questão de meses até a sua vida modificar radicalmente. No ano seguinte, foi logo medalhado num campeonato da Europa em França. Nascia assim um campeão, que desde esse campeonato da Europa até 2003 foi medalhado em todos os campeonatos em que participou, exceto num, pelo infortúnio de uma lesão. Esta façanha colocou Paulo Coelho na história como o atleta paralímpico português mais medalhado de sempre. Numa dessas provas estabeleceu o record paralímpico dos 1500 metros com 4 minutos e 08 segundos, proeza de que tanto se orgulha. Paulo Coelho considera que tem uma característica especial: “ Sempre acreditei que somos capazes de concretizar algo
Márcio Carneiro
Paulo Coelho
positivo. Encarando a vida com otimismo, vendo um problema como algo menor, tendo sempre a convicção de que as coisas podem correr bem”. Apesar do problema que enfrentou, Paulo quis muito vencer e ser capaz de se sentir bem consigo mesmo, não só no desporto como na vida social. Muita gente duvidou da sua capacidade mas o atleta sempre apontou a solução: “ Sempre encarei estas dificuldades como um desafio. Se hoje estou mal, amanhã o objetivo é dar a volta à situação, e esta filosofia resultou. Hoje estou bem e
foi devido ao trabalho e ao esforço que dediquei às minhas tarefas”. O seu lema de vida é simples: “Vencer com felicidade e amor”. Paulo deixa um conselho a quem não tem, ao contrário dele, qualquer limitação: “Não atirem a toalha ao chão na menor dificuldade. Ao vosso lado pode estar uma pessoa com mais dificuldades e que consegue vencer. Acima de tudo, não transformem os problemas num bicho-de-sete-cabeças”. Pedro Maia
nasceu com uma doença chamada retinose pigmentar que faz com que seja invisual parcial desde tenra idade. Este portuense de 34 anos dedicou-se ao Goalball, um desporto adaptado para deficientes visuais, e tem sido bem-sucedido: foi o melhor marcador da taça de Portugal, venceu essa mesma taça, e tem viajado pela Europa fora com a camisola da seleção nacional portuguesa. O portuense tem uma convicção “o desporto abriu-me a mente. O convívio com os meus colegas, todos com problemas diferentes mas com um objetivo em comum, deu-me grandes valores”. Na vida social Márcio tem o seu próprio consultório de Fisioterapia, e guia-se por um lema “Nunca desistir de lutar pelos objetivos que almejo na vida.”
Força e determinação fazem história D esde a sua génese que Portugal sustenta valores como a ambição, a coragem e o sentido da descoberta. Sempre fomos um povo curioso, determinado, pioneiro e vencedor em diversas áreas: desde os Descobrimentos ao desporto; da ciência à arte; da literatura à gastronomia; das lutas pela independência e pela liberdade à hospitalidade atual que nos caracteriza. A História diz-nos também que os portugueses têm uma forma única de estar no mundo, respondendo às situações adversas de forma peculiar mas eficaz, muitas vezes recorrendo ao dito “desenrascanço”. Somos sonhadores, não temos por hábito desistir e somos brindados por isso, com vários prémios reconhecedores do nosso mérito. Em diferentes áreas. Arquitectura Siza Vieira e Souto Moura conquistaram o Prémio Pritzker, considerado como o nobel da arquitetura, em 1992 e 2011 respetivamente. Ciência - Um grupo de cinco alunos da Univer-
sidade de Aveiro venceu o prémio Angelini University Award 2010/2011, com um projeto inovador de um portal para familiares de doentes de Alzheimer. - Cinco cientistas portugueses foram premiados pelo Instituto Médico Howard Hughes, dos Estados Unidos onde foram reconhecidos como “futuros líderes científicos nos seus países”. Cinema - A longa-metragem “Tabu”, do realizador português Miguel Gomes, que será exibido em 24 países, venceu dois prémios no festival de cinema de Berlim, que o classificaram como o melhor filme em competição. Venceu mais um prémio no festival de cinema de Las Palmas. - “Rafa”, de João Salaviza, ganhou a competição de curtas-metragens no festival de cinema de Berlim. - O filme português “Sangue do Meu Sangue”, de João Canijo, venceu o Grande Prémio do Júri do festival de cinema de Miami, depois dos 2 prémios no Festival de San Sebastian, em Espanha.
