Ecce Mulier Clara Gianni
Há similitude No ar que atravessa o peito e arranha os pulmões à primeira inspiração Na flecha que deixei apontarem contra o seio No choro da recém-nascida No arco em riste pronto a me alvejar Aquele que coloquei em tuas mãos. Rest energy. “Não me deixe voar para além de ti”, supliquei um dia, sem saber. A ninguém em particular, a qualquer uma: “Não me deixe sair da gaiola”. Há similitude No choque da casca do ovo despedaçado No respiro ansioso e entrecortado que anuncia meu despertar diário Na danação eterna de bancar a própria vontade Na condição de existir em um corpo solitário Longe das paredes uterinas que um dia habitou A prover sua fome e sua sede A prover seu lar.
Como pude parir esta pobre criança Como pude entregá-la ao humor de estranhas e fugir pela noite? Uma mãe sem filha Uma filha sem mãe A arrastar asas pelo chão Um passarinho sem grades, sem rumo.