P'almada - #20 - 2016

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JUNTA-TE A NÓS! A equipa editorial da P´ALMADA é composta por jovens do Concelho e utentes das Casas Municipais da Juventude que, procurando um enriquecimento extracurricular, têm vindo a prestar um serviço voluntário a toda a população juvenil do Concelho. Envia a tua proposta de colaboração para juventude@cma.m-almada.pt. PARTICIPA! Queres ver algum trabalho teu ser publicado na revista ou no e-zine P´ALMADA? Envia-nos os teus textos literários, artigos de opinião, ilustrações, fotografias, cartoons ou banda desenhada para juventude@cma.m-almada.pt. BIOGRAFIAS Nuno Chanoca é formador do Programa Escolhas no projeto +XL – E6G da Associação de Solidariedade e Desenvolvimento do Laranjeiro, consultor cultural na EPK.pt e orientador do módulo de “Promoção e Marketing” na Restart. Trabalha na indústria discográfica desde 1998, tendo passado pela Polygram, BMG, MVM e Universal Music Portugal, onde executou a função de promotor de televisão, trabalhando com inúmeros artistas nacionais e internacionais. De 2003 a 2009, foi chefe de promoção na Influenza, outsourcing de assessoria de imprensa, onde trabalhou com UHF, Fingertips, Hands on Approach, Sons em Trânsito e em concertos como os de Depeche Mode, Anastacia e Mark Knopfler, entre outros. João Almeida nascido a 4 de maio de 1993, desde cedo se interessou pela vertente desportiva, tendo-se consagrado vice-campeão nacional de judo em 2009, tendo posteriormente representado o seu país pela seleção nacional. Sempre ligado ao mundo musical, presentemente, participa no projeto Sounds of Freedom, banda de reggae portuguesa. Neste momento frequenta o curso de psicologia no ISPA (Instituto Superior de Psicologia Aplicada) e, enquanto jovem escritor da região de Almada, publicou em Julho o seu primeiro livro “Densidade Fracturada - e sobras de escárnio e maldizer”.

ÍNDICE

3  editorial 4

Periscópio (Re)conhecer Talentos em Almada e Orçamento Participativo Jovem

6  na escola com... Escola inundada de atividades 8  perfil os de bala school 10  associativismo projecto + XL 12  debaixo de olho o sol da caparica 16  palavras cruzadas rodrigo francisco 22 workshop de papel tens o que é preciso para ser um rp? 24  perfil nuno trindade 26  epicentro trilhos do graffiti 33  caixa de lápis “Reflexo” por Jaf 34  texto palmadense reflexções do dia-a-dia

FICHA TÉCNICA Direção: António Matos – Vereador da Educação, Cultura, Desporto e Juventude Coordenação Geral: Divisão de Juventude – Departamento de Educação e Juventude da Câmara Municipal de Almada Equipe Editorial: Ana de Freitas, Beatriz Ramos Cardoso, João Almeida, Marta Tavares, Salomé Afonso Design Editorial: Câmara Municipal de Almada Créditos Fotográficos: Ana de Freitas, Marta Tavares, Projeto +XL Colaboradores nesta Edição: Nuno Chanoca (“Workshop no Papel”), JAFA (Caixa de Lápis), João Almeida Revisão de Textos: Divisão de Juventude – Departamento de Educação e Juventude da Câmara Municipal de Almada Tiragem: 10.000 exemplares Distribuição: Câmara Municipal de Almada. Anotado no ICS DEPÓSITO LEGAL: 204684/03; ISSN: 1645-8966. Julho de 2016 Contactos das Casas Municipais da Juventude: Centro Cultural Juvenil de Sto. Amaro, Av. Prof. Ruy Luís Gomes, 2 2800-274 Laranjeiro – Almada, Tel.: 21 254 82 20 Ponto de Encontro, Rua Trindade Coelho, 3 2800-297 Cacilhas – Almada, Tel.: 21 274 82 10 juventude@cma.m-almada.pt | www.m-almada.pt/juventude


O SOL DA CAPARICA. BOAS ONDAS P´ALMADA é a publicação da Câmara Municipal de Almada que, feita por jovens é, sobretudo, para jovens. A equipa talentosa e motivada que concebeu os conteúdos desta edição, deu particular atenção ao percurso ou à ação dos jovens, grupos e associações que contribuem para edificar e diversificar as culturas juvenis em Almada. Queremos contribuir para o debate de questões de cidadania, das quais a igualdade de direitos e oportunidades tem especial relevância. Por isso fica atento porque iremos proximamente dar-te a conhecer o Plano Municipal para a Igualdade de Género em Almada.

Nesta edição impressa vais poder conhecer alguns dos muitos projetos artísticos e solidários que se desenvolvem no nosso concelho, mas também quem foram os Talentos premiados este ano e ainda o que é o futuro Orçamento Participativo Jovem de Almada (OPJ Almada). Neste número damos especial destaque ao graffiti enquanto forma de arte urbana e também ao festival “O Sol da Caparica”, uma referência para quem gosta do convívio e da boa música portuguesa. Esta é a tua P’Almada. Em breve vais poder acompanhar estes e outros temas na edição online da revista. E vais querer estar connosco nesta aventura redatorial. A P’Almada conta contigo. Vem ter connosco!

António Matos

Vereador da Educação, Cultura, Desporto e Juventude

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editorial

Mas também estamos a mudar a dinâmica das nossas e tuas Casas Municipais da Juventude, o Ponto de Encontro em Cacilhas e o Centro Cultural Juvenil de Santo Amaro – Casa Amarela, no Laranjeiro, porque é nelas que muitos jovens e associações trabalham, criam e passam os tempos livres. É nelas que, contigo, uma equipa alargada e motivada vai desenhar e dar atenção renovada aos projetos juvenis do concelho.