Desporto - O português José Mourinho foi eleito o melhor treinador do mundo em 2010. - Bola de Ouro já premiou três jogadores portugueses, Eusébio em 1965, Luís Figo em 2000 e Cristiano Ronaldo em 2008. - O português Hélder Rodrigues sagrouse campeão do mundo de motociclismo todo-o-terreno em 2011 e ganhou o “bronze” nas edições do Dacar 2011 e 2012. - A dupla portuguesa, Armindo Araújo/ Miguel Ramalho sagrou-se campeã do Mundo de ralis de produção em 2009. Gastronomia - Dois azeites produzidos na Herdade do Esporão receberam medalhas de ouro e prata no CINVE - Concurso Internacional de Vinos y Espirituosos. - 4 vinhos levaram a medalha de ouro e outros 4 ficaram com a medalha de prata na segunda edição do Top Wines MundusVini Biofach 2011. - Dez Vinhos portugueses foram medalhados no China Sommelier Wine Challen.
Literatura José Saramago ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1998. Moda - Na mais importante Feira de Calçado do mundo que se realiza em Milão, Portugal será a segunda maior delegação estrangeira. - Luís Onofre, um designer português, calça personalidades como Michele Obama e Paris Hilton. Tecnologia - A Leo Burnett voltou a ser a agência criativa portuguesa em destaque no El Ojo, festival ibero-americano de publicidade, somou duas “pratas” e três “bronzes” nas competições gerais. Tipografia - Mário Feliciano é o designer criador da tipografia usada em grandes jornais como El País, San Jose Mercury News (EUA), Irish Times (Irlanda), entre outros. Cátia Sá e Patrícia Silva
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“No meio da dificuldade está a oportunidade” | Albert Einstein
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Empresas portuguesas líderes no mercado internacional A
tualmente várias empresas portuguesas destacam-se em diversas áreas de negócio ganhando espaço no mercado internacional. Algumas delas estão no topo das preferências dos consumidores. Outras são já líderes mundiais. Do calçado às tecnologias eis alguns exemplos: Da cabeça aos pés é tudo português A Fepsa, empresa de São João da Madeira, é líder mundial no fabrico de chapéus topo de gama. Por ano são feitos dois milhões em todo o Mundo e 400 mil são produzidos pela Fepsa. Ocupa o 2.º lugar a nível europeu e o 3.º à escala mundial. Já no que toca a calçado, 90 milhões de pessoas no mundo calçam marca portuguesa. Portugal é o terceiro país da Europa na exportação de calçado e o sétimo a nível mundial. As duas empresas fabricantes da marca Lavoro, a ICC-Indústria e Comércio de Calçado, colocam-na entre os 10
maiores produtores europeus de calçado profissional. É especialista na produção de sapatos de elevada componente tecnológica. Também a Kyaia é um sucesso na indústria do calçado em Portugal, difundindo-se pela Europa e pelo Mundo. Os melhores caiaques Os caiaques Nelo são um caso de absoluta liderança do mercado global. Fundada por Manuel Ramos, a Mar Kayaks destina-se à produção semi-artesanal de canoas de alta competição. Atualmente é líder mundial, exportando para cerca de 20 países. Não foi por acaso que nos últimos Jogos Olímpicos os barcos Nelo arrasaram a concorrência, fornecendo 80% das embarcações presentes. A melhor cortiça Portugal é conhecido como o maior produtor mundial de cortiça. Assim, não é de estranhar que a Corticeira Amorim detenha uma posição de liderança, sendo a maior transformadora mundial de cortiça.
