
45 minute read
no Mundo
ESPECIAL Montijenses no Mundo
Este é um especial programado como uma daquelas viagens que levam tempo a planear. Afinal, nas próximas páginas fazemos o check-in para partir à volta do mundo. Saímos do Montijo para uma viagem com escalas na Austrália, Inglaterra, Canadá, Alemanha, Brasil, Colômbia e Dinamarca. Neste voo com o código Montijenses no Mundo, os nossos passageiros são o António, o Paulo, a Fátima, o Nuno, o Alberto, a Andreia, o Luís e o Fernando. Em comum, nas suas bagagens, levam as raízes e memórias do Montijo. Contamos as suas histórias. Os seus caminhos pelo mundo. Mostramos os seus percursos distintos, tanto pessoais como profissionais. Damos voz às lembranças que guardam do Montijo e ao desejo, de alguns, de voltar a Portugal e à nossa cidade, que também é a deles. Junte-se a esta viagem. Faça as malas, traga o seu bilhete e parta connosco à descoberta destes Montijenses no Mundo. Boas Leituras e Boa Viagem!
Advertisement
Afrase “há um português em cada canto do mundo” pode perfeitamente ser adaptada para há um montijense em cada canto do mundo. Neste caso até são quatro (apesar de dois terem nascido fora do país) e estão lá bem distantes, muito perto dos antípodas de Portugal. Como sabe

mos isto? Porque contamos a história de mais uma Montijense no Mundo: Andreia Pinho, 38 anos, investigadora na área da biomedicina, na Austrália. Vamos já esclarecer os quatro montijenses! Andreia é casada com João Diogo, engenheiro civil, também ele do Montijo. Tomás e Gabriel já nasceram em Sydney, mas como afirma Andreia “cá em casa somos todos montijenses”. A família vive em Bondi Beach, perto de Sydney. João Diogo é project manager numa empresa de construção e Andreia passa os dias na Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde da Macquarie University, uma das mais importantes instituições de ensino superior australianas. Agora que está explicado o número de montijenses no lar australiano desta família, vamos ao início do percurso profissional da Andreia: “desde pequena sempre gostei de ciências, em particular de Biologia. Durante o curso de Biologia fascinou-me entender como funcionava o corpo humano ao nível das células
e das moléculas. A curiosidade em saber mais levou- -me a querer seguir uma carreira em investigação na área da biologia celular e molecular”. A carreira teve uma escala inicial em Espanha. Entre 2008 e 2011, esta montijense desenvolveu o seu projeto de doutoramento no Centro Nacional de Investigação Oncológica, em Madrid. “A verdade é que nunca fiz planos a longo prazo e as oportunidades foram surgindo no meu percurso”, diz, dando como exemplo o projeto no Instituto de Investigação Biomédica da Universidade de Barcelona, realizado através do programa Erasmus, no final do curso de Biologia, que terminou em 2005 na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa: “essa experiência foi determinante porque me despertou o gosto pela investigação na área da biomedicina, mas também por viajar e conhecer novas culturas”. Nesta conjugação de novas oportunidades e gosto por viajar, Andreia aterra na Austrália em 2011 para integrar uma equipa de investigadores no prestigiado Garvan Institute e realizar a sua pesquisa na descoberta da função de novos genes no desenvolvimento e progressão do cancro do pâncreas. Por motivos culturais, a adaptação a Espanha foi “muito fácil, criámos fortes amizades com espanhóis e catalães, amizades essas que ainda hoje perduram. Quando chegámos à Austrália, sentimo-nos pela primeira vez realmente expatriados e não foi tão fácil inicialmente a integração na cultura anglo-saxónica. Penso que por esse motivo a maioria dos nossos amigos mais chegados são, tal como nós, portugueses e de outros países europeus”, explica. Nove anos depois deste início de namoro tímido com a Austrália e a cultura local, Andreia admite que “hoje adoramos viver em Sydney. Adoramos a cidade e a filosofia de vida australiana, em que se valoriza e respeita muito o passar tempo de qualidade com a família e o desfrutar da vida ao ar livre e em contacto com a natureza”. É na zona costeira de Sydney, “que é absolutamente lindíssima”, afirma Andreia, em parques com a família ou nos barbecues ao ar livre com amigos que ocupa os seus tempos livres, não esquecendo pelo meio a prática desportiva de yoga e pilates. Tempos livres que estão dependentes da intensidade do seu trabalho de investigação: “por vezes requer que se trabalhe fora do horário habitual devido a uma amostra clínica que chega ao final do dia ou uma experiência de 12 horas. Mas simultaneamente é também muito flexível e permite,

ANDREIA PINHO | 38 ANOS INVESTIGADORA BIOMEDICINA SYDNEY, AUSTRÁLIA
por exemplo, trabalhar de casa quando não há experiências a decorrer”, explica. Atualmente, Andreia está envolvida num projeto que procura descobrir os mecanismos de resistência do glioblastoma a imunoterapias. “As imunoterapias são novas terapias que visam reativar o sistema imunitário dos pacientes para que este possa reconhecer e combater o cancro. O glioblastoma é o tipo mais comum e agressivo de tumor maligno cerebral e, atualmente, não existe um tratamento eficaz para esta doença, pelo que o nosso objetivo é tentar encontrar estratégias personalizadas que envolvam a combinação de imunoterapias com outros tratamentos que melhorem a sua eficácia”. “O interessante do estudo na área do cancro, e simultaneamente aquilo que o faz tão difícil de tratar, é o facto de cada tumor individual ser uma doença diferente a nível genético. Por esse motivo é tão difícil encontrar tratamentos que funcionem para todos os pacientes. Cada vez mais a oncologia está a caminhar na direção da medicina personalizada, em que cada tumor deve ter o seu perfil genético estudado de modo a que se possa determinar qual o melhor tratamento para cada paciente”, acrescenta. Numa conversa entre portuguesas, mesmo com 18 mil 169 quilómetros a separar (pelo menos é o que diz o Google sobre a distância de Montijo a Sydney) a palavra saudade não podia faltar. São já 14 anos fora do país e da cidade onde nasceu e cresceu: “do Montijo guardo não só muitas memórias boas de quando era criança e adolescente, mas também muias amizades, que foram sobrevivendo ao tempo e a distância. É bom saber que por muito que viajemos, há sempre um sítio onde temos as nossas raízes e onde sempre nos sentiremos em casa”, afirma Andreia. Estas tais saudades de Portugal vão sendo diluídas com “muitas horas passadas no skype e no whatsapp”, até porque este ano devido à covid-19 não podem sair da Austrália: “estar longe da família é, sem dúvida o mais difícil”. Por este grande motivo, os planos a longo prazo incluem “o regresso para educar os meus filhos, para que eles, também, se possam sentir portugueses”. A nível profissional, Andreia Pinho (e não é tarde para referir que os seus créditos profissionais já lhe conferiram diversos prémios) gostaria de continuar ligada à ciência e à oncologia”, no cumprimento da ambição de “ver um tratamento descoberto pela minha equipa em laboratório, chegar efetivamente a ser utilizado clinicamente para o tratamento de pacientes”.
FERNANDO COUTO Um cidadão do mundo

