Comércio cOm mEmória
A que cheira uma cidade?
Para onde me dirijo sem pensar?
Que caras e cheiros pintam o quadro urbano?
Uma cidade é uma complexa e intricada tapeçaria de relações afetivas, cujos fios convergem e entram porta adentro das papelarias, dos restaurantes, dos cabeleireiros, das retrosarias, dos pronto-a-vestir, das drogarias, das livrarias e dos cafés, tecendo assim espaços de vivência e de memória coletiva.
Com este projeto queremos comemorar os 50 anos da cidade de Almada, queremos celebrar esta cidade que ao longo destas décadas se construiu, em grande medida, pelo seu comércio de rua e pelas pessoas atrás do balcão, cujo olhar que acolhe é tanto património imaterial desta nossa Almada como as Filarmónicas centenárias, as burricadas de Cacilhas, ou as Festas de Nossa Senhora da Piedade.
Os nomes destes estabelecimentos, decalcados na montra ou tremeluzindo no néon acima da porta, ecoam na nossa memória e quando os invocamos a palavra desenrola-se na língua com o conforto de uma fonética familiar, como se, ainda que por um fugaz instante, num qualquer recanto da nossa mente revisitássemos uma das inúmeras memórias daquele espaço: das suas pessoas, dos seus cheiros e das suas cores.
Estes locais são uma ode ao cinquentenário que este ano celebramos. São baluartes do comércio local almadense. São referências de um modo de vida mais enraizado e de proximidade, de distâncias curtas e de vizinhança. Contudo, desengane-se quem para eles olha como relíquias de um qualquer passado distante, é por isso mesmo que este comércio é, ao contrário, bastante futurista! É uma ponte para um futuro que não podemos recusar e sobre o qual devemos agir. O legado destes espaços é a planta para nos reconciliarmos com as preocupações ambientais e práticas sustentáveis de proximidade que urge adotarmos.
Desejo que este projeto sirva para todo o comércio local e não apenas para o aqui retratado, como um humilde tributo às pessoas e aos espaços que, ao longo destas cinco décadas, fizeram literalmente esta cidade de Almada, e que continuam, diariamente, e mesmo na face de enormes desafios, como foi o recente período da pandemia, a abrir portas, a sorrir e a servir todas e todos os almadenses.
Inês de Medeiros
Presidente da Câmara Municipal de Almada ←
jOão soEiro fotógrafo
Rui Sérgio Afonso
What does a city smell like?
Where do I walk to without thinking?
Which faces and smells paint the urban canvas?
A city is a complex and intricate tapestry of affective relationships whose threads converge and burst through the doors of paper shops, restaurants, hairdressers, boutiques, hardware shops, bookshops, and cafes thus weaving spaces of collective inhabitancy and memory.
With this project we want to commemorate the 50th anniversary of the city of Almada. We want to celebrate this city which has been built throughout these decades in large part by its local commerce and by the people behind the counter, whose welcoming gaze is as much intangible heritage of this Almada of ours, as the “burricadas” in Cacilhas, the hundred-year-old Philharmonic bands or the festivities of Nossa Senhora da Piedade.
Branded on the shop window or shimmering on the neon lights above the door, the names of these businesses echo through our memory and when we speak of them the words roll from our tongues with the comfort of a familiar phonetic, as if even for a fleeting moment in some further corner of our mind we revisit the countless memories of those spaces: their people, their smells, and colours.
These places are an ode to the fiftieth anniversary that we celebrate this year. They are bulwarks of Almada’s local commerce. They are reference points to a more rooted and neighbourly way of life, one of shorter distances and more closeness. However, those who look upon them as relics of some distant past are thoroughly mistaken, it is precisely because of it that they are quite futuristic! They are a bridge towards a future we cannot refuse and upon which we must act. The legacy of these places is the blueprint for our reconciliation with the environmental concerns and with the sustainable practices of proximity that it is urgent for us to adopt.
I wish this project acts not only to the here included businesses but to all local commerce as a humble tribute to the people and the places that throughout these five decades have literally made this city of Almada and that everyday even in the face of grave difficulties, such as the recent pandemic period, continue to open their doors, to smile, and to serve all “almadenses”.
Inês de Medeiros
Mayor of Almada
introdução [pt]
Pensar sobre o comércio de uma cidade é pensar sobre uma rede rizomática e omni-abrangente que interage e afecta todas as áreas da nossa vida. Os diferentes tipos de espaços comerciais são nós vibrantes conectados pelas ruas ou artérias que dão vida à urbanidade. Sem confundir comércio, existente desde tempos primordiais, com consumismo, um elemento do capitalismo moderno, debruçamo-nos aqui sobre o tráfico infinito de mercadorias que implica um movimento contínuo através do espaço, desde pontos de partida a outros de chegada, de umas pessoas a outras, entre fornecedores, comerciantes, clientes e fregueses. Esta correlação indissociável do comércio constitui na sua constelação física e social um conjunto de vivências fundamentais cujo estudo fascinou e informou as mais variadas disciplinas ao longo dos séculos, das quais a arquitectura não é excepção. Uma referência essencial neste contexto é o arquiteto francês JNL Durand (séc. XIX), autor de um extenso estudo tipológico de mercados, lojas e espaços dedicados ao comércio pela Europa, Norte da África e Médio Oriente. Durand documentou a riqueza, variedade e multiplicidade destes espaços num levantamento de plantas e alçados, assim como diversos textos analíticos compilados em Recueil et parallèle des édifices de tout genre. O seu estudo gerou um movimento e uma escola de sistematização dos edifícios públicos para otimizar o funcionamento de centros urbanos cada vez mais densos. Faziam também parte deste novo pensar os mercados distribuídos uniformemente pela cidade que ficavam a cargo da gestão da distribuição de bens. Estes conceitos tiveram um impacto substancial no desenvolvimento da cidade modernista europeia, uma influência que se revê também no planeamento dos espaços comerciais da cidade de Almada. Outros estudos tipológicos incluem elementos poéticos em processos sistemáticos e estritamente formalizados de levantamentos espaciais. Na arquitectura, tais estudos provêm de uma genealogia diversa que ganhou novos contornos com a utilização da fotografia como ferramenta de classificação visual e de documentação, numa variedade imensa de temas e áreas. Lembramos por exemplo a prática artística da dupla clássica Bernd e Hilla Becher com Typologies of industrial architecture, ou ainda Ed Ruscha com Every Building on the Sunset Strip Partindo da loja com acesso à rua para a definição de uma tipologia de comércio de proximidade, esta publicação alinha-se com os trabalhos mencionados, procurando outra forma de sistematizar o olhar sobre estes espaços.
frame colectivo
Agapi Dimitriadou
Gabriela Salhe Salazar
Enquadrado nas comemorações dos 50 anos da cidade de Almada, o livro Comércio com Memória propõe um exercício de levantamento tipológico experimental entre a arquitectura, a pesquisa urbana e a fotografia, que nos convida a visitar espaços comerciais históricos. A intersecção de disciplinas propostas acolhe as especificidades de cada loja,
desde a restauração à mecânica e todas as demais necessidades que cabem nos nossos quotidianos, com os seus ritmos e dinâmicas, assim como memórias inscritas.
Presencia-se, atualmente, um aumento descontrolado dos custos da habitação e rendas com consequências avassaladoras sobre o comércio de proximidade aqui retratado, já que a maioria funciona em locais alugados. Além das dificuldades económicas, a falta de uma próxima geração interessada na continuação dos ofícios e a dificuldade de adaptação ao crescente hábito de consumo online são só algumas das ameaças para estes negócios. Este livro documenta um momento decisivo nestas mudanças e realça a importância de apoiar o comércio de proximidade, tanto politicamente como individualmente, incluindo-o com mais frequência e consciência nas nossas escolhas diárias.
Convidamos 12 fotógrafas/os a criar ensaios visuais de comércio histórico, assim como um ensaio livre no espaço público. A seleção inicial de 50 lojas, alinhada com os critérios que definem o Comércio com Memória, ficou a cargo da Câmara Municipal de Almada. Durante a implementação do projeto, adicionou-se um ensaio de mais 5 negócios de proprietárias/os com histórico de migração, para uma representação inclusiva da diversidade cultural da cidade. A presente lista não pode ser considerada exaustiva, mas entende-se como uma primeira iniciativa de valorização do território e do seu património. É uma homenagem a esta herança urbana que entrelaça espaços e afetos de cinco décadas. A cidade, os comerciantes e os seus habitantes são os principais protagonistas desta publicação. As fotografias convidam a entrar nas lojas, retratando as relações interpessoais, ferramentas de trabalho, decoração, sinalética e texturas. Passeamos no tempo e por Almada, pelo bairro da Cova da Piedade, pelas rotundas, pela Rua Capitão Leitão, pela zona à volta do Mercado Municipal de Almada e por Cacilhas.
Os ensaios são acompanhados por seis reflexões mais abrangentes, contextualizadas nas áreas da geografia, ativismo social, filosofia e antropologia. Esta compilação abre com textos teóricos sobre o planeamento urbano da cidade de Almada, a implementação de dois Planos de Urbanização em épocas diferentes, e a forma como a sinalética das lojas pode ser um elemento disruptivo na paisagem modernista. Seguem textos mais livres, que incluem entrevistas, memórias pessoais e histórias do quotidiano na lida do comércio. Olhamos para os pequenos centros comerciais integrados na malha urbana da cidade, para o processo de gentrificação a decorrer na Cova da Piedade e para o dia a dia no antigo Mercado de Levante, também traduzido em romani comum. O livro conclui com um ensaio gráfico de detalhes do espaço público, fachadas, reflexos e objetos – um catálogo-respiro afastado do movimento incessante das ruas de Almada.
Conceptualising a city's commerce is like contemplating a rhizomatic, all-encompassing network that interacts with and influences every aspect of our lives. The various types of commercial spaces are vibrant nodes connected by streets or arteries that breathe life into the urban landscape. Without conflating trade, present since primordial times, with consumerism, a facet of modern capitalism, we delve here into the infinite flow of goods that entails a continuous movement through space, from departure points to destinations, from one set of people to another, amongst suppliers, traders, clients, and customers. Within its physical and social constellation, this inseparable correlation of commerce constitutes a set of fundamental experiences that have fascinated and informed various disciplines over the centuries, with architecture being no exception.
An essential reference in this context is the 19th-century French architect JNL Durand, the author of an extensive typological study of markets, shops, and commercial spaces across Europe, North Africa, and the Middle East. Durand documented the richness, variety, and multiplicity of these spaces through his survey of plans, elevations, and analytical texts compiled in Recueil et parallèle des édifices de tout genre . His study sparked a movement and a school of thought in systematising public buildings to optimise the functioning of increasingly dense urban centres. Part of this new thinking included markets, distributed evenly throughout the city, and managed to oversee the distribution of goods. These concepts had a substantial impact on the development of the European modernist city, an influence also reflected in the planning of commercial spaces in the city of Almada.
Other typological studies incorporate poetic elements into systematic, strictly formalised processes of spatial surveying. In architecture, such studies come from a diverse genealogy that gained new contours with the use of photography as a tool for visual classification and documentation across a vast array of themes and areas. Examples include the artistic practice of the classic duo Bernd and Hilla Becher with Typologies of Industrial Architecture, or Ed Ruscha with Every Building on the Sunset Strip. Starting from the street-access shop as one possible definition for a typology of local commerce, this publication aligns with the aforementioned works, seeking another way of systematising an approach to these spaces.
Framed within the celebrations of the 50 years of the city of Almada, the book Comércio com Memória [Commerce with Memory] proposes an experimental typological survey across architecture, urban research, and photography, inviting us to explore historical commercial spaces. The intersection of featured disciplines embraces the specificities of each shop, from dining to mechanics and all other needs which form part of our daily lives, with their rhythms and dynamics, as well as inscribed memories.
We are currently witnessing an unbridled increase in housing costs and rents with devastating consequences for the local commerce we portray here, as most operate in rented premises. In addition to the economic challenges, the lack of a next generation interested in continuing the trades and the difficulty of adapting to the growing trend of online consumption are just some of the threats that the businesses face. The present publication documents a decisive moment in these changes and highlights the importance of supporting local commerce, both as a political body and as individuals, encouraging a more regular and mindful consideration in our daily choices.
We invited 12 photographers to create visual essays of historic commerce, as well as a free-form essay in public space. The initial selection of 50 shops, aligned with the criteria that define Comércio com Memória [Commerce with Memory], was carried out by the Almada City Council. During the implementation processes, we decided to add an essay of 5 more shops run by owners with migration background, to better represent the cultural diversity of the city. The present list cannot be considered exhaustive but rather understood as a first initiative to value the territory and its heritage. It is a tribute to this urban legacy that intertwines spaces and affections over five decades. The city, its merchants, and its inhabitants are the main protagonists of this book. The photographs invite us into the interiors of the stores, depicting interpersonal relationships, work tools, decor, signage, and textures. We stroll through time and through Almada, the Cova da Piedade neighbourhood, the roundabouts, Rua Capitão Leitão, the area around the Municipal Market of Almada, and Cacilhas.
The essays are accompanied by six broader reflections that contextualise them in the research fields of geography, social activism, philosophy, and anthropology. The compilation opens with theoretical texts on the urban planning of the city of Almada, the implementation of two Urbanisation Plans in different eras, and how signage can act as a disruptive element in the modernist landscape. Subsequent texts include more free-form content, incorporating interviews, personal memories, and everyday stories in dealing with commerce. We take a look at small shopping centres integrated into the city's urban fabric, the ongoing gentrification process in Cova da Piedade, and the daily life in the former Levante Market, the latter also translated into Romani. The book concludes with a graphic essay with details of public spaces, façades, reflections, and objects; a catalogue that offers respite from the incessant movement on the streets of Almada.
mEcânica piedEnse Augusto brázio
Rui sergio afonso
MáqUinas E FerramEntas
Rui sergio afonso Almeida FerrãO rUi vidrOs
sapataria picançO
Tiago miranda
caBeleireirO cidália
Augusto brázio
DrOgaria e PErfumaria ROsa
Tiago miranda
pastElaria miKi
Rodrigo cabrita
pastElaria
PáscOa
Tiago miranda
café trOpical
Ceu Guarda
rEstaurante o Batista
Lara jacinto rEstaurante a rEdentOra
Lara jacinto
pastElariacOndestávEl
Lara jacinto
Ceu Guarda
frUtaria dias Augusto brázio
Alfaiataria Brito Nuno Andrade casa dOs candeeirOs Augusto brázio
geladOs monte nEve
Pedro letria
Pauliana Valente Pimentel casaREstaurante
Bar dEsporto, LDA Augusto brázio
A fErrageira dE almada
jOão soEiro fotógrafo
Rui sergio afonso
café pastElaria
impErial
drOgaria andorinHas
Nuno
Tiago
Pedro Letria
sapataria casa nOva
Pedro Letria
oUrivesaria gOmes
Luísa Ferreira La
ourivEsaria cOimbra
Ceu Guarda
mErcado
Lara
geladOs rifEra
Lara jacinto
LeãO das cHaves
Luísa Ferreira
LOja dE lãscOats
Pauliana valente pimentel
barbEaria
Bordonhos & bordonHos
Nuno andrade
figueiredO
Ceu guarda
café central
Rui Sergio afonso
farmácia cEntral
Rodrigo cabrita
restaUrante olivEnça
Rodrigo cabrita
pastElaria repUxo
Rodrigo Cabrita
Grupo rOlú
Rodrigo Cabrita
PapElaria
TaBacaria
MinitUdo
Rui Sergio Afonso
taBacaria bOrges
Pauliana valente pimentel
rEstaurante a caBrinha
228
Pauliana valente pimentel
234 o EscondidinhO de cacilhas
Tiago Miranda
rEstaurante O cacilHeiro
Pedro Letria cervejaria o farOl Luísa Ferreira
restaUrante Tia bé
Sofia Yala
Sofia Yala
rEstaurante annapUrna
Sofia Yala
iva nails
Sofia Yala mini mix
Sofia Yala
As lojas e os estaBelecimentos iluminaram-se cOm grandes tubos de néon álvaro domingues
Da Praça dO MFA às Rotundas da RUa dos 3 ValEs ana catarino
Sinalética como elementO crítico
Maribel mendes sobreira
DO pixel à realidade: os peQuenos centros comErciais na vida urbana atUal sandra gonçalves
Um Lugar É Onde o Futuro Possa Criar Ainda Mais Histórias joão tempera
Almada VivaHistórias da feira de LevantE olga mariano
créditos credits lista de lojas e mapa list of stores and map
Pode levar tempO a abrir a porta enric vives-rubio
mEcânica piedEnse
MáqUinas E FerramEntas Almeida FerrãO
sapataria picançO
DrOgaria E
PErfumaria ROsa
pastElaria miKi
pastElaria PáscOa
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REstaurante o Batista
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café Pastelaria impErial
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farmácia cEntral
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LeãO das cHaves
LOja dE lãs - cOats
barbEaria Bordonhos & bordonHos
pastElaria repUxo
GrupO rolú
PapElaria TaBacaria
MinitUdo
taBacaria bOrges
rEstaurante a caBrinha
o EscondidinhO de cacilHas
rEstaurante O cacilHeiro
restaUrante tia bé
rEstaurante saBor de amOr
1.Tomás Ribas, 1960. “Almada: a cidade satélite”, in revista Eva Dezembro 1960, pp. 22-25.
