COLLAPSE UNDERGROUND ART - 1
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Artigo ...ao caos... Pág. 4 Artigo The Ressinestesia Pág. 4 Artigo Underground´s Voice Págs. 6 e 7 Matéria de Capa Uganga Págs. 8, 9 e 10 Entrevista Capadocia Págs. 12, 13, 14, 15 e 16 Entrevista Hicsos Págs. 18 e 19 Entrevista Woslom Págs. 20 e 21 Entrevista Ut Opia Págs. 22 Entrevista Godzorder Págs. 24 e 25
Entrevista Orckout Págs. 26 e 27
Se não puder voar, corra! Se não puder voar, corra. Se não puder correr, ande. Se não puder andar, rasteje, mas continue em frente de qualquer jeito. - Martin Luther King Simples né? Acredito que este seja o espírito de qualquer empreendimento que façamos, não apenas por sermos naturalmente teimosos, mas acima de tudo porque colocamos o coração e a alma em algo que nos satisfaz e por acreditar em algo que, por sentir lá dentro do peito, que naquele momento é o mais correto a ser feito. Muitas vezes o começo se torna penoso, um fardo, que ao meu ver, é muito mais desengonçado do que pesado, e temos que aprender a equilibrar nas costas, arrumar um jeito de tornar isso mais fácil, e de meio do caminho em diante, vemos que a dificuldade estava enraizada no nosso desejo de alcançar alguns objetivo de forma rápida. Somos curiosos, abrimos portas sem nem pensar direito o que deve estar do outro lado esperando, apenas vamos lá e abrimos a porta para entrar ou sair. Planejamos com algumas horas de espaço e tentamos a todo custo buscar o que é melhor naquele momento. Buscamos evoluir de forma rápida, sorateira, inteligente, levantando questoes morais, conceitos e pré-conceitos que levamos uma vida toda para administrar dentro de nós mesmos. Quermos sempre o agora, o todo e a evolução, buscamos sentir as conquistas que em número cada vez maior bem bater a nossa porta, trazendo sempre um presente de vida diferente, um sentimento de conquista diferente. Planejamento? Prá que, vamos indo ai e depois a gente vê o que acontece. Eu, hoje, acredito que nossa busca por melhorar o que nos faz bem, de ver crescer algo que planejamos e erigimos do nosso querer, associado com planejamento longo, mas a curto prazo, trazem mais frutos as nossas vidas. Dito isso, ai está a Collapse Underground Art # 4, feito do sangue e do suor de pessoas que como eu, buscam mostrar ao mundo, aquilo que se tornou nossa forma de vida. A mim, cabe apenas agradecer a cada colaborador, cada leitor, cada amigo e cada banda que acredita no nosso trabalho e nos dá a alegria de ver mais uma edição no ar, mostrando nosso cenário e nossas bandas para quem se interessar, Novamente: Feita para vocês! Boa Leitura! JP Carvalho
Entrevista Seu Juvenal Págs. 28 e 29 Especial A História da Primeira Guerra Mundial Págs. 30, 31 e 32 Releases Págs. 34, 36 e 37 Comportamento A tatuagem nossa de cada dia Págs. 38 e 39 Entrevista Bloody Págs. 40 e 41 Entrevista Sistema Sangria Págs. 42, 43, 44 e 45 Entrevista Revolutio-Within Págs. 46, 47 e 48 Entrevista Orphaned Land Págs. 49, 50 e 51
Expediente Editor responsável: JP Carvalho - Jornalista Responsável: Laryssa Martins MTb: 52.455 Colaboraram nesta edição: Carol Bannwart, Cláudia Almeida, Christophe Correia, Julie Sousa, Marcos Garcia, Panda Reis, Renato Sanson e Vlademir Gonzales. A revista Collapse Underground Art é uma publicação digital, de atualização permanente. O conteúdo editorial é produzido pela equipe de redação e as imagens cedidas por representantes ou assessorias de imprensa. Todo o conteúdo é protegido pelas leis que regulamentam o Direito Autoral e a reprodução (de parte, ou completa) das matérias. As matérias assinadas são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente refletem a postura ideológica da publicação. Envie sugestões, comentários e críticas para a revista: E-mail: rrraicttuff@yahoo.com.br ou para Rua Nilo Luis Mazzei, 66 - Vila Guilherme - São Paulo - SP - CEP: 02081-070.
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...AO CAOS...
the redsinestesia
Crianças do BraZil
N
Por: Panda Reis
ão cresça. Eu te aconselho que o melhor a fazer é não crescer, não se tornar adulto, não ser apenas mais um ser que acha que pensa, acredita que pensa e acredita que sabe e vive uma vida construída em outras fontes, outras pessoas que vieram antes e instituíram o que é ser adulto em uma civilização esquizofrênica. Perceba criança, que como somos cada dia mais medíocres em nossa pequinês na soberba de “explicarmos” tudo, o tempo todo, até que nossa limitada limitação intelectual, não nos permita mais saber exatamente o que somos, não temos idéia do que seja isso que nós mesmos construímos. Mesmo que, nossos interesses capitalista sejam diferentes do seu interesse egoísta e narcisista, em breve a evolução fará sua criatividade e sinceridade se tornarem a mais pura e burra, repetição do mais do mesmo e da mais falsa das mentiras humanas possíveis, te colocando assim no topo da imbecibilidade e mediocridade humana. Não cresça criança ... ou conhecerá o mais pavorosos dos medos, certezas e responsabilidades, perderá toda essa coragem inocente sobre as incertezas, que ainda nem pode perceber, pois o sentimento mais livre do ser humano é a irresponsabilidade. Como sinto falta desse sentimento ou falta de sentimento, trocaria tudo, todos sentimentos possíveis só para ter esse sentimento de irresponsabilidade de uma criança, e junto a isso vem a falta de culpa, a falta de remorso. Não cresça criança ... pois crescendo deixará de ser o filho e se tornará o pai , de aprendiz à instrutor, e será cobrado como tal, esquecerão quem foi um dia, a criança morrerá em meio a sentimentos animais demais, primitivo demais e surgirá um adulto alienado pelo (falso) conhecimento, embebido de pré-conceitos, fomentado ainda
na fase irresponsável , que hoje descansa morta, junto com a imaginação sem limites e a criatividade, enterrados sob toneladas de ideologias que não são suas. Toda aquele inocência, aquele brilho no olhar de quem não se preocupa com o que virá, a falta daquela maldade madura, natural nos Sapiens Sapiens, ao crescer ser tudo esquecido e confundido com infantilidade. Até as crianças que estão jogadas nas ruas, largadas nas praças, abandonadas na cracolândia, correndo pelas ruas, fugindo da polícia, fugindo da violência urbana, fugindo da violência rural, todas aquelas crianças entorpecidas por cola e crack, enganam a realidade com doses cavalares e matam, bem antes, a criança que elas são, destruindo a memória, apagando o frio e a garoa das noites frias, solitárias em meio á milhares de pessoas que passam, quase se esbarram. Mas sua mente entorpecida faz os pensamentos e sentimentos viajarem para momentos desejados e nunca vividos ... nada de um sorriso carinhoso do pai, sem a atenção persistente da mãe, sem o amor que protege e até mata por excesso de amor, sem a segurança de um teto, sem a atenção que se deve ter para aprender dia após dias, sem exemplos escolhidos, apenas aqueles com o cachimbo, apenas as algemas e ferimentos de brigas e agressões. Elas não tem nada, nada elas tem , não poderão passar nada adiante, sem futuro, sem destino, invisível aos olhos dos olhos, da sociedade constituída e estabelecida sobre um sistema selvagem e que massacra quem é , e não tem, serão caça fácil para predadores ferozes que estão a espreita nas ruas, esperando o momento certo ... a maldade á espera, logo ela crescerá, e sentimentos adultos irão dominar completamente, transforma-la em mais um humano desprezível, como todos os demais. Um dia quem sabe, ao olhar nos olhos delas notará que o futuro escorre junto com o sangue, que a felicidade é uma mentira tão ideológica e ligada ao consumo capitalista, que só á terá , quem estiver totalmente inserido no sistema. Uma brincadeira de adultos criada por adultos, para manter tudo exatamente igual , e a luta em inserir as crianças nesse sincronismo.. pandadrums@hotmail.com
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Por favor, seja original
Por: Carol Bannwart
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epois de pensar muito a respeito do que poderia interessar pessoas que buscam conhecimento sobre o ato de cantar, a prática do canto e o que é ser cantor, sem escrever uma aula técnica abordando vários exercícios, cheguei à conclusão de algo que é essencial para todas as pessoas que buscam esse conhecimento: Por favor, tenha a intenção de ser original. É de conhecimento comum que “a prática leva a perfeição”. Se o indivíduo tiver o desejo e persistência em aprender a cantar, ele vai cantar. Como cada pessoa é uma variante física/ emocional/psicológica, pode demorar muito ou pouco. Mas uma coisa deve ser exigida de todo Professor de Canto: Identificar os pontos altos e baixos do aluno, valorizar esses pontos altos e trabalhar em como transformar esses pontos baixos em algo interessante, coisa que muitas vezes leve a uma originalidade, que é o que todos esperamos da indústria fonográfica. Ninguém aguenta mais cantores de Heavy Metal que cantam como o Bruce Dickinson/Dio e cantoras de Metal Melódico/Gótico/Sinfônico que cantem como a Tarja Turunen/Simone Simons. Tenha em mente que essas pessoas já fazem valer a existência de suas respectivas vozes, não é necessário que exista outro Rob Halford, ele já é “a melhor imitação dele mesmo” ,tudo o que poderá acontecer ao fruto de uma construção de vocal voltada para “cantar como a Angela Gossow”, é um mero clooner que ,normalmente, é pior do que o vocal original, porque não é o original. E via de regra, o original sempre é melhor. É algo que se aplica à vida de forma geral, ser original sempre é melhor. E é claro que não estamos falando de projetos que tem a intenção de ser cover, pois nesse caso, a conversa é totalmente diferente. No começo do desenvolvi-
mento vocal dos alunos, é claro que é sempre importante ter boas referências! “Gosto do timbre do Freddie Mercury, quero chegar nessa nota que ele chega e ter um timbre legal assim”, mas sua voz se torna a mistura de suas referências acopladas com as suas próprias características. “Gosto do Bruce Dickinson, mas também gosto do Paul Simon, Elton John e Elvis Presley”, apenas essas referências e as características físicas/ emocionais/psicológicas de um indivíduo, já formam um vocal que mistura esses cinco fatores, que resulta num vocal diferente de todas essas referências. É um start básico para a solidificação do timbre do aluno. Gostaria de deixar uma bronca para os professores que não levam a individualidade vocal dos alunos a sério, “Que orgulho! Meu aluno canta igual ao Robert Plant”, isso é um erro! Seu aluno deve aprender cantar como ele mesmo, “cantar como o fulano” é apenas uma etapa pela qual todos passamos, não é o objetivo. E é sempre importante lembrar que não existe um “destino final”, o aprendizado é sempre eterno, por mais clichê e ancião que isso seja, é verdadeiro. Afinal, os melhores clichês costumam ser verdadeiros e difíceis de serem alcançados. O simples exercício de impor sua personalidade através das canções, trabalha a força de sua própria personalidade, coisa que dá espaço para que se descubra um artista, que é o que o mundo realmente precisa. * Cantora e professora de Canto. - E-mail: carol.bannwart@hotmail.com
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UNDERGROUND´S VOICE
O Metal português
Por: Christophe Correia
O
Metal Português passou por grandes mudanças ao longo dos anos e hoje é dia de falar de algumas delas. Desafiei alguns elementos de bandas, umas mais experientes do que outras, para dar o seu testemunho sobre um tema-pré definido e todos eles aceitaram. Augusto Peixoto (Head:Stoned / DUM), Miguel Inglês (Equaleft), Jó (Theriomorphic), Rui Alexandre (Terror Empire) e Victor Matos (Web), a todos o meu enorme obrigado! O antes e depois da net/redes sociais, as condições que as bandas tinham antes e têm agora para se fazerem conhecer, tocar e gravar e também a quantidade de concertos relacionada com a presença de público para além de algumas histórias que cada um tem para contar. “No tempo em que ainda não existiam as novas tecnolo-
gias, vulgo net, redes sociais, celulares, etc. A promoção das bandas, era feita através das fanzines, que pouco mais não eram do que simples montagens de fotos e textos (escritos numa maquina de escrever), depois era só numerar as folhas, tirar fotocopias a preto e branco e montar a “revista”. Geralmente eram elaboradas e distribuídas pelos “Clubs de Fãns “ de Hard ‘N’ Heavy que se dedicavam a apoiar a causa. No caso dos concertos colavam-se cartazes nas paredes e postes “estratégicos”, também se colocavam nos cafés da zona, não era muito diferente dos dias de hoje, a maior diferença é que havia mais paredes onde era “permitido” colar e o lay out em termos de colorido não têm comparação possível. Não nos podemos esquecer dos programas específicos de Hard’N’Heavy das ditas “rádios piratas”, rádios estas que eram ás dezenas, nem dos “velhos e eternos” Flyers, que ainda hoje são usados, é óbvio que na altura era quase tudo simples fotocopias de folhas A4 com o mesmo lay out 4,6 ou 8 vezes a preto e branco que depois eram cortados á tesoura. Os meios de comunicação mais usados
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eram o telefone fixo e a carta, dentro destas lá iam uma data de flyers, e geralmente lembrava-se que os mesmos eram para serem usados em futuras cartas que enviasse-mos, assim como se pedia para que na resposta se devolvesse o selo, claro que não vou explicar o porquê deste pedido” é a visão do Victor do que acontecia antigamente por aqui, que encontra pararelismo actualmente com a visão do Rui “Sejamos frontais; a internet não veio simplesmente “baralhar e voltar a dar” na indústria musical - a internet Incendiou o baralho! Depois do autêntico boom (literalmente) do MySpace, em que as bandas passaram a ter um canal direto de comunicação com os fãs, que incluia um leitor de música, nada voltou a ser o mesmo. Junte-se a isto o surgimento dos downloads ilegal e o cenário é uma autêntica pintura de cenário de pós-guerra, para a indústria musical. Problema deles, problema nosso! Ainda estamos a tentar meter o pé no chão sem ter medo de cair. As redes sociais são a espinha dorsal da divulgação de bandas e da sua música, o seu produto. Penso que a indústria se iria ressentir so-
bremaneira se, de repente, este canal deixasse de existir. Uma rede social como o facebook permite o targeting de público de uma forma tao específica que parece surreal. É brutal. A evolução está em marcha, e temos de nos adaptar. Quem não se adapta, morre. Felizmente temos bandas, webzines, fotógrafos, fãs, imensa gente a ajudar na divulgação de eventos e música. A industria respira uma saúde invejável, apesar da morte erradamente anunciada. (Nós, os melómanos) Estamos para ficar; aturem-nos!”. São dois testemunhos que mostram bem a mudança que a internet trouxe ao panorama Português, e claro, ao mundo inteiro. Um post no facebook atinge em segundos todo o público pretendido, pelo contrário antigamente semanas de trabalho a divulgar um evento que nem sempre chegavam ao conhecimento do público! Quanto às condições que as bandas tinham para se fazerem conhecer, tocar ao vivo e gravar as suas músicas, Augusto dá-nos o seu testemunho “Quando formei os Dove em 1988 nunca pensei que as condições desse tempo tivessem tido uma alteração
tão grande, como a que veio a suceder. Para o bem e para o mal… Os anos ’90 foram a década onde os Dove demarcaram a sua existência, tendo editado entre 1992 e 1995 as quatro demo-tapes da existência da minha primeira banda. E, recordo-me como se fosse hoje, o que mudou em termos de condições de gravação da primeira demo “Deadly Human Race” (1992) e a última demo “Dove” (1995). O primeiro trabalho foi gravado na sala de ensaio de uma banda amiga, os Overhead e, o produtor Mário Pereira, teve que carregar ás costas a pé de sua casa em Ermesinde até à sala de ensaio, em Lordelo do Ouro, a mesa de mistura com um gravador Fostex de 4 pistas de K7. Portanto dá para imaginar a ginástica mental e o esforço para conseguir fazer todas as captações dos instrumentos e vozes, para proceder ás misturas com quatro canais, à posteriori. Foi o princípio. A última demo, já foi algo mais condizente com as condições actuais, às quais as anteriores demos, a “Reborn To Return” (1993) e “Dum Spiro Spero” (1994) precederam essa última demo e, todos os trabalhos que editei depois disso. Gravadas nos estúdios Rec’n’Roll dos Tarantula, era o estúdio mais avançado no que tocava
a gravações de demos e álbuns de Metal, cá em Portugal. Tendo o Luís Barros (baterista dos Tarantula) sido responsável, pelo que de melhor se fez no nosso país. Na altura os apoios entre bandas era mútuo, onde os programas de rádio ligados ao Metal e, as fanzines, foram um excelente meio de comunicação para as bandas promoverem os seus trabalhos perante o público. Público esse que seguiam quase que religiosamente os programas de Metal e as fanzines, ávidos de novidades, novidades essas adquiridas pelo contacto directo com as bandas. Até de forma quase impensável, conseguíamos chegar a países tão distantes, como é exemplo o próprio Brasil e, até mesmo, países asiáticos, onde cheguei a enviar para venda algumas demos. A terceira demo de Dove foi criticada pela conceituadíssima Terrorizer, tendo tido uma nota excelente e, consequentemente, promoção e pedidos de tudo quanto era país. Foi nessa altura que apercebi-me que algo estava a mudar e, as revistas, significavam essa mudança, aniquilando as Fanzines e, tudo que de bom se havia conseguido, com as mesmas… apoio, tape-trading, amizades.Tudo passou para uma escala global, perdeu-se o sentido puro do que é
o Underground, aquele círculo fechado, onde a amizade e respeito eram o mais importante. Passei a sentir isso com a minha segunda banda, In Solitude e, a rapidez da edição da primeira promo-track “Children Of The Dark”, passando pela demo-tape “Reflections”, até aos dois álbuns que participei até abandonar a banda, “”Eternal” e Opus: universe”, aconteceu a uma velocidade super sónica. O Underground passou para algo mais “Mainstream” e, a chama foi-se esvanecendo. A nível de concertos, os anos ’90, apesar de os concertos serem raros, quando existiam, enchiam-se de público, eram celebrações. Veio o novo século e, começaram a surgir mais bandas, as condições para tocar melhoraram significativamente, algumas das bandas nacionais, começaram a receber convites para abrir concertos internacionais, tudo começou a correr mais depressa. Começaram as verdadeiras internacionalizações das bandas nacionais, não em grande escala mas, com algumas bandas a conseguirem projecção internacional, como é o maior exemplo os Moonspell. Deveríamos ter aproveitado isso da melhor maneira mas, não… O facto de começarem a aparecer mais bandas, o público nos concertos come-
çou a decrescer, os fãs e/ou apreciadores de concertos, viraram músicos e, como músicos que se tornaram, achavam que não seria necessário apresentarem-se na grande maioria dos concertos. Começaram-se a criar nichos, como se o Underground nacional, passasse de uma única religião, a várias religiões, com apreciadores destintos para cada “grupinho” criado. Isso retirou credibilidade e, hoje em dia só os amigos dos amigos é que conseguem ter público nos concertos, é um círculo fechado, onde mais ninguém pode entrar e, em que “alguém” tem-se aproveitado. Pessoalmente, sou daqueles que cada vez mais acredita que o Underground está morto, ou moribundo e, ter 29 anos de lutas incansáveis ás costas, cansa e, faz-me pensar que está a chegar a hora a passos largos, de ter que dar o lugar a outro.Só desejo que esse outro, tenha a paixão, dedicação e o amor pela causa do Metal, tal como eu senti em todos estes anos.” São testemunhos que provam a enorme mudança que a Metal e a música no geral sofreu ao longo dos anos. Mudanças tão grandes que vão continuar a ser exploradas na próxima edição, com mais convidados e excelentes histórias! Enorme abraço a todos, irmãos!
Underground’s Voice: www.facebook.com/UndergroundsVoice - E-mail: undergroundsvoice@gmail.com
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MATÉRIA DE CAPA
Por: JP Carvalho ara o bom entendedor, o nome Uganga não é novidade. Porém, aos mais desinformados cabe dizer que depois de vinte anos de estrada, quatro álbuns de estúdio, um álbum ao vivo e duas turnês europeias, esta banda oriunda de Minas Gerais já se credenciou como um dos representantes do Thrashcore brasileiro. E mais, nem por isso Manu “Joker” (vocal), Christian Franco (guitarra), Thiago Soraggi (guitarra), Raphael “Ras” Franco (baixo) e Marco Henriques (bateria) se acomodaram e trouxeram ao mundo um novo trabalho, de além de qualidade inquestionável, mostra que o Uganga ainda ruge e range os dentes com propriedade e conhecimento de causa. Integridade artística, técnica, profissional, pessoal e, por que não, espiritual. Seu noc\vo CD, “Opressor” mostra o
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Uganga em sua maioridade musical. Reflexo direto de experiência vivida e comprovada, erros e acertos, sonhos e desilusões. Confira a seguir nosso bate-papo com o vocalista Manu “Joker” Henriques e tire suas conclusões. A banda já tem vinte anos de estrada, marca que poucas bandas conseguem atingir, ao que se deve essa longevidade do Uganga? Manu “Joker” Henriques: Um pouco de loucura, com certeza (risos)! É preciso gostar muito para se meter nesse negócio de música pesada no Brasil, um país dominado por música descartável, mas o amor pela camisa é maior que qualquer percalço. Enquanto essa vontade for forte, vamos em frente peitando o que vier.