FERNANDO COUTO 49 ANOS TUBISTA ALEMANHA
Opassaporte deste Montijense no Mundo já não tem espaço para mais carimbos. Canadá, País de Gales, Bélgica, Holanda, Grécia, Itália, Espanha, Guiné Conacri (República da Guiné), Noruega, Emirados Árabes Unidos (Dubai), Suíça, Áustria são alguns dos países onde já trabalhou. Agora está na Alemanha, com um desvio por paragens dinamarquesas. Fernando Couto, 49 anos, tem uma profissão altamente especializada que o leva a percorrer o mundo. É serralheiro de tubagens na construção naval, em refinarias e petroquímicas. “Em 2008 tirei um curso de serralharia de tubagens industriais. Muita gente pensa que são profissões menores, mas são profissões especializadas e muito bem remuneradas no estrangeiro. Acho que todos os trabalhos que sejam feitos com dignidade, honra e vontade devem ser respeitados”, diz. Esta sua viagem com várias escalas pelo mundo iniciou-se há dez anos, “pelas minhas filhas e família tive de procurar outro caminho. Agora tenho andado pela Alemanha e gosto muito. Aliás não penso voltar a trabalhar fora da Europa, mas depende de onde a empresa tem trabalho. Para quem tem crianças pequenas em Portugal, a questão do fuso horário faz muita diferença. É doloroso estar longe da família”. Não se considera emigrante, pois nunca fixou residência em nenhum outro país. Apenas trabalha no estrangeiro. É contratado através de

empresas portuguesas, que o procuram porque conhecem o seu profissionalismo: “sabem que sou um trabalhador que não cria problemas, pelo contrário arranja soluções, que sou dedicado e disponível. Naturalmente que trabalhamos muitas horas, incluindo sábados e domingos. Num mês trabalho dois (mais ou menos 300 horas). Não temos a família connosco e acabamos por nos dedicar a 100 por cento ao trabalho”, explica. A paragem mais longa nesta sua vasta experiência profissional no estrangeiro aconteceu no Canadá. Ali, Fernando esteve quatro anos e meio. “Dei um salto mental com a experiência no Canadá. É um país com outro rigor, onde o nível de cidadania das pessoas e das instituições é muito grande. Toda a gente devia experimentar trabalhar no estrangeiro. A nível pessoal, é uma grande aprendizagem. Quando cheguei ao Canadá dei conta que não sabia falar inglês. Hoje falo inglês corretamente, francês razoavelmente e estou a ter aulas de alemão. Tenho imensas pessoas conhecidas em todo o lado. É uma vida difícil, mas que não troco por outra”, afirma. Este ano, depois da Alemanha, Fernando já tem novo destino nesta sua viagem com várias escalas. Possivelmente, será Singapura. Certamente que as malas deste nosso Montijense no Mundo estão sempre prontas para uma nova partida até porque, tal como afirma (e com toda a razão, dizemos nós), “sou praticamente um cidadão do mundo”.
LUÍS GOMES De Sarilhos Grandes para os maiores palcos do mundo
Quando, no dia 8 de outubro próximo, o pano subir no Teatro Nacional de Praga para a estreia de Carmen, uma das mais populares óperas de Bizet, entre os protagonistas principais há sangue português… aliás montijense. Centramos, por isso, atenção na personagem D. José, o soldado que vive uma história de amor transgressiva e trágica com a sedutora Carmen. Este D. José vai ser interpretado por Luís Gomes, um dos nossos Montijenses no Mundo. No primeiro ato desta nossa narrativa, naturalmente, que contamos como tudo começou. Desde cedo que “soube que queria ser músico. Ouvia-se muita música em casa, mas não tinha ninguém na família ligado a esta área. Fui então para a Musimusa. Penso que na altura era das poucas, senão a única, escola de música que existia no Montijo. Foi aí que conheci o meu primeiro professor de canto. Foi ele que me encaminhou na direção da ópera”, conta. É depois da Musimusa que entra em cena a Escola Superior de Música e o Conservatório Nacional. Na primeira frequentou a licenciatura em guitarra clássica, enquanto no segundo tinha aulas de canto. A noção clara que, para atingir um determinado patamar na sua carreira, precisava de ultrapassar a fronteira portuguesa leva-nos ao segundo ato do percurso operático de Luís Gomes: Londres e a Guildhall School of Music & Drama. “Tinha 22 anos quando vim para Londres. Sair quase de uma aldeia (Sarilhos Grandes) para uma das maiores cidades do mundo, foi um grande passo, mas correu tudo bem. É uma escola muito intercultural, onde existia até uma grande comunidade portuguesa e isso facilitou a integração”, afirma. Neste segundo ato está um vasto conjunto de mo

mentos: a Licenciatura em Música e Mestrado em Performance de Ópera com distinção, o programa para Jovens Cantores Jette Parker e aquele dia 6 de julho de 2015 e a sua estreia como Fenton, na Falstaff de Verdi, tornando-se o primeiro cantor português a desempenhar um papel principal na Royal Opera House. “Foi muito especial sentir que tinham confiança para me dar um papel daquela envergadura. Partilhar o palco e o protagonismo com cantores famosíssimos, sentir a reação do público. Ter, por exemplo, o Ambrogio Maestri, um dos principais cantores da atualidade, a dizer que devia estar muito contente porque não se recebe tantos aplausos como recebi com aquele papel. Foi mesmo muito especial”. É com a mesma naturalidade com que está em palco perante mais de duas mil pessoas, que Luís Gomes confessa que “se em 2008, quando saí de Sarilhos Grandes, me dissessem que estaria a cantar na Royal Opera House dizia que era mentira. Sempre superou as minhas expetativas. Tinha o objetivo e a ambição, mas depois há coisas que não dependem só de nós. A partir de 2013, quando acabei a Guildhall, já viajei por sítios que nunca pensei conhecer. Nunca pensei que iria estar a viver do canto. Fico extremamente contente quando vejo que estou realmente a cumprir o sonho que tinha quando era miúdo”. Um sonho que é vivido à distância pelos familiares e amigos, que fazem parte das memórias e da vida de Luís Gomes: “tenho saudades principalmente das pessoas. E dos tempos de criança e juventude. O apoio dos colegas e dos professores da Escola Secundária Poeta Joaquim Serra foi sempre um incentivo. Quando regresso é sempre bom estar com eles”. Entramos, então, no terceiro ato desta história: o

