CULTURA
18 e 25 JULHO 1 e 8 AGOSTO
2
Contemplação Fundado num lugar retirado, propício ao silêncio, o antigo Convento
Figueiredo o seu autor: «Neste espaço pretende-se que haja um convite
dos Capuchos na Caparica testemunha o desejo de favorecer a contem-
à contemplação do espaço e de si mesmo enquanto visitante e enquanto
plação pelo caminho do despojamento e da simplicidade, o que marca
ser. O claustro será o palco a usar como espaço de contemplação
definitivamente a vida deste espaço, desde o quotidiano da pequena co-
através do reflexo (…). Pretende-se com esta intervenção que o espaço
munidade que o habitou à própria materialidade do edificado.
se reflita a si próprio, que crie novas perspetivas, novos recantos, novos
Depois da sua recuperação como equipamento municipal ao serviço da comunidade, o Convento dos Capuchos acolheu iniciativas que, de uma forma ou de outra, continuaram a apelar à estreita relação existente entre a fruição cultural e o exercício da contemplação, fosse pela música, pelas exposições ou pelo simples convite à deambulação pelos seus jardins e miradouros.
horizontes, num tempo de contemplação (…) A instalação leva o visitante a fazer parte de uma exploração lúdica onde se inclui a si próprio. (…) Um jogo infinito as possibilidades da representação». Do mesmo autor juntam--se a esta instalação a ter lugar no claustro, uma exposição de pintura (COMTEMPO) na galeria de exposições, uma escultura/ instalação (CONTEMPLATIO TEMPLUM) na Capela, e um vídeo (FASTER THAN TIME) na sala de projeção. O tema em que assentam todas estas
Em 2014, com a inauguração da exposição permanente «O Convento
formas de expressão artística é a contemplação enquanto forma de (re)
dos Capuchos: Vida, Memória, Identidade», iniciou-se uma nova fase
conhecimento do homem e de (re) ligação ao transcendental.
na programação das atividades a desenvolver, abrindo-se o caminho para uma programação mais participada, valorizando todo o acervo de informação patenteado. Em 2015, na sequência desse mesmo esforço, escolheu-se como tema a «Contemplação», procurando explorar a temática a partir de diferentes linguagens, desde a música e a arte à literatura e à poesia, em torno de três grandes momentos:
- As II Jornadas de Estudos sobre o Convento programadas para dias 23, 24 e 25 de outubro. Estas procuram dar continuidade à experiência do ano anterior, permitindo, por um lado, congregar um importante conjunto de investigadores em torno da temática da história e da espiritualidade franciscana, e, por outro, diversificar e aprofundar as experiências sobre as políticas de construção e fruição do património.
- Os concertos nos dois últimos sábados de julho e nos dois primeiros de agosto, com um programa de música erudita que assenta na temática da contemplação, sob a direção artística de Margarida Rebocho. Procurando exaltar a arte da contemplação que se atinge e exercita nos concertos propostos. - A exposição de verão com inauguração prevista para sábado dia 18 de julho e término a 25 de outubro, após a realização das Jornadas de Estudos. Da sua instalação, enquanto projeto artístico, diz João
António matos Vereador da Educação, Cultura, Desporto, Juventude e Turismo
3
coMtemplação “A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o Universo, e fazer com que os outros o compreendam.” Auguste Rodin Vocábulo de origem latina, atribuímos à contemplatione, vários significados: É o ato de olhar atentamente. É a aplicação demorada da vista e do espírito sobre o que nos desperta interesse; um estado de absorção ou de êxtase, na busca do conhecimento. É Meditação profunda. Até mesmo consideração e deferência por alguém ou algo! É um estado místico que nos leva ao conhecimento de Deus e das realidades divinas, não por vias e métodos discursivos mas pela vivência e pelo sentir! É a visão da alma no término da ascensão espiritual da ideia do bem, último cognoscível, causa de tudo o que é direito ou belo, dizia Platão. É abandonar o cómodo estado de observação do simples desenrolar dos dias, numa incómoda busca pela Felicidade absoluta, momento único de encontro com o nosso EU em plenitude; ponto de equilíbrio que nos conduz à Paz perfeita. Contemplação é também desafio! Ato, trabalho, prazer, e entrega! Um estado inebriante que nos leva a desafiar os limites da nossa imaginação no alcance do objetivo final! É cruzar conceitos e deles fazer um só! É Exposição e é Música! É acima de tudo, CAPUCHOS!!! Margarida Rebocho
4
PROGRAMA 18 de Julho Concerto de Abertura coMtempo João Bettencourt da Câmara, piano Camerata Atlântica Ana Beatriz Manzanilla direção
Guy Ropartz (1864-1955) Sérenade pour instruments à archets Ottorino Respighi (1879-1936) Árias e Danças Antigas (Suite n.º 3) Frédéric Chopin (1810-1849) Concerto para piano n.º 1 em mi menor, Op. 11 [versão para orquestra de cordas]
25 de Julho CONTEMPLATIO TEMPLUM Lute Songs by John Dowland Damien Guillon, contratenor Eric Bellocq, alaúde
1 de agosto CONTEMPLATE YOU Canto Gregoriano e O Nascimento da música ocidental Schola Antiqua Professor Juan Carlos Asensio, direção
8 de agosto Concerto de Encerramento contemplation Música Italiana para um Ofício de Vésperas Avres Serva, coro Nuno Oliveira, órgão positivo, cravo e direção [interpretação em instrumentos da época] 5
18 de JULHo
Concerto de Abertura
22h00, Convento dos Capuchos, Almada (Portugal)
coMtempo JOÃO BETTENCOURT DA CÂMARA, piano CAMERATA ATLÂNTICA Ana Beatriz Manzanilla, direção
Programa Guy Ropartz (1864-1955) Sérenade pour instruments à archets Ottorino Respighi (1879 - 1936) Árias e Danças Antigas (Suite no. 3) Frédéric Chopin (1810-1849) Concerto para piano n.º 1 em mi menor, Op. 11 (versão para orquestra de cordas)
6
