Obras da Coleção Alberto Caetano Works from the Alberto Caetano Collection
ALGUM DESENHO, A PARTIR DE GAËTAN
SOME DRAWING, AFTER GAËTAN
FO: Alberto, és um arquiteto que adora arte. Tens uma coleção incrível e desenhas exposições muito bonitas.
AC: É verdade, Filipa, que adoro arte. Não me imagino a viver sem ela e é nas suas variantes, eruditas ou populares, que encontro as minhas referências para projetar arquitetura. Antes de estudar Arquitetura, queria ser pintor. Cheguei mesmo a participar numa série de exposições coletivas e algumas individuais antes de desistir. Gostava mais do trabalho dos outros do que do meu.
colocava-lhes cinco camarões e dois pitões para pendurar panos de cozinha, e depois vendia-as em lojas de artesanato. Fiquei hipnotizado e nasceu logo ali uma grande amizade. Passei a visitá-la praticamente todos os dias, para vê-la a pintar e ouvir as suas histórias maravilhosas, que me ajudaram a sonhar. Um dia ela pediu-me para ir comprar tintas à Casa Ferreira, na Rua da Rosa, no Bairro Alto, onde vivia, e na loja estava um senhor — um dos empregados — a mostrar um álbum de desenhos e autógrafos de vários artistas a um cliente. Artistas que tinham sido ou eram clientes da loja, como o Carlos Botelho, Abel Manta, Almada, Eduardo Viana, etc. Fiquei muito impressionado e decidi ali que também queria fazer a minha coleção de desenhos.
FO: Quando é que começaste a tua coleção?
AC: Ainda não sabia o que era uma coleção, mas teria doze ou treze anos.
FO: Qual foi o teu primeiro contacto com as artes?
FO: Qual foi a primeira obra que compraste?
AC: Foi um cristo de madeira de influência oriental, sem braços e pés, dos fins do séc. XVI. Estava de férias em casa do meu avô paterno, em Vilharigues, uma pequena aldeia perto de Viseu. Pedi à minha mãe permissão para ir visitar o Museu Grão Vasco. Fui sozinho, de camioneta, e no regresso reparei numa loja de velharias à beira da estrada, perto de Vouzela, e resolvi descer da camioneta na paragem seguinte, e lá encontrei no meio de muito lixo o tal cristo, pelo qual me apaixonei. Gastei todo o dinheiro que tinha e no final, sem dinheiro mas com o cristo na mão, regressei o resto do caminho a pé, quatro ou cinco quilómetros cheios de curvas. Cheguei a casa já de noite e levei um raspanete da minha mãe; estava muito preocupada porque não sabia de mim.
AC: Foi entre os quatro e os cinco anos, no colégio do Sagrado Coração de Jesus, que era então um colégio diferente dos outros. A currículo da pré-primária tinha uma forte componente artística. Um dia levaram-nos ao Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) e eu, com a minha estatura de miúdo, a olhar de baixo para cima, senti que tudo aquilo tinha uma dimensão enorme. Esse foi um momento transformador. A partir daí passei a pedir aos meus avós que me levassem ao MNAA aos fins de semana, quando não iam para aldeia. Com oito, nove anos ia praticamente sozinho. Os meus avós deixavam-me ficar no museu e depois iam buscar-me de carro mais tarde. Os guardas chamavam-me «Senhor Diretor», e eu lá passava uma tarde de domingo, sozinho, a percorrer as salas do museu com olhar atento, não só nos quadros, mas também nos objetos expostos.
FO: Como é que começaste a tua coleção inspirada no álbum da Casa Ferreira?
FO: Sabes de onde vem esse impulso de colecionar?
