Contos Fantásticos e de Mistério Colégio Trilíngue Inovação
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CONTOS FANTÁSTICOS E DE MISTÉRIO Colégio Trilíngue Inovação
Chapecó - 2014 1ª Edição 1!
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Colégio Trilíngue Inovação Copyright© 2014 by alunos Ensino Fundamental e Médio Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão dos detentores do copyright. Colégio Trilíngue Inovação Gestora Me. Gislaine Moreira Nunes Escritores: alunos do 5º Ano do Ensino Fundamental ao 3º Ano do Ensino Médio Título: Contos Fantásticos e de Mistério Coordenação, organização e revisão: Liana Cristina Giachini e Giovana Reis Lunardi Diagramação: Daniela Meine Casarotto Formaio
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Uma imagem vale mais que mil palavras. Talvez não seja o caso de levarmos o provérbio português tão a sério matematicamente, mas as imagens são também uma linguagem, ainda que com funcionamento particular. Essa linguagem não verbal produz sentidos rapidamente e, muitas vezes, alcança um público maior. Dessa forma, não há controle sobre elas, expressam sentimentos e verdades e conseguem abarcar mais informações simultaneamente do que a linguagem verbal. Além da capa, as ilustrações que compõem o livro foram criadas por alunos do Colégio Trilíngue Inovação e são mais uma materialidade que expressa a criatividade e o talento dos estudantes. Capa: Henrique Mueller é aluno do Terceiro Ano do Ensino Médio do Colégio Trilíngue Inovação e tem 17 anos. Aos 7 anos de idade, ingressou na escola de desenho SG Arte Visual, onde adquiriu e tem adquirido cada vez mais - não só interesse pelo meio artístico, mas também conhecimento prático e teórico na área de desenho, pintura e ilustração. Futuramente, pretende estudar design para atuar como ilustrador e, ainda, especializar– se em arte digital para explorar o ramo de animação e jogos digitais. Dentre seus materiais favoritos estão o grafite e carvão, o giz pastel e as tintas aquarela e nanquim. Apesar da preferência em ilustrar arte sequencial (histórias em quadrinhos), mostra-se interessado em praticamente todas as áreas do desenho. 3!
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APRESENTAÇÃO Silvério da Costa1 O conto foi, nos seus primórdios, uma narrativa oral e quase caseira, contada nas noites de lua cheia, quando os povos antigos se reuniam para matar o tempo. Os temas eram as lendas populares, os mitos arcaicos e similares. Modernamente, o conto popularizou-se, abrangendo um universo diversificado de temas, passando a ter autonomia, como manifestação artística, a partir do Romantismo. Esta pequena introdução nada mais é do que o mote para dizer que o conto chegou ao Colégio Trilíngue Inovação, graças à iniciativa da sua gestora e de um grupo de professoras que, através de um concurso interno, tem envolvido os seus alunos em torno deste gênero literário. O evento, que já está na sua terceira edição, destina-se aos alunos do 5º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Eu tive a honra de ser convidado para fazer parte da Comissão Julgadora, e o que vi não foi pouco! Se considerarmos a dificuldade que os alunos de hoje têm para escrever corretamente, quanto mais para criar um texto dentro daquilo que preceitua a linguagem do conto, que se caracteriza por ser uma história curta. O resultado está neste livro. São aproximadamente 100 (cem) participantes. Os temas, por si só, já chamam a atenção, por estarem vinculados ao fantástico, ao misterioso, ao absurdo! Os contos aqui reunidos são calcados, é claro, no devaneio, tendo como cenário ambientes sinistros, espectrais, pouco comuns, envolvendo personagens mais incomuns ainda, instigando o leitor, com uma linguagem austera, lisérgica, alucinante! Os contos desta antologia são de contornos lúgubres, pungentes, que tocam a sensibilidade do leitor, e se leem com a respiração suspensa, tal a aura de mistério que os envolve, levando, depois de vários caminhos percorridos, a um final inesperado, como só acontece com os contos que se prezam e são dignos desse nome. Eles passeiam pela vida dos tétricos personagens, sem se prender a modismos, carregando consigo a pulverização de termos pertinentes, rupturas e deslocamentos, embaralhando ficção e realidade, e com algumas lufadas consagradoras e repletas de simbolismo, que podem, num primeiro momento, chocar os menos afeitos às temáticas enfocadas. Os autores desta antologia são ágeis, versáteis, extremamente imaginativos, que rompem as amarras de mimese para serem eles 5!
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mesmos, dando coesão aos textos que têm uma unidade básica, dentro da multiplicidade, fazendo com que o livro virasse um grande mosaico literário. Enfim, este trabalho encetado pelos alunos do Trilíngue é uma associação de contos para ficar na história do Colégio, porque seguiu à risca o leit-motiv imposto pelo regulamento, com a orientação, naturalmente, da gestora e de sua equipe, dando uma amostra da competência que se espera daquelas que sabem o que querem para os seus alunos. Trata-se, pois, de um livro que carrega todos os mistérios literários, merecendo de minha parte os sinceros parabéns, não só pela concepção conteudística da obra, mas também pelo talento de seus integrantes, e pelo espírito que os moveu, na feitura de um verdadeiro “Reality Show” literário!
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Silvério da Costa nasceu em 1939, no norte de Portugal, em Volbom, próximo à cidade do Porto. Chegou ao Brasil em 1963, depois de participar da guerra da Angola. Autor conhecido e admirado por um público composto das mais variadas faixas etárias, Silvério vive em Chapecó há mais de quarenta anos. Além de um exímio escritor, que revela uma maneira particular de compreender a realidade, mostra-se um crítico literário respeitado, conhecedor da Língua Portuguesa e de suas particularidades, e um incentivador da arte literária. 6!
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SUMÁRIO PREFÁCIO CONTOS DE MISTÉRIO – NÍVEL II
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Companhia O relato de um condenado O mistério de Willowcreek Uma prova de amor Uma fresta para o futuro Refeição sangrenta A vila O mistério do Mistério O inocente Déjà vu O palhaço A volta do empresário morto Medalha de honra Túnel ao Inferno Na mesa com a inconsequência Desmembrando o passado A montanha A bela e a fera O delírio O guardião da lua Olho vermelho, ave negra Floresta inimiga Os três bilhetes de Lovedely Aflição Não beba enquanto vivo A bela dos olhos de esmeralda A floresta da morte A lenda de Louisbisomem Fumaça negra Uma aventura em Ilhéus
14 16 18 20 22 24 27 29 31 33 35 37 39 40 42 45 47 49 51 53 55 57 58 60 62 64 67 68 70 72
CONTOS DE MISTÉRIO – NÍVEL I
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O último suspiro Horas da noite
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O monstro sou eu Noite na escuridão O gato e as flores Pesadelos Doce demência A porta, as bestas e o ciclo A boneca A vizinhança O barulho Sótão maldito A dama de negro Ilha da morte A casa O labirinto infinito O menino e o livro Eu te avisei! A noite dos mortos vivos
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CONTOS FANTÁSTICOS
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Mortos querem vingança Nos becos do Coringa As lembranças nas notas do acordeom 24 horas para salvar os fantásticos Os meninos e a floresta fantástica A pousada velha e abandonada O espelho e o balanço A chuva de doce A terra dos unicórnios Romance fantástico A imensidão da escuridão A bruxinha Matilda Enchented A casa e o fantasma A vila dos Nabões Os fofuchos Acontecimentos sombrios A maldição do piano Era um dia qualquer
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CONTOS FANTÁSTICOS – PEQUENOS AUTORES
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A maçã dourada
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O novo conto de Rapunzel 130 O lago de pedras de ouro 131 Meus amigos, minha histテウria 132 O menino e o urso 133 Bruno e a viagem ao mundo dos sonhos e da imaginaテァテ」o134 A viagem dos sonhos! 135 O mendigo 136 Princesinha Sofia 137
POSFテ,IO
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PREFÁCIO Gabriel N. Andreolli2 Nunca gostei de ler mistérios. Não sei por que, mas já me peguei jogando na balança todos os pontos obscuros e sem explicações da vida e passei a acreditar que ela, por si só, já sanava toda a minha fome de suspense, e isso, por um tempo, fez-me ignorar esse outro lado da literatura. Se isso foi uma coisa boa ou ruim, talvez eu descubra um dia. Confesso, porém, que não tenho pressa. Nessa busca constante por reconhecimento num espaço onde existe um vazio tremendo em relação ao que se pode chamar de jovens escritores, aceitei o desafio de analisar e selecionar alguns contos escritos por pessoas tão jovens quanto eu e que, em razão da transição para a vida adulta, encontram nas palavras uma forma de demonstrar a maturidade como sua mais nova aquisição. Embora eu tenha hesitado um pouco, considerei uma honra a oportunidade de ler o que esses novos autores tinham a dizer. Aí descobri que esses contos se tratavam de mistério – mas, alguém tinha de fazer esse trabalho. E eu sentia que poderia ser eu. Não sabia se criava um clima no meu quarto para começar a leitura ou se os lia ali mesmo, na hora. Porém me convidaram para tomar uma cerveja e, como eu estava na cidade a passeio, fui, sem pensar duas vezes. A lua grande e cheia. Uma cerveja. Duas cervejas. Três cervejas, e eu tinha de voltar pra casa. O abajur do meu quarto espalhava pequenos feixes de luz, deixando-o pouco iluminado, o que me remeteu a uma sensação diferente de ansiedade e curiosidade. Cheguei mais perto e me deparei com os contos, num envelope deitado em minha mesa, como se estivessem gritando “Ei, estamos aqui, você é covarde? Está com medo? Não sabe se é a hora, né!”. Abri o envelope e comecei a aventura. A cada linha que meus olhos corriam, eu me jogava em ambientes soturnos, dias frios e noites chuvosas de terror e aflição, com luzes falhando, portas batendo, sangue e desespero. E, assim, perdi o sono, como quem havia tomado uma jarra do café mais forte ou acordado de um pesadelo. Às vezes as coisas chegam na hora certa, mas as que chegam na hora errada sempre carregam consigo uma carga de emoções distintas e 10!
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intensas, desconhecidas, até então, e foi isso que esses contos me proporcionaram. Uma dose de emoção numa hora errada – antes de dormir. Você pode começar a sua aventura. - Ei, estamos aqui, você é covarde? Está com medo? Não sabe se é a hora, né!
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Gabriel Nunes Andreolli nasceu em Porto Alegre (RS), em 07 de novembro de 1991. Iniciou os estudos na área jurídica e cursou até o oitavo período do curso de Direito, que abandonou a fim de se dedicar à Faculdade de Cinema, em Buenos Ayres, onde reside atualmente. Jovem autor de espírito livre, Gabriel se vale da Literatura para retratar as vicissitudes da vida, numa espécie de catarse. Sua obra inaugural “Universo Paralelo de Palavras e Tripas”, composta de uma coletânea de textos que vão do conto à prosa poética, arrancou elogios da crítica e tem arrebanhado um número cada vez maior de leitores das mais diversas idades. 11! !
Ilustração: Marianna Hofer Neris - 2º Ano Ensino Médio
CONTOS DE MISTÉRIO – NÍVEL II
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Tecendo a arte de contar histórias O que nos move na busca pelo desconhecido, pelo tétrico e inesperado sabor do viver? Homens, mulheres, meninos e meninas envoltos no espírito da fantasia... Seja para expor ou ocultar sentimentos, adentramos num mundo só nosso ao nos tornarmos autores. Nas linhas escritas com destreza, ou com dificuldade, personagens ganham vida tal avatares, que nos permitem esquecer o que somos, o que vivemos ou sentimos, para enveredarmos em outros caminhos, outras vidas, outros sabores, outros amores... outros horrores! Posso dizer sem hesitação que, nesses últimos meses, vivemos nossas leituras. Em nossas Oficinas de Produção textual, afastamo-nos um pouco da rigidez da dissertação para adentrarmos no delicioso mundo da ficção. Sentimos cheiros, gostos e texturas, em atividades que nos permitiram dar o impulso que faltava à exploração sinestésica de cenários e personagens, que mais tarde dariam origem a verdadeiros contos de mistério. A coletânea que o Colégio Trilíngue Inovação ora vos apresenta, caros leitores, é resultado da criatividade de estudantes adolescentes que se permitiram fruir a literatura, saboreando-a com deleite. Esta seção, a qual me coube introduzir, reúne contos de alunos de oitavo ano do Ensino Fundamental a terceiro ano do Ensino Médio, que adotaram pseudônimos e agora terão a identidade revelada. Tais produções se constituem como o resultado de um trabalho iniciado na Oficina de Contos, realizada no mês de outubro de 2014, que culminou com o III Concurso de Contos do Colégio Trilíngue Inovação. Por meio de atividades lúdicas, que deslizaram dos saberes literários e linguísticos à teatralização das produções, nossos alunos foram tentados a escrever de forma livre e inventiva, sem deixar de lado o diálogo com os grandes mestres da literatura universal. Dessa intertextualidade e criatividade nasceram estes textos repletos de sonho, que vos convido agora a conhecer. Desejo que Edgar Allan Poe e Alvares de Azevedo vos guiem por estes caminhos tortos... Mas não posso deixar de vos advertir: é preciso cuidado para não se perder! Liana Cristina Giachini Mestre em Estudos Linguísticos Professora de Língua Portuguesa do Colégio Trilíngue Inovação
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Companhia Lucy Em uma noite mais fria do que qualquer outra que eu já tivesse enfrentado, ele chegou. A neblina estava tão espessa que, se eu olhasse pela janela, não veria mais nada do lado de fora. As quase inexistentes sombras das majestosas árvores que rondavam minha casa só tornavam o ambiente mais escuro. Era difícil de assimilar algo que não fossem ruídos ou feixes de luz. Ele veio caminhando pelo meio do bosque e, apesar da névoa, era possível ver uma aura negra que o circundava, tornando tudo em sua volta mais escuro do que realmente era. De longe, eu podia perceber que sua presença não poderia trazer algo de bom, porém era inevitável afirmar, ele vinha a meu encontro. Senti um calafrio percorrer todo o meu corpo. Vi-o abrir a porta e demorar a fechá-la, trazendo consigo o vento cortante que assolava a região. Gelando minha casa, a sala e minha alma. Sem me dar explicações, caminhou pela sala, adoecendo tudo o que havia ao seu redor. Apossou-se de meu sofá, colocou os pés para cima e se acomodou em meio às almofadas. Não se explicou em momento algum. Não disse quem era, de onde viera, e muito menos o que queria. Apenas ficou ali. De imediato, mandei - o embora, porém, como se fosse incapaz de meu ouvir, colocou um sorriso seco no rosto encovado e continuou a me ignorar. A partir daquele momento, permaneceu em minha casa como se lhe pertencesse, tomou meus pertences como se lhe fossem de direito, atormentou minha vida como se fosse a dele. Dentro de alguns dias, como se já não bastasse arruinar minha confortável e acolhedora sala, ele passou também a ocupar minha cozinha. Apodreceu as comidas, roubou a cor das frutas, impediu que a luz do sol adentrasse pela janela. As refeições não mais me pareciam apetitosas, já que eram sempre acompanhadas pelo azedo gosto de sua presença. O café, que de amargo era tão doce em contato com minha boca, já não era mais capaz de aquecer meu coração. Logo ele havia também invadido meu quarto. Quebrou meus discos, tornou acres meus perfumes, esfriou minha cama. Ele tornou o colorido de meus livros um odioso arco - íris monocromático. Livros que não mais seriam capazes de me tirar desse mundo e me transportar para um lugar onde eu poderia ficar longe daquela presença indesejada. Tornou tudo ao meu redor de difícil convívio. Ele também tomou conta de meu sono. Virava - me de um lado para o outro madrugada adentro. Beliscava - me quando o a inconsciência 14!
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parecia finalmente ter chegado. Fazia com que as sombras da penumbra se fechassem sobre mim, asfixiando - me em meio a minha incapacidade de reagir. E, como se já não bastasse, passou também a me impedir de sair de casa. E eu nunca saberia dizer se era apenas por ciúme ou se era pelo prazer de me ver sofrer em meio à solidão. Qualquer luta de minha parte se tornava cada vez mais inútil. Quanto mais eu insistia para que ele me deixasse em paz, mais fundo ele parecia cravar suas compridas unhas em meu couro cabeludo. Passou a me agredir sem aparente motivo. Mutilava - me com palavras que eram mais afiadas que facas. Batia - me com seus punhos, que eram mais duros que a coragem que há muito havia me deixado. E por mais que não o quisesse, ele parecia crescer a cada dia. Perguntei - lhe mais uma vez quem era e, como resposta, senti suas mãos adentrarem meu peito, cortando tudo o que havia entre elas e o órgão que ele buscava. Então, com força e rapidez, ele arrancou minha esperança, e deixou-me ali, por dias, sangrando com os meus pensamentos, sem que eu fosse capaz de me recuperar. A partir daquele momento, decidi aceitar sua presença. Deixei que arruinasse meu apetite, que murchasse minha criatividade, que inutilizasse minha disposição. Vez ou outra, ele me agraciava em seus braços, que, apesar de estarem longe de serem reconfortantes, tiravamme da solidão em que me encontrava. Com o tempo, passei a me sentir cada vez mais vazia. Sua presença era capaz de sugar meus sentimentos. Para falar a verdade, eu sentia como se eles já tivessem me abandonado há muito tempo, antes mesmo dele chegar. E a curiosidade, que sozinha ainda rondava meu coração, fez me perguntar a ele, pela milésima vez: "quem é você?". Sem tirar o sorriso debochado do rosto, ele puxou-me para perto de seu corpo, gelado como uma noite de inverno. Colocou seus dedos longos em meu queixo e me fez olhar em seus olhos, que, naquele momento, eram mais negros que meu coração. E, enquanto acariciava meus cabelos, ouvi sua voz cortando em minha direção: - Eu. Eu sou o medo. Sua mais fiel companhia para todo o sempre! Júlia Treter Kajevski 1º Ano Ensino Médio
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O relato de um condenado Porta-voz do inferno A morte não amedronta as pessoas, é a possibilidade de uma vida após a morte que o faz, pois muito pior do que morrer, é viver eternamente. ... Desço pela Rua das Flores – uma ironia, já que musgos e mato compõem a vegetação – em direção da minha casa. Meus pés ardem conforme piso no calçamento irregular de pedras. Meus pulmões sofrem com a umidade do ar. Para um velho como eu, não poderia ser difícil essa caminhada. Paro para observar o meu casarão de madeira pobremente iluminado ao fim da rua. Continuo meus passos até chegar à frente da porta. Infelizmente, ainda estou vivo. Quem não entende minha reação, é porque não conhece os demônios que enfrento nos aposentos desta casa. Forço a maçaneta e entro no ambiente, a umidade me castiga ainda mais. Jogo minhas coisas em cima da mesa ao lado da fotografia dos meus filhos, parece que olham para mim. É quando escuto aquela voz diabólica que se dirige a mim todos os dias com o mesmo tom agudo e estridente, dizendo: -Por que fez isso conosco, papai? E eu respondo em um pulo: -Deixem-me em paz, diabos infelizes! Às vezes, penso que é o Diabo falando comigo, nunca consegui me livrar dessas alucinações, tentei suicídio inúmeras vezes, mas algo sempre sai errado. Subo esbaforido ao meu quarto, tentando fugir dos espíritos que me atordoam na sala. Está começando de novo. Entro no banheiro velho de minha suíte, e me encaro no espelho manchado pelo tempo. Atrás do meu reflexo está a mesma imagem que vejo todos os dias, minha esposa me observando. -Onde estão as crianças? Ela pergunta. Viro-me para encará-la, e, mais uma vez, estou sozinho no meu quarto. Grito em apelo: -Satanás! Por favor, tenha piedade! Já não são suficientes todos os demônios e espíritos que falam comigo todos os dias de minha vida? Até quando viverei assim? Por que não me mata, ó Deus todo poderoso, livraime desse mal! Já não suporto os fantasmas do meu passado que me castigam. Procuro a morte em suicídios, mas ela não me aceita! Ó Diabo, leve essas almas a torturarem outros coitados, mas não mais esse velho frágil! 16!
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Desço novamente para a cozinha, o medo toma conta de mim. Sirvo-me de uma dose de uísque e me pergunto até quando isso tudo vai durar, é a mesma coisa todos os dias, há muitos anos. Vou tomar o primeiro gole de meu destilado, quando aquelas crianças mortas me interrompem: -É melhor não beber papai, você lembra o que aconteceu na última vez? Tudo o que eu queria era esquecer, era dizer que não lembrava, mas estaria mentindo. O meu conflito interno me consome, os espíritos de minha família me castigam, o desespero toma conta de mim. Eu preciso resolver isso, dar um fim a essa vida, fugir desse inferno que o Diabo me impõe. Subo ao cômodo mais alto do casarão. A alma de minha esposa me encara e diz sorridente: -Não adianta, você sabe que não deu certo da última vez. Eu já não consigo mais controlar meus atos. Ignoro aquele espírito que me fala e pulo pela janela. Mais uma tentativa de suicídio. Desmaio logo que chego ao chão. Assim que acordo, percebo que estou descendo a Rua das Flores em direção ao casarão. Quando entro, jogo minhas coisas na mesa ao lado da fotografia dos meus filhos. Eles olham para mim. Escuto a voz: -Por que fez isso conosco, papai? [...] Carlos Eduardo Battiston Fonseca 3º Ano Ensino Médio
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O mistério de Willowcreek Finn McCool, o eremita escocês Atenção leitores, o conto que agora relato não é apenas mais uma das tradicionais histórias que se contam em Halloweens ou Sextas-Feiras 13, daquelas que servem apenas para amedrontar as mentes infantis. Esta narrativa vai mais além, é uma lenda, que se fixou de maneira imorredoura na mente dos indivíduos que tiveram o privilégio de contemplá-la, retornando à memória destes sempre que lhe convém, causando-lhes medo e aflição. Decorria o ano de 1710, muito rapidamente, para falar a verdade. Entretanto, para os habitantes de Willowcreek, condado rural situado no norte da Escócia, o tempo parecia não passar. O cotidiano pacato e humilde dessas pessoas, assim como a tranquilidade bucólica da pequena vila, faziam com que os raros visitantes, de início, a julgassem salva das perversidades que assolam a humanidade. Todavia, o bonançoso lugarejo ocultava um lúgubre mistério. Àquela época, muitas famílias estavam perdendo seus filhos, e o motivo era desconhecido por todos. O fato era que, ao irem brincar nos matagais que circundavam o burgo, crianças, de diversas idades, desapareciam inexplicavelmente, sem nunca mais voltar ao lar. Em estado de calamidade, a população, supondo que a culpada por esses acontecimentos seria alguma espécie de criatura da mata, organizou uma expedição armada, objetivando a morte da fera e a vingança dos familiares perdidos. Ao adentrarem no arvoredo, os voluntários da jornada montaram um acampamento, com a finalidade de servir de base para as buscas na região. Com o cair da noite, ouviam-se sussurros arrepiantes, causadores de calafrios, provenientes do denso matagal. O medo desabou pesadamente sobre os pobres fazendeiros, fazendo-os pensar em coisas de essência diabólica, levando todos à beira da insanidade. Desesperados, os homens sacaram suas armas e dispararam para todos os lados, buscando cessar os bulícios demoníacos. No entanto, eles apenas aumentaram de volume e encurtaram sua proximidade com o bando. Surgiu, repentinamente, da densa floresta, uma criatura, cujas características enojam-me e amedrontam-me até hoje. Antagonicamente ao que deduziam os habitantes do condado, o ser responsável pelos desaparecimentos não possuía traços animalescos, mais se assemelhava com uma pessoa de idade avançada. Contudo, a entidade nada ostentava da inocência e bondade características dos anciões, muito pelo contrário, uma névoa de podridão e malignidade dela emanava. 18!
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Além disso, a que agora chamo de bruxa, trazia consigo um colar, em que, observando com mais atenção, notavam-se os pequenos corações das vítimas feitas por ela, inseridas em um cordão de vísceras de origem semelhante. Ficou óbvio para os fazendeiros que sua morte era indubitável, mesmo assim, suplicaram, incansavelmente, para que a criatura os poupasse do sofrimento. Essa, malevolamente, propôs o seguinte: - Devorarei todos, pedacinho por pedacinho, e sugarei lentamente todo o sangue que parece ter esvaecido de suas pálidas faces. No entanto, darei a oportunidade de um de vocês se salvar, apenas um, o resto perecerá. O grupo logo chegou a um consenso, decidindo que Albert, o mais novo do bando, seria o homem que escaparia do destino funesto. Percebendo que a decisão tinha sido tomada, a criação de Satanás cumpriu com o que prometera, deliciando-se com a carne quente e suculenta dos moradores de Willowcreek, exceto Albert, que apenas presenciou a carnificina. Satisfeita, a bruxa desapareceu, tão rapidamente quanto surgira. Albert, não acreditando no que acabara de presenciar, fugiu imediatamente do matagal luciferiano. Ao retornar à vila, expressava em sua face todo o pavor e repúdio que sentia, de maneira que os habitantes do pequeno condado presumiram que ele estava possuído pelo CoisaRuim, e que, se mantivessem o endemoninhado na aldeia, ele traria desgraça e sofrimento ao povo local. Os compatriotas, temerosos de novas tragédias, amarraram Albert numa estaca e o queimaram, com intuito de acabar com a maldição que pairava sobre o condado. Porém, esse ato impensado não garantia que a entidade endiabrada deixaria de assolar a pobre população de Willowcreek, maculando a pureza que o burgo ostentava... Giordano Gorham Miolo 1º Ano Ensino Médio
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Uma prova de amor MLK James Em uma noite fria e chuvosa, Mary estava chegando em casa e, quando abriu a porta, caiu dura no chão! Ficou horas ali paralisada até alguém chegar. Quando seus pais chegaram, ficaram apavorados, não sabiam o que fazer. Correram até ela, e sua mãe começou a chorar exacerbadamente. Então, levaram-na para o hospital o mais rápido possível. Lá, a jovem menina recebeu uma péssima notícia: estava com uma doença pavorosamente grave! Era leucemia e, para piorar a situação, estava em fase terminal, mas isso sua família não lhe havia contado, pois a reação da menina ao saber da doença foi horripilante. Ela entrou em choque, ficou sem reação. Mary passou anos angustiada com a ideia de que a qualquer momento poderia morrer, já que o que ela menos desejava era isso. Ela só queria poder ter uma vida normal, como a de qualquer outra pessoa, aproveitar a fase de adolescência, mas a doença não lhe dava permissão. Depois de dez anos, quando, felizmente, já estava curada do tumor, ou pensava que estivesse, a jovem foi parar no hospital novamente. Estava angustiada, esperando pela resposta do médico para saber o que havia acontecido. O médico abriu a porta lentamente para falar com a menina. Entrou na sala e falou que precisava conversar com seus pais antes de dar a ela qualquer diagnóstico. Mary não aguentava mais esperar, estava apavorada, com medo de ter a morte a persegui-la mais uma vez. Os pais de Mary e o médico, especialista em tumores, passaram horas na sala, conversando sobre o caso da menina. Ela já não sabia mais o que fazer, estava prestes a abrir a porta do pequeno vestíbulo, para saber sobre o que eles falavam, mas não fez isso porque sabia que os pais brigariam com ela. De repente, ela percebeu um movimento na maçaneta da porta. Seu coração começou a bater mais forte, estava chegando a hora dela saber a verdade e, nesse momento, ela se perguntava se estava salva ou a morte havia voltada para assombrá-la. Finalmente, depois de horas naquele espaço, o médico saiu com um sorriso no rosto. Contudo, mesmo que o semblante do simpático homem fosse agradável, a menina não se tranquilizou. O coração batia cada vez mais forte, até que o médico falou: “Não foi nada, apenas sua pressão”. Ela recebeu alta e foi para casa. Mary estava muito feliz, já que seu tumor não voltara, mas suspeitou de algo, porque os pais estavam com um olhar triste, apavorante. Os dias se passaram, e a menina ficava cada vez pior, estava com muita dor de cabeça, infecções, fraqueza, o que era muito suspeito, mas ela não procurou um médico. 20!
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Em uma sexta feira à noite, a vizinhança estava abandonada, as ruas quietas e só se escutava o barulho do vento. Mary estava quase dormindo, quando o pai entrou no quarto com um travesseiro, correndo para perto dela. A menina ficou amedrontada, pois o pai pressionava-lhe o travesseiro contra o rosto. Ela tentou gritar, gritou muito, mas infelizmente ninguém escutou. Seu pai a estava matando asfixiada e, quando ele percebeu o que estava ocorrendo, ela já estava morta. O velho homem saiu correndo, chorando desesperadamente com um grande arrependimento de ter matado a própria filha. Mas precisava fingir que não havia feito nada, afinal ninguém deveria saber. Ligou rapidamente para a esposa e, depois de dez minutos, ela chegou. Ao ver a filha debruçada sobre a cama, caiu de joelhos no chão e ali ficou chorando por duas horas ininterruptamente. Na manha de sábado, eles tomaram todas as providências necessárias e não se descobriu o motivo da morte de Mary. Depois de meses, o pai da garota começou a se culpar pela morte da filha. Afinal, ele teria sido o criminoso. Passava minuto após minuto pensando como teria sido se ela ainda estivesse naquela casa. Ele estava transtornado, já tinha pensado até em se suicidar, mas não teve coragem. Passaram-se dois anos, o pai de Mary ainda estava se torturando, hora após hora desses dois anos se sacrificando pelo erro. Nesse período de tempo, a esposa já havia morrido de infarto. Esse foi um fato que o levou à loucura: matara a filha e perdera a esposa. No dia da morte da sua companheira, ele se trancou em um quarto escuro e lá ficou durante três meses, agachado em um canto, balançando-se desesperadamente. Isso se repetiu até o dia em que foi encontrado morto, na própria casa, no mesmo quarto em que estava quando a esposa morrera. Mesmo depois de morto e enterrado, sua vida não acabou. Em outro mundo, na vida após a morte, ele reencontrou a filha, Mary, que ficou apavorada com o reencontro. Ainda que estivesse com medo do que poderia acontecer, ela foi fazer algumas perguntas a ele, que até aquele momento ainda não sabia a resposta. Mary caminhou lentamente, com muito medo, até o pai. Ele a abraçou forte por alguns minutos. Depois disso, Mary perguntou a ele qual o motivo que o levara a assassinar a própria filha. Ele, sem palavras, começou a chorar loucamente e com muita dificuldade, soluçando, respondeu: “então filha, aquele dia em que eu e sua mãe passamos horas conversando com seu médico ele nos falou que seu tumor havia voltado e que você teria no máximo cinco meses de vida. Não queria vê-la sofrer e, por isso, resolvi antecipar sua morte. Mas, depois desse ato, arrependime totalmente... foi tudo por amor” Ana Luiza Cardoso Teles 1º Ano Ensino Médio 21!
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Uma fresta para o futuro Macaco do Zói Azu Em uma sala escura - cujas paredes outrora brancas agora estavam sujas de sangue e eram fracamente iluminadas por uma tocha quase apagada pelo vento que adentrava pela janela entreaberta, ao lado da porta a ranger incansavelmente - estavam um indivíduo e quatro pútridos corpos pendurados ao teto pelos pés. E lá estava eu, vendo tudo através de uma fresta na descascada parede da sala ao lado, até perceber que minha fuga havia sido notada. Instantaneamente, comecei a correr para salvar minha vida, até tropeçar em uma cadeira que estava no meio do corredor. A propósito, meu nome é Tom e tenho 19 anos. Durante uma fria manhã de inverno, eis que estava eu a caminhar rumo à escola, para mais um dia de aula, quando senti um cheiro podre. Nos primeiros dias, nem me importei tanto, mas, depois de algumas semanas, o odor ficava cada vez pior. Mudei minha rota para evitar o pútrido odor, todavia nada se modificou. Depois de alguns meses, ao voltar para casa, deparei-me com um carro antigo, corroído pela ação do tempo. Viam-se apenas algumas manchas de sua cor original. Estranhei, já que nunca o havia visto e, como já passara da uma hora da manhã, e estava só e a pé, continuei meu caminho para casa. Naquela noite não consegui dormir, fiquei imaginando se existiria alguma relação entre o carro e o desagradável aroma que sentia todos os dias. Enfim, acabaram as aulas. Decidi, então, que, acompanhado de alguns amigos, descobriria de onde vinha aquele cheiro que tanto me importunou. Passamos dias e noites em busca de uma resposta, porém sem nenhum resultado. Então, ao final de uma nebulosa tarde, Arthur escorregou em um barranco e caiu dentro da antiga, escura e amedrontadora tubulação de esgoto do bairro, infestada de animais asquerosos que corriam guinchando assustados. Notou a mesma podridão e nos chamou. Decidimos avançar e, conforme avançávamos, o cheiro ficava mais forte, até chegarmos a uma enorme sala subterrânea, aparentemente abandonada. No dia seguinte, retornamos ao local e, com muita dificuldade, percebemos que as paredes estavam cobertas de sangue. Cautelosamente, adentramos no escuro e sombrio território desconhecido, onde o ar aparentava estar mais pesado. De repente, tive a impressão de ter visto um vulto à minha frente e saí correndo atrás daquela imagem indefinida. Quando percebi, estava perdido. Tentei voltar, mas não encontrei o caminho e, ali, dormi. Acordei acorrentado à parede de uma sala e fiquei espantado ao ver quatro corpos pendurados ao teto pelos pés e uma fraca luz que vinha pela janela entreaberta. 22!
