Jornal Digital - Exposição Comemorativa 25 de Abril de 1974

Page 1

JORNAL DIGITAL EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DO

DE 1974

perava… “Esta é a madrugada que eu es e falta fazer” o que se fez, o que se faz e o qu

A partir do cartaz de Rute Ferreira/ESCT

Oficina de Cultura 21 de abril a 8 de maio de 2021

Jornal Digital | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | 1


EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DO

DE 1974

rava… e sp e u e e u q a d a g ru d a m a é a “Est zer” fa a lt fa e u q o e z fa se e u q o z, o que se fe

Almada comemora Abril A Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 é uma das exposições de referência de entre as que ocorrem na Oficina de Cultura. Realizada neste equipamento municipal desde a existência deste na Avª D. Nuno Álvares Pereira, em 1994, terá passado por várias fases. Todavia, 20 anos depois, iniciou-se a mudança de paradigma, quando se protagonizou o envolvimento direto da população discente, com participação da comunidade educativa. Considerou-se que esta interação inclusiva, ao fomentar a participação de jovens discentes e dos docentes nesta exposição comemorativa do momento fundador da democracia, potencia e enriquece este legado histórico enquanto património nacional.

É o resultado do trabalho colaborativo que integra doze escolas de vários níveis de ensino, de que resultam treze projetos, numa união de esforços de discentes e docentes com o Departamento de Cultura e o Departamento de Educação, com imagem gráfica a partir do cartaz da Rute Ferreira, da Escola Secundária Cacilhas-Tejo. Nesta edição verifica-se o envolvimento de cerca de 29 turmas do 5.º ao 12.º ano, num universo de 1.612 alunos, com o respetivo enquadramento de 19 docentes. A exposição integra diversas áreas de expressão como a multimédia, expressão plástica/pintura, e cartazes e valorizando sempre a perspetiva dos alunos.

Oficina de Cultura 25 de Abril revisitado no Cristo-Rei 21 de abril a 8 de maio de 2021

“Esta é a madrugada que eu espera… o que se fez, que se faz, o que falta fazer” Este é o título da edição de 2021, tradicionalmente realizada na Oficina de Cultura, mas que este ano devido à situação pandémica surge parcialmente em suporte on line, apresentando a Oficina de Cultura a respetiva versão física. Assinalando a passagem dos 47 anos do dia fundador do regime democrático, a Câmara Municipal de Almada em parceria com a Comunidade Educativa do Concelho e ainda com a participação da Associação Salgueiro Maia leva a efeito esta realização a decorrer entre 21 de abril e 8 de maio. 2 | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | Jornal Digital

Esta ano a exposição sai para a rua, ainda que em segurança e no estrito cumprimento das regras em vigor. Na manhã de dia 23, no Cristo-Rei, onde na madrugada de 25 de Abril de 1974 ocorreram as operações de maior envergadura a Sul de Lisboa, de cobertura às operações militares decisivas levadas a cabo por Salgueiro Maia no Terreiro do Paço, o “Capitão de Abril” João Andrade da Silva, um dos protagonistas de então, realiza uma visita guiada – adiada em 2020 – relatando esse momento histórico. Será foi o registo através de documentário realizado pelos alunos do Curso Profissional de Técnico de Multimédia do Agrupamento de Escolas Francisco Simões. No encerramento a exposição, dia 8 de maio, pelas 10h30. terá lugar na Oficina de Cultura a sua projeção, seguido de debate.

rreira/ESCT

Assim, neste formato de parceria CMA/Comunidade Educativa iniciou-se em 2014, então protagonizado pelos Agrupamentos de Escolas (A E) Anselmo de Andrade, Emídio Navarro, a que depois foi agregado o A E Francisco Simões.