O melhor papel O papel de escritório da marca Navigator, produzido pelo grupo Portucel Soporcel, é atualmente a marca mais vendida mundialmente no segmento premium de papel de escritório. O Grupo é líder europeu na produção de papéis finos de impressão e escrita não revestida, passando também Portugal a deter a posição cimeira no ranking Europeu dos países produtores deste produto. As vendas têm como destino mais de 100 países. No turismo, temos Pestana Portugal tem cada vez mais destaque no sector do turismo. O Grupo Pestana é o maior grupo português na indústria do turismo e lazer. Em 2010, foi distinguida como uma das marcas mais valiosas no país avaliada em 104 milhões de euros. Atualmente o Pestana Vacation Club é o 3.º maior no mercado europeu com 94 hotéis e resorts espalhados pela América do Sul, Europa e África. Tecnologias são connosco
Diversas marcas portuguesas cooperam com marcas estrangeiras conceituadas fazendo de Portugal uma referência internacional de e.government. Um desses casos é a YDreams, especialista em tecnologias de interação com foco na realidade aumentada. Desenvolve tecnologias para clientes e parceiros como Nokia, Vodafone, Adidas, Banco Santander e TMN. A empresa que desenvolveu o software para o novo passaporte eletrónico europeu e o novo cartão do cidadão chama-se VisionBox. Foi a primeira do mundo a produzir máquinas de recolha de dados biométricos, com projetos revolucionários como o equipamento para leitura de passaportes eletrónicos. Outro caso é a Fibersensing, que em seis anos passou de “spin-off” tecnológico, a líder mundial desenvolvendo e produzindo sistemas de sensores em fibra ótica. Ana Santos e Patrícia Gomes
Sonae Sierra expande-se para Alemanha e Brasil Linha de produção da Mar Kayaks
Kayaks em maré alta
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riada por Manuel Ramos, a Mar Kayaks, nasceu da paixão pelas provas de canoagem. O fundador da empresa praticava remo e construía os seus próprios barcos. Nuno Ramos, fala-nos do sucesso desta empresa líder mundial em canoas de alta competição. Qual a razão para o fundador ter criado a empresa? O senhor Manuel Ramos praticava remo. Mais tarde, começou a fazer competição e a construir os seus próprios barcos. O negócio foi crescendo, deixando de vender não só para o território nacional, como para o exterior. Em média, quantos barcos são feitos por ano? Atualmente são feitas cerca de 2500 embarcações. Na altura da criação da empresa, pensava que teria tanto impacto e reconhecimento fora de Portugal? Inicialmente não havia essa consciência, mas o sonho sim. A partir do momento em que começou a crescer, o objetivo foi ter
sempre ambição para sermos os melhores do Mundo e tudo era feito para chegar aí. Qual a opinião das pessoas e outras empresas relativamente ao facto da marca ser líder mundial, sobretudo quando sabem que é portuguesa? A reação no nosso País é sempre muito positiva. Veem com orgulho e inovação a nossa marca, fazendo dela reconhecida a nível nacional promovendo também o turismo no País. A divulgação e venda na internet foi o que mais contribuiu para o alargamento da marca? Não foi o essencial fator. O passa-palavra e o contacto permanente com os atletas foi o mais importante. De que forma outras empresas portuguesas, vivendo no atual panorama económico podem conseguir marcar a diferença? Devem apostar na qualidade que é o nosso ponto-chave. Se o produto não tiver qualidade não terá muito sucesso. Inovar, apostar e não ter medo de ser o melhor é o essencial.
