Collapse Underground Art #01

Page 1

UNDERGROUND ROCK REPORT - 1


PRÉ-VENDA

CASTIFAS Bloodlust and Hate

CROWN OF SCORN Agenda 21

Heavy Metal

Banda de abertura Nargaroth e Marduk

Black Metal

R$16,00

Thrash Punk

Death Trabalhado - Imp. USA

PRÓXIMOS RELANÇAMENTOS

OUTROS TÍTULOS DISPONÍVEIS

WWW.BLACKLEGIONPROD.COM/SHOP WWW.FB.COM/BLACKLEGIONPROD +55.024.9974.1934

ATOMIC BOMB Metal Selvagem

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS

CAMUS Heavy Metal Machine

2 - UNDERGROUND ROCK REPORT

+55.024.3321.1333

Agora você encontra os títulos BLP na


EDITORIAL

ÍNDICE

Notícias Página 4 Capa Shadows Legacy Páginas 6, 7,8 e 9 Entrevista Zargof Páginas 12, 13 e 14 Entrevista Devachan Páginas 16 e 17 Entrevista Noturnall Páginas 18 e 19 Entrevista A Ferramenta Páginas 20,21,22 e 23 Arquivo Galneryus Páginas 24 e 25 Entrevista Certo Porcos! Páginas 26 e 27 Entrevista Sakrah Páginas 28, 29 e 30 ... ao caos... Panda Reis Página 32 Especial Uma introdução a história do Blues Páginas 33, 34,35 e 36 Entrevista D.I.E Páginas 38,39, 40 e 41 Entrevista Morfolk Páginas 42 e 43 Entrevista Primator Páginas 44 e 45 Releases Páginas 46, 47, 48 e 49 Entrevista Marenna Páginas 50 e 51 Arquivo Basttardos Página 52 Entrevista Super Sonic Brewer Páginas 53, 54 e 55 Entrevista Hammurabi Página 56 Arquivo D.A.M. Página 57

CAPA

O Rock nosso de cada dia!

Editorial Página 3

P

odem procurar em qualquer lugar, sempre haverá uma menção ao rock como um estilo marginal, surgido a partir do Blues, Country e do Jazz, e era a voz e uma forma de manifestação artística dos jovens lá pelos anos de 1950. Claro, como tudo neste mundo, o Rock cresceu, se fundiu com outros estilos, e mesmo com o estigma de música ruim, provou ao longo do tempo que veio para ficar. Se dividiu em diversos gêneros e subgeneros, e espalhou sua semente por todo o planeta. Sendo interpretado nas mais diversas formas e criando uma infinidade de termos para justificar cada uma das modificações e cada crescimento musical, já que ao longo do tempo, muito de outros estilos musicais foram sendo incorporados, dando ao Rock uma abrangência infinita e dando a cada um, sua maneira de se expressar através de guitarras, teclados, bateria, baixos e vozes, muitas vozes. Trazendo ao nosso dia a dia tanto diversidade e tanta criatividade que podemos afirmar que o Rock revelou ao mundo muitos mais talentos que qualquer outro estilo musical. Desde os muito criativos que aperfeiçoaram sua arte em seus guartos e Expediente

garagens, até os mais aplicados, que ousaram tornar aquela música marginal motivos de estudos, dando ao Rock, de uma forma geral, status academico. Podemos ver hoje, que a indústria rocker movimenta uma soma incalculável de dinheiro pelo mundo, seja em pequenas tournes ou nos grandes espetáculos que giram pelo planeta, além de produtos consumidos por todos os apreciadores, sejam eles camisetas, posteres, CDs, DVDs, jaquetas, calças, calçados, e se formos a fundo veremos que tudo que for industrializado em qualquer parte do mundo tem a sua parcela de Rock nela. Quem não se lembra do saudoso Dimebag Darrell, sendo velado em um caixão da banda Kiss? Aliás, o Kiss é uma verdadeira indústria rocker, ode qualquer produto pode ser encontrado ostentando a logomarca Kiss. De todas as grandes conquistas relacionadas ao Rock, a maior talvez seja a de ser atemporal, de se moldar a realidade como ela se apresenta, e migrar pelas suas diversas faces buscando sempre co-existir e se aperfeiçõar. Sobre “a música marginal”, lá no fundo, nós, bem que gostamos disso!

Editor responsável: JP Carvalho - Jornalista Responsável: Laryssa Martins MTb: 52.455 Colaboradores nesta edição: Marcos Garcia, Vlademir Gonzales, Panda Reis, Alan Cavalcanti, Julie Souza, Gisela Cardoso, Leandro Fernandes e Charlie Curcio. A revista Collapse Underground Art é uma publicação digital, de atualização permanente. O conteúdo editorial é produzido pela equipe de redação e as imagens cedidas por representantes ou assessorias de imprensa. Todo o conteúdo é protegido pelas leis que regulamentam o Direito Autoral e a reprodução (de parte, ou completa) das matérias. As matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem a postura ideológica da publicação. Envie sugestões, comentários e críticas para a revista: E-mail: rrraicttuff@yahoo.com.br ou para Rua Nilo Luis Mazzei, 66 - Vila Guilherme - São Paulo - SP - CEP: 02081-070.

Shadows Legacy Indo direto para o inferno Calma amigos! O termo foi usado como uma alusão ao título do mais recente trabalho do Shadows Legacy, You’re Going Straight To Hell. Claro, que este é um trabalho de proporções gigantescas e se coloca, ao meu ver, na linha de frente dos grandes lançamentos produzidos em nosso país, deixando claro aos que ainda insistem em dizer que no Brasil não se produz material de qualidade, que aqui sim, se produz trabalhos como este e muitos outros, que fazem frente a qualquer outro lançadoem que que parte for deste enorme mundo em que vivemos. Como eu já disse na matéria, sou fã de carteirinha dessa banda Campo-Grandense que mesmo fazendo uso de uma fórmula antiga, consegue trazer aos nosso ouvidos toda a grandeza e a majestade do Heavy Metal em sua mais pura essencia. Mais do que justificando a matéria de capa. E nesta edição ainda temos Zargof, Devachan, Noturnall, a Feramenta, Certo Porcos, Sakrah, o seminal D.I.E., Morfolk, Primator, Marenna, Basttardos, Super Sonic Brewer, Hammurabi, D.A.M. o representante do Power Metal japones Galneryus, além de uma vasta introdução a história do Blues, ou seja informação para todos os gostos. Espero que se divirtam. Boa leitura!

UNDERGROUND ROCK REPORT - 3


NOTÍCIAS foi produzido pela renomada produtora CS Music Videos.

THE MIST omo parte das comemorações de seus 35 anos, a Cogumelo lançará neste ano de 2015 os títulos da banda The Mist em formato CD. Ainda sem data para os lançamentos, as capas serão novamente scaneadas e receberão tratamento digital (o mesmo empregado na capa da coletânea Warfare Noise). Não se tem informações mais definidas sobre os conteúdos de cada CD, ou seja, se contarão com bônus ou se serão apenas os sons respectivos. Mas, um trabalho intenso de recolher quanto mais informações da banda mineira possível, está sendo feito já há mais de dois meses. Fãs, se preparem que a produção será grande e honrará suas expectativas!

C

COLDBLOOD recepção do mais recente trabalho do COLDBLOOD, ‘Chronology Of Satanic Events’, não foi positivo apenas na América Latina. O trabalho foi amplamente bem recebido na Ásia. Prova disso é que o selo da banda no continente, Bhumidhuka Productions, lançou, além do merchandise básico (camisetas, tape, adesivos, etc), capinhas para celulares e tablets de marcas como Apple, Samsung, Oppo, HTC, Nokia, etc. ‘Chronology Of Satanic Events’ foi lançado no ano de 2013 e mais uma vez mostrou o poderio do COLDBLOOD, entre citações de melhor disco do ano, o renomado New Horizons Zine foi direto: “um dos melhores de todos os tempos feito aqui!”. Deste disco também foi retirado um videoclipe para a faixa ‘Metastasis (Christ)’. O vídeo

A

LUIS KALIL altando pouco para o lançamento de seu álbum de estreia, o guitarrista Luis Kalil libera uma das músicas para audição. A escolhida para mostrar um pouco do trabalho foi “The Chase”, sexta de um total de oito faixas. Recentemente o guitarrista anunciou a participação de dois grandes vocalistas do Metal Nacional, Edu Falaschi do Almah e Iuri Sanson do Hibria. Sob o título de “Insight”, o álbum também conta com uma equipe técnica de renome: o guitarrista Renato Osorio como produtor e o baixista Benhur Lima na mixagem e masterização, ambos também do Hibria.

para o primeiro semestre. Logo o Individual apresentará mais informações sobre o trabalho, além de uma data concreta de lançamento. Formada no ano de 2012, a banda Individual busca acrescentar ao seu Death Metal, doses extras de peso, mesclando velocidade e cadência e técnica apurada. Com seu primeiro single, ‘Blindfolded’, de 2013, o grupo conseguiu chamar a atenção dos fãs de Metal Extremo.

F

INDIVIDUAL irme na finalização de seu primeiro EP oficial, o Individual anuncia o título do vindouro trabalho. Batizado pelo guitarrista Carlos Deloss, o EP representa bem o que estamos passando nos dias de hoje: ‘Worst Case Scenario’ ou pior cenário possível em tradução livre. O próprio guitarrista explica que, assim como as letras do álbum, vieram da situação atual que vivemos e por tudo o que acaba acontecendo. Em suas palavras: “Você acha que pode estar preparado para o pior, mas às vezes ele é muito pior do que você imagina. As letras são bem realistas e pessimistas, baseadas em experiências pessoais que eu tive.” ‘Worst Case Scenario’ está sendo gravado no estúdio Casanegra com produção de Rafael Augusto Lopes e está previsto

F

4 - UNDERGROUND ROCK REPORT

SISTEMA SANGRIA Hardcore impiedoso do Sistema Sangria será uma das atrações da sétima edição do já tradicional festival Máquina Profana em sua sétima edição. Organizado pelo site que leva o mesmo nome, o Máquina Profana Fest 7 acontece no dia 18 de abril no Formigueiro Rock, no bairro de São Matheus, com entrada por míseros R$3,00 para homens, mulheres têm entrada free. Além do Sistema Sangria, completam o lineup do festival as bandas Cerberus Attack , Cranial Crusher , Mørgårøth e Febre do Rato. O Sistema Sangria promove seu álbum de estreia, ‘Sistema Sangria’, que foi confirmado seu lançamento em formato CD. O álbum, produzido por Marcello Pompeu e Heros Trench, será relançado com uma nova arte de capa. Para este relançamento, além do álbum, o CD contará com as músicas do 4-Way-Split, a música do tributo ao Ratos de Porão e a música do tributo ao Nitrominds. O trabalho contará com 29 faixas e previsão de lançamento para março.

será relançado no Brasil e também ganhará uma versão chilena. No Chile, o trabalho será lançado pelo selo Australis Records. Já em nosso país o lançamento será feito em uma parceria entre os selos Poluição Sonora e Black Legion, ressaltando que desta vez o disco ganhará encarte e a tradicional caixinha acrílica, diferentemente da versão em SMD da primeira tiragem. Lançado em julho de 2011, ‘Distilling Hatred’ mostrou um Oligarquia renovado, mesmo que calcado em seu característico Death Metal Old School, pudemos ver a instituição do Death Metal nacional mergulhando em sonoridades mais técnicas e abrangentes.

O

OLIGARQUIA O mais recente álbum do Oligarquia, ‘Distilling Hatred’, já está esgotado há algum tempo, o que mudará em breve. O trabalho

METALIZER momento ainda reserva o lançamento do próximo disco, está na fase final da produção do segundo disco, intitulado Your Nightmare. Novas informações e maiores detalhes de mais este petardo do Metalizer começam a ser desvendados, a Black Legion Productions vem mantendo a tradição de lançar bandas do cast, e este petardo será mais um a ser inserido nos próximos lançamentos. A capa segue com o mesmo profissional que trabalhou com a banda no debut Thrashing Force, se trata de Fernando Lima da banda Drowned. A banda descreve que com este profissional, consegue alcançar os pedidos realizados de forma perfeita, embora esta capa ainda tenha algumas alterações superficiais. Banda adverte: “Seus maiores pesadelos reunidos em mais um autêntico exemplar do Thrash Metal Nacional. Your Nightmare, segundo álbum do Metalizer, chegará aos seus ouvidos agressivo, direto, impiedoso e pesado, bem como deve ser um verdadeiro CD de Thrash Metal. Apenas um conselho aos Headbangers: Evitem escutar antes de adormecer…”

O


UNDERGROUND ROCK REPORT - 5


CAPA

6 - UNDERGROUND ROCK REPORT


Por: JP Carvalho Assumo publicamente que o Shadows Legacy foi a banda mais interessante que ouvi nos último tempos. Essa formação nascidacomo Legacy em Campo Grande (RS) abraçou o que convencionamos chamar de Heavy Metal tradicional, Munidos de cozinha precisa, guitarras melodiosas e um potente vocal, o Shadows Legacy estreou nos palcos em 2006, no II Campo Grande Underground e desde entãoé figura carimbada em diversos shows por sua região, chegando a dividir o palco com bandas como Predator, Violator, Perpetual Disgrace, HeadHunter DC e Vader. Em setembro de 2007 a banda sofre uma perda terrível, um dos integrantes fundadores, Gilberto, morre em um acidente fatal de moto. Após a aceitação do acontecimento trágico a banda reúne forças e convida um novo integrante para se juntar a banda e continuar o seu trabalho em prol do Heavy Metal, fazendo sua primeira apresentação após este trágico incidente no Extreme Metal MS, evento que teve dois dias de duração com mais de 15 bandas de Mato Grosso do Sul. Seguido desses acontecimentos, a banda lança seu CD-Demo com quatro faixas intitulado ‘The Sky Is Falling Down’, que tem tido grande aceitação nos shows da banda, onde a resposta do público tem sido muito intensa e positiva. Show este que já passou por várias cidades do país como: São Paulo (representando Mato grosso do sul no Wacken Metal Battle), Foz do Iguaçu e Cascavel/PR, Rio Negrinho/SC (Zoombie Ritual Festival), Cuiabá/MT, etc. No início de 2011 a banda passa por uma transformação, no mínimo, necessária: a mudança de nome. De apenas Legacy a banda passa a se chamar Shadows Legacy, diferenciando-se assim de tantos outros ‘Legacys’ existentes pelo mundo. O ano de 2012 prometia muito para a banda com o lançamento de seu primeiro disco, ‘You’re Going Straight To Hell’, mas devido ao roubo de seu material no estúdio, o Sha-

dows Legacy tem que reiniciar as gravações do zero. Nesta “entressafra” a banda lançou o EP ‘Rage And Hate’ em 2013 de forma gratuita, para download. O trabalho conta com versões de algumas músicas que seriam lançadas no vindouro álbum. ‘You’re Going Straight To Hell’, foi lançado enfim em 2014 e conta com a participação especial do ex-vocalista do Iron Maiden, Blaze Bayley, que também dividiu o palco com o grupo no show de lançamento do disco. Apresentando um Heavy Metal Tradicional sem soar datado, a banda colecionou citações de um dos melhores discos do ano e revelação. Mas isso não impediu o ímpeto trabalhador do grupo que, no mesmo ano, lançou o EP ‘Blood And Sweat’. O trabalho conta com uma músíca inédita, versões para duas músicas do álbum e um cover/homenagem aos conterrâneos da banda Alta Tensão. Conversamos com o guitarrista Leandro Motta, e o resultado desse papo você confere a seguir. O Shadows Legacy teve um ano de 2014 bem trabalhoso, primeiro com o álbum ‘You’re Going Straight To Hell’ e depois com o EP ‘Blood and Sweat’. Como foi lançar dois materiais em um ano só? Leandro Motta: Primeiramente gostaria de agradecer pelo espaço, é uma prazer fazer parte da primeira edição da revista. Então, era uma meta que tínhamos, não terminar o ano sem lançar um material novo, e o fizemos. Lançamos o nosso debut “You’re going straight to Hell” em janeiro de 2014 e em dezembro lançamos o EP “Blood and sweat”. Esse sempre foi o objetivo da banda, produzir, então estamos fazendo o que nos propomos a fazer. É trabalhoso mas é gratificante. Falando primeiramente sobre o álbum. Como foi o processo de composição e gravação dele?

UNDERGROUND ROCK REPORT - 7


Leandro: Como foi o nosso debut podemos dizer que foi tranquilo o processo de composição, já que tinhamos tempo e a maioria das músicas eram músicas que já tocávamos ao vivo, então já tínhamos uma ideia de como soariam em estúdio e qual seria a resposta do público. Quanto ao processo de gravação, não podemos dizer o mesmo. Tivemos as gravações roubadas quando já estávamos finalizando o álbum, recomeçamos do zero em um novo estúdio, com um novo produtor, tivemos que rever a data de lançamento. Confesso que esses percalços nos desanimaram no início. O álbum contou com a participação mais que especial de Blaze Bayley. Como foi esse contato? Ele também cantou no show de lançamento do álbum, como foi dividir o palco com um ex-Iron Maiden? Leandro: Foi fantástico, nós sempre fomos fan dele, desde a época do Maiden, e tê-lo no nosso disco e poder dividir o palco com ele no show de lançamento foi maravilhoso. Blaze é um cara extremamente humilde e profissional, o que facilitou as coisas. Foi uma noite memorável. Outro fator interessante de ‘You’re Going Straight To Hell’ é a capa desenhada, coisa rara hoje em dia. De que forma surgiu a ideia? Leandro: Antes de fecharmos a ideia de ter a capa desenhada nós tentamos algumas outras versões, mas nenhuma delas realmente agradava de fato, soava como algo plageado. Então optamos pelo desenho por que teríamos algo único em mãos, e foi o que realmente nos agradou, ficamos realmente satisfeitos com o resultado. Mesmo sendo o debut e apresentando Heavy Metal Tradicional, o álbum foi muito bem recebido e inclusive 8 - UNDERGROUND ROCK REPORT

entrou em algumas listas de melhores do ano. Vocês esperavam por isso? Leandro: Honestamente? Não. É difícil, pelo menos pra mim, e acho que pro resto da banda também, conseguir ter a real noção do que estamos fazendo. Sabíamos que estávamos fazendo algo bom e torcíamos para que os ouvintes tivessem essa mesma impressão. E com a recepção que o disco teve,


podemos dizer que estávamos no caminho certo e fizemos um bom trabalho, e é realmente gratificante ter o trabalho reconhecido, nos deixa orgulhosos e motivados a continuar trabalhando. Já próximo ao final do ano foi lançado o EP ‘Blood and Sweat’. De onde surgiu a ideia? Leandro: Como disse anteriormente, era uma meta que tínhamos lançar uma material novo ainda no ano de 2014. Somos uma banda nova, então não podemos nos acomodar com o simples fato de termos lançado o nosso debut e o mesmo ter sido bem aceito, se quisermos nos estabelecer como uma banda relevante no cenário nacional temos que trabalhar e muito. E o EP “Blood and sweat” é retratado exatamente como uma metáfora pra essa condição da Shadows Legacy (imagino que de várias bandas de metal), nada vem fácil, é preciso muito trabalho, é na base do sangue e suor mesmo. A faixa-título também virou trilha sonora para o filme Astaroth que conta com Monica Mattos como atriz principal e uma ponta de vocês no filme, como foi? Leandro: Recebemos o convite pra fazer uma ponta no filme e achamos muito interessante a ideia, primeiro por que era algo novo pra gente e segundo por que além de tudo era de uma produtora da nossa cidade, é muito bacana ver o trabalho de pessoas da sua cidade crescendo, e poder contribuir com isso é muito legal. Contem-nos os planos futuros e deixem seu recado para os leitores desta primeira edição da revista. Leandro: Bem, estamos trabalhando em composições para o novo álbum, e continuamos divulgando o nosso debut em shows pelo Brasil. Temos como meta lançar um material inédito esse ano ainda e no primeiro semestre de 2016 lançaremos o nosso segundo álbum. Um abraço da Shadows Legacy, obrigado pelo espaço e fiquem ligados que vem coisa boa por ae. Como costumamos dizer, ainda é só o começo. Keep in metal brothers.

Shadows Legacy You’re Going Straight to Hell Independente - Nacional obre o ser inovador e conservador em termos de Metal é uma das questões mais interessantes dos últimos tempos em termos de Metal, e acaba incitando debates apaixonados de ambos os lados. E no caso, este autor prefere uma terceira opção: seja inovador ou não, o importante é ser bom, e nada mais. E seguindo essa opinião, o quinteto Shadows Legacy, de Campo Grande (MS) mostra-se um ótimo quarteto. Seguindo os caminhos do Metal tradicional da escola da NWOBHM, o grupo realmente não busca ser inovador ou o próximo salvador do Metal, longe disso. Mas a honestidade e convicção do quinteto é assombrosa, ainda mais quando isso se transforma em qualidade musical. E essa qualidade faz com que eles não sejam apenas mais um no meio de tantos. Ótimos vocais (que oscilam entre tons mais agressivos e graves até outro timbres mais agudos sem exageros, que deram uma melhorada sensível entre o EP “Rage and Hate” e este álbum), as guitarras mostram-se afiadas e bem agressivas em riffs sólidos e solos com melodia acentuada (lembrando bastante duplas de guitarras como as do Judas Priest e Satan), baixo forte e com uma técnica bem acentuada na escola de Steve Harris, e uma bateria que mixa técnica e peso com maestria. E isso tudo resulta em uma música pesada, melodiosa, cheia de energia e vida. Produzido pelo próprio grupo em parceria com Aldo Carmine (baixista do Rhevan, que ainda fez a mixagem e masterização do CD), a produção ficou seca e pesada, de forma que todos os instrumentos musicais ficaram bem limpos e claros, mas soando coesos e com

S

peso, em algo mais orgânico. Já a arte, com capa feita por Leonardo Amorim e encarte de Augusto Morais, é bem simples e funcional, fugindo de padrões muito trabalhados, preferindo algo mais orgânico. Algo que reflete a música do grupo. A banda realmente faz o coração daqueles fãs mais experientes (como o meu) bater mais forte, pois sua música foi feita com o intuito de comover, de falar direito ao coração, mostrando que a composição do material aqui presente é de enorme espontaneidade, mas ao mesmo tempo os arranjos foram muito bem burilados, nada feito sem esmero, e caprichando nos refrões. E esse cuidado faz com quem o CD seja bem homogêneo e que a qualidade se distribua harmoniosamente por todas as faixas. Pontos mais altos do CD: a pesada e intensa “Die with Your Honesty” (uma faixa bem trabalhada, com momentos velozes e outros nem tanto, mostrando a força e técnica da base rítimica baixo/bateria), a envolvente “You’re Going Straight to Hell” (o andamento é mediano, e a energia da música salta pelos falantes, com ótimos riffs e vocais), a totalmente NWOBHM “Rage and Hate” (que veio do EP, mostrando guitarras ótimas), a linda e pesada “I Remember My Friend” (aqui, a emoção flui na canção, com ótimo refrão e vocais extremamente bem compostos), a fogosa e melodiosa “The Sky is Falling Down” (esse coral realmente empolga, à lá Maiden), a bruta e poderosa “Hate Within” (outra faixa de andamento mediano, abrilhantada pela participação de Blaze Bayley nos vocais), e a ganchuda “We Are the Legacy”. Uma ótima revelação em termos de Metal, diga-se de passagem, e esperamos poder conferir o poder de fogo do quinteto ao vivo. Por: Marcos “Big Daddy” Garcia

UNDERGROUND ROCK REPORT - 9


10 - UNDERGROUND ROCK REPORT


UNDERGROUND ROCK REPORT - 11


A autenticidade do Metal atmosfĂŠrico das Gerais 12 - UNDERGROUND ROCK REPORT


Por: Gisela Reis m uma terra de gigantes do Metal nacional, como Sepultura e Sarcófago, surge a Zargof com uma proposta musical original e, digamos, ousada em sua realidade. Formada em 2003, em Belo Horizonte, a Zargof consiste em produzir uma sonoridade Metal essencialmente atmosférica, embasada em suas influências, indo muito além do sentido da audição. Sem se importar com os rótulos e radicalismos, a Zargof se caracteriza pela busca de sua própria identidade, mesmo que isso a faça sair um pouco do convencional no cenário nacional, tanto em termos da sonoridade, quanto liricamente. Com dois EPs e dois singles em seu currículo, a banca deixa bem claro suas influências dos estilos Black Metal, Doom Metal, Progressivo e Ambient. Além disso, suas composições trazem uma variedade lírica com influências diversas, como o cósmico, artes, ciências e símbolos ocultos. Apesar das dificuldades ao longo do caminho, como problemas pessoais, alterações na lineup e hiatos, a Zargof chega a esse ano com uma nova formação e planos animadores. Contando agora com Lucas Heleno (vocais/guitarra), Felipe Marques (teclados), Chris Vale (baixo), Manfredo Savassi W. (bateria) e Vitor Horta (vocais/ guitarra), a banda lançou, no início do ano, o seu novo single, “Burning Ashes”, que se trata de um prelúdio para a nova era da Zargof que está por vir. Em entrevista à Collapse Underground Art, o frontman Lucas Heleno fala a respeito da trajetória, a bagagem musical, o diferencial da banda em meio à diversidade e, claro, suas expectativas para o retorno da Zargof aos palcos, e os planos para o lançamento de seu álbum de estreia.

E

Em uma cena em que há o predomínio dos gêneros Thrash, Death e Heavy Metal, a Zargof possui uma proposta musical interessante e que se destaca em meio ao cenário brasileiro, com sua sonoridade bem atmosférica, mais remetente ao Black e Doom Metal. Quais são as suas principais influências e, levando em consideração o seu início de carreira, como vocês chegaram até a esse som? Lucas Heleno: Pessoalmente, tenho influências de muitos gêneros musicais no metal e fora dele, compartilho isso com os outros membros também. Desde sempre ouço música clássica, música eletrônica, ambient, rock progressivo, trilhas sonoras, dentre tudo, sempre fui muito eclético, não gostamos de radicalismos de gênero. O Zargof surgiu da intenção de se fazer uma música autêntica com influências destes distintos elementos. Apesar do Black Metal e do Doom Metal serem vertentes bem reconhecíveis no nosso som, nunca ficamos presos nenhum determinado estilo, sendo que nossa ideia desde o início não era procurar um nicho ou uma turma. Isto é diferente de muitas bandas que fecham em círculos e “panelas”, nós nunca procuramos ter este tipo de relação com a música, e sim criar nosso próprio som com personalidade e esperar que as pessoas se identificassem com ele, e se interessassem pela sonoridade que propomos. Conforme mencionamos, a sonoridade da Zargof vai muito além da nossa audição, sendo capaz de criar uma sensação bastante atmosférica ao ouvinte. Ás vezes você encontra certa dificuldade de levar essa atmosfera das músicas em estúdio para o palco? Lucas: Sim, não é fácil reproduzir todos os elementos que usamos no estúdio em palco, especialmente o teclado. Muita coisa é programada em sintetizadores e, em algumas passagens, existem muitas camadas sonoras, o que torna impossível de ser reproduzido por um tecladista apenas. Então, por um certo tempo, optamos pelo uso de sampler. Era engraçado porque por muito tempo tocamos sem tecladista, mas usando os mesmos sons do disco, sincronizando a banda com os efeitos sonoros da música e encaixando-as perfeitamente na batida do sample. Era complexo, exigiu muito ensaio, mas deu certo. Era muito atípico uma banda com muitos efeitos de teclados sem a presença de um tecladista, ainda mais na nossa cena. Hoje, com a volta do Felipe Marques nos teclados, isso não é mais necessário, estamos voltando ao modo clássico de tocar, sem precisar usar metrônomos e outras parafernálias que engessam um pouco a banda no palco. Em resumo, é muito desafiador tornar o

som complexo nesse sentido, mas estamos sempre encarando esse desafio em nome do nosso diferencial. Já em relação ao seu conceito lírico, quais são os principais temas que influenciam as letras da Zargof? Lucas: Somos influenciados pelo grande mistério que cerca a existência. Buscamos inspiração no intangível. Absorvemos influências das culturas antigas e das ciências que descrevem a realidade. Temos o sol como símbolo, o astro onipresente, provedor de energia, figura central de várias mitologias. Nossas letras são uma tentativa de descrever o universo de acordo com nossos insights através de linguagem poética. Descrevemos nossos pensamentos abstratos nos versos. Deve-se ler a maioria das nossas letras como uma tentativa de descrever a existência. Somos seculares, não temos verdades absolutas, nem religiões, nem doutrinas, nem anti-doutrinas. A verdade absoluta é insondável para a consciência humana. Não temos bandeiras, nem ideologias. Em seus doze anos de carreira, a Zargof lançou dois EP, “Departure for the Cosmic Twilight” (2004) e “Solace” (2013); e dois singles, “Aeon” (2011) e “Burning Ashes” (2015). Por que vocês ainda não optaram por lançar um álbum completo? Lucas: Bom, devo dizer que muitos desses anos de vida da banda não foram ativos, nunca tivemos a oportunidade de dedicar exclusivamente à banda e houve tempos de hiatos. Nestes tempos, as obrigações pessoais pesaram mais do que a banda. A partir de 2010, começamos a ter mais recursos para gravações, e foi quando começamos a lançar material com mais frequência. Mas vejo essa “cobrança” do público com bons olhos, porque se nossos registros não agradassem, isso não existiria. Considerando o espaço de tempo entre um lançamento e outro, assim como as experiências adquiridas ao longo disso, como você enxerga a evolução da Zargof? Lucas: Enxergo o futuro com otimismo. Evoluímos muito nesses anos, melhoramos nossos recursos para gravar e agora, com a nova formação, temos um grupo psicologicamente mais preparado que anteriormente. Acredito que temos tudo para destacar e produzir mais material. Estamos mais harmônicos. Não esbarramos mais em conflitos de ego como acontecia antigamente. Temos um foco sonoro e estamos mais norteados na música que queremos produzir. Isso me faz sentir otimista, mais do que nunca. Ao longo dos anos, a Zargof passou por algumas mudanças em sua formação até chegar a atual. Por fim, quais foram os motivos que levaram a Zargof ter essas alterações em sua lineup? Essas mudanças chegaram a gerar certo “desgaste” na banda? Lucas: Ah sim, com certeza! Sempre gera um desgaste. Tem que ter a ideia muito fixa e ser muito focado praa não desistir. Vejo que por causa da idade que começamos, os caminhos pessoais estiveram sempre se transformando. Cada um tomando um rumo diferente na vida, escolhendo uma coisa diferente. Toda alteração é uma forma de recomeço. As últimas que sofremos geraram e estão gerando muito trabalho, mas no fim está sendo muito positivo. Quando mantemos viva uma vontade, tudo pode ser superado, basta trabalhar. Não penso em desistir de nada na minha vida por causa dos outros, e acredito que compartilho isto com outros membros mais agora que anteriormente. Os motivos foram os mais variados, alguns explicáveis e outros inexplicáveis. Alguns justificáveis outros não. Mas tento deixar o passado pra lá e ver o futuro, encaro esses obstáculos como naturais da vida e fazem parte do caminho, é como uma seleção natural mesmo, a lei do forte é intrínseca à vida. Se estamos sobrevivendo da maneira que for, já é uma vitória. De sua formação original, o Zargof conta com você e Felipe Marques (teclados). Chris Vale (baixo) passou a fazer parte da banda em 2012, enquanto Manfredo Savassi Werkhauser (bateria) e Vitor Horta (guitarras e vocais) entraram na banda ano passado, sendo que o Vitor já tinha participado da Zargof no período de 2006 a 2008. Como se deu essa restauração da banda? Lucas: Vitor e Felipe são amigos de longa data. Em um dado UNDERGROUND ROCK REPORT - 13