Escolas Participantes Agrupamento de Escolas António Gedeão Escola Básica Comandante Conceição e Silva Caixas de Memoria

Filme ou fotos das Caixas de sapatos com construções a 3D que simbolizam o dia-a-dia na época do 25 de abril de 1974 Alunos: 5º Ano Plástica/Vídeo

Um cravo Cravo construído a partir de materiais de desperdício num sentido de uma economia circular e mais sustentável. Alunos do Espetro do Autismo

Esta é a Madrugada que eu esperava… O que se fez, O que se faz, E o que falta fazer. “Elaboração de um conjunto de trabalhos bidimensionais (em formato A3 com utilização de técnica mista) subordinados ao tema “Esta é a Madrugada que eu esperava… O que se fez, O que se faz, E o que falta fazer.”, dando continuidade ao projeto que foi iniciado no ano letivo anterior “As Portas que abril Abriu”, e que foi proposto ás turmas A, B e C do oitavo ano. Este ano letivo serão estas as mesmas três turmas (agora do nono ano), que serão convidadas a trabalhar neste projeto. Alunos: Turmas dos 9º anos Trabalhos Gráficos

Agrupamento de Escolas Ruy Luis Gomes

Escola Básica e Secundária Professor Ruy Luís Gomes Desenhar sem medo o 25 de abril Cerca de 500 alunos, executaram o símbolo do 25 de abril, numa narrativa gráfica de apologia à subversão codificada e à força acutilante da metáfora nos livros e letras de canções, muitas vezes contornados com o lápis azul da censura no antigo regime. Alunos: Turmas dos 2º /3º ciclos - CPTF

Esta é a Madrugada que eu esperava… O que se fez, O que se faz, E o que falta fazer. Poesias da Madrugada Realização de um trabalho Vídeo Instalação (Poesia Visual). Declamações Gráficas da Madrugada… recorrendo a poetas Portugueses. Alunos: Turma do 12º ano Trabalhos Multimédia

Curta-metragem e exposição com narrativa gráfica

Agrupamento de Escolas Emídio Navarro Escola Básica e Secundária Emídio Navarro A Madrugada da mudança… O que se fez, O que se faz, E o que falta fazer...

Os alunos vão desenvolver narrativas visuais, com base na temática em questão, apresentadas em vídeos de curta duração, baseados em elementos gráficos, criados e desenhados por eles próprios. Alunos: Turma do 11º ano de AV Trabalho Gráficos. narrativas visuais, através da criação de pequenos vídeos, com base em cenários e personagens criados e desenhados pelos alunos.

Agrupamento de Escolas da Trafaria Escola Básica 2,3 da Trafaria Esta é a madrugada que eu esperava… o que se fez, o que se faz, e o que falta fazer Serão apresentados trabalhos, mensagens, cartazes e desenhos, de forma gráfica, criativa e digital, realizados pelos alunos do 2º e 3º ciclo do agrupamento, mostrando algumas etapas distintas desse período, o passado, o presente e o futuro, com especial relevância, no fim da ditadura, da censura, das prisões políticas e da guerra colonial, na democratização do país, na liberdade e na esperança de maior justiça económica e social. Alunos: Turmas dos 5º, 6º, 7º, 8º, 9º anos Mostra de trabalhos digital, que assinala os 47 anos do 25 de abril.

Jornal Digital | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | 3


Agrupamento de Escolas Anselmo de Andrade

Escola Básica Felicino Oleiro; Escola Básica do Pragal e Escola Básica e Secundária Anselmo de Andrade Antes e depois da madrugada de abril de 74 Ilustrações e canções inspiradas no do poema de sophia de mello breyner andresen:

Agrupamento de escolas do Monte de Caparica Escola Básica 2/3 do Monte de Caparica Esta é a madrugada que eu esperava… o que se fez, o que se faz, e o que falta fazer

E livres habitamos a substância do tempo”

Os alunos da disciplina opcional de Design Gráfico do 8º ano da escola Básica 2/3 do Monte de Caparica executarão cartazes subordinados ao tema. Os cartazes terão por objetivo formar os alunos, sensibilizando-os e à comunidade educativa para os temas propostos. Irão trabalhar interdisciplinarmente com as disciplinas de História e Português. Desta interdisciplinaridade surgirá certamente mais trabalho e riqueza de recursos.