2.Consulte-se Cristina Cavaco, 2009. Formas de Habitat Suburbano. Tipologias e Modelos Residenciais na Área Metropolitana de Lisboa Tese de Doutoramento. Lisboa: Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, pp. 137-218.
3. Étienne de Gröer, 1946, citado em Cristina Cavaco, 2009, op. cit., p. 133.
As lojas e os estaBelecimentos iluminaram-se cOm grandes tubos de néon álvaro domingues [pt]
´
Pela pena de Tomás Ribas, colunista da revista Eva de 1960,1 se pode claramente perceber a importância das actividades comerciais numa visão modernizada da cidade de Almada, que, nas palavras do autor, se estava a transformar numa Cidade Satélite! O satélite pode parecer um contra-senso, uma vez que o adjectivo contém uma marca de dependência e menoridade face ao planeta — Lisboa — em torno do qual o tal satélite orbitaria. Não é o caso. Tomás Ribas usa o adjectivo para caracterizar a condição de cidade e diferenciá-la de um bairro residencial, um dormitório: Almada ganhou a configuração topográfica dos grandes e novos bairros de Lisboa, mas não se tornou um bairro. As suas amplas ruas de altos e modernos prédios, as suas belas avenidas, os seus bairros residenciais de lindas vivendas, os seus enormes edifícios públicos ou particulares, as suas belas praças bem desenhadas dão-lhe, realmente, o aspecto e o movimento de uma cidade.
Uma parte desta realidade desenvolveu-se a partir do Plano de Urbanização de Almada, que o arquitecto De Gröer desenvolve em 1946, propondo um Centro Cívico2 onde se localizariam os edifícios públicos de referência (a Câmara Municipal, o tribunal, os correios, a escola comercial e industrial, os bombeiros e outros equipamentos) e um sistema de amplos espaços livres ajardinados e avenidas convergentes numa rotunda (cercada por plantações) aonde confluiriam as principais vias do concelho. O resto, a área dominantemente residencial, seria uma espécie de cidade-jardim. O modelo de referência da cidade satélite fazia parte das novidades que então circulavam. Patrick Abercrombie, quando em 1943 apresenta as linhas gerais daquele que viria a ser o Plano da Grande Londres, evita o crescimento em mancha de óleo e, acautelando uma cintura verde que preservaria a qualidade do campo inglês, prevê um conjunto de cidades novas com administração própria, oportunidades de emprego e uma diversidade funcional bastante para evitar o efeito de subúrbio residencial de Londres: a variedade do comércio e dos serviços teriam um papel importante na vida dessas cidades e na diminuição da dependência face a Londres. A base legal desta nova constelação urbana seria o New Towns Act de 1946. Pensando na estruturação de uma futura Área Metropolitana de Lisboa, uma Grande Lisboa, De Gröer repetia a fórmula: Se a população da cidade tiver tendência a aumentar além dos limites que lhe são fixados, o excesso de habitantes deve constituir uma ou várias cidades satélites, situadas para além do anel campestre da zona rural e ligadas por meios de transporte rápidos com a cidade mãe. Cada uma daquelas cidades satélites deve ser também envolvida por uma zona rural própria, de maneira que todas elas tenham os seus espaços de protecção e que nenhuma delas corra o risco de se confundir com a vizinha e de formar em conjunto com ela um grande aglomerado que reúna todos os defeitos das grandes cidades 3
O largo estuário do Tejo faria as vezes do anel campestre, garantindo uma descontinuidade urbana entre Lisboa e a Margem Sul. Haveria apenas que criar ligações rápidas que os barcos não garantiam. Depois de quase 80 anos de discussão, só em 1966 viria a ponte rodoviária para Almada, a então Ponte Salazar. Ao mesmo tempo continuava a intensificação da industrialização com os grandes estaleiros de construção naval — a Lisnave chegou a ter mais de seis mil operários, a juntar aos cerca de quatro mil do Arsenal e da Base Naval do Alfeite. O Ginjal, Cacilhas e a Margueira constituíam uma assinalável concentração industrial que se estendia para o Seixal e para o Barreiro. A cidade satélite era ainda e sobretudo uma periferia industrial e operária da Grande Lisboa, e o efeito dormitório crescia a olhos vistos. Vivia-se uma dinâmica demográfica imparável — em 1940, Almada não chegava a 30 mil residentes, e em finais da década de 1960 já passava dos 100 mil. António Xavier de Lima, o AXL, e alguns mais capitalistas do imobiliário iam desenvolvendo os negócios de terrenos e casas para habitar na Margem Sul. Os barcos asseguravam a maior parte dos movimentos: em 1960, o número de passageiros entre Cacilhas e a Praça do Comércio era de 14 milhões; Belém e Trafaria, 1,8 milhões; e Belém e Porto Brandão, 120 mil. Cinco anos mais tarde, em 1965, o movimento de automóveis transportados pelos barcos entre as duas margens era de quase 1,5 milhões.4
Texto de Tomás Ribas, fotos de António Homem Christo, ilustração de Carlos Ribeiro, “Almada: a cidade satélite”, in revista Eva , Dezembro 1960, p.25.
Em 1960, a cidade satélite movimentada e cosmopolita descrita por Tomás Ribas na Eva era ainda uma miragem. Contudo, para além da população bem-vestida, do bulício automóvel e da multidão, o autor socorria-se de uma descrição detalhada e viva do comércio para caracterizar o efeito cidade e a grande marcha da modernização:
Os grandes Bancos de Lisboa abriram sucursais nos baixos dos novos prédios de Almada, nesses prédios onde surgiram lojas e estabelecimentos de enormes e bem decoradas montras. Cafés, pastelarias e restaurantes estenderam os seus toldos e as suas esplanadas à sombra de arcadas que são uma bela reconstituição moderna da típica arquitectura peninsular. As lojas e os estabelecimentos iluminaram-se com grandes tubos de néon e luminosos anúncios de mil cores. Cabeleireiros
4. Magda Pinheiro, 2006. “Encounters and disencounters in the transport system on the South Bank of the Tagus Estuary. On the difficulties of establishing intermodal transport in a region”, in Transportes, Servicios y Telecomunicaciones, n.º 10, pp. 76–94. https://repositorio.iscte-iul. pt/bitstream/10071/13849/1/ Encounters%20and%20 disencounters%20in%20the.pdf.
e institutos de beleza, lojas de modas e boutiques, charcutarias e mercearias modernas, tinturarias e oculistas, lavandarias, escritórios de advogados, consultórios médicos, um grande hospital, uma moderna clínica, colégios e escolas, repartições de notários, agências bancárias, escritórios industriais, agências turísticas e de compra e venda de propriedades […] surgiram através das ruas e praças de Almada tornando inútil a ida à Capital. Almada tem a sua própria vida, a sua vida de cidade. […] Lisboa e Almada uniram-se finalmente! E, muito em breve, a ponte sobre o Tejo derrubará por completo o único obstáculo que durante séculos as separou.
Tomás Ribas não se enganava: aquilo que denominamos “cidade” ou “urbano” é-o em função das relações, da troca. Já assim era nas cidades das origens, como em Çatal Hüyük, há quase 10 mil anos: centralização, diversidade e aglomeração num lugar inscrito numa geografia de relações de escala bem mais alargada. Em 1933, o geógrafo alemão Walter Christaller publica Os Lugares Centrais no Sul da Alemanha, que viria ser uma obra de referência sobre a relação entre a centralidade de uma aglomeração urbana e a diversidade, quantidade, variedade e excepcionalidade das suas funções centrais — comércio e serviços.
Crescimento de Almada entre 1966 e 1995, 30 anos depois da ponte sobre o Tejo — vias arteriais rodoviárias e arruamentos.5
5. Rafael Marques Santos (2018). Espaços de Mediação Infraestrutural: Interpretação e Projecto na Produção do Urbano no Território Metropolitano de Lisboa, vol. II.
A transformação dos sistemas comerciais em Almada acelera depois da construção, em 1966, da Ponte Salazar, que permite a facilidade de ligação rodoviária para a Margem Sul, onde abundava solo barato e uma elevada procura de habitação por parte de populações que buscavam uma vida melhor na Grande Lisboa. Se observarmos a planta acima (evolução entre 1966 e 1995), a dimensão e a extensão geográfica da nova urbanização (a maioria das novas vias está relacionada com loteamentos clandestinos ou legais) não têm qualquer comparação com a pequena escala da cidade de Almada que existia no início desse período. Até ao início do novo milénio, ainda veio o comboio na ponte, o metro, a A2, a A38 e a A33. Estendendo-se a todo o concelho, da Costa da Caparica ao Ginjal, dos blocos do Monte da Caparica à Fonte da Telha, a urbanização é um mosaico que se vai compondo: um processo, um campo de forças e de relações. Mais do que um todo sistémico, o urbano constrói-se numa geografia multi-escalar onde uma determinada ocorrência local corresponde a um nó na rede de relações, causas e efeitos que aí se cruzam e contextualizam essa particular ocorrência. Ao cenário secular que associava a aglomeração do comércio retalhista à residência, reforçando o efeito de proximidade e de centralização, segue-se um processo
de descentralização que acompanha a própria transformação da cidade como aglomerado compacto e relativamente confinado no território numa “explosão” urbana que se estende de forma descontinuada e heterogénea por geografias imensas. A facilidade de relação, a progressiva motorização, o efeito estruturante dos grandes sistemas de mobilidade de pessoas e mercadorias (rodoviários e outros), a extensão das redes de energia, água, saneamento e telecomunicações, etc., diminuem o atrito da distância e reconfiguram o mapa da vida quotidiana e dos movimentos associados: os locais de residência, de trabalho, de compras, de frequência de serviços como a saúde ou o ensino, os destinos de lazer, a mudança nos hábitos e práticas de consumo e tudo aquilo que faz parte da organização da sociedade, que é, afinal, o motor da transformação do território.
O sector do comércio, dos serviços, da logística, é uma metamorfose contínua. Dos grandes centros comerciais às lojas de conveniência, o comércio, como qualquer negócio, vive dos seus clientes, sejam habituais, ocasionais, próximos ou de passagem. A representação convencional da cidade cobre apenas uma parte minoritária dessa diversidade. As actividades comerciais podem ocorrer em qualquer fragmento do mosaico territorial da urbanização, mas as suas tendências de localização dependem mais da espacialidade e da intensidade dos fluxos, do mapa das relações e dos movimentos ou da facilidade de acesso e estacionamento.
Há pouco mais de 50 anos, um reclame de um automóvel vendia um estilo de vida e um determinado papel para a mulher-mãe: “Lá vem a D.ª Maria, mais o seu belo carrinho; leva os meninos à escola, faz as compras de caminho.” Em Almada, poucos tinham possibilidade de ter um tal carrinho.
Produtos, serviços, possibilidades e padrões de consumo, gostos, necessidades, modos de habitar o espaço urbanizado são questões que se encontram sempre em aberto. Em matéria de comércio, não são precisos muitos anos para tudo mudar; e com tendências mais ou menos massificadas convivem os mais diversos padrões e possibilidades de consumo.
Fotografia Álvaro Domingues
Da Praça dO MFA às Rotundas da RUa dos 3 ValEs [pt]
Chove copiosamente enquanto acabo de escrever este texto sobre Almada, a cidade onde vivo há 2 anos. Ontem foi dia de CoNTRaSTO, Um bairro! Identidade é Diversidade, organizado pelo Estuário Colectivo. Foi uma tarde de festa numa rua de Cacilhas: uma rua que se faz praceta mesmo em frente à estação de metro 25 de Abril, a primeira quando saímos de Cacilhas e rumamos ao Centro Sul; uma avenida que rasga Almada de norte a sul, juntando dois pontos que são tanto entrada como saída da cidade.
Começo o texto por referir esta festa porque há muito que Almada é (re)conhecida pelo seu associativismo, pelas vastas colectividades que compuseram e compõem o seu tecido social. Como nos diz o arquitecto Godofredo Enes Pereira1 num texto sobre estas colectividades e o seu impacto, elas representam um dos territórios existenciais que construíram esta cidade. Cacilhas está marcada, por um lado, por uma espécie de resquício de uma cidade velha, edifícios sobra de planos não totalmente cumpridos; e, por outro, pelos imponentes edifícios de habitação em altura por onde começa a Avenida 25 de Abril de 1974. Parecendo querer fazer jus à data que anunciou um tempo novo, “o dia inicial inteiro e limpo”, como anunciado pela poetisa, 2 esta avenida faz dialogar edifícios de diferentes épocas e diferentes alturas, anunciando um tempo novo de uma nova construção de cidade. As pracetas e entre-ruas que estes novos edifícios fazem surgir na paisagem serão cenário para muita da movida cultural das décadas seguintes. Se olharmos bem no seu miolo, há uma passagem por onde podemos ver o imponente pórtico da Lisnave. Daqui começamos um percurso de entrada e saída da cidade. A Avenida 25 de Abril de 1974, quando passa pela Praça Gil Vicente — uma praça que é também uma rotunda, a primeira neste percurso —, transforma-se em Avenida Dom Afonso Henriques; e, como quem recua um pouco no tempo, os edifícios começam a perder a escala gigante, convertendo-se em edifícios um pouco mais modestos. Continuamos a subir e chegamos à Praça Movimento das Forças Armadas, também uma praça feita rotunda, marcada pelo Café Central (todas as terras têm um, penso eu cada vez que passo por lá), pelo mercado biológico todos os sábados e, num dos lados, pelo Monumento aos Perseguidos. Inaugurado em 1979, é um monumento fruto de uma época ainda pós-revolucionária — ainda que feito 10 anos antes — que quer homenagear e reivindicar espaço para a memória de resistência e luta pela liberdade. A partir daqui, a avenida volta a mudar de nome, e adquire agora o de Dom Nuno Álvares Pereira. Será preciso passarmos a última rotunda, logo após a paragem de metro Almada, para voltarmos às referências mais revolucionárias, e a Avenida chamar-se Bento Gonçalves.
