A minha primeira memória

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Para Fernando Pessoa, a infância é um bem perdido, relativamente ao qual sente nostalgia, por isso experimenta a desagregação do tempo, pois «o [seu] passado é tudo quanto não [conseguiu] ser», assim não tem «esperanças nem saudades», pois não pode repetir, nem sequer relembrar, o passado, que pesa «como a realidade de nada» e o futuro apresenta-se «como a possibilidade de tudo», por isso «[Sente] mais longe o passado/[Sente] a saudade mais perto», sentido, assim, saudades do futuro. Este profundo desencanto e angústia «[d’]aquela infância» das crianças que brincam, causam-lhe a nostalgia da infância como um bem perdido. Essa infância que não teve e que apenas imagina é o único possível momento de felicidade, por isso afirma «Quero aquele outrora!». Aliando o conteúdo “memórias”, lecionado no 10ºano, e a “Nostalgia de um bem perdido” de Fernando Pessoa, de 12ºano, os alunos recuaram no tempo e relembraram um episódio da sua infância, voltando a conferir-lhe vida, sangue e alma. A infância e a vida de outrora é aqui celebrada pelas palavras únicas de cada um. Que bom é relembrar esse tempo em que a inconsciência nos fazia viver felizes! Carla Trindade

Índice

Capa: La persistència de la memória, 1931, Salvador Dalí 2

Sem fôlego, António Cardoso e Cunha 12º 1A A minha Primeira Memória - Bernardo Carreira – 12º1B A minha Primeira Memória, Carolina Sousa – 12º1B A minha Primeira Memória, Catarina Santos – 12º1B A minha Primeira Memória, Catarina – 12º2 A primeira Memória, Catarina Gonçalves – 12º1B A Fuga, Cheila Cardoso – 12º1B A Minha Primeira Memória, Cláudia Cid Gonçalves, 12º1A A Minha Primeira Memória, Diana Gonçalves – 12º1A A minha primeira memória, Diogo Miranda – 12º1 A minha Primeira Memória, Francisco Lima – 12º2 MEMÓRIA, Frederica Abreu – 12º2 Gaveta das coisas fantásticas, F. A Minha Primeira Memória, JL - 12.1A Tarde de Meninas, Mafalda Seabra - 12º1ª UMA MEMÓRIA DE INFÂNCIA, Mafalda Nunes – 12º1B A minha primeira memória, Margarida Leão – 12º1B A primeira memória, P. Quanto valem as minhas memórias?, Sara Costa – 12º1B A minha Primeira Memória, Teresa Silveira – 12º1A A minha primeira memória, Tomás Saraiva, 12º1B

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Sem fôlego, António Cardoso e Cunha 12º 1A Tinha 5 anos, adorava a piscina, o que há para não gostar? Aqueles mergulhos num dia de Verão em que a água está tão fria que se sente na espinha. Inicialmente existe um choque térmico mas o corpo entra em total relaxamento e uma sensação de frescura alivia o ser. Os meus irmãos eram peritos a nadar… eu... frustrado com a minha incapacidade... não. Estávamos todos na água, eu e os meus dois irmãos, as boias prendiam-me os braços e causavam desconforto. Saí da piscina e fui para o canto do quintal. Com as minhas últimas forças arranquei as boias que roçavam nos meus braços causando marcas vermelhas, olhei para a piscina e inconscientemente saltei. Estava escuro e doía-me a cabeça de tanto berrar, necessitava de ar, não para respirar, mas para poder gritar de novo, estava exausto, o que eu estava a fazer não resultava, parecia que sempre que dava um passo para a frente de seguida dava dois para trás. Para meu espanto, a Adozinda, senhora que cuidava de mim quando os meus pais iam trabalhar, saltou para a água vestida e segurou-me por um braço. Estava na piscina, mas a aflição era tanta que confundia a água na testa com suor. Apesar deste terrível episódio consegui passar o trauma e semanas mais tarde, com muita determinação, aprendi a nadar.

A minha Primeira Memória -

existir... Para mim, trata-se do segundo momento mais importante da nossa existência, logo após o nascimento. Contudo, penso lembrar-me de uma memória em especial que, até agora apenas partilhara com alguém muito especial para mim, a minha avó. Tinha eu os meus inocentes e pequenos três, quatro anos. Terá sido numa tarde de verão, eu e a minha avó estávamos à beira da piscina de casa do meu tio, no Algarve, na calmaria da natureza ali implícita. A certo instante, os meus pais indagaram, “Bernardo, queres vir com os pais à praia?”, ao que eu esclareci, em tom de entusiasmo e alegria: “Não, quero gozar todo o tempo do mundo com a minha avó!” A princípio, esta frase teve impacto na minha avó. Todavia, isso não é o mais significativo, mas sim o facto de fortalecer a relação avó-neto, bem como a de amigos acima de tudo. Hoje em dia, quando falo com a minha avó acerca deste momento ambos sorrimos. Recordo aquele dia como se fosse ontem, e todos aqueles sentidos incutidos naquele momento. Sei que o seu sorriso transpõe a ideia de que esta ligação mútua é fortalecida com o tempo, a cada dia que passa. E, por isso, aquele momento significou muito para ambos, pois espelhou o vínculo que eu tenho com alguém tão especial como é, e sempre será, a minha avó.

A minha Primeira Memória, Carolina

Bernardo Carreira – 12º1B

Sousa – 12º1B

É uma tarefa complicada relembrar um momento marcante na minha infância que se intitule como a memória primordial que tive em pequeno. Na minha perspetiva, numa faixa etária tão diminuta é complexo relembrar aquele episódio da nossa vida com todos os pormenores subjacentes. Porém, estão presentes outras pessoas que, apesar de não terem vivido esse momento com tanta intensidade e significado, promovem o reviver dessa alegria, à qual damos tanta importância. De facto, é um momento preponderante na nossa pequena vida. Mas porquê? Porque decerto marca o nosso viver, o nosso

A minha primeira memória é verdadeira e não algo que acabou por se criar com base no que me foi dito por outros. Digo isto com certezas, pois consigo recordar momentos desta nos quais estava sozinha ou com pessoas que já não vejo desde essa altura. Quando entro dentro do meu psicológico, o mais que consigo recuar situa-se na altura que andava na infantil, portanto, nem os meus 6 anos ainda tinha. Não me lembro do início desse dia. Lembro-me, de como era habitual naquela altura, durante os intervalos, sairmos a correr das salas de aulas para conseguirmos “ganhar” lugar nos baloiços do recreio ou no labirinto (estes eram os prediletos de qualquer criança naquele

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colégio). Os menos afortunados, que tivessem o azar de correr mais lentamente ou ter uma professora mais chata que não os deixasse sair enquanto o desenho não tivesse completamente pintado, tinham que se contentar com as caixas de areia gigantes ou ainda com o monte de pneus que tinha como propósito as famosas “corridas de pneus”. Nesse mesmo dia, por algum motivo qualquer, eu mais as minhas amigas fizemos parte dos “menos afortunados” (muito provavelmente a culpa foi da minha professora porque contrariamente ao agora, naquela altura eu era uma Speedy Gonzalez). Se me perguntarem o motivo eu não sei responder, mas o que sei é que por alguma razão nesse dia fatal os desgraçados que não tiveram outra hipótese senão os pneus decidiram “revoltarse”. Passado um pouco, dou comigo a um longo metro e meio ou mesmo dois do chão. As “crianças dos pneus” tinham decidido criar uma super pirâmide que era nada mais nada menos do que um amontoado de todo o tipo de pneus que existia naquele recreio. Como já é bom de ver, não ia dar coisa boa. Aos empurrões e gritos, decidiu tudo começar a subir a pseudopirâmide e quando dei por mim no topo desta, mesmo antes de iniciar o meu momento de glória, já estava a dar comigo no belo chão de asfalto que a sustentava. Algum(a) desgraçado(a) (que até hoje não sei quem foi) não deve ter gostado do meu momento de felicidade extrema e decidiu atirar-me daquele precipício abaixo. A tradicional choradeira que se sucedeu fez com que uma educadora de infância fosse ter comigo e terminasse logo com a brincadeira. É dos momentos que melhor me recordo (os quais têm de ser logicamente trágicos, pois é sempre desses que nos lembramos melhor). A senhora que me veio salvar daquelas crianças que só queriam governar o “reino dos pneus” tivessem de aniquilar fosse quem fosse (incluindo eu), levoume de imediato para a enfermaria. “Acho que tenho pedrinhas na boca” dizia eu incessantemente para as educadoras, que me respondiam que não e para não mexer nela. Contudo, eu tinha a certeza absoluta que tinha “pedrinhas na boca”, pois eu conseguia sentilas ao mexer a língua. “Devem ter entrado quando caí no chão”, pensava eu e portanto voltava a repetir que achava que tinha pedrinhas na boca. As educadoras com um ar de pavor (completamente incompreendido por mim) tentavam manter a calma e responderme simplesmente que não tinha. É claro que não tinha pedrinhas na boca, assim como é claro que as

