Ágora n.º 21

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Suplemento do JORNAL DE NOTÍCIAS, de 13 de JULHO de 2013, E não pode ser vendido separadamente

JORNAL UNIVERSITÁRIO LABORATÓRIO DO CURSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO INSTITUTO SUPERIOR DA MAIA NÚMERO 21

sábado, 13 julho 2013

NACIONAL É BOM E RECOMENDA-SE

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CHEFES DÃO RECEITA PARA A CRISE

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ciência no bacalhau PÁG 5

PAREDES A MOBILAR O MUNDO PÁG 6

FRUTA NO PONTO! COM CHIP PÁG 7

PASTÉIS DE NATA ADOÇAM O MUNDO

Última

DEBATES PORTUGAL É A NOSSA PRIMEIRA ESCOLHA. UM PAÍS, UMA CULTURA, VÁRIAS TRADIÇÕES.

NO ESPAÇO IBERO-AMERICANCANO


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2 // tradições

linha curva INFORMAR E PARTILHAR Luís Humberto Marcos Há quem diletantemente só goste de produtos estrangeiros. E há quem provincianamente teça loas a tudo o que é nacional. Nem uma nem outra atitude nos move, neste número especial do Ágora. Fomos à procura de exemplos que justifiquem o lema: nacional é bom e recomenda-se. Partindo de tradições, na indústria, no artesanato, na gastronomia, na investigação e noutros campos. Os jovens jornalistas foram investigar. Nem sempre com sucesso, mas sempre com uma preocupação: levantar o véu às coisas. E aí está um conjunto de reportagens e entrevistas que justifica o objetivo do projeto. São apenas alguns exemplos que, embora menos falados, não deixam de fazer jus à qualidade da marca portuguesa. De novas aplicações das rendas de bilros aos pasteis de Belém cada vez mais exportáveis, passando pelo mobiliário que se espalha pela Europa e pela investigação que descobre aplicações de espinhas de bacalhau ou de chips para a fruta, há um longo desfiar de áreas em que o nacional é bom. Descubra o leitor outras marcas de Portugal onde impere a qualidade e a distinção. Partilhe-as connosco. Envie as suas novidades. Através do Ágora Digital trataremos de ampliar a difusão. Assim se cumpre outro objetivo do jornalismo, além de informar: partilhar.

ficha técnica EDITOR: Luís Humberto Marcos (Coordenador do curso) COORDENADORES: Catarina Brás, Patrícia Raquel Gomes REDAÇÃO: Ana Isabel Santos, Ana Rocha, André Rodrigues, Catarina Brás, Daniela Ferreira, David Costa, Diogo Leite, Fábio Ribeiro, Filipa Vieira, Hugo Lopes, Inês Correia, Luís Afonso, Patrícia Raquel Gomes, Patrícia Teixeira Silva, Raquel Santos, Raquel Sousa GRAFISMO: Cláudio Carvalho PAGINAÇÃO: Criativos Porto ENDEREÇO: Instituto Superior da Maia Av. Carlos Oliveira Campos Castêlo da Maia 4475-690 Avioso S. Pedro Tel. (351) 22 982 53 19 / Fax. (351) 22 282 5319 ONLINE: www.agoradigital.ismai.pt www.ismai.pt - info@ismai.pt facebook.com/jornal.agora IMPRESSÃO: Naveprinter ISBN 978-989-8609-05-2

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Rendas de Bilros entram nas jOias

Inês Correia | Raquel Sousa

JORNAL ÁGORA

sábado 13/07/13

Estaleiros:

Poucos, mas bons Ana Santos | Patrícia T. Silva

Zona dos Estaleiros de Vila Conde

D

Os bilros mostram a complexidade da arte

epois da conquista na alta-costura, as rendas de bilros entram no campo das joias. Fomos conhecer este projeto a Vila do Conde.