Além disso, a formação está estável há 10 anos, um sinalizador de que muito mais que uma banda, o Uganga é uma família. Seria este mesmo o sentimento dentro da banda? Manu: Acredito que sim, cara. Temos uma unidade forte que foi se intensificando mais ainda com o tempo. Claro que temos diferenças, algumas gritantes, mas nem por isso deixamos esses fatores minarem essa unidade. Temos duas duplas de irmãos na banda, eu e Marco; Ras e Christian, isso é algo que não tem como não observarmos quando falamos de união no Uganga. O Thiago entrou um pouco depois, em 2007, mas já era amigo e hoje também um irmão independente de laços de sangue. Esse núcleo é responsável por essa estabilidade. Recentemente integramos o Murcego (Canábicos), outro grande amigo, como terceiro guitarrista depois que ele ficou seis meses tocando com a gente enquanto o Christian estava afastado para tratar da saúde. Com a volta do Christian totalmente recuperado, resolvemos seguir com três guitarras e tem sido muito legal. A família está ainda mais forte! Desde o primeiro lançamento (Atitude Lótus, de 2003) o crescimento musical e lírico da banda é explicito, sendo que com o CD Opressor a banda deu um passo além nesses dois quesitos. A intenção sempre foi buscar a evolução de lançamento para lançamento ou foi um caminho natural? Manu: As duas coisas. Desde o início buscamos nos desenvolver e evoluir tanto individualmente como em conjunto, porém deixando a musicalidade fluir sem regras. Um exemplo disso é nosso primeiro álbum que é praticamente outra banda. Esse disco não serve muito de base, pois apesar de curtir muito o que fizemos ali, era outra formação e outra proposta musical. Ou falta de proposta, vai saber (risos)... Já do nosso segundo álbum (Na Trilha Do Homem De Bem – 2005) em diante, o núcleo da banda se firmou e o estilo também. Desde então seguimos, como disse, fazendo música e buscando ir sempre além de onde estamos. Temos nossa identidade e
seguiremos buscando melhorar sempre. No seu release está escrito: “o Uganga é tão sincero quanto o amor e o ódio. E a escolha é sua!” Você acha que por cantar em português a mensagem é mais facilmente absorvida, ou diferente do esperado, muitas vezes vocês percebem que fã não liga muito para o conteúdo e sim para o sentimento que a música transmite? Manu: Essa frase é do nosso empresário Eliton Tomasi, mas eu entendo o ponto de vista dele, uma pessoa que está muito próxima da banda. Nós não damos a mínima pra verdade dos outros, o que nos interessa é a nossa verdade, assim lidamos com a nossa música. Sem verdade, sem alma... E música sem alma é uma merda, seja do estilo que for. O Uganga é uma banda que caminha por suas próprias pernas e tem na sua música sua maior particularidade. O que falta para que a banda seja reconhecida como um dos grandes nomes da música pesada brasileira? Manu: Cara, está ai uma pergunta que não consigo responder (risos). O que sei é que estamos no páreo, em nosso melhor momento e iremos muito além de onde estamos, pode botar fé. Voltando ao CD Opressor, percebemos uma sonoridade mais orgânica, com mais punch, como se deu a produção deste CD? Manu: Foram dois anos entre pré-produção e o início das gravações, depois mais um mês gravando. Fizemos tudo com bastante cuidado e calma, no tempo certo e sem pressão. Eu fiquei à frente da produção na fase dos ensaios e trabalhamos pesado em todos os detalhes, tanto de execução como de composição. Depois em estúdio eu e Ras (baixo), trabalhamos junto ao Gustavo Vazquez que co-produziu o álbum e conseguiu levar o som do palco pro disco. Desde o início queríamos uma sonoridade mais crua e “na cara”, e finalmente conseguimos.
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E em relação aos lançamentos anteriores, “Opressor” me parece bem mais intimidador, já que traz muito peso e muita energia, a produção em estúdio trouxe ao Uganga uma nova forma de se reinventar? Manu: Eu acho que mais a pré-produção nos ensaios do que o estúdio em si. Depois do “Vol.03: Caos Carma Conceito (2010)”, que foi um disco complicado pra ser gerado, sabíamos que teríamos muito trabalho pela frente para nos superar. Por outro lado, a intenção era conseguir isso de maneira mais planejada e tranquila, sem tanto desgaste. Todo mundo estava focado no seu papel e buscando dar o melhor, por isso acredito que um pouco de disciplina no caos ajudou (risos). Musicalmente vejo alguns novos elementos na nossa música como o Doom e o Heavy tradicional, assim como instrumentos acústicos, temperando nosso Thrashcore. “Opressor” também traz letras inspiradíssimas, e me parece que a humanidade se torna um alvo bem fácil para a fúria musical do Uganga. Sendo assim, o que te motiva a pegar caneta e papel e mostrar sua visão do todo? Manu: Tudo o que está a minha volta ou dentro da minha cabeça. E hoje em dia tem muita revolta na minha cabeça assim como muita coisa que me irrita a minha volta. Veja bem, eu sou um cara feliz e não queria outra vida, mas os rumos que o mundo está tomando me deixam assustado. Políticos corruptos que destroem nosso planeta em nome do dinheiro, abuso policial, crianças morrendo nas ruas de fome ou overdose, o culto ao ego, embalistas e radicais infestando a cena underground... A lista não acaba, mano! Por outro lado também falo de coisas que me fazem bem, que me dão força. Essa dualidade faz com que, mesmo nas letras aparentemente negativas, eu vá além de somente reclamar. Enfim, escrevo sobre estar vivo. Além disso, vocês produziram dois videoclipes para “Guerra e “Casa”. Fale-nos sobre o conceito de cada um. Manu: Ambos foram dirigidos e filmados pelo nosso amigo Eddie Shumway da Travesseiro Discos aqui do Triângulo
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Mineiro. Ele já tinha feito outros dois trabalhos com a gente pro “Vol.03:Caos Carma Conceito” (2010) e em 2013 voltou com o Uganga pra Europa onde filmou tudo. Muito do que foi registrado estará no nosso DVD de 20 anos que sairá em dezembro de 2015 pela Sapólio Radio. Sobre os clipes, o de Guerra tem imagens de locais como Poznan onde praticamente começou a segunda guerra mundial, o Museu da Segunda Guerra na Cracóvia (Polônia), um castelo medieval, também na Polônia, Budapeste, Maribor na Eslovênia, além de cenas de vários conflitos da humanidade. Usamos isso para retratar nossas guerras internas. Já o clipe de Casa é mais simples e basicamente é composto por imagens da banda na estrada ou no palco. “Leve sua casa para onde estiver!” Gostamos muito de ambos os resultados. O Uganga recebeu elogios dos mais diversos veículos por “Opressor”, chegando mesmo a ser declarado “melhor álbum nacional”, que mostra que a mídia especializada se rendeu a banda, mas como tem sido a aceitação deste trabalho e da banda pelo público? Manu: Muito foda, cara! Na verdade a resposta ao Uganga veio primeiro dos shows e depois da mídia, tanto aqui quanto lá fora. Creio que no começo éramos vistos com certa desconfiança por determinados veículos, mas os shows e o respaldo do público ajudaram a mudar essa visão. Com certeza o “Opressor” foi extremamente importante para isso também, pois mostra a banda em seu melhor momento até aqui. Muito obrigado pela entrevista, o espaço é seu para suas considerações e para deixar uma mensagem aos nossos leitores. Manu: Valorize e apoie a cena nacional, conheça nosso trabalho (www.uganga.com.br) e se curtir vá aos shows e compre nosso material pois é isso que fazemos a cena sobreviver. Um salve aos verdadeiros guerreiros! Pax! Mais informações: www.uganga.com.br www.facebook.com/ugangaband
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Entrevista
Entendemos que fizemos nossa música para que seja apreciada pelos fãs de música pesada Por: JP Carvalho ocando juntos desde 2011, o Capadocia é uma banda de metal do ABC paulista, totalmente independente e formada por Baffo Neto. Em 2006, após residir durante 07 anos na Europa com sua antiga banda “Retturn”, (grupo de expressão no Brasil na década de 90), Baffo Neto retornou ao Brasil com o intuito de criar uma nova banda que seguisse os passos do Retturn, que encerrou suas atividades por questões de legalidade e problemas com a justiça internacional. Tendo reunido os músicos Marcio Garcia (ex-Postwar), Gustavo Tognetti (ex-Skin Culture) e Palmer de Maria (ex Choldra/Retturn), Baffo Neto priorizou em sua escolha um time que compartilhasse de suas ideias musicais além de, assim como ele, terem crescido na região do abc paulista, reduto de uma das maiores e mais intensas cenas de metal do Brasil na década de 90. Atualmente finalizando o álbum de estreia do grupo, intitulado “Leader’s Speech”, que tem como principal característica uma mescla bem dosada de ritmos derivados de várias vertentes da música brasileira. As composições deste álbum sem dúvida primam por uma ‘brutal elegância’ contendo simplicidade e energia em suas estruturas musicais. Com letras dissertativas que abordam desde situações de
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abuso de poder, corrupção e desvios de conduta até casos e descasos do cotidiano a nível pessoal, o grupo pretende expandir sua música e mensagem por todo Brasil tornando assim o nome Capadocia uma referência em termos de metal moderno e pesado no país. Conversamos com o guitarrista e vocalista Baffo Neto sobre a banda, sobre o cenário e o resultado você confere a seguir. Podemos começar falando sobre a banda Retturn, que fez um alarde considerável no cenário não só brasileiro, mas mundial. Porque a banda encerrou as atividades? Baffo Neto: Cara, por muitos anos trabalhamos com o Retturn, tanto aqui como na Europa, e foi do caralho enquanto dava para trabalhar. O Lance é que ter banda não é para todo mundo. Existe uma série de assuntos de que se precisa entender, uma série de sentimentos a se sentir, uma certa visão que se precisa ter para que uma banda consiga trabalhar e muito desta visão precisa ser comum a todos no conjunto e infelizmente, nem todos na banda tinham isso. O fator humano foi determinante para que a banda deixasse de existir. Meu primeiro contrato com um selo europeu foi com o Retturn. Meu primeiro contrato de publishing com a extinta BMG foi com o Retturn, portanto, só tenho boas memorias
dessa jornada. Passei muito tempo fazendo as coisas sem ser do meu jeito e bastante infeliz com os resultados que eu colhi com isto. A decisão de acabar com o Retturn foi minha. E não queria mais carregar aquele peso. O último lançamento da Retturn foi o single virtual “Everybody Hates Everybody”, e eu tive a impressão de que a banda retornaria as atividades, Quando você surgiu com o Capadocia e lançam o CD “Leader’s Speech, podemos dizer que o Capadócia é uma sequência natural do Retturn? Baffo Neto: Opa, com certeza. Algumas das músicas que eu cheguei a fazer no Retturn e nunca foram lançadas fisicamente hoje são do Capadocia. Foram reescritas e repaginadas. O grupo hoje conta com o baterista Palmer de Maria, que é da primeira formação do Retturn. Eu e o Palmer tocamos juntos desde que tínhamos 14 anos de idade. De um certo modo, é uma continuação sim. O Guitarrista Marcio Garcia tocava no Postwar, uma banda do ABC paulista, que infelizmente não está mais em atividade. Já o baixista Gustavo Tognetti tocava no Skin Culture, do meu amigo de longa data Shucky Miranda, mas tinha um estúdio de tatuagem perto da minha casa e acabou tocando com a gente. A ideia que eu tinha quando começamos o Retturn é basicamente a mesma que eu tenho hoje, com alguns anos de aprimoramento e um pouco mais de experiência. Eu acho que hoje em dia estamos mais aptos para desenvolver uma mensagem mais relevante, uma música mais coesa e mais característica do que tínhamos no passado e até mesmo do que temos no momento. Vocês fizeram um vídeo clip para a música Standing Still, que apresentou a banda ao público, quais foram os frutos colhidos com o lançamento do vídeo e do álbum em
si?
Baffo Neto: O álbum acabou de ficar pronto. Disponibilizamos mais que a metade do disco online, mas ainda não tínhamos ele em formato físico. Agora sim o temos. O vídeo popularizou a música da banda. Queríamos que quando chegássemos para tocar em um show, o pessoal já conhecesse a banda, ou ´pelo menos, do que se trata a banda e isso foi alcançado. Em todos os shows que fizemos até agora o pessoal nos recebeu bem e nos assistiu com os olhos da curiosidade. Isso porque já tinham escutado a nosso respeito e isso foi o que planejamos desde o começo para o vídeo clipe da Standing Still. Termos também o vídeo clipe da Snake Skin que foi lançado em maio. Haverá mais vídeo clipes de músicas do Leader’s Speech em breve. Sendo assim, você acha que sem disponibilizar material da “grande rede”, uma banda, hoje em dia, fica relegada ao seu grupo de amigos, e, não seria uma faca de dois gumes, uma vez que o público hoje, prefere ficar em casa baixando e vendo tudo ao invés de comparecer aos eventos e até mesmo comprar material das bandas? Baffo Neto: Cara, antes de mais nada, isso tudo depende muito do que você quer enquanto artista. O que nós queremos é que nossa música chegue sem restrições a todos o que estiverem interessados em as escutar porque somos uma banda nova que precisa ainda se popularizar entre os fãs deste estilo musical. Por esta razão disponibilizamos nossas músicas online tanto para streaming quanto para download e não há o que nos convença do contrário. Tínhamos propostas de gravadoras querendo lançar nosso disco física e virtualmente, mas preferimos fazer tudo nós mesmos justamente porque não seria possível disponibilizar nossa música da maneira que queríamos, sem restrições.
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Quant ao público ficar em casa baixando e vendo tudo ao invés de comparecer a eventos, eu discordo em partes. Acontece que hoje em dia há muito mais opções de entretenimento do que alguns anos atrás por exemplo. As bandas falham e fazer fãs fiéis. As bandas falham em fazer ou participar de eventos que de fato entretenham o público. Juntar 4 ou 5 bandas locais e tocar em algum onde a oportunidade foi dada não quer dizer que você está ajudando a cena, entretendo o público ou mesmo ajudando a si mesmo com sua banda. Em 95% dos casos onde esta situação acontece, te garanto que o sistema de som é precário, a iluminação não atende de maneira adequada, o local não proporciona o conforto necessário ao público, o palco não atende os padrões mínimos necessários para a visualização um bom evento, as bandas não têm as canções que fariam com que os fãs aparecessem e se multiplicassem... E assim sucessiva e tristemente se desenha o underground no Brasil e não é de hoje que o problema é o mesmo. Quando uma banda não tem estes problemas, ou ao menos se elimina a maioria deles, dá-se um grande passo a diante, e existem algumas bandas dando este passo. Standing Still tem imagens pesadas e segue numa linha bastante perturbadora, conte-nos sobre o conceito deste vídeo. Baffo Neto: Pode crer (risos). A ideia do vídeo é mostrar que a música fornece a energia necessária para que possamos impedir com que o mau aconteça a nós e a quem amamos. No vídeo, os quatro integrantes da banda fornecem energia para que 4 espíritos impeçam 4 situações onde acidentes aconteceriam com vítimas fatais. Um assalto a mão armada, um acidente automobilístico, uma situação de agressão contra um mendigo na rua e uma situação de abuso familiar por causa do álcool. A música, no caso, é uma fonte de energia, força, de ação. Quero que nossa música leve o bem as pessoas, leve consciência, leve vontade, que proveja aquilo que as pessoas procuram. Temos ainda um longo caminho a percorrer até que nossa música tenha o formato ideal para que isso aconteça, mas a ideia é fixa desde hoje e o vídeo foi desenvolvido de acordo com esta ideia. É importante se ter a consciência de que há muito mais do que alcança suas vistas. O vídeo tem a participação do Vinie Castellari, do Project46. Ele é um querido irmão. E como as pessoas tem reagido ao vídeo? Baffo Neto: Com uma ambiguidade positiva. Algumas pessoas adoram, outras se assustam, outras acham que o vídeo é um ritual satânico disfarçado... Outras acham que se trata de mensagens religiosas subliminares, algumas pessoas acham que é coisa de macumbaria, exuzada e tal, se sentem que não sabem onde estão se metendo, mas a impressão fica, ... e assim o vídeo se populariza. As imagens causam, na maioria das pessoas uma sensação raramente causada por um vídeo clipe de uma banda. Um dia eu ouvi de um sábio amigo, também músico e bastante conhecido em todo o mundo que, no mundo da música, o importante é a mensagem e não o mensageiro. Essa frase foi muito importante para me ajudar a formar a ideia que e tenho hoje sobre a música e o jeito de se fazer as coisas no Capadocia. Sempre a mensagem vem primeiro e ainda estamos aprimorando nosso veículo de comunicação. Você busca transmitir energia positiva em sua música e em suas letras, alguma vez a banda já foi mal interpretada? Pergunto isso porque hoje em dia, tudo é motivo de 14 - COLLAPSE UNDERGROUND ART
escarnio e depredação, já que muitos desses ditos “donos da cena” se escondem no anonimato. Baffo Neto: O Heavy Metal em geral é mal interpretado por quem não o conhece e por muitos que o conhece bem há muito tempo e não é diferente com a gente. Com certeza já fomos mal interpretados, mas rapidamente a coisa se torna mais clara quando a indignação, ou a curiosidade, ou a surpresa, a reputação, ou seja, lá o que for faz com que o interessado busque um pouco mais a fundo a essência da banda. Nunca fomos desrespeitados ou abertamente criticados seja lá por qual motivo. Nem pelas letras, pelas músicas, pelo show, pelo vídeo. Nada. Acho que ainda não incomodamos o suficiente. Fomos sim muito elogiados e as resenhas do novo CD são excelentes, para te falar a verdade, muito melhor do que eu esperava (risos). Eu não sei quem são estes donos da cena. No real, eu nem sei o que é essa tal de cena que esse povo que nasceu em 1990 ou 2000 fala. Nunca consegui descrever formalmente do que se compõe uma cena. Se formos nos dividir como tribos, em grupos identificados pela música, fudeu, porque cada um acha uma coisa e chama sua música de uma coisa diferente. Na época do Emo, havia um monte de bandas que não tinham nada de emo, mas, porque tocavam juntas, levavam a fama de Emo. O próprio Project46, que hoje é a banda de metal que mais cresce em nosso país, sofreu com isso portanto eu creio que o que se chama de cena não é hoje e nunca foi valido enquanto unidade e em sua mais proeminente época, a do começo dos anos 90, só funcionava porque era encabeçada por uma banda que tinha um público de 30.000 pessoas em São Paulo. Assim eu entendo que essa tal de cena cresce, porque uma banda dessa cena cresceu e levou tudo e todos nas costas. Aí sim temos algo para nos orgulhar, manter, lutar, nos preocupar e se orgulhar. Do contrário, é tudo papo furado.
bolo. Com a receita dos outros você não entra na festa.
Apesar de percebermos uma linguagem diferente, a Capadocia ainda aposta no groove e no peso, é natural para você compor músicas nessa linha? Baffo Neto: Foi natural por muitos anos e eu acredito que em breve isso vai mudar um pouco, mas a essência é sim o groove e o peso. A diferença é que eu sempre busco um groove nosso, sempre buscando nossa própria linguagem. Crescemos influenciados por música com groove e peso, seria meio fake fazer outra coisa. Cabe a nós buscar nossa identidade sem deixar de lado o sentimento que nos fez músicos. Obviamente eu quero abrir mais o leque musical da banda, mas ao mesmo tempo, quero concentrar nossa parte rítmica em algo que possamos chamar de nosso. Acredito que nosso próximo disco, no qual já estou trabalhando, seja uma coisa mais característica e um tanto diferente deste que acaba de ser lançado. Creio que será um passo daqueles ousados. E o que, exatamente você quer dizer com “será um passo daqueles ousados” Baffo Neto: Quero achar uma maneira de desenvolver nossa cara, nossa maneira de tocar ritmos que são inerentes a nossa cultura. Quero usar melodias que os músicos usavam no samba dos anos 80, ritmos de todo o Brasil e isso requer um certo desapego na forma já há tanto tempo estruturada de se fazer metal, principalmente a forma em que os Brasileiros identificam. Pode ser que nosso próximo disco desfigure a imagem que construímos perante ao fã de Metal daqui do Brasil e construa uma nova imagem para os fãs de fora do país, ou quem sabe, todos gostem por ser mais ousado, ou todos odeiem por não entender, não gostar. Enfim, é um passo que temos que dar rumo a conquista do que queremos enquanto banda, enquanto artistas. Eu morei muito tempo na Europa e entendi que é preciso ter a sua própria receita do
Você morou na Europa por muitos anos, que diferenças você percebeu no cenário da música pesada em relação ao nosso país? Baffo Neto: A existência e a longevidade da estrutura física, intelectual, logística e financeira usada para se movimentar a cena por lá. Eles têm exatamente o que nos falta, que é um circuito de clubes, em seus mais variados níveis, que atendem a demanda por este tipo de música por toda a Europa. Se a banda for desconhecida, tem os Squats que receberão a banda de braços abertos. Se a banda for uma jovem promessa, tem as “pop centrums”, que são centros culturais subsidiados pelos governos locais. Se a banda já tiver público, tem as casas para até 800 pessoas disponíveis para seu show. Se for popular, tem os concert hall e se for muito grande, tem as arenas. Aqui no Brasil, os dois primeiros níveis deste circuito não existem, o que dificulta demais o desenvolvimento das bandas e o crescimento da demanda por este tipo de música. Esta é a maior diferença concreta que eu vejo. Muito disso se dá ao fato de que o Brasil tem sua cultura própria, tem-se tudo que se precisa, em termos culturais, dentro do Brasil, e isso inclui a música. A demanda por música nacional é enorme, tornando assim, o lance do rock e metal uma parcela pequena, secundaria e sem muita importância para a indústria nacional, mas isso não vai mudar e não podemos usar isso de desculpa para que as coisas não funcionem como deveria por aqui. É claro que grandes shows de rock lotam estádios nas capitais brasileiras e grandes festivais como o Rock in Rio enchem os olhos do mundo inteiro, mas no mundo da música sertaneja, por exemplo, acontecem festivais do tamanho do Rock in Rio 10 vezes por Mês em diferentes locais do Brasil e não precisam da mídia para mostrar isso para ninguém. A proporção é ridícula. E dito isso, você acha que incentivos fiscais e investimentos públicos poderiam mudar, de certa forma, essa realidade? Baffo Neto: Teoricamente sim, na prática acho muito difícil. Precisaria do investimento certo, na mão das pessoas certas, com uma diretriz e uma missão certa. Precisaria de um sistema central coordenando e todos com a mesma vontade e determinação. Aí sim se conseguiria exterminar este problema. Uma das soluções mais viáveis que eu vejo, é cadastrar casas com estrutura para shows de pequeno porte em um programa de incentivo fiscal para cultura local e de intercâmbio cultural estadual. Traduzindo, estes previamente selecionados estabelecimentos seriam subsidiados para ter em sua programação artistas locais e de outros estados se apresentando em seu palco, com sua estrutura. Assim teríamos um circuito de casas aptas a receber shows de artistas locais e de outros estados, sem depender da bilheteria daquela noite para pagar suas contas e impostos. Obviamente a ideia precisa ser amadurecida, mas eu acredito que este seria o primeiro dos caminhos a serem percorridos legislativamente para a melhora da estrutura base para atender e fomentar o desenvolvimento de novos artistas e a disseminação da cultura contemporânea por igual em todo o Brasil. Se eu continuar, daqui a pouco vou dar meu número, partido e pedir seu voto !!! Bom, já que o assunto foi para este lado, me diga, como você vê os incentivos fiscais de todas as esferas governamentais para a Cultura. Você acha que o brasileiro é acomodado demais para ir buscar esse tipo de incentivo? COLLAPSE UNDERGROUND ART - 15
Baffo Neto: Acomodado não é a palavra. É inapto mesmo, mas eles funcionam bem. Nós mesmos (na Hoffman & O’Brian) já fizemos alguns festivais com incentivo à cultura, sem maiores transtornos e com grandes públicos, variando de 15 a 20.000 pessoas. O que acontece é que o dinheiro não vem do governo e sim de leis de incentivo fiscal e para isso, se precisa de uma estrutura de captação de recursos, transparência fiscal, precisa ser apto a receber o benefício da lei, etc ... Exatamente igual ao cinema, mas com um limite bem menor. Isso tudo é muito trabalhoso e o dinheiro não é tanto assim que faça valer a pena, mas é o suficiente para se trabalhar com honestidade. Se você junta o público e o privado, aí sim temos um negócio. Como foi a abertura dos shows do Cavalera Conspiracy, já que é latente a influência dos irmãos Cavalera no som da banda? Baffo Neto: Foi uma honra cara. Foram muitos shows juntos. Fizemos Manaus, Belém, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, São Paulo, Santos, Sorocaba, Curitiba, Urussanga, Porto Alegre, Montevideo, Assunción e Ciudad de Leste junto com o Cavalera Conspiracy e aprendemos muitos, tocamos muito, conquistamos bastante coisas com isso e o benefício foi imenso para a popularização da nossa banda. Todo dia eu via o show e não acreditava naquilo que eu estava vendo. Sou fã né? Fã é foda! Temos muita coisa para fazer juntos ainda, não só com o Capadocia, mas também com a Hoffman & O’Brian e a GW entertanment, que juntas administram nossa carreira e cuidam também do Soulfly, Cavalera Conspiracy, Killer Be Killed entre outros projetos do Max e muitos outros artistas nacionais e internacionais. Muito obrigado pela entrevista, o espaço é seu para suas considerações e para deixar uma mensagem aos nossos leitores.