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Conseguia ouvir apenas minha respiração e uma lenta e amedrontadora música de fundo. Vagarosamente, alguém se aproximou, porém não pude ver sua face. Logo em seguida, ouvi um barulho de porta batendo e pensei: é agora que dou o fora daqui. Deslizei minhas mãos através das presilhas que me mantinham junto à parede e procurei por toda a sala algum lugar para me esconder, porém não obtive sucesso. Então, ouvi o ranger das antigas e corroídas tábuas de madeira do assoalho e tentei disfarçar, fingindo que ainda estava preso pelas correntes. Uma pessoa entrou na sala e começou a dilacerar um dos corpos que ali estavam com uma grande faca enferrujada. Em um instante de distração, agachei-me e, sorrateiramente, aproximei-me da porta aberta, penetrando na sala ao lado, onde, por um buraco na suja e descascada parede, observei tudo que era feito até compreender que meu desaparecimento fora percebido e minha localização descoberta. Corri, então, pelo escuro e sombrio corredor, até tropeçar em uma cadeira, tudo em vão. Lá estava eu, novamente acorrentado, dessa vez mais forte, e com apenas um corpo na sala, que aparentava ser uma mulher, pelos longos cabelos e esbeltas curvas, agora exalando um fortíssimo odor de podridão que não consegui aguentar e desmaiei. Despertei com algo afiado cortando meu peito, então percebi que o indivíduo que estava na sala era uma mulher, a qual todos pensavam estar morta. Seu nome, Elizabeth Megiddo, uma senhora de 78 anos. Tentei fugir, mas sem resultado. Então, ela parou de me cortar e sentou em frente à janela. Fiz várias perguntas, às quais não obtive nenhuma resposta. Até o momento em que, ao arremessar a enorme faca e quase dividir meu crânio em dois, ela me disse: quem entra nestes corredores, jamais sairá sem minha ajuda. Após alguns minutos, ela dormiu, aproveitei para tentar me libertar e consegui. Procurei pela porta, a fim de sair da casa, não achei, mas vi ao longe uma luz. Fui em sua direção e encontrei meus amigos. No caminho de volta, ouvimos o barulho de um carro, começamos a correr, e todos caímos em uma enorme cachoeira interna. Acordei... com um pulo em meu sofá, percebi que tudo não passou de um sonho de uma noite de bebedeira. Depois de aliviada a ressaca, fui caminhar pela cidade. Ao sair de casa, deparei-me exatamente com o mesmo carro putrefado, bálsamo de meu sonho, e pensei: “FUDEU”3! Bruno Cuchi Bordignon 3º Ano Ensino Médio
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Em respeito à autoria, preservamos a linguagem e o vocabulário original do autor.
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Refeição sangrenta Beyroe Seis amigos estavam indo de carro a um parque de diversões, bebiam e ouviam Queen. A chuva estava muito forte, a neblina atrapalhava Arthur, que estava dirigindo. Os relampejos assustavam muito Luíza. O carro, já não muito novo, parou de funcionar, e começou a chover granizo. Temendo que o carro estragasse, empurraram-no até um prédio abandonado, não muito distante. Estavam longe de casa, os celulares não tinham sinal. Amanda logo reclamou por não poder postar a foto dela no Instagram. Os amigos riram. A risada veio seguida de gritos. Não eram gritos comuns, eram agudos, penetravam nos tímpanos, com uma música horripilante ao fundo. Eles ficaram num impasse, olhando um para o outro, não sabiam se subiam as velhas e sujas escadas do prédio para descobrir o que era aquela música sinistra, seguida de gritos, ou se saíam correndo daquele local. João deixou Gabriel cuidando de Luíza, Amanda e Mariana, enquanto ele e Arthur iam procurar a razão pela qual havia aqueles tenebrosos gritos e aquela música que provocava pânico. João e Arthur foram subindo as escadas, quanto mais subiam mais sentiam pavor. O volume da melodia ia aumentando. Os que ficaram junto ao carro estavam tentando encontrar sinal, nem uma sequer palavra saía daquelas boca, o medo tomava conta. Mariana, muito corajosa, resolveu ir atrás de João e Arthur. Subiu correndo a escada. A única fonte de luz que tinham era a da lanterna dos celulares, cuja bateria não duraria muito tempo. O cheiro era muito forte, parecia carne pútrida. Mariana já estava junto dos meninos quando resolveram abrir uma porta. A maçaneta tinha aspecto pegajoso e a porta parecia ter sido arranhada. Mas o que mais os assustava era o que poderia estar por trás dela. Mesmo assim eles entraram. Por conta da pouca iluminação, não era possível ver muita coisa. A música supostamente vinha de um piano, eles não sabiam onde estava, mas era muito alto. Continuaram a andar, a sala era enorme, o cheiro havia ficado ainda mais forte e os gritos pararam no momento em que eles entraram na sala. Nesse instante, Arthur tropeçou em algo e caiu, e o celular acabou voando para longe. João e Mariana correram o máximo que podiam, acreditando que alguém havia pegado Arthur, quando, inesperadamente, depararam-se com mais uma porta. Arthur gritava desesperado, porém ninguém o escutava, o volume da canção era realmente alto. João e Mariana, ao abrirem a outra porta, toparam com uma cena horrível. Sentiram muito medo. A música parou repentinamente. Entraram em pânico. O local era a origem do mau cheiro. Aquela sala tinha uma forte iluminação, as paredes e o piso eram bem brancos, não 24!
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possuía sequer uma janela. Estava tudo muito limpo. Havia milhares de mesas e o que repousava sobre elas era ainda mais assustador. Tinha uma parede com várias estantes largas e altas, com potes de vidro. João não sabia o que fazer ou falar. Eles resolveram sair daquele lugar. Levaram um susto muito grande quando Arthur entrou na sala mais pavorosa do prédio abandonado, local onde eles estavam, falando que eles deviam sair dali o mais depressa possível. Contou que encontrou um piano que parecia ser o local de onde saía a melodia. Lá, havia uma mulher de longos cabelos pretos e vestido de cauda, sentada, tocando. A mulher saiu correndo quando notou a presença de Arthur. Ao resolverem sair dali, chegam Amanda, Luíza e Gabriel, que ficam apavoradíssimos com o que veem, pois era tenebrosa a situação. Eles avisaram que conseguiram fazer o carro funcionar e que era melhor saírem daquele lugar. No momento em que estão caminhando rumo à porta, ela se fecha sozinha. A mulher de longos cabelos aparece. Eles tentam abrir a porta. Falham. Caem em um alçapão. A mulher ri. Os seis amigos gritam por socorro. Ela, então, escolhe uma pessoa do alçapão. Gabriel. Prende-o em uma maca. Os outros amigos ela coloca em gaiolas separadas. O que ninguém imaginava era o que ela iria fazer com Gabriel. Eles imploravam para os deixarem sair. Nesse espaço de tempo, a misteriosa dama chega perto das gaiolas e começa a cheirá-los. Eles ficam arrepiados. A mulher tenebrosa volta para a maca onde está Gabriel, abre um armário e tira ferramentas. Começam os mais agonizantes gritos de dor. Mariana, Luíza, Amanda, Arthur e João gritam, choram, debatem- se contra a gaiola. Nada adiantava. A horripilante mulher corta pedacinho por pedacinho do corpo de Gabriel. Começa pelos pés, seguidos dos joelhos, depois as coxas, as mãos, os braços. Ela vai colocando tudo dentro de potes de vidro separados. Por último, retira o cérebro. Depois, escolhe sua segunda vítima. Luíza. A terceira. Amanda. Repete os mesmos passos com a quarta vítima, Arthur. Ao som do piano, seguido de altas gargalhadas, Mariana chorava, agitava mãos e pés. João gritava muito, tentava balançar a enorme gaiola para tentar sair. Tudo em vão. A mulher de cabelos da cor da noite pegou os dois e os colocou nas macas. Vendo o amor entre João e Gabriela costurou pedaços do corpo de João em Mariana e de Mariana em João. Eles agonizavam, perdendo muito sangue que a louca ia guardando em um decante na geladeira. As pernas de João estavam em Mariana, as mãos de Mariana estavam costuradas nos braços de João. Quando havia terminado de remendar os corpos, a cruel assassina abriu as cabeças e retirou os cérebros. Enfim, sentou-se em uma poltrona em frente à mesa. Acendeu oito velas. Servese de sangue, contido no decante. Alinha no prato os seis cérebros e os 25!
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saboreia com muito gosto. Apaga as velas, dirige-se às janelas, com a taça de sangue na mão, admira o céu e começa a rir. Carolina Zuffo Alquieri 2º Ano Ensino Médio
Ilustração: Nathan Gabriel Schafer Ciseski - 7º Ano Ensino Fundamental 26!
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A vila Mister March Desapontada com a vida na metrópole, uma família decide se mudar para uma casa maior e para uma vila mais calma. Após algum tempo, eles encontram o lar que tanto queriam. Chegando à vila, eles veem apenas um senhor sentado em sua casa, que aparentava estar destruída, com as madeiras envelhecidas, que rangiam enquanto o Senhor Joseph balançava-se em sua cadeira e fumava seu cachimbo diário. Curiosa, a família foi falar com o homem, que exclamava que deveriam sair da vila, pois o local poderia mudar a vida deles por completo. Incrédulo, o grupo não ligou para o que o aparentemente insano senhor falou, e logo começou a mudança. Steven e Rose estavam dando conta de tudo. Calleb, o irmão mais velho, não aceitava estar morando ali, pois era longe das outras vilas. O irmão do meio, Peeta, estava acostumado com o novo lugar, e a filha mais nova, a delicada e misteriosa Katherine, foi a que mais gostou da mudança. Dias se passaram, e nada havia mudado, e a estranha família continuava com os mesmos aspectos, melancólico e sombrio, com manhãs e noites tenebrosas. Foi então que Calleb decidiu pegar o carro do pai e ir até a vila ao lado, onde haveria uma festa. A mãe acordou com o barulho da porta do carro batendo e um grito estridente e amedrontador, e chamou Steven para que vissem se todos estavam bem. Passaram pelo quarto de Katherine, e ela continuava dormindo. Chegando ao quarto de Peeta, Rose e Steven escutam uma voz dizendo: “Eu avisei”. Quando vão até a cama, não encontram ninguém lá. Ao se virar para ir até o quarto de Calleb, Rose avista uma silhueta que desaparece repentinamente. Ela corre à procura de Peta e, quando passa pelo quarto de Calleb, percebe que ele também não está. Horas e horas de procura se passaram, quando Calleb chegou da festa bêbado e todo ensanguentado. Rapidamente, Rose e Steven desceram para ver o que havia acontecido e, quando se deparam com Calleb naquele estado, espantam-se. O pai, como era muito cuidadoso com o carro, vai checar se não há nenhum arranhão e se depara com sangue nas portas, que o levam até o porta malas. Calleb tomava banho, Katherine continuava a dormir e a mãe preparava algo para Calleb tomar, quando o grito misterioso e assustador do pai foi ouvido. A mãe saiu correndo imediatamente e encontrou Peeta morto no porta malas, todo ensanguentado, sem o coração e com as vísceras estraçalhadas. Os dois, apesar de muito abatidos e tristes, tentam dormir novamente, quando a voz - antes amedrontadora - profere suavemente: Eu avisei! Logo em seguida, ouvem um grito estridente e as portas se fecham brutalmente. Quando, enfim, conseguem abri-las, vão até o quarto de 27!
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Katherine e Calleb, mas nenhum dos dois estava lá. Rose se lembra que o Senhor Joseph havia falado para eles irem embora, porque se não suas vidas mudariam. Ela considerou a profecia muito suspeita, foi até ele e pediu se estava com as crianças. Ele afirmou com convicção que não, mas os pais, insatisfeitos com a resposta, foram à procura dos filhos naquela noite fria e nebulosa de inverno. Depois de muito andar e vasculhar o local, encontraram uma igreja e decidiram entrar. Ao entrarem, veem Calleb pregado na cruz, sem o coração. Um vento forte e inesperado fecha as portas da igreja, deixando tudo escuro, reforçando a sensação de que algo ali estava errado. Onde estava Katherine? Ao se fazer essa pergunta, a mãe ouve passos sorrateiros, vira-se e encontra a menina, que indaga: Ficaremos aqui para sempre, não é? A mãe diz que não e avisa que já estão partindo. Katherine, enfurecida mata os pais cruelmente e arranca seus corações. Então ela ouve uma voz: Muito bem, agora venha comigo, viveremos aqui para sempre! Katherine seguiu a voz e encontrou o Senhor Joseph, para quem entregou os quatro corações e disse: Fiz como o senhor pediu, papai! Caroline Rissi 1º Ano Ensino Médio
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O mistério do Mistério Rubick Finalmente sexta-feira... Pensou William, enquanto ouvia as últimas explicações de seu professor de biologia, Dr. Cube. O estudo para o Vestibular de Engenharia o deixava exausto, pois queria agarrar a primeira oportunidade que tivesse de entrar para uma universidade federal. Como biologia não era exatamente o foco de sua prova, mobilizou o pouco de esforço e paciência que lhe restavam para ouvir a última frase de seu professor, já há muito irritado com a conversa. - Assim, como diria meu grande professor P.R, o sentido da vida é de 5’ para 3’, já que esse é o sentido que o DNA polimerase segue para fabricar as fitas complementares, e também o sentido da maquinaria desoxirribonucleica de produção das proteínas que nos mantêm vivos. Com essa fala, encerro a aula de hoje. Estão liberados. William arrumou suas coisas e saiu da escola. Era uma longa caminhada até em casa, mas ele tinha de fazê-la se quisesse almoçar. A cidade era movimentada e o trânsito, nesse horário, era caótico. Na metade do caminho, extremamente distraído e afobado para chegar a sua casa e comer um hambúrguer de micro-ondas, William atravessou a rua no sinal vermelho e correu em direção ao outro lado. Nesse momento, achou que não atravessaria. Quase foi atropelado pelo automóvel que passou ao seu lado. Por um segundo, pareceu-lhe que seu coração havia parado de bater. Era a avenida mais movimentada da cidade, e um dos lugares mais propícios para acidentes de tráfego. Como nada havia lhe ocorrido, seguiu seu percurso. A última metade da estrada era muito mais tranquila, pois eram bairros e ruas mais afastados do centro da cidade. Passou em frente à casa de seu vizinho, que jogava videogame, e a concentração de seu amigo no jogo era tão grande que nem o cumprimentou. Abriu o portão de casa e anunciou a seu bichinho de estimação: - Cheguei! O cachorro ignorou totalmente sua presença e continuou a soneca. Já o gato siamês da vizinha rosnou violentamente para ele, afastou-se lentamente e saiu correndo na direção oposta. William reclamou ao atravessar o corredor: Quanto stress nesses animais! Na primeira metade do caminho de casa, estava tão ansioso para chegar e comer, mas, surpreendentemente, ao ver o hambúrguer em cima da mesa, nem sentiu fome, muito menos sede, apesar do calor que fazia lá fora. Começou, assim, sua tarde de sextafeira. O estudo pesava seus olhos, depois de uma semana carregada. Só de olhar as fórmulas de física, as letras gregas, os números e caracteres afins, sua mente embaralhava. Deitou-se na cama e descansou como nunca havia descansado antes. Era uma sensação tão pacífica, como se todo o 29!
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conhecimento adquirido para as provas de vestibular fosse deixado de lado para que seu corpo pudesse se recuperar. Foi nesse instante, nessa fração de segundo, que William teve um momento epifânico que transformou sua realidade. As evidências anunciavam que o mundo jamais seria o mesmo para ele a partir daquele momento. Foi um momento de desilusão, é claro, afinal, não é todo dia que se percebe que está morto. Mas, como? Deduziu que estava morto, pois não respirava, seu coração não batia e, por isso, seu cérebro não funcionava. Então, como podia pensar, refletir, sentir e tocar? Onde estava a luz divina que o levaria embora desse mundo? Eram muitas perguntas, mas ele sabia muito bem onde havia morrido. Sua própria imprudência o matara. Não podia chorar pela própria morte, pois lágrimas não lhe correriam dos olhos. Agarrou o livro e atirou-o na parede com toda a força. De que maneira seria capaz de atirar um livro, se seu corpo jazia desfalecido no local do acidente? Não podia atravessar paredes, então não era um espírito, ou um fantasma. Mesmo assim, recusou-se a acreditar que estivesse preso entre a vida e a morte. Já que morrera, havia a necessidade de esperar e acreditar em Deus como nunca o fizera, para levá-lo embora da situação horrível em que se encontrava. Pegou seu livro e pôs-se a ler. Nosso personagem chegou à conclusão de que a vida dele havia chegado ao fim, que falecera. Se ele está certo, não posso lhes afirmar, já que esse é o verdadeiro Mistério. O que é o fim? O sentido da vida é mesmo o caminho seguido pela maquinaria do DNA? Existem muitas possibilidades para William, dentre elas o estado de coma, o que explicaria o fato da sua mente ainda existir; a morte como elevação espiritual; a morte como a espera do fim; e a morte como uma prisão entre esse mundo e o outro ao qual William nunca chegará. Apresento-lhes, assim, caros leitores, o mistério do Mistério, o qual nem a ciência, nem a religião, conseguem explicar com certeza. Diogo Pizzatto Pacheco de Oliveira 3º Ano Ensino Médio
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O inocente Lindsey Darklight “Eu acordei no meio da noite, pois pensei que alguém tivesse entrado em meu quarto. Olhei em minha volta e não vi nada, então resolvi voltar a dormir, mas quando me ajeitei, senti algo tocando minha pele e a perfurando lentamente. Pulei de susto, mas novamente não vi nada, fiquei mais de duas horas acordado, até que conseguisse pegar no sono. Quando, novamente, senti algo tocando em minha pele, tentando perfurar minha perna. Pulei da cama, caí no chão e quebrei o braço. Vi minha perna toda ensanguentada e tentei me levantar, mas não conseguia. Fiquei no chão por uns 10 minutos, até que uma mão apareceu em minha frente. Fiquei pálido, pois aquilo não era normal, era cinza, com garras afiadas. Olhei para cima e vi algo muito amedrontador. Tremendo de pavor, tentei passar por debaixo da cama para, então, chegar ao interruptor. Quando acendi a luz, a criatura fez um barulho que deixou meu ouvido esquerdo totalmente surdo. A porta de meu quarto estava fechada e foi quebrada pelo animal, que foi direto ao quarto de meu irmão, onde algo horrível aconteceu. Era algo em que ninguém acreditaria, nem mesmo a pessoa mais louca. Enfim, àquele momento, o tempo parecia ter parado... pude ver de todos os ângulos aquelas garras afiadas atravessando o coração de meu irmão, numa cena que parecia não acabar mais. De repente, meus pais entraram no quarto e me olharam assustados. Só então percebi que estava com uma faca na mão. Meus pobres pais ficaram loucos, pensando que eu tivesse matado meu irmão. Tentei explicar a eles, mas não acreditaram em mim e ligaram desesperados para a polícia. Tentei expor a verdade, mas, mesmo assim, ninguém acreditava. Apenas um policial tentou procurar pistas, mas nada encontrou. Na mesma noite, eu fui preso, acusado de cometer homicídio, mas sei que nunca cometi tal crime. Na cadeia, tive de ficar em uma cela compartilhada com um dos mais perigosos assassinos do país. Passei semanas sozinho, ninguém veio me visitar, nem mesmo os meus pais! Acabei entrando em depressão, os presidiários me ignoravam, achavam que eu era muito perigoso para eles, pois - apesar de eles terem cometido crimes horríveis - nunca viram nada semelhante à atrocidade que aquela criatura cometera, ato pelo qual eu, inocentemente, pagava. Um mês depois, o meu mundo parecia estar perdido, eu sempre escutava gritos de pessoas, e todo o dia aparecia alguém morto. Quando eu acordava, estava coberto de sangue, então me lavava para não desconfiarem, mas eu sabia muito bem que fora aquela criatura que cometera os crimes. 31!
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Já haviam se passado seis meses, e nada de meus pais me visitarem. Em mais um monótono dia de cárcere, eu estava dormindo, quando ouvi exatamente o mesmo barulho que ouvira na noite do assassinato de meu irmão. Acordei e vi a criatura, que olhou em meus olhos e apenas proferiu uma frase “Shhhhhhhhhh, vá dormir!”. Logo em seguida, suas garras perfuraram o meu colega de cela. Ele gritou tanto que os guardas vieram correndo. Misteriosamente, uma faca apareceu em minha mão, e a criatura desapareceu. Os guardas - desesperados - derrubaram-me no chão e tiraram-me a faca. Tentaram ligar aos meus pais, que nunca atendiam e, logo depois disso, fui transferido para um manicômio, onde eu ficava em uma sala totalmente branca e tinha acesso apenas a alguns papéis e uma caneta, para que pudesse escrever mensagens aos guardas. Caso quisesse comida, teria de escrever e passar por debaixo da porta. Eu fiquei lá por dois anos, sempre ouvindo a voz daquela criatura. Nunca mais consegui dormir, eu não aguentava mais, estava ficando louco e não conseguia mais nem falar comigo mesmo. Mas agora, neste exato momento em que você está lendo esta carta, saiba que eu sempre falei a verdade, nunca menti. Contudo, ninguém, nem mesmo as pessoas em quem eu mais confiava, acreditaram em mim, não aguento mais essa maldita criatura a infernizar minha vida. Gostaria de dizer que, mesmo meus pais não acreditando em minhas palavras, eu sempre os amei e continuarei a amá-los, mas não aguento mais isso, minha vida está perdida... tornei-me alguém que eu jamais imaginaria ser. Enfim... darei cabo de minha vida.” Essa carta foi encontrada dois dias depois do suicídio, por uma criança que estava brincando no estabelecimento abandonado e que, casualmente, era filha do policial responsável por investigar esse misterioso caso. Mas uma coisa que ninguém sabe, ainda, é que o corpo nunca foi e nunca será encontrado, pois a criatura não deixa pistas e sempre consegue infernizar a vida de qualquer um que interferir no serviço dela. Então, caso ouvir uma voz misteriosa falando “shhhhhhhh, vá dormir!”, saiba que ela o estará observando. Se quiser sobreviver, apenas obedeça. Enzo Cescon De Moura 1º Ano Ensino Médio
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Déjà vu O confinado esperançoso A única indicação de que chovia eram as gotas atingindo e deslizando nas grandes janelas. As paredes de pedra daquele antigo castelo, de algum modo, impediam que qualquer som de fora as penetrasse, tornando impossivelmente silenciosos os longos corredores. E como eram longos os corredores! Inúmeros naquela enorme construção secular, cada um com inúmeras portas de cada lado. Atrás de uma dessas portas, num quarto luxuoso com cortinas brancas, tapete de pele e móveis de madeira, acordou um homem, não na cama, mas no chão duro e frio. Sua cabeça doía e ele não se lembrava de como chegara ali, mas o lugar lhe parecia estranhamente familiar. Viu na parede uma pintura de um homem que não reconhecia. O nome abaixo da pintura, L. Escobar, também lhe era estranho. Considerou o cômodo em que se encontrava por um momento, depois saiu para o corredor. Sem pensar muito, virou-se para a esquerda e caminhou. Passando porta após porta, caminhou sem abrir uma delas. Algo lhe dizia para apenas seguir em linha reta, e assim o fez, como se já soubesse aonde ir, porém não chegava ao seu destino, qualquer que fosse. Ao invés, o corredor continuava e continuava, monótono e silencioso, mesmo sob os passos daquele homem. Ele já começava a ficar impaciente quando, finalmente, viu sinal de uma curva. Minutos depois, virou-se para a direita apenas para deparar-se com mais chão retilíneo para andar. E andou, sem muita escolha, depois de ter testado várias portas que estavam trancadas. Depois do que pareceu uma eternidade, apareceu outra curva para a direita, mas, desta vez, havia um vulto lá. Outra pessoa estava no castelo. O homem apertou o passo na esperança de, até que enfim, encontrar alguém para guiá-lo para fora. Quando alcançou o lugar onde o outro estava, este já continuava seu caminho correndo. Então, o homem também correu, chamando sem que aquele à sua frente desse sinal de ter ouvido. E permaneceram assim, um tentando alcançar o outro, passando por portas e mais portas, virando para a direita e para a esquerda, os corredores parecendo menores... até que, de repente, o de trás alcançou o da frente. Quando os dois se olharam, veio o espanto. O homem viu, naquele outro, a própria imagem. O mesmo cabelo negro, os mesmos olhos azuis, a mesma estatura alta, as mesmas roupas, o mesmo porte magro e o mesmo olhar de perplexidade. O espelho que corria na frente gritou “solte-me” e fugiu de novo, deixando o que corria atrás parado e ofegante, sem saber se era cansaço ou assombro. O que significava aquilo? Quem era aquele homem tão idêntico a si? Aparência igual, vestimentas iguais, situação igual e até voz igual. Irmão gêmeo 33!
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perdido? Quando tentou se lembrar de sua família, percebeu que se esquecera de muito mais do que a maneira como chegou ao castelo. Quem eram seus pais? Seus irmãos? Seus amigos? Qual era o seu nome? Ele não conseguia lembrar o próprio nome. Com mil coisas lhe vindo à mente, correu, querendo reencontrar seu clone para ver o que descobriria, mas ele não estava mais lá. Apenas o corredor, agora claustrofóbico, e as portas, uma após a outra. Correu e virou à direita. Corredor. Correu e virou à esquerda. Portas. Nem sinal do estranho familiar ou de uma saída. Correu e virou, correu e virou, correu e virou. De repente, sentiu alguém segurar seu braço. Olhou para trás e viu, ali na sua frente, aquele cabelo negro, aqueles olhos azuis, aquela figura de estatura alta e de porte magro que vestia as mesmas roupas. A confusão tomou sua mente. Não conseguiu dizer nada além de “solte-me” e fugiu. “Estou louco”, pensou. “Estou louco”. Encontrou uma porta aberta desta vez, e entrou nela sem pensar. Deparou-se com um quarto luxuoso com cortinas brancas, tapete de pele e móveis de madeira. O quarto onde acordara antes. Deixou-se cair trêmulo no chão duro e frio, sem saber o que fazer ou o que pensar, e acabou adormecendo. Acordou aos berros numa cama ensopada de suor frio. Em instantes, empregadas do hospício estavam de prontidão para ajudá-lo. Quinze minutos e alguns medicamentos depois, enquanto era levado ao pátio, ele ouviu a resposta de um funcionário ao outro sobre o que acontecera: - É o senhor Escobar de novo. Desde que quase fugiu daqui, ele acorda toda manhã assim e toda manhã o levamos ao pátio para tomar ar livre, mas parece não adiantar. Enquanto era arrastado pelo mesmo funcionário de cabelo negro e olhos azuis de sempre, Escobar podia ver a saída no fim de um longo corredor. Estava tão perto, mas tão fora de seu alcance. Erick Hilarius Capitanio 2º Ano Ensino Médio
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O palhaço Lucyfélio Nany foi contratada para trabalhar na casa onde seria babá de uma criança de sete e outra de quatro anos. Depois que ela chegou, os pais das crianças logo saíram, pois precisavam trabalhar. Entusiasmada com a nova tarefa, colocou as duas meninas na cama e contou-lhes uma história que as fez adormecer. Logo depois, desceu as escadas e ficou assistindo à televisão. Repentinamente, ela ouviu um grito de uma das crianças e saiu correndo, subiu os degraus e entrou no quarto. Desesperada, a inexperiente e assustada babá entrou no cômodo, perguntando o que havia acontecido. A mais nova das irmãs, que tinha cabelos louros e cacheados, rosto rosado e bochechas grandes, falou - apavorada - "Eu não gosto de palhaços", enquanto apontava para um boneco que era a réplica perfeita de um palhaço em tamanho real. Nany também ficou assustada e se perguntava por que os pais dessas meninas deixavam um palhaço amedrontador no canto do quarto. Logo em seguida, a paciente moça contou uma história, e as meninas dormiram novamente. Ela ficou no quarto uns minutos a mais do que na outra vez, para conferir se tudo estava realmente certo. Quando tudo parecia calmo, desceu e voltou a trocar os canais e assistir aos monótonos programas da TV. Meia hora depois, já eram dez e meia da noite, e as meninas aterrorizadas novamente gritaram tão alto que os móveis da sala pareceram tremer. Rapidamente e euforicamente, ela sobe os degraus e entra no quarto. Assim que a viu, a menina de sete anos, cujos cabelos eram ruivos e apresentava sardas por toda a face, falou “O palhaço estourou um balão para nos assustar!”. Nany olhou para o chão todo empoeirado e viu que realmente havia um balão estourado. Nesse momento, a babá sentiu uma pontada na espinha e tentou usar o telefone para ligar para os pais das meninas retornarem, porém a linha estava muda. Enfim, a gartoa pega seu celular e consegue comunicar os pais. Dona Laiese, a mãe das meninas, atendeu, e Nany disse apressadamente “Senhora, estou ligando porque as crianças estão com muito medo. Eu poderia tirar aquele boneco de palhaço do quarto?”. Dona Laiese, eufórica, respondeu “Como assim? Não temos nenhum boneco de palhaço”. Então, Nany ficou extremamente preocupada e pensou em sair da casa e abandonar o trabalho, mas percebeu que não está mais ouvindo as 35!
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meninas e decidiu verificar, para ver se elas estavam bem. Ela correu desesperada, permanecendo na linha com dona Laiese. A única coisa que a mãe das crianças escuta é um grito desesperado. Os pais das meninas, extremamente preocupados, resolvem retornar. Chegando lá, deparam-se com uma cena chocante: suas filhas e a babá mortas. Todas tinham os rostos pintados como palhaços, estavam roxas e inchadas, com balões de hélio apertando os jovens e delicados braços com tanta força que o sangue já não circulava mais. E o palhaço continuava a sorrir... Felipe Bridi Faccio 1º Ano Ensino Médio
Ilustração: Nathan Gabriel Schafer Ciseski - 7º Ano Ensino Fundamental 36!
