Mulheres na Caatinga: detentoras de saberes e cuidadoras da agrobiodversidade no Sertão do Pajeú

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Mulheres na Caatinga: detentoras de saberes e cuidadoras da agrobiodversidade no Sertão do Pajeú – Pernambuco

Adreanne Maria Lima Bem Ana Cáscia Leal Anastácia Brandão de Melo Áurea Palloma Bezerra Barbosa Véras Laeticia Jalil Leydiane de Oliveira Galdino Lorena Lima de Moraes Michelly Aragão Guimarães Costa Resumo: As mulheres rurais exercem um papel fundamental a nossa sociedade. Seu trabalho produtivo, reprodutivo, do cuidado e do bem estar da família, são atividades essenciais para a sobrevivência e reprodução das famílias do campo. Apesar da importância do seu trabalho, as características intrínsecas da agricultura familiar – a cultura patriarcal, classista e latifundiária, acarretam na invisibilidade e na desvalorização do trabalho produtivo, doméstico e de cuidados das mulheres na ordem familiar. Assim, o presente estudo tem como objetivo apresentar o projeto “Mulheres na Caatinga” enquanto ação da Casa da Mulher do Nordeste (CMN) em parceria com o Núcleo de Estudos, Pesquisa e Práticas Agroecológicas do Semiárido – NEPPAS/UAST/UFRPE a fim de visibilizar o conhecimento tradicional das mulheres rurais e quilombolas acerca do bioma Caatinga. Desta forma, o estudo se deu em cinco grupos de mulheres localizados nos municípios de Mirandiba, Santa Cruz da Baixa Verde, Serra Talhada e Triunfo, no Sertão do Pajeú - PE. Buscamos, por meio do resgate de saberes, da valorização e da identificação do conhecimento tradicional das mulheres sobre os usos das plantas endêmicas da Caatinga – que não tem “valor” e por vezes não é reconhecido por elas –, visibilizar seu papel na preservação do bioma e na construção do conhecimento agroecológico. Palavras chaves: mulheres rurais, conhecimento tradicional, relações de gênero, Semiárido, agroecologia.

INTRODUÇÃO O presente artigo tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre o Projeto “Mulheres na Caatinga” que veem sendo desenvolvido desde junho de 2013 como uma das ações desenvolvidas pela Casa da Mulher do Nordeste1 (CMN) em 1

A Casa da Mulher do Nordeste É uma organização não governamental feminista, fundada em 1980, localizada em Pernambuco. No estado, possui dois escritórios: Recife e Afogados da Ingazeira (Sertão do Pajeú). A CMN tem como missão contribuir com a ação produtiva e política das mulheres pobres do Nordeste, visando à igualdade de gênero e a transformação social às mulheres rurais e urbanas. Como orientação, busca por meio do feminismo, dos princípios da agroecologia e da economia solidária facilitar o empoderamento econômico e político das mulheres (CMN, 2012).


parceria com o Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido – NEPPAS/UAST/UFRPE2 junto às mulheres rurais3 do Sertão do Pajeú de Pernambuco. O projeto “Mulheres na Caatinga” tem como objetivo principal conhecer os olhares das mulheres sobre o bioma Caatinga, assim como: i) Compreender as representações simbólicas acerca do bioma pelos grupos de mulheres e, ii) identificar o conhecimento tradicional das mulheres sobre os usos cotidianos das plantas endêmicas da Caatinga. Para tanto, a pesquisa atuou nos grupos de mulheres4 alocados nos municípios de Mirandiba, Serra Talhada, Triunfo e Santa Cruz da Baixa Verde, tendo como proposta metodológica a pesquisa exploratória, bibliográfica e de campo, a partir da abordagem qualitativa e quantitativa. Foram recorrentes também, entrevistas e metodologias participativas com as mulheres na construção de oficinas e formações sobre as relações de gênero, feminismo e agroecologia. Tal como, levantamento, coleta e catalogação dos usos das plantas identificadas por elas em suas comunidades. Desta forma, apresentaremos um breve contexto sobre o Sertão do Pajeú e as diferentes realidades que as mulheres rurais vivenciam, os desdobramentos que o projeto tem favorecido para visibilizar o trabalho, o conhecimento e os saberes dessas mulheres a partir da perspectiva feminista e agroecológica de transformação social no campo.

A BIODIVERSIDADE E AS RELAÇÕES DE GÊNERO NO SEMIÁRIDO O território Sertão do Pajeú5 encontra-se na região Semiárida de Pernambuco tendo como característica longos períodos de estiagem, adventos naturais do clima que 2

O NEPPAS é apoiado pela chamada 81/2013 CNPq.

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Neste trabalho a categoria de mulheres rurais compreende as mulheres trabalhadoras rurais, as agricultoras familiares, as assentadas da reforma agrária, agroextrativistas, pescadoras artesanais, aquiculturas familiares, indígenas e quilombolas. 4

A pesquisa atuou nos grupos de mulheres das seguintes comunidades: comunidade quilombola Feijão e Fórum de Mulheres de Mirandiba; assentamento Carnaúba do Ajudante – Grupo Reciclarte (Serra Talhada); comunidade Santo Antônio de Coroas – Grupo Girassol (Triunfo) e nas comunidades São José dos Pilotos – Grupo Doce Esperança e Lagoa de Almeida – Associação Mulher Flor do Campo em Santa Cruz da Baixa Verde. 5

O Território Rural do Sertão do Pajeú é composto por 20 municípios, sendo: Brejinho, Itapetim, São José do Egito, Tuparetama, Santa Terezinha, localizados no alto Pajeú na região da nascente do Rio; Ingazeira, Tabira, Solidão, Afogados da Ingazeira, Iguaraci, Carnaíba e Quixaba, na zona intermediária entre a nascente e a região mediana do Vale; Flores, Triunfo, Calumbi, Santa Cruz da Baixa Verde, Serra Talhada, São José do Belmonte e Mirandiba, localizados na região central do sertão e nos meados do Vale. Por fim, o município de Sertânia, que apesar de fazer parte da bacia hidrográfica do Moxotó, foi integrado ao Território Rural do Sertão do Pajeú pelos critérios do MDA/SDT (O TERRITÓRIO DO SERTÃO DO PAJEÚ, 2012).


associados ao desconhecimento da população sobre as adversidades e fragilidades da região, contribuem para a degradação ambiental e para a pobreza da população (O TERRITÓRIO DO SERTÃO DO PAJEÚ, 2012). O Bioma Caatinga é reconhecido pela UNESCO como patrimônio da humanidade6, onde sua única incidência ocorre no semiárido brasileiro. A Caatinga é a fonte insubstituível de madeira, alimentos, fitoterápicos, e diversos outros produtos não madeireiros utilizados em rituais festivos e sagrados, em confecções de artesanatos, proporcionando aos povos e comunidades serviços ambientais que atendem a maior parte das necessidades imediatas para a reprodução de suas famílias e culturas (EMBRAPA, 2007). A rica diversidade da flora da Caatinga traz em si uma farmácia natural, onde se encontra uma grande quantidade de plantas medicinais, cujos princípios ativos têm funcionalidade de aliviar e tratar certos males que afetam o equilíbrio e a harmonia do conjunto corpo - mente, além de significarem um escape quanto ao uso dos remédios de composição química de alto custo para as comunidades rurais. Tendo em vista o potencial das plantas medicinais na Caatinga, as mulheres representam um papel fundamental na preservação da biodiversidade, que estiveram historicamente avante no cultivo das plantas medicinais e das práticas de medicina caseira. Segundo Siliprandi (2009), as mulheres tem uma participação fundamental para o manejo ecológico dos recursos naturais e na conservação dos agroecossistemas na agricultura familiar. Historicamente são as mulheres que acumularam um vasto conhecimento sobre o manejo das sementes, desempenhando um importante papel na conservação da biodiversidade e domesticação das plantas, “demonstrando em muitas regiões do mundo um significativo conhecimento sobre as espécies de recursos genéticos e fitogenéticos, e assegurando por meio de sua atividade produtiva as bases para a segurança alimentar de toda a família” (PACHECO apud SILIPRANDI, 2009, p. 120).