AC: É uma história engraçada. O meu pai tinha uma mercearia e um dia pediu-me para levar compras a casa de uma freguesa que morava perto da loja, a D. Sara. Quando cheguei a senhora abriu-me a porta e pude ver, através da cozinha, uma sala com uma mesa grande cheia de colheres de pau que ela estava a pintar. Decorava as colheres com motivos de trajes regionais,
AC: Eu não conhecia nenhum artista, não tinha referências, então regressei à Casa Ferreira e pedi para ver o álbum. Tirei os nomes dos artistas que mais gostei. A minha amiga D. Sara tinha também em casa um calendário com reproduções de pinturas de artistas portugueses (modernistas), e eu tomei nota. Depois foi um trabalho de procurar os nomes nas listas de telefones. Na época as páginas amarelas tinham uma secção só de pintores. O primeiro com quem consegui falar foi com Abel Manta. Liguei-lhe para casa e disse a quem me atendeu que que gostaria de falar com ele, porque queria que me oferecesse
um desenho. Na altura tinha treze anos. Disseram-me para o ir visitar a casa e marcaram um dia. Foi assim que ganhei um amigo e uma amiga do coração, a sua mulher, a pintora Maria Clementina, com quem passei horas em conversas sobre épocas que tinham vivido e artistas que conheciam, tomando chá com torradas. Em 1975, ele pintou o meu retrato, que a sua mulher me ofereceu no Natal de 1976.
feita por Fernando Pessoa para o dono da casa. Foi por ele que tomei conhecimento de um movimento que existira chamado Orpheu.
FO: Haviam artistas mais modernos nesse grupo?
FO: Os artistas a quem ligavas achavam graça a um miúdo estar a pedir-lhes desenhos?
AC: Alguns sim, outros não acharam graça nenhuma. Lembro-me que em 1974 fui bater à porta da Sarah Affonso. Eu usava o nome do meu avô — Caetano — porque era o meu ídolo. Bati à porta e de dentro perguntaram — «quem é?» — eu respondi — «Alberto Caetano» — e logo: — «não queremos cá fascistas!» Na época não sabia sequer o significado da palavra, e decidi ficar sentado nos degraus da escada, à espera de que alguém abrisse a porta. Confrontados com a minha insistência, lá alguém veio abrir-me a porta — e quem? — Paula Almada Negreiros! A mesma que me tinha respondido anteriormente e que agora me convidava a entrar. Foi assim que conheci Sarah Affonso, de quem também me tornei amigo, e vi pela primeira vez duas pinturas de Amadeo Souza Cardoso, um artista de quem nunca ouvira falar, além das pinturas da própria Sarah Affonso e do Almada. Nesse dia não me ofereceu o desenho que lhe pedi. Posteriormente, quando ganhei a sua confiança e amizade, sentiu que eu tinha mesmo paixão pela arte e ofereceu-me um desenho, em 1975. Na altura estava a fazer a ilustração de um livro infantil, O Crocodilo e os Passarinhos, e ofereceu-me um dos estudos a lápis. O Carlos Botelho não me atendia o telefone, mas eu consegui a sua morada e fui bater-lhe à porta. Toquei a campainha do prédio, abriram-me a porta das escadas e subi até ao andar dele. Abriu a porta um senhor velhinho, com bata branca, cheia de tinta e eu disse que queria falar com o pintor Carlos Botelho. Ele respondeu — «o senhor não está» — e fechou-me a porta na cara. Outro desses velhos artistas modernistas que conheci e com quem convivi foi o pintor António Soares, que vivia na Rua de Santo António dos Capuchos, num prédio pré-pombalino, rodeado por uma biblioteca fantástica, onde me narrou histórias de Santa Rita Pintor, do Pessoa, Sá Carneiro e muitos mais. Foi nessa casa que ouvi pela primeira vez alguns dos nomes que posteriormente se tornaram nas minhas referências. Foi lá que li originais de poemas de Mário Sá Carneiro, cartas manuscritas de Guilherme Santa-Rita e vi uma carta astrológica