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A volta do empresário morto Polly Aguiar Em 1923, em uma pequena cidade do Oeste de Santa Catarina, o empresário Antônio, um homem muito bem sucedido, e seu auxiliar administrativo Pablo contrataram um jovem de apenas 20 anos de idade, sendo que este tinha como compromisso movimentar cargas. Eles conversaram com um dos rapazes, quando, numa sexta-feira 13, foi realizada a contratação do Pablo, menino muito simpático, atencioso, responsável e divertido. Neste dia, os dois foram a um programa de televisão divulgar a empresa. Em uma longa conversa, falaram sobre a estrutura da companhia e sobre a forma como é executada a contratação de funcionários. Quando eles chegaram lá, o empresário ficou na sala de espera, enquanto o seu auxiliar foi falar com o diretor do programa. Pablo encontrou logo o diretor e o chamou até a sala de espera, pois Antônio estava revolto e ansioso para contar um pouco sobre a empresa. Quando ele chegou à sala de espera da rede de TV, começou um barulho muito sinistro que parecia ser o ruído proveniente da traqueia de gatos. Eles, então, foram, mesmo assim, até o estúdio. Foi quando deram falta de Antônio. Na volta da empresa, começou uma tempestade, e a chuva engrossou rapidamente. Pablo teve de correr até um pequeno comércio. De repente, apareceu o jovem que havia sido contratado por ele e seu chefe. Pablo ficou estático quando viu o moço. O auxiliar não acreditou ao vê-lo na sua frente, logo nesse momento tão ruim, porque o seu chefe havia desaparecido. O menino ficou bem nervoso e preocupado, quando Pablo falou do sumiço de Antônio. No outro dia, o auxiliar administrativo voltou para a rede de TV ver se Antônio estava lá. Ao chegar, deparou-se com o diretor do programa do qual ele iria participar. Então, logo pediu de Antônio, se por acaso ele o havia encontrado em algum lugar, porém não o encontrou. Depois de um tempo, foram procurar novamente em todos os locais. Ao se aproximarem do banheiro, ficaram espantados, por causa do estado que estava este ambiente. O local se encontrava fétido, pavoroso e tinha sangue por toda parte, além de encontrarem no chão o corpo de Antônio todo em pedaços. O tempo passou muito rápido, e eles ainda estavam no local, pensando em quem poderia ter assassinado Antônio. Momentos depois, algo aterrorizante aconteceu, o empresário ressuscitou e começou a gritar um nome desconhecido, porém, naquela mesma hora, o jovem que estava com Pablo acabou desaparecendo. Logo após, imaginaram quem poderia ter sido o “assassino” que “matara” Antônio. Por fim, chegaram à conclusão de que foi o jovem simpático, atencioso e responsável que 37!
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haviam contratado para trabalhar na empresa. Então, foram atrás do rapaz que tinha sumido. Ao chegarem à empresa onde trabalhavam, viram a sombra de uma pessoa embaixo de um caminhão, quando foram olhar de quem era aquela silhueta, algo estarrecedor começou a acontecer. Uma voz estridente falava quem havia trucidado Antônio. Todavia, nesse exato momento, apareceu o tal jovem coberto de sangue, tinha um olhar traiçoeiro e com um vidro que tinha um líquido incolor e inflamável, com cheiro muito forte, que aos poucos foi sendo consumido pelo garoto que acabou falecendo. Depois de alguns dias, tudo voltou ao normal, sem nenhum tipo de preocupação inesperada. Geovana Bauer Bagatini 2º Ano Ensino Médio
Ilustração: Willian Thiago da Silva - 7º Ano Ensino Fundamental 38!
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Medalha de honra Laprovittola Pierre-Meyang 13 de outubro de 1988, noite fria e chuvosa, galhos e folhas ao vento, mar revolto, neblina com uma tonalidade cinza, expressando um lugar triste e melancólico. Richard é um homem robusto, alto e elegante, que deixava sua aparência de taciturno espairecer no vento gelado. Vinha acompanhado de sua mulher, Amanda, uma jovem muito bonita e inteligente. Ambos estavam parados em frente a um hotel totalmente corroído pelo tempo, uma sensação de mazela pairava sobre o casal que foi recepcionado por um velho homem repleto de cicatrizes e manco de uma de suas pernas. Era percebível que eram os primeiros hospedes em um bom tempo e, logo, o casal descobre o porquê. O quarto era horroroso, pestilento e sinistro. Passa à noite, e, de madrugada, mais precisamente às quatro da manhã, Richard escuta um ruído inconfundível: uma velha porta de madeira balançando no corredor de seu hotel. Levantou-se de sua cama e foi vasculhar da onde vinha o som enlouquecedor, encontrou a velha porta que havia imaginado um pouco aberta junto da penumbra que crescia à medida em que Richard abria mais a porta. Ao entrar, depara-se com uma sala cheia de estantes de arquivos, computadores e câmeras de vigilância. Então, começou a mexer nos arquivos à procura de algo importante e a encontrou. Era uma antiga chamada de guerra e, nela, estava contida a foto do velho atendente do hotel, que se chamava Balary James. Seu histórico revelava que, após a Guerra do Vietnam, James fora considerado insano e foragido. Richard fecha e guarda rapidamente o documento e volta para seu quarto correndo. Porém, no meio do caminho, depara-se com uma poça de sangue, que vinha de seu dormitório. Ao entrar, Richard vê Amanda esfaqueada e morta na cama e, ao lado, Balary segurando uma garrafa de um uísque escocês em uma das mãos e na outra uma arma. No chão, a faca e as marcas da batalha em vão pela vida da mulher. Após um gole de sua gelada bebida, James dispara três vezes contra Richard, que não conseguiu reagir. Balary nunca deixou que a guerra fugisse de seu espírito e precisava deixá-la viva em sua memória. Então, arrumou o quarto como se fosse um camareiro e voltou para a sua velha e destruída recepção, à espera do próximo “soldado”. Guilherme Sell de Mendonça e Silva 2º Ano Ensino Médio
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Túnel ao inferno Verme Antropofágico Uma das piores lembranças da minha infância se passou na casa em que eu morava com meus avós, na noite em que meu avô morreu. Era uma noite fria, chuvosa, a eletricidade acabara e tínhamos ido dormir, quando ele chegou bêbado, como quase todos os dias. No meio da noite, senti o ímpeto de ir ao banheiro. Ao retornar ao meu quarto, vi uma estranha luz saindo pela porta entreaberta de seus aposentos, que eram separados dos de minha avó e proibidos a mim. Ao averiguar, como toda criança curiosa, notei que neles havia dois túneis, um à direita, que subia e tinha um portão de grades douradas trancandoo, e um à esquerda, que descia sem obstáculos à minha passagem. Deste ouvi sua voz gritando por socorro, o que me fez averiguá-lo, um erro. As luzes do túnel mal chegavam ao chão e, das paredes de pedra negras ao chão de terra vermelha, lentamente corria um líquido escuro e fétido. Olhei para trás, e onde estava o quarto só vi uma parede. A cada 50 metros, mais ou menos, havia fendas escuras, das quais nada se podia ver além de formas indefinidas, cinza e circulares, que me lembrariam crânios, se já tivesse visto algum. Ventos quentes, cheirando a enxofre, emanavam do túnel, tornando difícil respirar. Quanto mais avançava, pior era, até chegar a um ponto quase crítico. Logo comecei a ouvir gritos de dor. Eu me movia como em um transe, impelido pela curiosidade. O túnel acabou de modo brusco, abrindo-se para uma caverna enorme, da qual não se podia enxergar o final, mas só o que os olhos alcançavam já era o suficiente para me apavorar. Pessoas nuas eram submetidas aos mais cruéis modos de tortura, rios de lava corriam, com algumas pobres almas queimando, embora não fossem consumidas por ele. Outras eram perseguidas por animais que devoravam sua carne até não sobrar mais do que ossos e, quando paravam, a carne se reconstituía, somente para outra perseguição. Mas o pior eram os guardas que as impediam de fugir. Sua pele era vermelha, tinham asas com penas negras, algumas pegando fogo, fato com o qual pareciam não se importar. Suas garras e dentes eram de obsidiana, tão afiadas que poderiam cortar até a mais dura das rochas sem se esforçar. Saí da entrada do túnel e, quando me virei, uma dessas criaturas pousara na entrada. Tentei fugir, mas outras duas bloquearam minha passagem, seus olhos só demonstravam um sentimento: ódio. Uma delas agarrou meu braço e, no momento em que as garras encostaram-se à minha pele, senti uma dor tão intensa que parecia que minha vida era sugada de meu corpo. Imediatamente, caí na inconsciência. 40!
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Acordei na minha cama, aos gritos, que fizeram minha avó correr até o quarto em meu socorro. Contei-lhe o ocorrido, entre goles de água que ela me fez tomar para que me acalmasse, e ela disse que era só um pesadelo, e, para prová-lo, deixaria- me olhar o quarto de meu avô, que provavelmente só acordaria para o almoço. Quando lá chegamos, a cena que vimos foi tão chocante para ela quanto para mim. Meu avô se matara com um tiro na cabeça, que devido à tempestade da noite anterior, passou despercebido como se fosse um trovão. Seu corpo imóvel jazia caído ao lado da cama. O sangue que respingara com o tiro cobria grande parte da parede do quarto, mas dois contornos se destacavam, por não haver sequer uma gota de sangue em seu interior, exatamente no formato dos túneis. Nesse instante, senti uma dor no braço e, onde a criatura me agarrara, estavam quatro cicatrizes paralelas, que ainda doem todas as vezes que vou à velha casa de meus avós, eterna lembrança do ocorrido. Henrique Taffarel 3º Ano Ensino Médio
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Na mesa com a inconsequência Helga Tyg Os pingos de chuva faziam barulho no telhado velho da casa. Nada se podia ver lá fora, a não ser a imensidão da noite, escura e infinita. A chama da lareira, outrora acesa, agora estava reduzida a cinzas. Olga observava o trabalho que os cupins haviam realizado na pequena propriedade de madeira; certamente a manutenção há muito não era feita. Enquanto fazia uma inspeção minuciosa da casa, ela ouviu passos em direção à sala, e, de repente, uma inquietação começou a florescer em sua mente. Conforme ficava mais perturbada, ela tentava se mexer, porém percebeu que estava incapacitada de se mover. Não sentia seus membros inferiores, assim como não conseguia levantar a cabeça. Esse estupor crescia cada vez mais... ela suava e frio e indagava de quem seriam aqueles passos. De súbito, ela se deu conta que estava deitada no chão gélido e duro, com muita poeira acumulada pelo tempo. Olga se esforçava para lembrar o motivo pelo qual estava lá, estirada e imóvel. Uma voz rouca sussurrou: - Olga? A gélida mulher hesitou em responder. Entretanto, como o medo não diminuía, ela o fez, relutante: - Sim? - Sou eu, Elena. Onde nós estamos? - Eu não sei. Você ouviu aqueles passos? - Sim, ouvi. Pensei em me levantar, mas fiquei com medo. - Você também não consegue se mex... Antes mesmo que Olga pudesse terminar a pergunta, um trovão soou lá fora e ela se deu conta de que estava sendo vigiada. Tentou percorrer os olhos pelo aposento. Entretanto, a escuridão era tanta que ela mal distinguia a luminosidade das estrelas do céu noturno. Aos poucos, a paralisia se abrandava, e Olga podia mexer os pés. Cuidadosamente, tentava movê-los em busca de Elena – que parecia estar por perto porém, encostou-se em algo que parecia gelado e rígido. - Lena... Você consegue se levantar? - Acho que sim. Elena se esforçou para ficar com o tronco ereto e procurou apoio, já que uma vertigem a atingiu assim que se sentou. Tão logo seus olhos se adaptaram à penumbra, ela reparou que a mobília da sala era antiga e que algo pingava do teto. “Deve ser chuva; esse telhado é uma velharia” - pensou. Entretanto, logo percebeu que sua calça branca começava a ficar manchada de vermelho, e um grito saiu arranhando a garganta de ambas, que logo perceberam a presença de um corpo que pendia do teto. Era pequenino; um pobre e inocente rato. As duas agora tentavam 42!
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encontrar uma saída, e Olga conseguia se mover, ainda que com dificuldade. Para não causarem muito alarde, foram engatinhando em direção à porta da frente, porém, de repente, algo puxou violentamente os pés de Elena e ela foi arrastada até a lareira. Olga se virou e viu um rosto que emergia das sombras. Percebeu, então, que ele não lhe era estranho: os olhos verdes errantes, o semblante reservado, o cabelo bagunçado, a boca com uma cicatriz no canto inferior esquerdo. A faísca de reconhecimento logo atingiu Elena também, que tentava se livrar do agressor, cuja força era esmagadora. Thomas Baldwin. Thomas, Thomas? Sim, era ele. Aquele tão doce e inocente guri que as duas há muito haviam conhecido - com o qual, inclusive, haviam compartilhado segredos, confissões, problemas. Olga se esforçava para ajudar a amiga, que era arrastada por Thomas. Ele, irredutível, sedento por vingança, se dirigia à cozinha. A mesa de jantar estava posta: dois pratos rasos, duas taças de vinho e os talheres; tudo disposto com o maior capricho e simetria. Reparando a comida tão gentilmente colocada nos pratos, Olga se deu conta do estrago que ela e a amiga haviam causado na vida já devastada de Thomas. Elena gritava, desesperada e, finalmente, arrependida. O rato pendia e sangrava do teto. A chuva caía lá fora, produzindo ruídos suficientes para abafar o som dos gritos. - Thommy? – suplicava Olga. Ele nem mesmo dirigiu o olhar a ela. Estava absorto na raiva que havia sentido das duas, que o influenciaram e usaram como algo descartável. – Por favor, não a machuque. Ela não teve intenção. - Não mesmo? – Thomas respondeu rispidamente. – Devia ter me dito isso antes de ter me usado como um brinquedo, manipulado como um fantoche. - Desculpa – soluçava Elena. Olga sentia novamente o estupor tomar conta do seu corpo, e começou a sentir tonturas fortíssimas; ela se apoiou em uma poltrona empoeirada e olhou novamente para a amiga, que agora estava com a boca presa por uma fita fajuta. Ficou ali parada por alguns segundos, ponderando entre sair correndo à procura de ajuda ou ficar ali e argumentar com o pobre Thommy, o qual elas muito haviam iludido. Ele se virou para apanhar algo na gaveta e essa foi a deixa de Olga, que correu em direção dele, com uma ferramenta extremamente clichê, o ferro de cutucar o fogo da lareira, acertando a cabeça do belo rapaz com a maior força que pôde juntar no momento. Elena se dirigiu à porta, seguida de Olga e de Thomas, que, ainda que cambaleante, tentava agarrar Olga. Ela se desvencilhou do infeliz mancebo e correu atrás da amiga, que já estava na rua, buscando pelo carro. Thomas, estirado na pequena escada, praguejava o dia em que as duas apareceram na sua vida. 43!
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Olga e Elena chegaram ao carro e foram para casa, a uma velocidade muito maior do que a permitida. Nunca contaram a ninguém sobre o ocorrido, já que grande parte da culpa era delas; Thomas também não dirigiu palavra às duas, porém sempre as vigiou de perto, para ter certeza de que elas não iriam marcar novos encontros falsos e devastadores. Joana Albano 2º Ano Ensino Médio
Ilustração: Marianna Hofer Neris - 2º Ano Ensino Médio 44!
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Desmembrando o passado Pesadelo Negro Ao acordar, deparei-me com uma antiga casa de família cujo aspecto mórbido era corroborado por uma arvore anciã com os galhos secos, nos quais se entrançava uma corda, formando uma forca. Um sentimento taciturno era exalado no ambiente, que no passado fora palco de peripécias de diversas crianças, inspirando a indagação de qual infortúnio fora o responsável pela transformação de tão acolhedor ambiente em algo tão pútrido e sinistro. A única certeza é que uma barbárie sobrenatural abateu-se sobre a, agora funesta, residência, corrompendoa, assolando-a... e isso instigou-me a averiguar a história. Adentrando a casa, deparei-me com diversos esqueletos, que convergiam para um cadáver com ossos colossais. Quando abri a porta da sala, flashes revolveram-se à minha mente: uma pessoa com mais de dois metros de altura correndo, mãos ensanguentadas, e ao fundo um cadáver negro descansava. Torno a olhar para a frente e noto mais três negros correndo, dois deles com algemas em suas mãos. Repentinamente, a ilusão cessou e deparei-me novamente com a sala, dessa vez sem o imenso homem em meu encalço. Começo a entender a história do local. Continuando minha busca, subi as escadas e, no último quarto, avistei o desmesurado assassino. Silenciosamente, aproximei-me do aposento, porém um rangido da velha madeira denunciou meus movimentos. O brutamontes começou sua perseguição, gritando palavras ininteligíveis, e só consegui fugir, pois ele tropeçou em algo que de relance assemelhavase a uma perna. Abri o porta-malas de meu carro, peguei minha espingarda, um galão de gasolina e fósforos para queimar os ossos do desgraçado. Próximo à forca, organizei uma fogueira, trouxe os imensos ossos e os joguei lá. Quando retornei à residência, pistola no coldre, preparando-me para dar paz aos pobres negros, cujos ossos encontram-se na sala, entrei novamente em transe. Tive a mesma visão que tivera algumas horas atrás, mas agora vez o momento era outro. A estranha perna que havia derrubado meu colossal atacante ganhou corpo: um senhor em seus cinquenta anos, armado por uma faca, cortou os membros do negro que, no primeiro devaneio, jazia acostado à parede. Com um baque, a porta abriu, e observei o homenzarrão - que antes pensava ser o criminoso - acertar o sinistro longevo com as mãos, produzindo um som seco quando seu alvo atingiu o chão. Meu salvador desprende meus pés e os dos outros três sobreviventes à chacina do estarrecedor velho. O imenso homem tenta, em vão, salvar o sujeito cuja vida fora ceifada impiedosamente. Repentinamente, o insano senhor levantou, e começamos a correr, apenas parando ao anoitecer, em uma 45!
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clareira. Nesse momento, percebemos que nosso defensor não estava mais conosco. Dividimo-nos em turnos de vigilância visando à segurança de todos, e finalmente dormi em paz. Ao acordar, porém, olhei em volta, gritos surreais acompanhavam a execução do segundo de meus companheiros: o sanguinário velho nos havia achado e nos dopado para realizar o transporte até a casa. A visão encerrou no instante em que senti o proprietário do corpo em que eu me encontrava respirar pela última vez, pendurado na corda que perdura no mesmo galho até hoje. Acordei, ainda no mesmo lugar, com uma visão renovada do caso. Liguei para a prefeitura para descobrir quem fora o último inquilino do domicílio e, após algumas transferências telefônicas, descubro que seu único dono foi cremado na ocasião de sua morte. Lembro-me que meu já falecido avô confiara uma vez a mim e à minha irmã que, quando um corpo é cremado, seu espírito não necessariamente é expurgado da terra, e fica a vagar entre dois mundos. A única explicação para esse caso peculiar é essa, e nessa situação, era necessário achar algo que tenha sido de posse do falecido e cuja relação tenha sido tão intensa que parte de sua alma tenha ficado conectada ao objeto. Comecei minha busca pela residência, atrás desses itens pessoais, e o espírito repentinamente apareceu em minha frente, faca em punhos. Saquei meu revólver do coldre e atirei em sua direção, à toa, pois a bala atravessou a projeção de seu corpo. Quando pensava que meu fim já estivesse decretado, os escravos que outrora foram enforcados pelo velho apareceram e o seguraram, concedendo-me tempo suficiente para sair da casa a salvo. Ao abrir a porta, vi, ao fundo, o objeto que eu vinha procurando: a forca do homicida. Subi à árvore e desamarrei o macabro utensílio, a fim de queimá-lo, finalmente depurando o espírito maligno desta terra. Voltei até a casa e recolhi os ossos dos negros, dando o tratamento necessário para que meus salvadores enfim descansassem em paz. João Victor Balbinot Paludo 3º Ano Ensino Médio
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A montanha Anabelle Era dia 13, uma noite quente e calma, acampávamos perto de nossa casa do lago, à qual sempre íamos quando o verão chegava. Ficamos no centro da floresta que havia ao redor, pois ali era mais fresco. Quando éramos crianças, sempre íamos à casa do lago, e nossos primos costumavam nos assustar com histórias de terror, dizendo que ali havia vampiros, lobisomens e outros monstros que raptavam crianças. Ficávamos com medo de sair de casa à noite e, se saíssemos, era acompanhados de nossos pais. Mas agora estamos crescidos e sabíamos que essas criaturas assustadoras não existiam, até esta noite. Era 00h00min e tocávamos violão, comíamos nossas guloseimas sob a luz de uma fogueira. Foi então que ouvimos... As folhas das árvores batiam-se e faziam barulhos assustadores, como se houvesse uma rajada de vento muito forte. Contudo, não havia vento, escutávamos barulhos, mas não sabíamos identificar o que era. As folhas mexiam-se mais e mais. De repente, tudo cessou, ficamos assustados e pensamos que talvez estivesse por vir um temporal, voltamos para dentro da casa. Ao chegar à porta, percebemos que a chave não estava conosco. Então, Jorge, o dono da casa, voltou ao local onde estávamos para ver se havia deixado lá. Passaram-se vários minutos, e ele não voltava. Preocupados com a demora, fomos ate lá e vimos apenas um guaxinim comendo a comida que deixamos para trás. Nenhum sinal de Jorge. Ligávamos aflitos para ele, mas nada... Resolvemos caminhar para ver se o encontrávamos. No caminho, aquele barulho desconhecido ainda estava lá. Estávamos em pânico internamente, mas todo o temor veio à pele quando vimos o relógio de Jorge no chão. As piores hipóteses sobre o que acontecera a ele vieram a nossa mente. Desesperadamente, corremos em direção a casa para ligar pedindo por socorro, foi então que apareceu uma pessoa caminhando em círculos, ensanguentada e com olhar aterrorizado. Não sabíamos quem era, até perceber que era Jorge. Ele sangrava, segurava seu pescoço com força. Naquela hora, pensamos que havia um psicopata. Todos estavam travados, Jorge nem se dirigiu a nós, saiu correndo, e fomos atrás dele. Ele corria e corria, olhava para trás para conferir se o estávamos o seguindo. Foi para o lado de trás da casa, num lugar que mais parecia uma pequena fábrica abandonada, o que era estranho, pois nunca falamos sobre a existência desta. Ele ficou paralisado, encarando-nos, com os olhos arregalados, e com o mesmo ar de terror. Então desmaiou, não sabíamos se estava morto ou inconsciente. Checamos, e ele ainda estava respirando. Olhamos ao redor e vimos uma montanha, mas não 47!
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qualquer montanha. Eram corpos ensanguentados, rodeados de moscas, dilacerados, alguns sem membros, empilhados um em sobre o outro e, atrás, ali estavam criaturas em que até hoje não conseguimos acreditar. Elas rapidamente chegaram até nós, pegaram o corpo de Jorge e - com uma incrível força - jogaram-no na pilha. Saímos correndo, gritando por ajuda, tentando ficar vivos, mas essa vontade não foi suficiente, pois a força e velocidade de tais criaturas eram superiores. Pouco a pouco, meus amigos sumiram, e fiquei sozinho, perdido no escuro. Corri de volta a casa e não sabia o que fazer. Foi quando o senti respirar em meu ombro, um ar gelado e mal cheiroso. Apaguei, e não sei ainda se foi sonho ou realidade. Julia De Oliveira Winckler 2º Ano Ensino Médio
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A bela e a fera Mariana Gates O bilhete dizia: “Tranque as janelas e as portas, uma lasanha congelada lhe servirá para a janta e para o almoço. Qualquer coisa, deixamos 50 reais na gaveta. Beijos! Mamãe e papai. OBS.: não se esqueça de trancar as portas e as janelas!” Um ultraje! Quantos anos eles pensavam que ela tinha? Mamãe e papai? Só podia ser uma brincadeira! Eles não ficariam fora nem por 24 horas. Pegou um cobertor e sentou no sofá, comeria ali mesmo, coisa que os pais nunca a deixavam fazer. Terminado o jantar, juntou o prato sujo aos outros na pia, que começava a ficar pequena. Lavaria depois - ela pensou. A casa parecia ainda maior quando estava sozinha. Foi para o quarto. Escolheu, dentre as dezenas de filmes, um que a satisfizesse. Aninhou-se na cama junto com um saco de pipoca. O cobertor de malha listrado verde e rosa parecia a companhia perfeita para a noite fria. Desligou as luzes, mas deixou ligado o abajur que iluminava pouco, deixando visível apenas o criado mudo e o que havia em cima dele - o controle da televisão, uma garrafa de água e um retrato de família: os pais, ela e os gêmeos, quatro anos mais novos do que a menina. Começou a assistir o filme, mas cansada como estava, não esperava conseguir terminá-lo. Estava certa, pegou no sono ainda no começo. A brisa gélida que entrava por uma fresta quase invisível na janela de madeira fazia a cortina dançar e gelava seu nariz, motivo provável para seu súbito despertar. Levantou, fechou a janela, foi ao banheiro escovar os dentes, voltou e desligou a luz, mas manteve a porta aberta. Nunca teve medo de dormir sozinha, mas hoje alguma coisa estava diferente. Deitou na cama, porém sabia que não conseguiria dormir tão cedo. Cerca de meia hora depois, desistiu de tentar. Abriu o livro que há tempos pretendia terminar. Era novo, gostava do cheiro das folhas. Faltavam apenas algumas páginas para o final, mas o sono já havia voltado. Devolveu o livro à estante e desligou as luzes. Deitou e ficou por um tempo observando as sombras, que pareciam brincar na parede. A janela oferecia uma espécie de resistência a ser fechada e, por isso, continuava a balançar, favorecendo as sombras da parede. Dormiu logo. Acordou tão rápido quanto. Mas não estava em casa, olhou ao redor esperando reconhecer alguma coisa. Nada. Só conseguia avistar árvores e, naturalmente, aves, insetos e pequenos animais. Ainda usava seu pijama, shorts rosa e regata branca, sentia a terra úmida e irregular sob os pés, deduziu então que estava descalça. Sentiu um empurrão e caiu ao chão. Bateu a cabeça. Sentia o sangue escorrendo pelo rosto. Procurou seu agressor, mas as sombras eram sua única companhia. Tentou se levantar. Grande erro. A visão ficou 49!
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embaçada e as árvores centenárias giravam a sua volta. Caiu novamente, manchando de marrom a blusa branca que já tinha sangue. Sentiu que algo se mexia próximo aos seus pés. O medo e a tontura a impediram de olhar. Não precisou. Algo lhe agarrou a perna e quase que instantaneamente começou a arrastá-la pela floresta. Primeiro de forma suave, mas em seguida começou a correr, corria muito mais rápido do que qualquer homem poderia. Tinha que ser um sonho. O terreno irregular fazia com que a cabeça da menina batesse com força no chão. Via a floresta passar como um vulto pelos seus olhos e tentava gritar, mas a voz relutava em sair. Não entendia como ainda não tinha desmaiado. Era um sonho, ela insistia. De súbito, a criatura parou. No início, sentiu um alívio, que passou assim que a criatura voltou a se aproximar. Assemelhava-se a um cachorro, mas com o dobro ou triplo de seu tamanho. Era assustadora, revestida de pelos. As patas eram do tamanho das mãos da menina. Os olhos eram vermelhos e assustadoramente humanos. A respiração era rápida, compassada, morna e úmida. Estava na hora de acordar. Sentia o sangue em quase todas as partes do corpo agora. A dor era estonteante. Silêncio. Teria a criatura ido embora? Não. Segundos depois, sentiu a respiração da fera balançar seus cabelos. Seus longos, lisos e negros cabelos. Estava aterrorizada e chorava. Acorde, acorde, acorde ela implorava. Pela primeira vez avistou a criatura de perto. Era impossível que aquilo estivesse acontecendo de verdade. Sangue escorria também da boca do animal. Como ela teria saído de casa? Seus dentes afiados ficaram a mostra. É um sonho, é um sonho. A fera a analisava com paciência, e a menina lutava tentando ficar calma, afinal era tudo só um sonho. A criatura atacou. Uma mordida e uma dor excruciante a atingiu. Como isso era possível? O sangue agora saía de maneira incontrolável. Hora de acordar, por favor acorde! Mais um ataque e um último apelo que soou como um sussurro, um suspiro: acorde! Terceiro ataque. A menina fechou os olhos. Não os abriu mais. Nunca mais. Não era um sonho. Júlia Wailand dos Santos 2º Ano Ensino Médio
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O delírio A enfermeira Para sair do sufocante meio urbano industrializado, Lucy, seu namorado, Jeremy e, a melhor amiga, Liesel, decidem ir para sua casa de campo, completamente isolada, após um lodoso lago, a cerca de 180 km da cidade. Durante o percurso, havia muitas propriedades rurais, que, nesta época, produziam milho. Enquanto apreciavam altíssimas músicas e conversavam, Lucy, que dirigia a 170 KM/h, distraiu-se e quase se envolveu em um acidente com um caminhão, mas conseguiu desviar e destruiu uma considerável área com enormes pés de milho. O carro ficou preso, pendendo para esquerda, numa espécie de valeta, e Liesel foi arremessada para fora, feriu-se e ficou desacordada. Em seguida, Lucy e Jeremy perceberam o que ocorrera e saíram com muita dificuldade do automóvel, dividindo-se para procurar a amiga. Lucy havia cortado a cabeça e o antebraço, sentia muita dor e, enquanto se arrastava pelo milharal, deixava gotas de sangue, que eram jorradas pelos ferimentos. Por esse motivo, retirou sua camiseta branca, de algodão e rasgou um pedaço para amarrar no corte. Neste momento, começaram a ocorrer violentas rajadas de vento e a moça se apavorou. Também percebeu que estava sendo observada por alguém e escutou passos. Começou a correr, porém os pés de milho tinham mais de dois metros de altura e, logo, perdeu-se e começou a dar estridentes gritos, a fim de que o namorado a ouvisse. No entanto, não houve nenhum um sinal dele e, quanto mais caminhava mais se distanciava, perdendo a noção das coordenadas geográficas, até que tropeçou no que acreditava ser uma pedra. Percebeu, porém, que o objeto era gélido e algo gosmento se grudara em sua perna. Ao olhar o que era, ficou estática e pasma. Era um cadáver trucidado em uma mortalha branca. Lucy ficou angustiada e começou a correr rapidamente, até que avistou um galo corroído girando no alto do que parecia ser uma antiga casa. Assim, ficou motivada e esperançosa pela possibilidade de haver alguém na propriedade. Ao lado oposto de Lucy estava Jeremy, que, após chegar à estrada, iniciou as buscas por Liesel, para o lado direito. Logo, encontrou-a estirada no acostamento. Incrédulo e desesperado, correu e se ajoelhou para falar com ela, chacoalhou-a e, aflito, começou a chorar desesperadamente, pois ela não dava respostas aos estímulos provocados. Após poucos minutos, que pareceram horas, Liesel suplicou para o amigo deixá-la, pois seu fado era certo. Estavam perdidos no meio de um atalho, dessa maneira a comunicação era impossível e, como estava gravemente ferida, não resistiria. Jeremy, taciturno, pegou-a no coloco e ficou conversando com ela, motivando-a a ser forte. Durante cerca de 30 51!