momento da banda, houve diferenças entre eles e alguém que já não faz mais parte do grupo. Felipe saiu primeiro, depois foi o Vitor, isto já em 2007. Ano passado, com a reformulação da banda, as primeiras pessoas que pensei em chamar foram eles por causa da história que compartilhamos e da nova chance de revitalizar o projeto. Considero que foi um erro da minha parte insistir em parcerias fadadas ao fracasso, mas ainda bem que a história acabou e eles voltaram. O Chris é uma pessoa extremamente positiva, está sempre com a moral elevada, é um músico esforçado, um cara verdadeiro, alguém que a banda pode contar, ele incorpora bem o papel de baixista e a força que esse instrumento precisa, ele foi fundamental para não deixar a peteca da banda cair ano passado. O Manfredo, eu o conheci alguns anos atrás quando ensaiava em seu estúdio no Bairro Floresta. Sempre soube que ele era um músico de primeira linha e um excelente produtor e engenheiro de áudio, seu currículo mostra isso, não conheço ninguém próximo com mais gabarito que ele para trabalhar. Quando Manfredo aceitou o convite para integrar a banda, eu fiquei extremamente feliz e satisfeito, isto porque as baquetas da banda dariam um salto de qualidade. Além disso, só elogio a nobreza de sua personalidade, ele é um cara que prefere mais fazer a falar, demonstrar suas ideias na prática e não na língua. No início do ano, vocês lançaram o single “Burning Ashes”. A nova formação participou na produção desse trabalho? Lucas: Sim, esse foi o nosso primeiro trabalho com a nova formação. Este single foi uma experiência que concretizamos aplicando novos métodos de trabalho, novas sonoridades, seria a nova cara da banda. O resultado me agradou muito, especialmente os vocais limpos do Vitor, e como alternamos os nossos vocais na faixa. Sinto que agora estamos melhores e mais preparados do que nunca para produzir bons materiais daqui em diante. No começo dessa entrevista eu disse que a Zargof se destaca no cenário nacional por apresentar um estilo que aparentemente foge das maiorias das bandas. Mas, você concorda sobre isso? Lucas: De certa forma sim. Acredito que isto parte da nossa vontade de fazer uma música que tem a nossa cara, evitamos seguir muitas modas, estilos ou clichês. O resultado é algo com a nossa personalidade com influência das mais variadas. A dificuldade é ter que construir um público para o som da banda, ser mau interpretado por fãs mais radicais dos estilos que temos como influência. E justamente pela Zargof ter uma abordagem diferente, na visão de alguns, de outras bandas do cenário, vocês já sentiram algum desafio em relação a isso? Lucas: Sim, há quem diga que somos o “patinho feio” na cena. Quem só gosta do metal extremo direto e cru pode não gostar dos

elementos que colocamos e torcer um pouco o nariz. Acredito que este “preconceito” pode e é superado por quem vai aos nossos shows, pois as pessoas veem que nunca propomos ser algo que não somos, apenas queremos fazer o nosso som pesado e atmosférico com a nossa cara. E se não apelamos para extremismo nas nossas letras, há um porquê, e é por isso que não faz parte de nós. Somos acima de tudo verdadeiros com nós mesmos e não forçamos uma imagem. Vocês são provenientes de Belo Horizonte, Minas Gerais, que também é a terra de outras grandes bandas, como Sepultura, Sarcofago, Chakal e entre outras. Em sua visão, como está a cena belo-horizontina atualmente? Lucas: Bom, acho que o metal autoral em Belo Horizonte de uns anos pra cá está em crise. Vemos bares e produtores só com bandas cover, daquela banda que já existe dezenas de outros covers. Vivemos uma crise de criatividade e sobretudo uma crise de identidade e valor com o que é de nosso! Este assunto gera uma certa polêmica mas são minhas opiniões, respeito quem discorda. Certa vez, dei uma declaração contra as bandas cover, mas hoje acho que isso é culpa também das bandas autorais que estão desanimando e jogando a toalha. De repente, o autoral é o que tem menos valor. Felizmente, ainda existem coletivos underground como o MetalPunk e alguns bares como o Matriz, Azuzim eo Stonehenge que abrem as portas para as bandas de Metal, e dão o suporte que as bandas precisam. Sem esse apoio, estaríamos fracassados. Em sua opinião, quais são os maiores desafios para as bandas que vivem hoje no underground brasileiro? Lucas: O maior desafio é ter o trabalho reconhecido no meio de um oceano de informação onde há uma competição para ser ouvido. Também acredito que os preços dos equipamentos de qualidade, que são essenciais pra ter um nível sonoro superior, são caríssimos por conta dos impostos que os brasileiros pagam. A dificuldade central acho que é esta, a falta de recursos de qualidade, e, infelizmente, estamos bem atrás dos gringos. Além disso, a realidade de sobrevivência do brasileiro também é diferente: a maioria dos brasileiros precisam resolver primeiro o que vão comer antes de comprar um CD ou ir a um show. Mas dentre tantas dificuldades, ver que ainda há grandes iniciativas e muita qualidade musical de várias bandas, me faz ser otimista quanto ao futuro do underground brasileiro. Para finalizar, quais são os planos da Zargof para este ano? Lucas: Este ano estamos envolvidos na gravação do álbum, e no retorno da banda aos palcos. Ainda não temos um prazo de quando isso vai acontecer, mas já caminhamos bem nos últimos meses e não falta muito para conseguir o retorno que tanto planejamos. Muito obrigada pela entrevista! Por favor, o espaço agora é seu! Lucas: Agradeço a oportunidade de poder conceder essa entrevista em nome do Zargof. Queria aproveitar e citar o trabalho do Vitor Horta e seu projeto chamado Luksferre, e do Manfredo a Colt 45, nossos parceiros aí. Também quero agradecer quem leu esta entrevista, quem curte o Zargof, e todos os nossos amigos. Digo a todos que nos veremos em breve e que sentimos que ainda estamos apenas começando. Muito Obrigado!

14 - UNDERGROUND ROCK REPORT


UNDERGROUND ROCK REPORT - 15


ENTREVISTA

Por: JP Carvalho á mais de 30 anos, banda como Stress, Dorsal Atlântica, Centúrias, Harppia, Vírus, iniciaram uma tradição que até hoje é seguida por centenas de outras novas bandas. Entretanto, uma importante característica original do Heavy Metal brasileiro foi sendo deixada de lado ao longo dos anos: as letras em português. De uma pequena cidade do interior de São Paulo, surge a Devachan, uma nova banda de Heavy Metal que tem como objetivo resgatar essa prática de cantar em bom e alto português. Conceitualmente, a Devachan teve origem 30 anos atrás quando o músico Daniel Dias escreveu suas primeiras letras na mesma época que o Heavy Metal dava seus primeiros passos no Brasil com os grupos citadas. O material ficou guardado até 2010 quando seus filhos Gabriel Dias (vocalista) e Leandro Dias (guitarrista) decidiram formar uma banda. A decisão de usar as letras do pai e tê-lo como baixista do grupo parecia óbvia. Logo o time estava completo com Bruno Caresia na bateria e Michael Santos nos teclados. O primeiro registro oficial da banda é o recém-lançado Demo- EP “Andarilho” que trazem as mesmas letras escritas em português por Daniel Dias. O EP foi gravado no Estúdio Ponto Sonnoro em Sorocaba/SP e produzido por Jr. Jacques e Rodrigo Ricardo. De fato, o idioma acaba sendo peça fundamental para a banda dialogar com segurança e naturalidade a respeito de questões filosóficas e existenciais. Não por coincidência, a palavra “devachan” origina-se do sânscrito e quer dizer “Morada dos Deuses”. A repercussão do Demo-EP no interior paulista tem sido excepcional e com pouco tempo de estrada os músicos já tiveram oportunidade de realizar shows de grande porte, como foi a apresentação da banda no Festival Planeta Rock 2013 em São José do Rio Preto/SP quando tocaram para mais de 12 mil

H

16 - UNDERGROUND ROCK REPORT

pessoas. Num louvável ato de reconhecimento pelas conquistas da Devachan, a prefeitura do município de Boituva/SP, sob solicitação do vereador Ronaldo Barbosa da Silva, resolveu homenagear a banda recentemente através de uma “Moção de Aplausos”. O documento oficial foi emitido pela Câmara Municipal de Boituva em Novembro do ano passado e destacou a banda pelo “excelente trabalho realizado em prol da música”. Empolgados com os resultados, os músicos do Devachan já estão em processo de pré-produção de seu primeiro trabalho completo que será lançado no segundo semestre de 2014. Confiram a seguir uma conversa que tivemos com o Devachan. Primeiramente obrigado pelo seu tempo e por nos conceder estaentrevista. Para começar, gostaria de saber por que a banda optou por cantar em português? Leandro Dias: O prazer é nosso, pessoal! Em relação a pergunta, seria devido a compreensão das letras em nosso país e também para resgatar a essência de bandas brasileiras da década de 80 como Harpia, Salario Mínimo, Stress entre outras. Muitos músicos me dizem que é mais difícil fazer letras em português, vocês se sentem confortáveis para compor dessa forma? Leandro: Não sentimos esta dificuldade, pois meu pai, Daniel Dias, baixista da banda, sempre compôs em português desde que eu e meu irmão éramos crianças, inclusive muitas destas composições entraram para o EP “Andarilho” e entrarão para o nosso novo álbum. Depois disso foi só incorporar as melodias e harmonias inspiradas nas letras Vindo do Interior de São Paulo (a banda é de Boituva), como é o cenário para bandas autorais em sua região?


Leandro: Quando gravamos o EP “Andarilho”, nos surpreendemos com a crítica positiva que obtivemos, principalmente em nossa região. Recebemos uma “Moção de Aplausos” da prefeitura de Boituva devido a “esforços em favor da música feita na região”. Mas ainda precisamos trabalhar muito em relação a isso, acredito que se as bandas se unirem ao invés dese criticarem, o mercado ficará muito mais acessível para todos. Daniel, o embrião do Devachan se deu com você há mais de 30 anos, o que você podenos falar sobre isso? Daniel Dias: Na verdade estas composições são apenas sentimentos que passavam em minha mente. Eu só conseguia expressá-los através da escrita. Não tinha a pretensão de “desengaveta-las”, pois para mim era apenas minha mente sendo materializado no papel, apenas um registro. Mas quando meus filhos Leandro (guitarra) e Gabriel (vocal) chegaram com a proposta de gravar estas músicas, as ideias afloraram dentro de mim novamente, como há 30 anos atrás. Ai foi só ligar os pontos. E como era para você na época? Já que sabemos que os primórdios do Heavy Metal no Brasil era movido por muita paixão e dedicação por parte dos fãs. Daniel: Foi a época perfeita para o Rock. Consegui assistir shows como Van Halen, Queen, Kiss, Judas Priest, no auge deles. Sempre fui movido pela paixão, acredito que todos amantes do Heavy Rock sentem o mesmo, acredito ser o principal motivo de o Metal ser eterno. E como é hoje, ver o Devachan trilhando seu caminho e mais, ao lado dos seus filhos? Daniel: É uma emoção muito grande. A Devachan está fluindo naturalmente, e desfrutar disso com meus filhos é um prazer indescritível. Nada melhor que conseguir seus objetivos ao lado da família. Sabemos que com o tempo a relação entre os músicos se desgasta um pouco, como é na banda, já que quase tudo acaba sendo uma relação familiar? Leandro: Ainda não tivemos problemas muito sérios em relação a isso, sempre deixamos bem claro em nossa família a sinceridade, para não enraizar nada, e levamos esta filosofia para a banda. Todos os integrantes são bem transparentes um com os outros, até por isso que ascomposições e harmonias saem tão naturalmente. Como foi a aceitação da demo “Andarilho” pelos fãs e pela mídia? Leandro: Estamos felizes com a resposta positiva que “Andarilho” gerou. Isso tem nos dado aquele “gás” para trabalharmos com afinco no nosso primeiro álbum que, podemos afirmar, soará muito mais maduro. Quais os planos da banda agora? Leandro: Além dos shows, estamos trabalhando pesado no nosso primeiro álbum e logo iremos lançar dois videoclipes com músicas inéditas no projeto que estamos realizando com o pessoal do Noturnall. Aguardem. Obrigado pela entrevista, Deixe uma mensagem aos nossos leitores. Daniel: Queremos agradecer o carinho e o apoio de todos que acompanham nosso trabalhodesde o início. Um grande abraço a todos os leitores do Collapse Underground Art, vocês são o“combustível” que precisamos para continuarmos sempre em frente. Obrigado! Mais Informações: www.bandadevachan.net www.facebook.com/banda.devachan www.youtube.com/devachanoficial www.twitter.com/devachanoficial www.soundcloud.com/devachanoficial

Devachan Andarilho Independente - Nacional Desde o início da cena de Rock em nosso país, lá nos anos 60, as bandas brasileiras sempre buscaram fazer trabalhos musicais que fossem inspirados em seus ídolos, mas o ritmo que se encontra no sangue do povo brasileiro sempre mostrou-se um diferencial na hora de se criar música. E cada vez mais isso se confirma no Brasil, e o Devachan, grupo oriundo de Iperó (SP) e que começa a ganhar bastante destaque pelo underground de lá, acaba de soltar o ótimo EP “Andarilho”. Cantando em português o bom e velho Metal tradicional, mas com talento e elegância típicas de nosso país, mostrando influências de bandas como Iron Maiden, Helloween e bandas setentistas como Deep Purple, logo, não se assustem em sentir uma música cheia de energia e vibração, com vocais muito bons, guitarras mostrando um ótimo trabalho, baixo bem audível e técnico, bateria pesada e com bons andamentos, e teclados que sabem se fazer audíveis e incorporados à música do grupo. Resultado: se preparem, pois é bom demais! Gravado no Estúdio Ponto Sonnoro, em Sorocaba (SP) sob a tutela de Jacques Jr. e Rodrigo Ricardo, a produção sonora mostra-se bem seca e pesada, o que deixa a banda soando como se fosse ao vivo, sem deixar de ter peso e clareza suficientes

para que possamos aproveitar plenamente do trabalho do grupo. Devachan E por falar em trabalho do grupo, o Devachan realmente se mostra uma banda no ponto justo para lançar um disco inteiro só deles, pois além de já terem um trabalho musical bem amadurecido, a banda mostra um bom entrosamento e que podem chegar bem longe. E não: este autor não está exagerando. O grupo é raçudo em cada uma das suas 5 músicas (“Mentalis Corpus” é uma introdução instrumental). Em “Mente em Sonhos”, vemos surgir bastante a influência do Maiden nas bases e solos de guitarra, fora um trabalho belíssimo dos teclados (chegamos a ouvir alguns toques de música clássica). “Mudança de Tempo” já é mais agressiva e rápida, mantendo bons nível de melodia, com bons vocais e baixo. A mais calma e intensa “Liberdade” realmente nos embala com sua passagem pesada e mais cadenciada, lembrando bastante a NWOBHM. “Andarilho” tem novamente uma pegada um pouco mais forte e veloz, com belo trabalho da bateria (fantástica!). E fechando, temos a ótima e belíssima “Poetas”, uma faixa mezzo balada (no início até o meio) e mezzo peso, bem equilibrada e elegante. É um trabalho ótimo, que precisa mesmo se difundir e ser ouvido por todos. E não é à toa que foram homenageados pela prefeitura de Boituva (SP). Por Marcos “Big Daddy” Garcia

UNDERGROUND ROCK REPORT - 17


ENTREVISTA

Noturnall & Friends: músicos se unem em novo projeto do metal nacional Por: JP Carvalho uito sempre foi dito sobre as dificuldades de se produzir e distribuir heavy metal autoral no Brasil. Pouco foi feito para tentar mudar a situação. Thiago Bianchi, Fernando Quesada, Léo Mancini, Junior Carelli e Aquiles Priester, coletivamente conhecidos como Noturnall, resolveram agir em prol da causa e anunciam o projeto “Noturnall & Friends”. Idealizado para ser uma plataforma de lançamento de novas bandas, o projeto “Noturnall & Friends” consistirá em cinco programas onde serão apresentadas diferentes bandas de metal em performances exclusivas e jams inéditas ao lado dos próprios músicos do Noturnall. Para a primeira temporada já estão confirmadas as bandas Higher, Devachan, Enigma, Eve Desire e Endigna. As gravações acontecerão no Fusão VM&T Studios em São Paulo com produção da Foggy Filmes. As gravações do “Noturnall & Friends” terão início ainda neste mês de março e a estreia do primeiro programa acontece em junho. Confiram a seguir nosso bate papo com o baixista Fernando Quesada

M

Olá, obrigado pelo seu tempo e por nos receber. Primeiramente gostaria que você falasse sobre o Noturnall & Friends. Fernando Quesada: Olá! É um prazer estar aqui novamente com vocês! A Collapse Underground Art sempre quebrando tudo! A Noturnall & Friends foi uma ideia que tivemos quando estávamos assistindo à vários videoclipes e webclipes de bandas nacionais. Se queremos ser fortes no meio, temos que ter um meio 18 - UNDERGROUND ROCK REPORT

forte, e sinto que muitas vezes falta informação para as bandas sobre o Music Business, e principalmente sobre como se alcançar um padrão legal em suas produções para poder estar bem falado e bem posicionado no mercado. Ter vídeos, fotos e músicas com qualidade é uma obrigação para qualquer banda ou artista que queira uma carreira profissional. Uma banda com materiais amadores é mais ou menos como um restaurante com ambiente feio e comida mal feita. A nossa iniciativa foi buscar um jeito de algumas bandas que consideramos ter potencial, terem materiais legais. Então resolvemos colocar a nossa estrutura, que é o Fusão Studios e a Foggy Filmes para poder realizar uma produção legal. Além disso, ter entrevistas com as bandas e sons para todos poderem conhecer. E pode aguardar que novidades sobre esse lançamento também virão em breve! A iniciativa reúne bandas bem diferentes entre si, principalmente em relação ao som praticado pelo Noturnall, essa diversidade foi intencional? Quesada: Música é música. Nós somos amantes da música e heavy metal. Independente se é death, melodic, power, enfim.... nós nos baseamos se as bandas eram legais ou não. Hoje considero que o público tem várias facetas em sua grande maioria. Muitos ouvem todos os estilos de rock, e é esse o ponto forte do projeto. Qual foi o critério de escolha de cada uma das bandas? Quesada: História da banda, esforço e potencial. Claro que nesse primeiro momento as bandas escolhidas foram bandas que já trabalham com a gente ou já conhecemos de alguma maneira.


Esperamos em breve conhecer mais trabalhos. Higher, Devachan, Enigma, Eve Desire e Endigna foram escolhidas para esses cinco primeiros e criou-se uma expectativa acerca de sua continuidade a intenção e gerar mais programa com bandas de estilos diversos? Quesada: Claro! Vamos lançar esse primeiro projeto e ver o que acontece. Dependendo da resposta do público e de como rolar, com certeza faremos vários. A parceria do Noturnall com o Fusão VM&T Studios e Foggy Filmes já vem de algum tempo. Então podemos dizer que esse projeto veio de encontro aos interesses de todos vocês? Quesada: Não digo interesse, mas sim união de forças. Tanto a Foggy Filmes quanto o Fusão e muitas outras marcas que nos apoiam estarão presentes dentro do projeto. É um jeito de tentarmos sempre ter a qualidade em um padrão.

Já o discurso do baterista Aquiles Priester é mais específico. “É impossível ficar alheio a tudo que está acontecendo em nosso país. Nos afeta em todos os sentidos, pois além de termos nossa vida artística, temos que lidar com todas as coisas do cotidiano como todos os brasileiros. Precisamos encontrar respostas e soluções para ir adiante com os nossos planos. Alguns preferem falar sobre dragões e labirintos em suas músicas, nós preferimos lidar com a realidade de todos os dias. Pode parecer pretensioso, mas estamos fazendo nossa parte em busca da preservação da cultura do nosso país da melhor forma que podemos nos expressar: através da música”. O lançamento de “Back To Fuck You Up!” acontecerá às vésperas da turnê sul-americana que o Noturnall fará em Maio ao lado do Adrenaline Mob, o supergrupo norte-americano liderado pelo vocalista do Symphony X, Russell Allen, também produtor do disco de estreia do Noturnall.

Fale-nos sobre as atividades atuais do Noturnall. Quesada: A Noturnall está vivendo 5 anos em 1 em 2015! (risos). Temos a nossa turnê com o Adrenaline Mob e Republica agora em maio, lançamento do nosso novo álbum de estúdio também em maio, lançamento do Noturnall & Friends no meio do ano e com certeza noticias de novas turnês e novos lançamento até o fim do ano. Novamente obrigado pela entrevista. O espaço é seu. Quesada: Queria agradecer muito à todo público que vem nos acompanhando cada vez mais e dizer que isso nos move e faz sempre querermos dar o melhor possível. Obrigado mesmo!

Noturnall divulga título e capa de novo álbum de estúdio

Noturnall First Night Live (DVD) Voice Music - Nacional

O

D

isco sai em Maio, às vésperas da turnê que a banda fará ao lado do Adrenaline Mob. “Back To Fuck You Up!” será o título do segundo e novo álbum de estúdio do Noturnall. O disco está sendo gravado no Estúdio Fusão em São Paulo e chega às lojas em Maio. A capa de “Back To Fuck You Up!” foi mais uma vez assinada por Carlos Fides da Artside Studio - com quem o grupo já havia trabalhado no disco de estreia - em colaboração com Pedro Sena (Lordigan). Os músicos Thiago Bianchi (v) e Fernando Quesada (b) também contribuíram para o conceito da arte que traz de volta o personagem do primeiro álbum sob um contexto pontual. Quando questionado sobre o significado do título e do desenho da capa, Quesada prefere ser minimalista e deixar a interpretação livre. “Algumas pessoas gostam de falar sobre o que acontece no país e no mundo através das redes sociais e dos meios de comunicação. Nós preferimos fazer isso através do Heavy Metal.”

que esperar de uma banda que já nasceu grande, ao ponto de pouco após o lançamento de seu primeiro CD oficial, vermos um DVD de sua primeira apresentação ao vivo? Óbvio que as expectativas são enormes, e sempre existirão aqueles que torcem contra, mas a estes, só nos resta dizer: queimaram a língua, pois “First Night Live”, primeiro DVD do super-grupo Noturnall é, antes de tudo, perfeito. Coisa de quem sabe o que quer e de quem já nasceu grande. Em “First Night Live”, temos o primeiro show da banda ao vivo, inteiramente gravado no Carioca Club (Pinheiros, São Paulo) em 29 de Março deste ano, evento cujo objetivo foi a arrecadação de alimentos, brinquedos e fraldas para a Casa Hope, o DVD foi gravado com 15 câmeras, logo, em termos de imagens, nada temos o que reclamar, bem longe disso, com ângulos muito bem sacados (inclusive até no meio do público), com muitos equipamentos (reparem no tamanho do monstro onde Aquiles toca, e no telão de LED no fundo, com mais de dez metros de largura). E o repertório é uma coisa de louco, com participação de Russel Allen (vocalista do Symphony X e do Adrenaline Mob, e que produziu o disco de estréia do Noturnall) e do jovem violinista Luiz Fernando Venturelli (um menino de 13 anos). Produzido por Thiago Bianchi, Júnior Carelli e Fernando Quesada, e com um trabalho bem feito pela FX Render (do diretor premiado Alex Batista), Foggy Films e Fusão Estúdios, em termos de qualidade visual e de áudio, é o que podemos

esperar de qualquer trabalho onde esses cinco músicos estão: qualidade impecável, e tudo perfeito. E o melhor de tudo: tirando alguma edição (imprescindível), não existem overdubs aqui, tudo é direto, reto e na cara, para desespero dos detratores do grupo. Não é preciso falar do talento e técnica do quinteto, é fazer cair um aguaceiro daqueles em um local extremamente molhado. O DVD possui, antes de tudo, aquilo que seu título diz: o primeiro show da banda ao vivo. Só que a perfeição aqui não é fria, muito pelo contrário: o conjunto mostra que, ao vivo, é ainda mais intenso e cheio de energia. Thiago se mosta um ótimo frontman (como esperado), Léo e Fernando são duas feras ao vivo, Júnior mostra boa sobriedade e aparece bem (e toca muito bem), agora, Aquiles é algo de sobrenatural ao vivo, não há como descrever. E imagine esses caras no ápice de toda sua técnica ao vivo, muito coesos e esbanjando um peso absurdo. É algo insano ver a banda ao vivo, uma experiência única! Outro ponto fascinante são os extras do DVD, como o “Making Of” do evento, onde “Band & Friends”, onde é muito interessante poder ter todas essas informações e ver o que acontece nos bastidores, com depoimentos de membros da banda e amigos, além de “Behind Yamaha’s Console”, com depoimento de Eduardo, da Yamaha, falando sobre os equipamentos de gravação da fábrica. Além disso, lá vem dois vídeos bem legais, que são “Little Big Adventure”, com o Júnior, e “On The Road”, mostrando muitos takes de locais e entrevistas (mas sem o áudio, apenas musicado). E fechando com chave de Metal, como se já não fosse demais, temos os vídeos oficiais para “Nocturnal Human Side”, “No Turn at All” e o inesperado (mas extremamente bem vindo) vídeo para a versão “noturnallizada” de “Woman in Chains” do Tears For Fears, que a banda lançou no Dia das Mães de 2014, onde a mãe de Thiago, Maria Odette, canta com o filho, e vemos cenas de todos os membros da banda com mulheres, mães e filhos. Será que é preciso dizer mais algo sobre o DVD? Um dos melhores do ano, sem sombra de dúvidas! Por: Marcos “Big Daddy” Garcia

UNDERGROUND ROCK REPORT - 19


ENTREVISTA

Ser o que somos ainda nos levará além Por: JP Carvalho Ferramenta é uma banda formada na cidade de São Paulo. Apesar da data oficial de fundação no dia 1º de maio de 2011, a banda possui uma pré-história de no mínimo 10 anos, num processo constitutivo de longa duração. Foi o resultado de uma construção criativa coletiva, de momentos variados entre uma incansável intensidade energética, e hiatos silenciosamente melancólicos. O projeto embrionário envolveu diversas parcerias e amizades, todas elas com essencial nível de participação e dedicação. Neste processo, podemos destacar uma grande contribuição e envolvimento de parceiros presentes em bandas como Voltera, Gritando HC, Vesuvia, Os Espectros, Filme B, Cambones, Patife Band, Yekun, Neurônios Alucinados, e outras bandas e amigos em comum. No final de 2010, Andre (Voltera, Yekun) e Regis (Voltera) decidem dar continuidade de maneira efetiva no projeto. Resgatam fragmentos e ideias até então construídas, numa tentativa de materializar a outrora utopia coletiva. Este período foi significativo para a estabilização definitiva do projeto, e a sua posterior consolidação como banda. Durante todo o ano de 2011 a dupla trabalhou exaustivamente nas composições, principalmente na concepção de um direcionamento estético que garantisse um espaço de intersecção dialética entre a música e o pensamento crítico, este último desenvolvido em paralelo junto ao Coletivo Desconstrução. Em maio de 2012, durante o primeiro aniversário da banda, é lançado pelo selo Desconstrução Discos o primeiro registro gravado, um EP em vinil de 7” contendo 6 canções, contando com a participação de amigos e parceiros que de alguma forma colaboraram nesta trajetória. Pouco tempo depois, Raphael, oriundo da cena punk da cidade, é convidado a fazer parte da banda como baixista, e a banda começa a se apresentar ao vivo como um power trio. Em maio de 2013 o vocalista Alonzo, parceiro de longa data e de outros projetos musicais com os integrantes, se junta à banda. Participou das gravações do primeiro EP, cedendo sua voz nas músicas e colaborando nas composições. Como um quarteto, a banda se fortalece e promove a continuidade de sua proposta musical e política. Em 2014, a banda entrou em estúdio para o registro de seu primeiro álbum completo, com previsão de lançamento no início de 2015. A Ferramenta atualmente é constituída por Andre Abreu na guitarra, Re-