Alunos: Turmas dos 4º 5º 6º 7º 8º 9º e 12º anos

Alunos: Turma de 8º Ano

Apresentação vídeo com representações realizadas com vários materiais físicos e outros digitais, musicado à capela por alunos do 2º ciclo.

Cartazes

“Esta é a madrugada que eu esperava O dia inicial inteiro e limpo Onde emergimos da noite e do silêncio

Agrupamento de Escolas Daniel Sampaio

Escola Básica de Vale Rosal Portas que Abril Abriu - “Esta é a Madrugada que eu esperava… O que se fez, O que se faz, E o que falta fazer.” Elaboração de um filme com colagem de trabalhos elaborados pelos Alunos em papel cavalinho A4, e por fim em papel cenário. Alunos: Turmas do 9º ano Expressão Plástica

Escola Básica e Secundária Francisco Simões “LIBERDADE” O anagrama de Liberdade é Liberdade Uma rápida pesquisa sobre a palavra “liberdade” devolve-nos definições que envolvem, sempre, as palavras “autodeterminação”, “independência”, “autonomia” ou conceitos como “ausência de submissão e de servidão”. Mas, se as palavras podem ser poesia também é verdade que podem ser prosa. E, em 2021, “liberdade” pode ser, tão simplesmente, a possibilidade de sair, de andar, de falar, de abraçar, de beijar. Como é que os nossos jovens olham para a palavra “liberdade” e a redefinem para si próprios, para a sua vida, para o que são hoje, em 2021? Alunos: Turmas do 10º, 11º e 12º ano Exposição de fotografias digitais e textos

4 | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | Jornal Digital


Agrupamento de Escolas Elias Garcia Retratando o 25 de abril em ano pandémico

Escola Secundária Fernão Mendes Pinto

Relembrando o 25 de abril, alunos do sétimo ano montaram em seis slides imagens que ligassem o momento histórico de 1974, com os nossos dias. Tentamos que os alunos percebessem as mais valias que este evento realizou na sociedade portuguesa. Neste vídeo associamos a poesia, colocando os jovens a declamar poemas também eles, associados à comemoração do tema.

As turmas de 7º ano farão cartazes a3 com imagens trabalhadas pelos alunos de realidades antes e depois da “madrugada que eu esperava”.

Os trabalhos foram realizados pelos alunos:

Alunos: Turmas dos 7º anos e turmas de secundário

Filipa Cerveira 7º F; Ricardo Silva 7º F, Carolina 7º F, Ana Beatriz 7º F, Diogo D. 7º F, Filipa 7º E, Ana Marques 7º E, Rafael 7º D, Eva Gomes 7º D, Eva Alves 7º C, Débora 7º, Lara 7º C, Ema 7ºB, Luana 7ºB, Rodrigo 7ºB, Rui 7ºB, Rodrigo Sá 7º A, Marta Araújo 7ºA, Tiago 7ºA.

Expressão Plástica

Mostra de trabalhos digital

Escola Secundária Cacilhas-Tejo “Esta Madrugada que Eu esperava” É num contexto utópico que vários temas se irão relacionar com um ideal, muito desejado por um povo cansado de viver bloqueado pela politica fascista. Num sentido simbólico os jovens de hoje darão o seu ponto de vista sintético, de um movimento que gere imagens em movimento.

Esta é a madrugada que eu esperava

As turmas do secundário trabalharão cartas de presos políticos ou de militares na guerra colonial, em painéis a 0.