senhoras estavam assustadas, tendo em conta que o que eu sentia na boca não eram pedrinhas, mas sim os meus dentes todos a abanar e a cair ! Telefonaram para a minha mãe do colégio e disseram “aconteceu um acidente com a sua filha enquanto esta brincava no recreio”. “Acidente?” pensei eu. Eu tinha era sofrido uma tentativa de homicídio! Por volta daquela altura já estava a começar-me a sentir um “bocadinho maldisposta” (o que não era de admirar com o sangue todo que já tinha perdido). Ao ver a minha mãe a chegar ao colégio, senti-me logo mais protegida e aliviada. No entanto, lembro-me de que quando me viu ficou em pânico e de repente estava quase mais branca do que eu já estava. Nesse dia, as aulas acabaram também mais cedo para a minha irmã (que na altura andava na primária) e, assim que ela entrou no carro, a minha mãe foi sempre a acelerar até chegarmos ao Hospital Santa Maria. Para concluir esta esplêndida memória, já dentro do hospital não me recordo de muito, no entanto, lembro-me sim de ouvir o médico a falar com a minha mãe e de lhe explicar que “a sua filha partiu o maxilar e durante uns tempos vai ficar “sopinha de massa”. E assim foi, durante uns longos meses eu fui a “sopinha de massa” da família e da turma devido a algum(a) “assassino(a)” que ainda hoje desconheço.

A minha Primeira Memória, Catarina Santos – 12º1B

Uma das memórias mais nítidas que tenho foi quando tinha cinco anos e tive um acidente de carro. Lembro-me de sair do colégio no velho Honda do meu avô, que antes pertencia aos meus pais, e parar no cruzamento antes de se virar para a rotunda. Estávamos à espera para virar quando uma mota que vinha atrás de nós avança sem parar e bate num carro em movimento. Lembro-me de ver o pobre senhor voar uma distância que nessa altura considerava ser enorme, mas na verdade deveriam ser uns sete metros, e da mota bater no carro do meu avô. Fiquei em estado de choque. A primeira coisa que nos ensinam na primária é que em caso de emergência devemos telefonar para o 112 e manter a calma. Na altura, não me lembrei de nenhuma dessas coisas. Estava a chorar histericamente enquanto o meu avô telefonava para o 112 e nessa altura nem me importava com a pessoa que estava no chão imóvel. Só queria ir para casa e ver 5


a minha mãe e pela primeira vez, fazer os trabalhos para casa sem ser obrigada. Não parei de chorar durante pelo menos uma hora, ou seja até o incidente estar concluído. O meu avô, como sabia primeiros socorros, foi logo ajudar o senhor até a ambulância chegar e eu fiquei sozinha, no nosso carro metade destruído, a imaginar uma realidade oposta àquela que estava a viver nesse momento. O que mais me marcou foi quando um polícia que viu que eu estava em pânico começou a falar comigo para me acalmar. Sei que no momento não me fez diferença nenhuma, mas agora ao refletir sobre isto acho que me tornou mais consciente sobre como é que alguém deve estar em caso de pânico e que mesmo que alguém não esteja aleijada fisicamente, psicologicamente pode estar traumatizada. Era como eu estava na altura. Quando cheguei a casa, lembro-me da minha mãe sair para a rua com a minha irmã ao colo e de perguntar o que é que tinha acontecido. Eu ainda estava em choque. A última coisa que me lembro foi a minha avó a dar-me chá e castanhas e dizer que tudo já tinha acabado. Para uma criança, um evento traumático raramente é esquecido. Esta não é a minha primeira memória, mas é a primeira que eu tenho mais a certeza de que não pode ter sido alterada por eventos contados por outras pessoas. Assim, esta é a minha primeira memória que é verdadeiramente “minha”, sem influências exteriores, e a que mais me marcou, mostrando que numa situação de pânico devemos ao menos tentar manter a calma e fazer o mínimo que nos compete como cidadãos.

A minha Primeira Memória, Catarina – 12º2

“Enquanto o sono não chegava”, dávamos todas as noites longos passeios pelas redondezas da casa mais acolhedora por onde já passei até hoje, a dos meus queridos avós. E, talvez por ter sido educada e criada nesse ambiente quente até aos meus dez anos, já não podia passar uma única noite sem aquele passeio, sempre recheado de partilhas e conquistas, e sei que o meu avô também não. Depois de jantar, íamos sempre levar o lixo e, “no meio da paz noturna, entre os ramos altos de árvores” e de estrelas claras e incandescentes, “a noite 6

povoava-se com as histórias e casos que o meu avô ia contando”: conselhos que assimilei como se já fosse crescida, lendas, episódios singulares da sua vida num campo pertencente ao encantador e tímido Alentejo, zaragatas, aparições, mortes antigas, palavras de familiares que partiram cedo demais, “um incansável rumor de memórias que me mantinha desperta ao mesmo tempo que suavemente me acalentava.” Naquela idade de pura inocência, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Domingos “era senhor de toda a ciência do mundo” (pensando bem, passaram, talvez, uns sete anos desde o último passeio, e continuo a imaginar o mesmo). Voltávamos para casa depois das palavras carinhosas que davam a entender que era hora de acabar com as partilhas e longas histórias. Os pés começavam a pesar, bem como os olhos e todo o corpo, o João Pestana estava completamente presente e passara a conduzir todos os meus passos. Quando, à primeira luz da manhã, a voz e o beijinho de bom dia da minha avó me despertavam, o contador de histórias e o herói de todos os meus pesadelos, já tinha saído para mais um árduo dia no Ministério da Cultura. A minha avó já tinha preparado uma enorme tigela amarela da milupa com cerelac, nestum ou simples torradas encharcadas em manteiga e mel, era o início de mais um dia de energia, aprendizagens, ideias, brincadeiras e aventuras na escola. Guardo, no meu coração e na pessoa que sou, as palavras e memórias do querido avô Domingos, que tudo fez para eu decorar a tabuada e os verbos naqueles longos passeios, afirmando, todas as vezes, que seriam as bases mais importantes para todo o meu percurso escolar. E aquela casa, aquela casa... Com aquela varanda, aquela varanda onde corria, andava de bicicleta e fingia educar todos os nenucos e chicolas que existiam lá em casa. Apontando, de forma determinada para cada um deles e dirigindo-lhes as palavras que me teriam sido transmitidas nesse mesmo dia. Que nostalgia! Que saudades do tempo que já não volta! Mas para além daquela casa e daquela varanda, hoje sei que as pessoas que coabitavam comigo (mãe, avô, avó e tia) são as melhores do mundo, são as personagens principais do livro da minha vida, os meus mestres de vida, presentes ontem, hoje e amanhã, “no bom e no menos bom, no bastante e no insuficiente, no

ganho e no perdido, naquilo que é defeito mas também naquilo que é excesso”. Que, felizmente, todos eles, ainda me guiam e me vão transformando numa pessoa melhor a cada dia que passa, preparando-me para todas e quaisquer advertências que inegavelmente surgem. Creio que, sem elas, não seria mais do que algo impreciso e incerto, algo que poderia ter sido mas olha, não foi. Hoje sei que não sou essa pessoa e que tive e tenho os melhores ao meu lado, a amparar-me sempre que estiver a escorregar e que, certamente me deixaram cair para aprender e crescer com a queda, principalmente o querido avô Domingos, sempre presente. Esta memória surgiu hoje mesmo quando, em conversa com o querido avô Domingos, nos lembramos dos longos passeios e de todos os gatos que já tinham sido batizados por nós. Hoje em dia, as partilhas continuam a um ritmo alucinante, histórias minhas e dele, seguidas de confrontos de ideias e de várias discussões que acabam sempre com um abraço. Assim como com cinco anos pedia todas as noites “Avô, podemos ir passear?”, hoje, com dezassete, peço todos os dias “Avô, amanhã podemos almoçar?”.