momento atual. Luís Gomes tem cantado nos mais diversos teatros europeus, num percurso notável, onde se incluem o Prémio de Zarzuela Don Plácido Domingo Ferrer e o Prémio do Público, ambos no Concurso Operália 2018. “Tenho sido um sortudo porque já fiz muitos dos papéis que sempre sonhei fazer”, diz. Talento, sorte, mas principalmente muito trabalho até porque “este é um mundo pequeno e global. Andamos por todo o lado, tal como a concorrência. Há uma pressão constante para estarmos sempre no topo das nossas capacidades. Há muita exigência e é difícil lidar com isso. É preciso não relaxar, arranjar motivação mesmo nos momentos sem trabalho e a covid-19 cancelou muitos espetáculos. É um trabalho diário de treinar a musculatura, tal como um atleta de alta competição”. É o trabalho que aperfeiçoa a técnica “que não deve ser sentida pelo público. As pessoas não podem perceber que é difícil, devem estar confortáveis a assistir. As dificuldades só nós sabemos. Dizem-me muitas vezes que não há dois espetáculos iguais comigo. Gosto de me reinventar. É essa a beleza de ser ator. Não há duas noites iguais no teatro ao vivo”, refere. O quarto ato desta versão resumida da história de Luís Gomes é o futuro. Para além de Dom José, na Carmen que vai estrear em Praga, Luís Gomes tem já agendado voltar a participar em mais uma encenação de Falstaff, em Inglaterra, e fará o papel de Nadir, no Pescador de Pérolas de Bizet, no Teatro Campoamor/Ópera de Oviedo, em Espanha. No campo indecifrável do futuro há, também, lugar para os papéis que ainda não fez, como o Romeu da trágica peça sobre a rivalidade entre os Montecchios e os Capuletos. E para os palcos que adoraria pisar, onde se incluem o Teatro Alla Scala, em Milão, e o Metropolitan Opera, em Nova Iorque. O libretto desta história não está concluído, mas certamente que não será uma daquelas óperas de final dramático e infeliz. A certeza de Luís Gomes é que vai continuar a cantar e sempre no seu melhor nível. Por nossa conta e risco, acreditamos que este nosso montijense é uma estrela em ascensão e terá, certamente, um futuro brilhante nos maiores palcos do mundo. A nós, cabe estar do outro lado, a aplaudir de pé e a entoar bravo aos seus desempenhos e sucesso. LUÍS GOMES | 33 ANOS
TENOR LONDRES, INGLATERRA

NUNO NÓBREGA Do outro lado do Atlântico a sonhar com Portugal
Este Montijense no Mundo chegou há 11 anos ao outro lado do Atlântico, ao país irmão onde se fala português com açúcar. Nuno Nóbrega, 47 anos, vive numa cidade pequena do interior de São Paulo. Naturalmente, que num país com 209 milhões de habitantes e uma área territorial superior a 8 milhões de quilómetros quadrados, a expressão cidade pequena é muito relativa: Franca, a cidade onde reside, tem quase dez vez mais habitantes que o Montijo e fica a 500 quilómetros de São Paulo. A história deste montijense no Brasil começa em Portugal e com um casamento: o seu! Em 2006 casou com Juliana, de nacionalidade brasileira, e em 2009, já com o filho Davi, nascido em Portugal, decidiram partir para o outro lado do Atlântico, para a cidade natal de Juliana. Por trás desta decisão, esteve o cenário da crise económica que
NUNO NÓBREGA | 46 ANOS REPRESENTANTE MARCA DE VINHOS FRANCA, SÃO PAULO, BRASIL

rebentava em força no final da primeira década do século XVI em Portugal. “Durante dez anos tive uma imobiliária em Alcochete, a Lobbycasa com um sócio, José João Garrete, um dos meus melhores amigos. Depois veio a crise de 2009, a minha mulher tinha a família no Brasil e acabámos por vir à procura de uma nova oportunidade”, explica. Curiosamente, a nova oportunidade envolveu também casamentos. Durante oito anos, no seguimento do negócio familiar do sogro, Nuno foi responsável pela edição de uma revista de casamentos e eventos: “foram oito anos de muita aprendizagem. Inicialmente, a adaptação foi um pouco difícil. A nossa cultura é mais fechada. Trabalhamos de forma diferente. Aqui é tudo levado de forma mais descontraída”, diz. Terminado o projeto editorial, quis dedicar-se a algo que, de certa maneira, lhe permite manter o cordão umbilical com Portugal. Atualmente é representante de uma marca de vinhos portuguesa, a Portuga, trabalhando num segmento de mercado que é uma novidade para si, mas que tem a parte comercial e de vendas em comum com as experiências anteriores: “aliás, se alguma empresa montijense precisar de um representante comercial no Brasil podem contactar-me para nunonobrega@ gmail.com”, atira. Apesar da boa adaptação à vivência brasileira, Nuno confessa que todos os dias “penso em voltar para Portugal. É o meu país, a minha cidade. A minha mãe, Maria de Fátima, mora no Montijo, deixei lá muitos amigos. Tenho saudades de fazer coisas simples como ler o jornal no antigo café do César, ir à Mimosa que sei que fechou, andar na rua, estar com os amigos”. Na base desta vontade e pensamento está, sobretudo, um problema estrutural da sociedade brasileira: a insegurança. “O Brasil é um país de muita disparidade social e isso faz com que não exista segurança. Aqui não podemos andar à vontade na rua. Tenho que ir levar e buscar de carro o meu filho à escola. Ele brinca dentro do condomínio, mas não o pode fazer na rua. Não temos liberdade para fazer coisas simples”, conta, acrescentando o pormenor do custo de vida, “tendo em conta a diferença de vencimentos, a vida aqui está quatro ou cinco vezes mais cara que em Portugal”. Este Montijense no Mundo, que trocou o sotaque montijense pelo tal português com açúcar, tem a convicção que, mais dia menos dia, estará de regresso ao Montijo. Até lá, certamente, vai continuar a sentir saudades da simplicidade de ler o jornal a olhar para a Praça da República.
ALBERTO CONCEIÇÃO Reino de oportunidades
As próximas linhas podiam ter sido escritas por este nosso Montijense no Mundo. Afinal, o objetivo inicial era contar as histórias dos outros. Alberto Conceição, 27 anos, é formado em jornalismo, mas seguiu o caminho do marketing empresarial. Ah… e também trocou Portugal pela Dinamarca, o Montijo por Copenhaga! Mas a viagem de Alberto pelo Reino da Dinamarca começou na segunda maior cidade dinamarquesa, Aarhus. “Após a licenciatura em jornalismo, na Escola Superior de Comunicação Social, e de um ano de trabalho em Lisboa, candidatei-me e fui aceite na