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empresa dos centros comerciais Sonae reforça a sua estratégia internacional. Em tempo de crise, Tiago Vidal, Director da Comunicação Corporativa da Sonae Sierra afirma que a empresa está focada em manter a sua estabilidade financeira, contudo aposta no crescimento do seu negócio na Europa e na América do Sul. Quais são as perspetivas para os resultados do 1.º trimestre de 2012? A Sonae Sierra não divulga perspectivas de resultados, no entanto é claro para a Empresa que 2012 será um ano em que a deterioração das condições económicas irão afetar inevitavelmente o nosso desempenho na Europa. No entanto, estamos confiantes de que continuaremos a apresentar resultados positivos, graças em parte à nossa distribuição geográfica, que nos permite estar presentes em países onde o crescimento económico é uma realidade. No Brasil, por exemplo, abrimos recentemente o Uberlândia Shopping e até ao final do ano vamos inaugurar o Boulevard Londrina Shopping. Qual é a estratégia da Sonae Sierra para 2012, considerando a conjuntura de crise? Vamos continuar focados em manter
a nossa estabilidade financeira, aumentando a eficiência operacional, controlando os custos e mantendo as nossas principais competências. Iremos também apostar no crescimento do nosso negócio quer na Europa, com foco na Alemanha e Itália, quer na América do Sul, com foco no Brasil, regiões onde temos 3 centros comerciais em construção (1 na Alemanha e 2 no Brasil). Notícias apontam para uma forte aposta no mercado brasileiro. Além do Brasil, estão outros países da América Latina no horizonte? Para além do Brasil, também estamos presentes na Colômbia desde 2010 onde esperamos ter novidades para apresentar ainda este ano relativamente a este mercado. Como parte da nossa estratégia de crescimento internacional, estamos constantemente a procurar novas oportunidades e novos mercados. Temos uma estratégia de internacionalização que pretende reequilibrar o nosso portfólio a favor de economias de crescimento mais rápido e na América Latina existem outros mercados que apresentam economias com estas características e que podem ser possibilidades para a Sonae Sierra. Diogo Vieira e Raquel Santos
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“O essencial na aprendizagem é a vontade de aprender” | F. W. Sanderson
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Psicologia positiva ajuda a sorrir S
erá a psicologia positiva a chave para combater a crise e solucionar os problemas? Colocámos esta e outras questões à psicóloga Maira Diniz, diretora do centro Saber & Sorrir, para perceber como se pode encontrar “a luz ao fundo do túnel”. O que é a Psicologia do Otimismo? É um movimento muito recente dentro da Psicologia como ciência. Tem como objetivo maximizar as potencialidades do Ser Humano, contribuindo para um sentimento generalizado de felicidade. O que é que esta atividade pode fazer pelo indivíduo? E por uma organização? A Psicologia Positiva funciona como uma espécie de prevenção de doenças mentais, tal como a depressão. Foi desenvolvido um sistema de classificação de aspetos positivos, caracterizados como forças, divididas em características emocionais, cognitivas, relacionais e cívicas. Se o indivíduo estiver consciente das suas forças e virtudes, poderá trabalhar as suas emoções no sentido de se melhorar e ultrapassar as próprias barreiras. Assim, conseguirá ter uma atitude mais positiva nos acontecimentos da vida e melhorar o seu desempenho nas relações pessoais e laborais. É normal que as pessoas passem por fases menos positivas na vida? Em algum momento da nossa vida todos nos sentimos mais em baixo ou nos deparamos
com obstáculos individuais, como o medo, que nos limitam em relação ao nosso bemestar e qualidade de vida. Se estivermos atentos ao comportamento do nosso corpo, somos capazes de nos aperceber que algo não está bem e devemos procurar ajuda de um psicólogo. Acho fundamental que pais e educadores estejam atentos, pois as
“Se o indivíduo estiver consciente das suas forças e virtudes, poderá trabalhar as suas emoções no sentido de se melhorar e ultrapassar as próprias barreiras” dificuldades de muitos adultos têm como base experiências na infância. Quais os métodos que usa o psicólogo para ajudar quem procura melhorar o seu estilo de vida? Tudo depende do que a pessoa queira melhorar e da personalidade da própria pessoa.
