ESTÓRIAS DO MÊS "TAPADA DO CILINDRO (MEADA) – O MENIR"

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ESTÓRIAS DO MÊS

TAPADA DO CILINDRO (MEADA) – O MENIR

Menir é sinónimo de pedra e antiguidade. No caso que vamos abordar pode-se, também, adjectivar de grandeza/monumentalidade e, acrescento: surpresa, sem cometer erro na apreciação, sempre que se trata da primeira visita num impacto visual ímpar. Para os conhecedores do local onde se ergue o Menir da Meada é, este, um espaço de sossego, de contemplação, observação e meditação. Foram também estes os propósitos dos “arquitectos” e construtores do mesmo?!!. Conjecturam-se várias hipóteses em base de interpretações, registos e avaliações de ordem técnica e científica e outras no campo do esoterismo e misticismo.

Das muitas escavações arqueológicas realizadas por este Serviço Municipal ou apoiando directamente projectos desse âmbito, é óbvio que umas tiveram mais relevância que outras, embora seja discutível

este tipo de abordagem, quer pelo pensamento dos intervenientes ou pelas demais pessoas atentas a esses resultados. Digamos que o valor atribuído a esses locais, quer seja pelo conhecimento científico adquirido, pela anormalidade e importância de achados ou pela riqueza e beleza estrutural regese por estes e múltiplos factores que podem influenciar o gosto e

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Design: António Manso / fotos: Secção de Arqueologia de Castelo de Vid e e outros. Colaboração de Patrícia Martins. interesse de cada pessoa. Trabalhos de escavação em junho de 1993. Da esquerda para a direita: João Magusto, Nuno Félix e António Pita. Fotografia de Jorge de Oliveira. Levantamento topográfico após a escavação. Fotografias de: Augusto Rainho (Câmara Municipal de Castelo de Vide)

O intuito deste opúsculo é tão só recordar que, neste mês, passam-se 30 anos sobre a escavação do Menir da Meada e 10 anos sobre a publicação, em Diário da República, da classificação do mesmo como Monumento Nacional1. Contando com o coordenador científico da escavação – Prof. Jorge de Oliveira, da Universidade de Évora – foram quatro, as pessoas, que tiveram a oportunidade e privilégio de conhecer mais em pormenor o que o dito menir apresentava mas também escondia “(…) Durante os trabalhos de valorização do monumento, recolheram-se carvões no interior da fossa de implantação, junto da sua base, que, submetidos a datação por radiocarbono e depois de calibrados, revelaram que este menir foi erguido entre 4810 e 5010 antes de Cristo. Trata-se assim do menir mais antigo até agora datado em todo o mundo, erguido quase dois mil anos antes dos grandes dólmenes.”2 Para os intervenientes, penso que na altura não se vislumbrava o alcance e repercussões que os resultados dessa intervenção pudessem ter quer seja no domínio do conhecimento científico, quer no que se relaciona com a divulgação mundial que posteriormente à intervenção de restauro – com a união dos dois blocos a ocorrer em 25 de Setembro de 1993 – veio a acontecer.

Na fita do tempo importa dizer que para este Serviço Municipal, o Menir da Meada é conhecido no verão de 1982 aquando da sua visitação por elementos do ex: Grupo de Arqueologia. Ocorreu, dado o interesse despertado com vista ao conhecimento de alguns dos valores históricos e arqueológicos dessa zona da Meada. Como curiosidade indicar que, numa altura, o antigo Posto Fiscal de Santo

Amador ainda estava operacional num tempo em que o abandono dos campos era já uma realidade. A findar os anos 80 é realizada pelo Grupo de Arqueologia de Castelo de Vide uma pequena intervenção na base do menir que “não ofereceu resultados” conforme opinião formulada pelos elementos que se dispuseram a esse trabalho (uma, de entre outras tarefas pelas quais nos penitenciamos pela impreparação profissional e decisões nada consensuais).