Universidade de Aarhus, onde tirei o mestrado em tecnologias de informação. Estive lá dois anos e em 2019 fui para Copenhaga, que é uma cidade maior, mais multicultural e com mais oportunidades”. O percurso profissional arrancou pelas próprias mãos com a criação de uma startup “com outro amigo português e colega de curso. Concebemos uma aplicação para adeptos de futebol, que consistia em venda online de dados e analítica para clubes de futebol. Ainda fizemos algumas parcerias de marketing com clubes portugueses, mas com a covid o futebol parou, nós também já estávamos na reta final da linha de financiamento concedida pelo Estado dinamarquês e acabamos por cada um seguir o seu caminho”. O do amigo de Alberto não sabemos qual foi, mas o caminho deste jovem montijense continuou na área da comunicação, particularmente no marketing empresarial. Um percurso corporativo que começou há dez meses, em Copenhaga naturalmente, numa empresa de software para o sector bancário e financeiro: “faço tudo o que é marketing e comunicação externa da empresa. Num mundo globalizado, as empre
sas cada vez mais apostam nesta área como forma de atingir novos mercados e clientes. É um desafio muito interessante e enriquecedor, que estou a gostar muito”, afirma. Um desafio duplo, dizemos nós. Alberto não só está longe de casa, da família com quem deixou de passar o domingo e dos amigos, com os quais tem “saudades de sair ao fim de semana para beber um copo no Domvs ou no bar do Clube de Ténis do Montijo”, como está num país culturalmente muito diferente: “o primeiro ano foi complicado, até porque existem diferenças culturais e de clima muito substanciais. A questão da língua dinamarquesa, que, entretanto, já aprendi, foi um grande desafio”. “A cultura de trabalho é muito diferente. Essencialmente há mais rigor e seriedade, sobretudo, no cumprimento dos prazos. Aqui ninguém confirma reuniões um dia antes, mesmo que estejam marcadas há três semanas. O ambiente de trabalho também é muito saudável. Faz parte da cultura dinamarquesa, à sexta-feira, o escritório reunir no final do dia para tomar um copo”, exemplifica, acrescentando que “o poder negocial das empresas é mais flexível, o que nos permite até a nível pessoal ter previsão de outra evolução de carreira”. Oportunidade e evolução são, assim, os pontos de referência no caminho dinamarquês escolhido por este jovem montijense. Criou a sua rede pessoal e profissional em Copenhaga e, hoje, confessa “que está muito adaptado e feliz. Infelizmente em Portugal não existem as mesmas oportunidades. Aqui, em quatro anos, consegui fazer um mestrado de forma totalmente gratuita, criei uma empresa com o apoio estatal e muito pouca burocracia envolvida e tive oportunidade de ter um trabalho com um vencimento muito apelativo”. E o futuro? Já houve totais certezas que passaria, a longo prazo, por Portugal. As certezas foram enfraquecendo e “idealmente voltaria para estar perto dos amigos, da família, da comida, do clima e do meu clube (o Benfica). Gostava de construir família em Portugal e no Montijo, mas quantos mais tempo passo fora menos tenho a certeza desse regresso”. Enquanto as certezas não se consolidam ou a vida deste jovem montijense não leva, quem sabe, o rumo de outro qualquer local do mundo, para já o seu futuro é na Dinamarca, um dos cinco países nórdicos do mapa europeu. E só por curiosidade fica a informação genérica que o Reino da Dinamarca tem, sensivelmente, metade dos habitantes de Portugal e é constituído pela península da Jutlândia, por cerca de 400 ilhas – das quais apenas 78 são habitadas – e pelos territórios da Gronelândia e das Ilhas Faroé.

ALBERTO CONCEIÇÃO | 27 ANOS MARKETING EMPRESARIAL COPENHAGA, DINAMARCA

PAULO ARAÚJO Quando o desporto é paixão e trabalho
Asabedoria conferida pela experiência de vida deste montijense permite-lhe em breves segundos definir o plantel necessário para uma carreira de sucesso no Montijo, em Inglaterra (é e onde ele está) ou em qualquer parte do mundo. O esquema tático é fácil. Em sentido figurado, diríamos que é correr mais que os adversários. Já os craques que alinham nesta equipa são, essencialmente, três: paixão, trabalho e mais trabalho! Paulo Araújo, 51 anos, foi Head of Global Sports Marketing na conhecida marca desportiva Umbro. Antes disso passou pela Adidas e agora decidiu optar pelas ‘modalidades individuais’ e abriu o seu próprio negócio, em Manchester, aconselhando clubes, atletas, treinadores e investidores. Não! Não é uma espécie de Jorge Mendes (até porque na sua carteira de clientes não consta aquele rapaz que joga na Juventus e vale milhões). A empresa de Paulo Araújo, a SportInMind, faz consultoria desportiva: “trabalho com a imagem de atletas para a promoção de produtos. Faço, igualmente, consultoria a um clube da Premier League ao nível dos mercados da América Latina e América do Norte, recolhendo informações e fazendo avaliações técnicas de jogadores e treinadores. Neste momento, estou também envolvido em dois projetos: um de gestão desportiva de um clube de futebol para um grupo de investidores e outro para uma agência de jogadores para o desenvolvimento de uma estratégia para um mercado que querem explorar”. Paulo nasceu e cresceu em Angola até aos 10 anos, altura em que veio para o Montijo. Apaixonado por desporto, jogou futebol na cidade e acompanhou a equipa de basquetebol, elaborando estatísticas. Aos 24 anos, foi para a África do Sul trabalhar nas minas de carvão e diamantes. Seguiu-se uma passagem por Angola, a convite de uma empresa importadora/ exportadora sul africana e, posteriormente, o regresso ao Montijo. “Voltei a Portugal e, na altura, fui trabalhar na empresa de sports marketing que era do António Carlos Ramos (n.r: hoje presidente da direção da Banda Democrática 2 de Janeiro). Adorei essa experiência de organizar eventos pelo país inteiro. Depois a Adidas convidou-me para trabalhar com eles. Fiz a entrevista de calções e ténis de uma marca concorrente
PAULO ARAÚJO | 55 ANOS EMPRESÁRIO MANCHESTER, INGLATERRA

