Aqueles que não sabem quem são Deyse Abreu
A cada mudança de tempo é preciso procurar quem és. Ventos, chuva, folhagens barulhando. É tempo de migrar, o vento forte impulsiona o voo, liberdade para uns, perigo para outros, os que não aguentam ficam pelo céu. Um pequeno vermelhinho, filhote de outros vermelhos fortes, devia enfrentar a sua primeira longa viagem. Mas, uma insegurança tocava o peito penoso e uma imensidão azul foi passada pelos olhos do pequenino. — Não tenha medo! Fique próximo da revoada que ficará tudo bem. Lembre-se de quem és. Esse era o problema, não sabia quem era ou a necessidade de sair do lar. Não sabia da força que tinha ou se havia algo ali além de dúvidas e incertezas. Um antigo, que já estava cansado das jornadas, chamoulhe aos cantos. Cantou e cantou. O vozear fora ouvido de longe. O pequeno, impressionado com a força do canto, tentou acompanhar e logo mais todos os outros ali vozearam juntos. Em meio aos sons das cantigas, do barulho do vento nas folhagens, o antigo abriu asas e mostrou ao pequenino as marcas do tempo como mapas riscados nas penas. Ali se encontravam o passado e o futuro. E esbravejou: — Pequeno, eu não tenho certeza se suporto a jornada novamente. Sou tão antigo que não conto mais os nossos fins do mundo, pois a memória não deixa. A cada tempo novo