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(Re)conhecer Talentos em Almada

Concurso Jovens Talentos Almada tem talentos. O Concurso Jovens Talentos de 2016 contou com 54 candidaturas para as 6 categorias em competição. Novidade foi a categoria Jovem Promessa que distingue um jovem que evidencie um talento promissor. Este ano o embaixador do Concurso foi Miguel Oliveira, vice-campeão mundial de Moto 3. A todos os candidatos foi oferecido um “Cartão Vive Almada”, que dá acesso gratuito a diversos serviços e equipamentos municipais, de que se destaca a entrada para o Festival O Sol da Caparica.

Os prémios do CJT deste ano foram atribuídos ao Projeto + XL na categoria Almada Cidade Educadora, Ana Catarina Olaio para Almada Terra do Conhecimento, na categoria Almada Terra das Artes e da Criatividade o vencedor foi João Pedro Marques, Almada Terra do Empreendedorismo Rafaela Gomes, Almada Terra do Bem-Estar e Desporto Rafaela Coimbra Valente e na categoria Almada Terra Solidária e das Oportunidades o vencedor foi Nuno Trindade. O prémio Jovem Promessa foi entregue a Raquel Antunes pelo seu projeto Muchi. A Gala de entrega dos prémios, na qual assistimos às atuações de vencedores de edições anteriores; a ginasta Maria Canilhas, o guitarrista André Santos, Associação ANDA e a Companhia de Dança de Almada, contou com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Almada, Joaquim Judas e do vereador António Matos, entre demais personalidades. Prepara-te para veres o teu talento reconhecido no CJT 2017.


Orçamento Participativo Jovem

Jovens almadenses discutem modelos de participação A Câmara Municipal de Almada vai criar a primeira edição do Orçamento Participativo Jovem de Almada (OPJ Almada) através do qual os/as jovens poderão conceber e desenvolver projetos dirigidos à população juvenil do concelho. Foram várias as sessões de esclarecimento sobre o OPJ, que já tem grupo de trabalho definido em Fórum Municipal da Juventude (FMJ), realizadas em vários espaços do concelho, nomeadamente sedes de associações e escolas.

Está prevista a abertura de candidaturas, em 2016, para apresentação de projetos estando previstas novas sessões de esclarecimento, que serão anunciadas nos vários canais de comunicação municipais. Mantém-te atento e participa na vida do concelho. Se tens um projeto não deixes de o apresentar. O OPJ é para ti.

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periscópio

O objetivo foi elucidar e recolher contributos dos/das jovens sobre a importância do OPJ enquanto instrumento da sua participação na gestão pública local, bem como as várias fases que irão permitir a sua implementação.

O próximo passo é a criação do Regulamento que será objeto de consulta pública, o qual será validado em FMJ e aprovado em reunião de Câmara e Assembleia Municipais.


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Gostas da escola? “Mais ou menos, porque é bom estar com os amigos no intervalo mas às vezes a pressão posta pelos professores é desgastante.” Iara Santos 9º3 “Sim, porque por um lado estamos com os amigos e temos as disciplinas que gostamos mas por outro lado acho que são muitos anos a ter escola” José Martins 9º5 “Não, porque podia estar na cama a dormir e estou aqui a perder o meu tempo”. Inês Direitinho 9º5 “Sim, porque gosto do ambiente escolar” Janainy Galvão 9º5 “Não, porque é muito difícil. É preciso estudar muito.” João Rebelo 9º5 “Sim, por causa dos intervalos”. Ivan Pereira 9º4 “Mais ou menos. Só gosto dos intervalos” Ana Paula Nogueira 9º5 “Sim, porque fazemos novas amizades e aprendemos muita coisa” Eva Dias 9º5


A Escola Secundária Fernão Mendes Pinto é uma das mais antigas da cidade de Almada mas também uma das mais prestigiadas. Possui o mais variado leque de atividades, desde clubes de ginástica a teatro em alemão. “ O Gimnofernão é um clube escolar integrado no desporto escolar e com vertente federada. Tem como objetivo o desenvolvimento da prática desportiva na modalidade de ginástica e trampolins, assim como contribuir para criar hábitos de prática desportiva à população que nos procura. Os aparelhos que utilizamos são o duplo minitrampolim e o trampolim”, explicou o professor António Andrade, numa entrevista virtual. Também o “Alemão em Cena” é um sucesso nesta escola. Conta com a participação dos alunos inscritos nesta língua, que escrevem e representam os seus próprios guiões e que, alguns e de outras escolas, já atuaram em diversos palcos, como Turim, Paris e Madrid.

O tema principal é o abandono escolar precoce. As escolas dos cinco países vão analisar esta situação em conjunto, identificar razões que justificam o abandono escolar e estudar estratégias que o possam contrariar. Ao longo da implementação do projeto os alunos e professores desenvolverão contactos e partilharão as suas experiencias, enriquecendo-se reciprocamente em termos pessoais, culturais, socias e linguísticos. O uso das novas tecnologias possibilita a comunicação entre parceiros bem como a circulação e disseminação dos trabalhos realizados e produtos finais”. Segundo a professora, este projeto envolve, para além de Portugal, países como a Grécia, Turquia, Polónia e Itália e durará aproximadamente dois anos. Por ser uma escola inundada de atividades e projetos promovedoras à boa integração dos alunos na comunidade escolar e ao mundo que os rodeia, a Escola Secundária Fernão Mendes Pinto educa hoje mais de mil alunos, sedentos por atividades como estas.

na escola com ...

“Os alunos envolvidos atuam sob a direção pedagógica e linguística do professor de alemão que os orienta e a direção artística do dramaturgo-encenador com quem trabalha em equipa”, esclareceu a professora Lurdes Cruz, coordenadora do novo projeto ERASMUS em que a escola está envolvida.