AC: Praticamente todos os artistas que conheci neste tempo, entre 1973 e 1974, eram desta geração. O meu contacto com a arte moderna deu-se na Brasileira, com os quadros que ainda hoje lá estão pendurados. Na altura, o que mais me atraía era o quadro do Rodrigo. Ficava maravilhado a olhar para a pintura. Conheci-o, anos mais tarde. Em finais de 1974, caminhava no jardim do Príncipe Real e reconheci o Eurico Gonçalves, porque o tinha visto a pintar o painel de comemoração do 25 de Abril no Mercado do Povo, em Belém, juntamente com os outros artistas participantes. Dirigi-me a ele e pedi-lhe um desenho para a coleção. Fez-me algumas perguntas e marcou um encontro para uns dias mais tarde, no mesmo sítio. Quando nos voltamos a encontrar, ofereceu-me três desenhos e fez-me uma entrevista para a revista Flama. Apresentava-me assim: quinze anos, estudante, artista e colecionador de arte. A partir deste momento fiquei sempre com uma enorme gratidão para com o Eurico. Era uma pessoa jovial e boa. Sempre admirei o seu trabalho e linguagem particular. Tenho um conjunto razoável de trabalhos dele, que tenho vindo a reunir sempre que possível. É um artista singular e penso que merecia uma retrospetiva bem cuidada, com um bom trabalho de curadoria.
FO: Tinhas o hábito de ir ver exposições?
AC: A partir de 1974, corria todas as exposições na cidade de Lisboa. Nesse ano comecei a ir à Quadrum, pouco após a sua abertura. Conheci a Dulce d’Agro e tornei-me frequentador assíduo. Quando faltava a uma inauguração, a Dulce mandava ligar para casa dos meus pais a perguntar se me tinha acontecido alguma coisa. Foi assim que conheci muitos artistas, alguns dos quais se tornaram meus amigos. Em 1975, fiz um curso de gravura na Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, onde me cruzei com vários artistas, como o Fernando Calhau e a Cândida, a sua mulher, dos quais me tornei amigo. Foi também aí que conheci o Julião Sarmento e a Helena Vasconcelos, e muitos outros que então trabalhavam na Cooperativa. Já depois disso, trabalhei no atelier de serigrafia do António Inverno — um local privilegiado para encontrar os artistas de vanguarda. Creio que toda a gente passou por lá,
nos anos 1970 e 1980. O António era muito generoso com os jovens artistas e fazia muitas vezes pequenas edições de serigrafia e posters, a custo zero, para anunciar as suas exposições. Entre 1974 e 1976 ninguém vendia, mas eram todos muito unidos. Lá podíamos encontrar o Sena, o Pires Vieira, o Calhau , o Sarmento, o Leonel Moura, o João Botelho, a Luísa Correia Pereira e todos os demais dessa geração.
FO: Hoje em dia, o que te interessa no desenho?
AC: Interessa-me o momento de revelação da ideia. Gosto do desenho porque acho que é imediato. Existem muitos artistas que praticamente só se expressam através do desenho.
FO: Falaste que o Rodrigo te tinha impressionado muito. Quando compraste o quadro que tens dele?
AC: Foi em 1988, na Quadrum. Penso que o Joaquim Rodrigo tinha acabado uma exposição na galeria, porque os quadros estavam todos poisados no chão em fila, encostados às paredes. Ao fundo da galeria, junto à porta do escritório, lá estava o quadro. Chamou-me a atenção e dirigi-me a ele num ápice. Encantou-me a sua simplicidade e sobriedade. Perguntei à Maria da Graça, que na altura ajudava a Dulce na galeria, quanto custava aquele quadro. E respondeu-me que aguardasse um momento, que ia perguntar à Dulce. Veio com a resposta, de que sendo necessário apoiar os jovens colecionadores, me faria o preço de oitenta e oito contos. Perguntei se podia usar o telefone da galeria para ligar para casa e foi num grande alvoroço que pedi o dinheiro emprestado à minha mãe. Nesse mesmo dia trouxe o quadro para casa, montado em cima de um táxi e embrulhado em cobertores. Posteriormente, a Dulce apresentou-me ao Rodrigo, a quem tinha contado a história do jovem colecionador que comprara o quadro. Ele virou-se para mim e disse — «O menino fez uma péssima compra. É o meu pior quadro. Devia ter comprado os outros, que são os verdadeiros!».