Contudo, a pouca disponibilidade de recursos hídricos comuns às zonas semiáridas resulta em uma dependência direta da utilização de recursos naturais e biodiversidade da região. Segundo Melo (2010), no sertão é a mulher que controla a distribuição da água na casa, usada para beber, na preparação dos alimentos e na higiene

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Ver: http://www.mma.gov.br/informma/item/9287-homenagem-%C3%A0-caatinga


pessoal da família. Em épocas de forte estiagem e secas generalizadas, o trabalho da mulher se torna mais cansativo e penoso - em razão das dificuldades para realizar o abastecimento da casa e também porque a qualidade da água fica comprometida -, causando doenças que atingem na maioria dos casos as crianças e os animais, que estão sob seus cuidados (MELO, 2010). A agricultura familiar, caracterizada pela divisão sexual do trabalho, reproduz a ideia de que há uma separação de tarefas, definindo assim, o que é trabalho de homem e trabalho de mulher (SILVA, 1999).

Neste sentido, às mulheres são destinadas

atividades que envolvem a responsabilidade pelo cuidado com as crianças e idosos, a gestão da água, o cuidado com o ambiente doméstico e segurança alimentar da família, por meio de criação de pequenos animais e quintais produtivos. No entanto, sabemos que no meio rural a divisão sexual do trabalho não se estabelece exatamente desta maneira, pois a mulher trabalha no roçado, nas tarefas de casa e ainda, muitas delas, se dedicam ao artesanato para complementar a renda familiar. É válido destacar que o trabalho feminino na roça é percebido como um trabalho complementar, ou seja, as mulheres “ajudam” seus maridos no roçado. Percebe-se que dentro dessa lógica da divisão de tarefas, o trabalho das mulheres sempre aparece numa instância inferior, não alcançando a mesma importância que o trabalho masculino, ainda que o trabalho feminino no meio rural seja composto por uma pluralidade de tarefas, as quais demandam grande esforço físico (SILVA, 1999). Ademais, a crise ecológica nos impõe a necessidade de repensar algumas ideias sobre a racionalidade econômica e científica, o produtivismo e o crescimento ilimitado que estão interferindo fortemente e trazendo novos desafios à emancipação e o processo de empoderamento das mulheres (RODRIGUEZ, 1997). Assim, o projeto “Mulheres na Caatinga” percebe a necessidade de transformar as práticas tradicionais geradas a partir da divisão sexual do trabalho na família, no sentido de possibilitar uma divisão mais justa e igualitária entre homens e mulheres. As mulheres vêm desempenhando um papel importante na sustentabilidade da vida, portanto, devem ser reconhecidas como sujeitas produtoras de conhecimentos, capazes de contribuir com mudanças de práticas e atitudes, seja nas relações familiares, seja nas comunidades, seja organizando-se para incidência política em favor de um modelo ambientalmente sustentável que garanta a permanência no campo das futuras gerações e da conservação do Bioma Caatinga.


Nos anos recentes, as mulheres passam a reivindicar com maior ênfase a sua inserção nas atividades produtivas, a partir das suas demandas específicas, de crédito, de comercialização e de assistência técnica especializada. A importância das mulheres em relação à conservação da biodiversidade, da promoção da agroecologia, da soberania e segurança alimentar também ganha força nas pautas políticas e de reivindicações das trabalhadoras rurais (BUTTO, 2011). A partir deste contexto, percebe-se a importância de identificar as práticas tradicionais dessas mulheres como elementos fundamentais para a construção de tais representações simbólicas e usos cotidianos, citados anteriormente. Pois, de acordo com Boaventura dos Santos (2007) ao defender a Sociologia das Ausências, afirma de maneira crítica, que existem vários modos de produção de ausências, e dentre esses está a monocultura do saber e do rigor (grifo do autor) que alega que:

o único saber rigoroso é o saber científico; portanto, outros conhecimentos não têm a validade nem o rigor do conhecimento científico. Essa monocultura reduz de imediato, contrai o presente, porque elimina muita realidade que fica fora das concepções científicas da sociedade, porque há práticas sociais que estão baseadas em conhecimentos populares, conhecimentos indígenas, conhecimentos camponeses, conhecimentos urbanos, mas que não são avaliados como importantes ou rigorosos. E, como tal, todas as práticas sociais que se organizam segundo esse tipo de conhecimentos não são críveis, não existem, não são visíveis (SANTOS, 2007, p. 29).

Segundo Casado et al. (2000), é imprescindível desconstruir as dicotomias e os binarismos do pensamento ocidental moderno, buscarmos pelo conhecimento sistêmico e holístico, a cosmovisão entre homens e mulheres com a natureza. A construção do conhecimento agroecológico é “o resultado de uma situação sócio-cultural de natureza histórica” e o método científico não pode garantir “a separação entre razão e paixão”, ou seja, a ciência se vê afetada pelo contexto e práxis intelectual e política daqueles que produzem o conhecimento (CASADO et al., 2000, p.155). Lima et al. (2006), retomam a Teoria da Complexidade do pensador Edgar Morin para afirmar que o ato do conhecimento é ao mesmo tempo biológico, espiritual, linguístico, cultural e histórico, ou seja, complexo. Boaventura de Souza Santos (2007), inferindo sobre a crítica da ciência moderna que “destrói a biodversidade” nos propõe a ecologia dos saberes:


Não se trata de “descredibilizar” as ciências nem de fundamentalismo essencialista “anticiência”; O que vamos tentar fazer é um uso contra hegemônico da ciência hegemônica. Ou seja, a possibilidade de que a ciência entre não como monocultura mas como parte de uma ecologia mais ampla de saberes, em que o saber científico possa dialogar com o saber laico, com o saber popular, com o saber dos indígenas, com o saber camponês (...)(SANTOS, 2007, p. 29).

Desta forma, trazemos a importância de visibilizar o conhecimento das mulheres, que a visão orientada de desenvolvimento econômico moderno ainda norteia as políticas científicas e tecnológicas a partir de hierarquias, relações de poder e gênero. A própria forma de pesquisar a história persegue esses princípios e, portanto não tem evidenciado como se deu a exclusão das mulheres do conhecimento “científico” e como a sua visão de mundo (de integração com a natureza) foi sendo subjugada pela ideia de dominação (SILIPRANDI, 2012).

POR ONDE CAMINHAMOS

A abordagem metodológica adotada nesta pesquisa teve como caráter qualiquantitativo. Para tanto, fez-se necessário um maior aprofundamento teórico referente ao contexto das mulheres no Semiárido e as relações de gênero que permeiam esse ambiente, feminismo, conhecimento tradicional, campesinato e agricultura familiar. Com o intuito de conhecer as diferentes realidades que as mulheres vivenciam, realizamos metodologias participativas e construção de oficinas, formações de gênero, feminismo e agroecologia entre agosto a dezembro de 2014. A utilização de entrevistas semiestruturadas também foi utilizada para apreendermos em profundidade as diferentes percepções, os olhares das mulheres em relação ao Bioma Caatinga e seus conhecimentos tradicionais desta vegetação. Para a realização das entrevistas acerca do conhecimento tradicional das plantas da Caatinga foram selecionadas, pelas próprias participantes dos grupos produtivos, três mulheres que tivesse um maior conhecimento sobre as plantas medicinais. Os grupos de mulheres estão localizados nos seguintes municípios: Mirandiba, com a Comunidade Quilombola do Feijão (Fórum de Mulheres); Santa Cruz da Baixa Verde, com as Comunidades de Lagoa de Almeida (Grupo Mulher Flor do Campo) e de Santo Antônio de Coroas (Grupo Doce Esperança), Serra Talhada, com o Assentamento


Carnaúba do Ajudante (Grupo Reciclarte) e Triunfo, com a Comunidade de São José dos Pilotos (Grupo Girassol). De acordo com Marconi e Lakatos (2003), a entrevista tem como objetivo a obtenção de informações sobre um determinado assunto ou problema, pois se trata de um procedimento utilizado na investigação social para a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social. Além de serem ricas, pois fazem referência a acontecimentos concretos em um lugar e em um tempo; referem-se à experiência pessoal e tendem a ser detalhadas com um enfoque nos acontecimentos e ações (BAUER & GASKELL, 2008). A escolha das mulheres como público participante da pesquisa, foi prédeterminado junto a Casa da Mulher do Nordeste, uma vez que são as mulheres o principal sujeito das ações da organização - que busca problematizar e discutir as desigualdades nas relações entre homens e mulheres -, e do projeto “Mulheres na Caatinga”. As desigualdades não são determinadas pela natureza, elas são construídas através da educação, dos costumes, e, por isso podem ser modificadas. Mas, para transformar a realidade é necessário produzir conhecimentos e é nesse sentido que a pesquisa atua. O empírico e o teórico buscam na produção de conhecimentos contribuírem para a reflexão da realidade da sociedade e sua transformação.