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Bala e D os l o o Sch Almada Duo de itas

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P´ALMADA O que é mudou desde que criaram o grupo em 2008? os De Bala School Na altura havia muitos grupos na zona e queríamos ser mais um. Entretanto amadurecemos e tornámo-nos mais profissionais. Fazemos isto por amor à dança. P´ALMADA Que movimentos caracterizam os estilos afrohouse e kuduro? os De Bala School O kuduro é mais agressivo, batida mais acelerada, movimentos mais rápidos. O afrohouse é mais lento. Em ambos é a cordenação que dá beleza às coreografias.

P´ALMADA Recentemente criaram o “Projeto bwe de toques” para divulgar vídeos… os De Bala School O objetivo era lançar um videoclip oficial mas como queríamos fazer algo diferente lançámos três vídeos, disponíveis no youtube, nos quais misturámos dança e comédia. P´ALMADA Queres fazer disto a tua vida? os De Bala School Pretendo seguir comunicação social porque convém continuar com os estudos. Mas não quero mesmo deixar de dançar. P´ALMADA Que conselho dás aos jovens almadenses que têm um sonho e que não tiveram coragem de avançar? os De Bala School Não desistam. Os obstáculos que apareçam no nosso caminho não são verdadeiramente obstáculos mas desafios que temos de superar. E também humildade, honestidade e respeito… Temos de respeitar os trabalhos de outros grupos que têm a mesma ambição que nós.

perfil

A P’Almada foi conhecer “Os De Bala School”. Miguel Graça e Pedro Nuno dançam juntos afrohouse e kuduro desde 2008 e são imbatíveis em palco. Já atuaram na Casa Amarela, Museu do Oriente e no “Benvindos” da RTP África.


associativismo

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L X + o t jec o r P ida

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O projeto +XL E6G cofinanciado pelo programa escolhas e promovido pela ASDL (Associação de Solidariedade e Desenvolvimento do Laranjeiro), direciona jovens de diversas etnias, desde cigana a jovens com afro descendência, ajustando desde muito cedo o seu percurso. Traquinas, sem medos ou rodeios, o Rui, de 11 anos, fez questão de se apresentar à equipa da P´Almada e, por de entre sorrisos e olhares vagarosos, lá nos apertou a mão, formalizando assim a sua breve apresentação.


Ali, o +XL dinamiza competências e valores, onde o Gonçalo, o Nuno e a Sara, os técnicos responsáveis pelas atividades do Projeto, nos levaram. O Rui é apenas um, no grupo de miúdos que usufrui de um espaço que se distribui por salas de estudo e de formação, tanto para os jovens como para os encarregados de educação. E também a sala de jogos, onde o tempo é ocupado com brincadeiras que vão desde a mesa de matraquilhos a jogos de tabuleiro, o que, porventura, impulsiona o espirito de cooperativismo e harmonia entre os jovens. Depois fomos ao estúdio, local onde o +XL organiza as diversas atividades que visam aprofundar competências artísticas, com especial enfoque na música, o teatro, a dança e o desporto. Ali existe um estúdio de gravação, onde, diz-nos o Gonçalo, “Os De Bala School se lançaram…”, tentando a sua sorte dentro do estilo afrohouse. Novos talentos também começam a despoletar, com mensagens que passam pelo amor pelo outro, relações, a vida do bairro e as frustrações típicas da idade. E ainda há espaço para a rádio +XL através da qual os jovens divulgam as suas playlists.

Um dos exemplos deste trabalho é o Tiago. Com 21 anos ele vai fazendo formações e workshops, a última das quais sobre o Dia da Internet mais Segura. O sítio está equipado com sala de computadores com acesso à Internet, onde é promovida a aprendizagem via e-learning e uma sala de convívio. O + XL já vai na 6ª geração. Abrange a população do Laranjeiro e do Feijó e naturalmente que articula as suas atividades com a Câmara Municipal de Almada. O projeto também é conhecido por ter recebido o prémio da Câmara Municipal de Almada na categoria “Cidade Educadora de Almada 2016”, pela participação ativa em iniciativas jovens do concelho de Almada, como a FAJA, QJ, entre outras, pelo seu envolvimento nos campos de trabalho da Amnistia Internacional e também, já agora, por ter uma vitrina cheia de taças …. de fairplay em modalidades desportivas. Terminamos a nossa visita deixando o Rui com os seus amigos. Eles são o reflexo de uma sociedade meio desgastada. Mas com o +XL os jovens provenientes dos bairros ganham força têm a oportunidade de querer ser alguém. Acima de tudo, podem sonhar; sonhar alto, sonhar por um mundo melhor, onde a inclusão tenha lugar e acreditar que quando a confiança é ameaçada, uma mão se estende para assim ser possível continuar a acreditar.

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De volta às instalações do +XL onde são acolhidos os jovens participantes, desde a mais tenra idade, até serem adultos. “De cariz educativo, ao longo de um complexo processo de reinserção, aqui os jovens de várias idades têm acesso a ferramentas que lhes estimulam a aprendizagem” refere o Gonçalo.


E debaixo de olho

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a Caparica O Sol d l a t iv


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O Sol da Caparica continua a brilhar e a mostrar que a música portuguesa é um caso sério de sucesso. Senão vejamos: 140 mil pessoas passaram já pelo Jardim Urbano da Costa, para aplaudir mais de 60 artistas que ao longo das duas primeiras edições passaram pelo Festival. As imagens mostram as enchentes de festivaleiros que ano após ano vem confirmar que esta é a sua praia.

Para além das 11 horas de música diária O Sol traz também na crista da onda os desportos de onda, o cinema de animação, o skate e muitas outras propostas. A juventude está em força nos espaços da Câmara Municipal. Quase 5 mil jovens responderam aos quiz lançados pela autarquia no festival e que revelaram que os bares, discotecas, cinema, concertos, dança e desporto são o que mais os mobiliza. A média de idades rondou os 26 anos e Almada é o concelho de residência da maioria dos inquiridos. Depois de duas edições, a verdade já se torna tão transparente quanto as águas da Caparica: é bom voltar a fazer parte desta maré cheia. E já vão três as edições d’ O Sol da Caparica.

