ESTÓRIAS DO MÊS "OLHARES" - JANEIRO 2023

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ESTÓRIAS DO MÊS

“Olhe, o que é este edifício?” Pergunta rotineira por parte de quem quer saber um pouco mais do que lhe é dado observar. Logo lhe são prestados os esclarecimentos necessários em base do conhecimento de quem é interrogado. Falamos do antigo paiol ou do renomeado Edifício Lateral, localizado no castelo de Castelo de Vide «(…) ao que tudo indica datando do século XVIII, terá sido erigido entre a muralha e a barbacã, “aproveitando” como paredes resistentes esses fortes elementos longitudinais ali disponíveis. O imóvel apresenta dois pisos abobadados em sobreposição e que possuem por remate uma complexa cobertura de tijolo assente “em grelha” que estabelece uma caixa-de-ar até ao telhado, assim providenciando as condições de inércia térmica indispensáveis a um paiol. Por outro lado, é de supor que esta construção setecentista não terá sido a primeira a utilizar aquele espaço (…)».1

Não deslumbra, perde pelo seu enquadramento, feio na aparência, de arquitectura austera, simples mas robusta, mas que, todavia, representa uma das fases importantes da história militar da vila. Até porque antes de ser paiol há outras histórias que este espaço regista…

Em 2004, em base do projecto “Plano de Reabilitação e Reutilização do Castelo de Castelo de Vide – IPPC (datado de 1990 e mais tarde designado de Projecto de Reabilitação do Edificado e Ordenamento Paisagístico do Castelo de Castelo de Vide)”, foi possível avançar para as obras de reabilitação deste Edifício Lateral, que até aos primórdios do séc. XIX tinha servido como paiol das tropas aquarteladas na Praça de Castello de Vide, principalmente do Regimento 8 de Infantaria de Castelo de Vide. Houve, pois, a possibilidade de se realizar o estudo parcial das paredes interiores do piso 1 do dito edifício com levantamentos manuais dos paramentos. Ensaio feliz e oportuno que atempadamente foi realizado, sem obstar ao futuro desenvolvimento da obra no que se refere às datas programadas para o arranque das mesmas. Se é verdade que até essa data muitos e importantes trabalhos – designadamente desenhos de arquitectura - tinham já sido realizados no que é comum designar de “zona histórica da vila”, na esfera do registo de pormenor e a uma determinada escala tudo estava por fazer. Tratavase de uma tarefa particularmente importante, inovadora (pelo que me é dado conhecer nunca

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OLHARES
Design: António Manso / fotos: Secção de Arqueologia de Castelo de Vid e e António Manso. Colaboração de Patrícia Martins.

antes em Castelo de Vide terá havido um ensaio desta natureza) minuciosa e sensível do ponto de vista da observação e rigor no registo. Havia, então, que tentar copiar o mais realisticamente possível todos os elementos que tinham sido postos a descoberto nos espaços onde se retirou o reboco, que, pelo estado de conservação do mesmo, ora pelas análises, possibilitassem conhecer os materiais empregues nas obras que ocorreram em finais do séc. XVII (!!?) ou inícios da centúria seguinte. Copiar para conhecer, analisar e interpretar. Munido dos apetrechos entendidos como necessários, foram-se esboçando, à escala 1:20, os diversos paramentos, os vãos e outros elementos construtivos. Os trabalhos iniciaramse dias antes do começo da 2ª. campanha de escavações arqueológicas/2004 no edifício das Cavalariças (castelo de Castelo de Vide) e também de permeio com os ditos trabalhos. Pudesse conciliar essas duas tarefas sem prejuízo na prestação e participação a alguma das partes. Pena não ter sido possível realizar os levantamentos no piso térreo. Modestamente, senti-me lisonjeado pelas palavras de apreço quanto ao trabalho realizado e mais ainda quando vejo parte do trabalho publicado na revista Património/Estudos 2 do IPPAR num artigo do Arq. João Ochôa Pires que me incentivou ao trabalho, tal como a Dr.ª Maria de Magalhães Ramalho, na altura técnicos superiores do então Instituto Português do Património Arquitetónico

e Arqueológico . Parte desse levantamento não foi divulgado e daí, oportunidade agora para dar a conhecer graficamente esses desenhos em arquivo que, recentemente, foram tratados digitalmente.

Resulta interessante que à medida que as obras iam decorrendo novos dados afloravam no que concerne ao historial arquitectónico do edifício: se por um lado já eram reconhecidos os dois vãos entulhados no piso 0 (de planta em zigue-zague), o mesmo não se poderá dizer da identificação de parte da parede da Torre Cilíndrica na antecâmara – também do piso 0 – e aceitando que a sua cobertura (em telha mourisca de uma só água) poderá ter sido alterada aquando da construção do paiol, dado que, ainda, no século XVI ela se apresentava em cone. Também os negativos de uma caleira, que teria sido formada por telha mourisca, encontrados no interior da sala do piso 1 são elementos interessantes.

