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nvestir na cultura e na divulgação da expressão artística a nível local assume na actual situação que atravessamos uma importância ainda mais significativa, exigindo de todos nós um esforço maior no fortalecimento da nossa identidade comunitária, na certeza de que o investimento na cultura e nos valores locais é uma aposta no futuro do Montijo. A Câmara Municipal do Montijo recebe no Museu Municipal a autora Patrícia Costa, com a exposição Enerelis - a Criação de Um Mundo novo, no âmbito do lançamento de seu primeiro álbum de banda desenhada. Patricía Costa reside no Montijo desde 2012, participando activamente na vida cultural da cidade, tendo frequentado, nomeadamente, um dos Cursos de Iniciação à Arte Sequencial promovidos pela autarquia. Nesta exposição a autora - galardoada com um Prémio Nacional do Festival Amadora BD - guia-nos através do seu processo criativo na concepção de um mundo de magia e fantasia, desde a construção da história aos ambientes e personagens desta aventura. Damos, assim, as boas vindas a Patrícia Costa, agradecendo a sua colaboração, convidando toda a população a conhecer o talento e a criatividade desta nova montijense. Montijo, 19 de Fevereiro de 2021 O Presidente da Câmara Municipal do Montijo
Nuno Canta
A Autora
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atrícia Costa nasceu em 1983, é natural do Fundão e reside no Montijo desde 2012. É Licenciada em Arquitectura pelo ISCTE e trabalhou até 2016 como arquitecta num gabinete em Lisboa. Desde então, tem-se dedicado a diversos trabalhos na área da Ilustração. Em 2018 frequentou o 1.º Curso de Iniciação à Arte Sequencial, promovido pela Câmara Municipal do Montijo e ministrado pela ilustradora Susana Resende, artista montijense. No mesmo ano vence a Categoria A+ do Concurso de BD do 29.º Prémio Nacional de Banda Desenhada promovido pelo AmadoraBD, com a obra “Uma Viagem”. Em 2019 e 2020 alcançou o 3.º Lugar no Concurso de BD nos 13.º e 14.º BDTeca, organizados pelo Município de Odemira, com as obras “Asas” e “Eternidade 2.0”, respectivamente. Em 2019, fez a arte final de “Posse”, uma história para a Revista H-Alt #9, com argumento de Penim Loureiro. Participou no fanzine Outras Bandas, editado pelo Colectivo Tágide, do Montijo, com duas curtas, “Era Uma Vez” e “Chá das Cinco”, esta última vencedora do Prémio na Categoria de Melhor Obra Curta nos XVII Troféus Central Comics, em 2020. Entre outras colaborações no ano passado, participou na antologia “Virar a Página”, que reuniu diversos argumentistas e desenhadores, visando a recolha de apoio financeiro para a Associação CAIS. Após uma campanha de crowdfunding (financiamento colaborativo) que decorreu no final de 2020, consegue este ano a publicação do primeiro volume da sua série de banda desenhada, “Crónicas de Enerelis”. Almejando a continuidade da série, a autora encontra-se neste momento a terminar o segundo volume.
Observar e desenhar
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uando a autora criou suas primeiras histórias, por volta dos 13 ou 14 anos, começava sempre pelo desenho das personagens. Definia de imediato as suas características físicas e, à medida que as histórias se tornaram mais complexas, começou a fazer o esquema com as relações entre elas, intuitivamente. Durante a faculdade, como sugestão nas aulas de Desenho, a autora ganha o hábito de observar e registar pessoas em desenho: começa a ver como se comportam, gesticulam, e a sua postura.
O fascínio pela arte sequencial
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o contrário da maioria dos autores, que tem contacto desde cedo com a banda desenhada por influência de amigos ou família ou pela facilidade de acesso a ela, a autora só começa a ler alguns álbuns de Banda Desenhada que saíam em colecções de jornais durante a faculdade. Mais tarde, já a exercer arquitectura, descobre o manga, e as suas viagens entre casa e o trabalho passam a ser preenchidas por diversos autores. Entretanto, começa a ler e adquirir banda desenhada de géneros e estilos variados a partir de 2017, período em que começa o fascínio efectivo pela arte sequencial.