A primeira Memória, Catarina Gonçalves – 12º1B Lá estava eu, sentada na cadeira no meio da cozinha na minha casa. Fria, sólida e solitária. Só me lembro de estar no meio dela sentada ao pé da mesa a olhar para um espaço vazio imaginário, tinha cerca de 5 anos (Um dos poucos flashbacks que tenho). A memória mais viva que tenho aconteceu quando eu tinha cerca de 7 anos, andava no segundo ano. É estranho não me lembrar especificamente de nada antes disso, é como se estivesse estado em coma o tempo todo e só tivesse acordado aos 7 anos. Estranha sensação, não ter noção do que aconteceu naquele preciso momento do tempo. Muito estranho... As experiências mais traumáticas da nossa vida são as que ficam marcadas na memória, como se fosse ontem que tivesse acontecido! Estranho ainda mais é, quando nos contam o que se passou antes e pensamos que nos lembramos, mas a derradeira questão é se são verdadeiras ou simplesmente conseguimos vê-las através daquilo que conhecemos com uma pitada de imaginação à mistura até ao ínfimo ponto de realismo. Por natureza, desde pequena, fui sempre

bastante distraída. Segundo o meu irmão e os meus pais, aos 3 anos ia a correr em linha reta, mas distraí-me e olhei para trás. Resultado: Muita dor da qual não me lembro, simplesmente fui contra o sofá da minha sala. Não, não tem piada, porque eu não me lembro. Para acrescentar, disseram que estava com o meu boneco favorito, o buzzligther do Toy Story. (Sim, era uma criança que adora verdadeiramente os heróis, ainda gosto.) Também disseram que tinha feito uma imensa birra, cheia de drama, gritos e lágrimas à mistura para ter esse único e fatal boneco que comprometia a minha existência, sem ele eu não era nada (era assim que pensava, paciência era uma criança)! Tenho muitas mais histórias de primeiras memórias das quais nem sequer me lembro... Conto agora a verdadeira e a que me lembro como se fosse ontem... Uma história bastante dramática... Nah, simplesmente envolve muita dor. Nada dramático. Ora bem... por onde começo? Ah! Estava atrasada para a aula de Inglês, estava já a ficar stressada porque ia chegar tarde e não queria que gritassem comigo. Então, muito normalmente fiz uma corrida como tivesse a correr contra o tempo, num corta mato super importante com grades oponentes, na verdade estava juntamente com um amigo meu. Ambos a correr à velocidade da luz e ao mesmo tempo a conversar. Eu, como sempre, distraída que sou, parva que sou, tinha que olhar para trás porque havia outro colega que chamou o meu nome, que também estava atrasado para a aula, que também estava numa corrida contra o tempo. De um segundo para o outo só sinto dor, e mais dor, e mais dor... Não sei o que se estava a passar, não tinha consciência estava meio perdida e sozinha, tinha perdido tudo como se tudo tivesse acabado e era ali que estaria já. Só observava branco. Um branco frio e gélido que sentia no corpo todo. Desmaiei (é o que acho que aconteceu). Como se nada tivesse acontecido, passado não sei quantos minutos ou horas (tinha perdido completamente a noção do tempo, talvez estivesse noutra dimensão raptada por aliens? Não... não vou entrar por aí!). Tinha acordado meio zonza, sem sentidos nenhuns, simplesmente sentia uma dor no queixo, frio e estava meio ensonada. Quando acordei completamente, estremeci e reparei no que estava à minha volta estava na secretária do meu colégio. À minha frente estava a minha mãe com cara de que algo terrível tinha acontecido, uma notícia terrivelmente fatal.

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E eu com muita calma pergunto inocentemente “o que e passou?” A resposta foi simples “Partiste o queixo e tens que ir ao hospital.” Fiquei paralisada no tempo, não sabia o que sentir naquele momento, não sentia nada, apenas choque. Como é que se tinha passado tal coisa?...Fui imediatamente para o carro da minha mãe e fui diretamente para o hospital. Entrei rapidamente e só me lembro de uma médica bastante simpática que dizia que me iria dar pontos no queixo e que não iria doer nada. Pôs-me várias substâncias que faziam bastante impressão. A seguir estava eu deitada na marquise enquanto a médica me estava a coser o queixo e, sim, é tão desagradável quanto pensam. Uma agulha fria a passar pela carne a dentro e sentir tudo... (sem dor...) é outro mundo... Não queiram passar por isso. A minha mãe estava ao meu lado, branca como a neve, chocada, tão chocada que teve que sair e ir apanhar ar. Segundo ela, via-se bastante bem o osso. Não é uma imagem muito agradável de se ver, imagino. Também me disseram que tinha pedaços pequeninos de azulejo... agradável não é? Quando saí do hospital ainda estava em choque. O mais interessante foi o facto de simplesmente não conseguir mastigar, tive que comer sopa durante uns longos mesinhos. Outro facto bastante interessante foi o dia seguinte na escola. Visitei onde ocorreu o local do crime. Deparei-me com muitas provas, grandes evidências fatais. Tinha batido numa esquina da parede, que tinha azulejos e, onde tinha batido, o azulejo estava todo partido e com pequenos pedaços de sangue ainda. Muito agradável para a nossa visão! Sou perfeitamente uma destruidora de esquinas e perita em destruir azulejos com o queixo, devia de haver uma profissão para isso, e eu seria perita nisso. O pior de tudo foi quando tive que tirar os pontos, aí é que a verdadeira dor existe. Arrancados os seis pontos que tinha levado todos que uma vez, zás! Ouch...ouch... ouch. Muito brutal para uma criancinha com sete aninhos, muito sofrimento. Acontece.

A Fuga, Cheila Cardoso – 12º1B Era dia quinze de julho de 2000, estava uma manhã agradável, com o sol radiante, os pássaros a cantar, e uma breve brisa a pairar. Tinha apenas três anos, não sabia exatamente o que ia acontecer, apenas sabia que o meu primo se iria casar, o que era bom e especial. 8