A

20 - UNDERGROUND ROCK REPORT

gis Munhoz na bateria, Raphael Sanz no baixo e Alonzo Chaska nos vocais. Tivemos um bate papo com o guitarrista André Abreu, cidadão guarulhense, guitarrista e um cara muito politizado. Fala com propriedade e conhecimento de causa, além de ser um cara com quem podemos falar por horas e horas. Firme nas suas posições e respeitador assíduo da opinião alheia, tivemos essa conversa agradável e você confere a seguir tudo que rolou. Olá André, obrigado pelo seu tempo e por nos dar o privilégio dessa conversa. Agora, nos fale sobre você e suas atividades. André Abreu: Salve JP e leitores do Collapse Underground Art. Bom, talvez possa começar falando sobre as coisas que eu faço o que de certo modo reflete com um pouco de precisão (mas nem tudo!) sobre o que somos. As atividades que exerço hoje e que permitem minha vivência possuir um significado, é a música e os estudos. Significado entendido aqui como resultado de práticas que me trazem de volta a mim mesmo. Práticas que não me separam do meu próprio corpo e da minha consciência de si. Sempre estarei numa eterna tentativa, muitas vezes falha (risos) de não privilegiar uma coisa em detrimento da outra. E acho que isso logo de cara já não deu muito certo, porque escrevi musica na frente, mas não tem jeito! (risos) Além disso, tem o trabalho, que na minha condição operária e histórica pessoal, é o meio que tem me permitido a sobrevivência básica e a possibilidade de realizar estas atividades. Sendo direto, porque você se tornou guitarrista? André: Comecei a tocar guitarra com 14 anos, pouco antes disso já tentava fazer uns acordes de violão, mas meu ouvido sempre foi mais para o lado da guitarra, do som sujo com distorção... Já à prática, e o vir a ser guitarrista, acho que é uma coisa que ainda está em construção desde aquela época... No começo tocava coisas e tentava imitar a forma de tocar de algumas figuras lendárias do instrumento, que de certo modo admiro e curto muito até hoje, tipo Tony Iommi, Eddie Van Halen, Brian Baker... Só que diferente destes monstros talentosos e dadas minhas condições materiais, nunca pude me dedicar integralmente ao instrumento como gostaria, e talvez eu nem tenha o DNA de guitarrista. Mas sou teimoso pra carai e continuo desafiando a natureza. (risos)


Você é um cara que respira música 24 horas por dia, quais são as bandas que estão constantemente no seu player? André: Olha, de uns meses pra cá pra ser sincero não tenho quase escutado nada! Principalmente quando estou na rua, porque eu me fodi e perdi tudo o que tinha no meu HD recentemente, e acabei enjoando da meia dúzia de sons que tem no meu mp3 que sobraram. Então só ouço alguma coisa quando eu paro em casa e fico no computador, aí é inevitável! Algumas bandas que conheci relativamente há pouco tempo andam dando uns rolês dentro da minha cabeça: Melody Monster só o nome ja diz bastante coisa... O Elefante, que é um projeto do vocal do Dead Fish, banda da qual tenho enorme respeito. Tem o Koro, uma banda americana de Hardcore dos anos 80... Skate Aranha, som de doido lá do Piauí... O Gosto do Nojo de Jundiaí, Desacato Civil de SP, Asfixia Social de Diadema, e muitas outras. Além disso, algumas classiqueiras de sempre que me acompanham, Cólera, Plebe Rude, Bad Religion, Dag Nasty, The Ruts, Bad Brains, Cro-mags, Propagandhi, Corrosion of Conformity, Carcass... A lista é grandinha viu. E essa diversidade se reflete também quando você toca, fale-nos sobre as bandas em que você já tocou e toca hoje em dia. André: JP, pra nós que somos operários da música, e insistimos nisso de fazer som autoral, acabamos nos envolvendo organicamente com muitas bandas, e nos apoiamos mutuamente na medida do possível. Meu único critério pra tocar numa banda é a amizade e proximidade com os músicos, obviamente que pra mim o alinhamento ideológico e de classe tem importância determinante, devido a minha orientação ideológica à esquerda, que foi adquirida primeiramente de forma instintiva aos nove anos de idade nas eleições de 89, e de forma mais consciente e militante a partir de 2006 quando ingressei na faculdade de História. A primeira experiência que tive tocando foi com um grande amigo de infância, o Edu, que foi quem me apresentou ao universo da musica Hardcore, e que morava na minha rua em Guarulhos. Isso devia ser 95 mais ou menos. A gente era uma dupla, ele na batera e eu na guitarra, e fazíamos um som meio metal meio punk só com 2 notas rs, eu tinha acabado de aprender a técnica palm-mute (palhetada abafada) na guitarra. A partir dessa época comecei a colar em vários shows, no Alternative da Penha, no Skina 10 em Guarulhos, Aeroanta em SP, e rolava uns também na escola aonde estudei a partir de 96, o Carlos de Campos no Brás. O pessoal organizava várias festas lá com bandas de Punk Rock, Hardcore e de Rock Alternativo. Após algum tempo resolvi levar mais a sério, e alguns anos depois entrei no Hardtime, uma banda guarulhense também, e ali pude desenvolver mais ou menos a linguagem que tenho hoje no instrumento. Depois de um tempo, e um maior envolvimento na cena, comecei a conhecer mais o pessoal, as bandas, e fui convidado a tocar baixo no Hateen. Em 2004, vivendo um momento de dificuldade e crise, fundei o Voltera, que tinha uma linguagem mais pesada, e a partir daí fiz um pacto com a afinação baixa que dura até hoje. Foi uma das bandas que mais me significou nessa trajetória, principalmente pelo desenvolvimento contínuo de uma autonomia criativa quase que total, com muito pouca influência do que rolava nas cenas Hardcore e alternativa que até então frequentava. Foi meio que um afastamento, mas não chegou a ser uma ruptura radical com os amigos e bandas, mas sim uma proposta musical que ia pra outro lado. Apesar do distanciamento, tenho mantido contato com amigos e bandas da época até hoje!! A partir daí, em decorrência de compromissos de trabalho e estudo que se intensificaram, passei por uma cacetada de bandas por um tempo mais curto, e as mais significativas foram Quadrado e Filme B. Atualmente componho a linha de frente da banda Ferramenta, um antigo projeto que se tornou concreto pra valer em 2011, e também no Yekun, a banda mais pesada e casca grossa que já toquei até hoje. Como você vê o cenário da música pesada no Brasil? André: Acho que pra entender o cenário brasileiro, seria preciso enxergá-lo como uma reprodução em miniatura da nossa sociedade no geral, com as mesmas contradições, privilégios, conflitos e resistências. Se a gente pudesse pegar um microscópio e ampliar somente esse cenário como uma região, encontraremos muita disputa pelos domínios simbólicos e de espaço. Depois de anos vivenciando e observando as coisas no underground, pelo menos aqui em SP que é o centro orgânico do capitalismo brasileiro, e também muito por eu não ter tido tantas oportunidades de vivenciar essas experiências em outro lugar, não vejo o underground daqui como um lugar tão à parte e “separado” do restante não. Aliás, São Paulo como sempre está na vanguarda da manutenção a qualquer custo das práticas e da mentalidade individualista, competitiva e violenta dos anos de neoliberalismo. Enxergo muito conservadorismo hegemônico, e pouquíssimos espaços e práticas de resistência e contradiscurso. O cenário Underground, apesar de carregar consigo uma essência que naturalmente se opõe a uma lógica de domínio do

mercado, acaba muitas vezes reproduzindo essa lógica até de forma mais acentuada, dependendo do lugar. Quanto às bandas, temos muita qualidade e também muita coisa convencionada a ser considerada “ruim”. Ora, e isso faz parte do jogo! Da mesma forma que os ricos existem por conta da riqueza que conseguem na exploração dos pobres todos os dias, as bandas “boas”, de sucesso (mesmo no underground), que contam com estrutura de ponta, ótimos equipamentos, investimentos em aulas de música desde cedo, se diferenciam com orgulho do “resto” e entendem isso como mérito próprio. Após a explosão do underground de SP no início dos anos 2000, e por esta contínua reprodução das práticas capitalistas de larga escala na pequena escala, se presenciou a criação de uma casta superior própria, aonde os espaços com boa infra-estrutura, tanto físicos quanto midiáticos, são quase inacessíveis para os de baixo, ou seja, aqueles que em outro momento construíram a base do cenário são excluídos na maior parte do tempo, tanto simbolicamente, pois aquela banda é muito “ruim” pra tocar aqui na minha casa, ou ser divulgada pelo meu site “autoridade no assunto”, quanto também é separada economicamente, fato que se traduz no absurdo das bandas ter que vender ingresso no caso de desejar tocar nesses espaços. A sanha por lucro e prestígio tem sido tanta em algumas casas que você não tem nem um acesso mais direto a uma tentativa de diálogo com o proprietário, não há nem a possibilidade de negociação. Isso tem contribuído para dividir cada vez mais o público, que considera o que é bom, ou respeitável, somente se as bandas tocarem nos espaços desse circuito. Mesmo que a qualidade de som, estrutura e respeito oferecida aos freqüentadores, tanto banda como público, seja uma lástima. A contrapartida de uma banda tocar ou aparecer nestes espaços apenas se gerar algum tipo de lucro (econômico ou simbólico) para os proprietários e negociantes do underground, é uma prática real em boa parte do cenário hoje. Não há novidade. Por outro lado, existe a resistência. Então, na sua visão existe um conflito de classes nos eventos e no “o que vou assistir hoje”, este vindo do público? André: Não generalizando, mas vejo que uma boa parcela dos que frequentam a “cena” aqui em SP tem uma tendência forte ao elitismo, mesmo estando num ambiente pretensamente underground. É uma relação verticalizada e autoritária que começa pela própria estrutura dos espaços. Quando você vê numa casa de shows pretensamente underground aquelas gaiolas pros fumantes do lado de fora, com o objetivo claro de não misturar aqueles que pagaram o ingresso de quem não pagou e está do lado de fora, é um indício forte dessa segregação (só pra constar, sou totalmente a favor de não fumar dentro dos espaços de shows!). Já dentro da festa, temos aquela subdivisão: bandas de abertura, sendo sempre “inconscientemente sabotadas” nas mesas de som e PAs, para o som não ofuscar a qualidade da “banda principal”. Isso é uma coisa asquerosa do rolê underground. Já estive dos dois lados nisso, e sabemos bem que existe um interesse maior do público pela banda principal, óbvio. Mas acho que essa relação de separação e privilégio cria um vício, e todos que são submetidos a esta lógica acabam entrando na prática. Isso talvez se explique pelo perfil de classe de quem compõe a cena hoje. Até mesmo esta separação que infelizmente se tornou usual, banda principal em cima do palco, acima das bandas de abertura, e estas por sua vez numa posição de pequenos privilégios acima do público, nada mais são do que uma cópia miniaturizada do que se vê no mainstream e no show business... Até mesmo as posturas, gestos, discursos são idênticos!! Chega a ser caricato. O que tenho visto desde o começo dos anos 2000 é muita banda e muita gente que cola no rolê sem ter a mínima noção do que é apoio mútuo, solidariedade, amizade, que eram os pressupostos essenciais de sobrevivência no underground, se o considerarmos como uma pratica cultural realmente independente da indústria cultural de massa, e não uma etapa a ser percorrida, transitória, em direção a uma ambição “maior”. Os que não detêm o poder nas mãos, podem escolher entre dois caminhos: ou se unem e se reconhecem como classe, ou então serão engolidos sem trégua pela lógica capitalista. De forma geral, as coisas têm acontecido assim. Ou seja, sendo mais direto, a cena a partir daquele momento ficou ocupada por um pessoal classe média, mais elitizado, com tudo vindo em mãos muito fácil, e com uma capacidade crítica muito débil. A vivência do que é o ser e o fazer da classe operária anda em disputa, e a classe média que geralmente, reproduz esses padrões individualistas. Acho que tem contribuído muito para a desmobilização dos de baixo, e isso inclui o underground. Ou seja, o referencial mudou, pois não existe mais a capacidade de se reconhecer no outro ao lado, compondo o mesmo ambiente e o mesmo rolê. Mudou muito o perfil da cena, ou seja: se tornou uma região mais competitiva e menos solidária, mais individualista e menos cooperativa, mais divisora e menos somadora, e muito menos amigável. UNDERGROUND ROCK REPORT - 21


Por essas e outras talvez explique o descontentamento de uma boa parcela do pessoal um pouco mais antigo que frequenta a cena atualmente, tanto de banda como público, se formos considerar essa divisão usual. Outro dia desses conversei com um grande camarada no metrô, o Ricardo, que tocou bateria comigo num dos projetos embrionários pré-Ferramenta, e compartilhamos o sentimento de não ter mais tanta vontade de sair pra tocar e lidar com esse tipo de situação. E na real, acho que a cena que está “consolidada” por essa mentalidade, naturalmente tende a se esgotar, mas somente se houver práticas que resistam a isso e ofereçam uma perspectiva diferente do que está aí. Acho que nunca foi visto tanto elitismo, machismo e racismo na cena como atualmente, mas ao mesmo tempo, a resistência e o boicote a tudo isso tende a aumentar. Eu torço todos os dias para que esse mainstream anão desmorone de vez!! Mas pra não ser tão ranzinza e mal humorado, vejo também pontos positivos, como por exemplo, a diminuição considerável da violência nos rolês, isso claro, se compararmos à insanidade que existia no começo dos anos 90. Isso sem dúvida é algo que deve ser levado em conta. Você então acredita que essa conscientização das massas deveria ser eleita como prioridade já nos primeiros anos de escola? Investindo muito mais na educação e no livre pensamento dos futuros cidadãos? André: Sem sombra de dúvida. Infelizmente a educação pública por aqui, principalmente em SP, tem caminhado para o lado extremo oposto, e tem recebido duros golpes desde os anos da ditadura civil-militar, que começou a extrair do currículo escolar disciplinas que potencialmente poderiam estimular o pensamento crítico e uma prática emancipatória por parte dos jovens nas escolas. Disciplinas como geografia, história, filosofia, sociologia, foram retiradas sumariamente do currículo para dar espaço a ensino religioso, educação moral e cívica e outras surrealidades. A partir daí com as posteriores políticas estatais de sucateamento dos serviços públicos para privilegiar e beneficiar a esfera privada. Vieram anos de terror neoliberal patrocinado pelo tucanato paulista. O resultado que temos hoje é essa barbárie que vemos por aí. E nós que sobrevivemos a toda sorte de violência dos anos 90 e das investidas da polícia psicopata que continua a assolar nossas quebradas, ainda temos que ficar ouvindo um monte de viúvas da ditadura querendo intervenção militar... Não sei, as vezes dá vontade de tentar se suicidar igual o Didi mocó fazia. (risos)

22 - UNDERGROUND ROCK REPORT

Qual seria então o estopim para a mudança dessa realidade, visto que protestos visando a economia dos vinte centavos se mostraram ineficazes e fez com que o povo se tornasse uma paródia dele mesmo? André: Vejo que os protestos de junho de 2013 não começaram exatamente ali, e também acho que não se encerraram ainda por completo. O grande acontecimento muitas vezes mascara um pouco os mecanismos que movimentam a realidade. Poderíamos dizer que aquilo foi uma revolução, se pegássemos pra analisar somente aquela foto aérea do 3º ato pelo passe livre, com milhares de pessoas ocupando a consolação indo pra radial leste. Não acho que foi uma revolução propriamente dita, mas sem dúvida foi um momento revolucionário e importantíssimo pra mobilização política popular, que não via nada do tipo desde os movimentos pelas diretas já nos anos 80... Com 5 anos de idade não participei, mas lembro do meu pai dizendo que foi em algumas das manifestações no RJ e aqui em SP. No vale do anhangabaú o povo botou a rede globo pra correr! (risos). Estamos ainda no processo de redemocratização do país desde aquela época, e isso continua em curso!! Ainda temos resíduos da ditadura, por exemplo, em SP a continuidade da polícia militarizada mais sanguinária do país. Não foi realizada também a democratização dos meios de comunicação (em SP por exemplo, não existe uma mísera radiozinha sequer de som pesado/alternativo nas FMs, canal de televisão aberta então nem se fala!!), entre milhares de outros problemas históricos, acumulação de vasta quilometragem de terras nas mãos de pouquíssimos proprietários, resquícios da mentalidade escravocrata, racismo, machismo... Se o processo democrático continuar a ser consolidado como um processo em disputa e não for ameaçado por grupos extremistas, fanáticos e fascistas, pode ser que tenhamos algum tipo de mudança sim. Acho que a democracia tem que ser popular, e não elitista. Entendo que hoje temos uma democracia elitista, mas o processo está em disputa e aberto! Por enquanto, a meu ver, um pouco longe do ideal para efetivamente transformar as estruturas na direção do empoderamento popular, mas a transformação se dá também no nosso cotidiano, neste exato momento! Esta mesma conversa talvez já seja algo que reproduz esse sentimento e prática de transformação, assim como um coletivo popular estudantil ou de categoria de trabalhadores que se organizou inspirado nas ultimas manifestações. As pessoas, bem ou mal estão se politizando como nunca, discute-se política o tempo todo! Acho que os protestos de junho de 2013 foram uma tremenda lição sobre o que pode unir as classes


populares na direção de objetivos concretos e demandas urgentes, e entender que é possível conviver com as diferenças ideológicas internas até alcançar satisfatoriamente estes objetivos. Sim, mas apoio da massa, que é o grande “boom” das revoluções, estão todos voltados a Copa do Mundo. Você consegue visualizar uma mudança de comportamento das pessoas logo após o encerramento desse evento, ou acha que o brasileiro não é guerreiro o suficiente para tentar melhorar a sua própria condição? André: A Copa do Mundo talvez seja um momento único na nossa história. Temos visto as notícias de escandalosos benefícios concedidos pelos governos para a movimentação do capital privado, principalmente às grandes empreiteiras e outros setores específicos que abocanharam uma enorme fatia de recursos, e enquanto isso, muitos despejos e violações de direitos populares têm aumentado. As possibilidades de visibilidade planetária de manifestações que mostrem explicitamente todas as nossas contradições históricas e problemas que temos no país está colocada. E tudo isso ainda em ano de eleição. Acho que seremos testemunhas de muita coisa. Eu particularmente acho que, apesar da legitimidade dos protestos, rola um pouco de ingenuidade em algumas ações mais extremas dos protestantes. Se essas movimentações recebem apoio de gente como Bolsonaro e aliados, é preciso parar pra pensar um pouco. Acho que os problemas que temos incluem sim as questões da Copa, mas acho que ela é quase insignificante se compararmos à roubalheira que os grandes empresários e os ricos promovem no dia-a-dia, sonegando impostos, comprando lideranças políticas e acumulando à rodo riquezas provenientes de recursos públicos para se consolidar cada vez mais. A economia tem submetido a política aos seus desmandos. Neste período que se aproxima, a correlação de forças será colocada na mesa novamente. Quanto ao questionamento sobre a reação do brasileiro, acho que nós, de forma geral, ainda somos um pouco reféns de todos esses desdobramentos históricos, mas não acredito que somos essa entidade popular “pacífica” como a famosa construção simbólica imposta pelas classes dominantes sugerem. Somos sim um povo que, de uma forma ou de outra, têm se rebelado e demonstrado insatisfação, mas a resposta vem sempre através de massacres impiedosos!! Desde as matanças às resistências da invasão européia, depois dos escravos rebeldes (e não rebeldes também!), passando pelos movimentos de independência populares, de trabalhadores organizados, dos comunistas e esquerdistas, até a juventude periférica principalmente negra. Ou seja, tem se eliminado, fisicamente e ideologicamente, qualquer um que ouse desafiar e propor qualquer mudança, mesmo que modesta na ordem estabelecida. Fatos que continuam a se reproduzir atualmente. O Brasil é um país que tem sido regido pelo ódio e pelo irracionalismo, e acho isso uma merda!

minha formação, como professor de História. Resuma André Abreu em uma frase ou palavra. André: Isso é bem cabuloso, bem difícil mesmo. Tem um poema da Isabel Allende que pode ajudar “A vida é puro ruído entre dois silêncios abismais: o silêncio antes de nascer, e o silêncio após a morte” Obrigado pelo seu tempo e por nos proporcionar este belo bate-papo, deixe aqui uma mensagem para os nossos leitores. André: JP, você é um grande camarada. E ações como estas que você está fazendo integram mais a cena, e acho que se estamos descontentes com algo, temos de fazer diferente e tentar reproduzir as coisas de acordo com o que acreditamos. Aos leitores, deixo aqui um abraço e um desejo: Se você toca em alguma banda, seja também o público, na medida do possível. Sempre apoie os rolês e as outras bandas da sua cidade, do seu estado, do seu país, do seu continente. Se você não toca em banda, monte uma. Escreva fanzines, publique blogs, faça camisetas e adesivos, ajude a organizar shows. Quem sabe um dia, conseguiremos destruir esses muros que dividem a cena entre “artista” e público e assim talvez possamos construir um underground com mais respeito, justiça e mais divertido e amigável. Espero que tenham curtido o papo, valeu!

Música pesada e política andam de mãos dadas? Ou esta seria uma realidade de um determinado nicho dentro de um estilo? André: Sim, com toda a certeza a música, seja ela pesada ou não, pode estar perfeitamente alinhada à política!! A música é um meio, uma forma do ser humano se comunicar com o outro e se expressar. Não acredito apenas na música como veículo para divulgação ideológica, mas também qualquer outra manifestação de arte. Seja na pintura, no cinema, na literatura, etc. Acho que na música existem regiões (considero um nicho de música pesada específica como uma região, por exemplo!) que são disputadas politicamente através do universo dos símbolos de forma constante. É só considerarmos, por exemplo, o que tem acontecido no Hardcore de São Paulo. Vejo hoje a cena reproduzindo tanto a simbologia dos ideais libertários e emancipatórios, que de certo modo tem sido a tradição derivada do movimento punk quando se politizou nos anos 80, assim como também observamos reproduções simbólicas mais “apolíticas”, e muitas vezes claramente viradas à direita, mais conservadoras, e muitas vezes com discursos reacionários! Vejo então um campo de forças e de disputa pelo significado do som Hardcore, pelo menos em SP, que é reproduzido em sua maioria por agentes de origem operária, popular e de frações de classe média proletária suburbana. Há uma disputa no interior destas classes pelo direcionamento de suas representações políticas, e isso se vê acontecer na cena também. Mas acho que existem alguns estilos específicos que detém certa hegemonia e que quase não há espaço para disputas simbólicas. Acho interessante, por exemplo, o Death Metal, que a grande maioria das bandas desse rolê possui um conteúdo politicamente libertário, e as bandas desse estilo que possuem um discurso mais reacionário ou fascistóide quase não tem espaço (o que particularmente acho ótimo). Se é que existe alguma, provavelmente não ameaça a estabilidade do significado usual do estilo. Planos para o futuro? André: Em breve entraremos em estúdio pra gravar novamente com a Ferramenta e a Yekun, e pretendo também dar continuidade a UNDERGROUND ROCK REPORT - 23


ARQUIVO

Power “Japan” Metal G

alneryus é uma banda de power metal, formada em 2001,em Osaka, Japão.

A banda foi formada no começo do ano de 2001 pelo guitarrista Syu e pelo vocalista Yama-B. A ideia era criar uma banda que demonstrasse as suas ideias e seus gostos musicais, e assim começaram a busca por membros para completar a banda. Shôgo Himuro foi chamado para o baixo, Toshihiro Yui para a bateria e A para os teclados. Em outubro de 2001 a banda lançou um EP com 2 faixas, intitulado “United Flag”, que foi produzido e lançado de forma independente. Em agosto de 2002 voltam ao estúdio para lançar seu segundo EP, intitulado “Rebel Flag”, novamente produzido de forma independente junto a Iron Shock. A única mudança na formação da banda com relação ao EP anterior foi do tecladista A, substituído por Yoshinori Kataoka. O segundo EP trouxe à banda uma série de propostas por parte de diversas gravadoras, além de render várias turnês. Em 2003 foram convidados a participar do “Melodic Metal Festival” no Japão, realizado pela banda de power metal sueca Dragonland. Após o festival, a Dragonland convidou Galneryus para tocarem juntos novamente na próxima turnê da banda pelo Japão. A banda também recebeu outros tipos de convites, como, por exemplo, a gravação de duas músicas para compilações de álbuns cover. A primeira das duas músicas foi “Black Diamond” (original24 - UNDERGROUND ROCK REPORT

mente da banda finlandesa Stratovarius) lançada no álbum Stand Proud! III. A segunda foi “Soldier of Fortune” (da banda japonesa Loudness) no álbum Japanese Heavy Metal Tribute Tamashii II. Para a gravação das músicas, a banda estreou uma nova formação, com Yusuke no baixo (substituindo Shôgo Himuro), Yuhki (Ark Storm) nos teclados (substituindo Yoshinori Kataoka), além dos músicos que permaneceram na banda (Yama-B, Syu e Toshihiro Yui). Os dois álbuns foram lançados simultaneamente em dezembro de 2002 pela gravadora VAP, que propôs um contrato para a banda. Com gravadora definida, a banda pôde então começar seu trabalho para a gravação do primeiro álbum. Lançado em outubro de 2003 e com o nome “The Flag of Punishment”, o álbum apresentava todas as 5 canções já compostas pela banda (reescritas e regravadas), além de novas composições, e com a capa desenhada por Yoshitaka Amano, famoso ilustrador japonês. Nesta época a formação também foi alterada, com a entrada definitiva de Yuhki nos teclados, Tsui no baixo e Junichi Satoh na bateria. Em março de 2005 o segundo álbum, “Advance to the Fall”, é finalmente lançado, fazendo um sucesso considerável, principalmente a música “Silent Revelation”. Depois de uma série de shows, a banda retornou ao estúdio para gravação do terceiro álbum, lançado em julho de 2006 sob o título “Beyond the End of Despair...”. Poucos meses depois, lançam o seu primeiro DVD, “Live for Rebirth”, contendo um dos shows da turnê “Die for Rebirth”.


No ano de 2007 a banda anunciou o nome de Yu-To para substituir Tsui no baixo, e lançou seu quarto álbum “One for All - All for One”, com introdução de músicas cantadas inteiramente em japonês, marcando assim uma nova era da banda, tendo em vista que até o terceiro álbum, todas as músicas eram escritas em inglês. Além disso, foi lançado o single “Voices from the past”, com 5 músicas covers, sendo cada música escolhida por um integrante da banda. Em 2008 a banda lançou um novo single, onde duas de suas músicas, “Alsatia” e “Cause Disarray”, são respectivamente temas de abertura e encerramento do anime “Daughters of Mnemosyne”. Também foi apresentado o novo DVD, “Live for All - Live for One”, gravado durante a turnê da banda em 2007. Ainda no ano de 2008, a banda iniciou sua nova turnê, intitulada “Path to the Fifth Flag”, seguido do lançamento de um Single digital, com o nome de Shining Moments, composto de três faixas, que foi disponibilizado para download no dia 30 de julho. No dia 10 de setembro a banda lançou seu quinto álbum sob o título “Reincarnation” (masterizado por Ten Jansen, que efetuou grandes trabalhos com bandas como MUCC, Sepultura e Iron Maiden). A banda ainda anunciou o lançamento de mais um single de covers: “Voices from the Past II”, dando continuação ao que havia sido lançado em 2007. Um mês após o lançamento do quinto álbum foi divulgada no site oficial da banda uma notícia inesperada: o vocalista Yama-B estava fora da banda. Segundo Yama, sua saída aconteceu devido às mudanças no estilo da banda nos últimos tempos. A saída foi de comum acordo e todos entenderam que isto seria o melhor para ambas as partes. Yama-B deixou o Galneryus logo após o final da turnê “Back to the Flag”, realizada entre os dias 23 de outubro e 6 de dezembro. O ano de 2009 foi marcado por muita especulação e poucas informações sobre quem seria o novo vocalista da banda. Depois de alguns meses, foi decidido que o substituto de Yama-B seria Masatoshi Ono. No mesmo ano, Ono fez sua primeira apresentação com a banda no Loud Park Festival. O baixista Yu-To também deixou a banda, sendo substituído por Taka. Ainda em 2009 foram lançados dois Greatest Hits: “Best Of

The Braving Days” e “Best Of The Awakening Days”, contendo os maiores sucessos da banda. Em 21 de abril de 2010 a banda divulga seu primeiro trabalho com a participação de Masatoshi Ono: “Beginning Of The Resurrection”, um single com 3 faixas, sendo que uma delas - “A Far-off Distance” - é tema de encerramento do anime “Rainbow ~Nisha Rokubou no Shichinin~”. Em 23 de junho o sexto álbum, com o título de “Resurrection” é lançado. A diferença entre Yama-B e Masatoshi Ono é evidente, no entanto a banda permanece com um som consistente e com a adição de alguns elementos que remetem aos primeiros álbuns produzidos. As capas dos álbuns foram produzidas pelo conhecido desenhista japonês Yoshitaka Amano, que contribui em séries conhecidas como Final Fantasy e Vampire Hunter. Syu é influenciado enormemente pelas bandas Stratovarius, Angra e Sonata Arctica, porém disse estar mais de acordo com o estilo do X Japan, especialmente com o do falecido guitarrista hide a quem admira enormemente, sobretudo em sua época solo já que soube criar músicas distintas ao que havia feito antes, sem perder a qualidade. Syu já teve ligações como músico de apoio da banda Sonata Arctica. Todos os álbuns da banda foram lançados em quartas-feiras, bem como os Singles e os três DVDs. Yu-To também é guitarrista da banda de Visual Kei DELUHI, onde é conhecido como Leda. Formação atual Masatoshi Ono - vocal (2009 - presente) Syu - guitarra (2001 - presente) Junichi - bateria (2003 - presente) Taka - baixo (2009- presente) Yuhki - teclado (2003- presente)

UNDERGROUND ROCK REPORT - 25


ENTREVISTA

Por: Charlie Curcio ntrevista exclusiva com a banda mineira Certo Porcos!, através de seu guitarrista e vocalista Rodrigo. Com um grande histórico na cena do Metal de Minas Gerais e até mundial, Rodrigo nos conta detalhes de seu novo trabalho, e revela em primeira mão o próximo lançamento, um split 10” com a belga Agathocles.