1.Pereira, Godofredo Enes. “Margens em resistência: Colectividades, equipamentos colectivos e justiça reprodutiva”, em Almada, Um Território em Seis Ecologias, Câmara Municipal de Almada, 2021.
2.Poema “25 de Abril”, de Sophia de Mello Breyner.
Ana catarinoDescrevo todo este percurso para que fique claro que esta é uma avenida que, além de rasgar a cidade, lhe confere um sentido de lugar, ou a transforma numa confluência de vários lugares, várias ocupações. As várias mudanças de nome, as aberturas que as praças e rotundas lhe
conferem, quase todas com comércio e lugares de encontro e convívio (como o já referido Café Central, o Café Tropical, a Pastelaria Condestável, ou a Pastelaria Repuxo, ponto de referência noutro texto neste livro),3 integram a proposta do Plano de Urbanização de Almada de De Gröer de 1946, com usos mistos e a coexistência de prédios habitacionais, escritórios, comércio e serviços.
Se voltarmos à Praça do Movimento das Forças Armadas, lembremo-nos que ela nem sempre foi assim — nem sempre teve linhas de metro a cortarem-na ao meio. Por outro lado, lembremo-nos que não será isso que impossibilita gestos quotidianos de produção de espaço no sentido que Lefebvre dá a esta produção, à sua manipulação e construção social. As práticas sociais, sempre de alguma forma espacialmente situadas, não se amedrontarão com mudanças no desenho do espaço físico ou material onde se manifestam; antes, adaptam-se ou reorganizam-se para que os gestos voltem a fazer sentido. Ou seja, apesar da entrada das linhas do metro, a praça manteve a sua configuração, e os cafés a sua rotina, suponho. A vida de bairro, de relações mais próximas, parece permanecer, ainda que não deixe também de ser uma rotunda, em diálogo com as demais desta vasta avenida — uma rotunda que pode também ser um lugar, no sentido antropológico que esta palavra carrega, conferindo identidade, relações e conflitos. Inserida numa malha urbana consolidada, percebe-se que esta pequena escala que aqui se sente se vai perdendo à medida que nos seguimos rumo a Bento Gonçalves. Aqui, o lugar, o sentido de lugar, acontece já para lá das laterais da avenida.
Se subirmos à direita na rotunda onde a Bento Gonçalves começa, e continuarmos à esquerda até ao fim da Rua Direita, chegamos facilmente à Rua dos 3 Vales, que cruza parte de um vasto território conhecido por Monte da Caparica. Ao olhar para o mapa, percebemos que fizemos quase uma linha directa desde que saímos de Cacilhas: 3,8 quilómetros no total, 1,4 quilómetros desde a rotunda dos bancos. Por onde entramos ainda é Pragal, com quarteirões de habitação privada. Só após a primeira rotunda entraremos no Monte da Caparica, enquanto conjunto de habitação pública (embora não exclusiva), entre municipal e IHRU,4 construída em várias épocas distintas, desde os finais da década de 1970 até já aos anos 2000 e diante. Tratam-se de projectos de qualidade muito díspar, com conjuntos de edifícios onde adivinhamos uma proposta de vida de bairro, ao passo que noutros parece apenas existir a vontade de construir em banda dentro de lotes disponíveis, mas sem ou com menos sentido de conjunto.
A construção deste vasto território partiu de um projecto de grande escala desenhado ainda antes da revolução de 1974 e designado por Plano Integrado de Almada. Este plano previa e desenhava o que deveria ser a grande área de expansão urbana do concelho. Os primeiros bairros são erguidos ainda na década de 1970 e no início da de 1980, todos pós-revolução e já em resposta à grave crise de habitação que o país vive e a revolução torna visível — uma crise interna e também amplificada pela chegada a Portugal dos chamados retornados, após a independência das antigas colónias. O Bairro Amarelo (ou Pica-Pau Amarelo) é um desses exemplos.
Voltemos à Rua dos 3 Vales, que, apesar de ladear vários destes conjuntos, nunca entra verdadeiramente em
3. Mariano, Olga. “Almada Viva –Histórias do Mercado de Levante”
4. Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana.
nenhum deles. As suas rotundas marcam-lhe sempre as extremas, nunca surgindo no interior. Servem explicitamente enquanto zona de passagem, de atravessamento, e não já enquanto passagem e permanência, como na grande avenida que parte de Cacilhas. Aqui, toda a zona de comércio, lazer ou habitar é recolhida ao interior dos quarteirões. As rotundas já não precisam ter monumentos que lhes dêem um significado outro que não o de rotunda. São rotundas genéricas, que servem para distribuir o trânsito. As práticas sociais espacialmente situadas que adivinhamos na Praça do MFA aqui acontecem mais longe, já dentro do bairro. Duas ruas, ambas concebidas em planos de urbanização estatais, rasgam qualquer coisa: uma rasga ao mesmo tempo que se cose, enquanto a outra rasga para marcar a distância entre a função viária e vida do bairro no interior. Numa série de entrevistas/conversas, publicadas recentemente, Hans Ulrich Obrist e Édouard Glissant5 falam sobre a utopia, que […] não é um objectivo nem uma meta. Tampouco é um sonho. A utopia é o que nos falta no mundo. Nossa utopia é uma busca por interconexão e totalidade, mas de forma que não deixemos de fora nenhum componente do mundo quando pensamos «mundo». Assim, no mundo de hoje, a utopia nunca está completa. É aquilo que falta. Se Glissant está certo e a utopia hoje é aquilo que falta, então o caminho será identificar esta falta, ou as várias faltas. Poderá a nossa relação distinta com as rotundas ser um caminho para esse questionar? O que será que elas nos dizem sobre a forma como as diferentes partes da cidade são planeadas e desenhadas quando olhamos para este marco na nossa paisagem? A resposta não passará certamente por escolher um modelo em detrimento do outro, como se só um dos caminhos fosse possível ou desejável. Trata-se de questionar o diverso, da nossa relação colectiva com o diverso, e da nossa capacidade de criar relações rizomáticas entre diversos.
5. Obrist, Hans Ulrich e Glissant, Édouard, Conversas do Arquipélago, ed. Cobogó, 2023.
6. Ibid.
[…] precisamos do pensamento arquipélago, que amplia, que confirma a diversidade — um pensamento que não está destinado a buscar a unidade, mas, sim, um novo tipo de Relação. Um pensamento que treme — de forma física, geológica, mental e espiritual — porque busca o estágio da utopia no qual todas as culturas do mundo, todas as imaginações do mundo, podem se encontrar e se entender mutuamente, sem se desvanecer ou se perder. 6 Comparar dois eixos estruturantes em duas partes distintas do território de Almada leva a pensar que a sua união implicará o entendimento de como nos transformarmos na relação, sem com isso desaparecermos ou recearmos a nossa diluição.
Texto escrito segundo o AO45 por opção da autora.
Sinalética como elementO
Neste ensaio, examinamos a relação entre a sinalética das lojas históricas e as críticas ao modernismo com base nas ideias apresentadas no texto “Learning from Pop” 1, de Denise Scott Brown, partindo da premissa de que a sinalética é usada como um elemento de disrupção às convenções do modernismo, particularmente ao minimalismo, nas lojas contemporâneas.
crítico
Ao problematizar o surgimento dos néones nas cidades, Denise Scott Brown destaca como estes, ao introduzirem uma nova estética na dinâmica do espaço urbano, evocam uma sensibilidade que valoriza a expressão espontânea e a integração orgânica com a cultura popular e a vida quotidiana. Essa interação entre os néones e a pop art contribui para uma nova compreensão do espaço urbano, promovendo uma abordagem mais inclusiva e sensível às expressões culturais e sociais. Representada por uma conceção funcionalista e de pensamento cartesiano, que valoriza linhas limpas, formas geométricas simples e uma abordagem científica organizada, a arquitetura modernista está patente no Plano de Urbanização de Almada, concebido em 1946 pelo urbanista De Gröer. Nesta sequência, a sinalética é também ela legislada para se enquadrar progressivamente (1951; 1987; 2013) numa lógica pragmática dos planos municipais, inicialmente enquadrada pela legislação nacional para mais tarde se alinhar pela Diretiva Comunitária, sem deixar de ter um cariz mais livre, se comparada com o edificado e a malha urbana.
A sinalética, ou sistema de sinais, desempenha um papel fundamental no ambiente construído, desafiando as convenções do modernismo ao introduzir uma nova dimensão de interação e orientação espacial. Enquanto o modernismo, com a sua ênfase na simplicidade geométrica e na funcionalidade, muitas vezes prioriza uma linguagem arquitetónica despojada de adornos, a sinalética emerge como um instrumento de disrupção que infunde diversidade e utilidade prática no ambiente construído.
Maribel mendes sobreira
Ao utilizar uma variedade de sinais, símbolos, grafismos e paletas cromáticas, a sinalética quebra a rigidez purista, introduzindo uma camada de dinamismo e interatividade que não apenas fornece orientação espacial mas também cria uma linguagem visual acessível, permitindo que as pessoas interpretem e se envolvam com o espaço de maneira mais significativa. Através da combinação de tipografias, ícones e cores, a sinalética promove uma experiência enriquecida, transformando o espaço num ambiente que, em oposição à simples contemplação passiva das cidades, convida à exploração e interação. Ao fornecer orientação e informações claras para pessoas com diferentes capacidades e necessidades, ao contrariar a noção de um design arquitetónico homogéneo, celebra a multiplicidade e a heterogeneidade. A sinalética atua como um elemento disruptivo não só das convenções do modernismo mas também da uniformização da gentrificação, trazendo uma abordagem prática e interativa que enriquece a experiência do espaço urbano. No mesmo sentido, destaca também a importância de considerar não apenas
a estética mas também a funcionalidade e a interatividade na conceção e experiência do espaço urbano, potenciando a nova sensibilidade que Scott Brown refere.
Nesse sentido, a sinalética desempenha um papel importante ao orientar os utentes daqueles estabelecimentos, ao mesmo tempo que representa a singularidade e a autenticidade desses locais, sendo por vezes o elemento identitário de cada loja. Estes estabelecimentos muitas vezes resistem à homogeneização e à padronização característica do design moderno e gentrificador, enfatizando a importância de preservar a identidade local e a tradição no cenário atual de globalização e massificação.
Assim, a experiência proporcionada pelos signos disruptivos destes negócios desafia a noção dualista de separação, promovendo uma compreensão mais integrada e holística da interação humana com o espaço envolvente. Da mesma forma, o Comércio com Memória em Almada, ao representar a identidade cultural e histórica de uma comunidade, desafia a visão modernista que tende a separar a identidade individual do contexto social e histórico mais amplo, universalizando-o.
O Comércio com Memória em Almada é entendido aqui como um organismo vivo e não amorfo que, nas suas várias camadas de transformação, nos conta os processos das suas vivências. Por sua vez, estes ajudam-nos a construir, por um lado, a identidade de um local e, por outro, a identidade individual dos seus clientes, numa troca que enriquece a experiência estética das cidades. Exemplo disso são as sucessivas transformações e a diversidade dos vários locais comerciais que podemos encontrar neste projeto (incluindo restaurantes, tascas, retrosarias, lojas de moda e gelatarias) que, mudando de uso ou não, se aliam à várias formas de comunicação dos seus serviços, criando uma identidade única.
A crítica, a partir da sinalética, ao pensamento cartesiano no contexto do modernismo arquitetónico destaca a necessidade de abordagens mais holísticas e humanizadas no design que levem em consideração a interação entre a mente e o corpo, a emoção e a razão, a cultura e a identidade. Neste sentido, andar pelas ruas em Almada é reconhecer a importância dessa experiência sensorial e afetiva do ambiente construído, bem como a valorização da diversidade cultural, como elementos da construção da história coletiva.
A perda de identidade resultante entre o modernismo e o processo inerente ao turismo, com a consequente homogeneização dos espaços arquitetónicos em todo o mundo, está intrinsecamente ligada à descaracterização de comunidades locais e à prevalência de espaços padronizados que negligenciam as singularidades de um determinado lugar. Este processo, que muitas vezes leva à substituição de estabelecimentos locais por cadeias comerciais globais e espaços homogéneos, contribui para a perda da identidade cultural e social de uma comunidade, resultando numa paisagem urbana uniformizada e destituída de autenticidade.
A relação entre o modernismo arquitetónico e a lógica de homogeneização pode ser observada no impacto da implementação de ideais modernistas em comunidades tradicionais e antigas. À medida que os princípios modernistas se concentravam na funcionalidade,
na ordem e na estética simplificada, muitas vezes se negligenciava a preservação dos estilos arquitetónicos locais e a integridade histórica das aldeias e dos bairros tradicionais. Além disso, a gentrificação associada à implementação de ideais modernistas frequentemente leva ao deslocamento de residentes com baixos rendimentos e à substituição de comércios locais por estabelecimentos comerciais globalizados, provocando o desaparecimento de uma economia local diversificada e a homogeneização da paisagem urbana.
Retomando a ideia inicial, e dentro do contexto do surgimento dos néones, sinaléticas e afins, Denise Scott Brown destaca não apenas o impacto estético e cultural mas também a importância de uma potencial revolução social através da incorporação desses elementos, proporcionando uma estética vibrante e dinâmica no espaço urbano e, assim, estimulando uma nova consciência social e promovendo uma sensibilidade mais inclusiva em relação às experiências urbanas. A interação entre os néones e o movimento da pop art pode, portanto, ser vista como um catalisador para uma mudança mais ampla na perceção e na apreciação da vida urbana, incentivando uma compreensão mais profunda e empática das diversas realidades presentes nas cidades.
DO pixel à realidade: os peQuenos centros comErciais na vida urbana atUal [pt] sandra gonçalves
Às 16:00 de uma terça-feira, o gradeamento da Galeria Andorinha está levantado apenas a dois palmos do chão. Ao fundo de um longo corredor escuro, vislumbra-se uma luz, indicando um cabeleireiro que opera há quatro anos à porta fechada, atendendo apenas por marcação. Das 15 lojas, apenas esta continua aberta.