Estavam todos radiantes nesse dia, só se viam sorrisos e olhares felizes, beijinhos para um lado, abraços para o outro. Todos estavam bem vestidos, e lembro-me perfeitamente, como se fosse ontem, que eu era a “menininha” que se destacava. Tinha perdido três horas no cabeleireiro, mas tinha valido a pena... sentia-me uma criança adulta, o que na altura para mim era bom. Tinha todos os olhos em mim, todos comentavam o quão magnífica eu estava. Isto tudo para quê? Pois parece que eu era a menina das alianças, o que era, e é, uma grande responsabilidade. Tinha de ir radiante, e tudo tinha de correr bem. Com apenas três aninhos tinha essa responsabilidade toda, de entrar com a noiva e ficar ao pé dela durante a comemoração, até o padre pedir as alianças. Estava muito nervosa, tinha medo de fazer alguma coisa mal, ou de cair com as alianças, ou mesmo de pisar sem querer o vestido da noiva, o que felizmente não aconteceu... Já tínhamos entrado na igreja, a mulher do meu primo e ele estavam no altar, e eu já estava na minha posição. A cerimónia estava prestes a acabar e tudo estava a correr bem, até ao momento em que me chamaram para ir entregar as alianças ao padre e durante esse percurso bloqueei, tive medo do padre e fugi para ao pé da minha mãe. Lembro-me como se fosse ontem, todos estavam a rir, acharam engraçado o sucedido, e a minha mãe estava envergonhadíssima, mas ao mesmo tempo não parava de rir. Até mesmo o padre não parava de rir, foi um momento bastante engraçado, até que, quando estava entre as pernas da minha mãe, teve de lá ir o rapaz que me acompanhava para me dizer que o padre não fazia mal e que estava tudo bem. No entanto, já não quis ir mais para o altar dar as alianças e dei ao rapazinho. Fiquei envergonhada e triste ao mesmo tempo, por não ter conseguido dar as alianças. Mas depois tudo correu bem, a cerimónia foi memorável não só pelos noivos, mas também pela desgraça engraçada que se sucedeu. Depois da cerimónia, fomos todos para o copo de água, onde todos estavam alegres a dançar, a cantar e a apreciar a vida, pois a vida é como um rio, passa e não volta atrás, está sempre a correr, e a única certeza que temos é do seu destino, a foz (morte), “(...) a vida/ Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa”. Portanto devemos aproveitar a vida ao máximo já que nunca vamos saber qual e quando vai ser o nosso fim.

A Minha Primeira Memória, Cláudia Cid Gonçalves, 12º1A O dicionário da língua portuguesa define memória como “tomada de consciência do passado como tal”. Mas uma memória é tanto mais do que isso. As memórias transportam-nos para outros tempos e permitem-nos reviver experiências como se mesmo do presente se tratassem... Já passa das 8 horas da manhã quando saio pela porta de casa, com três anos, debaixo do braço protetor da minha mãe e certamente ainda não pronta para enfrentar o mundo. É o primeiro dia de aulas e não sei de todo o que me espera depois de transpor a entrada de uma escola que me é estranha. O brilho do sol quase me cega no momento em que saio à rua, e sinto uma leve brisa de final de verão, que me lembra da chegada de setembro. Recordo-me perfeitamente de como me senti enquanto caminhava na direção de um futuro incerto, para um local que iria eventualmente acompanhar todo o meu crescimento, aterrorizada, mas entusiasmada graças a todas as promessas de bons tempos que me tinham sido feitas por familiares. É curioso como as memórias funcionam, mas de pouco mais me lembro até ao momento em que cheguei, ainda com a minha mãe, à porta da minha primeira sala de aulas. Por alguma razão, estava agora no seu colo, com a cara enterrada na curva do seu pescoço, evitando o ambiente ruidoso que me rodeava e fingindo que a imensidão do mundo estava limitada ao nada que observava de perto, com os olhos fechados. Ouviam-se gritos e crianças a rir despreocupadamente, sons que eram apenas sobrepostos pela voz da educadora de infância que me parecia estar a poucos passos de distância, assegurando à minha mãe de que eu estaria bem, longe da sua proteção e cuidado. Foi apenas no momento em que fui posta no chão que abri os olhos e me deparei com a realidade da situação que estava a viver. Habituada ao conforto e segurança da família, nunca me tinha sentido tão abandonada. A minha mãe, até aí a minha protetora, a minha luz, a minha realidade... virou as costas e seguiu para a saída mais próxima, evitando os meus olhos, que agora se enchiam de lágrimas. Perante o meu primeiro contacto com a independência forçada a que fui desde então várias vezes sujeita, o meu primeiro instinto foi berrar. Imediatamente comecei a correr em direção aos braços da minha mãe, o meu único refúgio neste

estranho lugar onde os pais abdicam das suas crianças e desaparecem sem sequer um “adeus”... Não me orgulho do tempo que demorei a chegar à conclusão que a minha mãe ia, de facto, voltar para me buscar dentro de horas. (As crianças de 3 anos realmente não têm a mais ampla capacidade de compreensão alcançável pelo ser humano). Assim, depois de muitas lágrimas por parte de todos os envolvidos, finalmente entrei na sala e enfrentei o que seria o meu dia a dia nos próximos anos. Este foi o início do meu primeiro dia de aulas, mas mais do que isso, foi o início de uma longa jornada que termina em breve. Chegarei ao fim do meu percurso escolar com nada mais do que memórias dos dias que me tornaram na pessoa que sou. Parece que, no final, tudo o que temos são memórias e histórias de tempos vividos. A única coisa que podemos fazer até lá é garantir que vivemos as melhores histórias possíveis.

A Minha Primeira Memória, Diana Gonçalves – 12º1A Até ao dia de hoje, a minha vida esteve sempre repleta de momentos bons. Poucas foram as situações mais desagradáveis, tristes ou chatas que atravessei. Tive a melhor infância que qualquer criança podia ter tido: adorava a escolinha, tinha uma multidão de amigos, viajei muito com a minha família, brincava, cantava e ria por nenhuma razão em especial. Basicamente, tive uma infância feliz, em que nunca me faltou nada. Por ter uma vida tão fácil e feliz, os momentos que mais me marcaram foram os piores, isto é, aqueles que saíam da normalidade do meu dia a dia. A minha primeira memória podia ser das festas amorosas que a minha mãe me organizava, com bolos ótimos em forma das personagens da Disney que eu tanto gostava, da minha primeira viagem à Madeira (tinha exatamente três anos), ou do cheiro a relva molhada dos campos de golfe da Quinta do Lago, onde passava férias. Mas não. Eu considero que a minha primeira memória é algo de que me lembro genuinamente, sem fotografias ou relatos de outras pessoas que me podem levar a reconstruir a situação na minha cabeça, podendo eu achar que me lembro quando simplesmente imaginei. Deste modo, a minha primeira memória, além de ser algo que me marcou negativamente, é também algo que nunca ninguém me contou. 9


Era mais um dia de escolinha, quando chegou a tão esperada hora de almoço, a melhor parte do dia, pois temos muito tempo para brincar no recreio. O almoço era empadão de peixe, algo que eu e a minha amiga Chloé detestávamos. Lembro-me que ambas fizemos um esforço para comer um pouco, obrigadas pela auxiliar Mónica, claro! Já todos os meninos tinham ido lá para fora brincar e aproveitar o maravilhoso dia de sol que também nos esperava. Eu e a minha amiga estávamos desejosas de a Mónica nos deixar sair, mas esta obrigava-nos a comer mais e mais. Sentia-me tão enjoada naquele refeitório abafado e sufocante, que desesperei. Sentia um ódio terrível por aquela mulher que nos impedia de ir lá para fora. Naquele momento pareceu-me que chorar e chamar a atenção das outras auxiliares era a única opção. Assim fiz, obviamente que ficaram todas preocupadas e me deixaram sair imediatamente. Mal saí, já estava toda contente e sorridente. Para ajudar a Chloé, disse-lhe: “Chora, Chora, que elas deixam-te sair”. Para meu espanto, a Mónica estava mesmo atrás de mim, ouvindome dizer tal coisa. Acabei por levar um sermão que provavelmente nunca me vou esquecer. Agora, olho para trás, e a minha primeira memória até parece um pouco ridícula, apesar de ter tido impacto suficiente em mim para ficar na minha memória para sempre.