Professores: Ana Santana, Ana Casimiro, Isabel Rosendo, Paula Pinho, Isabel Nunes, Carla Craveiro, Nelson Coruche, António Sales, Amélia Pires, Álvaro Gradíssimo, Ana Marques, Dora Ponte, Américo Jones, Margarida Fonseca, António Moreira, Tânia Matos e Conceição Maria Alves Marques.

A sua interpretação transmitirá o sentir de um adolescente afastado de uma época em que os seus avós viveram em “carne e osso” as emoções afloradas pela mudança. Turma: 12º ano Neste projeto os alunos irão executar uma curtíssima de 60 segundos onde explorarão o tema “Esta Madrugada que Eu esperava” no 25 de abril. Cada aluno ficará responsável em fazer uma ligação no início e no fim de cada filme, delineando um único filme que transmitirá vários pontos de vista e de exploração da expressão multimédia.

Jornal Digital | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | 5


“É imprescindível saber usar a liberdade” Entrevista com Rute Ferreira

Autora do cartaz escolhido por unanimidade para imagem gráfica da edição de 2021 da Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 Quem é Rute Ferreira? Sou aluna do Curso Profissional de Design Gráfico na Escola Secundária de Cacilhas-Tejo, tenho 18 anos e vivo no Monte da Caparica. Considero-me uma pessoa muito persistente, gosto de me dedicar àquilo que aprecio verdadeiramente, mas também sou uma pessoa que complica muito o que é simples. Interesso-me muito por moda, não por um estilo único, e gosto sempre de fazer algo diferente para me sentir bem comigo mesma.

O cartaz escolhido para imagem gráfica da exposição denota uma diversidade compósita, nomeadamente a sobriedade dada pelos documentos originais, o que também remete para a memoria, assim como a presença do Salgueiro Maia em primeiro plano face ao carro de combate, privilegiando a inteligência face à força. Como surgir a inspiração para este trabalho? As minhas principais inspirações para este trabalho foi o estilo vintage, bem como as fotografias reais capturadas por Alfredo Cunha durante a revolução e os jornais do dia. Optei por fazer um tratamento de imagem para tornar algo único e apelativo a partir dos meus conhecimentos históricos. Para mim Salgueiro Maia foi o ícone da Revolução do 25 de Abril, pois, desde então nunca me esqueço desse nome que se tornou tão popular como uma personagem principal de um filme, daí não poder deixar de o destacar. O carro de combate, colocado em segundo plano, lança formas geométricas, uma maneira de aligeirar e não ilustrar algo violento e para incluir o belo poema “25 de Abril” de Sophia de Mello Breyner Andresen, para dar o toque final.

A Rute nasceu no início do século XXI. Qual o significado da Revolução do 25 de Abril de 1974? Talvez por ter nascido no século XXI, não saiba completamente o que foi o 25 de Abril de 1974, pois tal como eu, os jovens da minha faixa etária sempre vivemos em liberdade, e é sempre mais fácil achar que essa data é só mais um feriado, mais um dia de descanso, por não valorizarmos aquilo que não passou por nós.

6 | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | Jornal Digital

Mesmo com tantas informações dadas pelos meus avós, pela escola e por outras pessoas que tenham vivido em ditadura, tal dia nunca irá ter o mesmo significado para mim como tem para eles, no entanto respeitá-lo-ei sempre.

O que pensa a Rute da realização anual desta exposição comemorativa, organizada há mais de duas décadas e meia pela CMA e que desde 2014 é fruto de uma profícua parceria com a comunidade educativa do concelho, onde os alunos têm um papel de relevo? Nesse contexto como vê o tema deste ano “Esta é a madrugada que eu espera…o que se fez, o que se faz e o que falta fazer”? Qual a opinião da Rute sobre o que é necessário fazer? Considero que o facto de comemorarem anualmente o 25 de Abril é muito significativo, para que possa ser valorizado e relembrado por todos, sendo importante incluir os jovens para que eles também o possam sempre reviver. Para mim, é imprescindível saber usar a liberdade, conhecer os nossos direitos e deveres como cidadãos e respeitá-los. É preciso haver bom senso entre todos nós, ainda mais nesta altura de pandemia que tem sido difícil para todos, durante a qual perdemos um pouco da liberdade que tínhamos e que com o esforço de todos vamos voltar a recuperar.