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Baffo Neto: Muito obrigado pelo espaço e pelo interesse no que temos a dizer. Muito obrigado pelas perguntas e espero que eu tenha sido claro o suficiente em minhas respostas. Nossa música está disponível online para download e fazemos questão de que seja assim para que todos possam ouvir nossa música. Entendemos que fizemos nossa música para que seja apreciada pelos fãs de música pesada por toda parte e que assim seja. Muito Obrigado aos leitores interessados pelo Capadocia. Para quem se interessar em conhecer mais sobre a banda: www.capadocia.mus.br www.facebook.com/capadociaband Grande abraço a todos!
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ENTREVISTA
Por: Renato Sanson Vinte três anos de história e muitas conquistas em nome do Metal nacional. Esse é o Hicsos, que mesmo com todas as adversidades que se possa ter no Brasil, se mantém firme e forte com seu Thrash Metal. E em 2013 lançou um dos grandes discos daquele ano “Circle of Violence”, mostrando que a máquina está mais do que viva conforme explica o baterista Marcelo Ledd: ““Circle of Violence” está tendo uma aceitação muito positiva perante imprensa e os fãs. Sendo que ao vivo estamos tocando muitas músicas do mesmo, e também rola de muitos fãs pedirem sons de “Circle of Violence”, o que de fato nos deixa muito felizes.” Perguntado se “Circle of Violence” é o disco mais maduro
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da banda Marcelo responde que: “Esse álbum tem menos toques de Hardcore e mais Death Metal, acho que o próximo terá as influencias Hardcore de volta com umas boas pitadas de Metal Tradicional. Para o “Circle of Violence” nós tomamos bastante cuidado com a produção e isso vai se repetir para os próximos também para mantermos está boa aceitação.” Contratempos e adversidades são inevitáveis para quem tenta viver seu sonho musical, mas a persistência se torna o ponto forte, e ter uma banda com mais de vinte anos não é uma tarefa fácil. “O que sempre moveu o Hicsos foi o tesão pelo Thrash Metal e amizade entre os membros da banda, e durante todo o tempo de carreira só foram dois bateristas, o Luiz e eu, mas a segunda guitarra é um grande problema, já trocamos inúmeras vezes e isso atrapalha muito o processo, o próprio lançamento de “Circle of Violence” foi adiado por causa de mudanças na formação. Outro ponto que enfrentamos até hoje são produtores mal intencionados isso só enfraquece a cena, acho que uma coisa puxa a outra. As pessoas querem pagar o mínimo e você tem que perder dinheiro para tocar muito por ai, são poucos, mas tem produtor que é correto e são esses que irão sobreviver no teste do tempo.” Sobre a decisão de gravar os próximos discos no estúdio próprio da banda: “Nós fizemos a maior parte de “Circle of Violence” no HCS Estúdio aqui no RJ e finalizamos em São Paulo com o Pompeu e o Heros do Mr. Som. A decisão de fazer as coisas aqui partiram das possibilidades que o HCS Estúdio nos dá aqui
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no Rio, eu e o Anvito cuidamos das gravações dos instrumentos e vozes, depois mandamos para o Pompeu e o Heros mixarem e masterizarem o trabalho. Ficamos muito satisfeitos com o resultado e acredito que os próximos serão feitos em nosso estúdio.” Um dos grandes fantasmas do Hicsos sempre foram as mudanças constantes na segunda guitarra, questionado Marcelo explica: “Cara esse tal de Thrash Metal não é pra qualquer um, seguir a carreira com tesão enfrentando todo tipo de dificuldades e ao mesmo tempo ir envelhecendo não é fácil. Eu e o Marco Anvito já estamos juntos desde 97 e nunca roemos a corda, mas não podemos exigir isso dos outros, então fica essa troca de guitarristas. Mas espero ter parado agora que o Celso entrou na banda (seguido do Alexandre Carreiro, que está substituindo o Sabba), que se mostra bem entrosado e dedicado ao Hicsos.” Infelizmente a era digital assombra o mundo da música, que de fato mostra um respaldo de falta de público, downloads descontrolados e milhares de bandas no cenário esperando uma oportunidade. Perguntado sobre este problema crônico Marcelo ressalta que: “Se os produtores investissem em produções bem acabadas o público começaria a respeitar mais os shows das bandas nacionais, algumas gravadoras também deixam a desejar fazendo uma péssima divulgação de seus lançamentos, no passado isso era diferente e tínhamos uma cena muito boa porque as pessoas estavam acostumadas a ver as bandas nacionais sendo divulgadas. Somado a isso tem o roubo digital, afinal de contas baixar os discos de graça pra mim é roubar os artistas, as pessoas esquecem que sem dinheiro não se grava e lança um disco e sem público não se pode fazer um show.”
Hicsos Circle of Violence Laser Company Fazer Thrash Metal no Brasil nunca foi algo lá muito simples, pois além de ser uma escola tradicional em nosso país, o número de bandas ótimas não é pequeno. E cada vez mais veteranos e novatos mostram trabalhos ótimos por aqui. Mas é de se espantar o quanto de brutalidade os veteranos cariocas do HICSOS foram capazes de conjurar com “Circle of Violence”, seu terceiro disco. Mesmo com mais de 20 anos de estrada nas costas, o que mais surpreeende no disco é o quanto ele é violento, intenso e abrasivo, e ainda por cima, atual. É de saltar os olhos o quão bruto e atual o disco soa, mesmo sendo uma banda já bem experiente. É de doer o queixo e trincar os dentes! Os vocais estão bem ríspido e agressivos (mas não sem boa dicção e técnica), os riffs são a fonte da violência sonora do grupo (enquanto os solos apresentam uma formatação na escola Hanneman/King), o baixo se mostra firme na marcação, enquanto a bateria é a casa de força do grupo, mostrando peso e técnica nas medidas certas (os bumbos estão perfeitos, enquanto as conduções e viradas mostram um trabalho bem vigoroso e antenado com a atualidade). Gravado nos HCS Studios no Rio de Janeiro, e tendo aina mixagem e masterização feitas por Heros Trench e Marcelo Pompeu no Mr. Sound Studio em São Paulo, é bem óbvio que a sonoridade do grupo iria aliar a agressividade e violência musical do quarteto com uma qualidade sonora de primeira linha, já que mesmo furiosa, a música do quarteto flui pelas caixas de som de forma clara, cada instrumento com timbres muito bem escolhidos e os detalhes musicais de cada composição (aqueles que sempre fazem a diferença) estão bem evidenciados. A capa e arte do CD é mais um trabalho ótimo da Obsidian Design, que ficou
bem paralelo à proposta musical do grupo, deixando já na apresentação uma dica do que espera os ouvidos dos fãs. É preciso dizer novamente que o HICSOS, mesmo sendo experiente e calejado de outros tempos, não se fez de rogado e soube evoluir sempre em direção ao que se faz hoje em termos de sonoridade para não soar datado, sem contudo perder suas raízes sonoras. E a qualidade musical da banda transpira em cada uma das doze composições do CD. E isso torna o trabalho extremamente homogêneo, e massivamente bruto! Destacar músicas aqui ficou bem difícil, mas as mais recomendadas para as primeiras audições são o coice furioso “Can’t Hang Terror” (uma faixa bem trabalhada, com excelente trabalho da bateria, especialmente pela conduções nos bumbos e excelentes viradas na caixa), a tempestade de brutalidade “What You Reap” (andamento um pouco mais rápido e novamente a bateria surpreende, fora os bons coros em vários momentos), a mais cadenciada e opressiva “Now You’re Dead” (ótimos riffs, além do baixo mostrar bastante sua pegada pesada, especialmente no início onde nos lembra um pouco a introdução de “Go to Hell” do MEGADETH), a quebra-pescoços “Mirror Eyes” (começa mais cadenciada e pesada, e depois ganha um pouquinho mais de velocidade, mostrando um bom trabalho dos vocais), a curta “Destruction”, a lenta e ganchuda “Needles” (novamente vocais muito bem colocados e riffs que lembram um pouquinho a escola de Fast Eddie Clarke), a azeda “Burn in Hell” (que riffs brutos e solos insanos!), a golfada de brutalidade Thrasher “Money Becomes God” (aqui, as influências mais modernas em termos de sonoridade estão mais claras), e a mortal “Prision Without Walls” (a bateria está perfeita, com conduções ótimas e belo trabalho de bumbos, além das variações do vocal mais rasgado do grupo para outros mais agonizantes). Com essa banda, fazer Metal é questão de atitude e coisa de sangue, e digamos de passagem, o ótimo trabalho deles é coisa de quem tem sangue nos olhos e de quem dá bicudas nas dificuldades sem dó. Ótimo trabalho, sem sombra de dúvidas e sem dó de ouvidos não acostumados! Vão na boa e comprem suas cópia, pois a banda merece! Marcos “Big Daddy” Garcia
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ENTREVISTA
Por: JP Carvalho Formado por Silvano Aguilera (vocal e guitarra), Rafael Iak (guitarra), André Melhado (baixo) e Fernando Oster (bateria). Oriundos da capital paulista, a banda em novembro de 2010 lançou seu primeiro álbum, “Time To Rise” e obteve críticas positivas da mídia especializada no Brasil e no Exterior. A banda também figurou entre os Melhores de 2010. Em 2011 a banda participou de alguns programas televisivos e webtv, e fez shows em sua cidade natal, interior e outros estados do Brasil para divulgação de seu trabalho. Esta marca chegou a 40 apresentações neste ano. Também tiveram uma matéria exclusiva na Revista Roadie Crew, maior revista do gênero no país e participação na Expo Music 2011, pelo stand da Habro Music. A banda foi aclamada pela qualidade de seus dois vídeo clips, Time to Rise (faixa multimídia presente no álbum) e Mortal Effect (produzido e lançado em 2011). Estes dois vídeos também tiveram uma edição limitada, lançada em forma de DVD. Foram firmadas algumas parcerias com as empresas de fornecimento de equipamentos de uso da banda e merchandise. A banda também assinou com o selo americano DMR 20 - COLLAPSE UNDERGROUND ART
(Digital Media Records) para a distribuição do álbum fora do país (EUA e Europa) fisicamente e através de canais online como iTunes, Amazon e afins. Em 2012 o Woslom realizou sua primeira tour internacional, a Time to Rise European Tour 2012, passando por 10 países europeus entre abril/maio, realizando 25 shows, dentre eles os Festivais SWR Barroselas em Portugal, Fields of Metal na Bélgica, Emmen Metal Fest na Holanda e ao lado de Entombed na Suécia. Após esse período a banda se voltou a composição de novas músicas para o lançamento do sucessor de “Time to Rise”. Durante os meses de Outubro de 2012 a Março de 2013 a banda esteve novamente no Studio Acustica produzindo seu novo trabalho, chamado “Evolustruction”. Em 2013 a banda lança seu novo trabalho e conta com maior experiência. Evolustruction conta com dois vídeo-clips, um da faixa homônima ao álbum e outro da faixa New Faith (lançado em 2014). O CD físico ainda conta com um bonus, cover da banda brasileira Mad Dragzter e para a versão online um bônus do single Evolustruction com uma versão estendida e letra alternativa. A banda fez uma tour promocional Europeia entre Setembro e Outubro, realizando
26 shows em 7 países, desta vez incluindo a Russia. Após a tour a banda assinou um contrato com a Punishment 18 Records para distribuição de ambos os CD’s na Europa e EUA. E agora em 2014 a banda lança seu novo DVD, “Destructvision” que traz todas as faixas de “Evolustruction” em formato vídeo. Contando com 3 video clips produzidos, lyric videos e animações. Há também extras com performance ao vivo em estúdio, uma entrevista e galeria de fotos. E a banda acabou de realizar em setembro, mais uma tour Europeia e Russa com 25 shows. Conversamos com o guitarrista e vocalista Silvano Aguilera, que você pode conferir a seguir. Time to Rise foi a apresentação do Woslom ao público, quais foram os sentimentos em relação a esse lançamento? Silvano Aguilera: A princípio todos nós queríamos simplesmente lançar o primeiro álbum, todos tinham esse sonho, só não tínhamos muita idéia do que aconteceria. Ficamos contentes com o resultado do álbum, e posteriormente muito gratos pela aceitação, foi tudo uma grande surpresa. A recepção foi muito rápida e muito positiva, vocês imaginavam isto? Silvano Aguilera: Nem um pouco (risos)! Claro que como toda pessoa que se dedica a fazer algo que ama, espera ter uma boa aceitação pelo seu trabalho, mas antes de pensar em somente agradar a todos, fazemos música para nós mesmos. A repercussão foi muito além do que imaginávamos, tanto do público como da mídia especializada. Com este lançamento vocês partiram para sua primeira tour pelo velho continente, como foi a reação do público ao som da banda? Silvano Aguilera: Todos nós tínhamos um receio com relação à receptividade do nosso trabalho em outros povos, outras culturas. Porém ficou mais do que comprovado para nós que a linguagem do Metal é universal e ultrapassa fronteiras entre os países. Ficamos surpresos com o entusiasmo do público europeu, nos sentimos em casa. Três anos depois, a banda trouxe ao mundo um dos discos mais empolgantes de 2013, Evolustruction, quais eram as expectativas em relação a este lançamento? Silvano Aguilera: Esses anos de trabalho nos trouxeram um pouco mais de experiência. Neste álbum já tínhamos um direcionamento mais preciso do que queríamos transmitir. O objetivo era superar musicalmente e tecnicamente o primeiro álbum e acredito que, através da resposta do público e da mídia especializada, alcançamos o objetivo. Pude conferir na mídia especializada na época do lançamento, críticas e elogios ótimos em relação a Evolustrction. Você acredita que o fato da mídia ter abraçado o Woslom, foi determinante para o sucesso do álbum? Silvano Aguilera: Sem dúvida, eu acredito que o sucesso de uma banda vem a partir de 3 coisas, a aceitação do público, o empenho da mídia especializada e a dedicação dos músicos. Além disso vocês gravaram como bônus um cover da banda brasileira MadDragzter. Podemos afirmar que eles foram uma influência no som de vocês? Silvano Aguilera: Além do MadDragzter, já fizemos covers de bandas como Ancesttral e Red Front. Essa foi a forma que encontramos para homenagear as bandas da nossa cena. Fizemos nossa versão de Breakdown e incluímos como bônus no álbum.
Logo depois a banda saiu para sua segunda turnê pela Europa, quais foram as diferenças para a primeira viagem? Silvano Aguilera: A segunda tour foi totalmente feita por nós, corremos atrás das datas e dos promotores. As coisas já saíram mais do nosso jeito também. E nessa segunda vez fomos para a Rússia ver como as coisas funcionariam por lá também. Outro fato legal é que fomos a alguns lugares pela segunda vez e vimos que mais pessoas compareceram aos shows, além do nosso cache ter engordado um pouco. Fui ao lançamento do DVD “Destructvision”, e o que mais impressionou foi a coesão da banda no palco, essa química entre vocês se dá pela convivência ou a questão de todos terem objetivos comuns aumenta a carga de adrenalina? Silvano Aguilera: Podemos dizer que as duas coisas contribuem para isso, mas com certeza seriedade e dedicação são fundamentais. Naquele momento, o André, nosso novo baixista tinha acabado de entrar na banda e ele se adaptou muito bem à nossa proposta. Ficamos felizes que tenha notado isso. No DVD há lyricvideos para todas as músicas de “Evolustruction” e um videoclipe sensacional para “Purgatory”, fale sobre o conceito e a produção deste clipe. Silvano Aguilera: Na segunda tour pela Europa estávamos em um Pub em Berlim onde estavam exibindo o filme Begotten, tivemos a idéia de colocar as imagens do filme no videoclipe da musica Purgatory. Essa idéia gerou um dos nossos melhores videoclipes em minha opinião e com um custo muito baixo. Em relação a produção, gravamos as imagens da banda em um estúdio com filmagens e produção de Edu Lawless, a edição ficou a cargo de Diogo Alvino que produziu os vídeos de Time to Rise e Mortal Effect. Quase que junto ao lançamento do DVD, vocês voltaram para Europa. Teria como fazer um paralelo entre as suas três experiências por lá? Silvano Aguilera: Nessa terceira viagem, as coisas foram ainda melhores, fomos a locais novos e repetimos outros que já havíamos ido. A Rússia com certeza nos surpreendeu, pois a recepção foi ainda melhor que da primeira vez, tocamos para casas cheias inclusive durante a semana. Também fizemos festivais de pequeno porte e tocamos em casas melhores. Eu diria que plantamos a semente em 2012 e agora estamos construindo um trabalho mais sólido passo a passo. Vocês sempre foram independentes no Brasil, mas no exterior trabalham com a italiana Punishment 18. O quanto um selo ainda ode ajudar uma banda? Silvano Aguilera: A distribuição e o marketing realizado foram de extrema importância, pois nosso som chegou de forma satisfatória em lugares onde dificilmente chegaríamos se fossemos independente. A Punishment 18 tem feito um excelente trabalho conosco. O grupo já está preparando novidades para breve? O que podemos esperar? Planos para a América do Norte? Silvano Aguilera: Sim, com certeza vocês podem esperar por novidades da banda. Temos trabalho em grandes composições e estamos curtindo muito. Em paralelo, temos tocado bastante pelo Brasil e encerramos o primeiro semestre com uma tour pela Colômbia. Ainda não temos planos para America do norte, temos focado mais na Europa e agora estamos começando explorar nossos países vizinhos. Temos muito trabalho pela frente. COLLAPSE UNDERGROUND ART - 21
ENTREVISTA
Por: Renato Sanson fato que o Brasil exporta muitas bandas mundo a fora, mas ainda um dos estilos pouco comentado entre os bangers é o J-Rock, mais conhecido por ser influenciado pela cultura japonesa. E vindos de Belém do Pará temos o Ut Opia, que é um dos grandes representantes do estilo no país, e batemos um papo com o baixista e fundador Raoni Joseph, onde o mesmo nos conta como é ter uma banda de J-Rock no Brasil, além das dificuldades encontradas. “Eu ouço J-Rock/J-Metal desde 2006, inicialmente a vontade era tocar somente covers do estilo, mas aí, ao encontrar os caras da banda e compartilhar influências, vimos que seria interessante criar músicas próprias influenciadas por esse estilo. O J-Rock/Visual Kei que influencia a gente foi popularizado ao longo dos anos por bandas como X Japan, Luna Sea, Buck-Tick, Dir En Grey, entre outros sons. Muitos deles ganham popularidade através dos animes, sendo trilha sonora dos mesmos, outros fazem sucesso acompanhados por essa leva.” Em 2012 o Ut Opia lançou seu primeiro registro o EP “Sem Direção” e Raoni comenta: “A repercussão do nosso EP está sendo muito boa, atingimos pessoas e lugares os quais não esperávamos, pessoas de outras cidades e países dizendo que curtem o som e que aguardam novos materiais. Está sendo muito legal.” O J-Rock é mais conhecido por ser cantado em japonês, porém o Ut Opia vai na contramão e apresenta letras em língua pátria. “Temos planos de compor futuramente em inglês. Japonês, quem sabe, não é uma língua difícil, mas um pouco complicada de aprender e construir frases, temos que estudar bastante para poder chegar a esse nível e compor com qualidade. O bom é que o Luã (vocalista) consegue cantar muito bem em japonês, isso já facilita bastante.” Raoni também comenta sobre o preconceito que o J-Rock ainda leva: “Preconceito sempre vai existir, independente de estilo, vertente,
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estética. Muitos acabam respeitando nossa proposta por saber que trabalhamos sério e por apresentar material de qualidade (release, fotos, página online oficial, assessoria de imprensa competente), o estilo acaba sendo detalhe ao ver que trabalhamos duro. Acabam respeitando por verem também que nossas influencias puxam estilos que as pessoas curtem, como o Metal Tradicional, Thrash, Metalcore, Hardcore... Isso acaba aproximando a Ut Opia de outros estilos e assim rolando muitos convites para shows.” E complementa: “Somos uma banda de Rock acima de tudo, então não nos limitamos a tocar só com bandas de J-Rock, tocamos com qualquer banda independente de estilo ou público.” E finaliza nos falando sobre os próximos lançamentos: “Já temos três músicas prontas, e as demais em fase de finalização, se tudo der certo, logo entraremos em estúdio para adiantar pelo menos um novo Single/EP, para lançar o debut oficial até 2016. Que certamente surpreenderá muita gente.”