(risos). Fui manager da Adidas para o Benfica e foi uma experiência extraordinária. Depois passei para Head of Sports Marketing da Adidas Portugal e no Euro 2004 fui o Local Task Coordinator da marca”. Após a experiência na Adidas, teve a missão de reposicionar a marca Umbro no mercado português. “Correu tudo bem, tinha uma excelente equipa. Aliás nunca se consegue nada sozinho”, afirma. A chegada a Inglaterra, em 2006, deu-se a convite da marca. Primeiro esteve na parte comercial e quando foi necessário reestruturar o sports marketing entrou nessa vertente e “nos últimos 11 anos foi isso que fiz na Umbro, contactando com clubes e jogadores, tanto no futebol como no futsal”. A reestruturação na orgânica da Umbro, realizada em fevereiro passado, levou este montijense a um novo rumo na sua vida: “nunca pensei sair da empresa, mas abriram-me a porta de saída e lancei-me nesta veia empreendedora. A minha empresa ainda não é muito grande, nem aspiro a isso. Claro que tenho objetivos comerciais, mas quero apenas que seja uma empresa que faça as coisas bem, com vontade, emoção e paixão”. Trabalha em casa e faz questão de ser disciplinado, “faço o meu horário, que começa às 8h30. Se passa dessa hora já sinto que estou a chegar atrasado ao serviço. Trabalho umas 10 horas por dia. Se tiver reuniões tenho que sair. Quando tenho projetos mais intensos em curso até me esqueço das horas”. Possivelmente o futuro será na Inglaterra, “até porque os dois filhos gémeos já estão muito habituados ao país”. Já, Paulo confessa que “não tenho esse tipo de ligação aos sítios. Enquanto estou, adapto-me aos hábitos e à cultura. Não sobrevivo aqui em Inglaterra, sempre com o pensamento em Portugal. Eu vivo aqui. Claro que adoro ir a Portugal e aproveitar ao máximo”. Ainda com ligações familiares e afetivas ao Montijo, recorda as brincadeiras de criança e adolescência na Praça da República, os tempos do liceu, as Festas de São Pedro, as discotecas do Café Portugal e da Banda, os amigos do futebol e do basket, os couratos na Taberna do 5, as caracoladas e, até, o sotaque montijense: “eram outros tempos em que todos se conheciam. O Montijo mudou muito, quem lá está diariamente pode não reparar, mas a cidade cresceu imenso”. O segredo para este sucesso profissional na área do marketing desportivo assenta, na realidade, nas mesmas premissas que para qualquer outra profissão. Terminamos indo ao encontro do nosso início, mas agora nas palavras deste Montijense no Mundo: “tens de dar mais do que aquilo que pedem, trabalhar mais do que queres e pôr emoção e paixão no que fazes. Só assim é possível ter sucesso”.
ANTÓNIO DOS SANTOS NUNES No topo da montanha do e-commerce
Empreender. Criar. Liderar. São três verbos. E os verbos implicam ação. E agir é, sem dúvida, outro verbo que assenta perfeitamente a António dos Santos Nunes. Aos 31 anos, tem um percurso académico e profissional invejável em qualquer parte do mundo. O mesmo mundo que já percorreu, mas que não lhe faz esquecer as Festas de S. Pedro ou os croissants do Parque. Vamos por partes, porque há muito para contar sobre este Montijense no Mundo. A história começa no Montijo, prossegue na Universidade Católica e, para já, o episódio atual denomina-se Instaleap e é a empresa que fundou no imenso mercado da América Latina. De forma resumida (e admitimos algo simplista), a Instaleap fornece tecnologia de ponta a supermercados e a retalhistas para que possam operar entregas ao domicílio. O que significa isto? Que a empresa, da qual António dos Santos Nunes é fundador e CEO-Chief Executive Officer, é uma das principais responsáveis por fazer chegar, em menos de uma hora, aquele pack de uma famosa cerveja mexicana ou o café colombiano a qualquer

casa situada entre o México e o Chile (e entre estes dois, há outros 18 países a compor o território da América Latina). É assim um mercado gigantesco, com um potencial de 500 milhões de consumidores que surgiu por casualidade na vida deste montijense. E aqui, é importante colocar em pausa o episódio atual e voltar atrás para perceber como se passa do Mon
tijo para o mundo. A viagem de António dos Santos Nunes começou na Universidade Católica; passou pela criação da MOVE, uma ONG em Moçambique de apoio a microempreendedores, que, mais tarde, se estendeu para Timor e São Tomé e Príncipe; fez escala corporativa na McKinsey (uma das mais importantes consultoras internacionais) e um certo dia, em 2012, a tal casualidade, aconteceu quando conheceu o fundador da Rocket Internet e com ele veio o desafio de trabalhar na área do e-commerce na América Latina. Neste caminho há um fio condutor, à primeira vista impercetível, mas que faz toda a diferença: o empreendedorismo encarado com sentido de missão, em que a vontade de materializar uma ideia é assumida como uma mais valia para a sociedade. “Há uma vontade inata de criar algo que não existia e de lutar, fazer sacrifícios por materializar essa ideia. Mas o que está por trás de criar uma empresa, para mim, não é fazer dinheiro. É um sentido de missão, de criar algo que é importante. A Instaleap tem 60 colaboradores, mas o negócio possibilita que, indiretamente, milhares de pessoas tenham emprego”, explica António. Antes da Instaleap, foi cofundador do portal Linio, uma espécie de Amazon da América Latina: “um projeto que correu muito bem. Acabámos por vender a empresa à Falabella, um dos maiores grupos empresariais da América Latina, numa transação de várias centenas de milhões de dólares”, conta. Seguiu-se a criação da Mercadoni, a antecessora da Instaleap já no campo da tecnologia aplicada aos grandes retalhistas. Esta veia empreendedora parece ter culpados na família: “um dos meus bisavôs, Francisco Braz da Cruz, veio do Algarve, para montar fábricas de cortiça no Montijo. De alguma maneira, este bichinho de ser empreendedor e começar coisas tem passado na minha família”. Já o percurso académico e profissional brilhante é fruto da inteligência e da capacidade de trabalho de António. Parece-nos suficiente exemplificar isto com este facto: terminou o curso de Economia na Católica com a melhor média do ano e um prémio do Banco de Portugal. A mesma dedicação, que lhe permitiu resultados académicos de excelência, é a arma para o sucesso profissional. Trabalha entre 12 a 14 horas por dia, “há um grande esforço e muito trabalho, mas tenho a sorte de ter um trabalho que pagaria para fazer”, diz. Pelo meio das 12 horas diárias de trabalho (e ao