Coronel João Andrade da Silva, “Militar de Abril”:

“O 25 de Abril foi a festa da Liberdade” No passado dia 17 de março, os alunos da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, da turma 12.º AV, da Escola Secundária Emídio Navarro estiveram à conversa o Coronel João Andrade da Silva, um “Capitão de Abril”, que no dia 25 de Abril de 1974, então jovem tenente, foi um dos protagonistas da revolução que, em Almada, no Cristo-Rei , levou ao nascimento do atual regime democrático. Realizada em videoconferência, esta entrevista com Andrade da Silva surge no âmbito da edição deste ano da Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 com a realização de “Revistar o 25 de Abril no Cristo-Rei”, com registo multimédia. O convite que deixamos é uma viagem pela nossa História recente, em que João Andrade da Silva, questionado por alunos e docentes, leva-nos a percorrer os tempos da ditadura salazarista - guerra colonial, subdesenvolvimento, falta de liberdade - mas também os sonhos dos jovens de então que desinteressadamente conquistaram a liberdade para todos os portugueses, por vezes com o risco da própria vida, caso do Salgueiro Maia na Praça do Comércio, seguido a par e passo pelas tropas acantonadas no Cristo-Rei, que tinham como missão afundar uma fragata, se esta abrir-se fogo contra o Capitão Salgueiro Maia. Nesta conversa com um dos homens que sonhou e continua a sonhar com os valores 25 de abril, os alunos e docentes da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento tiveram o gosto de ver debatido estes e outros temas, valores universais e espirituais preconizados pelo Padre António Vieira, assim os temas de cidadania que nos preocupam atualmente. Devido à sua extensão sai em três dias diferentes: 21, 24 de abril e 8 de maio.

Jornal Digital | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | 7


Coronel João Andrade da Silva - Um bom dia de liberdade! É um grande prazer estar a falar convosco. Nós, quando fizemos o 25 de abril, éramos jovens, a maior parte de nós éramos rapazitos com 25 anos. Naquela altura, os jovens com 25 anos sabiam muito pouco. Hoje, com 25 anos, já sabem muitas coisas, porque têm acesso ao mundo através da internet. Nós vivíamos em casa de uma maneira muito restrita, tudo isto era muito pequeno. Segundo o que está dito e estudado, os jovens de hoje têm quase mais conhecimento e mais capacidade que um imperador romano. Nós, naquela altura, não éramos bem assim e, por isso, o 25 de abril representa uma grande vitória para a juventude. Naquela altura, chegar à quarta classe já era um grande feito e daí para a frente… My God! Daí para a frente… Por acaso, no ano passado, estive numa escola onde me perguntaram quantos alunos havia do 12º ano quando era novo, eu disse que éramos muito poucos. Eu sou madeirense, a população da Madeira, nessa altura, seria cerca de cento e tal mil pessoa, mas no 12º ano éramos duas turmas. Nessa escola onde estive, na zona de Braga, tinha como símbolo o super-homem e, no meio da conversa com aqueles jovens, há um daqueles rapazes mais espertalhotes, diz-me: “você é um super-homem”. Bem, nunca tinha pensado nisso. Na realidade, não há super-homens, mas o 25 de abril foi uma revolução de super-jovens. Hoje, vivemos num confinamento, porque há um vírus aí que nos obriga a estar confinados, porque se não o fizermos podemos morrer. Naquela altura, antes do 25 de Abril, também havia um certo confinamento obrigatório imposto pelo regime: as pessoas não se podiam reunir à vontade, havia limitações das reuniões porque o regime Salazarista e de Marcelo Caetano entendiam que, se as pessoas se reunissem para discutir determinados temas, eram subversivas. Portanto, aquilo estava tudo condicionado. Uma das coisas era o confinamento obrigatório, por lei, não havia liberdade, não podíamos... bem, não podíamos estar a discutir este tema, se estivéssemos a discutir este tema havia uma polícia secreta que já estava a ouvir o que estávamos a dizer e, se falássemos contra o Salazar ou contra alguma daquelas pessoas, íamos presos. Uma das coisas muito complicadas era que estas apreensões, muitas vezes, faziam-se aos pais à vista das crianças, entravam pelas casas dentro e arrastavam as crianças da frente. Uma outra coisa é que havia uma guerra desde 1961 até 1974 e também os jovens iam para essa guerra.