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ENTREVISTA
Tudo o que aprendemos nos fez amadurecer mais como músicos e como banda Por: Renato Sanson Uma trajetória até então curta, mas com o poder como de um Cometa. Esse é o Godzorder, que nasceu em 2013 das cinzas da lendária Stupid Vision e vem para cravar de vez seu nome no Thrash Metal nacional. 24 - COLLAPSE UNDERGROUND ART
Para explicar melhor essa história falamos com seu líder e fundador o baixista/vocal Rafael Barba, que nos fala também sobre o novo lançamento da banda, cenário musical e planos futuros. Confira agora mesmo:
Conte-nos um pouco da trajetória do Godzorder, e de como está ficando o EP de estreia. Rafael Barba: Nossa trajetória é ainda curta, começou em agosto de 2013 e vem seguindo de uma forma bem objetiva e focada, devido aos integrantes serem “veteranos de guerra”. Isso ajuda a não repetir alguns erros cometidos no passado. Já nos apresentamos em Jundiaí, Várzea Pta., Campinas, Limeira, São Paulo, dividindo palcos com grandes bandas como Krisiun, Project 46, John Waine, Executer, Woslom, Havok (USA), Rotting Out (USA), e demais bandas da cena underground regional. Quanto ao EP, já finalizamos a mixagem e masterização. Cada música foi trabalhada com a devida atenção, desde a fase de gravação. Ficou simplesmente animal! Peso-pesado! Ficamos muito satisfeitos com o resultado. O Godzorder nasceu da antiga banda Stupid Vision. Para lançamentos futuros, teremos alguma regravação do álbum da Stupid? Rafael Barba: Sim, com certeza, inclusive nesse EP que vamos lançar. Nosso repertório, até agora, compõe-se das músicas dessa antiga banda, algumas resgatadas do CD lançado em 2001 e outras recicladas de uma demo-ensaio de 2003, todas repaginadas para soar com uma cara mais atual, mas mantendo a essência e a proposta do antigo projeto. Logo quando foi montada a banda, vocês lançaram o single “Trademark”, que teve ótima aceitação pelo público e imprensa. Vocês esperavam tamanha receptividade? Rafael Barba: Sim, esse era o objetivo, mas nem criamos aquela expectativa. O que não esperávamos era um feedback tão rápido e tão positivo, e isso de fato nos surpreendeu. A música rapidamente atravessou fronteiras nacionais e internacionais e nos proporcionou vários contatos interessantes, entrevistas e também agregou à banda um considerável número de fãs.
baixo público. O que vocês pensam a respeito? Rafael Barba: Acho errado atribuir todo e qualquer fracasso de público a era digital, a internet está aí para ser nossa aliada, não inimiga. O que vejo acontecer é muita gente trabalhando errado. Promotores, produtores, bandas e donos de estabelecimentos querem “bombar” fazendo um evento de Rock/Heavy Metal ainda usando artifícios do século passado ou fazendo absolutamente nada, esperando que a coisa aconteça por si só. Não estamos mais nos anos 80, 90, os tempos agora são outros e bem diferentes. Temos que nos adaptar a essa nova realidade, a essa nova geração de público e mídia e, primeiramente, entender como tudo funciona para depois pensar em como agir. O que atrai público para um show? Um bom trabalho de divulgação? Boas atrações? Um lugar apropriado? Tudo isso? Claro! Do contrário, a grande maioria do público que tem bom gosto não vai se propor a sair de casa para prestigiar um evento. Acredito que isso ainda vai melhorar, mas só quando cada parte se conscientizar (ou tomar vergonha na cara!) e se preocupar realmente em fazer bem feito aquilo que se propõe a fazer. Pelo que podemos notar, 2015 está um ano bem movimentado para banda. O que podemos esperar do Godzorder? Rafael Barba: Sim, em 2015 teremos muito trabalho, mas estamos dando um passo de cada vez para que tudo aconteça no seu devido tempo. Com a conclusão das gravações, agora estamos finalizando a arte gráfica e pensando no merchandising. Já estamos com alguns selos fechados para distribuição do EP, e logo estaremos traçando uma rota de shows de lançamento e intensificar o trabalho de divulgação na web. Estamos estudando também a possibilidade de fazer um vídeo de uma das músicas do EP. Mas podem ter certeza, nosso lançamento impressionara muita gente!
Vocês já terminaram as gravações do EP, no qual trabalharam com o gênio Adair Daufembach. Como foi este processo de gravação e como é trabalhar com um dos melhores produtores do Brasil? Rafael Barba: Foram 11 dias de gravação e tudo fluiu de uma forma bem tranquila, descontraída e com uma energia bastante positiva. Todos estavam focados nesse trabalho e cada um se empenhou em fazer o seu melhor. Trabalhar com o Adair é um grande aprendizado, posso dizer que tivemos um curso intensivo sobre tudo o que é relativo à música, desde a escolha e timbragem de instrumentos até a pronúncia das palavras no contexto da letra. O Adair entra em sintonia com as músicas dando a devida atenção para cada detalhe, procurando sempre aquilo que seja mais coerente com a proposta da banda, e consegue extrair do músico sua melhor essência. Tudo o que aprendemos com essa experiência foi muito valioso e com certeza nos fez amadurecer mais como músicos e como banda. Recentemente vocês tiveram uma mudança na formação, com saída do guitarrista Zé Cantelli, que foi substituído por André Fernandes. O que muda para o Godzorder está troca? Rafael Barba: Acho que o termo mais apropriado seria “acrescentar”, não “mudar”. Assim que se juntou a nós, o André nos apresentou um arsenal de riffs de sua autoria que estão engavetados aguardando para se tornarem músicas, e ele tendo praticamente as mesmas influências principais que os demais integrantes facilita para que tudo se encaixe nas ideias que a banda já vem trabalhando e estruturando. O underground nacional vem sofrendo muito com a era digital, pois até os shows estão sofrendo esse colapso com o COLLAPSE UNDERGROUND ART - 25
ENTREVISTA
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deste jeito que podemos descrever o Orckout, que cria sua música absorvendo influências de Heavy, Thrash e Stoner Metal. OrckOut é metal, som pesado com letras instigantes, formada em junho de 2004. O 1º CD, chamado ‘Involution’, foi lançado em outubro/2006 de forma independente, com 7 músicas e obteve um ótimo resultado no cenário underground. Em 2009, Al deixa a banda e após vários testes, Cleber Monteiro, que já havia tocado com a banda em alguns shows, assume definitivamente a guitarra. E em 2010, Danilo Ariosi completa a banda assumindo a segunda guitarra. O novo trabalho da banda, ‘[D]Generation’, é lançado no final de 2011 / início de 2012, também com 7 músicas inéditas e conta com a qualidade de gravação e mixagem do G3 Studio e a masterização de Fernando Quesada [baixista do Shaman]. Em março de 2012, após o lançamento do álbum ‘[D] Generation’, Cleber deixa a banda, substituído por Eder Munhoz. ‘[D]Generation’ é muito bem recebido tanto pela im26 - COLLAPSE UNDERGROUND ART
prensa nacional, quanto internacional, transformando a banda em mais uma nova revelação do Metal nacional. Falar sobre a música do grupo é muito desafiador, já que o que ouvimos é um trabalho autoral de profunda qualidade e originalidade como você pode conferir em nosso bate-papo com o baterista Gutaum a seguir. A formação da banda data do ano de 2004, e lá se vão 11 anos de atividades. Quais foram as maiores conquistas da banda nesse período? Gutaum: Cara é bastante coisa pra uma banda underground esses 11 anos de Metal, acredito que as maiores conquista foram termos conseguido lançar de forma independente os nossos álbuns, ter conseguido algum espaço principalmente aqui no interior paulista, termos feitos algumas gigs em aberturas para bandas de alto escalão (Sepultura, Krisium, Shaman, Shadow Side e etc..), termos participado do programa Som e Prosa da TV UNESP onde pudermos ser vistos de uma
forma mais Profissional e nunca nos esquecermos dos roles juntos dos parceiros de bandas/Organizador (Em especial o Mr. Douglas – Botucatu Metal Stock desde o começo da banda acreditou na gente, galera do D.I.E., Yekun, FrostValley, Immortus, TratorBR, Sociopata são tantos nomes que a lista é gigante (risos) enfim, acredito que tudo o que passamos e o que virá pela frente é uma conquista pra gente, é isso O primeiro lançamento de vocês foi o CD Involution, lançado em 2006. Já o mais recente trabalho da banda, ‘[D]Generation’, só foi lançado no final de 2011. Porque esse intervalo entre um lançamento e outro? Gutaum: Na realidade no Segundo semestre de 2004 entrávamos em estúdio para gravarmos 4 músicas que futuramente iriam compor o nosso primeiro álbum Involution, após esse período tivemos nossa primeira baixa(Du primeiro guita da banda) e ficamos como um trio, através da internet acabamos conhecendo uma americana (Kathy) que curtiu muito o som da banda e começou um relacionamento muito legal, onde nos ajudou a lançarmos de forma profissional em 2006 o CD Involution e houve a possibilidade de irmos para os Estados Unidos, mas devido a crise de 2008 acabou não rolando (mas mantemos contato com ela até hoje), em 2009 o Al(guita/vocal) acabou saindo da banda e ficou somente eu e o Jucke, ficamos um bom tempo fazendo testes com vários guitas, vocalistas, até que o Jucke assume os vocais e recrutamos o Cleber (guita) e em novembro de 2010 o Danilo se junta a banda e com está formação que gravamos o [D]generation em 2011, após alguns shows o Cleber sai da banda e recrutamos o Eder para o seu lugar e no final de 2014 o Danilo sai da banda e em seu lugar o Tato (que já tocou coma banda em 2006) volta pra banda pra ai fecharmos essa nova etapa, foram altos e baixos e algumas situações que tentamos lidar da forma mais coerente e profissional possível, estamos aí. Eu conheci a banda já em ‘[D]Generation’, e achei muito particular essa soma de estilos dentro do som da banda, que hora nos remete ao Heavy Metal tradicional, ora com pitadas Thrash e até mesmo algumas roupagem característica do Stoner Metal. A que se deve essa mescla de influências e referências? Gutaum: Todos que estão e passaram pela banda deixaram um pouco de sua característica mas desde o início da banda eu e o Jucke sempre soubemos o que o Orckout é e precisa pra se manter com essa característica forte e esse conjunto de influências, te digo que é o mais honesto possível (risos). Além disso, pude observar que o[D]Generation foi muito bem aceito pela mídia especializada, obtendo ótimas resenhas e significativas notas desde o seu lançamento. Como foi a aceitação deste trabalho junto ao público? Gutaum: Realmente, a aceitação foi melhor do que esperávamos tanto da mídia especializada daqui do Brasil quanto da gringa, o mais legal disso tudo é que as pessoas (mídia e fãs) foram sinceras sem rabo preso ou amizade, sacou isso que é o mais importante. O Orckout passou por algumas mudanças de formação, mas sempre me pareceu que as adversidades nunca atrapalharam o andamento e o planejamento da banda. De qual fórmula mágica a banda se vale para não deixar a peteca cair nunca? Gutaum: (risos) Cara acho que a vontade de fazer o lance é maior que tudo, ter prazer em fazer banda funcionar e mesmo com altos e baixos seguir em frente e sempre dentro da nossa realidade sermos os mais profissionais possível.
A banda disponibilizou ‘[D]Generation’ completo tanto para streaming, quanto para download no Reverbnation e no site oficial da banda, como vocês usam a Internet para promover a banda e divulgar seus CDs e shows? Gutaum: A internet nos ajuda a nos conectar mais com as pessoas, contatos, enfim um puta meio de comunicação, então hoje em dia é essencial utilizarmos esse benefício e ainda mais nas mãos de profissionais como o Rodrigo e Débora da Metal Media, ai fica tudo mais fácil. Quais são as perspectivas para um novo lançamento do Orckout? Gutaum: Estamos na fase final da gravação de duas músicas novas de onde sairá nosso primeiro vídeo clipe oficial e faremos um web lançamento, estamos com planos de gravar mais músicas e para o ano que vem lançarmos um álbum completo Além disso, vocês vão lançar um vídeo comemorativo aos dez anos da banda, o que você pode nos adiantar sobre isso? Gutaum: Esse vídeo nos mostrará o making off das gravações dessas duas músicas inéditas, terá entrevistas com a banda falando sobre esse 10 anos e será lançado simultaneamente com o clipe. Muito obrigado pela entrevista, o espaço é de vocês para suas considerações finais e deixarem uma mensagem aos nossos leitores. Gutaum: Eu em nome da banda é que agradeço o espaço e a oportunidade de expor a banda para o público da Collapse, demonstrar nosso imenso interesse em compartilhar com bandas afins de uma turnê na América do Sul, Europa ou EUA e fiquem antenados nas novidades sobre a banda acessando os canais do face www.facebook.com/orckout , nossa página www.orckout.com , no site da Metal Media http://www.metalmedia.com.br/orckout e ouvir e baixar á vontade os nossos sons no Reverbnation www.reverbnation.com/orckout
Orckout {D} Generation Independente - Nacional Ai você pega um CD sem a menor pretensão, coloca no player e... Tem um agradabilíssima surpresa, pra tentar situar, o OrckOut pega elementos de metal tradicional, coloca uma pitada aqui e ali e thrash e stoner metal e BUM!!!! Tá feita uma fusão que dá certo na mão de poucos e, claro, nas mãos do OrckOut a coisa ficou muito legal!!! Sabe aquele timbre 90´s, energia pulando prá todos os lados, e por ter uma levada mais cadenciada o som da banda possui energia de sobra, em poucos segundos você se pega batendo o pé, e em menos tempo ainda, usando o corpo todo para acompanhar os andamentos lisergicamente pesados.
Guitarras gordas, bonitas, cozinha pesadona, instrumentos bem timbrados em especial a bateria que se deixa ouvir por completo e uma pegada setentista modernizada ao som da banda, aliados ao vocal, que interpreta as músicas deixando o trabalho mais agradável. A produção é muito boa, apesar de eu achar que alguns instrumentos ficaram abafados em algumas partes, em nada isso compromete o trabalho, até porque é mais uma questão de ser bom aos meus ouvidos do que de descrédito. [D]Generation além de tudo, ainda possui uma das capas mais instigantes, ao meu ver, a imagem da degeneração da Avenida Paulista chega a causar calafrios e faz com que passemos a questionar os rumos que a civilização moderna está tomando, afinal, degradação é uma coisa na qual nos, humanos, somos muito bons. Gravado e mixado nos G3 Studios por Alessandro Sá, masterização feita por Fernando Quesada e com produção da própria banda, [D]Generation e com certeza um dos discos mais honestos e pesados que ouvi nos últimos tempos. Duvida? Coloque a faixa Voracity e me diz que se o som não te fez sair pulando... JP Carvalho
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ENTREVISTA
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eu Juvenal. Pelo nome você já sai pensando no rock que invadiu o cenário nos anos 90, onde o humor e a irônia era a tônica lírica. Aquele que se convencionou chamar de “Rock Engraçadinho”. Pois então, se pensou assim, cometeu um erro dos grandes, porque a banda Seu Juvenal tem os dois pés fincados no Rock praticado por banda como Plebe Rude, Queen of Stone Age além de diversas interseções da nossa música Popular Brasileira. Guitarras pesadas, andamentos e vocalizações cativantes fazem do Seu Juvenal um nome a ser levado em conta, mesmo que sua música seja abordada de forma sui generis e na forma Seu Juvenal de ser. Confira a seguir o nosso bate-papo com a banda. A banda tem 20 anos de estrada e sempre foi fiel ao seu conceito. Fale sobre o inicio em Uberaba, até a mudança para Ouro Preto e como você vê o Seu Juvenal hoje. Renato Zaca: Em 1997 éramos muito jovens, mas já com uma bagagem considerável pois já havíamos participado de bandas autorais de forte atuação na cena underground da época. Sempre tentamos ser autênticos, até mesmo porque nossas influências são muito variadas e não seguem uma linha lógica. Talvez o maior aprendizado que tivemos foi não ter medo de parecer estranho. A mudança para Ouro Preto foi em uma época que a banda estava enfraquecida com a saída de três integrantes da época do disco “Guitarra de Pau Seco”. Foi uma mudança natural e necessária para que alcançássemos o estágio que estamos hoje. Seu Juvenal tem uma forma diferente de criar suas músicas, percebemos uma preocupação em ter aquela sonoridade dos anos 70, mas com uma roupagem moderna,
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esse sempre foi a sonoridade que vocês buscaram? Renato: Amamos os sons de estúdio de algumas bandas dos anos 70, vivenciamos o underground dos 80 e 90 e chegamos inspirados para os dias de hoje. Acreditamos que unir o som sujo e valvulado com técnicas modernas em estúdio nos possibilita chegar mais próximo do que idealizamos em nossas composições e este é um prazeroso trabalho que estará sempre em mutação. Liricamente a banda traz muita riqueza e expõe um abordagem mais poética e introspectiva. Como são trabalhadas as letras dentro da banda? Renato: Temos muita sorte de ter tido grandes professores na arte de escrever letras de música em português, grandes nomes como Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Sérgio Sampaio, Raul Seixas, Titãs, Mutantes e vários outros. Escrevemos o que vivemos, o que sentimos e é recompensador quando o ouvinte sente essa verdade nas nossas composições. O fato de a banda cantar na língua pátria dá mais liberdade na hora de escrever. Eu pessoalmente considero o português uma das línguas mais musicais do mundo. Porém, bem poucos se aventuram por essas águas e chegam a um resultado satisfatório. Que tipo de temas vocês buscam na hora de escrever? Renato: É desafiador, pois os ouvidos são adestrados a ouvir o inglês, mas a poesia sonora do português é linda e muito expressiva. Gostamos de escrever coisas que vivemos pessoalmente, algumas experiências positivas e outras nem tanto. Escrevemos muito sobre nossa sociedade e buscamos interpretar um pouco desse complexo ciclo da vida e, as vezes, como meu irmão diz, até nos surpreendemos ao escrever sobre o mais temido dos temas: o amor. Interessante notar que toda a banda assina as compo-
sições, mostrando que além de não existirem egos, a banda trabalha em conjunto em favor da música. Como funciona isso dentro da banda? Renato: Somos muito unidos e agimos como uma família, nossos ensaios já foram memoráveis churrascos rsrsrs. Para nós é muito claro que o resultado só é possível graças a presença de todos e essa presença independe se a pessoa escreveu ou compôs. Estamos tocando juntos há muito tempo e ao compor imaginamos exatamente o que o outro pode fazer. Quando um pensa alguma coisa o outro já está completando automaticamente. “Rock Errado”, título do seu mais recente álbum, é bem apropriado a banda. Vocês se consideram erros do rock? Renato: Esse título vai além disso, ele abrange todo o artista que não teme em se expressar. Muitas vezes você tem algo a dizer e sabe que haverão represarias, mas o artista deve causar, ele tem que apontar o dedo. Lembro de um artista plástico que fez vários auto-retratos em carvão em que ora ele apontava um revolver pro Bill Clinton, outrora colocava uma faca no pescoço do Papa... Eu achei isso o máximo, pois ele não teve medo de colocar sua frustração diante de problemas tão graves com personalidades intocáveis. O álbum traz unidade e muito de Rock Psicodelico, mas traz inúmeras referências ao Rock brasileiro dos anos 80, 90. Essa música seria uma influência no som da banda? Renato: Com certeza sim!! Hoje em dia é surreal lembrar que houve uma época que o rock era o que mais se vendia no Brasil. Aquela explosão do rock 80 de Brasília, o Underground de São Paulo, o Metal de Minas; isso tudo nos influenciou muito! Vocês citam os mestres Arrigo Barnabé, Jards Macalé e Itamar Assumpção como influência. E possível crescer musicalmente buscando os grandes nomes do passado? Renato: Pelo menos para o que propomos fazer, a fórmula certa é crescer aprendendo com o passado mas fazendo parte do presente. Não é legal se limitar ao tempo, vivemos uma época carente de personalidade, mas não será por isso que iremos desistir. Além de que vocês declaram que fizeram um álbum politicamente incorreto. Como tem sido a reação das pessoas a “Rock Errado”? Renato: Estamos realmente muito felizes com a forma que este trabalho vem sendo recebido pelo público de vária vertentes do rock e pela crítica. A sensação que dá ao ver tantos elogios, e ao mesmo tempo tanta surpresa e estranhamento das diversas reações que podemos perceber, é que todos compartilham pelo menos de um mesmo sentimento; o de que alguma mudança deve acontecer! Ninguém suporta mais tanta imitação, tanto modismo. Ao ouvir este trabalho a pessoa percebe algo estranho e pensa: “Opa! Que merda é essa!?” (risos).