Existem imensas teorias e técnicas que se adequam melhor a uma ou a outra pessoa/situação. Pessoalmente, gosto de ter sempre uma boa música ambiente, uso bastantes técnicas de relaxamento e a terapia do riso! Nada como uma boa gargalhada para esquecer os problemas e encontrar novas alternativas. Acha que existe algum tipo de desconfiança face aos resultados deste tipo de atividade? Como em qualquer outra profissão, existem bons e maus profissionais, tal como existem pessoas que não querem melhorar e acabam por afirmar que a culpa é do terapeuta. Por outro lado, a eclosão dos livros de autoajuda vieram, em alguns casos, confundir o papel do psicólogo com outras técnicas de desenvolvimento pessoal. Há uma mistura de ideias e, claro, uma desconfiança generalizada, sobretudo em relação à Psicologia Positiva. O que deve ser feito para fomentar a Psicologia do Otimismo em Portugal? Em Portugal, a Psicologia de uma forma global ainda tem muito para progredir. A Ordem dos Psicólogos é muito recente para conseguir reconhecer bons profissionais e boas formações. Talvez os próprios alunos devessem passar por um processo de acompanhamento psicológico para perceber o que é estar do outro lado. Mais
Psicóloga Maira Diniz
do que instrução é preciso dar educação, ir ao mais fundo das questões éticas e morais. Só assim é possível ultrapassar limitações e maximizar as potencialidades dos futuros profissionais de saúde mental, que será, por natureza, otimista. Daniela Ferreira e Márcio Faustino
Otimismo reflete-se na arquitetura
Arquiteto Jaime Eusébio
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os 10 anos de idade, Jaime Eusébio deixou-se seduzir pelo mundo da arquitetura e da construção civil. A sua tendência para o mundo das artes, bem como a influência do seu tio, construtor civil, conduziram-no à profissão de arquiteto. Para além do seu tio, outra das grandes marcas na juventude do aluno de arquitetura foi o arquiteto Álvaro Siza Vieira que exerceu grande influência no seu percurso. Estava, no entanto, longe de imaginar que viria a ser mais
tarde colaborador do seu próprio mestre em alguns projetos. Participou, entre outros, no projeto da nova Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Na conjuntura atual, acha fundamental que se continue a cultivar o otimismo? Sim, nestes tempos de incertezas várias, é importante ter os pés bem assentes na terra. Não podemos cair no erro de repetir as fórmulas já gastas do pessimismo. Devemos ter sempre presente, como já dizia o poeta, que «o mundo só pula e avança como a bola nas mãos de uma criança». O pensamento positivo e otimista foi primordial, no seu percurso profissional? Na maneira de encarar a resolução dos problemas que se me depararam em cada situação de projeto ou obra, eu delineio certas estratégias de forma a contornar as dificuldades, tendo sempre em vista o projeto final. O que qualquer artista deseja é que tudo corra pelo melhor e se possível sem sobressaltos: quase como quem respira e não se dá conta disso! A ligação a Siza Vieira foi decisiva para impulsionar o seu percurso na arquitetura? Sim, foi fundamental. A “escola” apresentava-se-me distante da realidade prática e profissional. A oficina permite adquirir
princípios, método, rigor, disciplina na abordagem às diferentes situações de projeto e encontrar soluções alternativas, que ainda assim, se ajustassem às propostas desenhadas e às ideias iniciais do projeto. É apologista do velho ditado “Quem não arrisca, não petisca”? Sim, mas com conta, peso e medida, arriscando tão só o possível, de modo a
“Nunca nos devemos vergar perante a ditadura do fácil e do cómodo pela sua cativante bondade de nos ser útil” que as organizações empresariais sejam sustentáveis. Não dando passos maiores que as pernas. Por vezes é inevitável sermos confrontados com situações que exigem respostas prontas, quase em cima do joelho, fazendo jus àquele ditado que por vezes nos caracteriza, enquanto portugueses, de improvisar e nos sairmos quase sempre bem.
Acredita que a criatividade é um fator indispensável em qualquer projeto? Sim, nem que seja transformando partes de ideias já concretizadas em ideias novas. Há sempre riscos quando se pretende rasgar novas autoestradas no conhecimento. Desenho muito daquilo que preciso, nunca nos devemos vergar perante a ditadura do fácil e do cómodo, pela sua cativante bondade de nos ser útil. Perante a força de tanto se pretender inovar, inova-se sempre, lentamente, em pezinhos de lã. Insistindo, o esforço será sempre recompensado. Dará porventura a outros vontade de criticar o artista que dizia: eu não procuro, eu encontro! Criar algo diferente será o segredo para deixar marcas num ramo profissional com tanta oferta? Sim, sempre! Mas que não seja o mero exercício académico de criar algo diferente só por ou para ser diferente, ou algo inútil, sendo contudo muitos os exemplos de “inutilidades” que mais tarde se revelam muito úteis! As soluções por vezes livres de razão e sentido permitem introduzir saltos e ganhos de conhecimento, dados pela inovação e desenvolvimento de novos métodos e tecnologias disponíveis.