Disto decorre, a necessidade de uma epistemologia capaz de abarcar não apenas o pensamento das margens – no caso, das mulheres -, mas também as diferenças existentes entre as mulheres e ainda as desigualdades, tendo como fundamento a construção de um conhecimento situado (SILVA, 2014).

É importante apresentar a idade das mulheres que participaram da pesquisa, no qual variou de 29 a 70 anos, sendo que a média foram mulheres de 52 anos. Todas são agricultoras, a maioria (58%) tem o ensino fundamental incompleto. A escolha das comunidades referidas para a realização da pesquisa justifica-se pelas ações já desenvolvidas junto aos referidos grupos de mulheres e por serem comunidades em que a Casa da Mulher do Nordeste e o Núcleo de Estudos, Pesquisa e Práticas Agroecológicas no Semiárido – NEPPAS/UAST, já realizavam atividades em outros projetos. Entretanto, a comunidade do Feijão e Posse, alocada em Mirandiba, destaca-se por ser uma comunidade de remanescentes de quilombolas. “No Brasil, os quilombos se constituíram na principal forma de luta e resistência à escravidão. [...]


desenvolveram um impressionante trabalho de estruturação da vida em coletivo”. (PERNAMBUCO. SECRETARIA DA MULHER, 2011, p.112). Esses grupos buscam reconhecimento ancestral e a garantia sobre os territórios ocupados. Ganha relevo, assim, um conflito ainda pouco problematizado na gestão pública e na academia: a disputa entre territorialidades, que carregam demandas distintas e caracterizadas por um forte componente étnico-racial, inserida no Estado, num contexto de globalização. Diante do contexto apresentado, é interessante perceber que existe uma parca produção bibliográfica no que tange comunidades indígenas e quilombolas no nordeste do Brasil. Esta incipiciência de pesquisas acadêmicas e levantamentos governamentais se dão, sobretudo, porque os discursos históricos locais invisibilizaram a existência de grupos sociais que se reivindicam indígenas e quilombolas. Por conta disto, pretendemos, assim como reforça Mignolo (1998), lançar luz em um emaranhado de história e saberes ainda pouco problematizados no meio acadêmico. A ideia é, a partir de uma inserção exploratória na comunidade quilombola do Feijão, em Mirandiba, sertão central de Pernambuco, sublinhar o lugar de enunciação dos discursos e narrativas do grupo social, fundamental à compreensão de seu lugar na história e no contexto social da região. Houve também, visitas às comunidades e aos grupos de mulheres já mencionados para o levantamento, coleta e identificação das plantas que são empregadas pelas mulheres para fins fitoterápicos e outros usos. Para isso, o trabalho foi realizado nas seguintes etapas:  Etapa 1: Realização de oficinas em espaços de reunião dos grupos em suas

comunidades. As oficinas abordaram os seguintes temas: feminismo, direitos das mulheres, bioma Caatinga e agroecologia7.  Etapa 2: Ainda no espaço das oficinas, realizamos uma dinâmica participativa que

teve como objetivo apreender as representações simbólicas das mulheres em relação ao bioma Caatinga. Inicialmente divididas em subgrupos, as mulheres debateram questões relacionadas aos significados e representações do bioma

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As discussões decorrentes das oficinas serão exploradas em trabalhos posteriores.


Caatinga e depois apresentaram e debateram no grupo maior. As oficinas foram realizadas nas cinco comunidades selecionadas.  Etapa 3: As mulheres definiram coletivamente, apenas três representantes do

grupo, que eram as maiores detentoras dos conhecimentos das espécies encontradas na Caatinga, bem como da sua utilização.  Etapa 4: Realização de entrevistas com as mulheres escolhidas por meio de

recursos de audiovisual, a exemplo de fotos, filmagens e gravações. A entrevista consistiu em um questionário com perguntas abertas referentes aos conhecimentos e utilidades das plantas e foi realizada nas cinco comunidades.  Etapa 5: Coleta das plantas disponíveis na comunidade, de acordo com os locais

que as informantes costumam ter acesso (seus quintais e pelos arredores da comunidade) juntamente com as mesmas. A metodologia de coleta das espécies da Caatinga seguiu o método de sistemática vegetal de Mori et al. (1989), em que indivíduos férteis, foram coletados com auxílio de tesoura de poda e/ou podão, prensados entre papelões e placa de alumínio corrugado. No campo foram anotadas informações do ambiente característico das espécies, que poderiam ser perdidas durante o processo de desidratação. Todo material foi desidratado em estufa a gás e incorporado ao acervo do Herbário do Semiárido do Brasil (HESBRA) que se encontra no município de Serra Talhada. As coletas aconteceram em apenas três comunidades, que foram – Feijão e Posse (Mirandiba), Carnaúba do Ajudante (Serra Talhada) e São José dos Pilotos (Santa Cruz da Baixa Verde). A grande parte das espécies de plantas coletadas e/ ou citadas nas comunidades 8 se relacionam similarmente pelo fato de estarem dentro da mesma província biogeográfica - a Caatinga. Contudo, verifica-se um certo grau de divergência em ambos os locais pelo fato de estarem localizadas em áreas de vegetações diferentes, e para compreender essa variação, deve-se levar em conta as dimensões botânica e geográfica. A comunidade de São José dos Pilotos, situada no município de Santa Cruz da Baixa Verde tem como vegetação característica as florestas subcaducifólicas, que são tipos de florestas que transitam entre a zona úmida costeira e o ambiente semiárido, 8

Ver na página 26 o Abecedário da Medicina Caseira da Caatinga Sertão do Pajéu, PE.


sendo comuns em áreas de brejo de altitude. A área de brejo de altitude é um tipo de disjunção da Mata Atlântica cercado por vegetação da caatinga que apresenta certas peculiaridades e que o torna diferente mesmo estando cercado pela Caatinga: umidade, temperatura e vegetação. Desde já, chega-se a conclusão de que os brejos de altitude abrigam espécies de plantas que são encontradas na Mata Atlântica e por isso iria diferenciar quando comparado com a outra comunidade que não apresentava esses caracteres (Ministério do Meio Ambiente, 2004). A comunidade de Feijão e Posse do município de Mirandiba está situada na área de Depressão Sertaneja, caracterizada por estar localizada em uma baixa altitude, ter solos poucos desenvolvidos, relevo predominantemente suave-ondulado. A vegetação é composta por Caatinga Hiperxerófila, onde são encontradas plantas adaptadas para enfrentar os rigores de baixa precipitação e umidade (Ministério de Minas e Energia, 2005). A seguir, faremos uma breve contextualização sobre os grupos de mulheres a qual tivemos acesso na pesquisa e assim, compreender a representação simbólica das mulheres sobre o bioma Caatinga, tal como a importância desses espaços para a autonomia e auto-organização das mulheres, da construção de conhecimentos e troca de saberes em suas comunidades.