especiais. Fale-nos sobre elas. Renato: A família Seu Juvenal é grande e neste trabalho começa com a produção do nosso amigo Ronaldo Gino que já trabalhou com a gente no “Guitarra de Pau Seco”. Tem também a voz foda de outro irmão, Manu “Joker” Henriques, vocalista da ótima banda Uganga que tá com um trabalho fenomenal. Meu primo e camarda, Euler Alves, baterista da psicodélica “Elfos”, colocou percussão e algumas vozes. Tem ainda o backing vocal das nossas amadas Camiloca e Crimenight, o grande amigo e ótimo contrabaixista Sancho da banda “Galanga” fez violoncelo, nossa linda amiga e talentosa Pameli fez piano, assim como o camarada Pitágoras. Tem também guitarras malucas do nosso parceiro Guite Congo Power e outras guitarras que não devem ser ouvidas por ninguém feitas pelo nosso amigo e chefe Guilherme Diamantino. O CD já rendeu dois videoclipes. Como tem sido a aceitação, e como vocês fazem uso da Internet como meio de divulgação do seu trabalho? Renato: O primeiro clipe é da música “Burca” que impulsionou todo o lançamento do “Rock Errado”; o segundo, “Asfalto”, continua este processo de buscar sempre atingir mais ouvintes e, ao mesmo tempo, ajudar a explicar nossa mensagem. A internet é uma ótima ferramenta de divulgação, é um salve gigantesco para qualquer pessoa que queira mostrar cada vez mais seu trabalho. No momento divulgamos através do site do selo sapolioradio.com.br, também pelo somdodarma.com.br e pelo facebook Seu Juvenal. Logo estaremos com o seujuvenal.com.br com download e tudo mais. Muito obrigado pela entrevista, o espaço é seu para suas considerações e deixar uma mensagem aos nossos leitores. Renato: Agradeço muito em nome da banda Seu Juvenal pelo espaço que nos foi dado e foi ótimo responder a perguntas tão bem elaboradas. Tenho certeza que a partir daqui alcançaremos novos membros para nossa família Juvenalesca! Grande abraço! Mais Informações: www.facebook.com/seujuvenalmg www.sapolioradio.com.br
Além disso, é um álbum recheado de participações COLLAPSE UNDERGROUND ART - 29
ESPECIAL
Antecedentes da 1ª guerra Desde meados do século XIX acirra-se a disputa entre as potências imperialistas da Europa pelo controle das matérias-primas e dos mercados mundiais. Elas travam guerras contínuas e disputas por novos territórios. Rivalidades econômicas e imperialismo - A entrada de novas potências industriais imperialistas no cenário internacional aguça as rivalidades entre seus interesses econômicos, em particular sobre a repartição dos mercados e territórios. Explosão de nacionalismo - O nacionalismo das grandes potências desemboca num sistema de alianças para proteger-se da expansão das demais. O nacionalismo das nações colonizadas manifesta-se em ações violentas e pressões contra as potências coloniais. A crise dos Bálcãs, a partir de 1908, torna-se o foco das rivalidades imperialistas, em virtude da decadência do Império Otomano e da possibilidade da divisão de seus territórios. Os principais movimentos nacionalistas se desenvolvem na Europa e são o pan-eslavismo, o pangermanismo e o revanchismo francês. Pan-eslavismo - Defende a união de todos os povos de origem eslava da Europa oriental, incluindo os que estão sob 30 - COLLAPSE UNDERGROUND ART
domínio do Império Austro-Húngaro. Manifesta-se a partir da Rússia, que busca uma saída para o mar Mediterrâneo. Pangermanismo - Propõe a consolidação de um bloco de países de origem germânica. É liderado pela Alemanha. Revanchismo francês - Em 1870 a França é derrotada ao tentar conter o expansionismo germânico e obrigada a ceder à Alemanha a Alsácia-Lorena, região rica em carvão e minério de ferro. Desde então cresce entre os franceses um movimento revanchista para recuperar o território cedido e “se vingar” da Alemanha. Crise no Marrocos - É um dos antecedentes mais imediatos da guerra. Na disputa por domínios coloniais, França e Alemanha reclamam a região do Marrocos, no norte da África. Uma conferência internacional decide em 1906 ceder o território marroquino à França e uma pequena faixa no sudoeste da África à Alemanha. Descontente com a decisão, a Alemanha promove conflitos em 1911 e acaba recebendo da França parte do território do Congo. Crise nos Bálcãs - Os enfrentamentos entre Sérvia e Áustria na península balcânica também colaboram para acirrar as diferenças nacionalistas entre os países da Europa. Apoiados
pelos russos, os sérvios tentam conter a expansão da Áustria. Em 1908 a Áustria anexa a Bósnia-Herzegóvina impedindo que a Sérvia organize a Grande Sérvia, que incorporaria as regiões de povos eslavos No início do século XX o clima de tensão entre as grandes potências é tão grande que o conflito já se mostra inevitável. Os países procuram então organizar os exércitos, produzir armamentos e fazer acordos entre si para garantir força na disputa. Em 1907 estão formadas a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente. Tríplice Aliança - Reúne a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália, a partir de 1882, com o objetivo de enfrentar o expansionismo francês na Europa. Durante a guerra, o Império Otomano incorpora-se a ela por sua aliança com a Alemanha e por suas rivalidades com a Rússia. A Bulgária, que tem grandes interesses nos Bálcãs, também se alia à Alemanha. A Itália, embora pertencente à Tríplice Aliança, declara-se neutra no início do conflito e depois, em 1915, passa para o lado de seus inimigos, apoiando a Tríplice Entente. Tríplice Entente - Tem por base a Entente Cordiale, formada em 1904 pelo Reino Unido e pela França para opor-se ao expansionismo germânico. Em 1907, com a adesão da Rússia, ela se transforma na Tríplice Entente. Durante a guerra, outras 24 nações incorporam-se à Entente, formando uma ampla coalizão chamada de AliaNo início do século XX o clima de tensão entre as grandes potências é tão grande que o conflito já se mostra inevitável. Os países procuram então organizar os exércitos, produzir armamentos e fazer acordos entre si para garantir força na disputa. Em 1907 estão formadas a Tríplice Aliança e a Tríplice Entente. 1914-1915: a guerra de trincheiras As operações militares na Europa se desenvolveram em três frentes: a ocidental ou franco-belga, a oriental ou russa e a meridional ou sérvia. Posteriormente, surgiriam novas zonas de combate com a intervenção do império otomano, da Itália e da Bulgária. Na frente ocidental, o plano inicial da estratégia alemã era derrotar rapidamente a França, no oeste, com uma ‘guerra relâmpago’, enquanto uma pequena parte do exército alemão e todas as forças austro-húngaras conteriam, a leste, a invasão russa. No outono de 1914 a queda da capital francesa parecia tão iminente que o governo francês se transferiu para Bordeaux. Porém os franceses, comandados pelo general Joseph Joffre, cercaram Paris e atacaram o exército alemão. Na primeira batalha do Marne (de 6 a 9 de setembro), os franceses conseguiram deter o exército alemão. No entanto, no fim de 1914, os adversários ainda estavam entrincheirados, cada um em suas linhas de frente que se estendiam da Suíça ao Mar do Norte. No decurso de três anos poucas modificações ocorreram nestas linhas, o que faria da luta uma guerra de trincheiras ou de ‘exaustão’. Os russos assumiram a ofensiva, na frente oriental, no início da guerra, mas foram detidos pelos exércitos austro-alemães. Em 1915 estes haviam conseguido expulsar os russos da Polônia e da Lituânia e tinham tomado todas as fortalezas limítrofes da Rússia que ficou sem condições de empreender ações importantes por falta de homens e de suprimentos. Os austríacos invadiram a Sérvia três vezes ao longo de 1914, sendo rechaçados em todas. Quando a Bulgária declarou guerra à Sérvia em 14 de outubro de 1915, as forças aliadas entraram pela Sérvia. Os búlgaros derrotaram o exército sérvio e também o britânico e o francês que vieram de Salonica. No fim de 1915, os impérios centrais haviam ocupado toda a Sérvia. O império otomano entrou na guerra em 29 de outubro de 1914. Os turcos iniciaram a invasão da zona russa da cordi-
lheira do Cáucaso em dezembro. O governo russo pediu aos britânicos que fizessem uma manobra destinada a distrair sua atenção no Estreito de Dardanelos. Porém a Campanha de Gallípoli resultou em fracasso total para as tropas aliadas. 1916: a estagnação continua O triunfo obtido pelos alemães, em 1915, deu condições para eles centrarem suas operações na frente ocidental. Desencadearam a batalha de Verdun em 21 de fevereiro, mas não conseguiram conquistar esta cidade devido à contra-ofensiva do general francês Henri Philippe Pétain. Os aliados atacaram, por sua vez, na batalha do Somme, iniciada em 1º de julho, na qual os britânicos usaram pela primeira vez carros de combate modernos. E os franceses empreenderam nova ofensiva em outubro, restabelecendo a situação que existia antes de fevereiro. Quanto à situação na frente oriental, os russos atacaram os austríacos na linha que se estendia do sul de Pinsk a Chernovtsi. Apesar de não conseguirem tomar seus principais objetivos, o ataque russo levaria a Romênia a entrar na guerra, apoiando os aliados (em 27 de agosto de 1916). As forças austro-alemães invadiram a Romênia (novembro e dezembro) que, em meados de janeiro de 1917, já estava totalmente ocupada. A atividade na frente italiana, durante o ano de 1916, esteve concentrada, na 5ª batalha do Rio Isonzo, e na ofensiva austríaca em Trentino. Nos Balcãs, as potências aliadas intervieram na vida política da Grécia por todo a ano de 1916, o que provocaria a criação de um governo provisório em Salonica. Eclodiram duas lutas nos Balcãs em 1916: o ataque conjunto de sérvios e italianos às forças búlgaras e alemães e uma ofensiva aliada sobre a Macedônia. Ocorreu também o confronto naval mais importante da guerra, a batalha da Jutlândia (31 de maio a 1º de junho) entre a Grande Frota Britânica e a Frota de Ultramar Alemã, que terminaria com a vitória britânica. 1917: entrada dos estados unidos e o armistício com a rússia A política de neutralidade americana mudou quando a Alemanha anunciou, em janeiro de 1917, que a partir de fevereiro recorreria à guerra submarina. Em 3 de fevereiro os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com a Alemanha, declarando, em 6 de abril, guerra a este país. Para enfrentar o conflito, enviou para Europa a chamada Força Expedicionária Americana (AEF), frente a qual se encontrava o general John Pershing. Várias nações latino-americanas, entre elas o Peru, o Brasil e a Bolívia apoiariam esta ação. O afundamento de alguns navios levou o Brasil, em 26 de outubro de 1917, a participar da guerra, enviando uma divisão naval em apoio aos aliados. Aviadores brasileiros participaram do patrulhamento do Atlântico, navios do Lóide Brasileiro transportaram tropas americanas para a Europa e, para a França, foi enviada uma missão médica. Em 1917 os aliados lançaram duas ofensivas, em grande escala, para romper as linhas alemães na frente ocidental. Na primeira, o ataque foi dirigido contra a linha Hindenburg, travando-se a terceira batalha de Arras. Na segunda, tentou-se atravessar o flanco direito das posições alemãs em Flandres. A batalha de Messina e a terceira batalha de Ypres terminaram sem qualquer avanço para os aliados. Por outro lado, a guerra submarina alemã fracassava em seu intento de provocar a rendição da Grã-Bretanha por meio da destruição da frota aliada. Em março de 1917 a primeira fase da Revolução Russa culminou com a implantação de um governo provisório e a abdicação do czar Nicolau II. Em setembro e outubro os alemães tomaram Riga, ocuparam a Letônia e inúmeras ilhas COLLAPSE UNDERGROUND ART - 31
russas do mar Báltico. Em 20 de novembro as autoridades russos propuseram à Alemanha a cessação das hostilidades. Representantes da Rússia, Áustria e Alemanha assinaram o armistício em 15 de dezembro, cessando assim a luta na frente oriental. Os aliados sofreram vários reveses na frente italiana em 1917. As forças italianas foram obrigadas a se retirar de suas posições no rio Piave. Na frente balcânica, os aliados iniciaram a invasão da Grécia e conseguiram a abdicação de Constantino I. A Grécia declarou guerra aos impérios centrais em 27 de junho. No Oriente Médio os britânicos tomaram Jerusalém, ocuparam Bagdá em março e em setembro já haviam avançado até Ramadi e Tikrit. 1918: ano final Os primeiros meses de 1918 não foram favoráveis às potências aliadas. Em 3 de março a Rússia assinou o Tratado de Brest-Litovsk, com a qual punha oficialmente um fim à guerra entre esta nação e os impérios centrais. Em 7 de maio a Romênia assinou o Tratado de Bucarest com a Áustria-Hungria e a Alemanha, às quais cedia diversos territórios. No entanto, a luta nos Balcãs, no ano de 1918, foi catastrófica para os impérios centrais. Uma força de cerca de 700.000 soldados aliados iniciou uma grande ofensiva contra as tropas alemãs, austríacas e búlgaras na Sérvia. E os búlgaros, totalmente derrotados, assinaram um armistício com os aliados. Além disso, estes obteriam a vitória definitiva na frente italiana entre outubro e novembro. A comoção da derrota provocou rebeliões revolucionárias no Império Austro-Húngaro que se viu obrigado a assinar um armistício com os aliados em 3 de novembro. Carlos I abdicou oito dias depois e a 12 de novembro foi proclamada a República da Áustria. Os aliados também puseram fim à guerra na frente turca de forma que lhes foi satisfatória. As forças britânicas tomaram o Líbano e a Síria, ocupando Damasco, Alepo e outros
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pontos estratégicos. A Marinha francesa, por sua vez, ocupou Beirute e o governo otomano solicitou um armistício. As tropas de elite nas colônias alemães da África e do oceano Pacífico, com exceção das que se encontravam na África oriental no fim de 1917 e durante 1918, lutaram na defensiva a maior parte do tempo. Praticamente todas se haviam rendido aos aliados no término da guerra (1918). Em princípios de 1918, os alemães decidiram chegar a Paris. Lançaram uma ofensiva, mas, apesar do avanço conseguido, na segunda batalha do Marne o avanço foi detido pelas tropas francesas e americanas. Os britânicos ganharam terreno ao norte da França e ao longo da costa belga, e as tropas francesas e americanas chegaram ao Sudão em 10 de novembro. A linha Hindenburgo já estava completamente destroçada. Em conseqüência da derrota do exército alemão, a frota alemã amotinou-se, o rei da Baviera foi destronado e o imperador Guilherme II abdicou em novembro, fugindo para os Países Baixos. No dia 9 deste mesmo mês foi proclamada, na Alemanha, a República de Weimar, cujo governo enviou uma comissão para negociar com os aliados. Em 11 de novembro foi assinado o armistício entre a Alemanha e os aliados, baseado em condições impostas pelos vencedores. O Tratado de Versalhes (1919), que pôs fim à guerra, estipulava que todos os navios aprisionados passassem a ser de propriedade dos aliados. Em represália a tais condições, em 21 de junho de 1919, os alemães afundaram seus próprios navios em Scapa Flow. As potências vencedoras permitiram que deixassem de ser cumpridos certos itens estabelecidos nos tratados de paz de Versalhes, Saint-Germain-en-Laye, Trianon, Neuilly-sur-le-Seine e Sèvres, o que provocaria o ressurgimento do militarismo e de um agressivo nacionalismo na Alemanha, além de agitações sociais que se sucederiam em grande parte da Europa.
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RELEASES
CURARE Revive Esperanza Independente – Importado ignorância do povo brasileiro de sua ampla herança cultural parece despertar severa ojeriza entre os fãs de Metal, em especial aos mais conservadores. Sim, pois temos em toda a América do Sul bandas que rebuscam elementos regionais para poder criar algo único. Algo que bandas como ARANDU ARAKUAA, do Brasil, conseguem resgatar. E é maravilhoso conhecer o trabalho do excelente quarteto equatoriano CURARE, de Quito, pois “Revive Esperanza”, lançado no ano passado, é algo único, maravilhoso, e incrível. Antes de tudo, podemos dizer que a banda, por trás do rótulo “Longo Metal”, está uma banda que consegue fundir tanta coisa em termos de Metal que fica difícil de fazer descrições mais definitivas. Técnica muitas vezes à lá Dream Theater (sem ser tão exagerado quanto este), peso com elementos de Stoner Metal, melodias do Metal tradicional, além de elementos regionais indígenas. Sim, nossos hermanos do Equador rebuscam essa forte influência étnica, sem destoar ou deixar de soar pesado. Nunca, pelo contrário, a mistura de vocais que misturam vozes fortes em timbres normais e outras mais agressivas, excelentes riffs de guitarra e solos eficientes (com muita melodia), baixo e bateria com técnica e peso absurdos, mais a adição das flautas andinas é algo de maravilhoso. E tudo isso soa com vida, peso e originalidade, além de tocar profundamente aqueles que fazem questão de lembrar-se de sua herança cultural. A qualidade sonora de “Revive Esperanza” é ótima, com belos timbres para cada um dos instrumentos. Óbvio que poderia ser melhor, mas está em um nível bem melhor que muitas bandas que vemos pelo mundo. E a capa, apesar de ser simples, evoca o espírito de resistência e coragem, uma esperança em sobreviver às duras penas de nascer na América do Sul. Não é possível fazer comparativos: o Curare possui personalidade única, firme e forte, pulsando com energia por suas músicas, fazendo que a audição de “Revive Esperanza” algo maravilhoso. Arranjos brilhantes, músicas dinâmicas, tudo nas medidas mais certas possíveis. “Fuerza del Alma” é bem técnica, mas pesada e que nos agarra pelos ouvidos, graças à melodias bem sacadas, e é interessante ver como os vocais fazem um trabalho ótimo e espontâneo. Em seguida, “Ayllu Poder” faz alusão à figura mitológica indígena local do Equador (Mama Tungurahua, que é o nome de um vulcão ativo no país), que possui um peso avassalador e passagens empolgantes vindas do Hardcore, com riffs de guitarra excelentes. Mais ganchuda 34 - COLLAPSE UNDERGROUND
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e com menos técnica, temos “Revive Esperanza”,com passagens excelentes de baixo e bateria, além de vocais declamados. “Corazón de Jaguar” é quase que um hino de guerra, pesada e mais azeda, com riffs excelentes e vocais muito bons (e a letra fala da busca da Alma Mater do povo Sul Americano, simbolizado pelo jaguar), além de um refrão excelente e que nos agarra com força. “Todo Imerio Cayó” é introduzida por flautas andinas (o som é inconfundível), mas logo surgem guitarras pesadas e um andamento bem variado, mas sempre coerente. A linda e cheia de feeling “Tinku” é onde a banda mais usa de elementos regionais, mesmo não abrindo mão do som pesado e intenso do Metal, alternando vocais ferozes e outros mais limpos, além de belas quebradas de ritmo e um solo ótimo (e Tinku é uma forma de dança e combate comum na Bolívia, ligada à mãe Pachamama). Com leve toque de música tradicional equatoriana, temos “Asi Se Goza”, mais uma com destaque para as flautas e vocais. Em “Yaku”, mais uma vez a força da herança cultural de todos nós, que nascemos na América Latina, nos chama pelo sangue, fora ser empolgante e cheia de um trabalho ótimo de bateria e flautas. E “Raiz”, que fecha o disco, tem uma sonoridade um mais intimista em seu início, focando no contraste entre vocais mais urrados e outros normais, mais outra em que a música tradicional do Equador dita as regras, mas sem que se perca a noção de peso. Impossível não gostar, amar e exaltar um trabalho tão bom. E uma pena que a economia do continente não nos permite um maior intercâmbio de bandas. Seria ótimo ver estes hermanos entre nós. Uma excelente banda, que merece aplausos de pé e todo respeito. Marcos “Big Daddy” Garcia
Cradle of Filth Hammer of the Witches Nuclear Blast Records – Importado uem é rei nunca perde a majestade. E quando falamos de bandas inglesas, realmente, elas parecem ter uma criatividade inesgotável, a ponto de algumas serem pontas de lança em vários estilos. O Black Sabbath, junto com Deep Purple E Led Zeppelin formaram nos anos 70 a espinha dorsal do gênero, assim como Judas e Motorhead seguraram as pontas nos anos duros da invasão Punk inglesa, e Iron Maiden, Saxon e Def Leppard se eternizaram como maiores nomes da NWOBHM. Mas findada este último, poucas bandas realmente relevantes e de sucesso apareceram nas terras inglesas. Até que as margens assombradas da velha Inglaterra deram origem a um de seus filhos mais ilustres, e que merece citação honrosa: o sexteto Cradle Of Filth, de Ipswich, Suffolk. Desde 1991, a ART
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banda anda sempre nos surpreendendo, criando uma música única e pessoal, inimitável, e talentosa. Podemos dizer que o Black Metal não seria o mesmo sem a banda. E como é maravilhoso ouvir “Hammer of the Witches”, novo disco da banda. Sim, se desde “Midian” a banda oscila, lembremos que um disco fraco deles é muito melhor que qualquer clone que exista. O sexteto mostra-se, antes de tudo, forte e renovado dentro do estilo que os consagrou. A mistura de energia, agressividade e melodia continua forte, mas foi renovada graças ao excelente trabalho de Ashok e Rich Shaw, que formam a melhor dupla que o grupo teve desde dos tempos de “Cruelty and the Beast”, com bases muito fortes, sólidas e que grudam no ouvinte, e muitos solos (o que já é algo novo, pois o grupo pouco os usava antes). Na base rítmica, o baixista Daniel Firth está efetivado na banda, e ao lado do já veterano Marthus na bateria, formam uma das melhores cozinhas do Metal extremo, com peso, diversidade técnica e consistência sonora ao grupo. A canadense Lindsay Schoolcraft consegue preencher bem todos os espaços com seus teclados, e sua voz delicada adiciona um tempero a mais ao trabalho do sexteto. E Dani Filth nem é necessário se falar muito: ele continua sendo o mestre do uso de inúmeros timbres, sendo um excelente intérprete. E como ele compõe quase tudo na banda, podemos aferir a ele o título de Gênio do Metal extremo, ao lado de Shagrath e Silenoz. E sim: “Hammer of the Witches” consegue nos levar de volta aos tempos mais clássicos do grupo, com a força brutal de “Midian”, o requinte de “Cruelty and the Beast” e elegância de “Dusk and Her Embrace”, mas sem imitar os mesmos. É o bom e velho Cradle Of Filth reescrevendo as regras do jogo, para desespero dos troos anos 80 e radicalóides em geral. Com Scott Atkins na produção e masterização, que já trabalha com o sexteto desde “Darkly, Darkly, Venus Aversa”, a sonoridade está de alto nível, com uma clareza que nos permite perceber claramente os detalhes de guitarras e teclados, ao mesmo tempo em que dá impacto e peso às músicas. A arte de Arthur Berzinsh deixa claro qual o tema que permeia as letras: o infame “Malleus Maleficarum”, conhecido como “martelo das bruxas”, um manual da Idade Média usado pelos tribunais do Santo Ofício (hoje chamado de Congregação para a Doutrina e Fé, de onde saiu o Cardeal Joseph Ratzinger, o ex-Papa Bento XVI) nos tribunais da Santa Inquisição para julgar as mulheres acusadas de bruxaria. Ele se divide em três partes: a primeira para reconhecer uma bruxa, a segunda expunha todos os tipos de malefícios feitos por elas, classificando-os e explicando-os; e a terceira regulamentava as formalidades para agir “legalmente” contra as bruxas. É um manual de morte, podemos dizer assim, que serviu como um dos capítulos mais negros da história das religiões abraâmicas. E tudo isso com aquele inglês formal e poético ao qual Dani está tão acostumado. Ou seja, é como se o próprio Shakespeare voltasse do túmulo e escrevesse uma vez mais. Formalmente, o Cradle Of Filth é uma das bandas de Metal extremo que pode dar a si mesmo o nome de “arte”