E

Quando surgiu a Certo Porcos!? Rodrigo: Na verdade somos amigos de longa data e nos conhecemos desde a infância/adolescência... os caras já tocavam juntos há tempos e quando foi em 2009 comecei a tocar guitarra com eles, primeiramente só covers de Olho Seco, Ratos de Porão, Discharge, Spermbirds, depois começamos a compor também. Era como uma pelada de fim de semana, nos reuníamos pra tocar e beber, então a banda foi tomando forma e em 2011 começamos a tocar ao vivo e a gravar. A brincadeira ficou séria e desde então estamos aí tocando e produzindo música barulhenta. Porque este nome? Rodrigo: Tentamos alguns nomes como AK-47 e Necrochorume mas já haviam bandas homônimas então colocamos Certo Porcos que é uma expressão que falamos entre nós, não tem significado específico e com certeza não tem ninguém com essa porra de nome!!! Os membros da Certo Porcos! tocam ou tocaram em outras bandas e quais? Rodrigo: Minha trajetória começou em 84 com o Holocausto, primeiro como vocalista na demo Massacre em 85, na coletânea Warfare Noise em 86 e no LP Campo de Extermínio em 87, depois como baterista nos discos seguintes: Blocked Minds 88, Negatives 91 e Tozago as Deismno em 94. Em 95 encerramos as atividades e entre 96 e 2006 toquei no pexbaA, uma banda de antimúsica onde 26 - UNDERGROUND ROCK REPORT

gravei 3 albuns, pexbaA I, pexbaA II e rique te pexbaA kita moo. Em 2006 remontei o Holocausto, gravei o álbum De Volta ao Front como baterista e vocalista. Então em 2009 o Holocausto parou novamente. Nessa época entrei para o Impurity onde participei da regravação da demo de 89, The Impurity Temple em 2010, o álbum Bonfim Moritvri Mortivis em 2011 e o split In the Blood em 2012. Em 2009 comecei a tocar guitarra com o Certo Porcos e gravamos uma demo em 2011, a coletânea BH Chaos em 2013 e o full-lenght (Ódio)666 em 2014. Tenho outro projeto de Raw Black Metal, com um amigo de Berlim chamado GGUW - Gegen Gravitation und Willensfreiheit (Contra a Gravidade e o Livre Arbítrio) lançamos um ep em 2011. Também participo como suporte bass nos shows do Bode Preto do Piauí. O Psycho Zé chegou a tocar ao vivo com o Impurity e o Lélio Metralha tocou com o Sepulchral Voice na década de 90 e está remontando a banda no momento. Como foram as gravações do CD “Ódio 666”? Onde gravaram o mesmo? Rodrigo: Gravamos no estúdio Engenho em BH, do Andrevil “Cabelo”, guitarrista do Chakal e foi muito bom o trabalho com ele, pois o Cabelo além de ser um ótimo engenheiro de som, sabe muito bem como captar e tirar o som que voce deseja... isso é primordial quando o tempo é escasso, além do estúdio nos dar todo suporte necessário pra nos expressarmos da melhor maneira possível. Ficou foda a gravação, estamos muito satisfeitos com o resultado final. Fale-nos sobre o contrato com a Cogumelo Records. Rodrigo: Trabalho com a Cogumelo há quase 30 anos e foi bem tranquilo o contrato com a gravadora. Tínhamos a possibilidade de lançar o cd em conjunto com outras gravadoras/distros ou totalmente independente mas achamos que através da Cogumelo, pela sua relevância e importância seria ótimo pra banda e tem sido muito boa a parceria até aqui.


Como está a repercussão do CD e sua distribuição no Brasil e mundo? Rodrigo: Ainda é cedo pra falar, mas o feedback que estamos tendo até o momento é o melhor possível. Sabemos das dificuldades do mercado, mas não temos a preocupação com a urgência. Vamos seguindo como bons mineiros, comendo pelas beiradas... Como está a agenda de shows da banda? Tem planos de saírem em viagem pelo Brasil e até pelo mundo afora? Rodrigo: Há uma dificuldade em tocar em BH, pois o circuito é pequeno e a maioria das casas de shows só abrem pra bandas cover, mas temos alguns shows programados na cidade. Esperamos conseguir tocar em outros lugares também divulgando nosso disco. Estão em trabalho para mais algum lançamento ou ainda estão na “ressaca” de Ódio 666? Rodrigo: Novas composições estão sendo feitas, sou um cara atormentado, sonho com música e tenho que produzir pra poder continuar respirando... estamos trabalhando no momento na produção de um Split com o Agathocles para o segundo semestre desse ano... vai ser brutal!!! Qual o estilo que assumem e suas influências pessoais dentro da banda? Rodrigo: Não nos prendemos a rótulos e estilos mas gostamos de vários tipos de música como rock, metal, punk, hardcore, crust, grind, além de música clássica e de vanguarda. Como você encara o cenário atual da música pesada em comparação com o de alguns anos atrás? Rodrigo: Venho de um tempo onde não havia tanta fragmentação de estilos e consequentemente de público como hoje, vivemos numa ditadura da música pesada onde pastores vendem uma ideia de verdade absoluta e de fundamentalismo musical. Às vezes pode ser encarada como cena mesmo, teatral... muita pompa e pouca atitude. Na verdade estamos pouco nos fodendo pra esses tipos.

Como a Certos Porcos! se situa neste atual quadro? Notam algum tipo de dificuldades e também benefícios? Rodrigo: É muito difícil por um lado justamente por essa fragmentação e radicalismo mas por outro lado as novas ferramentas possibilitam facilidade de produzir e propagar nossas músicas. Deixe uma última declaração, por favor! Rodrigo: A mente é a maior das prisões. Então num mundo onde já nascemos escravos é muito importante não nos deixarmos acorrentar por preconceitos e falsas verdades!!! Vida longa e liberdade!!!

UNDERGROUND ROCK REPORT - 27


ENTREVISTA

Por: JP Carvalho Sakrah foi formado em 2009 com a intenção de fazer um som pesado e com riffs marcantes, o que é essencial numa banda de rock. Lançou seu primeiro EP em maio de 2011, entitulado Collider. Uma autêntica banda de rock com a pegada e a vontade de fazer um som que curtem ouvir. A banda é formada por Leandro Novo - vocal, Ale Arrais – guitarra, Marcelo B.A - bateria) e Jessica Matoso-baixo. Conversamos com Jessica sobre a banda na entrevista que você lê a seguir

O

Olá Jéssica, obrigado pelo seu tempo, você poderia começar nos falando sobre o começo do Sakrah? Jéssica Matoso: Apesar de não ter participado da criação da banda, converso muito com os meninos sobre historias da banda até mesmo porque sou fissurada em biografia de bandas, e o que eu posso afirmar sobre os papos que tenho com a banda é que tudo começou com a intensão de fazer os sons que eles gostavam de 28 - UNDERGROUND ROCK REPORT

ouvir, mas tudo começou já na intensão de ser uma banda, de ter essa responsabilidade, e não como um projeto que poderia se tornar uma banda ou não. Como sempre houve entrosamento musical entre os músicos que deram início a banda (Ed, Ale, Carol e BA) os riffs surgiram naturalmente, e como a pegada do som estava sendo satisfatória para todos, a galera foi se empolgando com essa ideia dai houve o início de direcionar a banda para algo sério e profissional, para ter compromisso com as pessoas que viessem a ouvir o material e seguir a banda. Houve a troca de vocal, onde Leandro Novo assumiu essa responsa com respeito, atitude e dedicação, e então e então teve início a produção do primeiro EP da banda, Collider, que contava com os primeiros sons da banda: Collider, Reflection, Fight Bar, When I Fall e Whiskey Devil. Com a primeira troca de baixista, o Cliff assume então as linhas de baixo e a banda lança seu primeiro vídeo clipe já com som novo, Adrifted, que faria parte de seu Debut album.


Quase que na sequencia houve novamente a troca de baixista onde assumi a linha de baixo e desde então estamos todos muito felizes e satisfeitos com os resultados e esperamos melhorar sempre mantendo essa formação e sempre trazendo novidades. O Sakrah é uma banda de riffs, o quão importantes é para vocês compor riffs de impacto? Jéssica: A importância de um riff está realmente no impacto que ele causa. Quando comecei a ouvir rock and roll e metal lembro perfeitamente de como as músicas entravam na minha mente e tomavam conta dela. Ta certo que minha mente é perturbada (rs) mas eu comecei a perceber que a música atingia várias pessoas da mesma forma quando comecei a ir em shows pequenos em casas aqui em São Paulo, no começo eu só ia em show cover e também em shows que as rádios organizavam com minha mãe, até mesmo porque eu era nova e não conhecia as coisas, foi ai que comecei a querer mais, e com o passar do tempo junto dos meus amigos que também curtiam som fui conhecendo mais bandas do underground, e então com 14 anos fui a um show do Krisiun, no Kazebre, a entrada era 1kl de alimento e aquilo foi mágico pra mim porque enfim eu vi que podia existir uma banda sensacional (não sei se posso falar fudida rs) e ela não precisava ser ouvida na rádio pra ser tudo aquilo que ela era. Até então eu ouvia muito rock n roll, estava entrando no mundo do metal, e peguei uma guitarra emprestada pra tentar aprender a tocar algo, e comecei a conhecer mais bandas ainda, e então eu fui percebendo que eu conseguia ouvir novos sons e ter aquela mesma sensação do começo, de se sentir impactada! A busca mesmo desse impacto é fazer um hino, um som que toque quem ouvir de forma única independente de quantas vezes ela dê o play no disco, é fazer com que as pessoas que nos escutam. Queremos que todos que nos ouçam sintam a pegada e a vontade que a gente tem, quero de verdade que a galera sinta prazer ouvindo nosso som, independente de ouvirem num celular ou colarem pra ver a gente ao vivo, pois todos somos influenciados a tocar pelo

prazer que a música despertou em nós, logo, nada mais justo que continuar passando esse sentimento pra futuras gerações. Em 2011, vocês lançaram um EP (Collider), qual foi a repercussão desse trabalho? Jéssica: Nessa época especificamente eu não estava no Sakrah, o que me faz ter uma visão totalmente diferente da banda (rs). Até então eu não conhecia o som, mesmo porque felizmente o underground brasileiro é muito rico de grandes bandas, e isso facilita porque esse mundo se torna um ovo, e nessa de termos amigos em comum, o Ale Arrais (Guitarrista e fundador da banda) me adicionou no Facebook e me mostrou um som da banda e disse que tinha a opção de fazer o download da demo, e em no máximo 30 minutos eu já tava puxando assunto com ele pra falar que a banda era sensacional, que tinha curtido muito o som e que queria saber quando fosse rolar show, e ele falou que eles estavam meio parados de show porque estavam focados na gravação do full, e então eu comecei a acompanhar mais os trampos da banda... já tinha tudo decorado e cantava junto mesmo sem eles disponibilizarem as letras, porque como eu escutava praticamente todos os dias comecei a me familiarizar muito com o som (Claro que devido ao meu incrível inglês algumas coisas estavam totalmente erradas, mas é isso ai, the book is on the table fazendo a legião do rock sempre rs). Com isso eu comecei a divulgar o som, e como eu costumo divulgar muito o underground nacional, a galera que escutava sempre vinha falar bem da banda e tudo mais, então, mesmo não fazendo parte da banda no lançamento do EP ou na produção dele, eu sei que o material foi de grande importância para a banda, pois foi muito bem feito e bem recebido pelo público. E sobre o mais recente trabalho? Porque disponibilizá-lo para download gratuito? Jéssica: Crescemos em uma época da música e hoje vivemos em outra, e precisamos nos adaptar a ela. Hoje a facilidade de você tem o som disponível para Download

UNDERGROUND ROCK REPORT - 29


é primordial, porque as pessoas escutam muita música no computador, no celular, e armazenam em HD externo suas coletanias preferidas, já quando eu comecei nesse mundo, quando eu fazia parte do só do público e não das bandas, a gente comprava um CD e ia para a casa de um amigo ouvir todo mundo junto, ler o encarte, ver a arte, pegar aquele som preferido e colocar pra tocar várias vezes até alguém te xingar e pedir pra mudar, e isso aconteceu muito quando eu comprei o Dark Saga do Iced Earth, em 2000 (e alguma coisa) e isso me faz refletir de como era dar um tiro no escuro até essa época ao comprar um disco, porque você ouvia aquele som inicial, nisso você ia atrás do material pra comprar e à partir dai todo mundo tinha aquela banda do coração, que nem sabia como ia ser o futuro cd, mas a gente comprava mesmo assim, porque confiava no trabalho da banda, e as bandas conquistavam seu espaço com seu trampo passado no boca a boca, de mão em mão, hoje temos uma facilidade muito maior, que tem os aspectos bons e ruins, mas ai a gente foca nas coisas boas que podem ser tiradas disso e o resultado disso tem sido muito bom. Deixar o material disponível para download dá ao público a possibilidade de conferir o nosso trabalho e ver que podem apostar na nossa proposta sem Jéssica, para terminar, qual é a sua visão do atual cenário Heavy Metal no Brasil? Jéssica: O cenário underground destinado a música mais extrema no Brasil está repleta de coisas extremamente boas, e por conta disso a disputa por espaço se torna complicada. A gente podia ficar por horas citando só as bandas que conhecemos, como SURRA, Confronto, In Torment, VoodooPriest, Distraught, Command6, Andralls, Andragonia, Hatefullmurder, Hatematter, Spreading Hate, Warsickness, itSELF, Kamala, Necrofobia, Santa Muerte, Oitão, Worst, Tamuya Thrash Tribe, Autopse, Nekrost, Structural Repairs, Last Plague, Obitto, Inheritance entre muitas mais de pessoas que tenho o contato e que possuem banda, e mesmo citando essa galera toda, ainda assim haveriam mais centenas para citar, mas dentre todas que acompanhei desde o início uma que posso citar que deu muito certo aqui no Brasil é a Project 46, quem conquistou o espaço de dentro pra fora, e atualmente conquista um espaço de responsa em toda a América Latina e sei que em breve o mundo todo, mas é também uma questão de momento do público que você precisa saber aproveitar e que também fica ligado ao som e ao sentimento você quer expressar na música, a forma com a qual se expressa e a forma com a qual você trabalha na divulgação de seu material. Todas as bandas que citei cuidam muito da qualidade do material que divulgam, isso digo tanto na questão de produção do álbum full, quanto a merch, quanto no equipamento que possuem para fazer o som ao vivo e falo isso com total certeza, pois acompanho essas e muito mais bandas, e vejo também que uma coisa que atrapalha muito a galera que vê a banda como um trabalho mesmo, é o lado B do Underground, que são as bandas que acabam fazendo as coisas pelas coxas, que não se preocupam com o ao vivo, não cuidam da banda com respeito, com responsabilidade. Isso atrasa muito nosso(bandas em geral) lado principalmente pela visão que as pessoas tem de um músico no Brasil, é difícil ser levado à sério, e como é fácil fazer as coisas sem nenhum comprometimento, essa galera se infiltra com bandas que tem um puta potencial, mas estragam a visão que possam ter da gente pelo fato da suposta “desorganização” e “falta de comprometimento”. O Rock n Roll nunca fez parte da historia do Brasil, é o Brasil que tem parte nessa historia do Rock com contribuições de alguns músicos excelentes, então, pelo fato de ser uma cultura “imposta” ela acaba não sendo aceita por todo o Brasil, logo a imposição é nula, e passa a ser uma coisa de coração mesmo, pra você curtir o som não é porque alguém impôs pra você que o Rock é o certo, mas sim porque você ouviu aquele maravilhoso riff e sentiu que aquilo fazia parte de você, porque só quem realmente gosta ou toca Rock/Metal sabe a maneira única que isso toca a nossa mente, os nossos sentimentos, a nossa vida e todas as sensações que a vida nos permite ter, e isso faz com que esse nosso grupo seja diferente, que se torna uma nova sociedade praticamente, e dentro dessa nova sociedade, quem faz parte de uma banda precisa mostrar o seu 30 - UNDERGROUND ROCK REPORT

respeito, mostrar sua dedicação e o compromisso com o que faz para haja abertura dos demais que existam nessa sociedade, nesse grupo, fazendo assim com que a gente possa mostrar que somos merecedores daquela oportunidade para a pessoa ouvir nosso som e apoiar nossa banda, comprando seu cd, camisetas e acessórios ou indicando o som pra outra pessoa que pode ou não curtir e passar pra frente, e assim esperamos sempre que aconteça (rs). Sei que essa visão pode parecer um tanto quando “romântica” para a música, até mesmo porque eu já ouvi de pessoas que tem mais tempo de estrada que não adianta você investir nisso ou naquilo porque ter banda nunca da em nada, mas eu sempre acredito que “tudo é nada” são questões relativas e demasiadamente pessoais, além de dependerem muito de o que você faz e até onde você vai para uma conquista, e dali adiante ou você começa a querer mais ou continuará fazendo o mesmo até que as pessoas se cansem do “mesmo” que você faz, e por isso eu acho importantíssimo a gente deixar nossas metas sempre em um lugar que você possa alcançar, para que não seja nada cansativo demais a ponto de você desistir, mas que não sejam tão fáceis para que assim você jamais perca o tesão de conquistar. Um exemplo que eu posso citar de um acontecimento recente que pra mim foi muito importante, foi a participação do evento “Ribeirão In Rock”, que aconteceu dia 05 de outubro de 2014, onde eu tive o prazer de tocar em um fest com bandas que cresci ouvindo, como Raimundos, Tihuana e Planta e Raiz, e também bandas que fizeram parte de gerações futuras, que são as mais atuais, entre elas Dead Fish e Glória, além de tocar com os grandes amigos do Necrofobia que fazem um puta som de responsa, e fora o fato de eu estar tocando ao lado da minha família de amigos, o Sakrah, e ter ali muita gente ali pra escutar o nosso som, mesmo as que acabaram indo pra ver as grandes bandas. Mas o que mais me fez feliz ali foi descer do palco pra curtir o restante do festival e ter pessoas que eu não conhecia vindo conversar comigo como se fossem amigos, porque eles conheciam a banda, conheciam o som, ou seja, eu não os conhecia, mas alguém ali conhecia a gente, e falando do som que mais gostava, sobre a letra, sobre a linha de baixo, mostrando o cd no celular, ou seja, estamos invadindo mais mentes (rs), e graças a ajuda do Macarrão na PA, nosso ao vivo saiu com qualidade. Ouvir tudo isso me fez sorrir durante horas seguidas, e sempre que eu lembro de tudo, me arranca um sorriso na hora, se torna praticamente ou literalmente um anti-depressivo, pois ali a gente via que tudo que a gente faz, tudo vale a pena, mesmo que às vezes não aconteça naquele prazo esperado, aos poucos a gente vai conquistando nosso sonho, trazendo o sonho pra realidade, e mesmo que algumas pessoas tentem avacalhar com o espaço que MUITOS tentam conquistar, as nossas conquistas estão de acordo com o nosso esforço e com a nossa vontade de fazer dar certo, por isso eu acredito no atual cenário extremo no Brasil.


UNDERGROUND ROCK REPORT - 31


... AO CAOS ...

Paleolítico Pós-Moderno

Por: Panda Reis egundo a metodologia e a sua organização da história humana, estaríamos na pós modernidade, momento histórico em que a nossa espécie encontra-se no ápice da evolução humana e tecnológica, e para olhos desatentos, ou massificados pelo mesmo pano de fundo ideológico, ou para cabeças que não pensam além do que moldaram-nas para pensar, e nunca ultrapassar além do limite estipulado, parece mesmo que chegamos ao final daquela linha cronológica de tempo que aprendemos na escola. A globalização ideológica existe antes mesmo da globalização financeira ou econômica, as idéias do ocidente expansionista foram levadas, impostas a todo restante do mundo, e a modernidade (do ponto de vista da elite da classe dominante, burguesa e branca estadunidense e européia), foi levada junto, importada, imposta à força, no momento que o imperialismo ganhou todo o mundo, rivalizando e superando as nações não capitalistas, até nações que se dizem socialistas ou mesmo comunistas, não estão inertes a globalização. Com o capitalismo, a modernidade e as mudanças no mundo, completamente globalizado, seja a globalização ideológica ou a financeira-econômica, estamos “catalogados” no pós contemporâneo, segundo “eles”, o mundo todo deveria estar no mesmo momento histórico, porém uma observação social e econômica, refuta essa teoria. Antes que digam que a minha analise histórica é baseada no marxismo, eu digo social no termo mais amplo possível do significado da palavra, quero dizer,que quando me refiro ao termo,falo no âmbito humano, civilizatorio no contexto ocidental e oriental, ou seja, globalizado, indiferente das ideologias vigentes em cada

S

região, me refiro ao momento civilizatorio heterogêneo, refutando o modo linear e progressivo do humano. Pois segundo o enquadramento histórico, estamos no ápice civilizatorio dos sapiens sapiens, mas ainda temos humanos vivendo exatamente no modo paleolítico de se viver, coletando sobras de alimentos, coletando “frutas e raízes” e coletando sobras de alimentos deixados pra trás por outros predadores ... Não estou falando dos últimos indígenas isolados brasileiros do Acre, nem de aborígines de ilhas isoladas do pacífico, nem de países explorados, usurpados e estuprados que compõem os países do continente africano, falo de cidades grandes de nações completamente neoliberais, nações que fazem questão de se mostrarem como potencias ou aliados dessas super potencias, lugares que encontramos nos centros e nas periferias verdadeiros seres paleolíticos, que se tornam invisíveis perante os olhos da evoluída massa sapiens sapiens, não os percebem ou não podem perceber o que já foi ultrapassado, superado, extinto... Uma espécie dita extinta subsistindo da mesma forma que há milênios, correndo de seus predadores, se escondendo em fendas e cavernas... Levando a mesma vida nômade,

32 - UNDERGROUND ROCK REPORT

perigosamente migratória, para esses o progresso chega a ser invisível também, pois o acesso restrito torna o existente inexistente, e a realidade paleolítica da cidade de Nova York ou de São Paulo muda de nome e realidade nas cabeças e teses dos cientistas sociais. Os mesmos analistas que não percebem o mesmo problema evolutivo ou, retrocesso evolutivo, pelas necessidades, ou falta delas, não percebendo a estagnação ou, a força social ocidental maleficamente tornando todo e qualquer ser humano a volta paleolítica. Quem são aqueles sapiens sapiens coletando alimentos em meio ao lixo? E a pouca importância (ou nenhuma), dada a essa população paleolítica pós moderna é puramente enganosa na sua efetividade, não importa para as elites sapiens sapiens ... Igualitar tudo, diminuir a distância milenar que existe entre os dois grupos parece impossível até por que teríamos que retroceder em todas as questões sociais e de inclusão, assunto esse que nem foi resolvido entre os sapiens sapiens, imagina se eles considerarem a teoria do pós paleolítico!?? Inseri-los no pós modernismo? Custaria muito para o sistema, tanto economicamente como ideologicamente e metodicamente também, não interes-

sa para eles, pois colocaria em cheque o status quo. Então seria mais simples trata-los como sub humanos e não sub sapiens sapiens, ignora -los dentro de um sistema macro,não assumindo a falha evolutiva e não aceitando que ser sapiens sapiens, não é simplesmente estar na civilização, mas efetivamente fazer parte dela. Esse tal paleolítico pós moderno, chega a ser tão abstrato que os torna invisíveis, porém em um capitalismo que é também abstratismo puro e exclusivo, descansando sobre o neoliberalismo que torna a abstração e contradição clara, em normalidade, como incluir esses “ hominídeos “ em uma sociedade que nem os enxergam como tal? Mais quais deles... Qual grupo entre sapiens sapiens e paleolítico pós moderno encontrará a extinção primeiro?! Somos tão mais evoluídos que eles assim?! ou a tendência da evolução humana social ou civilizatorio é um eterno retrocesso cíclico, isso me faz pensar mais nas teorias sobre a evolução tecnológica perdida de povos antigos ... e torna inevitável não associar a evolução passando por cima e deixando pra trás o que não esta estabelecido e alinha com a “ordem mundial ocidental”. pandadrums@hotmail.com


ESPECIAL

O

Blues foi uma das principais fontes de todos os gêneros musicais americanos: Jazz, Soul, Disco, Rock’n Roll, uma boa parte da música Pop, da corrente Folk urbana os anos 60 e mesmo, de modo significativo, da música Country em todas as suas derivadas - Western Swing, Bluegrass, Rockabilly... As características essenciais do Blues - Swing, poema de 12 compassos, alterações da escala maior - são encontradas, de um modo ou de outro, em um número considerável de artistas de gêneros e estilos tão diferentes como Ornette Coleman ou Frank Sinatra, os Rolling Stones ou Doc Watson, e até na Europa do Leste e a Ásia! De Johnny Holliday a Michel Jonasz, pouquíssimos artistas atuais de música popular seriam o que são sem um empréstimo freqüente do Blues. Paradoxalmente, se a importância do Blues na criação na elaboração de todas essas músicas do século XX é relativamente reconhecida, muitas exegeses só deram ao Blues o valor de fonte, negando-lhe qualquer evolução específica e qualquer vida autônoma. Entretanto, nos últimos anos, o Blues se impôs na Europa - principalmente na França - como um gênero bem particular, com seu público, que não cessa de crescer, seus grandes nomes, suas revistas especializadas. Os concertos e turnês se multiplicam, várias obras dedicadas a esse gênero aparecem, e catálogos de Blues são atualmente encontrados em todas as lojas de discos, engrossando as opções até a exaustão, o que em absoluto não era o caso há apenas uma década. Mas, se o apreciador de Blues reconhece instantaneamente “sua” música, raramente é capaz de situar seus contornos e limites, e muito menos retratar sua história e sua evolução. Com efeito, muitos conflitos vêm da ausência de uma análise em profundidade, avivada até em data recente pela fragilidade da pesquisa etnomusicológica norte-americana nesse campo. De fato, contrariamente ao Jazz, cuja vocação universalista o fez sair rapidamente de seu contexto etnocultural de origem, o Blues foi a primeira e principal forma cultural especificamente negro-americana e, enquanto tal, foi - como o povo negro que a criou e até meados dos anos 60 - objeto de desprezo ou de ignorância dos americanos brancos - apesar de transtornar insidiosamente e seguramente, por sua incomparável originalidade, seu vigor e sua riqueza, toda a música

americana - antes de estender-se ao Velho Continente. A história do Blues, sua evolução, suas sucessivas mutações são inseparáveis da longa subida para a superfície do povo negro americano, para quem, durante várias décadas, o Blues foi, mais que uma música, seu principal meio de expressão, desempenhando igualmente, desde então, um papel sociológico e psicológico absolutamente não-habitual na música moderna do mundo ocidental. Na realidade, e é preciso insistir neste ponto, o Blues é uma etnomúsica mas em condições sócio-históricas tais, que pôde ser explorada comercialmente antes de tornar-se objeto de estudos científicos! É só, portanto, através de uma abordagem desse tipo etnomusicológica, sociológica e histórica - que se pode compreender realmente o Blues e dar-lhe seu lugar exato na civilização americana. Porque, nascido de uma longa tradição oral e abalando então pesadamente as regras do solfejo e da harmonia, o Blues desafiou durante muito tempo os hábitos da escrita musical.Todo estudo profundo do Blues deve então apoiar-se em raras fontes escritas, na escuta atenta e comparativa das gravações sonoras desde 1930 (data do primeiro disco de Blues e nas entrevistas insubstituíveis dos mais antigos músicos vivos desse gênero musical, que freqüentemente seguiram ou mesmo precederam a evolução acelerada de seu povo e de sua música. Pois não esqueçamos que apenas um século separa o fim da Guerra de Secessão e a emancipação dos escravos negros do reconhecimento internacional do Blues! Este pequeno site deseja ser a síntese de muitos anos de consultas de todas essas fontes, de numerosos testemunhos e entrevistas, realizadas às vezes por mim mesmo dentre as quais algumas serão aqui utilizadas pela primeira vez, de um conhecimento interior e exterior dessa música e sobretudo das pessoas que inicialmente o criaram, ou seja, o sofrido povo negro americano. Blues? O que é isto? Uma definição completa e exata do Blues é difícil, pois, se ele é, claro, um gênero musical, foi também muito mais que isso para o povo negro americano que o criou. E, se os especialistas analisam (freqüentemente com certa dificuldade) o Blues em termos musicais, os criadores dessa arte só falam dela de forma lírica. Mas escutemos UNDERGROUND ROCK REPORT - 33


uns e outros. Veja então uma interessante definição musicológica e histórica: “A escala do Blues nasce da contaminação da escala diatônica ocidental pelo sistema africano... As melodias se organizam no interior de um sistema pentatonal que ignora o semitom, compreendendo uma escala de cinco tons inteiros que coincidem com cinco dos intervalos da escala diatônica e não concordam com dois deles, o terceiro e o sétimo, que são semitons na escala diatônica e são, dessa forma, estranhos ao ouvido africano. Quando colocado em contato com uma música de um tom maior diatônico, o africano tem tendência a não mais saber onde se encontra. Todas as vezes em que aproxima do terceiro e do sétimo em qualquer acorde, ele terá tendência a distorcê-los por violentos efeitos de vibrato até que entrem em sua escala alterando por sustenido ou por bemol. 0 tempo passa, e tais modificações tendem a cristalizar-se sob a forma de novas escalas que não devem ser consideradas muito tempo como fantasias... De uma dessas escalas saiu toda a tradição do jazz americano. Essa escala, que é a maior adicionada de terceiras e de sétimas menores, foi algumas vezes chamada de “escala Blues”. A escala Blues apresenta, por conseguinte, dois pontos de ambigüidade: a nota do terceiro grau - a mediante é de bom grado desviada de semitom, determinando assim, com a tônica, um intervalo de terça menor; o mesmo ocorre com a do sétimo grau - a sensível - determinando assim um intervalo de sétima menor. São essas notas - que fazem com que a escala Blues hesite constantemente entre o modo maior e o modo menor e gere, com isso, seu clima expressivo característico - que chamamos de Blue notes... Essa escala, através do significado equívoco que instaura, comanda toda a música negro-americana autêntica...” Mas que pensam os criadores negros? Destaquemos os títulos de alguns Blues mais conhecidos: Blues is a feeling, I’m drinking my Blues away, Blues, stay away from me, The Blues will never die. Robert Johnson, no célebre Walkin’ Blues, vai mais longe e define: Some people tells you the worried Blues ain’t so bad/But it’s the worst feelin’ a good man’ most ever had, que só podemos grosseiramente traduzir por: “Alguns lhes dirão que este Blues atormentado não é tão terrível / mas é o pior sentimento que um homem pode jamais experimentar”. E o pianista-cantor Little Brother Montgomery descreve seu encontro com o Blues, magnificamente personalizado em First time I met the Blues: “The first time I met the Blues, I was walking through the woods / He knocked at my house and done me all the harm he could / Now the Blues got after me Lord and run me from tree to tree / You should have heard me begging: `Mister Blues, don’t murder me’ / Good morning, Mr. Blues, what are you doing here so soon? / You be’s with me in the morning and every night and noon “. Como a abordagem artístico-psicológica do Blues feita por seus criadores aparece assim tão diferente de sua definição musicológica feita pelos especialistas exteriores, tentamos dar conta dessa dualidade no pequeno artigo “Blues” da Enciclopédia do Blues: “Define-se em geral o Blues através de diversas características técnicas: e uma parte cantada poética de 12 compassos segundo o esquema A-A-B... mas esses compassos são muito irregulares, deixando lugar a uma resposta do instrumento: essa interação entre o canto e a parte instrumental é uma outra característica do Blues (e estendeu-se a toda a música negra americana): o instrumento prolonga ou imita a voz humana. 0 Bluesman não se acompanha ao violão, ele o faz responder a sua voz; desde então, a exatidão métrica, as notas trocadas corretamente ou a melodia do conjunto contam menos que as inflexões tiradas do instrumento, a sonoridade que se lhe dá e a intensidade da emoção do músico no momento em que toca (feeling)... o Blues é uma música relativamente rígida e limitada, o que freqüentemente dá a impressão a um ouvinte menos advertido de que ‘todos os Blues são iguais’. É claro que isso não é verdade, mas um Blues difere de outro segundo a qualidade do swing e do feeling transmitido pelo artista, e o amador julga o músico a partir de sua aptidão em comunicar seus sentimentos. Em nossa opinião, ainda que cômoda, não podemos nos limitar à definição técnica do Blues. Pois, música de origem africana, o Blues desempenhou um papel considerável na história do povo negro americano, sendo que o Bluesman ocupou na América, com toda evidência, o lugar ocupado pelo feiticeiro da África, que era também simultaneamente poeta e músico. A comunidade negra pedia ao Bluesman que fosse compositor, improvisador, poeta, coletor e arranjador de temas tradicionais, cantor, virtuose de seu instrumento, animador público, sociólogo, e ele era julgado por seus contemporâneos pela extensão de seus talentos em todos esse campos... Além disso, o Bluesman também desempenhava um papel psicoterápico para si mesmo e para seu auditório.Juntos, encontravam no Blues um efeito catártico para seus tormentos. Aliás, o termo ‘Blues’ mal-definido é geralmente sinônimo de fossa... Melhor que uma longa exegese, o título de um Blues célebre resume bem tudo o que é essa música: The Blues ain’t nothing but a good man feeling bad (0 Blues não 34 - UNDERGROUND ROCK REPORT

