NÚMERO 15 - ABRIL > JUNHO DE 2018
Projeto
Ler o passado: um presente para o futuro Fonte: Ilustração de Marta Lemos (Incluída em: Mota, A. (2006). Outros tempos. Vila Nova de Gaia: Gailivro. (p.141).
Ler o passado ...
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Impacto junto dos seniores
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Objetivos do projeto
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Agenda
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A Biblioteca Municipal de Baião encontra-se a desenvolver, com a colaboração do Museu Municipal, um projeto candidato ao Prémio de Boas Práticas em Bibliotecas Públicas, atribuído pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. Este projeto, denominado «Ler o passado: um presente para o futuro», visa a recolha de estórias de bruxas e lobisomens, de lendas sobre alguns locais das freguesias, orações e talhaduras, que durante décadas, segundo o público sénior, curaram o mal-estar e problemas de saúde, auxiliando a medicina convencional. O ritmo da vida moderna poderá levar as famílias a dedicarem menos tempo aos seniores, o que implica o seu crescente isolamento e a necessidade de procurar os centros de convívio, os centros de dia e até lares, de forma a colmatar a solidão que a ausência da família pode provocar nas suas vidas. A experiência da solidão inclui sentimentos de isolamento, de desligamento (sentimento de que não se tem um confidente, um amigo intimo) e de não pertença (não se identificar com ou não ser aceite por grupos sociais). A solidão é uma experiência desagradável que ocorre quando a rede de relações sociais de uma pessoa não é satisfatória. Assim, a experiência de solidão pode incluir a dor emocional da perda de um ser amado e/ou um sentimento de exclusão ou de marginalidade de laços sociais.
Os seniores podem estar rodeados de pessoas mas a sensação de inutilidade manter-se. Assim sendo, e porque para grande parte destes seniores não é fácil, senão mesmo impossível, a deslocação à sede de concelho para frequentar a Biblioteca Municipal, torna-se imperativo aplicar o lema “se não vai Maomé à montanha, vai a montanha a Maomé”. Visto que nas freguesias do concelho de Baião se verifica uma distribuição muito dispersa da população, competirá à Biblioteca Pública desempenhar o seu papel ao nível social, indo ao encontro das pessoas, aproximando-se delas e aproximando-as umas às outras, através de um objetivo em comum. A biblioteca executa este projeto junto dos seniores, tendo em conta a sua enorme riqueza empírica, já que serão, sem dúvida, a melhor fonte de recolha de contos e lendas que os seus pais e avós, muito provavelmente, já contavam. A sua participação neste projeto poderá minimizar sentimentos de solidão e exclusão, já que serão eles que irão contar as suas estórias em várias sessões, onde estarão em contacto com outros públicos de diferentes faixas etárias, e que no final do projeto serão publicadas em livro. Assim, estes grupos de seniores serão incluídos na nossa própria história concelhia, no que às suas dimensões cultural e literária diz respeito. O facto de, no final, ser organizado um momento de partilha destas estórias entre seniores, crianças e jovens, mostrará que aquilo que aqueles sabem tem de tal forma valor que deve ser transmitido às gerações mais novas, numa tentativa de preservar o seu saber.