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Nos palcos também os artistas de expressão portuguesa, oriundos de Portugal, de África e do Brasil, honram o convite, entregando-se de corpo e alma ao mar de gente que canta de cor as suas canções, em espetáculos únicos e irrepetíveis.


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Hoje um apaixonado pelo teatro, Rodrigo Francisco contou à P’ALMADA como fez crescer essa paixão. De um miúdo com vontade de curtir as férias, a Diretor Artístico do Teatro Municipal Joaquim Benite. Herdeiro de um projeto conjunto e durador, encabeçado por Joaquim Benite, Rodrigo continua a lutar por um teatro para todos, na cidade do teatro. NO COMEÇO P´ALMADA Qual foi o teu primeiro emprego?

A PAIXÃO PELA LITERATURA P´ALMADA Como ligaste a tua paixão pela escrita e leitura ao teatro? Rodrigo Aos 18 anos eu tinha essa pulsão para a literatura e pela escrita. Nessa altura colaborei com algumas publicações como a P’ ALMADA, um blog literário e com o suplemento DN jovem. No teatro, o Joaquim Benite reparou que andava por ali um técnico de montagens, que nos intervalos costumava ler. Então convidou-me para realizar tarefas que tivessem a ver com a área literária, nomeadamente a assessoria de imprensa e a escrita em publicações da companhia. Depois entrei na faculdade, em Línguas e Literaturas Modernas e fui adaptando o meu percurso literário à minha vida no

P´ALMADA Tens o desejo de escrever mais, e não apenas para teatro? Rodrigo É uma escolha que se faz a dada altura das nossas vidas. Se queremos fazer um coisa de uma forma profissional temos que optar apenas por uma. Ser escritor é uma atividade que implica tempo e portanto, se temos esta atividade no teatro, não podemos ser escritores. Podemos é escrever de outra maneira: fazendo adaptações ou indo buscar material a alguns autores para compor uma peça de teatro. O Joaquim falava-me muito nisso: “nós não podemos escrever porque somos homens de teatro e fazemos é teatro, mas podemos escrever com os atores”. Na encenação temos um texto e escrevemo-lo na cena com matéria viva, com atores, com cenários. P´ALMADA O que te motivou, na altura, a fazeres parte da equipa editorial da P’ALMADA? Rodrigo A minha motivação era publicar porque quem escreve quer ser lido. Quando criamos um objeto artístico – um texto, uma peça de teatro - se ele não for confrontado com um recetor, ele não existe enquanto objeto artístico. Esse exercício de confronto com o público é fundamental a qualquer atividade artística. JOAQUIM BENITE, UM EXEMPLO NO TEATRO DA VIDA P´ALMADA Como descreverias, em breves palavras, o homem de teatro que foi o Joaquim? Rodrigo Ele foi um optimista céptico. Um homem com uma ideologia bastante coerente, que aplicou ao seu percurso de vida.

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Rodrigo O meu primeiro emprego foi no festival de Almada, aos 15 anos. Na altura, eu queria ir passar férias com um amigo. Resolvi ir ao antigo teatro municipal, onde me disseram que precisavam de ajuda na montagem do espetáculo “O carteiro de Neruda”. Trabalhei então como um servente de pedreiro, a carregar a areia e a montar as paredes e, nessa altura, nem refleti sobre o facto de aquilo poder vir a ser um espetáculo de teatro. Quando fui ver a peça senti um grande choque: tinha-me dado conta da beleza que se conseguia criar com aquele monte de tábuas e areia, juntamente com o trabalho dos atores. A minha primeira entrada no teatro foi assim: pelas traseiras.

teatro. Desde essa altura fui trabalhando intermitentemente com a companhia, em regime de part-time. Isto tudo culminou com a imprudência de escrever um texto para teatro.


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O Joaquim sempre teve a preocupação de fazer sobreviver o projeto da companhia – um projeto coletivo, ao qual se punha ao serviço. Nós somos fruto dessa ideologia e dessa capacidade e generosidade que teve ao dedicar uma vida a um projeto, um sonho.

Rodrigo Ele era um mestre de ensinar a viver. Para além de me ter passado o legado de uma profissão, e de me ter formado durante 6 anos, passou-me também ensinamentos para a vida.

P´ALMADA O Joaquim trilhou um caminho firme para a produção de mais e melhor teatro em Almada. Foi difícil pegar no seu testemunho?

P´ALMADA Enquanto diretor artístico, qual a tarefa mais difícil que tens em mãos?

Rodrigo “Não se pode substituir o insubstituível”, mas pode prolongar-se o seu trabalho e exemplo. Por um lado, não penso muito se foi ou é difícil, tento fazer o melhor que posso. Ele dizia-me sempre que nestas atividades temos que sentir um grande peso de responsabilidade e alguma irresponsabilidade. Isto porque trabalhamos em condições tão difíceis que se pensarmos apenas nos problemas corremos o risco de ser engolidos pela inação. E os homens de teatro têm que ser pessoas ativas, não podem apenas refletir os espetáculos fazem-se! P´ALMADA Qual foi a coisa mais importante que aprendeste com o Joaquim?

AO LEME DE UM TEATRO

Rodrigo Gerir o subfinanciamento de que somos vítimas. O financiamento do Estado à companhia de Almada recuou para os mesmos valores de 1997 – houve um retrocesso de 17 anos. Essa é a maior dificuldade que temos neste momento. P´ALMADA Que critérios são utilizados para a escolha das peças? Rodrigo Escolhemos espetáculos que sejam, de alguma forma representativos daquilo que se faz em cada país. Há espetáculos de que eu não gosto, enquanto espectador, o que não impede que sejam programados. Despersonalizar as nossas escolhas é muito interessante, porque o que está em causa num trabalho de programação é o diálogo com o público.