Fernando Barroso, joalheiro de Vila de Conde, conta-nos como surgiu a nova ideia na produção das suas joias. O objetivo é inovar no mercado, criando peças diferentes daquelas que se produzem em Portugal e no estrangeiro. Da ideia passou à prática, através da parceria com a Associação de Artesanato dirigida por Saraiva Dias. O presidente, em conversa com o Ágora, no seu gabinete, realça que esta iniciativa permitiu “salvaguardar e relançar as rendas de bilros num período de decadência, quando corria o risco de desaparecer por falta de incentivo às nossas

aos dias de hoje, no que concerne ao trabalho com joias, confessa-nos que trabalhou apenas com fio de algodão e prata, mas que se sente preparada para trabalhar com outros materiais, como é o caso do ouro. Quanto à quantidade de bilros utilizada para este tipo de trabalhos, explica que “o montante de bilros depende sempre do desenho.” É necessário testar a redução de bilros para facilitar o trabalho. Atualmente, podemos perceber que as joias estão presentes em algumas lojas pertencentes a Fernando Barroso. No entanto, pelo

“Umas vezes elas trabalham o próprio fio de prata e elaboram toda A peça. Outras vezes, executam a renda nos materiais tradicionais, algodão ou seda, e o joalheiro incorpora essa renda nas peças que produziu”Presidente da Associação DE ARTESANATO mulheres que trabalham nesta atividade há séculos”. Em conjunto com Fernando Barroso, joalheiro, esta ideia deu novos passos, através de uma linha própria com peças únicas. No Museu de Rendas de Bilros trabalham rendilheiras. Vemo-las a dedilhar as suas almofadas, peças únicas, executadas através do ouro e da prata - metais de eleição – ou do linho e do algodão em sintonia com as rendas de bilros. Só através do trabalho feito pelas mãos destas rendilheiras de Vila do Conde é possível a criação de peças únicas. Maria da Guia, rendilheira há mais de meio século, considera que “aplicar as rendas nas joias e na roupa foi um avanço na sua carreira porque requer uma maior concentração”. Até

país fora, pode encontrar-se as ditas joias em exposições nacionais e internacionais, em países como Espanha, Itália ou nos EUA. “O projeto tem gerado uma grande curiosidade por parte das pessoas e interesse nos clientes”– diz-nos Fernando Barroso. Para o futuro, a Associação pretende continuar com o caminho traçado: o contacto com o exterior e a promoção das rendas dentro e fora do país. As joias continuarão a ser expostas nacional e internacionalmente, em vários locais, ao longo do ano. Quem tiver curiosidade, pode mesmo deslocar-se até Vila do Conde para conhecer o trabalho das rendilheiras no Museu de Rendas de Bilros.

A construção naval em Vila do Conde continua a ser uma arte que valoriza o concelho. Tal como as rendas de bilros. A diferença entre ambas em termos de produção é, todavia, enorme. Nos estaleiros é evidente a falta de clientes. Dizem-no empresários e trabalhadores. Sérgio Abrunhosa, diretor da empresa Barreto e Filhos, Lda., afirma-nos que “a qualidade do trabalho dos estaleiros mantém-se, tendo mesmo melhorado significativamente, devido à introdução do alumínio no processo produtivo.” O problema está na falta de encomendas. Na sua opinião, “faltam incentivos à renovação da frota pela construção de novas embarcações.” Do lado dos trabalhadores ouvem-se também lamentos. A falta de clientes tem estado na base da redução de pessoal. Fernando Menezo, de 61 anos, carpinteiro naval há 42 anos, diz-nos: “No meu tempo de jovem, trabalhava num estaleiro naval onde éramos cerca de 122 pessoas, hoje em dia nem chega a metade, somos aproximadamente 30.” As mudanças são também evidentes nos materiais usados. “Antigamente as embarcações eram feitas de pinho, o trabalho era mais árduo e exigia mais mão de obra.” Fernando Menezo acrescenta que “hoje em dia, não existem jovens interessados nesta área, porque é uma arte muito pesada e pouco compensatória”. Vítor Barreto, 36 anos, trabalhador há 22, conta ao Ágora que a introdução das tecnologias no setor “tirou muito trabalho prejudicial à saúde dos trabalhadores.” Apesar das mudanças verificadas, considera que “o trabalho dos estaleiros faz parte do património de Vila do Conde”. Não obstante, a qualidade impera e “exportase”. As palavras são de Fernando Menezo: “Produzimos e exportamos estaleiros para as ilhas, nomeadamente para uma empresa nos Açores”. Explicando o percurso, acrescenta: “ os estaleiros fazem-se aqui, dirigem-se por via marítima para Matosinhos e têm como etapa final o arquipélago.”

Reparação de barco nos estaleiros


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gastronomia // 3

DE TRÁS-OS-MONTES PARA O MUNDO Filipa Vieira | Daniela Ferreira

O

s dois chefes partilham da mesma região onde nasceram, assim como o amor pela arte da cozinha. Estes dois nomes de referência da culinária em Portugal não negam nunca as suas raízes transmontanas e fazem questão de implementar o sabor bem português que nos caracteriza.