Notas de Programa A audição da música é uma prática contemplativa que nos conduza a uma peregrinação interior e nos confronta com o nosso EU mais profundo. Emergem assim emoções ocultas; convidamo-nos ao exercício da liberdade interior pela busca meditativa que se revela na escolha de um caminho para a vida; de um itinerário para a felicidade sentida em plenitude, ato maior alcançado pelo espírito humano. Nesta perspetiva, a contemplação não é um estado, mas uma atividade, como diria Aristóteles; a atividade mais elevada do que de mais elevado há no Homem: o seu espírito, o seu intelecto! Foi esta, a linha de orientação seguida para a escolha do repertório do Concerto de Abertura. Convidar o público a sair do óbvio e a deixar-se levar pela prática contemplativa da audição de obras musicais, não necessariamente de carácter divino, mas divinas na sua permissão para revelações emocionais e para “um olhar interior, contemplativo mas silencioso (…) conversas mudas, conversas mais ou menos desconfortáveis, mais ou menos íntimas, mais ou menos reconhecíveis ou inventadas. Um jogo de contemplação e de confronto” (J.F.); o confronto do nosso ser com o personagem que interpretamos. A Obra de abertura será uma pequena serenata do compositor francês Guy Ropartz, muito pouco conhecida, e por isso mesmo muito pouco tocada. Trata-se de uma obra de carácter pastoral. Segue-se a Suite nº 3 do ciclo Arias e Danças Antigas, de Ottorino Respighi. Além de ser um reconhecido compositor e maestro, Respighi foi igualmente um notável musicólogo. Filho de um professor de piano, nasceu em Bolonha em 1879. A sua formação musical é feita ao mais alto nível: estudou violino e viola de arco com Federico Sarti no Liceo Musicale de Bolonhe e composição com Giuseppe Martucci. Em São Petersburgo estudou com Nikolai Rimsky-Korsakov (1900) e em Berlim com Max Bruch (1902). O seu interesse pela música italiana dos séculos XVI, XVII e XVIII levou-o a compor obras inspiradas na música destes períodos. O seu legado integra um ciclo de três suítes orquestrais, intituladas Antiche arie e Danze por Liuto (Arias antigas e Danças para alaúde), datadas de 1917, 1923 e 1932, respetivamente. São suítes que compreendem obras do século XVI e XVII para alaúde, livremente adaptadas para cordas. A suíte nº 3, escolhida para integrar o programa deste concerto, difere das duas antecedentes pelo seu tom um tanto melancólico. Trata-se de uma obra que reúne várias influências. Baseia-se nas canções para alaúde de Besard,
numa peça para guitarra barroca de Ludovico Roncalli, em peças para alaúde de Santino Garsi e em obras de autores anónimos. A Suíte abre com uma peça italiana em andante, de um autor desconhecido de finais do século XVI - regular, compassado, sem paixão nem vida – assim era entendido o ideal do “estilo antigo”, no tempo de Respighi. Segue-se uma Aria de Corte do borgonhês Jean-Baptiste Besard, que integra uma suíte de sete peças curtas de diferentes caracteres. A anónima Sicilienne é melancólica, como quase todas as Sicilienne do século XX. A Obra termina com uma Passacaglia do conde Ludovico Roncalli, composta originalmente para guitarra barroca. É uma peça previsivelmente triunfante. A julgar pelos acordes de quatro notas dadas inicialmente pelos violinos e, subsequentemente, por todas as outras cordas, nesta sua versão livre, Respighi procurou claramente imitar a famosa Chaconne de Johann Sebastian Bach para violino solo. A terminar, o grande Concerto para piano nº 1 de Chopin, escrito em 1830, numa versão para orquestra de cordas. Estamos perante uma obra grandiosa de um ainda muito jovem compositor, surpreendentemente romântica para a época, se pensarmos que só haviam passado 3 anos sobre a morte de Beethoven. Se o primeiro andamento do concerto reflete uma vitalidade rítmica que faltava a muitos dos compositores contemporâneos de Chopin, o tocante segundo andamento é um daqueles momentos em que o coração se perde em êxtase nostálgico; “ Uma espécie de devaneio à luz da Lua numa bela noite de primavera”, como escreveu o próprio compositor. É um lindíssimo e melancólico noturno. Na sua forma de compor, Chopin cria um fluxo sonhador sem exageros, mantendo sempre clara a simplicidade e a ternura. Arthur Rubinstein disse o seguinte sobre a música de Chopin e sua universalidade: “Chopin fez uma revolução na música tradicional para piano e criou uma nova arte do teclado. Era um génio de enlevo universal. A sua música conquista as mais distintas audiências. Quando as primeiras notas de Chopin soam por entre uma sala de concerto, há um feliz suspiro de reconhecimento. Todos os homens e mulheres do mundo conhecem sua música. E amam-na! No entanto, não é uma “música romântica”, no sentido byroniano. Não conta histórias ou quadros pintados. É expressiva e pessoal, mas ainda assim uma arte pura. Mesmo nesta era atómica abstrata, onde a emoção não está na moda, Chopin perdura. A sua música é a linguagem universal da comunicação humana. Quando eu toco Chopin eu sei que falo diretamente ao coração das pessoas!” Margarida Rebocho
7
JOÃO BETTENCOURT DA CÂMARA, piano João Manuel Pereira Bettencourt da Câmara nasceu em Lisboa, em 1988. Iniciou pelos três anos de idade o estudo do piano com seu pai, tendo em 2006 concluido, com a classificação máxima, o Curso de Piano no Conservatório Nacional, ao mesmo tempo que os estudos secundários no Colégio do Sagrado Coração (Lisboa). Em Portugal estudou ainda com V. Viardo, H. Sá e Costa, T. Achot, Sequeira Costa, A. Pizarro, P. Burmester, D. Bashkirov, G. Eguiazarova e A. Ciccolini, que disse quando pela primeira vez o escutou: “Il est monstrueusement doué”. Recebeu, entre outros, o Segundo Prémio no Concurso de Piano Florinda Santos (1998), o Primeiro Prémio no Concurso Cidade do Fundão (1999 e 2000), o Primeiro Prémio no Concurso Maria Cristina Lino Pimentel (2001) e o Prémio Especial do Júri no II Concurso “Veo Veo” Internacional da Radiotelevisão Espanhola (1999). Deu o seu primeiro recital público aos sete anos de idade, e estreou-se como solista aos doze, executando o Concerto K. 414 de Mozart e, poucos meses depois, o Terceiro concerto de Beethoven, com a Filarmonia das Beiras, ao que se seguiram outros com diferentes orquestras portuguesas (Concerto de Grieg, Rhapsody in blue de Gershwin). Com dezassete anos, prestou provas de admissão a três escolas superiores de música em Londres (Royal College of Music, Guildhall School of Music and Drama e Royal Academy of Music), após as quais lhe foi oferecido um lugar em todas elas. Optou pelo Royal College of Music, que lhe atribuiu o estatuto de “Foundation Scholar” e que frequentou durante quatro anos como aluno de Piano de Ruth Nye, um dos raros discípulos de Claudio Arrau.