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A ENCENAÇÃO

Rodrigo A coletividade. É uma arte em que todos estamos dependentes uns dos outros. Para a conceção e execução de um espetáculo são necessárias muitas pessoas: atores, figurinistas, cenógrafos, iluminadores, sonoplastas, público. Há, no teatro, um necessidade absoluta de se estar junto. P´ALMADA Que critérios são utilizados na encenação? Rodrigo Não há regras. Quando se fazem cursos para ensinar as pessoas a escrever, ou encenar não se está a formar um criador, mas sim a aperfeiçoar técnicas. Há, sim, várias formas de encenar. Há pessoas para quem o que mais importa no espetáculo é o texto, outras o cenário, os atores. Para mim, quando faço um espetáculo, o mais importante é o texto, do qual parto sempre para construir a peça. O que tento fazer é adequar a encenação – o modo de abordar esse texto – ao texto em si.

P´ALMADA Pensas muito na forma como o público recebe a peça? É importante agradar ao público? Rodrigo Importa-me muito a forma como o público recebe a peça. Não me importa agradar ou piscar o olho ao público. Eu gosto que o público leia o texto que está em cena e, nesse sentido, eu vejo-me como veiculador de um texto. O que chega ao público é sempre a minha interpretação desse texto, mas procuro que essa interpretação seja muito clara. P´ALMADA Quais são as fases do processo de construção de uma peça? Rodrigo Nós estamos cerca de duas semanas sentados à mesa, a ler o texto com os atores. Depois passamos para a sala de ensaios mais quinze dias para “marcar o texto” – as movimentações no espaço. E depois segue-se a fase final da montagem em que entram os cenários, figurinos, luz, som. À medida que a estreia se aproxima, eu vou intervindo cada vez menos, e, na estreia, o espetáculo já não é meu.

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P´ALMADA O que viste no teatro que não viste noutras formas de arte?


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20 P´ALMADA Qual foi a peça que te deu mais gozo encenar, até agora? Rodrigo Esta. É sempre esta. Nós não olhamos muito para trás, estamos sempre a olhar para a frente. O MUNDO DO TEATRO P´ALMADA Porque é que consideras a cultura do teatro tão necessária para a vida? Rodrigo Hoje, com a quantidade de meios de comunicação que têm à disposição, as pessoas, em vez de se juntarem, estão cada uma no seu canto, a achar que estão a comunicar. Mas eu acho que essa comunicação não é verdadeira. O foyer de um teatro ainda é um local de encontro, um local onde as pessoas estão e se veem. P´ALMADA O que atrai as pessoas ao teatro? Rodrigo A diferença que há de um filme para um espetáculo de teatro é que o último é um espetáculo vivo. Os intérpretes são pessoas que estão ali naquele momento, é uma espécie de ritual, único e irrepetível.

Ir ao teatro é uma experiência bastante sensorial, e, apesar de tudo, ainda somos humanos - o contacto com as pessoas ainda nos toca. P´ALMADA Muitas pessoas ainda acham que ir ao teatro é um luxo caro. Em Almada, ainda sentes esse afastamento por parte deste público? Rodrigo Nós procuramos combater isso ao máximo, com preços bastante reduzidos. Um jovem estudante que venha ver um espetáculo da nossa companhia paga 6 euros – o preço de um vodka num bar. Eu também gostava de vodka quando era jovem, mas sempre achei que uma coisa não substituía a outra. Sempre procurei, por um lado, a vertente lúdica da minha vida, e, por outro, uma vertente de empenho social e de inquietação. P´ALMADA Como é que se cativam os jovens para o teatro? Rodrigo Essa é a pergunta de um milhão de dólares!


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P´ALMADA As pessoas sentem que o teatro faz falta? Rodrigo O célebre abraço ao Teatro Azul, em Dezembro de 2011, demonstrou isso mesmo. Mas as pessoas podem viver sem teatro: existem países onde não existe teatro. A questão é: as pessoas também podem viver sem hospitais, e sem ter que comer, mas continuarão a ser pessoas? FTA - A REPRESENTAR DESTE 1984 P´ALMADA Há intensão de continuar a defender a ideia de cultura para todos? Rodrigo Sim. Um teatro de elite para toda a gente - um teatro de qualidade que não seja elitista e que não coloca ninguém de fora.

P´ALMADA Como convencerias um jovem almadense a vir ao Festival de Almada? Rodrigo Eu convencê-lo-ia a experimentar: vir ver um espetáculo. Partir da possibilidade de que aquilo que nós aqui fazemos tem a ver diretamente com a sua vida. Foi isto que na altura me fascinou: perceber que “O carteiro de Neruda” era um espetáculo sobre a aprendizagem da poesia e sobre a dimensão poética da nossa existência. P´ALMADA Se pudesses dar uma P’ALMADA a alguém, a quem darias? Rodrigo Daria uma P’ALMADA em mim próprio. Às vezes faz falta dar uma P’ALMADA em nós próprios para percebermos que, apesar de todas as dificuldades que atravessamos, ainda somos muito privilegiados em relação a muitas outras pessoas.

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A questão de aproximar os jovens do teatro é indissociável da questão da formação. O que se passa hoje em dia é que o sistema não forma cidadãos, mas sim consumidores. Se não houver a preocupação de incitar a vivência da cidadania, a fruição cultural, e a formação intelectual, e se essa preocupação não provier do Estado, as pessoas não a têm.


Tens o que é preciso para ser um RP? por Nuno Chanoca

workshop de papel

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É verdade que tenho muitos conhecidos, jornalistas, animadores/apresentadores, produtores, técnicos, comerciais, Sras. da limpeza; às vezes até digo, “já vivi duas vidas”! - Não só pela velocidade em que os trabalhos de promoção são executados, como também pela quantidade de coisas a tratar e pessoas com quem falar diariamente.

exposição mediática, na rádio (através de airplay), entrevistas, passatempos (numa revista ou jornal), destaque num site ou blog, num programa de tv (em playback ou ao vivo), até mesmo a musica sincronizada na sonoplastia de um anúncio ou novela… sem esquecer os populares tickers/rodapés dos telejornais.