sem medos. É imbuído de cultura, ensina algo, e tudo isso embalado por uma música de altíssima qualidade, que como dito antes, fundem com maestria elementos musicais díspares e os faz funcionar. E sem falar que os arranjos do grupo são fantásticos, bem encaixados, e a dinâmica das faixas é excelente, não nos deixando ficar entediados. E como a banda consegue ainda ter músicas tão bem feitas, mas que são de fácil assimilação é algo indecifrável. Cradle Of Filth não decepciona. Quando é mediano, é ótimo, mas quando vem com a carga toda, como em “Hammer of the Witches”, é satisfação garantida. Marcos “Big Daddy” Garcia
Dr. Living Dead! Crush the Sublime Gods Tellus Records – Nacional interessante e muito bom ver que anda surgindo muitas bandas que evocam aquela divertidíssima aura de mistério e mesmo de horror estilo “filme B”. É divertido não ver o músico, mas um personagem que não possui ligações com a realidade, que muitas vezes assustam e causam polêmicas nos mais incautos só de existiram. Seja em qual vertente do Metal, sempre é uma ótima opção, e que ficou, inexplicavelmente e por muitos anos, no desuso. Mas eles estão aí, e agora, um quarteto insano vindo da Suécia acaba de aportar o Brasil, e chegaram com tudo. Sim, finalmente o nosso país ganhou versão nacional para um dos discos do furioso Dr. Living Dead!, e justamente para o mais recente, “Crush the Sublime Gods”. E sob as máscaras de caveiras e mistério de suas identidades, a diversão para todos os ouvintes está assegurada. Musicalmente a banda faz uma mistura bem equilibrada de Crossover à lá Suicidal Tendencies, S.O.D. e D.R.I. com aspectos do Thrash Metal, e mesmo alguns toques mais melodiosos. O que torna tudo ainda mais interessante é justamente que mesmo fazendo um estilo já bastante erodido, esses mortos-vivos têm uma personalidade forte. Sim, os vocais são ótimos (com uma clara influência de Mike Muir em seus melhores momentos), os riffs de uma força absurda, bem como os solos mostram intimidade com a melodia, baixo e bateria estão formando uma base rítmica pesada e bem variada. Sim, esses Doutores da Morte não estão de brincadeira, e mesmo usando alguns clichês do gênero, se mostram uma banda ótima. A produção é de Martin Jacobson (que também mixou o disco), Anders Alexanderson e do próprio quarteto, mais a masterização de Dan Randall. E o interessante é que este time todo deu uma produção bem limpa e polida ao quarteto, mas sem deixar de soar pesado e intenso. Chega a ser um pouco
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estranho para uma banda do gênero, mas funcionou bem demais. E a arte de Dr. Ape (ex-baterista e depois vocalista do quarteto) é outra que destoa e pode dar a impressão errada nos fãs, pois pode esperar uma coisa e levar um murro nos dentes. Mas como ninguém mais compra discos sem ouvir, a capa e o layout são ótimos, e a versão brasileira caprichou na qualidade do material. O quarteto tem por ponto forte saber usar a brutalidade de seu instrumental casando perfeitamente com os vocais mais melodiosos de Dr. Mania, e usa de canções não muito longas (média de 3 minutos cada, e apenas duas passam dos 3 minutos). Se juntarmos a produção sonora, a visual e esse aspecto, vemos que o Dr. Living Dead! realmente não quer ser apenas mais um no meio de muitos, mas quer se destacar. E com isso que fazem, conseguirão isso facilmente. Se um dia pediram para despertar os mortos, eles enfim estão aqui, e vieram exigir que nos juntemos a eles. E é óbvio que iremos, pois não há como resistir ao apelo forte que o Dr. Living Dead! nos faz em “Crush the Sublime Gods”. A reclamação dos trues chatos e a nossa diversão são garantidas! Marcos “Big Daddy” Garcia
Ghost Opus Eponymous Hellion Records/Black Legion Productions - Nacional inco anos atrás, o mundo do Rock sofreu uma mudança abrupta: o Rock Horror, iniciado nos anos 70 por Alice Cooper e outros, que teve seqüência na década de 80, com nomes como Mercyful Fate, King Diamond, Venom e outros. Mas que andou em baixa nos anos 90, aparentando estar morto. Mas como tudo que é bom acaba retornando um dia, eis que das terras da Suécia, que tanto já deram o Metal, surgiu um nome que trouxe o Rock Horror em sua mais pura essência de volta. Sim, estamos falando do Ghost (ou Ghost B.C., por conta de problemas legais com o nome nos E.U.A.), grupo que usa indumentárias que lembram um culto religioso (uma paródia com o catolicismo, para ser mais exato) lançou seu primeiro álbum, “Opus Eponymous”, que causou uma comoção enorme no meio. Tanto que chegou a ter sua versão brasileira, e que agora é relançado no nosso país por meio da parceria entre a Hellion Records e a Black Legion Productions. Essencialmente, o Ghost não faz nada que seja realmente novo. A fusão de um som sujo, orgânico e melodioso à lá Black Sabbath, Blue Oyster Cult e outras bandas dos anos 70 com um vocal mais limpo se mostrou algo forte. E se falarmos da música da banda em si, ela chega a ser bem simples em termos de arranjos, com refrões de assimilação simples, mas cheia de energia, evocando um clima denso e soturno, mas sempre diferente do convencional. Sim, o Ghost mostra ter personalidade forte nos tem-
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pos de hoje, em que a clonagem dos anos 80 é a moda vigente. E fazem um enorme sucesso. Gene Walter e Jaime Gomez Arellano produziram o disco (com o último fazendo a mixagem e masterização), e o esforço conjunto deles gerou uma gravação que evoca as mesmas qualidades daquelas do final dos anos 70 e início dos 80, com a diferença de ser mais clara, apesar daquele clima “esfumaçado” em muitos momentos. Mas é algo intencional e fazia parte do trabalho do grupo até então. A arte gráfica é bem simples, evocando o lado negro da vida, algo que está dentro da proposta lírica do Ghost. Mas lembrando: tudo no grupo é voltado para este lado por uma questão meramente estilística. E verdade seja dita: é divertido demais ver uma banda com uma proposta fantasiosa, que nos faz esquecer os problemas cotidianos, evocando essa imagem. Mas não se enganem: apesar do investimento na imagem, a música do Ghost é bem arranjada, com boa dinâmica, mas sem exagerar nos aspectos técnicos, e sendo pesado e soturno sempr. E isso em um momento em que o Metal ou adentra cada vez mais no domínio da técnica, ou que pára nos modelos do “Rock sujo” do início dos anos 80 (e que anda sendo clonado sem limites atualmente). Ainda bem que foi relançado, pois “Opus Eponymous” é um disco obrigatório para todos os fãs de Metal que se prezem, sem radicalismos e sem rótulos. O único porém é que, mais uma vez, a versão nacional não tem o cover para “Here Comes the Sun”, do Beatles, que existe em uma das versões do CD. Mas mesmo assim, esta versão tem seu charme. Quem tiver medo, que tire o time de campo e vá ouvir clones e outros, mas este autor prefere fazer outra coisa: A vossa Benção, Papa Emeritus, e a proteção de cada um dos Nameless Ghouls... Marcos “Big Daddy” Garcia
Sistema Sangria Sistema Sangria Equivokke Records / Corsário Discos Manaós Distro/Back On Track/Cabra Da Peste/Vanila Tapes/Terceiro Mundo Caos Distro - Nacional Brasil, desde o início dos anos 80, possui uma tradição no Punk Rock e no Hardcore. E isso ao ponto de ser referência na cena mundial dos gêneros, graças a nomes como Olho Seco, Cólera, Lobotomia, RDP e tantos outros. Os anos se passaram e este formato musical, esta atitude de vida, foram crescendo, amadurecendo e ganhando novos contornos. Isso é bom, e os frutos disso tudo são colhidos até hoje. Basta olharem bandas que sempre estão por aí, na cara e na coragem, disparando sua fúria contra tudo e todos. E um dos melhores nomes do gênero no Brasil é o do veterano quarteto Sistema Sangria, da
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tradicional São Paulo (berço do gênero em nosso país), que chega para comemorar 15 anos com “Sistema Sangria”, seu mais recente trabalho. Os anos não abrandaram em nada a música abrasiva, raivosa e agressiva do grupo. Muito pelo contrário, está ainda mais raivoso que antes, usando de vocais urrados muito bem colocados, riffs de guitarra fortes e ganchudos, baixo e bateria com muito peso, criando uma base rítmica simples, mas muito boa e intensa (como se ser simples e bom fosse algo muito fácil de ser atingido). Óbvio que uma técnica refinada não é encontrada em “Sistema Sangria” porque ela se faz desnecessária. Aqui, o objetivo é outro: ser abusivamente azedo, mas feito com qualidade e coração em cada uma das músicas. A produção é assinada por Marcelo Pompeu e Heros Trench, e os processos de gravação, mixagem e masterização foram feitos no estúdio Mr. Som. O resultado é uma soma bem equilibrada da qualidade sonora que a banda merece com a sua fúria musical que expressa. E não deixa de soar HC em momento algum, só estando mais encorpado e com uma qualidade sonora muito boa. Somente o cover para “Policeman” do Nitrominds possui diferenças na ficha de produção (o produtor é Fábio Hardcaos). A parte artística é toda de Luiz Angelelli, e ficou muito boa, mostrando um contraste das raízes HC da banda com o refinamento dos dias atuais. O ponto forte do Sistema Sangria é o conjunto. Aqui, não há espaço para individualidade, nem demonstrações técnicas exageradas. Nada disso, o grupo mostra inteligência dentro da aparente simplicidade musical que usa, mas os arranjos são ótimos. Em 29 faixas ótimas, que possuem em média um minuto e meio de duração, muita raiva anti-sistema é posta para fora, e o grupo se mostra ótimo sempre. Marcos “Big Daddy” Garcia
Masterful – Fallen Angel Independente – Importado Metal é um estilo que, graças à chegada da internet, ganhou maior projeção, ao mesmo tempo em que rompeu barreiras, inclusive aquelas nascida das distâncias entre músicos. E o Brasil acaba de entrar no círculo de bandas colaborativas internacionais com o excelente trio Masterful, que acaba de soltar seu primeiro EP, “Fallen Angels”. Aqui, temos a presença do vocalista Lean Van Ranma (bem conhecido por alguns trabalhos no Power Metal melódico por aqui), que junto à dupla Guillaume Rabut e Jean Michel Voltz (ambos franceses) fazem um trabalho ótimo. Óbvio que aqui temos o bom e velho Power Metal melódico, feito com categoria e peso, além de muito sentimento e bom nível técnico. Os vocais são ótimos, sejam nos momentos em que busca trabalhar tons mais baixos ou agudos (e isso sem incomodar nossos
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ouvidos), riffs de guitarra bem pensados, solos inspirados, baixo e bateria com peso e técnica sóbria, e teclados muito bem postados, criando belos momentos épicos. Sim, o Masterful não chega a criar nada novo neste EP, mas o que faz é honesto e agrega valor ao cenário, já meio erodido pelo número excessivo de bandas de uns anos atrás. A produção é limpa e bem cuidada, embora não seja exagerada ao ponto de obliterar o peso das canções. Não, podemos perceber que houve um cuidado em manter o peso, mas permitir uma clareza instrumental bem grande. E a arte gráfica criada por Ricardo Janke dá uma idéia clara da música que nos aguarda. E uma riqueza instrumental muito boa nos espera em “Fallen Angel”, mas com um diferencial de muitos no meio: há equilíbrio entre o lado técnico, o bom gosto e o peso. Ou seja, é bem feito, pesado, mas as melodias nos agarram de forma que não conseguimos mais largar do EP. Apesar de o gênero ter sido explorado à exaustão, o Masterful mostra neste EP que pode dar uma nova energia ao gênero. Muito, muito bom mesmo este EP. Marcos “Big Daddy” Garcia
Pray For Mercy In Absentia Eternal Hated Records - Nacional Metal sempre se destacou com o gênero musical das mutações. Apesar de passar dos 40 anos, quem disse que o estilo fica quieto, estagnado como tantos outros? Nada disso, ele sempre se mostra renovado, miscigenando e indo adiante, firme e forte em direção ao futuro. E isso graças às bandas que buscam se renovar sempre, fugindo dos clichês e buscando seu jeito de ser. E é isso que o septeto Pray For Mercy mostra mais uma vez em “In Absentia”, seu mais recente trabalho, lançado de forma independente em 2014 e que a Eternal Hatred Records acabou de relançar. Antes de tudo, o grupo faz uma mistura forte entre Death Metal, Hardcore e Deathcore, com alguns momentos que lembram o Djent (especialmente nas guitarras), buscando ter impacto sonoro e violência em meio a andamentos não tão velozes (embora existam momentos mais rápidos distribuídos pelo disco) e peso severo de seu instrumental forte, agressivo e que recebe algumas belas doses de melodias introspectivas, mais alguns toques de elegância dado pelos teclados. E a dupla de vocais dá um toque diferenciado. O septeto acerta a mão em cada uma das composições, e ainda ganha brilho com a presença de Felipe Eregion do Unearthly em “Anexo IV: Exílio Manchado de Sangue” e Caio MacBeserra do Project46 em “Anexo VI: Cegueira do Verdadeiro Mal”. Produzido por Adair Daufenback, podemos aferir que o grupo acertou na escolha. Sim, pois apesar da brutalidade, existe uma clareza bem grande, que nos
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leva a compreender as letras cantadas apesar dos tons rasgados e guturais que se alternam e instrumental abrasivo. Mesmo os teclados conseguem aparecer bem. E a arte do grupo, usando como tema principal o branco, fugindo dos clichês e casando bem com o tema usado pela banda (que apesar de meio nebuloso à primeira vista, é extremamente real e esotérico em vários pontos, mesmo usando de subjetividade). E o trabalho do grupo, em termos musicais, é bem diferente. O Pray For Mercy sabe manter o som intenso, pesado e esporrento, mas mesmo assim, existe um fundo melodioso e refinado que encorpa o trabalho deles. É violento, mas elegante. O Pray For Mercy se destaca bastante, e junto com bandas como Projetc46 e Confronto, representam a ponta de lança da juventude de nosso cenário. Recebam-nos com os braços abertos e mentes tranquilas! Marcos “Big Daddy” Garcia
especialmente naqueles sujeitos leite com pera que se acham anos 80 por usarem coletes com mil patches e bottons. O Embrio conseguiu dar um passo adiante, mantendo a mesma personalidade que sempre apresentou, apenas sabendo se renovar dentro dos limites que eles mesmos se impuseram. Arranjos bem encaixados e perfeitos, dinâmica musical muito interessante, o que ajuda devido à duração média das faixas ser de três minutos e meio, e podemos aferir que “Déjà Vu” é o trabalho mais bem feito da banda até os dias de hoje. Voltaram com tudo, por cima, ditando regras e mostrando que são uma das melhores bandas do gênero no Brasil. E o CD é disponibilizado gratuitamente para todos. O aniversário é deles, mas o presente é nosso. E parabéns, Embrio, pois o Brasil precisa de bandas como vocês. Marcos “Big Daddy” Garcia
Falar em arranjos com o trabalho do TBM (me permitam usar uma sigla para o nome do grupo, por favor) é covardia. A banda consegue ter um trabalho lindo e de classe, mantendo o interesse do ouvinte em todos os momentos. E isso sem falar que ainda ousaram em pôr sax na instrumental “Dennis” (uma colaboração de Pablo Muñoz). Se você é fã daquela fase do Dream TheateR entre o “Images and Words” e o “Awake”, vai se apaixonar. Aliás, se tiver bom gosto, vai se apaixonar do mesmo jeito. Marcos “Big Daddy” Garcia
sendo uma voz forte e marcante. Ainda bem que este veterano não pára, e pelo visto, não vai parar tão cedo. Ah, sim: “Majesty MMXV” está disponível para download gratuito na página do Bandcamp da banda. Marcos “Big Daddy” Garcia
El Santo Asesino República do Caos Independente – Nacional cena extrema brasileira ainda jaz dentro do underground, baseada muito no “do it yourself ”. Mas é justamente disso que nasce a força do protesto, da liberdade criativa e da força musical. E quem se embebeda dessa fonte é o ótimo trio El Santo Asesino, de São Paulo, que chega para trucidar os ouvidos dos desavisados com seu EP “República do Caos”. Aqui, nestas seis faixas, impera a raiva, a fúria e o protesto engajado do HC com uma embalagem de Grindcore/Death Metal extremado. E essa raiva voa para todos os lados que compõem o “estabilishment” nas letras, embaladas por uma musicalidade agressiva e azeda que causa dores atrozes nos ouvidos menos acostumados. Mas não se iludam: a banda possui boa musicalidade por trás de tanta agressividade. Ótimos vocais que se alternam entre timbres guturais e rasgados, guitarras com riffs insanos e pesados, baixo e bateria com uma pegada pesada e bem variada. Sim, existem mentes pensantes aqui. A produção musical da banda é ríspida, azeda e bruta. Óbvio que podemos compreender o que a banda está tocando, mesmo com timbres instrumentais tão brutos (mas bem escolhidos), e a banda mostra-se sábia nos arranjos. “Interfactor Sancti”é uma introdução climática que antecede o caos de “Inferno”, uma faixa brutal e direta, mas apresentando um trabalho ótimo de baixo e bateria (vejam como os bumbos duplos se mostram bastante, e o baixo segura o ritmo com perfeição), seguida de “Evangelho do Ódio”, essa veloz e reta, mas com riffs intensos e grande influência do Grindcore. “Repeaxe” possui mudanças de ritmo interessantes, mas mantendo o som compactado e com uma exibição ótima dos vocais. Mais destruição sonora intensa é o que ouvimos na abrasiva “República do Caos”, que é azeda e possui um andamento não tão veloz como as outras, mas é de deixar o pescoço doído. E fechando, temos “Pacificação”, outra em que a brutalidade e azedume são maiores que a velocidade (que aqui fica em segundo plano), mostrando ótimos arranjos de guitarra e uma bateria que se mostra bem técnica. Ou seja, o El Santo Asesino é uma ótima banda, que veio para somar. E este EP (além do Demo “O Inimigo do Meu Inimigo”) podem ser baixados gratuitamente na página oficial do grupo na internet. E “República do Caos” é um ótimo EP, sem sombra de dúvidas! Marcos “Big Daddy” Garcia
A Scorner Majesty MMXV (Digital EP) Independente – Nacional Brasil sempre foi e sempre será um país com inclinação para as vertentes do Metal extremo. É uma tradição desde o início do cenário brasileiro. Mas há um problema nisso: o nível de clonagem (ou seja, de bandas que nada criam para si e apenas copiam o trabalho alheio, quase que plágio) acaba excedendo demais o número de bandas criativas. E isso é uma pena, pois muitos ótimos trabalhos acabam ficando ocultos dos olhos de muitos. E uma banda que merece extremo respeito é o Scorner, vindo de Curitiba (PR), que está a 22 anos na estrada, e que após o lançamento do álbum “Bloodshedding”, de 2011, agora retorna com o EP “Majesty MMXV”. Em que pese ser um projeto no formato “one man band” desde o retorno da banda à ativa (a banda parou por volta de 2002, e retornou a ativa dessa forma alguns anos depois. Fazer Metal é incurável, ainda bem), temos aqui um Death Metal bruto e transpirando agressividade, mas sem ficar o tempo todo em uma velocidade alucinante. Pelo contrário, aqui se vê mudanças de andamento, e um trabalho musical de primeira, feito de coração por quem entende e gosta do gênero. Pode não soar inovador aos ouvidos de muito, mas está extremamente longe de ser ruim ou não ter valor. E “Majesty MMXV” é uma regravação da primeira Demo Tape da banda, de 1993, mas as músicas ganharam uma roupagem nova e mais cheia de energia. A produção como um todo (gravação, mixagem, masterização) é do próprio A. Maurício Laube, que priorizou a clareza de cada instrumento, embora mantenha uma forma mais pesada e bruta. Está claro e opressivo, e com bom nível de qualidade. Pode melhorar? Sim, óbvio, mas já é muito bom. O Scorner, por ser uma banda veterana, sabe o que quer de sua música. E o bom é que não é apenas extremo por ser extremo, como muitos gostam. É Death Metal extremo e com bom gosto, bastando observar o uso de ótimos arranjos, inclusive alguns que fogem um pouco ao padrão Death Metal que muitos adoram. E como é um remake da primeira Demo do grupo, nada melhor que o vocalista original estar aqui, mostrando que, mesmo depois de tantos anos, continua
O Embrio – Déjà Vu Independente – Nacional E eis que o quarteto mais furioso e abrasivo das terras de Cascavel (PR) está de volta à carga, esbanjando agressividade e bom gosto com seu Thrash Metal moderno. Sim, o Embrio retorna mais uma vez, com seu novo e ótimo disco, “Déjà Vu”, em comemoração aos dez anos de carreira do grupo. O quarteto trilha os caminhos do Thrash Metal moderno, ou seja, pesado e agressivo de causar dores nos tímpanos e dentes dos menos acostumados. É algo com o “groove” do Pantera e Sepultura (da fase “Chaos A.D.”), mais a agressividade de bandas como Slayer, e buscando canções mais cadenciadas e azedas, evidenciando o lado mais bruto e agressivo da banda. Mas ao mesmo tempo, melodias muito bem feitas estruturam o som de forma compacta, massiva e forte. E isso nos dá a noção clara de uma banda que sabe ser agressiva, mas com requinte, e bom nível técnico em cada um dos instrumentos. Os vocais de Emerson são ótimos, usando timbres agressivos e fortes, mas sem serem urros desconexos (pelo contrário, pois a dicção é clara); riffs absurdamente pesados e fortes, entremeados por solos caprichados (mostrando que Emerson e Andy sabem o que fazem nas seis cordas); e uma base rítmica intensa, com baixo (Daniel) e bateria (Lucas) mostrando peso e técnica nas medidas certas. E o resultado, meus caros, é algo muito agressivo e agradável. A produção de Emerson, em conjunto com Andy, e digamos que eles acertaram a mão: o CD tem uma qualidade sonora pesada e raçuda, com ótimos timbres e tudo nos devidos lugares, sem exageros nos volumes. Mas ao mesmo tempo, a mixagem e masterização deixaram tudo claro e audível, nos permitindo compreender o que grupo faz e o que quer de sua música. E arte, meus caros, é de qualidade, mas sinistra ao ponto de dar medo nos menos acostumados,
The Brainwash Machine A Moment of Clarity MS Metal Records – Nacional ertos gêneros dentro do Heavy Metal possuem seus baluartes, ou seja, aquelas bandas que ou fundaram os ditos gêneros, ou os levaram a uma exposição maior. Mas existem aquelas bandas que, mesmo sem chegar a ter o mesmo nome dos gigantes, fazem um trabalho de tanta qualidade que chega a nos surpreender. E esse, mais uma vez, é o caso do excelente sexteto The Brainwash Machine, de Bogotá (Colômbia), que voltam com seu segundo disco, “A Moment of Clarity”, com versão nacional pela MS Metal Records. Óbvio que todo aquele trabalho técnico que conhecemos de Prog Metal apresentando em “Modern Day Sisyphus” (de 2011) está presente, apenas com a elegância instrumental mais apurada, além da sonoridade mais clara e polida. Mas ao contrário de muitas bandas do gênero, o sexteto sabe pegar pesado e com canções mais coesas, evitando o abismo das canções gigantescas (existem algumas no disco, mas nada que transcenda os 10 minutos de duração. A maioria fica mesmo na média dos 4 a 5 minutos), ou seja, não vai encontrar aquele virtuosismo que tende a cansar os fãs mais comuns. Não, aqui, o que fala mais alto é a unidade da música em si, não a técnica individual (embora todos sejam excelentes músicos), seja nos momentos mais amenos, nos mais pesados e mesmo nos mais técnicos. Tendo na produção as mãos de Jorge Arango e Álvaro Cote (que também mixou o disco), mais Felipe López na masterização, ouvimos uma sonoridade clara, limpa e translúcida, mas com peso nos momentos certos. Ou seja, podemos ouvir cada instrumento claramente, mas mantendo a dose de peso necessária. E o lado gráfico ficou muito bom, com uma capa que remonta o lado mais Progressivo de sua música, e com o layout do encarte mais simples, mas ótimo.