ANTÓNIO DOS SANTOS NUNES 31 ANOS CEO INSTALEAP BOGOTÁ, COLÔMBIA
contrário do que possa estar a pensar) há tempo para muita coisa: montar a cavalo “todos os dias às 6h00”, yoga três vezes por semana, boxe duas vezes por semana, viajar, fazer hiking (subir montanhas) e acompanhar a agenda cultural, em particular de música clássica, da cidade onde está (António vive entre Bogotá e São Francisco, nos EUA). Regressando ao momento atual, a Instaleap está focada no mercado da América Latina: “acho que é um mercado muito interessante para a área do e-commerce, tem um grau suficiente de desenvolvimento com uma classe média vasta que está em crescimento. No futuro, a oportunidade de criar coisas novas passa pela tecnologia que permita que o comércio eletrónico seja cada vez mais relevante na vida das pessoas”. Pelo meio deste focus no mercado latino-americano, a empresa está a alargar o seu target market, com a entrada em Portugal, através de contratos já firmados com a Sonae e a Jerónimo Martins, o que “foi um bocadinho voltar às origens”, refere António, apesar de confessar que “gosta de estar fora. Não diria necessariamente que Portugal é a minha casa. Portugal é o meu país e com muito orgulho. Continuo a viver o ser português em qualquer sítio do mundo”. Das duas vezes por ano que regressa a terras lusas, há paragem obrigatória no Montijo para passar o Natal com a família. Da terra onde cresceu, tem memória das escolas que frequentou (EB Ary dos Santos, D. Pedro Varela e Secundária Jorge Peixinho), das Festas de S. Pedro “que gostava muito” e da primeira ida ao cinema no Centro Comercial Parque. Ah!! E existem, também, as lembranças gastronómicas, em particular, os croissants da croissanteria do Parque e os pães de leite da Majopá. Este jovem montijense acredita que o futuro será “em qualquer sítio onde me apeteça estar e, seguramente, com o projeto de construir algo que me emocione. O que me apaixona é poder escolher projetos nos quais acredito, ideias que podem ter impacto positivo na vida das pessoas e dedicar- -lhes muito esforço e energia”. Aos 31 anos, António dos Santos Nunes é o exemplo perfeito de muitos jovens empreendedores que, na cena internacional, estão a dar cartas na área empresarial. Depois de o entrevistarmos não temos dúvidas que, tal como gosta tanto de fazer, continuará a subir com sucesso todas as montanhas profissionais, que ainda estejam por descobrir neste seu caminho pelo mundo.
FÁTIMA VALE “Adoro a minha terra”
Até no frio rigoroso do Canadá saltam à vista as características desta nossa montijense: é energética, simpática e muito conversadora. Há dez anos, após o casamento com um luso-canadiano, Fátima Vale (talvez boa parte dos leitores a conheça como Fatinha da Ti Maria) trocou o Montijo por aquele que é o segundo maior país do mundo. Agora está a preparar o regresso a Portugal. Aliás senão fosse a pandemia já estava na porta de embarque e não teríamos oportunidade de incluí-la neste nosso leque de Montijenses no Mundo. “Tinha as malas feitas para ir em maio passado, mas agora não sei, provavelmente para o ano, talvez na primavera”, diz, acrescentando de imediato que “nasci e fui criada no Montijo. Adoro a minha terra”. Será, assim, um regresso às origens. Fátima partiu para o Canadá após o falecimento da mãe, “queria fugir do Montijo e das recordações que me trazia”, diz. A mãe, a Ti Maria que hoje Fátima traz na alcunha pela qual é conhecida por muitos montijenses, era proprietária do Ti Maria, um dos mais conhecidos restaurantes do Montijo, primeiro localizado na Rua Miguel Pais e, posteriormente, na Rua Miguel Bombarda (onde hoje existe com o nome Lucas e Ti Maria). Por enquanto, Fátima segue a sua vida no Canadá, onde trabalha numa padaria/pastelaria de origens portuguesas. Cozinheira de profissão e vocação, atualmente está na linha da frente, no atendimento ao balcão: “queria ir para cozinha, mas a patroa diz que tenho de estar no balcão porque vendo muito”, diz, entre risos. E, apenas com 30 minutos de conversa, acreditamos que assim seja! A energia, simpatia e boa disposição de Fátima são contagiantes. Atributos que, certamente, foram muito úteis na adaptação com facilidade ao Canadá: “adaptei-me muito bem. Quando cheguei mal falava inglês e ao fim de dois meses já conhecia imensas pessoas. Adorei o país. O Canadá é muito bonito. É tudo muito limpo e arranjado”. Vive em Kitchener, província de Ontário, uma cidade pequena, obviamente, para as dimensões canadianas. Tem ‘apenas’ 250 mil habitantes: “estamos aqui há dez anos, não temos cá família, até os meus sogros estão em Portugal. A vida aqui também está cada vez mais cara e preciso do clima português. É muito complicado lidar com a neve. São oito meses de neve até aos joelhos. Até por questões de saúde estou a precisar de sol e de praia”, explica. Quando regressar ao Montijo temos a certeza que irá matar saudades “dos caracóis e do marisco no Café do Moura ou das sardinhas da Maré Cheia”, mas que, principalmente, terá muitos amigos de braços abertos a recebê-la de volta, com a mesma generosidade que ela dedica aqueles que, no Montijo, no Canadá ou em qualquer outra parte do mundo se cruzam na sua vida.


FÁTIMA VALE 55 ANOS COZINHEIRA KITCHENER, CANADÁ
COVID-19 Montijo fornece EPI’s ao sector social
OMunicípio do Montijo tem dado continuidade à sua política de apoio às instituições particulares de solidariedade social (IPSS) no contexto da covid-19, agora com o reforço do fornecimento de mais de 7 630 equipamentos de proteção individual (EPI’S). No total, foram entregues 3468 luvas, 3341 máscaras, 549 batas e 279 toucas para serem utilizadas pelos trabalhadores das IPSS e outras associações do sector social que têm valências de lar de idosos, serviço de apoio domiciliário, creche, pré-escolar ou que integram a Rede de Apoio Alimentar do concelho. Os EPI’s destinaram-se ao Centro Social de S. Pedro do Afonsoeiro, Centro de Convívio de Reformados Pensionistas e Idosos do Montijo, Associação Caminho do Bem Fazer, União Mutualista Nossa Senhora da Conceição, Centro de Ação Social Cultural das Faias, ALIP- Associação do

Lar de Idosos de Pegões, Casa do Povo de Canha, Santa Casa da Misericórdia do Montijo, Associação Infantário Bairro do Mouco (O Salitão), Santa Casa da Misericórdia de Canha, Centro Paroquial do Montijo, Cercima, Centro Social e Paroquial N.ª Sra da Atalaia, Trilho dos Sorrisos, Associação Pontes de Afeto, Cáritas da Atalaia e Grupo Sócio Caritativo do Afonsoeiro. Esta decisão junta-se a outras medidas municipais de apoio ao sector social na resposta à pandemia. Para além de, em várias ocasiões, já terem sido entregues equipamentos de proteção individual, a autarquia montijense, também, procedeu à aquisição de equipamentos “Box das Emoções” e de túneis de higienização, ao financiamento de testes de despistagem ao novo coronavírus nas IPSS com lares de idosos, ao reforço financeiro para a Rede de Apoio Alimentar do concelho, entre outras ações.