A minha primeira memória, Diogo Miranda – 12º1 A minha primeira memória remonta ainda ao século passado e a um local que muitos diriam ser mais velho que os séculos. Numa aldeia escondida do interior, de nome Baraçal, eu observava dezena e meia de soldados a colocarem-se em sentido e a dispararem para o ar, enquanto perguntava à minha avó numa linguagem atabalhoada própria de quem ainda tem dois anos: “Eles tão a mandar pó avô David?” Soldado reformado, outrora combatente no ultramar, tinha falecido há poucos dias. Não me lembro da cara dele (apenas a conheço graças a fotografias), nem de estar com ele, mas lembro-me de ver os soldados a disparar para o ar em sua homenagem no seu funeral. Não sei como estava o tempo, que eventos ocorriam no mundo, que equipa tinha perdido no fim10

de-semana. Só sei que lá estava eu, a minha avó a darme a sua mão quente, os soldados com ar pesaroso e aquele homem a ver-me desde lá de cima, ainda não percebia bem porquê. A verdade é que a única razão que eu vejo para me lembrar de tal acontecimento, tendo tão tenra idade, foi o impacto que a morte do meu avô teve em mim sem eu sequer saber ou poder sentir. (Segundo a minha avó, ele levava-me a passear, adormecia-me e ralhava com quem se atrevesse a mandar-me parar de dançar na sua cama, quando ele lá estava, afectado pela doença, sem se poder mexer. Éramos os melhores amigos por certo e a verdade é que as suas últimas palavras, arrancadas com esforço, foram: “Só tenho pena de não poder ver este menino crescer”. E, recordando este momento penso para mim: será que o homem que não me viu crescer teria orgulho em mim? Espero que sim.)

A minha Primeira Memória, Francisco Lima – 12º2 Uma das minhas primeiras memórias foi o meu segundo ou terceiro Natal, onde já mostrava sinais de graves problemas mentais, mais concretamente a imagem que guardo das prendas que recebi, em particular uma muito especial. Assim, nessa altura, a imagem daquele homem, que sofria de obesidade extrema e que ironicamente tinha estaleca suficiente para subir até ao telhado da casa e descer pela chaminé sem ficar entalado, vandalizando o frigorífico à procura de bolachas e leite ao mesmo tempo que deixava cair um monte de caixas mal embrulhadas por todo o lado e voltar a sair não sabia bem por onde, deixava-me, a mim, uma pura criança que ainda desconhecia o significado da palavra “assalto”, num profundo estado de ansiedade pela chegada do dia 25. Lembro-me que no fim do dia 24, por volta das seis da tarde (que para uma criança de dois, três anos já são altas horas da madrugada) os meus pais disseram para eu ir dormir e como boa criança pachorrenta fui sem contestar. Passados alguns dias (à meia noite) eu lá fui acordado pela minha mãe a dizer “ O Pai Natal chegou Kiko! O Pai Natal chegou!”. Dada esta situação tão inesperada eu tinha que me compor para receber as visitas! Coloquei o

meu robe amarelo e as minhas botinhas de cetim e segui para a sala atrás da minha mãe que se estava a rir de uma situação que para mim era muito séria! Era o Pai Natal, uma pessoa ilustre, à minha espera! Quando cheguei vi um mar de presentes: uns grandes, outros pequenos, uns compridos, outros curtos, uns bem embrulhados, outros da avó... Enfim uma montanha de vermelhos e dourados para a qual, sem grandes inquietações, me dirigi e comecei a escavar. Recebi um pouco de tudo. Um aspirador com o qual me diverti imenso durante 10 minutos a aspirar a televisão até descobrir um carrinho de polícias que acidentalmente se despistou contra um teletubie ao perseguir um Action Man numa mota de água. Este espetáculo foi observado e filmado pela família em geral que via com um ar de ternura e ao mesmo tempo a pensarem “Coitadinho...esperemos que seja apenas uma fase”. Mas tudo mudou quando me deparei com um embrulho maior do que eu que me encarou com um olhar desafiador e nesse instante senti que era a minha obrigação saber o que estava lá dentro. E foi neste momento que o Natal fez verdadeiramente sentido na minha ingénua cabeça! Era um pack de 24 garrafinhas “piquininas” de água do Luso! Eu não estava em mim! Olhei para o pack das garrafinhas “piquininas” de boca aberta e de braços no ar, olhei para os meus pais e abracei o pacote e gritei “as minhas garrafinhas piquininas!”. Neste momento recordo-me de ouvir uma voz distante “ Ai não, a criança tem problemas, esta vem com defeito, tragam outra!”. Claramente a minha avó que não compreendera a felicidade na qual eu estava inundado, pois aquele pacote gigante de garrafinhas “piquininas” tinha sido a única coisa que tinha pedido para o Natal e, para não me fazer essa desfeita, os meus pais, passando uma vergonha enorme, pediram para embrulhar no Continente, literalmente, umas paletes cheias de garrafas de água. E esta é uma das primeiras recordações que guardo. Provavelmente por, nos anos seguintes, ter sido altamente traumatizante estarem sempre a referir aquele momento da revelação e a estupidez que é pedir no Natal garrafas de água. Ou se calhar porque sempre que há um almoço de família pedem sempre uma garrafinha “piquinina” de água para eu beber. Não sei, a verdade é que desde dessa altura nunca mais ninguém se calou e nunca mais fui capaz de ser o mesmo.

MEMÓRIA, Frederica Abreu – 12º2 Se pela minha própria cabeça chegava lá? Claro que não, mas vim a saber que foi em outubro de 2000. Ao longo destes meus 17 anos, já me pus a pensar muitas vezes nos meus dias vividos em Macau para tentar perceber se me lembro de alguma coisa, momento, minuto, viagem, passeios, e nada. Nem do regresso para Portugal. Mas engraçado, lembro-me de algo que aconteceu dois meses depois. Esta grande memória, 14 anos depois, ainda a carrego comigo. Por mais cliché que soe, foi o dia em que fomos buscar o nosso cão, Kofi. Dia de chuva inacabável, e um frio tremendo, estávamos a minha mãe, os meus dois irmãos e eu do lado de fora de casa da Tia Zé, eu tinha uma gabardine branca, ou encarnada, e acho que não tinha muita noção do que estava prestes a acontecer. Os nossos pés entram nesta casa, e os nossos olhos deparam-se com ele, pontiagudos, olhos matadores, dentro de uma caixa amarela. Sim, este cão, que me chegava a meio das canelas, não fazia mal a uma mosca, estava assustado com o facto de estarem seis crianças a olhar para ele, um salsicha amedrontado, e eu, que era uma criança, tinha uma mente muito fértil, tal como o meu irmão. O Lourenço e eu, (imagino que seja por sermos os mais novos) estávamos apavorados e fomos a correr para a cozinha, nem demos hipótese ao coitado. Ainda demorei uns dez minutos, mas lá quebrei esta “barreira” que nos separava e juntei-me ao Rodrigo, eu olhava para ele como se fosse um alien. Estive assim algum tempo até que fiquei vidrada. Só depois é que o Lourenço teve a coragem de se aproximar, e ainda assim com aquela distância de segurança. Sou a primeira a dizer que nos anos que se seguiram, lá em casa eu era a pessoa mais antipática e má para este cão. Não lhe ligava nenhuma, não tinha a mínima paciência quando ele começava a ladrar, e a quantidade de pontapés que lhe dei para o afastar do meu corpo (coisa que mais me custa pensar hoje em dia) é impressionante. Aquele medo que no tal dia tive passou de tal maneira que mais ou menos 7 anos depois chegou a Cookie lá a casa (agora no Brasil), e no ano seguinte, já tinham 2 filhas, a Brownie e a Crispi, é uma família feliz que aqui está em Portugal, com todos os membros, ligeiramente mais velhos. Agora com 17 anos, vejo o Kofi com os olhos