REPRESENTAÇÕES

E

SENTIMENTOS

DAS

MULHERES

SOBRE

A

CAATINGA 1) Comunidade do Sítio Feijão e Posse em Mirandiba – Fórum de Mulheres de Mirandiba A comunidade do Sítio Feijão e Posse é uma comunidade quilombola localizada no município de Mirandiba, onde o Fórum de Mulheres de Mirandiba foi formado em 2005. O Fórum tem como objetivo promover a autonomia e o fortalecimento das mulheres, discutir sobre seus direitos, além de trabalharem as diversas temáticas, como gênero, saúde, projetos produtivos de geração de renda, racismo, entre outras, para as mulheres do campo e da cidade. O Fórum congrega mais de 100 mulheres de várias comunidades do município, que por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) encontraram uma oportunidade para melhorar suas rendas, ao vender sua produção para a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). O Fórum de


Mulheres de Mirandiba também é acompanhado pela ONG ActionAid9, que fortalece a luta pela defesa dos direitos das mulheres e apoia projetos de formação, geração de renda e inclusão digital voltados para elas. O Fórum ao longo dos anos tem proporcionado algumas mudanças na vida das mulheres, como a expansão da sua autonomia para saírem de casa, participarem dos intercâmbios, as trocas de experiências e conhecimentos umas com as outras; a se organizarem coletivamente para proporem melhorias em suas comunidades; segurança nas suas tomadas de decisões e aumento da autoestima, além do aumento da geração de renda para suas famílias. Assim, quando questionamos a importância da Caatinga e o que o bioma representa em suas vidas, as Mulheres do Fórum logo nos remete: “A caatinga é o espaço onde eu vivo, onde eu moro com minha família e também a forma da pessoa resistir. Desde quando eu nasci até hoje tô aqui morando nela. É um espaço onde a gente tira nosso alimento, nosso sustento e também onde a gente faz o uso de algumas plantas medicinais” (Cida, agricultora). “Pra mim também é muito importante, porque a Caatinga a gente faz de tudo com ela. Tem a madeira, os paus a gente faz lenha de casa, faz porta e a raiz serve de medicina” (Lindaura, agricultora).

Como podemos observar a Caatinga tem um valor incomensurável para a sobrevivência e reprodução das famílias no semiárido. Segundo as mulheres é a partir do bioma que são retiradas as frutas, a madeira, as cascas, as raízes para a “medicina caseira”, a alimentação para os animais e para as pessoas, além da geração de renda para o sustento da família. Ou seja, para essas mulheres, rememorar a Caatinga é falar de vida e resistência, sabedoria e ancestralidade – conhecimentos e usos sobre a caatinga que foram repassados e adquiridos ao longo de gerações. No entanto, que as mulheres alegam ter adquirido seus conhecimentos com os seus pais e com as avós, prática que nos dias de hoje é socializado com os seus filhos/as, tal como nos grupos que participam em suas comunidades.

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Ver http://www.actionaid.org.br/o-que-fazemos/direitos-das-mulheres#sthash.vtd7pBL3.dpuf


2) Assentamento Carnaúba do Ajudante em Serra Talhada – Grupo Reciclarte

O segundo grupo de mulheres selecionado está localizado no Assentamento Carnaúba do Ajudante, no município de Serra Talhada. A comunidade Carnaúba do Ajudante apresenta características comuns a muitas comunidades rurais do nordeste brasileiro, como a carência de assistência técnica e extensão rural, falta de acesso à educação, saúde, infraestrutura etc. Além disso, os moradores vêm de um histórico de luta pela terra. Desde 2010, o NEPPAS/UFRPE vem atuando junto a esta comunidade, a partir de um enfoque multi e interdisciplinar, com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar e camponesa. Em 2012, durante a XII Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFRPE, o Núcleo desenvolveu a seguinte atividade Do Descarte para A Arte – Oficina de Reciclagem para Mulheres e Jovens Agricultores Familiares, que teve como tema principal o reaproveitamento de materiais recicláveis. Na ocasião, as mulheres trabalhadoras rurais aprenderam a confeccionar PUF a partir de garrafas PET. Após a participação na oficina de reciclagem promovida pela universidade, as mulheres da Comunidade de Carnaúba do Ajudante se unem e formam o grupo Reciclarte. O grupo existe há apenas três anos e vem sendo acompanhado pelo NEPPAS através de atividades de diversas áreas: práticas esportivas, agronomia, educação ambiental, empreendedorismo, relações sociais e de gênero. O grupo conta com a participação de dez mulheres e desenvolve atividades de artesanato através de material reciclado, sendo que as reuniões para a produção de artesanatos acontecem uma vez por semana na sede da associação da comunidade. Apesar do pouco tempo de existências do grupo, as mulheres já conseguem observar algumas mudanças no seu dia-a-dia: a melhora na autoestima, maior valorização dos seus trabalhos e novos aprendizados. Além disso, as reuniões geram diversão, conversas, passatempo – momento em que deixam o trabalho doméstico de casa e fogem do cotidiano. Assim, quando questionamos a importância da Caatinga e o que o bioma representa em suas vidas, as mulheres nos argumentam: “A caatinga representa a natureza, representa vida” (Dona Côca, agricultora). “Esperança, força pra trabalhar mais ainda, alegria” (Sônia, agricultora).


Durante as oficinas e entrevistas, tivemos a oportunidade de presenciar a criação de um dos poemas feitos pela Dona Côca, agricultora e presidenta da associação comunitária. Os versos que foram recitados por ela são bem significativos e nos apresentam a riqueza e a diversidade da Caatinga, assim como a importância que o bioma tem para essas mulheres. CAATINGA10 Os valores da Caatinga Não se pode explicar Só as palavras não falam Os prazeres que têm lá Dar-me certa emoção Alegra o meu coração Quando começo a pensar Quando a chuva não vem Mesmo assim não é o fim A Caatinga é resistente A cada dia ensina a mim A passar aquela prova Mas a alma se renova Dizendo vou resistir Muitas lições de vida Da Caatinga nós tiramos Igual ao umbuzeiro Água armazenamos Devemos se organizar Assim como o croatar A semente guardamos Como o mandacaru Permanecemos de pé A estiagem pode ser longa Mas grande é a nossa fé Não podemos se desesperar Devemos sim se organizar Para enfrentar o que vier Mas o tempo sempre muda Como diz as estações A estiagem vai embora 10

Poesia escrita por Maria Do Socorro Silva Nascimento, conhecida por Côca. Agricultora do Assentamento Carnaúba do Ajudante - Serra Talhada/PE.


Quando vê chuva no chão As árvores voltam a florir Muito contente a sorrir Como é grande a emoção É muito lindo de se ver A Caatinga se movimentando Você fica abismado Dizendo estão dançando Mas estão agradecendo Com aquele movimento Dizendo nós superamos Existi muitas belezas Que não dá pra expressar É preciso você mesmo Vim cá pra testificar Mas venha com convicção Que quem visita meu sertão Com certeza quer voltar Se não temos varanda iluminada Nós temos um céu inteiro Se não temos jardins Temos a Caatinga com flor e cheiro Podemos não ter piscinas Mas temos rios que convida A tomar banhos verdadeiros Não quero com minhas palavras Desprezar os seus lazeres Mas temos aqui valores E temos que defender O canto do sabiá O galo campina a cantar Como é lindo o seus saberes E com os barreiros cheios Também surgi indagação Como é que este sapo Faz espuma sem sabão É coisa da natureza Grande é sua beleza Coisa boa é meu sertão