Andreia Cunha e Hugo Lopes
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“Otimismo é esperar pelo melhor. Confiança é saber como lidar com o pior” | Roberto Simonsen
5.maio.2012 > Ágora
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De Londres a Malaca Três histórias com saudade Fomos ao encontro de três portugueses com experiências distintas além-fronteiras. Dois saíram de Portugal no âmbito do Programa Erasmus; o outro partiu à aventura para o Extremo Oriente. São três percursos diferentes, com uma sintonia: saudade. Filipa de Jesus, Cátia Candeias e Ricardo Taipa, falam da saudade da família, dos amigos e da gastronomia. Todos partilham da opinião que tomaram a decisão correta em partir do país natal, e não são certamente os únicos. Cada vez são mais os portugueses que se espalham pelo mundo.
1 - Cultive bons hábitos
Ter método e organização é fundamental. Estabeleça rotinas para que seja organizado e não deixe nada por fazer.
Inquérito
Cátia Candeias, 29 anos, natural de Torres Vedras, residiu dois anos em Malaca. 1. Optei por ir para Malaca devido ao espirito de aventureira e viajante. Sempre fui fascinada pelo Oriente e sempre gostei de viajar de mochila às costas. Mas a grande escolha e inspiração de rumar ao Oriente deveu-se à vontade de conhecer a comunidade lusodescendente de Malaca. 2. Fiquei lá aproximadamente dois anos. 3. O custo de vida é menor na Malásia, logo a qualidade de vida torna-se melhor. As culturas são semelhantes. O Bairro Português de Malaca é conhecido como o Portuguese Settlement. É uma comunidade cristã, as pessoas ainda falam um crioulo de origem Portuguesa (oral), possuem grupos folclóricos que dançam música portuguesa e que trajam com sinais evidentes de ligações a Portugal. Continuam as práticas culturais de ligação afetiva a Portugal e possuem uma raiz identitária portuguesa muito forte. 4. No princípio não foi fácil, principalmente por ser mulher. Muitas pessoas não compreendiam porque é que eu estava ali sozinha. À medida que fui conhecendo as pessoas no dia-a-dia, fui-me adaptando à cultura oriental e vice-versa. Acabamos sempre por trocar experiências, por ensinar e aprender uns com os outros. A única coisa a que não me adaptei muito bem foi ter de conviver todos os dias com osgas entre outros bichos, mas com o tempo fui-me habituando. 5. Apesar de ter adorado a Ásia, ponderei sempre voltar a Portugal como “porto de abrigo”. Por ter vivido o saudosismo, por saber o que é estar longe e principalmente por ter conhecido pessoas que se afirmam portuguesas sem nunca terem visitado Portugal, um sentimento de identidade deixado pelos nossos antepassados há 500 anos, sinto um enorme orgulho em ser portuguesa. Por todos estes motivos é sempre bom regressar a Portugal, “home sweet home”, mas também será sempre especial regressar a Malaca pois tenho lá uma enorme família de quem também fiquei com “saudadi”.
1. O que o levou a deixar Portugal? 2. Já se encontra há quanto tempo no novo país? 3. Como compara as realidades dos dois países quanto à qualidade de vida? Quais as principais diferenças que encontrou? 4. A adaptação a um novo país foi difícil? 5. Tenciona voltar a Portugal?