Um chefe “hiperactivo”

Contudo, o chefe preocupa-se com a qualidade dos seus pratos, principalmente tornando-os saudáveis. Utiliza “sempre produtos frescos, com base na dieta mediterrânica” e acredita que “o essencial para uma alimentação saudável é ser variada, com conta, peso e medida”. Atualmente é diretor de restauração do Altis Belém Hotel & Spa, em Lisboa.

“Irreverente e apaixonado pelo que faz”. É assim que o chefe Cordeiro se caracteriza. Foi em Ayr, na Escócia, que se tornou chefe quando foi convidado para orientar a cozinha de um restaurante italiano. Em entrevista ao jornal Ágora, o chefe transmontano revelou um pouco da sua experiência profissional. Aos “oito ou nove anos” viu-se sozinho na cozinha e colocou “as mãos na massa”, fazendo croquetes, rissóis de camarão e bolinhos de bacalhau, tornando-se oficialmente o “primeiro prato”. Ainda jovem, partiu à descoberta e iniciou a construção da sua carreira fora de Portugal.

“Hoje em dia, os jovens já não pensam desta forma, tudo lhes aparece de mão beijada” Escócia, Suíça, Inglaterra e França foram alguns dos países que inspiraram o chefe português. “É importante conhecermos todas as realidades que nos rodeiam e também haver uma troca de conhecimentos entre pessoas com diferentes culturas de trabalho”, referiu. Na sua passagem por França, algo de caricato aconteceu: dormir dentro de uma cabine telefónica, facto que mudou a sua vida: “Ensinou-me que a vida nos dá todas as coisas que ambicionamos, se lutarmos e trabalharmos para elas”. “Hoje em dia, os jovens já não pensam desta forma, tudo lhes aparece de mão beijada. Um chefe de cozinha hoje tem de sair para fora de Portugal pelo menos quatro anos. Só assim terá uma visão diferente do país onde vive”, rematou. Todos os dias esforça-se para criar uma gastronomia genuína e sempre baseada nas suas origens transmontanas.

Raízes transmontanas

“Tenho as tradições culinárias transmontanas nas minhas memórias mais enraizadas. É uma região que está em mim, o que acaba por se refletir nas minhas criações. Nos pratos que diariamente confeciona utiliza azeite transmontano pelo “respeito por produtos da região”. Para além de utilizador dos produtos transmontanos, é também defensor dos produtos nacionais, porque acredita que ”somos um país completo no que toca à variedade de produtos, temos ótimo peixe e marisco, carnes de origem protegida”, frisou.

Chefe Cordeiro

Chefe Justa Nobre e chefe Cordeiro. Dois nomes, dois chefes, a mesma origem.

Uma chefe em família Sapidez, oceânico, mediterrânico. Estes são os sabores que Justa Nobre define em algumas das suas receitas. “Cozinhar, para mim, era tão natural quanto brincar”. Desde bem pequena que a chefe partilha do gosto pela culinária e era em família que Justa ganhara esse gosto especial enquanto cozinhava com a sua mãe e as tias. Na fase inicial da sua carreira, o seu principal interesse era variar a ementa, e, por isso, procurava produtos que não existissem, abrindo assim novos horizontes à inovação e invenção de novos pratos. A chefe procura implementar a gastronomia portuguesa nos seus pratos e busca a sua inspiração na família e amigos. “A minha maior inspiração é o amor que tenho pela cozinha e a alegria de ver os meus clientes e amigos felizes com o que comiam”, refere. É em família que a chefe tem agora o seu restaurante. Em tempos de crise, Justa Nobre considera não ser necessário comer sempre robalo, cherne ou bife do lombo. Ainda é possível preparar-se pratos ricos em qualidade e diversidade com carne ou peixe de valores mais acessíveis.

Chefe Justa Nobre

“Domingos à mesa”

O chefe Cordeiro lançou recentemente um livro intitulado “Domingos à mesa” com sugestões de receitas para “reunir a família e aproveitar o momento” com o principal objetivo de mostrar novas técnicas e paladares que se inspiram na cozinha tradicional portuguesa. “O aspeto mais importante em todo o livro é o “MOMENTO”. Tem a ver com o PARAR. Temos de refrear a nossa vida quotidiana e viver um pouco, com a família, com os amigos, etc. Este livro é apenas isso”, conta Cordeiro. Estes são dois chefees transmontanos que nunca esqueceram as suas raízes e que agora são vistos como referências da cozinha em Portugal.