3) Comunidade Santo Antônio de Coroas em Triunfo – Grupo Girassol

O Grupo de Mulheres Girassol foi formado a partir de uma atividade sobre associativismo e cooperativismo orientada pelo Centro Sabiá na Associação de Moradores em 2003. No ano de 2005, o grupo se forma com 13 mulheres desenvolvendo a produção de artesanato a partir da palha de bananeira (bordado, crochê e pintura). A origem do nome do Grupo é uma alusão ao significado da planta girassol em suas vidas: “porque fortalece mais as mulheres e o fato do girassol estar sempre girando em busca do sol, as mulheres também fazem o mesmo, pois estão sempre crescendo”. O grupo tem como objetivo adquirir conhecimentos, melhorar a geração de renda, e acaba sendo uma terapia pelo fato de sair da rotina da casa. Atualmente, o grupo ainda não é formalização, no entanto se articula através da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú11 que “consiste numa organização gerida pelas próprias mulheres que se propõem a minimizar a pobreza das mulheres rurais e urbanas na região do Pajeú e lutar pela preservação do bioma caatinga”. Assim, o grupo é um importante espaço para que as mulheres percam a timidez, exerçam a sua autonomia, o poder da fala, da tomada de decisão nos diferentes espaços, participação em locais públicos que antigamente era impensável participar. Infelizmente, na comunidade o grupo não é valorizado, sendo que até algumas mulheres da comunidade fazem duras críticas à experiência. Desta forma, podemos observar que ainda perduram distintas dificuldades para que as mulheres consigam se auto-organizar e romper com o machismo patriarcal em seu cotidiano. Sendo o espaço do grupo, muito além da produção e da geração de renda para essas mulheres, mas a oportunidade que encontram para trocarem e construírem seus conhecimentos, assim como os laços de confiança e fortalecimento mútuo. Referente à importância da Caatinga na vida dessas mulheres, é que a mesma tem um valor intangível, trazendo inúmeros benefícios devido aos usos que elas recriam e destinam às plantas que servem de remédio, a madeira como lenha para a alimentação, as sementes para o beneficiamento e produção do artesanato. Ou seja, representa a vida 11

A Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú, criada em 2005, tem como proposta o fortalecimento à organização produtiva das mulheres rurais do Pajeú e assim, contribuir para a sua autonomia econômica e política através da ação em rede. Para sua atuação em rede, tem como princípios base o feminismo, a economia solidária, a agroecologia e o trabalho em parecerias como eixos estruturantes das ações.


e sabedoria segundo muitas delas:

“Amor e sabedoria, pois a Caatinga é fonte de vida. Vem a semente, a semente vão dá os frutos e daí vem os frutos. A gente vê que a caatinga é complexa de tudo. Os animais precisam pra se alimentar, a gente precisa pra respirar e viver também. A gente vê que lá tem as plantas que a gente explora de um jeito, a gente tá sempre responsável pela poluição, desmatamento e degradação porque a gente vê que a Caatinga é a mata branca. A gente vê que ela é rala e também que as plantas é bem resistentes a seca, tem os cactos que nesses 3 anos de seca as pessoas escaparam os animais com os cactos (o mandacaru, xique- xique, rabo de raposa e esses outros). A gente precisa tirar pra lenha, pra forragem dos animais, mas precisa repor. Muitos home que tão desmatando, em influência do desmatamento, as árvores que protegem as nascentes de geração de água estão acabando porque desmata as árvores mais alta, que suga as fonte, inclusivamente a água. Quanto mais árvore, mais água, o ar tá ficando mais pesado tanto pra gente quanto pras crianças, gripe tá vindo mais com o tempo...” (Joselita, agricultora).

É notória a consciência ecológica e a preocupação que as mulheres demonstram com a questão ambiental e a sustentabilidade em suas comunidades. Podemos observar que os elementos da natureza são intrínsecos a própria sobrevivência e resistência dessas famílias na convivência com o semiárido. Uma vez que são as mulheres que lutam para reverter o desmatamento e as queimadas da Caatinga, assumindo o protagonismo em suas localidades a favor de um desenvolvimento rural que saiba respeitar e preservar o meio ambiente, possibilitando outras relações entre mulher/homem com a natureza.

4) Comunidade São José dos Pilotos em Santa Cruz da Baixa Verde – Grupo Doce Esperança

O terceiro grupo é intitulado Doce Esperança e está localizado na comunidade de São José dos Pilotos, no município de Santa Cruz da Baixa Verde. O município de Santa Cruz da Baixa Verde possui um histórico de luta sindical muito significativo, pois é deste município a liderança histórica do Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central (MMTR-SC), Vanete Almeida. Este movimento nasceu na


década de 80 e sustenta sua luta frente a outro modelo de sociedade, com base no feminismo e no anticapitalismo, sendo composto por mulheres camponesas de vários estados brasileiros, afirmando assim, seu caráter democrático (JALIL, 2013). Jalil (2013) afirma que o Sertão do Pajeú se entrecruza politicamente com o Sertão Central, delimitação do movimento sindical que constrói outra territorialidade, sobreposta ao Pajeú, mas se misturando, completando-se, fortalecendo-se. Assim, o Sertão do Pajeú e o Sertão Central criam um lugar específico, onde nasce o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central (MMTR-SC).

Durante as oficinas, algumas mulheres citaram o nome de Vanete Almeida como inspiradora de suas lutas, além de mostrarem que são mulheres empoderadas e com uma firme trajetória no movimento sindical - certamente por estarem alocadas num município com essa característica. Além disso, o Grupo Doce Esperança integra também a Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú. O Grupo Doce Esperança foi formado em 2005 através de reuniões com a Casa da Mulher do Nordeste. A iniciativa partiu de um grupo de mulheres que produzia artesanato na comunidade e que almejavam pela troca de conhecimento e interação possibilitar renda e autonomia às mulheres. A mudança proporcionada pela participação no grupo é que há mais motivação por parte das mulheres, maior conhecimento adquirido nos diferentes temas como: agroecologia, gênero, feminismo e economia solidária. A participação no grupo permite que as mulheres percam a vergonha, conheçam novos ambientes, participem e sejam proponentes nestes espaços (associações, sindicatos, cooperativas etc.). O direito ao acesso a universidade foi apontado como um “sonho alcançado” por uma das integrantes do grupo que hoje cursa agronomia na UFRPE e, que ao olhar para o passado e fazer parte dessa experiência favoreceu no seu crescimento pessoal, mas também na ação coletiva das demais mulheres, sendo referência e exemplo na sua comunidade. A importância da Caatinga para as mulheres do Grupo Doce Esperança é que esta é um meio de sobrevivência para suas famílias, para os animais e para a sustentabilidade dos agroecossistemas. Sendo que se utilizam da “mata branca” para usos fitoterápicos - chás, lambedores -, da lenha e da madeira para fazerem cercas e construções, matéria prima para o artesanato, a exemplo das falas:


“A caatinga é um meio de sobrevivência para os animais e para os seres humanos, têm muitas plantas medicinais que serve para chás, lambedores, etc. É importante, pois serve como fonte de renda e sobrevivência nossa e dos animais” (Rosinha, agricultora). “A importância da caatinga na nossa vida é a diversidade de plantas medicinais e frutíferas, ornamentais e sombras e ar puro que elas nos oferece. Ela representa grande importância na nossa vida, pois se não existisse a caatinga não teríamos a lenha, os móveis, as madeiras. É tudo que ela nos oferece” (Aparecida, agricultora).

5) Comunidade Lagoa do Almeida em Santa Cruz da Baixa Verde – Associação Mulheres Flor do Campo

O Grupo Mulher Flor do Campo foi formado em 2008, mas já se reunia em 2007. O MMTR-SC (Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Sertão Central), na pessoa de Vanete Almeida, contribuiu para formar a Associação Flor do Campo. O grupo é formado por 45 mulheres associadas e não possui vínculos com outros grupos. O papel do grupo é buscar melhorias para a comunidade, possibilitar aprendizado e fortalecimento às mulheres a partir do artesanato e da produção agroecológica. No entanto, que por meio do grupo, houve melhorias a exemplo, do aumento da renda familiar, inclusão no PAA. Atualmente, o grupo de mulheres comercializa seus produtos em canais curtos como as feiras agroecológicas na região e acessa os programas institucionais de compra pelo governo, o PAA e o PNAE. Compreender a mudança na vida dessas mulheres a partir da participação e autoorganização nos grupos é de extrema importância para visualizarmos a relação que as mesmas têm com o bioma Caatinga, tal como o conhecimento que elas constroem nessa relação mulher-homem e natureza. O grupo ao longo de sua caminhada tem expandido a autonomia e a participação política nos diferentes espaços em que essas mulheres atuam. As parcerias e as organizações que atuam junto ao grupo como a assessoria da Casa da Mulher do Nordeste e o NEPPAS/UAST/UFRPE favorecem nos intercâmbios, nas trocas de saberes e a própria discussão sobre os direitos das mulheres, feminismo e agroecologia - fortalecendo suas práticas, assim como, inovando processos em seus agroecossistemas.