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minutos caminhando, a amiga morria lentamente em seus braços, até que sucumbiu ao seu funesto destino. Então, ele a deixou no meio do milharal e partiu em busca de Lucy. Nesse momento, Lucy estava entrando na sombria e sinistra casa, que, em frangalhos, parecia abandonada. Chamou, mas ninguém respondeu, então entrou na moradia, que exalava o odor de iodofórmio, o que tronava praticamente impossível permanecer ali por muito tempo. Vasculhou o ambiente e encontrou uma masmorra, onde havia vários castiçais com velas acesas, sinal de que alguém as acendera há pouco tempo. Todavia, olhou o cômodo, cuja iluminação era precária e o deixava na penumbra, assemelhando-o a um deserto, e, ao se adaptar à obscuridade, percebeu que havia uma pessoa escorada na parede, com uma capa medieval preta. O capuz de cetim escondia a face do misterioso ser que portava um punhal na mão direita. Apavorada, pensou estar delirando, então, ajoelhou-se e, subitamente, começou a bater com as mãos no chão. Porém, aquela era a realidade e a criatura funesta estava se aproximando, a cada batida no chão, um passo, até que parou em sua frente. Lucy começou a esbravejar e suplicou por piedade. Imune a tais apelos, o insano colou os lábios da vítima com Super Bonder e a pendurou em um gancho para gado. Após essa barbárie, cortou-lhe alguns dedos e a orelha esquerda e dispôs alguns potes para armazenar o sangue. Àquela hora, ouviu-se o barulho da porta se abrindo novamente, era Jeremy. Lucy começou a bater na parede, então, o transtornado arremessou uma faca em seu braço esquerdo. Jeremy encontrou um pedaço da camiseta de Lucy, presa a um prego, ensanguentada, e, aterrorizado, obstinou-se a encontrar a namorada. Primeiramente, subiu ao segundo piso, mas encontrou somente um pútrido banheiro, em um sinistro quarto. Desceu, examinou a sala, onde nada encontrou, e a cozinha, em que se deparou apenas com alimentos putrefatos em meio a baratas, traças e ratos. Então, uma pequena porta que estava entreaberta, ao lado da antiga geladeira, chamou sua atenção. Ao descer ao porão, perdeu-se na imensa escuridão, escutando apenas um gemido abafado e passos. Após poucos segundos, a porta se fechou e ele acordou de sua neurose, ofegante, debatendo-se e transpirando, na cama do mórbido cômodo do Sanatório de Alcatraz. Kauane Falcade Cavalheiro 2º Ano Ensino Médio
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O guardião da lua Luna Potter Em uma madrugada de terça-feira 13, o céu estava sem estrelas, mas com uma grande lua cheia, levemente encoberta por algumas nuvens. Sob ela, numa rua mal iluminada, deserta e rodeada de poucas árvores, de onde se podiam ver olhos brilhantes, caminhava acompanhada de apenas uma mochila e uma lanterna, Christie - uma jovem aventureira nômade. Ela, que já estava acostumada com esse tipo de cenário, ao passar por uma espécie de galpão resolveu parar para descansar. O local parecia estar abandonado há muito tempo, pois a estrutura, feita de madeira, já estava apodrecida e repleta de buracos e teias de aranha. A porta estava fechada por um cadeado enferrujado, o que facilitou para Christie a abertura do local. A parte de dentro do galpão, ao contrário da de fora, estava assustadoramente bem conservada. O local estava mobiliado com artefatos antigos, geralmente encontrados em casarões do século XIX. No teto, havia um lustre, que envolvia uma lâmpada curiosamente acesa. No canto direito, havia o que Christie mais desejava naquele momento, uma cama. Ela, então, resolveu se deitar para recuperar sua energia para que pudesse continuar a viajem mais tarde. Apenas duas horas após ter repousado, acordou com um barulho vindo do telhado. O ruído era uma mistura de trotes com batidas de assas. Ela, rapidamente, escondeu-se em um velho baú de madeira que se encontrava à sua direita, de onde ela, por uma fresta, conseguia observar boa parte do recinto. O silêncio predominou por alguns instantes até que, à sua frente, ela avistou uma medonha criatura. Tal figura aparentava ser uma diabólica mistura de ave com cavalo, tinha o tamanho um pouco maior que de um ser humano e exalava um odor que lembrava eucalipto, mas que logo foi camuflado por outro cheiro pútrido saindo de um saco pendurado em seu pescoço. Curvando-se para frente, o animal deixou cair o saco no chão, que se abriu revelando partes do que antes havia sido um corpo humano. Logo em seguida, transformou-se em uma mulher jovem, bonita, de olhos negros como as trevas, corpo escultural e quase inteiramente à mostra, com exceção dos seios cobertos pelos longos cabelos, que pareciam estar pegando fogo. Christie, amedrontada, soltou um pequeno murmúrio, que acabou chamando a atenção da criatura. Esta, imediatamente começou a caminhar em direção ao baú, pronunciando uma espécie de dialeto desconhecido, que deixou Christie completamente desorientada e sentindo que sua alma estava deixando o seu corpo naquele momento. A criatura então abriu o baú, colocou Christie em pé cuidadosamente e soprou seu rosto. Aquele hálito era uma união da própria essência da vida e da morte, que envolveu o corpo de Christie e levou seu espírito à lua 53!
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junto das outras vítimas da criatura. Com isso, o esférico depósito de almas ficou ainda maior e mais iluminado. É assim que a lua vem se alimentando há séculos e continuará, enquanto tiver ao seu lado seu fiel escudeiro o Hipogrifo. Krysleine Kathllen Wiezorkoski 2º Ano Ensino Médio
Ilustração: Marianna Hofer Neris - 2º Ano Ensino Médio 54!
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Olho vermelho, ave negra Clary Folks O velho acordou assustado, com a camisa ensopada e com calafrios. Esta era a terceira noite em que tinha o mesmo pesadelo. Nele, havia um túnel mal iluminado e no fundo um olho macabro, vermelho como o sangue, que o atraia para a escuridão tal qual um ímã. Na primeira noite que sonhou com isso, decidiu dar uma caminhada pelo jardim. Sentou-se num banco solitário. Observou a noite e as estrelas, para distrair a mente do pesadelo. Viu, então, um vulto no céu. Uma ave estava rondando o terreno de sua casa e a floresta ao lado. Parecia ser um abutre procurando algo morto para se alimentar. Ao longo de sua vida já havia se deparado com várias mortes, todos de sua família já estavam mortos, afinal, e esses pássaros sempre ficavam por perto, assombrandoo. Ele os conhecia bem. Pegou sua lamparina e, sob a fraca luz, adentrou a densa floresta, procurando pela carcaça de algum animal, talvez. Procurou por toda a extensão, já que não tinha grandes dimensões. Os primeiros raios de sol estavam aparecendo, quando voltou pra casa, exausto, sem ter encontrado nada. Na segunda noite de pesadelo, levantou-se angustiado. Por mais que tivesse tentado, não conseguia adormecer novamente. Olhou pela janela de seu quarto e lá estava o pássaro de novo. Agora voava em círculos bem acima da casa. O atormentado homem decidiu, então, verificar todos os cômodos cautelosamente. Procurou no sótão, no porão, atrás dos móveis, dentro de armários, porém nada encontrou. Agora, depois de sonhar três vezes o mesmo sonho, começou a estranhar a frequência e repetição do pesadelo. Antes, pensava ser apenas coincidência, mas não agora. Depois de várias tentativas falhas de voltar a dormir, decidiu beber um pouco d`água. Assim que tocou os pés descalços no chão gélido, o pássaro aterrissou em sua janela. Em silêncio, observou o animal. Não conseguiu definir o que era, talvez pela iluminação fraca do cômodo. Suas penas negras como ébano estavam ligeiramente úmidas e davam a sensação de serem ásperas. Suas patas longas pareciam desgastadas. Encontrava-se em um estado deplorável, entretanto suas garras e bicos eram afiados e possuíam um brilho mortífero, dando a sensação de serem capazes de rasgar qualquer carne. No entanto, não foi isso que prendeu a atenção do homem, voltada para o par de grandes olhos vermelhos idênticos ao do sonho. Olhos que o encaravam com tamanha atenção, parecendo penetrar em todos os seus tecidos até chegar à parte mais profunda de sua alma. Olhos intimidadores, que pareciam saber de seus mais íntimos e obscuros medos e segredos. Olhos que provocaram uma grande sensação de desamparo e 55!
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aflição, perturbando sua mente e o enchendo de pavor. Olhos que traziam consigo, inquestionavelmente, a morte. Em questão de segundos, tudo fez sentido. O homem tropeçou nos próprios pés e caiu para trás, aterrorizado. Gritou estridentemente para que o animal se afastasse, porém este permaneceu completamente estático, pousado na janela. Sentiu um odor pútrido, que antes existia, porém era facilmente ignorado e que, agora, parecia impregnar completamente o local, dando a sensação de que era impossível não senti-lo. O homem olhou para o próprio reflexo pálido no espelho ao lado do velho armário. Ele estava certo. A ave realmente estava ali por causa do cheiro de morte. O cheiro da sua morte. Laís Rodrigues Foppa 1º Ano Ensino Médio
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Floresta inimiga LAV Já fazia meses que Tália e seus amigos estavam combinando de fazer um acampamento. Contudo, sempre algum imprevisto ocorria. Primeiramente, a van contratada para levá-los havia sido vandalizada ou atacada por indivíduos não identificados, a viagem foi prorrogada. Então, no dia anterior à partida, os avós de Tália adoecem repentinamente, e o acampamento é deixado para o próximo mês, e para o próximo, e para o outro mês... Após cinco vezes adiando a viagem, os amigos partem de Esparta para a as florestas Atenienses. Chegando à floresta, tudo ocorria como previsto, as barracas montadas, a alimentação preparada, música, o riacho corria ao lado da fogueira que aquecia os corpos dos jovens naquela noite fria e, futuramente, turbulenta. Tália e seus amigos, após goles do rum e com as vestes embebidas de álcool, estáticos, caem em um sono de horas. Um odor fétido contamina o local e é imediatamente percebido por Tália, que desperta, acordando os companheiros para desvendar o que originava aquele cheiro que assolava o olfato dos universitários. Caminhando por horas sem sucesso, o grupo retorna e se depara com a madeira da fogueira e as barracas, corroídas por algum tipo de felino. Contudo, as pegadas no chão lodoso identificavam um mamífero grande. Assim, todos assustados começam a organizar seus pertences para sair daquela floresta o mais rápido possível. Tália se vira para pegar a última coberta deixada, mas já é tarde demais, as patas daquele apavorante animal estilhaçam o corpo escultural da garota. Seus amigos retratam que a fera era algo inimaginável, proveniente da mitologia grega, pois nunca fora e nem será visto novamente. Dizem pelos distritos de Esparta que aqueles garotos haviam confrontado os Deuses, pisando em território, historicamente, inimigo. Pois foram mandadas várias mensagens, tentado avisá-los de que aquela viagem seria inesquecivelmente mortal. Laura Antonia Vicenzi 2º Ano Ensino Médio
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Os três bilhetes de Lovedely Benio Certo dia, três amigos foram acampar em um bosque, cerca de 50 km de sua cidade atual, porém o que eles nãoo sabiam era que naquele bosque, há muitos anos, um grupo de amigos foi surpreendido por uma bruxa cujo nome era Lovedely e mortos por seu poderoso poder. O grupo era composto por três alunos do primeiro ano, com aproximadamente 15 anos: Marshall (o mocinho), Ted (o corajoso) e Barney (o nerd). Já cansados de tanto caminhar, os três amigos decidem parar e descansar em uma capoeira perto do Lago Megiro, montaram suas barracas, alimentaram- se e fizeram uma batalha de contos de terror, em volta de uma fogueira. - Aí galera, vocês sabem que eu tenho medo disso, né? Não seria mais apropriado nós cantarmos ou algo do tipo, que não envolva terror? - Ah Barney, para de frescura, o que de pior poderá acontecer conosco?! - É cara, vamos lá! Vamos nos divertir, não há nada melhor do que contar histórias de terror nessa noite escura e sombria em roda de uma fogueira e no meio de um bosque. - Ok! Tudo bem, mas já aviso, sem sustos!! Barney não era um adolescente medroso, apenas sabia do ocorrido com um grupo de amigos, há muitos anos, no mesmo lugar em que eles estavam acampando. Porém, como não era mais criança, tentou esquecer e se divertir. Após muitas histórias, os três companheiros decidem dormir para recarregar as energias, pois, no dia seguinte, teriam uma longa caminhada, sem saberem que Lovedely os acompanhava por todo o caminho. Ao deitarem, Barney sente que está suando frio e que precisa ir lá fora tomar um ar. Alguns minutos depois, Ted e Marshal acordam assustados com um terrível e horroroso grito. Os dois amigos levantam rapidamente para ver o que estava acontecendo, mas Barney tinha desaparecido do acampamento. Além disso, Lovedely deixou um bilhete com marcas de sangue ao seu redor, onde estava escrito “ saiam do meu bosque imediatamente, ou sofrerão as consequências”. Os dois amigos, sem acreditar, caíram na gargalhada e voltaram a dormir. Novamente, ouve-se gritos e um rangido muito alto de uma porta, porém, desta vez, Ted acorda assustado e corre até a barraca de Marshall, que já não estava lá. Ainda com receio de que fosse uma brincadeirinha de mal gosto, Ted encontrou um segundo bilhete no chão, no qual estava escrito, “ como último sobrevivente, tens a liberdade de deixar meu bosque imediatamente, caso contrário, te juntarás aseus amigos”. Ted, um pouco amedrontado, toma coragem e tenta seguir o som dos rangidos e 58!
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gritos, para tentar achar seus amigos. Após um tempo de caminhada, Ted encontra uma caverna cuja entrada era uma porta que rangia muito. A porta estava aberta, ele entra e vê seus amigos enforcados e ensanguentados. Em seguida, a porta se fecha, batendo com muita força. Ele logo tenta correr para se salvar, mas não tem sucesso. Quando chega à porta, vê um terceiro bilhete em que estava escrito “eu avisei”. Depois disso, os adolescentes nunca mais foram encrontrados. Leonardo Vitor Piva Dal Ri 1º Ano Ensino Médio
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Aflição Charles Oliver Há horas vasculhavam o asfalto à procura de algo mirabolante e que os fizesse ficar extasiados. Pararam, então, na cortina negra da noite, e, ao levantarem os olhos, tudo o que tinham ao seu redor era um parque de diversões, disfarçado pela arrebatadora escuridão. Em meio a rajadas de vento, o grupo de jovens entrou no parque e logo avistou um enorme e pavoroso relógio de madeira, rodeado de pequenos cristais. Seguiram, sem medo, sentindo um odor - que não sabiam afirmar qual era - perturbando suas narinas, e depositaram seus pertences em um lugar qualquer, perto do que parecia ser uma casa, ou ao menos o que restava dela. Enquanto esperavam que o dia seguinte chegasse, para que pudessem explorar esse lugar misterioso, ajeitaram-se cada um em seu devido lugar e descansaram a mente e os olhos, sem noção alguma do que os aguardava nos dias posteriores. Ao raiar do sol, todos já haviam levantado, e alguns decidiam em um canto como iriam buscar as respostas para as milhares de perguntas sobre o local em que se encontravam. Eram tantas, que o ar estava carregado de questionamentos, alguns dos quais talvez nunca fossem respondidos, mas ninguém ali tinha tal noção. Depois de tudo decidido, foram se esgueirando sorrateiramente por entre os portões e passagens, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho, caso houvesse alguém lá. Por fim, quando já haviam entrado em quase todos os aposentos do parque, ouviram de longe o badalar do relógio. Sem entenderem o porquê daquilo, moveram-se até o pátio central, mas, ao chegarem lá, perceberam que as badaladas haviam parado, e um de seus companheiros havia sumido. Intrigados com tal acontecimento, resolveram se separar e ir à procura do amigo, mas, após algumas horas, encontraram-no morto, encostado numa coluna, junto a um bilhete que levava os dizeres: “Não importa o quanto fujam, o quanto tentem sair, não conseguirão! Aqui é um labirinto sem saída”. E, assim, seguiram-se os dias, mais mortes e nenhuma resposta. Apenas o mesmo ar pesado de mistério, mas, desta vez, mais assustador. Iria fazer duas semanas que o grupo havia chegado ali, e agora restavam apenas três deles. A fome, o frio e o cansaço os dominavam. O pouco de comida que ainda restava estava ficando mais escasso a cada dia que passava, e isso os estava deixando desesperados, mas não tinham ideia alguma do que fazer, muito menos do que estava acontecendo. No vigésimo dia, quando restava apenas um único “sobrevivente” – se é que poderia ser chamado assim, pois segundo o bilhete encontrado nos primeiros dias, não havia como sair de lá – a comida já havia acabado, os 60!
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corpos de seus amigos estavam todos espalhados a sua volta, e mesmo que tentasse fugir, correr ou gritar por ajuda, ninguém o escutaria. Estava destinado a morrer ali, quando o relógio badalasse pela última vez. Enquanto tentava desesperadamente localizar uma saída ou alguma forma de pedir ajuda, mesmo que não houvesse como, o último jovem entrou em um aposento onde havia apenas uma cama e um armário. Considerou estranho, mesmo com as insanidades de alguém que provavelmente não comia há dias, pois estava num parque de diversões. Mas essa era uma pergunta que não precisaria ser respondida agora, pois outras mais importantes martelavam sua cabeça. Mexeu em algumas coisas, procurando qualquer pista que pudesse ser útil para descobrir o que estava acontecendo ali, mas nada adiantou. Silenciosamente, deitou-se na cama e fechou os olhos, na tentativa de esquecer tudo o que estava ocorrendo, porém os pensamentos e as lembranças não paravam de chegar. Adormeceu por cerca de vinte minutos, que mais pareceram dias, mas acordou ao sentir uma respiração ofegante, como se estivesse sedenta por sangue. Ouviu de longe as badaladas do relógio anunciando mais uma morte. Tentou se levantar, mas algo o prendia. Aflição. Era tarde demais. Maria Eduarda Sales Rocha Aguiar Maia 1º Ano Ensino Médio
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Não beba enquanto vivo Vivíquida Alguém pode, por favor, me dizer o que está acontecendo? Essa pergunta pode parecer confusa, mas acreditem, eu estou muito mais. A última coisa de que me lembrava era de estar sentado em minha varanda lendo meu clássico favorito "Dom Casmurro", enquanto minha esposa preparava meu tradicional chá de fim de tarde. Mas a grande dúvida em tudo isso é por que essa era minha última lembrança e por que simplesmente sem explicação ou lógica alguma, eu estava deitado em minha cama com o corpo dormente e com incansáveis e curiosos pensamentos que tentavam relembrar como eu tinha parado ali. Olho no relógio, cujos ponteiros marcavam exatamente 9 horas, do dia 12 de maio de 1996, mas o que aquilo queria dizer, e onde estava minha querida esposa, da qual não sentia mais o toque. Depois de um tempo marcado por profundos momentos de reflexão, em tentativa de desvendar o tão estranho e incompleto quebra-cabeça no qual minha rotina me colocara, decidi que levantaria e procuraria por alguma pista que me fizesse lembrar o que havia acontecido. Descendo as já tão sujas e empoeiradas escadas que separavam os dormitórios dos cômodos sociais, era estranho como aquela cena me causava um calafrio e uma sensação de enformigamento. O sentimento de solidão e angústia tomou conta do meu psicológico e, quando já estava domado pelo desequilíbrio emocional, vozes começaram a ecoar em minha mente e, cada vez mais, deixei-me levar pelo subconsciente. "Morte líquida, rápida e sombria" eram as palavras que as vozes diziam. O que significavam, eu já não sabia, mas algo me dizia que era a pista que eu tanto queria. Conforme eu vagava pelos cômodos de minha, uma vez tão alegre e receptiva, casa, as vozes aumentavam o tom e, de repente, um barulho ensurdecedor se alastrou pelo ambiente. Imediatamente, eu reconheci aquele irritante som, era a campainha que tocava incessantemente. Prontamente, me dirigi até a porta, mas não parecia certo abri-la. Esperei por mais um breve instante e, como resultado de minha delonga, o cantar da campainha se repetiu. Hesitante, eu decidi que abriria a porta, mas elas falaram comigo novamente: "Morte líquida, rápida e sombria", "Morte líquida, rápida e sombria", repetia-se. Seriam as vozes um sinal de que, se olhasse por trás da porta, eu teria uma surpresa desagradável? Eu não podia arriscar, não me sentia bem para receber visitas e também não queria contrariar minha intuição. Portanto, decidi que deixaria a campainha tocar e, seja quem fosse, deveria voltar outra hora. 62!
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Após exatos quatro minutos, o barulho cessou, a suposta tranquilidade voltou a reinar ,e o silêncio - de maneira superficial - era o que predominava. Porém, em um ímpeto de segundo, enquanto eu me distraía na biblioteca á procura do exemplar do último livro de que me lembrava ter lido, escuto um barulho vindo da cozinha. Seria minha esposa que finalmente havia chegado em casa e conseguiria me explicar toda aquela angustiante situação? Ao pensar na figura de minha amada, as vozes novamente me incomodaram, "Morte líquida, rápida e sombria". Incessantemente, elas se repetiam em minha mente, mas no momento eu não ligava, a única coisa em que eu conseguia prestar atenção era no caminho até a cozinha, de onde tinha vindo aquele tão familiar som. Eu caminhava rápido, mas o caminho parecia tão longo, os corredores estavam mais estreitos e extensos, as paredes espessas e o ar denso. Para completar, minha mente estava tão conturbada pelos ecos que não me deixam em paz, que meu destino era confuso. O barulho na cozinha se intensificou e parecia cada vez mais claro, embora eu não tivesse certeza do que era, já que em meus pensamentos as únicas frases completas eram: "Morte líquida, rápida e sombria". Eu tentei, queria decifrar esse enigma, queria mais pistas do porquê de cheguei ao corredor que me levaria até a porta para o ambiente barulhento, comecei a fraquejar. Era como se meu corpo não quisesse entrar, mas minha mente curiosa, contrariando as advertências das vozes, precisava passar por aquela porta e desvendar aquela situação. Com passos largos, eu me aproximo da cozinha e lentamente abro a porta, que era tão pesada e ao meso tempo tão leve. Sem ranger algum, entro no barulhento cômodo e me deparo com uma chaleira fervendo, anunciado que a água estava pronta para o chá. Ela não estava ali, minha querida não estava na cozinha à minha espera, mas "Morte líquida, rápida e sombria" estava em minha cabeça. Dei mais uma olhada na cozinha e foi então que tudo ficou claro. Meus olhos não acreditavam no que viram, uma cena chocante para qualquer vivente. Entretanto, devido às circunstâncias, para mim não poderia ser surpreendente, pois como dito antes, era chocante para viventes. Maria Lúcia Furlanetto Miranda 2º Ano Ensino Médio
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A bela dos olhos de esmeralda Sunny A torneira foi fechada, fazendo com que as últimas gotas de água caíssem sobre o corpo nu. Ao sair do box, Sophie caminha até o espelho, pegando sua toalha branca e enrolando-a em seu corpo. Olhando-se no espelho, analisa seu corpo sensual, com belos bustos, pernas bem torneadas, pele clara, porém levemente bronzeada pelo sol. Seu cabelo negro faz os olhos grandes e verdes, com alguns toques de esmeralda, destacarem-se, sua boca carnuda e rosada compõe, com as belas maçãs, o rosto peculiar. No auge dos 22 anos, ela faz olhares se voltarem por onde passa e não é uma mulher considerada “normal”. Sophie tem desejos incomuns. Sem levantar qualquer suspeita, ela sempre realiza eficientemente seu trabalho como jornalista no The Times. Como é sábado, ela vai em busca de mais uma vítima para saciar a sua fome de sangue e tortura. Sophie é considerada uma serial killer, mas ninguém desconfia dela. Vai até seu quarto e começa a se arrumar, pega um vestido vinho bem colado, a fim de mostrar as belas curvas. Um salto preto. Disfarça-se em sua peruca loira e suas lentes azuis. Faz uma maquiagem, assim ficando pronta para matar. Sai de sua casa de luxo e se dirige até a majestosa BMW preta. Ao chegar a uma boate, que escolheu sem muito esforço por ter mais pessoas na frete do local, sai do carro e vai caminhando até a porta do estabelecimento, passando por todos que estavam esperando na fila. Assim que os seguranças olham para a bela moça, logo a deixam entrar, sem que precise falar nada. Ao entrar, o lugar estava cheio, a música bem alta envolvia o ambiente, junto ao cheiro forte de álcool. Muitos olhares a seguiram quando entrou, foi caminhando até a mesa do bar, pegou um drink e sentou nos bancos que havia perto da bancada. Com o copo na mão, ficou olhando as pessoas dançando, para que pudesse, pacientemente, fazer sua escolha. Alguns minutos se passaram e Sophie nota um jovem, muito bonito por sinal, que caba por despertar seu interesse. O rapaz dança como se nada fosse abalar seu coração ou conseguir tirar aquele sorriso, que parecia crescer cada batida da música. Ele aparentava ser mais novo, em torno dos 19 anos. Era alto, tinha cabelos castanhos - um pouco bagunçados pela dança - e olhos verdes. Estava usando uma regata preta solta que deixava à mostra os braços não muito musculosos, mas bem delineados, e o traje era completado por uma calça jeans azul um pouco colada e um All-Star branco. Sophie se levantou e foi em direção ao jovem, que agora também olhava para ela. Chegou perto dele e começou a dançar. Ele não tirava os olhos dela e começou a se aproximar cada vez mais, até que chegou ao seu 64!
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ouvido, dizendo “Meu nome é Andy, qual é o seu?” Sophie sorri e se aproxima do ouvido do menino dizendo o nome e, logo em seguida, deposita um beijo em seu pescoço, fazendo o pobre menino se arrepiar. Passam a noite inteira dançando e bebendo, até que Sophie decide chamar Andy para sua casa. Saíram da boate de mãos dadas, caminharam juntos até o carro. Assim que chegaram a casa, foram para sala, Sophie empurrou Andy no sofá e, logo em seguida, avançou sobre ele, que já estava meio assustado com os movimentos da linda mulher, mas não podia negar que estava gostando. Começaram a se beijar loucamente, tirando as roupas. A cada toque, Andy se arrepiava mais, subiram para o quarto onde ficaram por um tempo até que o rapaz adormeceu. Então, Sophie sai do quarto para preparar seu momento de satisfação. Foi até o “quarto da tortura” no intuito de deixar tudo pronto para que o pobre menino sofresse para contentar os desejos da dama. Tudo organizado, foi tomar um banho. Tirou a peruca e as lentes, deixou o cabelo solto e vestiu um conjunto preto sensual. Seguiu até o quarto em que Andy estava dormindo e, com um pano encharcado com éter, comprimiu o rosto da vítima, que acordou assustada, mas logo em seguida desmaiou. Mesmo parecendo ser uma mulher frágil, Sophie tinha muito ódio e sede de vingança, pois sua infância era a única coisa que ela queria esquecer para todo o sempre. Conduziu-o até o quarto de torturas e o amarrou sobre a mesa enorme de mármore, localizada no meio do cômodo, um quarto escuro com algumas luzes, porém falhas. Duas paredes eram totalmente cobertas por armas e instrumentos de tortura. As outras duas eram cheias de fotos que ela tirava das vítimas, para imortalizar o pavor que sentiam por ela. Um cheiro forte de sangue e mofo se impregnavam por toda a extensão da peça, fazendo com que pessoas não acostumadas com o cheiro ficassem enjoadas. Espelhos no teto completavam o local onde Sophie adorava ficar. Não demorou muito e ele acordou assustado, não podendo se mexer, pois os braços e pernas estavam presos. Começou a gritar desesperado por Sophie, que apareceu gargalhando de um canto escuro onde estava escondida. Andy, sem saber o que estava acontecendo, ficou em estado de choque. Sophie então falou: “Pobre Andy, um menino de 19 anos, bonito, que só estava em uma boate para poder se divertir, agora terá um fim trágico.” Pegou um bisturi e passou de leve na barriga do garoto, que já chorava desesperadamente, fazendo que uma pequena quantidade de sangue escorresse pelo corpo nu. Seus olhos brilhavam ao ver o sangue escorrendo e a cara de sofrimento do jovem, mas isso estava apenas começando. Ela vai até a mesa, coloca as luvas e pega um frasco com algum líquido. Ao chegar perto de menino, olha-o nos olhos. “Não vai falar nada?” Andy - assustado - fecha os olhos “Por que está fazendo isso, 65!
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não fiz nada pra você, me deixa ir...” Antes que ele termine de falar, ela despeja todo o líquido em suas pernas, queimando-as, ao mesmo tempo que se desfazem. Ácido. Andy grita desesperadamente. “Sei que você não fez nada, mas esse é meu prazer, ver as pessoas sofrerem!.” Diz Sophie, pegando facas e cortando pedaços do jovem, algumas vezes até experimentando seu sangue, e pendurando pelo quarto. Antes de ela matar o jovem, sobe sobre o corpo - antes esbelto - com um sorriso maligno estampado no rosto, retira um pedaço de carne do peito, deixando à mostra o jovem coração. “Por que está tão assustado? Fique calmo! Você sabe que vai morrer, olhe nos meus olhos.” Disse, puxando-o pelos cabelos e levantando sua cabeça até a altura de seu olhar. “Pense bem em suas escolhas!”. Depois do que disse, arrancou o inquieto e pulsante coração dele. Foi até a cozinha e preparou o jantar. Era o coração de Andy, cujo único erro foi querer se aproximar. Milena da Cunha Secco 1º Ano Ensino Médio
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A floresta da morte Professor Helsing Em 1673, na Transilvânia, o desaparecimento de pessoas era normal. A sua população era muito regrada, para se proteger de todas as feras demoníacas que vinham da floresta da morte. Essa história conta sobre a passagem de William, estudante de física da Inglaterra, que veio à Transilvânia para estudar na Universidade da Inglaterra, uma das melhores da época. William - um jovem de 22 anos em busca de conhecimento - foi a West Village. Ele era um jovem muito curioso e corajoso, duas características que naquela cidade eram favoráveis a morte. Nas primeiras semanas da faculdade, o povo da cidade explicou ao forasteiro como se proteger dos males vindos do inferno. William, como era um jovem curioso, organizou um grupo para ir à floresta da morte, a fim de caçar e matar as feras que há séculos atormentavam a cidade, só que não sabia que teria cometido o maior erro da sua vida. No dia 28 de outubro, o grupo foi para a floresta, com muitas armas e suplementos, todas elas especiais para matar cada fera. Quando as horas passavam, cada vez mais a floresta ia liberando o seu terror. A noite era tão escura como morte, o silêncio era mortal, tanto que era possível ouvir os batimentos cardíacos de cada integrante do grupo. A neblina era densa e os cegava, não era possível enxergar a própria mão. A cada minuto, os jovens se arrependiam de ter saído da cidade. Cansados e com medo, eles armaram uma barraca para descansar. A noite era escura, os ventos frios uivavam como gritos de almas perdidas e o solo era úmido e gelado. A temperatura caía a cada segundo e, então, o demônio liberou suas feras. Gritos e barulhos indescritíveis começavam a atormentar as almas que nunca deveriam ter entrado no banquete dos males, onde todos os mais aterrorizantes demônios vagam em busca de alimento, para agradar o seu paladar. Sangue escorrendo por suas bocas, é esse era o seu desejo, querem se alimentar do medo, da desesperança, da dor, do sofrimento, da aflição, tudo isso para se esquecerem de seu sofrimento eterno. Na madrugada, todos os jovens desapareceram. William acordou assustado, o medo tomou seu corpo. Ele ficou paralisado, somente ouvindo o som da morte. A loucura tomou seu pensamento. De pouco em pouco, ele sentia um rio de sangue passando pelos seus pés, até que, enfim, o demônio apareceu sua frente e tomou sua alma. Narciso Gustavo Nunes Baez 1º Ano Ensino Médio 67!
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A lenda de Louisbisomem Pantro Trhor Havia um camponês de descendência humilde. Nascera de uma união forçada e sem amor, arranjada por seus avós para que seus pais casassem e tivessem filhos, fugindo da pobreza. Seu nome era Jacobo. Em função da má condição financeira de seus familiares, teve que, precocemente, ajudar nos afazeres rurais, resultando em uma infância sofrida. Já adulto, vivia com sua família em um vale muito perto da floresta e também próximo do condado de Parramatta, sendo ambos bastante isolados de outros núcleos urbanos da região, por isso tinha diversos cães de guarda. Numa noite de densas nuvens tempestuosas, ele estava lendo um de seus velhos livros de criaturas horrendas, quando ouviu um farfalhar de folhas do lado externo de sua rudimentar residência. Primeiramente, pensou que era o vento, mas depois uma ideia horripilante passou por sua mente: a de um animal que vagueia pela noite sem rumo, quadrúpede, mas bípede quando necessário. Possuiria uma pelagem espessa, negra como a escuridão e mais profunda que o coração mais malévolo da pessoa mais maligna da Terra. A besta teria unhas pontiagudas e dentes afiados como navalhas que, em um derradeiro golpe poderiam, facilmente, transformar o abdômen humano em uma cavidade enorme e profunda. Nas mãos enrugadas e de textura coriácea, haveriam grandes unhas resistentes a qualquer impacto, de cor vermelho vivo, características da fúnebre e horrenda criatura, castigada pelos anos de sofrimento que se acumulavam nas suas costas. O camponês andou até a porta com a mente ainda envolta pelos contos de terror e medo. Quando a abriu e percebeu a criatura, entrou em choque, todos os músculos do seu corpo começaram a contrair-se e ele se viu em uma situação de medo e repugnância ao mesmo tempo. O animal começou a grunhir e rastejou-se até muito perto do agricultor, enquanto este regressou para o interior da casa. Nesse instante, sua mulher, seguida por seu primogênito, chegou ao hall de entrada. Eles começaram a escutar o relato do fazendeiro assustado, sem entender do que se tratava. Enquanto isso, o animal começou a arranhar a porta e as paredes, como se quisesse entrar no recinto. Horrorizados, os familiares foram para o quarto dos fundos, onde a sogra do homem apresentava um lento e contínuo ronco. As pessoas entraram no quarto, interrompendo o roncar da velha senhora, despertando-a. De supetão, ela se levanta da cama e começa a fazer uma lista de questionamentos aos presentes. No mesmo instante, no outro canto da residência simples e humilde, a fera consegue adentrar a casa e cambaleia na direção dos moradores. A primeira rota de saída do quarto era a janela, fechada pela pobre velhinha antes de ir dormir, agora 68!