FO: Quando pensei na programação do 30.º aniversário da Casa da Cerca, queria fazer uma exposição que apresentasse uma visão ampla do desenho em Portugal. Claro, esta exposição não pretende ser uma história do desenho, não é exaustiva e faltam imensos artistas que seria importante incluir. Ainda assim, estas obras transportam-nos ao longo de um século.
AC: A exposição desenha um arco temporal entre 1915 e 2022. Evidentemente, não pretende ser uma exposição antológica sobre o desenho português e apresenta um fragmento ínfimo da produção de desenho durante esse período. Temos que ter em atenção que esta é uma pequena coleção particular. A exposição não tem a pretensão de mostrar artistas de A a Z, mas sim a de escolher alguns para construir um corpo com unidade. Daí o título, Algum Desenho. A ideia inicial deste projeto baseou-se na exposição Le Dessin au Portugal 1900-1940, organizada pelo Paulo Ferreira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris. É curioso, porque esta exposição repete alguns artistas dessa primeira. Outras influências inspiradoras foram Arte portuguesa do século XIX e XX nas coleções particulares e Pinturas figurativas e desenhos, exposições que eu não vi mas pude conhecer através dos dois belíssimos catálogos editados e desenhados por Sebastião Rodrigues, organizadas pela Fundação Calouste Gulbenkian, na Sociedade Nacional de Belas Artes, por Fernando Azevedo, Sommer Ribeiro e Rui Mário Gonçalves.
FO: A tua coleção não é constituída unicamente por desenho, mas é isso que mostramos nesta exposição.
AC: É verdade, mas na realidade é o desenho que prevalece na coleção, a par da gravura e litografia. Gosto muito do suporte em papel, que infelizmente ainda é pouco aceite entre os colecionadores portugueses, talvez por falta de conhecimento e pelos cuidados necessários à sua preservação. O colecionador português só compra o desenho do Almada. A minha compra de desenho e gravura tem que ver com as minhas possibilidades financeiras, mas sobretudo porque gosto do suporte de papel.
FO: Três personagens fundamentais da nossa história da arte moderna e contemporânea.
AC: Sim, três personagens que modelaram a história da arte em Portugal. Estas duas exposições foram importantes na sua época, porque mostraram o tipo de colecionismo conservador que era então vigente: o valor seguro, excluindo os jovens artistas que se estavam a afirmar.
FO: Que também reflete a realidade do colecionismo português nos anos 1960 e 1970, quando
tu, ainda muito novo, começaste a comprar obras. Fala-me um pouco da escolha do título para esta exposição. É bastante curioso.
AC: Como a exposição é na sua maioria uma seleção de desenhos de um conjunto maior, a primeira ideia que tive para o título foi Algum Desenho. Mais tarde lembrei-me que este título tinha semelhanças com uma exposição de Gaëtan, chamada Algum retrato, por isso em conversa achámos melhor intitulá-la Algum Desenho, a partir de Gaëtan, prestando homenagem a um grande amigo e grande desenhador.
but I was twelve or thirteen.
FO: What was the first piece you bought?
FO: A tua coleção é muito mais vasta do que o conjunto de obras que aqui apresentamos. No entanto, quero perguntar, que história queres contar com esta seleção de cem obras? O que é que gostarias que o público levasse consigo?
AC: Uma história de amor, sacrifício e paixão.