Errar também faz parte do processo de aprendizagem mas promovi contatos, entendimentos entre partes e representei sempre o melhor que podia, melhorando alguns aspetos, para que a outra parte sentisse o mesmo entusiasmo que eu sentia.

O resultado desse trabalho irá refletir-se, de forma positiva ou negativa, porque poderá haver falta de “ferramentas promocionais”, erros de timing, um “pontapé” do artista, porque o critério é editorial (nada é pago) e até porque o público é quem tem a palavra final.

Sempre me vi como um “relações públicas”. Na indústria discográfica também existem os relações públicas ou o PR (Assessor de Imprensa) é um elemento dentro de uma estrutura (editora, agência) ou out-sourcing, que divulga o artista nos meios de comunicação ou media, quer na rádio, imprensa escrita, net ou tv. Nos dias de hoje existe um novo modelo através da WEB 2.0 - muito usado pela sua eficácia e pela resposta direta e as redes sociais são a prova mais que viva disso mesmo –, onde os promotores têm um novo papel e testam a eficácia dos conteúdos. A promoção de um evento/produto é feita para ganhar “nome” pela divulgação da

Muitas vezes usamos os media, para alcançar as audiências (consoante o target) de forma a conseguir a contratação de espetáculos e venda de discos. A ideia principal é conseguir identificar os artistas com o conteúdo promocional. Através de associação de imagens, cores e música ou “pedaços” dela, tais como o refrão. Em algumas empresas de RP, o assessor tem áreas específicas - uns lidam só com os media, e outros podem também ligar e enviar press releases, notas de imprensa/ comunicados. A maior parte das editoras têm a tempo inteiro “promotores” – pode ser apenas um


Do “promotor”, espera-se que organize um plano de promoção, elabore uma campanha eficaz, que defina metas específicas, o que só será possível com a “ajuda” das ligações/relações com os media. As suas tarefas diárias podem passar por criar novos ângulos e ideias inovadoras, histórias, coordenadas com equipas de A&R (Artistas e Repertório) - no caso de catálogo nacional e com os Labels no caso de “produto” internacional. Todo este processo só pode ser posto em prática com boa organização e uma good vibe. Sim, porque ser sisudo não é sinónimo de bom profissional.

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workshop de papel

ou uma equipa – e que estão, constantemente, a “enviar” novos conteúdos a partir de uma variedade de artistas, a editar novos trabalhos, compilações e informações variadas (ex: tour). Enfim, notícias para o conteúdo dos media generalistas, que enviam através de newsletter ou combinam exclusivos, cumprindo um plano e/ou uma agenda para conseguirem uma comunicação de impacto.


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Nuno Trindade por João Almeida

É assim que chega ao prémio Almada Terra Modesto e apreensivo, Nuno Trindade, 21 Solidária e das Oportunidades do Concuranos, desde os 9 anos que participa no so Jovens Talentos de Almada. O projeto projeto ASDL (Associação Solidariedade e HUNK, com o qual “pretende quebrar Desenvolvimento Do Laranjeiro). Primeiro estereótipos relativamente aos jovens de no ATL para os miúdos e, posteriormente, bairros sociais” é, diz o júri, um “projeto na 3ª geração do Projeto +XL. estruturado, organizado e com evidências.” Rapaz de armas e antigo jogador de futebol Nuno Trindade é ativista e dinamizador. federado, que abandonou por lesão e para Aprendeu a fugir ao mundo marginalizaseguir os estudos, é independente e seguro do “onde essa vida se acelera por causa no futuro. Atualmente frequenta o curso de da falta de dinheiro, ou da sua fartura, Animação Sociocultural na Escola Superior mas vindo da droga e da de Educação de Lisboa. prostituição” refere. “Como cada um é livre de “Não é por sermos Nuno Trindade acreescolher o seu percurdo bairro que somos dita nos valores e nas so”, ingressou no projeto inferiores aos outros” pessoas que desde cedo Dream Teens, com o qual o acompanharam na proreflete resoluções para os cura de alicerces sólidos que o ajudam a problemas nos bairros de Almada. ingressar na vida dita normal. Presidente da assembleia de jovens do Em aberto fica um percurso que com o Projeto +XL e da Assembleia A.J.E. da Reprojeto +XL tem sido possível gião de Setúbal, representa em encontros tornar realidade. nacionais os jovens com carências.


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perfil


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o d s o h Tril Graffiti fonso por Salomé A

A Câmara Municipal de Almada organiza anualmente a Mostra de Graffiti, que conta com a presença de writers convidados. Escolhemos Skran, Ketam e JAF, este último o vencedor da Mostra em 2014, com “Reflexos”, para nos falarem sobre a importância da arte pública nisto que são os Trilhos do Graffiti. “As arcadas das janelas, a carrinha antiga, tudo a preto e branco, nascem nesta parede como uma crítica às cidades adormecidas, monótonas e poluídas. Já os graffitis coloridos, que se sobrepõem a esta paleta cinzenta, conferem-lhes vida através das cores vibrantes e mostram-nos uma vertente mais atual destas cidades.” diz um transeunte que pára diante da pintura finalizada. “Artistas!” diz uma senhora que nos questiona sobre as nossas origens académicas, o nosso gosto por este tipo de arte e observa que “Isto embeleza as paredes. Gosto muito.” Alegra-me este fenómeno a que assistimos hoje em dia, pessoas de outros tempos, de vidas embrenhadas nos trabalhos, na vida

das vizinhas, nos jantares em família, nas obrigações, deveres e tempos livres em frente da televisão, que num dia, a meio do seu percurso já enraizado na sua rotina diária, param em frente de uma parede pintada e comentam-na, questionam o que ali se pintou, tentam ver para lá da pintura, criticam o obvio e admiram a novidade. Têm uma atitude crítica perante uma obra de arte, reconhecem-na aliás como uma obra de arte e garantem que já não entram numa galeria para ver arte há muito tempo. A arte urbana trouxe, a meu ver, uma deslocalização dos trabalhos em galerias, sufocados pelos pilares do academismo, da crítica de arte, residentes debaixo do tecto do conceptualismo e da contemporaneidade, muitas vezes fechados dentro da sua redoma elitista. Este novo folego das artes plásticas empurrou os artistas para a rua e ajudou a desbravar caminho para a democratização da arte. Se toda a arte fosse elitista, que importância lhe saberiam dar estes


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quem almeja ter um nome no mundo da arte urbana.