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aberta, por causa de uma necessidade maior do que apenas espantar a luz de um quarto sombrio e esquecido, pouco usado nos anos de vida da casa. O animal começou a uivar, chiar e guinchar agudamente, sentindo o cheiro de sangue e carne do pessoal dentro do quarto. A mistura de homem com lobo começou a carnificina, arrancando o roupão da vovó e o vestindo, para ver se o tamanho estava certo, ela é a primeira a perecer. Logo, da esposa são retirados os chinelos para serem repostos nos pés feios e nojentos da criatura, e do camponês, só sobrou a cueca. O último a morrer seria o filho, que agora convém ressaltar o nome: Luís. No entanto, o sol nasce e a criatura sai correndo da casa, dirigindo-se à floresta antes sombria, mas agora iluminada pelo sol frio matinal que percorre as colinas. A besta deixou no rapaz apenas um arranhão realizado por sua unha salpicada de sangue, mas o suficiente para transformá-lo, na próxima noite de lua nova, em uma criatura, diferente fisicamente, porém igualmente perturbada, senhor Louisbisomem. Odanor Ferreti Tombini Filho 1º Ano Ensino Médio
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Fumaça negra O Grilo Um século atrás, em uma terra remota na Romênia, berço de contos e lendas antigas, havia um pequeno vilarejo localizado ao pé de uma montanha. Cerca de 500 pessoas ali habitavam. Local onde Valerius nasceu e foi criado. Desde sua juventude, um antigo castelo chamava-lhe a atenção. Como os outros ali, era de estrutura colossal, antiga, e aparentava ter sido um cenário de horrores. Entretanto, esse lugar tinha algo de diferente... Embora estivesse ali há tanto tempo quanto os demais castelos, nada se sabia sobre ele. Nem quem ali habitou, nem boatos sobre, absolutamente nada. Ou achava ele que nada se sabia. Conforme o passar dos dias sua curiosidade o inquietava mais e mais, até que um dia olhou para o topo da construção e viu uma fumaça preta e espessa saindo de dentro do castelo. Seu primeiro pensamento foi um incêndio e, assim, saiu avisando a todos pela pequena vilela. Todavia, quando chegou à primeira senhora para avisar-lhe do suposto fogo, a velha o conduziu para um canto menos iluminado. Com a cabeça baixa e um capuz negro, levantou o dedo indicador e o encostou em sua própria boca indicando silêncio. Então o levou para dentro de sua casa, na qual faltavam pedaços do teto, os móveis encardidos expeliam o odor fétido de uma mistura de mofo e carcaças mortas de animais, que era agravada por uma iluminação pobre. Os dois sentaram, e a senhora, com tom grave, rouco e baixo, começou a falar algo que arregalaram os olhos de Valerius: - Meu jovem, esse castelo é utilizado uma vez a cada 70 anos para um ritual sagrado, iniciado há muitos anos por anciãos dominadores de magia negra, com o intuito de que as trevas não deixem essas terras. Valerius, assustado, levantou-se e correu para longe da casa, sem olha para trás. Passaram-se alguns dias, e aquela fumaça oriunda do castelo inquietava o jovem. Nada mais se soube sobre a senhora jamais vista. A mente de Valerius ainda não conseguia acreditar no que ouvira. Valerius, dominado pelo desejo de saciar sua curiosidade, esperou o sol desaparecer dos céus e foi penetrar no castelo. Depois de muito procurar uma entrada, achou o que parecia uma falha na parede de rochas grossas e, então, espremeu-se e atravessou para o lado de dentro da construção. Quando saiu daquela rachadura, encontrou-se em um grande pátio rodeado de pilares altos, brancos, com manchas cinza causadas pelo tempo, sustentando a parte superior do lugar. O que viu diante de si foi 70!
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suficiente para parar sua respiração por alguns instantes, gelar seu sangue e disparar seu coração em um ritmo assustador. À sua frente, encontravam-se vultos com trajes pretos, capuz cobrindo as faces, curvados com as mãos juntas, entoando algo que o jovem não compreendia, por ser em uma língua a qual ele jamais ouviu. Não demorou muito para os seres perceberem a sua presença e, vagarosamente, virem em sua direção. Valerius, impossibilitado de fugir, antes que as criaturas o alcançassem, fechou os olhos. No momento que tornou a abri-los, deparou-se com um velho alto, encapuzado, ereto e imóvel. Assim que o ancião tirou o capuz, a meia luz iluminou seu olhar, revelando olhos completamente negros, fixados no jovem intruso. O velho proferiu: - Nossa irmã nos contou que você deixou sua casa antes dela contar-lhe tudo o que deveria. Pois bem, eis aqui o que deveria saber. Nosso ritual necessita de vários elementos para se completar, e o principal deles é o corpo inerte de uma jovem vítima. Naquela noite, cessou a fumaça negra provinda do castelo. Victor José Carpinski Santana 3º Ano Ensino Médio
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Uma aventura em Ilhéus Akyra Blandine Nas terras longínquas do Nordeste, a região de Ilhéus é uma bonita cidade que atrai centenas de turistas todos os anos, por sua história, beleza arquitetônica da casas, exóticas praias e, claro, a exuberante Lagoa encantada. Esse lago abriga uma bela cachoeira, com rochedos, muitas espécies de peixes e uma rica vegetação. Ademais, a lagoa gera muitos mistérios, lendas e relatos místicos. No meio do corpo d`água, havia uma rocha, que era muito cintilante e dourada, além de grande, que chamava a atenção de pessoas que ali perto passavam. Além disso, a pedra continha uma espada prateada e reluzente. A cobiça dos homens pelo ”tesouro” era imensa, tanto que muitos mergulhadores tentaram encontrar uma maneira de retirá-lo de lá. Um mergulhador fez isso e acabou morrendo afogado, porque algo o arrepelara. Assim que as pessoas tomaram conhecimento do ocorrido, ficaram com muito medo. Recorrentes acontecimentos como aquele continuaram. Dizia-se que se ouvia ruídos à noite, como gemidos, perto da água, e se perto chegavam, via-se uma criatura não-humana, mas sim, demoníaca. O terror se sucedia, mas agora com crianças, sendo que o demônio as roubava e elas seguiam desaparecidas. Detetives foram contratados, mas morreram, e policiais também. Cientistas dedicaram-se em desvendar o mistério, ligando o fato com demônio a certa pedra de ouro com a espada. Apenas um pesquisador, chamado Thomas Aguiar de Rabelo – formado em perícia, deduziu que a pedra era o amuleto do deus do submundo e que quem o roubasse teria uma punição, mas também que ele subia do tártaro toda vez que ocorriam trevas, para aterrorizar os pequenos e fazê-los de escravos. Quanto aos ruídos, Thomas pensou que ocorriam porque o demônio sentia-se solitário. Os outros cientistas concordaram com essa hipótese. Então organizaram uma força tarefa para eliminar o demo que estava atormentando a todos. Aniquilaram o ser maligno com uma fortíssima reação química de enxofre, deixando a população local tranquila. Quantos às crianças, foram achadas sãs e salvas, e voltaram para suas famílias. Já a pedra se manteve, rodeada de mistérios. Vitoria Helena Almeida Schettini Ribeiro 2º Ano Ensino Médio
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Ilustração: Ana Luisa Brassanini Flores - 8ª Série Ensino Fundamental
CONTOS DE MISTÉRIO – NÍVEL I
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O último suspiro Alaska Sua aparência estava abominável, poderia ser facilmente confundido com um mendigo delinquente, vestia as mesmas roupas havia dias, não tinha certeza de quando foi a última vez que tomara banho, dormira ou comera alguma coisa. Eram duas horas da madrugada e estava jogado na cama sem lençóis, sem travesseiro e com um grande rasgo na lateral do colchão, em um cômodo escuro e sujo de uma casa abandonada que havia adotado como sua. Inúmeras garrafas vazias de bebidas alcoólicas e cigarros fumados jogados ao chão deixavam o ambiente intransitável e com um odor desagradável. Sua única companhia nos últimos meses fora Governador Caveira, – nomeado assim pois acreditava que seus enormes olhos negros lembravam uma temerosa caveira – uma coruja que já morava na casa quando chegou, e permaneceu ali, ao seu lado, por extensos dias monótonos. Virando o corpo um pouco para o lado, permitiu-se ver seu próprio rosto refletido em uma poça formada pelo álcool que fora derramado de uma das garrafas. Olheiras fundas e uma pequena cicatriz quase imperceptível no lado direito do queixo descreviam seu rosto. Começou a ter dificuldades para respirar, perdeu os movimentos das pernas, seus batimentos cardíacos aceleraram e suor escorreu de sua face, misturando-se com as lágrimas que insistiam em escoar de seus olhos sem seu consentimento. Não tinha certeza do que estava ocorrendo, contudo, logo supôs que essa seria a sensação de estar morrendo. Essa situação perdurou-se por, ao seu ver, anos, mas não passaram de algumas horas. Não poderia negar que esses últimos instantes foram os piores e mais agonizantes de toda sua miserável vivência. E assim soube, aquela seria a última vez que veria os intrigantes e diabólicos olhos negros de Governador Caveira, tentou mantê-los fixados no animal o quanto pôde, queria que essa fosse sua última lembrança, de seu cúmplice e testemunha de tudo que havia feito – ou deixado de fazer – nos terminais meses de sua vida. Aquela seria a última vez que ouviria o pio da misteriosa e companheira coruja, tentou ignorar qualquer outro barulho que chamasse a atenção e concentrar-se apenas nesse ruído familiar. Aquela seria a última vez que acariciaria a macia pelagem da ave, mesmo com as mãos trêmulas e sem forças. E assim, às cinco horas do mesmo dia, depois de três horas de intensa tortura e aflição, com um longo e angustiante suspiro, seu corpo se enrijeceu, os olhos tornaram-se inexpressivos fitando o vazio, o rosto empalideceu, a respiração ofegante cessou e, em um último instante, um 74!
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grito subiu em sua garganta, mas ele o engoliu quando o silêncio e a escuridão o venceram. Governador Caveira permaneceu ao seu lado por mais alguns minutos, até resolver levantar voo e desaparecer no céu, que se estendia como uma interminável negra manta sob a desprezável casa. O que mais o pobre animal poderia fazer? Ninguém iria aparecer para buscá-lo e velar seu corpo de maneira digna. Iria se decompor na companhia de seres vivos indesejáveis. Talvez fosse isso mesmo o que merecia. Talvez fosse esse o preço a pagar por estar há tanto tempo se escondendo do resto do mundo, com a frustrada esperança de que sua ausência compensaria o que cometera. Tinha certeza de que todos queriam justiça, para não dizer vingança. Sabia que nunca seria perdoado, por isso se refugiou em uma casa abandonada, quem iria imaginar que um homem que já fora exemplo de boa reputação acabaria em um conturbado cenário como esse? Quem imaginaria que se tornaria um ser humano sem escrúpulos como era agora? Definitivamente, ninguém. Suzana Merigo 8ª Série Ensino Fundamental
Ilustração: Ana Luisa Brassanini Flores - 8ª Série Ensino Fundamental 75!
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Horas da noite Tessa Gray Ouço meus passos ecoando enquanto caminho em direção à minha casa, a brisa noturna faz as folhas secas farfalharem aos meus pés. Minha visão está obscurecida por conta da falta de energia nos postes, em outras ocasiões, eu não cogitaria em caminhar sozinha quando os relógios já passaram da meia noite. Porém, não havia outro jeito, não depois do angustiante acontecimento na casa de Amy Slygth. Caminhavam para tentar apagar de minha mente as imagens do que acontecera há pouco, não estava tendo sucesso, elas voltavam vívidas e torturantes para meu descontentamento. Tudo começou com um inocente encontro entre seis amigas. Uma noite monótona e descontraída, até alguém ter a brilhante ideia de convocar espíritos. Na hora eu neguei, mas, após ser taxada de medrosa pelas outras cinco, nem os espíritos mais macabros me impediram de provar o inverso. Estava determinada. Colocamos um tabuleiro com letras, símbolos e números em cima da mesinha de centro da sala, juntamente com um copo e nos dispomos em uma pequena roda. Ao olhar de soslaio para as outras, percebi o nervosismo como uma corrente estática, sabia que não teria como voltar atrás. Ignorei os sentidos que gritavam para eu correr, que aquilo estava terrivelmente errado e que não deveríamos incomodar os mortos, coloquei a mão em cima do copo, as outras repetiram o gesto. Senti um tremor passar pelo braço e percorrê-lo até o ombro, um zumbido se instalou em meus ouvidos e o copo começou a se mexer, preguiçoso e involuntariamente. Começou com uma sequência de letras hipnotizantes que me levaram a um estado de estupor. Um nome. Apenas isso. Meu nome. Puxei o braço com muito esforço para junto do corpo, estava me sentindo violada e desconcertada. Todos os olhos se voltaram para mim, minha mente trabalhava para encontrar um jeito sutil de sair daquela situação, não obtive êxito. Levantei-me e encarei as outras, elas não mexiam um músculo sequer, apenas me olhavam de maneira quase indiferente. Então percebi um vislumbre de ferocidade em seus olhos. Notei que o brilho comum que temos no olhar havia desaparecido totalmente dos olhos de minhas companheiras, deixando-os opacos e abrindo espaço apenas para trevas e lamúria. Não conseguia compreender o que estava acontecendo. Lentamente, uma a uma de minhas amigas se levantaram e começaram a entoar um cântico disforme em uma língua nunca antes vista. Clamei por ajuda, mas minha garganta se fechava com uma ardência insuportável, fazendo minha voz sair fraca e inaudível. Algo mais denso que lágrimas 76!
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rolaram de meus olhos, era um líquido desconhecido que superava a negritude da noite e encharcava meu rosto e pescoço. Conforme as que outrora foram minhas amigas aceleravam a música, a vida se esvaía de meu corpo de modo doloroso, como se minha alma estivesse sendo arrancada. Lutei. Sentia-me em um cabo de guerra contra um ser de força descomunal. Sabia que estava perdendo. Uma dor lancinante cobriu meu corpo e uma risada estrondosa ergueu-se sobre mim. Tudo ficou escuro, já não havia como revidar. Acordei em um sobre salto, gritando como uma criança assustada. Abri os olhos, estava deitada no chão e minhas amigas me olhavam de cima, com receio e estarrecimento. Levantei de forma desengonçada negando as mãos que me eram estendidas. Pontos pretos dançaram em meus olhos, alguém tentou me acalmar colocando o braço em meu ombro, fazendo com que eu vociferasse insultos em alto e bom tom. Saí correndo de dentro daquela casa que me trazia visões infernais. Levando-me ao presente. Quando termino de apaziguar meus sentidos, que estão em alerta máximo, permito-me uma pausa em minha caminhada. Encosto em um muro totalmente vandalizado por pichações e escorrego as costas até que finalmente estou sentada. Seguro a cabeça entre as mãos massageando a têmpora. Penso ter ouvido algo, mas digo a mim mesma que foi apenas a imaginação me pregando peças. Quem dera fosse apenas isso. Luana Cristina Da Costa Consoli 8º Ano Ensino Fundamental
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O monstro sou eu S. F. Manson Um pedaço de um espelho. É tudo o que eu preciso. Se vai doer? Talvez, quando o sangue sair. Mas por pouco tempo. E não é nada comparado ao que estou sofrendo. Desde o que fiz. E que ela morreu. Por minha culpa. Eu era feliz. Tinha um excelente emprego e minha esposa era muito mais do que eu merecia. Ela era linda, inteligente, simpática, compreensiva, carinhosa... Eu a amava, e creio que ela também me amava. Então começou. Era uma noite chuvosa, mas ela a fazia agradável. Logo após o banho, no exato momento em que eu desliguei a luz do banheiro, caiu um forte raio, e com a claridade pude ver, através do espelho do quarto, uma figura terrível. A criatura tinha um corpo feminino e usava roupas pretas, como de punks. Mas foi quando vislumbrei seu rosto que eu realmente me assustei. Tinha longos cabelos espetados, pintados de vermelho sangue. Sua boca projetava um sinistro sorriso sádico, e o que mais amedrontava eram seus olhos. Suas pupilas tinham formato de fenda, e a íris ocupava quase todo o olho, com um tom de vermelho ainda pior que o dos cabelos. Voltei para o banheiro e tranquei a porta. Quinze minutos depois ela me chamou, com uma linda voz, e disse para eu não demorar. Mas eu não tinha certeza se a criatura tinha imitado a voz de minha esposa, ou era invisível para ela. Permaneci ali, sentado no chão, sem conseguir dormir e sem ter coragem de voltar para o quarto. Quando me dei conta já havia amanhecido e eu tinha que me arrumar para o trabalho. Saí do banheiro. Além de mim, ninguém no quarto. Desci a escada que levava à cozinha, e lá estava ela, preparando o café. Quando me notou, perguntou o que acontecera noite passada. Eu inventei uma desculpa. Ela fingiu acreditar. Essa situação se repetia uma, duas, até três vezes por semana, mas eu não reagia. Já passava de três meses, e eu não conseguia mais suportar. Eu me tornei um homem recluso e sem coragem. Minha esposa me perguntava o que estava acontecendo, mas eu apenas dava desculpas que nós dois sabíamos que não condiziam com a realidade. Até a aparições mais recente. Aconteceu hoje, um sábado ensolarado e agradável, quando minha esposa estava fazendo o almoço e eu arrumando a mesa, conversando sobre assuntos fúteis. No meio da conversa eu me virei, e lá estava a criatura, brandindo a faca de legumes. Com o susto, derrubei os pratos de minhas mãos e afastei-me, desesperada e desajeitadamente, daquela coisa. Atirei o primeiro objeto que encontrei e continuei minha fuga sem direção. Eu já estava quase no cômodo 78!
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vizinho quando olhei de relance para trás. E o que eu vi? O monstro me perseguindo? Ou se dissolvendo em fumaça negra? Não. O que eu vi foi infinitamente pior. Era a minha esposa caída, entre os cacos de porcelana, com uma faca fincada no peito, e sangue escorrendo com abundância. Estarreci. Ela está morta, foi o que pensei no instante que vi a terrível cena. E é minha culpa. Sentei. E pus-me a chorar. Isso não podia ser verdade. Não é possível. Não sei o quanto tempo passei ali, mas me levantei apenas quando ouvi a campainha. Era o carteiro. Em meio às contas e propagandas, uma carta. Eu abri o envelope e a li. Dizia que a empresa em que eu trabalhava está fechada. Em anexo estava uma cópia do laudo da vigilância sanitária, interditando o local pelo sério vazamento de um gás, cuja inalação pode causar desde dores de cabeça leves até alucinações e instabilidade mental. Imediatamente, rasguei a carta e andei, destruindo tudo o que estava na frente, em direção ao quarto. O nosso quarto. Não. Agora não havia mais nosso. Quando cheguei, chutei um dos armários, fazendo-o cair e derrubar o espelho, que estilhaçou-se. O espelho em que eu vi a maldita criatura pela primeira vez. Juntei um pedaço dele, mas por um segundo eu vi nele o rosto da aberração. Depois eu me vi, e percebi que eu era pior que ela. Ela não havia matado uma pessoa, e eu sim. A pessoa que eu mais amava neste mundo. Mas o espelho também me deu uma luz, e agora parece a única solução para pôr um fim neste sofrimento. Um pedaço do espelho. É tudo o que eu preciso. Se vai doer? Um pouco, quando o sangue sair. Mas por pouco tempo. E eu mereço esta dor. Érico Brouwers Lara Dias 8º Ano Ensino Fundamental
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Noite na escuridão Mileide Sopre Miguel morava em uma casa escura e antiga, que ficava próxima a um parque de diversões. Seus vizinhos quase não apareciam e, sempre que chegavam, todos da vizinhança escutavam o barulho estridente dos portões da garagem se abrindo. Em uma noite silenciosa, Miguel estava deitado no velho sofá rasgado, quando avistou uma silhueta passando à sua frente. Por estar com muito sono, ele pensou que estava delirando e, então, resolveu subir as escadas vagarosamente para não acordar seu irmão, Josuel. Ao chegar no segundo andar, parou pensativo em frente à porta do quarto, tardiamente, abriu-a devagar e entrou, deitou-se na cama e ficou estático, olhando para o teto. No momento em que estava pegando no sono, Miguel escutou uma voz rouca dizendo em seu ouvido, “seja feliz enquanto puder”. Após ouvir isso, ele procurou por todo o quarto, na ânsia por descobrir quem havia dito aquelas palavras, porém não avistou ninguém. Continuou deitado até o momento em que a porta de seu armário abriu devagar, e, logo em seguida, todos os seus perfumes e desodorantes começaram a cair de dentro do armário. Segundos depois, levantou e foi diretamente ao interruptor para acender a luz, porém, ao apertá-lo, a luz piscou e apagou novamente. Apavorado, Miguel repetiu a ação e, dessa vez, a luz nem se quer piscou. Devido à curiosidade, Miguel resolveu percorrer todo o apartamento à procura de alguém. Por não ter encontrado ninguém, ele abriu a porta de entrada, sem ao menos olhar pelo olho mágico, e se deparou com dois esqueletos: um sentado no tapete da porta e outro encostado na pilastra que ficava cerca de dez metros de onde se encontrava. O pobre rapaz ficou estático por alguns minutos e, só então, resolveu fechar a porta. Sentou-se à mesa e começou a escrever e relembrar tudo o que já havia acontecido naquela noite, assim que colocou o ponto final no que tinha escrito, escutou um choro de criança vindo do seu lado esquerdo. Olhou para o lado e, quando virou para a mesa, a folha onde havia estava rasgada e com a ponta queimada. Miguel se levantou, foi até a janela e olhou por trás da cortina. Quando se virou, todas as luzes da casa estavam acesas, correu para o segundo andar e, ao chegar no último degrau, ouviu uma porta se abrir. Ficou sem saber que reação deveria esboçar e, então, esbravejou: “eu sucumbo”. Minutos depois, aparece seu irmão e lhe conta que aquela tinha sido a melhor noite de sua vida. Miguel estava pensando totalmente ao contrário e, mesmo assim, preguntou o porquê de ter sido tão boa para o irmão. Segundos depois dessa pergunta, Josuel responde que foi por ter 80!
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conseguido assustá-lo com a ajuda de seus sobrinhos a noite inteira. Tudo o que Miguel havia passado durante a noite não era nada mais do que uma armação de seu irmão. Amanda Calazans Franco 8ª Série Ensino Fundamental
Ilustração: Ana Luisa Brassanini Flores - 8ª Série Ensino Fundamental 81!
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O gato e as flores Juliet Fox Era um dia típico de outono, e as árvores que abrilhantavam a paisagem da praia na primavera, estavam secas. Não havia se quer um raio de sol, o céu estava tomado por nuvens escuras, indícios de que uma tempestade estava se aproximando. Eu andava pela praia, distraída e um pouco deprimida. Um gato, por curiosidade me acompanhava. Eu não sabia por que, espantei-o diversas vezes, batia os pés na areia, assustava- o, mas ele sempre voltava. Era um gato preto, com olhar fúnebre. Senti um pouco de pavor ao olhar nos olhos do felino e perceber que eram diferentes. O olho esquerdo era negro, como a cor de seu pelo raso, e o direito era azul, como o céu em dias de primavera. Não entendi o porquê daquela perseguição insistente, era como se o animal quisesse me mostrar algo. Parei ao lado de um banco velho e me sentei, o gato sentou-se ao meu lado. Tentei não pensar na presença dele e olhei fixamente para o horizonte. Aterrorizei-me quando, segundos depois, olhei para o gato e vi que estava morto. Notei um vazio em mim, como se pudesse ter feito algo para ajudá-lo, mas não o fizera. Como se ele me pedisse ajuda e eu não o tivesse ajudado. Não soube o que fazer. Nunca gostei de gatos, nem cachorros e qualquer outro animal. Por que vieste pedir ajuda logo para mim? Pensei. Cavei um buraco raso, com as próprias mãos, coloquei o cadáver do gato e, em seguida, cobri- o. Não era muito fundo, mas tinha capacidade de escondê-lo. Surpreendi-me quando um de seus olhos ainda continuava aberto, o olho azul, que cada vez mais parecia azul. Como se quisesse me dizer algo. Passaram-se meses, e os pesadelos com gatos de olhos azuis me perseguiam. Em todos os meus sonhos, um gato vinha me contar que eu estava morrendo e, quando acordava, um gato com olhos azuis aparecia na porta, sorrindo pra mim, debochando do meu estado físico e emocional. Voltei à praia meses depois, já era primavera. O lugar ainda parecia deserto e havia flores somente no lugar onde eu tinha enterrado o gato, flores azuis. Azuis como a cor de seu olho. Eu continuei apavorada, aquilo estava mexendo com a minha cabeça, acreditava que estava ficando louca. Vendo coisas! Quando me virei, cerca de cinco gatos vieram em minha direção, mas estes tinham apenas um olho. Não pude me mexer, jurei que algum deles teria falado comigo, estava tendo alucinações por conta dos pesadelos, isso era irreal, pensei. Mas não... no caminho de volta ao chalé onde eu morava, os gatos ainda me perseguiam e se multiplicavam rapidamente, de uma forma que eu nunca soube explicar se real ou não. Eu via flores azuis turquesa e olhos 82!
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do mesmo tom. Gatos tão negros como a noite, em coro dizendo Chegará o dia em que todas as rosas morrerão e somente as azuis permanecerão... a sua hora é agora. Amanda Odorczik 8ª Série Ensino Fundamental
Ilustração: Ana Luisa Brassanini Flores - 8ª Série Ensino Fundamental 83!
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Pesadelos Britain Dragon Eu nunca fui uma criança medrosa, correndo ofegante para os braços dos meus pais quando simples pesadelos apareciam no meio da noite. Eu nunca os tinha, e talvez fosse esse um dos motivos do meu amor pela temática, além da tremenda curiosidade de um dia deliciar-me com a sensação do medo, que me parecia uma grande aventura! Mas... Nada conseguia atiçar meus “nervos de aço”, nenhum susto, nenhuma tortura, nem mesmo brincadeiras toscas que meus irmãos pregavam em mim, botando tufos negros debaixo de minha cama para representarem algum monstro ou criatura. Aquela noite estava como uma reprodução das noites clichês de terror, tornando-a o momento perfeito para a reprise de um de meus filmes prediletos. As horas se passaram, o filme havia acabado e, somente pela força do hábito, revia as cenas de ação. Já estava ficando tarde, os olhos pesavam e mais nenhum suspiro de empolgação saia, somente bocejos, um atrás do outro. Esses eram os sinais de que já estava na hora de dormir. Um pouco relutante, desliguei a TV e levantei do sofá, marchando silenciosamente para o meu quarto, somente para tornar o ato mais interessante. Quando cheguei à porta, fui surpreendido pela silhueta distorcida e macabra, observando-me em frente a minha cama, com metade do corpo ainda debaixo dela, dedurando onde antes estava. O pelo grotesco, semelhante a grandes agulhas negras, subia pelas costas e ombros do ser. A mandíbula, mantida semiaberta, emanava um perfume pestilento, enquanto fios de saliva serpenteavam de suas grandes presas até o chão. As garras, por sua vez, arrastavam-se lentamente no chão, produzindo um baixo e horrendo som agudo, fazendo meu ouvido estremecer perante tal melodia. Por fim, ela tirou todo o corpo do esconderijo, exibindo seu grande tamanho. E isso não era nem de perto o que havia de mais assustador na criatura... Uma máscara branca tomava o lugar do que deveria sua face, e nela se mostarvam dois grandes buracos que representavam os olhos. Eles eram negros, tão negros quanto sua pelagem, mais semelhantes a dois abismos redondos do que a órbitas. Nesse momento, senti o coração pulsando tão rápido que atrapalhava até o ritmo do órgão vital, gerando arrepios que faziam os pelos de minha nuca eriçarem. Minhas mãos suavam e a visão embaçava. A sensação parecia de longe algo prazeroso, como um dia eu sonhara, mas, ainda assim, era interessante. Automaticamente, tentei gritar, o que foi em vão, já que um nó crescera em minha garganta devido ao nervosismo. A criatura gentilmente pousou um de seus dedos peludos e esqueléticos sobre o que seria sua boca sob a máscara, como um gesto para que eu mantivesse o silêncio. De alguma forma, pressionei meus lábios com força 84!
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um contra o outro, evitando soltar qualquer que fosse o som, obedecendo à fera que a minha frente se encontrava. O grotesco animal, por sua vez, pareceu estar lisonjeado em receber tal demonstração de respeito, grunhindo uma única frase distorcida, com o tom mais grotesco, mas ao mesmo tempo mais protetor que eu já ouvira. “Você...Tem pesadelos deliciosos.” Os anos se passaram, e ninguém nunca acreditou em minha história. Consideravam loucura o fato de que a personificação de um pesadelo em si, poderia, na verdade, estar me protegendo deles. Contudo, eu continuava imune a eles e ainda encontrava pequenos tufos debaixo de minha cama. Hoje posso dizer que o encontro não forjou nenhuma espécie de trauma em minha personalidade. Creio que não passou de um pequeno lembrete de que “demônios” podem na verdade serem anjos. Ana Luiza Brassanini Flores 8ª Série Ensino Fundamental
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Doce demência Pierrô negro Sei que parece estranho, anormal ou simplesmente diferente para alguns, mas o que eu mais gostava era a escuridão. Eu admirava a incrível sensação de saber que não havia ninguém lá, no escuro, observando, era apenas eu mesma. Já era noite, a escuridão gélida despertou minhas estranhas manias de fugir para o breu, sai para um bosque ao lado de minha casa. Aquela sensação única de liberdade voltara novamente para mim, a alegria incomparável, juntamente com o prazer, fizeram-me começar a correr sem saber aonde eu ia. De repente, virei e, em um ato muito rápido. Caí. Desmaiei. A única coisa de que me lembro é do horrível matadouro alagado onde havia caído. Acordei em um lugar obscuramente silencioso e horripilante. O silêncio do local era mortal e confuso, tão silencioso que provocava a sensação de que havia alguém o controlando. A sala era visualmente limpa e impecável, porém a cadeira onde sentava estava totalmente tomada pelos fungos e traças. Minhas tentativas de levantar estavam sendo inúteis, pois havia algo me prendendo à cadeira, algo tão forte que por questão de centímetros não fraturava minhas costelas, uma camisa de força muito bem amarrada quase triturava minha espinha. Minha cabeça já não compreendia mais nada naquele momento, vozes chamavam-me para as entranhas obscuras da casa e guiavam-me para o desespero que era minha mente. A camisa de força, cada vez mais firme, não permitia meus movimentos de fuga, estava condenada por aquela casa. No canto mais escuro da casa, percebo um espelho putrefeito e mofado que possuía uma rachadura certeira no centro. O palpitar do meu coração desregulado já não estava mais sob meu controle, o espelho esgueirava-se junto a mim, fazendo-me ver meu reflexo pálido, cinza e indecifrável. De repente, sangue escorria das cavidades do meu corpo, cobrindo-me por completo, porém sem penetrar sobre a branca e velha camisa de força. A demência tomava conta de mim, havia rastros de loucura por todo meu corpo, já não havia mais o que fazer, a morte havia chegado com meu trágico fim. Senti minhas veias explodindo, minhas forças já não adiantavam mais, minha mente gritou a frase de “O corvo” de Edgar Allan Poe. “Nunca mais”. Carolina Kaempf Farret 8º Ano Ensino Fundamental
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A porta, as bestas e o ciclo Yami no Hana Com passos longos voltava, fadigada, meus olhos estavam pesados, mas o pior era a dor, que palpitava, como um pêndulo, de um lado para o outro, os blocos de pedra que formavam a rua, estavam úmidos, pegajosos, A rua, abafada, semelhava não ter fim, além de mim só se passava o vento, mas o vento me congelava a alma. Meu olhar pairou no ar, até pousar em uma porta nunca vista antes, velha, grotesca, estampada em uma parede de tijolos pútridos, uma graveolência que me contaminou de imediato. Aproximei-me ponderadamente, atemorizada, quando a alcancei, girei a maçaneta, decrépita e sem brilho, entrei de modo drástico e cai como uma pedra em um precipício sem fim. Não ousava desunir meu olhos, o pânico me contaminava, deduzi que minha queda havia terminado, estava em posição fetal, com meus ombros arcados, que chegavam a doer. Arrisquei abrir meus olhos. Não sabia onde estava, havia um negrume que me confundia, mas uma luminescência incomum que me fazia ver sombras com formas anômalas, semblantes estranhos, medonhos, que se alvoroçavam de forma sem fundamento, chocavam-se, mas não se tocavam. Tentei entender o que eram, pernas e braços demasiadamente longos para um ser conhecido, dedos longos com unhas que pareciam as garras de um predador, só clamava para não ser a presa. Estava jogada ao chão, o medo tinha me paralisado, sobre a grama glauca e a terra molhada, tentava fugir, mexia-me, como se tentasse escapar. Não saí do lugar, mas foi o suficiente barulho para chamar aquelas criaturas para perto de mim. Ao se aproximarem, não me tocaram, apenas me observaram. Eram muitos, vi dentes compridos, finos, amarelados, um odor horrendo saindo entre os dentes, olhos sombrios, fundos, como se fossem sugar o que havia de mais puro em mim. Rostos brancos encardidos, como restos velhos, vestes escuras, arranhadas, saburrentas, corpos finos, como se fossem apenas ossos, cobertos por um fino pedaço de pele. Não sabia o que queriam, mas meu único desejo era sair do meio desse nevoeiro e encontrar a porta. As bestas começaram a se aproximar, fui me esgueirando pelo chão. As pontas de meus dedos tocaram levemente o que acredito ser uma árvore. Estava com uma pasta gelatinosa azul noturno, fiquei ali, para que não me encontrassem. Um murmúrio anedótico se iniciou, os monstros haviam se enfurecido e estavam a minha procura, percebi que um deles estava ao oposto de mim, não conseguia vê-lo, mas sabia que estava ali. Não tive outra opção, comecei a correr, transcorri por um lago, tão preto que ficava azul. Era lua cheia onde estava, havia troncos e galhadas altas, lúgubres. Tudo estava contaminado pelas garras da escuridão, o fulgor da lua, era a 87!