é nada além de um bom homem se sentindo mal)”. A partir desses pontos de vista diferentes mas complementares, agora compreende-se sem dúvida que o Blues foi, no sentido amplo do termo, uma música étnica: a criação espontânea do povo negro-americano que, condenado ao isolamento e ao desespero, carregou de toda emoção a única forma de arte que lhe foi verdadeiramente aberta na África: a música. Então o Blues, para ser compreensível, deve ser recolocado em seu contexto real: o itinerário histórico, psicológico, sociológico do povo negro em terra americana, do qual foi a expressão privilegiada, seguindo sua evolução e desposando seus contornos. O nascimento do Blues É no diário de Charlotte Forten que aparece pela primeira vez o termo “Blues”.Charlotte era uma negra nascida livre no Norte, que tinha estudado e se tornado professora. Depois de alguns anos de ensino no estado de Maryland, decidiu, a pedido do proprietário, ensinar a ler os escravos de Edito Island, na Carolina do Sul e aí morou de 1862 a 1865. Ela manteve um relatório quase que diário desses anos, notando sobretudo as dificuldades de toda ordem que encontrava em suas obrigações. No domingo de 14 de dezembro de 1862 escreveu, transtornada pelos gritos que subiam dos bairros de escravos: “Voltei da igreja com o Blues. Joguei-me sobre meu leito e pela primeira vez, desde que cheguei aqui, me senti muito triste e muito miserável”. Ela não define as relações eventuais do Blues com qualquer expressão musical mas nota, todavia, alguns dias mais tarde (18 de fevereiro de 1863), falando da canção Poor Rosy: “Uma das escravas me disse: Gosto de Poor Rosy mais do que de qualquer outra canção, mas para cantá-la bem é preciso estar muito triste e com o espírito inquieto”. Não há nenhuma dúvida que esses termos definem o humor necessário ao Blues, como testemunham dezenas de entrevistas de artistas. Se Poor Rosy, tal como a conhecemos através de algumas versões gravadas depois de 1920, não é propriamente um Blues mas uma espécie de balada bem ritmada, e se sabemos que o Blues provavelmente não existia na época em que Charlotte Forten se encontrava em Edito Island, o espírito do Blues em si já existia e o termo “Blues”, com todas as suas conotações depressivas e de fossa, certamente era muito difundido entre os negros. É significativo que Charlotte Forten não sentisse a necessidade de explicitar o termo que acabava de empregar, sendo que fez isso numerosas vezes para outras palavras. Se o termo “Blues” em seu sentido atual parece ter sido de uso corrente em meados do século XIX, a origem desse nome é incerta. Não temos conhecimento da existência de nenhuma explicação escrita quanto ao nascimento desse termo antes de 1960 e as primeiras pesquisas científicas sobre esse gênero musical. Mesmo um folclorista tão advertido como Alan Lomax, que gravou centenas de canções e de entrevistas com músicos negros para a Biblioteca do Congresso nos anos 30 e 40, empregava o termo “Blues” como uma palavra da linguagem corrente, sem jamais aprofundar seu sentido etimológico. A música dos negros durante a escravidão. Natureza. A atriz inglesa Fannie Anne Kemble, que casou-se com um rico plantador da Geórgia, nos dá uma idéia do que era a música dos escravos negros em seu Diário de uma estadia em uma plantação da Geórgia (1938-1939): “... (as canções dos negros) são... extraordinariamente selvagens e difíceis de relatar. A maneira pela qual o coro explode entre cada frase da melodia cantada por uma voz solista é muito curiosa e eficaz”. Ela define um pouco mais a função desses cantos: ritmar o trabalho e fazer com que pareça mais leve. 0 que permite ao congressista Daniel C. De Jarnette, voltando em 1860 de uma viagem às plantações do Sul onde ouvira escravos cantando durante o trabalho, notar, sem ironia, em um de seus discursos no Congresso: “Os negros das plantações cantam trabalhando... Eu afirmo... há mais alegria de viver e felicidade sem nuvens entre os escravos do Sul do que em qualquer outra população laboriosa do globo”. As Notas sobre o estado da Virgínia de Thomas Jefferson’ são também extremamente interessantes, pois o autor nelas descreve de modo detalhado os instrumentos de música usados pelos negros em meados do século XIX, em particular o banjo, ancestral do banjo, que parece ter sido uma adaptação sutil de vários instrumentos de origem africana: o fiddle, esse violino popular de origem irlandesa que muitos escravos negros parecem ter aprendido a tocar. É claro que não há traços de violão na descrição de Jefferson, o que não é de surpreender, pois, exceto nos estados do Sudoeste (Texas, Califórnia), sob influência espanhola, esse instrumento só fez realmente sua aparição na América no início do século XX. O que pode surpreender muito mais é o fato de que Jefferson não revela nenhum traço de tambores entre os escravos negros. 0 Black Code aplicado pelos plantadores do Sul estipula que os escravos não


têm o direito de tocar tambores ou flautas que “poderiam ser usados, tal qual na África, como meios de linguagem e de comunicação... e poderiam servir para incitar à revolta”. Função da música. 0 trabalho nos campos. Esse “Código negro” nos esclarece de maneira muito precisa as possibilidades de expressão que tinham os escravos: os negros arrancados da África eram considerados unicamente como um capital humano destinado ao trabalho. A única chance de sobrevivência para o escravo negro era ser uma boa ferramenta de trabalho. Toda capacidade de qualquer natureza de que fazia prova o escravo era usada pelo senhor se pudesse servir ao trabalho. Isso aplica-se perfeitamente à música: o canto tradicional africano (com um solista e a resposta em coro do grupo) que ritmava os trabalhos do campo na África do oeste foi, parece, transposto tal e qual para as plantações americanas. Trata-se, é claro, de work-songs, empregadas ainda em torno de 1960 nas penitenciárias para negros no Sul. A religião. Mas é claro que uma sociedade tão profundamente cristã como a dos plantadores escravagistas do Sul não podia confessar francamente essa utilização do homem negro unicamente como animal de carga. Depois de durante muito tempo considerarem-se os negros como meio-macacos, resolveu-se evangelizá-los em massa, levando-lhes assim a felicidade de crer em Jesus. Bem depressa, e provavelmente desde o início do século XIX, o canto religioso tornou-se um dos meios de expressão privilegiados (porque, é claro, autorizado) do gênio africano. Com uma considerável capacidade de adaptação, os escravos negros transformaram os hinos batistas e metodistas em cantos que misturavam as origens africana e européia e que se espalharam no mundo inteiro sob o nome de negro-spirituals. Os negros deram também um sentido muito particular aos temas inspirados na Bíblia, e na maioria no Antigo Testamento. Desde 1859, o reverendo David Mac Rae, de origem britânica, visitando o “Sul profundo”, nota: “Há nos cantos religiosos dos escravos negros uma mistura de profunda tristeza e de alegria fervorosa pelo Paraíso, que sugere estarem apressados por reencontrar Jesus, para serem enfim livres”. Mas, se esse desejo de morte está efetivamente presente com freqüência, não se pode negar que “atravessar o Jordão” significava também tornar-se livre. Em todo caso, o relato dos sofrimentos e penas do povo judeu no Antigo Testamento tiveram uma ressonância muito profunda entre os escravos, que identificaram-se visivelmente com os hebreus fugindo do cativeiro no Egito para a Terra Prometida. Seria preciso ser singularmente surdo para não discernir em um dos negro-spirituals mais célebres, um apelo à emancipação: Go down Moses, way down in Egypt-s land / Tell old Pharahoh, let my people go. “Desça, Moisés, desça às terras do Egito / Diga ao velho faraó que deixe meu povo ir-se”. A dança Enfim, é evidente que, se alguns plantadores martirizavam alguns de seus escravos’, outros - sem dúvida a maioria - tinham uma atitude benevolente e paternalista, aliviando a consciência enquanto manejavam uma mão-de-obra preciosa e cada vez mais cara no decorrer do século XIX (a importação de escravos, declarada ilegal em 1808, continuou a ser contrabandeada até a guerra civil, mas a preços notoriamente mais elevados). Os testemunhos não-suspeitos de complacência abundam a respeito de relações amistosas entre brancos e negros nas plantações. As famílias de escravos freqüentemente habitavam pequenas casas individuais disseminadas pela plantação e rodeadas por uma horta individual que era de sua propriedade. Da mesma maneira, a noite de sábado era freqüentemente reservada aos cantos e danças. Ainda uma vez, a mistura das danças tradicionais africanas trazidas pelos negros com as danças européias que os escravos tinham ocasião de ver e ouvir iam resultar nessa “dança das plantações” (plantation dance) na qual é preciso ver o ancestral direto de numerosas danças surgidas na América nos séculos XIX e XX, entre as quais Jump Jim Crown, transcrita por Thomas Rice em 1828, é o arquétipo. Tornada uma das danças favoritas dos minstrel shows, no decorrer da qual um branco disfarçado de negro e tocando banjo imitava a atitude destes para fazer rir, o tema “Jim Crow” virou sinônimo de segregação e de racismo. Um “Jim Crow” designa, na linguagem do Sul, um branco que tem esses sentimentos. Afirmação de uma cultura negra depois da emancipação Eis então um esboço da música americana praticada,, pelos negros no tempo da escravidão. Com toda evidência, a herança africana é a força dominante desse gênero musical, o que não significa que a contribuição européia seja negligenciável. Quaisquer que tenham sido as formas que essa música tenha to-

mado em solo americano - work-songs, negro-spirituals ou árias de dança - e se bem que essas formas tenham, é claro, desempenhado um papel muito importante na elaboração do Blues, não se pode’em nenhum caso dizer que o Blues existia no tempo da escravidão. Os testemunhos escritos e orais que pudemos consultar ou recolher nos fazem pensar, ao contrário, que o Blues não nasceu da emancipação em si mesma mas de transformações da música negra sob o efeito das novas condições sócio-econômicas criadas por essa emancipação. 0 nascimento do Blues propriamente dito situar-se-ia então, muito provavelmente, no fim do século XIX ou na aurora do século XX. Transformações sócio-econômicas do Sul. Desmembramento de grandes propriedades O fim da guerra civil e a ocupação do Sul pelos nortistas levaram em ampla medida ao desaparecimento das plantações de um só proprietário e ao desmembramento em pequenas fazendas. Entretanto, a perspectiva de uma redistribuição de terras às vezes evocada por alguns políticos ianques antes e durante a Guerra de Secessão (40 acres e uma mula para cada escravo negro) jamais se materializou realmente. 0 que mudou foi a estrutura da exploração agrícola: os antigos escravos tornaram-se trabalhadores assalariados. Em princípio, nada mais se opunha à ascensão de um negro à propriedade da terra, e um movimento muito lento mas contínuo produziu-se nesse sentido, em particular nas terras virgens ou em algumas plantações cujo proprietário havia ostensivamente favorecido as tropas da Confederação, que foram desmanteladas depois da guerra civil. Mas, freqüentemente, os negros tinham a possibilidade de comprar a terra através de organismos criados para a ocasião e geralmente constituídos de aventureiros, fraudadores e especuladores. Por outro lado, a imensa maioria dos negros emancipados não tinha evidentemente nenhuma possibilidade financeira para tal empreendimento. Com efeito, os escravos negros foram em uma ampla maioria empregados como arrendatários, com o direito de cultivar um pequeno pedaço de terra em troca de deveres exorbitantes: 80 a 90% da colheita devida ao proprietário e uma divida para toda sua vida - e a de seus herdeiros - para com o General Store mais próximo (o que queria dizer várias milhas de distância e às vezes várias dezenas de milhas), freqüentemente também possuído pelo mesmo proprietário da terra. Mas as correntes de escravos trabalhando uns amarrados aos outros e retomando em coro as work-songs estavam desmanteladas. Em seu lugar se desenvolve o canto de um cultivador solitário guiando sua mula ou puxando seu arado, saudando o assovio de um trem longínquo ou o barulho do vento nas árvores, improvisando sem outra restrição que não a tradição aninhada no âmago de seu inconsciente. Inúmeros testemunhos atestam a onipresença desses cantos de fazendeiros negros às voltas com seus trabalhos agrícolas no fim do século. Às vezes, um som longo e tenso chamava o arrendatário do campo vizinho que lhe respondia em contracanto. Esses chamados tomaram o nome de hoolies, arhoolies ou, mais freqüentemente, hollers. Desenvolvimento de um subproletariado industrial Nem todos os negros, contudo, tornaram-se arrendatários: aliás, com a alta natalidade registrada depois da emancipação, não se tinha necessidade de todos esses braços. Uma parte deles procurou trabalho em pequenas fábricas (metalúrgicas, refinarias) que começavam a despontar ao redor das grandes cidades do Sul, ou como lenhadores (rachadores de lenha, desmatadores), ou nas fábricas de terebentina que eram criadas perto de jazigos florestais, em canteiros de obras de grandes trabalhos (construção de estradas, de vias férreas, de barragens) ou ainda como barqueiros e também, e talvez sobretudo, nos entrepostos de algodão ou de usinas têxteis. Assim se desenvolveu, da Guerra de Secessão à Primeira Guerra Mundial, uma corrente de migração contínua das plantações para as cidades do Sul, significando uma mudança de atividade para os negros e preparando-os para a grande migração para o Norte que iria começar verdadeiramente depois de 1918. Os que escolheram (ou tiveram de) abandonar os trabalhos agrícolas formaram rapidamente um subproletariado miserável, morando em cabanas insalubres às portas das cidades, corroídos pela subeducação, pelo alcoolismo, pelo amontoamento de famílias e pela promiscuidade, pela ausência de perspectivas de futuro. O lenhador, o trabalhador das matas, o construtor de diques, o barqueiro continuaram (ou reencontraram) a tradição das work-songs, modificadas pela dos hollers já largamente implantada nas fazendas que acabavam de deixar. O aparecimento dos músicos profissionais. Por outro lado, a existência de um subproletariado semi-urbano criava uma extraordinária procura de divertimentos: lojas de bebidas, salas de jogo, espeluncas clandestinas, casas de prostituição, tendo sempre música. Muito rapidamente, apareceu uma categoria social nessas novas comunidades negras: a do músico cego ou aleijado, inapto para o trabalho manual, “mau negro” resmungando contra o UNDERGROUND ROCK REPORT - 35


duro trabalho da cultura do algodão ou simplesmente infringindo as leis em sua comunidade de origem e fugindo à justiça. Freqüentemente itinerante, o músico, contador de histórias, cantor de canções - songster, como começou a ser chamado - passa de vilarejo em vilarejo, de campos florestais a barragens em construção, distraindo trabalhadores e contramestres, trabalhadores agrícolas e florestais, em troca de pouso, comida e uma garrafa de uísque. O cantor tocava também um instrumento para marcar o ritmo e fazer dançar, mas um instrumento que podia levar em suas peregrinações - inicialmente um banjo ou um violino mas logo, e cada vez mais à medida que o século XX avançava, uma guitarra leve, prática e barata muito mais completa que o violino e muito mais flexível que o banjo. É claro que as casas de jogo e os prostíbulos, e logo os cinemas mudos, tinham freqüentemente seu músico particular, bem vestido e bem retribuído, usando piano para tocar os temas trazidos dos campos assim como as baladas em voga nas grandes cidades do Norte, que ele adaptava à sensibilidade negra, usando principalmente e urna vez mais uma abundância de Blues-notes obtidas com dificuldade, enrolando panos em alguns martelos de seu piano. Isolamento dos negros na sociedade sulista Enfim, a supressão da escravidão evidentemente modificou de forma considerável o lugar dos negros na sociedade sulista. As intenções generosas da Reconstrução e da ocupação do Sul pelas tropas ianques no imediato pós-guerra permitiram efetivamente aos antigos escravos, as vezes, o acesso a um certo nível de educação e o exercício de um mínimo de direitos cívicos, entre eles o direito de voto. Mas em 1877, as últimas tropas nortistas deixaram o estado de Luisiana, colocando fim a uma ocupação muito difícil e freando também o empreendimento de reconstrução que revelou-se então um fracasso total. A idéia de uma reconciliação necessária entre o Norte e o Sul para construir uma nação veio sem dificuldades se fazer nas costas dos negros. Subcidadania Para os negros, a evacuação das tropas nortistas tomou a feição de um desastre. 0 espírito de revanche dos brancos sulistas, principalmente dos mais extremistas agrupados em associações secretas, racistas e violentas, como a Ku Klux Klan ou os Cavaleiros do Branco Camélia, veio se exercer imediatamente e com ferocidade sobre os antigos escravos promovidos a “cidadãos iguais”. Os jornais locais da época narravam - freqüentemente nas notas de pé de página - um número estarrecedor de linchamentos (832 só no ano de 1883 no condado de Tallahatchie, no Mississipi), interditando aos negros o exercício real de seus direitos e sobretudo marcando claramente a superioridade branca. Em 1883, a Suprema Corte declarava “inconstitucional” a 14? emenda, que permitia aos negros apelar nessa jurisdição e, a partir de 1890, o Estado do Mississipi interditou efetivamente aos negros, isto é, a 60% da população do estado, o direito de voto. Em 1910, a maior parte dos estados do extremo Sul e mesmo do Velho Sul (como a Virgínia, apesar de ser vizinha do distrito de Colúmbia, sede da capital federal) tinha adotado legislações constitucionais negando qualquer direito político aos negros. Segregação Paralelamente, importantes medidas de separação das raças em todos os lugares públicos eram implementadas, não sem eventuais resistências violentas da parte dos negros. Em 1896, a Suprema Corte declarava constitucionais as leis segregacionistas, sob o pretexto de que asseguravam “comodidades iguais” às duas raças. Mesmo sendo verdade que a maior parte dos estabelecimentos e dos serviços públicos do Sul estava então longe de ter uma aparência luxuosa, a segregação significava para os negros escolas mais pobres, hospitais mais desguarnecidos, transportes mais caóticos, a certeza, de qualquer forma, de ter sempre os prédios mais miseráveis e sórdidos do que os dos brancos. A crise econômica geral do começo da década de 1890, que atingiu duramente a economia de monocultura dos estados do Sul, fez até mesmo aparecer, em alguns casos, como muito onerosos os arrendamentos concedidos aos negros depois da guerra civil. Em 1892, o estado do Mississipi, inovando uma vez mais na matéria, permitiu às penitenciárias emprestar detentos às obras e oficinas que os requisitassem. Era assim que se encontravam nas plantações do Sul, menos de 30 anos depois da guerra civil, trabalhadores negros acorrentados uns aos outros e supervisionados por “mestres” armados de chicotes. Pouquíssimas pessoas se interessavam em saber a sorte definitiva desses prisioneiros, que eram detidos cada vez mais pelos motivos mais fúteis e segundo os pedidos recebidos de mão-de-obra gratuita. Essas sinistras chain gangs tornaram-se assim um elemento essencial da “vida” dos negros. 36 - UNDERGROUND ROCK REPORT

Assim, o grande historiador John Hope Franklin não hesitou em escrever: “... Por mais de um aspecto, a vida dos negros do Sul no início do século XX era mais difícil e mais precária que nos tempos da escravidão” Esmagados por legislações racistas, desprezados em todos os atos da vida cotidiana, excluídos dos estabelecimentos brancos, até mesmo das salas de espetáculos, de dança e das igrejas, os negros precisariam, para sobreviver espiritualmente, redefinir uma cultura que lhes fosse própria. Nascimento de uma cultura negro-americana Na minha opinião, foram verdadeiramente essa situação social degradante e esse isolamento cada vez maior que afirmaram, do modo espetacular que conhecemos, a cultura negro-americana. Se as tentativas de inserção cívica e social dos negros na sociedade americana depois da guerra civil tivessem sido levadas com maior força e convicção e mais aceitas pelos brancos do Sul, não há nenhuma dúvida de que a cultura negro-americana teria sido notavelmente menos particular e original. Por fim, foram claramente menos as tradições africanas - é claro que em ampla medida subjacentes mas, não podemos esquecer, totalmente apagadas, esmagadas desde a origem e, aliás, freqüentemente mal-adaptadas às condições sócio-econômicas americanas - que a vida pós-guerra civil, verdadeiramente americana, dos negros, feita de isolamento e de repressão social, que forjou uma 4dentidade tão particular para o povo negro americano. Sem querer negar o claro e determinante dote africano, parece-nos todavia muito mais judicioso dar a essa cultura o nome de &c negro-americana” que o de “afro-americana”. A alma negra Entre 1895 e 1900, floresceram seitas religiosas negras em todo o Sul e Sudoeste, das quais a mais célebre era a dos pentecostais. Essas novas Igrejas negras eram animadas por um fervor religioso extraordinário que encontrava sua expressão natural nas gospel songs, herdeiras diretas dos negro-spirituals do tempo da escravidão e que veiculavam uma força de contestação e de afirmação de sua própria cultura na mesma proporção em que os brancos não se preocupavam mais em evangelizar as “almas negras”, definitivamente rechaçadas em um extraordinário vazio sanitário mental. Assim se desenvolveu a idéia de que, por vários aspectos, o homem negro é melhor que o homem branco e surgiram notáveis preachers negros, verdadeiros guias espirituais da comunidade negra, a quem se escutava com atenção e a quem às vezes se venerava. Também cada vez mais freqüentemente, o preacher aumentava a força de sua mensagem ao entregá-la cantando e tocando guitarra ou piano. Aparecimento da balada negra: o Blues. Paralelamente, o songster elaborava, sobre o modelo das baladas populares de origem anglo-saxônica, verdadeiras canções de gesta, que falavam de homens negros a homens negros. Tal acontecimento, tal personalidade, tal bairro de tal cidade, tal marginal lutando contra a sociedade (... dos brancos) davam matéria a uma balada que era divulgada de vilarejo em cidade, de acampamento de trabalhadores em bordel, que era retomada, aumentada, aperfeiçoada, adaptada à personalidade de cada novo contador. Frankie and Albert (que se tornou Frankie and Johnnie), Colombus Stockade Blues, Duncan and Brady, House of the rising sun, Ella Speed, Railroad Bill, Lining track, Pick a bale of cotton, Going down the road feeling bad são alguns dos títulos que datam dessa época e que, retomados por inúmeros cantores negros e depois brancos, chegaram até nós em versões arranjadas segundo o gosto das épocas sucessivas. Quanto à mais célebre balada americana de origem negra (e talvez de todas as origens confundidas), John Henry, Alan Lomax coletou 147 diferentes versões! Como se lembrava Furry Lewis, que conheceu bem toda essa época: “... o songster ia à igreja, e o pregador vinha dançar no vilarejo, o jovem músico vencia ao tornar-se pianista em um dos bares de Memphis e freqüentemente, com a idade, tornava-se pregador”. Pouco a pouco, essas grandes atividades musicais dos negros americanos se influenciaram mutuamente, imbricaram-se umas sobre as outras, dando um embrião de codificação, uma espécie de “regra de ouro da balada negra” que, alguns anos mais tarde, o disco veio reforçar e depois estratificar. Foi assim que em algum lugar do século XX - do fazendeiro solitário dedilhando seus hollers, chaing gangs de prisioneiros perpetuando os sotaques das work-songs do tempo da escravidão, do pregador inflamando as almas dos fiéis com a ajuda de sua guitarra, do pianista de casa de jogo martelando suas teclas para que sua clientela dançasse e do cantor itinerante disseminando suas baladas - surgiu o Blues. Fonte: www.distintivoblue.com


UNDERGROUND ROCK REPORT - 37

D e s

e

rรก

ra

G

g

rt

o

n

t

ig

Fo

A

a c

fi fi

o

e

D

ig

it

a

l


ENTREVISTA

Doomed by Intelectual Eficiency

38 - UNDERGROUND ROCK REPORT


Por: JP Carvalho D.I.E. foi formado em 2010 com o objetivo de criar uma sonoridade agressiva sem rótulos, com influências de que vão do Hardcore ao Thrash Metal, como Hatebreed, Throwdown, Sepultura, Ratos de Porão, Pantera, Korzus, Brujeria, Slayer, Sick Of It All, entre outras. Sempre com letras de enfoque social, político e religioso. Assim em 2011, Mortiz Carrasco e Roger Vorhees se juntam a Charles Guerreiro e Hell Hound para gravação do primeiro EP da banda, autointitulado, que foi lançado em novembro de 2012 e conta com quatro músicas. No primeiro semestre de 2014, sai Roger e Johnny Devil assume o baixo e a banda inicia os trabalhos de produção do primeiro álbum com lançamento previsto para o segundo semestre de 2014. Neste meio tempo a banda lançou também seu primeiro videoclipe para a música ‘Predicted’. Até hoje, já dividiram o palco com grandes bandas tais como: Korzus, Ratos de Porão, Torture Squad, Worst, Nervochaos e outras grandes bandas do underground. Conversamos com o guitarrista Douglas “Hell Hound” Iglesias, num bate papo franco e direto, sem meias palavras, o resultado dessa conversa você confere a seguir. Olá! Agradeço desde já pelo seu tempo e por nos conceder esta entrevista! Vamos começar falando do vídeo clip de Predicted, uma das coisas que me chamou a atenção foi a de que, nas cenas gravadas ao vivo, o público é bem presente aos shows do D.I.E, isso é uma característica da sua região? Douglas “Hell Hound” Iglesias: Salve Collapse Underground Art, satisfaçao incomensurável sempre em falar c vcs! Antes de mais nada quero parabenizar a correria por ai, sempre representando o interesse da galera do metal, tanto em levar a informaçao quanto em fazer acontecer!! FODASTICOS! Sem contar pelo interesse em fazer essa entrevista conosco e passar um pouco do nosso dia a dia paraa galera! É nois! Você ja começou fazendo uma excelente pergunta!! Nao esperava menos (risos)! Quando tivemos a idéia de fazer o vídeo da Predicted, entramos em um consenso de transformar em vídeo a música que tivesse a melhor aceitaçao por parte da galera, já estávamos com o projeto de fazer um vídeo com a musica titulo da banda, e, do primeiro EP, entao tivemos que escolher apenas entre as 3, a qual Predicted e Run Out Of Air sairam na mão ferrenhamente, e como esse primeiro trabalho gostariamos muito de transmitir a energia dos shows ao vivo para a galera que vê pela net em casa, com uma das intençoes, colem nos shows porque é nervoso e sairão todoas satisfeitos!! Cara, eu não creio que seja uma qualidade da região, creio que seja uma qualidade do público! Claro, principalmente pelo visual da banda, muita gente estranha, ja vi nego com a cara do nerso da capitinga no meio da galera olhando para a nossa cara, aquela carinha de desconfiado, saca (risos)? Mas é uma duraçao curta, porque mesmo quem não conhece a banda, consegue captar a energia que queremos passar logos no principio do show. E claro, acredito que qualquer banda tenha que ter um vídeo com trechos dos shows mostra muito como a banda se comporta ao