AC: It was an oriental-inspired 17th-century wooden Christ without arms and feet. I was on vacation at my paternal grandfather’s house in Vilharigues, a small village near Viseu. I asked my mother’s permission to visit the Grão Vasco Museum. I went alone, in a bus, and on the way back I noticed a bric-a-brac shop on the side of the road, near Vouzela, and decided to get off the bus at the next stop, and there, among a lot of rubbish, I found this Christ, with which I fell in love. I spent all my money. In the end, without money, Christ in hand, I walked the rest of the way, four or five kilometers, on a zigzagging road. I got home after sundown, and my distraught mother scolded me for the delay.
FO: O que é que te motiva para, cinquenta anos depois de teres comprado a tua primeira peça, continuares a construir a tua coleção?
AC: O prazer de rodear-me de objetos que contam histórias e oferecem-me prazer.
FO: This impulse to collect, where does it come from?
Lisboa, 25 de Janeiro de 2023
ENGLISH VERSION
FO: Alberto, you are an architect who loves art. You design beautiful exhibitions and have assembled an incredible collection.
AC: It’s true, Filipa, that I love art. I cannot imagine my life without it. It is in art and its variants, erudite or popular, that I find my references for designing architecture. Before studying architecture, I wanted to be a painter. I even participated in a few group exhibitions and a few solo ones before giving up. I enjoyed other people’s work more than my own.
AC: That’s a funny story. My father had a grocery store, and one day he asked me to deliver groceries to a customer who lived nearby, D. Sara. As the lady opened the door, through the kitchen I saw a room with a large table and many wooden spoons she was painting. She decorated the spoons with motifs from regional costumes and completed them with five screw hooks and two eyebolts. She sold them in craft stores as kitchen towel hangers. I was mesmerized; a great friendship was born right there. After that, I visited her practically every day to see her painting and listen to her beautiful stories, which helped me to dream. One day she asked me to buy paint at Casa Ferreira, on Rua da Rosa, in Bairro Alto, where she lived. In the store, I met a gentleman — one of the employees — as he showed a client an album with drawings and autographs by various artists who had been or were customers of the store, such as Carlos Botelho, Abel Manta, Almada, Eduardo Viana, etc. I was very impressed and decided right then and there that I also wanted to have a collection of drawings.
FO: When did you start collecting art?
AC: I had no idea what a collection was at the time,
FO: What was your first contact with the arts?
AC: I was four or five. I attended the Colégio do Sagrado Coração de Jesus, a different school. It was different from the other schools because we were exposed to the arts in kindergarten. One day
we went to the Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) on a school trip. I remember I felt tiny; everything around me was enormous. It was transformational. From then on, I started asking my grandparents to take me there on the weekends whenever they stayed in Lisbon. When I was eight or nine years old, my grandparents would drop me there and pick me up later in the day. I was practically on my own. The museum guards even called me “Mister Director.” I would spend my Sunday afternoons walking the museum rooms and halls, looking attentively at the paintings and objects on display.
FO: How did you start your collection inspired by the Casa Ferreira album?
AC: At the time, I didn’t know any artists, and I had no references, so I went back to Casa Ferreira and asked to see the album. I took the names of the artists I liked the most. My friend D. Sara also had a calendar at home with reproductions of paintings by Portuguese modernist artists, and I took notes. Then it was a work of looking up the names in the telephone book. At the time, the yellow pages had a section just for painters. The first one I managed to talk to was Abel Manta. I called him at home and told the voice on the line that I would like to speak with the painter Abel Manta, because I wanted him to offer me a drawing. I was thirteen years old at the time. The voice told me to come by the house on a specific date. That’s how I made two close friends: Mr. Manta and his wife, the painter Maria Clementina, with whom I’d spend hours having tea and toast while talking about their life experiences and the artists they had known. In 1975, he painted my portrait, which his wife gave me for Christmas in 1976.