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única fonte que estava a meu proveito. Desarvorei dali rapidamente, mas não progredia, estava sendo alcançada pelas fúrias, havia um galho inesperado, despenquei, alcançaram-me. Tentei voltar, era tarde, já tinha sido sugada por olhos em chamas, injetados de sangue. Tentei respirar profundamente e o ar entrou por minha boca, mas não saiu. Estava morta, tinha me transformado em uma das fúrias. E assim continuaria. Após virar uma besta, escolherei minha presa e colocarei uma porta em seu caminho... Cássia Cuchi Bordignon 8º Ano Ensino Fundamental
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A boneca Pocahontas Em uma noite chuvosa e com muita cerração, convidei minha amiga Catarine para dormir em minha casa. Ela morava a uma quadra da minha, por isso, mesmo de noite, resolveu ir a pé. Prometi que ficaria na frente da residência, esperando-a. Logo ela chegou. Quando abrimos a porta para entrar, não havia ninguém na casa, porém lá estava uma boneca sentada em um tapete. Não sabíamos como ela tinha aparecido, mas decidimos levá-la para meu quarto. Ficamos assistindo a filmes até 3 horas da manhã, e a boneca estava em cima da minha cama, mas quando fomos dormir, ela não estava mais lá, ficamos com muito medo, mas mesmo assim pegamos no sono. Eram 5 da manhã, ouvi um barulho no porão da casa, então decidi verificar o que era, e vi a boneca, deitada no chão. Minha aparência era de terror. Tentei subir até meu quarto e chamar minha companheira, mas quando fui subir as escadas, algo puxou meus pés. Comecei a gritar, mas ninguém me ouvia, a única coisa que se passava na minha cabeça era de onde tinha surgido essa boneca. Algo bateu em minha cabeça e desmaiei. Quando acordei, não havia nada, apenas eu e a boneca. Ela segurava um martelo, provavelmente foi por causa dele que desmaiei. Tentei tirar o martelo dela, mas estava segurando com muita força, então saí correndo em direção ao meu quarto, entrei lá e vi Catarine cheia de sangue, comecei a gritar e fui ao quarto dos meus pais. Só então percebi que todos da casa tinham morrido, quando fui até a cozinha e deparei-me com várias bonecas como aquela, cada uma com um martelo. Elas começaram a andar em minha direção, saí correndo, mas elas não paravam de aumentar seu número. Elas corriam muito, não conseguiria escapar delas, eram muitas, e finalmente consegui me esconder em um lugar seguro, fiquei escondida lá até o amanhecer. Quando os primeiros raios de sol surgiram, decidi ligar para a polícia, relatei a história a eles, mas não acreditaram em mim, pois todas as bonecas tinham sumido, menos uma, a do porão. Eu tive de ir morar com meus tios e todo o dia falo com psicólogos, pois todos acham que é mentira. Agora já se passaram sete anos do ocorrido, mas continuo insistindo na minha história. A boneca continua comigo, não aconteceria mais nada assustador com ela. Pelo menos era o que eu pensava. Na noite seguinte, desci para tomar água na cozinha, e lá estava ela, a boneca com o martelo na mão, seu olhar era amedrontador... Flavia Garbin Sbardella 8º Ano Ensino Fundamental 89!
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A vizinhança John Roberts Legend Em um bairro de uma pequena cidade, na Rua Black Cat, morava um casal que tinha se mudado há pouco tempo. O motivo da mudança era o trabalho do marido, que dizia ser médico. Amanhecia, e Lúcia e Edgar dormiam profundamente na nova casa. Moravam em um bairro, onde a vizinhança era silenciosa e as casas novas e bem protegidas. Quando Lúcia acordou, Edgar ainda estava dormindo, pois tinha passado por um cansativo primeiro dia de trabalho. Ela abriu as cortinas e olhou pela janela, percebeu que, entre muitas casas bonitas, havia uma casa velha, simples, com madeiras apodrecendo e que parecia estar abandonada. Foi ver se tinha recebido alguma carta, mas, ao em vez de cartas, tinha um papel, no qual estava escrito: um gato e sete vidas. Lúcia deixou o papel e voltou para dentro de casa. Enquanto o dia passava, Lúcia, em seu quarto, lia seus livros. Quando Edgar estava se preparando para ir ao trabalho, Lúcia lhe perguntou sobre aquela casa velha, e ele disse que estava abandonada. Os dias se passavam e Lúcia percebeu que uma das casas não ficava mais com as luzes acesas à noite. No dia seguinte, duas apagaram as luzes e, assim, o número de casas estava aumentando até chegar a seis casas, que permaneciam todo o dia com as luzes apagadas. Certa noite, Lucia assistia ao noticiário e, de repente, ouviu a notícia de que pessoas haviam desaparecido na Rua Black Cat. Pensou que este desaparecimento talvez pudesse ter ligação com as luzes apagadas nas casas. No dia seguinte, Lúcia estava caminhando pelo bairro e, quando percebeu que estava ficando tarde, decidiu voltar para casa. No caminho, passou em frente à casa abandonada e viu que a janela estava aberta. Dentro da casa, avistou um homem. Então saiu correndo até sua casa para falar ao marido. Quando chegou, Edgar estava em pé na frente da casa, com um semblante estranho. Ela contou-lhe sobre o que viu, e ele pediu para que fossem investigar a casa misteriosa. Lúcia considerou aquela uma ideia maluca, mas muitos acontecimentos deveriam ser esclarecidos, por isso aceitou a proposta. A lua brilhava, e o vento soprava forte, enquanto Lúcia e Edgar entravam na estranha casa. A única luz que iluminava o local era a luz da lua, que batia nas janelas. Até agora não havia indícios de que alguém esteve no local. Em um momento encontraram uma porta que dava para o porão. Estava escuro e, quando o marido acendeu a luz, Lúcia enxergou o mesmo homem que tinha visto dentro da casa na sua caminhada. Lúcia estava apavorada, pois percebeu que aquele homem era um assassino que matava, recolhia os corpos e depois retirava deles os órgãos vitais, que 90!
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ficavam pendurados nas paredes. Também percebeu que seu marido trabalhava para aquele homem. Quando estava morrendo, tudo passou a fazer sentido. Com relação ao bilhete que encontrara, o gato significava a Rua Black Cat, e as sete vidas eram as sete casas desabitadas, ou seja, sete pessoas mortas pelo assassino. E, então, as sete vidas do gato se foram, e a vizinhança tinha morrido. Gustavo Forselius 8ª Série Ensino Fundamental
Ilustração: Pedro Antonio Silveira Dos Santos - 6º Ano Ensino Fundamental 91!
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O barulho Jhon Lenon Era um certo dia, um homem escutou um barulho as 23:00 horas, um barulho estranho atrás da minha casa, fui ver mas não era nada, no outro dia a mesma hora, o mesmo barulho, no mesmo lugar, para mim tinha alguma coisa, quando eu ia olha não tinha nada, não sabia o que era. Tentei tocar de casa mas não adiantou nada, o mesmo lugar, a mesma hora, o mesmo barulho irritante. Tentei trocar de cidade, quando estava indo o barulho deu no meu carro, na parte traseira, o mesmo barulho, parei para olhar não era nada, continuei andando, quando cheguei na cidade olhei uma casa e achei bonita, então aluguei ela, passaram uns dias e o barulho voltou, na mesma hora, no mesmo lugar, o mesmo barulho, não sabia o que era. Tentei trocar mais uma vez de casa, passou uns dias, mas o mesmo barulho voltou, na mesma hora, no mesmo local, não poderia ser, já havia trocado de casa e de cidade, como esse barulho sempre aparecia, me incomodando novamente. Pensei bem e decidi morar em uma chácara, quando estava indo olhar a chácara deu o mesmo barulho no carro, foi olhar o que tinha acontecido mas não era nada, continuou dirigindo, ele estava olhando e se deparou com uma chácara, foi olhar e achou a chácara bonita, falou para o senhor que ia comprar, passou uns meses o barulho não tinha voltado, depois de muitos meses o barulho voltou, e continuou incomodando o homem. Como pode ser já passaram muitos meses e o barulho voltou. Pensei muito bem e falei que ia trocar de país, o barulho parou por alguns anos, mas ele voltou para infernizar a vida, parecia fantasma, parecia um bicho, mas eu não sabia o que era e nunca soube. Envelheci na loucura de um barulho eterno. João Vinicius Batista 8º Ano Ensino Fundamental
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Sótão maldito SiaDu Juan e sua namorada, Jéssica, foram viajar para a Antártica para realizar estudos sobre os pinguins. Dentro do avião estava frio e úmido e o piloto parecia temer o destino, parecia quase chorar. Chegando ao aeroporto, despediram-se do piloto, tomaram café da manhã e logo foram para a cabana onde iriam ficar durante os estudos. Era toda de madeira em um lugar solitário. Sua aparência era sombria. Foram adentrando, ao pisar no assoalho ele fazia ruídos. Jéssica estava com medo, subiram a escada no segundo andar onde tinha um quarto e um sótão. Com medo, não sabiam se continuavam ou paravam... Com muito mais medo, foram seguindo Jéssica. Começava a chorar, e o ruído da madeira antiga aumentava. Juan abriu o alçapão antigo, bem devagar, ele espiou e viu uma escuridão sem fim. Lembrou-se de todos os seus pesadelos e começou a gritar aterrorizado. Jéssica fugiu, corria o mais rápido possível, deixou o namorado gritando ao fechar a porta, seu choro era o único som que poderia se ouvir naquele silêncio mortal. O homem que tirava neve do asfalto foi ver o que tinha ocorrido com a garota. Jéssica pediu seu nome, era Maicon, limpava o asfalto da vila há anos, mas era a primeira vez naquela rua. Ela contou a história, o homem pensou um instante e disse-lhe para chamar a polícia, era a melhor opção. Enquanto esperava, estava preocupada com o namorado, mas mesmo assim foi em busca dos pinguins que ficavam na redondeza, todos eles pareciam desanimados. Os policiais chegaram ela foi correndo, Maicon já estava falando a história. Os policiais, que não acreditaram e foram conferir o sótão com suas lanternas e as armas descarregadas, debochando de Jéssica e Maicon, abriram o alçapão e o mesmo ocorreu. Jéssica ouviu os gritos e foi lá conferir o que acontecerá, junto com o Maicon, que começava a chorar quando ouvia os ruídos. Abriram o alçapão que rugia, avistaram a escuridão sem fim e depois viram diversos corpos pendurados, inclusive o de Juan e dos policiais. Jéssica começou a ter dores de cabeça extremas. Lembrou-se de pesadelos horríveis, algo a puxou para o sótão e lá morreu, sofrendo demais. Maicon saiu desesperado e contou o acontecimento a todos. Depois disso, a cabana ficou abandonada por anos. João Vitor Baratto 8º Ano Ensino Fundamental
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A dama de negro Sine Corpus Era uma noite procelosa, em que o astro soberano não mais se dizia presente. Apesar do tremendo pé d`água, eu percorria uma via de concreto sem meu meio mecânico de transporte. O ar estava inerte, nenhuma substância incorpórea chegava ao alcance dos meus globos oculares. Até que se revelou uma figura espectral, com seu manto e seu instrumento, cuja parte inferior era feita de restos dos gigantes verdes que nos cedem o tão necessário ar, e a parte superior era feita de um material que ostentava um brilho distinto. Logo vi que era a dama que incute medo até no mais intrépido ser que está sujeito a ter um fim. Ela veio me conduzir à terra dos esquecidos, dos que não mais aqui se encontram. Supliquei por minha vida, porém ela pronunciou: - Disponha-te, pois tua sucessão de tempo se pôs ao término. Conservas tua saliva e poupe-me dessas súplicas inúteis! Foi assim que seguimos através de uma faixa destinada apenas e unicamente àqueles que deixaram sua substância física à sucessão dos fatos que vêm a ocorrer. Por eventualidade, meu nome é Sine Corpus. Lorenzo Driessen Cigognini 8º Ano Ensino Fundamental
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Ilha da morte João do castelão Um barco muito bem equipado partiu do porto de Boston levando seis cientistas, três homens: Mark, Frank e James - e três mulheres: - Kelly, Anna e Amanda. Os integrantes do barco eram jovens e tinham uma paixão em comum, descobrir o que havia dentro do triângulo das bermudas. Quando eles chegaram perto do seu local de buscas, colocaram os equipamentos de sobrevivência e olharam pelas escotilhas. Viram uma ilha, como se fosse um paraíso, com cabanas e comida farta, entre outras maravilhas. Então, resolveram ir até lá, pegaram o bote de emergência e remaram. Porém, quando colocaram os pés na areia, algo muito estranho aconteceu, espirítos-demônios chegaram do céu, sugaram e aprisionaram as almas dos cientistas em prisões indestrutíveis e possuíram seus corpos, já sem alma. Kelly fez uma troca com os demônios e, assim libertaram-nos e os levaram até Boston. Passaram-se alguns meses, em uma noite escura e fria, com uma leve garoa e muita neblina, os aventureiros, que agora se achavam as pessoas mais espertas do mundo, resolveram invocar vários espíritos. O problema é que invocaram as próprias almas, que travaram uma violenta luta entre almas e demônios que dominavam os corpos. Quando a luta terminou, os espíritos e demônios fizeram um pacto e se uniriam para matar os aventureiros. Dessa forma, resolveram fazer uma aposta com eles: aquele que pensasse em algo feliz seria morto e, depois de 100 anos, retornaria para assombrar todos os ousados que fossem ao triângulo das bermudas. Contudo, até lá, ficariam nas profundezas do inferno, e só um poderia sobreviver, aquele que traiu os seus amigos. Dada a mensagem, os espíritos começaram a atormentar as mentes dos jovens, até que Amanda, muito nervosa, não aguentou mais a tortura e deu um grito. Logo depois, o monstro possuiu seu corpo e o destruiu, jogando sangue para todos os lado. Com essa situação, Mark se desesperou e xingou o monstro, que logo o destruiu. Com os outros, não foi muito diferente. Anna, que já estava enlouquecida, gritou e logo foi morta. Frank e James começaram a brigar por causa das mortes dos amigos, porém também acabaram mortos. Quando todos já estavam mortos, o monstro se voltou para Kelly, a traidora, e pediu se ela o aceitava, ela disse que sim e que se vingaria com o maior prazer quando seus amigos voltarem do inferno. Kelly tinha se tornado a traidora porque era sempre debochada pelos seus amigos e escolhida como a última opção em tudo, o que a deixava muito furiosa. Já estava planejando sua vingança há muito tempo e colocou seus amigos nessa viagem para poder se livrar deles. Mas, como não 95!
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conseguiu, pediu aos espíritos como convocá-los. Sendo assim, tramou para poder invocar o monstro, e essa foi a sua vingança contra os amigos. Marcelo Merisio 8º Ano Ensino Fundamental
Ilustração: Pedro Antonio Silveira Dos Santos - 6º Ano Ensino Fundamental 96!
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A casa Alison Montgomery Certo dia, uma menina chamada Hanna resolveu convidar as amigas Emily e Gabriela para andar de bicicleta. Elas estavam passeando pelo bairro tranquilamente quando começou a chover muito. Então, tiveram que parar no lugar mais perto possível para não pegarem chuva. O lugar mais perto era uma casa aparentemente abandonada e em construção. Mesmo assim, pararam ali, pois a chuva estava muito forte. A casa era muito diferente, não tinha janelas e era muito grande, então as meninas ficaram curiosas e entraram lá. Depois de um tempo, resolveram ir embora, pois não havia nada lá dentro, porém não encontraram mais a saída e, quando perceberam, estavam presas. O dia começava a escurecer, e as meninas ficavam cada vez mais preocupadas. Hanna se lembrou de que estava com o celular no bolso, então o pegou para ligar e pedir ajuda, porém não tinha sinal. Já era noite, estavam quase dormindo e, repentinamente, ouviram um barulho estranho vindo de dentro da casa. Hanna usou a lanterna do seu celular para iluminar o lugar, mas não viram nada. Gabriela estava cada vez mais apavorada, e Emily estava passando mal, mas Hanna tentava acalmá-las, pois logo iriam sair dali. Depois de um tempo, resolveram andar mais um pouco pela casa para tentar achar outra saída, mas se depararam com um buraco profundo e escuro no chão. Ficaram curiosas, então chegaram mais perto para ver o que tinha lá, quando estavam abaixadas, olhando, escutaram outro barulho atrás delas e, logo depois, um grito de uma mulher. Cada vez mais curiosas, foram ver o que era aquilo, quando chegaram em uma sala, viram uma coisa horrível. Uma mulher estava deitada no chão com muito sangue em seu corpo. Ela estava morta. As meninas ouviram um barulho mais alto ainda, elas estavam quase entrando em pânico. Então, saíram correndo dali e, finalmente acharam uma saída. Hanna, Emily e Gabriela estavam tão assustadas que decidiram não falar nada para ninguém. Quando chegaram em casa, o jornal estava falando sobre uma mulher encontrada morta em uma construção abandonada. Depois daquilo, o tempo se passou e ninguém nunca descobriu quem tinha assassinado a mulher. Todos que entraram na casa para saber o que tinha acontecido, nunca voltaram, e até hoje esse mistério não foi desvendado. Marina Baldo Cruz 8º Ano Ensino Fundamental
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O labirinto infinito Catarina A menina pequena de cabelos negros e pés descalços caminhava por um beco estreito, seus olhos brilhavam como diamantes na noite escura. Ela não sabia por que estava tão confusa e perdida, somente tinha certeza de que, a cada passo, mais o medo a consumia. Poucas luzes iluminavam aquele beco feito de rochas e plantas que cresciam entre elas, não havia nada lá, estava tudo deserto, só era possível escutar sua respiração ofegante. A cabeça dela começava a doer por causa das tantas perguntas que surgiam, não estava segura, algo estava errado. Agora, começou a correr, tentando achar uma saída para libertá-la daquela voz na sua mente. Foi então que percebeu, estava em um labirinto. Não tinha ninguém para ajudá-la, somente ela, perdida e assustada. As paredes pareciam se aproximar, querendo esmagá-la, e as plantas formavam imagens que jamais gostaria de ter visto. O que estava acontecendo? Seria isso fruto da sua imaginação? Não havia respostas para isso, tudo era um mistério. Aquele labirinto queria algo dela, sua alma. Quando tudo finalmente parecia bem, ela sentiu algo sendo extraído de seu peito, a dor intensa a dominava. Não tinha ideia de onde estava a sua família, relembrava de todos os momentos de sua vida, pois acreditava que este seria o fim, porém estava errada. Nesse momento, deitada sobre o chão frio, debatia-se contra aquelas paredes que a sufocavam, tudo que mais desejava era sair desse lugar horrendo. Levantou-se e correu pelo enorme labirinto. De repente, tropeçou em alguma coisa, olhou para seus pés, que agora estavam emergindo um cheiro pútrido e viu um cadáver em decomposição. Com os olhos cheios de lágrimas e medo, avista a sua frente uma longa fila de pessoas mortas. Chorando, ajoelhou-se e simplesmente gostaria de estar morta para não sentir mais dor. Por mais que quisesse, não sabia para onde ir, aquele lugar era infinito e, a cada segundo, arrancava uma parte de sua alma. Entre tantas vozes na sua cabeça, uma delas ecoava, “você nunca vai sair daqui, você nunca vai sair daqui, você nunca vai sair daqui”... Colocou as mãos em seus ouvidos, pois não aguentava mais. Logo, estava completamente vazia dentro de si, então simplesmente deitou-se pensando em uma única pergunta, que não foi e nunca será respondida, porque ela foi a escolhida? Marina Zanella Fedrigo 8ª Série Ensino Fundamental
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O menino e o livro Nolram Todas as quartas-feiras, nas aulas de português, temos um tempo reservado à leitura. Naquele dia não foi diferente. Tudo corria como de costume até que as luzes começaram a piscar. Repentinamente, meu livro começou a brilhar e, por mais estranho que pareça, fui tragado para dentro da história. Ao despertar do tremendo susto, acordei e olhei para a mesa que tinha no meu quarto e lá estava o livro, aberto. Fui até ele e vi que não tinha nenhuma palavra, peguei uma caneta e escrevi meu nome, logo em seguida ele desapareceu. Peguei o livro rapidamente, fechei e desci correndo. Falando bom dia para meus pais senti um arrepio e fui para a biblioteca mais próxima dali. Esperando na porta, hesitei e pensei se devia entrar ou não. Então, depois de alguns minutos, entrei e pedi ao dono da biblioteca se teria algum livro parecido com aquele que eu tinha. O moço falou que há tempos não via um daqueles, mas, mesmo assim, ele foi procurar. Bem lá no fim do armário tinha um único livro fomos até lá ver e era o mesmo livro. Peguei-o e sentei-me à mesa para ver. Quando abri estava sem nenhuma palavra além do meu nome, virei para última página do livro e tinha um velho feio, desdentado, falando que não era para pegar aquele livro senão daqui a cinco dias eu morreria. Claro que não dei bola para o que o homem do livro estava falando. Então, fui dormir, passou-se o tempo e chegou o quinto dia. Lembrei da fala do velho e fiquei assustado, quis jogar o livro fora, mas parecia que alguém não estava deixando. Então, chegou onze horas e cinquenta e nove minutos da noite. Quando fui me olhar no espelho, atrás de mim, apareceu o livro e o velho. Tive um susto tão grande que desmaiei e bati a cabeça na ponta da cama, morrendo. Minha família ficou muito apavorada e se mudou dali. Como recordação, tiraram uma foto da casa e bem ao lado da imagem, apareceu o livro com a minha foto. Ficaram assustados, mas com o passar o tempo, aquela casa ficou mal assombrada, pois as plantas cresceram ao redor, e todas as pessoas que passavam pela frente, sempre acabavam morrendo. Marlon Pablo dos Santos Vargas 8º Ano Ensino Fundamental
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Eu te avisei! Edge of night Era uma pavorosa noite, eu adentrava em uma escura e suja loja de carros. Uma senhora de aparência horrenda, muito medonha, me atendeu de maneira decrépita. Estava me mostrando os carros à venda. Escolhi um carro usado, pois não tinha muito dinheiro. Além disso, era o único carro bonito e confortável daquela loja. Quando eu disse que queria aquele carro, a medonha e assustadora atendeu-me deu um aviso com um tom aterrorizante: Sinceramente, minha cara, muitos acreditam que esse carro tem uma maldição, pois os que compravam ele de segunda mão, pois as pessoas anteriores morriam e, antes disso, sempre surgiam muitos problemas. Mesmo assim, tive de aceitar o carro porque era o único para o qual eu tinha verba. Ademais, eu não acredito nessa maldição. Depois disso, contei para meu noivo e ele me sugeriu que nos casássemos e fizéssemos uma lua de mel. Ok, nos casamos. No meio do casamento, caiu a luz. Não deu nenhum problema, mas quando entramos no carro encontrei bilhetes nos quais estava escrito: “O ____está próximo!!!”, “Cuidado com o ____!!!” Também estava escrito: “Vocês terão uma grande surpresa pela frente!” (Onde está escrito ____, no bilhete estava borrado por isso não consegui ler). Fiquei meio aterrorizada porque me lembrei daquela senhora, mas...Tenho certeza de que não vai acontecer nada de errado. Decidimos viajar para Guiana Francesa. Pensávamos que seria tudo muito lindo, maravilhoso, perfeito, entretanto toda vez que entrava no carro encontrava aquele bilhete: “O ____ está próximo!!!”. Já no início da viagem aconteceram muitos problemas no carro, estourou o pneu, acabou a gasolina, enfim, aconteceram várias desventuras. Quando estávamos quase chegando, atravessando a divisa, um pedágio. Logo depois que o atravessamos, como nós não conhecíamos a estrada, entramos numa curva muito fechada e nosso carro acabou capotando e rolando várias vezes e caindo em um lago muito fundo, não conseguimos tirar o cinto e subir até a superfície, então como dizia o bilhete: “O fim está próximo!!!”. Detalhe, havia, antes de nos acidentar e cair, um bilhete no banco de trás que dizia: “Eu te avisei!”. Paola Kohana Mignon Ogochi 8º Ano Ensino Fundamental
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A noite dos mortos vivos Mr. Harry Em uma noite escura e muito fria, dois meninos saíram para fazer um trabalho de escola, depois de muito tempo as horas se passavam e eles não chegavam mais em casa, os meninos tinham que tirar fotos em vários pontos da cidade, o primeiro lugar onde eles iriam era o cemitério, quando chegaram no portão estava escuro e Silencioso, mas depois que os garotos entraram ouviram ruídos assustadores, até parecia que os túmulos se mexiam. Depois de 20 minutos, os meninos avistaram um homem de preto e resolveram aproximar-se dele, quando davam um passo, o homem se movia para outro lugar, não desistiram e conseguiram chegar perto dele. Aproximaram-se e perceberam que era um homem de aparência assustadora com uma faca na Mão cheia de sangue que era a Morte, os meninos ficaram muito assustados e resolveram correr para fora do cemitério. Mas já era tarde pois a morte levantou sua faca e vários espíritos começaram a sair dos túmulos e rodeavam os meninos, para todos os lados. Havia espíritos circulando e a Morte atacou os meninos e o levou-lhe para uma casa abandonada. Desde aquele dia, os meninos nunca mais apareceram. Depois disso, a mãe dos meninos teve uma sensação ruim e uma visão de seus filhos serem mortos, então resolveram sair para procurá-los, quando isso ocorria, aparecera uma imagem da morte em sua casa e as portas se trancaram, as luzes apagaram e, de repente o mesmo que tinha matado seus filhos apareceu na casa dos pais dos meninos. Eles tentaram se esconder, mas morte os perseguia e levou os pais para o cemitério só para ver o sangue de seus filhos e a Morte matou os pais dos meninos. Desde aquele dia, o cemitério passou a ser chamado de “Cemitério dos Ossos que levantam” e ninguém conseguiu entrar lá depois do que aconteceu, pois o assassinato ficou conhecido pelo mundo inteiro ninguém conseguiu descobrir quem matou aquelas pessoas. O cemitério virou local principal da cidade, pois todos tinham curiosidade de entrar nele, mesmo sendo proibido. Em outro dia, uma mulher de vinte anos, visitante estrangeira, estava passando pela rua e avistou aquele cemitério; mas ela não sabia que lá era o lugar do terror da cidade, decidiu entrar e tinha dois meninos com os pais sentados no chão e brincando, resolveu falar com a família, a família fazia parte do grupo da morte, levou a mulher para passear dentro do cemitério até que avistou um lago onde a família se aproximou com a mulher. Então, eles começaram a se olhar e dar risadas assustadoras, a mulher não estava entendendo nada, até que a mãe da família afogou-a, aquele grupo era formado pela morte com uma capa preta e de máscara; eram espíritos por todos os lados flutuando no ar para matar as pessoas. Depois daquele 101!
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dia, resolveram colocar seguranças no portão do cemitério mal assombrado, mas nada adiantou, pois a morte tinha uma lista de pessoas das quais tinha mágoas no passado, e tinha como nome Michael, que sempre debochavam dela na escola, ela decidiu ir para casa do rapaz, mas quando ela entrou na casa, ele achou que era uma brincadeira de um amigo, então quando ela mostrou a faca com sangue percebeu que era de verdade e estava chegando o momento mais esperado, de a morte tirar a vida de seu grande inimigo. Ronald Rodrigues Da Silva 8º Ano Ensino Fundamental
Ilustração: Pedro Antonio Silveira Dos Santos - 6º Ano Ensino Fundamental 102!
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Ilustração: Ana Laura Kammler - 7º Ano Ensino Fundamental
CONTOS FANTÁSTICOS
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Ao depara-me com a intenção de escrever a abertura de um livro de contos produzidos por meus alunos e por alunos da exímia professora Me. Liana Giachini, percebo a imensidão que a educação pode alcançar. Afinal, esse livro é resultado de horas de aula, horas de ensino e de estudo. Oriento que a leitura desses contos, elaborados por crianças, tenha um olhar especial, compreendendo que a Literatura intenciona momentos de fruição e que o conceito de Fantástico perpassa cada escritor e cada leitor de um modo único, surpreendente. Alguns alunos dedicaram-se mais nas produções, buscaram meu auxílio, outros dedicaram-se menos e, embora tenham entregue suas produções para a disciplina de Língua Portuguesa, talvez agora, ao ver seus contos nessa Coletânea sintam-se um pouco desgostosos, ao perceber que podem mais. Isso acontece porque escrever é um processo infinito, então, a cada nova leitura e reescrita, é possível aprimorar um texto, ademais, o reino das palavras estará eternamente aberto para que cada pequeno escritor busque novas maneiras de expressar-se. A leitura e o estudo da Literatura são essenciais em qualquer faixa-etária para desenvolver não somente a criatividade, mas também a compreensão do real e do imaginário, sendo assim, os alunos das turmas de 5º ao 8º ano do Ensino Fundamental envolveram-se na leitura e produção dos contos para o III Concurso de Contos Fantásticos e de Mistério realizado pelo Colégio Trilíngue Inovação. Essa iniciativa valorosa da Gestão escolar deve permanecer no processo educacional e social dos alunos de modo a ampliar o aprendizado textual. O primeiro passo do trabalho de motivação para a produção textual em sala, após o lançamento oficial do concurso, foi a leitura de alguns contos selecionados de escritores como Alan Poe, Gabriel Garcia Marques e Ítalo Calvino. Nas Oficinas de Redação, os alunos refletiram sobre os contos lidos, identificaram as características desse gênero e também exercitaram a utilização da adjetivação na narrativa. Foi necessário, no processo de produção textual, que as crianças compreendessem o que é a Literatura Fantástica, por isso lhes foram apresentadas reflexões diante de obras cujos personagens podem ser vampiros, fadas, sílfides ou em que esteja presente o sonho e a ilusão em acontecimentos impossíveis de se explicar. É importante destacar que, quando há uma ambiguidade com o real estamos próximos do fantástico. Isso porque “o fantástico é a vacilação experimentada por um ser que não conhece mais que as leis naturais, frente a um acontecimento aparentemente sobrenatural” (TODOROV, 2010, p. 16). Lá pelas tantas da madruga, enquanto lia os contos produzidos pelos alunos, alguns sons pareciam surgir, eram vozes, risos e outros movimentos estranhos. Evidentemente que, pelo embalo da leitura e das horas, surgiu o sobrenatural, então foi possível perceber como os contos cumpriam sua 104!