As minhas receitas para Cozinheiros Amadores chefe Cordeiro - Edições do Gosto

Sugestão de receita low cost do chefe Cordeiro em dias de crise para os leitores do Ágora Salada de queijo fresco e requeijão com alfaces variadas Ingredientes 250 g tomate 200 g queijo fresco 200 g requeijão 100 ml azeite virgem 100 g agriões frescos 100 g rúcula 20 g rebentos de ervilhas 50 g alface escarola 100 g alface normal 100 g alface romana 60 ml vinagre de vinho tinto 5 g sal fino 5 g “or de sal de Castro Marim

Preparação Cortar os queijos aos cubos. O requeijão terá de ser cortado em cubos maiores, porque se parte mais. Cortar o tomate aos cubos de 1 x 1 cm e reservar para a montagem. Lavar cuidadosamente as alfaces e juntá-las numa saladeira grande,em camadas, com muito cuidado para não quebrar. Fazer um molho vinagreta juntando o azeite, o vinagre e o sal fino. Colocar os cubos de queijo e de tomate e finalizar com os rebentos de ervilhas. Temperar com a vinagreta e a “flor de sal apenas quando levar a salada para a mesa. Serve como entrada ou acompanhamento de outro prato.


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4 // ENSINO E investigação

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afinal para que

servem as espinhas de bacalhau?

É

André Rodrigues | David Costa | Fábio Ribeiro

possível que o seu protetor solar seja feito de espinhas. E até a sua pasta dentífrica pode ter a mesma origem. Três investigadoras descobriram as propriedades deste peixe. A nível biomédico, as espinhas de bacalhau podem ainda servir para próteses.

15 anos a ensinar arte e tradição Aula do curso de culinária

Ana Rocha | Luís Afonso Situada no Porto, a escola ABC dedica-se ao ensino da arte e da tradição. Surgiu de uma ideia de uma ex-professora primária e de dois economistas que, amantes da arte, decidiram conciliar essa paixão com uma oportunidade de negócio pouco explorada na cidade. Esta instituição conta já com 15 anos de existência e um vasto leque de cursos sobre a arte e a tradição portuguesas. É num ambiente de tradição e de decoração rústica, que os alunos e formadores acabam por criar fortes ligações de amizade, num contexto de ensino “quase familiar”.

Os cursos variam entre 1 e 8 aulas e rondam os 35 € e os 210 € Maria Manuela Carvalho, diretora da escola, conta-nos que a experiência nem sempre foi fácil, mas que “com amor e dedicação tudo se torna mais simples”. Pela escola passaram já várias centenas de alunos que, segundo a diretora, “ao terminarem os cursos sentem-se realizados e muitos deles acabam por abrir os seus próprios negócios”. Alguns dos formandos de culinária, uma das áreas mais procuradas, desenvolveram “serviços de catering e negócios próprios como pastelarias”, acrescenta. Para além de culinária, existem outros cursos como artes florais, prova e seleção de vinhos, bordados, arraiolos e artes decorativas, o segundo com maior número de alunos. Esta variedade de ensino tem

evoluído à medida que os gostos e necessidades da população se alteram. A abertura do curso sobre Sushi, mais recentemente, segue esta tendência. Victor Carneiro, chefe de culinária, formado pela Escola de Hotelaria do Porto, dá aulas na ABC desde a sua abertura. O curso de culinária para iniciados é constituído por oito aulas de três horas semanais onde, a cada aula, se confecionam diferentes entradas, pratos de carne, peixe e sobremesas. No dia da reportagem em que o Ágora teve oportunidade de conhecer a escola, a ementa foi: sapateira recheada, rosbife com pastéis de esparregado, espetadas de tamboril e tarte de maçã. Ligam-se os fogões e mãos à obra. As alunas colocam os aventais e participam na confeção dos pratos, sempre com as instruções e acompanhamento do chefe. No final, aquilo que foi preparado é servido aos formandos. Trata-se de um ensino não académico. As pessoas que se inscrevem não pretendem, necessariamente, melhorar o seu currículo profissional, mas sim aperfeiçoar as suas competências pessoais. O principal conceito desta escola é aperfeiçoar as várias técnicas e, simultaneamente, proporcionar momentos de entretenimento e convívio. Os alunos são de diversas regiões. Tal como refere o chefe Victor Carneiro, “há alunos da Póvoa de Varzim, Caminha e até de Coimbra. Madalena, 22 anos, recém-licenciada em Nutrição, conta que decidiu inscrever-se no curso de culinária para “aprender e aperfeiçoar pratos mais elaborados”. Vê na escola um incentivo para chegar a casa e aplicar o que aprendeu nas aulas. Não há limite de idade para frequentar a escola. O único pré-requisito é a vontade de aprender.

