ESTÓRIAS DO MÊS
TAPADA DO CILINDRO (MEADA) – O MENIR
Menir é sinónimo de pedra e antiguidade. No caso que vamos abordar pode-se, também, adjectivar de grandeza/monumentalidade e, acrescento: surpresa, sem cometer erro na apreciação, sempre que se trata da primeira visita num impacto visual ímpar. Para os conhecedores do local onde se ergue o Menir da Meada é, este, um espaço de sossego, de contemplação, observação e meditação. Foram também estes os propósitos dos “arquitectos” e construtores do mesmo?!!. Conjecturam-se várias hipóteses em base de interpretações, registos e avaliações de ordem técnica e científica e outras no campo do esoterismo e misticismo.
Das muitas escavações arqueológicas realizadas por este Serviço Municipal ou apoiando directamente projectos desse âmbito, é óbvio que umas tiveram mais relevância que outras, embora seja discutível
este tipo de abordagem, quer pelo pensamento dos intervenientes ou pelas demais pessoas atentas a esses resultados. Digamos que o valor atribuído a esses locais, quer seja pelo conhecimento científico adquirido, pela anormalidade e importância de achados ou pela riqueza e beleza estrutural regese por estes e múltiplos factores que podem influenciar o gosto e
O intuito deste opúsculo é tão só recordar que, neste mês, passam-se 30 anos sobre a escavação do Menir da Meada e 10 anos sobre a publicação, em Diário da República, da classificação do mesmo como Monumento Nacional1. Contando com o coordenador científico da escavação – Prof. Jorge de Oliveira, da Universidade de Évora – foram quatro, as pessoas, que tiveram a oportunidade e privilégio de conhecer mais em pormenor o que o dito menir apresentava mas também escondia “(…) Durante os trabalhos de valorização do monumento, recolheram-se carvões no interior da fossa de implantação, junto da sua base, que, submetidos a datação por radiocarbono e depois de calibrados, revelaram que este menir foi erguido entre 4810 e 5010 antes de Cristo. Trata-se assim do menir mais antigo até agora datado em todo o mundo, erguido quase dois mil anos antes dos grandes dólmenes.”2 Para os intervenientes, penso que na altura não se vislumbrava o alcance e repercussões que os resultados dessa intervenção pudessem ter quer seja no domínio do conhecimento científico, quer no que se relaciona com a divulgação mundial que posteriormente à intervenção de restauro – com a união dos dois blocos a ocorrer em 25 de Setembro de 1993 – veio a acontecer.
Na fita do tempo importa dizer que para este Serviço Municipal, o Menir da Meada é conhecido no verão de 1982 aquando da sua visitação por elementos do ex: Grupo de Arqueologia. Ocorreu, dado o interesse despertado com vista ao conhecimento de alguns dos valores históricos e arqueológicos dessa zona da Meada. Como curiosidade indicar que, numa altura, o antigo Posto Fiscal de Santo
Amador ainda estava operacional num tempo em que o abandono dos campos era já uma realidade. A findar os anos 80 é realizada pelo Grupo de Arqueologia de Castelo de Vide uma pequena intervenção na base do menir que “não ofereceu resultados” conforme opinião formulada pelos elementos que se dispuseram a esse trabalho (uma, de entre outras tarefas pelas quais nos penitenciamos pela impreparação profissional e decisões nada consensuais).
É, contudo, em 1990 que se procede ao inventário/ registo no âmbito da actualização da Carta Arqueológica do Concelho e um projecto de prospecção arqueológica de superfície designado “Levantamento arqueológico da zona da Meada –Castelo de Vide. Subsídios para a inventariação e caracterização da área envolvente à Barragem da Tapada Grande” da autoria de António Pita, João Magusto e Bica Penhasco e que esteve na base de alguma polémica entre os elementos da Secção e o Orientador Científico da Câmara Municipal para a Arqueologia. É, também, neste período que é desmistificada a questão da localização administrativa e territorial do menir. O registo cadastral do prédio – denominado de Tapada do Cilindro, Represa, Curral da Argola - onde o dito se ergue corresponde à Freguesia de Santa Maria da Devesa com um dos muros divisórios (a oeste) a servir de separação entre a referida Freguesia e a de Nossa Senhora da Graça de Póvoa e Meadas.
Já na Idade Média, senão antes, a presença de tão estranho e inusitado monumento levou a que pudesse servir de referência nas divisões territoriais. Três anos depois e no âmbito do projecto “Monumentos Megalíticos da Bacia Hidrográfica do Rio Sever” do Prof. Jorge de Oliveira, da Universidade de Évora, é realizada a escavação arqueológica cuja responsabilidade científica foi deste investigador com o apoio técnico deste Serviço Municipal de Arqueologia (António Pita, João Magusto e Nuno Félix).Trabalho relativamente fácil e rápido atendendo ao pequeno espaço intervencionado (base do bloco cilíndrico in situ) permitindo ao mesmo tempo que uma outra escavação mais demorada e alargada decorresse no olival da Fonte da Mealhada, onde se veio a detectar ruinas de um forno de cozer cerâmica do Período Moderno. Temos, portanto, dois espaços intervencionados, estruturalmente distintos com cronologias dispares, modos e técnicas de actuação diferentes. Infelizmente os resultados desta última escavação ainda não foram tornados públicos.
De somenos importância, mas para quem é apreciador e valoriza números indicamos que, nos anais do registo de escavações arqueológicas do ex: Grupo de Arqueologia de Castelo de Vide com a actual Secção de Arqueologia Municipal, a intervenção arqueológica no Menir da Meada correspondeu ao número 60.
Sejamos capazes de perpetuar estas memórias e empenharmo-nos individual e colectivamente (social e culturalmente) para a devida preservação e valorização deste importante legado pré-histórico, verdadeiro e inigualável ponto de atracção turística e arqueológica.
1 Diário da República, 1.ª série, n.º 119 de 24 de junho de 2013. Decreto nº. 117/2013.
2 OLIVEIRA, Jorge de – Menir da Meada, o mais antigo. National Geographic Portugal (23 de Julho de 2020). Disponível em: https://nationalgeographic.pt/historia/grandesreportagens/2725-menir-da-meada-o-mais-antigo [acedido a 17, Maio, 2023].
Castelo de Vide, 15 de Junho de 2023.
João F. A. Magusto (Secção de Arqueologia - Câmara Municipal de Castelo de Vide)
Levantamento topográfico realizado pela Secção de Arqueologia em 1993.