É por isso de louvar todas as iniciativas que convidam os artistas a intervir nas paredes das cidades.

Como tal, a mostra contou também com mais alguns writers que se quiseram juntar à iniciativa: Robô, Ship, Trafic, Salu, Tape e Frame e o resultado foi a aposta num projecto comum que unisse os diversos estilos culminando no nome da cidade de Almada.

O vandalismo e a poluição visual, infelizmente, ainda são um tema delicado, ainda são práticas comuns por parte de jovens que afirmam a sua irreverência na delinquência de um traço desenhado no sítio errado. Mas ser irreverente é bater o pé e pedir mais paredes autorizadas, é reinventar técnicas, refrescar estilos, ficar conhecido pela sua qualidade artística e pelas mensagens que pretende passar e por isso, dar um bom exemplo do “estado da arte” em eventos como a Mostra de Graffiti de Almada, é também uma forma de educar o sentido estético e critico, não só de quem pára para ver, mas também de

A mostra de graffiti apresentada num fim-de-semana lançou o desafio a quatro writers para intervirem sobre o mesmo fundo preto, sozinhos ou com a sua crew.

O Concurso de Graffiti de Almada, que decorreu numa parede próxima da mostra, contou com um conjunto de inscritos e este ano teve tema livre. Neste evento participaram também DJ’s que animaram o espaço, uma mostra de comércio local com algumas tendas de venda, pistas de halfpipe e uma exposição de caixotes do lixo pintados por writers para a primeira edição do festival “O Sol da Caparica”.

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transeuntes que passam pelas paredes pintadas da cidade e lhes reconhecem valor embora tenham sido afastados de uma educação artística pelos que decidem os fios com que se alinhava a educação em Portugal?


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À conversa com alguns dos writers...

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SKRAN Pinta há 11 anos. É de Almada. Uma frase com que se identifique ou que seja o seu slogan para a vida: Stencilmorfose. Salomé Skran, qual é a importância de um tag para um writer? Skran Nome de guerra, para criar aquela personagem misteriosa, quase uma segunda vida para fugir à realidade do dia-a-dia. Salomé O que te motivou a começar a pintar na rua? Skran Diversão. Começou por ser uma diversão com o meu irmão, uma noite sem nada para fazer, uma brincadeira. Depois, comecei a olhar para todos os recantos de Almada e a imaginar o que poderia fazer nesse recanto, um desafio. Por fim, uma paixão, que me faz sempre viajar e imaginar sempre que vejo alguma coisa pintada na rua.

Salomé Qual é a importância da promoção de eventos como a Mostra de Graffiti de Almada para a comunidade? Skran Principalmente para atingirmos uma faixa etária mais velha e um conjunto de pessoas que normalmente lhes passa despercebido este tipo de arte. Para mostrar a quem não liga normalmente a essa arte que estamos cá, e que fazemos arte com qualidade, e que conjuntamente com a comunidade podemos criar mais e melhor arte na rua, e que pode ser apreciada por todos. Salomé Ao contrário dos artistas plásticos, designers, etc, os writers preferem manterse no anonimato, porquê? Skran Principalmente porque algumas das pinturas, são feitas de forma ilegal e para salvaguardar a nossa segurança mantemos o anonimato e porque esse anonimato também faz parte e cria essa magia. Por outro lado, o mundo das artes e a obra de arte vive por ela própria, independente, livre e solta de qualquer definição ou nome. E por fim, porque é sempre bom para as pessoas comuns imaginarem e criarem a sua própria personagem do artista que apreciam e acabam por se refletir a si mesmas nesse imaginário.


Pinta há acerca de 15 anos. Mora na zona do Seixal. Uma frase com que se identifique ou que seja o seu slogan para a vida: Vive a vida ao máximo. Salomé Ketam, aerógrafo ou graffiti? Ketam Gosto de trabalhar com as duas técnicas, não consigo dizer que gosto mais de uma ou de outra... São culturas diferentes mas próximas devido ao efeito criado em ambas, no geral uso o graffiti para pintar muros na rua e a aerografia uso mais em estúdio para telas e personalizar variados objetos, por vezes junto as duas técnicas, trabalho com sprays juntamente com o aerógrafo porque permite ter uma maior capacidade de realização para detalhes. Salomé Na tua opinião, porque é que existe a necessidade de muitos writers assinarem os seus nomes, ou nome das crews como tema principal para as suas pinturas? Ketam Espalhar, território, quanto mais fazes mais queres fazer..., é algo que já faz parte do graffiti há muitos anos,

assinalares o teu nome em todo o lado... é um dos registo mais característico desta arte, letras...

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Salomé Acreditas que o graffiti ainda esteja muito vinculado aos lettrings?