O

vivo e o quanto interage com seu publico! Eu já vi o D.I.E. ao vivo e sei que no palco o couro come! Mas voltando ao assunto, na minha forma de ver, o interior de São Paulo ganha disparado na questão de público da Capital. Qual a sua visão disso? Hell Hound:Acredito que atualmente o ocorrido seja por conta das parcerias! O clima do interior e diferente do da Capital, aqui conversamos mais entre as bandas, somos amigos e dividimos o palco sempre! Nada de bairrismos envolvidos, de maneira nenhuma, creio que seja uma questão cultural e na capital a galera vê eventos Underground com olhos diferenciados daqueles grandes shows que rolam sempre, nao sei se é por estarem bem (ou mal) acostumados com isso, assim quando tomam conhecimento de um evento Underground mantem aquela mentalidade simplista que nao vai ter a mesma qualidade de um show “gringo”, esse é um dos motivos e já podemos observar que essa galera toma de goleada! O segundo motivo acredito que seja a mesmice, não importa o role, as bandas são as mesmas, na questão autoral que é a nossa, muitas bandas tocam repetidamente nos eventos justamente por serem bandas mais próximas da organização, isso acontece nos grandes, porque não iria acontecer nos pequenos e as vezes muitas dessas bandas são verdes e como sempre são rodeados pelo grupo dos tapinhas nas costas, eles se acomodam e continuam com aquele show verde para sempre, para sair culpando a cena e seus adeptos! Terceiro motivo, diversidade! Na capital, hoje em dia, não temos a diversidade dos roles, alguns oferecidos pelos jabazeiros, aqueles eventos que tocam apenas quem vende convite. Cara, isso sempre fomos, somos e seremos contra, sem dúvida, mas eles conseguem manter a diversidade porque aparece um monte de bandas de estilos diferentes e as vezes acaba agradando o público, mas é difícil, já que a banda que vende ingressos, normalmente passa o horário que vai tocar, assim os amigos acabam indo para ver o show da banda “camarada”, acaba o som dessa galera e a negada vaza do role, não se dá nem ao privilégio de ver mais uma ou duas bandas, sem se permitir ouvir algo diferente! No interior podemos observar que esses eventos sem diversidade acaba mantendo uma única galera, hoje em dia a pegada é outra, os Hardcore tocam com os Rock´n Roll que tocam com os Thrash, que tocam com os Death que tocam com os Black, e por ae vai. Nosso último show em Jaú, foi uma prova concreta em relaçao a isso. Tocamos com mais 12 bandas em dois dias de evento, inclusive dividimos o palco com nossos irmaos do Devils Punch, do Trator, do Elephant King, SIOD, Assopro, Mais Valia, Evil Remains, bandas fodas, todas de estilos diferentes e todas parceiraças! O foda é que, pior de tudo o que rola em Sampa, é a mentalidade do dia a dia, a mentalidade individualista do cada um que se importa apenas com seu! O que acaba refletindo em vários problemas de cunho social que só vemos por ai! Nao pensem que não temos pessoas individualistas aqui, principalmente prefeitos e secretarios de cultura, mas pelo menos no quesito entre bandas e pblico estamos conseguindo reverter essa ideia! UNDERGROUND ROCK REPORT - 39


Já que falou no assunto, você acha que o investimento público seria uma forma de melhorar a qualidade, e a diversidade dos shows? Hell Hound: Nao só acho uma boa opção, bem como já existe! Isso comprova simplesmente a merda do nosso atual patamar politico, no como isso funciona! Alguns municípios possuem editais de apoio para gravaçao de discos e vídeos, assim como no estado de São Pauo temos o Proac e pelo ambito Federal a Lei Rouanet. Só que na prática, ambos os sistemas de governo funcionam do mesmo jeito! Apoioando os artistas através do seu currículo artístico, assim creditando Jô Soares, Claudia Leite, Luan Santana, e os monstros falidos do tropicalismo, onde a maioria dos seus trabalhos se dão por incentivos fiscais. Veja bem, não tenho nada contra esses artistas, mas é uma forma de manipular a população em pról dos midiaticos, claro que qualquer um que pudesse participar de editais publicos através de excelencia artística (que em qualquer edital se trasnforma em conceito vago), os grandes artistas vão receber os incentivos, pois nenhuma empresa que apoia o projeto é trouxa e quer estar com mais evidência possível através desses artistas. O acaba gerando publicidade gratuita, ou nao? Mas e nós, pergunto? E os artistas que estão surgindo? Por que sempre são tratados com falta de apoio? Uma maneira de quebrar o espírito dessa galera e tirando o que eles são, assim fica mais fácil conduzi-los ou revolta-los?? Por que um evento como o Rock in Rio precisa de incentivo fiscal e o evento do Zé ali da esquina que está reunindo meia dúzia de bandas não precisa? A diferença é o movimento financeiro ou uma cultura? Podemos dizer que hoje em dia o evento do Zé da esquina representa muito mais uma cultura do que esse conceito usado pelo Rock in Rio! Mas ai entra o interesse público em cobrar isso! Começando pelos secretarios de cultura locais já seria um adianto! E coisas que estamos vendo muito aqui na nossa regiao, principalmente pela iniciativa da produtora Metalstock! Então, apoio cultural e/ou incentivo fiscal acaba sendo um jogo de cartas marcadas? Hell Hound: Com certeza! Porque além de você limitar o acesso dos bens culturais a esses artistas apoiados pelas mídias e indiretamente a essas mesmas mídias que são beneficiadas, também limita a diversidade de tudo que temos a oferecer. Então seria sim, ja que você pode entrar nos portais de transparência e observar os projetos contemplados. São sempre os mesmos ou quem tem os mesmos padrinhos. Isso acontece com muitas “revelaçoes” musicais, principalmente os apadrinhados pela “velha” guarda e os “herois” da ditadura! E por ser música pesada já conta com uma parcela de preconceito por parte dos “avaliadores? Hell Hound: Pode observar que a maioria dos autores da música pesada, trazem consigo um peso igualitário em termos de letras e assuntos abordados em suas músicas, logo polêmico e por fim uma afronta. Não creio que darão a fórmula da plula vermelha da matrix! Pelo menos não de graça!

40 - UNDERGROUND ROCK REPORT

E outra coisa, por outro lado, a maioria dessas comissões são formadas por diversos profissionais, e mesmo se tratando de música, raramente você vê especialistas ou profissionais do meio da música julgando esses projetos, então, que tem coisa a mais por trás tem! Nossas conversas sempre vão para o lado político, mas vamos falar de música (risos). Como anda a composicão e qual a previsão para a gravação de um novo trabalho do D.I.E.? Hell Hound: Cara, trabalhamos muito com o D.I.E., embora estamos evitando marcar algumas datas justamente para dar a esse trabalho a atenção que merece, e também pela quase chegada da filha do Carrasco, que vem entre essa semana e a próxima! Estamos parados com a produção do vídeo pela mudança de base da produtora Rabo de Rato, não estava no cronograma e foi bem repentino, mas estamos esperando eles se adequarem agora em Sorocaba para darmos continuidade ao lançamento do vídeo da banda! A gravação estamos adequando nossas agendas, tanto entre a pessoal da banda quanto aos produtores, essa sendo mais culpa da nossa parte porque os quatro estão passando por uma fase de correria grotesca, e ajuda mais ainda nao termos todos morando na mesma cidade! Mas quanto a isso sem preocupações, já que o pessoal do SIOD Estudios são parceirose neste caso, posso dizer verdadeiros irmãos, e também estão ajudando muito na produção do proximo EP! A expectativa do próximo EP seria para o próximo semestre, o video era para sair antes, mas o importante é que esse video saia, junto com esse segundo EP. Vai ser um marco, praticamente um divisor de águas para a banda onde será passada uma mensagem com um verdadeiro tapa na cara! Vai ser uma produçao única que serão retratados em aproximadamente cinco minutos de video tudo o que a banda pensa, pelo menos uma grande parte (risos). O D.I.E. se apresentpu na capital no Hell Metal Fest ao lado de HellArise, Skinlepsy, Outlanders e outras, num evento com público pequeno e muito atribulado. Como foi a recepção da banda pelos Headbangers da Capital? Hell Hound: Cara, nós adoramos ter tocado em Sampa, apesar de discordar um pouco com a poltica da casa noturna. ´Tocamos em um evento que começou pouco antes das 19 horas e foi encerrado as 23 horas pois a casa iria fechar as portas e abrir para uma outra balada, chegando mesmo a interromper o show do Skinlepsy, achei um grande desrespeito... Foi uma correria muito grande também, mal chegamos e já fomos tocar. Tocamos para um público pequeno também por ser a segunda banda, lembro que tivemos que suprir essa, pois a banda que deveria estar por lá, como combinado, deram desculpas de membros compromissados ou com trabalho ou com qualquer outra coisa, isso é uma parada que eu acho foda também, pois se uma banda não consegue se comprometer com horário, ou mesmo dando desculpas para não ter que tocar mais cedo é uma puta de uma falta de senso, mas tudo bem, esses ai o proprio mercado se permite tirar fora, sem problemas ou ressentimentos em qualquer escala! Foi do caralho e ficamos felizes que a galera presente na hora ao nosso show só elogiou quando descemos do palco! E pode ter 10


ou 30 ou 30 mil, a energia de quando a galera canta as musicas junto é sempre muito foda, principalmente quando o coro em unissono no refrao de DIE!! Ecoa em qualquer lugar quando rola nao importa quantos tem la dentro! Tocamos também em São Bernardo do Campo e em São Caetano, também rolou esse problema com o publico de pouca gente e não por causa do horário e tampouco de divulgaçao! No role de São Bernardo até o mestre Gepetto colou lá para prestigiar a gente!! Fiquei feliz para caralho! E foram bem divulgados, nesses eventos, dividimos o palco com o Rhino que é uma puta banda de Hardcore também! Mas realmente nao importa quantos tem ali, sempre é muito foda e só tem melhorando! Essa é outra questão que eu gostaria de abordar. A abrangência do som da banda permite que vocês toquem com bandas de Metal, de Hardcore e com os mais diversos estilos, a que se deve essa característica? Hell Hound: Todos nós somos ecléticos, ouvimos de tudo! Não contamos com radicalismos entre a gente, ainda mais quando se trata de uma parada universal como a música, quanto mais aberta a mente maior a possibilidade. Mas como eu te disse anteriormente, a diversidade é uma questão bastante aceita por todos nós da banda, principalmente nos shows que dividimos o palco com vários estilos, já teve evento que fomos a banda mais pesada assim como tem eventos que somos os mais lights, mas principalmente, nos permite o direito de ir e vir, de onde quisermos para onde quisermos. E estamos vendo o público feliz com isso em uma reciproca totalmente veradeira, sem rótulos, levantando a unica bandeira do alternativo! Acredito que na cultura de hoje em dia é o que somos! Você é um organizador cultural e realiza vários eventos na sua região e na Capital também. Que tipo de apoio você tem para realizar essas empreitadas? Hell Hound: O proposto para quem trabalha na área é simplesmente “ninguem é merda nenhuma sozinho”, creio que além de colher frutos por uma vida profissional idônea, parte desses frutos são as mesmas pessoas idôneas que me cercam, desde os irmãos de banda, que creio ser abençoado e ter o privilégio de ter escolhido essa familia, e claro, ser escolhidos por eles, assim como todos meus parceiros produtores, aos irmãos das outras bandas, os quais

me creditam a responsabilidade de trabalhar e me envolver diretamente com seus nomes, e, aqueles que realmente trabalham junto na correria do dia a dia, alguns parceiros do poder público onde recebem o projeto de braços abertos, onde realmente enxergam nosso potencial cultural e através deste levando o nicho para determinadas populaçoes. Saindo da linha do Metal, agradeço muito aos parceiros do Brooklin Fest em Sampa e um dos meus mentores na área, curador desse grande evento Luiz Delfino Cardia. Creio que envolvendo tudo isso, estamos conseguindo reunir um time de primeira em termos de bandas e qualidade de produção! Tanto que esse último evento, que rolou por dois dias em Jaú pelo Metalstock, tenha deixado claro esse amadurecimento da proposta do evento e sua diversidade e para finalizar essa questão, creio que tudo isso citado acima já seja um belo princípio de apoio para realizar os trabalhos!! E quais são os planos para as próximas edições? Hell Hound: Esse ano vamos tentar cobrir mais algumas cidades em parceria com as prefeituras locais! Estamos tendo uma excelente aceitação por parte de secretarios e diretores de cultura de alguns municipios da região, a ideia é continuar expandindo e levando o som de várias bandas autorais ao seu público! Pelo MetalStock em parceria com a prefeitura de Botucatu, teremos o Palco Rock da Virada Cultural da cidade, nos dias 23 e 24 de mai!! Esse é o próximo e tem até headliner definido! Obrigado pelo entrevista. Deixe uma mensagem aos nossos leitores, o espaço é seu. Hell Hound: Agradeço a vocês, amigos da Collpase Underground Art, muito obrigado pelo espaço, assim temos a oportunidade de deixar a galera ciente dos trabalhos e projetos que estão chegando, parabéns pelo excelente trabalho. Agradeço aos amigos de luta que estao se mantendo firme e tentando mudar toda essa conotação, principalmente aqueles que estão fazendo acontecer! Lembrem-se, vocês são a mudança que gostariam de ver no mundo! Procurem tomar conhecimento das bandas que estão na labuta na sua região! Hoje o Rock é um grande nicho cultural, incluindo todas as suas vertentes! E não deixem que seu gosto seja tratado de outra forma! Grande abraço a todos e nos vemos na estrada!!!

UNDERGROUND ROCK REPORT - 41


ENTREVISTA

Por: JP Carvalho orfolk é uma banda de Death Metal formada em Janeiro de 1990, na cidade de São José dos Campos/SP, Brasil. Em Janeiro de 1992 gravam sua 1º demo intitulada “Indians Must Survive”, produzida por João Paulo (Attomica). Em setembro de 1993 gravaram a segunda demo-tape com três músicas. Em 1994 a banda passa a tocar em várias cidades do Brasil, e em fevereiro de 1995 gravam a terceira demo intitulada “Spreading Pain and Suffering”. No mesmo ano participam de uma coletânea em CD “Star of Rock” com mais sete bandas. Também com a produção de Tchelo Martins . Nesta época a banda passa por uma fase muito boa, shows eram rotina. Em 30 de Junho de 1996 a banda realiza seu último show ao vivo junto com o Ratos de porão. Semanas depois sai o baterista Sandro Nilson por problemas de saúde e o vocalista Nelsinho também sai e o Morfolk fica inativo por seis anos. Em 2002 os velhos amigos voltam se encontrar, Nelsinho, Tio e Repolho e entre um copo e outro começa a amadurecer a idéia da volta do Morfolk que acontece em 2003. No ano de 2012 novamente surge outra formação. Ainda neste ano o grupo lança seu novo EP, ‘Prelude...’, disponível gratuitamente para download. Lançado em 2014, o novo álbum do Morfolk, ‘…Until Death’ foi lançado pelo selo Violent Records. O selo é propriedade do lendário vocalista da banda Vulcano, Luiz Carlos Louzada, e tem entre seus lançamentos trabalhos de bandas como Predatory, Brutal Morticínio, Chemical Disaster, entre outros. O novo CD tem a produção do músico e produtor Leandro Queiroz e está sendo gravado em seu estúdio na cidade natal da banda, São José dos Campos/SP. Já a capa ficou por conta do baterista Daniel Sanchez, que também é artista gráfico e designer profissional. Daniel já tinha sido responsável pela capa do EP ‘Prelude…’. E foi com Daniel que tivemos o bate papo a seguir.

M

Conte-nos como tem sido a recepção do mais recente álbum, ‘...Until Death’, desde seu lançamento o ano passado. 42 - UNDERGROUND ROCK REPORT

Vocês estão satisfeitos com a recepção? Daniel Sanchez: Saudações a todos os leitores do Collapse Underground Art e obrigado pelo espaço O CD está tendo uma ótima divulgação, tanto que as nossas cópias estão quase que esgotadas e pelo que estou sabendo os que estão nas mãos dos selos envolvidos no lançamento estão tendo uma boa saída com esses dados em mãos, acredito que a recepção do play tem sido muito boa, as críticas nos zines e revistas também refletem isso o que deixa a mim e a todos na banda bastante felizes e motivados! ‘...Until Death’ foi lançado logo depois do EP ‘Prelude...’, disponibilizado gratuitamente na internet. Como vocês vêem a internet nos dias de hoje? Daniel: A banda estava vindo de um hiato de lançamentos, e havia tido mudanças na sua formação, com a minha entrada e a do Gabriel que havia assumido as guitarras no lugar do Roberto “Repolho” precisávamos mostrar que a banda estava ativa e viva, então resolvemos lançar o EP Prelude para mostrar a nova cara da banda e o que estaria por vir adiante o que se tornaria o disco “Until Death”, nesse cenário pensamos, que o meio mais fácil para atingir o maior número de pessoas e obter uma divulgação mais rápida seria via download gratuito na internet, o que nos ajudou muito em termos de divulgação, alias a internet é uma ferramenta potente, com ela podemos massificar e ampliar nosso mercado chegando mais rápido em outros centros e com isso atingindo mais pessoas. O EP e o álbum contam com sua presença na bateria e também na criação da identidade visual da banda. Conte um pouco de como foi iniciada esta sua parceria com o Morfolk. Daniel: Conheço o pessoal da banda a muitos anos, desde o ínicio da década passada, além de morarmos no mesmo bairro, eu já havia dividido o palco com eles diversas vezes com minha antiga banda de Death Metal o “Hoctaedron” e frequentava os en-


saios da antiga banda do Walter (Vocal) o “Human Target”, então já éramos todos conhecidos de longa data. Eu vinha me mantendo na ativa com minha outra banda o Devastação Sob Terror (Grindcore) e os caras me chamaram pra um churrasco e lá fizeram o convite, como eu já era da casa digamos assim, aceitei o chamado prontamente e iniciamos os ensaios, a parte visual e gráfica da banda veio de lambuja já que trabalho com artes gráficas e o pessoal me deu total liberdade para a criação das capas. Ainda dentro do visual, a banda nos presenteou com um videoclipe extremamente bem feito. Videoclipes são raros na história do Morfolk, de onde surgiu a ideia dele? Daniel: Cara com o lançamento do cd o videoclipe se tornou algo de extrema necessidade além de ser um universo inexplorado pelo Morfolk em todos esses anos de atividade da banda, queríamos fazer algo marcante, o clipe foi produzido pelo pessoal da Extreme Audio Visual, cujo um dos produtores é o Marco Vaz que havia feito faculdade comigo e eu já conhecia e acompanhava o trabalho dele como produtor, com ele tudo rolou de uma maneira muito fácil, tivemos uma interação total dele com a banda, e as idéias foram surgindo de um jeito muito natural. Em fevereiro deste ano foi anunciada a volta de um dos fundadores do grupo, Roberto Repolho, como seu deu este retorno? Ele já está adaptado às novas composições? Daniel: Com a saída do Gabriel da banda, pensamos em alguns nomes para a banda e o primeiro da lista era o do Roberto, além do fato dele ser um dos membros fundadores o Morfolk, ele já conhecia até mesmo algumas das músicas do novo cd, já que ele já havia substituído o Gabriel em duas apresentações, então foi algo bem natural e se deu com uma simples conversa com todos, a adaptação dele com as novas músicas tem sido bem tranquila, alias ele está em casa. rs O Morfolk é uma das bandas mais respeitadas do cenário Death Metal e tem muita história pra contar desde 1990, mesmo assim a discografia é bem enxuta. A que fator você acha que isto é devido? Daniel: O Morfolk sempre foi uma banda de palco, de tocar ao vivo, e mesmo assim a banda ficou um bom tempo inativa, desde os ultimos anos da década de 90 até os primeiros anos da década de 2000 e claro isso atrapalhou um pouco, quando retornaram ainda demoraram um pouco pra estabilizar a formação e assim que isso aconteceu lançaram o debut “Blind’s Paradise”, dai pra frente a banda voltou a ter alguns problemas de formação, trocaram de vocalista duas vezes até o Walter entrar na banda nesse meio tempo o Ryan foi passar um período fora do Brasil voltando só no meio das gravações do segundo disco o “World of Lies” finalizando as gravações (quem estava ocupando o posto nessa época era Dill, um grande amigo da banda), quando estavam no meio da divulgação do disco, tiveram mais duas baixas, a saída do Roberto Repolho (hoje de volta a banda) e do Renato que ocupava o posto de baterista da banda, para as entradas do Gabriel na guitarra e a minha na bateria, toda mudança de formação acaba atrasando um pouco o trabalho da banda, resultando em um menor número de lançamentos. Quais os próximos planos da banda? Sinta-se a vontade para deixar sua mensagem. Daniel: O plano agora é tocar o máximo que der, ir a lugares onde não fomos antes e voltar aonde ja tocamos, uma tour nunca está descartada desde que exista o mínimo de condição possível para isso ser feito. Somos muito grato a todas as pessoas que ajudam a banda direta e indiretamente, indo nos shows, chamando a gente para tocar, comprando material, baixando nosso EP, divulgando pros amigos enfim.. só queria agradecer mais uma vez pelo espaço e a todos que tiveram a paciência de ler até o final nossa entrevista. Quem quiser conhecer melhor a banda só acessar nossa fan page no facebook. Valeu pessoal! Death Metal will never die!!

Morfolk ...Until Death Independente - Nacional

A

lgumas bandas brasileiras deveriam ter seu nome reverenciado dento do underground devido tanto à sua resistência (na questão de continuarem sempre, contra todas as dificuldades) como pela autenticidade de sua música, e também serem aquelas que sempre dão força aos mais jovens. E em São Paulo, mais precisamente em São José dos Campos (SP), existe um titã, uma instituição: o quinteto de Death Metal Morfolk, na ativa há 25 anos, e que chega agora com seu quarto álbum, o destruidor de ouvidos “...Until Death”. O grupo, como é de conhecimento de muitos, é comprometido até os dentes com o Death Metal mais tradicional, logo, não esperem deles inovações ou experimentalismos. Mas como pedir a um veterano que seja diferente disso? Aqui, a música da banda transpira honestidade e brutalidade. Vocais guturais entremeados por gritos rasgados, riffs de guitarra extremante brutos (mas empolgantes) e solos extremamente distorcidos e doentios, baixo e bateria mostrando um trabalho pesado e com boa técnica. Ou seja, em termos de música, o quinteto prefere uma música sólida e mais de raiz, mas nem por isso isenta de qualidade. Produzido pelo próprio quinteto com a ajuda de Leandro Queiroz (que ainda mixou e masterizou o disco), podemos dizer que a banda está com uma sonoridade satisfatória, aliando peso, brutalidade e clareza nas devidas medidas. Todos os instrumentos estão em seus devidos volumes, com timbres bem agressivos. Óbvio que poderia ser bem melhor, mas está em um nível muito bom. A arte da banda, feita por Daniel Sanchez (baterista do grupo), ficou simples no encarte, mas a capa é muito boa, bem entrosada com a proposta sonora do grupo. Proposta essa que é honesta e íntegra à toda prova, mas cujos arranjos e dinamismo musicais mostram uma banda madura e que sabe o que faz. Em oito músicas com duração média de 4 minutos no máximo, o Morfolk se sai muito bem. Abrindo com uma introdução soturna, “Shadows of Fear” é uma canção que mostra andamento mediano e empolgante, com ótimo trabalho das guitarras, enquanto “One Against All” tem uma levada mais abrasiva e azeda, com ótimo trabalho dos vocais, e surgem os famosos solos “guitarra-sendo-enforcada” que os fãs adoram (mas não isentos de certa técnica e feeling). Em “Hate Beyond the Pain”, o grupo já dispara para a pancadaria aberta e sem dó, onde baixo e bateria se destacam bastante pelo peso e técnica. “Desordem” (sim, a letra é em português) começa mais focada em peso e cadência, mas logo vira uma canção com velocidade mediana e toques de Punk/HC, ótima para slamdancing nos shows, e “Alienação” é outra cantada em português, com um andamento bem mais abrasivo e peso à lá Benediction antigo, com belos riffs. “W.W.W. (World Wide War)” é basicamente a mesma canção do EP “Prelude...” de 2012, embora regravada e com peso adicional, ou seja: pancadaria para todos os lados, assim como “BloodLust” (esta mostrando um assalto sem dó dos vocais e bateria). Fechando, a explosiva e rápida “Reign of Terror”, um soco de brutalidade de quebrar os dentes, com guitarras arrasadoras. Realmente, “...Until Death” é um ótimo disco, e mesmo sem apresentar nada de novo, é uma declaração antêmica, ou seja, o MORFOLK é Death Metal “Até a Morte”! Por: Marcos “Big Daddy” Garcia UNDERGROUND ROCK REPORT - 43


ENTREVISTA

Evolução

Por: JP Carvalho cidade de São Paulo é um dos principais celeiros em termos de Heavy Metal no Brasil. Se não bastasse os grandes nomes que são originários da cidade como Angra, Korzus, Viper, Dr. Sin, Shaman, Noturnall, etc, também podemos dizer que bandas como Sepultura e Krisiun tornaram-se mundialmente reconhecidos depois de se mudarem para a capital paulista. O Primator é o mais novo nome do Heavy Metal paulistano. Formada por Rodrigo Sinopoli - vocal, Márcio Dassié - guitarra, Diego Lima - guitarra, André dos Anjos - baixo e Alexandre Birão - bateria. Com cinco anos de estrada, a banda já é bastante conhecia nas noites de São Paulo pelos vários shows já realizados nos principais bares de rock da cidade como Manifesto, Blackmore, Dynamite Pub, Gillan’s Inn, Cerveja Azul, entre outros. Depois de uma grande temporada de ensaios, shows e pré-produções, a banda atingiu o nível técnico e criativo que julgavam ideal para se trancar no estúdio e começar a gravar o primeiro álbum da carreira. Com produção de Daniel de Sá (Andragonia, Crossrock, etc), gravam o disco de estréia do Primator: “Involution”. “A Origem das Espécies” de Charles Darwin e outros pen-

A

44 - UNDERGROUND ROCK REPORT

sadores da filosofia e da psicanálise, influenciaram o conceito do disco de estreia da banda. A capa de “Involution” foi desenhada pelo vocalista Rodrigo Sinopoli e, de acordo com ele, reflete diretamente o tema central do álbum. “Tentamos reproduzir a escala evolutiva, vista de trás para frente, colocando o observador como parte da ilustração”, explica Rodrigo. “Trata-se da nossa escala ‘involutiva’. Na arte, o homem e seus ideais destrutivos foram esmagados pelo ‘Primator’ - uma entidade bestial - enquanto os outros retrocedem em direção oposta, em busca de redenção e uma nova oportunidade de consertar tudo o que deu errado. A responsabilidade em assumir esta mudança é justamente minha, sua e de quem se encontrar de frente com a ilustração”. Tivemos um rápido bate papo com o guitarrista Diego Lima e com o vocalista Rodrigo Sinopoli, que prontamente nos atenderam e nos mostrou que o Primator é sim, uma banda pronta para alçar voos mais altos, confiram a seguir. Olá, primeiramente gostaria de agradecer pelo seu tempo e por nos conceder esta entrevista. Para começar, você pode nos falar mais sobre a formação do Primator?