Poucos quarteirões à frente, junto à Academia Almadense, inaugurada em 1974 e à época considerada a maior sala de cinema do país, com 838 lugares, deparome com as Galerias Palagem, datadas de 1994. O quiosque Jornaleco destaca-se, representando a entrada. Nos tempos áureos da Academia, era um vaivém na cafetaria, na perfumaria e no pronto-a-vestir. O fecho do cinema ditou o fim deste espaço comercial. Atualmente, resta um centro de estudos ao fundo, uma costureira e um gabinete de psicologia — apenas por marcação. O dono do Jornaleco nunca o viu aberto. Em 1984, erguia-se na Avenida Dom Nuno Álvares Pereira o CC Sommer, um empreendimento que, à época, contava com quatro pisos e abrigava 40 lojas. O local destacava-se pela presença marcante do clube de vídeo, tornando-se um verdadeiro paraíso para os videomaníacos em busca das últimas novidades em VHS. Além disso, oferecia uma reprografia de ponta, perfumarias, lojas de pronto-a-vestir e uma cafetaria/restaurante com vista panorâmica para a Praça São João Baptista. Hoje, sobrevive como um espaço comercial ancorado pela presença de um Minipreço. A glória original deu lugar a uma realidade transformada. Resta apenas o rés-do-chão e a cave, abrigando uma ervanária, costureira, loja de câmbios, duas lojas de telemóveis e uma loja de acessórios de moda. Na cave, funcionam ainda a SPA Autores e uma loja de roupa em segunda mão. As casas de banho, abertas ao público, proporcionam alguma conveniência, bem como uma ATM. Os pisos superiores foram convertidos num ginásio, e está prevista a abertura de uma grande imobiliária no antigo espaço da cafetaria. Ruas como a Capitão Leitão, a Praça Movimento das Forças Armadas, ou as Avenidas Dom Nuno Álvares Pereira e Dom Afonso Henriques testemunharam não apenas o crescimento vertical mas também o florescer de espaços comerciais que se tornaram parte inseparável das memórias da comunidade. O Faraó, inaugurado em 1976, resistindo ao teste do tempo, continua a ser uma peça única no mosaico comercial. Outros, como o Fórum Piedense, já na Cova da Piedade, evocam tempos de glória, com a loja de desporto Bota Abaixo, uma das mais modernas da época, que atendia toda uma geração de promissores atletas e nadadores. Das 41 lojas originais, apenas a Livraria Escriba permanece. Na efervescência dos anos 80 e 90, os centros comerciais não eram apenas locais de compras. Os jogos Arcade, distribuídos por quase todos eles, eram verdadeiros ímanes para hordas de jovens em busca de entretenimento pixelizado. Essa chegada das salas de jogos marcou uma geração que se reunia para enfrentar
desafios virtuais. Os sons eletrónicos característicos, os gráficos simples, mas cativantes, e a competição amigável criavam uma atmosfera única e inesquecível.
Também o CC Renovação, um edifício discreto (de fachada) de três pisos testemunhou a busca incessante por jogos populares no ZX Spectrum, e virou um ponto central na vida desta geração que hoje conta com quase meio século. Atualmente, a sua história é contada não apenas pelas suas características arquitetónicas ou pela outrora função comercial, mas também pela venda em leilão de lojas em lotes devolutos.
As décadas de 1970 a 1990 não apenas viram o surgimento de novos centros comerciais, mas também consolidaram um estilo de vida que combinava consumo e lazer. A explosão comercial dessa época transformou a cidade, dando origem a lugares emblemáticos que ainda ecoam na memória coletiva.
Enquanto a população envelhece, emerge uma nova geração, impulsionada por tendências alternativas e sustentáveis. Esses jovens não procuram apenas produtos: procuram experiências. O comércio de proximidade volta a ser uma tendência contemporânea, transcendendo a simples oferta de produtos para proporcionar autenticidade. Almada encontra-se no epicentro de uma nova história na qual a nostalgia se entrelaça com a inovação. Neste cenário em constante evolução, a inação não é uma opção. A incógnita do futuro será moldada pela construção colectiva de um caminho vibrante e sustentável para a cidade.
Um Lugar É Onde o
Futuro Possa
Criar Ainda Mais
Histórias [pt]
Natural da Cova da Piedade, dei os meus primeiros passos no Barquinho, na altura um infantário ao serviço dos trabalhadores da Lisnave, donde segui à bolina rumo à escola n.º 4, junto ao posto dos correios. E é lá, na carteira a que aprendi a ler e a escrever, encostado à janela, que se inicia o itinerário pessoal desta história.
Mesmo em frente ao portão, no beco que a ele conduz, e que por vir dar a uma escola ascendeu a travessa, a de Angola, havia um armazém de mercadorias, escuro e húmido, agora convertido num lugar de culto religioso. Naquele tempo, estacionavam ali camiões enormes em constante vai e vem, que ficavam a trabalhar ao ralenti pelo tempo que durassem as cargas e descargas do que já não faço ideia do que fosse. Congelados, talvez. Por causa de uma façanha incauta numa saída de estudo, um pequeno incidente que não passou de um susto, apesar de envolver crianças e camiões, estes passeios à rua foram reduzidos ao indispensável, privando-nos de umas mudanças de ar ocasionais. Só as bombinhas de mau cheiro, que se compravam por vinte escudos em qualquer quiosque a caminho da escola, continuaram a fazer arejar-se ainda um pouco as salas, daí em diante. Mais além, já a caminho do mercado, na Rua Álvaro Vaz de Almada, não se passava pela drogaria aí existente sem que a senhora oferecesse meia dúzia de carolos aos gaiatos que conseguisse arrebanhar para dentro. A senhora devia chamar-nos, assim, aos miúdos: “gaiatos.” E nós, “carolos” aos berlindes que nos dava em troca de atenção e de conversa. Às vezes sacávamos um abafador, de vidro multicolor; uma vez por outra, um de chumbo, o terror das traseiras dos prédios e dos pátios das escolas. Era uma daquelas lojas que já se encontra muito raramente, na Cova da Piedade ou seja lá onde for, com tudo pendurado no teto, tudo ao molho nas prateleiras, tralhas inertes, ferramentas, panelas, embalagens coloridas, ratoeiras, garrafões, sabões e sabonetes, um cheiro inebriante a citronela e a querosene. De todas, a minha drogaria preferida. Fechou também uma que traficava na Avenida da Fundação, ao lado daquela sapataria fantasma, a Mélita, que está encerrada há décadas, mas conserva na montra os modelos dos botins mais supimpas dessa moda pretérita, como se alguém tivesse deixado a porta encostada só por uns instantes.
O comércio na Cova da Piedade, em Almada, e em todos os bairros, freguesias, subúrbios e cidades viveu grandes transformações desde essa altura. Pois está claro: fez como o mundo, mundou. E, quando há trinta anos irrompiam de todas as esquinas clubes de aluguer de VHS, como aquele gigante do Centro Star, que ocupava umas três ou quatro lojas lá em cima no primeiro piso, com cartazes de uns brutamontes prontos para varrer o mundo à porrada, e que representava o melhor que a tecnologia e o entretenimento tinham para oferecer às famílias da classe média de então, hoje é quiosques de telemóveis e gadgets o que aí se encontra, que são agora para todos nós o acme da inovação e do lazer. Um mundo mudado, mas sempre mundano.
João tempera
Continuam a existir muitas das lojas dessa época, apesar da aceleração exponencial do mundo e das mudanças
de estilos de vida e de comportamentos de consumo. Muitos dos pequenos negócios locais, de escala familiar e de subsistência, perduraram e mantiveram o seu ramo de atividade, leais aos seus fregueses de sempre, que estimam e continuam a satisfazer. Junto ao jardim, visível do palacete, os Armazéns Abilheira (têxteis de lar e lingerie) anunciam marcas finas francesas no toldo; uma retrosaria ou outra, com as paredes sarapintadas de novelos coloridos e botões de todos os feitios; uma costureira antiga, atolada em encomendas, entre as galerias vazias que atravessam o rés-do-chão de um prédio; um par de floristas plantadas lado a lado, a medrar e dar-se bem; uma cabeleireira Cidália ou o salão da Cristina, com aqueles secadores magníficos que em criança julgava serem capacetes espaciais, por ver saírem de lá as senhoras com penteados de outro mundo; a Jacques, pronto-a-vestir, que veste os manequins de madeira curvilínea com decoro exemplar; adiante um barbeiro, dos que ainda trabalham o escalpe à tesoura, e que conserva aquela unha ladina contra o costume agora em voga do bigode em caracol; na Rua dos Bombeiros Voluntários, a Churrasqueira Riviera não deixa apagar as brasas desde 1974; um atelier de fotografia, como o Ramos, onde tirámos todos bonitos retratos para a caderneta da escola, em que só o pôr-do-sol permanece o mesmo, apesar de anunciar já então o fim desses dias sem que o soubéssemos. E ainda sobrevive uma loja retalhista de eletrodomésticos, a Singer, naquela rua que desce da rotunda dos bombeiros e vai cruzar lá abaixo à excecional livraria da Rosa, a Escriba, que fez agora trinta anos, e, como tal, quando se passa à porta é de lhe tirar ao menos o chapéu.
Ao contrário, a Cooperativa Piedense, por exemplo, uma coletividade histórica criada por “iniciativa de operários e artesãos em 1893”, que foi ao longo de um século um centro de economia solidária, e que chegou a ter uma biblioteca importantíssima pelo seu contributo para a cultura cívica e democrática no concelho, fechou. Aquele edifício, de aspeto sorumbático, no centro da freguesia, encerrado e coberto de pichagens, parece agora um monólito de outra era, um símbolo, à espera de um futuro incógnito para poder ressuscitar.
E a Tia Bé, apesar de manter, há vinte anos, o seu atendimento familiar carismático e uma ementa diferenciadora — como se diz na gíria dos negócios —, uma mistura de pratos tradicionais de Cabo Verde e Portugal, debate-se, no presente, com a incerteza da sua permanência, sujeita à especulação imobiliária que antecipa a renovação eminente daquela zona à sombra dos grandes silos em ruínas.
A coexistência salutar de negócios diferenciados é o que enche de gente as ruas e dá vida à Cova da Piedade, onde ainda se consegue escolher entre inscrever-se numa cadeia de ginásios com serviços e equipamentos novinhos em folha ou, antes, na SFUAP ou no Clube Recreativo Piedense, que afiançam, por seu lado, experiência e renome duradouros; onde se é capaz de comprar uma bike topo de gama com uma campanha de prestações num mega-armazém para todos os desportos ou, preferindo, ir à Ciclística, a loja e oficina onde o Vasco e a Íris personificam o comércio de proximidade e a mobilidade suave; onde se pode lanchar um palmier à conversa com os reformados na pastelaria Xandite, levar um pastel de bacalhau da Tinita para comer na camioneta, degustar um hambúrguer gourmet nas esplanadas
da Romeira, um chop suey no Chun e Ying ou mamar uma bejeca com uns caracóis no Labirinto. Construir cidades vibrantes depende, em grande medida, de políticas públicas que promovam o comércio local, e que garantam a todos nós, cidadãos, acesso a habitação, trabalho e fruição no centro das cidades.
E isto conduz-me de novo à janela da sala de aula onde esta redação começou, da qual, agora perscrutando o futuro, parece que ouço a preleção anacrónica de um cauteloso aviso à navegação, como se tivessem arribado à praia da Mutela os jovens e os velhos da Romeira cum saber só de experiências feito : 1
A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos, e de minas
1.Canto IV estância 94, Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões.
2.Ibid., Canto IV estância 97.
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? que histórias?
Que triunfos, que palmas, que vitórias? 2
Almada VivaHistórias da feira de LevantE [pt]
Vivi e trabalhei em Almada cerca de 40 anos, os quais recordo com grande carinho, principalmente falando do Mercado de Levante.
Com apenas 26 anos de idade, eu e o meu marido vendíamos lençóis, tecidos a metro e outros artigos, mesmo em frente à União Elétrica, num pano esticado no chão, por baixo de uma varanda, para não se molharem os materiais em caso de chuva. A venda era feita na rua, nos passeios, nunca impossibilitando a passagem de pessoas e de carros. Pelo contrário, era feita ali propositadamente por causa da circulação de pessoas.
A feira não era um local físico como nos dias de hoje; antes, acontecia onde estavam os vendedores a vender e os fregueses a comprar.
Recordo que a feira passou para a Rua do Tribunal, tinha eu cerca de 30 anos. Era também realizada nos passeios, na berma da estrada. As brincadeiras dos feirantes e dos compradores eram uma constante, tudo dentro do respeito e da confiança de tantos anos de convívio saudável entre vendedor e cliente.
Só passados mais quatro anos é que a feira passou para o tão emblemático Largo São João Baptista, desta vez fora do contexto da circulação de automóveis, de segunda a sábado, das sete da manhã às três da tarde, fizesse chuva ou fizesse sol. Ao contrário do que acontecia anteriormente, a mercadoria passou a ser vendida em bancas com toldos, montadas e desmontadas todos os dias de feira. Com estas inovações, foi necessário um melhor controlo do espaço em si, efetuado pela Câmara Municipal de Almada, que solicitava o pagamento de uma licença anual (cartão de vendedor ambulante) e do aluguer diário do espaço onde era montada a tenda. Nesta altura, e com a concentração de pessoas e bancas, em vez de vender apenas tecidos, passei a vender peças confecionadas, nomeadamente camisas e camisolas de senhora, com uma boa relação qualidade-preço.
Era visível e claramente notório todo o nicho de mercado que envolvia Almada. Não digo apenas da feira em si, mas do restante comércio envolvente.
A “Feira Alcofa”, como era conhecida naquela época a Feira de Levante de Almada, era de extrema importância para o comércio local, por tudo o que a mesma implicava — não apenas para quem vendia, pois era dali que todos os feirantes, mais de uma centena de famílias, retiravam e contribuíam para a sustentabilidade das suas famílias, como também para o restante comércio local. A feira tinha uma fama enorme a nível nacional; e por isso vinham visitá-la pessoas de toda a parte do país, que acabavam por ir aos restaurantes, lojas e cafés, por ficar alojadas em pensões e por visitar o resto da cidade de Almada, utilizando os transportes públicos existentes.
Até os próprios feirantes revitalizavam o comércio local — não apenas entre eles, mas apoiando também outros negócios.
olga mariano
Havia costureiras a trabalhar para mulheres ciganas, como as plissadoras a plissar as saias (que estava muito em moda na altura), e mulheres a fazerem bordados em lençóis e toalhas,
cortinados e almofadas. Digo isto para mostrar a quantidade de recursos e potencialidades da cidade, que para aquela altura eram imensas.
A feira oferecia todos os tipos de artigos, desde alimentação, decoração e materiais de escritório a vestuário e retrosaria. Havia peixe, galináceos e seus derivados, queijos e manteigas, enchidos, produtos hortícolas, frutas e pão; mobílias, malas, colchas, colchões, cortinados, artigos de decoração, louças e talheres; livros escolares, malas escolares, cadernos, canetas, lápis; fatos de homem completos para festa, fatos de treino, camisas de popline e flanela, chapéus de cabeça e de chuva, roupa interior, sapatos, botas e ténis, sobretudos e gabardinas; vestidos de senhora, saias, blusas, casacos compridos e curtos; camas para crianças, todo o estilo de roupas de bebé de verão e de inverno, assim como brinquedos e carrinhos de casa e de rua; todo o tipo de tecidos a metro, linhas, elásticos, fechos, lãs.
Como era necessário transportar mercadoria todos os dias, tinha que ser eu a conduzir a carrinha. O meu esposo ainda não tinha o 4.º ano de escolaridade, e apenas poderia tirar a carta de condução quem o tivesse — situação solucionada mais tarde. Pois eu, desde os meus 18 anos, tinha a carta de condução, presente que o meu pai me ofereceu ainda estando eu solteira; só casei aos 22, um pouco passada de prazo para aquilo que é o estereótipo de um casamento nas comunidades ciganas.
Este presente fez toda a diferença na minha autonomia como ser humano.