enter. That’s how I met Sarah Affonso, with whom I also became friends. That day I saw two paintings by Amadeo Souza Cardoso for the first time. I had never heard of him. I also saw several paintings by Sarah Affonso and Almada [Negreiros]. She didn’t give me the drawing that day. First, I had to win her trust and prove my passion for art. Then, she offered me a drawing. She was illustrating a children’s book, O Crocodilo e os Passarinhos [The Crocodile and the Little Birds], and gave me one of the pencil studies. Carlos Botelho wouldn’t answer the phone, so I got his address and knocked on his door. I rang the concierge’s bell, opened the door, and went up to his floor. An old gentleman wearing a white coat dirty with paint opened the door. I told him I wanted to see the painter Carlos Botelho and he replied curtly — «he’s not here» — and shut the door in my face. I also met and became friends with António Soares, another old modernist painter. He lived on Rua de Santo António dos Capuchos, in a pre-Pombaline building. He had an excellent library. There, he told me stories of Santa Rita Pintor, Pessoa, Sá Carneiro, and many more. It was in his house I first heard some of the names that later became my references. There, I read original poems by Mário Sá Carneiro, handwritten letters by Guilherme Santa-Rita, and saw an astrological chart made by Fernando Pessoa for António Soares. I heard about Orpheu, the magazine, and the movement, from him.
FO: Were there more modern artists in that group?
FO: Did the artists you approached think it funny, a child asking them for drawings?
AC: Some did; others didn’t find it funny at all. I remember that in 1974 I knocked on Sarah Affonso’s door. I used my grandfather’s name — Caetano — because he was my idol. I knocked on the door and from inside someone asked — “Who is it?” — I replied — “Alberto Caetano.” — and they replied: — «We don’t want fascists here!» I didn’t even know the word’s meaning, so I sat on the stairs, waiting for someone to open the door. Confronted with my insistence, someone came to open the door — and who? — Paula Almada Negreiros! The person who had shooed me away a few moments before was now inviting me to
AC: Practically all the artists I met between 1973 and 1974 were from that generation. My first contact with modern art happened in Brasileira, with the paintings still hanging there today. At the time, what attracted me the most was Rodrigo’s painting. I found it astonishing. I met him years later. At the end of 1974, I was walking in Príncipe Real and recognized Eurico Gonçalves, because I had seen him painting the panel commemorating the Carnation Revolution in Mercado do Povo, in Belém, with the other participating artists. I approached him and asked for a drawing for my collection. He asked a few questions and told me to return to that place a few days later. When we met again, he offered me three drawings and interviewed me for Flama magazine. In the article, he described me as a “fifteen-year-old student, artist, and art collector.” From that moment on, I’ve always been deeply grateful to Eurico. He was a cheerful good man. I have always admired his work and singular style. I have many of his works, which I buy whenever possible. He was a unique artist, and I think he deserved a well-curated retrospective, with a good curatorship.
FO: Were you in the habit of seeing art exhibitions?
AC: From 1974 onwards, I went to all exhibitions in Lisbon. I started visiting Quadrum that same year, shortly after it opened. I got to know Dulce d’Agro and became a regular customer. Whenever I missed an opening, Dulce would call my parents’ house to ask if anything had happened to me. That’s how I met many artists, some of whom became my friends. In 1975, I took an engraving course at the Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, where I met several artists, such as Fernando Calhau and Cândida, his wife, with whom I became friends. I also met Julião Sarmento, Helena Vasconcelos, and many others who worked at the Cooperativa at the time. After that, I worked at António Inverno’s silkscreen workshop — a privileged place to meet avantgarde artists. In the 1970s and 1980s, everyone went through there at a certain point: Sena, Pires Vieira, Calhau, Sarmento, Leonel Moura, João Botelho, Luísa Correia Pereira, and all the others of that generation. António was very generous with young artists and often made small silkscreen print editions and posters for free to advertise their shows. Between 1974 and 1976, nobody was selling anything, but everyone was united.
FO: Your collection is not exclusively dedicated to drawing, but that’s what we’re showing in this exhibition.
AC: That’s true, but drawing does prevail in the collection, along with engraving and lithograph. I really like paper as a medium. Unfortunately, it’s still little accepted among Portuguese collectors, perhaps due to a lack of knowledge of the necessary care for its preservation. Portuguese collectors mostly buy Almada’s drawings. I buy drawings and engravings because my finances allow it, but above all, I like paper.