ASSOCIATIVISMO
Câmara apoia Motoclube do Montijo
ACâmara Municipal do Montijo aprovou um novo apoio ao Motoclube do Montijo, no âmbito dos trabalhos em curso de construção da nova sede da associação. São cerca de 11 mil euros que se destinam à aquisição de um balcão para a zona social da sede. O apoio foi aprovado na reunião de câmara de 22 de julho, com os votos a favor do PS e da CDU e o voto contra do PSD. Recorde-se que a autarquia já tinha concedido um apoio financeiro de 50 mil euros para a execução da nova sede do Motoclube, localizada na Alameda Pocinho das Nascentes, tendo igualmente isentado a associação do pagamento das taxas urbanísticas, no valor de 12 mil e 781 euros. O presidente da câmara, Nuno Canta, sublinhou que o Motoclube é “uma associação com evidente atividade e capacidade de atuar a nível social e económico”, ressalvando que a mesma tem “elevado o nome do Montijo um pouco por todo o país e realizado eventos que atraem, a nível local, muitos visitantes”.
DESPORTO Academia Bairro Miranda com Bandeira de Ética
AAcademia Desportiva Infantil e Juvenil Bairro Miranda recebeu, no dia 8 de julho, a Bandeira da Ética atribuída pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) no âmbito do Plano Nacional de Ética no Desporto. A bandeira foi entregue pela diretora regional de Lisboa e Vale do Tejo do IPDJ, Eduarda Marques, e certifica o compromisso da Academia Bairro Miranda que passa, assim, a fazer parte de uma comunidade atualmente restrita de instituições comprometidas com a ética no desporto e reconhecidas pelo trabalho que desenvolvem nesta área. A Câmara Municipal do Montijo associou-se a este momento com a aprovação, na reunião de câmara do mesmo dia, de um voto de saudação ao clube pela obtenção da Bandeira da Ética e pelo papel que desenvolve no concelho enquanto agente desportivo, em concreto na modalidade de futsal. A Academia Bairro Miranda tem desenvolvido várias iniciativas no quadro da ética no desporto. Na temporada 2018/2019, a equipa de futsal do escalão de Benjamins recebeu, por parte da Associação de Futebol de Setúbal, o Cartão Branco/Fair Play, prémio que incentiva as boas práticas competitivas no âmbito do Troféu de Ética Desportiva do IPDJ. Fundada a 13 de fevereiro de 2003, a Academia Desportiva Infantil e Juvenil Bairro Miranda está sediada no Alto Estanqueiro e tem como principal atividade o futsal.

INVESTIMENTO Reabilitação da EB Afonsoeiro
ACâmara Municipal do Montijo voltou a abrir concurso público para a execução da reabilitação da Escola Básica do Afonsoeiro/Centro Escolar do Afonsoeiro. A empreitada tem um preço base de 1 milhão e 065 mil euros mais IVA e um prazo de execução de 360 dias. Recorde-se que, em maio de 2019, esta obra já tinha sido alvo de um concurso, no valor de 826 mil euros, que não registou quaisquer concorrentes. Este novo concurso, de preço base mais elevado vai obrigar à reprogramação da candidatura a fundos comunitários que já havia sido aprovada. A intervenção na EB do Afonsoeiro contempla a construção de um edifício de pré-escolar com quatro salas de aula, a ampliação do refeitório, a remodelação do polidesportivo, a substituição da cobertura e de outros elementos no edifício de Plano Centenário e a requalificação de todo o espaço de recreio. A obra tem uma importância histórica, pois fecha o ciclo de investimentos de pré-escolar inscritos na Carta Educativa de 2009, possibilitando que o concelho tenha uma cobertura de praticamente 100 por cento na rede pré-escolar.

AÇÃO SOCIAL Equipa para a Igualdade da Vida Local
ACâmara Municipal do Montijo criou a Equipa para a Igualdade na Vida Local (EIVL), constituída por dez elementos e tendo como competências propor, conceber, coordenar, implementar, acompanhar e avaliar as medidas e as ações desenvolvidas no âmbito do Plano Local para a Igualdade e Cidadania. A EIVL é composta por Ricardo Bernardes, vereador do pelouro da Ação social; por Rute Marcelino e Marina Birrento, da Divisão de Desenvolvimento Social e Promoção da Saúde; e por representantes de diversas áreas de trabalho, nomeadamente, urbanismo, desporto, juventude, educação, cultura, intervenção social e da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens do Montijo. vai assinalar a Semana Europeia da Mobilidade, que decorre de 16 a 22 de setembro, através de várias iniciativas. Com o objetivo de ser o primeiro continente neutro em termos de clima até 2050, o tema central da edição da Semana Europeia da Mobilidade 2020 é “Emissões Zero, Mobilidade para Todos”. Neste contexto, o programa municipal de comemoração inclui ações de sensibilização com divul

Na primeira reunião da EIVL, que teve lugar na sala multiusos da Quinta do Saldanha, no dia 9 de julho, o vereador Ricardo Bernardes referiu que “estamos num período em que se afirma a importância de tratar de novos temas, que hoje são prioritários pois dizem respeito a problemas muito concretos e práticos da vida das pessoas e por isso, também, têm a faculdade de conferir, aos mesmos, um caráter mais prático e utilitário. Um desses temas é a igualdade”. A equipa, agora constituída, irá adquirir os conhecimentos que necessita para determinar as melhores estratégias, dentro das respetivas áreas, para que a política pública de igualdade e não-discriminação seja disseminada por todas as áreas de intervenção
16 A 22 DE SETEMBRO Semana Europeia da Mobilidade
Como habitualmente, o Município do Montijo que se considerem prioritárias. gação no site da câmara e nas redes sociais, com dicas, sugestões e curiosidades como forma de assinalar a importância desta temática. Os mais jovens poderão, ainda, descarregar a nova aplicação PeddyApp, um projeto da S.Energia. De uma forma original e inovadora, a aplicação incentiva os alunos a deslocarem-se a pé desde a sua casa até à escola, através de um registo dos trajetos efetuados, competindo pela atribuição de prémios.
AÇÃO SOCIAL
ACâmara Municipal do Montijo deu início a dois projetos sociais que vão reforçar as respostas concelhias de apoio a situações de emergência social: o “(C) Asas - Projeto de Capacitação de Grupos Vulneráveis” e o Centro de Acolhimento para Pessoas em Situação de Emergência Social. No primeiro caso, o município viu aprovada a candidatura submetida em 2019 ao POR Lisboa 2020. O projeto tem como principal objetivo o apoio a pessoas em situação de sem abrigo e de risco de virem a ficar nessa condição. Será desenvolvido em três anos, perspetivando-se a realização de três grandes ações e respetivas atividades. Em termos de recursos financeiros, prevê um investimento global de cerca de 360 mil euros, financiados a 50 por cento. Ao nível dos recursos humanos serão contratados três técnicos superiores. A autarquia arrancou, também, com a criação do Centro de Acolhimento para Pessoas em Situação de Emergência Social, a sediar num fogo de habitação social e cuja gestão estará a cargos do Centro de Convívio de Reformados, Pensionistas e Idosos do Montijo. “A nossa estratégia para pessoas em situação de emergência social passará assim por dois eixos, que devem trabalhar articuladamente: o de proporcionar abrigo, imediato e urgente a quem dele possa precisar, e o de trabalhar as condições de autonomização para libertar as pessoas da situação de dependência e vulnerabilidade”, afirmou Ricardo Bernardes, vereador com o pelouro da Ação Social.
CULTURA CTJA reabre com O2
Atemporada 2020/2021 do Cinema-Teatro Joaquim d’ Almeida inica no dia 12 de setembro, pelas 21h30, com o espetáculo multidisciplinar “O2”, uma nova produção da Companhia PIA – Projectos de Intervenção Artística. A performance vai decorrer no Largo do Cinema e é de entrada gratuita. “Num futuro frágil e incerto, emerge um mundo entorpecido pela desenfreada modernização, suspenso pelas poucas memórias que ainda ecoam em corpos resilientes na procura incessante do elemento vital que lhes suporta a vida.” O2 trata-se da nova produção da Companhia PIA, uma performance que, através das linguagens do teatro físico e das formas animadas, convida o espectador a uma reflexão sobre como poderia sobreviver uma sociedade, onde a tecnologia desvanece as relações humanas e o acesso ao oxigénio se torna um luxo. Um projeto de arte pública intercultural, que nasce na cidade de Macau, onde registos de níveis alarmantes de partículas poluentes começam a ser recorrentes. Um cenário idílico, mas por razões inapropriadas, para a criação de uma obra que surge com o intuito de sensibilizar os demais a uma, cada vez maior, necessidade de se encontrar práticas sustentáveis como forma de superar as adversas alterações ambientais que se tornaram, hoje em dia, transversais a todos.