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brancos, mal consegue andar quanto muito correr, subir escadas nem se fala, ladrar não passa de um gemido, e aquele pelo castanho escuro misturado com castanho claro agora também tem misturada uma boa quantidade de pelos cinzentos esbranquiçados, comer ração agora é só com uma gota de leite misturada. Sim, é uma verdade, todos envelhecemos, mas ver aquele que tanto se diz ser o melhor amigo do homem, e que cresceu comigo neste estado custa muito. Há sete, seis anos não lhe ligava nenhuma e ele “não gostava de mim”, porém, hoje, reparo que sempre que estou no sofá vem ter comigo e senta-se ao meu lado com necessidade de festinhas, levanto-me para ir a qualquer sítio, vem comigo, quando chego a casa, é o que mais festa me faz e o que fica mais tempo comigo à espera de uma grande quantidade de atenção. As coisas mudam, e nós crescemos. Aquilo que mais me impressiona é que ele nunca me abandonou ou se “chateou”. Eu sempre fui a que pior lhe o tratei na sua juventude, e hoje em dia ele está sempre comigo. Parece que me desculpou, ou que simplesmente ignorou a maneira como eu o tratava, e é isso que eu acho incrível nestes animais, nunca nos abandonam. Todos os dias penso durante um tempo como será o dia em que isto acabar, a reação, os dias seguintes, como vão ficar as cadelas, como é que vai ser tudo. No fundo o Kofi esteve comigo praticamente a minha vida toda, e nesta família esteve estes anos todos, já estamos mais que habituados, e tocou-nos a cada um de nós de uma maneira diferente. É um membro crucial na nossa família. Portanto, sempre que penso nisto acabo a olhar para ele e não chegar a conclusão nenhuma, e o pior é que eu sei que esse dia já esteve bastante mais longe. Esta memória aqui está comigo, cada vez mais velhinha como tudo no mundo, mas é cada vez mais importante e mais significativa na minha vida.

Gaveta das coisas fantásticas, F. Tinha eu dois anos, (idade que deduzo, pois apenas estive naquele local num curto período de tempo e concluo assim que é a minha memória mais antiga), e encontrava-me na cozinha do apartamento da minha avó. Uma divisão estreita, mas muito longa e toda em brilhantes tons de branco, onde, quase como se lá pertencesse, se encontrava no centro, uma figura alta, esguia e atarefada que suponho eu que fosse a minha avó. Nessa cozinha, lembro-me em especial de uma 12

gaveta que me trazia grande entusiasmo só pela ideia de ver os seus conteúdos. Era onde se guardavam os instrumentos de cozinha desde a cápsula metálica onde se punham as folhas de chá, até a instrumentos que ainda hoje me interrogo acerca da sua utilidade. Escusado será dizer que na altura, para mim, era apenas uma gaveta atafulhada de geringonças que mais pareciam brinquedos. Lembro-me que, por mais que tivesse outros entreténs, aquele era o lugar de toda a casa que mais apelava à minha infantil curiosidade e interesse. Mas o que mais é intenso na minha memória, é a doce voz da minha avó que alegremente e de uma maneira de certo modo encorajadora dizia: “Lá vai o meu neto mexer na gaveta das coisas fantásticas”.

A Minha Primeira Memória, jl - 12.1A Neste momento tenho 17 anos, não me posso queixar da minha sorte na vida, considero-me bastante afortunado por tudo o que tenho. Tive uma infância alegre e feliz, segundo o que me lembro, mas principalmente tenho essa ideia devido a todas aquelas emocionantes histórias que nos são contadas pelos nossos pais. Sinceramente, não faço ideia de qual é a primeira memória que tenho, nem lembrada por mim mesmo, nem me dita pelos meus pais. Tenho sim uma coisa que me marcou bastante, e que ainda hoje em dia tenho saudades. Deste pequeno tenho uma certa paixão por tecnologia, sempre tive curiosidade sobre todos aqueles mecanismos que desconhecia. Os meus pais aperceberamse disso ainda eu era um miúdo com 5, 6 anos e decidiram oferecer-me um gameboy, a mais recente consola portátil da altura! Segundo os meus pais, ao abrir a caixa, os meus olhos brilhavam do prazer que eu antecipava ter com aquele pequeno brinquedo. Para mim, aquele pequeno brinquedo era o meu melhor amigo, como ainda não me tinha habituado a toda aquela realidade da escola, eu dedicava todo o meu tempo fora da escola ao gameboy. A minha rotina, nessa altura, seria acordar, ir para a escola, jogar durante os intervalos na escola e chegar a casa e jogar até ir dormir, e não me cansava disso, por outro lado, adorava e era extremamente feliz assim... Lembro-me daquela sensação de ser um rapaz inocente e realmente adorar cada segundo que tinha a consola nas mãos. Decidi escrever sobre sobre este pequeno e maravilhoso brinquedo por uma razão apenas, há uns dias, estávamos em arrumações e deparei-me com o gameboy,

logo de seguida surgiu em mim um sorriso nostágico de saudade, uma sensação estraordinária. A seguir vieram as caixas do jogos, e surpreendentemente ao ver cada caixa ia passando pela minha mente imagens daqueles jogos e aí sim, senti mesmo aquela saudade apertada daqueles bons tempos. Espero conseguir conservar o gameboy para que um dia, quando eu tiver filhos, estes tenham a possibilidade de desfrutar de alguns bons momentos proporcionados por este brinquedo que me alegrou bastante a infância.

a nossa música e começou a dançar para mim. Não consegui evitar não me rir e ir a correr ter com ela, com um sorriso do tamanho do mundo, e dar-lhe um abraço. Como era de esperar, a birra já estava mais que esquecida e a minha irmã já era a minha melhor amiga outra vez. Assim ficou, a primeira preparação do Natal, como a minha primeira memória. A tarde em que passei de tristeza e irritação a pura alegria com uma simples dança ao som de uma música latina, à frente de uma lareira, no quentinho e com as pessoas de quem mais gosto.

Tarde de Meninas, Mafalda Seabra 12º1ª

UMA MEMÓRIA DE INFÂNCIA, Mafalda Nunes – 12º1B

A minha primeira memória… A primeira vez que tive noção do que estava à minha volta, provavelmente, foi a olhar para a minha mãe ou a brincar com a minha irmã ou até simplesmente a olhar para o meu peluche preferido. Não me recordo da primeira, há tantas que saber a sua ordem cronológica é impossível. Só sei que uma delas me foi tão importante, que agora a considero como a primeira. Deveria ter por volta de cinco ou seis anos, não sei ao certo. Só sei que era bastante pequena, tanto que a minha mãe de um metro e cinquenta me parecia a mulher mais alta do mundo e dar-lhe beijinhos era tarefa impossível. Estávamos a poucas semanas do Natal e, assim como todas as famílias, a minha começou a pôr os efeitos pela casa. Eu, a minha irmã e a minha mãe, como sempre, a partir desse ano, é que púnhamos a casa no seu total espírito natalício, sempre acompanhadas com música, alegria e diversão. De todas as coisas que púnhamos pela casa, a árvore era claramente a mais importante. Adorava... Claro, as bulhas e gritos com a minha irmã sobre quem ia pôr a estrela em cima da árvore aconteciam todos os minutos, mas neste ano quem pôs... foi ela… Fiquei tão triste… Era o que mais queria, lembro-me de depois ter ficado amuada e de me ter ido sentar no sofá, de braços cruzados, decidida de que já não ia ajudar mais nas preparações. Queria “castigar” a minha mãe por ter feito uma decisão, a meu ver, errada, como se uma pirralha daquele tamanho fosse chegar a algum lado com uma birra. Como era de esperar, a minha mãe não ligou, mas não se esqueceu do facto de colocar uma estrela dourada no topo da árvore poderia ser das coisas mais importantes para mim e que não o fazer me poderia causar uma angústia profunda. Portanto, ela colocou uma música especial, “Bamboleyo”,

Estávamos no ano 2000, o dia já não me recordo bem, mas sei que era inverno, pois a chuva corria pelas janelas e o frio entrelaçava-se nas nossas peles, numa suave, mas cortante brisa. Tinha acabado de acordar e, como sempre, ia a correr para o quarto dos meus pais e deitava-me na cama, para aproveitar os últimos minutos antes de me ir vestir e de ir embora para as aulas. Muitos não sabem, mas tenho dois irmãos, uma irmã mais velha e um irmão gémeo. E esta memória passase com ele, uma vez que fazíamos tudo juntos, porque hoje já não é bem assim. Íamos os dois a correr, desejosos de dormir mais um pouco, para ver e viver mais nos nossos sonhos, quando demos por nós a brincar um com o outro. A brincadeira baseava-se na “luta” pela cama, ou seja, um de nós , que por acaso era eu, estava em pé na cama e não podia deixar o outro subir para lá. Estava a ser divertido, até que ele se magoou numa das mesas de cabeceira e partiu a cabeça e a suposta brincadeira acabou no hospital. Não sei porquê, mas esta é a primeira memória da minha vida que me lembro, pelo menos aquela em que tenho a perfeita noção de como tudo se passou. Pode não ser a mais feliz, mas para mim é, sem dúvida, uma das mais felizes, porque basta ouvi-la que o meu coração se enche de alegria e saudade desses tempos de criança.

