Revoada

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Mãe solteira

Laiane Guedes

Estou falando do escritório onde trabalho, este é meu primeiro emprego e só o consegui depois que abandonei a vida de casada. Na verdade, antes desse emprego de recepcionista eu acreditava que só sabia ser dona de casa. Estou com 27 anos, dois filhos, um gato e uma cadela para criar, meu ex-marido me traiu com a filha da vizinha que morava na mesma vila que nós. Minha mãe me ajuda como pode, leva as crianças para a escola e cuida delas até eu voltar do trabalho. Ainda sofro muito pelo Bernardo, mesmo depois da separação. Ele foi meu primeiro namorado e único amor. Minhas amigas comentam comigo sobre uma possível reconciliação, mas dentro de mim algo diz que a vida logo vai se ajeitar e tudo isso vai passar. O emprego não é o melhor do mundo, eu atendo o telefone, anoto recados, auxilio pessoas, ajudo na organização dos documentos do senhor João, meu chefe. Sinto-me útil, é um sentimento bom. Apesar do cansaço, é melhor do que retornar à posição de mãe e dona de casa. Eu sou mãe e serei também o pai, quando necessário, sei que Bernardo não vai se responsabilizar em fazer sua parte, mas também sei que faço de tudo por minhas crias. Isabela, minha filha mais velha, está com seis anos e todos os dias pergunta pelo pai. Digo a ela que no fim de semana ele virá buscá-la para passear, ela dorme aquele sono inocente das crianças, com uma expectativa que dura da segunda à sexta. Isso ela não herdou de mim, eu sou mais pé no chão, do tipo que só acredita em uma promessa depois que vejo ela se cumprir. Lucas, seu


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