CTJA Lições de Voo
OTeatro de Marionetas do Porto vai aterrar no próximo dia 19 de setembro, a partir das 16h30, no Cinema-Teatro Joaquim d’ Almeida para “Lições de Voo”. Um espetáculo de marionetas para maiores de três anos e com entrada gratuita. “Lições de voo” é o nome de uma série de ilustrações de João Vaz de Carvalho, as quais serão usadas para a criação do espetáculo com o mesmo nome. Esta ideia dá sequência a uma experiência de colaboração realizada em 2013 em “Pelos Cabelos”, a qual se revelou muito estimulante. Espetáculo para dois atores, com marionetas e semi marionetas, cujo conceito é o desejo de voo, o secreto desejo humano de realizar o irrealizável. É uma criação para maiores de três anos sobre a poética do ar, dos sonhos e do voo, num lugar especial onde cada um pode experimentar a leveza do corpo, a suspensão e a emoção de descolagem. “Lições de voo é a nossa viagem com o público até lá, onde todos somos pessoas/pássaros do vento. Aqui o Tempo mostra que também pode ser um lugar, um lugar cheio de encanto onde as histórias viajam, de lá para cá e de cá para lá! Será que estes lugares existem? Será que queres que eles existam? Só depende de ti e dos teus sonhos, da tua imaginação…Vem descobrir connosco!”

SMAS MONTIJO Requalificação do reservatório de Pegões Velhos
Os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS Montijo) procederam à reabilitação do Polo de Abastecimento de Água de Pegões Velhos, num investimento de 90 mil euros. Numa primeira fase os trabalhos incluíram a reparação e proteção das superfícies exteriores do reservatório elevado, incluindo tratamento de armaduras corroídas, caseta de apoio e vedação, serralharias e a substituição da vedação exterior do recinto. Numa segunda fase, também já concluída, procedeu-se à reparação e impermeabilização de superfícies interiores da cuba do reservatório que apresentava elevada degradação, incluindo a substituição de tubagem interior. Dadas as características do sistema de abastecimento de Pegões Velhos, onde não existe redundância de abastecimento, houve necessidade de recorrer a um sistema alternativo e amovível de reserva e distribuição de água durante os trabalhos. A obra integra o Plano de Manutenção dos Reservatórios de Abastecimento Público dos SMAS Montijo, que se iniciou com a reabilitação dos reservatórios das Taipadas e dos Afonsos, representando um investimento total de 350 mil euros. A reabilitação dos reservatórios de água municipais é fundamental na proteção da saúde pública por forma a garantir a qualidade da água distribuída às populações, pelo que os SMAS Montijo continuam a desenvolver este trabalho na convicção que é um contributo para a qualidade de vida de todos os montijenses.

BE Milhões
O nosso país prepara-se para receber, num prazo de 9 anos, quase 60 mil milhões de € em transferências da Europa, conforme acordado entre os governos europeus. Estes fundos milionários serão repartidos pelos vários países da Europa. Das várias designações e nomes dos fundos importa sim saber que tipo de acordo irá ser feito e que contrapartidas irão ser pedidas. Importa saber como se irá efetuar o investimento e quais as regras e fiscalizações que o Estado Português irá implementar. O nosso Governo aceitou um acordo milionário com o objetivo de trazer muito dinheiro, sendo que ele é necessário essencialmente para desenvolver a economia
Espaço Oposição
portuguesa e contribuir decisivamente para inverter a dependência que temos do estrangeiro. A questão que também se coloca é que valores serão a fundo perdido ou de empréstimo. Se forem de empréstimo, como na época da Troika, uma certeza existe, o empobrecimento das famílias e empresas será asfixiante. Esta é a altura em que o Governo/Estado português será posto à prova pela capacidade, ou não, da definição estratégica de desenvolvimento do nosso país. Uma certeza sai também desta pandemia, o turismo e os serviços, embora catalisadores e multiplicadores de atividades económicas, não podem ser o principal pilar da economia portuguesa. A atual ausência de turistas está a aniquilar milhares de empregos e de micro e pequenas empresas e a empobrecer o país. Quanto melhor Portugal gerir esta fase mais justo e rico será. Terá de ser edificada uma estratégia de crescimento do país que impeça os despedimentos e o empobrecimento das populações. Os portugueses merecem viver melhor e com perspetivas de trabalho e estabilidade. Caso contrário será mais uma oportunidade perdida.
Ricardo Caçoila Bloco Esquerda Montijo
PSD A insustentável leveza do ser...
No mandato de 2013/2017, Nuno Canta inebriou-se da síndroma do Calimero, e foi vê-lo desculpar-se frequentemente da sua inépcia na gestão do município. A culpa era sempre dos outros, demonizando assim a oposição, aliás a sua desculpa favorita, visto que para ele, responsabilidade é um conceito estranho neste modelo de gestão anacrónica e sem rumo. Fruto desta síndroma e desfrutando grandemente dos ventos do efeito António Costa, Nuno Canta alcança nas eleições uma maioria absoluta para o mandato de 2017/2021. Ora, pensávamos nós, que era agora, que as coisas iam melhorar, livre do embaraço da oposição, a sua gestão ia finalmente fluir demonstrando o seu grande valor político e governativo. Puro engano, este, para mal de todos nós, as coisas não melhoraram, porque aquilo que não foi feito em minoria, por causa supostamente da oposição, em maioria continua a não ser feito, só por isto já dá para ver o alcance de quem nos governa escondido atrás de falácias. Este modelo de gestão completamente falida, basta ver a maneira atabalhoada como reagiu ao impacto do COVID-19 sempre a reboque de outros, e que já não consegue assegurar os serviços essenciais, arrasta-se pesarosamente socorrendo-se da subsidiodependência para alimentar uma certa clientela e perpetuar-se no poder, que, cada vez mais lhe vai fugindo, fruto da sua inépcia governativa. Durante anos induziram-nos em erro afirmando que o município era gerido por um homem de génio, seria melhor que num futuro próximo fosse gerido por um homem como os outros, mas com coragem, determinação e ambição.