8
Obtendo sempre elevadas classificações (“First Class Honours”), licenciou-se em 2010 com a classificação, no recital final do curso, de 93%, uma das mais altas da história do RCM, pelo que recebeu o Sarah Mundlak Memorial Prize For Piano, atribuído ao melhor finalista do ano. Para o mestrado, foi novamente admitido às mesmas escolas londrinas, escolhendo desta feita a Guildhall School (City University), onde concluiu o curso com distinção, como aluno do pianista Martin Roscoe.
CAMERATA ATLÂNTICA
Iniciou a sua carreira internacional em 2007, com uma digressão nos Estados Unidos da América, levando o crítico Stephen Neal Dennis (All arts review) a escrever: “Only 19, Bettencourt da Câmara possesses a fearsome technique, something that has become so routine a component in concerts by younger pianists that audiences almost yawn when promised something spectacular. What is unexpected is the emotional depth of personal involvement that this pianist brings to each piece he plays. For a generation that never knew the young Sviatoslav Richter, one is forced to wonder how much more Richter himself could give at the age of 19.”
alargada em número de instrumentistas
Em recitais e concertos em Portugal (Casa da Música, Centro Cultural de Belém, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Eugénio de Almeida, entre outros), Inglaterra, França e Espanha, vem-se afirmando como intérprete do grande repertório clássico (Bach, Mozart, Beethoven), romântico (Liszt, Chopin, Brahms, Rachmaninoff) e moderno (Debussy, Prokofiev). O seu primeiro disco comercial, consagrado a algumas das maiores obras de Liszt, foi recentemente editado pela Numérica. Desde 2013, é docente de Piano na Universidade de Aveiro, onde, sob a orientação de Pedro Burmester e António Lourenço, é também doutorando em Música.
A Camerata Atlântica é um projeto musical idealizado pela violinista venezuelana Ana Beatriz Manzanilla, sua diretora artística. Constituída por excelentes músicos profissionais, que se dedicam a interpretar com a maior fidelidade e dedicação os diversos estilos e épocas musicais através das sessões de trabalho individual e ensaios colectivos a Camerata têm a flexibilidade de poder ser dependendo do repertório que seja planificado interpretar. A escolha dos seus elementos tem sido feita através duma rigorosa seleção de músicos das melhores orquestras do país que reúnam não só a qualidade instrumental e artística como a entrega a um projeto que exige deles a melhor preparação e disponibilidade, uma entrega total dos músicos para alcançar a melhor música. Depois do seu concerto inaugural em Novembro de 2013, a Camerata Atlântica gravou um DVD promocional com obras de compositores de América Latina. Apresentou-se com grande sucesso nos Dias da Música 2014 no Centro Cultural de Belém, no Festival Internacional de Música de Leiria, no Festival de Música de Ourique, na Festival Experience da Universidade de Lisboa e no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian no marco dos Prémios Jovens Músicos 2014.
25 de JULHo
21h30, Convento dos Capuchos, Almada (Portugal)
Programa J. Dowland Dear if you change J.Dowland Burst Forth my tears Anónimo The Eglantine Branche (alaúde solo)
coMtemplatio templum
J.Dowland Sorrow Stay P. Rosseter What then is love but mourning J. Dowland Sir John’s Smith (Luth solo) J. Dowland Can she excuse
lute songs by John Dowland DAMIEN GUILLON, contratenor ERIC BELLOCQ, alaúde
J. Dowland A shepherd in a shade J. Dowland Away with these self-loving Anónimo The Gilly Flower (Luth solo) J. Dowland Awake sweet love J. Dowland Gaillarde sur Lachrymae (alaúde solo) J. Dowland Flow my tears J. Dowland I saw my lady weep J. Dowland Come away, come sweet love J. Dowland Fine knacks for ladies J. Dowland Say love if ever J. Dowland Now, O now, I needs must part J. Dowland Dowland’s midnight (alaúde solo) J. Dowland Come heavy sleep
9
Notas de Programa Damien Guillon apresenta neste concerto as obras que integram o seu primeiro trabalho discográfico, um refinado, subtil e melancólico repertório, cinzelado e aprofundado através de um verdadeiro trabalho de música de câmara que contou com a cumplicidade do alaudista Eric Bellocq, um grande conhecedor da música renascentista. John Dowland, alaudista bardo que canta a melancolia do amor, é um homem que viveu a transição entre o pensamento medieval da harmonia das esferas onde “a música e a linguagem deveriam coincidir através do número e da proporção que rege todos os movimentos terrestres e cósmicos, e a crescente influência do Renascimento italiano que procurava uma nova maneira de ligar “o significado das palavras” e a música, verticalizando e privilegiando a consciência harmónica sobre o contraponto. Durante as suas viagens a França e a Itália, Dowland integrou essas influências humanistas, sem renunciar, no entanto, ao contraponto. Essa ambivalência parece ter chamado a atenção destes dois intérpretes. Damien Guillon e Eric Bellocq conseguiram encontrar um equilíbrio único entre estas duas facetas presentes na obra de John Dowland.” Jean-Luc Tamby
DAMIEN GUILLON Damien Guillon é reconhecido internacionalmente como um dos melhores contratenores do mundo, considerado um grande especialista de música antiga e um intérprete de eleição de Bach. Começa a sua formação musical no Maîtrise de Bretagne, sob a direcção de Jean-Michel Noël. Com uma formação musical sólida, o ainda muito jovem Damien começa a ser convidado para cantar como soprano solo em várias oratórias barrocas, bem como na importante Ópera de Rennes, interpretando um dos papéis d’ “A Flauta Mágica”, de Mozart. De 1998 até 2001, integra o Maîtrise du Centre de Musique Baroque de Versailles, dirigido por Olivier Schneebeli, onde aprimora a sua técnica vocal e aprofunda a sua pesquisa sobre interpretações de música antiga, trabalhando com nomes como Howard Crook, Jérome Correas, Alain Buet ou Noëlle Barker . Em 2004 é admitido na reputadíssima e seletiva Schola Cantorum Basiliensis, estudando com o reconhecido contratenor, Andreas Scholl. Simultaneamente estuda órgão com Frédéric Desenclos e Véronique Le Guen e forma-se no Boulogne-Billancourt Conservatory, em contínuo e cravo.