Influências Fascinada desde cedo pela leitura, é nos livros que se encontra grande parte da sua inspiração. Filosofia, Ficção Especulativa, Policiais, Clássicos da Literatura e História são os seus pilares de leitura, embora não deixe outros temas de lado. As suas influências iniciais no desenho vêm do manga, a banda desenhada japonesa. Contudo, nos últimos anos, decide alargar as suas leituras, o que expandiu a expressão do seu traço. Actualmente tem quatro nomes na sua lista de influências: Olivier Coipel, pelo dinamismo das suas pranchas; Karl Kopinski, pela panóplia de personagens e Takeshi Obata pelo seu traço. Aprecia também o desenho dos clássicos Renascentistas e a graciosidade da arte de Alphonse Mucha.
Método de Trabalho Para a banda desenhada, a autora começa pela estrutura geral de cada volume, traçando a trama generalizada e a linha de tempo. Depois elabora um guião mais detalhado capítulo a capítulo, estabelecendo os diálogos e outras informações relativas às personagens, ambientes e construções. Depois dessa fase, são desenhados os thumbnails, miniaturas de cada página. Até aqui, todo o trabalho é feito em papel. Com base nas miniaturas, é desenhado o layout, o esboço na página definitiva: nesta fase começa o trabalho digital. Com o esboço completo, começa o desenho da arte-final, meios-tons e balonagem.
Thumbnails (miniaturas) das primeiras pranchas.
As respectivas pranchas originais.
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uando comecei a passar do guião para o desenho, em 2018, comecei por fazer a tinta. Tenho 18 pranchas em papel que, para mim, têm um valor inestimável. Mas ao analisar com mais atenção, percebi que devia passar para o digital: o tempo que demoro a fazer o layout, inking, meios-tons e balonagem é muito menor em comparação com o trabalho congénere em papel e tinta. O papel e o digital têm vantagens e desvantagens, mas para o estilo de desenho e a história que quero contar nas Crónicas, o digital é definitivamente a escolha mais acertada. E não uso os “facilitadores” do desenho digital. Evito o copy+paste. Se um edifício tem cinco janelas iguais, desenho as cinco em separado. Se uma floresta tem trinta árvores da mesma espécie, nenhuma é igual à outra...
Como nasceram as Crónicas
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ideia original surge em Novembro de 2001, no fim de um dia de aulas da faculdade, enquanto a autora ouvia música. Acabar por desenvolver a ideia por escrito como passatempo até 2006. Desta ideia embrionária, a autora tira alguns detalhes para a história que viria a nascer em 2008. Com uma estrutura mais madura, personagens consolidadas e todo o lore definido, a autora escreve o argumento até 2015, idealizando a sua adaptação para banda desenhada, esperando um dia poder desenvolver os seus conhecimentos na área. O acaso acabou por cruzar duas vezes o seu caminho com os autores montijenses Daniel Maia e Susana Resende: no festival AmadoraBD em 2017, na mesa de autógrafos e, em 2018, casualmente na Avenida dos Pescadores, no Montijo, local onde teve conhecimento do Curso de Iniciação à Arte Sequencial. Depois do curso, a autora começa a dar forma ao Volume 01, com as primeiras 18 páginas a serem integralmente desenhadas a tinta. Liriah. 2008
Água, Ar, Fogo e Terra. Estudos para personagens. 2005
O Templo. Esboço de 2015
Estudo para Eyren. 2008
O Protagonista Nome: Eyren Caeli Idade: 12 anos Cor de Cabelo: Ruivo Cor dos Olhos: Castanho Altura: 1.44m