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Comportamento
A tatuagem nossa de cada dia
Por: JP Carvalho tatuagem (também referida como tattoo na sua forma em inglês) ou dermopigmentação é uma das formas de modificação do corpo mais conhecidas e cultuadas do mundo. Trata-se de um desenho permanente feito na pele humana que, tecnicamente, é uma aplicação subcutânea obtida através da introdução de pigmentos por agulhas, um procedimento que durante muitos séculos foi completamente irreversível (embora dependendo do caso, mesmo as técnicas de remoção atuais possam deixar cicatrizes e variações de cor sobre a pele). A motivação para os cultuadores dessa arte é ser uma obra de arte viva, e temporal tanto quanto a vida. História Existem muitas provas arqueológicas que afirmam que tatuagens foram feitas no Egito entre 4000 e 2000 a.C. e também por nativos da Polinésia, Filipinas, Indonésia e Nova Zelândia (maori),tatuavam-se em rituais ligados a religião. A Igreja Católica na Idade Média baniu a tatuagem da Europa (Em 787, ela foi proibida pelo Papa), sendo considerada como uma pratica demoníaca, comumente caracterizando-a como pratica de vandalismo no proprio corpo, afirmando em sua doutrina como maneira de vilipendiar o templo do Espirito Santo, o corpo, levando seus fiéis a uma forma verdadeiramente reta de louvor a Deus. O termo tatuagem, pelo francês tatouage e, por sua vez, do inglês tattoo, tem sua origem em línguas polinésias (taitiano) na palavra tatau 2 e supõe-se que todos os povos circunvizinhos ao Oceano Pacífico possuíam a tradição da tatuagem além das dos Mares do Sul. James Cook O pai da palavra “tattoo” que conhecemos atualmente foi o capitão James Cook (também descobridor do surf), que escreveu em seu diário a palavra “tattow”, também conhecida como “tatau” (era o som feito durante a execução da tatuagem,em que se utilizavam ossos finos como agulhas e uma espécie de martelinho para introduzir a tinta na pele). Com
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a circulação dos marinheiros ingleses a tatuagem e a palavra Tattoo entraram em contato com diversas outras civilizações pelo mundo novamente. Porém o Governo da Inglaterra adotou a tatuagem como uma forma de identificação de criminosos em 1879, a partir daí a tatuagem ganhou uma conotação fora-da-lei no Ocidente. Aparelho elétrico para se fazer tatuagens Em 1891, Samuel O’Reilly desenvolveu um aparelho elétrico para fazer tatuagens, baseado em outro aparelho extremamente parecido que havia sido criado e patenteado pelo próprio Thomas Edson
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Durante a Segunda Guerra Mundial, a tatuagem foi muito utilizada por soldados e marinheiros, que gravavam o nome da pessoa amada nos seus corpos. Perspectiva religiosa Cristianismo: Historicamente, o declínio na tatuagem tribal na Europa ocorreu com a expansão do Cristianismo. No entanto, alguns grupos cristãos como os Cavaleiros de São João de Malta ainda tinham o costume de fazer tatuagens em seus membros. O declínio ocorreu em outras culturas durante a tentativa europeia de se converter povos aborígenes ao cristianismo, alegando que as
práticas de se fazer tatuagens eram práticas pagãs. Em algumas culturas indígenas a tatuagem era realizada no contexto da passagem da infância para a fase adulta. A maioria dos cristãos não vê problemas com a prática, enquanto uma minoria usa a visão dos Hebreus contra as tatuagens baseado no livro de Levítico da Bíblia. Não ha proibição por parte da Igreja Católica contra as tatuagens, não sendo considerada sacrilégio, blasfêmia ou obscena. Mórmons: Membros da A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias são avisados por seus líderes a não tatuar seus corpos. Os mórmons acreditam que o corpo é um templo sagrado, assim dito no Novo Testamento , e que seus fiéis devem deixar seus corpos limpos. A prática da tatuagem é desencorajada e não recomendada. Islamismo: Tatuagens são proibidas no Sunismo, mas permitidas no Xiismo. Vários muçulmanos sunitas acreditam que se tatuar é um pecado, pois isso envolve em mudar a criação de Alá (Surah 4 Verso 117-120). No entanto existem opiniões diferentes entre os sunitas do porque as tatuagens serem proibidas. Alguns muçulmanos, baseando-se num hadith duvidoso, dizem que o Profeta Maomé teria amaldiçoado quem se tatua, mas convenientemente se esquecem de que ele disse: “Em verdade, não fui enviado ao mundo pra amaldiçoar, mas sim como um exemplo de misericórdia.” Judaísmo: As tatuagens são proibidas no Judaísmo, baseado no livro de Levítico do Torah (19:28). A proibição é explicada por rabinos contemporâneos como sendo parte da proibição geral de modificações do corpo (com a exceção do ritual da circuncisão) que não sejam feitas por razões médicas. Maimonides, líder judeu do século 12, explicou que a proibição da tatuagem é uma resposta judia contra o paganismo. Nos tempos modernos, a associação da tatuagem com o Holocausto e com os campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, devido ao fato dos prisioneiros serem
tatuados para identificação, fez com que a tatuagem seja vista com um nível maior de repulsa dentro da religião. A crença de que qualquer judeu com tatuagens não poder ser enterrado em cemitérios judaicos é um mito. Hinduísmo: No Hinduísmo, fazer uma marca na testa é encorajada, pois se acredita que isso aumente o bem-estar espiritual. Várias mulheres hindus tatuam seus rostos com pontos, especialmente ao redor dos olhos e queixo, para espantar o mal e aumentar a beleza. Tribos locais usam a tatuagem para se diferenciar de certos clãs e grupos étnicos. Uma das deusas do Hinduísmo, Lirbai Mata, é representada com tatuagens nos braços e nas pernas. Ela é venerada pelos grupos Marwari e Rabari. Tatuagem no Brasil No Brasil a tatuagem elétrica é uma arte muito recente, surgiu em meados dos anos 60 na cidade portuária de Santos e foi introduzida pelo dinamarquês Knud Harld Lucky Gregersen (também conhecido como Lucky Tattoo), que teve sua loja nas proximidades do cais, onde na época era a zona de boemia e prostituição da cidade de Santos. Isto contribuiu bastante para a disseminação de preconceitos e discriminação da atividade. A localização da loja era zona de intensa circulação de imigrantes embarcados, muitas vezes bêbados, arruaceiros e envolvidos com drogas e prostitutas; gerando um estigma de arte marginal que perdurou por décadas. Hoje em dia, devido à circulação de informação pela televisão e por meios de comunicação como a internet, a tatuagem vem atingindo todas as camadas das populações brasileiras sem distinções. Temas Os temas são infinitos e variam tanto quanto as personalidades - dos tatuadores e tatuados. As motivações são inúmeras, e não há uma forma definida ou percurso que explique o desejo e sua efetivação na realização da tatuagem, um evento a princípio antinatural (biologicamente). Portanto considera-se um movimento do ser simbólico-social, que supera o instinto de autopreservação, uma característica absolutamente humana. O contexto, o ambiente, a época, o nível cultural, as influências, modismos, ideologias, crença e espírito despojado são alguns dos níveis que podem dar vazão ao processo. Nenhuma teoria psicológica, psicanalítica, religiosa, antropológica ou médica apresenta uma explicação exclusiva e final para a tatuagem. Considera-se um movimento complexo sobredeterminado, desde sua origem histórica até o contínuo uso na contemporaneidade. Cuidados antes e pós-tatuagem Certos cuidados devem ser tomados antes de se fazer uma tatuagem. Primeiramente deve-se se fazer uma pesquisa e visitar os possíveis estúdios de tatuagens a serem escolhidos, procurando saber se eles são certificados pela Anvisa e se seguem todas as normas e regulamentações de segurança determinadas pelo órgão, como ter um ambiente esterilizado e o uso de materiais descartáveis utilizados para a realização da tatuagem, por exemplo. É possível consultar se o estúdio escolhido é certificado pela
Anvisa através de seu site. Também é importante fazer uma pesquisa de preço, consultando diferentes estúdios e não dar preferência para aqueles que cobram mais barato, lembrando que a tatuagem é algo permanente e que muitas vezes o barato pode sair caro. Vários são os cuidados a serem tomados depois de se realizar a tatuagem, sendo extremamente recomendável seguir as orientações passadas por tatuadores profissionais no que se deve fazer depois de realizar o procedimento. Em casos adversos e não esperados, procure um médico para diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. Muitos tatuadores recomendam o recobrimento do local da tatuagem recém-feita com plástico de embalar alimentos, por pelo menos três dias. No entanto, nem todos os tatuadores compartilham da mesma opinião, pois alega-se que a pele recoberta por plástico, com resíduos de pele e líquidos (linfa, sangue, tinta, suor) podem gerar uma ambiente propício para a formação de colônias de bactérias. Alguns recomendam manter por no mínimo cinco horas, tempo suficiente para cicatrização inicial, e depois retirar só recolocando à noite para não grudar no lençol, no primeiro ao terceiro dia. A recomendação de uso do plástico também está associada ao contato da tatuagem recente com tecidos: a cicatrização que pode ocorrer logo após o processo ou à noite, com vazamento de linfa e consequente aderência do lençol ou roupa ao desenho, gera o risco de remoção da camada (epiderme e derme ) superficial onde estão alojadas as tintas. A consequência pode ser a formação de falhas em alguns pontos Deve-se lavar a região com sabonete neutro durante o banho, após algumas horas, para manter o local limpo, já que a pomada também sairá na lavagem. Além disso, os resíduos podem criar uma superfície de risco por falta de assepsia. A água é um elemento importante para o processo químico de cicatrização, fazendo parte da cadeia de fixação do colágeno. A pele muito seca pode perder mais células ou demorar mais para cicatrizar. Por outro lado, o excesso de água também prejudica, ao amolecer a casquinha. Por isso, é muito importante não deixar a tatuagem exposta ao sol, não ir à praia, piscinas, saunas, nem tomar banhos longos, e não esfregar com buchas abrasivas ou sabonetes fortes. Procure o seu médico para diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios. Não se deve puxar a crosta. É o conselho de todo tatuador. Para algumas pessoas, uma tarefa fácil. Para outras, nem tanto: é um ritual viciante e somado à curiosidade, puxar as crostas para que “cicatrize logo” pode abrir buracos nos desenhos, mesmo quando a crosta parece fina e superficial. Além disso, uma coceira frequente devido à retração da pele provoca o desejo de se encravar as unhas no local. Via de regra, jamais arranque a crosta. Deve-se tomar cuidado com a ingestão de alimentos que possam causar alergia no período de cicatrização do trabalho, pois em algumas pessoas a pele pode adquirir um comporta-
mento reativo e comprometer o resultado da tatuagem. Costuma-se recomendar a suspensão de alimentos muito gordurosos, carne de porco, frutos do mar, comida japonesa , chocolates e pimentas. Elementos que determinam o resultado da tatuagem: Ajuste da máquina: Para contorno, a agulha deve penetrar aproximadamente, em torno de 1,7mm na pele. Para preenchimento também, mas eventualmente um pouco mais: 2,5mm. Estas medidas são aproximadas, e dependem do tatuador, do tipo de ponta e do tipo de traço pretendido. Frequência de vibração e força da máquina: Máquinas fracas nem sempre conseguem introduzir a agulha na pele, conforme o local. Já a frequência, se for muito alta pode “rasgar” a pele ao invés de marcar o traço, e depois perde-se tinta na cicatrização. Qualidade das tintas: Algumas tintas podem gerar alergia, dependendo do tipo de pele. Não há uma regra, mas há predominância do vermelho, por exemplo, entre os pigmentos que geram alergia. Mas todos podem gerar, dependendo da pessoa. Além disso, há no mercado muitas tintas para iniciantes, que são mais “lavadas”. O pigmento mais inócuo é o preto, por ser feito (normalmente) à base de carvão de origem animal ou vegetal, e portanto, quimicamente muito estável. Tipo de pele e o local do corpo: Al-
gumas pessoas incorporam mais a tinta, e outras eliminam quase toda a tinta. Procedimento: Como foi executado o desenho. Padrões de soldagem: Textura e espessura das agulhas Cor da pele: Mesmo em peles de tons médios, a tatuagem inicialmente fica bem colorida, mas depois o pigmento natural da pele (melanina), que é produzido acima da camada onde se aloja a tinta, cobre o desenho, escurecendo-o. Assim, este é outro motivo para evitar o sol. Profissional: É o responsável pela maior parte dos itens listados acima. Remoção de tatuagem Apesar das tatuagens serem consideradas permanentes, é possível a remoção delas, total ou parcialmente, com o uso de tratamentos a laser. Normalmente, o preto e algumas tintas coloridas usadas nas tatuagens podem ser removidas com mais facilidade do que tatuagens que usem outros tipos de tintas. O custo e a dor de se retirar uma tatuagem são tipicamente maiores do que o custo e dor de se aplicar uma. Métodos de remoção pré-laser incluem dermoabrasão e salabrasão (esfregar a pele com Sal), mas esses métodos antigos foram quase completamente substituídos pelo uso do laser, que se mostra mais eficaz e rápido. Fonte: Wikipédia
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ENTREVISTA
Simples, cru, direto e sangrento! Por: JP Carvalho grupo foi formado em março de 2002 na cidade de Hortolândia, interior de São Paulo (SP), pelo guitarrista Fábio Bloody, o baixista André Tabaja e o vocalista Paulo Tuckumantel. Meses depois, contando com um baterista convidado, registram a Demo “Eat Your Brain”. Em seguida, ocorre a entrada do baterista Luis Coser e a formação é estabilizada. Em 2003, o Bloody participou da coletânea “Extreme Underground Vol. 1”, fato que contribuiu para a expansão de seu nome na cena. No ano seguinte, o Bloody faz a abertura para o trio de Death Metal Krisiun, em Vinhedo (SP), sendo um dos pontos altos da carreira da banda até aquele instante. Ainda em 2004, a banda participa de outra coletânea, a “Metal Vox Compilation Vol. 2”, enquanto preparava o que viria a ser seu primeiro álbum oficial. Com a experiência adquirida através dos shows, o lançamento da Demo “Eat Your Brain” e as participações nas duas coletâneas, em 2005 o Bloody entra em estúdio para registrar o seu álbum de estréia, “Slow Death”. Gravado no requisitado estúdio Da Tribo, em São Paulo (SP), com o renomado produtor Ciero, “Slow Death” foi gravado totalmente com equipamento analógico, com a proposta de resgatar a essência dos anos 80. O show de lançamento de “Slow Death”, realizado a 1º de outubro de 2005 em Campinas (SP) e batizado como “Bloody Day”, contou com a participação ilustre do guitarrista Frank Gosdzik, que já integrou as lendárias bandas Kreator e Sodom e participou das gravações de “Slow De-
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ath”. Na extensa turnê, o Bloody participou de inúmeros festivais de Metal e também tocou com grandes expoentes do Metal brasileiro, como Torture Squad, Claustrofobia e Andralls. Um dos pontos altos foi a passagem pelo Norte/ Nordeste, onde tocou em Belém (PA), São Luis (MA) e Maceió (AL), tendo ótima receptividade do público. Ainda em 2005 a banda colheu um dos principais frutos deste trabalho honesto e incessante, a aparição na votação dos “Melhores de 2005” entre as dez revelações do ano segundo os leitores da revista Roadie Crew. Com o lançamento de seu segundo álbum oficial, Engines of Sins, em Julho de 2008, a banda alcançou um novo nível dentro do cenário nacional e mundial, aumentando e muito, o seu reconhecimento e exposição perante o público e mídia. Engines of Sins recebeu ótimas críticas nacionais e internacionais e a banda correspondeu à altura em suas apresentações ao vivo, mostrando muito profissionalismo e competência, sendo inclusive, a ser convidada como banda de abertura para shows de bandas internacionais, assim como aconteceu com o show dos alemães do Sodom em Campinas/SP e posteriormente do Destruction em São Paulo/SP. Em 2009, com a entrada do novo baterista Augusto Asciutti, a banda alcança o seu melhor momento até agora. Em 2015, completando 13 anos de batalha e com o novo disco saindo do forno, a banda espera marcar de vez o seu nome na cena nacional. Conversamos com o guitarrista Fábio Bloody, no bate-papo que você confere a seguir
A banda completou 13 anos de atividades, qual o balanço que você faz da carreira da Bloody? Fábio Bloody: Foram 13 anos bem loucos! Não esperávamos alcançar o que conseguimos como banda, até porque iniciamos sem grandes pretensões como a maioria das bandas, amigos querendo fazer um som, tomar cerveja. Hoje é legal olhar para trás e ver o que conquistamos, o respeito que conseguimos, os amigos que fizemos e o que pudemos contribuir para o crescimento da cena underground, principalmente aqui em nossa região. Sei que não é muito, mas tem valor, pois foi feito com muito amor e honestidade. Com quatro lançamentos, todos independentes, podemos pensar que a Bloody segue o caminho que trilhou sem abrir concessões? Fábio Bloody: De jeito nenhum. Só não tivemos a oportunidade de ter uma parceria que fosse boa para ambas as partes. Sempre tentamos um selo, gravadora para lançar nosso trabalho. No Engines of Sins, tivemos um grande apoio da Voice Music na distribuição da bolachinha, foi bem legal, chegamos em lugares onde não imaginávamos. Desta vez decidimos disponibilizar tudo para download. A tecnologia está aí. Vamos usá-la da melhor maneira a nosso favor. Vocês lançaram seu terceiro trabalho, “Bloody’, e o disponibilizaram para download gratuito. Com essa visão do atual mercado musical, vocês acham que as bandas precisam trabalhar desta forma para ter algum destaque entre os fãs? Fábio Bloody: Não acho que isto destacará uma banda da outra. A internet está aí, de uma forma ou de outra o CD estaria na rede para ser baixado, é questão de tempo. Só pensamos em adiantar este processo de forma oficial. O interessante é que muitos bangers tem entrado em contato para comprar o CD físico e isso é muito legal. O CD foi gravado por vocês mesmos com produção do guitarrista Fábio Bloody, trabalhar em casa facilita na hora de definir por qual caminho trilhar? Fábio Bloody: A decisão por gravar em nosso QG foi tomada por dois motivos principais: grana e tempo. Não teríamos a grana necessária para bancar um estúdio e nem o tempo para se trancar em estúdio como fizemos nos CDs anteriores. Outra questão é que queria me arriscar produzindo um álbum de peso. E nada melhor que estragar o nosso próprio CD. Rsrsrsrs. Brincadeiras a parte, acho que consegui um resultado muito interessante, cru e pesado, que era o objetivo para este play. A arte da capa também é assinada por Fábio Bloody, Conte-nos sobre o seu conceito. Fábio Bloody: Este é nosso 3º CD oficial. O primeiro, Eat Your Brain, foi uma demo para apresentar a banda que abriu muitas portas pra gente. Este CD, Bloody, mostra bem a banda em sua essência. Bases trabalhadas, alternância de ritmos, letras ácidas. Este é o nosso momento mais maduro como banda e como músicos, tudo feito com muito coração e queríamos que a capa representasse esse sentimento, simples, cru, direto e sangrento! Apesar do longo caminho, a banda permanece fiel ao seu estilo, Qual seria a grande jogada para permanecer re-
levante e manter as características da sua música? Fábio Bloody: Acredito que são duas jogadas! Fazer tudo da maneira mais honesta possível. E falo aqui em ser honesto consigo mesmo. E tentar não ficar refém de um estilo, não limitar a sua capacidade criativa. O Bloody acaba sendo rotulado como uma banda Thrash Metal, mas não ficamos preocupados na hora de compor novas músicas se vai parecer heavy, death, rock n´roll e por ai vai. Fazemos o som que curtimos tocar e ouvir, não importa a vertente e acho que isso acaba traduzido em nossas músicas e acabou criando a cara do Bloody. Estando há tanto tempo em atividade, qual é a sua visão do atual cenário da música pesada? Fábio Bloody: Acho que temos tantas bandas de qualidade hoje quanto antigamente. O acesso aos equipamentos, estúdios melhores, possibilitou que as bandas pudessem desenvolver mais e ir além. É legal ver as bandas mais antigas como Executer, Korzus, Claustrofobia, o Krisiun, evoluindo, mostrando algo novo, pesado, com qualidade. Só acho que o público está um pouco preguiçoso. Com muito acesso a internet, a molecada não sai mais de casa. Eles não precisam sair para curtir um som, conhecer as bandas novas, trocar CDs. Isso desanima um pouco. Os poucos promotores de shows que ainda tem coragem em organizar algo legal, acabam tendo prejuízo. As bandas boas ainda estão ai, tocando por amor, mas o publico não é como antes. Infelizmente. Muito obrigado pela entrevista, o espaço é seu para suas considerações e para deixar uma mensagem aos nossos leitores. Fábio Bloody: Agradeço a oportunidade de falar um pouco mais sobre o nosso trabalho e parabéns pelo seu trabalho em divulgar e apoiar o underground nacional. Aproveito o espaço para convidar a galera para curtir o nosso novo CD. Ele está disponível para download em nosso site (www.bloody.com.br) e para streaming no Soundcloud (bloodythrashmetal). Um grande abraço a todos! Nos vemos na estrada! COLLAPSE UNDERGROUND ART - 41
ENTREVISTA
Por: JP Carvalho e forma agressiva e direta Sistema Sangria apresenta um hardcore com influências de crust, punk hardcore dos anos 80, grindcore, crossover e bandas de hardcore old e new school. As letras abordam temas como anti-capitalismo, política e corrupção, violência policial, genocídio e desigualdade social em tom de protesto e denúncia. Esse estilo foi autodenominado Sistema Sangria Hardcore. Em meados de 2000 iniciavam-se as atividades da banda Inside Out. A banda grava e lança sua primeira demo (P.S.I.D.M.) no primeiro semestre de 2001 com o nome Inside Core. Já intitulada Sistema Sangria e com novo guitarrista, é lançada em junho de 2002 a segunda demo da banda - “Alienação?” - gravada pelo então Inside Core no mês de outubro de 2001; trabalho este que cede músicas para diversas compilações e splits lançados por selos independentes do Brasil e
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outros países do mundo. No início do ano de 2003, agora com novo baterista, Sistema Sangria solidifica sua formação e grava no mês de abril o EP “brasileiro de verdade não tem medo não”, o primeiro registro oficial da banda que foi lançado de forma totalmente independente em fevereiro de 2004. Até o início do ano de 2008 a banda realizou muitas apresentações na região da Grande São Paulo, litoral e interior de SP, além de apresentações em outros estados, sempre dividindo o palco com bandas conceituadas no cenário do Hardcore Underground nacional, bandas parceiras na correria e bandas internacionais em suas passagens pelo Brasil. Nesse ano houve mais uma mudança na formação e dois ex-membros da banda voltaram: Antonio Carlos (ex-guitarrista e um dos fundadores do Inside Out) assumiu os vocais e Leandro (ex-guitarrista) assumiu o baixo. No mês de fevereiro de 2011 o baixista Nader voltou ao
line-up, dando continuidade junto com a banda às gravações do CD Full Lenght e de um CD 4Way que conta, além do Sistema Sangria, com as bandas Ódio Social e Faccion de Sangre e Ação Terrorista. Esse material foi lançado no início do segundo semestre de 2011. Em março de 2013 finalmente é lançado o primeiro full lenght Sistema Sangria produzido no Mr Som Estúdio por Marcello Pompeu e Heros Trench. Tiragem de 300 copias em vinil 12” e em breve no formato CD . Não podem deixar de ser registradas as participações nos CDs tributo às bandas Ratos De Porão (Ratomaniax - 2012), Nitrominds (Many Minds – 2014) e Lobotomia (ainda não lançado oficialmente). Sistema Sangria busca difundir ao máximo sua mensagem, pois acredita que é através da informação que pode ajudar a combater o estado de alienação em que se encontra a imensa maioria da população nos países subdesenvolvidos. O Hardcore do Sistema Sangria é música, é protesto, é respeito, é atitude e principalmente denúncia. Confira nossos bate papo com o guirratista Fábio e com o baixista Nader a seguir:
frente existe o infinito a ser explorado o que me traz a sensação de que sempre ficou faltando alguma coisa e é isso que impulsiona a gente a seguir em frente.