Logo de manhã, antes de trabalhar, íamos tomar café à cafetaria Repuxo, que fica no Largo da Fonte Luminosa. Ainda sinto o cheiro dos setubalenses e das tranças acabadas de sair do forno. Eram os meus bolos de eleição. A Repuxo era um ponto de encontro para muitos feirantes antes de começar mais um dia de trabalho.
Todos os dias, quando chegávamos com a carrinha, encontrávamos um grupo de adolescentes rapazes não ciganos, para ajudar os feirantes a descarregar e a montar as mesas e os toldos, assim como a carregar quando a feira terminava. Recebiam depois uma recompensa em numerário, em troca deste serviço; e assim eles também contribuíam para a sustentabilidade da sua família. A partir daí, passaram a ir ajudar todos os dias. A feira movia mesmo a economia de Almada e mudava a vida de algumas famílias.
O gosto, a sustentabilidade e o prazer que era para nós a feira de Almada demonstram-se no facto de que tanto eu como o meu esposo íamos sempre muito bem arranjados para a feira. Íamos como se se tratasse de uma festa: eu de saltos altos, cabelos arranjados e muito bem-trajada, e ele de fato e gravata. Dava-nos gozo ir para a feira; era onde éramos felizes. Relembro e posso dizer com certeza que foram os melhores anos da minha vida.
Foi graças a esta feira que consegui ter e fazer coisas que imaginava serem improváveis, e até mesmo impossíveis, entre elas comprar uma casa própria.
Os meus filhos cresceram na Feira Alcofa. Dormiam e brincavam nas caixas de papelão, no meio dos pregões e de toda a confusão e alegria da feira. Um dos meus filhos (tenho três) estudou em Almada na Escola António da Costa, e, nos intervalos do horário escolar, assim
como no final da escola, andava pela feira a brincar com os outros “meninos da feira”.
Almada tinha vida e vivia nas pessoas: vivia nos vendedores ambulantes ciganos e não ciganos, mas também em todos os fregueses que vinham comprar. Era uma partilha de vivências e amizades, assim como uma grande troca de comércio.
Lembro-me de uma situação que se passou na minha banca e que penso que é interessante partilhar, pois demonstra o nível de confiança e afetividade que havia entre nós, feirantes, e os nossos clientes. Era época de Páscoa, e a minha banca de camisas estava cheia de clientes — não havia mãos a medir. Quando abrandou um pouco, por volta do meio-dia, notei que estava uma mala esquecida na banca. O meu primeiro pensamento foi “vou abrir a mala”, para ver se tinha alguma identificação, de forma a poder devolvê-la, ou então entregá-la à PSP. Qual foi o meu espanto quando, ao abri-la, me deparei com uma quantia elevada de dinheiro vivo, a juntar a vários bilhetes e cautelas da Santa Casa da Misericórdia. Automaticamente fechei a mala; e, quase em simultâneo, vi um grupo de feirantes a apoiar uma senhora que chorava copiosamente, dizendo que teria de ser ela própria a pagar do seu bolso todo o dinheiro perdido — a senhora já tinha corrido toda a feira e todas as bancas a perguntar se alguém tinha visto a mala, já que ela própria não sabia onde a tinha deixado. Ao chegar perto para me inteirar do que se passava, perguntei como era a mala e o que tinha no seu interior, e a senhora identificou-se, dando todos os dados necessários e credíveis para confirmar que aquela lhe pertencia. Foi para mim uma grande alegria — alegria de poder dar paz àquela senhora, dizendo: “Não chore, pois a sua mala está comigo.”
Foram 25 anos de trabalho, vivências e de partilha inesquecíveis. Só depois de o meu esposo falecer é que deixei de vender e passei as bancas para os meus filhos.
Dei por mim a pensar que a feira já não me dizia nada, e parti para outra atividade: o associativismo. Estou presentemente na direção da Associação Agarrar Exemplos, de forma a ajudar os meus na sua cidadania, direitos e deveres. Faz 23 anos nesta nova fase da minha vida, como ativista e dirigente associativa, e também como poetisa. Ainda este ano espero inaugurar a sede da Associação em Almada. Almada faz parte de mim, e eu sou Almada.
Through the words of Tomás Ribas, a columnist for Eva magazine in 1960,1 it becomes clear how crucial commercial activity was to the modernised vision of Almada—which, as the author puts it, was then evolving into a Satellite City!
The term satellite might seem contradictory, since it implies a sense of dependence and inferiority to the planet— Lisbon—around which the supposed satellite would revolve. However, this was not the case. Tomás Ribas uses the term to characterise the condition of the city and distinguish it from a mere residential suburb or commuter town: Almada adopted the topographical layout of the new, extensive neighbourhoods of Lisbon, but did not become a mere suburb. Its wide streets lined with tall, modern buildings, its beautiful avenues, its residential neighbourhoods brimming with lovely houses, its grand public and private buildings, and its well-designed squares truly give it the appearance and liveliness of a city.
A portion of this transformation was initiated through the Almada Urbanisation Plan, designed by the architect De Gröer in 1946. This plan proposed a Civic Centre2 where key public buildings such as the city hall, courthouse, post office, commercial and industrial school, fire department, and other facilities would be situated, whilst also envisioning a network of spacious, landscaped green areas and converging avenues leading to a vegetation-ringed roundabout where the main roads of the municipality would meet. The remaining, predominantly residential area would take on the character of a garden-city.
1.Tomás Ribas, 1960. “Almada: a cidade satélite”, in Eva magazine, December 1960, pp. 22-25.
2.See Cristina Cavaco, 2009. Formas de Habitat Suburbano. Tipologias e Modelos Residenciais na Área Metropolitana de Lisboa PhD thesis. Lisbon: Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, pp.137-218.
3. Étienne de Gröer, 1946, quoted in Cristina Cavaco, 2009, op. cit., p. 133.
ThE shops and establishmEnts lit up With large neOn tubes álvaro domingues [en]
The concept of satellite city was one of the innovations circulating at that time. In 1943, Patrick Abercrombie, when presenting the broader outlines of what would become the Greater London Plan, avoided unchecked urban sprawl. Utilising a green belt that would preserve the quality of the English countryside, his plan included a series of new cities with their own administration, job opportunities, and sufficient functional diversity to prevent them from becoming mere residential suburbs of London. The variety of commerce and services would play a pivotal role in the life of these cities, reducing their dependence on the English capital. The New Towns Act of 1946 formed the legal foundation for this new urban constellation. When devising the structuring of a future Lisbon Metropolitan Area, a Greater Lisbon, De Gröer employed a similar formula:
If the city's population is bound to surpass its fixed limits, excess residents should be directed toward one or more satellite cities located beyond the rural fringe and connected to the main city by fast transportation. Each of these satellite cities should be encircled by its own rural area, ensuring that they each have their protective spaces and that none of them is at risk of merging with a neighbouring city to form a large conurbation, with all the drawbacks of major cities. 3
The wide expanse of the Tagus Estuary would serve as the rural fringe, providing a clear urban discontinuity
between Lisbon and the southern bank. The only challenge was to establish the fast connections that boats were unable to provide.
After nearly 80 years of debate, the first road bridge to Almada was built in 1966, known then as the Salazar Bridge. Meanwhile, industrialisation continued to intensify marked by the presence of massive shipyards such as Lisnave, which employed over 6,000 workers, in addition to around 4,000 at the Arsenal and the Alfeite Naval Base. Ginjal, Cacilhas, and Margueira comprised a remarkable industrial concentration that extended into Seixal and Barreiro. This satellite city was still primarily an industrial, working-class periphery of Greater Lisbon, and the commutertown effect was growing rapidly. An unstoppable demographic momentum was building up—in 1940 Almada had less than 30,000 residents, but by the late 1960s it exceeded 100,000—as real estate investors like António Xavier de Lima, or AXL, and others capitalised on land and housing developments on the southern bank. Boats handled most of the transportation: in 1960, the number of passengers between Cacilhas and Praça do Comércio was 14 million; Belém and Trafaria, 1.8 million; Belém and Porto Brandão, 120,000. Five years later, in 1965, nearly 1.5 million cars were transported by boat between the two banks.4
In 1960, the bustling cosmopolitan satellite city described by Tomás Ribas in Eva was still but a vision. However, in addition to the well-dressed population, the automotive hustle and bustle, and the mass of people, the author painted a vivid, detailed picture of Almada's commerce to describe the city effect and the grand march of modernisation:
The major Banks of Lisbon opened branches on the ground floors of Almada's new buildings, where shops and establishments with huge, well-decorated shop windows popped up. Cafés, pastry shops, and restaurants extended their awnings and esplanadas out in the shade of arcades that offered a beautiful modern reimagining of typical Peninsular architecture. The shops and establishments were lit up with large neon tubes and bright, colourful signs. Hair salons and beauty parlours, clothing shops and boutiques, modern charcuteries and grocers', dye houses and opticians, dry cleaners, law offices, medical practices, a large hospital, a modern clinic, private and public schools, notary offices, banks, industrial offices, tourist and real estate agencies
[…] began to line the streets and fill the squares of Almada, rendering a trip to the Capital unnecessary. Almada had its own life, its life as a city. […] Lisbon and Almada had finally united! And very soon, the bridge over the Tagus would completely remove the one obstacle that had separated them for centuries.
Tomás Ribas was not wrong: what we call a city or describe as urban is a product of relationships, of exchange. This was already true in the earliest cities, such as Çatal Hüyük, nearly 10,000 years ago, characterised by centralisation, diversity, and congregation in a place that was integrated into a geography of much broader-scale relationships. In 1933, German geographer Walter Christaller had published Central Places in Southern Germany, a seminal work which delves into the relationship between the centrality of an urban agglomeration and the diversity, quantity, variety, and uniqueness of its central functions, particularly its commerce and services.
The transformation of Almada's commercial systems accelerated after the construction of the Salazar Bridge in 1966, which provided road connectivity to the southern bank, where ample inexpensive land was available, alongside high demand for housing from people seeking a better life in Greater Lisbon. Observing the map above (evolution from 1966 to 1995), the size and geographical extent of the new urbanisation (most of the new roads were linked to illegal or legal subdivisions) are incomparable to the small scale of Almada at the beginning of this period. Prior to the early 2000s, the train also arrived on the bridge; and the tram line and the A2, A38, and A33 motorways were constructed. Expanding throughout the entire municipality, from Costa da Caparica to Ginjal, from the Monte da Caparica blocks to Fonte da Telha, the urbanisation evolved as a mosaic that was gradually taking form: it was a dynamic process, a field of different forces and relationships. More than a systemic whole, the urban fabric was built upon a multiscale geography where a particular local occurrence corresponded to a node within the network of intersecting relationships, causes, and effects that contextualise that specific occurrence.
Eschewing the age-old practice of affixing retail commerce to housing, reinforcing an effect of proximity and centralisation, a process of decentralisation ensued, mirroring the city's very transformation from a compact, relatively confined agglomeration into an urban “explosion” that extended in a disjointed, heterogeneous manner across vast geographies.
Ease of interaction, increasing motorisation, the structuring effect of large transport systems for people and goods (both road-based and others), the expansion of energy, water, sanitation, and telecommunication networks, and more—all of this reduced the friction of distance and reshaped the map of everyday life and the flows related to it: places of residence, work, and shopping; access to services like healthcare or education; leisure destinations; changes in consumption habits and practices; and everything underpinning the organisation of society, which is ultimately the driving force behind the transformation of the territory.
The retail, service, and logistics sectors are in a continuous state of metamorphosis. From large shopping centres to convenience stores, commerce, like any type of business, relies upon its customers, whether they are regular, occasional, local, or just passing through. The conventional representation of the city covers only a small part of this diversity. Commercial activities can occur in any fragment of the territorial mosaic of urbanisation, but their location trends depend to a great extent on spatiality and the intensity of flows, on the map of relationships and movements, and on ease of access and parking.
Just over 50 years ago, a particular car advertisement sold a lifestyle and a particular role for the mother: “Lá vem a D.ª Maria, mais o seu belo carrinho; leva os meninos à escola, faz as compras de caminho.” [Here comes Mrs. Maria, in her fancy little car; she takes the kids to school, and does the shopping on the way.] In Almada, few had the means to own such a car.
Products, services, consumption possibilities and patterns, tastes, needs, and ways of inhabiting urban space are issues ever open to change. In the realm of commerce, it does not take many years for everything to change. Alongside the trends of the mass-market, a wide variety of consumption possibilities and patterns coexist.
FrOm Praça do MFA to the RoundaBouts of RUa dos 3 ValEs [en]
It is pouring down outside as I am finishing this text about Almada, the city I have been living in for two years. Yesterday was a day of CoNTRaSTO, Um bairro! Identidade é Diversidade [CoNTRaST, A neighbourhood! Identity is Diversity]. Organised by the Estuário Collective, this was an afternoon of celebration on one of Cacilhas' streets: a street that becomes a square right in front of the 25 de Abril tram station, the first one as you leave Cacilhas heading to Centro Sul; an avenue that cuts through the city from north to south, connecting two points that serve as both entry and exit to the city.
I start this text by mentioning this celebration because Almada has long been known and renowned for its community involvement, with numerous collectives having woven and continuing to weave its social fabric. As architect Godofredo Enes Pereira tells us in a text about these collectives and their impact,1 they represent one of the existential territories that have built this city. Cacilhas is marked by remnants of an old city, buildings left over from plans not entirely fulfilled, and the imposing high-rise residential buildings where Avenida 25 de Abril de 1974 begins. Seemingly wanting to do justice to the date that heralded a new age o dia inicial inteiro e limpo [the initial day, whole and clean], as announced by the poet 2 this avenue brings into dialogue buildings from different times and heights, signalling a new era of city construction. The small squares and in-between streets embedded by these new buildings into the landscape would become the backdrop for much of the cultural scene in the following decades. Looking closely at its core, there is a passage through which you can see the imposing Lisnave gantry. From here, we begin a journey into and out of the city. Avenida 25 de Abril de 1974, when it passes Praça Gil Vicente (a square that is also a roundabout, the first one on this route), becomes Avenida Dom Afonso Henriques; and, as though stepping back in time, the buildings begin to lose their gigantic scale, growing somewhat more modest. We continue to ascend and reach Praça do Movimento das Forças Armadas, also a square-turnedroundabout. Its main features are Café Central (every town has one, I think every time I pass by), the organic produce market every Saturday, and, on one side, the Monument to the Persecuted. Inaugurated in 1979, this monument was born in the post-revolutionary era—even though built a decade earlier—aiming to pay homage to and carve out space for the memory of resistance and the struggle for freedom. Here, the avenue changes name again, borrowing that of Dom Nuno Álvares Pereira. We will have to pass the last roundabout, right after the Almada tram station, to find more revolutionary references, and for the avenue to be named Bento Gonçalves.
1.Pereira, Godofredo Enes. “Margens em resistência: Colectividades, equipamentos colectivos e justiça reprodutiva”, em Almada, Um Território em Seis Ecologias, Câmara Municipal de Almada, 2021.
2.In Sophia de Mello Breyner's poem “25 de Abril”.
Ana catarinoI describe this entire route to make it clear that this is one avenue, which, besides cutting through the city, gives it a sense of place, or renders it a confluence of diverse places, diverse occupations. The various name changes, the openings provided by the squares and roundabouts, with
almost all of these featuring commerce and meeting places, such as the aforementioned Café Central, Café Tropical, Pastelaria Condestável, or the Pastelaria Repuxo (a reference point in another text in this book),3 are part of De Gröer's 1946 Almada Urbanisation Plan, comprising mixed uses and coexisting residential buildings, offices, commerce, and services.