10
Eric Bellocq toca, neste programa, um Liuto forte, de acordo com o conceito de André Burguete, um instrumento que, pelas suas especificidades inéditas, permite ao intérprete desenvolver uma paleta sonora mais rica e expressiva, que resulta num verdadeiro diálogo com a voz e permite uma maior liberdade na improvisação. O cuidado com a visão da obra musical cantada é uma característica importante da trajetória musical de Damien Guillon, desenvolvida graças à sua formação vocal feita nas mais prestigiadas escolas (Master of Brittany, Versailles, Schola Cantorum de Basileia onde trabalhou com Andreas Scholl) e ao seu conhecimento musical através da prática do órgão, cravo e baixo contínuo. Toda esta experiência levou-o naturalmente a fundar o ensemble “Le Banquet Céleste”, que reúne eminentes músicos que foi conhecendo durante as suas colaborações com maestros de renome como Philippe Herreweghe, com quem colabora regularmente há vários anos.
Margarida Rebocho (a partir do texto do que acompanha o CD “Lute Songs by John Dowland”)
As suas raras qualidades vocais e musicais renderam-lhe convites para atuar com maestros como Masaaki Suzuki, Vincent Dumestre, Hervé Niquet, Philippe Pierlot, Pierre Hantaï, Jean-Claude Malgoire, Christophe Rousset, Bernard Labadie, Philippe Herreweghe e William Christie, e nas mais prestigiadas salas de concertos como a Concertgebouw (Amesterdão), Lincoln Center e Carnegie Hall (Nova York), Salle Pleyel e Théatre des Champs Elysées (Paris), Tokyo City Opera Hall ... O seu repertório inclui obras do Renascimento inglês, oratórias e óperas barrocas de compositores como Monteverdi (L’Incoronazione di Poppea), Bach (Paixão segundo São João, Paixão segundo São Mateus, Missa em si menor, Oratória de Natal, cantatas para solo de alto), Händel (O Messias), Purcell (King Arthur e Dido and Aeneas), etc ... Atuou em várias produções encenadas como a Athalia de Händel (Paul McCreesh em Ambronay), Teseo (Gilbert Bezzina, Ópera de Nice) e Giulio Cesare (François-Xavier Roth, Yannis Kokkos, Théâtre de Caen), Il Ritorno d’Ulisse in Patria de Monteverdi (Philippe Pierlot, Théâtre de La Monnaie, em Bruxelas) ou, mais recentemente, Il Sant ‘Alessio de Landi (William Christie e Les Arts Florissants). Damien Guillon é também frequentemente convidado como maestro: dirigiu Caldara’s Maddalena ai piedi di Cristo com Les Musicians du Paradis, o Magnificat de Bach com o Café Zimmermann no Festival Arques-la-Bataille e Cantatas de Bach com o Collegium Vocale Gent. Em 2009 Damien Guillon fundou seu próprio ensemble, «Le Banquet Céleste» gravando com esta formação um CD com Cantatas de Bach para Alto, sob a etiqueta Zig Zag Territoires.
ERIC BELLOCQ Foi ao terminar seus estudos de guitarra em 1983, com Alexandre Lagoya, no Conservatório de Paris (onde agora é professor), que Eric Bellocq recebeu sua primeira iniciação ao baixo contínuo e começou a trabalhar no grupo de música barroca de William Christie, “Les Arts Florissants”. A partir de 1991, começa a tocar alaúde renascentista com o ensemble “Clément Janequin”, dirigido por Dominique Visse. A partir do ano 2000, com o espetáculo “Le Chant des Balles”, em duo com o malabarista Vicente de Lavenère, Eric bellocq começou a produzir as suas próprias obras musicais, mantendo-se fiel aos estilos de música antiga. Além de ter gravado inúmeros CD a convite de várias orquestras e importantes ensembles, gravou várias obras em duo e a solo para a Naxos, Kings Records (Japão) e Frame (Itália). Em 2009, a sua pesquisa sobre as obras de JS Bach para alaúde levou-o à descoberta de uma nova e inovadora afinação para este instrumento. A sua participação em importantes Festivais europeus como o de Amuz (Antuérpia) ou o Festival de Saintes (frança) deu ao público a oportunidade de ouvir as Suites BWV 996, 997 e 998, obras muito raramente interpretadas em concertos ao vivo.
