O sonho de voar
Luana Lima de Freitas Bato os pés e balanço as pernas toda vez que me sento em qualquer lugar. Não estou ensaiando para tocar bateria, tampouco é ansiedade. A verdade é que também pulo, dou saltos. Faço isso quando penso que não há ninguém para me ver. O grande problema é: sempre existe alguém para testemunhar. Já tentei parar diversas vezes, e por isso outro dia pensei não pode ser vício, porque se fosse vício eu já teria largado. Sim, teria parado, como nos relatos das pessoas que conseguem largar drogas e hábitos prejudiciais. Um ser na minha imaginação toma parte no meu monólogo, esse interlocutor sou eu mesma. Mas vou tratá-lo aqui na terceira pessoa, me facilita ver as ideias. Então esse alguém diz: “Pessoas viciadas fazem tratamentos, têm ajuda, acompanhamento e frequentemente possuem uma forte motivação para parar. Você tem?” E aí eu suspiro e respondo: “Tenho ajuda sim e a minha motivação é que meus joelhos doem, meus ligamentos estão sendo rompidos dia a dia”, uma pausa e eu continuo, “o pior é que não me dá nenhum tipo de prazer”. O alguém diz: “Você já parou para pensar que talvez o seu problema não seja o que você está pensando? Sabe, esse vício de pular, é provável que você esteja tratando do sintoma e não da causa em si”. Sei o que foi dito, é um período composto, mas eu vejo um jato de luz dourada direto na minha consciência.