A minha primeira memória, Margarida Leão – 12º1B Ainda me lembro da nossa viagem a Cabo Verde… Ou melhor, da viagem não me lembro, ninguém

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com dois ou três anos se lembraria de algo tão banal… Mas lembro-me da nossa aventura! Os raios de Sol entranhavam-se na nossa pele, o que aos outros proporcionava uma enorme satisfação e um bronzeado fantástico e a mim me implantava um enorme escaldão e um ardor horrível (apesar de andar sempre besuntada em protetor solar). Lá íamos nós, dunas abaixo, num jipe do tempo da guerra (certamente a condução não seria muito diferente), verde escuro e ferrugento, com o meu tio ao volante. O jipe descia colina abaixo aos trambolhões, o meu pai ia no banco de trás a refilar com a falta de condições básicas de segurança da carroçaria e lá íamos nós a saltitar, presos apenas pelo facto de estarmos seis pessoas em três bancos e a bater com a cabeça no teto do carro de vez em quando. O ânimo reinava entre os mais novos… O meu irmão com sete anos ia superexcitado a debitar tudo o que sabia sobre o jipe e sobre Cabo Verde e a falar com o meu tio sobre mecânica, eu e os meus primos, eu com três anos, o meu primo com dois e o mais novo com apenas um ano íamos ao colo dos nossos pais a rirmos com os solavancos da areia e a “cavalgar” naquela terra longínqua. No meio daquela animação, sentimos o carro a tropeçar num enorme monte de areia e o pânico e o silêncio reinaram. O carro berrou, berrou e após tanto esforço e cansaço, acabou por ir a baixo. O meu tio deu à chave, tentou sair de lá usando a primeira mudança… As rodas patinaram, patinaram e nada! Ligou o carro outra vez, desta vez tentou de marcha atrás, barulho lá o carro fez, mas nem um centímetro andou. Estávamos presos no meio de um país desconhecido sem soluções à vista… Nós, as crianças, estávamos enjoados com aquele fedor a gasolina, fartos de esperar e, claro, impossíveis de aturar… E os adultos a refilar com o meu tio por estarmos atascados na areia. No meio daquela exaltação, o meu tio mandou-nos, a mim e ao meu irmão, apanhar plantas para pormos de baixo das rodas do jipe. Foi essa a melhor parte da nossa aventura! Lembro-me tão bem da minha felicidade ao ir a rebolar duna abaixo, apanhar as flores mais cheirosas que encontrei, voltar a saltitar até ao carro e pôr as flores por baixo das rodas… Infelizmente a nossa brincadeira foi sol de pouca dura e quando nós estávamos prontos para mais umas horas a brincar, o carro conseguiu escapar

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da areia, o nosso tio mandou-nos entrar e seguimos viagem, desta vez com as crianças desanimadas por lhes terem tirado a brincadeira e com os adultos a pregarem que nunca mais iriam andar de jipe nas dunas com o meu tio. Para contrastar, o meu tio, sendo ele doido por clássicos ou por “carros velhos” como nós lhes chamávamos, ia todo feliz da vida com a nossa grande aventura e todo orgulhoso da nossa vitória, não entendendo o descontentamento de todos os outros… A nossa aventura acabou aí, mas a memória deste dia perdurou nas nossas vidas ao longo de anos e anos e este foi um dia realmente inesquecível para cada um de nós, seja pelo stress ou pela alegria, a verdade é que este momento foi guardado na memória de cada um de nós até hoje… E agora, através da escrita, até que o papel perca a tinta…

A primeira memória, P. Tinha 5 anos, estava assim, no primeiro ano da escola básica. Era janeiro e estava um esplêndido dia de sol e a seguir ao almoço eu e a minha turma estávamos a jogar aos “polícias e ladrões”, um jogo que na altura estava na “moda”. Enquanto eu fugia de um “polícia”, a minha irmã estava a jogar às cartas com um amigo, deitada no chão, ela estava no segundo ano sendo que é um ano mais velha que eu. Acho que medi mal a distância ou alguma coisa parecida mas quando ia a saltar por cima do amigo dela, pois iria encurtar a minha fuga tropecei e torci o pé. Eu realmente não sei o que aconteceu só me lembro que de repente tinha uma dor enorme no pé e não o conseguia mexer. Escusado será dizer que o meu tornozelo ficou do tamanho de uma bola de ténis e o colégio levou-me para o antigo hospital de Cascais. A Rosa levou-me ao colo para o táxi, e eu não era propriamente leve, assim fui para o hospital. A minha mãe foi lá ter, eu dei entrada no hospital por volta das 15h da tarde e apenas sai de lá por volta das 21h da noite, isto, claro, devido à fantástica organização que o hospital de Cascais tinha. A escola facultou-me umas muletas para poder usar durante a minha recuperação e, sim, no hospital disseram-me que tinha feito uma rotura de ligamentos. Evidentemente que ter de usar muletas pela primeira vez não é fácil e ainda por cima em pleno inverno só me veio dificultar a vida, havia dias bastante

chuvosos e cheguei a escorregar várias vezes, incluindo uma vez em que estava ao pé do bar e meti mal uma das muletas e caí, na altura até parecia que estava a cair em câmara lenta, mas não, acabei por aterrar de cotovelos no chão. A minha mãe, nesse mesmo dia, levou-me a um centro de fisioterapia e recuperação, que cheirava a barro, para me porem gesso no pé, dado que era demasiado nova e estaria sempre a cair e estar sempre a cair só me iria piorar ainda mais a lesão. Mas também ter torcido o pé não trouxe só coisas más! No dia de carnaval, a escola estava a organizar um “desfile” pela avenida de Sintra com todos os alunos do primeiro ciclo, tendo como destino juntarmo-nos todos numa praia de Cascais. Se eu fosse de muletas pela avenida toda não só demorava meio século a descer, como “morria” a meio, então, como a minha mãe não me quis privar de nada, levou-me num carrinho de bebé a avenida inteira e assim pude ir com os meus amigos. Tive de estar 2 meses com o pé engessado e depois de o retirar ainda tive de fazer fisioterapia, pois não fazer qualquer movimento ao pé durante tanto tempo tinha-me debilitado bastante o tornozelo. Esta foi a primeira vez que eu torci um pé, mas não foi a última... Espero que nos próximos tempos não vá ter mais nenhuma lesão.