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função em termos de elementos fantásticos. Observem, leitores, que os contos exploram com esses critérios e, por fim para caracterizar o Fantástico, ficam as reticências do autor na falta de óbvios julgamentos sobre a veracidade ou autenticidade dos acontecimentos sobrenaturais. A leitura, a reflexão e o exercício textual desenvolvidos fez com que os alunos compreendessem sobre o processo de criação, sentindo-se pequenos escritores. Além disso, foi possível aprimorar o aprendizado do gênero conto em sua variante fantástica e de mistério. Ao término das atividades, pode-se dizer que a produção dos pequenos autores cumpriu com a característica principal do gênero, dito por Todorov (2010, p.20) “Um conto é fantástico, simplesmente se o leitor experimenta em forma profunda um sentimento de temor e terror de mundos e de potências insólitas”. Assim, em meio a vampiros, fadas, duendes e outros seres do mundo da fantasia, com criatividade e dedicação, os alunos escreveram e temos em mãos o resultado, um fantástico livro de contos. Diante desses esclarecimentos sobre o processo de produção dos contos e sobre o gênero da Literatura Fantástica, convidamos aos leitores que experimentem das sensações de fantasia e mistério proporcionadas pela leitura dessa coletânea de contos. Giovana Reis Lunardi Mestre em Estudos Linguísticos Professora de Língua Portuguesa do Colégio Trilíngue Inovação
TODOROV, Tzvetan. Introdução à Literatura Fantástica. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 2010. 105!
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Mortos querem vingança MDC Rick Florean. Popular. Rico. Um famoso... ASSASSINO! Matava os ricos e importantes para então, depois, roubar seu dinheiro. Ele já havia cometido um número considerável de crimes até a noite da sua morte. Aos trinta anos de idade. Rick estava polindo sua coleção de facas. Pensando na última morte que causara; ele roubou o dinheiro de um magnata, (milhões de dólares guardados em um cofre) e depois queimou a casa; não pode deixar de sorrir. De repente, ouviu o som de passos fazer o assoalho de madeira ranger. Ele levantou e se virou. Ninguém. Rick andou até a porta e a fechou. Depois de fazer sua higiene pessoal, ele se deitou para dormir. Assim que os sonhos chegaram, ele visualizou suas vítimas enquanto morriam, por afogamento, incêndio, tiro, esfaqueamento. Eles se recompunham de seus restos mortais até estarem aptos para correr atrás dele, e foi o que fizeram. Em pânico, Rick começou a correr também. Os fantasmas mutilados se aproximavam com uma velocidade alarmante, assim que o alcançaram, Rick acordou sobressaltado, suando frio, ofegante, e com o coração batendo rápido. Levantou-se e caminhou lentamente até o banheiro, segurando uma arma. Olhou-se no espelho, nada a suas costas, ligou a torneira e lavou o rosto, assim que tornou a olhar-se no espelho novamente, notou um movimento nas sombras ao seu redor. “Vamos! Saia daí!”, gritou. Nada. Desconfiado e alerta, Rick andou até o armário e pegou uma faca. Murmúrios açoitaram seus ouvidos. “SAIAM!!!”, berrou. As sombras tomaram a forma de espectros reluzentes, “Todos mortos pelas minhas mãos.” Rick entrou em pânico e fez a coisa mais lógica que sua mente mortal pôde pensar. Atirou nos mortos. Uma vítima por esfaqueamento foi atingida, então Rick sentiu uma dor lancinante no peito, sangue escorreu pela superfície da sua pele. Rick correu para foras do seu quarto, se virando e atirando nos espectros, a cada vítima que atingia, sentia a dor que ela sentiu, quando sua pele começou a queimar e não conseguia mais respirar, ele parou. Deixou que se aproximassem dele. Um a um, os fantasmas entraram no seu corpo, fazendo o mesmo efeito da segunda morte deles. Ele perdeu os sentidos. E seu corpo caiu na neve. Acordou queimando vivo, sentindo a dor das queimaduras, mas com a pele ilesa. Então, logo percebeu onde estava. Ele queimava no Inferno. Maria Eduarda Conforti Camargo 7º Ano Ensino Fundamental 106!
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Nos becos do Coringa Harley Quinn Era uma noite fria e escura, as ruas mais desertas que o normal. Uma fina garoa começava a cair me fazendo apertar meu casaco contra o corpo, caminho por entre becos, todas as construções estão aparentemente abandonadas, pensando na psicóloga que eu acabara de conhecer. Uma gargalhada estridente ecoa pelas ruas silenciosas e mal iluminadas, observo o ambiente ao meu redor, nada além de lixeiros transbordando ‘acho que meu chefe estava certo, estou mesmo pirando’ segundos após a minha frente, uma lata cai. ‘Um gato’ pensei, continuo caminhando calmamente e, então, um vulto corre na direção contraria a meus passos a uma velocidade extraordinária, a gargalhada soa novamente e começo a correr, em questão de minutos um beco por onde ando não tem saída, viro-me na esperança de sair mas a ilustre imagem de um bobo da corte aparece. Minhas costas batem na parede e sinto minha única salvação a menos de três metros, uma porta de um prédio inacabado entreaberta, corro até ela e sinto passos atrás de mim, ‘vamos brincar querido’ uma voz doce, porém assustadora. Chego ao último andar, um terraço ainda descoberto, ouço os pequenos sininhos presos a cabeça daquela, talvez, mulher. Em segundos a vejo próxima de mim. ‘Não se deve fugir de amigos queridinho, nos conhecemos a tão pouco’ ela diz tão próxima que me causa arrepios. ‘O que você quer?’ Quase grito encarando a figura, ‘Brincar!’ A voz doce tinha sumido dando lugar a uma grossa e intimidadora. Ela estica suas mãos e várias cartas voam ao meu redor me deixando tonto, então, do colarinho de seu macacão vários panos coloridos vem em minha direção, ando o máximo que posso para trás até sentir o pequeno muro de proteção em meus pés. ‘Vai ser uma morte divertida não se assuste’ ela sussurra com cautela próxima a mim, então os milhares de panos me rodeiam, me causando falta de ar. ‘E se o diabo lhe perguntar diga que uma amiga dele esteve por aqui querido. Bons pesadelos!’ Ela diz, mas escuto apenas sussurros, vejo-a pulando prédio a baixo e então gargalha uma última vez, meus olhos se fecham e me sinto leve. ‘Eu estou morto?’ Ana Laura Kammler 7º Ano Ensino Fundamental
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As lembranças nas notas do acordeom Katie White Edwards Era uma pequena cidade, mas muito bem cuidada, nunca me esqueço daquela estradinha feita com tijolos. Bem, o mais importante são as pessoas que passaram por ali, como a menina do acordeom. Era uma noite escura, quando eu andava naquela rua e estava tudo quieto. Repentinamente ouvi uma música linda sendo tocada em um acordeom, mesmo assim segui em frente para casa, pois era tarde. Pela manhã, a cidade já não estava tão quieta, de repente, vi uma multidão aglomerada batendo palmas e pensei que poderia ser a pessoa que tocava aquela música ontem à noite, aproximei-me e vi uma pequena menina com um acordeom em seus braços e um ursinho de pelúcia ao seu lado, juntando uma gorjeta com seu talento. Elogiei a garotinha e disse que seus pais deveriam ter orgulho, mas descobri que eles haviam falecido. Um dia, convidei-a para tomar um café e pedi para a pequena menininha me explicar um pouco sobre sua vida. Disse que não se sentia totalmente triste com a morte de seus pais e que passara anos pensando sobre o mistério de como aquilo aconteceu. Contou-me que na noite que seus pais faleceram, ela havia visto uma sombra antes de dormir e ao acordar, seus pais não estavam mais lá, aparecendo um bichinho de pelúcia ao seu lado. Após isso fiquei pensativa por um bom tempo... Um dia, inesperadamente, seu bichinho de pelúcia pediu-me que eu olhasse para o céu e eu fiquei surpresa, pois como ele poderia falar? Mesmo assim, passei a observar sempre o céu, até que um dia olhei e vi descendo de lá dois passarinhos que traziam junto consigo um papel que dizia: “As lembranças boas que fortalecem a alma daquela menina, servem para ela recordar que a felicidade não acaba por ali”. Passei a perceber que aquele acordeom possuía alguma magia capaz de fazer as pessoas sorrirem, o sol brilhar, a lua dormir e as estrelas se moverem. Os pais da garotinha haviam sido levados pela morte e a sombra de sua capa, pois não tinham mais a alegria de viver. Estela Almeida Sandrin 6º Ano Ensino Fundamental
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24 horas para salvar os fantásticos Skiz Era uma noite fria e tenebrosa no castelo do Drácula, quando ele recebeu uma carta que dizia: “Todas os seres fantásticos estão prestes a sumir, pois as crianças não acreditam mais em nós. Venha à reunião, para assim podermos achar alguma forma de retornarmos às mentes das crianças. Local: Palácio da Fada do Dente, dia 28.” Quando acabou de ler, Drácula ficou confuso e resolveu ligar para a Sininho, ela falou que também tinha recebido a carta e estava preocupada com o fato de sumir. O dia da reunião chegou e estavam todas as criaturas fantásticas lá, no local agendado. Assim que todos chegaram, foram a uma sala de reunião e quando sentaram, a Fada do Dente falou: - Sejam todos bem vindos! Percebo que todos receberam a carta que mandei, então sabem que temos que tratar de um assunto sério... Há algumas semanas que estou coletando poucos dentes, então resolvi olhar no Gráfico-Mágico o que estava acontecendo, e pelo que vi, muitas crianças pararam de acreditar em nós. E temos que dar um jeito nisso em vinte e quatro horas ou senão desapareceremos para sempre. Alguma ideia? - E se nós sairmos do Mundo Fantástico por vinte e quatro horas e ir para o mundo deles, assim podemos usar a magia das fadas para eles sonharem com nós. -disse o Coelho da Páscoa. -VOCÊ ESTA LOUCO? Isso é contra as regras do Mundo Fantástico.- falou o Papai Noel. Mas, depois de uma longa discussão, todos concordaram com a ideia. Para sair de lá, usaram o trenó do Papai Noel e, quando chegaram, todas as fadas se reuniram, voando o mais alto possível e começando a fazer a magia. Só faltava mais meia-hora para eles desaparecerem, as fadas estavam cansadas e todos torciam para conseguirem. Faltando cinco minutos para desaparecerem, o Papai Noel deu pulos de alegria, falando que eles haviam conseguido voltar para as mentes das crianças porque uma criança voltou a acreditar e contagiou as demais! Eles voltaram para o Mundo Fantástico e aconteceu uma grande festa de comemoração. Ana Luiza Balbinott Paludo 6º Ano Ensino Fundamental
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Os meninos e a floresta fantástica Daniel Xavier Em um anoitecer escuro e tenebroso, três meninos, chamados Rafael, Jeremias e Marcelo, jogavam futebol em uma praça da cidade de Natura City. Nesse município, existia uma grande e assustadora floresta, denominada a Floresta Fantástica. Então, Marcelo chutou a bola muito forte e ela caiu no meio do bosque, quando, os três meninos foram em busca de seu brinquedo perdido. Logo, no meio daquela mata fechada e assombrada, eles procuraram muito, depois de algum tempo, Rafael conseguiu encontrá-la, mas quando foi pegar seu brinquedo, deparou-se com uma feiticeira e seus súditos fantasmas. Essa bruxa tinha enfeitiçado sua bola e quando o menino agarrou-a, se transformou em fantasma e virou um mordomo da maga. Então, Marcelo e Jeremias ficaram preocupados, pois, poderiam perder um de seus melhores amigos. Foram para a casa dos avós de Marcelo onde existia um baú com vários livros antigos, reviraram até que encontraram o livro “Como desfazer magias de bruxa”, lá encontraram uma receita da poção mágica que os levaria até a Terra Enfeitiçada onde investigariam o caso. A bruxa era muito má, tinha uma grande verruga no nariz e também uma vassoura de estimação que, surpreendentemente, falava vários idiomas e se movia sozinha. As crianças descobriram que, se pegassem sua varinha, poderiam desfazer o feitiço e trazer seu amigo de volta. Então, criaram uma armadilha para pegá-la. Quando fizeram a arapuca, a feiticeira que passava pelo local, de repente, caiu dentro do buraco que as crianças montaram. Desaparecendo em seguida, indo direto para a Terra dos Duendes, onde ficou presa até aprender a ser boazinha. Na queda, a bruxa deixou cair sua varinha, assim, os meninos conseguiram libertar Rafael e as outras crianças aprisionadas. Após esse acontecimento, realizaram um grande campeonato de futebol para comemorar a liberdade das crianças e a derrota da maga. Gabriel Igor Da Silva Mireski 6º Ano Ensino Fundamental
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A pousada velha e abandonada Aghath Cristhoff Em uma noite fria, escura e chuvosa uma família decidiu ir viajar. Alfredo e Esmeralda que eram pais de João e Maria. Alfredo estava procurando um hotel que tinha reservado, mas no meio da tempestade não encontrou, e para piorar o pneu do carro furou. Encontraram no caminho uma pousada e decidiram passar a noite. Na recepção uma senhora de cara pálida, vestes pretas e parecia ter 90 anos. O local tinha tábuas que faziam barulho ao serem pisadas, o vento soprava com força... Alfredo e Esmeralda pediram um quarto para quatro pessoas, mas a senhora disse que só tinha uma suíte para duas pessoas. João e Maria ficaram juntos e Alfredo e Esmeralda ficaram preocupados, mas não tinham onde ficar então se obrigaram a dormir lá. Durante a noite, Esmeralda ouviu um barulho estranho, parecia que uma porta tinha batido muito forte, Esmeralda andou pela casa inteira. Ela escutava vozes e as tábuas do chão não paravam de se mexer, estava com muito medo e se fazendo um monte de perguntas: - De quem eram aquelas vozes? - Onde estava aquela senhora? - Que barulhos são esses? - Como estão as crianças? Esmeralda foi ao banheiro e a luz acendia e apagava sozinha e lá estava a senhora, ela estava falando com Esmeralda, e disse que era para ela e sua família saírem de lá imediatamente, porque o espírito da antiga dona da pousada, morta há muito anos, tinha voltado. Esmeralda correu para o quarto do marido, para contar o que havia acontecido. Ao entrar, percebeu rastos de sangue por todo o quarto, e Alfredo havia sumido. Correu para o quarto das crianças, desconfiada pelo silêncio, e elas também tinham desaparecido. O sangue se espalhou do quarto para o banheiro. Chorando desesperadamente, acordou e viu que era tudo um grande pesadelo, estava em casa com seus filhos e seu marido. Gabriela Regina de Conto Agnoletto 6º Ano Ensino Fundamental
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O espelho e o balanço Mahonie Em uma noite chuvosa, quando os ventos batiam nas janelas e havia objetos esparramados por toda a cidade, havia um senhor de idade, chamado Vitor. Ele morava em uma casa afastada da cidade com sua netinha Elizabett, que tinha apenas oito anos de idade. Certa noite, Vitor estava voltando para a casa, louco para ver sua netinha. Ela foi criada pelo avô, pois os pais faleceram com uma doença sem cura. Quando Vitor chegou em casa, foi até o quarto de sua neta para fazer o de sempre, contar como que foi o dia para a menina. Certa noite, Elizabett desceu as escadas da casa e, no corredor deparouse com um espelho coberto com um pano preto, seu avô dizia para ela nunca tirar o pano do espelho, mas como toda criança curiosa, ela tirou o pano do espelho no dia 31/10/1990, justamente o dia das bruxas. Depois disso, ela foi encontrada inconsciente, com os olhos revirados e com o pano nas mãos. Na manhã seguinte, Vitor acordou e viu a neta deitada no chão, morta. Dois dias depois disso, o senhor Vitor estava deitado na sua cama e a última coisa que ele se lembra é do relógio marcando 00:07 antes que sua neta colocasse a mão em seu peito, sua respiração forte e pesada encostando nos seus cabelos, ele sentou de súbito na cama, aliviado que fora somente um sonho, mas assim que olhou o relógio marcando 00:06, ele ouviu a risada de sua neta vindo de dentro do espelho. No dia seguinte, Vitor se suicidou. Cem anos depois, uma família com um pai uma mãe e uma filha de 8 anos chamada Anabelle se mudou para aquela casa. Certo dia, a menina estava sozinha e escutou batidas no vidro, não deu bola na primeira vez, mas escutou o barulho de novo e viu que ele saia do espelho, aproximou-se, mas foi interrompida quando da janela avistou um balanço. Para chegar ao balanço ela necessitava atravessar um milharal, como não tinha nada a fazer decidiu ir até o parquinho brincar e, no caminho encontrou a foto de uma menina fazendo um sinal de dois com a mão, mas ela nem deu bola e continuou então atravessou o milharal, o tempo começou a mudar ela chegou ao parquinho. Anabelle encontrou um balanço uma gangorra e uma caixa de areia, ela foi diretamente sentar no balanço e começou a se balançar, de repente, quando virou com a cabeça para o lado, e viu uma menininha com uma camisola, estava coberta de sangue no rosto e nos braços, Anabelle perguntou “qual é o seu nome?’’ E a menina do balanço só fez que não com a cabeça. Ela fez outra pergunta “quantos anos você tem?” A menina fez o mesmo sinal com a cabeça e, no outro dia Anabelle não tinha voltando para; casa duas semanas depois da morte da filha que foi no dia 31/10/2000, a família saiu da cidade. Um ano depois, três meninos estavam brincando perto da casa e ouviram ruídos que vinham de dentro 112!
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da moradia, então eles entraram, escutaram a porta se fechando lentamente, andando mais um pouco, encontraram um espelho com o pano negro, um dos meninos deu a ideia de tirar o pano só para ver o que iria acontecer, os outros dois não concordaram, falaram para sair da casa, mas o menino mais velho negou, tirou o pano enquanto os outros dois estavam com os olhos tapados, Lucas estava morto, seus olhos estavam revirados e sua língua pendia para fora da boca, Tiago, o menino mais novo, estava em estado de choque e o outro menino, Marco, não acreditou que seu melhor amigo morreu em sua frente. No dia seguinte Tiago foi até a casa para ver o espelho de novo ele puxou o pano e sofreu as consequências, Marco quando soube que Tiago havia morrido começou a escutar vozes dos dois melhores amigos e de uma menininha toda vez que olhava ou lembrava do espelho. Agora não é apenas um, são dois clamando por mim! E, na saída da escola Marco encontrou uma foto de uma menina, a mesma foto que Anabelle havia encontrado, mas a menina do retrato estava fazendo sinal de três e, no canto da imagem, havia um espelho que não estava coberto. Afinal, será que as crianças conseguiram sair do espelho? Será que mais alguém morreu? Só sabe-se que no dia das bruxas as quatro crianças procuram mais uma criança para puxar o pano do espelho e se juntar às outras almas. Georgia Gorham Miolo 6º Ano Ensino Fundamental
Ilustração: Pedro Antonio Silveira Dos Santos - 6º Ano Ensino Fundamental 113!
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A chuva de doce O Zerador de Games Em uma galáxia bonita, charmosa e fofa, existia um planeta chamado Fofatron. Nele as crianças eram muito saudáveis e ricas, mas a única pessoa pobre era o dentista Jimmy. Ele era pobre porque nesse planeta não existia doce. Certo dia, na solidão de sua vazia clinica de dentista, Jimmy achou uma lâmpada mágica. Ele esfregou-a e, de dentro saiu um gênio que lhe disse: - Você tem apenas um pedido. Então ele falou: - Quero que comece a chover doces gostosos. No dia seguinte, começou a chover doce e as crianças que não sabiam o que era começaram a comer sem parar. Quando acabou o doce as crianças viram que seus dentes sujos, imundos e podres. Elas foram contar para suas mães que as levaram para o humilde dentista que as cuidou muito bem e ficou feliz e rico. Com o dinheiro que o dentista ganhou, montou uma fábrica de doce para as crianças e aumentou a sua clínica. Assim continua até hoje em Fofatron. Giam Carlos Rissotto Júnior 6º Ano Ensino Fundamental
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A terra dos unicórnios Allebasi Acordei em uma floresta, tinha uns cavalos estranhos, com um chifre só. Então pensei, ou estou ficando louca ou isso é normal. Aproximei-me deles e falei: - Oi, quem são vocês? Onde eu estou? Como vim parar aqui? - Oi Sophi, eu sou o Jackson mas pode me chamar de Jack, esse aqui é meu irmão Larry e essa é nossa irmã Mily, nós somos unicórnios e você está na terra dos sonhos, quem vem pra essa terra normalmente tem uma alma muito pura e amorosa, os anjos e as fadas dos sonhos trazem estas pessoas para essa terra pra que ela seja recompensada por ser tão boa com todos, como foi o seu caso. - Primeiramente, muito obrigada por todos esses elogios e, segundo, por ser recompensada, como? - Com aventuras ou melhor com a melhor aventura da sua vida, a aventura dos seus sonhos, por isso a “terra dos sonhos”. Sem nem pensar duas vezes falei: - Disney, eu quero ir para Disney. - Ótima escolha, lá vamos nós. Em um estalo de dedos nós estávamos na Disney, só nós quatro, fomos em diversas montanhas russas, das mais loucas até as mais calmas, das mais assustadoras às mais engraçadas, das mais rápidas às mais lentas, 6 horas se passaram foi quando o Larry me disse: - Está na hora de você acordar, sua mãe está chegando e lembre-se não conte isso a ninguém. - Claro - disse eu – um beijo, sentirei saudades, venham me visitar – foi quando fechei os olhos e acordei na minha cama. Isabella Muller Buligon 7º Ano Ensino Fundamental
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Romance fantástico Fantastic Gentleman Era uma vez, ainda na época de escola, duas crianças chamadas Timoty e Sonia. Até que um dia entrou um menino chamado Yury e Sonia achou-o muito lindo e charmoso, além de ser de família rica. Yury também achou Sonia linda. Mas, a amizade de Timoty e Sonia ainda continuava muito forte. Anos se passaram e Timoty foi pedir Sonia como sua namorada e ela disse: - Deixa eu pensar com calma. Enquanto isso... Timoty foi comprar flores para ela. Quando voltou, Sonia já estava decidida e ela respondeu-lhe com sim, então... ele deu as flores a ela. Yury que também gostava de Sonia ficou muito triste e raivoso com Timoty. Anos se passaram e Timoty e Sonia decidiram se casar, ter uma casa, tiveram um filho, já com 4 meses de gestação descobriram que era menino, ficaram muito felizes. Após o bebê nascer, descobriram que os dias se passavam e iam crescendo folhas no corpo do menino, que era chamado Francisco, mesmo assim, seguiu sua vida normalmente enquanto podia esconder isso com a roupa. Mas, quando os amigos de escola e de atividades extras descobriram, ficaram debochando da cara dele, isso o fez sair de todos seus compromissos e ficar em casa. Como os pais trabalhavam tiveram que contratar uma babá. Mas, na escola tinha uma menina, chamada Laura, que gostava muito de Francisco, do jeito que ele era e ficou muito triste com a saída do menino, por isso, ia vê-lo todo dia em sua casa. Francisco também gostava dela, mas os pais de Laura não aceitavam ele, mesmo sabendo que a filha o amava. Então, eles decidiram namorar escondido. Timoty e Sonia, pais de Francisco, tiveram outro filho, e como já tinham cinquenta anos, esse filho foi uma menina fantasma que nunca vai poder ver seu irmão Francisco, nem ir para escola...até que um dia Timoty descobriu uma escola fantasma onde Jerusa seria bem tratada e estaria segura com seus amigos fantasmas. Ela aprendeu novas coisas que um fantasma poderia fazer, como por exemplo, transformar sua casa em fantasmagórica, sombria e escura e até podia fazer uma mágica que transformaria ela em ser humano, e assim ela poderia conhecer seu irmão Francisco...e o amou como era. João Fhelipe Da Silva 6º Ano Ensino Fundamental
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A imensidão da escuridão Osvaldo Caixão Em uma cidade ao leste do país, em horário determinado, um breu total surgia nas estradas silenciosas e amedrontadoras que davam acesso para fora da cidade, uma escuridão tenebrosa e escandalosa que deixava uma imagem de terror nas mentes frágeis de quem passava. A pessoa que passava era engolida pela imensidão infinita da escuridão plácida que flui pelos pensamentos dela e quando chegava ao auge da escuridão começava a escutar vozes que falavam rapidamente em uma voz baixa e trêmula, que sussurravam em seus ouvidos palavras mortas e inquietantes de pessoas misteriosas que apareciam como vultos silenciosos e misteriosos que seguiam esta pessoa com seus olhos brilhantes e brancos com marcas vermelhas de raiva intensa. A pessoa caminhava tranquilamente mas, com um sentimento desesperado com uma expressão de medo pois, a cada passo que dava o eco era imenso e as vozes aumentavam e se aproximavam enquanto ela procurava rápida e desesperadamente uma referência por menor que fosse, mas era inútil pois, ao passar daquele tempo longo e preocupante começavam a surgir imagens sinuosas de rostos carentes. Conforme avançavam as vozes que, na sua frágil mente, eram intensas e continuas juntamente com o eco de seus passos fundos, desesperados e cansados de tentar atravessar aquela escuridão longínqua e fantasmagórica. Até que começou a escutar passos distintos e longínquos que iam se aproximando vagarosamente enquanto o olhar e o pensamento estavam alerta para todos os tipos de movimento ao longe de seu corpo frágil e pálido de uma pessoa idosa. Os passos começaram a correr em sua direção, então ficou desesperado e começou a correr loucamente e desesperadamente sem olhar para traz. Por fim, os passos distintos e a vozes começaram a desaparecer misteriosa, calma e lentamente dando sentimento forte e confiável de orgulho para a pessoa já tranquilizada, acalmada e orgulhosa enquanto saia do breu, tenebroso, infinito e fantasmagórico que desparecia vagarosamente atrás dele, enquanto partia, aliviado. João Vitor Zeppe 8º Ano Ensino Fundamental
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A bruxinha Matilda Gaia Em 1954, houve uma guerra entre a Espanha e Portugal, essa guerra foi causada porque Portugal dizia que a Espanha estava roubando economias. Tempos depois, a guerra já havia terminado, a única coisa que restou da guerra foi uma casa, ela foi chamada de Casa Mal Assombrada, porque nela estava tudo queimado, as janelas estavam quebradas, o telhado estava destruído, havia uma escada em forma espiral e não se encontrava portas também. Certo dia, uma menina estava passando perto de um parquinho abandonado seu nome era Matilda, ela tinha cabelos longos e pretos, usava uma bota branca e vestia um lindo vestido bege, ela foi brincar na gangorra quando caiu em um buraco escuro e sombrio que a levou para a Casa Mal Assombrada. Curiosa, entrou na casa e subiu na escada espiral e encontrou um livro escrito: ‘The Magic Whiches’. Ela abriu o livro e veio uma luz tão poderosa que parecia que estava transparente, apareceram duas bruxas, o nome delas eram Irene e Lúcia, a primeira tinha cabelos loiros, uma capa e um vestido preto com botas vermelhas, já a segunda tinha cabelos castanhos e um vestido rosa com sapatos pretos. Irene:- Olá Matilda! Eu sou Irene e essa é minha irmã Lúcia, nós somos bruxas, assim como você! Matilda:- Desculpem-me mas eu não sou uma bruxa!.. Lúcia:Ah, você é sim! Você nasceu em um período entre a lua e a magia, assim você é humana com poderes mágicos! Mas, primeiro nós precisamos te alertar de uma maldição que está por vir! Você lutará com a poderosa bruxa do mal, Jasmine! Irene: - Antigamente era uma bruxa boa, mas um dia se cansou, então quis virar uma bruxa do mal, ela quer se vingar destruindo você a herdeira do trono mágico!... Matilda:- Estou disposta a lutar com ela, preciso que vocês me ajudem a treinar! No dia seguinte, Matilda foi para a casa mal assombrada e as bruxas a treinaram, foi descoberto que Matilda possui um tipo de cada poder, foi para a luta dizendo as palavras: xícara de xá, abelha e flor, faça com que esta bruxa sofra as consequências!! Assim a bruxa desapareceu e ninguém nunca mais soube do que aconteceu com Jasmine, e por fim o mundo mágico deixou de ser ameaçado... Por enquanto... Milena Bays 6º Ano Ensino Fundamental
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Enchanted Jhonny Heartz Bem vindos alunos, à nova escola para os filhos dos personagens dos contos de fadas. Bom, vocês devem estar se perguntando, quem abriria uma escola para pessoas um pouco diferentes, como eu e os outros alunos. Para explicar, vamos começar comigo, me chamo Jhonny Hearts e eu tenho uma irmã chamada Lizzie Hearts, nós dois somos filhos da Rainha de Copas. Dentre os alunos, tem a Apple White, que é filha da Branca de Neve e Cerise Hood, que é filha da Chapeuzinho Vermelho, entre outros. Apresentados os personagens, vamos a nossa história. Tudo começou em dia normal na escola, eu estava comprando um brinco para a minha irmã, Lizzie, porque era aniversário dela e eu fui à aldeia do The Book End, comigo foi a Cerise, quando pedi a ela para experimentar o brinco, ela se recusou e eu pedi novamente, foi quando começou a rosnar para mim, achei muito estranho, disse que precisava ir e saiu correndo. Durante a noite, eu não conseguia dormir, não podia parar de pensar naquilo e, imediatamente quando o relógio bateu meia noite eu olhei pela janela, estava um nevoeiro tenebroso e eu não conseguia enxergar nada. De repente, consegui ver uma figura nas sombras daquela floresta, ouvi um uivo de um lobo, aquilo abalou meus nervos, mas o que mais me preocupava era que a minha colega de quarto Cerise ainda não tinha voltado, já era meia noite e meia, com lobisomem lá fora e tinha desmaiado, na manhã seguinte Cerise me acordou e perguntou se estava tudo bem e eu perguntei ofegante: “onde você estava, o que aconteceu? Você está bem?” Ao que ela me disse estar tudo bem e que eu não precisava me preocupar, à tarde, na aula de corrida eu estava sentado, observando Cerise, quando o apito do professor tocou, todos começaram a correr, mas foi impressionante porque ela corria na velocidade do vento, foi incrível, mas eu sabia que tinha que fazer umas perguntinhas a ela. Hoje, logo às 11h49min ela entrou no quarto eu perguntei se tinha alguma coisa para me falar, ela disse não, duvidei, olhou-me diretamente nos meus olhos e disse que eu precisava ir porque estava perto da meia noite. Eu relutei, questionei sobre a pressa, ela ficou mais nervosa, tranquei a porta e quando bateu meia noite ela começou a se transformar em Cerise Wolf filha do Lobo Mau e disse seu pai é o Lobo Mau e sua mãe é a Chapeuzinho Vermelho. Eu que não se preocupasse, porque o seu segredo está a salvo comigo, e assim, chega ao nosso final feliz. Narciso Giovane Nunes Baez 6º Ano Ensino Fundamental
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A casa e o fantasma Joéuma Clatruk Em um dia ensolarado, Mechel e Jaine decidiram comprar uma fazenda, mas eles ouviram várias histórias sobre ela e diziam que era assombrada pelo fantasma de Glen, além disso, a fazenda era escura, tinha uma mata fechada que a cercava. A casa era velha e lá, nessa simples casa, morava um fantasma, ele era um homem com uma barba muito grande, era pequeno e usava roupas modestas. Os dois ficaram na dúvida, mesmo assim compraram a fazenda. No dia em que foram vê-la, cada vez que chegavam mais perto da casa a floresta ficava mais assustadora e escura, a mata começou a se fechar e na frente deles tinha muita neblina e lobos começaram a uivar cada vez mais alto e isso deixava o casal com mais medo das histórias que ouviram sobre lá. Então, finalmente chegaram, quando viram a casa algo lá dentro dela fazia um ruído, na hora não imaginavam que poderia ser o fantasma, mas alguns segundos depois ouviram passos na casa e de qualquer forma o casal queria ficar lá, mas sabiam que nessa mesma fazenda morava um senhor de idade, ele morreu no ano de 1987, mas ninguém sabe como, quando ou quem foi que o assassinou. Quando estavam entrando na casa, uma voz rouca disse: -Saiam, saiam e não voltem mais! Já era noite e eles foram dormir. Depois das três da madrugada a mulher começou a gritar, ela estava no banheiro e seu marido foi ver o que tinha acontecido, então ele se deparou com sua mulher sentada no chão e apontando para o espelho e nele estava escrito com sangue: saiam... Então, pela manhã os dois foram para fora, o dia estava ensolarado e, de repente o céu começou a ficar mais escuro e depois o fantasma pegou os dois, levou para o porão. Depois disso, o casal nunca mais foi visto, mas o fantasma está esperando sua próxima vítima. Natália Letícia Veit 6º Ano Ensino Fundamental
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A vila dos Nabões Cheddar Man Em algum lugar deste ou de outro mundo, vivem os nabões, que são elfos verdes e redondos. Eles vivem em vilas governadas por um rei, o rei dos nabões. Esse rei exerce poderes democráticos, que ajudam os nabões a se organizarem. Mas vamos saber como isso tudo começou... Antes de tempos imemoriais, o rei dos nabões era um a pessoa como outra qualquer e a única diferença era que ele usava uma coroa, fora isso era um cidadão comum. Um belo dia, chegou à vila dos nabões um estrangeiro e, quando ele soube daquele rei ficou muito indignado, pois os cidadãos tratavam seu rei como um deles. O estrangeiro combinou com um grupo de nabões e resolveu que iriam construir um castelo para Vossa Majestade. Feito o castelo colocaram o rei lá dentro e fecharam a porta. Dias depois os cidadãos resolveram que o rei deveria reinar de fato sobre a vila. Então, um nabão foi apresentar ao rei seus mosqueteiros, que seriam seus informantes e protetores. Em seguida, apresentou seu ministro consular, seus criados e escudeiros. Mesmo cercado de riquezas, o rei não estava contente. Ele precisava ver novamente seus súditos, por isso, organizou uma grande festa para a qual todos foram convidados. Depois da festa, todos os nabões saíram muito alegres, mas após uma semana dois mosqueteiros resolveram ir falar com o rei: – Vossa Alteza, nos cansamos muito levando e trazendo mensagens de Vossa Alteza para a vila. Poderia resolver tal problema? – disseram em coro. – Vou ver o que posso fazer. E então, o rei resolveu criar uma rede de estradas que interligavam o castelo à vila com postos de abastecimentos e cavalos para os mosqueteiros. Assim, não houve mais reclamações dos mosqueteiros. Dias depois, veio ao seu encontro um mago que queria materiais de construção para uma casa. O rei então disse que poderia arranjá-los mas em troca o mago deveria fazer uma poção para o rei para que pudesse resolver dois problemas ao mesmo tempo. O mago em pouco tempo trouxe a tal poção. O rei bebeu e sentiu a capacidade de resolver dois problemas de uma só vez. Resolveu o problema do músico que não sabia tocar bem e ao mesmo tempo resolveu o problema da fada que havia quebrado sua asa. Resolveu o problema do marinheiro que tinha o barco todo furado e ao mesmo tempo o do agricultor que não sabia plantar abacaxis. Um belo dia, um ferreiro já aposentado veio ao encontro do rei. Junto dele veio um granjeiro carregando um porco gordíssimo na mão. – Este homem roubou-me todos os repolhos!!! Disse o ferreiro. 121!