Diego: Eu que agradeço a oportunidade de ser entrevistado por vocês. Muito obrigado! Com relação à pergunta, se trata de uma formação clássica de heavy metal tradicional, com baixo, bateria, duas guitarras rítmicas e vocal. A banda inicialmente foi criada pelo Rodrigo (Vocal) e pelo Márcio Dassié (Guitarra), de forma que os outros integrantes foram se juntando ao longo dos anos de 2009/2010. Da formação original que gravou o álbum, apenas o baterista não está mais conosco devido a problemas pessoais e o novo será anunciado no show de lançamento do Involution no dia 11/04. A banda aposta no Heavy Metal Clássico, mas também caminha pelo Metal melódico e usa de texturas interessantes em suas composições, como se dá o processo de composição? Diego: A criação dentro da banda é totalmente livre e cada um é responsável pelo que faz com seu instrumento. Em geral, o Rodrigo faz as letras e nós aprimoramos a ideia da melodia e do contexto da música até que haja um consenso geral que agrade a todos nós. Nesse processo, muitas vezes alguns riffs, solos e passagens ficam perdidos e acabam sendo melhor aproveitados de outra forma. Porque o debut foi baseado em “A Origem das Espécies” de Charles Darwin? Diego: O conceito do Involution foi tomando forma conforme as músicas ficavam prontas. Quando tínhamos metade do álbum pronto, percebemos que os assuntos abordados nas letras batiam com essa ideia crítica a respeito da humanidade e suas transgressões com relação à natureza e ao mundo. Então demos mais ênfase para o assunto nas novas faixas, abordando de forma mais agressiva o efeito desta “interferência” do ser humano em diferentes contextos históricos e sociais e traçamos um paralelo entre a capacidade que o homem tem de destruir em nome da prosperidade de sua espécie e o cunho científico abordado por Darwin em seus estudos. Em uma de suas dissertações, ele afirma que existem mais semelhanças entre o cérebro de um ser humano e de um animal do que conseguimos compreender. A capa do álbum também reflete a ideia de uma escala evolutiva vista de trás para frente, mostrando que o resultado desta “evolução” desenfreada, na verdade se trata de uma involução da humanidade. E para vocês, existe volta desse caminho trilhado pela humanidade até hoje? Rodrigo: Na nossa concepção existe sim, mas talvez leve o mesmo tempo que tivemos para chegar ao ponto em que nos encontramos. Embora tenhamos esperança, sabemos que não existe um atalho para isso. Seria algo gradativo, começando por cada indivíduo para alcançarmos ao menos algum equilíbrio. Com relação a capa do CD, feita pelo vocalista Rodrigo Sinopoli, você percebe que as pessoas entendem a alegoria da evolução ao contrário? Rodrigo: A arte é totalmente interpretativa, mais digerível para alguns do que para outros. Muita gente olha e de cara identifica os elementos para tal conotação, outros levam um pouco mais de tempo. O conteúdo da capa é propositalmente interpretativo e intrínseco, pois algo mais direto não refletiria a amplitude e complexidade que o tema propõe. Rodrigo, sua forma de cantar nos remete a vocalistas como Rob Halford, e percebo muito do estilo do Mário Pas-

tore com muitos agudos e voz mais visceral, Qual a sua formação e influências e como você compõe suas linhas vocais? Rodrigo: Primeiramente, me sinto lisonjeado em passar tal impressão, Hob Halford e Pastore são sem dúvidas duas grandes influências para mim. Sou genericamente 2º tenor, minha formação é clássica e todas as composições são calcadas basicamente num estilo mais limpo de se cantar. Os drives e as passagens mais agressivas na linha vocal, são encaixadas de acordo com as bases de guitarra e a proposta de determinada música. Neste processo, primeiro tenho em mente a melodia, em seguida escrevo as letras e determino as notas e terminações. No geral, pouca coisa é alterada quando juntamos todos os instrumentos. Outras influências além dos já citados, são Bruce Dickinson, Jorn Lande, Dio, Geoff Tate, Michael Kiske, Russel Allen, John Arch, Doogie White, Sebastian Bach e no Brasil, gosto muito do Mario Linhares, Leandro Caçoilo, Alírio Netto e Christan Passos. Por mais que o Heavy Metal seja diluído em vários subgêneros, o Metal clássico sempre obtêm uma ótima resposta do fãs. Como vem sendo a aceitação do Primator com os fãs brasileiros? Diego: A aceitação do público tem sido boa de uma forma geral. Temos recebido muitos elogios e comparações das mais diversas com coisas que nos influenciaram e outras que nem sabíamos que existiam (risos). Percebemos que o brasileiro ainda é carente de bandas tradicionais dentro do Heavy Metal e que a faixa etária cativa do estilo se elevou bastante nos últimos anos. Obrigado pela entrevista. Agora deixem uma mensagem aos nosso leitores. Diego: A Primator agradece a oportunidade e aproveitamos para parabenizá-los pela qualidade e conteúdo das perguntas. Esperamos que todos gostem do Involution, tenham ótimas experiências ao escutá-lo e presenciem nossos shows e apresentações quantas vezes puderem, pois é com o apoio de vocês que cresceremos dentro da cena. Um grande abraço a todos os leitores e amigos!!! Site Oficial: http://bandaprimator.com.br/ Facebook: www.facebook.com/bandaprimator Soundcloud: www.soundcloud.com/bandaprimator Twitter: www.twitter.com/primatormetal UNDERGROUND ROCK REPORT - 45


RELEASES

I Am The Sun Drink, Destroy, Repeat Independente - Nacional Quando se falar em Stoner Rock/ Metal, as pessoas têm uma idéia um pouco errônea, de que o gênero remete diretamente aos anos 70, sendo retro e bolorento, ou com qualidades sonoras duvidosas. E não é por aí. É sabido desde sempre: nenhuma banda é obrigada a fazer algo novo ou revolucionário, mas tem por compromisso criar algo dela, E um belo exemplo do que tratamos aqui é o excelente quarteto I Am The Sun, de Bragança Paulista (SP), que acaba de soltar seu primeiro trabalho, o EP “Drink, Destroy, Repeat”. Aqui realmente é um Stoner Metal de primeira, com uma música espontânea e descompromissada, mas longe de ser simplória ou mal feita. Aqui, temos o peso, melodia e agressividade nas medidas certas, e ao mesmo tempo em que temos aquele feeling retro, a banda apresenta muito groove e energia. Ótimos vocais (com muitos backing vocals certeiros), riffs raçudos e gordurosos, solos melodiosos e simples (mas não achem que falta técnica, por favor), baixo pesado e firme na marcação, e uma bateria com peso e boa técnica. E essa mistura gera algo bem pessoal e pesado, mas melodioso e envolvente. Ricardo Biancharelli fez a produção do EP nos estúdios Fuzza, e verdade seja dita, ele acertou em cheio. A sonoridade do trabalho está pesada e azeda, mas com um nível de clareza que é até um pouco estranho para o gênero, mas que encaixou perfeitamente com o que o grupo quer. É orgânico, cru e pesado, mas com muita qualidade. Sim, a banda é ótima, o EP está disponível para download gratuito no site oficial do grupo, e é uma excelente oportunidade para conhecer um trabalho feito com tanta espontaneidade. Agora, deixem a preguiça de lado, cliquem no site deles e boa diversão! Marcos “Big Daddy” Garcia

Hard Desire Traveller Independente- Nacional É ótimo ver que o Hard Rock tem

reaparecido no Brasil. Sim, apesar da predominância das vertentes mais extremas, aquela sonoridade mais descompromissada e com forte odor da trilogia “sexo, drogas e Rock’n’Roll” faz muita falta. E um dos bons nomes do gênero é o do grupo mineiro Hard Desire, de Juiz de Fora, que enfim, retorna com mais um trabalho, o EP “Traveller”. Hard Rock com forte influência do Rock setentista e do Metal tradicional, com boa técnica (mas sem ser algo abusivo), peso e melodia nas doses certas, tudo em seus devidos lugares, criando uma música forte, melodiosa e envolvente. E isso já é muito, já que fazer o gênero não é algo simples. Aqui, temos a mistura de vocais ótimos (Dê Monteiro está bem melhor que no primeiro trabalho da banda, o álbum “Hard Desire”, usando bem sua voz), riffs ganchudos e solos inspirados (Felipe e Rafael estão em ótima forma, muito entrosados), além de baixo e bateria pesados e segurando bem a base rítmica da banda, mas com boa técnica (Thiago e Dall realmente entendem do assunto). A música, embora não seja um estilo inexplorado, mostra uma personalidade bem definida, e isso, meus caros, é algo precioso. Felipe Rosa, Pedro Fialho, Thiago Fernandes e Nando Costa seguraram a produção do EP (sendo que Nando ainda fez a mixagem e masterização). Em termos sonoros, a produção ficou mais seca e crua, mas clara, e é justamente assim que o trabalho musical do grupo ganha vida, ou seja, é a qualidade que a música deles pede. Poderia ser um pouquinho melhor, mas está em um bom nível. A arte de Thaís Melo e o design de Rhee Charles Santos (vocalista do Glitter Magic) ficaram ótimos, dando corpo à música do quinteto. O ponto mais forte da banda é justamente o lado musical espontâneo e descompromissado (mas isso não quer dizer que sejam relaxados com seu trabalho, longe disso), se importando apenas em fazer boa música, com bons arranjos musicais, timbres instrumentais escolhidos com sabedoria. “Traveller” é uma música bem trabalhada, andamento ganchudo, com belas guitarras nos solos e riffs, e refrão envolvente. Em “Suicidal”, temos uma faixa já não tão rápida, voltada mais ao peso, em certos momentos com certo toque anos 70 à lá Alice In Chains em seus melhores momentos, com bom trabalho da base rítmica. De início mais ameno, “Dark Knight’s Diary” é uma faixa de peso, beirando o Metal tradicional, com muito peso, muito bem trabalhada, e com excelentes vocais. É, ainda bem que o Hard Desire existe e nos brinda com mais este excelente trabalho. E Juiz de Fora tem se tornado uma potência dentro do cenário nacional, já que de lá estão vindo bandas como eles, o Glitter Magic, o Hagbard, o Luvart e outros nomes nos mais variados gêneros. Ah, sim: o EP pode ser ouvido na íntegra na página do grupo no Soundcloud, mas vale a cópia física, com certeza. Esses caras prometem! Marcos “Big Daddy” Garcia

46 - UNDERGROUND ROCK REPORT

um pouco subjetiva, é madura, e excluí totalmente qualquer pensamento sobre vampiros adolescentes chatos. Após um disco tão bom e prazeroso de ser ouvido, fica a clara impressão que o Tailgunners merece bem mais destaque, pois é uma banda ótima. Marcos “Big Daddy” Garcia

Tailgunners The Gloomy Night Independente - Nacional Os discos conceituais não são raros no Metal, embora também não sejam comuns. Este tipo de obra pode ser feito de duas maneiras distintas: ou a banda usa as músicas de forma a contar uma estória única e que se desenvolve por todas as músicas (como King Diamond costuma fazer), ou então, a banda pega a idéia de um conceito central e busca usá-lo em todas as letras, mas sem se prender a uma estória única. E sempre os resultados são sempre ótimos, como o Tailgunners, quinteto de São Paulo, nos mostra em “The Gloomy Night”, seu terceiro álbum. Musicalmente, o quinteto mostra um trabalho calcado no Metal tradicional, ou seja, com peso, melodia e certa dose de agressividade. É claro que a maior referência é a NWOBHM, mas eles não se restringem apenas ao Iron Maiden, mas pegam bastante de outros nomes fortes da época, até alguns toques à lá Judas Priest são sensíveis. Mas não se prendam a isso, e perceberam que o grupo tem uma personalidade forte, soando vivo e moderno. Os vocais são ótimos, sabendo usar bastante de timbres diferentes (embora a influência de Bruce Dickinson seja bem evidente), guitarras com riffs excelentes e solos com muita melodia, baixo com técnica e peso absurdos, e uma bateria com boa presença, conduzindo bem os andamentos e com boas viradas. É uma música extremamente agradável aos ouvidos, mas vibrante, envolvente e cheia de energia. A produção de Raphael Gazal foi muito boa. Tudo que se espera em termos de clareza está presente, tudo audível e com boa timbragem dos instrumentos, mas sem perder o peso elegante bem característico do quinteto. E a arte, feita por Daniel Dantas, ficou muito boa, usando de uma arte interessante na capa, e mais simples para o layout (o que não quer dizer que não tem seu charme e requinte). É preciso que qualquer banda que se aventura a fazer um disco conceitual saiba: esse formato exige demais do músico, já que cada uma das canções exigirá muito refinamento para que o ouvinte consiga captar a atmosfera da obra, e nisso, o Tailgunners foi muito feliz: como a dinâmica de suas canções ajuda bastante, sendo elas movidas por arranjos bem feitos. As onze faixas que compõem “The Gloomy Night” são todas ótimas, tornando o CD bem homogêneo. E tudo isso usando como tema principal a questão de vampiros, mas fiquem tranquilos: a abordagem da banda, embora

Roadie Metal Volume II (Coletânea) Independente - Nacional O formato das coletâneas tem se tornado mais e mais usual nos dias de hoje, ressuscitando a fórmula usada tantas vezes no passado com sabedoria, ou alguém aqui se atreve a contestar o peso histórico da série “Metal Massacre” nos EUA ou da “Warfare Noise” no Brasil? Sim, as coletâneas estão voltando com tudo, sejam digitais ou físicas, e é sempre ótimo ver iniciativas como essa, que tendem a divulgar bastante, já que uma banda acaba ajudando a outra a ser mais conhecida, e assim, todos saem ganhando. E é muito bom ver que a rádio ROADIE METAL, gerenciada pelo colega Gleison Júnior, teve a iniciativa de lançar, em plena era dos downloads na internet, uma segunda versão da “Roadie Metal”, em CD duplo, e apresentando o trabalho de 34 bandas de nossa cena, em vários gêneros de Metal, sem preconceito. Do Hard/AOR mais grudento ao Black Metal experimental, passando pelo Metal tradicional, pelo Thrash e Death, ou seja, tem para todos os gostos. E ainda bem que é assim, pois há uma integração entre as vertentes, quebrando assim algumas barreiras criadas pelo radicalismo infantilóide de muitos (uma herança maldita criada nos anos 80 e arrastada até os dias de hoje como imprescindível por muitos, verdade seja dita). Óbvio que existem oscilações no que tange a qualidade de gravação, já que, obviamente, cada banda buscou gravar por sua conta e do seu modo, mas não chega realmente a ser um problema. Outro tipo de oscilação é mais sintomático: o da qualidade de cada banda. Isso deve ocorrer porque já existem bandas experientes, com trabalhos bem definidos e personalidades assentadas, como são os casos explícitos do Scibex e do Marenna, e outras que aparentam ainda estar buscando sua própria sonoridade, o que mostra bandas de potencial ainda bruto. Mas acreditamos que, neste último caso, a coletânea os ajude a polir mais e mais seus trabalhos. E um ponto muito interessante e legal é a presença de bandas cantando em nossa língua pátria, o que realmente mostra que esta tendência anda crescendo bastante no país. O encarte, apesar de bem simples,


tem fotos de todas as bandas, o que deve ter dado um enorme trabalho ao designer, já que colocar 34 fotos em um encarte com 4 folhas é um desafio. Além disso, a capa é um Digipack bem semelhante às dos antigos discos de vinil. Ou seja, economia e funcionalidade andaram de mãos dadas, e o resultado é muito bom. No mais, “Roadie Metal Volume II” é uma coletânea digna de aplausos e merece menções honrosas. Agora, é adquirir a de vocês, e curtir bastante. Marcos “Big Daddy” Garcia

Necromesis The Poet’s Paradox Shinigami Records - Nacional Cada vez mais a presença feminina na cena do Metal nacional tem se tornado evidente seja em bandas exclusivamente femininas, ou em bandas onde sua presença se destaca. Sim, depois do Volkana e o PxUxSx, de anos em que as mulheres estiveram um pouco ausentes do meio (ou então, fazendo trabalhos que não chegaram a ser conhecidos amplamente), elas estão de volta com trabalhos ótimos, como o Nervosa (que anda atraindo muita atenção fora do Brasil), Valhalla (sim, elas estão de volta, e continuam fazendo uma música intensa), Hellarise e Indiscipline, agora é a vez do Necromesis, do ABC (SP), mostrar a que veio em “The Poet’s Paradox”, seu primeiro álbum, lançado pela Shinigami Records. Após um Demo CD (“The Dark Works of Art”, de 2011) e dois EPs (“Evolving to an Underworld” de 2011, e “Echoes of a Memory”, de 2014), mais com a estabilização da formação, o quarteto mostra um Death Metal sólido e bem bruto, mas não sem boa sofisticação técnica. E para aqueles que acreditam que é algo mais suave, é bom se prepararem: o quarteto faz um trabalho bem extremado, que segue a veia de bandas mais tradicionais e explosivas como Cannibal Corpse, Monstrosity e Vital Remains. Os vocais de Mayara Puertas são guturais, mas usando urros rasgados e timbres bem diferentes (e essa moça sabe usar muito bem esses timbres, como podemos comprovar em “Self Condemnation”), ótimo trabalho das guitarras feito por Daniel Curtolo (único membro da formação original que restou, e que faz riffs extremamente marcantes, vide o trabalho dele em “Evolving a Paradox”), o baixo de Gustavo Marabiza e a bateria de Gil Oliveira mostram boa técnica, peso e firmeza nos andamentos. Ou seja: juntando tudo isso, temos uma música que é cheia de energia e impregnada com personalidade. Produzido por Daniel Curtolo (guitarrista da banda), sabendo pôr cada instrumento em seu devido lugar, com timbres bem diferenciados e secos. Está claro aos ouvidos, mas ao mesmo tempo, pesado e agressivo.

A arte feita por Mark Riddick (capa) e Mayara Puertas (layout) ficou sombria e visualmente agressiva, uma carta de apresentação da banda. O Necromesis é capaz de criar música em alto nível, mas isso se deve à capacidade em não ser uma banda conformista, ou seja, eles mostram-se capazes de adicionar influências de outros subgêneros extremos do metal sem pudor algum. Os arranjos do grupo são bem pensados, pois com a existência de algumas músicas de longa duração, isso se faz necessário para que o fã não se sinta entediado. Nem é possível no meio de tanto dinamismo musical, verdade seja dita. E para dar um molho especial, ainda temos a participação de Fernanda Lira (do Nervosa) nos vocais em “Self Condemnation”, Paolo Bruno (do Desdominus e Thy Light) nos vocais e guitarra solo em “The Omission of the Living”, Vitor Rodrigues (do VoodoopriesT) nos vocais em “The Last Stage of a Mind”, e Marcel Briani (do In Soulitary) nas vozes em “The Last Stage of a Mind” e nas narrativas em “Awake” e “The Final Truth”. O grupo mostra-se forte e vigoroso durante cada música, e isso é ótimo. Quem ganha é o ouvinte, sendo assim uma das revelações de 2015, com toda certeza. E fica claro que eles ainda podem render muito mais no futuro. Parabéns ao quarteto pelo excelente trabalho em “The Poet’s Paradox”, e à Shinigami Records por bancar mais esse ótimo trabalho feito em nossas terras. Marcos “Big Daddy” Garcia

Eyes of Gaia The Power of Existence Independente - Nacional O Metal sempre foi um estilo bem diversificado. Temos de bandas que usam sonoridades mais agressivas e extremas, outras fazem algo mais soturno e introspectivo, e outras que usam de muita melodia e técnica, e outras que são indecifráveis aos mais leigos. E essa diversidade é ótima para todos os fãs, já que não necessitamos escolher entre subdivisões. Tudo é Metal, no final das contas. E fazendo um trabalho ótimo no lado mais melodioso temos o excelente quinteto paulista Eyes Of Gaia, de Itatiba (SP), que chega com seu primeiro álbum, o excelente “The Power of Existence”. A banda toca o que poderíamos rotular como Heavy/Power Metal moderno, ou seja, tem técnica apurada em cada instrumento sem ser algo exagerado, uma pegada pesada e melodiosa, com ótimos refrões ganchudos, e a música do grupo soa cheia de personalidade. Existem alguns momentos mais extremos, como ouvimos em “Hidden from the Light”. Excelentes vocais, que sabem usar bem amplo espectro de tons quando a canção assim exige, um trabalho pri-

moroso de guitarras (seja nos riffs ou nos solos, as seis cordas são em um nível absurdo de criatividade e peso), baixo e bateria pesados sempre, mas com bastante mudanças rítmicas que se encaixam perfeitamente no trabalho do grupo como um todo. E o mais importante: a banda soa coesa durante todo o disco, mas ao mesmo tempo, temos uma música pesada, de qualidade e envolvente. Se alguém se queixar, o defeito está no ouvido do queixoso, não na música. A produção é de alto nível, clara ao ponto que cada acorde mínimo e detalhe estar exposto. Mas não se iludam: o peso do disco é enorme. Mas quando os irmãos Edu Falaschi (sim, ele mesmo, o vocalista do Almah) e Tito (do Zaltana) colocam as mãos na produção, o resultado sempre é ótimo. E o trabalho gráfico como um todo é ótimo, com uma mensagem subjetiva ótima, em um trabalho concebido pelo batera Betto Cardoso e executado por G.S. A riqueza musical do quinteto transcende simples palavras. O nível de arranjos bem feitos, de composição, tudo é em níveis bem elevados, mas sempre soando espontâneo. Cada detalhe está onde tem que estar, não poderia ser retirado e nada mais pod ser acrescentado. As músicas são excelentes, simples assim. E ponha ainda as participações especiais de teclados tocados por Edu Falaschi e pelo guitarrista Bruno Tourino, mais Vitor Rodrigues dando uma canja nos vocais em “Until the Days Go Blind”. É demais para o coração... “The Power of Existence” já nasceu grande, se torna um dos grandes discos do ano, e mostra que o EYES OF GAIA não é uma promessa, mas concretamente um dos nomes mais promissores do Metal nacional em 2015. Marcos “Big Daddy” Garcia

Ewing Frost Dirtu Tales Discos Macarras - Importado O Ewing Frost é uma banda austriaca que tem em sua trajetoria um full, Blue Septime Winters, e dois eps, Rust e Iron Fist/Ewing Frost. Formada em 2003, tem em sua formação atual, Niitro, guitarra e vocal, Doom, bateria e Füel, baixo. Dirty Tales foi gravado ao vivo em um teatro abandonado em Viena, Austria, o que , obviamente leva a uma produção mais crua e menos requintada. A sonoridade do Ewing Frost é um crossover entre metal, punk, d-beat e rock n roll. Ou seja , o que temos como resultado em Dirty Tales é um som direto, cru, riffs nervosos, com refrões fortes aliado a um ritmo pulsante. Desde Hellhound Blues ate Mit Sturm Und Drang é um som pesado, mas com personalidade. Alias a forma

de gravação, ao vivo, sem tratamentos, acentua este diferencial. Trata-se de album cru, rude, veloz e sujo, e se voce gosta desta combinação como eu, deve ouvir urgentemente. Vlademir Gonzales

Antcorpus Na Terra do Metal Black Legion Prod. - Nacional O Norte do Brasil é uma das áreas que, volta e meia, vemos notícias de grandes escândalos políticos e problemas sociais absurdos. E somos levados a crer que nos estados que compõem a Região Norte carecem em muitos aspectos. Mas é preciso saber que, apesar de todas essas dificuldades e outras relacionadas à cena underground, vemos nomes bons surgindo por aquelas bandas. E um nome que anda se destacando bastante é o do quinteto ANTCORPUS, de Parauapebas (PA), que após muitos anos de luta, um Demo CD em 2010 (“Chuva Ácida”), chega com seu primeiro disco, “Na Terra do Metal”. Fruto de uma vontade de ferro, o CD é uma aula de Thrash Metal old school, mas sem ser um “Dolly Clone” de bandas que já existiram. Neste disco, vemos a força da influência da escola germânica do Thrash Metal mais alguma coisa do SLAYER e do DARK ANGEL em seus trabalhos mais seminais, mas não se enganem: o grupo tem personalidade sob a pancadaria composta de vocais agudos e rasgados (uma clara referência a Don Dotty), um trabalho muito bom da dupla de guitarras nos riffs e solos, baixo e bateria firmes na base rítmica. Óbvio que soa um pouco datado (estamos falando de uma banda cujo trabalho é uma referência aos anos 80, logo, isso chega a ser um pouco óbvio), mas não carece de personalidade. A produção sonora é bem seca, chegando a soar um pouco oca. Mas não tenham idéias precipitadas: é nessa forma que o trabalho do grupo ganha identidade. E não temos alguns defeitos que muitas bandas que buscam a sonoridade dos anos 80 possuem, que é a repulsa ao uso de tecnologias modernas na gravação. E soa pesado e coeso, mas limpo. A sonoridade pode melhorar um pouco no futuro, mas não chega a ser ruim aqui. E a arte, um trabalho legal que referencia a veia Thrasher da Velha Guarda que a banda possui. Embora a banda busque algo próximo ao que é feito nos anos 80, ao ouvir o CD, percebe-se que eles não possuem a pretensão de fazer o relógio voltar no tempo. Não, eles apenas querem fazer a música que gostam e do jeito deles, ponto final. E a banda se mostra sábia nos ar-

UNDERGROUND ROCK REPORT - 47


ranjos, de forma que as músicas não cansam nossos ouvidos. O disco, em termos de músicas, é bem homogêneo. Mas seria uma injustiça não destacar músicas como “Artérias Podres” (com boa dinâmica de andamentos e ótimo trabalho das guitarras nos riffs), a feroz “Na Terra do Metal” (baixo e bateria mostrando serviço com andamento não tão veloz, além de bons backing vocals), “Desordem e Regresso” e “Demência”. Óbvio que a banda ainda pode fazer melhor do que isso, fica bem claro aos nossos ouvidos. Talvez uma produção um pouco melhor os ajude, mas saibam: “Na Terra do Metal” é um bom disco sim, e mostra que o ANTCORPUS é uma boa promessa. Marcos “Big Daddy” Garcia

Iron Fist Boneshaker Discos Macarras - Importado Iron Fist foi formada em 2007 na California, EUA. Sua formação atual é Dr Rock vocal e guitarras, Henry Outlaw, baixo e Eli Spades, bateria e já tem uma serie de demos e eps na trajetoria. O Iron Fist faz metal punk e neste ultimo ep, Boneshaker o que encontramos é exatamente o podemos esperar de um album do genero. Gravado no Violent Studios, South Gate, California, Boneshaker é caotico, pesado, veloz, sem concessões, e muito empolgante. As quatro faixas passam de tal forma que nem nos damos conta que esta terminando. H.P.R.R., Boneshaker, Here to Rock, R’n’R Patrol, tem alem de todo o caos, peso e rapidez, um clima de rebeldia contagiante ....É o tipo de som que empolga, que voce quer mais e mais alto... Recomendo. Vlademir Gonzales

Panzer Louder Day After Day Live Panzer Experience Shinigami Records E mais uma vez, o mais ativo dos veteranos do Metal nacional volta com mais um ótimo lançamento. O PANZER, banda experiente de São Paulo, com dois anos apenas de seu retorno, enfim, lança o DVD+CD “Louder Day After Day – Live Panzer Experience”, seu sexto lançamento nesses dois anos. Sim, seis lançamentos em menos de três anos, mostrando um fôlego privilegiado, e sempre mantendo uma qualidade enorme em tudo que faz. E mais uma vez, a parceria da banda com a Shinigami Records se mostra ótima para ambos os lados, e quem sai ganhando são os fãs. Antes de tudo, é preciso deixar algo claro: a mescla da experiência de André Pars (guitarras) e Edson Graseffi (bateria) com a energia de Rafinha Moreira (vocais) e Rafael DM (baixo) resulta em uma mistura de Thrash Metal com aspectos Stoner e toques de Groove Metal. Ou seja, é agressivo, ríspido e bruto, mas bem feito, com muito requinte e elegância. Rafinha é um vocalista privilegiado, que mesmo em seus urros que lembram uma mistura explosiva de Phil Anselmo com Max Cavalera, não perde a dicção e sabe ser um frontman excelente. André nas guitarras é uma fera em termos de feeling e peso, com riffs pesados e solos criativos, uma versão mais agressiva de Randy Rhoads. O baixo de Rafael DM é perfeito em termos de técnica e peso, se ajustando perfeitamente ao estilo bruto de Edson Graseffi tocar bateria, ou seja, ambos criam uma base rítmica perfeita, coesa e de muito peso.