8 | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | Jornal Digital

“Cidadania é tomarmos conhecimento da realidade, é melhorarmos o mundo” Eu também fui para essa guerra, ainda era jovem, tinha 23 anos, com a responsabilidade de comandar 150 homens e os outros também tinham a minha idade…. Éramos rapazes… E também estávamos confinados, não podíamos sair dos quartéis e tínhamos uma coisa, que hoje estamos a viver e custa muito, que era a separação das famílias. Nós íamos para África (Angola, Moçambique, Guiné) Timor e ficávamos dois anos sem contactar com as nossas famílias (é preciso dizer que continuei a ser militar e depois estive nas missões de paz na Bósnia e noutros sítios) não havia o telemóvel, não havia o Zoom, só víamos os nossos pais pelas fotografias e pelas cartas que nos escreviam. Portanto, no 25 de abril, éramos jovens com ideais – e é preciso referir isto – eu, hoje, já passados estes anos todos, continuo a confiar na juventude. Quando a juventude diz que é preciso mudar para melhor, também é preciso ter conhecimento. Cidadania é isto, é tomarmos conhecimento da realidade onde estamos, é melhorarmos o mundo para nós e para os outros. Sem nos esquecermos que o 25 de abril tem uma dimensão universal, pois julgávamos e queríamos a independência dos povos africanos, a transformação daqueles países em países prósperos e ricos. Estes países africanos têm uma grande riqueza, Angola e Moçambique, principalmente, a Guiné já não tanto. Por exemplo, Angola possui mais riqueza do que os Estados Unidos, simplesmente tem tido más governações. Mas isso a responsabilidade também já não é do 25 de abril, porque senão também começávamos a culpar o D. Afonso Henriques por algumas coisas que não correm tão bem em Portugal.

“Uma das coisas muito importantes que representa o 25 de abril é a juventude” Alguns dizem que se nós fossemos espanhóis éramos capazes de estar melhor. D. Afonso Henriques, ao fazer a independência de Portugal, tramou aqueles que queriam ser espanhóis. Nós adoramos muito ser portugueses, não somos tão ricos como os outros, mas o povo português tem características importantes. Há outra coisa que também é importante referir, no que toca ao pensamento, à cultura e à imaginação, estamos ao lado e, por vezes à frente, dos melhores pensadores do mundo, temos tido, no entanto, algumas dificuldades na execução. Portanto, o 25 de abril foi, de facto, um abrir das fronteiras, as pessoas ganharam liberdade, nomeadamente a juventude. Uma das coisas muito importantes que representa o 25 de abril é a juventude.


Jornal Digital | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | 9


Nós estivemos no Cristo Rei, vindos de Vendas Novas, com umas armas, chamadas na linguagem popular de canhões, mas que nós chamamos peças. Fomos para o Cristo Rei com a missão de afundar algum navio de guerra que tentasse uma investida contra o Capitão Salgueiro Maia que se encontrava na Praça do Comércio Há uma fotografia de um jovem a colocar um cravo numa espingarda, foi uma das pessoas que materializou o 25 de abril. A Celeste, que era uma florista da zona do Carmo, uma vendedora de cravos, colocou também um cravo numa espingarda de um soldado e, por isso, o cravo passou a ser um símbolo. Foi o povo (que materializou a revolução), as pessoas simples e humildes, foi uma florista que se lembra de pôr o cravo na espingarda daquele soldado. Mudou-se um regime, de uma ditadura para uma democracia, sem se disparar um tiro, através da persuasão e dos cravos.