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– Não é verdade, alteza! Meu porco os comeu!!! Retrucava o granjeiro. Então, o rei disse: – Meus caros, parem de briga! Não pensem assim. De agora em diante criaremos um congresso democrático, no qual decidiremos tudo! E assim continua até hoje, na pacata vila dos nabões. Pedro Antonio Silveira Dos Santos 6º Ano Ensino Fundamental
Ilustração: Pedro Antonio Silveira Dos Santos - 6º Ano Ensino Fundamental 122!
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Os fofuchos The Gamer Em uma galáxia fofa e cheia de alegria, existia um planeta chamado Fofatron que para outros povos era Marte. Esse planeta era muito parecido com a Terra, havia muitas lojas de brinquedo, mas poucas farmácias, supermercados e igrejas, quando chega a noite, os brinquedos ganham vida, mas para quem pensa que eles são inofensivos está enganado, porque eles disputam território na loja porque tem áreas melhores para ficar e ser comprados. Então, o general Lego diz: Lancem os canhões de bloco. Com isso, acaba destruindo uma pequena parte da loja, quando chegou o dia uns ficaram em melhores lugares e outros acabaram ficando em péssimas localizações já que perderam a batalha. Na outra noite eles estavam brigando quando apareceu um ladrão que os descobriu então tiveram que se juntar para deter o homem e depois daquilo descobriram que era melhor se entender, não brigar e, quando chegou a manhã eles estavam todos juntos em uma prateleira. Rodrigo Gabriel Kovaleski 6º Ano Ensino Fundamental
Ilustração: Pedro Antonio Silveira Dos Santos - 6º Ano Ensino Fundamental 123!
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Acontecimentos sombrios Tigerman Numa noite fria e estranha, um menino moreno dormia tranquilamente em seu quarto quando escutou um barulho de correntes no sótão da casa. Ele correu para a sala onde sua mãe estava assistindo TV. A mãe, vendo que seu filho estava assustado, pegou-o em seu colo e fez ele dormir novamente. Repentinamente, caiu um vaso de samambaia bem onde ele estava dormindo. Ele e sua mãe foram ver o suporte que segurava o vaso de samambaia no teto, mas estava tudo normal e no lugar. Depois de muitas noites mal dormidas, com sua mãe tendo convulsões e desmaios, resolveram procurar uma curandeira. Ela lhes disse que tinham feito uma espécie de macumba com uma boneca do tipo usado em vodu e que tinham colocado dentro de um travesseiro da casa. Eles duvidaram, mas quando voltaram para a casa, olharam todos os travesseiros de todos os quartos e, ao abrir o travesseiro da mãe, encontraram a boneca lá dentro. Essa seria a boneca da macumba que tinham feito para a família. Imediatamente, jogaram a boneca fora e a queimaram. Depois disso, os problemas pareciam ter terminado. O tempo havia passado, o menino moreno e sua mãe mudaram-se para outra cidade. Depois de alguns anos eles começarão a ter visões. Quando o menino olhava para os lados ele via um vulto escuro ao lado dele, o vulto aparecia e desaparecia. Até que um dia, esse vulto não saiu mais de perto do menino, permaneceu ao lado dele o tempo todo, em todos os momentos. Ele ficou aterrorizado e com medo. Saiu correndo pra fora da casa e começou a gritar. Então, saiu da casa e gritou, logo o vulto desapareceu. Dias depois, eles descobriram que tinham feito um vodu para a família, novamente. E, por essa razão estavam vivendo atormentados. Eles destruíram esse novo vodu e voltaram a ter uma vida tranquila, mas estão sempre prestando atenção nos menores barulhos a sua volta, pois sentemse eternamente amaldiçoados. Samuel Brum De Oliveira 6º Ano Ensino Fundamental
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A maldição do piano Lady Elizabeth Andrews Diário de Nicole, 13 de outubro de 1912 Bem, meu nome é Nicole Victoria Backerman e moro em uma casa de campo inglesa, apenas com minha governanta, a Sra. Levinson. Você deve estar se perguntando o que aconteceu com meus pais. Foi em um dia úmido e nublado de verão que eles saíram para fazer um passeio pelo Hyde Park para comemorar o aniversário de mamãe e nunca mais teve notícia dos dois. Diário de Nicole, 20 de outubro de 1912 Andam acontecendo coisas estranhas nessa casa. À noite ouço passos e vozes. A Sra. Levinson também já testemunhou esses acontecidos. Hoje, pela manhã, eu estava lendo no jardim quando vi o carteiro correndo desesperado ao meu encontro. Ele contou que estava entregando uma encomenda na casa ao lado, quando ouviu um grito alto e estridente vindo daqui, então ele veio ver do que se tratava. O problema é, que nem eu, nem a governanta escutamos algo. Achei isso muito estranho. Diário de Nicole, 30 de outubro de 1912 Você não vai acreditar, Diário, no que vou contar agora. Eu estava tocando piano em casa quando ouvi passos no corredor. Nem liguei, achei que fosse a governanta. Logo depois ouvi vozes que pareciam ser de meu pai e de minha mãe falando: “pare com esse piano agora!” Olhei para trás e vi os vultos dos meus pais, parados, olhando-me fixamente. Imediatamente chamei a Sra. Levinson. Ela veio até mim e disse: “Menina, largue esse piano!” Rapidamente parei de tocá-lo e, repentinamente, os vultos sumiram. A governanta explicou que aquele piano era de minha bisavó e ela tocava todo dia. Quando ela morreu, o piano começou a ficar estranho. Quem toca o piano está condenado a morrer junto com a pessoa amada com a qual convive. Estou com muito medo! Nicole Victoria Backerman desapareceu no dia 31 de outubro junto com sua governanta em Londres, quando as duas saíram para fazer compras. Hoje, quem cuida da casa é seu tio, o Sr. Robert, junto com sua esposa e suas duas filhas, que estão se divertindo no piano da família Backerman. Sofia Beckenkamp Andreis 7º Ano Ensino Fundamental
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Era um dia qualquer Filha De Zeus – Então, vamos jogar? Clarisse falou entusiasmada, depois de arrumar tudo para começarmos o jogo do copo. Começamos a jogar. Depois de 5 minutos jogando, Frank pergunta – O demônio está aí? – o copo foi até o “Sim”, Frank ri e fala em tom de deboche: – Sim, claro acredito! Repentinamente, apareceu escrito na mesa de madeira, como se estivesse sido raspada, gravada, a afirmação: “Pois deveria acreditar”. Em seguida, uma faca que estava na cozinha voa e atinge sua perna, ele solta um grito agudo, Clarisse e eu olhamos assustadas e o copo voa na parede, a mesa começa a tremer e uma figura preta aparece e fala: – Fim De jogo. Pego o aspirador e ligo mas ele não funciona. – Corram! Frank gritou e saímos correndo floresta adentro. Estava correndo, um pouco mais atrás que meus amigos quando...sinto uma dor horrível como se meu corpo estivesse queimando, sinto algo quente escorrendo em minha perna, a voz de meus amigos vai ficando cada vez mais distante e minha visão cada vez mais turva, olhei para a lateral esquerda da minha barriga e lá estava a faca que também tinha atingido Frank, cai de joelhos no chão e podia sentir ele cada vez mais perto. – Perderam...acabou! Ele falou com sua voz áspera e rouca. Meus amigos estavam encurralados, e o demônio estava um metro à minha frente, tirei a faca de minha barriga e mordi meu lábio inferior para não gritar fazendo o meu lábio sangrar também. Segurei o cabo da faca dourada e tirei de minha barriga, me arrastei atrás dele e com poucas forças que ainda tinha me levantei, meus amigos me olharam atordoados e surpresos. Falei auto: – Nada acaba, até EU falar que acabou. – O demônio se vira surpreso para mim com os olhos arregalados (no casa era sinistro por ele não ter as pálpebras) Liguei o aspirador e ele virou nada. – Agora acabou! – Falei com orgulho e meus amigos sorriram, soltei a o aspirador, tirei meu casaco e enrolei em minha cintura de jeito que o sangue parece de sair. – Então, vamos tomar um sorvete? – Frank falou rindo e caminhamos calmos para fora da floresta e pelas clareiras das árvores podia ver que estava amanhecendo. Hoje era um novo dia. Vanessa Treter Kajevski 7º Ano Ensino Fundamental!
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Ilustração: Maria Eduarda Conforti Camargo - 7º Ano Ensino Fundamental
CONTOS FANTÁSTICOS – PEQUENOS AUTORES
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Os contos são uma forma lúdica de trabalhar a imaginação e a criatividade, por essa razão são muito importantes no cotidiano da escola no Ensino Fundamental. Tanto o ouvir contos como o ato de escrevê-los se tornam uma atividade prazerosa para os alunos. E fica ainda mais gostoso quando é feita uma atividade por meio da qual o que foi produzido é exposto para os colegas. O projeto de criação de Contos Fantásticos foi apresentado aos alunos do 5º ano, iniciando-se por fazê-los conhecerem as origens orientais nas Histórias das Mil e Uma Noites e com a contação de alguns contos clássicos, como Ali Babá e os Quarenta Ladrões e o Gato de Botas. Na sequência, os alunos foram desafiados a criarem seus contos e participarem do Concurso promovido pelo Colégio Trilíngue Inovação. Depois, esses contos foram socializados com os colegas da turma e do 4º ano, que, em seguida, produziram desenhos e histórias em quadrinho para ilustrar os contos ouvidos. Fica a sensação de trabalho cumprido com prazer e alegria, em um ambiente em que os alunos se sentem valorizados e com disposição de aprenderem e produzirem cada vez melhor. Professora Glenda Brum de Oliveira Professora de Língua Portuguesa do Colégio Trilíngue Inovação
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A maçã dourada Little Princess Era uma vez uma ilha que ainda não havia sido descoberta. Um belo dia, um grupo de marinheiros estava velejando pelas redondezas, quando, de repente, o mais novo gritou: - Terra à vista! E o mais velho falou: - Como? No mapa não tem nenhuma ilha à frente. Você deve estar vendo coisas! Então, o mais novo chamou o segundo mais velho para ver e disse: - Terra à vista! Vamos bater!!! Quando eles pensaram que bateriam, entraram em uma passagem secreta e desceram do barco. Chegando lá, foram explorar a ilha. Encontraram um mapa que levava até a Maçã Dourada, o qual resolveram seguir. Só que o mapa mostrava um caminho cheio de armadilhas e os exploradores levaram horas e horas para conseguirem passar. Quando finalmente chegaram no X, não encontraram a entrada. Então, depois de muito tempo, o mais novo encontrou uma alavanca. Puxou-a com muita força e abriu uma passagem secreta. Lá vivia um Trol, que falou que eles só poderiam passar se resolvessem o desafio dos gêiseres. Finalmente, eles conseguiram e foram parar em um lugar que era feito de macieiras, cada uma de uma cor diferente: tinha maçãs rosa, roxas, azuis... e uma DOURADA! Experimentaram-na e, como ela trazia em si o poder da felicidade, foram felizes para sempre! Júlia Gabriela Silvestrin Dias 5º Ano Ensino Fundamental
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O novo conto de Rapunzel Monarquia Se você pensa que existiam castelos, fadas madrinhas, príncipes e lindos bosques, é quase isso. Há centenas de anos em uma cidade encantada seu nome era Aragrazan. Vivia em uma casa modesta uma jovem muito bela, muito sonhadora e um pouco tímida que se chamava Rapunzel. Ela costumava ir a única igreja desta vasta localidade, onde trabalhava de faxineira e enquanto ela limpava as imagens e o grande sino, que Rapunzel tocava todos os dias, ela vivia sonhando acordada. Ela sonhava com um beijo de amor verdadeiro. Um dia, Rapunzel foi tocar o sino. Ela deu uma batida tão forte no sino, que ele acabou se desprendendo e fechando a passagem que dava para o salão principal da igreja. E o pior foi que ninguém escutou, porque a cidade inteira estava em uma feira de maçãs. Rapunzel estava faminta e a única coisa que tinha para comer naquela torre era um bando de moscas e ratos enormes que ás vezes chegavam a correr atrás dos gatos. E como só tinha isso, ela comeu os camundongos e por causa de uma forte proteína encontrada na cauda desses ratos o seu cabelo cresceu rapidamente. Com os longos cabelos Rapunzel fez uma trança. Já que ela estava em uma torre ela jogou seus cabelos para fora e começou a chorar e falar: - Socorro, socorro! Dudu, que foi o primeiro a voltar da feira, ouviu ela chorando e pedindo ajuda. Ela só não gritava por que ela era tímida e tinha vergonha de gritar. Então ele subiu, pelas tranças para salvar Rapunzel. Depois de quase uma hora para subir 3 metros de trança, Dudu não estava conseguindo tirar o sino. Então ele viu sangue e foi ver o que era. E viu um pedaço de uma cauda de rato que Rapunzel tinha jogado. Ela contou sobreo poder cauda. Então Dudu comeu, ficou forte e conseguiu tirar o sino. Dudu pegou Rapunzel em seus braços e a beijou. Um beijo de amor verdadeiro. E eles viveram felizes para sempre! Fim. Julia Monari 5º Ano Ensino Fundamental
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O lago de pedras de ouro Yuri Del Valle Era uma vez um pescador pobre, que vivia em uma pequena e modesta casa com a mulher. Ele saia para pescar todo dia, pescava peixes e vendia. Mas um dia, quando ele saiu para pescar, a mulher disse: - Não temos mais dinheiro, não vamos conseguir pagar as contas! O homem saiu de casa sem falar nada e foi pescar. Quando sentiu que o peixe havia mordido a isca, puxou o anzol, mas não saia da água. Ele, então, nadou para baixo do lago e viu que lá havia muito ouro. Não demorou, e ele foi pegar o ouro com o pote de peixes. Em seguida, foi para casa e mostrou para a sua mulher. Ela ficou feliz, e disse para ele: - Vá trocar o ouro com o rei por dinheiro, pois aí poderemos pagar as contas. O homem foi e trocou o ouro por dinheiro com o rei, o rei aceitou, o homem foi para casa e conseguiu pagar as contas. Assim, eles viveram felizes para sempre!! Luís Gustavo Vendruscolo 5º Ano Ensino Fundamental
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Meus amigos, minha história Maisa Era uma vez um lugar chamado Centopeia, onde aconteciam todos os contos mais conhecidos da Disney. Lá, todos os sonhos se tornavam realidade. Nessa linda cidade, estavam o castelo da Cinderela, a cabana da Branca de Neve, a casa do Mickey e da Minnie e, principalmente, a casa da Chapeuzinho Vermelho. A menina chamada Chapeuzinho Vermelho era muito dócil e querida por todos. Ela adorava brincar e ouvir as histórias que todas as noites a sua vovozinha contava. Nessas histórias, a imaginação de Chapeuzinho Vermelho viajava e, no meio de tantas aventuras, havia espaço para todos os seus amigos. Naquele mundo de faz de conta, a felicidade reinava. Certo dia, Chapeuzinho ouviu a campainha tocar: Din Don......... A menina abriu a porta e, para a sua surpresa, lá estavam os três porquinhos, muito assustados e ofegantes. Entraram na casa e falaram ao mesmo tempo: - Chapeuzinho, a sua história foi esquecida, as crianças não lembram mais dela. Não sabem da sua existência, nem da vovó ou do lobo mau! Chapeuzinho ficou muito triste, pois, sem a lembrança da sua história, tudo o que estava envolvido, como a casa, as roupas, os objetos, foi sumindo. Sem ter onde morar, ela, a vovó e o Lobo mau, passaram a morar na casa dos amigos. Moraram na casa do Mickey e da Minnie, na casa da Branca de neve... até que um dia, no castelo da Cinderela, a Chapeuzinho teve uma grande ideia: - Vou fazer uma história contando sobre minha vida, a minha fábula e vou chamar de: Meus amigos, minha história. A cada criança que ia lendo a história, a vida da Chapeuzinho ia voltando ao normal: suas roupas, seus objetos e a sua casa iam voltando. Mas essa nova história da Chapeuzinho tem um novo capítulo, que é o mais especial de todos. Nesse capítulo, está a história de amizade, além de todos os limites e a superação do lúdico na infância. A cidade de Centopeia teve seus dias mais lindos e coloridos, com o sorriso das crianças e a imaginação em cada olhar inocente. A amizade superou todos os limites e viveram felizes para sempre... Anthonia Bortoli Almeida Pessin 5º Ano Ensino Fundamental
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O menino e o urso Zeca Tatu Em uma noite fria e escura, um menino estava voltando de sua caçada, quando ouviu um barulho, mas pensou que fosse só um veado correndo. Caminhou mais cinquenta metros e se deparou com um urso negro. Quando o urso viu o menino, levantou-se nas duas pernas e atacou. O menino, com seus rápidos reflexos, desviou do urso, sacou a espada e fincou no coração do animal. O menino percebeu que era perigoso demais ficar andando por aí de noite. Acendeu uma fogueira e fez um cozido de coelho com molho e hortelã. Como estava faminto comeu com apetite voraz e foi dormir. Na manhã seguinte, ele acordou antes do sol nascer e seguiu caminho para a sua casa, pois sua família precisava de comida para o inverno. Antes de ir para casa, vendeu a pele do urso para poder comprar um arco e flecha para caçar melhor. Artur Brouwers Lara Dias 5º Ano Ensino Fundamental
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Bruno e a viagem ao mundo dos sonhos e da imaginação Ana Bella Era uma vez um menino chamado Bruno. Ele era um menino muito sonhador e esperto. Um dia, na hora de dormir, Bruno pensou como seria o mundo da imaginação, e, então, bocejou e caiu no sono. Quando dormiu, seu pai apagou a luz e, então, Bruno entrou em um leve sonho, que começava com uma floresta encantada, onde tinha o gato que falava. No dia seguinte, ele lembrou do gato, quando viu um e disse: - Você não é aquele gato com quem eu sonhei ontem? E então gato disse: - Sim! Você lembra como a gente se divertiu bastante? O menino disse: - Sim, mas onde eu estou? E o gato disse: - No mundo dos sonhos e da imaginação. Bruno gostou bastante de revê-lo. Depois, foram a um jardim encantado e encontraram o Timão e o Pumba, com quem ele tinha sonhado na semana passada. Ele adorou vê-los novamente. Depois, foram até uma terra que havia ali por perto para descansar e se encontraram com o Peter Pan e Sininho. Eles tinham a missão de achar os garotos perdidos e lutar contra o Capitão Gancho. Então, foram em busca do malvado pirata e conseguiram derrota-lo e pegar os garotos perdidos. O gato disse que ele ia a um lugar em que precisaria de muita imaginação. O gato pediu para que o menino soltasse a imaginação e fechasse os olhos e levou o garotinho. Então, pediu para que ele abrisse os olhos, pois, assim, tudo o que ele tivesse imaginando estaria na frente dele. O menino abriu os olhos e viu o mundo da imaginação. Tudo o que ele imaginou estava ali. Ele ficou muito feliz, mas tinha de ir. Então, despediu-se dos amigos e acordou, mas nunca mais se esqueceu do que havia acontecido com ele. Carolina Forselius 5º Ano Ensino Fundamental
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A viagem dos sonhos! Bianca Luz Era uma vez duas camponesas muito humildes, que moravam em uma pequena casa, no vilarejo do rei Eduard. Elas se chamavam Isabel e Paolla e sempre sonharam em fazer uma viagem pelo mundo, para conhecer todos os lugares divertidos que existiam. Em um belo dia, quando foram tomar o café da manhã, olharam pela janela e viram que por todo vilarejo havia panfletos, que diziam: Concurso de Talentos no castelo do rei! Quem ganhar terá uma viagem pelo mundo, com direito a tudo, e poderá levar mais uma pessoa. As duas começaram a gritar de felicidade, porque elas tinham muito talento! Isabel sabia cantar ópera melhor que Luciano Pavarotti! E Paolla era mestre em contar histórias que o povo amava. Para elas participarem do concurso, que era em dois dias, teriam de entregar ao rei três folhas de palmeira, um caramujo dourado e uma toalha de mesa. Então, Isabel e Paolla foram à procura dessas coisas. Isabel foi procurar o caramujo em um arbusto, e Paolla foi até a Praça das Palmeiras, para pegar as três folhas de palmeira. Chegaram a sua casa e pegaram a única toalha de mesa que tinham. No dia seguinte, foram ao castelo entregar as coisas ao rei e mostrar seu talento. Para isso, tinham de enfrentar uma fila enorme, porque o vilarejo inteiro queria participar do concurso. Mostraram o talento e, quando Isabel cantou, as taças de vidro do rei Eduard acabaram se quebrando! Paolla contou sua história, e o rei começou a chorar de tão linda que ela era. Passaram-se uns três dias e elas receberam o certificado de ganhadoras! Elas ganharam o concurso de talentos! Ficaram tão felizes que conseguiram realizar seu sonho... Isabella Hampel Pires 5º Ano Ensino Fundamental
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O mendigo Stace Era uma vez um senhor que vivia em uma cidadezinha bem pequena. Esse senhor era um mendigo de rua. Uma dia, um rapaz bem ajeitado parou na rua e o mendigo pediu: -Oi, você me dá um trocado? O rapaz pensou e deu 50 centavos a ele. O mendigo foi andando, e lá por uma parte do caminho, sentou-se. O rapaz que tinha dado o dinheiro pensou... e teve uma ótima ideia. Como esse rapaz era dono de uma empresa muito conhecida, ele pediu para a secretária encontrar o mendigo e passou o endereço de onde o mendigo ficava à tarde. E lá se foi a moça, à procura do mendigo. Depois de muita procura, a moça o achou e falou a ele : -Oi, meu nome é Jane, muito prazer! Você lembra daquele homem que hoje de manhã te deu um trocado? Um homem de gravata? - Sim, sei, o que houve? -Ele está chamando, você pode me acompanhar? O mendigo levantou-se e foi com a moça até o dono da fábrica... Quando eles chegaram, o mendigo foi até a sala onde o homem ficava e o rapaz se apresentou a ele. -Oi, meu nome é Rodrigo, sou dono desta bela fábrica como pode ver. E queria lhe fazer uma proposta: eu dou a você roupas novas, alugo um quarto em um hotel para que possa tomar um bom banho e ajeitamos seu visual. Assim, você poderá trabalhar aqui em minha empresa. O mendigo não pensou duas vezes e aceitou. Então, naquele mesmo dia, Rodrigo levou o mendigo até o hotel. O mendigo tomou um banho e depois eles foram almoçar. Depois de almoçar, Rodrigo levou o mendigo até o cabelereiro. Ele cortou o cabelo e os dois voltaram à fábrica. Rodrigo deu-lhe R$ 100,00 e falou: -Esse dinheiro é para você comprar comida. O mendigo foi até o mercado e comprou comida e algumas coisas para a sua higiene, e voltou ao hotel para dormir. No outro dia, o mendigo que não era mais mendigo. Agora podemos chamá-lo de Louis. Ele voltou para a fábrica e começou a trabalhar. Ele trabalhou durante anos na fábrica. A fábrica cresceu muito, e Louis ganhou muito dinheiro e teve uma família muito unida e feliz. Isadora Cieckovicz 5º Ano Ensino Fundamental
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Princesinha Sofia Juli Julieta Era uma vez, uma princesinha chamada Sofia. Ela tinha um cabelo encaracolado e castanho. Seus olhos eram negros como a noite e sua boca era vermelha como uma rosa. Ela morava em um castelo com sua mãe, a rainha, que se chamava Isabel. Era linda e muito calma com sua filha. Lá também morava seu pai, o rei, cujo nome era Rafael. Ele era bravo e comandava tudo no castelo. Além deles, sua família inteira morava lá também. Sofia conhecia um menino chamado Guilherme, ele era pobre e morava com seus pais em uma casinha de madeira. O desejo de Sofia era que, quando ela crescesse, casasse com Guilherme, mas seu pai queria que ela se casasse com um príncipe. Todos os dias, Sofia ia para a escola e, lá, estudavam vários meninos que eram príncipes. Guilherme também estudava lá. Sofia e Guilherme sempre brincavam juntos na escola pela manhã e à tarde também, na rua. Era uma tarde linda de sol e Guilherme e Sofia foram brincar. - Sofia, você que pega – disse Guilherme. - Eu vou pegar você, Guilherme! – disse Sofia. E brincaram a tarde inteira. Um dia, Sofia estava indo à escola e se deparou com um homem de preto que usava uma máscara. Guilherme chegou à escola e não viu Sofia, como ele sempre via. Depois da escola, foi procurá-la. Quando o rei ficou sabendo disso ele mandou vários guardas irem atrás dela. Eles procuraram, procuraram, procuraram... Até que Guilherme escutou um grito: - Socorro, socorro, socorro, socorro, me ajuda. Guilherme foi atrás, chegando cada vez mais perto, até que a achou. - Sofia!!! -Guilherme!! -Calma Sofia, eu vou te ajudar. Ela estava amarrada em uma cadeira no meio da floresta. Então Guilherme foi chamar os guardas para ajudarem a tirar Sofia dali. Eles conseguiram e a levaram para casa. O rei falou: - Guardas, muito obrigado por terem-na achado. E Sofia disse: - Não papai, agradeça a Guilherme, foi ele quem me achou. O rei ficou em silêncio por um tempo, mas agradeceu. Depois disso, ele pensou que Sofia poderia se casar com Guilherme quando crescesse. O tempo foi passando e chegou o dia do casamento. Sofia estava vestindo um vestido branco lindo. Guilherme estava vestindo um terno preto. Os 137!
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dois formavam um belo casal. Seus pais estavam muito felizes e começaram a se entender. Então, eles se casaram e viveram felizes para sempre. Luiza Vargas Bitencourt 5º Ano Ensino Fundamental
Ilustração: Narciso Giovane Nunes Baez - 6º Ano Ensino Fundamental
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POSFÁCIO “Cavalga-se uma baleia e enfrenta-se um tubarão. Nasce, assim, espontaneamente, uma visão que se apoia no real e dele se liberta. Assim se desperta a exaltação de viver. A criança apropria-se do real sem que este se volte contra ela”. (POSTIC, 1993, p.23). Pela magia da palavra materializamos o mundo em que vivemos, mas, mais do que isso, podemos adentrar em nossos sonhos e criar um universo paralelo. Nesta obra, os alunos do Colégio Trilíngue Inovação apresentam um mundo surreal, movidos pela temática sugerida pelo projeto: Contos de Mistério e Contos Fantásticos. Investimos em atividades como esta por valorizarmos o brilho no olhar de cada criança e adolescente ao ouvir ou contar uma boa história. Senti-me maravilhada ao ler cada um desses contos, que me fizeram viajar. Comecei com os de mistério, aventuras aterrorizantes que deixaram suspensa minha respiração, para, então, acalmar-me com a escrita dos pequenos autores, suas princesas e heróis: um mundo de imaginação. O imaginário faz parte da vida emocional do ser humano, assim como o medo, que se estratifica até a síndrome do pânico, em diversas intensidades. Trabalhar os limites entre a realidade e a ficção permite às crianças compreender a vida e enfrentar esses medos, que – para o adulto – podem parecer insignificantes, mas são vistos com muita seriedade pelos pequenos. Com ajuda das fadas, dos heróis e suas espadas mágicas, esse enfrentamento se torna mais fácil e até prazeroso. Nossos contos são uma deliciosa mistura. Cada um com características específicas, são a “realidade inventada” de que nos falava Clarice Lispector. Certamente, o leitor há de reparar também nas diferenças textuais que são próprias de cada faixa etária. Afinal, temos textos de alunos de nove a dezessete anos de idade, que se fazem perfeitos pela singularidade e peculiaridade com que se constituem. No entanto, seja qual for sua motivação para a leitura, espero que se permita experimentar as sensações que nossos jovens autores podem lhe proporcionar. Seja com olhos de crítico, de educador, de pai ou mãe orgulhoso, ou de alguém que acolheu essa leitura por acaso, delicie-se! Parabéns aos nossos alunos por se desafiarem a expor suas produções. É por vocês, crianças e adolescentes que o Colégio Trilíngue Inovação existe! Gislaine Moreira Nunes Mestre em Educação - Gestora do Colégio Trilíngue Inovação POSTIC, M. O imaginário na relação pedagógica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1993. 139!
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Rua Mato Grosso, 420-E – Bairro Jardim Itália Chapecó – Santa Catarina – CEP: 89802-272 www.colegioinovacao.com.br - +55 (49) 3322-4422
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