1 de agosto
21h30, Convento dos Capuchos, Almada (Portugal)
contemplate you 0 CANTO GREGORIANO e o NAsCIMENTO Da MÚSICA OCIDENTAL SCHOLA ANTIQUA Professor Juan Carlos Asensio, direção
Programa Procissão de entrada: Letanías de la Virgen Antes do Canto Gregoriano Gloria hispánico (séculos VII-X) Responsorio Dies mei transierunt da liturgia hispánica Preces Deus miserere, Deus miserere da liturgia hispánica Antífona Memorare Domine da liturgia hispánica (séculos IV-IX) Canto ad accedentes Gustate et videte da liturgia mozárabe (séc. XVI)
O Canto de Roma e o Canto da Galia: O Canto Gregoriano (séc. VIII) Introito Puer natus est de la misa del día de Navidad… Modo VII Gradual Christus factus est de la misa del domingo de Ramos…Modo V Alleluia Surrexit Dominus del miércoles de la semana de Pascua… Modo I Ofertorio Ave María para el cuarto domingo de Adviento... Modo VIII Comunión Quinque prudentes para Santa Teresa…. Modo V
As novas composições: Versus, Conductus, Tropos e Secuencias Versus Salve festa dies ….. Modo IV Kyrie Cunctipotens genitor Deus …… Modo I Alleluia Christus resurgens + Secuencia Victime Paschali…. Modo I Conductus Stella caeli extirpavit *…… Modo I
Hinos do Repertório Regional Pange lingua “more romano”……. Modo III Pange lingua “more hispano” ……. Modo V
Cantos à Virgem Versus Salve Mater …. Modo V Antífona Salve Regina en tono solemne….. Modo I Antífona Regina caeli en tono solemne….. Modo VI (*) Do Antiphonarium-Hymnarium ms. 25 do Museu Regional de Arte Sacra de Arouca (ca. 1200)
11
Notas de Programa A imagem da música litúrgica medieval envolve inevitavelmente o Canto Gregoriano – uma música fundamentalmente monódica, a uma só voz. E ainda que possamos apreciá-la, por vezes e em alguns mosteiros, de forma contextualizada, é muito mais comum ouvi-la em salas de concerto, fora do seu ambiente natural, mas com a vantagem de que em apenas numa única sessão, o público pode escutar obras que atravessam vários séculos de história. A tripla condição do canto gregoriano enquanto arte, técnica e oração, funde-se totalmente na celebração litúrgica. Mas por serem raras as ocasiões em que podemos vivenciar o canto na plenitude do contexto para o qual foi criado, o concerto da Schola Antiqua tenta proporcionar ao público esta experiência, levando-o a utilizar a imaginação. O canto gregoriano terá nascido, segundo a tese mais comumente aceite, da mistura de dois repertórios pré-existentes - o Canto da Gália e o Canto de Roma. E antes deste novo repertório começar a tomar forma no Ocidente por meados do século VIII, cada uma das principais áreas de influência do extinto Império Romano desenvolveu uma liturgia própria que hoje denominamos de repertórios pré-gregorianos. Na Península Ibérica, durante o período visigótico, emergiu um repertório que conhecemos como Canto Hispano ou Hispano-Visigótico. Foi o repertório oficial até finais do século XI, altura em que é suplantado pelo Canto Romano-Franco, mais conhecido como Canto Gregoriano. O repertório hispano foi-nos transmitido por várias fontes, a maioria delas através da notação. Contudo, esta não nos permite, infelizmente, reproduzir os intervalos, uma vez que as melodias eram decoradas pelos cantores, servindo a notação apenas como um guia para quem tivesse memorizado os movimentos melódicos. Por essa razão, o imenso corpus de melodias visigóticas não pode ser hoje reproduzido, exceto uma pequena parcela de melodias que foram transcritas para uma notação decifrável, graças a alguém, que temendo a perda deste tesouro, as escreveu num sistema de intervalos que permite a sua reprodução, nos dias de hoje. As primeiras peças do concerto pertencem a este grupo - sons simples e primitivos, pertencentes ao Ofício dos Defuntos (exceto o Gloria), que se complementam com o canto de comunhão Gustate et videte. Após a reconquista de Toledo aos árabes em 1085, o rei Afonso VI permitiu que algumas paróquias da cidade continuassem a praticar o canto e a liturgia hispânica. Esse grupo de cristãos moçárabes, que havia coabitado com os muçulmanos mas preservado, contudo, a sua fé e os seus costumes, manteve vivo o canto por tradição oral, apesar de este ter sido, gradualmente, esquecido. O seu resgate deve-se ao Arcebispo de Toledo, Francisco Ximenez de Cisneros, que no início do século XVI reorganizou o rito, proporcionou um espaço para a sua celebração na própria Catedral e dotou os Mozárabes com novos livros que reuniam os seus textos e a sua música. Dos famosos Cantos de Cisneros foi extraído, para este concerto, o canto ad accedentes, que mostra como o arcaísmo melódico ainda estava vivo na cidade de Toledo, por alturas do século XVI. O novo repertório gregoriano tem pouco a ver com as fórmulas primitivas pré-gregorianas. Para o concerto, foram selecionadas várias formas musicais que exemplificam diferentes sonoridades, ordenadas na forma de hipotética missa, a partir de algumas das peças mais famosas do 12
repertório como o Introito Puer natus ou o Gradual Christus factus est, peças para o dia de Natal e Sexta-feira Santa, respetivamente. Pela sua interpretação, será possível perceber que estamos perante obras muito estruturadas e descritivas, que tentam frequentemente “pintar” com música o que o texto descreve. Na realidade, não poderia ser de outra forma uma vez que o canto gregoriano é, acima de tudo, Oração. Palavra cantada, sim, mas a Palavra de Deus. A mensagem que transmite não é uma mensagem qualquer; serve a celebração como uma parte fundamental da mesma. Por isso mesmo, e no sentido de solenizar ainda mais certas cerimónias, surgiram novas formas literárias e musicais conhecidas como tropos, conductus e sequências, que vieram proporcionar aos compositores contemporâneos novas vias de expressão, num mundo onde a tradição atribuía a criação do repertório a S. Gregório, tese, à época, intocável. Por variadíssimas razões, surgiram novas peças que nos mostram o génio local, de que é exemplo o conductos Stella Celi, que se irá escutar. Tendo como fonte um manuscrito de Arouca datado do século XIII, este conductos é exemplo de como novas formas e estilos se foram, gradualmente, adaptando, segundo as regiões de onde são provenientes. Em outros casos, foram escritos novos textos a fim de serem adaptados a antigos melismas, com o único propósito de ser mais fácil memorizá-los, como podemos perceber no Kyrie Cunctipotens. Finalmente, estas peças começaram também a fazer parte da liturgia e a sua interpretação tinha como função embelezar e solenizar as celebrações, além do acompanhamento das procissões solenes, como é o caso do Salve Festa Dies, que se interpretava para acompanhar os movimentos dos que participavam na liturgia. Paralelamente foram sendo desenvolvidas melodias, criadas por compositores locais, que granjearam justa fama. No caso Ibérico, foram os hinos que despertaram a imaginação dos compositores. Neste ano de 2015 comemora-se o quinto centenário da publicação de um Intonarium Toletanum, impresso por Arnao Guillén de Brocar, em Alcalá de Henares, que contém uma abundante coleção de melodias de hinos, muitos deles de tradição ibérica, que conhecemos como “more hispano “. De forma a comparar essa realidade, ouvir-se-á o hino Pange lingua, segundo o tom de Roma e de acordo com o tom hispano. Finalmente, os monges ao longo da história têm desenvolvido uma especial devoção à Virgem. Por conseguinte, este programa não poderia terminar sem dedicar algumas obras a Maria. Uma delas, Salve Mater, é uma composição contemporânea do início do século XX. Dom Joseph Pothier, um dos monges restauradores do Canto Gregoriano na abadia de Solesmes, do final do século XIX, é o seu inspirado autor e um exemplo de como o canto gregoriano foi aumentando o seu repertório ao longo dos séculos, e não apenas nos tempos medievais, como é comum pensar-se. O concerto termina com duas das mais famosas antífonas marianas: Salve Regina e Regina Coeli, ambas em tom solene. Ambas concluem o Ofício de Completas nas festas de tempo comum e do tempo Pascal.