É, contudo, em 1990 que se procede ao inventário/ registo no âmbito da actualização da Carta Arqueológica do Concelho e um projecto de prospecção arqueológica de superfície designado “Levantamento arqueológico da zona da Meada –Castelo de Vide. Subsídios para a inventariação e caracterização da área envolvente à Barragem da Tapada Grande” da autoria de António Pita, João Magusto e Bica Penhasco e que esteve na base de alguma polémica entre os elementos da Secção e o Orientador Científico da Câmara Municipal para a Arqueologia. É, também, neste período que é desmistificada a questão da localização administrativa e territorial do menir. O registo cadastral do prédio – denominado de Tapada do Cilindro, Represa, Curral da Argola - onde o dito se ergue corresponde à Freguesia de Santa Maria da Devesa com um dos muros divisórios (a oeste) a servir de separação entre a referida Freguesia e a de Nossa Senhora da Graça de Póvoa e Meadas.

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Jornal ”O Pregão”, 30 de junho de 1993. Página 5

Já na Idade Média, senão antes, a presença de tão estranho e inusitado monumento levou a que pudesse servir de referência nas divisões territoriais. Três anos depois e no âmbito do projecto “Monumentos Megalíticos da Bacia Hidrográfica do Rio Sever” do Prof. Jorge de Oliveira, da Universidade de Évora, é realizada a escavação arqueológica cuja responsabilidade científica foi deste investigador com o apoio técnico deste Serviço Municipal de Arqueologia (António Pita, João Magusto e Nuno Félix).Trabalho relativamente fácil e rápido atendendo ao pequeno espaço intervencionado (base do bloco cilíndrico in situ) permitindo ao mesmo tempo que uma outra escavação mais demorada e alargada decorresse no olival da Fonte da Mealhada, onde se veio a detectar ruinas de um forno de cozer cerâmica do Período Moderno. Temos, portanto, dois espaços intervencionados, estruturalmente distintos com cronologias dispares, modos e técnicas de actuação diferentes. Infelizmente os resultados desta última escavação ainda não foram tornados públicos.

De somenos importância, mas para quem é apreciador e valoriza números indicamos que, nos anais do registo de escavações arqueológicas do ex: Grupo de Arqueologia de Castelo de Vide com a actual Secção de Arqueologia Municipal, a intervenção arqueológica no Menir da Meada correspondeu ao número 60.

Sejamos capazes de perpetuar estas memórias e empenharmo-nos individual e colectivamente (social e culturalmente) para a devida preservação e valorização deste importante legado pré-histórico, verdadeiro e inigualável ponto de atracção turística e arqueológica.

1 Diário da República, 1.ª série, n.º 119 de 24 de junho de 2013. Decreto nº. 117/2013.

2 OLIVEIRA, Jorge de – Menir da Meada, o mais antigo. National Geographic Portugal (23 de Julho de 2020). Disponível em: https://nationalgeographic.pt/historia/grandesreportagens/2725-menir-da-meada-o-mais-antigo [acedido a 17, Maio, 2023].

Castelo de Vide, 15 de Junho de 2023.

João F. A. Magusto (Secção de Arqueologia - Câmara Municipal de Castelo de Vide)

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Fotografias publicadas por José P. Martins Barata em “O Menir da Meada e (...)” em 1965. Fotografia da obra de Mário Saa (1967). As grandes vias da LusitâniaO itinerário de Antonino Pio. Tomo VI, figura 5 Fotografia de maio de 1990. Arquivo da Secção de Arqueologia da Câmara Municipal de Castelo de Vide. Fotografia publicada em 1975 na Carta Arqueológica do concelho de Castelo de Vide (estampa LXXX), da autoria de Maria da Conceição Monteiro Rodrigues.
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Estória do Mês - TAPADA DO CILINDRO (MEADA) - O MENIR - junho de 2023 5 SECÇÃO ARQUEOLOGIA CÂMARA MUNICIPAL CASTELO DE VIDE MENIR MEADA DATA: OUTUBRO 1993 ESCALA: DESENHO: C O R T E X - Z OBS.: CORTE APÓS A FINALIZAÇÃO DA ESCAVAÇÃO E 5 D 5 0 m E W - 1 m - 2 m - 3 m 0 1 2 m 13º Área intervencionada Elementos líticos Nível geológico 0

Levantamento topográfico realizado pela Secção de Arqueologia em 1993.

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