Assim, quando abordamos a importância da Caatinga para o grupo, elas nos apresentam que além dos diferentes usos que destinam em sua comunidade, o bioma é um espaço de se viver, onde você encontra vida e dignidade. “Viver na Caatinga pra mim é uma felicidade imensa, porque a Caatinga pra mim como eu já morei numa cidade é muito diferente o ar é mais limpo pra gente respirar, a gente trabalha com mais tranquilidade dorme mais sossegado do que na zona urbana. Então morar na caatinga pra mim é uma felicidade eu acho que o pessoal da zona urbana deveria experimentar pra ver ...” (Gislene, agricultora).

A seguir apresentaremos o conhecimento tradicional das mulheres acerca das plantas medicinais e o levantamento das espécies identificadas. CONHECIMENTOS FITOTERÁPICOS DA CAATINGA PELAS MULHERES

Em relação aos biomas brasileiros, a Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro e o mais expressivo da região Nordeste, pois ocupa cerca de 850 mil Km² ou 10% do território e abrange os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, além de pequenas áreas do Maranhão e de Minas Gerais (Caatinga/Cerrado), se destaca por apresentar uma diversidade de plantas com amplo poder medicinal. Porém, é um dos ecossistemas brasileiros mais ameaçados, segundo Costa et al. (2009). O mesmo é marcado pela desertificação resultante de fatores climáticos e de atividades humanas que muitas vezes não são conduzidas de forma sustentável e o aproveitamento dos recursos naturais, utilizados de forma tradicional, é bastante precário desrespeitando, assim, a complexidade presente neste ecossistema. De acordo com Schober (2002), o uso errôneo dos recursos da Caatinga tem causado danos irreversíveis a este bioma, e a desertificação já afeta cerca de 15% da área e as consequências de anos de extrativismo predatório são visíveis, com perdas irrecuperáveis da diversidade do bioma. O conhecimento popular sobre as plantas da Caatinga, o qual é rico de informações, ainda é mal sistematizado e utilizado. É elevada a diversidade de plantas medicinais conhecida na Caatinga e sua obtenção na própria comunidade tem uma forte correlação entre uso e conhecimento tradicional dessas plantas.


De acordo com Lykke (2000), na maioria das vezes, as comunidades obtêm esses materiais nas proximidades de suas casas e este conhecimento está embasado em estratégias de manejo direcionadas nas espécies de maior interesse, o que pode ser fundamental no uso sustentável e na conservação da vegetação. Segundo Franco (2005), o uso popular de plantas medicinais é uma arte que acompanha o ser humano desde o início da civilização, e está fundamentada no acúmulo de informações repassadas oralmente. A medicina tradicional ou popular tem raízes muito fortes entre os sertanejos e a maior parte dos produtos medicinais é utilizada na forma de chás, infusões e unguentos feitos diretamente através das diversas plantas nativas da Caatinga. O uso alternativo de plantas medicinais em várias enfermidades é muito socializado em diversas localidades do país. Este uso se deve a sabedoria de gerações passadas o qual é repassado através de gerações. O mesmo ocorre nas comunidades, porém é muito mais comum em populações rurais, onde este conhecimento é, geralmente, compartilhado. Ecléa Bosi (2001) consagra “os velhos” (as) na transmissão oral, pois, muitas das informações transmitidas por eles (elas) não se encontram registradas, pois, são os relatos vivenciais que permitem emitir suas próprias impressões e dão a esses fatos a sua importância de vida.

Um mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que não conhecemos pode chegar-nos pela memória dos velhos. Momentos desse mundo perdido podem ser compreendidos por quem não os viveu e até humanizar o presente. A conversa evocativa de um velho é sempre uma experiência profunda (...) (BOSI, 2001).

Durante as entrevistas, houve citações de 92 espécies, pertencentes a 85 gêneros e 48 famílias. As famílias com maior número de espécies foram Fabaceae sendo representada por 12 espécies, Euphorbiaceae (sete espécies) e Cucurbitaceae (cinco espécies). Os gêneros mais frequentes nas citações foram Croton (quatro espécies) e Solanum (três espécies). As espécies mais citadas foram Myracrodruon urundeuva (12 citações), Ziziphus jooazeiro (Seis citações), Mentha piperita L. (Cinco citações), Phyllanthus niruri L. (cinco citações) e Ruta graveolens L. (cinco citações). O modo de preparo mais utilizado foi decocção12 (40%) e colocar de molho para beber a água (13%). Foi muito relatado a associação de várias plantas na produção de 12

Processo de extração dos princípios ativos de substância ou planta pela ação de líquido em ebulição.


lambedores e chás. A respeito da dosagem, as mulheres afirmaram que possuem o cuidado de não tomar altas doses na primeira vez e que vão aumentando gradualmente a dosagem do remédio caseiro, à medida que veem que não tem efeitos adversos e que é necessário para obter o efeito esperado. Este resultado é diferente do obtido em um estudo feito com usuários do serviço público de saúde, em Campina Grande-PB, por Souza et al. (2013), em que os entrevistados diziam “não se preocupar tanto” com efeitos adversos. Da planta, as partes mais empregadas foi a folha, com 38 citações, a casca (25) e a flor, semente e raiz, (9 citações cada uma delas). Resultados semelhantes foram encontrados no trabalho de Oliveira et al. (2010) que também teve como principais partes utilizadas a folha e a casca. Esse resultado se deu provavelmente, ao fato de que três das cinco comunidades onde foram feitas as entrevistas estão localizadas em Triunfo e Santa Cruz da Baixa Verde, que têm vegetação subcaducifólia, onde o clima é mais ameno e as plantas não sofrem tanto com a perda das folhas como em outras regiões do Semiárido (IBGE, 2014). Quanto às doenças foram classificadas de acordo com os sistemas e algumas particularidades mais frequentes. O sistema que teve maior quantidade de citações de doenças foi o geniturinário (18%), seguido do sistema respiratório (16%), em terceiro, sinais e sintomas (15%). A Myracrodruon urundeuva é uma espécie da Caatinga que estava incluída na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção, segundo o IBAMA. Embora, possua grande versatilidade quanto à indicação de usos terapêuticos, sendo utilizada para dor de dente, como cicatrizante, infecção urinária, queimadura, feridas, problemas no útero e ovários. O Ziziphus jooazeiro é uma espécie nativa da Caatinga, usada para proteger e tratar os dentes, tosse, problemas no intestino e gripe. A Phyllanthus amarus L. é uma espécie exótica e em todas as comunidades é muito utilizada para tratamento de cálculo nos rins e infecção urinária. A Ruta graveolens L. é uma espécie herbácea exótica, muito utilizada para tratar dores de ouvido e cólica menstrual. Um fator que contribui para a perda desse conhecimento ao longo de gerações é o desaparecimento de algumas espécies, as quais, antigamente, se viam com frequência e hoje é difícil encontrar, como, por exemplo: a Baraúna, Pau ferro, Quixabeira, em Carnaúba do Ajudante; Mulungu, Biratanha, Pau d'água, Bom nome e Quina-quina, em Mirandiba. Na medida em que as espécies desaparecem, desaparece também o