Ricardo Taipa, 38 anos, natural de Vila Nova de Famalicão, atualmente na Polónia. 1. Estava cansado de protestar e sentir-me incomodado com certas situações que não mudavam e não mudaram. Dizem os portugueses que quem não está bem, põe-se. Assim o fiz. 2. Desde 2004 mas conheço o país desde 2001, quando fui estudante Erasmus. 3. Cada vez mais se aproxima de Portugal, mas a Polónia tem um pesado legado do tempo do comunismo: muitos pensionistas, desempregados de longa duração e salários baixos quando comparados com os países mais antigos da UE. Aqui não há subsídios tão favoráveis como no nosso país e muito menos como em Inglaterra, Bélgica, Holanda e Escandinávia. 4. Não, no meu caso não, pois já conhecia o suficiente. Todavia, há sempre algo para aprender e algo de que não gostamos ou com que não nos adaptamos. 5. Sim claro, mas de férias. Não tenciono regressar triunfalmente e construir uma casa com telhado em bico ou aparecer ao volante de um topo de gama com matrícula estrangeira, no meu caso com um PL no lado esquerdo da matrícula.
10 dicas para o sucesso 2 - Seja Realista
As suas metas devem ser ambiciosas mas concretizáveis.
3 - Eleve a autoestima Filipa de Jesus, 28 anos, natural de Lisboa, residente em Londres. 1. Já tinha efetuado o meu Erasmus em Londres e adorei a experiência devido ao contacto com pessoas de culturas tão diferentes, ao reboliço do dia-a-dia, à diversidade de coisas para fazer a qualquer dia da semana. 2. Seis anos e meio de seguida ou sete anos, se contarmos com a experiência de Erasmus. 3. Em Londres uma pessoa com um salário baixo, poderá ter uma qualidade de vida superior, porque os apoios de Estado são um pouco maiores. Mas isso só se aplica para quem já está cá há vários anos e pode ter direito a uma casa num bairro social. Porque se viver com um salário baixo mas tiver que pagar para viver numa casa normal então não lhe restará dinheiro para comer. A acomodação em Londres é extremamente cara. Nesse caso sem dúvida que a qualidade de vida em Portugal será melhor. Se forem pessoas que gostem da vida mais calma, do sol e da boa comida, então estão bem melhor em Portugal onde até poderão comprar uma casa melhor do que com o mesmo valor em Londres. Se forem pessoas que prefiram uma vida agitada, bons bares, teatros, museus, espetáculos, hotéis, etc., então Londres tem mais para oferecer. Aqui existe muito o interesse de se conhecerem novas pessoas pois existem mais pessoas que não são originárias desta cidade. Aqui há mais alternativas para as pessoas se relacionarem: aulas de pintura, grupos de dança, encontros de troca de língua, ir a festas de amigos de amigos. 4. Nada difícil. Pelo contrário, adoro viver nesta nova cidade desde o primeiro dia. Integrei-me muito facilmente. 5. Para já não penso nisso, mas talvez um dia volte.
Raquel Caldas e Sandra Ribeiro
Sinta-se bem consigo mesmo e acredite em si, mesmo que por vezes a sua autoconfiança seja abalada. Não deixe que o medo seja um obstáculo.
4 - Peça ajuda
Com certeza que terá família, amigos ou colegas prontos para ajudar. Estas pessoas podem dar-lhe a motivação que lhe falta.
5 - Seja eclético
A especialização em tarefas é importante, mas quanto mais souber fazer, melhor. Ser perfeito numa só coisa pode tornar-nos bastante limitados nas outras.
6 - Seja dinâmico
Se a sua vida se mantém “estática” por um longo período de tempo, faça coisas novas e invista em novos projetos.
7 - Continue a aprender
Ler e fazer cursos, workshops, especializações são formas de continuar a enriquecer o seu cérebro. Por muito que aprenda, nunca vai saber tudo.
8 - Inspire-se nos vencedores
Avalie casos de sucesso e use-os como referência. Observe mais e aprenda.
9 - Não se esqueça do lazer
Sentir-se bem é fundamental para que o trabalho não seja um sacrifício. Divirta-se e relaxe sempre que puder.
10 - Nunca desista
A persistência é a chave para o sucesso. Enfrente os problemas, altere ou reformule os seus planos, encare os problemas como desafios mas nunca pense em parar. Miguel Santos