Investigadoras Paula Castro, Manuela Pintado, Clara Piccirillo

Clara Piccirillo, investigadora, retira as espinhas do bacalhau e leva-as ao forno a temperaturas altíssimas. A amostra fluida é, depois, submetida a um aparelho centrifugador para promover a separação dos componentes de diferentes densidades. Surge então o pó branco, cientificamente chamado de hidroxiopatite. Foi assim que começou o projeto, onde a valorização de algumas componentes surgem como o sub produto de bacalhau, nomeadamente as espinhas. Estamos na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto. Foi aqui que o Ágora encontrou um grupo de investigadores que submeteram as espinhas de bacalhau a temperaturas superiores a 600 graus Celsius. A nível biomédico, esta descoberta pode servir para produzir próteses ósseas e dentárias, entre outras aplicações, como pastas dentífricas e protetores solares. Manuela Pintado, investigadora, diz-nos que neste momento existem várias soluções das aplicações biomédicas com hidroxiopatite

sintética. “O que se pretende é fazer uma avaliação, para demonstrar a biocompatibilidade destes materiais”, afirma. Paula Castro, também investigadora da mesma instituição, salienta que o processamento do bacalhau gera até 40% de subprodutos com potencial superior ao destino que agora lhes é dado. O momento em que as investigadoras verificaram que o projeto tinha pernas para andar foi quando se extraiu a hidroxiopatite da espinha de bacalhau. Ao ser tratada com diferentes soluções, verificou-se a obtenção de compostos com propriedades e aplicações diferentes. Não se esgotam as aplicações no domínio da biomédica – implantes dentários e aplicações ambientais é o que se espera que tenha potencial para estar no mercado internacional muito brevemente. No que toca ao futuro, este centro de investigação pretende continuar a explorar a possibilidade de extração de compostos com valor acrescentado de subprodutos de várias origens.

Processamento das lascas


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exportador // 5

100% Nacional 99% DE Exportação P

o setor mobiliário Catarina Brás

aredes resiste ao cenário de crise. Empresa familiar de mobiliário exporta quase toda a produção para a Europa. Estamos a falar da ASFgroup, situada em Vilela, Paredes, criada há 67 anos. No começo, a produção limitava-se a mesas extensíveis. Hoje a fábrica faz todo o tipo de mobiliário.

Instalações da empresa ASF Group em Vilela - Paredes

Madeiras de qualidade superior, cerejeira americana e francesa, carvalho e outras diversas. São algumas das matérias-primas utilizadas na produção. Elsa Teixeira, chefe do departamento do produto, recorda que “começaram com um espaço muito pequenino, que tinha a largura e o comprimento de um carro muito pequeno”. Atualmente, a área de produção conta com 15 000 m2. Logo à entrada percebe-se a diversidade de mercados da empresa. Aqui ouve-se francês,

ambiciosos. Um deles é uma marca criada recentemente, ASF Home, que será uma maisvalia do produto. Esta criação deve-se à verificação que sem qualquer marca de renome, com peso no mercado, unicamente concorreriam com países como Itália, pela qualidade e baixo preço. O principal objetivo da empresa é sair da sua zona de conforto, alargando o seu negócio para

15 000m

2

Elsa Teixeira “o principal cliente é o mercado francês” mais adiante, um agente comercial fala com um cliente espanhol, e noutra sala deduz-se que o cliente será alemão. Os mercados criaram exigências. Elsa Teixeira assinala 2013 como o ano de “viragem radical no grupo” perspetivada para 2014. A ideia passa por migrar o produto para novos mercados, com o olhar centrado nos emergentes BRIC (Brasil, Rússia, India, China, África do Sul). Para isso, a ASF encontra-se a investir em dois projetos em paralelo bastante

de área produção

100

funcionários

10

Linhas de produção

20

Carregam por mês +/- 20 camiões

1

loja outlet (excedentes de produção e protótipos)

fora da Europa. A ASF Home está dividida em três departamentos: clássico, contemporâneo e de autor. Os dois primeiros visam ser os produtos mais vendidos, o outro terá peças exclusivas assinadas por autores, um deles será a designer Eva Almohacid.