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s primeiros estudos desta personagem assentaram na existência de outra personagem que a autora criou em 2006, com o nome Fari Taer. Já ambientada em Enerelis, a versão inicial de Fari apresentava-o como um rapaz ingénuo, na busca de quem era e a que lugar pertencia. Na sua génese, Fari não era mais do que uma personagem que partilhava o seu caminho com o real protagonista da história original de 2001. Até que, em 2008, a autora pega em Fari e faz dele a personagem principal da nova história. Durante esse ano, com o amadurecimento das Crónicas, a autora percebe que o ingénuo rapaz não se adequava àquilo que tinha previsto. Assim, o pequeno Fari ficou definitivamente afastado de Enerelis. Dele nasceu uma personagem renovada e também um novo nome. Curiosamente, este surge em Outubro de 2008, durante uma conversa com uma das melhores amigas da autora, a propósito do romance literário “Jane Eyre”. O apelido soou tão bem à autora naquele momento, que lhe bastou acrescentar uma letra no final. Nascera Eyren Caeli e Enerelis era o lugar perfeito para o ver crescer! Estudo para Eyren. Aguarela realizada em 2009
Enerelis - um mundo paralelo
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nerelis é um dos três mundos paralelos à Terra. Em paz há catorze anos, é povoado por diversas raças e criaturas que nasceram graças à existência de duas forças opostas, Nox e Aether, atribuindo aos seus habitantes capacidades extraordinárias. É neste mundo que Eyren Caeli, um rapaz de doze anos, inicia uma jornada com o único objectivo de salvar uma pessoa. No entanto, o seu passado teima em assombrar todos os seus passos. Este é o prelúdio de uma longa viagem. Sejam bem-vindos!
Ambientes e paisagem
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nerelis é um mundo paralelo à Terra e criado à sua semelhança. Com inspiração em diversas paisagens, respeitando algumas regras da geografia e do clima terrestres, Enerelis vai ganhando vida à medida que as aventuras se vão desenrolando ao longo do seu território. Esta viagem vai permitir ao leitor conhecer os diversos locais e ambientes, onde evidentemente, a magia e a fantasia têm um peso fundamental.
A representação do espaço
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aqui que a formação de Arquitectura deixou a sua marca. O desenho do espaço edificado até quase ao detalhe é mandatório no estudo de todas as cenas de interior ou que tenham construções. Plantas, cortes e alçados, tal como perspectivas são o bê-a-bá nesta fase. Desde sempre habituada ao desenho à mão livre arquitectónico, assume que a representação das construções em desenho digital é o maior desafio nas suas pranchas de Banda Desenhada.
O estudo aprofundado das construções do espaço contribui para uma melhor percepção e recriação do mundo em que decorre a acção.
Estudos de personagens para os próximos volumes.
A história continua...
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relúdio, tal como o nome indica, é o título do volume de introdução a este novo mundo e ao início da jornada do seu protagonista. Na sequência desta aventura, a história vai continuar a revelar mais segredos sobre Enerelis: serão apresentados novos ambientes, novas personagens e os desafios serão mais complexos. Assim, permitir-se-á ao leitor descobrir gradualmente a variedade de territórios e povos enerelianos, e conhecer mais sobre a sua História, sem nunca perder de vista o desenrolar do enredo principal.
Ficha Técnica Exposição ENERELIS - A Criação de Um Mundo Novo Patrícia Costa Local Museu Municipal do Montijo Data De 19 de Fevereiro a 24 de Abril de 2021 Organização Museu Municipal do Montijo Impressão e Montagem Adway Publicidade Câmara Municipal do Montijo
Catálogo Edição Câmara Municipal do Montijo Textos Patrícia Costa Grafismo Câmara municipal do Montijo Tiragem 300 exemplares ISBN 978-989-8122-71-1 Impressão Tipografia Belgráfica, Lda. Depósito Legal Todos os direitos reservados.
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