Juan Carlos Asensio Tradução de Margarida Rebocho
SCHOLA ANTIQUA Desde a sua fundação em 1984, a Schola Antiqua dedica-se ao estudo, pesquisa e interpretação da música antiga, especialmente do canto gregoriano. Todos os elementos integraram o coro de crianças da Abadia de Sta. Cruz Vale dos Caídos. O seu repertório inclui monodias ocidentais litúrgicas (Beneventano, ambrosiana, moçárabe...) nas suas várias formas, bem como a polifonia primitiva de S. Marcial de Limoges, Notre-Dame, Ars Antiqua e Ars Nova. Nos seus concertos, introduzem muitas vezes repertório com acompanhamento instrumental como o Órgão ou formações polifónicas, interpretando cantochão, obras de tecla e de polifonia espanhola e missas de compositores do barroco francês e italiano, acompanhados por reputados organistas como Claudio Astronio, Oscar Candendo Raul del Toro, Daniel Oyarzábal, Javier Artigas, Roberto Fresco, Bruno Forst ou Montserrat Torrent. Colabora regularmente em reconstruções de cantochão e polifonia com importantes formações como La Colombina, Ensemble Plus Ultra, His Majesty’s Sagbutts and Cornetts, La Grande Chapelle, Ensemble Baroque de Limoges, La Capilla Real de Madrid, Ministriles de Marsias, The English Voices, Alia Musica, Orquesta Barroca de Venecia, La Veneciana, The Tallis Scholars ... A Schola Antiqua já se apresentou em inúmeros festivais por toda a Europa, Estados Unidos, Próximo Oriente e Japão. Gravou para TVE, RNE, Rádio Baviera, Radio France e Rádio Svizzera. O resultado de sua pesquisa resulta numa ampla discografia, com 25 CD dedicados ao canto gregoriano e a peças de repertório reconstruídas de acordo com os mais antigos manuscritos, e numa monografia sobre a antiga liturgia hispânica onde estão reunidos, pela primeira vez, os cantos do “Oficio dos Defuntos” segundo a tradição moçárabe. Com a Capela Peñaflorida, gravou uma reconstrução de um “Ofício das Vésperas” com música dos séculos XVI-XVIII de maestros de capela da
Catedral de Burgo de Osma. Com a Escolanía da Abadia de Sta. Cruz realizou a primeira gravação mundial de uma Missa Moçárabe, segundo o novo ritual hispano-visigótico. Com La Colombina gravou uma reconstrução do Officium Hebdomadae Sanctae de Tomás Luis de Victoria, uma produção da XLIII Religious Music Week de Cuenca, editado com o selo da Glossa (2005). No mesmo ano, gravou uma reconstrução do Requiem Mateo Romero com a La Grande Chapelle (Lauda Musica, 2005). Dos seus CD a solo, ressalta a primeira gravação de peças do Oficio “moçárabe” da consagração do Altar. Das suas últimas gravações salienta-se o Oficio de la Toma de Granada, de Frei Hernando de Talavera (+1507), e uma reconstrução da Missa Laetatus sum de Victoria com o Ensemble Plus Ultra & His Majestys Sagbutts and Cornetts (Archiv). e incursões pela música contemporânea como a estreia do “Apocalipsis” do compositor Jesús Torres, que inclui um coro gregoriano. No Bach Festival 2011, interpretaram as Vésperas de Pentecostes, de Claudio Monteverdi, na Thomas Kirche de Leipzig, com a Orquestra Barroca de Veneza. Recentemente gravaram uma monografia dedicada à pedagogia da música medieval, com exemplos das fórmulas musicais que os manuscritos europeus destinavam à aprendizagem das melodias. Com o organista Bruno Forst gravaram partes da “Arte de Tanger” de Gonzalo de Baena (Lisboa, 1540), a primeira tablatura de tecla ibérica. Com o Ensemble Plus Ultra participou, em 2014, na Missa Fúnebre por El Greco, na Catedral de Toledo, por ocasião do 400.º aniversário sobre a morte do pintor, e na reconstrução litúrgica completa do Oficio de Sexta-Feira Santa, com a The Tallis Scholars, LIIIª edição da SMR de Cuenca. Nesse mesmo ano, estrearam com o Ensemble Organum, o Livro de Leonor de José María Sánchez Verdú. A Schola Antiqua não esquece a participação nas celebrações litúrgicas, genuíno contexto da monodia litúrgica, tanto gregoriana como hispânica.
Juan Carlos Asensio Palacios Juan Carlos Asensio Palacios formou-se em Canto Gregoriano e Música Litúrgica na Escolanía de Santa Cruz del Valle de los Caídos, seguindo para o Real Conservatório Superior de Música de Madrid, onde se especializou em Musicologia e Direcção de Coros. Publicou vários trabalhos de investigação em revistas especializadas, as transcrições do Códice de Madrid e do Códice de Las Huelgas, bem como uma monografia sobre O Canto Gregoriano para a editorial Alianza. É colaborador do Atelier de Paléographie Musicale da Abadia de Solesmes. Até 2009 foi Professor de Musicologia no Conservatório Superior de Música de Salamanca. Atualmente é Professor de História da Música Medieval, Notação e Cantos Litúrgicos Latinos na Escola Superior de Música da Catalunha (ESMUC) e de Musicologia no Real Conservatório Superior de Música de Madrid. Juan Carlos é diretor da Schola Antiqua desde 1996. É membro do Consiglio Direttivo de la AISCGre (Associazione Internazionale Studi di Canto Gregoriano) desde 2001 e editor da revista Estudios Gregorianos.