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KETAM

Ketam Sem dúvida que sim, como já disse anteriormente é dos registos mais característicos do graffiti é a sua identidade...e assim vai continuar... há construções de letras muito boas desde o wildstyle ao 3D passando por outros estilos. Existem artistas que se dedicam inteiramente à construção de letras. Salomé Que impacto pensas que têm estas mostras de graffiti na comunidade que habita este espaço urbano? Ketam Tem muito...nos dias de hoje vê-se uma globalização no que toca a graffiti e arte urbana, as pessoas gostam e são mais informadas do que há uns anos atrás, mentes mais abertas outras mais fechadas mas no geral, agrada as pessoas, vêem com outros olhos os muros das cidades mais ricos em cores e formas, gostam de ver paredes preenchidas, independente do desenho.


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JAF Pinta aproximadamente há oito anos. É de Mangualde. Salomé Recebeste o primeiro prémio do Concurso de Graffiti de Almada 2014. Que significado teve para ti este prémio? Jaf Uma vez que o tema era livre, olho para este prémio como um reconhecimento pelo trabalho que fiz, e é para mim um forte incentivo para continuar com o meu trabalho. Salomé Achas que o Graffiti começa a ter reconhecimento artístico para a comunidade que habita e vive a cidade ou continua a ser visto como um ato de vandalismo? Jaf Certamente que sim, temos cada vez mais writers de qualidade que têm enriquecido o seu trabalho e

consequentemente enriquecido o Graffiti no geral, o que torna inevitável esse reconhecimento. Por outro lado, é preciso entender que o Graffiti está cada vez mais dividido em dois universos distintos, o Fame e o Bombing. E se no primeiro já é mais frequente aparecerem trabalhos com um forte conteúdo artístico, no segundo, essa não é, na maioria dos casos, a preocupação primordial de quem o pratica. O Bombing tem como base a ilegalidade, nesta “subdivisão” do Graffiti são correntes os atos de vandalismo que também não são ignorados pela maioria das pessoas, como seria de esperar. Salomé De que forma poderá a comunidade de writers contribuir para a profusão deste género artístico? Jaf Penso que seria bom haver mais troca de ideias e discussão entre todos nós de


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Salomé Pintas geralmente sozinho ou também pintas em alguma crew? Jaf Umas vezes sozinho, outras com outros writers, mas não pertenço a nenhuma crew. Salomé No teu entendimento, porque é que existe esta partilha de desenho e paredes, no fundo, esta cumplicidade no graffiti, e a mesma não é tão bem aceite nas outras artes plásticas como a pintura ou a escultura? Jaf Embora possa não parecer existe sempre bastante relação de cumplicidade em qualquer ramo das artes plásticas que é visível seja em coletivos, partilhas de

atelier, movimentos artísticos, exposições coletivas, etc. Contudo consoante os pontos em comum vão-se formando pequenos grupos. No Graffiti estas relações são muito mais evidentes, porque há de facto uma certa necessidade de união no momento da execução prática, e apesar de cada um tentar procurar o seu estilo individual, há uma série de interesses em comum, que acaba por gerar essa partilha de espaços e obras conjuntas, que resulta em trabalhos incríveis. No entanto ainda há muitos writters que não pensam dessa forma, e a vontade de se destacarem individualmente é tão forte que não se apercebem do egoísmo que praticam nem das consequências que isso gera a este movimento.

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forma a abrir espaço de reflexão sobre o Graffiti no geral. Mas o fundamental para essa profusão é certamente a nossa união e empenho.


Pequeno glossário do Graffiti Writer: “Escritor” é como se chama aos artistas que pintam graffiti porque muitas vezes o tema das suas pinturas é a escrita dos seus próprios nomes.

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Trow-up: É um tipo de graffiti associado à pintura rápida, própria do vandalismo que é feita geralmente a duas cores, fundo e contorno, cujo o contorno se organiza num único traço. Crew: Grupo de writers , que se junta com um objectivo e partilha paredes e projectos. Muitas vezes têm nomes extensos abreviados por siglas. Um writer pode pertencer a várias crews tal como um músico pode integrar várias bandas. Tag: Assinatura do writer. Hall of Fame: São pinturas estruturadas, realizadas com mais tempo e maturação do projecto, organizadas muitas vezes em crew e realizadas em paredes autorizadas ou paredes pouco expostas. Stencil: É um molde recortado em cartão, radiografias ou outros materiais por forma a criar formas. Este molde quando encostando a uma superfície e passando spray por cima, deixa ficar pintadas as formas previamente recortadas. Este tipo de pintura pode servir para traçar o esboço inicial do graffiiti ou ser ele próprio a concretização final da pintura, com uma ou mais layers (camadas).


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caixa de lápis

“Reflexo” por Jaf


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Reflexões do dia-a-dia por Beatriz Ramos Cardoso

É raro encontrar pessoas a conversar. Os dois jovens representam, infelizmente, a maioria da população, abstrata à vida real. Parece que já estou a ver o futuro, que embora longínquo, se encontra bastante presente. Prevejo a desordem. Prevejo máquinas no lugar de humanos e humanos no lugar de máquinas, parados e sós, observando o mundo exterior. Ao invés de comunicarem, as pessoas utilizarão o pensamento. Vejo, no fundo da mente, uma mãe robótica de avental, com cara de poucos amigos a comunicar telepaticamente com os filhos, pedindo-lhes que se reúnam à mesa para o jantar. Penso, por breves segundos, se tudo isto se verificará realmente daqui a largos anos. Cinquenta talvez. Ou mais. O mundo está perdido. As pessoas também. Chego finalmente ao Rossio, inundada de pensamentos alheios. Entro numa pastelaria. Apetece-me um café. Apetece-me esquecer o mal que se avizinha.

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Caminho entediadamente pela larga calçada da Rua Augusta. Sinto o sol queimar-me a pele morena e o vento bater-me na cara. Cheira a castanhas. Agrada-me. Deparo-me, após uma longa reflexão sobre a vida, com um grupo de jovens na esplanada de um café, falando entre berros sobre algo que não consigo identificar. Vejo, entre muitos, dois outros isolados da multidão, manuseando agilmente o tão famoso objeto responsável pela falta de diálogo entre as pessoas: o telemóvel.

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