10 | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | Jornal Digital

“Um momento crucial na resolução do 25 de Abril foi ultrapassado com a coragem do Salgueiro Maia” Eu estive em Almada. Nós estivemos no Cristo Rei, vindos de Vendas Novas, com umas armas, chamadas na linguagem popular de canhões, mas que nós chamamos peças. Fomos para o Cristo Rei com a missão de afundar algum navio de guerra que tentasse uma investida contra o Capitão Salgueiro Maia que se encontrava na Praça do Comércio. E tal aconteceu. A determinado momento, uma fragata, que estava no cais das colunas, recebeu ordens para abrir fogo contra o Capitão Salgueiro Maia, que estava na Praça do Comércio. Nós tínhamos a missão de fazermos fogo contra esses navios de guerra para não o matarem. Uma coisa muito importante e extraordinária é quando o Salgueiro Maia se aproxima dos carros de combate: Isto foi muito difícil! Há quem diga que isto foi fácil porque não esteve lá, mas, para quem lá esteve, isto foi muito difícil visto que os homens do regime anterior não que-


riam perder o poder: O Salgueiro Maia a fazer frente a esses carros de combate, comandado por um brigadeiro que ainda deu ordens para fazer fogo, só que não foi obedecido. Em termos de escala, um carro de combate é uma arma monstruosa e um soldado muito pequeno, uma pessoa contra um carro de combate é insignificante, esta foi a desproporção da coisa. Foi este confronto desproporcional que decidiu o desfecho do 25 de Abril, porque ou eram eles ou éramos nós e o Salgueiro Maia tinha essa perceção. Este é um momento crucial na resolução do 25 de Abril, com a coragem do Salgueiro Maia, mas também com a coragem de muitos e de um jovem, em especial – o Cabo Costa- um rapaz como nós, que também enfrentou os carros de combate. Esse ato foi extraordinário, pois um general, naquela altura, tinha muito poder. O regime permitia que o general matasse quem desobedecesse à sua ordem a tiro de pistola e foi a coragem do Cabo Costa que levou a que se decidisse a vitória do 25 de Abril. O Salgueiro Maia, quando enfrenta o carro de combate, tem um diálogo com outro camarada nosso, o Alberto Maia Loureiro, dizendo-lhe: “Bem, ou eles ou nós”. O Salgueiro Maia levava uma coisa que vocês não conhecem, porque interessa conhecer mais a paz, mas levava uma arma que se chama uma granada que se rebentasse morria ele e morria o tal Brigadeiro que queria disparar. O Salgueiro Maia tinha consciência deste sacrifício, ia expor-se para que todos nós, hoje, pudéssemos ter a liberdade.

Nunca me vou esquecer da grande gratidão que tenho pelo povo de Almada. Nós chegámos às sete horas ao Cristo Rei e, depois, quando o povo do Pragal compreendeu que nós estávamos ali para acabar com aquele regime, alimentaram-nos. Éramos cinquenta homens e fomos alimentados pelo povo do Pragal. Havia lá uma cozinha, um restaurante, onde a Luísa Bastos cantava e aquela gente toda levou-nos comida e nós não comemos ração de combate. Muitos dos jovens de hoje são filhos daquele pai porque, entretanto, acabou a guerra. Se não tivesse acabado a guerra, não teriam nascido. Milhares de jovens não nasceram porque aqueles que seriam os pais deles... ficaram lá. E nós tínhamos consciência disto.

e em todas as circunstâncias como eu que também sou madeirense. Embora, ser madeirense, até naquele regime, era ser considerado adjacente porque estávamos longe.