13
14
8 de agosto
Concerto de Encerramento 21h30, Convento dos Capuchos, Almada (Portugal)
contemplation
AVRES SERVA Ana Sofia Ventura, soprano (SV)
música italiana para um ofício de vésperas AVRES SERVA, coro Nuno Oliveira, órgão positivo, cravo e direção
Inês Rasquinho, soprano (IR) Arthur Pulgas, contratenor (AP) Rui Aleixo, tenor (RA) Carlos Monteiro, tenor (CM) João Pedro Afonso,tenor (JA) Pedro Matos, tenor (PM) André Henriques, baixo (AH) Tiago Navarro, baixo (TN) André David Castro, violino César Nogueira, violino Rogério Peixinho, violoncelo Maria Correia, arquialaúde Helena Raposo, tiorba Nuno Oliveira, cravo, órgão positivo e direção
[interpretação em instrumentos da época]
15
Programa Andrea Gabrieli 7 Intonazione del quinto tono Andrea Gabrieli 8 Ricercar del quinto tono (órgão) Orazio Tarditi 11 Invitatório ‘Deus in adjutorium meum intende’ (cantus, AP)
Antífona ‘Dum esset rex’ [canto gregoriano] Claudio Monteverdi 6 Salmo 109 ‘Dixit Dominus primo’ a oito vozes cantus I, SV; altus I, AP; tenor I, PM; bassus I, AH / cantus II, IR; altus II, RA; tenor II, CM; bassus II, TN)
Claudio Monteverdi 5 Moteto ‘Laudate Dominum’ a uma voz (tenor, JA)
Antífona ‘Laeva ejus sub capite meo’ [canto gregoriano] Claudio Monteverdi 5 Salmo 112 ‘Laudate pueri primo’ a cinco vozes com dois violinos (cantus I, SV; cantus II, IR; tenor I, RA; tenor II, CM; bassus, AH)
Claudio Monteverdi 3 Moteto ‘Ego flos campi’ a uma voz (altus, AP)
Claudio Monteverdi 1 Concerto ‘Pulchra es’ a duas vozes (cantus, IR; sextus, SV)
Antífona ‘Jam hiems transiit’ [canto gregoriano]
Claudio Monteverdi 6 Salmo 126 ‘Nisi Dominus primo’ a três vozes com dois violinos (cantus, SV; tenor, CM; bassus, AH) Claudio Monteverdi 1 Concerto ‘Audi coelum’ a seis vozes (tenor, CM; quintus, PM / cantus, SV; sextus, IR; altus, AP; tenor, RA; quintus, JA; bassus, TN)
~ Intervalo ~
Antífona ‘Speciosa facta es’ [canto gregoriano] Claudio Monteverdi 1 Salmo 147 ‘Lauda Jerusalem’ a sete vozes (cantus, SV; altus, RA; quintus, TN; tenor, CM; sextus, IR; septimus, JA; bassus, AH)
Claudio Monteverdi 4 Moteto ‘Ego dormio’ a duas vozes (cantus, IR; bassus, AH)
Biagio Marini 9 Sonata Sopra ‘fuggi dolente’
Leitura ‘Ab initio et ante saecula’ [canto gregoriano] Pier Francesco Cavalli 10 Hino ‘Ave, maris stella’ a três vozes com dois violinos
Antífona ‘Nigra sum sed formosa’ [canto gregoriano] (altus, RA; tenor, PM; bassus, TN) Claudio Monteverdi 1 Salmo 121 ‘Laetatus sum’ a seis vozes (cantus, SV; sextus, IR; altus, RA; tenor, CM; quintus, PM; bassus, AH)
16
Responsório ‘Dignare me laudare’ [canto gregoriano] Antífona ‘Beatam me dicent’ [canto gregoriano]
Claudio Monteverdi 5 ‘ Magnificat primo’ a oito vozes com dois violinos (cantus I, SV; altus I, AP; tenor I, CM; bassus I, TN / cantus II, IR; altus II, RA; tenor II, JA; bassus II, AH)
Oração ‘Concede nos famulos tuos’ [canto gregoriano] Benção Final ‘Benedicamos Domino’ [canto gregoriano] Claudio Monteverdi 2 Moteto ‘Cantate Domino’ a seis vozes (cantus, SV; sextus, IR; altus, AP; tenor, PM; quintus, JA; bassus, AH)
1 Vespro della Beata Vergine da concerto composto sopra canti fermi, 1610 2 Libro primo de motetti in lode d´iddio nostro signore a 1, 2, 3, 4, 5 e a 8 voci di G. C. Bianchi, con un altro a 5, e tre a 6 del sig. C. Monteverde, Venice, B. Magni, 1620 3 Seconda raccolta de’ sacri canti… de diversi eccelentissimi autori fatta da don Lorenzo Calvi, Venice, A. Vincenti, 1624 4 Sacri affetti contesti da diversi eccellentissimi autori raccolti da Francesco Sammaruco, Rome, I. A. Soldi, 1625 5 Selva morale e spirituale de C. Monteverde maestro di capella della serenissima republica de Venetia, Venice, B. Magni, 1640/1 6 Messa a quattro voci e salmi a una, due, tre, quattro, cinque, sei, sette, e otto voci, e parte da capella, e com le Letanie della b. V. Del signor Claudio Monteverdi già maestero di cappella della serenissima republica di Venetia, Venice, A. Vincenti, 1650 (cortesia de Tiago Daniel Mota, baixo) 7 Intonationi d’organo di Andrea Gabrieli et di Gio: suo nipote … libro primo, 1593¹0 (works by A. Gabrieli are wrongly attrib. G. Gabrieli in 1607²9) 8 Ricercari … composti et tabulati per ogni sorte di stromenti da tasti … libro secondo, 1595¹³ 9 Per ogni sorte d’stromento musicale diversi generi di sonate, da chiesa, e da camera, a 2–4, bc, Venice, 1655/R in Archivum musicum: strumentalismo italiano, XVIII 10 Musiche sacre concernenti messa, e salmi concertati con istromenti, imni, antifone et sonate, 2–8, 10, 12vv, bc, Venice, 1656 11 Concerto Musiche varie da chiesa: Motetti, Salmi, è Hinni, à Una voce Sola, à Due è Tre, Concertati parte con violini è Tiorba, e parte senza istrumenti, Opera XXX, 1650 (cortesia do Professor Doutor Jeffrey Kurtzman, doutorado em musicologia pela Universidade de Illinois em Urbana-Champaign)
17
Notas de Programa
Nuno oliveira