“2013 viragem radical no grupo” Posteriormente será criada uma linha mais limitada e personalizada de luxo extremo, como é o caso de uma destas peças, que será futuramente apresentada no Dubai. A outra grande aposta é na Furniture Hotel, uma marca reconhecida internacionalmente na produção de mobiliário para cadeias hoteleiras de renome. O negócio mais recente é o Hotel Riu Plaza Berlin. A marca foi adquirida pelo grupo ASF no final do ano passado, ao contrário da ASF Home, onde o que predomina é a criação, aqui é exclusivamente a produção. Atualmente a ASF encontra-se na terceira geração com uma elevada faturação anual, com uma constante aposta no futuro, na inovação e a ganhar terreno de dia para dia no mercado internacional.

em portugal Em períodos de recessão, verifica-se uma quebra acentuada no consumo de bens e serviços, onde se enquadra o mobiliário. “Trata-se de um setor que, até há pouco tempo, estava bastante dependente do mercado interno e, por força da conjuntura adversa, viu-se obrigado a orientar os seus recursos para a internacionalização”, diz o diretor executivo da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins. Portugal é o 21.º produtor a nível mundial. A intensificação dos esforços de internacionalização que apareceram a partir de 2010, devido às circunstâncias adversas encontradas no seu mercado interno, enfrenta um processo moroso e extremamente custoso de afirmação além-fronteiras. Este cenário generalizado foi agravado pela descapitalização por parte das empresas e pela imagem de um país frágil iniciado aquando da intervenção da Troika. De acordo com os dados mais recentes, as exportações de mobiliário e colchoaria cresceram 6% entre janeiro e novembro de 2012, em termos homólogos com o ano anterior, para 1 007 milhões de euros e 138 países. Estes dados apontam para “um ano recorde”. Actualmente, o comportamento do comércio mundial deste sector está fortemente dependente do impacto da crise da dívida soberana dos países da zona euro. Fonte: APIMA - Análise de Conjuntura


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6 // inovação

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Fruta com chip

Que tal saber se a fruta está madura pelo telemóvel?

U

ltima-se, em Óbidos, uma aplicação tecnológica que vai permitir aos fruticultores saberem se a fruta está madura para a colheita. O Ultracarpo é desenvolvido pela empresa Impactwave. Diogo Leite | Hugo Lopes

Esta aplicação, direcionada para os smartphones, requer a instalação de dispositivos de ultrassons para permitir ao agricultor perceber o estado de maturação das frutas. Para Ricardo Cardoso, um dos mentores da Ultracarpo, a sua empresa sempre primou pela criação de novas tecnologias que simplificassem a atividade profissional dos seus clientes. “A Impactwave tem vindo a desenvolver várias tecnologias,

Ricardo Cardoso explica que em Portugal ainda não existem condições para que estes produtos tenham muita saída e, por isso, “a ultracarpo foi concebida a pensar a nível mundial.” No entanto, este engenheiro afirma que “Portugal tem imenso potencial como local para desenvolvimento de protótipos”. Na sua opinião, o mercado não lhe garante o retorno no investimento que é feito. “Terão, no entanto de ser pensados para uma comercialização a nível mundial, porque o mercado nacional acaba por ser pequeno e só por si não traz retorno suficiente”, garantiu. Em condições normais, atendendo a um mercado com grande procura e tempo de produção muito limitado para poder satisfazer as necessidades da população, os técnicos agrícolas são forçados a aumentar o “brix” dos seus produtos. Consiste nos níveis de açúcares que são manualmente adulterados para que a colheita seja feita o mais breve possível. Com a aplicação do Ultracarpo este recurso prejudicial será cada vez mais deixado para trás. Agora, existe a possibilidade de o produtor ver o seu trabalho facilitado. A nível técnico, esta aplicação permitirá o registo de informação do estado do alimento. Ao nível dos distribuidores, serão beneficiários da possibilidade de elaborar testes sem perdas e, depois de ser vendido, o produto será acompanhado de uma ficha técnica que relatará todos os processos

O lançamento comercial da ultracarpo estava previsto para este ano, mas foi adiado para 2014. As razões são dadas pelo responsável da empresa, Ricardo Cardoso: Panorama económico e necessidade de reforço dos testes de eficácia junto de fruticultores. algumas utilizadas por organismos públicos para gestão documental, mais recentemente sistemas de digital signage, e aplicações para a área da medicina, sendo que os objetivos principais foram sempre a simplicidade, eficiência e melhoria de procedimentos”, afirma ao Ágora.

