4 //ESPECIAL
JORNAL DE NOTÍCIAS SEXTA-FEIRA 13/2/15
CARNAVAL DE OVAR // REI//JOÃO GOMES
RAINHA//ÂNGELA GRANJA
Das vitórias na Volta a Portugal ao trono da folia
A (Cu)modista da agulha e do dedal saiu dos bastidores
João Gomes 76 anos “O Enociclista”, pelo contributo que tem dado a Ovar através do ciclismo, é o Rei Momo, muito por culpa da Adega Social
diz agradecido pelo título. Nos anos 60, também integrou grupos de piadistas de crítica social, no Carnaval, como os BLI (Bebe Lá Isso), que fundou em encontros bem regados pós-partidas de futebol amador. MILENE MARQUES
A
o fim de 31 anos, Ângela Granja salta dos bastidores do Entrudo vareiro para o papel principal de rainha, “A (Cu)modista”, um cognome à sua medida de costureira bem-disposta. Prestou os seus primeiros serviços de costura aos 22 anos e nunca mais parou. Colaborou com vários grupos e, ainda nesta edição, trabalha com os Zuzucas – o seu “grupo carnavalesco de sempre” – e as meninas de passarela Barulhentas e Joanas do Arco da Velha, no qual a filha desfila. Fez os fatos dos cabeçudos, idealizou e confecionou a indumentária do rei e a sua de rainha – três vestidos “muito especiais” para diferentes ocasiões. O da Chegada dos Reis, a 1 de fevereiro, “imitava Beatriz Costa, a rainha da agulha e do dedal”, tal como Dona Ângela, explica. Autodidata, esta ovarense iniciou-se na costura aos 14 anos e possui um atelier. Por esta altura, tem a ajuda de mais cinco na missão em que já é especialista. A distinção com a coroa deixou-a “muito feliz” e apanhou-a de surpresa, apesar “já ter recebido algumas homenagens” dos seus grupos, diz. “O Carnaval para mim si-
ARTUR MACHADO / GLOBAL IMAGENS
ARTUR MACHADO / GLOBAL IMAGENS
E
is que aos 76 anos, João Gomes é coroado. Figura bem conhecida em Ovar, chega a rei Momo pelo seu contributo à comunidade enquanto ciclista e ao Carnaval vareiro através da Adega Social. É “O Enociclista”. Natural de Cucujães, Oliveira de Azeméis, adotou a cidade de Ovar aos 19 anos, levado pelo coração. Ali fundou a secção de ciclismo do Ovarense e até aos 27 anos foi uma atleta ativo, tendo chegado a participar em competições na Venezuela e em Espanha e em seis voltas a Portugal, ganhando duas etapas. Há 42 anos, passou a dedicar-se à Adega Social. Situada na Praça da República, é ponto de paragem obrigatório para todos os foliões, local de tainadas e debate de ideias de muitos grupos carnavalescos, um complemento às festividades da rua, por estes dias. “Na adega, passei noites e noites de Carnaval. Aquilo era e é o ponto de encontro de muitos grupos carnavalescos. Alguns até foram fundados lá”, recorda D. João, que assim contribuiu com muitas sugestões para o Entrudo vareiro. “Sou um amigo do Carnaval, mas não estava à espera deste convite”,
Ângela Granja 53 anos Prestou os seus primeiros serviços de costura no Carnaval aos 22 anos e nunca mais parou. Mesmo rainha, continua a trabalhar
gnifica muito trabalho, mas também muita diversão. Não imaginam o que é vestir homens de mulher e por aí fora. Nestes dias de costura, disfarço-me ou meto uns chumaços, entre outras marotices”, conta “A (Cu)modista”. MILENE MARQUES
//HISTÓRIAS INSÓLITAS O QUE MAIS NOS HAVIA DE ACONTECER? Em 50 anos de história, seria impensável que não houvesse um rol de peripécias (im)próprias para serem contadas. Contudo, os imprevistos, assim como as histórias que ficaram gravadas na memória, foram, em grande parte, dissolvidas no tempo. Daí resulta que, em alguns casos, não seja possível determinar os anos, ao certo. Muito menos as pessoas, em concreto. Mas sendo histórias têm o
dom de fazer, pelo menos, sorrir quem recorda a graça, ou a desgraça, dos outros.
MULHERES A DESFILAR? Cristina Pinto, mais conhecida por Tuxa, foi a primeira mulher a tocar bateria num desfile de Carnaval, perto dos anos 90. Na altura, os olhares dividiam-se entre a indignação, por causa do preconceito, e o espanto de quem pensou “esta senhora deve mandar nos homens todos”, conta.
E AGORA? O SOM QUE AVARIOU! Este é o acontecimento mais relatado pelos grupos e escolas de samba, desde que se utilizam aparelhos de som, em cortejos de Carnaval. Sempre que aconteceu, a solução passou por continuar a dançar, mas a cantar.
QUANDO ENCRAVA… Conta o grupo Pindéricus que, em 2001, as patas do veículo não funcionavam e que, em 2008, o cabo de
aço do pássaro que ia voar, e que era a grande aposta desse ano, partiu-se e lá se foi a vitória.
O ANO EM QUE NINGUÉM GANHOU Não é incomum chover em dia de desfile, mas em 2003, o cortejo não saiu mesmo e não houve pontuação nesse ano. Felizes ficaram os Kan-Kans que não tinham a roupa pronta a tempo e aproveitaram a noite de chuva para trabalhar e acabar o que faltava.
A TROPA MANDA DESENRASCAR…
AS FARRAS…
tos do grupo Pindéricus necessitou repousar um tempo por causa da noite anterior. Antes do desfile começar, foi para o carro do grupo (que era um palheiro). O problema é que o desfile começou e ele foi a dormir… no palheiro. Restabelecido, acordou e quando já se percorria a segunda volta, mandou parar o carro para que ele pudesse fazer o seu papel: dançar o “malhão”, como estava previsto.
Em 1994, um dos elemen-
FILOMENA ABREU
Bernardo, da Escola de Samba Kan-Kans, conta que em 2005, na véspera do desfile, o soldador adoeceu. Diz-se que a necessidade aguça o engenho e assim foi. Bernardo olhou para a roda de uma bicicleta e depois de a enfeitar com plumas e de a atar às costas, ninguém percebeu que algo fugia ao normal.