As Vésperas fazem parte do Ofício Divino, uma série de orações diárias: depois das Matinas, Laudes e Pequenas Horas, as Vésperas marcavam o ocaso. Existem na verdade três padrões básicos (ou cursus) sob as quais podemos agrupar as Vésperas. Aquele dedicado à Virgem Maria e demais Santas constitui o chamado cursus feminino, a saber: Dixit Dominus, Laudate Pueri, Laetatus sum, Nisi Dominus e Lauda Jerusalem. A estrutura é, porém, sempre igual. Ao invitatório Deus in adjutorium e respetiva resposta Domine ad adjuvandum, seguem-se os cinco salmos, cada um precedido da sua antífona, uma leitura breve, um Hino, o Magnificat, e por fim, a oração e bênção finais. Acresce, que na época barroca, muitas vezes se usavam motetes sacros, ou concerti, como substitutos das antífonas, sobretudo na sua repetição. Um dos expoentes máximos desta tradição musical é Monteverdi. Como maestro de capela em San Marco (Veneza), só dele foram publicadas três coleções dedicadas às Vésperas. Estas transcendem a mera funcionalidade, explorando uma rica panóplia de estilos e recursos expressivos, estruturais e contrapontísticos, que vão desde momentos mais contemplativos e serenos, como o solo de alto Ego flos campi, à sensualidade bastante carnal do dueto Pulchra es, no mais apurado estilo monódico da época; até ao engenho de Audi Coelum, onde a voz do tenor altamente virtuosística é refletida em eco, com um efeito glosado semelhante no texto (benedicam? Dicam). O Salmo Laetatus sum a 6 evidencia a mestria total no tratamento do cantus firmus gregoriano, sendo o Lauda Jerusalem a 7 quase um tratado de ritmo, alternando sempre entre divisão dupla e tripla, e culminando num Ámen muito sincopado. De Cavalli, sucessor de facto de Monteverdi em S. Marco, é o hino essencialmente silábico e intimista Ave Maris Stella a 3, com 2 violinos e violoncino, embora este último possa ser substituído por fagote ou tiorba, ou até completamente omitido, segundo Cavalli. Daqui se compreende o carácter eminentemente prático dos músicos da época. Finalmente, tanto o Dixit Dominus como, sobretudo, o Magnificat evidenciam, na sua exuberância e monumentalidade, o génio de Monteverdi: sempre imbuídos de uma grande teatralidade e, ao mesmo tempo, variedade e sensibilidade ao texto, enquadram estas Vésperas, tão impressionantes hoje quanto há quatro séculos atrás.
Aos 6 anos começou a estudar piano na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa. Aos 9 anos ingressou na Escola de Música do Conservatório Nacional em Lisboa, onde concluiu o Curso Superior de Piano com a classificação final de 19 valores, tendo tido como mestres, as professoras Leonor Pulido e Melina Rebelo.
Tiago Daniel Mota
18
Estudou cravo e baixo contínuo, primeiro no Conservatório Real de Haia (1999 - 2001) com Jacques Ogg e Jan Kleinbussink, a convite do primeiro, e depois no Conservatório Sweelinck em Amsterdam (2001 – 2003) com Bob van Asperen e Menno van Delft. Segue-se a participação em vários seminários e cursos de interpretação nas seguintes áreas: cravo, órgão, piano, baixo contínuo e canto gregoriano. Trabalhou com Jacques Ogg, Pablo Escande, Max van Egmond, António Duarte e Idalete Giga, entre outros. Atuou em vários locais do país e estrangeiro como pianista, cravista, organista e dirigindo vários conjuntos. Em 1988, foi convidado para duas gravações na RTP: numa delas interpretou Mozart ao piano; na outra foi solista convidado para representar Portugal num concerto de jovens intérpretes realizado na Finlândia, no qual foi acompanhado ao piano pela Orquestra da Radiotelevisão Finlandesa, dirigida pelo conceituado maestro Jukka-Pekka Saraste. Interpretou e dirigiu obras inéditas de compositores de Coimbra dos séculos XVIII e XIX. Em alguns dos elencos de intérpretes, participaram elementos dos Segréis de Lisboa e das Orquestras da Capela Real, Gulbenkian e Sinfónica Portuguesa.
Dirigiu outros conjuntos musicais em obras de Bach, Vivaldi e Pergolesi. Foi também intérprete e organizador da primeira récita da Oratória Messias de Haendel realizada em Portugal com instrumentos da época e músicos portugueses. Integrou a temporada de concertos da Antena 2, em parceria com o CCB. Tem colaborado com a Orquestra Metropolitana de Lisboa como cravista e organista, onde atuou sob a direção de Cesário Costa, João Paulo Santos, Michael Zilm e Nicholas Kraemer. Colaborou como cravista com a OrquestrUtópica, em várias récitas e gravação em CD (ao vivo) da Ópera “A Raínha Louca” de Alexandre Delgado. Tem sido convidado para vários concertos organizados pela ESMAE. Com os agrupamentos Flores de Mvsica e Capella Joanina, realizou uma gravação em CD da Missa em Fá de Francisco António de Almeida, cuja estreia em primeira audição moderna se deu em 2012. É licenciado em Medicina Dentária e em Medicina, com especialidade em Patologia Clínica.
19
Bilhetes 5 €
As reservas devem ser levantadas 30 minutos antes do início dos concertos
Mais informações
CMA | jul 2015
Convento dos Capuchos tel. 212 919 342