Aplicação Ultracarpo

que o alimento passou. Por último, o consumidor: serão garantidos produtos com maior qualidade, grau de maturação mais definido e um sabor diferente. No que toca à experimentação da aplicação, Ricardo Cardoso revelou não existir uma versão disponível para comercialização, somente o protótipo. Os testes efetuados até à data foram feitos no âmbito do desenvolvimento de um protótipo que irá ser disponibilizado aos produtores. Este projeto reconhecido a nível nacional foi galardoado com dois prémios no Concurso de Empreendorismo Arrisca C, atribuídos pela SONAE e pela IDD (Incubadora D. Dinis). O potencial da aplicação suscitou o interesse de várias entidades agrícolas, permitindo o desenvolvimento de parcerias adequadas à afinação do produto para o mercado.

A Impactwave tem sede no Parque Tecnológico de Óbidos, e direciona a sua atividade para as Tecnologias da INFORMAÇÃO. Desenvolve multiplataformas para desktop, internet ou dispositivos móveis, com aplicações interativas. produz websites, jogos multi-plataformas interligadas com sensores ou interfaces táteis.

2014

I A ISM / 2013

to Institu

Maia a d r o uperi

S

ATIVA

FORM A T R E OF

imédia e Mult icação --Ar tes Comun a d s ia --Ciênc e billidad a t n --Co

r to inologia Despo --Crim ísica e F o ã ç a o is --Educ Trabalh nováve a ça do ias Re n g a r r guranç e u e n g E S -de Se nte e ie ia r b a m h n ,A --Enge alidade da Qu o ã t s s e a --G mpres o de E --Gestã rketing anos de Ma o ã t s s Hum e --G ecurso R e d o --Gestã spor to do De o ã t s --Ge

estão a de G ic t ões á m unicaç --Infor elecom T ia e g lo o açã --Psico omunic s de C e d e R s blica ftware o e So ões Pú ã ç ç la a e m R -e Infor mas d dia --Siste ultimé ação M adoria ic it n c u li o m --S de Co logias --Tecno mo --Turis

t

i.p a m s i . www pos ira Cam os Olive ro d e P . Av. Carl S o 0 Avios 9 -6 5 7 4 4 71 9 866 0 Tel.: 22 331 5 2 8 9 14 Fax.: 22 8 202 2 t zul.: 80 ismai.p @ s Linha A ra tu cia n e c li .: Email


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negócios // 7

desembrulhe

Ora tome ,

e coma uma nata

O

mundo precisa de nata” é a frase adoptada pela “Nata Lisboa” – o novo negócio de franchising português que tem como objectivo levar os pastéis de nata aos quatro cantos do mundo. Neste caso concreto, a ideia de Álvaro Santos Pereira (ministro da Economia) em internaciointernacio nalizar os pastéis tipicamente portugueses não caiu no ridículo e foi mesmo levada à risca pela empresa beBusiness, responsável pela criação deste negócio.

Patrícia Raquel Gomes | Raquel Santos Do lado de fora da loja do Porto, em plena rua de Santa Catarina, um toldo azul escuro chama a atenção: “the world needs nata”. A imagem e ambiente acolhedor apelam à entrada. Seja simples, ou polvilhado com açúcar e canela, ninguém resiste ao pastel que só Portugal tem, mas que na realidade todo o mundo já conhece. O dia está frio. A chuva parece querer inundar a cidade. Vamos comprovar a fama do pastel e estar à conversa com Joana Seixo, proprietária da terceira loja que abriu recentemente. Joana conta que viu a apresentação da marca na televisão e por achar a ideia interessante, resolveu aderir e aventurar-se no negócio juntamente com o marido. “Nós vimos a apresentação da Nata Lisboa no canal SIC Notícias e gostámos imenso da marca, por isso resolvemos aderir.” Quanto à receita, nada falha. “Foi uma receita que foi criada em conjunto com pasteleiros especializados e que depois é exatamente a mesma para todas as lojas.” Para garantir o mesmo sabor, Joana Seixo revela: “Para o sabor ser exatamente igual, os pastéis são distribuídos todos desde o mesmo ponto e depois são cozidos. Só assim é possível garantir o mesmo sabor do pastel.” O espaço, não muito grande, conta com uma ambiência acolhedora e algo familiar que, por qualquer razão, faz a pessoa ter vontade de sentar-se numa das mesas e provar o clássico pastel e um café bem