“O 25 de Abril foi a festa da Liberdade, que temos que manter e passar o testemunho” Nunca me vou esquecer da grande gratidão que tenho pelo povo de Almada. Nós chegámos às sete horas ao Cristo Rei e, depois, quando o povo do Pragal compreendeu que nós estávamos ali para acabar com aquele regime, alimentaram-nos. Éramos cinquenta homens e fomos alimentados pelo povo do Pragal. Havia lá uma cozinha, um restaurante, onde a Luísa Bastos cantava e aquela gente toda levou-nos comida e nós não comemos ração de combate. O povo de Almada abraçou-nos e nós, quando nos fomos embora, como não tínhamos nada para dar, como uma certa homenagem, um símbolo de gratidão, demos uma munição a cada um. O 25 de abril também foi uma festa. Festa que temos de manter, liberdade que temos de manter e é importante passar este testemunho e, sobretudo, há uma coisa que é muito importante. Eu fiz o 25 de abril quando tinha 25 anos, tenho “pago muitas favas” por isso, mas honra-me ter lá estado e até ao último momento dizer: “Bem haja aquele 25 de abril”, apesar das coisas não estarem tão bem como nós gostaríamos e de sermos muito criticados. Mas tenho um amor muito grande pelo 25 de abril. Não vou dizer que o 25 de abril é o meu primeiro amor, mas é o meu segundo amor. O meu primeiro amor é de facto o meu filho, mas é muito igual. Faço parte, hoje, da Associação Salgueiro Maia para perpetuar a sua memória, o seu exemplo, e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para estar convosco em todos os momentos de festa, mas também em todos os momentos de risco e perigo, como este. Temos a certeza que o 25 de abril há-de continuar convosco e ainda bem que os vossos professores, vossos amigos, se lembraram de vos trazer aqui. Espero que este testemunho se multiplique e chegue a todas as almas e a todos os corações porque é muito importante a espiritualidade!

Às vezes, dizem que nós tínhamos medo da guerra. Eu não tive medo da guerra. Achei que aquela guerra estava errada, achei que aquilo era um grande disparate, achei que não tínhamos condições e que aquilo não fazia sentido nenhum. Devíamos ter negociado a paz e outras formas de viver com os nossos irmãos. Os africanos que se consideram portugueses são portugueses como nós e aqueles que se consideram angolanos são angolanos. Aqueles que se consideram portugueses são tão portugueses como nós em todos os momentos Jornal Digital | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | 11


Oficina de Cultura Av.ª D. Nuno Álvares Pereira, 14 M 2800-174 Almada Oficina Tel.: 21 272 40 50de Cultura

Horário

Av.ª D. Nuno Álvares Pereira, 14 M 2800-174 Almada Tel.: 21 272 40 50

Terça a sexta das 10h30 às 13h e das 14h às 18h Sábados das 10h30 às 13h Dia 25 de abril das 10h30 às 13h Encerra aos domingos e feriados Horário Terça a sexta das 10h30 às 13h e das 14h às 18h

Em conformidade com a legislação e as recomendações da Sábados das 10h30 àsa:13h DGS as visitas ficam condicionadas Limite de 30Dia px em (nos 300 m2) 25simultâneo de abril das 10h30 às 13h Marcação prévia para grupos limitados a 10 pessoas;

Encerra aos domingos e feriados

Em visita livre deve ser mantido o distanciamento social (2m em espaços fechados); Uso obrigatório de máscara no interior do equipamento

Em conformidade com a legislação e as recomendações da DGS as visitas ficam condicionadas a: Limite de 30 px em simultâneo (nos 300 m2) Marcação prévia para grupos limitados a 10 pessoas; Em visita livre deve ser mantido o distanciamento social (2m em espaços fechados); Uso obrigatório de máscara no interior do equipamento

12 | Exposição Comemorativa do 25 de Abril de 1974 | Jornal Digital


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.