Não obstante, este trabalho continua a resultar incompleto pois carece do devido estudo de argamassas e, eventualmente, reconhecer as distintas fases do aparelho construtivo. Apurar as técnicas e métodos utilizados e, se possível, comparativamente, reconhecer paralelos noutras construções similares. No entanto, em base dos resultados de arqueologia, podemos apresentar algumas notas subsidiárias ao que era conhecido

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até há alguns anos. Era já evidente que esta construção assenta directamente sobre os afloramentos quartzíticos e que ainda sem dados concretos parece ser que a torre cilíndrica é a estrutura mais antiga à qual outras se anexaram. Na planta mais antiga que se conhece sobre este espaço em particular, concretamente o desenho 3 de Duarte de Armas dos inícios do séc. XVI, é por ele anotado que junto à muralha Noroeste existe um alpendre. “Em Castelo de Vide, (…), o alpendre é uma casa que ocupava praticamente todo comprimento da muralha NO, dotado de uma porta de grande dimensão, de verga reta e com mainel a meio, virada para centro da praça (SE). Nas paredes laterais há mais duas portas: uma, do lado NE, servia como porta da entrada principal da praça; outra, do lado SO, era a porta de uma casa localizada no fundo do alpendre, eventualmente, a casa de mantimentos ou de armas.” 4

Finalizo, dizendo que um dia gostaria de ver reposta a cobertura cónica da Torre Cilíndrica que, pelo facto de se tratar de um dos poucos vestígios medievais ainda subsistentes, iria repor a verdade histórica e, em muito, valorizar todo o conjunto arquitectónico militar do castelo de Castelo de Vide.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 PIRES, João Ochôa (2005) - De antigo paiol a museu arqueológico: processo de reabilitação em Castelo de Vide – castelo de Castelo de Vide. IPPAR de Évora (Direcção Regional de Évora). p.104.

2 IDEM, ibidem, pp.104-105.

3 DUARTE DE ARMAS (1509/10). O Livro das Fortalezas Torre do Tombo. Referência: PT/TT/CF/159. Lisboa. p.125 V.

4 MAYOROVA, Marina Ivanovna (2017) - Casas de Alcaidaria - Estruturas habitacionais nos castelos portugueses entre os finais da Idade Média e os inícios da Época Moderna. Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. p.56

ESTA É UMA FORMA SINGELA DE PRESTAR HOMENAGEM

A DIAMANTINO SANCHES TRINDADE, RECENTEMENTE FALECIDO, AUTOR E CO-AUTOR DE VÁRIAS OBRAS DE ÂMBITO PATRIMONIAL SOBRE CASTELO DE VIDE.

Representação de Projectista/desenhador do Período Barroco, in LANGRES, Nicolau de, ? - 1665 «Desenhos e plantas de todas as praças do Reyno de Portugal Pello Tenente General Nicolao de Langres Francez que serviu na guerra da Acclamação.» -[Ca 1661]. - [58] f., enc. : 57 desenhos e plantas ; 36 x 48 cm. Cota do exemplar digitalizado: COD-7445. Registo «ND.L»

Castelo de Vide, 23 de Janeiro de 2023.

João F. A. Magusto

(Secção de Arqueologia - Câmara Municipal de Castelo de Vide)

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Edifício do Antigo Paiol

Poço Medieval e entrada para o edifício

Fresta de planta em zigue-zague.

Vão B

Torre cilindrica Medieval

Fresta de planta em zigue-zague.

Vão A

MURALHA MEDIEVAL

Janela e fresta/respiradouro na parede Sudeste

Alçado Sudeste do muro e torreão

Relatório de Sandra Santos sobre a intervenção no «Edifício Lateral_Escavações arqueológicasI

2.ª campanha-castelode Castelo de Vide I 2004»

Troço da muralha medieval

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EDIFÍCIO LATERAL. Des 4. Alçados - existente. IPPAR - CASTELO DE CASTELO DE VIDE - Reabilitação do Edificado e Ordenamento paisagistico - Projecto de execução (Dez 2002). Nuno Teotónio Pereira, Nuno Malato, Alberto Cruz, arquitectos.

EDIFÍCIO LATERAL. CASTELO DE CASTELO DE VIDE. Projecto de recuperação. Des. Nº. 003. Corte A - A`. A2P- Consult - Estudos e Projectos, L.da. (Jan. de 2003). Localização da área desenhada.

ENTRADA PARA O PAIOL - Espaço interno - Piso 1

LEGENDA

Argamassa de ligação

Blocos líticos (quartzítos)

Telha mourisca e tijolo maciço Blocos graníticos

Pintura

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Fig. 1 Desenho após tratamento informático Fig. 2 Fotografia documental do acompanhamento arqueológico

PORMENOR DE PARTE DO ALÇADO NE

Espaço interno - Piso 1

PORMENOR (canto NO) DA PLANTA

Espaço interno - Piso 1

Elementos pétreos

Porção de telha (cerâmica de construção)

Parte superior da abóbada do 1º. piso

Argamassa muito compacta Canal (?)