Going back to Praça do Movimento das Forças Armadas, let us remind ourselves that it was not always like this—Almada did not always have tram lines cutting through it. Let us also remind ourselves that this does not thwart everyday gestures of space production, in the sense that Lefebvre attributes to this production, its manipulation, and social construction. Social practices, invariably somehow spatially situated, are not intimidated by changes in the design of the physical or material space in which they manifest. Instead, they adapt or reorganise in order for their gestures to make sense again. In other words, despite the addition of the tram lines, the square has largely maintained its configuration, just as the cafés have maintained their routines, I suppose. Neighbourhood life, with its closer relationships, seems to persist, even if we are talking about one roundabout in dialogue with all the others along this vast avenue—a roundabout which can also be a place, in the anthropological sense of the word, insofar as it provides a backdrop for identity, relationships, and conflicts. Inserted within a consolidated urban fabric, we can perceive the small scale felt here to be gradually lost as we head towards Bento Gonçalves. Here, the place, the sense of place, occurs beyond the sides of the avenue.
Turning right at the roundabout where Bento Gonçalves begins, and continuing on the left until the end of Rua Direita, we easily reach Rua dos 3 Vales, which crosses a part of a vast territory known as Monte da Caparica. Looking at the map, we realise we have walked almost in a straight line since leaving Cacilhas, in a total of 3.8 km, 1.4 km from the roundabout with the banks. The point of entry is still Pragal, with its blocks of private housing, though we only enter Monte da Caparica proper after the first roundabout, a public housing complex (though not exclusively so) developed both by the municipality and IHRU4 and built at different times, from the late 1970s to the 2000s and beyond. These projects widely vary in quality, comprising clusters of buildings where we can glimpse a proposal for neighbourhood life, whilst others evince haphazard construction within available lots, lacking a strong sense of unity or eschewing it altogether.
The construction of this vast territory was part of a large-scale project called the Integrated Plan of Almada, drawn up even before the 1974 revolution. This plan outlined what would become the major area of urban expansion within the municipality. The earlier neighbourhoods were built in the late 1970s and early 1980s, all post-revolution and in response to the severe housing crisis the country was grappling with which had been brought to light by the revolution—a crisis both internal and amplified by the influx of the so-called retornados [returnees] after the independence of the former colonies. The Bairro Amarelo (or Pica-Pau Amarelo) is one such example.
Now let us return to Rua dos 3 Vales, which, despite bordering several of these complexes, never truly enters any of them. Its roundabouts mark its borders, never emerging
3. Mariano, Olga, “Living Almada — Tales from the Levante
4. Institute for Housing and Urban Rehabilitation.
on its inside. They explicitly serve as transit zones rather than as places of both passage and permanence, as in the large avenue that begins in Cacilhas. Here, all the areas for commerce, leisure, or living are contained within the blocks. The roundabouts no longer require monuments to give them a meaning other than that of a roundabout. They are just generic roundabouts that serve to distribute traffic. The socially situated practices that we can imagine in Praça do MFA take place further afield, already within the neighbourhood. Two streets, both outlined through state urbanisation plans, seem to tear something: one tears as it sews, while the other tears to mark the distance between its function as a road and the neighbourhood’s life inside.
In a series of recently published interviews/conversations, Hans Ulrich Obrist and Édouard Glissant5 talk about utopia, which […] is not a goal nor an endpoint. It is not a dream either. Utopia is what is missing in the world. Our utopia is a quest for interconnection and wholeness, but in a way that does not leave out any component of the world when we think of 'world.' Thus, in today's world, utopia is never complete. It is that which is lacking. If Glissant is correct and utopia today is that which is lacking, then the way forward is to identify this lack, or several of them. Could our distinct relationship with roundabouts be a means to question this? What do they tell us about how the different parts of the city are planned and designed when we look at this landmark within a landscape? The answer will certainly not be to choose one model over the other, as though only one path were possible or desirable. Rather, it is about questioning diversity, our collective relationship with it, and our ability to create rhizomatic relationships amongst several diversities.
[…] we need archipelagic thought, which broadens, which confirms diversity—a thought that is not intended to seek unity but instead a new type of relationship. A thought that trembles—physically, geologically, mentally, and spiritually—because it seeks the utopian stage in which all the cultures of the world, all the imaginations of the world, can meet and understand each other, without fading or getting lost.6
5. Obrist, Hans Ulrich and Glissant, Édouard, Conversas do Arquipélago, ed. Cobogó, 2023.
6. Ibid.
Comparing two structuring axes in two distinct parts of Almada's territory leads to the thought that uniting them will help us understand how we can be transformed within relationships without vanishing or fearing our own dilution.
SignagE as a Critical elemEnt
In this essay, we examine the relationship between the signage of historical shops and critiques of modernism, based on the ideas presented in Denise Scott Brown's text “Learning from Pop”.1 We start from the premise that signage in contemporary shops is used as an element of disruption to the conventions of modernism, and of minimalism in particular.
By problematising the emergence of neon signs in cities, Denise Scott Brown highlights how these introduced a new aesthetic into the dynamics of urban space, and evoke a sensibility that values spontaneous expression and organic integration with popular culture and everyday life. This interaction between neons and pop art contributes to a new understanding of urban space, promoting a more inclusive, sensitive approach to cultural and social expressions.
Characterised by a functionalist conception and Cartesian thinking that values clean lines, simple geometric forms, and an organised scientific approach, modernist architecture is evident in the Almada Urbanisation Plan, developed in 1946 by urbanist De Gröer. In this context, signage was also legislated to be progressively framed within the pragmatic logic of municipal plans (1951; 1987; 2013), initially framed by national legislation and later aligning with the EU Directive, yet maintaining a somewhat free nature when compared to the buildings and urban fabric.
Signage, or systems of signs, play a fundamental role in the built environment, challenging the conventions of modernism by introducing a new dimension of interaction and spatial orientation. While modernism, with its focus on geometric simplicity and functionality, often prioritised an architectural language devoid of adornments, signage emerges as a disruptive instrument, infusing diversity and practical utility into the built environment.
By using a variety of signs, symbols, graphics, and colour palettes, signage breaks down purist rigidity, introducing a layer of dynamism and interactivity that not only provides spatial guidance but also creates an accessible visual language, allowing people to interpret and engage with space more meaningfully. Through the combination of typography, icons, and colours, signage promotes an enriched experience, transforming space into an environment that fosters exploration and interaction, as opposed to the mere passive contemplation of cities. By providing clear guidance and information for people with different abilities and needs, and by countering the notion of homogeneous architectural design, signage celebrates multiplicity and heterogeneity.
Signage acts as an element of disruption not only to the conventions of modernism but also to the standardisation of gentrification, bringing about a practical, interactive approach that enriches the experience of urban space. As such, signage highlights the importance of considering not only aesthetics but also functionality and interactivity when designing and experiencing urban space, producing this new sensibility that Scott Brown refers to.
Maribel mendes sobreira
In this sense, signage plays an important role in guiding users of these
establishments whilst representing their uniqueness and authenticity, frequently constituting the identifying element of each shop. These establishments often resist the homogenisation and standardisation that are typical of modern gentrifying design, emphasising the importance of preserving local identity and tradition amidst globalisation and massification.
As such, the experience provided by these businesses' disruptive signs challenges the dualistic notion of separation, promoting a more integrated, holistic understanding of human interaction with the surrounding space. Similarly, by representing the cultural and historical identity of a community, Comércio com Memória [Commerce with Memory] in Almada challenges the modernist view that tends to separate individual identity from its broader social and historical context, seeking rather to universalise it.
Comércio com Memória [Commerce with Memory] in Almada is understood here as a living, non-amorphous organism which, with its various transformative layers, tells us about the experiences undergone therein. These experiences help build the identity of a place and also the individual identity of its customers, in an exchange that enriches the aesthetic experience of cities. Examples of this are the successive transformations and the diversity of several commercial locations we can find in this project (including restaurants, taverns, haberdasheries, fashion shops, and ice cream parlours), which, whatever their intended use, combine with the various forms of communication of their services to create a unique identity.
The signage-based criticism of Cartesian thinking within the context of architectural modernism highlights the need for more holistic and humanised approaches in design that take into account the interaction between mind and body, emotion and reason, culture and identity. In this sense, to walk through the streets in Almada is to recognise the importance of this sensory and affective experience of the built environment, as well as the valorisation of cultural diversity, as constituent elements of the construction of collective history.
The loss of identity resulting from the processes of modernism and tourism, with their subsequent homogenisation of architectural spaces worldwide, is intrinsically linked to the decharacterisation of local communities and to the prevalence of standardised spaces that neglect the singularities of a particular place. Often leading to local establishments being replaced by global commercial chains and homogeneous spaces, this process contributes to the loss of a community's cultural and social identity, resulting in a standardised urban landscape devoid of authenticity.
The relationship between architectural modernism and the logic of homogenisation can be observed in the impact of the implementation of modernist ideals in old traditional communities. With the advent of modernist principles focused on functionality, order and simplified aesthetics, the preservation of local architectural styles and the historical integrity of traditional villages and neighbourhoods were often neglected. Furthermore, gentrification associated with the implementation of modernist ideals often leads to the displacement of low-income residents and the replacement of local businesses with globalised
commercial establishments, resulting in the disappearance of a diverse local economy and the homogenisation of the urban landscape.
Returning to the initial idea, and within the context of the emergence of neon signage and the like, Denise Scott Brown highlights not only the aesthetic and cultural impact but also the importance of a potential social revolution through the incorporation of these elements, providing a vibrant, dynamic aesthetic in urban space and, as such, stimulating a new social awareness and promoting a more inclusive sensibility to urban experiences. The interaction between neon signs and the pop art movement can therefore be seen as a catalyst for a broader change in the perception and appreciation of urban life, encouraging a deeper, more empathetic understanding of the diverse realities of cities.
FrOm Pixel to Reality: Small Shopping CEntres in COntemporary Urban Life [en]
At 4:00 pm on a Tuesday, the gate of Galeria Andorinha is raised only two feet from the ground. At the end of a long, dim corridor, a light beckons, indicating a hair salon that has been operating behind closed doors for four years, working only by appointment. Of the fifteen stores therein, only this remains open.
A few blocks ahead, near Academia Almadense, inaugurated in 1974 and considered the largest cinema in the country at the time, with 838 seats, I come across Galerias Palagem, dating back to 1994. The Jornaleco kiosk stands out at the entrance. During its heyday, the Academia bustled with people in the cafeteria, perfumery, and ready-to-wear shop. The closure of the cinema marked the end of this commercial space. Today, a study centre at the back, a seamstress, and a therapist office— by appointment only —are all that is left. The owner of Jornaleco has never seen it open.
In 1984, CC Sommer was erected on Avenida Dom Nuno Álvares Pereira, a development that, at the time, featured four floors and housed 40 stores. The place was known for its video club, becoming a true paradise for video enthusiasts seeking the latest VHS releases. It also offered cutting-edge copy shops, perfumeries, ready-to-wear shops, and a cafeteria/restaurant with a panoramic view over Praça São João Baptista. Today, it survives as a commercial space relying on a Minipreço supermarket. The original glory gave way to a transformed reality. Only the ground floor and the basement remain open, housing a herbalist, a seamstress, a currency exchange, two mobile phone shops, and a fashion accessories store. In the basement, SPA Autores and a secondhand clothing store still operate. The public bathrooms and ATM provide some convenience. The upper floors have been converted into a gym, and there are plans to open a sizable real estate agency in the former cafeteria area.
Rua Capitão Leitão, along with other streets, Praça do Movimento das Forças Armadas, and Avenidas Dom Nuno Álvares Pereira and Dom Afonso Henriques have witnessed not only vertical growth but also a flourishing of commercial spaces that have become an inseparable part of community memories. Faraó, inaugurated in 1976, resisting the test of time, remains a unique piece within this commercial mosaic. Others, like Fórum Piedense, in Cova da Piedade, evoke glory days of the past, with the Bota Abaixo sports shop, one of the most modern of its time, serving an entire generation of promising athletes and swimmers. Of the 41 original stores, only Livraria Escriba remains.
Throughout the vibrant 1980s and 1990s, shopping centres were more than mere shopping destinations. Arcade games, found throughout almost all of them, were true magnets for hordes of young people seeking pixelated entertainment. The arrival of game rooms marked a generation that gathered to take part in virtual challenges. The characteristic electronic sounds, simple but captivating graphics, and friendly competition created a unique, unforgettable atmosphere.
CC Renovação, a discreet (at least in its façade) three-storey building, also witnessed the relentless pursuit of popular games on the ZX Spectrum, becoming a central point in the lives of a generation that is now pushing half a century. Today, its history is told not only by its architectural features or its former commercial function, but also by the auctioning of shops in vacant lots.
The decades spanning from the 1970s to the 1990s saw the emergence of new shopping centres and consolidated a lifestyle that combined consumption and leisure. The commercial explosion of that time transformed the city, giving rise to iconic places that still resonate in collective memory.
As the population ages, a new generation emerges, driven by alternative and sustainable trends. These young people are not just looking for products: they are seeking experiences. Local commerce has once again become a contemporary trend, going beyond just selling products to deliver authenticity. Almada is now at the epicentre of a new history where nostalgia intertwines with innovation. In this ever-evolving scenario, inaction is not an option. The future's uncertainty will be shaped by the collective construction of a vibrant, sustainable path for the city.
A Place Is Where tHe Future Can Create Even More StOries [en]
A native of Cova da Piedade, I took my first steps in Barquinho, then a kindergarten serving Lisnave workers, from where I sailed on to school number 4, near the post office. It is there, at the desk by the window where I learned to read and write, that the personal journey of this story begins.
In the alleyway which becomes Travessa de Angola, right in front of the school gate, there used to be a dark, damp warehouse of goods, now transformed into a place of religious worship. At that time, huge trucks would park there in a constant to-and-fro, idling for as long as it took to load and unload who knows what. Frozen goods, perhaps. Due to a small imprudence on a field trip, a minor incident that amounted to nothing more than a scare despite involving children and trucks, these outings to the street were reduced to the indispensable, depriving us of occasional changes of air. Only stink bombs, which could be bought for twenty escudos at any kiosk on the way to school, continued to somewhat ventilate the classrooms from then on.
Further ahead, on the way to the market, on Rua Álvaro Vaz de Almada, we could not pass by the existing drugstore without the lady offering a handful of carolos to the gaiatos 1 she was able to herd inside. That is what the lady would call us: gaiatos.And carolos was what we called the marbles she would give us in return for attention and a chat. Sometimes we were able to score a colourful glass shooter; and every now and then a lead one, the terror of the backyards and school courtyards. It was one of those shops that is very rarely found nowadays in Cova da Piedade or anywhere else, with everything hanging from the ceiling, everything haphazardly placed on the shelves, inert clutter, tools, pots, colourful packaging, mousetraps, jugs, soaps, an intoxicating smell of citronella and kerosene. Of all, my favourite drugstore. Another one that closed was on Avenida da Fundação, next to that phantom shoe shop, Mélita, closed for decades but still displaying models of the fanciest boots from that bygone fashion, as though someone had left the door ajar for just a moment.