FO: Nowadays, what interests you in drawing?
AC: I am interested in the moment when the idea is revealed. I like the immediacy of drawing. There are many artists who practically only express themselves through drawing.
FO: When I thought about the program for Casa da Cerca’s 30th anniversary, I wanted to put on an exhibition that would present a broad view of drawing in Portugal. Of course, this exhibition is not meant to be a history of drawing, it is not exhaustive, and many artists are missing who would be essential to include. Even so, these works draw a line through over a century.
FO: You said that Rodrigo had impressed you a lot. When did you buy his painting?
AC: It was in 1988, at Quadrum. I think Joaquim Rodrigo’s show was being put down. The paintings were on the floor in a row, leaning against the walls. The painting was at the gallery’s far end, next to the office door. It immediately caught my attention, and I dashed toward it. Its simplicity and sobriety enchanted me. I asked Maria da Graça, who was helping Dulce at the gallery, how much it cost. She told me to wait a moment; she would ask Dulce. She came and said that, seeing that it was necessary to support young collectors, she would sell me the painting for eighty-eight thousand escudos [approximately 1500 euros in today’s currency]. I asked if I could use the gallery’s phone to call home, and I borrowed the money from my mother. That same day she had the painting delivered to my place, on top of a taxi and wrapped in blankets. Afterward, Dulce introduced me to Rodrigo and told him the story of the young collector who had bought his painting. He turned toward me and said, “The boy made a bad purchase. It’s my worst painting. You should have bought the others. Those are the real ones!”.
AC: The exhibition draws a temporal arc between 1915 and 2022. It does not intend to be an anthological exhibition on Portuguese drawing and presents a tiny fragment of the drawing production during that period. Please note that this is a small private collection. It’s not our intention to show artists from A to Z, but to choose some to build a unified body. Hence the title, Algum Desenho [Some Drawing]. The initial idea for this project was based on the exhibition Le Dessin au Portugal 1900-1940, organized by Paulo Ferreira at the Calouste Gulbenkian Foundation, in Paris. It is curious, because this exhibition repeats some artists from that first one. Other inspiring influences were Arte portuguesa do século XIX e XX nas coleções particulares and Pinturas figurativas e desenhos — exhibitions that I did not see but was able to discover through the beautiful catalogs edited and designed by Sebastião Rodrigues — organized by the Calouste Gulbenkian Foundation, at the Sociedade Nacional de Belas Artes, by Fernando Azevedo, Sommer Ribeiro and Rui Mário Gonçalves.
FO: Three key figures in the Portuguese history of modern and contemporary art.
AC: Yes, three persons who shaped the history of art in Portugal. These two exhibitions were important in their time, because they showed the type of conservative collecting practiced at the time: betting on safe values and excluding the young artists starting to make their mark.
FO: This also reflects the reality of Portuguese collecting in the 1960s and 1970s, when you, still very young, started buying works. Tell me a little about the choice of title for this exhibition. It’s pretty curious.
AC: As the exhibition is primarily a selection of drawings from a more extensive set, my first idea for the title was Algum Desenho [Some Drawing]. Later, I remembered the title had similarities with an exhibition by Gaëtan, Algum Retrato [Some Portrait]. So, in conversation, we thought it best to call it Algum Desenho, a partir de Gaëtan [Some Drawing, after Gaëtan], paying homage to a great friend and great draftsman.
FO: Your collection is much more extensive than the set of works that we present here. However, I want to ask, what story do you want to tell with this selection of one hundred works? What kind of story would you like the audience to get from the show?
AC: A story of love, sacrifice, and passion.
FO: Fifty years after you bought your first piece, what motivates you to continue adding works to your collection?
AC: The pleasure of surrounding myself with objects that tell stories and offer me joy.
Lisbon, January 25, 2023