Abertura recente

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Negativo de caleira em argamassa Piso 0 Piso 1

ALÇADO - Parede SUDOESTE Espaço interno - Piso 1

LEGENDA

Argamassa de ligação Blocos líticos (quartzítos)

Telha mourisca e tijolo maciço pintura

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Fig. 1 Desenho após tratamento informático Fig. 2 Fotografia documental do acompanhamento arqueológico

EDIFÍCIO LATERAL Castelo Castelo de Vide

ALÇADO SE - ESPAÇO INTERNO - JANELÃO - Piso 1

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JANELÃO

ALÇADO SE - Espaço interno - Piso 1

ALÇADO SE - Espaço exterior - Piso 1

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Fig. 1 Fotografia documental do acompanhamento arqueológico Fig.s 4 e 5 Alçado SE. Pormenor da vista exterior e «reposição» do gradeamento original Fig. 6 Proposta de simulação do alçado original. Fig. 2 Parte do esboço parietal do janelão realizado em Março de 2004 Fig. 3 Fotografia actual do janelão após obras de recuperação e conservação.
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Fig. 1 Fotografia e planta do plano inferior do janelão antes da recuperação. Fig. 2 Fotografia e planta do plano superior do janelão antes das obras de restauro e valorização. Fig. 3 Proposta (a traço vermelho) da planta original do janelão existente no piso 1 do Edifício Lateral. Fig. 4 Planta do piso 1 do Edifício Lateralcom a indicação da área em análise. Fig. 2 Fotografia e planta do plano superior do janelão antes das obras de restauro e valorização.

Fresta - Vão A - EDIFÍCIO LATERAL, piso 1

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Fig.s 1 a 6 Fotografias de acompanhamento da obra.

Fresta - Vão A EDIFÍCIO LATERAL, piso 1

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Fig. 1 Planta de localização Fig. 1 Planta de localização Fig. 2 Planta de pormenor Fig. 3 Trecho do alçado após desentulhamento do vão. Fig. 6 Após as obras de recuperação. Estado actual.. Fig. 5 Fresta vista desde o exterior do edifício. Fig. 4 Localização da fresta desde o exterior do edifício.

FRESTA - Vão A - EDIFÍCIO LATERAL, piso 1

Argamassa de ligação

Blocos líticos (quartzitos) irregulares

Telha mourisca e tijolo maciço

Frizo

Reboco

Mancha de argila

Piso

Desenho 1

Levantamento do vão A, antes dos trabalhos de desentaipamento.

J.Magusto (SA CMCV) em Março de 2004).

Desenho 2

Levantamento do vão A, após os trabalhos de desentaipamento.

J.Magusto (SA CMCV) em Maio de 2004).

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Fresta - Vão B - EDIFÍCIO LATERAL, piso 1

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Fig.s 1 a 6 Fotografias de acompanhamento da obra.

Fresta - Vão B - EDIFÍCIO LATERAL, piso 1

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Fig. 1 Planta de localização Fig. 4 Fresta vista desde o exterior do edifício. Fig. 5 Fresta vista desde o exterior do edifício. Fig. 6 Após as obras de recuperação. Estado actual. Fig. 2 Planta de pormenor Fig. 3 Trecho do alçado após desentulhamento do vão.

FRESTA - Vão B

EDIFÍCIO LATERAL, piso 1

Argamassa de ligação Blocos líticos (quartzitos) irregulares Telha mourisca e tijolo maciço

Frizo

Piso

Desenho 1 Levantamento do vão B, antes dos trabalhos de desentaipamento. J.Magusto (SA CMCV) em Março de 2004).

Desenho 2 Levantamento do vão B, após os trabalhos de desentaipamento. J.Magusto (SA CMCV) em Maio de 2004).

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TORRE CILINDRICA

Espaço interno - Piso 1

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Fig. 2 Perspectiva - vista de N - do Edifício Lateral, Torre Cilindrica e Torre de Menagem. Fig. 3 Pormenor da zona superior da torre cilindrica. Fig. 4 Fotografias documentais que resultaram do trabalho de análise, consolidação e valorização do antigo paiol desenvolvido em 2004. Identifica-se parte da parede da Torre Cilindrica na antecâmara do salão do piso 1. Fig. 1 Planta do piso 1 do Edifício Lateral com a indicação da área em análise.

PAIOL - Espaço interno - Piso 0

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Fig. 1 Planta do piso 0 do Edifício Lateral Fig. 2 Vista geral do piso 0 do antigo paiol em 1988. Fig. 3 Porta de acesso ao compartimento maior. Fase dos trabalhos ocorrida em 2004. Fig. 4 Início dos trabalhos de restauro e valorização do espaço. Em 2004. Fig. 5 Fase dos trabalhos de eliminação de rebocos para conhecer o aparelho construtivo e argamassasde ligação. Em 2004. Fig. 6 Pormenor do aparelho construtivo em que as paredes assentam directamento no substrato rochoso. 2004. Fig. 7 Após os trabalhos de reabilitação. Em 2004.

EDIFÍCIO LATERAL Alçado e Corte SO - NE

POÇO MEDIEVAL (ALOACA)

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