Commerce in Cova da Piedade, Almada, and in all neighbourhoods, parishes, suburbs, and cities has undergone significant transformations since then. Well, of course: like the world, it has changed. And whilst thirty years ago VHS rental shops erupted from every corner—like the giant Centro Star, which occupied three or four shops up on the first floor, with posters of brutes ready to wipe out the world with their fists, and which represented the best that technology and entertainment had to offer to middle-class families of that time—,today it is kiosks with mobile phones and gadgets, the current epitome of innovation and leisure for all of us. A changed world, but always worldly.
Many of the shops from that time still exist, despite the exponential acceleration of the world and changes in lifestyles and consumer behaviours. Many of the small local family-owned and subsistenceoriented businesses have endured and maintained their line of business and their
loyalty to their long-time customers, whom they value and continue to please. Near the garden, visible from the palace, the Armazéns Abilheira (home textiles and lingerie) advertise fine French brands on the awning; a haberdashery or two, with walls speckled with colourful yarn and buttons of all kinds; an old seamstress, swamped in orders, amongst the empty galleries across the ground floor of a building; a couple of florists planted side by side, thriving and getting along well; a hairdresser named Cidália or Cristina's salon, with those magnificent dryers that I thought were astronaut helmets as a child, seeing ladies come out with hairstyles from another world; Jacques, the ready-to-wear shop, dressing the curvaceous wooden mannequins with exemplary decorum; further ahead, a barber, one of those still working the scalp with scissors, and retaining that sly bent against the current fashion of the curly moustache; on Rua dos Bombeiros Voluntários [Volunteer Firefighters Street], Churrasqueira Riviera [Riviera Grillroom] has not let the embers die out since 1974; a photography studio, like Ramos, where we all took beautiful portraits for the school book, in which only the sunset remains the same, despite already announcing the end of those days without us knowing it. And a retail store, Singer, still survives selling household appliances on the street that slopes down from the firefighters' roundabout and intersects Rosa's exceptional bookshop, Escriba, which has just turned thirty—when passing by the door, as such, one ought to at least take their hat off to it.
On the contrary, for example, the Cooperativa Piedense, a historic collective created “by the initiative of workers and artisans in 1893”, which for a century was a centre of solidarity economy, and once had quite an important library for its contribution to civic and democratic culture in the municipality, has closed. Now, the gloomy-looking building in the centre of the parish, closed and covered in tags, seems like a monolith from another era, a symbol waiting for an unknown future in order to one day resurrect itself.
And Tia Bé, despite having maintained for twenty years her charismatic family service and a “differentiated menu”—as business jargon goes—featuring an array of traditional dishes from Cape Verde and Portugal, is currently struggling with the uncertainty of real estate speculation that threatens the imminent renewal of that area under the shadow of the large dilapidated silos.
The healthy coexistence of varied businesses is what fills the streets and gives life to Cova da Piedade, where you can still choose between enrolling in a gym chain with brand new services and equipment or at SFUAP or the Clube Recreativo Piedense, which breathe experience and reputation; where you can buy a top-of-the-range bike with an instalment plan at a mega sports warehouse or go to Ciclística, the store and repair shop where Vasco and Íris embody local commerce and smooth mobility; where you can have a palmier and chat with retirees at the Xandite pastry shop, take a codfish pastry from Tinita to eat in the coach, savour a gourmet burger on the terraces of Romeira, a chop suey at Chun e Ying, or settle in for a pint and snails at Labirinto. Building vibrant cities depends to a large extent on public policies that promote local commerce and ensure that all citizens have access to housing, work, and enjoyment in the city centre.
And this leads me back to the classroom window where this text began, from which, now looking into the future, I seem to hear the anachronistic prelection of a cautious navigational warning, as if the young and old of Romeira had put onto Mutela Beach with practical wisdom from an experienced heart: 2
What new disaster dost thou here design?
What horror for our realm and race invent?
What unheard dangers or what deaths condign, veiled by some name that soundeth excellent? What bribe of gorgeous reign, and golden mine, whose ready offer is so rarely meant?
2.Canto IV, stanza 94, The Lusiads, Luís Vaz de Camões, 1572. Translation by Richard Francis Burton, 1880.
3. Ibid., Canto IV, stanza 97.
What Fame hast promised them? what pride of glory? What palms? what triumphs? what victorious glory? 3
Almada VivaTales frOm the LEvante MarKet [en]
I lived and worked in Almada for about 40 years, which I fondly remember, especially when it comes to the Levante Market.
My husband and I, at just 26 years old, were selling bed sheets, fabrics by the metre, and other items right in front of União Elétrica, with our goods spread out over a cloth on the ground beneath a balcony to keep them dry in case of rain. We sold on the street, on the sidewalks, but never obstructing the passage of people and vehicles. In fact, we intentionally set up shop there because of the high foot traffic.
The market was not a physical location as it is today; it took place wherever the vendors were selling and the customers were buying.
I recall that the market moved to Rua do Tribunal when I was about 30 years old. It still took place on the sidewalks, by the roadside. Banter between market vendors and customers was constant, all within the bounds of respect and trust built over many years of healthy conviviality between seller and customer.
Only after another four years did the market relocate to the iconic Largo São João Baptista, now relieved of the hustle and bustle of car traffic, operating from Monday to Saturday, starting at seven in the morning and closing up shop at three in the afternoon, rain or shine. Unlike before, the merchandise was now sold in stalls with awnings that were set up and taken down every market day. These innovations required better management of the space, overseen by the Almada City Council, with vendors being asked to pay a yearly license fee (vendor's card) and a daily rent for the space where their stall was set up. During this time, given the increasing amount of people and stalls, I transitioned from selling just fabrics to selling ready-to-wear clothing, particularly women's shirts and sweaters, with a good value for money.
The niche market in and around Almada was noticeable and noteworthy. And I am not just talking about the market itself, but also about the broader commerce around the area.
The Alcofa Market, as the Levante Market of Almada was known back in those days, was tremendously important for the local trade, given all that it involved. This impact extended not only to the vendors, seeing that over a hundred families drew their livelihood and supported their households from the market, but also to local business more broadly. The market had gained a massive nationwide reputation, and because of that, people from all over the country flocked to visit, venturing through the market, going to restaurants, shops, and cafés, staying in guesthouses, and exploring the rest of the city of Almada, making use of the public transportation.
The market vendors contributed to revitalisating the local trade, not only amongst themselves but also by supporting other businesses.
olga marianoThere were seamstresses producing garments for Romani women, like the pleaters pleating skirts (quite a fashionable garment at the time), and women embroidering bed linens, towels, curtains, and cushions. I mention this to stress the abundance of resources in the city—as well as its potential, which was vast for that time.
The market offered a wide array of goods, from food, home decor, and office supplies to clothing and haberdashery. There was fish, poultry and derivatives, cheeses and butters, sausages, vegetables, fruit, and bread; furniture, handbags, quilts, mattresses, curtains, decorative items, crockery, and cutlery; schoolbooks, school bags, notebooks, pens, and pencils; full men's suits, tracksuits, poplin and flannel shirts, hats and rain hats, underwear, shoes, boots, sneakers, overcoats, and raincoats; women's dresses, skirts, blouses, jackets and coats; children's beds, all styles of baby clothing for summer and winter, as well as toys and strollers; all types of fabric by the metre, threads, elastics, zippers, and yarns.
As we needed to transport merchandise daily, I had to be the one driving the van. My husband hadn’t finished the fourth grade, which was a requirement for getting a driver's license—a situation that was resolved later on. In any case, I’ve had my driver's license since I was 18, a gift from my father when I was still single; and I didn’t get married until I was 22, which is a bit late for the Romani stereotype.
This gift made all the difference for my independence as a human being.
Early in the morning, before heading to work, we used to stop for coffee at the Repuxo café in Largo da Fonte Luminosa. I can still smell the freshly baked setubalenses and tranças. These were my favourite pastries. Repuxo was a gathering spot for many market vendors before starting yet another day of work.
Every day, when we arrived in the van, there was a group of nonRomani teenage boys ready to help the market vendors unload and set up the tables and awnings, and put everything away again when the market ended. They received cash in return for their work, thus contributing to their family's livelihood as well. From then on, they started coming to help every day. The market truly drove Almada's economy and changed the lives of families.
The enthusiasm, sustainability, and pleasure we found in Almada's market are reflected in the fact that both my husband and I always dressed up for the market. We dressed up for it as if it were a party: I wore high heels, had my hair coiffed, and dressed in my finest attire, whilst he donned a suit and tie. We derived actual enjoyment from selling at the market—there, we were happy. Looking back, I can confidently say that those were the best years of my life.
It was thanks to this market that I was able to acquire and achieve things I had once thought were unlikely, even impossible, including buying a home of my own.
My children grew up in the Alcofa Market. They slept and played in cardboard boxes amidst the vendors' cries and the hustle, bustle, and joy of the market. One of my children (I have three) attended the António da Costa School in Almada, and during school breaks and after classes he would play with the other “market kids” at the market.
Almada was alive, and that life resided in its people, in the Romani and non-Romani vendors, and also in all the customers who came to shop. There, experiences and friendships were shared, and a vibrant exchange of commerce took place.
I remember a situation near my stall, which I believe is worth sharing as it shows the level of trust and fondness between us market vendors and
our customers. It was the Easter period, and my shirt stall was bustling with customers; we were swamped. When work slowed down a bit around noon, I noticed that someone had forgotten a handbag on my stall. My first thought was to open the bag to check whether there was any ID so I could return it or hand it over to the police. To my surprise, when I opened it, I found a considerable amount of cash, as well as various tickets and lotto slips from the Santa Casa da Misericórdia. I immediately closed the bag; and almost at once, I saw a group of vendors consoling a lady who was crying uncontrollably. She was saying that she would have to cover all the lost money herself, as she had already searched every stall in the entire market asking if anyone had seen her bag, not knowing where she had lost it. Approaching to see what was going on, I asked her to describe it and what it contained; in response, she provided all the necessary, convincing details to confirm that the bag was indeed hers. This brought me immense joy —the joy of being able to bring peace to that lady, saying, “Don't cry, your bag is with me.”
25 years of unforgettable work, experiences, and sharing it was. Only after my husband passed away did I stop selling and passed the stalls on to my children.
I found myself thinking that the market no longer meant the same to me, and I ventured into a new activity: community organisation and involvement. I am currently on the board of the Agarrar Exemplos Association, working to help those around me with their citizenship, rights, and responsibilities. It has been 23 years in this new phase of my life, as an activist, community leader, and also as a poet. I hope to inaugurate the association's headquarters in Almada later this year.
Almada is a part of me; and I am Almada.
Almada Viva
Paramisja andar i LEvante Diz [rom]
Dživisardem thaj kerdem buti andi Almanda karing 40 berša, pal savende dav man godi lošasa, specialo kana vakerel pes pal i Levante Diz.
Miro rom thaj me, toke ke 26 berša, bikinasas, patoske šeja, materialurja ko metro thaj aver butja anglal i União Elétrica, savore butjenca buhljarde pe jekh colo pi phuv, telal jekh balkono, te inkeras len šuke kana del o brišind. Bikindjam pe ulice, pe phirimaske riga, ama bi te phandavas o drom le manušengo vaj le vurdonengo. O fakto si ke intenciasa kerdjam amare bikinimasko than kothe, soske sas baro phirimasko trafiko. I diz na sas jekh korkoro than sar si avdives, kerelas pes orkaj bikinenas e manuša thaj kaj kinenas e klinturja.
Anav mange andi godi kaj i diz kerdjas pes andi Rua do Tribunal kana sas man karing 30 berša. Maj kerelas pes pe phirimaske riga, pe dromeski rig. E pherjasa maškar e manuša kaj bikinenas thaj maškar e klienturja sas sastivrjama, savore andi limita le respektoski thaj le pakivaki vazdini ande but berša sasteves dživisarde maškar e bikinjarne thaj e klienturja.
Toke pal inke 4 berša, i diz sas mukisardi ando but prindžardo Largo São João Baptista, akana muklo rigate katar o dilipe le vurdonenge trafikosko, putarindos de lujne dži savatone, astarindos ke efta andi teharin thaj phandindos o marketo ko trin pal o mismeri, vi te delas o brišind vi te marelas o kham. Verver de sar dži akana, i marfa sas bikindi pe bikinimaske sinie učharde mesalinenca kaj sas thode thaj dine tele sako dives dizako. Kadala nevimata mangenas jekh maj lačho godisaripe pal o than, so sas dikhlo opral katar o Municipalo Konsilo Almada, le bikinjarnenge mangljas pes lenge te pokinen jekh beršutni taksa vaš i licenca (lil bikinjarnesko) thaj kiria po dives vaš o than kaj sas thodi lengi bikinimaski sinia. Ande kado vaxt, lindos samate o numero le manušengo sar maj baro thaj le bikinimaske sinijengo, nakhljam katar o bikinipe toke sivimatengo karing o bikinipe hurjavimaske šejengo gata-te-hurjaves, specialo gada thaj puloverja vaš e džuvlja save sas len lačho kaliteto vaš e pokinde love. I bari diz andar thaj pašal i Almada sas lili samate thaj prindžardi mišto. Thaj na vakerav toke pal i diz, ama vi pal o buhlo komerco kaj sas ande kodo than.
I Diz Alcofa kadja sar sas prindžardi ande kodoja vrjama – i Diz Levante katar i Almada, sas but vašno andar o lokalo komerco, lindos samate sa so anelas pesa. Kado impakto buhljardjas pes na toke opral e bikinjarne, dikhindos ke opral jekh šel familie inkaren pengo trajo thaj inkerenas penge familien andar i diz, ama vi opral o generalo lokalo bisniso. I diz aresli but prindžardi ko nacionalo nivelo thaj andar kado motivo e manuša andar sasto them avenas te dikhen, nakhindos andar i diz, džandos ke restauranturja, ke marketurja thaj ke kafenjave, sovindos ande pokinde khera thaj phirindos ande sasto foro Almada thaj džandos ando publikano khetano transporto.
E bikinjarne andar i diz ande von korkoro kontribucia ko barjaripe le lokalo komercosko, na toke maškar pende, ama vi didndos vast avere bisnisurjen.
olga mariano
Sas sivjarne kaj kerenas šeja vaš e romane džuvlja, sar si e plisome fustanja (jekh buti kaj phiravelas pes but ande kodi vrjama) thaj džuvlja kaj sivenas luludja pe šeja patoske, pe khosne, pe
kortine thaj pe šeranda. Phenav kadaja buti te lel pes samate o barvalipe kaj sas ando foro thaj vi lesko potencialo savo sas but baro ande kodi vrjama.
I diz anelas jekh buhli gama butjengi, katar o xabe, khereske butja thaj ofisoske materialurja dži ke šeja thaj sivimaske butja. Arakhesas kothe mačho, mas khajnjako thaj aver xamata khajnjake, kirala thaj khila, goja, vegetale, frukturja thaj manro, mobile, taše vasteske, kapes, matratze, kortine, dekoraciajake butja, roja thaj čare; lila, školake gone, ramosarimaske lila, ramosarimaske kašta, jabades andar e murša, sportoske šeja, poplinoske thaj flaneloske gada, stadika thaj brišindeske stadika, sostenja, minia, ivendeske minia, sportoske minia, moxtona, brišindeske moxtona, džuvljenge roklje, fustanja, gada, jake thaj moxtona andar e džuvlja; xurdorenge suthana, savore modelurja hurjavimaske andar e xurdore vaš o milaj thaj vaš o ivend thaj vi džukarie thaj vurdonore; sa e modelurja materialurjenge ko metro, thava, elastikurja, zipurja thaj thava pošomake.