conhecimento sobre as mesmas, pois, uma vez que a planta não está mais presente no cotidiano/ambiente, as informações sobre a sua utilidade se perde. Segundo as mulheres, as causas da diminuição na população dessas espécies foram: as queimadas, que ocorriam com mais frequência antigamente; o desmatamento, que até hoje se faz presente e de forma desordenada; e os longos períodos de estiagem. A descrença na “medicina caseira” também é um fator que contribui para a perda do conhecimento acerca da utilização das plantas da Caatinga, pois, é recorrente que os/as moradores/as da zona rural busquem tratamento em hospitais nas cidades. Assim, este tipo de conhecimento e prática tradicional foi então, deixando de ser a primeira e única opção de tratamento para muitas pessoas dessas comunidades, principalmente para as mais jovens. Segundo as mulheres, os/as jovens não têm interesse em aprender as receitas de remédios e frequentemente, até se recusam a tomar, preferindo remédios de farmácia – o que descredibiliza e desvaloriza o conhecimento das mulheres. Os mais velhos mantêm o costume, a valorização das plantas medicinais e as têm como primeira escolha para tratamento, indo ao médico somente quando o remédio feito com a planta não surte o efeito necessário. Além da descrença e desvalorização de um conhecimento tradicional produzido por pessoas/mulheres que possuem real intimidade com o meio, com o bioma e com as plantas, há dessa forma, uma sobreposição de valores e credibilidades de conhecimentos. Não temos aqui, a intenção de minimizar a importância e eficácia do conhecimento científico, tampouco, das medicações alopáticas, mas, visamos chamar atenção para a importância de reconhecer outros tipos de conhecimentos e, neste caso, visibilizar o saber e o trabalho das mulheres rurais, que por serem mulheres e estarem localizadas numa região historicamente desvalorizada, acarretam um duplo preconceito que gera invisibilidade, sobretudo, na busca por melhores condições de vida.

CONSIDERAÇÕES

A percepção do mundo rural imprime novos enfoques e mudanças cumulativas, configurando-se como um espaço de diversificação e revalorização social, onde as mulheres rurais têm contribuído e assumido diferentes papéis: inferindo nos espaços políticos, articulando-se em rede e em grupos auto-gestionados, propondo e efetivando melhorias em suas comunidades e, principalmente assumindo o protagonismo na luta


por um desenvolvimento sustentável pautado na agroecologia e na conservação da agrobiodiversidade. Percebemos a importância dos novos papéis dos agricultores e das agricultoras no campo, que de acordo com Wanderley (2000), são guardiões das paisagens rurais, das tradições culturais rurais, da segurança alimentar e a garantia da qualidade dos alimentos, bem como o cuidado da biodiversidade, da conservação ambiental, tornandose polivalentes, pluriativos e multifuncionais. Apreendemos, que graças ao diverso conhecimento tradicional que elas acumularam sobre os usos das plantas da Caatinga, da própria experiência e vivência nas áreas de estudo, as mulheres se recolocam enquanto guardiãs das paisagens e das sementes, cuidadoras do bioma e experimentadoras na construção do conhecimento agroecológico. Elas assumem a responsabilidade no desenvolvimento do manejo e conservação de espécies com potencial medicinal e da própria educação ecológica para a população em suas comunidades. Observamos que os saberes e os conhecimentos tradicionais para o tratamento de doenças com plantas medicinais continuam sendo uma prática presente, principalmente nas comunidades rurais. Todas as mulheres entrevistadas responderam que os conhecimentos que possuem sobre uso das plantas são repassados e os mesmos têm referência de práticas adquiridas através das gerações passadas como também de outras mulheres da comunidade. O grau de escolaridade não tem relação com o conhecimento dessas mulheres sobre as plantas, ao contrário, a idade e a experiência demonstram maior influência, ou seja, quanto mais avançada a idade, mais informações elas tinham para nos repassar e informar. A transmissão do conhecimento tradicional realizado nas comunidades através da troca de saberes demonstra uma rica herança cultural da região, porém observa-se que este pode vir a perder-se ao longo do tempo devido às novas gerações que não demonstram tamanho interesse por este conhecimento. Este fato, juntamente com o desmatamento e as queimadas, contribui para o consequente desaparecimento de algumas espécies, da existência em menor quantidade ou ainda uma grande dificuldade em encontrá-las. Diante desta situação, torna-se necessário uma maior valorização desta cultura e o reconhecimento dos distintos conhecimentos que as populações do campo e, em especial os saberes que as mulheres detém sobre o uso dos elementos naturais. Neste sentido é necessário mais pesquisas nessa área, sobre os estudos da medicina caseira no


Semiárido Pernambucano, assim como, sobre medidas socioeducativas em torno da preservação e valorização do bioma Caatinga onde as mulheres veem desempenhando um papel indispensável à vida e ao cuidado.

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ABECEDÁRIO DA MEDICINA CASEIRA DA CAATINGA SERTÃO DO PAJÉU, PE.

Família

Nome científico

Origem

Nome popular

Indicação Problema nos rins, diabetes, queda de cabelo Dor de ouvido Verme, conjuntivite

Lauraceae Cucurbitaceae Lamiaceae

Persea americana Mill. Cucurbita pepo L. Ocimum campechianum Mill.

E E E

Abacate Abóbora Afavaca

Euphorbiaceae

Croton zehtneri Pax e Hoffm.

N

Alecrim de caboco Sinusite

Verbenaceae Liliaceae

Lippia thymoides Allium sativum L.

N E

Alecrim do mato Alho

Sinusite Inflamação na garganta

Olacaceae

Ximenia americana L.

N

Ameixa

Ferida, problema no útero

Fabaceae Fabaceae

Cajanus cajan (L.) Mill. Anadenanthera colubrina

E N

Andu Angico

Anacardiaceae Rutaceae

Myracrodruon urundeuva Ruta graveolens L.

N E

Aroeira mansa Arruda

Liliaceae

Aloe vera (L.) Burm Operculina macrocarpa (Linn) Urb. Solanum tuberosum L. Solanum melongena L.

E

Babosa

N E E

Batata de purga Batata inglesa Berinjela

Ferimento, câncer de útero Tosse, gripe Dor de dente, cicatrizante, infecção urinária, queimadura, problema no útero e ovários, ferida Cólica, dor de ouvido Queda de cabelo, hemorróida, gastrite Corrimento vaginal, febre, pós parto Gastrite Colesterol alto

Convolvulaceae Solanaceae Solanaceae

Modo de uso Chá, colocar de molho e beber, amassar e passar no cabelo Aplica no local Suco, cozinha e lava o local Colocar de molho e lavar a cabeça com a água Cozinhar e inalar o chá, lavar a cabeça Chá Raspa e aplica no local, banho de assento, chá Colocar de molho e lavar o local, banho de assento Lambedor, bota de molho p beber

Colocar de molho, banho de assento, cozinha e aplica no local Chá

Parte da planta utilizada Folha, semente, fruto Flor Folha Folha Folha alho Casca Folha Casca

Xarope

Casca, folha Folha Extrato do miolo, folha

Pisa e come, chá Suco Bota de molho

Batata Batata Fruto


Monimiaceae Anacardiaceae

Peumus boldus Mol. Schinopsis brasiliensis

E N

Cucurbitaceae Curcubitaceae

Luffa operculata (L.) Cogn. Apodanthera congestiflora

N N

Anacardiaceae Solanaceae Poaceae

Anacardium occidentalle Physalis angulata L Saccharum officinarum

N N E

Prisão de ventre, problema no Boldo fígado Braúna/baraúna Problemas urogenitais Dor de barriga, catarro de Cabacinha animal Cabeça de negro Catarro de animal Cicatrizante, corrimento, Cajueiro vermelho problema no útero Camapu Facilitar parto de ovelha Cana-de-açúcar Pressão alta

Lauraceae Poaceae

Cinnamomum zeylanicum Blume Cymbopogon citratus

N E

Canela Capim-santo

Cactaceae Papaveraceae

Pereskia aculeata Argemone mexicana L.