48 - UNDERGROUND ROCK REPORT

Ou seja, o PANZER é uma banda de personalidade única no mundo, com garra e muito tesão de estar no palco, e vocês não irão achar outra como eles por aí. E de quebra, ainda temos a participação especial de Silvano Aguilera (guitarrista/vocalista do WOSLOM) nos vocais em “Savior”. O show foi gravado em 26 de Abril de 2014 no Estúdio Espaço Som (em São Paulo), e do set que a banda tocou, eles realmente varreram toda sua carreira. Temos uma música do primeiro CD da banda, “Inside” (que é a instrumental “N.S.A.”), algumas do clássico “The Strongest”, mas a maior parte é mesmo do EP “Brazilian Threat” e do álbum “Honor”, com bastante participação da platéia presente. E aqueles que já viram o quarteto ao vivo, sabem que o que se vê no DVD é tudo que eles fazem em seus shows, com muita energia, garra e espontaneidade, mas sempre sem perder a qualidade que lhes é característica. É uma experiência absurda, que nenhum CD poderia captar em sua totalidade, mas que aqui, conseguimos ter uma idéia bem clara e próxima do caos que é. No CD ao vivo, temos basicamente o mesmo show em sua versão de áudio, que podemos ouvir sem a necessidade de ver o DVD. Mas há mais um bônus: o EP “Brazilian Threat”, antes lançado apenas para download, mas que agora, enfim, ganha seu espaço físico, para ocupar aquele espaço especial em nossas estantes. E creiam-me: essas três faixas são itens obrigatórios! Preparem-se para o amassacrânios das esteiras do tanque de guerra brasileiro. The Threat is real, and it’s here! Marcos “Big Daddy” Garcia

Márcio Sanches Márcio Sanches Independente - Nacional O final dos anos 80 trouxe para o Metal e para o Rock como um todo um novo movimento que veio e foi

ficando, e hoje, é um gênero muito bem consolidado: os discos instrumentais, no caso, orientados para guitarra. O gênero só tem uma peculiaridade: ou se ama ou se odeia, ou o disco virá algo excelente ou fraco, não existem meio termos. Só digamos de passagem: existem discos que mais parecem um tutorial de como atingir a paciência de Jó do que realmente algo para ser divertido. Mais ainda bem que o guitarrista brasileiro Márcio Sanches conseguiu fazer um trabalho ótimo em seu primeiro CD, que leva seu nome. A produção de Andreas Kisser (sim, o próprio), mais a mixagem de Nandu Valverde ajudaram a dar uma clareza sonora muito boa, embora quando o disco transita entre alguns momentos mais pesados, o faz sem perder a qualidade. O interessante é que Márcio não se posta como patrão mão de ferro, já que Sandro de Lunna (baixo) e Jonatha Prisco (bateria) recebem os devidos créditos por suas contribuições nos arranjos, e ambos também possuem seus momentos de brilho individual. O CD é ótimo como um todo, mas existem momentos onde o bom gosto é tão elevado que merece citação especial, como em “Chances of On Life” (técnica, mas uma faixa pesada e esbanjando feeling, com belo trabalho nos solos e no baixo), a belíssima “Emotion” (é incrível o nível de ecleticismo musical aqui, e o mesmo contribui para a música ser perfeita), a pesada e forte “Carnaval” (uma faixa que nos envolve, com belíssimos solos, fora momentos excelentes do baixo), a Jazz Rock “Abuse” (onde existem elementos regionais brasileiros, dando aquela diferenciada necessária, fora um espetáculo da bateria), a quase progressiva “Roots”, e a intimista “The Feelin’” (uma balada instrumental brilhante, com toques de Pop Rock, Blues e Fusion). Mas torno a dizer que o trabalho é ótimo como um todo, se sobressaindo entre tantos CDs instrumentais. Talvez “Márcio Sanches” seja o CD mais certo para calar de uma vez o complexo de vira-latas de muitos, mas se mesmo assim eles insistirem, não ligue: é preciso ter uma sensibilidade e um bom gosto absurdos para poder compreender e degustar esse trabalho como ele merece. Parabéns, Márcio, e obrigado por este trabalho tão bom. Marcos “Big Daddy” Garcia


DayDreamXI The Grand Disguise Independente - Nacional O metal brasileiro nunca esteve tão em alta e em tão boa qualidade. Oriundos de Porto Alegre, RS, os gaúchos do

DayDreamXI são os mais recentes filhos do país a se fixarem no cenário heavy metal. Representando competentemente bem o Metal Progressivo no Brasil, a banda acaba de lançar seu debut, “The Grand Disguise“. Produzido por Jens Bogren (Symphony X, James LaBrie, Opeth) no estúdio sueco Fascination Street e lançado em parceria com o selo alemão Power Prog, o trabalho é um primor de extrema profissionalidade e linhagem altamente apurada. Nivelado na medida certa, com doses de consistência e sincronia, o disco torna-se interessante e agradável de ser escutado faixa a faixa, não é apenas

algo para bater cabeça, mas sim algo a ser estudado, analisado e apreciado, como fã e como músico. Peso somado à criatividade e letras inspiradoras dão um brilho fundamental ao som dos caras, cheio de entrosamento e individuliasmo, destacando assim o talento de cada músico. Timbres vocais bem acentuados, guitarras cheias de técnica e agilidade e uma junção rítmica precisa entre o baixo e bateria, fundamentais para o estilo. O grande destaque do álbum é a faixa título “The Grand Disguise“, fechando o disco de maneira animal em seus vinte e três minutos de muita qualidade, revelando sua grande influência no Dream Theater. Para aqueles

que puderem conferir a banda ao vivo, essa será uma grande cartada, uma experiência interessante. O DayDreamXI vem ganhado destaque na imprensa internacional pelo ótimo trabalho realizado em seu primogênito material, recomendado até por um dos maiores bateristas do mundo, Mike Portnoy. A capa do disco também é um verdadeiro colírio para os olhos, feita sob a autoria do vocalista, músico e designer, Tiago Masseti. Seguindo essa linha, a banda tem um futuro promissor, podendo chegar muito longe e receber bons frutos! Altamente recomendado! Ygor Nogueira

Creptum The Age Of Darkness Independente - Nacional Surge todos os dias uma vasta horda de bandas descendentes do metal extremo, e o Black Metal parece estar ganhando excelentes representantes para o seu meio. Os paulistas do Creptum e suas raízes mais cruas e extremas são um exemplo de nítida qualidade! Em alto e bom som, nota-se um black metal que dispensa arranjos e ambientes épicos, indo diretamente ao que interessa. Riffs simples, ríspidos, com muita velocidade, quase ininterruptos, letras impiedosas, vocais rasgados, blasfêmia e um alto nível profissional chegando com o relançamento da sua segunda “demo”: ”The Age OF Darkness”. Um disco fabuloso, contendo seis faixas bem trabalhadas cheias de peso, fúria, técnica, agressão e criatividade exemplar. Muito bem gravado no Estúdio Áudio Souza Lima, em São Paulo, e que foge dos padrões do gênero, entregando-nos assim algo claro e audível, com uma perfeita calibragem de timbres e instrumentos desse competente trio liderado pelo vocalista e guitarrista Tanattos. Destaque principal para a faixa que abre o disco, “The Fall of The Nazarene Whore” e ”Oh, My Lord”, que fecha o mesmo. Duas brutais obras que merecem atenção mais cautelosa. ”The Age OF Darkness” com certeza agradará aos fãs de black metal, digno de elogios, aplausos e aquisição. Afirmo que é um dos discos que mais escuto, além de ser um dos melhores de 2014! Ygor Nogueira. UNDERGROUND ROCK REPORT - 49


ENTREVISTA

Rumo ao Sweden Rock Festival Por Leandro Fernandes Criando um projeto inovador e bem criativo, Marenna se prepara para abraçar o mundo com seu carisma e sua música realmente vibrante. Em uma conversa bem legal e de forma atenciosa, ele nos conta sobre esse novo trabalho que vem lhe rendendo bons frutos. Confira aqui nosso bate papo! Um projeto bastante interessante o seu, a que se deve a ideia de dar vida ao mesmo? Marenna: Primeiramente, muito obrigado pela oportunidade de estar aqui falando um pouco do meu trabalho, há alguns anos venho carregando comigo várias composições que não se adequavam ao processo criativo das outras bandas que trabalhei, então há exatos 12 meses tomei coragem e comecei o processo de pré-produção destas músicas, escolhendo a dedo as pessoas que iriam fazer parte deste trabalho, foi ai que surgiram as composições “You Need To Believe” e ”Like Na Angel” tentei trabalhar com uma mensagem positiva em cada uma delas, e o mais importante, só as lancei realmente quando tinha 100% de certeza que soavam como eu queria que soassem, pois este projeto é feito pela música antes de qualquer coisa, ou seja, música pela música. O AOR é um estilo empolgante e bem abstrato. Pretende incrementar alguns elementos futuramente? Marenna: Certamente, já estou fazendo, trabalhando com alguns efeitos, mensagens de duplo sentido, que, aliás, considero ser uma marca minha na maioria das composições, também há a questão de timbres que estou tentando sempre aprimorar. 50 - UNDERGROUND ROCK REPORT

É arriscado hoje investir de maneira direta e ousada em nosso país? Pois sabemos que a cada dia se torna complicado às vezes de sobreviver só de música em nossa terra. Marenna: Certamente, o importante acho que é você primeiro seguir seu coração e depois buscar um caminho e planejar como se manter dentro dele, buscar parceiros, e canais que possam te dar este subsídio. Como está sendo a resposta do publico nacional e internacional? Marenna: Muito espontânea, existem pessoas que gostam mais, pessoas que gostam menos, pessoas que amam o projeto, eu estou pronto para receber todos os comentários, claro que você tem que ter uma noção de status quo para filtrar, mas o mais importante, continuar acreditando, ouvindo opiniões relevantes e muita cabeça fria, pés no chão e humildade sempre. Quais são suas maiores influências no mundo musical e artístico. Marenna: Minhas maiores influências, difícil falar, mas começo por GLENN HUGHES, DAVID COVERDALE, IAN GILLAN, DIO e JON BON JOVI. Admiro todos como músicos e como pessoas no meio artístico. Qual fora a reação ao receber a notícia da pré-seleção para participar do conceituado “Sweden Rock Festival”? Marenna: Extremamente surpreso, mas ao mesmo tempo, confiante, pois sei que existem inúmeras bandas talentosas, quem sabe


até mais talentosas do que o meu projeto e com mais tempo de estrada, mas enfim, respeito todo mundo, porém, estamos ai na briga e é isso, perna pra quem tem, vou correr atrás até o último minuto. O single “Like Na Angel” foi lançado recentemente, o público o recebeu bem? Marenna: Até o momento sim, esta sendo bem legal a divulgação, várias rádios o estão rodando, não tenho pressa, quero lançar uma a uma e somente quando estiver tudo 100%, música pela música sempre.

Agradecendo pelo tempo cedido a essa entrevista, deixo esse espaço livre para deixar sua mensagem. Marenna: Não importa o que as pessoas te disserem, quem faz o teu destino é você, saiba reconhecer quem está contigo e quem está contigo por conveniência, afinal…. You need to believe in your heart tonight!!!

Se arrepende de algum trabalho que fez? Marenna: Talvez, mas foram tantas coisas nesses 22 anos, que sinceramente não lembro hehehe… eu prefiro ficar com o hoje e pensar no amanhã. Esse lance de pirataria, downloads e o mercado negro da música no geral sabemos que é um câncer na vida de um músico. Qual sua opinião quanto a isso e acha que um dia isso poderá ter fim? Marenna: Eu acho que hoje existem vários caminhos, um deles principalmente é o músico se profissionalizar integralmente, buscando conhecimentos na parte burocrática e protegendo sua obra, a partir daí, fazer a coisa certa que lhe convier, disponibilizar free, criar publico, criar conteúdo e demandas e ai você vai criando o seu modelo de negócio, acho que a má índole, está em qualquer ramo de negócio, e pessoas com essa cultura de pirataria sempre vão existir, ai te pergunto, você vai ficar parado se lamentando, ou vai criar uma oportunidade e gerenciar o teu modelo de negócio? Eu prefiro a segunda opção rsrsrs…. Com certeza 2015 será um ano agitado para o Marenna. O que já tem programado para esse primeiro semestre? Marenna: Primeiramente, estou focado na votação para o Sweden, simultaneamente a divulgação das duas coletâneas que participei e na sequencia, lançamento do primeiro EP, simultaneamente a isso tudo, tem bastante coisa acontecendo que vou divulgando quando estiver mais concreto.

UNDERGROUND ROCK REPORT - 51


ARQUIVO

Por Vlademir Gonzales m meados de 2010, no Rio de Janeiro, um elemento chamado Alex Campos teve uma grande ideia a respeito de um projeto totalmente autêntico. Apostando todas as suas fichas no jogo, fez um convite a outro elemento, o velho amigo Bernardo Martins, e juntos construíram um legado muito importante: tornaram-se “Basttardos” de alma na música. Logo em seguida, um “Terceiro Elemento” veio agregar valores cheio de mistérios, união esta concebida em pleno saloon da vida para brindar os trabalhos rumo ao último expresso, este que vem carregado de muitas manifestações preciosas e isso vocês poderão conferir na estação mais próxima. Consolidando suas aventuras pelo mundo, já podemos contar com algumas provas de seus feitos. Em Abril de 2013, foi celebrado o lançamento oficial do 1º EP “Dois Contra O Mundo”. O evento realizado no Rio de Janeiro proporcionou ao público o primeiro contato com o EP físico. Incluindo músicas já conhecidas como: “Sua Cama”, “Olhos Negros” e “Nem Agoniza”, o álbum apresentou também as inéditas: “Fake”, “Presencio Tua Ausência” e a faixa-título “Dois Contra O Mundo”, além de contar com dois videoclipes oficiais lançados através do canal no youtube. Com o álbum recém-lançado, a ótima aceitação do público e da mídia especializada, os “Basttardos” comemoravam “A Volta aos Palcos”, apresentando um poderoso domínio em shows memoráveis com a liderança enérgica do Frontman Alex Campos. Em meio à demanda por maiores empreitadas neste faroeste que é o mercado, os “Basttardos” nesta árdua caminhada puderam contar com a ajuda de bons aliados, tendo músicas executadas em diversas rádios, matérias, etc. Entre altos e baixos, nestes anos de muita luta, o bando chega com um apito de trem avassalador. Buxixos em vários cantos do país, filas, esperas, muita ansiedade... É chegada a hora da verdade com os “Basttardos” tocando nas estações de todas as cidades. Hoje e sempre poderá ser ouvido, para que vossos inimigos possam temer o imprevisível. Preparem seus corações, porque é sob a força deste último expresso que o bando fará o

E

52 - UNDERGROUND ROCK REPORT

resgate de multidões, mostrando definitivamente o legado de muito mais que ainda está por vir. O Single Especial autointitulado “Basttardos” vem como prelúdio para o próximo álbum a ser lançado. Além das prensagens físicas - esgotadas e virando item de colecionador contou também com “Making Of” mostrando todo o processo da gravação. O “Feedback” não poderia ter sido melhor, deixando uma grande expectativa para o futuro álbum. Aguardem sua vez, rebelem-se, e sejam também protagonistas de suas próprias vidas! Contatos: contato@basttardos.com.br www.facebook.com/Basttardosrock


ENTREVISTA

Superando dificuldades e abrindo caminhos Por: Marcos “Big Daddy” Garcia Rio Grande do Sul é uma terra extremamente fértil em termos de Rock, como o livro “Tá no Sangue – A História do Rock Pesado Gaúcho” atesta. Leviaethan, Astaroth, Krisiun, Symphony Drakonis e outras excelentes bandas surgem neste celeiro musical há anos. E um dos nomes mais fortes da cena gaúcha é do excelente quarteto Supersonic Brewer, de Bento Gonçalves. Formado por músicos experientes e com várias influências musicais diferentes, o que ouvimos em “Overthrow the Bastards”, disco mais recente da banda, é uma aula de agressividade com feeling bem peculiar. Aproveitando o momento, e agradecendo a MS Metal Press por intermediar o contato, fomos bater um papo com o quarteto e conhecer um pouco de sua história e planos.

O

Antes de tudo, quero agradecer de coração pela entrevista. Conte um pouco a história da banda para nós, e uma das coisas que primeiro chama a atenção no grupo é seu nome. Como foi que a idéia para ele surgiu? Uma idéia bem particular minha

é que ele me lembra alguma coisa ligada ao trabalho do Black Label Society... Vini: Nós que agradecemos pelo espaço concedido Marcos, sobre a pequena história da banda o Rodrigo contará melhor. Rodrigo: Putz, eu nem me lembro direito (risos)... Mas foi algo do tipo, que depois de tentar montar várias e várias bandas e conhecer vários caras, nenhum queria levar a serio, apenas encher a cara e pegar menininhas, mas a parte das menininhas não rolava, hehehehe... Até conseguir montar a banda que estamos hoje. Foi algo por ai... E o nome teve sim uma pequena dose de influencia do BLS. Em 2010, vocês lançaram “Broken Bones” de maneira totalmente independente, e seguraram a barra de gravar e mixar o disco sozinhos. Por que preferiram tomar as rédeas sozinhos na época, e esta experiência tem algum reflexo no trabalho de vocês nos dias de hoje? Vini: Esse sim podemos dizer que foi totalmente independente, criamos, produzimos, gravamos, fizemos o mix e masterizamos. Tomamos essa decisão, pois na época para nós era a opção mais coUNDERGROUND ROCK REPORT - 53


erente a se tomar, não nos arrependemos de jeito nenhum de nossa escolha e essa grande experiência refletiu em todos os sentidos nos próximos discos. Ainda falando de “Broken Bones”, como foi a recepção deles pelos fãs? Chegaram a ter algum feedback de outras regiões do Brasil, ou mesmo do exterior? E como foram os shows de divulgação? Vini: Não houve tanta divulgação como estamos tendo agora com nosso lançamento do “Overthrow the Bastard” pela MS Metal Agency, mas digamos que atingiu proporções grandes pela pouca divulgação que fizemos, de todas partes do Brasil e também de alguns países estrangeiros, mas como toda banda tem um cartão de visitas, posso dizer que o nosso é o “Overthrow the Bastard”, nosso segundo disco, pela divulgação e distribuição que esta tendo. Rodrigo: Exato, e um dos motivos que estamos regravando o “Broken Bones” e lançando em formato de EP via Ms Metal Records é pelo fato que todo mundo acha que nosso primeiro disco é o “Overthrow the Bastard”, estamos querendo mostrar para o pessoal que estamos na estrada já faz algum tempo e esse lançamento será muito legal, contará com 5 faixas do “Broken Bones”, uma música inédita e um cover para o Led Zeppelin. Bem, já avançando para tempos mais atuais, “Overthrow the Bastards” já representa um passo adiante. Como foi o processo de composição? Existe uma idéia mais explícita por trás do título e capa do CD que poderiam nos contar? Vini: Não existe nenhuma explicação obscura por trás do titulo

54 - UNDERGROUND ROCK REPORT

e da capa, a ideia é aquilo e terminou, mas cada um acaba tendo seu ponto de vista particular e isso que é o mais legal em uma música, você tem uma perspectiva e eu tenho outra totalmente diferente, e isso apenas a música pode fazer. Rodrigo: A gente apenas mostrou o que estávamos sentindo em um determinado momento, e se tu chegar a ver a época que estávamos compondo e gravando vai ver que era um momento difícil de nosso Brasil e o mundo, não que isso esteja melhor, mas tudo acaba influenciando em uma canção. Ainda sobre “Overthrow the Bastards”, é sensível que existem muitas influências musicais distintas no CD, mas ao mesmo tempo, elas não dão aquela impressão de uma banda que atira para todos os lados. Longe disso, é bem conciso o trabalho de vocês. Não chega a ser difícil associar tantas influências musicais ao mesmo tempo? Tudo bem que em bandas, o processo de composição tende a ser sempre democrático, ou seja, se bobear, um agarra no pescoço do outro (risos). Vini: (risos) Não, de jeito nenhum, o negócio flui mesmo, não existe essa história de fazermos uma música Thrash, outra Heavy e outra mais light estilo Southern, simplesmente vai rolando, se a música merece um andamento mais rápido, ela terá, caso contrário será do jeito que soe melhor para nós. Quando criamos algum riff ou música, nos botamos no lugar do ouvinte, pensando o que gostaríamos de ouvir se caso fosse outra banda tocando aquilo. Outra característica interessante do som de vocês é que ele foge um pouco à invasão Old School que temos no Brasil no


momento. Não que seja ruim, longe disso, mas muita gente tentar refazer o que já foi feito e mesmo esgotado, enquanto vocês estão buscando ter uma personalidade mais própria, e mesmo uma “vibe” do Southern Rock americano. Não chega a ser um fator que dificulte a aceitação de vocês por um público maior por aqui? Ou no RS, essa tendência “anos 80” tem menor impacto que em outras regiões? Vini: Não vejo por esse lado, como um fator que dificulta nossa aceitação, pois me parece que esta acontecendo ao contrário. Rodrigo: Cara, é o seguinte: cada um de nós tem suas influências particulares e algumas como um todo. Nossas musicas refletem tudo isso junto, então, dane-se o Old School, o que estamos fazendo é o nosso próprio som sem nos vendermos para a mídia.

Em março próximo, “Overthrow the Bastards” completará um ano de lançamento, então, como foi a recepção de público e crítica especializada? Conseguiram atingir a meta que tinham? E mesmo em tão pouco tempo, já existem planos para um sucessor do CD? Vini: Podemos dizer que sim, que estamos satisfeitos pelo resultado tanto com o público quanto a mídia especializada, pois para muitos, esse representa nosso cartão de visita. Rodrigo: E esse é um dos motivos que estamos preparando um novo EP, com regravações do nosso primeiro disco, e iremos lançar ainda no primeiro semestre desse ano, e também já estamos preparando algumas musicas para o terceiro fulllenght, que planejamos lançar em 2016.

Ainda falando da cena gaúcha, vocês são de uma terra que já deu ótimos nomes ao Brasil, como Rebaelliun, Krisiun, Astaroth, Leviaethan e tantos outros nomes na música pesada. Como é a cena daí, e quais as maiores dificuldades que vocês sentem em atingir outras regiões do país? Este autor conheceu o RS em 2011, e sentiu uma forte aura roqueira, especialmente em Santa Maria... Parece ser quase uma herança do povo gaúcho (e uma bela herança, diga-se de passagem). Vini: A cena local está crescendo e evoluindo em todos os aspectos, bandas, produtores, locais de shows, etc... Uma das grandes dificuldades que estamos tendo para tocar fora do RS é o alto custo das despesas que tem para uma viagem. Rodrigo: Essa terra é uma terra de muita batalha e é o que estamos fazendo como muitas bandas que estão no mesmo barco que nós. E graças a essa grande mídia que temos no nosso país, que só divulga lixo, faz com que bandas como a nossa e as citadas acima se fodam para conseguir alguma coisa, mas ainda temos os guerreiros das mídias especializadas que nos apoiam e fazem a cena metal ficar cada vez mais forte.

Bem, ora de criar um pouco de polêmica: como todas as bandas que possuem discos lançados, o SUPERSONIC BREWER deve ter sofrido com os downloads ilegais. Qual é o ponto de vista de vocês sobre o assunto? E quais seriam as melhores formas de lidar com o problema? Vini: Pra mim não existe mais controle no download ilegal e acho que irá demorar muito para ter algum tipo de controle. Temos que conviver e aproveitar ao máximo esse mundo online a nosso favor. Semanas atrás achei uns sites russos com nosso último disco para download, achei fantástico! Iriamos demorar muito para alcançar algum público na Rússia e países vizinhos a ela sem o apoio de uma grande gravadora.

“Overthrow the Bastards” tem um vídeo oficial de divulgação em “End Times” e dois lyric vídeos, um para a própria “Overthrow the Bastards” e outro para “Broken Line”. Como surgiu a idéia para eles, e como foram escolhidas justamente estas músicas? E me permitam elogiar: o trabalho visual de “Overthrow the Bastards” e “End Times” ficou muito bom. Vini: Tudo graças ao Ernani. Tínhamos pensado em “Vatican’s Downfall” para o clip, por ser uma música “porrada”, mas Ernani chegou com a ideia visual de “End Times”, então fechou todas! Rodrigo: E antes de “End Times”, lançamos “Overthrow the Bastard”, uma música que em nossa opinião representa o álbum musicalmente falando.

E shows? Como andam os shows desde que “Overthrow the Bastards” foi lançado? Já existem possibilidades para algo no Sudeste, Nordeste e outros estados fora do Sul? E algum contato do exterior para licenciamento do CD por lá? Rodrigo: Pouquíssimos. Estamos em contato com alguns produtores, mas para Sudeste e Nordeste no momento é difícil, mas para alguns estados próximos estamos em negociação, e estamos indo atrás para licenciar nosso CD no exterior. Bem, vamos encerrando por aqui, e gostaria de mais uma vez agradecer pela entrevista. Por favor, deixe sua mensagem aos nossos leitores e seus fãs. E quando eu retornar ao RS, espero poder tomar um bom chimarrão com vocês (risos). Vini: Churrasco e bom chimarrão!! Hehehehehee.... Nós quem agradecemos pelo espaço concedido. Rodrigo: Mantenham o metal como religião, pois essa máquina não pode parar!!

UNDERGROUND ROCK REPORT - 55


ENTREVISTA

Por: JP Carvalho Desde o seu início, o Hammurabi conseguiu se posicionar entre os principais nomes do Metal nacional, mérito conseguido com muito suor, luta, criatividade e qualidade. Apesar do estilo predominante ser o Death Metal, a banda acrescenta muito de sua personalidade e diversidade em suas músicas. Mais um grupo que cumpre muito bem a tradição mineira de nos brindar com excelentes bandas! Conversamos com o guitarrista e vocalista Daniel Lugondi, num papo descontraído e esclarecedor que você confere a seguir. Antes de começarmos, obrigado pelo seu tempo fale-nos sobre o começo da banda. Daniel Lugondi: É um grande prazer conceder essa entrevista a Collapse Underground Art. Bom, começamos o Hammurabi em junho de 2006 com o intuito de construirmos uma banda realmente profissional e diferenciada no cenário nacional. Com bastante trabalho conseguimos firmar esse posicionamento e de lá pra cá tivemos vários lançamento, shows e muitas cidades ao redor do país no currículo além de dividir o palco com bandas realmente extraordinárias. É um grande privilégio fazer parte deste cenário! Na banda atualmente sou guitarrista e vocalista, função que eu sigo desde os primórdios da banda quando ainda tínhamos o nome de Gestalt. Com a dissolução da banda Gestalt e uma forte influência dos grandes power trios como (Krisiun, Destruction, Sodom, Motorhead, etc) acabei assumindo os graves e somente em 2011 retomei a guitarra. A banda tem lençamentos desde 2006, mas o primeiro full, The Extinction Root, só aconteceu em 2010 em uma parceria com a Cogumelo Records, sucedido pelo DVD Blessed By Hate, como se deu essa parceria? Daniel: Muito naturalmente na verdade. A Cogumelo acompanhou todo o nosso processo de evolução, nos viu crescer e já em 2009 tínhamos tudo estabelecido para este lançamento que culminou no Extinction em 2010. Fizemos o single de Blessed by Hate assim como seu videoclipe, sempre foi uma ótima parceria. É muito legal trabalhar com uma marca que você sempre desejou fazer parte do cast desde cedo; realmente uma grande honra! Já em 2011 vocês lançaram Burning in Cuiabá - Ao Vivo, de forma independente, não houve interesse da Cogumelo ou de outros selos nesse lançamento? Daniel: Na verdade, lançamos um especial para os fãs. Quando tocamos em Cuiabá registramos o show e vimos que a qualidade era compatível com os bootlegs que tínhamos em casa. Não era pra ser nada grandioso mas o formato online com arte completo e download grátis teve um enorme sucesso. Rapidamente tínhamos um fluxo enorme no site e várias fotos de 56 - UNDERGROUND ROCK REPORT

fãs que imprimiram a arte e já tinham seus bootlegs na estante junto com os outros da banda. Foi muito legal isso. Por que a mudança para São Paulo? Tenho a impressão de que você se mudou para São Paulo e trouxe a banda na bagagem, já que a atual formação é compostas por você e dois pauslistas. Daniel: A mudança pra Sampa sempre foi algo que fez parte dos meus planos (sempre vi com bons olhos as transições do Sepultura e do Krisiun) e até para o restante da banda de forma mais utópica. O Hammurabi conseguiu maior expressividade a partir dos shows com Vader e Dark Funeral na Capital além de inúmeros shows pelo interior. Sempre tivemos um carinho especial pelos público paulista. Infelizmente, a banda passou por um processo de mudança de formação que nos fragilizou bastante, desta forma, acabei por tocar o projeto individualmente a partir de São Paulo. Essa experiência não poderia ser melhor, nossa formação atual é realmente matadora e os músicos que estão comigo hoje fazem jus aos planos futuros! Tem tudo pra aumentarmos ainda mais a expressividade do Hammurabi! Daniel: Legal a pergunta. Acho que sim, no caso dele conquistar novos povos envolvia um contrato de responsabilidade onde cada província conquistada era reconstruída e um código de leis regia todos os povos do território unificado. No nosso caso, não somente pela conquista de novos públicos mas também pelo intuito de alçar novos vôos. As coisas acontecem mais rapidamente a partir daqui e almejamos ganhar mais espaço devido a visibilidade e apoio. Não é uma recíproca, mas temos consciência do tipo de trabalho que fazemos e esperamos evoluí-lo ainda mais. Como é a aceitação da Hammurabi dentro e fora do país? Daniel: Acredito que é bem legal! Sempre somos muito bem recebidos em todas as cidades que passamos, temos ótima interação com o público tanto em cima do palco quanto na nossa banca de merchandise. Internacionalmente, só conseguimos verificar as métricas do nosso site e das redes sociais. Levando-se em conta que nunca fizemos uma tour internacional, acho os números bastante significativos. Quais os planos da banda para o futuro? Daniel: Gravaremos o primeiro single do novo disco nas próximas semanas e daremos continuidade ao processo de composição e gravações. Nossa expectativa é fazer shows pontuais concomitantemente as gravações. Vamos registrar todo o material e provavelmente disponibilizar esse making of na compilação do disco. Por fim, estamos louco pra lançar esse novo play e cair na estrada e agora, com certeza, almejando tours internacionais!


ARQUIVO

Por: JP Carvalho uando o peso e a agressividade do Death Metal se fundem com as melodias cativantes do Power Metal e ambos os elementos são desenvolvidos pela alquimia da música erudita e a paixão pelo Heavy Metal nós sentimos a essência da música fluir e se transformar no novo lançamento do D.A.M: The Awakening. O novo fenômeno do Death Metal melódico retorna com este lançamento dando continuidade à estória iniciada em seu EP Possessed e mostrando porque em tão pouco tempo conseguiu tantas conquistas! Tendo iniciado suas atividades em 2013 com o lançamento virtual do single Dark Night of the Soul pelo líder e compositor da banda Guilherme de Alvarenga, D.A.M rapidamente conquistou os corações dos fãs do estilo e se firmou como uma das grandes promessas do Heavy Metal brasileiro com o lançamento do EP Possessed. No fim do mesmo ano a banda lançou o álbum Tales of the Mad King que foi sucesso entre a mídia especializada do Metal que presenteou a banda com várias resenhas obtendo nota máxima e um sucesso tremendo entre os fãs do estilo permitindo que a banda vendesse por conta própria CDs para Brasil, América do Norte, Europa, Japão e vários outros territórios. Em 2014 membros da banda se apresentam ao lado de figuras importantes como o guitarrista norte americano Paul Gilbert e a banda lança o EP Phantasmagoria que, novamente, deixou a imprensa especializada de boca aberta e fez os fãs enlouquecerem conferindo títulos à banda como “ futuros reis do Death Metal melódico” e “novo fenômeno do Death Metal melódico” atraindo a atenção da gravadora japonesa Stay Gold Records que ofereceu um contrato de licenciamento no território japonês convidando a banda para uma turnê no ano

Q

de 2015. Ainda em 2014 membros da banda se apresentaram na maior feira de música da América Latina: a Expomusic. No fim do ano a banda começa a se apresentar em workshops tendo sido convidada pela maior Loja de instrumentos musicais de Belo Horizonte, A Serenata e a maior escola de música de Belo Horizonte,Pro-Music, para ministrar um curso especial falando sobre técnica instrumental, equipamento e gerenciamento da carreira musical. D.A.M mistura em sua sonoridade técnicas provenientes da música erudita como o desenvolvimento de motivos com uma sonoridade agressiva, Formas complexas como a sonata clássica com a simplicidade dos riffs do Heavy Metal, tudo entrelaçado em um clima sombrio e com passagens virtuosísticas. As letras abordam reflexões metafóricas sobre ocultismo e sobre o lado sombrio da mente humana. Com uma sonoridade poderosa e com paixão por seu trabalho, D.A.M demonstra o potencial para ser uma das maiores bandas emergentes do Brasil, se preocupando não apenas em criar músicas mas em fazer história, mudando para sempre a maneira de se fazer Heavy Metal! Com a atual formação contando com Guilherme de Alvarenga - Vocal e Teclado, Edu Megale - Guitarra, Caio Campos - Baixo,Guilherme Costa - Guitarra e Vinícius Diniz Bateria, e atualmente residindo em Belo Horizonte (MG), está no momento divulgando seu novo lançamento o álbum The Awakening que apresenta em sua sonoridade uma verdadeira fusão entre a antiga e a nova escola do Heavy Metal. UNDERGROUND ROCK REPORT - 57


58 - UNDERGROUND ROCK REPORT


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.