Fotos DR

Actualmente, a aposta em modelos de franshising está a crescer e à semelhança de outros negócios do género, a nata lisboa é uma marca pronta a ser franchisada e replicada em qualquer parte do mundo. O primeiro espaço abriu em 2012, no Príncipe Real e o segundo na Bica em Lisboa. Desde então, tem despertado a atenção das pessoas.

quentinhos. No final, a vontade de repetir e trazer a caixa de seis é mais que muita e, por norma, é o que costuma acontecer com quem por lá passa. A recetividade do público tem excedido as expectativas iniciais. “Como gestores da marca aqui no Porto, a receção tem sido ótima” e Joana confirma que “as pessoas vêm cá e já pedem para levar a caixa de seis pastéis. Não sei se é pelo espaço ou pela aparência, mas é o que acontece. Também pelo conceito da marca, as pessoas ao virem cá já sabem que somos especializados nisto e aderem muito”. Embora aberta há pouco mais de três meses, Joana acredita que abrir a Nata Lisboa no Porto foi uma boa aposta, mesmo dentro da conjuntura económica que atualmente se vive no país. “Diariamente são bastantes as pessoas que se deslocam até à loja e por dia, saem do forno uma média de 500 a 600 pastéis.” Quanto ao futuro, revela que a marca pode vir a ser o primeiro franchising português de projeção económica mundial. “O objetivo da marca é sem dúvida a internacionalização e a abertura de muitas mais lojas.” Ainda no segredo dos deuses, como diz a proprietária, estão por revelar os próximos locais a abrir brevemente. O que se sabe para já é que serão abertas mais seis lojas: quatro em três cidades portuguesas e duas em duas cidades europeias. Enquanto isso, se é de Lisboa ou do Porto sempre pode vir provar os pastéis que prometem adoçar o mundo.

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I A ISM 20 2013/

aia M a d IVA ior T r A e p M u R to S FO A T R Institu E F

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8 // ibercom & confibercom

JORNAL ÁGORA

sábado 13/07/13

DEBATES no espaço ibero-americano Várias atividades realizadas nos últimos dois meses mostraram a integração do ISMAI, instituto universitário, no espaço ibero-americano. As fotos documentam. ISMAI, Santiago de Compostela e Funchal são os locais de acolhimento das diversas iniciativas internacionais integradas nas Ciências da Comunicação. Algumas delas serviram para lançar o Ágora Digital.

Mesa 2º Fórum CONFIBERCOM ÁGORA D IG

ITAL - ag ora

na, Barcelo ade de id s r e iv Un dora da vestiga digital in t, e u q ra Rosa Fra da para o ágo ta is v re t n e

Intervenção de Vicente Jimenez, director-adjunto do El País, transmitida em livestream

Enrique B us para o Ág tamante, Univers ora Digit idade Co al mpleten se de Ma drid, entr evistado

Simone Duarte, editora online do público

digital.is

mai.pt

Miquel Morag as, de Comunicaç Presidente da Assossiaç ão Espanhol ão no 2º Fóru a de Investig m CONFIBER adores COM

na MAI), lançado

dição IS XI IBERCOM (e Livro de atas do eira Mad Universidade da

Ingrid Steinbach, directora da Faculdade de Humanidades e Comunicação da UPSA - Bolívia na assinatura do protocolo com o ISMAI

Margarita Anto da Univers n-Crespo , Directo ra idade Valla dalid, com do curso de Ciência s da Comu Bruno Reis nicação (ISMAI)

Reitoria da

Helder Bastos (UP), Mig uel Coutinho (JN) e Vicent e Jimenez (El País)

Alunos e professo res do IS realizad MAII pa o no fin rticipara a l de maio Ao todo m no XII , na Univ mais de I Congre e r s id v sso IBER in a d t e. Com c A este n e de San COM, ível, a de omunic t iago de a le ç C ões e co gação d o m resentaç p o stela. o ISMAI bertura ão unive jornalíst singular rsitária d cobrir o ic iz o a . u o -s espaço e como evento c ibero-am a única om equ no JN) e repericano ipas de o Ágora q r u e p e o a rtagem. postou Digital fo de jorna em A impre ram os e lismo. nsa (um spaços d a Experiên p e á g e ina xperime cias idên ntação d ticas já h (2009), r o s a lu a v nos iam sido ealizado concret na Univ decorre iz e rsidade adas no ra na Un da Mad XI IBERC iversida eira, e n OM de de Se o IX IBER vilha (20 C O M 06). que


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