A banda foi formada em 2000 e já tem uma significativa discografia, além de contabilizar diversos shows importantes em sua carreira, como você definiria a carreira da Sistema Sangria até o momento? Fábio: Estável. A banda amadureceu e hoje caminha com as próprias pernas, graças a correria feita até os dias de hoje. Bastante tempo de estrada (esburacada, mal sinalizada e com pedágio caro) fez com que hoje, tiozinhos que estamos, soubéssemos exatamente qual linha de som seguir, como gerenciar os lançamentos, como colocar em prática velhos planos e realizar alguns sonhos que temos em comum. Nader: A visão é que estamos numa estrada sem fim onde olhamos para traz e vemos toda trajetória mas olhando pra
Além disso as letras são ácidas e pegam pesado nas denúncias, de que forma a banda pretende atingir seus fãs e ouvintes, será que as novas gerações entendem a mensagem? Fábio: Nossas letras são simples, falam de coisas comuns ao cotidiano de qualquer trabalhador pai de família que faz mágica para sobreviver e correr pelo certo. Acredito que isso por si só faz com que qualquer geração se identifique com o que está escrito ali, afinal elas também passam por isso dia a dia. A realidade é a mesma para todos, não tem para onde correr, e por mais ou menos politizadas que sejam as novas gerações, o nosso protesto pode soar desde uma complexa denúncia até um simples desabafo de quem está cansado de tanta exploração, corrupção, comodismo, alienação, consu-
O Sistema Sangria agrega influências diversas em sua música, mas agregando uma modernidade diferente ao seu som, o que dá uma característica única ao som da banda, como se dá o processo de composição da banda? Fábio: Normalmente o Nader, o Igor e eu colamos com a estrutura da música quase pronta; riffs e letras. O Antônio Carlos chega com letras que ele encaixa em alguma base nova ou passa pra gente escrever junto com ele e fazer o encaixe do vocal. Aí durante o ensaio a música vai tomando forma com a característica de cada integrante, suas chatisses e limitações (por que não (Risos)? Sobre a sonoridade, além das muitas e diferentes influências, vale ressaltar a pegada da bateria, a voz, a afinação e o trampo dos amigos do Mr. Som Estúdio, que já sabem como trabalhar com o tipo de produção que curtimos: orgânica, de timbres vintage, mas ao mesmo tempo atual e bastante aberta.
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mismo, individualismo e outras coisas que fazem parte do combo da vida contemporânea. Ao longo dos anos a banda passou por algumas mudanças de formação, mas isso não afetou em nada a forma como a banda trabalha, além disso os membros da Sistema Sangria atuam em outras bandas. Isso de alguma forma afeta negativamente o trabalho ou é benéfico para que a banda se mantenha ativa e relevante no cenário? Fábio: Tem os dois lados da moeda. A parte ruim é que o cara que tem outras bandas vai ter que dividir sua dedicação, tempo e correria igualmente entre suas bandas. A parte boa é que isso traz uma união legal entre as bandas em comum, que acabam se ajudando mais, produzindo juntas e compartilhando contatos e experiências. Nader: Quando são bandas ativas na cena e não projetos, com certeza influencia no andamento das bandas sim, porque você nunca poderá dar 100% de si pra nenhuma delas limitando a correria de todo mundo, mas.... Não chega a ser um problema mesmo porque a amizade e a união sempre fala mais alto e o Sistema Sangria tem o dom de se limitar por conta própria (risos). Você acabaram de fazer uma minitour pelo Chile, como foi essa experiência? Fábio: Foi nosso primeiro role fora do Brasil e até por não falarmos quase nada em espanhol, acabou tomando ares de aventura como outras viagens que já tínhamos feito por aqui. É sempre muito legal chegar em um lugar que jamais sonhou conhecer, fazer ali novos amigos e ver todos curtindo o seu som. Nader: Acredito que era o que faltava pro Sistema Sangria crescer mais quebrar aquele bloqueio que tínhamos afinal a anos vemos outras bandas excursionando pelo mundo e nunca dava certo pra gente, espero poder fazer isso todo ano. 44 - COLLAPSE UNDERGROUND ART
E quais foram as diferenças em relação ao cenário da música pesada brasileira? Fábio: A estrutura dos eventos. A impressão que fica é que só no Brasil rolam gigs com equipamentos toscos, atrasos absurdos e mais gente bebendo do lado de fora do pico do que prestigiando o evento. Não que aqui seja uma merda e ali mil maravilhas; não se trata disso, mas esse lance de falta de comprometimento do público brasileiro com o underground local já é clichê, e todos sabem disso. Inclusive os manos de lá. Nader: A verdade é que o Brasil tem tudo para melhorar mas não se esforça pra isso, aqui se cobrar R$10,00 pra ver um show é um absurdo todo mundo reclama, você não pode contar com 1 centavo das casas de shows e quase não se vende material ou seja as bandas é quem sofrem e quem sustentam o cenário. Em Março de 2013 a banda lançou o full lenght intitulado Sistema Sangria, que foi lançado em vinil e após algum tempo em CD. A decisão de lançar também em CD, se deve ao fato de que, ao contrário do mercado europeu, o brasileiro ainda não retornou de fato ao vinil e prefere seus lançamentos no formato digital? Fábio: Também por esse fato, mas o principal fator que torna quase impossível uma banda que queira lançar seu álbum em formato físico optar pelo CD é o preço de custo infinitamente mais baixo que o do vinil. Nader: Outro fator que acabou pesando muito foi a quantidade de copias em vinil (300 copias) que já estava esgotando e precisávamos de mais material para dar andamento na divulgação do disco. Como foi a aceitação deste trabalho pelas fãs e pela mídia especializada? Fábio: Até hoje chegaram somente resenhas e comentá-
rios positivos até nós. Desde o capricho que tivemos na produção das músicas até a simplicidade da arte gráfica visando baratear o preço de venda, acredito que a galera toda curtiu sim e entendeu o lance de tentarmos fazer um álbum legal, bem feito mas sem frescura. A banda também participou de significativos tributos a bandas brasileiras, no total foram 3 participações, como se deram estes convites e de que forma cada “homenageado” influencia o som da banda? Fábio: Agradecemos muito ao Jão por ter feito a ponte com o meu chapa Druguer, e ter envolvido o Sistema Sangria no Ratomaniax (Tributo brasileiro ao Ratos de Porão). Tive a felicidade inclusive de poder ajudar nas correrias da prensagem desse disco. Agradecemos também ao nosso parceiro Edu, vocal do Lobotomia, pelo convite pra participar do tributo ao Lobotomia que ainda não foi lançado. E sobre o tributo ao Nitrominds, foi aquele lance de que “a ocasião faz o ladrão”: O Antônio Carlos viu algo sobre esse lançamento no Facebook, falou com o Nader que foi direto na fonte para envolver o Sistema Sangria. Valeu Fabio Hands pela preza! Falar sobre a influência dessas bandas no nosso som é algo que cada um vai contar uma história longa e bem peculiar, mas pelo menos pra mim, falar sobre o quanto e como o Ratos de Porão influenciou meu som e minha vida é algo para
uma entrevista inteira. Que pretensão (risos)! Nader: Eu particularmente acho o Ratos de Porão a banda mais importante da América Latina e até mesmo do mundo, influencia absoluta na minha vida. Muito obrigado pela entrevista, o espaço é seu para suas considerações e deixar uma mensagem aos nossos leitores. Fábio: Pela amizade, pelo espaço e por toda a camaradagem, agradecemos à você, JP, que é um mano de longa data, compartilhador de vários roles furados pelos porões afora e com certeza um dos caras que conhecemos no role que mais tem um ponto de vista muito parecido com o nosso sobre a realidade no underground. Sem puxassaquisse,, mas é nóis irmão! Nader: Valeu demais pelo espaço cedido agradecemos a todos que acompanham o nosso trabalho e que nos ajudam direta ou indiretamente estamos trabalhando num disco novo e buscamos parcerias para este material do Sistema Sangria, obrigado JP por mais essa força das muitas outras que você já deu meu velho, um abraço. Contatos: E-Mail: sistemasangria@hotmail.com www.facebook.com/sistemasangria
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ENTREVISTA
Por: JP Carvalho Revolution Within nasceu no início de 2005, quando amigos de longa data (Raça, Faster, Matador, Sono e Prata) decidem concretizar um desejo antigo: formar uma banda de Metal. Começam a fazer shows com alguma regularidade, aumentando cada vez mais o número de fãs e de amigos, chegando a participar em alguns dos principais eventos do cenário Underground de Portugal, compartilhando o palco com algumas das melhores bandas de Metal Portuguesas. O reconhecimento que a banda obteve também permitiu partilhar o palco com algumas bandas internacionais, destacando os Kreator, Morbid Angel, Opeth, Trivium, Devin Townsend, Dew-Scented, Hatesphere, Vomitory, Aura Noir, Avulsed, Desaster, Gama Bomb, Angelus Apatrida, entre outros. Em Outubro de 2009 lançam o primeiro álbum, via Rastilho Records, intitulado “Collision”, sendo que nesse mesmo ano, a banda é considerada banda revelação pelos
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leitores da revista Loud! Em Setembro de 2012 é editado o segundo álbum, Straight From Within, elevando ainda mais o reconhecimento da banda não só em Portugal como também para o mundo. Resumindo, o Revolution Within é uma banda que soube crescer e que não deixa ninguém indiferente as suas apresentações, não apenas por sua núsica, mas também pela amizade e humildade de seus integrantes. Tivemos um bate-papo com o vocalista Rui “Raça” Alves e o resultado dessa conversa você confere a seguir. Conte-nos sobre o começo do Revolution Within. Rui “Raça” Alves: Em 2004 juntamos alguns amigos e fizemos uma banda de tributo aos Metallica para participar num festival em que faltava uma banda. Como na altura aquilo foi muito divertido e passamos excelentes momentos decidimos continuar a fazer músicas juntos, mas desta vez com músicas originais. Nasce assim no início de 2005 os Revolution Within.
a um maior número de ouvintes. Começamos a dar ainda mais concertos e começamos a ser respeitados. Demonstramos ainda que estávamos neste meio de forma humilde e que era para continuar, sem dúvida! Deste álbum vocês escolheram a música Silence para um vídeo clipe, como foi a aceitação deste vídeo? Raça: Penso que acertamos em cheio pois julgo ser das nossas músicas mais conhecidas. Quando a tocámos
A sonoridade da banda é calcada no Metal Core, mas percebe-se influências das escola antigas do estilo e mesmo algumas pitadas de Metal mais extremo, como se dá o processo de composição da banda? Raça: Acredito que não seja diferente da maior parte das bandas, ou seja, alguém chega ao local de ensaio com ideias e depois disso partimos para a composição em conjunto. A maior parte das músicas tem a opinião de todos os ao vivo é impressionante a quantidade de pessoas que já acompanha o refrão connosco! É brutal mesmo! No final de 2012, a banda lançou outro álbum, intitulado Straight From Within, com a gravação mais na cara e a banda mais brutal do que nunca, como os fãs reagiram a este lançamento? Raça: Reagiram muito bem! Acho que ninguém foi apanhado de surpresa neste disco, ou seja, as pessoas já sabiam que não iríamos abrandar o ritmo e que continuaríamos a criar músicas dinâmicas e poderosas que soassem bem ao vivo. Acho que conseguimos esse objectivo. O diselementos da banda. Assim, é sempre possível dizer que a música está do agrado dos 5 elementos. Com o lançamento do debut “Collision”, vocês foram reconhecidos pelo público e pela mídia especializada, que frutos colheram deste lançamento? Raça: Foi o nosso primeiro registo e correu muito bem! As críticas foram bastante positivas e permitiu-nos chegar
co foi muito bem aceite não só em Portugal mas também no estrangeiro, o que nos deixou bastante orgulhosos. Quais foram as diferenças em estúdio para a produção desses dois trabalhos? Raça: Os discos foram gravados em estúdios diferentes. Mas sem dúvida que no segundo disco já tínhamos mais experiência pelo que as coisas ocorreram de forma mais célere e espontânea. E o terceiro disco será gravado COLLAPSE UNDERGROUND ART - 47
num outro estúdio. Esperamos que corra bem e que não sejamos expulsos do estúdio (risos). Além de ter marcado seu nome no cenário Underground de Portugal, a banda foi convidada a compartilhar o palco com diversos nomes do cenário mundial. Como foi para vocês participarem desses shows? Raça: A banda celebra 10 anos e se no início me perguntassem se achava possível partilhar o palco com bandas como Slayer, Megadeth, Motorhead, Trivium, Carcass, King Diamond, etc., eu diria que estavam doidos (risos). Mas afinal o doido era eu pois se fizermos as coisas com paixão e tivermos uma pitada de sorte as coisas
podem de facto acontecer! Interessante saber que vocês compartilharam o palco com bandas como Skid Row e Devin Townsend, que não seguem a mesma linha musical do Revolution Within. O que vocês podem nos contar destas apresentações? Raça: Não vi o pessoal de Skid Row. Deviam estar no backstage a “conviver” com as fãs (risos). Já com o Devin Townsend, tive o prazer de conversar com ele e deu para perceber que é uma pessoas extremamente acessível e humilde! E felizmente há muitas bandas de renome assim! O que podemos esperar do Revolution Within no futuro? Raça: O habitual: entrega, paixão, humildade e amizade. Doutra forma não vale a pena seguir. Acho que essa é a chave do sucesso de qualquer banda! Muito obrigado pela entrevista, o espaço é seu para suas considerações e para deixarem uma mensagem aos nossos leitores. Raça: Obrigado pela paciência em lerem a minha entrevista (risos). Continuem a apoiar o metal pois isto é o nosso pequeno mundo e precisamos muito dele! Desejo a todos as maiores felicidades e espero que um dia consigamos fazer uma tourné pelo Brasil! Isso é que era (risos)!
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ENTREVISTA
Por: Cláudia Almeida O Orphaned Land é uma banda israelense, pioneira do estilo Metal Oriental. Sua formação atual conta com Kobi Farhi (vocal), Uri Zelha (baixo), Chen Balbus ( guitarra), Idan Amsalem (guitarra) e Matan Shmuely (bateria). Orphaned Land mescla, com extrema sensibilidade e grande habilidade, os sons do Oriente Médio com o heavy metal, tendo como resultado um magnífico e totalmente diferenciado estilo musical. A banda não chama atenção somente pela sua música, mas também pela sua mensagem de coexistência pacífica entre as pessoas de diferentes religiões. Isto se torna bastante evidente no mais recente álbum da banda, “All is One” (Todos somos um), chamando a atenção para a universalidade do ser humano. Através da sua música, pessoas que vivem realidades muito diferentes estão unidas em um só sentimento de irmandade. Confira a seguir nossa conversa com o guitarrista da banda, Chen Balbus.
ou sueca . Assim, foi criado o gênero metal Oriental. Mesmo sendo uma banda israelense, Orphaned Land agrada a muitos fãs árabes.
Para mim, é uma grande honra entrevistar Orphaned Land, uma grande banda israelense, pioneira do metal Oriental. Conte-nos sobre a trajetória da banda desde a sua fundação. Chen Balbus: O prazer é todo meu. O Orphaned Land foi formado em 1990, sob o nome de “Ressurreição”, por Uri Zelha (baixo) e Kobi Farhi (vocal). Desde então, o Orphaned Land tem se dedicado a ser uma banda de metal diferenciada, não apenas como uma banda de metal finlandesa, americana
Quais as suas principais influências musicais? Chen: As nossas experiências de vida vêm muito de onde vivemos, a nossa realidade no Oriente Médio são elementos tradicionais.
Conte-nos sobre o mais recente lançamento “All is One “ e sua repercussão. Chen: All Is One é, de longe, o nosso álbum mais bem sucedido. Eu posso dizer que é um disco bem diferente, com novos membros, novos elementos, gravado em três países diferentes, mixado e masterizado por Jens Bogren. Este álbum foi concebido para ser um álbum mais suave e mais cativante, com uma mensagem direta. Porque nós, como seres humanos, falhamos ao esquecermos que, na realidade, todos somos um. Qual o significado do nome Orphaned Land? Chen: O nome Orphaned Land foi tirado de uma canção de uma artista israelense e se encaixou perfeitamente com o significado da banda. Terra de ninguém, Orphaned Land.
Como é ser uma banda de heavy metal num país onde há pouca tradição no estilo? Vocês já enfrentaram adversidades? Chen: Em Israel não há problema em ser uma banda de COLLAPSE UNDERGROUND ART - 49
metal, já que é um país democrático e você pode fazer o que quiser. Nos países árabes, a história é outra. Ao assistir o documentário Metal Global, achei extremamente interessante o comentário sobre a postura de reverência do público durante a apresentação do Orphaned Land, na Turquia. O que isto representa para vocês? Chen: A Turquia é como a nossa segunda casa. Cada vez que vamos lá, somos bem acolhidos. A Turquia é o único país com uma maioria muçulmana em que podemos entrar e os fãs dos países árabes podem ir para nos ver. Qual o processo de composição de sua música? Já que vocês mesclam, com extrema habilidade e precisão, a música oriental com a música ocidental. Chen: Nós basicamente escrevemos ideias o tempo todo, e quando estão finalmente prontas, fazemos um álbum. Nós
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nos encontramos para tentar “montar o quebra-cabeça ‘. All is One é o mais recente trabalho da banda, apesar de mudanças pontuais na sonoridade da banda, todas as características do Orphaned Land foram preservadas, isso se deve a uma evolução natural de sua música? Chen: Como uma banda, você sempre tentar fazer algo diferente do que você fez antes. O Orphaned Land nunca quis soar igual o tempo todo. Evoluímos e nossa música evolui com a gente. Considero Brother e Let The Truce Be Known os pontos altos de All is One, como se deu a criação da sua parte lírica? Vocês acham que estas duas faixas representam bem a banda hoje em dia? Chen: Essas faixas, definitivamente, estão entre os destaques do álbum e representam a mensagem do que a banda é e o que ela faz hoje.
Orphaned Land - All is One Century Media Records - Importado
Além disso, o álbum conta com a melhor produção da banda desde seu surgimento, que mudanças vocês buscaram para a sonoridade da banda? Chen: É o primeiro álbum que foi gravado em três países porque queríamos tirar o melhor de cada instrumento. Em Israel, nós gravamos toda a parte dos convidados e os instrumentos acústicos, na Turquia, gravamos com oito músicos da orquestra turca e na Suécia, nós gravamos toda a seção rítmica e vocais para soar como o típico som do metal sueco . Particularmente, eu acho o trabalho acústico de vocês fantástico. Qual é a reação do público do metal a este tipo de apresentação? Chen: Até agora, as pessoas adoraram e ele está recebendo muito destaque. Nós estamos contentes com isso. Quais as expectativas para a turnê europeia? Chen: Expectativas? Muita diversão. Cada turnê é única e nos dá a chance de tocar para as pessoas que amam a nossa música. Não podemos reclamar. Vocês já estiveram no Brasil. Como foi a receptivdade do público? Existem planos para o retorno? Chen: Nós estivemos no Brasil após o lançamento de All Is One. Nós realmente amamos e esperamos estar de volta com o novo álbum. Muito obrigada pela entrevista. Desejamos muito sucesso a vocês. Deixe uma mensagem para os nossos leitores. Chen: Obrigado por nos receber! Saudações a todos os leitores e “Al lis One” ( Todos somos um). Contatos: www.facebook.com/OrphanedLandOfficial Traduzido por: Gerson Câmera
E quanto mais o Metal envelhece, melhor ele fica. Estas palavras se justificam ao observarmos a diversidade musical enorme que cada dia nos assalta, com bandas cada vez mais corajosas fazendo trabalhos sublimes e dignos de nota, e um veterano em desafiar os ouvidos mais conservadores é, sem sombra de dúvidas, o quinteto Orphaned Land, de Israel, que faz um mix entre o Metal e música regional de seu país, e que chega com seu novo trabalho, o fantástico ‘All is One’, que a Century Media pôs no mercado. O grupo faz um trabalho minimalista e rico, musicalmente falando, com belíssimos arranjos de música folclórica do Oriente, e isso tudo entremeado por vocais limpos de qualidade, lindos corais grandiosos, alguns vocais guturais aqui e ali, guitarras com ótimos riffs e solos bem arranjados (bem como cordas acústicas belíssimas), baixo e bateria pesados e coesos, e com técnica muito boia, teclados bem postados e alguns instrumentos regionais que acentuam o bom gosto musical. Isso tudo misturado nos dá uma música forte, diversificada e bem inovadora. O quinteto produziu seu próprio trabalho, mas a mixagem passou pelas mãos de Jens Bogren (que já fez trabalhos com Kreator, Amon Amarth, James Labrie, Devin Townsend Project, Opeth e outros), que abrilhantou o trabalho do grupo, deixando todos os instrumentos (Todos, pois são muitos) bem claros e audíveis sem nenhuma dificuldade para o ouvinte, e seja dita a verdade: o trabalho foi bem difícil, porque o Orphaned Land usa e abusa de uma diversidade de instrumentos musicais bem vasta. Já a arte, concebida por Metastazis, ficou bem trabalhada e com uma mensagem de união entre três povos: os de Israel, os de cunho muçulmano e os de cunho cristão, ou seja, toda a humanidade
em um contexto abrangente. Musicalmente, ‘All is One’ é um disco que a audição para muitos será um desafio, pois a banda não é nem um pouco simplista, mas ao mesmo tempo, seu trabalho mantém um nível bem elevado, à altura de muita banda grande que anda se atrapalhando nas próprias pernas. Não dá para destacar o disco como um todo, já que tudo nele é brilhante, cada composição é esmerada e perfeita a seu modo, pois de ‘All is One’ (uma faixa com belíssimos corais e riffs de guitarra ótimos e bateria quebrada, tudo permeado por ótimos teclados), passando pela ótima ‘The Simple Man’ (com um andamento bem hipnótico e belo trabalho de baixo e vocais), a belíssima ‘Brother’ (uma linda balada com destaque para as maravilhosas vocalizações de Koby, cuja letra trata da relação entre Itzhal e Ishmael, os dois filhos de Abraão que deram origem aos povos de Israel e nações árabes, que vivem em eterno conflito. É um pedido de paz entre dois povos-irmãos), a variada ‘Let the Truce Be Known’ (novamente com ótimos vocais e riffs absurdamente belos), ‘Through Fire and Water’ (que começa lenta com belos arranjos de instrumentos regionais de Israel, para depois virar uma canção grandiosa e recheada por corais e teclados), a poderosa e pesada ‘Fail’; a instrumental ‘Freedom’, que possui uma diversidade de encher os olhos de lágrimas de tão boa; ‘Shama’im’ e sua força e peso em uma música intrigante e ganchuda; a pegada empolgante de ‘Ya Benaye’; os trajetos heavyssívos de ‘Our Own Messiah’; e fechando com a tocante e hipnótica ‘Children’. Em um ano onde alguns veteranos mostraram que cansaram do Metal em trabalhos sem brilho, o Orphaned Land mostra o quanto pode oferecer musicalmente ao mundo, bem como sua mensagem de unidade entre os povos deste mundo pode atingir muitos fãs carente de uma ideologia forte e que vale a pena ser vivida e defendida. Ah, sim: este autor só gostaria de ressaltar que a mensagem da banda nada tem com o que 99% das pessoas do meio no Brasil andam divulgando. É necessária uma profundidade cultural enorme para entrar em debates sobre o assunto, a qual muitos (me perdoem por estas palavras) não possuem e nem estão interessados em ter... Marcos “Big Daddy” Garcia
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