Soske transportisarasas e butja sakodives, trebalas te ovav me kodi kaj tradelas o vurdon. Miro rom na agorisardjasas i štarto klasa, kodo mangelas pes te šaj te les le tradimasko lil – jekh situacia kaj sas lačhardi maj palal. Vi kadja, sas man le tradimasko lil katar e 18 berša, jekh prezento katar miro dad de kana semas inke korkoro; thaj na prandesajlem dži ke 22 berša, kado si cira but palal pal o romano stereotipo.
Kado prezento andjas sasto ververipe vaš miro slobodipe sar manuš.
Derano andi teharin, anglal te džav ki buti, bešasas amenge ke jekh kafa andi kafenjava Repuxo andar i Largo da Fonte Luminosa. Inke maj anav mange andi godi o khandipe le peke plačinkengo setubalenses thaj tranças. Kadala sas e plačinke kaj mangasas maj but. Repuxo sas jekh than kaj kidenas pes but bikinjarne andar i diz, anglal te astaren jekh nevo dives butjako.
Sako dives kana aresavas ando vurdon sas jekh grupa terne rakhelengi gata te den vast le bikinearnen andar i diz te den tele thaj te thon po than e sinie thaj e kopertine thaj te den rigate sja kana agorisarelas pes i diz. Von lenas peske love pi buti kaj kerenas, dindos vast vi penge familien te dživen. De atoska astarde te aven te džutisaren sako dives. I diz barjardjas i ekonomia le Almadaki thaj paruvdjas o dživipe le familiengo.
I loš, i zor thaj o kamipe kaj arakhljam len pi diz andi Almada, dičhjolas ando fakto ke vi me thaj vi miro rom hurjavasas amen savrjama vaš i diz. Hurjavasas amen vaš kodo sar kana sas jekh party: phiravavas minia uče, lačharavas me bala thaj hurjavavas man ande mire maj šukar šeja thaj vov hurjavelas kostumo thaj kravaša. Arakhljam amari loš ando bikinipe ki diz – kothe samas lošale. Dikhindos palpale, šaj te phenav pakivasa ke kodola sas e maj lačhe berša andar miro dživipe.
Andar kadi diz sas man šansa te kinav thaj te kerav butja pal savende patjavas maj anglal ke si phares te keres len vaj ke na-i šajutne, vi te kinav mange jekh kher.
Mire čhave barile andi Diz Alcofa. Sute thaj khelde peske ande kartonoske bokse ando maškar le bikinjarnenge cipimatenge thaj le dizake dilimasko ama vi le lošako andar i diz. Jekh andar mire čhave (si man trin) gelo ki škola António da Costa andar i Almada, thaj ande školake pauze thaj pal e kursurja, khelelas peske akalavere „dizake čhavenca” andar i diz.
I Almada sas dživdi, thaj kodo dživdipe arakhelas pes ande lake manuša, ande bikinjarne roma thaj gadže thaj vi ande savore klienturja kaj avenas ko kinipe. Kothe kerde pes eksperience thaj amalimata thaj vi kerdjas pes jekh vibranto komercosko paruvipe.
Anav mange andi godi jekh situacia pašal miri sinia, pal šavjate patjav ke trebal te vakerav, soske sikavel o nivelo le pakjavimasko thaj le kamimasko maškar amende, ame e bikinjarne andar i diz thaj amare klienturja. Sas o vaxt le Patradjako thaj miri gadengi sinia sas lan but klienturja, sas amen but buti. Kana i buti maj lokili karing o mismeri dikhlem ke varekon mekljas jekh taša vasteski pe miri sinia. Miro maj angluno gindo sas te putrav i taša te dikhav kana arakhav varesavo identitetako lil te šaj te dav lan palpale vaj te dav lan ki policia. Kana putardem lan sas man jekh surpriza arakhlem jekh suma bari lovengi thaj vi aver tiketurja thaj papira katar o loto, katar i Santa Casa da Misericórdia. Phanglem sigo i taša thaj pal kodo dikhlem jekh grupa bikinjarnengi kaj lenas sama pe jekh rajni kaj rovelas zorales. Voj phenelas ke trebala te del korkoro palpale savore xasarde love soske rodinjasas pe saki sinia andar i sasti diz pučindos kana dikhljas varekon laki taša, bi te džanel kaj xasardjas lan. Pašilem te dikhav so ačhilo thaj rugisardem lan te phenel sar sas i taša thaj so sas andre, voj phendja palpale savore trebutne thaj pakjavne detajlurja thaj konfirmisardjas ke i taša sas čačimaste laki. Kadaja buti andjas mange jekh bari loš – i loš te šaj anav pačja kodole rajnjake, phenindos: „Na rov, tiri taša si mande”.
Sas 25 berša butjake, eksperiencake thaj hulavimaske kaj našti bisteren pes. Toke pal so mulo miro rom agorisardem o bikinipe thaj dinem maj dur e sinie mire čhavenge.
Astardem te godisarav ke i diz na maj si sa kodoja buti andar mande thaj thodem man ande jekh aktiviteta nevi: komunitetako organizisaripe thaj džutipe. Akana sem ando administrativo konsilo katar i Asociacia Agarrar Exemplos, kerindos buti te dav vast le manušen paš mande lenge themutnimasa, lenge čačimatenca thaj lenge responsabiliteturjenca. Nakhle 23 berša ande kadaja nevi faza mire dživimaski, sar aktivistka, liderka andi komuniteta thaj sa kadja, sar poetka. Adžukerav te keras inauguracia kado berš pal o ofiso amare organizaciako andar i Almada.
I Almada si kotor andar mande thaj me sem i Almada.
a aBrir a porta
It may takE time
to Open the door
© 2023, Frame Colectivo Comércio com Memória
Editores | Editors
Agapi Dimitriadou, Gabriela Salhe Salazar
Textos | Essays
Ana Catarino, Agapi Dimitriadou, Álvaro Domingues, Sandra Gonçalves, Olga Mariano, Gabriela Salhe Salazar, Maribel Mendes Sobreira, João Tempera
Fotografias | Photography
Rui Sérgio Afonso, Nuno Andrade, Augusto Brázio, Rodrigo Cabrita, Luísa Ferreira, Céu Guarda, Lara Jacinto, Pedro Letria, Tiago Miranda, Pauliana Valente Pimentel, Enric Vives-Rubio, Sofia Yala
Ideia e Conceito | Idea and Concept Frame Colectivo
Edição de Fotografia | Photography Editor
Augusto Brázio, Agapi Dimitriadou
Design Gráfico | Graphic Design
Lisa H. Moura (Frau im Mond)
Produção | Production
Bruno Claro, Giulia Edom
Pós-produção de Fotografia | Photography Post-production Blackbox Atelier
Tradução | Translation
Diogo Montenegro, Mihaela Zatranu
Revisão de Texto | Copy Editor
Ângela Alegria, Miguel Domingues, Diogo Montenegro
Impressão | Printing
Gráfica Maiadouro
Agradecimentos Acknowledgements
Tipografia | Typography
Milkman, Beausite Classic, Newsreader
Papel | Paper
Pergamenata, Ispira Bianco purezza, Symbol Tatami White, Arena Natural Rough
1.ª Edição 2023
ISBN 978-989-33-5570-1
Depósito legal 525016/23
1000 exemplares / copies
Editor | Published by Frame Colectivo/ Edições Urbanas
Projeto enquadrado nas comemorações dos 50 anos de elevação de Almada de vila a cidade | This project is part of the celebrations of the 50th anniversary of Almada’s elevation from town to city.
www.framecolectivo.com
www.edicoesurbanas.pt
Todos os direitos reservados. Não é permitida a reprodução total ou parcial deste livro, nem a inclusão em sistema informático, nem a sua transmissão por qualquer forma ou por qualquer meio, seja eletrónico, mecânico, fotocópia, gravação e outros métodos, sem autorização prévia, por escrito, dos editores. | All rights reserved.
Agradecemos a toda a equipa da Câmara Municipal de Almada, e em particular a | We thank all collaborators of the Almada City Council, and especially
Domingos Rasteiro
Ana Ferreira
Otília Rosado
Raquel Antunes
José Cortez
E também a | Also to
Ana Salazar Herrera
Ângela Alegria
Miguel Domingues
Maria João Garcia
Ângela Luzia
Rosa Alface
Francisco Silva Nuno Andrade
Augusto Brázio
Dani d´Emilia
Sarah Amsler
Éléonore Labattut
Simon Deprez
Gopalas Michailovskis
Kirill Kozhanov
Helena Rodrigues
João Rodrigues
Paula Salazar
Enriqueta Salazar Herrera
Jorge Salazar
Vasiliki Kotoula
ERGO Network
Hemeroteca Municipal de Lisboa
Aceda (Associação Cristão Evangélica de Apoio Social)
Forum Dança
Rumo do Fumo
Cravo Bem Temperado
AD SUMUS (Associação de Imigrantes de Almada)
O nosso agradecimento especial a todas as pessoas envolvidas no comércio local pelo seu trabalho diário e pela sua generosidade no desenvolvimento deste projeto. | Our special thanks to all parties involved in the local commerce for their daily work and for the expressed generosity during the development of this project.
Lista dE lojas
List of stOres
A FerragEira
dE Almada
Rua Capitão Leitão 76A/B
Desde | Since: 1962 (p. 108)
Alfaiataria Brito
Rua Nuno Álvares Botelho 6B
Desde | Since: 1973 (p. 80)
barbEaria Bordonhos & BordOnhos
Rua de Olivença 10A
Desde | Since: 1949 (p. 200)
Bar DespOrto, LDA
Rua Capitão Leitão 58A
Desde | Since: 1948 (p. 104)
CabEleireiro Cidália
Avenida da Fundação 11A
Desde | Since: 1970 (p. 42)
Café Central
Praça Movimento
das Forças Armadas 12C
Desde | Since: 1950 (p. 176)
Café PastElaria
Imperial Rua Capitão Leitão 21B
Desde | Since: 1946 (p. 124)
Café TrOpical
Avenida Dom Nuno Álvares
Pereira 52
Desde | Since: 1959 (p. 60)
Casa das SEmentes
Rua Bernardo Francisco da Costa 59
Desde | Since: 1956 (p. 160)
comércio cOm memória
Casa dOs CandeeirOs
Avenida Dom Nuno Álvares
Pereira 16A
Desde | Since: 1969 (p. 86)
Casa RamOs
Rua Capitão Leitão 12
Desde | Since: 1965 (p. 136)
CervEjaria Barca
D'Alva
Praça da República 6
Desde | Since: 1965 (p. 128)
CErvejaria O Farol
Largo Alfredo Dinis 1
Desde | Since: 1932 (p. 244)
DElfim Alfaiate
Rua Capitão Leitão 74B
Desde | Since: 1963 (p. 112)
DrOgaria AndorinHas
Rua Capitão Leitão 72A
Desde | Since: 1954 (p. 132)
Drogaria E PErfumaria ROsa
Avenida Rainha
Dona Leonor 57A
Desde | Since: 1964 (p. 46)
Farmácia CEntral
Rua de Olivença 10D
Desde | Since: 1954 (p. 180)
Farmácia MagalHães
Rua Capitão Leitão 8
Desde | Since: 1846 (p. 120)
FigUeirEdo
Avenida Dom Afonso Henriques 8
Desde | Since: 1954 (p. 206)
FOtalmada
Rua Bernardo Francisco da Costa 64
Desde | Since: 1953 (p. 170)
FrUtaria Dias
Rua Mendo Gomes de Seabra 1
Desde | Since: 1971 (p. 100)
GElados MOnte Neve
Avenida do Cristo Rei 5A
Desde | Since: 1966 (p. 90)
GeladOs RifEra
Praça Movimento
das Forças Armadas 9
Desde | Since: 1953 (p. 188)
GrupO Rolú
Avenida Dom Afonso
Henriques 14A
Desde | Since: 1973 (p. 216)
Iva Nails
Rua Bernardo Francisco da Costa 76C
Desde | Since: 2013 (p. 256)
JOão SoEiro Fotógrafo
Rua Capitão Leitão 17A
Desde | Since: 1973 (p. 116)
La MOde
Praça do Comércio 10
Desde | Since: 1972 (p. 148)
LeãO das ChavEs
Rua de Olivença 10C
Desde | Since: 1951 (p. 192)
LOja dE Lãs - COATS
Rua de Olivença 13
Desde | Since: 1965 (p. 196)
MáqUinas E FErramentas Almeida FerrãO
Rua da Liberdade 51A
Desde | Since: 1946 (p. 34)
Mecânica PiEdense
Rua Manuel Febrero 114
Desde | Since: 1943 (p. 22)
Mercado dos Botões
Rua Bernardo Francisco da Costa 55
Desde | Since: 1963 (p. 156)
Mini Mix
Avenida 25 de Abril de 1974 39C
Desde | Since: 2012 (p. 258)
o EscondidinhO de cacilhas
Largo Alfredo Dinis 7
Desde | Since: 1895 (p. 234)
OurivEsaria CoimBra
Praça do Comércio 4A
Desde | Since: 1961 (p. 152)
Ourivesaria GomEs
Rua de Olivença 2A
Desde | Since: 1972 (p. 144)
PapElaria TaBacaria
MinitUdo
Avenida 25 de Abril de 1974 21C
Desde | Since: 1970 (p. 220)
PastElaria COndestável
Avenida Dom Nuno Álvares
Pereira 37B/C
Desde | Since: 1969 (p. 64)
PastElaria MiKi
Largo 5 de Outubro 68
Desde | Since: 1966 (p. 52)
PastElaria PáscOa
Avenida Dom Nuno Álvares
Pereira 28
Desde | Since: 1956 (p. 56)
PastElaria RepUxo
Praça Gil Vicente 3B
Desde | Since: 1971 (p. 210)
RestaurantE
A CaBrinha
Beco do Bom Sucesso 4
Desde | Since: 1971 (p. 228)
REstaurante
AnnapUrna
Avenida Dom Nuno Álvares
Pereira 10
Desde | Since: 2011 (p. 254)
REstaurante
A RedentOra
Avenida do Cristo Rei 30
Desde | Since: 1958 (p. 74)
Restaurante
Casa Horácio
Rua Dom José de Mascarenhas 21A
Desde | Since: 1973 (p. 94)
REstaurante O Batista
Rua Afonso Galo 56
Desde | Since: 1966 (p. 70)
RestaUrante
O CacilheirO
Rua Cândido dos Reis 3
Desde | Since: 1929 (p. 238)
REstaurante Olivença
Rua de Olivença 1B
Desde | Since: 1956 (p. 184)
RestaUrante
SaBor de AmOr
Avenida Dom Afonso
Henriques 15A
Desde | Since: 2015 (p. 252)
REstaurante Tia Bé
Rua José Manuel Gomes 137 Desde | Since: 2003 (p. 248)
RestaUrante
VEra Cruz
Avenida Dom João I 17B
Desde | Since: 1952 (p. 164)
Rui VidrOs
Avenida da Fundação 14B/C/D
Desde | Since: 1953 (p. 28)
Sapataria Casa NOva Praça do Comércio 5B
Desde | Since: 1942 (p. 140)
Sapataria PicançO
Rua Rosas do Pombal 23A
Desde | Since: 1962 (p. 38)
TaBacaria bOrges
Rua Cândido dos Reis 130C
Desde | Since: 1959 (p. 224)