E E

Carne Carro santo

Euphorbiaceae Fabaceae Arecaceae Meliaceae Curcubitaceae

Croton conduplicatus Caesalpinia pyramidalis Tul Syagrus cearensis Cedrela odorata L. Sechium edule Swart

N N N E E

Catinga branca Catingueira Catolé Cedro Chuchu

Verbenaceae Apiaceae Palmae Cactaceae Brassicaceae Bromeliaceae

Lippia alba (Mill.) N.E.Br. Coriandrum sativum L. Cocos nucifera L. Melocactus zenhtneri Brassica oleracea L. Neoglasiovia variegata

E E E N E N

Cidreira Coentro Coqueiro Coroa de frade Couve Caroá

Fraqueza Pressão alta Inflamação, ferimentos, câncer de útero Tosse, gripe, abortivo Cicatrizante, problema no fígado Gripe, cansaço Tosse seca Calmante Pressão alta Serve como calmante, dor de cabeça, dor de barriga Inflamação na garganta Ciclo menstrual desregulado Gastrite Gastrite Verme

Chá Banho de assento

Folha Casca, folha

pisa e dá pro animal comer pisa e dá pro animal comer Colocar de molho e lavar o local, banho de assento Comer Chá

Batata Batata

Chá Chá

Casca Folha

Banho de assento, botar de molho Chá, lambedor Coloca de molho e aplica a água no local, chá Chá lambedor Chá Chá, suco

Folha Raiz, folha,

Chá Chá Chá Assa, bota de molho e bebe a água Suco Chá

Ramos Semente Casca do côco miolo Folha Raiz

Casca Fruto, ramo Folha

Casca, gema Flor semente Casca Folha, casca


Malvaceae Apiaceae Apiaceae Asteraceae

Pseudobombax marginatum A. Anethum graveolens Pimpinella anisum L. Acanthospermum hispidum DC.

N E E E

Embiratanha Endro Erva-doce Espinho de cigano

Euphorbiaceae

Cnidoscolus quercifolius Pohl

N

Favela

Fabaceae Brassicaceae Zingiberaceae Pedaliaceae Lamiaceae

Senna occidentalis (L.) Link Capparis flexuosa L. Zingiber officinalis Rosc Sesamum indicum L. Mentha piperita L.

E N E E E

Burseraceae

Commiphora leptophloeos

N

Fedegoso Feijão-brabo Gengibre Gergelim Hortelã Imburana de cambão

Fabaceae Vitaceae

Amburana cearensis Cissus verticillata (L.)

N E

Fabaceae

Hymenaea courbaril L.

N

Rhamnaceae Juncaceae

Ziziphus joazeiro Juncus effusus

N E

Fabaceae Solanaceae

Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir Solanum paniculatum L

Rutaceae

Citrus limettioides

Próstata, dor na coluna, problema nos rins Cólica Pressão alta Tosse Dor de dente Tosse, febre, abortivo, sinusite Sinusite Menopausa Problemas na gravidez Verme, menopausa

Passar no local

Casca Semente, folha Folha Raiz Leite do miolo do tronco

Lambedor, chá, café Inalar o chá Chá, lambedor, comer Chá Suco, chá

Raiz, semente Fruto, folhas Batata Semente Folha

Anti-abortivo

Casca Semente, casca, folha Folha

N N

Imburana de cheiro Prisão de ventre, tosse, gripe Insulina Diabetes Tosse, pra ajudar no Jatobá crescimento dos dentes Proteger os dentes, dor de dente, tosse, problema no Juazeiro intestino, gripe Junco Dores Cicatrizante, ferimentos, Jurema infecção urinária Jurubeba Diabetes

Botar de molho pra beber Café, lambedor, botar de molho pra beber Chá Lambedor, xarope, bota de molho pra beber Passar no local as raspas, lambedor, chá, tomar a espuma da casca Chá Colocar de molho e lavar o local, banho de assento Chá

E

Lima-de-imbigo

Chá

Cólica de bebê, hepatite

Coloca de molho e bebe a água Chá Chá Chá, lambedor

Casca, bage Casca, folhas, flor Batata Folha Flor Casca da laranja


Asteraceae Lamiaceae Caricaceae

Egletes viscosa (L.) Less. Plectanthus barbatus Andr. Carica papaya L.

E E E

Macela Malva santa Mamão-de-corda

Cactaceae

Cereus jamacaru D.C.

N

Mandacaru

Euphorbiaceae Lamiaceae Passifloraceae

Manihot esculenta Crantz Ocimum basilicum L. Passiflora cincinnata Mast.

E E N

Mandioca Manjericão Maracujá do mato

Euphorbiaceae

Croton blancheatinus Baill.

N

Amaranthaceae Cucurbitaceae Poaceae

Chenopodium ambrosioides L. Citrullus lanatus Zea mays L.

E E E

Fabaceae

Erythrina velutina Willd

N

Capparidaceae Sterculiaceae Chrysobalanaceae Violaceae Fabaceae Nyctaginaceae Apocynaceae Annonaceae Euphorbiaceae Phyllanthaceae

Cleome spinosa L. Guazuma ulmifolia Lam. Licania rigida Benth Hybanthus calceolaria (L.) Oken Libidibia ferrea Boerhavia diffusa L. Aspidosperma pyrifolium Mart. Xylopia aromatica Baill. Jatropha mollissima (Phol) Baill. Phyllanthus amarus L.

E N N N N E N E N E

Má digestão, problema no fígado Cólica, dor de barriga, tosse Problemas intestinais Problema nos rins, dor de urina, inflamação, hepatite

Conjuntivite Dor de ouvido Problemas urogenitais Cólica menstrual, dor de Marmeleiro barriga Tosse, ferimentos, verme, Mastruz conjuntivite Melancia Febre Milho Infecção urinária, hepatite Problema nos rins, insonia, Mulungu sarampo, calmante Pneumonia, gripe infecção Mussambê urinária Mutamba Problemas urogenitais Oiticica Diabetes Papaconha Febre Pau ferro Tosse, anemia Pega-pinto Infecção urinária Pereiro Diabetes, colesterol Pimenta de macaco Dor na coluna Pinhão Ferimento Quebra-pedra Problema nos rins, dor de

Chá Chá Chá

Folha, flor Folha Flor

Coloca de molho, assa Colocar no olho sem arrancar da planta Aplica no local Cozinha e faz banho de assento

Miolo

Chá, bota de molho p beber

Folha Folha Folha Folha, casca, raiz

Suco, pressionar no local chá Chá

Folha semente Estigmas

Chá, botar de molho pra beber

Semente

Chá, lambedor Banho de assento Chá, colocar de molho Chá Chá, botar de molho pra beber Chá, colocar de molho Chá Chá Aplica o leite da casca no local Chá, banho

Flor, raiz Casca, folha Folha, flor Raiz Casca Raiz Casca Fruto Casca Folha, raiz


urina

Rubiaceae Fabaceae Asteraceae Sapotaceae Punicaceae Caprifoliaceae Fabaceae Moraceae Phytolaccaceae Anacardiaceae Fabaceae Plantaginaceae Euphorbiaceae Cactaceae

Coutarea hexandra (Jacq.) K.Schum Piptadenia moniliformis Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera Sideroxylon obtusifolium Punica granatum L Sambucus australis Cham. & Schltdl. Bowdichia virgilioides Chloroflora tinctoria Petiveria alliaceae L. Spondia tuberosa Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. Scoparia dulcis L. Croton heliotropiifolius Kunth. Pilosocereus gounellei (F.A.C. Weber)

Coloca de molho e lava o local com a água, rapar a casca e colocar no café Casca Chá, banho de assento Folha, casca

N N

Quina-quina Quipembe

Conjuntivite, ferida, febre Problema nos rins, infecção

E N E

Quitoco Quixabeira Romã

Abortivo Chá Dor nas costas, ferida no útero Chá, banho de assento Inflamação na garganta Chá, colocar de molho

Fruto Casca Casca

E E E N N

Sabugo Sucupira Tatajuba Tipi Umbuzeiro

Gripe Prisão de ventre nos animais Dor de dente Ferimento Infecção urinária

Chá Chá Coloca o líquido no dente Cozinha e lava o local Banho de assento

Flor Semente Leite da casca Folha Raspa da casca

N N N

Unha de gato Vassourinha Velame

Tosse, afinar o sangue, ferida Sarampo, náuseas, vômito Reumatismo

Chá, colocar de molho Chá Chá

Casca, folha Folha, gema Folha

N

Xique-xique

Ferimento

Pressionar no local

Casca


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