Quanto valem as minhas memórias?, Sara Costa – 12º1B Já faz algum tempo desde a minha primeira memória, era eu tão pequenina, ainda não sabia nem metade do que estava à minha espera, vivia na inocência do momento. Na minha opinião, vivia num mundo isolado de princesas e bonecas…Não posso dizer que a infância foi o melhor momento da minha vida, mas foi sem dúvida um momento de paz e alegria, sem preocupações nem lamentações, simplesmente vivia… Tinha a minha vida encaminhada pelos adultos ao meu redor. As únicas preocupações que tinha eram as de ter a certeza que as minhas bonecas estavam bem e de ver os Teletubbies, que era o que eu mais gostava de ver quando era pequena...Ai…que saudades que tenho desse tempo…lembro-me tão bem…todos os dias ia para casa da minha tia, quem tomava conta de mim até os meus pais chegarem, sentava-me na cama da minha prima e ligava a televisão, tinha eu 3 anos e já ligava a televisão no canal certo! Ia buscar um

pano da cozinha, sentava-me e esperava que a minha tia trouxesse a tacinha de fruta, e claro que eu comia sozinha! Já nessa idade, tinha vontade de ser independente… Pegava no garfo e ia saboreando os variados pedacinhos da fruta, que a minha tia, com todo o carinho, cortava. Lembro-me de o pano que usava estar sempre húmido…Lembro-me também, de pensar para onde os meus pais iam quando me deixavam, a minha tia dizia que eles iam trabalhar para ganhar “tostões”, mas o que eu queria saber era mesmo o que eles iam fazer e porque não podia ir com eles... Depois de comida a salada de fruta, eu deitava-me, a minha tia tapava-me com uma manta muito quente e eu agarrava-me ao meu “óó” a ver os Teletubbies até adormecer, porque todos os dias eu gostava de fazer a sesta... Seria tão bom regressar a esse tempo…tempo de descanso… Digo isto, mas também tive alguns percalços! Lembro-me tão bem…Estava deitada na cama da minha prima, como de costume, acabadinha de acordar e ouvi barulho lá fora, porque o quarto da minha prima tinha uma janela para a rua, então fiquei muito assustada… Como era muito pequenina, demorava a sair da cama, para mim ela era alta demais, mas eu lá me arranjava…Depois de conseguir descer da cama com muito esforço, dei uns cinco passos muito silenciosos e aproximei-me do cortinado que separava o quarto da minha prima do hall de entrada, agarrei num dos lados do cortinado e espreitei para ver se via alguma coisa de estranho, como não vi nada, avancei para o hall e fui procurar a minha tia no resto da casa, sempre com muita cautela, sempre muito atenta a todos os barulhos. Procurei-a depressa, porque a casa era pequena, mas infelizmente, não a encontrei… Esperei e esperei…Até que comecei a pensar no que lhe podia ter acontecido, podia ter sido raptada e eu tinha que a ir salvar! Fui direitinha à porta, com toda a coragem do mundo agarrei na maçaneta e virei-a para a esquerda para a abrir, mas a porta não abria! Como podia isso ser?! Teria a minha tia desaparecido e eu ia ficar ali trancada para sempre? O que me iria acontecer? Seria também eu raptada? Corri para o quarto da minha prima, subi, novamente com muito esforço, para a cama e tentei acalmar-me. Espreitei pela rede da janela, mas não via ninguém na rua, o que é que eu ia fazer? Comecei a desesperar…Mas

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aguentei as lágrimas, uma menina forte não podia chorar por uma coisa destas, tinha que ser corajosa, por isso acalmei-me, fui à casa de banho para tentar beber água, mas tudo estava muito longe das minhas mãos, por isso fui à cozinha buscar alguma coisa para comer, com todo este alvoroço, já estava cheia de fome! Depois de pegar no pacote das bolachas maria e no iogurte, voltei para o quarto e desta vez decidi sentar-me no tapete. Claro que este tempo todo me pareceu uma eternidade, nessa idade ainda não tinha noção do tempo… Talvez fosse bom não ter noção outra vez… Enquanto degustava o meu danoninho de morango, ouvi uns barulhos na rua e não liguei, mas os barulhos começavam a ficar cada vez mais audíveis, cada vez mais perto, até que o meu coração recomeçou a sua corrida, parecia que me ia saltar do corpo! De repente, os barulhos pararam, e ouvi algo a mexer na porta…Não podia ficar assustada, por isso corri para a porta cheia de coragem, mas escondida atrás da mesa que tinha a máquina de costura da minha tia, e eis que a porta se abriu! Era a minha tia! Finalmente tinha chegado! Claro que depois lhe fiz muitas perguntas, mas nunca lhe disse que tinha tido medo! Depois de ela me responder a todas as perguntas (e não, ela não foi raptada), fui para a sala e sentei-me no sofá a brincar com as minhas bonecas até o meu pai chegar. Tenho saudades de passar os dias em casa da minha tia, de lá brincar sossegada... Saudades de comer a “pápápápa” das vizinhas... Saudades de correr na praceta e não ter que estar atenta para ver se algum carro vinha... Saudades de jogar futebol e de andar de bicicleta naquela praceta... Saudades até de ver as galinhas e os coelhos que a minha tia tinha... Mas a vida continua e o tempo passa, às vezes passa a correr outras vezes passa…e passa… e passa…mas nunca passa…A vida é aquilo que fazemos dela e as memórias ficam no passado, claro que é sempre bom recordar, voltar a viver, sentir o que sentimos nunca mais vamos sentir, mas fingir que sentimos, enganarnos a nós próprios e pensar que sentimos por vezes é tão bom…Devemos guardar todas as memórias, tanto agradáveis como tristes, porque todas elas ajudaram a ser quem somos e são elas que acarretamos para o resto da vida. Por mais memórias que tenhamos, temos que nos concentrar no presente, porque o futuro a Deus pertence!

A minha Primeira Memória, Teresa

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Silveira – 12º1A A minha primeira memória deverá ter acontecido quando tinha pouco menos de 3 anos e por isso não é assim muito longa. Ainda vivia em casa da minha avó e lembro-me de estar num quarto escuro, no meu antigo berço, com apenas um bocadinho de luz a entrar pela janela, sendo que o facto de estar sozinha e acordada era estranho, pois quando era pequenina não gostava de adormecer sem companhia por perto. Talvez por esta razão também me lembre de me sentir irritada, pois além de me sentir sozinha, tinha a perfeita noção do que as pessoas estavam a fazer (a casa da minha avó não é muito espaçosa e, apesar de estar no primeiro andar, conseguia ouvir a voz e os movimentos das pessoas no andar inferior), dando-me mais motivos para não conseguir adormecer. Apesar da minha irritação ter feito com que este momento parecesse durar muito mais do que deve ter demorado, tal como todos os bébés , devo ter começado a chorar, já que a seguir a ouvir o que se passava no exterior do quarto onde estava, não me recordo de mais nada, sendo que isto apenas deverá ter demorado uns 5 a 10 minutos.

las já que o meu pai me prometeu que me ia comprar carrinhos novos. O mais irónico disto tudo, é que à tarde, vieram uns amigos dos meus pais, que têm um filho exactamente da mesma idade que eu, tomar chá, e ela gostou tanto das minhas calças que perguntou à minha mãe onde é que ela as tinha comprado, porque queria comprar umas iguais para o filho dela. Esta é a minha primeira memória, muito provavelmente despoletada pelo horror que eu tive àquelas calças.

A minha primeira memória, Tomás Saraiva, 12º1B A minha primeira memória, ou pelo menos aquela que eu acho que é a minha primeira memória, ocorreu num sábado em que os meus avós paternos vieram almoçar à minha casa. Naquele sábado, assim como em todos os outros que eu me lembro, a minha mãe veio-me acordar. Fui tomar o pequeno-almoço e depois fui tomar banho. Como os meus avós vinham cá, a minha mãe veio-me “arranjar”. Depois, voltei para o meu quarto para me vestir. Foi então que eu vi aquelas calças… umas calças, que na minha opinião, eram horríveis. Aquelas calças tinham sido compradas pela minha avó, e ao que parece, não tinham sido baratas, e portanto a minha mãe quis que eu as vestisse para mostrá-las à minha avó. Eram umas calças um pouco coloridas: eram brancas com várias riscas verticais encarnadas e azuis. Eu, naturalmente, não as queria vestir, e por isso, como todas as outras crianças fazem, fiz uma birra. A minha mãe ficou muito aborrecida e tentou-me explicar porque é que eu tinha de as vestir. Porém, eu não queria compreender, mas acabei por vesti17



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