Pintura de H. Werner
Duas das características mais vezes apontadas aos dispositivos tecnológicos são o facto de, por um lado, aproximarem quem está longe, mas, por outro lado, promoverem o afastamento entre as pessoas que estão, muitas vezes, lado a lado. Facilmente nos apercebemos deste afastamento quando vemos, à hora da refeição, por exemplo, pais e filhos a usarem telemóvel ou tablet, seja a consultar o email, as redes sociais ou a jogar, deixando de haver diálogo. O mesmo se passará com a relação entre avós e netos: se antigamente havia espaço para a partilha de vivências em que os avós contavam estórias de bruxas, lobisomens e outras estórias, que os netos, entusiasmados, ouviam atentamente e, frequentemente, junto à lareira, hoje, as crianças, ora assoberbadas com trabalhos de casa, ora enclausuradas num mundo virtual de jogos e redes sociais, já não se sentam calmamente junto dos seus avós para ouvir o que têm para contar. Em consequência disso, acentua-se ainda mais o sentimento de solidão e exclusão que os seniores poderão sentir. Assim, este projeto poderá ser uma boa oportunidade para recriar costumes que se foram perdendo, reaproximando estas duas gerações e proporcionando às crianças uma experiência diferente, sensibilizando-as para a riqueza de cultura popular que a “geração dos avós” tem para nos oferecer. Pintura de Seymour Joseph Guy
Além deste impacto social e humano, não há dúvidas de que, também ao nível escolar, este projeto surtirá efeitos: a Biblioteca Municipal já tem sido procurada pela comunidade escolar a fim de dar resposta à realização de trabalhos sobre contos e lendas de Baião; no entanto, os recursos bibliográficos sobre este assunto são escassos, pelo que este projeto irá enriquecer o nosso fundo documental, permitindo dar uma melhor resposta a quem procura a biblioteca. Com este projeto, cujo produto final, dependendo do material recolhido, será um livro, pretende-se permitir ler o passado, algo que consideramos um presente que se dá às gerações do futuro. Daí a denominação deste projeto, “Ler o passado: um presente para o futuro”. Caso conheça estórias de bruxas, lobisomens, orações, talhaduras ou lendas relacionadas com Baião, entre em contacto com a Biblioteca Municipal. Poderá fazê-lo pessoalmente, através de email (biblioteca@cm-baiao.pt) ou de telefone (255540556).
Imagem de Donna Green
Objetivos do projeto - Promover o contacto entre a Biblioteca Pública Municipal e a comunidade escolar, bem como com as instituições públicas e/ou privadas com a valência de centro de convívio, centro de dia ou lar de idosos; - Fomentar o diálogo e convívio intergeracional, especificamente entre as gerações dos “avós” e dos “netos”; - Sensibilizar para a importância do livro na preservação da História, bem como da biblioteca para a sua conservação e difusão; - Estimular a prática da literatura oral, como forma de preservar os contos e lendas subjacentes às diversas freguesias do concelho; - Compilar os contos e lendas relativos às diversas freguesias do concelho, publicando-os em livro, a fim de garantir a sua preservação; - Munir a Biblioteca Municipal de informação relativa à cultura popular/literatura oral de Baião, aumentando a sua capacidade de resposta a quem a procura; - Promover o sentimento de inclusão da população sénior; - Difundir a literatura oral junto do público infantil e juvenil, a fim de lhe dar prossecução. - Dotar a biblioteca digital de recursos acessíveis a pessoas com deficiência visual.
ORIGEM DO NOME DE FRENDE
Um rei português tinha casa em Porto de Rei (Resende) e ele costumava sentar-se na varanda da sua casa a descansar, apreciando a paisagem. Do local onde ele se encontrava, ele tinha vistas para aquela que é hoje uma das freguesia do concelho de Baião e dizem que, sempre que ele se detinha a admirar a paisagem, exclamava: Abril é um mês significativo para as bibliotecas e para quem gosta de livros, já que se assinalam duas datas que a eles se referem: 2 de abril - Dia Internacional do Livro Infantil Este dia foi escolhido como homenagem ao escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, que dedicou grande parte da sua obra à literatura infantil. 23 de abril - Dia Mundial do Livro O Dia Mundial do Livro começou por ser assinalado a 5 de abril, homenageando o autor espanhol Miguel de Cervantes, que nasceu neste dia. Entretanto, em 1930, esta efeméride passou a ser comemorada no dia do seu falecimento e não no dia do nascimento, passando a ser assinalado a 23 de abril.
- “Ah! Que linda é a paisagem em frente!” Dizem que foi este encanto pela paisagem baionense que deu origem ao nome da freguesia de Frende, que adveio da semelhança sonora com a palavra “frente”.
Aldina de Jesus Pereira Frende
PARA ACABAR COM A TROVOADA
No dia de São Pedro, deve-se ir ao monte e colher três rosmaninhos, três raminhos de oliveira pequenos e três espiguinhas de trigo. Junta-se bem tudo e prende-se, fazendo-se uma espécie de raminho. Coloca-se pendurado a secar e, sempre que houver trovoada, coloca-se atrás da fogueira. A trovoada desaparece. Foi a minha bisavó que me ensinou isto e eu ainda o faço, todos os anos.
BIBLIOTECA MUNICIPAL MORADA Rua Eça de Queiroz 4640-152 Baião Telefone 255540556 Email biblioteca@cm-baiao.pt
Laura Silva Gove